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Do Feudalismo ao Capitalismo

Tópico 1 - As Várias Correntes Historiográficas


Para começarmos vamos entender dois conceitos:
Conceito

Feudalismo é considerado um modo de organização social, político e cultural que leva em


conta o regime de servidão. O trabalhador rural, neste regime, era considerado servo, e os
proprietários das terras, considerados senhores feudais.

Feudal conceitualmente vindo de feudo, palavra de origem germânica, que diz respeito a


alguém que possua direito sobre um bem; na história, direito sobre terras.

O sistema feudal funcionou na Alta Idade Média, ou seja, no período entre o século V e
o século XI, mais estruturado nos séculos IX a XI.  Ao estudar o feudalismo, há
divergências na periodização e mesmo no conceito. Mas a transição da Idade Antiga para
a Idade Média, e do Modelo Escravista para o Modelo de Servidão é uma boa explicação
em termos de época e surgimento.

O Feudalismo foi um sistema caracterizado pela economia de consumo, trocas naturais e


poder político descentralizado, baseado sobretudo com a economia agropastoril ou
agrária, as relações de meação, a distância social entre os proprietários e os colonos
trabalhadores com muita submissão. 

No Feudalismo, não havia moeda, tudo era baseado na troca e a igreja obtinha o poder
central. A Hierarquia da época era a seguinte: 

• Clero - Membros da Igreja Católica no topo da pirâmide

• Nobreza feudal - proprietários de terras 

• Servos - camponeses trabalhadores na base da pirâmide

A sociedade feudal europeia era organizada em grupos, chamados estamentos (hoje


chamamos classes). Os estatutos de cada estamento eram individuais e havia, assim, os
privilegiados, ou seja, os estamentos que não pagavam impostos, e eram proprietários de
quase todas as terras.

Clero, nobreza e campesinato: a tríade fundamental da sociedade feudal.

Clero, um monge que ora

Nobre com seu escudo, que luta

Camponês, com a ferramenta de trabalho à mão.

O Feudalismo provocou reflexos prolongados na história do homem em sociedade, bem


como nos diferentes modelos de desenvolvimento futuro dos países.

Weber (2004, p.59) fala deste reflexo, ao citar o desenvolvimento em corporação do início
da Época Moderna, e o direito Alemão em que “a comunidade proprietária de terras
comunitárias tinha caráter senhorial, sendo o senhor feudal geralmente considerado
proprietário das terras não-repartidas, enquanto os camponeses tinham apenas o direito
de utilizar o objeto alheio”.
Mas também a nobreza ainda mantinha suas estratégias para não perder seus escravos:

O exército de escravos comprados pressupunha consideráveis capitais em


dinheiro nas mãos do príncipe, para a compra; além disso, sua boa vontade
dependia do pagamento do saldo, isto é, das receitas em dinheiro do príncipe.
O desenvolvimento experimentado pelas tropas dos seljúcidas e mamelucos,
sua participação nos rendimentos tributários procedentes de súditos e terras, e
por fim a atribuição destas, como terras de serviço, às tropas e, portanto, a
transformação destes soldados em senhores territoriais, eram apropriados para
fomentar a feudalização da economia.

(WEBER, 2004, p.243)


Havia, também, no sistema Feudal, a existência de poder político-militar localizado,
isto é, muito poder estava nas mãos de proprietários e de chefes e não existia uma
noção de Estado, mas sim pouca subserviência destes chefes e proprietários à autoridade
suprema de um rei. Cresce a relação entre comandantes e comandados, baseadas
unicamente na lealdade e fidelidade.

No feudalismo, a economia era fechada, destinada a consumos locais, sem mercados


externos. Haviam trocas comerciais. E o sistema de trabalho era de servidão. Ou seja, no
sistema feudal não havia comércio, sendo as relações à base de trocas de produtos.

Mas na história, o feudalismo cai em decadência, e surgem novos modelos que trazem
novas estruturais sociais.

A partir do que vimos no vídeo, é possível compreender os andares do homem na


sociedade, ao longo deste período da história. Aqui vale refletir sobre o quanto viria a ser
impossível, no futuro, direitos iguais de desenvolvimento, se historicamente o ponto de
partida para este desenvolvimento já era baseado na desigualdade.

Não havia mobilidade social, ou seja, as facilidades estavam longe de serem iguais, para
as diferentes castas. Weber (2004, p.242) lembra esta separação estratégica de castas,
comparando modelos da Idade Média à Antiguidade, em que a nobreza possuía amplo
poder sobre os dominados que dela dependiam.

