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Dedicatória

Sara Miller.

Um simples obrigada nunca será suficiente.

Cinco livros atrás você me ajudou quando eu mais precisei.

Você é uma editora incrível e uma pessoa bonita com a


paciência de uma santa.

Obrigada por tudo.


Prólogo
Kyle
Doze anos de idade

Era um sabado, quatro e meia da tarde.

Entediado, eu deitei no sofa; e coloquei meus braços para tras


sob minha cabeça. Minha irma de sete anos de idade, Lily, estava
sentada de pernas cruzadas aos meus pes, os olhos arregalados e
sem piscar, fixos na TV do outro lado da sala. Seus labios se moviam
enquanto ela pronunciava as falas de Procurando Nemo, seu filme
favorito.

Ela tinha cada fala memorizada.

Puxando os olhos da tela, ela olhou para mim. Seus grandes


olhos castanhos brilhavam com curiosidade.

— Por que voce nao esta jogando basquete com Hendrix?

Revirei os olhos com a mençao do meu melhor amigo.

— Ele esta fazendo algo com Maddie.

Como sempre, acrescentei mentalmente.

Irritado por ter sido trocado por uma garota, puxei meu braço
de tras da minha cabeça e me sentei, colocando meus pes no
chao. Desde que começamos o ensino medio, Hendrix estava me
deixando a esquerda e a direita para passar o tempo com Maddie. O
idiota sempre esteve, mas ultimamente eles estavam sempre juntos.

Isso me deixava louco.

Por mais que tentasse, nao entendia sua fascinaçao por


ela. Pensar sobre a maneira como ele a seguia como um cachorrinho
perdido me deixou muito louco.

Maddie era legal e tudo mais, mas ela era uma garota.

E a maioria das garotas e uma merda.

Ao meu lado, Lily franziu o nariz.

— Hendrix e Maddie sao namorado e namorada?

— Algo assim. — eu murmurei, indo pegar o controle remoto.

Lily arrancou-o da mesa de cafe antes que meus dedos


fizessem contato e o empurrou entre as almofadas do sofa.

— Quando posso ter um desses?

— Quando voce pode ter um de que?

— Um namorado.

Minha resposta foi imediata.

— Quando porcos voarem.

Lily nao podia ter um namorado.

Jamais.
Eu tinha ouvido os garotos da escola falar e eu sabia o tipo de
coisa grosseira que passava pela cabeça deles. Nao havia como
deixar qualquer garoto se aproximar da minha irma mais nova,
especialmente alguem que pode tentar beija-la.

Eu acertaria o olho deles primeiro.

Lily era muito doce para um garoto idiota beijar.

Como seu irmao mais velho, era minha responsabilidade cuidar


dela e, no que me dizia respeito, ela precisava ficar um pouco, e sem
namorado, para sempre.

Lily bufou, cruzando os braços magros sobre o peito. Seus olhos


se estreitaram, e se o olhar tivesse o poder de matar, eu teria ficado
seis pes abaixo do chao.

— Isso nao e justo.

— Nao importa, Lily. Eu nao estou deixando nenhum garoto


perto de voce. Nao importa se voce tem sete ou dezessete anos, voce
nao pode ter um namorado.

— Por que nao?

Meu rosto aqueceu com aborrecimento.

— Porque ele pode tentar beijar voce. — eu disse, me pondo de


pe. — Ou pior, ele pode fazer voce chorar, e entao eu vou ter
problemas por empurrar os dentes dele em sua garganta.

Apenas o pensamento fez minha cabeça pulsar.

A sala ficou em silencio.


Eu esperava que Lily cavasse seus calcanhares e atirasse o
maior chifre do Condado de Kissler, na Georgia que ja tinha visto,
mas ela nao o fez.

Em vez disso, ela sorriu.

De pe, ela balançou os pes e brincou com a pulseira que pendia


do pulso esquerdo. Seus dentes brancos de bebe brilhavam a luz da
tarde, e sua sobrancelha escura e seus cachos balançavam um pouco.

— Tudo bem. — disse ela, balançando de um lado para o


outro. — Eu nao quero um namorado de qualquer maneira porque
eu e voce vamos viver juntos para sempre. Mesmo quando formos
grandes como mamae e papai. — Ela assentiu com a cabeça,
acrescentando enfase as suas palavras. – Vamos morar em uma casa
grande com piscina, e vamos assistir a filmes o dia todo e ficar
acordados depois da hora de dormir. Porque voce me ama e eu te
amo.

Eu amava minha irmazinha.

Um monte de muito.

