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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

INSTRUÇÕES

Com muita alegria, nós da FTB (Faculdade Teológica Betesda), te damos oficialmente as
boas-vindas ao projeto Férias com Teologia!

Definitivamente não sabíamos que esse projeto alcançaria esse número gigante de alunos.
Obviamente estamos felizes por isso, por outro lado não estávamos preparados para
processar o ingresso de tanta gente em tão pouco tempo.

Por isso é possível que alguns de vocês tenham ficado um tempo acima do comum sem
receber ajuda ou respostas às questões sobre o acesso à plataforma ou sobre como
entrar no grupo de alunos.

Então iremos aproveitar o início dessa segunda aula para apresentar um tutorial rápido
sobre como acessar a plataforma e sobre como entrar no grupo de alunos.

Durante o mês de Janeiro, tradicionalmente as escolas seculares e teológicas seguem


fechadas desfrutando as merecidas férias; mas nós entendemos que essa, pode ser uma
boa oportunidade para oferecer ajuda através das nossas ferramentas de capacitação e
edificação.

Nossa ideia é oferecer conhecimento Bíblico e Teológico a todos os amantes da palavra


de Deus, então mais uma vez, sinta-se a vontade para conhecer nossa plataforma de
ensino.

Esse projeto em particular nasceu do nosso desejo de compartilhar conhecimento e


capacitação para formar homens e mulheres para servir a Deu com mais segurança e
profundidade.

Vale lembrar aqui, que essa é um módulo técnico, e que para aproveitar melhor esse
conteúdo, é importante que você acompanhe a aula (seja ao vivo ou depois através da
plataforma) em um ambiente previamente preparado para o seu estudo, onde você possa
oferecer sua atenção com qualidade ao conteúdo aqui compartilhado.

O curso Férias com Teologia, (como você sabe) é uma imersão, portanto não será possível
tratar os assuntos até a exaustão, mas apresentaremos com toda humildade cada assunto
com muita atenção e carinho, e assim como no primeiro módulo, em cada experiência de
aula ao vivo, trabalharemos juntos em mais esse módulo para a glória de Deus.

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Para que você não se esqueça: Segue abaixo o cronograma dos módulos desse projeto:

Segue abaixo o cronograma dos módulos desse projeto:

03/01 - CRISTOLOGIA: JESUS O CENTRO DAS ESCRITURAS.


10/01 - BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS.
17/01 - ANTROPOLOGIA: O HOMEM, A QUEDA E A REDENÇÃO.
24/01 - TEONTOLOGIA: A TRINDADE E SUAS NUANCES.
31/01 - APOLOGÉTICA: A GUARDA DO SÁBADO E SUAS IMPLICAÇÕES.

Importante:
É de fundamental importância que antes de iniciar cada aula, você busque a Deus em
oração.

A Bíblia diz que para buscar sabedoria precisamos antes de tudo orar à Deus pedindo.

“⁵ Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente,
de boa vontade; e lhe será concedida.
⁶ Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do
mar, levada e agitada pelo vento.” (Tg 1:5,6)

Sendo assim, o primeiro exercício de cada módulo é orarmos à Deus pedindo que essa
sabedoria nos seja revelada. Mas esse compromisso não pode ser clichê. Para tanto,
vamos sempre iniciar as aulas oferecendo um tempo para que cada um dos alunos busque
realmente a Deus, fazendo isso de forma pessoal e não apenas coletivamente.

Seus acessos:
Ao se inscrever no curso Férias com Teologia, você oficialmente passa a fazer parte do
nosso quadro de alunos, sendo assim, terá os seguintes benefícios:

Aulas ao vivo todas as quartas feiras de Janeiro sempre entre 19:30 e 21:00 (horário de
Brasília).

Certificado liberado automaticamente (em formato digital) após a conclusão da última aula
(é preciso ter 90% de comparecimento).

Credencial de Aluno FTB com validade de 60 dias disponível na versão digital.

Acesso ao Material Didático de cada módulo contendo todo conteúdo tratado durante a
aula ao vivo e extras.

Esse conteúdo pode ser baixado através da plataforma de alunos, e o acesso está em seu
email (pesquise na caixa de entrada por: CENTRALFTB ou digite em seu navegador:
https://centralftb.com/login

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Grupo fechado de alunos. Através do grupo você receberá material extra curricular, outros
conteúdos de apoio sempre quando houver; e também estará em constante contato com
a FTB durante todo projeto. É pelo grupo que disponibilizamos os links das aulas, além de
tirarmos dúvidas sobre seu acesso e muito mais.

Esse é um curso de capacitação teológica, e aqui, nossa matéria prima é sempre a Bíblia,
ou seja, todas as aulas, todas as afirmações, e todas as conclusões desse curso estarão
sempre baseadas nos Textos Bíblicos e nos módulos técnicos como esse, privilegiaremos
os documentos e informações que respeitam a Bíblia, embora trataremos de outros que
não têm a mesma consideração.

Nossa esperança e nosso trabalho, é que através de mais esse projeto, o SENHOR
desperte, inspire e capacite pessoas adestrando-as para o trabalho do Reino; e que você
seja uma delas, afinal como disse Nosso Senhor: “erguei os olhos e vede os campos,
pois já branquejam para a ceifa.” (Jo 4:35).

À Ele toda Glória!

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APRESENTAÇÃO

Podemos dividir facilmente as pessoas em dois grupos os que acreditam na veracidade


da Bíblia e os que duvidam dela.

Aqueles que acreditam (imagino está me dirigindo agora a pessoas que tem essa
cosmovisão), entendem que a Bíblia Sagrada, é um livro inspirado inerrante e plenamente
considerado como Palavra de Deus. E que foi conservado e preservado durante milhares
de anos através de manuscritos espalhados por todo o mundo que juntos oferecem com
segurança as provas documentais que testificam a veracidade do que costumamos
chamar de Escrituras.

Infelizmente nem todos os cristãos confessos têm a Bíblia nessa elevada condição ou
consideração.

Muitos cristãos atuais especialmente aqueles que foram influenciados pelo movimento
conhecido como “Alta Crítica” ou tecnicamente: Crítica Histórico Literária…

Mas, antes de me posicionar aqui sobre essa questão, prefiro deixar a definição
apresentada pela Wikipédia sobre esse vocábulo:

“crítica histórico-literária aborda e trata a Bíblia sob uma perspectiva secular ou


acadêmica. As Escrituras são tratadas como qualquer outra obra de literatura, utilizando-
se de métodos e informações da arqueologia, história, antropologia, sociologia, linguística
e baixa crítica etc. Desta forma, caracteriza-se de modo geral, por não partir do dogma
da inspiração e inerrância bíblica para efetuar suas análises.
A crítica histórico-literária é uma abordagem das Ciências Bíblicas (em inglês Bible
Scholarship ou Bible Studies), a qual não se confunde com teologia, formação pastoral
ou ciências da religião. No Brasil não há cursos de graduação para o exame não
denominacional da Bíblia, sendo o livro pesquisado em cursos confessionais de teologia,
letras ou história.[2]”

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Exegese_b%C3%ADblica_(teologia)

Conforme falamos antes aos alunos através dos grupos, esse, será o módulo mais técnico
do nosso curso, então antes de seguirmos eu gostaria de apresentar uma espécie de
parábola a e para isso precisarei da atenção de todos vocês:

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Eu não sei se você já ouviu falar ou se você conhece a proposta do “Paradoxo de Teseu”.

Ele foi proposto pelo filósofo Plutarco.

Teseu é um herói da mitologia grega, muito conhecido por ter derrotado o Minotauro.

Ele era filho de uma relação conturbada de Edra, Egeu e Poseidon, mas o que é esse
paradoxo, e o que isso tem a ver com a matéria de hoje?

Vou tentar apresentar o paradoxo de Teseu em poucas palavras aqui:

Digamos que Teseu tenha que pegar o seu navio e partir do ponto A até o ponto B. E ele
vai demorar cinquenta anos para fazer essa viagem.
No decorrer da viagem as madeiras do navio vão se desgastando e ele vai trocando as
tábuas, de forma que quando ele aporta no ponto B, já tenha trocado todas as tábuas do
navio.
E agora vem a pergunta do paradoxo: Se ele sai de um ponto A com todas as peças de
um navio e ele chega ao ponto B tendo todas as peças originais trocadas; o navio que
chega no ponto B é o mesmo que saiu do ponto A?

E o que esse paradoxo aparentemente sem sentido tem a ver com essa matéria e com
tantas outras coisas?

Bom, a gente sabe que a maioria das células do corpo são regeneradas, algumas células
humanas se regeneram em horas, já outras células podem demorar décadas…

Agora pense que ao nascer você tinha algo entre dois e quatro quilos, gente nasce um
bebezinho, e até ficar adulto, todas as suas células são trocadas várias vezes, ou seja: A
pessoa que está ouvindo isso agora, é a mesma que saiu do ventre da sua mãe, já que
todas as suas células foram substituídas?

Ou podemos pensar na pessoa que tinha cento e trinta quilos e perdeu a metade desse
peso. Ela perdeu metade dela?

Mas não tente responder rápido esse paradoxo, vamos descer um pouquinho mais nessa
questão.

O livro Pense de Novo, em uma passagem com Adam Grant, comparando o Paradoxo de
Teseu com o nosso amor pelos times de futebol. Ou a nossa fixação por estereótipos e
ódio ao inimigo.

Ele fala, por exemplo, que se você odeia um time rival, você não odeia por fatores
racionais. Você odeia porque desde criança, às vezes, você ouvia seu pai ou seu avô
falando, xingando, ou um monte de gente no estádio.

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

E aí você repete coisas muito que nem sempre são baseadas na razão:
“- Eles são muito ruins.”
“- Eles jogam sujo.”
“- Eles não têm zagueiro.”

Coisas assim…E aí o autor complementa, por exemplo, que dificilmente um time é o


mesmo.

Ele já teve todas as suas peças mudadas literalmente.

Imagina, por exemplo, quem torce para o Santos por causa da época do Pelé.

Já foram trocados todos os seus dirigentes.


O time já não é o mesmo.
Já foram trocados todos os jogadores.
O planejamento tático, certamente, do time não é o mesmo de décadas atrás.

Ou seja, o que as pessoas adoram ou odeiam são simplesmente desenhos, bandeiras, e


não a coisa em si.

Daí, a importância dos símbolos. Certamente que o catolicismo atual não é o mesmo hoje
do século XV.

E a Igreja que você se converteu trinta anos atrás, já não está mais sendo a mesma,
porque os líderes daquela época, geralmente tinham mais de sessenta anos, e hoje estão
mortos, ou muito velhos, e quem lidera a mesma denominação é outro time de líderes
com outra tática e quem sabe até outra abordagem.

