Você está na página 1de 4

Forma Física e Habilidade Motora

Introdução:
O objetivo deste artigo é traçar algumas considerações sobre estes
dois grupos de qualidades físicas e mostrar a importância de sua íntima
relação para o desenvolvimento da performance do jogo de capoeira e
finalizar com uma proposta de aula que contemple os dois grupos.

Considerações Iniciais:
Antes de tudo convêm definirmos as varias qualidades de cada
grupo, simplificadamente, temos:

FORMA FISICA HABILIDADE MOTORA

- Força - Coordenação
- Resistência anaeróbia - Relaxamento (descontraçäo)
- Resistência aeróbia - Agilidade
- Potência anaeróbia - Velocidade
- Potência aeróbia - Equilíbrio
- Flexibilidade

Embora exista uma quantidade apreciável de parâmetros, a resistência


aeróbia, a resistência anaeróbia, a força e a velocidade são consideradas
como qualidades essenciais, de base, pois são necessárias para o
desenvolvimento das outras.
Em outras palavras não é possível desenvolver a técnica (habilidade
motora) sem as condições fisiomotoras básicas (forma física).
A questão se apresenta então da seguinte forma:
Como adequar estas necessidades a uma aula de no máximo 90
minutos três vezes por semana?.
(Ao propor esta estrutura como básica estamos nos reportando às
modificações que a própria capoeira tem sofrido nestes últimos anos. De
uma atividade de gueto, de uma comunidade fechada, a capoeira se
sofisticou e passou a ser praticada nas academias ombreando-se com outras
atividades e tendo por conseqüência de se adequar à uma determinada
metodologia. Do treino do grupo, onde todo o espaço e tempo era para uma
atividade, podendo variar de tempo ao sabor dos participantes e da vontade
do mestre, as condições impostas por uma escola ou academia, onde o
instrutor é mais um dos profissionais a partilhar deste espaço).
Que valências privilegiar e quais as melhores combinações. Em
outras palavras, qual é a melhor estrutura de uma aula?

1
Desenvolvimento.
A estrutura clássica de uma aula com aquecimento, formação geral,
habilidade especifica e volta a calma ainda nos parece a melhor estrutura a
ser obedecida. Porém se faz necessário um encadeamento lógico, isto é,
que as partes do conjunto orientadas para um objetivo comum. É comum
professores de capoeira não atentos a este detalhe apresentarem verdadeiras
colchas de retalho, realizando bons trabalhos específicos, porém
desassociados do todo. É fundamental para o professor que ele tenha claro
o seu objetivo.
Apenas como exemplo pedagógico vamos imaginar uma aula de
capoeira cujo objetivo seja o desenvolvimento da coordenação.
Kiphard define coordenação como a ação conjunta, harmônica e a
mais econômica possível de músculos, nervos e sentidos, para ações de
movimentos objetivamente exatos, equilibradamente seguros (motricidade
voluntária) e reações rápidas adaptadas à situações (motricidade reflexa).
Entre a multiplicidade das diversas capacidades de coordenação
podem se destacar três capacidades gerais de base (cf. SCHNABEL,
1974,627):
- A capacidade de controle motor;
- A capacidade de adaptação e readaptação motoras;
- A capacidade de aprendizagem motora.
Estas três capacidades de base estão em estreita correlação recíproca.
Entretanto, a capacidade de aprendizagem motora representa a mais
elevada das atividades de coordenação.
A capacidade de aprendizagem motora repousa antes de tudo nos
mecanismos de apreensão, do tratamento e da armazenagem da informação.
Em primeiro lugar estão, portanto, processos percetivos (analisadores),
cognitivos (avaliar, classificar), e mneumônicos (processo relevante na
memória que é baseado nas operações neurofisiológicas de síntese).
A capacidade de controle motor baseia-se, em particular, nos
componentes de coordenação da capacidade de diferenciação cinestésica,
da capacidade de orientação espacial e da capacidade de equilíbrio.
A capacidade de adaptação e readaptação depende largamente não só
da capacidade de aprendizagem motora mas ainda da capacidade de
controle motor. Além disso, depende amplamente das capacidades de
reação, de equilíbrio, de orientação espacial e cinestésica de diferenciação.