— Alem disso, voce prometeu ao papai que sempre tomaria


conta de mim. Que voce me protegeria. — Os olhos cheios de
esperança de Lily procuraram meu rosto. — Certo, Kyle?

— Certo. — eu concordei, assentindo. — Eu e voce,


Teacup. Para sempre.

— Sim, eu e voce. — Se possível, seu sorriso cresceu. — Vivendo


em nossa propria casa, onde comemos sorvete para o jantar...

O telefone da casa tocou, interrompendo Lily no meio da frase.


Rapido como um raio, ela pegou o telefone sem fio da mesa de
cafe, apertou o botao de falar e pressionou-o no ouvido, sem olhar
para o identificador de chamadas. Seu rosto se iluminou ao som da
voz do outro lado da chamada.

Eu sabia com quem ela estava falando imediatamente.

Ty super engraçado Jacobs.

Eu peguei o telefone da mao de Lily, ignorando o jeito que ela


fez uma careta para mim.

— Kyle Andrew Tucker! — Ela exaltou, soando exatamente


como a mae. — Isso nao foi legal!

Eu nao sabia se era legal ou nao. Ty pode ter sido um dos meus
melhores amigos, mas ele tambem era maluco. O idiota tinha uma
namorada diferente a cada duas semanas, e todos na escola sabiam
que ele havia beijado a maioria delas debaixo das arquibancadas de
futebol.

Era repugnante.

Eu fiz uma careta, pressionando o telefone no meu ouvido.

— O que voce quer, Jacobs?

— Como voce sabia que era eu?

Pelo olhar bobo no rosto da minha irmã, pensei.

— Identificador de chamadas, idiota. — eu menti.

— Oh. — ele respondeu rindo. — Voce esta saindo com Hendrix


hoje?
Eu nao senti falta do desgosto na voz de Ty quando ele falou o
nome de Hendrix. Aqueles dois se odiavam. Sempre fizeram.
Provavelmente sempre fariam. E era tudo por causa de Maddie. Ty a
queria, mas Hendrix a tinha.

Ambos eram idiotas.

— Nao, ele esta com Maddie. — Ty rosnou, e eu quase ri. — Por


que? Voce quer fazer alguma coisa?

— Sim. — ele respondeu, sua irritaçao clara. — Encontre-me no


First Baptist Park em dez minutos para um jogo de um contra
um. Traga sua bola.

Meu olhar encontrou o de Lily.

Uma expressao esperançosa deslizou por seu rosto.

— Tudo bem, mas eu estou levando Teacup comigo.

Onde quer que eu fosse, sempre levava a Lily comigo. Eu nunca


fui capaz de deixa-la para tras se eu nao precisasse. Ty e Hendrix
sabiam disso. Nao se importavam que ela estivesse sempre por
perto tambem. Ambos gostavam dela e, em troca, ela gostava deles.

Embora ela gostasse de Ty um pouco demais, muito se voce me


perguntasse.

— Tudo bem por mim, cara. — Respondeu Ty. — Estou saindo


agora. Vejo voce em alguns minutos.

— Ate mais.

Eu desliguei o telefone, jogando-o no sofa.


— Voce quer ir para o parque...

Nao esperando que eu termine, Lily se virou e correu para o


foyer. Uma vez la, ela abriu a porta da frente e correu para a varanda
da frente coberta em busca de nossos pais. Ambos estavam
ocupados trabalhando no precioso jardim de rosas de mamae.

E o que eles faziam todo final de semana.

— Mamae! — Ela gritou. — Kyle e eu estamos indo para o


parque!

Sabendo que meu pai gostaria de falar comigo, mais como uma
palestra, antes de sairmos, peguei minha bola de basquete do fundo
das escadas e me dirigi para fora.

Meus pais ja estavam subindo os degraus quando eu cheguei na


varanda.

Papai virou-se para mim enquanto mamae parou ao lado de Lily


e puxou-a para o lado dela, apertando-a com força.

— Hey, amorzinho, — disse ela, balançando suavemente Lily


lado a lado. — Voce se comportou com seu irmao enquanto papai e
eu estavamos trabalhando aqui?

— Sim, mamae. — Respondeu Lily, sorrindo. — Kyle assistiu


Nemo comigo.

Papai riu e balançou a cabeça antes de encontrar meus


olhos. Erguendo o queixo, ele limpou as maos cobertas de terra em
um pano gasto que mamae lhe entregou.

— Para qual parque voces dois estao indo?


— First Baptist Park.

— Quem vai estar la?

— Apenas Ty. Ele quer jogar bola.

Papai assentiu e olhou de mim para Lily, depois de volta para


mim novamente.