E esse time, também não será o mesmo daqui a cem anos.

Meu corpo não é o mesmo, e minha mente necessariamente não precisa de ser a mesma,
e sempre quando estamos diante de uma questão, precisamos analisar-la com carinho,
cuidado e atenção sem deixar que as impressões históricas nos influenciem para o bem
ou para o mal.

Mais à frente precisaremos utilizar essa parábola quando formos falar à respeito de crítica
textual. Por agora, vamos em frente!

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

SUMÁRIO

01. O VERDADEIRO ESTUDO SOBRE DEUS É BASEADO NA REVELAÇÃO. ................... 47

02. A BIBLIOLOGIA E OS SALTOS ONTOLÓGICOS DA REVELAÇÃO. ............................. 49

03. A ESTRUTURA DA BÍBLIA. ....................................................................................... 55

04. O QUE SIGNIFICA CÂNON. ....................................................................................... 57

05. O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO. ..................................................................... 60

06. O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO. ........................................................................ 65

07. MANUSCRITOLOGIA. ............................................................................................... 68

08. PODEMOS CONFIAR NAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA? ................................................ 72

09. CONSELHO FINAL SOBRE A DISCIPLINA. ................................................................ 74

BÔNUS: ESTUDO SOBRE A ALTA CRÍTICA E SUAS CONSEQUÊNCIAS. .......................... 75

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01.
O VERDADEIRO ESTUDO SOBRE
DEUS É BASEADO NA REVELAÇÃO.
Toda as posições teológicas são na verdade frutos da Revelação de Deus ao homem.

As diferenças entre as posições teológicas são na verdade interpretações dessa mesma


revelação.

Não quero ser repetitivo, até porque nosso tempo nesse curso é muito escasso, por outro
lado, temos nesse módulo um número muito maior de alunos que talvez estejam
começando por aqui (o que não é indicado), sendo assim é preciso reforçar ao menos a
base de compreensão que temos sobre Teologia.

Entendemos que o próprio termo “teologia” é em si um tanto quanto insuficiente para


tratar do trabalho do verdadeiro teólogo; explico:

Sabemos que o termo teologia propõe o estudo de Deus


ou sobre (à respeito de) Deus.

Mas nós não estudamos Deus como a palavra, teologia propõe etimologicamente.

Nós não estudamos Deus.


Deus não está à mesa conosco de igual para igual para ser interrogado; e nem está sobre
a mesa para ser dissecado.

O que nós estudamos é a REVELAÇÃO.

Então o que nós sabemos de Deus é o que Deus disse.

A gente não sabe mais nada.

Inclusive, a gente sabe que Ele não disse tudo, inclusive hoje (se Deus quiser), iremos
aprofundar um pouco mais essa questão daqui a pouco, quando trataremos dos saltos
ontológicos.

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Mas enfim, a gente sabe que Ele não disse tudo…

Por outro lado, a gente sabe que Ele disse o suficiente, o necessário.

Então, a gente trabalha em cima do que Ele disse, e a partir do que Ele disse nós
elaboramos aquilo que chamamos de Teologia.

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

02.
A BIBLIOLOGIA E OS SALTOS
ONTOLÓGICOS DA REVELAÇÃO.
O termo “salto ontológico” geralmente é atribuído na Teologia ao S. Anselmo de Cantuária,
mas alguns estudiosos também atribuem essa expressão à Kant.

Mas para entendermos o que significa salto ontológico, precisamos saber o que é um
argumento ontológico.

Um argumento ontológico, pode ser qualquer argumento que defende a existência de


Deus através da ideia de que Ele é obrigatoriamente um ser perfeito e, portanto, deve
existir como origem do conceito de bondade inerente ao ser humano.

Ontologia, portanto, se você pesquisar agora, chegar na explicação de que se trata do


estudo que investiga a natureza da realidade e da existência de tudo através de Deus.

Percebemos que a Revelação fala de saltos ontológicos na humanidade.

A Bíblia relata um mundo procurando Deus, e Deus não se dando a achar.

Os homens começaram a procurar por Deus, não acharam, e aí transbordaram de deuses.

O Panteão Sumério identifica que os Sumérios, que são a primeira civilização catalogada
da história, saltaram do monoteísmo para o politeísmo, e não o contrário.

Esses antes tinham apenas e tão somente um Deus, depois eles passaram para três, e
depois eles saltaram para vários.

Então é um caminho do monoteísmo para o politeísmo.

Fica então a impressão de que os homens foram atrás de Deus e Deus não foi mais
achado.

E aí a necessidade que o ser humano tem de relacionar-se com o transcendente, e o


reconhecimento que o ser humano tem de que a transcendência existe, levou o ser

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

humano ao politeísmo.

Depois muito tempo, de silêncio, a Bíblia apresenta Deus visitando Abrão.

ABRAÃO: O PRIMEIRO SALTO.


Então Abrão é o primeiro salto ontológico na humanidade, porque agora finalmente tem
um ser humano com quem Deus fala, e a quem Deus dirige lhe dando ordens, direção e
lhe faz promessas.

Através de Abrão, descobrimos que Deus se relaciona com pessoas. E que Ele tem
interesse em ter um povo que se relaciona especialmente com Ele.

Por isso Abrão é o primeiro salto ontológico.

MOISÉS: O SEGUNDO SALTO.


Como segundo salto, a Bíblia apresenta Moisés.

Moisés surge na linha do tempo séculos depois, e é um outro salto ontológico na


humanidade, porque, à partir do seu encontro com Deus, agora existe pelo menos uma
pessoa que não só fala com Deus, como Deus fala com ele.

(Ex 6:2) “Falou mais Deus a Moisés e lhe disse: Eu sou o


SENHOR. Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus
Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, O SENHOR, não
lhes fui conhecido.”

E é graças a esse salto, que os primeiros escritos da Bíblia surgem. Porque Deus conta
pra ele o que foi que tudo aconteceu, e Deus determina que Moisés registrasse tudo, e
depois que ensinasse aos hebreus que passassem tudo que estava escrito (o Pentatuco)
de pai para filho, todos os dias, e a todo instante.

(Dt 6:6-9) “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no


teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao
deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal
na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as
escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.”

Esse trabalho levou ao todo quarenta anos para ficar pronto, obviamente que a primeira
parte foi apenas quarenta dias, e foi escrito em pedra, mas depois Moisés seguiu
escrevendo conforme Deus revelava nesse relacionamento ímpar até então.

E quando Moisés terminou tudo, subiu para o Monte Nebo, e deixou seus escritos com

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

seu povo. Os judeus chamam essa primeira parte da Bíblia de Lei, e nós chamamos de
Pentateuco.

Ao terminar esse trabalho, Moisés não só havia organizado a língua do seu povo, como
ele tinha contado para o seu povo o que tinha acontecido com a humanidade, com o
planeta.

E de repente aquele povo era o único povo do mundo que sabia o que é que tinha
acontecido. Ninguém mais sabia.

Por que os seres humanos são maldosos?


Por que o planeta é do jeito que é?
Só os judeus sabem…

Deus fez só a terra ou outros lugares?


Deus se relaciona com as pessoas?
Só os judeus sabem…

O que foi que aconteceu no mundo?


Só os judeus sabem…
Qual era o relacionamento de Deus com os homens?
Só os judeus sabem…

Deus falou para os judeus.


Deus falou para Moisés.
Por isso, esse é um outro salto ontológico.

JESUS: O TERCEIRO SALTO


Depois de Moisés vem Jesus, foi isso que Deus havia prometido. Moisés significa tirado
das águas, e Jesus ao sair das águas é chamado de Filho Amado de Deus.

Jesus é um outro salto ontológico na humanidade, ou seja, agora, Deus não só fala com
as pessoas como fez com Abrão…

Agora, Deus não só conta pra as pessoas como tudo veio a existir, e o que é que
aconteceu na humanidade, como fez com Moisés…

Mas agora, Deus mesmo vem à terra!


Deus mesmo vem andar com seres humanos, e durante trinta e três anos, a humanidade
conviveu com um Ser Perfeito, e Eterno andando no meio dos homens, falando com os
homens, curando os homens, explicando para os homens o que que tinha dito para
Abraão, e o que que havia dito pra Moisés,

Por isso Jesus é o centro das Escrituras como vimos na aula passada. Agora Jesus está
explicando aos homens, o que que eles deviam esperar, dizendo a eles como deveriam

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

ser, e o que eles precisam fazer para se voltarem da rebelião contra Deus.

E para finalizar, Jesus também mostra qual será futuro e o que acontecerá depois da
morte.

Ele Morre e ressuscita, e aí vem um outro salto ontológico.

O ESPÍRITO SANTO O QUARTO SALTO


Após a morte de Jesus, O Espírito Santo vem morar em alguns homens.

E o Espírito Santo, que vem morar em alguns homens, universaliza a mensagem do Deus
que andou entre nós.

E inspira esses homens, nos quais Ele agora habitava, (e que, portanto, viveram esse
salto ontológico), e faz essas pessoas levarem essa mensagem a toda a humanidade, de
modo que a partir desses homens, agora toda a humanidade sabe o que antes, só os
judeus sabiam.

E mais… oferece a toda humanidade o salto ontológico de ser gente em quem Deus
mora!

Que Deus veio à terra para poder morar nos homens. E esse é um grande salto ontológico!

Assim surgem os registros inspirados sobre a vida de Jesus Cristo, assim como o relato
inspirado sobre os passos da Igreja, e os registros das epístolas onde Deus inspirou
aqueles que Ele mesmo escolheu como apóstolos para ensinar a Igreja daquele período
e através desses registros doutrinar a Igreja até o dia de hoje.

E esse, não é o último salto ontológico ainda, porque no final da revelação, um dos
apóstolos “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele,
porque haveremos de vê-lo como ele é.” (1Jo 3:2).

Na prática, isso significa, que ainda nos aguarda mais um salto ontológico.

Uma coisa sabemos, que nós o veremos como Ele é, que seremos semelhantes a Ele.

Então, nos aguarda mais um salto ontológico que nós não sabemos qual é.

E aí, o outro apóstolo diz:


“- Não, não, mas esse não é o último salto ontológico,
ainda tem mais um”.

Qual é?

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Quando o último inimigo foi derrotado, o filho vai entregar tudo ao Pai e Deus vai ser tudo
em todos.

(1Co 15:28) “Quando, porém, todas as coisas lhe


estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se
sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que
Deus seja tudo em todos.”

Esse parece ser o último salto ontológico da humanidade.

O que significa essa história de que Deus vai ser tudo em todos?
Ninguém sabe.

Então nos restam ainda mais dois saltos ontológicos.

