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Excertos da Artigo “A Poupança nos Países em Vias de Desenvolvimento:

Teoria e Análise” de Angus Deaton1

Angus Deaton publicou em 1990 o artigo Saving in Developing Countries: Theory and
Review onde procurou, em parte, analisar a aplicabilidade da teoria existente sobre o consumo e
poupança nos países atrasados. Um dos principias findings do estudo é de que os modelos de
poupança e consumo prevalecentes tendiam a verificar-se em países industrializados.

Ao analisar a poupança nos países atrasados Deaton constatou que: (i) nestas economias
as famílias tendem a ser largas e com rendimentos variáveis e baixos provenientes
essencialmente de actividades agrícolas; ii) os rendimentos provenientes da agricultura são
incertos e representam uma ameaça aos níveis de consumo na medida em que influenciam sobre
quanto deve ser poupado e gasto. Portanto, há problemas sobre como alocar os recursos
disponíveis ao longo do ciclo da vida; iii) as famílias não têm capacidade de contrair
empréstimos, no entanto, acumulam um conjunto de pequenos activos de curto prazo não
duradouros que constituem uma barreira à queda do padrão de consumo quando os rendimentos
são baixos; e iv) as famílias têm uma estrutura demográfica estacionária e há uma grande
tendência de muitas gerações viverem juntas, ou seja, é comum nestes países observar avôs, pais,
filhos, netos e bisnetos a partilharem o mesmo espaço, e quando os mais velhos perecem são
substituídos por novas crianças.

A ilação retirada por Deaton é de que os indivíduos em países atrasados não dão relativa
importância à poupança para reforma através da transferência de rendimentos de períodos de
produtividade alta para aqueles de baixa produtividade como sugere o modelo de ciclo de vida.

1
Encontre mais detalhes em: Deaton, Angus: Saving in Developing Countries: Theory and
Review. The International Bank for Reconstruction and Development. World Bank. Washington
DC. 1990.

1
Os recursos são partilhados entre os trabalhadores da casa e os dependentes, e as questões
relativas a riscos de saúde e aposentadoria são internalizadas na família alargada. Na verdade,
quando os indivíduos atingem certa idade e cessam as oportunidades de obtenção de rendimento,
então os que outrora deles dependeram ficam responsáveis pelas suas despesas de reforma, ou
seja, funcionam como se de um fundo de pensões se tratassem. Este comportamento pode
explicar a fraca aderência aos fundos de pensões pelos trabalhadores nos países atrasados e a
tendência de ter muitos filhos como um mecanismo de segurança financeira futura.

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