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ESCOLA DE FORMAÇÃO ECLESIÁSTICA

INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

Aula 2 - ORIGEM HISTÓRICA DA FÉ EM ISRAEL

Israel nasceu no ambiente histórico de uma civilização com história e religiosidade


desenvolvida. As nações antigas já haviam passado além do animismo , indo para um
politeísmo e é nesta manifestação de religiosidade politeísta que surge a religião de Israel.
Abraão, apesar de viver sob a influência direta e indiretamente destes povos, mantém-se, de
acordo com estudos e descobertas recentes da arqueologia, MONOTEÍSTA. Sob orientação
de Moisés, como o profeta de Yahweh, ou JAVÉ estabelece-se um ROMPIMENTO definitivo
com o politeísmo na época hebréia e não como alguns crêem ser um desenvolvimento
(animismo – henoteísmo – politeísmo – monoteísmo) que resultou finalmente num
monoteísmo dos profetas.

Quando Deus aparece a Moisés (ver Êx 6:3) e promete livrar os Israelitas do jugo do Egito ele
diz algo importante para nós, vejam:

“Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus Todo-Poderoso;”


(o termo aqui é El Shaddai )

mas pelo meu nome, O SENHOR, não lhe fui conhecido”.


(o termo aqui é JAVÉ)

O Senhor era desconhecido dos Israelitas até que até que se revelou através de Moisés e assim
havia a identificação de Javé, o salvador dos Israelitas com El Shaddai, o Deus de Abraão.

“Não se deve ler o Antigo Testamento como texto científico da história, pois que trata das
experiências religiosas do povo de Israel com o seu Deus. Escritores Bíblicos, de épocas
diferentes, interpretavam os acontecimentos na sua vida nacional de pontos de vistas
diferentes. Um estudo cuidadoso mostra que há três fontes da teologia do Antigo Testamento
representadas no longo período de desenvolvimento que culminou nas doutrinas teológicas
dos profetas canônicos. A corrente principal se originou na revelação de Javé ao povo de
Israel por intermédio de Moisés, a redenção e a escolha de Israel para o serviço de seu Deus.
Depois Javé identifica-se com El Shaddai, o Deus de Abraão e assim a fé patriarcal integrou-
se com a teologia Bíblica. A terceira fonte, a influência dos vizinhos na religião de Israel, é
mais difícil de se avaliar. Os mensageiros do Senhor lutavam heroicamente para purificar a
sua religião das influências piores dos povos contemporâneos, mas não há dúvida de que os
Israelitas incorporaram algumas das festas e cerimônias religiosas dos povos cananeus no seu
culto ao Senhor. Mas na teologia dos profetas esta influência foi reduzida ao mínimo, mais ou
menos como o cristianismo livrou-se, em grande parte, das influências do paganismo” (A. R
Crabtree – Teologia ao Velho Testamento, pg 31).
Origens Geográficas, históricas e culturais de Israel

Abraão recebe de Deus a promessa de posse da terra de Canaã, mas apesar disso, ele não vê o
cumprimento literal em vida, pois isto é reservado para seus descendentes depois dele (e na
figura da Canaã celestial, da qual a posse por completo é do seu principal descendente –
Jesus).

O território

O nome Canaã refere-se ao indivíduo e seus descendentes citados em Gn 10.15-18. O nome


mais antigo da Palestina e a palavra vêm do hurriano sendo uma referência à cor vermelho-
púrpura , um corante extraído de um molusco (Murex) que havia nas costas de Canaã
(Fenícia). O nome passou a ser usado para toda a região desde a Síria até o Egito, do Jordão
ao Mar Mediterrâneo. Os Fenícios eram negociantes e esse corante era uma dos seus
principais pontos de comércio. Algumas referências Bíblicas indicam um sentido restrito da
Palavra, significando “negociante” (Jó 41.6; Is 17.4; Os 12.7; Sf 11.1; Zc 11.7, 11). Os
descendentes de Canaã estavam divididos em seis ou sete nações distintas: heteus, girgaseus,
amorreus, cananeus, perezeus, heveus e os jebuseus.

O Jordão, desce do monte Hermon (2760 m) e corre 190 km para o sul, passando pela
Galiléia, por Dan, pelo lago Hule, pelo Lago de Genesaré na planície de Esdrelon indo até o
mar morto. Há um desnível de 913 m entre a sua fonte no monte Hermon e a sua foz no mar
Morto. O próprio nome Jordão, deriva do verbo hebraico yarad significa “descer”. Entre o
lago de Genesaré e o mar Morto o desnível é bem pequeno, fazendo com que o rio seja lento e
sinuoso. O mar Morto (ou mar desértico, ou mar de sal) é um lugar sinistro e enigmático. O
nível da superfície de suas águas está a 393 m abaixo do nível do Mediterrâneo e a sua
profundidade chega a mais de 700 metros. Mede 85 km de comprimento por 15,7 km de
largura.