Então para onde estamos indo?


O que é salvação?

Essa é a pergunta, e esse é o tema do próximo módulo, já aproveito para avisar que
abordaremos essa questão com mais profundidade na semana que vem.

Mas aqui mesmo a matéria sendo Bibliologia, já está claro que salvação não é uma
mudança de religião.

Salvação é um salto ontológico em direção de pelo menos mais dois saltos ontológicos.
Salvação é deixar de ser gente do jeito do mundo e passar a ser gente do jeito que Deus
quer.

E aqui percebemos que existem ainda novas maneiras de ser gente, três novas maneiras:

A primeira é essa que vivemos em Cristo, porque agora eu sou gente em quem Deus
mora, então não sou mais gente como eu era.

A segunda eu sinceramente não sei ainda o porquê não foi revelado.

“…Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos


semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele
é.” (1Jo 3:2b)

Sei que veremos à Cristo, seremos semelhantes à Ele.


Mas como isso vai funcionar, sinceramente não sabemos.
A gente só sabe isso.

E depois disso acontecer, e de vermos Ele Como Ele é, e se sermos semelhantes a Ele,

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Ele vai entregar tudo ao Pai.

E isso fecha o ciclo da Trindade, esse último salto encerra (com base no que nos foi
revelado), o ciclo de salvação da Trindade. Quando Jesus entregar tudo ao Pai, então
Deus, isto é a Trindade, vai ser tudo em todos.

E esse é o último estágio da salvação.

Então quando a gente fala em revelação, a gente está falando muita coisa.

Agora passaremos a uma parte mais técnica e menos teológica para aprendermos
Bibliologia.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

03.
A ESTRUTURA DA BÍBLIA.
A Bíblia é composta de duas grandes seções, conhecidas como Antigo e Novo
Testamento, totalizando 66 livros, sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo
Testamento.

Essa pequena coleção de livros (biblioteca) foi escrita num período de aproximadamente
1.500 anos, por mais de 40 autores, das mais variadas profissões e atividades, que
viveram escreveram em países, regiões e continentes afastados uns dos outros, em
períodos e condições diversas, mas seus escritos formam uma harmonia inigualável.

FATOS E PARTICULARIDADES DA BÍBLIA:


A Bíblia não era dividida em capítulos e versículos todos os livros eram escritos de forma
linear.

A divisão em capítulos foi feita no ano de 1250 pelo cardeal Hugo de Saint Cher, abade
dominicano e estudioso das Escrituras.

A divisão em versículos foi feita as duas partes:


• O Antigo Testamento em 1445, pelo rabi Nathan.
• O Novo Testamento em 1551, por Robert Stevens, um impressor de Paris.

A primeira Bíblia a ser publicada inteiramente dividida em versículos foi a Bíblia de


Genebra, em 1560.

É de suma importância que o estudante compreenda que essas divisões, assim como as
epígrafes, não faziam parte dos textos originais, portanto não foram inspiradas.

A Bíblia toda contém 1.189 capítulos e 31.173 versículos, destes, 929 capítulos e 23.214
versículos ocorrem no Antigo Testamento; 260 capítulos e 7.959 versículos, no Novo
Testamento.

O número de palavras e letras depende do idioma e da versão.

O maior capítulo é o salmo 119, e o menor o salmo 117.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

O maior versículo está em Ester 8.9; o menor, em Êxodo 20.13 (isso nas versões
portuguesas e com exceção da chamada "Tradução Brasileira", onde o menor é Lucas
20,30).

Durante muito tempo se afirmou que o nome sagrado de Deus (YHHW) no está presente
nos livros de Cantares e Ester, No entanto, encontramos o nome na sua forma contraída
(Yah) em Cantares, e na forma de acróstico em Ester; porém a presença de Deus é
evidente nos fatos neles desenrolados, principalmente em Ester.

Há na Bíblia 8.000 menções de Deus sob vários nomes divinos, e 177 menções do Diabo,
sob seus vários nomes.

O nome de Jesus consta do primeiro e do último versículo do Novo Testamento.

As traduções da Bíblia (toda ou em parte) até 1984 atingiram 1.796 línguas e dialetos.

Restam ainda cerca de 1.000 línguas para as quais ela precisa ser traduzida.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

04.
O QUE SIGNIFICA CÂNON.
Quando o assunto é Bíblia, sempre ouvimos a palavras como: Cânon, Canônico e
Apócrifo. Existem ainda outras palavras talvez menos conhecidas do grande público mas
que permeiam a discussão técnica sobre os livros da Bíblia como: Deutero-Canônico ou
Pseudo-epígrafe.

Então vamos definir de uma vez o que é cânon e porque esse nome é usado, e o que
significa cada uma dessas nomenclaturas.

CÂNON - CANÔNICO:
O termo latino "cânon" teria vindo por meio da palavra grega kanwn (kanon), que significa
"cana" ou "vara medir" e indica uma regra, uma lista, um padrão de medida.

Através dessa vara se media por exemplo uma propriedade ao ser vendida. Portanto
Kanon num primeiro momento definia qual era a medida oficial de uma área.

Seu correspondente em hebraico (kaneh) significa "vara ou cana de medir" (Ezequiel


40.3), ou seja, o instrumento que se utilizava para medir.

Norman Gisler diz que "mesmo em época anterior ao cristianismo, essa palavra era usada
de modo mais amplo, com sentido de padrão ou norma, além de cana ou unidade de
medida",

O cânon designa, portanto, aquilo que foi medido e a respeito do qual se estabeleceu um
padrão ou norma oficial.

APÓCRIFOS:
Sabemos o que é um livro canônico, mas o que é um livro apócrifo?

Várias foram as definições que o termo apócrifo recebeu ao longo da história.

Esse termo não era usado entre os primeiros cristãos. Os livros apócrifos eram
designados de “não canônicos”, “contestados”, livros que “não podem ser lidos na igreja”.

No grego clássico a palavra apocryfa significava “oculto” ou “difícil de entender”; isso em

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

referência a livros que tratavam de coisas secretas, misteriosas ou ocultas.

Nos séculos III e IV, na época de Irineu e Jerônimo, o vocábulo apocryfa, veio a ser
aplicado aos livros não canônicos do Antigo testamento.

Posteriormente, tomou sentido de “esotérico” ou algo que somente os iniciados podiam


entender, jamais os de fora.

Orígenes foi o primeiro a se pronunciar sobre quais Escrituras possuíam autoridade


eclesiástica, e com este fundamento pode se deduzir as diversas classes de textos
eclesiásticos.

A Septuaginta (LXX), tradução do Antigo Testamento hebraico para o Grego, feita em


280(AC), foi a primeira a incluir os quinze livros apócrifos em seu conteúdo.

Jerônimo no ano 405 (AD), incluiu-os também em sua tradução latina do Antigo
Testamento chamada Vulgata, porque lhe fora ordenado, mas recomendou que esses
livros não fossem usados como base doutrinária.

Os apócrifos incluídos na Septuaginta são:

1. Terceiro Livro de Esdras;


2. Quarto Livro de Esdras;
3. Tobias;
4. Judite;
5. Adições ao Livro de Ester;
6. A Sabedoria de Salomão;
7. A Sabedoria de Jesus o Filho de Siraque, ou Eclesiástico
8. A segunda parte de Baruque é conhecida como a Epístola de Jeremias.
9. Acréscimos ao livro de Daniel;
10. A oração dos Três Moços;
11. Susana;
12. Bel e o dragão;
13. A oração de Manassés;
14. O Primeiro Livro dos Macabeus;
15. O Segundo Livro dos Macabeus.

DEUTEROCANÔNICOS
O termo deuterocanônico basicamente dá a ideia de algo que foi “canonizado depois”.

Essa segunda canonização foi feita e é respeitada apenas pelos católicos nos últimos
cinco séculos.

Os reformadores foram em parte os grandes responsáveis pela eliminação dos apócrifos


da Bíblia por haver elementos inconsistentes com a doutrina protestante.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Entretanto em 1546 no concílio de Trento, a igreja católica romana proclamou alguns


livros tradicionalmente chamados de apócrifos como canônicos, ou seja, detentores de
autoridade espiritual para seus fiéis; excluindo apenas os dois livros de Esdras, e a oração
de Manassés da lista que demos acima.

À partir desse fato, esses livros começam a ser chamados de Deuterocanônicos, pelo fato
de entrarem no cânon (católico) de forma tardia.

Os deuterocanônicos mais conhecidos da Bíblia católica são 1 e 2 Macabeus, Tobias,


Judith, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico e Baruque.

Os quatro primeiros são históricos.


Sabedoria de Salomão, e Eclesiástico são poéticos, mas também chamados de sapiências.
Baruque é profético.

Essa lista de livro ficou conhecida como deuterocanônicos por terem sido canonizados
15 séculos depois pela igreja católica.

59
FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

05.
O CÂNON DO ANTIGO
TESTAMENTO.
Com relação aos livros do que chamamos de Antigo Testamento, o cânon consiste
naqueles livros considerados divinamente inspirados para serem incluídos nas Sagradas
Escrituras.

Na época de Jesus, os 39 livros do Antigo Testamento já eram plenamente aceitos pelo


judaísmo como divinamente inspirados.

Os rabinos utilizavam a expressão "manchar as mãos" para designar os livros que hoje
conhecemos como canônicos.

Finalmente, no 90 d.C., em Jâmnia, perto da moderna Jope, em Israel, os rabinos mais


importante do judaísmo de então, numa espécie de concílio sob a presidência de Yohanan
ben Zakkai, e fixaram oficialmente o cânon do Antigo Testamento.

Por isso, não houve canonização livros em Jâmnia.

O trabalho desse concilio foi somente ratificar aquilo que já era aceito por todos os judeus
através dos séculos.

O Antigo Testamento é a primeira parte da Bíblia, que contém 39 livros, divididos em três
grupos para os
Judeus (Torah, Neviim, Ketuvim) e em quatro para os cristãos (Lei, Históricos, Poéticos
e Proféticos), sendo que esta sequência é ainda alterada em outros cânones, como os
católicos romanos, ortodoxos, armênios, etíopes, cópticos etc.

Segundo a tradição judaica, a estrutura em que se encontram os livros do Antigo


Testamento está intimamente ligada à história do Templo e das instituições sacerdotais
de Jerusalém.

O estabelecimento do cânon veterotestamentário foi resultado de um longo processo, no


qual intervieram fatores internos e externos ao judaísmo.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Para os estudiosos, tanto judeus como cristãos, a estrutura do Antigo Testamento se


divide em dois grandes períodos: o período do "primeiro Templo", desde a construção do
Templo por Salomão (950 a.C.) e sua destruição pelos babilônios em 586 a.C., e o período
do "segundo Templo", desde sua reconstrução por volta dos anos
529-515, época de Zorobabel, até sua destruição, no ano 70 d.C., pelos romanos.