— Tudo bem, voces dois conhecem as regras. Nao fale com


estranhos e voce chega em casa no minuto que as luzes da rua
começam a piscar. Nem um segundo depois. Compreendeu?

Lily assentiu enquanto eu respondi.

— Sim, pai, nos entendemos.

Descruzando os braços, papai colocou uma mao pesada no meu


ombro.

— Voce e responsavel por sua irma, amigo. — ele disse, seu tom
serio. — Estou confiando em voce com sua segurança.

Eu endireitei meus ombros.

— Eu tenho Teacup. Nada vai acontecer com ela enquanto ela


estiver comigo. — eu disse corajosamente. — Eu te dou minha
palavra.

Os olhos de papai ficaram trancados com os meus.

— A palavra de um homem e seu vínculo, Kyle. Voce lembra


disso.

Eu nao tinha certeza do que isso significava.


Nao me incomodei em perguntar.

— Eu vou.

Pronto para sair, estendi meu braço e estendi minha mao para
Lily tomar.

Soltando os braços da cintura de mamae, ela pulou para a frente


e colocou a mao na minha.

— Voltaremos mais tarde.

Juntos, descemos os degraus da varanda.

No fundo, Lily olhou por cima do ombro e mandou um beijo


para nossos pais.

— Tchau, mamae! — Ela gritou. — Tchau, papai!

— Amo voces dois. — Mamae respondeu, acenando. — Voces


se divirtam.

— Luz da rua, Kyle. — Papai gritou em seguida. – Nem um


segundo a mais.

— Nos voltaremos a tempo! — Eu disse de volta. — Prometo!

Foi uma promessa que nao foi cumprida.

Duas horas depois

Eu estava no centro da quadra de basquete.

Minhas costas estavam de frente para o aro, junto com o sol


poente. Ty ficou na minha frente, sua mao direita driblando a
bola. Por cima do ombro, a cerca de cinquenta metros de distancia,
Lily sentou-se em um balanço, suas pernas batendo enquanto ela
navegava pelo ar. O laço vermelho em seu cabelo vibrou quando ela
se inclinou para tras, fazendo-se voar mais alto.

Ty olhou por cima do ombro, e Lily olhou em nossa direçao.

— Hey, Ty! — Ela gritou, acenando descontroladamente com


uma mao.

Sorrindo, Ty acenou de volta.

— Ei, Teacup!

Irritado, dei um passo a frente, roubando a bola do aperto


desavisado de Ty. Sua cabeça girou ao redor.

— Nao seja tao idiota, Tucker. — Ele retrucou, olhando para


mim.

Eu olhei de volta.

— Nao fale com Teacup, verme. Ninguem a chama assim, so


papai e eu.

Ty abriu a boca para dizer algo, mas fechou quando Lily gritou
novamente.

— Kyle!

Eu puxei meus olhos estreitados dos dele e me concentrei nela.

— Venha brincar comigo!

— Eu vou estar aí em um minuto! — Eu driblava a bola uma vez,


duas vezes. — Mas primeiro eu tenho que bater Jacobs para baixo
um gancho ou dois. — Eu sorri. — Seu ego esta ficando muito
grande.

Lily pulou do balanço e encolheu os ombros.

Entao ela correu para o escorregador.

As bochechas de Ty ficaram vermelhas de raiva.

— De jeito nenhum voce esta me batendo, Tucker. Eu vou


limpar...

Eu quebrei o arco, passando a bola da minha mao direita para a


esquerda.

So precisando de mais uma chance para vencer, eu fui para uma


cesta reversa, jogando a bola para fora da mesa. A rede sacudiu
quando a bola caiu de volta ao campo de asfalto.

Eu peguei e virei, um sorriso arrogante no meu rosto.

— Esse e o jogo, chupe...

Ty plantou as palmas das maos no meu peito e me empurrou


para tras. Duro. Eu tropecei, mas me segurei antes de cair no chao.

Meu temperamento explodiu.

— Qual e o seu problema, Ty? — Eu gritei, empurrando-o de


volta tao forte quanto pude.

Minha mao livre em punho.

— Voce trapaceou, esse e o meu problema. — A mandíbula de


Ty se apertou. — Voce roubou a bola estupida quando eu nao estava
prestando atençao. Eu quero uma revanche. Aqui e agora.

O sol mergulhou abaixo do horizonte.

As luzes da rua ao redor do parque piscaram.

É hora de ir, pensei.

— Eu nao posso. — Eu rosnei, enfiando a bola debaixo do meu


braço. — Eu tenho que levar Lily para casa.

Ty parecia que ele queria me punir.