Já os faraós e os reis mesopotâmicos, mas também senhores patrimoniais


privados da Antiguidade (por exemplo, a nobreza romana) e da Idade Média
(os seniores), empregavam seus colonos, e também os servos, com marca de
propriedade aplicada a ferro, como tropa pessoal. Mas, para constituir uma
força militar permanentemente disponível, pelo menos os colonos camponeses
que habitavam suas terras eram pouco apropriados, já que tinham que
sustentar economicamente a si mesmos e ao senhor, não podendo afastar-se
em regra, e porque um excesso de exigências, que ultrapassasse a medida
tradicional, podia abalar sua fidelidade baseada exclusivamente na tradição

Nos estudos de Marx, “a feudalidade seria muito menos uma forma de regime político
do que um tipo de organização da economia e da sociedade, intercalando-se entre o
escravismo antigo e o capitalismo”. (FOURQUIN, G. 1987, p.12).
“ O uso que os historiadores marxistas faziam da palavra feudalismo para
definir uma das principais fases da evolução econômica e social se justifica
pelo papel que a feudalidade - no seu sentido muito amplo, isto é, as formas
que adotou o exercício do poder na Europa ocidental a partir mais ou menos do
ano mil - teve no ordenamento das relações novas entre as forças produtivas e
aqueles que delas tiram proveito”.

(DUBY, Georges, 1993. p.183)

Se levarmos em conta a extrema insegurança econômica, social e mesmo jurídica das


classes dominantes, percebe-se que o modelo de dominação era de difícil ruptura. O
sistema feudal, assim, não permitiu mudanças de classes. Aqueles nascidos nobres,
continuaram nobres, e os nascidos pobres, continuaram pobres.

Tópico 2 - Economia Feudal


Como já vimos, no feudalismo, o sistema econômico, social e político da Idade Média, o
modo de produção era caracterizado pela servidão. Modelo este que resistiu por
séculos, mesmo após, por exemplo, da revolução francesa, que mesmo já em 1789, ainda
manteve a servidão típica do feudalismo.

Mas para entender este novo modelo de economia, no feudalismo, vale a pena lembrar o
que o originou.

A crise do escravismo que era o modo de produção do império romano (roma antiga) a


partir da diminuição dos prisioneiros e dos escravos, decorrente de acordos de paz nas
guerras de conquistas, a Pax-romana, deu-se origem à busca de espaço, por estes ex-
prisioneiros e ex-escravos, nas propriedades rurais.

A crise econômica do império romano resultante da crise do escravismo, a falta de mão


de obra e a grande necessidade de produção, gerou mão-de-obra nas propriedades
rurais.

A chamada ruralização em que o acolhimento destes ex-escravos e ex-


prisioneiros pelos proprietários rurais, agora chamados de colonos (ou trabalhadores
presos a terras), desde que se viessem a se sujeitar a produzir para os proprietários em
troca de espaço e segurança. Eram obrigados, também, a mear (dividir pela metade) a
produção que faziam nos pequenos espaços destinados a eles nas chamadas vilas
romanas.

As invasões bárbaras do mundo medieval às cidades romanas influenciaram um novo


modelo de economia. Muitos dos que migraram das cidades para os campos ganharam,
pela crise social, econômica e escravistas, terras para produção, em modelo de
combinato. As terras eram divididas entre os senhoriais – senhor feudal; servos –
camponeses; e pessoas comuns – habitantes dos feudos.
E, lembrando, os servos trabalhavam nas terras senhoriais em troca de habitação,
comida e proteção. Eles eram os responsáveis pelo cultivo, o cuidado com os animais e
eram responsáveis em servir os senhores.

As terras precisavam, assim, serem as mais produtivas possível. Uma das maiores
preocupações nesta época por parte dos camponeses era o aproveitamento máximo das
terras.
Com isso, os camponeses prolongaram a vida útil da área, utilizando a rotação de
culturas, ocupando dois terços da área para diferentes culturas agrícolas e deixando a
outra parte livre, recuperando o solo para posteriores plantações.

A terra assim era o bem mais precioso. Com o crescimento demográfico, chegaria um
momento em que não mais existiria terra para tantos. Dentre os caminhos estava afastar
os feudos, já em grande quantidade, disputando terras com os senhores feudais.

Motivados assim para buscar novas terras, buscando a sonhada chance de


enriquecimento, viu-se surgir as cruzadas, que muito influenciaram a expansão
econômica no final da Idade Média. Aqueles sem propriedades, saiam em busca de novas
terras. Também eram atraídos pela facilidade dos saques daqueles que viam a cruzada
como oportunidade de saquear, retirar e conquistar a riqueza de outros.

O homem medieval, participando de uma cruzada proposta pela igreja, era convencido de
que estaria alcançando a absolvição dos pecados e do inferno, o maior medo do homem
medieval.

Muitos também morreriam nas cruzadas, pelas lutas, e baixas condições de sobrevivência
nas caminhadas, o que ajudava a resolver, na visão dos senhores feudais, o problema de
alta densidade demográfica.

Como vimos, na era do feudalismo, podemos destacar na economia: a ruralização da


sociedade; o poder centrado nas propriedades senhoriais dos feudos; os privilégios
e grande poder da igreja Católica na sociedade.

Através da agricultura e do crescimento demográfico, o quadro da economia feudal


deu os primeiros indícios as transformações que acarretaram o surgimento de uma
classe de comerciantes burgueses.

Assim, no final do sistema feudal, ocorreu a estruturação do poder burguês, com a


passagem do absolutismo para o liberalismo. No liberalismo, defendia-se a igualdade, a
liberdade econômica, o valor do trabalho humano e direitos perante a lei e a divisão
dos poderes, indo ao contrário do absolutismo.