2
Capacidade de
aprendizagem motora

Capacidade de
Capacidade de adaptação
controle motor e
readaptação motoras.

A partir destes dados podemos começar a “montar” nossa aula de


capoeira.
Vamos imaginar que temos como objetivo o ensino e o
desenvolvimento da armada. Um dos movimentos mais que mais exigem
coordenação no jogo da capoeira.
A partir do conhecimento cinestésico do movimento devemos optar
por um aquecimento leve que privilegie principalmente a rotação da
coluna, principalmente da coluna cervical ponto onde se concentra a
percepção do alvo (já que este movimento parte de um ponto cego, para no
primeiro tempo o olhar se fixar no alvo e em seguida a perna de ataque
fazer um movimento de semi circulo).
No momento reservado para formação fisica sabemos o que NÃO
podemos fazer:
Não podemos realizar um trabalho de força! Por que? Sabemos que
“a capacidade de controle motor baseia-se, em particular, nos componentes
de coordenação da capacidade de diferenciação cinestésica, da capacidade
de orientação espacial e da capacidade de equilíbrio”. Ora o trabalho de
força causa um processo de stress muscular incompatível com o nível de
coordenação exigido na aprendizagem de um movimento complexo como a
armada. Como contra prova é só tentar realizar depois de um trabalho de
força qualquer movimento que exija um mínimo de técnica, os nossos
jogadores de futebol que o digam.
Tão pouco devemos realizar um trabalho de alongamento! Na
tentativa de aumentarmos a flexibilidade articular através de qualquer
sistema de treinamento (alongamento) estamos indo além dos limites do
nosso aluno e o que em outros momentos é fundamental, neste momento
torna-se contra produtivo já que os níveis de concentração exigidos tão
pouco permitem o seu melhor aproveitamento.

3
Este momento de formação, nos parece, ser melhor aproveitado na
“decupação” pedagógica do movimento, ou seja, dividir em etapas
determinado movimento.
Qualquer movimento pode ser dividido em etapas educativas esta
condição vem a calhar atendendo sobremaneira a capacidade de controle.
Muitos de nossos professores ensinam os movimentos “por inteiro”: É
assim que se faz! E o aluno inexperiente tende a repetir ao seu jeito o que
viu. Ora, esta “antipedagogia” leva a dois resultados: o primeiro é uma
maior demora em aprender corretamente o movimento ( capacidade de
adaptação e readaptação motoras que ficam comprometidas quando os
processos percetivos não são adequados ) em segundo uma série de vícios
de execução com atletas sabendo executar o movimento apenas de um lado,
ou em uma atitude que, às vezes, compromete sua saúde (inadequação
cognitiva).
Portanto, é marca de um bom professor estabelecer etapas de
aprendizagem.
Usar o momento de formação para esta “decupagem” irá permitir aos
alunos mais velhos apurarem a técnica e aos alunos mais novos aprende-la
corretamente, ao mesmo tempo que estamos propiciando a ambos um
excelente processo mnemônico e como valência fisica implementamos a
resistência aeróbia localizada.
A parte principal da aula pode ser divida em grupos de trabalho de
acordo com a quantidade/desenvolvimento dos alunos.
Podemos citar um trabalho de estações.
Na primeira estação os alunos deverão realizar a armada
corretamente.
Na Segunda estação duas armadas seguidas sem desequilíbrio.
Na terceira estação um jogo de mão
Na Quarta uma seqüência simples (ataque e contra ataque)
começando com armada.
Na Quarta uma seqüência dupla (ataque – contra ataque – ataque –
contra ataque) de modo tal que ambos sejam solicitados a realizar uma
armada.
Na Quinta estação movimentos mais sofisticados partindo da armada
(armada pulada, saltada).
Na Sexta procedimentos de esquiva com armada.

Note que esta é apenas uma sugestão de uma estrutura. Ela deve ser
adaptada e modificada de acordo com a necessidade de sua turma.

A volta a calma pode ser feita através do jogo da roda onde o mestre
solicita aos seus alunos colocarem em pratica a “teoria” estudada.

Você também pode gostar