Flávio Josefo, historiador judeu (37 - 100 d.C.), contemporâneo do apóstolo Paulo,
declarou na obra História dos Hebreus:

“Porque não temos entre nós uma quantidade enorme de


livros, que discordam e se contradizem entre si (como
acontece com os gregos), mas apenas vinte e dois livros,
que contêm os registros de todos os tempos passados,
que cremos justamente serem divinos… e quão
firmemente damos crédito a esses livros de nossa
própria nação fica evidente pelo que fazemos; porque
durante tantos séculos que já se passaram, ninguém teve
ousadia suficiente para acrescentar nada a eles, cancelar
qualquer coisa, nem fazer neles qualquer modificação;
tendo-se tornado natural a todo judeu desde seu
nascimento estimar esses livros como contendo
doutrinas divinas, e perseverar nelas; e, caso necessário
morrer voluntariamente por elas.”

Conclui-se que a estrutura da Bíblia hebraica reproduz a provável ordem em que seus
livros foram canonizados, formando a Tanak:

Primeiramente a “Lei” escrita, em hebraico Torah, antes do exílio babilônico.

Depois os "Profetas" (ou Neviin), no retorno deste exílio.

Finalmente os “Escritos” (Ketuvim), possivelmente só depois da destruição do Segundo


Templo.

Vale lembrar que nos tempos do rei Josias, alguns anos antes do Exílio e da destruição
do Templo de Salomão, descobre-se no mesmo Templo, o livro do (proto) Deuteronômio;
na volta do Exílio, com o Templo destruído, Neemias recolhe os livros sobre os reis, os
escritos dos profetas e de Davi e as cartas dos reis sobre alguns assuntos.

Finalmente, depois da profanação do Templo e antes de celebrar sua reconsagração,


Judas Macabeu recolheu 'todos os livros dispersos por causa da guerra'".

A Bíblia hebraica dos judeus é o Antigo Testamento, conhecido por Tanak, sigla que vem

61
FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

das iniciais da divisão (Torah, Neviím, Ketuvim).

A disposição em que se encontram os livros do Antigo Testamento hebraico é diferente


das outras versões, pois se constitui de 24 livros; todavia, são exatamente iguais aos 39
das Bíblias protestantes, pois os profetas menores são um único livro, assim como são
os dois livros de Samuel, dos Reis, das Crônicas e Esdras-Neemias.
[Curso Fundamental de Teologia FTB - Módulo 1- Capitulo 2 - Estrutura Da Bíblia]

Nesse ponto, quando falamos a respeito do Antigo Testamento, imagino que muitos
alunos já estejam questionando a razão pela qual o antigo testamento que usamos tem
uma composição diferente do antigo testamento usado pelo catolicismo.

*BÔNUS
Para tratar esse assunto, iremos aprofundar um pouco mais essa questão aqui no curso,
porém estamos disponibilizando como bônus aqui na plataforma, um debate técnico entre
um padre católico com doutorado em Roma, e o irmão Lucian Benigno professor da FTB
sobre qual é o verdadeiro Canon das Escrituras.
Para acessar: Entre na plataforma e busque por “Bônus”

Sempre aprendemos que durante concílio de Trento no séc. XVI, a Igreja Católica
introduziu sete livros no cânon do Antigo Testamento. E para fins oficiais, isso é realmente
um fato. Esse concílio ficou conhecido como movimento de contra reforma realizado em
1546 realizado mais de 30 anos após a deflagração da Reforma.

Mas alguns detalhes que vale a pena conhecer:

A Septuaginta LXX - também conhecida como tradução dos 70- que é considerada a
primeira tradução importante da Bíblia Judaica, que é a fonte citada na maioria das vezes
por Jesus e pelos Apóstolos, traduz os livros apócrifos, e esse sempre foi um grande
argumento em favor do Cânon da Bíblia Católica.

Como resposta à esse argumento vou deixar aqui um trechinho da transcrição do debate
que está como Bônus disponível a vocês:

TRANSCRIÇÃO:
Ele mencionou que a evidência de que esses sete livros deveriam ser considerados como
palavra de Deus é o fato de que eles apareciam na versão dos setenta na tradução que
foi feita do hebraico para o grego pelos setenta.

O problema, é que os setenta traduziram outros livros também, e a gente não tem um
manuscrito só da tradução dos setenta tem três grandes Unciais que são o códex
Sinaíticus o códex Vaticanus e o códex Alexandrinus que são grandes manuscritos antigos
da versão dos setenta e cada um deles tem uma lista diferente de livros então existem
edições da septuaginta que contém por exemplo: 3°Macabeus - 4°Macabeus, que não

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

fazem parte da Bíblia católica…

Salmo 151 - a oração de Manassés, por exemplo.

2°Esdras - 3° Esdras - 4° Esdras.

Em algumas edições o livro de Enoque apareceu. Aparece em algumas tradições, algumas


versões tradicionais.

Onde eu estou querendo chegar com isso? Em primeiro lugar, não existia um único
Canon, uma única lista oficial de livros sagrados da Septuaginta.

E, para encerrar, é verdade que a maior parte das citações feitas pelos autores do Novo
Testamento, das citações do Antigo Testamento, não se basearam na Bíblia Hebraica, mas
se basearam na versão dos 70. Eu concordo plenamente com o doutor Cleodôn. Por outro
lado, a gente tem que lembrar que esses autores do Novo Testamento nunca citaram o
texto desses sete livros (apócrifos) como sendo palavra de Deus.

E, além disso, lá em Alexandria, que é o lar onde surgiu a versão dos 70, não existia, não
houve um cânon da Septuaginta, da versão dos setenta, por exemplo, os judeus que
escreviam em grego e que citavam a versão dos setenta, como Flávio e Josefo, por
exemplo disse: “diferente dos pagãos que tem muitos livros religiosos, muitos livros
sagrados, nós judeus temos apenas vinte e dois livros… Só que os vinte e dois livros que
o Flávio e Josefo cita, que são a palavra de Deus, são o cânon sagrado, são exatamente
os mesmos trinta e nove que aparecem nas Bíblias evangélicas hoje.

No mesmo jeito, Filon de Alexandria, ele era de Alexandria, o nome já diz tudo, Filon de
Alexandria, ele nunca cita nenhum dos sete livros deuterocanônicos ou apógrifos que
aparecem na Bíblia Católica, nunca citam, nunca citam como palavra de Deus, por quê?
Porque não eram reconhecidos como Palavra de Deus.”

Vale muito a pena aproveitar o Bônus que está disponível na plataforma para todos vocês.

Espero que tenha ficado claro que o fato de existirem livros apócrifos sendo traduzidos
ou conservados juntamente com os livros da Bíblia, isso não se constitui em uma
aprovação canônica.

Vimos no capítulo anterior que os judeus eram os únicos responsáveis por guardar e
preservar a Palavra de Deus, esse fato ganha força nas páginas do Novo Testamento
como uma espécie de reconhecimento de que o Cânon do Antigo Testamento sempre foi
responsabilidade dos judeus.

Veja como Paulo apresenta essa verdade de forma inequívoca em Romanos 3:1:

“Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

da circuncisão? Muita, sob todos os aspectos.


Principalmente porque aos judeus foram confiados os
oráculos de Deus.”

Dessa forma fica resolvido que o Cânon do Antigo Testamento é definido pelos judeus, e
apresentamos (duas vezes) nesse estudo a definição do judeu Flávio Josefo que diz
oficialmente que o que os judeus reconhecem como Palavra de Deus são exatamente os
39 livros que constam na Bíblia Evangélica hoje em dia.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

06.
O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO.
Já com relação ao Novo Testamento, antes de terminar o primeiro século, todos os seus
livros estavam escritos.

Na história da Igreja, fica claro que toda produção apostólica era recebida como Palavra
de Deus e regra inviolável para a compreensão, correção e esperança de todos os
cristãos.

Existem evidências internas importantes dentro das epístolas de que a circulação desses
documentos apostólicos era incentivada e até ordenados como por exemplo no Texto de
Cl 4:16.

“E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai


por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a
dos de Laodicéia, lede-a igualmente perante vós.”

Já no segundo século e terceiro século outras produções foram feitas e circulavam


também entre cristãos.

Era claro que não tinham a mesma autoridade que os documentos apostólicos, mas
alguns deles começaram ser considerados por alguns círculos como tendo a mesma
autoridade da produção apostólica (os 27 livros do NT).

O Didaché e o Pastor de Hermas, são bons exemplos dessa situação.

Com o crescimento da Igreja, heresias começaram a despontar no segundo, terceiro e


quarto séculos.

Diante dessa situação foi necessário processo de oficialização do Cânon do Novo


Testamento.

Especialmente devido ao cuidado que as igrejas tinham em preservar a sã doutrina. Muitos


escritos heréticos e espúrios circulavam entre os cristãos advogando pretensão
apostólica.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Muitas doutrinas heréticas, tais como as defendidas pelos gnósticos, que negavam a
encarnação de Cristo; pelos céticos, que negavam a realidade da humanidade de Cristo;
e pelos monofisistas, que rejeitavam a dualidade da natureza de Cristo, eram encontradas
nestes livros.

Muitos livros do Antigo e do Novo Testamento foram duramente debatidos antes de serem
finalmente reconhecidos como canônicos.

Houve muita relutância quanto aos livros de Pedro, João, Judas bem como ao
Apocalipse…

Tudo isso revela o cuidado que a Igreja tinha, bem como a responsabilidade que envolvia
a canonização.

O Novo Testamento foi oficialmente reconhecido e fixado seu cânon no ano de 397 d.C.,
no Concilio de Cartago. Antes do ano 400 d.C., todos os livros estavam aceitos como
regra de fé para os Cristãos.

Teste de Canonicidade

Sabemos que os livros que compõe o Novo Testamento são em sua totalidade escritos
pelos apóstolos ou pessoas que viveram com eles.

Mas devido a tudo que vimos até aqui, a formação do Cânon do Novo Testamento, preciso
passar por um rigoroso processo de reconhecimento que chamaremos aqui de Testes de
Canonicidade.

Foram empregados quatro critérios para reconhecer cada um dos vinte e sete livros do
Novo Testamento.

No ano de 367 d.C., um teólogo proeminente por nome de Atanásio decidiu reunir todos
os documentos do mundo mediterrâneo que diziam de caráter apostólico.

Após realizar um exame com os documentos que tinha em mãos, Atanásio chegou à
conclusão de que apenas 27 livros, que são exatamente aqueles que temos no Novo
Testamento, poderiam ser considerados como infalível e inspirada palavra de Deus.

