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ESCOLA DE FORMAÇÃO ECLESIÁSTICA

INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

Aula 1 - CIÊNCIA INTRODUTÓRIA DO ANTIGO TESTAMENTO

A denominação AT (Antigo Testamento) remonta a maneira que falamos da Bíblia, posto que
a expressão “testamento” vem do latim, testamentum, que é a tradução do hebraico berit e do
grego diatheke, “pacto”, “acordo”, “contrato”, “aliança” (em grego = disposições
testamentárias) – tudo isso ligado a idéia da Aliança feita ente Deus (Javé) fez com Israel,
através de Moisés.

Apesar da ignorância de muitos, partidarismos raciais ou mesmo político em aceitar o Antigo


Testamento, temos a necessidade de o entendermos como um todo, suas partes e o
pesquisarmos de maneira científica – e é justamente disso que trata a Ciência Introdutória do
Antigo Testamento – tendo como objetivo estudar e expor todas as fases de
desenvolvimento do AT, desde suas origens até sua conclusão.

CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

O processo de canonização de qualquer coleção de Livros Sagrados precisa de séculos para


ser completado, é uma tarefa árdua e difícil. Pressupor que a Canonização é uma atividade
apenas humana que determinaria o que foi ou não escrito do que Deus quis é deixar de lado
toda a preservação do texto Bíblico que Deus fez durante os séculos que se passaram desde o
começo dos escritos – é deixar de lado a ação do Espírito Santo.

O processo é longo, o processo é penoso, o processo tem que ser guiado por Deus e permitido
pelo próprio Senhor, o homem, em sua pesquisa, conhecimento e processo de
desenvolvimento histórico, lingüístico e cultural, influencia muito em todo o processo.

A disputa pelos livros canônicos e os apócrifos, que com o tempo tentaram incorporá-los à
Bíblia parte de dois pressupostos: um, os extremamente liberais, que partem do não acreditar
em quase nada e, portanto os colocam bem ao lado de outros livros da Bíblia; de outro lado
os conservadores extremados que nem sequer mencionariam os livros para lê-los em seu
importante informe histórico.
O melhor a adotar é uma posição mediana – ou seja, analisando friamente, em nenhum lugar
da Bíblia encontra-se uma lista dos livros canônicos e isso nos diz que teremos, depois de
acuradas investigações, o elemento da FÉ para decidir o que fazer. Deus esteve no processo
de formação da palavra assim como esteve na sua preservação e também no processo
histórico que se formou por séculos para decidir que livros seriam colocados como canônicos,
quer no Antigo ou Novo Testamento.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

1. O Cânon do Antigo Testamento é resultado dum acrescentamento gradual. Não foi a


autoridade eclesiástica que o criou, mas sim foi sancionado pelo uso sagrado que já vinha
sendo feito até a data – ou seja, considerar livros canônicos de uma forma geral é reconhecê-
los como divinos por causa da utilização no meio do povo de Deus.
2. Não confundir o princípio do Cânon com o princípio da literatura sagrada hebraica.
Estes outros se conservaram sem classificação, quando somente a partir de um tempo
começou-se a fazer uma seleção, que havia de dar origem ao Cânon das Escrituras.
3. Um livro pode ter tido uma grande história literária antes de sua admissão no
Cânon.

A LEI

O processo histórico do Cânon pode ser descrito como iniciado em 621 a.C., quando Josias
estabelece uma reforma em Israel, quando foi encontrado o Livro de Deuteronômio que se
tornou o livro base para tal reforma. Os incidentes escritos em Gênesis exigem um
conhecimento de causa muito grande e realmente devem ter sido baseados em documentos
escritos e cuidadosamente preparados. No livro do Êxodo, 75 vezes diz: “Disse o Senhor a
Moisés”, mostrando que estes livros estão baseados na vontade revelada do Senhor e que
Moisés foi para quem foi feita a revelação. Em todo o Antigo Testamento e Novo Testamento
consideram Moisés como autor dos cinco primeiros livros da Bíblia (o Pentateuco); só em
Josué é mencionado 56 vezes e a lei escrita é referida por 4 vezes no livro.

OS PROFETAS
Evidências históricas nos mostram que entre 250 e 175 a.C os profetas posteriores e anteriores
eram considerados Escritos Sagrados. Isso inclui os livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis
(como profetas anteriores); Isaias, Jeremias e Ezequiel como profetas posteriores e os doze
profetas menores. Os escritos dos profetas se distinguiam tanto que não demorava muito para
que fossem considerados autoritários (inspirados por Deus, com autoridade de Deus). Em
quase todos vemos sempre a fórmula: “Assim disse o Senhor”.

OS ESCRITOS

Os Salmos, Provérbios, Jô e os cinco rolos: Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester


(que eram usados nas festas de Israel). Há também os livros de Daniel, Esdras, Neemias,
Crônicas. Destes livros o de Ester e Lamentações foram os últimos a serem considerados
como canônicos, talvez por volta de 160 a 105 a.C.