A civilização

Antes que Israel entrasse para dominar o território cananita os cananeus eram bem
desenvolvidos nas artes e nas ciências, suas construções eram superiores àquelas que Israel
edificava na terra de Canaã após tê-la conquistado. Eles destacavam-se na cerâmica, música,
instrumentos musicais, arquitetura, artesanato, tanto que boa parte do que foi construído e
projetado do templo de Salomão foi feito por operários cananeus (I Rs 7.13-51).

O idioma

A língua pertencia ao grupo das línguas semitas. Começaram as escritas usando alguns
caracteres hieróglifos egípcios, depois alfabeto cuneiforme e mais tarde o típico alfabeto
semítico substituiu todos se tornando a escrita padrão. O idioma fenício foi o primeiro a
utilizar, de forma eficaz, um sistema alfabético e isso faz com que essa língua seja a ‘genitora’
de toda as outras que adotaram um sistema alfabético de escrita (foi adotado pelos hebreus,
arameus, árabes, gregos, romanos). As antigas formas de escrita HEBRAICA e FENÍCIA
estão muito relacionadas. O hebraico é uma forma ADAPTADA do dialeto cananeu. Os
patriarcas falavam o ARAMAICO antes de vir para Canaã, mas chegando adaptaram-se a
uma forma de língua como o fenício, adotando esta forma de língua; o hebraico surge então
como uma forma alternativa de fala, não como o fenício, dialeto cananeu local.

A religião

A divindade principal do panteão cananita era El , a quem os outros ‘deuses’ precisavam


consultar sobre questões importantes. Baal era um filho (ou neto) de El com Aserá (deusa-
mãe). A esposa de Baal era Astarte (ou Astarote), a deusa da fertilidade. Para promover o
sentimento religioso do povo e honrar os ‘deuses’ foram instituídas festas que apelavam
sempre para o sexo, seja no sentido procriador, como na prostituição (essa, masculina e
feminina), que se tornou um acompanhamento indispensável nestes cultos de fertilidade. Isso
influenciou muito a cultura religiosa de Israel (principalmente ao norte). A condenação por
parte dos profetas incluía as árvores (usadas como forma de adoração), bosques sagrados, a
coluna e os terafins (imagens, que incluíam figurinhas da deusa da fertilidade – Astarote – que
se tornaram populares e numerosa entre os israelitas. O mesmo utilizado hoje com imagens de
santas da Igreja Romana, numa continuação de religiões demoníacas antigas). “Em Ugarit
havia um sistema complexo e bem definido de religião. Havia um sumo sacerdote e 12
famílias de sacerdotes. O rei exercia funções sacerdotais. Havia cantores, costureiros de
vestimentas, escultores e outros especialistas” (Champlim, R N – Enciclopédia de Bíblia,
Teologia e Filosofia, volume 1, pág 621).

O governo

A primitiva Canaã não possui um governador único, cujo poder se estendesse por todo o país;
cada cidade era governada por um régulo (um rei local, chamado sempre de “senhor” da
cidade). As cidades eram cidades-estado (no capítulo 12 de Josué mostra os Israelitas
combatendo nada menos que 31 reis na conquista de Canaã, o que demonstra a questão das
cidades-estado) até certo grau auto-suficientes. Entre 2000 e 1100 a.C. estes territórios
estiveram geralmente sobre o controle real dos egípcios ou de neo-hititas.

Jerusalém

Em Gn 14.18 encontramos que o nome antigo de Jerusalém era simplesmente Salém, que tem
a ver, logicamente com o hebraico shalom ou shalem (“paz”) e como cidade Cananéia, era
chamada de Jebus. Quando Davi a tomou, restaurou-lhe o nome antigo (Jerusalém) que
significa “alicerce da pacífica” e o nome original de Jerusalém talvez significasse “fundada
em paz”. Há informes egípcios falando sobre esta cidade e tendo o significado relacionado
com estes nomes. O cognato assírio para o nome quer dizer “cidade da paz”, o que pode
muito bem demonstrar que o nome para Jerusalém não deriva do hebraico, mas de línguas
mais antigas.

Quando o povo de Israel penetrou na terra de Canaã, Jerusalém encontrava-se sob o domínio
de um povo semita indígena (os jebuseus), governada por um rei de nome Adonizedeque. A
cidade só foi conquistada por Davi em um ataque surpresa ( II Sm 5.6-8). Em 1000 a.C. Davi
capturou Jerusalém, tornando-a a “cidade de Davi” e foi capturada e destruída quase 500 anos
depois (586 a.C.) pelos babilônios, quando do cativeiro babilônico. Depois que a cidade
voltou a ser reconstruída, passando pelas mãos dos Macabeus voltou a ser assolada e
novamente destruída nos anos 70 e 132 d.C., pelos romanos; em 132 d.C. os judeus foram
expulsos da cidade e proibidos de ali entrar. Em 614 d.C. os persas destruíram novamente a
cidade, só que desta vez parcialmente. O imperador bizantino a recuperou em 636 d.C., mas
Islâmicos dominaram a cidade em 637 d.C. Encabeçados pelo califa Abd al-Malik foi erigida
a mesquita de Omar. No século XI turcos desapossaram os árabes da cidade; em 1099 d.C.,
nas Cruzadas, a cidade volta para mãos “cristãs”. Saladino a reconquista em 1187 e a cidade
vai parar em mãos egípcias. Em 1517 turcos otomanos a tomam; em 1917 a Grã Bretanha
toma Jerusalém dos turcos e a governam até 1948. Somente em 1948, nossa época, é que isso
voltou a ser revertido, quando da formação do estado moderno de Israel. A cidade então
passou a ser dividida entre árabes e judeus. Em 1967 Israel toma dos árabes, com guerra,
Jerusalém antiga e outros territórios.

