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Violet e Fey

Uma brisa cortante atravessou o grosso tecido do meu agasalho,


alcançando meus braços, me fazendo estremecer. Era o segundo
solstício de inverno que eu passava em Velaris e apesar de amar a
cidade iluminada a qual eu governava, certamente as épocas
geladas não eram as minhas preferidas, ainda que a beleza se
tornasse mais exuberante do que normalmente era. Ajeitei meu
gorro e andei pelas ruas largas e movimentadas, a procura de algo
para presentear cada membro de minha família.
Passava por cada vitrine, avaliando o que estava sendo vendido e
tentando achar o melhor entre aqueles. Esses últimos tempos
haviam sido confusos, com um emaranhado de sentimentos para
todos nós e o que eu mais queria era passar o feriado junto
daqueles que eu amava e que me amavam de volta.
Encontrou algo que goste?
Rhys questionou pelo laço.
Nada que expresse como eu me sinto em relação á eles,
infelizmente. Suspirei, enquanto avaliava um conjunto de
cachecóis na próxima vitrine.
Qualquer coisa que der a eles e for de coração, eles irão adorar
e você sabe. Foi sua resposta.
Então se eu der uma de Morrigan e der a eles pares de meias
combinando, eles ainda vão adorar? Debochei, imaginando o que
Mor daria de presente para nossa família esse ano. Senti a
vibração de sua risada alta e sonora e meu coração aqueceu
imediatamente e tive a sensação que nem o frio de Velaris seria
capaz de esfriar a camada de amor que envolvia minha alma.
Como seu parceiro e amigo, aconselharia não fazer isso, talvez
Cassian não aguente mais um par de meias inútil. Sua voz
zombeteira complementou meu comentário.
Falando sério agora, não consigo encontrar nada que me
agrade. Sabe, esse ano foi difícil e eu apenas queria que tudo
desse certo e que os presentes de alguma forma, mostrassem o
quanto os amo. Massageei as têmporas suavemente.
Por acaso, toda essa pressão é porque Nestha estará presente?
Pensei por alguns segundos. Era o primeiro solstício que ela viria
por sua própria vontade e eu não a vejo faz meses e simplesmente
não sei o que esperar quando vê-la. Então sim, talvez minha
euforia parta da presença dela.
Meu silencio se estendeu por mais alguns segundos, o suficiente
para que Rhys entendesse absolutamente tudo que se passava em
meu peito. Depois de tanto tempo de parceria, Rhysand me
entendia de uma maneira intensa e secreta que ninguém nunca foi
capaz. E nunca será.
É só a sua irmã. Claro, é o mesmo olhar cortante e feições
fechadas, mas a boa e velha Nestha Archeron.
Rhys... O repreendo. Espero que isso na sua voz não seja ironia.
O outro lado do laço se suavizou e o imaginei sorrindo de leve,
como se estivesse se desculpando. Apesar do sarcasmo, por
milagres que eu não conseguia entender, Rhys e Nestha haviam
estreitado as relações nos últimos meses, talvez pela influencia do
romance entre minha irmã e Cassian. Não posso deixar de dizer
que já imaginava isso acontecendo.
Apenas certifique-se de não voltar congelada para casa.
Talvez isso seja impossível, o frio aqui fora está intenso.
De qualquer maneira, sei de formas bem interessantes de te
deixar bem quente.
Encolho os dedos dos meus pés dentro da bota e sinto o arrepio de
minha espinha estender-se até os bicos dos meus mamilos,
deixando-os duros e sensíveis até ao tecido que me cobre. Sua
risada maliciosa ecoa pelo laço.
Amo você.
Eu te amo. E juro chegar em casa descongelada. Ou talvez não.
Rhys me envia imagens de como irá me manter aquecida, caso for
preciso. Antes de eu conseguir saboreá-las, Mor aparece em
minha frente, com inúmeras sacolas. Pela mãe, que não sejam as
meias combinando.
- Já encontrou o que precisava? – Pergunta Mor, checando as
sacolas que esta equilibrando.
- Na verdade não, não faço ideia do que comprar.
- Posso te ajudar a encontrar. Os meus presentes sempre são os
melhores, sabe, Cassian ainda tem aquele peso de papel que dei
para ele... Ou será que dei a Azriel? – Reflete com a ponta do
dedo encostada no queixo.
- Deu a Azriel, prima. Cassian iria usa-lo em qualquer função
menos para segurar papeis. Talvez para enfeitar o lixo. – Violet
soprou para mim e precisei desviar os olhos para não explodir em
risos.
Mor deu de ombros e proferiu:
- De qualquer maneira, ainda preciso comprar os presentes de