Pode ser bem provável que Josefo (historiados dos hebreus) tenha falado sobre algo que era
opinião antiga de que o cânon do Antigo Testamento tenha sido considerado fechado por
volta de 465-425 a.C., nos tempos de Ataxerxes, na época de Esdras. Com a tradução dos
Setenta (LXX – Septuaginta – por volta de 285-246 a.C., durante o reinado de Ptolomeu
Filadelfo) alguns livros foram acrescentados à lista de “sagrados” os livros de Cantares,
Eclesiastes e Ester foram os que permaneceram mais tempo como disputados – se deveriam
ou não ser considerados sagrados – e até o Sínodo de Jamnia, em 90 d.C., alguns rabinos
ainda não aceitavam o livro de Ester, talvez porque o nome de Deus não é mencionado
nenhuma vez em todo o livro.

O Cânon palestino é o que chamamos de Cânon Hebraico e o Cânon alexandrino é justamente


o que resultou na tradução da LXX – Septuaginta. Os protestantes seguem estritamente o
cânon palestino (hebraico) e os católicos, através da decisão do concílio de Trento, ao tempo
da reforma protestante, adota o cânon alexandrino, com os apócrifos.

DESENVOLVIMENTO DOS LIVROS APÓCRIFOS

O termo APÓCRIFO vem do grego apokrufe que quer dizer “oculto”, “secreto”, “misterioso”.
No início da Igreja Cristã, o termo era usado para designar livros de autoria incerta, ou
escritos sob pseudônimos (apelidos ou nomes para esconder o verdadeiro nome do autor ou
mesmo para se passar pelo autor mais famoso) e aqueles livros que também tinham a sua
autoridade canônica contestada, ou seja, eram duvidosos de serem ou não canônicos.

Os saduceus aceitavam apenas os livros de Moisés como canônicos. Os fariseus palestinos


aceitavam o Antigo Testamento conforme existe hoje na Bíblia Protestante; já os judeus
helenistas aceitavam os livros apócrifos, como hoje encontramos na Bíblia Católica. A LXX
(Septuaginta) sempre incluiu os livros apócrifos. Podemos dizer que até o século IV os
cristãos tinham em alta conta os livros não canônicos acrescidos na tradução dos Setenta.
Jerônimo, no ano de 400 d.C. lhes conferiu uma classificação inferior aos demais, separados,
por ocasião da Reforma eles foram rebaixados para a classe de livros comuns (não-sagradas),
segundo a Confissão de Fé de Westiminster ou até dizendo que eram úteis, com ensinos
morais, história, alegóricos e espirituais, mas sem ser uma base doutrinária para a Igreja.

No Concílio de Trento, em 1548, a Igreja católica oficializa os livros apócrifos como


canônicos e apesar de Jerônimo tê-los deixado de fora da Vulgata os insere, para leitura e
utilização na Igreja. Deixaram de fora apenas os livros de I e II Esdras e a Oração de
Manasses. A Igreja Anglicana segue o cânon apócrifo desde o Concílio de Trulan em 692 d.C.

LÍNGUA, TRADIÇÃO ORAL E LITERATURA

LÍNGUA - A língua Hebraica foi a língua dos hebreus; o qualificativo hebraico ao se referir
à língua dos hebreus ocorre em primeiro lugar no livro apócrifo de Eclesiástico (de cerca de
130 a.C.). Josefo se utiliza da expressão “língua dos hebreus” (glossa ton hebraion) a respeito
do antigo hebraico. Os Targuns (paráfrases judaicas dos livros do Antigo Testamento) chama
ao hebraico de “a língua sagrada”.

Podemos considerar o hebraico como sendo o dialeto israelita da língua Cananéia, mas Israel
estava cercado de povos que falavam o Aramaico, uma língua correlata, a língua de Aram que
era um território que abrangia parte da Mesopotâmia, Síria e uma extensa porção de Arábia.
Com a queda de Samaria (722 a.C.) as tribos semíticas que falavam o aramaico influenciaram
mais ainda, sendo que o hebraico começou a decair como língua até se extinguir como língua
falada. No tempo de Neemias ainda era a língua falada em Jerusalém (Nm 13.24), cerca de
430 a.C., mas muito tempo antes de Cristo a língua franca falada na região era o aramaico e
literatura em hebraico era apenas para os eruditos.
O aramaico se propagou e era a língua falada por Cristo e seus apóstolos. Alguns trechos do
antigo testamento ainda estão escritos em aramaico – Esdras 4.8 a 6.18; 7.12-16 e Daniel 2.4 a
7.28 e também os Targuns também estão em aramaico.

Todas as línguas semíticas são de grande importância para o estudante do Antigo Testamento
e nenhum dicionário hebraico se pode considerar satisfatório se não fizer menção ou mesmo
referências constantes à significação dos termos em suas raízes na palavra hebraica nas
línguas cognatas.

O hebraico passou por modificações durante o período em que foi escrito o Antigo
Testamento. Tem sido feitas tentativas para determinar estas modificações, mas sem muito
sucesso, pois o material para estudar certos períodos é incerto, principalmente para se ligar
certos livros a certos períodos da história.