Trinta anos mais tarde, acontece um concílio eclesiástico em Catargo, a fim de se verificar
a genuinidade dos livros, tidos, como a Escritura Sagrada. E a partir de então, quatro
critérios foram utilizados: APOSTOLICIDADE - UNIVERSALIDADE - CONTEÚDO -
INSPIRAÇÃO ESPIRITUAL.

• O primeiro deles era a APOSTOLICIDADE, ou seja, esse livro por acaso foi escrito
por um apóstolo ou por alguém que pertenceu caminhou com o colégio
apostólico?

66
FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

• O segundo critério era a UNIVERSALIDADE, ou seja, esse livro é largamente aceito


e utilizado historicamente nos últimos três séculos em todas as Igrejas?

• O terceiro critério adotado era o CONTEÚDO, a pergunta que se fazia era a


seguinte: O conteúdo desse livro pode estar em pé de igualdade com as escrituras
conhecidas da época?

• E o quarto critério adotado é o da INSPIRAÇÃO, ou seja, o livro traz uma qualidade


espiritual, que demonstra que ele é inspirado?

Então reiterando quais são os quatro critérios: Apostolicidade - Universalidade - Conteúdo


- Inspiração.

E após passar por um critério minucioso, o Conselho de Catargos chegou à conclusão de


que os 27 livros que hoje que compõem o Novo Testamento foram os que obedeceram
aos critérios pré-estabelecidos.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

07.
MANUSCRITOLOGIA.
Alguns escritos originais, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, se perderam ao
longo dos séculos por vários motivos.

Os textos que temos hoje são cópias tiradas de outras cópias até chegarem à formatação
que temos atualmente.

O termo manuscrito vem do latim manus, "mão", e scriptus, "escrita", a saber, um


documento escrito à mão.

Essa palavra, como é usada hoje, está restrita àquelas cópias da Bíblia feitas no mesmo
idioma em que foram originalmente escritas.

Os escritos originais, autênticos, saídos das mãos de um profeta ou apóstolo, ou de um


amanuense (sempre sob a direção do homem de Deus), eram chamados de autógrafos.

Devido às perseguições que houve antes e depois de Cristo, os escritos sagrados originais
desapareceram.

Entretanto, existiam várias cópias e traduções das Escrituras que sobreviveram aos
muitos ataques.

Devido ao seu zelo, os estudiosos judeus (escribas, zugot, tanaítas etc.) conseguiram
preservar inacreditavelmente suas tradições textuais. Os milhares de manuscritos
hebraicos, com sua confirmação pela Septuaginta e pelo Pentateuco samaritano, e as
várias outras comparações de fora e de dentro do texto, dão apoio surpreendente à
confiabilidade do texto do Antigo Testamento.

Da mesma maneira, a fidelidade do texto do Novo Testamento é um fato, contando com


evidências esmagadoras para apoiar sua confiabilidade.

Contando apenas as cópias gregas, o texto do Novo Testamento é preservado em


aproximadamente 5.686 porções manuscritas parciais ou completas que foram copiadas
a mão a partir do século I até o século XV.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Além dos manuscritos gregos, há várias traduções do grego, sem mencionar citações do
Novo Testamento.

Contando com as principais traduções antigas em aramaico, copta, árabe, latim e outras
línguas, há 9 mil cópias do Novo Testamento. Isso dá um total de mais de 14 mil cópias
do Novo Testamento.

Além disso, se compilarmos as milhares de citações dos pais da igreja primitiva dos
séculos II a IV, pode-se reconstruir todo o Novo Testamento com exceção de onze
versículos.

Analisando as causas do desaparecimento dos manuscritos originais, o professor Antonio


Gilberto relacionou as seguintes causas:

1. O costume dos judeus de enterrar todos os manuscritos estragados pelo


uso ou qualquer outra coisa, para evitar mutilação ou interpolação espúria.

2. Os reis idólatras e ímpios de Israel podem ter destruído muitos ou


contribuído para isso (veja o episódio de Jeremias 36.20-26).
3. O monstro Antíoco Epifânio, rei da Síria (175-164 a.C.), dominou sobre a
Palestina durante seu reinado. Foi extremamente cruel, sádico, tinha prazer
em aplicar torturas. Decidiu exterminar a religião judaica. Assolou
Jerusalém em 168, profanou o Templo e destruiu todas as cópias que
achou das Sagradas Escrituras.

4. Nos dias do feroz imperador Diocleciano (284-305 d.C.), os perseguidores


dos cristãos destruíram quantas cópias acharam das Escrituras. Durante
dez anos, Diocleciano mandou vasculhar o Império para destruir todos os
escritos sagrados. Ele chegou a julgar que tivesse destruído tudo, pois
mandou cunhar uma moeda comemorando tal "vitória"

NOMENCLATURA DOS DOCUMENTOS TEXTUAIS


O primeiro a introduzir uma classificação e uma nomenclatura sistemática dos
documentos textuais neotes-tamentários foi Johann Jakob Wettstein, em 1751-1752.

Diferenciou entre manuscritos maiúsculos (designados com letras maiúsculas:

A = Codex Alexandrinus,
B = Codex Vaticanus),
minúsculos (contagem com números arábicos) e lecionários (contagem como nos
minúsculos).

Os manuscritos do Novo Testamento podem ser classificados de acordo com seu


conteúdo, com a forma de sua letra ou com o material com que foram escritos.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

CLASSIFICAÇÃO
Os manuscritos estão classificados, segundo a forma em que estão escritos, em duas
categorias:

Unciais (do latim uncia, polegada) - são designados assim por serem escritos em
caracteres maiúsculos, em velino e pergaminho, sem separação de palavras, como se
escrevêssemos JESUSFILHODEDAVI.

Constituem os escritos mais importantes do Novo Testamento, por serem os mais


antigos, que perduraram desde o século IX.

Segundo o apologista Norman Geisler, "existem 274 manuscritos unciais" atualmente


conservados, dentre os quais mencionaremos alguns adiante.

Cursivos - São escritos em letra minúscula, predominantemente no grego, também com


palavras ligadas entre si.

Dos 4.500 manuscritos existentes, cerca de 300 são unciais e o restante cursivo.

A partir do século IX, prevaleceram em face dos unciais, sendo catalogados em número
de 2.795 cópias.

OS GRANDES CÓDICES UNCIAIS


Até o século IX os manuscritos Unciais eram os únicos utilizados nos manuscritos do
Novo Testamento.

Foram catalogados 268 manuscritos Unciais do Novo Testamento.

Por serem os mais antigos, são considerados as fontes mais importantes no estudo do
Novo Testamento.

Quanto mais antiga a cópia, mais próxima da composição original ela está e menos erros
dos copistas apresenta.

A maior parte do Novo Testamento é preservada em manuscritos feitos menos de


duzentos anos após o original (P44, p46, p47), sendo alguns livros do Novo Testamento
de pouco menos de cem anos após a sua composição (P66), e um fragmento (P52)
datado de apenas uma geração após o século I.

O número de manuscritos do NT, ou de citações dele nos autores mais antigos da igreja
é tão grande, que é garantido que a leitura correta de toda passagem duvidosa é
preservada em uma ou outra dessas autoridades antigas.

Não se pode dizer isso sobre nenhum outro livro antigo no mundo.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Codex Ephraemi Rescriptus

Os manuscritos unciais mais importantes são os seguintes:

• Codex Alexandrinus
• Codex Vaticanus
• Codex Sinaíticus
• Codex Ephraemi Rescriptus
• Codex de Bezae.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

08.
PODEMOS CONFIAR NAS
TRADUÇÕES DA BÍBLIA?
Diante de tudo que aprendemos até aqui, é preciso ficar claro que a Bíblia é 100% Palavra
de Deus inspirada quanto ao seu conteúdo, e infalível quanto a sua eficácia!

Mas toda essa segurança está vinculada ao texto original e não exatamente às traduções.

Como este é um curso aberto, obviamente não pude aprofundar os assuntos técnicos
além do que fizemos até aqui, mas creio que ficou muito claro tudo que tratamos até
agora com respeito ao Canon do Antigo e também do Novo Testamento.

Mas agora falaremos sobre as traduções da Bíblia.

Traduzir textos longos de uma língua para outra não é uma tarefa fácil, traduzir textos
técnicos é ainda muito mais difícil, e traduzir textos técnicos longos e antigos é realmente
um grande desafio. Por isso minha sugestão ao tratar desse assunto é que você
estudante faça isso tomando cuidado para não ser pesado nos comentários como eu
mesmo já fui.

Traduzir um texto não é apenas substituir as palavras de um idioma pelas de outro, é


preciso RECEPCIONAR as palavras e as ideias não apenas no idioma alvo, mas na
CULTURA também.

Sabemos que a língua falada é viva, portanto, de tempo em tempo algumas palavras
podem mudar de significado, ou cair em desuso. Por isso as traduções sempre irão
precisar de reparos, atualizações, e revisões e correção.

Exemplo: 1Co 13:1 na Bíblia Atualizada diz o seguinte: “Ainda que eu fale as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver AMOR, serei como o bronze que soa ou como o címbalo
que retine.”

Note que eu deixei a palavra “amor” em destaque, porque a alguns anos atrás esse a
palavra “amor” não aparecia, mas sim a palavra “caridade”. Hoje, porém a palavra caridade
não expressa mais o que expressava antes, por isso foi preciso revisar esse vocábulo.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Existem milhares de exemplos assim nas Escrituras, por isso antes de “canonizar” uma
tradução e “demonizar” as demais, vale a pena entender que todas as traduções são fruto
de um trabalho Hercúleo e que a intenção é sempre trazer o conhecimento pleno das
Escrituras às pessoas que não entendem as línguas Bíblicas.

ESCOLAS DE TRADUÇÃO BÍBLICAS


Basicamente existem duas formas de tradução da Bíblia para outras línguas: Equivalência
Formal e Equivalência Dinâmica. Vamos entender como cada uma delas funciona:

TRADUÇÃO POR EQUIVALÊNCIA FORMAL.


A tradução por equivalência formal, também é conhecida como tradução por equivalência
vocabular.

Essa forma de traduzir a Bíblia apresenta como método a tradução de cada vocábulo
(palavra), como primeira preocupação do tradutor.
Nesse caso o tradutor está mais preocupado com a fidelidade da tradução de cada palavra,
do que com a facilidade ou com a dificuldade do leitor.

Esse tipo de tradução obviamente deixa o leitor muito mais próximo do texto original;
porém a leitura pode ser mais difícil, já que a preocupação do tradutor, não está na
facilidade da leitura mais na fidelidade da equivalência de cada vocábulo.