vocês. Encontramo-nos na casa?
Acenamos com a cabeça e vimos Mor dar meia volta e entrar na
loja que tinham alguns cachecóis que eu estava olhando.
- Cachecóis não são presentes tão ruins.
- A menos que ela nos dê aquela capa cheia de lantejoulas.
Arregalei os olhos e Violet enroscou meu braço com o dela e me
guiou para a próxima rua enquanto ria às custas da prima. Sua
risada era sonora, idêntica a de Rhys, assim como os cabelos
escuros e os olhos violeta. Violet era exuberante, Era graciosa
quando andava e falava e encantadora quando sorria. Havia uma
aura magica que emanava dela e qualquer pessoa podia sentir, não
era atoa que o povo de Velaris a adorava.
- Então, ainda indecisa sobre os presentes?
- Com certeza, odeio não saber o que dar a eles.
- Pelo menos você sabe o que não dar. Olhe para os presentes de
Mor e siga exatamente pelo caminho oposto.
Rimos e ela me puxou mais para perto enquanto caminhávamos
juntas por Velaris, não olhando mais os presentes, e sim a cidade.
- Talvez devesse pintar para eles. Você é incrivelmente talentosa e
eu, sinceramente, não consigo imaginar um presente melhor do
que aquele que a pessoa fez especialmente para você.
Pensei um pouco sobre isso, tinha um bocado de pinturas deles,
mas nunca havia os dado de presente, provavelmente Violet tinha
razão.
- Sendo assim, qual é o lado do seu rosto que mais lhe favorece?
- Por favor, pinte o esquerdo, fico mais graciosa!
Deixei o sorriso tomar conta do meu rosto enquanto seguimos
para a ponte do rio sidra. Debrucei-me contra o parapeito e senti a
o vento gelado me invadir.
- Sabe Feyre, mesmo antes de... Tudo acontecer com Rhys, à
morte da minha mãe e, bom, a minha morte também, - Percebi o
quanto aquilo era difícil para ela, o tamanho esforço que ela
estava fazendo para confessar aquelas coisas para mim - eu nunca
havia o visto sorrir tão genuinamente e puramente como faz
quando olha para você. Quando voltei à vida, e ele me mostrou e
me contou sobre do reinado de Amarantha, não deixei de pensar o
quanto aquilo o engoliria e o levaria para o lado perverso da
escuridão... Se não fosse por você.
Encarei seu rosto e encontrei-o banhado por lagrimas pesadas e
brilhantes, que escorriam por seu belo rosto. O bolo em minha
garganta estava se formando e as minhas lagrimas estavam se
empoçando debaixo dos meus olhos.
- Então, eu queria agradecer por escolhê-lo, por ter amado cada
parte do meu irmão e por não ter deixa-lo se perder.
Meu coração estava acelerado e minha mente foi tomada por
lembranças de cada pequena parte e aspecto da minha historia
com Rhys e sussurrei para ela, com minha voz fraca e embargada:
- Como poderia não ter feito?
A cena vista de fora, poderia ser um tanto cômica: duas moças
com as mãos dadas chorando em silencio, olhando uma para a
outra. Mas não nos importávamos, precisávamos daquilo,
precisávamos nos lembrar do que passamos e de como superamos
isso. Violet respirou fundo e olhou diretamente em meus olhos,
com seu rosto tomado pelo emaranhado de sensações.
- E talvez, eu gostaria de te ter mais como minha cunhada ou
parte do círculo, talvez... Como uma irmã, Feyre.
Ter Violet ali, em minha frente, dizendo que me queria como
irmã, quebrou todas as minhas barreiras. As lágrimas, antes
pesadas e lentas, corriam ligeiras pelo meu rosto, leves e rápidas.
Exibi o maior sorriso que consegui expressar e a puxei para um
abraço longo. Violet passou seus braços ao meu redor, e eu
murmurei em tom baixo:
- Seria um prazer.

Nesta e Fey
Feyre
Não consigo impedir o impulso de olhar para o relógio na parede
pela quinta vez num espaço de tempo de um minuto e esfrego as
mãos nervosamente e sinto suor se acumulando no interior delas.
— Algo errado, Feyre querida?
Levanto meus olhos e vejo meu parceiro distribuindo as taças pela
extensa mesa de jantar e posicionando seus melhores vinhos junto
deles. Quando termina, anda até mim e envolve seus braços em
minha cintura, me puxando para perto. Encosto minha cabeça sob
o tecido preto e macio da camiseta que está usando para a ocasião,
e suspiro. Sinto o laço estremecer com a voz grossa de Rhys em
minha cabeça. “Linda, sei exatamente o que está fazendo.”
Suspiro e me aocncehgo no quentinho do casaco e tento

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