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Carlos Reisser Júnior – Engenheiro agrícola, doutor em Agrometeorologia e

pesquisador – Embrapa Clima Temperado – carlos.reisser@embrapa.br

Estufa – Foto: Zanatta

Desde sua introdução, a plasticultura mudou muito no Brasil. A utilização de


filmes para cobrir as culturas foi chamada de estufas plásticas, termo oriundo
das estufas de vidro até então utilizadas para fim agrícola. As casas de
vegetação de vidro, ou estufas de vidro, eram, no Brasil, usadas principalmente
em empresas de pesquisa para proteger experimentos de várias culturas.

A introdução de estufas plásticas foi inicialmente realizada na região sul do


Brasil, pela proximidade da petroquímica, e o plano de divulgação da técnica
visava a produção de hortaliças durante todo o ano, mesmo durante o período
frio de inverno existente nessa região.

A ideia a ser lançada era “produzir tudo durante todo o ano”. Essa proposta foi
um dos erros iniciais do programa de incentivo da técnica, vindo a prejudicar a
sua adoção rápida na época.

Hoje, sabe-se que a produção em ambientes protegidos por estufas plásticas é


uma técnica que veio para ficar, e à medida que o produtor entra em contato
com sua utilização correta, ele verifica as possibilidades de melhora da
produção, da segurança e economicidade de sua lavoura.

Panorama

O Brasil é o segundo maior produtor em ambientes protegidos na América


Latina, com aproximadamente 30.000 ha em 2019, ficando atrás somente do
México, que possuía uma área coberta de 41.000 ha.
Mesmo com um crescimento acima das taxas do PIB brasileiro, o crescimento
anual de adoção da técnica fica próximo a 5% ao ano, muito abaixo de outros
países e regiões que têm taxas próximas a 10%, como Europa e Japão, o que
mostra o potencial de crescimento dessa técnica no Brasil.

De acordo com alguns autores, as estufas são normalmente utilizadas para


cultivos de hortaliças (60%) para flores uns 20% e para frutas e fumo, outros
20%.

Evolução

A evolução da produção protegida não se deu somente em valores, mas em


qualidade também. À medida que o setor produtivo foi se aperfeiçoando e
conhecendo melhor a utilização correta de sua produção nesses ambientes,
aumentava a necessidade de novas técnicas e estruturas, que apesar de maior
investimento inicial, se mostraram mais econômicas a longo prazo, bem como
ofereciam maior segurança ao produtor.

Novos sistemas de produção, culturas e insumos agrícolas determinaram que os


modelos e as estruturas das estufas se adaptassem a essas novas técnicas. A
produção fora do solo, por exemplo, necessita de ambiente com cobertura total
da chuva e que os modelos sejam adequados a ela.

A utilização de produtos biológicos para controle de pragas foi outra técnica que
necessitou de condições especiais dos ambientes. Outro fator foi o aumento de
demanda por produtos de melhor qualidade sem uso de químicos em sua
produção, como a orgânica, fundamental para evolução de modelos e acessórios
de controle do ambiente.
Inicialmente as estufas foram construídas sobre estruturas de madeira e
cobertura com filmes plásticos. Alguns modelos se mostravam eficientes na
produção, porém, com baixa resistência a ventos.

Até hoje se usam esses tipos simples de estufas, mas o que se observa é que o
produtor tende a adotar um outro modelo mais adequado à fixação do plástico,
como as coberturas de arco em tubo metálico. Outros produtores, ainda
exigindo maior qualidade, adotam estruturas de aço, que possuem uma vida útil
maior que as de madeira.

Proteção

A cobertura das laterais com telas é uma outra técnica que vem aumentando sua
utilização para evitar o ataque de pragas-inseto, que normalmente são
controladas com químicos. A adoção dessas telas para alguns usos necessita de
maior pé-direito ou altura da estrutura, para que a área de ventilação seja maior,
adequando o ambiente para o cultivo.

Com o uso de telas a estrutura fica mais guarnecida também de outros


patógenos, se tornando adequada para que se faça antessala na entrada, com
aumento do isolamento desses problemas, podendo ser usada também para
desinfecção dos calçados e colocação de roupas de proteção.