TRADIÇÃO ORAL e LITERATURA – em 1477 d.C., com o surgimento da imprensa foi


feita a primeira impressão da Bíblia Hebraica: o Livros dos Salmos. Em 1488 achava-se
completa a impressão de toda a Bíblia Hebraica. O que precedeu todos os textos impressos
que temos, inclusive este feito em 1477 e 1488 são os manuscritos (MSS) que precederam. Há
nos MSS hebraicos e em nossas Bíblias, curiosas indicações sobre a fidelidade com que era
produzido. Aparecem certas marcas, que não se entendem, talvez feitas por erro ao manusear
a pena que são copiados fielmente em cada cópia.

Por volta do ano 800 d.C, os massoretas inventaram o sistema de acentuação, cadência para
leitura e exata recitação nas sinagogas, pronúncia e exata conexão entre palavras – escritos em
um corpo de tradições – a Massora – colecionados e transmitidos por eles – o texto chama-se
massorético. Existem enormes coleções massoréticas que tratam de assuntos como números
de palavras, números de letras de cada versículo etc. Estes homens fizeram um grande
trabalho ao preservar o texto do Antigo Testamento.

Devemos admitir que em Israel houve um longo período de tradição oral antes da escrita. Isso
vale pelo menos para partes das histórias dos livros mais antigos (Gênesis-Josué) e para
antigos Cânticos e Provérbios. Inicialmente transmitidos de lugar para lugar, tribo para tribo e
de geração para geração. Entretanto, desde tempos remotos, juntamente com a tradição oral
havia uma tradição escrita, que era a forma de tradição para os textos jurídicos, listas e
documentos.

Os escritos proféticos provavelmente foram transpostos para a escrita pouco tempo depois de
suas pregações, transmitindo oralmente o que Deus queria dizer ao povo.

A PROSA

O que vemos de particularidades nos escritos da prosa antiga, são muitas vezes “o resultado
de um processo longo de transmissão e reelaboração, cujos estágios individuais deixaram
seus vestígios, desde a fase de gestação, na tradição oral – caso a mesma exista ao princípio
– até a fase de redação e mesmo até aos acréscimos posteriores e às glossas”. Determinar
como é o escrito, ou o que é escrito de outro ou de uma tradição oral é difícil. É certo que
muitas vezes nos escritos os autores incorporam material mais antigo, mas é um tanto difícil
fazer distinção entre ambos. No livro dos Reis, por exemplo, nota-se certa citação referindo-se
aos livros das crônicas dos reis; isso nos leva a pensar que o escrito atual, na prosa, é o
resultado de uma junção de escritos mais antigos – feito em extrato – com a tendência
teológica do autor.

RECURSOS ESTILÍSTICOS – uma das particularidades é a INVERSÃO, que consiste no


desvio da seqüência verbal – pode servir para indicar algo determinado, colocado no texto,
pode ser usado como mnemônica ou processo de ênfase, num recurso literário-artístico. Outro
recurso é a repetição de palavras dando a elas importância para descrever situações –
exemplos: Gn 22, 6-8 (expressão meu filho); II Sm 11.17; 21-24. Pode-se repetir omitindo a
princípio o todo para depois dar ênfase no notável ou misterioso – como em Gn 20. 4 e 18.
Outro recursos seria a introdução de discursos na narrativa, com intuito de impulsionar,
acalmar ou protelar a ação. Como no livro de Jó.

A POESIA

Artifícios poéticos
i. Linguagem figurada – o hebraico é dado a poesia, por seu ritmo,
sobre sua forma e expressão verbal – a linguagem figurada é uma
das importantes características na poesia do Antigo Testamento e
pode ser vista nos Salmos, onde usa-se muito personificações,
metáforas, símiles, metonímia etc para expressar o que se quer. Em
Jó vemos em certas porções a poesia incrustada ali; no cântico de
Moisés (Ex 15.1 ss); no cântico de Débora (Jz 5.1 ss).
ii. Paralelismo – pode ser uma repetição de idéias, usando-se
sinônimos (Sl 49.1; Sl 104); pode ser quando uma frase é colocada
depois da outra para mostrar ou reiterar a primeira idéia (Sl 55.6)
mesmo que seja levemente diferente (sintético); pode ser um
contraste (Sl 1.6) com a idéia expressada anteriormente
(antitético); ainda quando a segunda linha amplia (Sl 55.12, 13) a
idéia contida na primeira (climático); ou mesmo quando uma linha
é seguida por outras (Sl 45.1) com diferentes tipos de paralelismo
(binósfico).
iii. Ritmo – não é um ritmo como os gregos usam, contando as
sílabas, medindo mesmo as palavras, mas sim na entonação – a
acentuação das palavras poderia ditar o ritmo ao se ler, porém os
hebreus não possuíam regras rígidas a este respeito.
iv. Música – o fato de muitos dos Salmos terem sido musicados não
significa que todos o eram. Os gregos tinham por finalidade que sua
poesia fosse entoada. Havia cânticos em outras partes, que não eram
necessariamente músicas religiosas – “como em Nm 21.17,18 que se
refere ao um ‘cântico do poço’ – que parece ter sido uma espécie
de coro, empregado pelos cavadores de poços para se encorajarem
enquanto ocupados em um trabalho árduo como esse”.

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