As famílias das línguas na época da formação de Israel

A Babilônia foi o berço da raça humana, local do Jardim do Éden, cenário do começo da
história bíblica, centro da área do dilúvio, lar de Adão, Noé e Abraão. Os primórdios da sua
história são do mais alto interesse do estudante da Bíblia. O primeiro esboço conhecido da
História Universal, escrito em 2170 a.C., por um escriba que assinava Nur-Ninsubur, no fim
da dinastia Isin, fornece uma lista inteira de reis desde os primórdios da raça até aos seus dias,
incluindo 10 reis longevos (que viveram muito tempo) de antes do dilúvio. É um prisma de
barro e ficava em Larsa, poucos quilômetros ao norte de Ur. Já existia há mais de 100 anos
antes de Abraão, a poucos quilômetros do seu lar” (Halley, H H – Manual Bíblico – página
43, 48, 49). Com certeza Abraão tinha conhecimento de toda a riqueza que Babilônia
produzia em termos de literatura.

O Código de Hamurabi foi achado em 1902, nas ruínas de Susã, levado para lá (um bloco
polido de duro e negro diorito, de 2,60 m de altura, 60 cm de largura, 50 cm de espessura,
oval, talhado nas quatro faces, com gravações cuneiformes da língua semito-babilônico, a
mesma de Abraão) por um rei elamita que saqueou Babilônia no século 12 a.C. O bloco
consta de umas 4.000 linhas, equivalendo ao volume médio de um livro da Bíblia. No código,
encontram-se leis sobre: o culto dos deuses nos templos, administração da justiça, impostos,
salários, juros, empréstimos de dinheiro, disputas sobre propriedade, casamento, sociedade
comercial, trabalho em obras públicas, isenção de impostos, construção de canais,
manutenção dos mesmos, regulamento de passageiros e serviços de transporte pelos canais e
caravanas, comércio internacional e muitos outros assuntos.

Em Ur, cidade natal de Abraão, Lagas, Nipur, Sipar, ou seja, em cada importante cidade que
havia naquele país, existiam, em conexão com as escolas e templos, bibliotecas com milhares
de livros: dicionários, gramáticas, obras de consultas, enciclopédias, anais oficiais,
compêndios de matemática, astronomia, geografia, religião e política. Neste período de
grande atividade literária, Assurbanipal, mandou copiar estes livros parar levar para sua
grande biblioteca em Nínive.

Quando Abraão visitou o Egito, havia milhões de inscrições em monumentos de pedra, em


papiro e pele. Em Canaã, perto de Hebrom, cidade de Abraão, havia uma cidade chamada
“Quiriate-Séfer”, que significa “cidade de escribas”, indicando um povo que tinha gosto pelas
letras.

Foram descobertas salas de aula, do tempo de Abraão, onde havia 150 placas de exercícios
escolares, textos sobre matemática, medicina, história e mitologia.

Sem duvida Abraão recebeu de seus antepassados a história da criação, da queda do homem,
do dilúvio. Por certo deve ter tirado cópias cuidadosas de narrações e registros recebidos de
seus ancestrais; a esses registros acrescentou a história de sua própria vida e das promessas
que Deus lhe fizeram, em placas de barro, na língua cuneiforme, destinadas aos anais da
nação que iria fundar.

Durante 1000 anos antes de Moisés já se escrevia tudo no Egito, em pedra, pele e papiro.
Cada Faraó tinha toda a história de seu reinado e dinastia esculpida nas paredes de seus
palácios; havia muitas bibliotecas com documentos do governo.

Em 1929, uma expedição francesa, encontrou ao norte de Sidom, perto de Antioquia, numa
cidade denominada Rãs Shamra (Ugarit), porto de mar ligando o Eufrates ao Mediterrâneo,
onde civilizações encontravam e se misturavam, uma biblioteca de templo, escola de escribas,
espécie de seminário teológico, com quantidades enormes de placas, dicionários, e obras de
consultas em 8 línguas: babilônico, hebraico, egípcio, hitita, sumeriano antigo, algumas
línguas desconhecidas, a escrita sinaítica e um alfabeto de 27 letras, muito mais antigo que
qualquer outro que se conheça; muitos datando de meados do segundo milênio a.C.
Por isso, todo o estudo destas descobertas e achados são deveras importantes para o estudo da
Escritura do Antigo Testamento, escrita em hebraico e aramaico, dentro do contexto todo
misturado com os cananeus, egípcios, babilônicos, etc.

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