Cobertura

A cobertura das estruturas sempre foi variada, dependendo da região ou do


fabricante. Cobertura com pouca declividade ou plana, usada na cobertura de
parreirais, coberturas em duas águas ou estufas capela, e as mais utilizadas
atualmente com cobertura em arco.
Essas estruturas podem ou não ter ventilação zenital, ou ventilação na sua parte
superior ou nos frontais da estufa, visando uma melhor renovação do ar interior,
que normalmente é muito úmido. Também existem as estufas conjugadas, que
são estruturas ligadas umas nas outras, aumentando o tamanho da área coberta.
Esses modelos normalmente possuem laterais com tela, e necessitam de altura
maior que modelos individuais.

Fora do solo

Outra técnica que está apresentando crescimento significativo ultimamente é o


cultivo fora de solo, em que o produtor retira as raízes do solo e utiliza um
substrato artificial, o qual é irrigado com solução nutritiva (fertirrigação) para o
desenvolvimento das plantas. Esses sistemas utilizam vasos ou calhas, onde as
plantas se desenvolvem.

Para maior facilidade e limpeza dentro das estruturas, alguns estão


pavimentando o seu interior, onde são colocados os recipientes com os
substratos. Essa técnica determina que o piso seja adequado ao tipo de
microclima interno necessário, normalmente necessitando que sua cor seja
reflexiva para que não aumente muito a temperatura.

Também é importante ressaltar que se a estrutura para fixação do plástico for


usada para fixação de plantas, essa deve ser reforçada para aguentar esses
esforços extras.

Modelos atuais, além de modificarem o microclima, como as estruturas menos


equipadas, têm possibilidade de ser controladas usando equipamentos especiais
de aquecimento, sombreamento, resfriamento, ventilação, exaustão,
complementação luminosa, dentre outros.
Estufas com esses equipamentos são as que mais evoluíram dentro do sistema
de produção, mas são estruturas adequadas a tipos específicos de cultivo de alto
retorno ou valor, visto que possuem custo elevado e, na maioria das vezes,
permite a automação do controle.

Vantagens

Os diferentes modelos proporcionam diferentes vantagens às culturas, desde os


modelos mais simples, que por meio de proteção física e redução de estresses
proporcionam melhora em seu crescimento vegetativo, porém, com restrições
aos aumentos de temperatura noturnos.

Isso representa restrição à produção de frutos em ambientes protegidos em


períodos de temperaturas não adequadas ao pegamento de frutos. Por exemplo,
sempre que temperaturas do ar baixam de 11°C o tomateiro reduz sua
produtividade proporcionalmente ao número de horas abaixo desse nível de
temperatura.

Estufas sem aquecimento não proporcionam aumento de temperatura do ar


noturna em relação à temperatura do ar exterior. Mesmo com aquecimento, o
uso dos plásticos existentes no mercado, de maneira geral, não torna econômica
a produção, pois a perda de radiação térmica ou de onda longa é muito
expressiva com esses filmes.

Estufas, para aquecer o seu ambiente, precisam de plásticos e estrutura


adequada para o aumento do isolamento das ondas longas.

Outro benefício fundamental do cultivo protegido é a redução do uso de


produtos químicos para controle de insetos e doenças. Esse é uma característica
da produção protegida, desde que o produtor saiba como manejar os potenciais
danos bióticos.
Culturas beneficiadas

Com essas restrições de temperatura, as culturas mais beneficiadas são as


folhosas e as que produzem frutos, mas cultivadas dentro de parâmetros
técnicos adequados, como região produtora, épocas de cultivo e,
principalmente, avaliação de preço de venda.

Não adianta produzirmos em um ambiente mais caro que determina maior custo
de produção se não formos vender a um mercado que remunere mais o produto.
Outras culturas beneficiadas são as feitas em cultivo fora do solo, onde a
proteção das chuvas é essencial para essa tecnologia.

Custo

Hoje, o custo de estufas plásticas é muito variável e dependente da estrutura e


dos equipamentos a ela agregados. Pode variar desde R$ 80,00 o m2 até mais de
R$ 1.000,00 por m2, dependendo do modelo e dos equipamentos para manejar o
ambiente. Esses valores são muito relativos também às estruturas, à
pavimentação e automação do manejo do ambiente e da irrigação e fertilização.

Acredito que o produtor que conhece seu sistema de produção e sua


rentabilidade pode investir nessas estruturas, pois sabe do retorno que pode
conseguir ao longo de sua utilização. Produtores iniciantes na produção
protegida devem ser mais cautelosos nos investimentos iniciais, pois o
conhecimento e a “experiência de produzir” são fundamentais para o sucesso
econômico e reduções dos riscos inerentes à produção agrícola, mesmo em
ambientes mais seguros, como a produção em ambiente protegido.
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