Exemplos de tradução por equivalência Formal:


• Revista e Corrigida (RC)
• Revista e Atualizada (RA)
• Almeida Corrigida Fiel (ACF)

TRADUÇÃO POR EQUIVALÊNCIA DINÂMICA.


Diferente do primeiro conceito, aqui o tradutor se preocupa um pouco mais com a
recepção do leitor. Por isso faz a opção de traduzir a ideia de cada perícope (passagem).

Geralmente, uma Bíblia traduzida a partir desse método, apresenta uma leitura mais
moderna, e mais fácil de compreender. Embora precise ficar claro aqui, nesse método, o
leitor se torna mais dependente da compreensão tradutor afastando-se um pouco mais
do sentido de cada vocábulo, e abraçando a compreensão da perícope como um todo.

Exemplos de Tradução Dinâmica:

• Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH)


• Nova Versão Internacional (NVI)
• Bíblia Viva (BV)

*Essa última também é considerada por alguns especialistas como paráfrase e não
exatamente tradução.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

09.
CONSELHO FINAL SOBRE A
DISCIPLINA.
Tratar um tema técnico com um público tão diversificado como nesse projeto, é um
desafio muito grande. Por isso espero ter conseguido compartilhar conhecimento
importantes de forma que faça diferença real na vida, na compreensão, no ministério,
mas principalmente na alma de cada um de vocês.

Mas deixo aqui um conselho a todos: O seu conhecimento não te torna melhor do que as
pessoas que não sabem o que você sabe. Infelizmente muitos irmãos não estão
preparados para receber conhecimento, e isso não é porque o conhecimento pode ser
comprometedor, mas porque nem todas as pessoas estão de fato preparadas para
receber qualquer coisa em qualquer área da vida.

Você deve conhecer pessoas que se tornaram ativas e orgulhosas porque foram
promovidas no trabalho.

Ou você deve conhecer pessoas que se tornaram insuportáveis do ponto de vista da


convivência, depois que ganharam dinheiro.

Mas não é o dinheiro ou a posição social que faz isso…


É a falta de conversão mesmo.

Então quero finalizar essa aula, deixando esse conselho: busque a conversão genuína com
mais intensidade do que você busca o conhecimento genuíno.

Um crente orgulhoso que tem conhecimento profundo é uma pessoa insuportável, mas
um crente genuíno que tem conhecimento profundo é uma benção para todas as pessoas
ao seu redor.

Busque ser esse segundo exemplo.

Que Deus te ajude.

A Ele toda Glória.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

BÔNUS: ESTUDO SOBRE A ALTA


CRÍTICA E SUAS CONSEQUÊNCIAS.
Por Lucian Benigno, Prof. Da FTB

*Comma Johanneum (I João 5:7, 8)*


PARTE I
Precisamos falar um pouco de crítica textual.

Tendo sido uma das testemunhas de Jeová durante 15 anos (e elas são ardentes
defensoras do assim chamado "baixo criticismo"), para mim era apenas natural imaginar
que esse assunto já estivesse resolvido.

Aparentemente é um _knock-out_ logo no primeiro _round:_ de um lado do _ring,_ temos


as elegantes edições da BHS, da LXX de Alfred Rahlfs, do NT de Nestle-Aland e da Vulgata
de Wordsworth e White (publicadas pelas principais sociedades bíblicas do planeta), além
dos magníficos aparatos críticos da Biblia Hebraica Quinta, da LXX de Göttingen e do NT
do CNTTS, assim como virtualmente toda a literatura acadêmica que trata do assunto.
Quem desafia esses favoritos são os panfletos daqueles pregadores _rednecks_ do _Bible
belt_ ("caipiras" americanos), que são fanáticos intolerantes, _"King James only"._ Será
que não é injusto colocar os dois no mesmo _ring?_ O massacre parece certeiro!

Assim, durante a maior parte dos 22 anos em que fui professor de arqueologia e de
línguas bíblicas, sempre ensinei os princípios da crítica textual desde cedo para as minhas
turmas. Acaso eu duvidaria da erudição, da sinceridade e da consagração a Deus de
gigantes intelectuais tais como Constantin von Tischendorf, Samuel Prideaux Tregelles,
Bruce M. Metzger e Carsten Peter Thiede? De maneira nenhuma. Acaso os principais
museus, bibliotecas e universidades do mundo não possuem os mais diversos
manuscritos bíblicos, cujos textos muitas vezes divergem dos atuais? Claro que os
manuscritos estão lá. Acaso os manuscritos mais antigos não são aqueles que contêm
mais variantes textuais em relação ao texto tradicional? Certamente que sim. Acaso não
está estabelecido que desde cedo formaram-se famílias de manuscritos com variantes
consistentes com cada região, demonstrando que de fato houve corrupção textual? Sem
dúvida, tais famílias existem. E assim eu poderia prosseguir indefinidamente com meus
botões, argumentando a favor da legitimidade da crítica textual, se não fossem os
"poréns".
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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

*Comma Johanneum (I João 5:7, 8)*


PARTE II
Claro que havia as dissonâncias cognitivas. Elas nunca tiveram o peso necessário para
me convencer de coisa alguma, mas estavam lá, incomodando.

Explico.

Parecia apenas lógico que se Deus se dera ao trabalho de revelar a Sua palavra, Ele faria
o necessário para preservar cada til e cada jota. Não era exatamente isso o que Ele
prometeu, vez após vez?

"Disse-me o SENHOR: Viste bem, porque eu velo sobre a minha palavra para a cumprir."
(Jeremias 1:12)
"E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da Lei." (Lucas 16:17) "Passará o
céu e a terra, mas as minhas palavras não hão de passar." (Lucas 21:33)
"Porque toda carne é como erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Secou-
se a erva, e caiu a sua flor; mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a
palavra que entre vós foi evangelizada." (I Pedro 1:24-25)

No entanto, a crítica textual ensinava uma coisa muito diferente.

Talvez o livro mais popular de Metzger seja: _The Text of the New Testament: Its
Transmission, Corruption, and Restoration._ Se a gente parar para pensar nesse título, *o
próprio pressuposto do qual brota a crítica textual deveria ser assustador: a Igreja teria
adulterado a palavra de Deus de tal maneira e até que ela ficasse tão corrompida que foi
necessário que a sabedoria e a ciência humana viessem em socorro da Bíblia, restaurando
o texto original que se havia perdido* (mas cf. Mateus 16:16; 28:20).

Dialogando com meus botões, eu adotava a "solução" de relativizar a preservação das


Escrituras. Tipo, Deus preservou o sentido geral e preservou as doutrinas importantes, e
isso é tudo (mas, espera aí, a preservação e a inerrância também não são doutrinas
importantes?).

Por causa disso, não sei vocês, mas quando eu conversava com recém-convertidos a
respeito da confiabilidade, da inerrância e da preservação das Escrituras, o assunto da
crítica textual sempre trazia aquela sensação pegajosa de que nós, teólogos, estávamos
escondendo alguma sujeira embaixo do tapete.

Em outros assuntos eu não via o cristianismo como uma sociedade secreta iniciática, mas
era melhor não tratar dessa questão do púlpito nem discutir com "leigos", para não causar
escândalos (mas cf. Provérbios 8:1-8).

Lógico que a situação descrita acima nunca foi suficiente para me fazer abandonar a crítica

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

textual. Mas que incomodava, incomodava.

PARTE III
A evidência tinha de ser aceita, quer eu gostasse quer não, e a evidência era
conclusivamente a favor dos textos críticos.

Ou será que as coisas não eram bem assim?

Um primeiro senão envolve os doze princípios universalmente adotados no


estabelecimento do método de trabalho da crítica textual (ALAND, Kurt & ALAND, Barbara.
_The Text of the New Testament._ Grand Rapids: Eerdmans & Brill, 1989, pp. 280-316).

Devido às limitações de tempo, espaço e escopo, não apresentaremos uma avaliação


exaustiva das falácias metodológicas, mas os exemplos a seguir bastam para demonstrar
que ao invés de apresentarem a objetividade e a imparcialidade que esperaríamos de uma
abordagem verdadeiramente científica, os tais princípios são evidentemente
preconceituosos contra o texto tradicional e valorizam excessivamente o testemunho de
todo e qualquer manuscrito que contém algum erro de cópia.

Tomemos, por exemplo, o quinto princípio, que diz que os manuscritos têm de ser
"pesados, *não contados*".

O que significa isso? Significa que em um universo de 40 manuscritos que contêm uma
determinada passagem, se 39 forem absolutamente idênticos e disserem a mesmíssima
coisa com a mais rigorosa precisão, mas o manuscrito restante evidentemente foi copiado
de forma descuidada e contém erros aqui e acolá, o quinto princípio determina que nós
ouvimos apenas duas testemunhas do texto, não o testemunho de 39 + 1,
independentemente da idade e das demais qualidades de cada manuscrito.

Acha difícil de acreditar que alguém colocaria essa estranha regra em prática?

Pois bem, basta dar uma olhadinha no aparato crítico do texto de Nestle-Aland, onde
cada "M" maiúsculo com caligrafia gótica representa o testemunho da esmagadora
*maioria* dos manuscritos (para quem usa o _The Greek New Testament_ das
Sociedades Bíblicas Unidas, a leitura de todos os milhares de manuscritos da tradição
bizantina, que é o texto canônico tradicional da Igreja Ortodoxa, aparece no rodapé como
_"Byz")._ Vamos repetir apenas para não ficar nenhuma dúvida: se você tem uma voz
quase sempre errática e dissonante contradizendo 39 testemunhas, o quinto princípio da
crítica textual diz que você ouviu só duas testemunhas.

Consideremos também o décimo princípio: _lectio difficilior lectio potior,_ isto é, "a leitura
mais difícil é a mais provável". Segundo essa regra, se uma variante textual que aparece
em um manuscrito contém um _lapsus calami_ (deslize na escrita), um erro gramatical

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

ou mesmo doutrinário, é mais provável que essa leitura corresponda ao texto original (!).
É ou não é evidente que esse princípio também é terrivelmente preconceituoso contra o
texto tradicional, preservado pela Igreja na imensa e esmagadora maioria dos
manuscritos?

Você já se perguntou por que os textos críticos são famosos pelas suas *omissões*?
Falta um versículo aqui, falta outro ali, falta uma passagem inteira acolá e assim por diante.

O argumento popular é que os versículos estão ausentes nos "melhores textos", mas a
realidade técnica é um pouco mais curiosa.

Trata-se da aplicação do décimo primeiro princípio: _lectio brevior lectio potior,_ isto é,
"a leitura mais curta é a mais provável." Por essa regra, o testemunho evidentemente
incompleto de um fragmento de manuscrito muito danificado tem mais autoridade para
estabelecer o texto original do que milhares de manuscritos que contêm a passagem
inteira.