Com a desintegração do feudalismo, surge a Baixa Idade Média, trazendo o renascimento


comercial e urbano em que deixar o crescimento apenas nas mãos dos feudos, já não
emanava segurança.

Tópico 3 - Os "Debates" sobre Capitalismo entre Marx, Maurice Dobb,


Paul Sweezy e Ellen M. Wood e Outros
Neste Tópico vamos relembrar a chegada do Renascimento Comercial e Urbano, e ler
sobre os "debates" sobre capitalismo entre Marx, Maurice Dobb, Paul Sweezy e Ellen M.
Wood e outros.

Diversos pensadores influenciaram na história e no estudo das ciências sociais. Karl Marx,
por exemplo, desenvolveu vários estudos sobre o Capitalismo, entre eles, a obra O
Capital, que foi dividido em vários volumes, apresentando conceitos e origem do
capitalismo.

Marx em sua obra, descreve aspectos do processo histórico que, segundo ele, foram
elementares para o capitalismo e suas relações sociais. O pensador destacou em sua
obra as relações humanas e o modo de produção, relatando os dois tipos de
detentores de mercadorias: os proprietários dos meios de produção e os possuidores da
força de trabalho.
Para Marx, compreender o capitalismo significa compreender os mecanismos de
relações sociais capitalistas. A decadência dos camponeses resultou na perda de suas
terras e na venda de sua força de trabalho. Agora, a propriedade capitalista se formava
pelos meios de produção centralizados em um pequeno grupo.
Na era capitalista, o mercado se tornou a força reguladora das relações
sociais. Capitalistas e trabalhadores se tornaram dependente do mercado para sua
subsistência.

De modo geral, o capitalismo ao pouco foi se apossando de toda sociedade. A transição


do feudalismo para o capitalismo, na visão de Marx, é vista pelos
aspectos qualitativos sobre elementos socioeconômicos que convergiram para a
configuração das relações sociais capitalistas.

Segundo publicado em seu livro, o Marxista Maurice Dobb mostra o capitalismo como


uma organização de produção, enfatizando mais as relações sociais.

Além disso, Doob enfatiza em seu discurso a relação entre o produtor e seu superior
imediato. Para ele, a causa do declínio feudal foi a ascensão da economia monetária que
elevou a intensificação da servidão.

Dobb compreendia que as maneiras de exploração do homem sobre o homem, tende


ao fracasso, principalmente devido a sua ineficiência no método de produção.

Para Dobb, a sociedade feudal obtinha riqueza e havia a exploração do proletariado,


sendo a produção a fonte de riqueza. Já no capitalismo, a fonte de riqueza também era a
produção, contudo, em uma proporção maior. Maior produção gerava maior ganho para
os proprietários.

Na batalha entre os precursores da nova indústria do campo e ao comando dos


governos urbanos, a influência da monarquia alongou-se a favorecer as
cidades e o antigo regime industrial, em parte, em benefício dos princípios de
conservadorismo, do desejo de manter a estabilidade na ordem.

 (PEIXOTO, 2012)

Para o desenvolvimento da produção e para alocar capital em investimento, houve a


expansão do mercado, que acarretou aumento da demanda e maior lucro

Para o filósofo Adam Smith, era imperioso uma regulação do preço de compra
dos bens com o preço de venda. O conceito central era praticar a acumulação
primitiva do capital que seria empregado para financiar o crescimento e
desenvolvimento da indústria. De um lado os lucros fáceis com a exploração do
monopólio de mercado, de outro a exploração da mão de obra industrial
assalariada.

(PEIXOTO, 2012)

Os dois autores da corrente Marxista - Paul Sweezy e Maurice Dobb - se destacaram


por debates sobre a transição do Feudalismo para o Capitalismo e todo o processo
e questões envolvidas neste período. Para eles, a expansão comercial foi elemento
chave para o declínio do Feudalismo e ascensão do Capitalismo.

Alguns pensadores se juntaram para discutir o que ficou conhecido como “pós-
marxismo”. Ellen Wood, historiadora Marxista, publicou uma obra em que engaja um
debate pautado nesse novo momento e suas análises conceituais. O raciocínio pós-
marxista se pautava de que as relações não estavam dependentes. A política
independente da economia e a transformação social não estava relacionada a exploração
de classe.

Para Wood, resgatar a força política da esquerda é algo que está intimamente
ligado à retomada séria de um Marx não contaminado por esquematismos ou
leituras acríticas. Foi nesse sentido que ela foi uma figura central na discussão
do chamado “marxismo político”, linhagem teórica à qual ela foi associada, ao
lado do historiador Robert Brenner, uma de suas maiores influências.
“Marxismo político” foi a assimilado - em um primeiro momento com um sentido
pejorativo, mas depois acolhido pelos seus representantes - à abordagem de
Wood e Brenner em relação a uma interpretação específica das origens do
capitalismo e de suas características estruturais.

(PEREIRA, 2017.)

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