Parece zoeira, não é? Pois é, com certeza, mas ainda estamos no começo deste _exposé._
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*Comma Johanneum (I João 5:7, 8)*


PARTE IV
Em certa ocasião tive o privilégio de almoçar com o Dr. Paul Rowland, então diretor
presidente da Trinitarian Bible Society de Londres. Ele parecia bastante interessado na
minha crítica da crítica textual.

Em contrapartida, eu esperava extrair daquele campeão da _King James only_ qualquer


razão ou pista, por menor que fosse, que o havia levado a acreditar que o Comma
Johanneum fazia parte do texto canônico.

Eu esperava, sei lá, que ele me mostrasse alguma evidência de que o Codex
Montfortianus, o Ottobonianus ou talvez o Escurialensis fossem cópias fieis de
manuscritos mais antigos, ou quem sabe construísse algum argumento lógico sólido, ou
talvez apresentasse algum _insight_ com o qual eu nunca me deparara, sei lá.

Então eu me desarmei, abri minha mente e fiquei na expectativa de absorver a novidade.

Mas eis a sua resposta: "eu sempre acreditei no que está escrito no comentário de
Matthew Henry; se lá diz que esse texto faz parte da Bíblia, então faz parte.

"Aquela resposta absurdamente simplista me trouxe uma frustração tão grande que
durante muitos anos, para mim o Comma era mesmo um assunto resolvido. Não tinha
como fazer parte do texto original.

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Por incrível que pareça, embora eu continue a torcer o nariz quanto ao comentário de
Matthew Henry, com o tempo descobri que o método do Dr. Rowland é muito mais
confiável do que aquilo que se faz no INTF (Institut für Neutestamentliche Textforschung)
e no CNTTS (The Center for New Testament Textual Studies).

Explico.

Lembro-me da primeira vez que examinei, animado, meu próprio exemplar da _Synopsis
Quattuor Evangeliorum,_ elaborada por Kurt Aland, então maior autoridade mundial em
crítica textual.

Confesso que fiquei perplexo ao notar que a obra gnóstica denominada "Evangelho de
Tomé" era tratada em pé de igualdade com os livros canônicos do Evangelho.
Esquisito, não é? Mas sei lá, vida que segue.

Conforme a saúde de Kurt se debilitava, a sua esposa Barbara foi gradativamente


assumindo o papel de autoridade final no INTF.

Mas a partir do que ela escrevia (considere, por exemplo, as seguintes duas obras
https://www.amazon.com.br/Die-Gnosis-Reclam-Sachbuch-German-
ebook/dp/B00KM9Q3E6 e https://www.amazon.com.br/Was-Ist-Gnosis-Christentum-
Kaiserzeitlichen/dp/3161499670),

era evidente que o gnosticismo da _Synopsis_ de Kurt Aland não era apenas um equívoco,
mas parte de um quadro maior.
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*Comma Johanneum (I João 5:7, 8)*


PARTE V
Provavelmente todos os professores das línguas bíblicas discorrem um pouquinho a
respeito dos diferentes suportes de escrita.

As cópias mais antigas do NT, da época das grandes perseguições, foram manuscritas
em papiro (que é um papel feito da casca de uma planta egípcia), mas desde o quarto
século, quando as perseguições acabaram, encontramos pergaminhos e velinos (de
couro).

Então, com base nisso, todos entendemos claramente que as cópias mais antigas do NT
foram feitas em papiros, não nos luxuosos pergaminhos que só apareceram depois que
o cristianismo deixou de ser perseguido.

Acontece que o papiro é um papel frágil, que com o manuseio e com a umidade se desfaz
facilmente — exceto no Egito, onde o ar seco e as areias podem preservar papiros por
milhares de anos.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Dessa forma, basicamente os únicos papiros do NT que sobreviveram foram os egípcios.

É claro que todo mundo sabe que havia manuscritos bíblicos em outros lugares.

Isso não é especulação, é fato bem documentado: sabemos que desde o primeiro século
a Igreja estava estabelecida em Jerusalém, Cesareia, Antioquia, Roma, Atenas, Corinto,
Galácia, Éfeso, Filipos, Colossos, Tessalônica, Esmirna, Pérgamo e muitos, muitos outros
lugares.

Mas também é fato documentado que os papiros do NT que não eram egípcios não
resistiram ao tempo.

Para complicar, a igreja egípcia antiga tinha uma quantidade brutal de "infiltrados"
gnósticos e feiticeiros.

É do Egito que brota grande parte da literatura gnóstica pseudoepigráfica, repleta de


fábulas supostamente "cristãs".

Acontece que grande parte dos assim chamados "melhores textos" são papiros que
faziam parte de coleções de literatura gnóstica, incluindo a grande biblioteca de códices
*gnósticos* de Nag Hammadi (https://en.wikipedia.org/wiki/Nag_Hammadi_library) e a
grande biblioteca de papiros *gnósticos* e de bruxaria de Oxyrhynchus
(https://en.wikipedia.org/wiki/Oxyrhynchus_Papyri).

Ninguém em sã consciência procuraria aldeias de esquimós no Saara, nem camelos no


norte do Alaska.

Quem quer comer uvas, não deveria procurá-las nos espinheiros.

Quem gostaria de encontrar manuscritos confiáveis da Bíblia, não deveria procurá-los em


lixões repletos de livros gnósticos, amuletos mágicos e materiais de bruxaria.

Então ficamos assim: sabemos que desde o primeiro século a Igreja estava estabelecida
em muitos lugares do mundo antigo.

O cristianismo era brutalmente perseguido antes do quarto século, e esses cristãos


piedosos copiavam a palavra de Deus com temor e tremor (e por isso as suas cópias
costumam ser idênticas entre si), mas todos esses papiros se desfizeram — exceto os
egípcios.

Diferentemente do que acontecia com os perseguidos cristãos da Igreja, quando


examinamos os manuscritos gnósticos, ficamos com a sensação de que seus escribas
trabalhavam sob o efeito de muito vinho: é virtualmente impossível encontrar quaisquer
dois papiros egípcios que copiem quaisquer dois versículos seguidos com o mesmo texto!

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Será que você consegue juntar essa informação histórica e arqueológica com os
princípios metodológicos da crítica textual, que conforme vimos, privilegiam apenas e
exclusivamente os textos mais díspares, os mais incompletos e as variações mais difíceis
de serem explicadas?

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*Comma Johanneum (I João 5:7, 8)*


PARTE VI
Acredito que está na hora de um resumo.

Já vimos que os duráveis e dispendiosos manuscritos do NT em pergaminho começaram


a circular após a era dos mártires (existem raríssimas exceções, as quais consistem em
meros fragmentos contendo alguns poucos versículos), mas que por razões climáticas, o
testemunho dos papiros (que eram o suporte comum do NT durante a época das
perseguições) é basicamente apenas egípcio.

Vimos também que a antiga igreja do Egito se distinguia dos demais patriarcados da fé
cristã pelo seu caráter "predominantemente gnóstico" (ALAND, Kurt & ALAND, Barbara.
_The Text of the New Testament._ Grand Rapids: Eerdmans & Brill, 1989, p.p. 59, 200).

Documentamos também que assim como Kurt Aland (então a maior autoridade mundial
em crítica textual e editor da _Synopsis Quattuor Evangeliorum)_ colocava os escritos
gnósticos em pé de igualdade com o Evangelho cristão, a sua esposa Barbara Aland (hoje
aposentada), que após o falecimento do seu marido se tornou a coordenadora dos textos
do INTF (Nestle-Aland e _The Greek New Testament)_, tem sido uma estudante fascinada
do gnosticismo, e também recusou-se a emitir qualquer juízo de valor que diferenciasse
o Evangelho cristão da literatura gnóstica.

Vimos também que muitos dos assim chamados "melhores textos" na verdade consistem
em papiros encontrados em lixões egípcios de escritos gnósticos, em meio a horóscopos,
amuletos mágicos, literatura anticristã e materiais de bruxaria.

Vimos ainda que longe de apresentarem qualquer imparcialidade científica, os doze


princípios metodológicos que regem a crítica textual do NT foram cuidadosamente
elaborados com dois objetivos:
(1) silenciar tanto quanto possível a multidão de milhares de testemunhas uníssonas do
texto canônico, o qual foi copiado com tanto cuidado que é tratado como um único
documento.
(2) privilegiar descaradamente quaisquer manuscritos que apresentem erros de cópia. A
finalidade evidente é multiplicar as assim chamadas "leituras variantes", que são a própria
_raison d'être_ da crítica textual.

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Neste momento, você talvez esteja se perguntando: "está bem, até aqui você apresentou
razões para desconfiarmos fortemente do texto crítico e para favorecermos o texto
canônico, mas será que é realmente possível defender o _Comma Johanneum,_ que é
universalmente tido como o exemplo mais gritante de corrupção textual no NT?"
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*Comma Johanneum (I João 5:7, 8)*


PARTE VII
Hoje vamos falar um pouco a respeito do testemunho papirológico do Comma
Johanneum.

Nós, teólogos, costumamos repetir que neste momento conhecemos 5.700 manuscritos
gregos do NT, sendo 135 papiros, 283 manuscritos unciais, 2.860 manuscritos cursivos
e 2.422 lecionários (o total varia conforme novos manuscritos são descobertos, e
principalmente quando se constata que dois ou mais fragmentos originalmente faziam
parte do mesmo manuscrito).

Quem não é perito no assunto, talvez imagine que isso significa que temos 5.700
testemunhas completas de todas as passagens do NT, mas com um pouquinho de estudo,
logo descobrimos que não é bem assim.

Claro que o NT continua a ser a literatura mais bem atestada da antiguidade, mas enquanto
algumas passagens (tais como os relatos do Evangelho) costumam constar em
incontáveis cópias, algumas outras partes, como as cartas e o Apocalipse, aparecem com
uma frequência muito menor nos manuscritos mais antigos (que são os papiros).

O grego continua a ser a língua original do NT (com a possível exceção da primeira edição
do Evangelho de Mateus, da qual já falamos em outra oportunidade), mas em alguns
casos, passaram-se vários séculos antes de uma passagem ser atestada em qualquer
manuscrito grego, e nessas situações (que não são raras), muitas vezes as primeiras
testemunhas disponíveis do texto ocorrem nas versões antigas (como a Peshitta siríaca,
a Vulgata latina, a antiga versão armênia e assim por diante) e na forma como a passagem
era citada pelos cristãos fieis da antiguidade.

Esse é justamente o caso da primeira carta de João: a epístola é documentada em apenas


dois papiros: o 𝔓𝔓9 e o 𝔓𝔓74:

https://ntvmr.uni-muenster.de/liste/?ObjID=10009
e
https://ntvmr.uni-muenster.de/liste/?ObjID=10074

O papiro 𝔓𝔓9 é um fragmento de texto do terceiro século que hoje é preservado no Museu
Semítico da Universidade de Harvard, nos EUA, e contém apenas I João 4:11-12, 14-17

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

(não contém *nenhum* versículo do capítulo 5).


Assim como diversos outros dos assim chamados "melhores textos", ele foi encontrado
na biblioteca gnóstica de Oxyrhynchus, junto de um "Evangelho de Tomé" (que é um
"evangelho" gnóstico), de um amuleto mágico, de literatura da poetisa Safo (de Lesbos)
e de um documento jurídico que permitia a prisão de cristãos.

Já o 𝔓𝔓74 é um fragmento escrito no século VII (uma época em que o NT já costumava


ser escrito em pergaminhos), e por isso não deveria ser considerado como um
manuscrito tão importante para quem não valoriza a tradição textual alexandrina.
Ainda assim, é uma "coincidência" notável o fato de que ele contém partes do capítulo 5
de I João, mas *falta todo o trecho entre o versículo 5 e o 8* (lembre-se de que nenhum
crítico textual sério questiona a atestação dos versículos 5 e 6).

Em outras palavras, no seu estado atual, nenhum papiro do NT testemunha o Comma


Johanneum, mas isso na verdade nada significa, já que atualmente só existem dois
papiros que contêm algum trecho de I João e só existe um único papiro que contém
alguma parte do capítulo 5, mas nenhum papiro do NT tampouco testemunha os
versículos cinco e seis de I João (e tudo isso não quer dizer absolutamente coisa alguma).
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Comma Johanneum (I João 5:7, 8)


PARTE VIII
Já estabelecemos que o não aparecimento do Comma Johanneum nos manuscritos
anteriores ao ano 300 é absolutamente irrelevante, já que os versículos que fazem parte
do contexto da passagem tampouco aparecem nesses manuscritos (e nenhum crítico
textual em sã consciência questiona que eles fazem parte do texto).

Agora precisamos falar a respeito das outras testemunhas que a crítica diz que são
importantes para o estabelecimento do texto do NT. Nesta parte das nossas
considerações, vamos começar a falar dos primeiros manuscritos gregos que realmente
omitem o Comma Johanneum — e o primeiro e mais importante deles provavelmente é
o majestoso Códice Sinaítico.

Aqui está um pouco da estória dessa esplêndida Bíblia de mais de 1.500 anos, da qual
ninguém nunca tinha ouvido falar durante todo esse tempo.

Hoje há absoluto consenso na academia de que o Códice Sinaítico foi compilado durante
o quarto século, e vários estudiosos consideram que talvez tenha sido uma das 50
magníficas bíblias que o imperador Constantino encomendou para Eusébio de Cesareia.

Talvez tenha sido.

Nas próximas partes deste estudo, falaremos um pouco mais dessas 50 bíblias e da sua
importância para a omissão do Comma, mas hoje consideraremos a hipótese de que o

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

Códice Sinaítico talvez tenha tido uma origem bem diferente.

De acordo com o relato de Lobegott Friedrich Constantin von Tischendorf, ele encontrou
em 1844 o espetacular Códice Sinaítico – em um cesto que continha manuscritos que
seriam incinerados – no mosteiro ortodoxo de S. Catarina, no sopé do monte que,
segundo uma antiga tradição, é o Sinai.

Cestos daquele tipo eram comumente usados para guardar manuscritos. Mas por que
aqueles guardiões ortodoxos da tradição, que possuíam uma biblioteca com mais de 2000
manuscritos antigos e que lêem o grego, queimariam um fabuloso manuscrito feito com
o couro de mais de 300 bezerros e cordeiros, que tem uma combustão extremamente
lenta e iria propagar um odor tão desagradável? Por que pelo menos não aproveitariam
todo aquele finíssimo, raro e magnífico velino, criando um palimpsesto?

As páginas do Sinaítico foram descritas como brancas em 1845, mas as muitas páginas
que foram adquiridas pela British Library apresentam um aspecto mais envelhecido,
manchado e amarelado, conforme podemos ver nesta foto. Por outro lado, as poucas
páginas que em outra leva haviam sido transportadas para a biblioteca da Universidade
de Leipzig misteriosamente ainda continuam brancas. Será possível que alguém ousaria
aplicar algum ácido nas páginas, a fim de fazê-las parecer mais antigas?

O paleógrafo Constantine Simonides, erudito com um profundo conhecimento de


manuscritologia e dono de uma caligrafia descrita na época como "miraculosa", era
considerado por alguns especialistas como o mais perito forjador de manuscritos do
século XIX. Em 13 de setembro de 1862, em um artigo publicado no jornal The Guardian,
Simonides declarou que foi ele mesmo quem escreveu o Códice Sinaítico, no ano de
1839.

No entanto, como há absoluto consenso acadêmico de que o Códice Sinaítico foi


compilado durante o quarto século, muitos críticos textuais hoje preferem ficar na posição
paradoxal e bizarra de defender que Simonides jamais foi um farsante, apesar da sua
própria confissão.

Resumindo tudo, a estória do Códice Sinaítico parece mal contada. O fato de que um
manuscrito bíblico supostamente tão importante nunca havia sido mencionado antes de
1844, a estória de que os bibliotecários do Sinai estavam em vias de queimar aquele
grandioso manuscrito de couro, o envelhecimento aparentemente artificial da quase
totalidade das páginas e a confissão do mestre forjador Simonides de que ele mesmo
escreveu o Sinaítico, tudo isso sugere que o códice talvez não seja exatamente aquilo que
o consenso acadêmico diz que é.

De uma forma ou de outra, o testemunho que o Sinaítico traz da omissão do Comma


precisa ser considerado juntamente com aquilo que consta nos três outros magníficos
unciais, nas assim chamadas "testemunhas constantes" e em outras evidências do texto
crítico grego. Se Deus quiser, continuaremos a estudar o assunto!

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FÉRIAS COM TEOLOGIA | MÓDULO 02
BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

*Comma Johanneum (I João 5:7, 8)*


PARTE IX
Uma característica interessante do Comma é que apesar de ter pouco testemunho dos
manuscritos gregos, desde sempre e até o surgimento da crítica textual foi citado
(veremos mais a respeito disso nas próximas partes), proclamado como canônico e
apareceu nas bíblias adotadas pela Igreja tanto na sua ortodoxia, na tradição romana e
nas principais traduções da Bíblia das igrejas oriundas da Reforma.

A partir do advento da crítica tudo mudou, e com exceção do texto grego oficial da
ortodoxia (como por exemplo, o texto patriarcal de Antoniades de 1904, que contém o
Comma), provavelmente todas as outras grandes igrejas removeram a passagem.
Documentar essa mudança é importante para consolidar o entendimento que a crítica
textual trouxe uma efetiva *alteração* nas Bíblias tradicionais, lidas pelas diversas igrejas
até então.

Vejamos como o texto tradicional foi modificado com o avanço da crítica:

O Concílio de Trento promulgou oficialmente que a versão sixto-clementina da Vulgata era


a Bíblia oficial da igreja romana.
Esse texto pré-crítico da Vulgata continha o Comma.

Durante o Concílio Vaticano II decidiu-se revisar aquela que era a Bíblia oficial, e em 1979
foi lançada a Neovulgata (Nova Vulgata), "corrigida" a partir do texto crítico de Kurt Aland
(e portanto, sem o Comma).

Como acontecia nas outras línguas, a versão católica romana tradicional em inglês (a
Douay-Rheims) e a versão tradicional em português (Figueiredo) apresentavam o Comma.

As novas traduções da igreja romana também baseiam-se no texto crítico e omitem o


Comma.

A tradução de Lutero de 1545 de I João 5:7 dizia: "Denn drei sind, die da zeugen im
Himmel: der Vater, das Wort und der Heilige Geist; und diese drei sind eins." A tradução
"de Lutero" de 1912 diz: "Denn drei sind, die da zeugen: der Geist und das Wasser und
das Blut".
Quem será esse "Lutero" que tirou o Comma da sua tradução em 1912?

A Bíblia protestante tradicional mais popular do mundo sem dúvida é a King James, de
1611, que continha o Comma.

A partir da Revised Version, do século XIX, as novas edições geralmente omitem a


passagem. Todos sabem que a tradução original de Almeida continha o Comma, mas da
"Almeida" atualizada em diante o texto ou é omitido ou é colocado sob suspeita.

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BIBLIOLOGIA: A CONFIABILIDADE DAS ESCRITURAS

O mesmo fenômeno acontece com outras traduções da Bíblia para o português. Em


espanhol, a mesma coisa. A Reina-Valera (até a edição revisada de 1960) tinha o Comma,
as novas edições não o contém.

Poderíamos continuar indefinidamente, mas acredito que a ideia já ficou clara.

A questão que precisa ser respondida é: será que a Bíblia foi adulterada pela Igreja e
reconstituída graças a um esforço científico moderno, como querem os críticos textuais,
ou será que presenciamos exatamente o contrário?
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*Comma Johanneum (I João 5:7, 8)*


PARTE X
Uma característica dos manuscritos da escola alexandrina que sempre agradou os críticos
textuais é que eles omitem diversos textos da Escritura (esse fenômeno também ocorre
nos grandes unciais).

Nesse ponto alguém que segue o texto crítico poderia dizer: mas será que são omissões
do texto alexandrino ou são acréscimos do texto canônico da Igreja (que segue a tradição
bizantina)?

A resposta depende do quanto você acredita que o décimo primeiro princípio da crítica
textual é realmente científico.

Ele afirma: _lectio brevior lectio potior,_ isto é, "a leitura mais curta é a mais provável."

Na sua opinião, seria mais provável que os copistas bizantinos acrescentassem versículos
ou que os copistas alexandrinos os omitissem? Lembre-se que o texto tradicional era
geralmente copiado por monges que renunciavam às riquezas e ao mundo e entregavam
as suas vidas completamente para servir a Deus, e que mesmo os críticos textuais
admitem que os milhares de manuscritos que eles copiaram podem ser considerados
como uma só testemunha de um único texto, enquanto os copistas alexandrinos muitas
vezes evidentemente estavam envolvidos com o gnosticismo, e que fora da tradição
ortodoxa não encontramos nem mesmo dois manuscritos que contenham dois versículos
em sequência copiados de forma igual.
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Nos vemos no próximo módulo!


17/01 - ANTROPOLOGIA: O HOMEM, A QUEDA E A REDENÇÃO.

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