Felizmente para ele, ele nao fez.

Em vez disso, ele se virou e saiu em direçao ao parquinho onde


Lily brincava.

Eu segui, meus dentes de tras cerrados de frustraçao.

Nos so demos alguns passos quando Ty parou de repente, suas


costas estalando.

Confuso, eu parei ao lado dele.

— Qual o problema com voce? Voce ve um fantasma ou algo


assim? — Eu provoquei, minha raiva se dissipando. — Nao,
espere. Eu sei o que e isso. Voce esta com medo do escuro, nao
e? Voce precisa de mim para leva-lo para casa, Jacobs? Se sim,
apenas diga a palavra. Eu nem vou contar a Hendrix. Eu juro.

Era mentira.

Dizer Hendrix era a primeira coisa que eu faria.


Ty apontou para o parquinho. Seu rosto empalideceu.

— Quem e aquele cara?

— Que cara? — Perguntei, seguindo a trajetoria de seu dedo.

— Aquele falando com a Lily.

Meus olhos encontraram Lily, junto com o homem com quem ela
estava falando.

Eles estavam na calçada, posicionados diretamente ao lado de


uma caminhonete cinza, estacionada ao lado do meio-fio. O homem,
um cara grande que eu nao reconheci, estava agachado, e sua
atençao estava focada em minha irmazinha. Lily estava a poucos
centímetros de distancia dele, com a cabeça inclinada para o lado,
um sorriso doce no rosto.

Sinos de alarme soaram na minha cabeça, e meu instinto disse


que o homem nao era bom, que Lily nao estava segura. Chame isso
de instinto, intuiçao, seja o que for, mas senti essas verdades nas
profundezas da minha alma.

A bola de basquete escorregou do meu aperto enquanto eu


corria para frente.

— Lily! — Eu gritei, desejando que minhas pernas bombeassem


mais forte, para impulsionar meu corpo para frente mais rapido.

Ty correu ao meu lado, seus passos freneticos combinando com


os meus.

O homem olhou em nossa direçao.


Ao ver Ty e eu, suas feiçoes endureceram e seus olhos se
estreitaram. Ele se levantou, erguendo-se sobre Lily e abriu a porta
do caminhao com a mao direita.

O corpo de Lily enrijeceu.

Um olhar de medo cruzou seu rosto.

Como eu, ela sabia que algo estava errado.

Mas era tarde demais.

— Lily!

O homem envolveu a mao no pequeno braço de Lily e


empurrou-a para o lado. Em um movimento rapido, ele a levantou
da calçada e a jogou na cabine do caminhao. Ela gritou em uma
mistura de medo e dor.

Um rugido de furia arrancou da minha garganta.

O homem pulou no caminhao ao lado dela, batendo a porta.

Eu os alcancei em segundos.

Quando meus pes bateram na calçada, eu fui para o caminhao.

Meu corpo entrou na porta do motorista, quase derrubando o


ar dos meus pulmoes.

Segurei a maçaneta da porta enferrujada e arranquei com toda


a força que meu corpo de doze anos possuía, tentando o meu melhor
para quebrar a porta. A fechadura estava engatada, a porta selada,
mas eu poderia arrancar das dobradiças, se necessario.
Eu tinha que salvar minha irmazinha.

Atras de mim, Ty gritou por socorro.

O caminhao sacudiu quando o homem mudou de posiçao.

Meu coraçao batia mais rapido, despejando baldes de


adrenalina em minhas veias.

Sabendo que quebrar a porta era impossível, eu bati


minhas maos fechadas contra a janela de vidro com toda minha
força.

— Deixe minha irma ir! — Eu chorei. — Deixe-a ir seu bastardo!

— Kyle! — Lily gritou do chao onde o homem a tinha presa.

Sua mao estava em sua cabeça, seus dedos entrelaçados em


seus cabelos. Ela agarrou seus pulsos com as unhas e chutou-o com
os pes cobertos de sandalias, mas nao foi o suficiente. O homem
parecia grande a distancia, mas de perto ele era enorme, seus
musculos gigantescos. Nao havia como Lily conseguir se afastar
dele.

Nao sem eu ajudar.

— Kyle, por favor! — Seus gritos ficaram mais freneticos. —


Ajude-me!

Eu bati a janela com mais força, rezando para que ela se


quebrasse.

— Lily!

Minhas oraçoes ficaram sem resposta.


Ty fez uma pausa para a porta do passageiro, mas ele chegou
tarde demais. Antes de chegar ao outro lado do veículo, ele avançou,
afastando-se do meio-fio.

— Espere! — Ele gritou. — Lily!

Determinado a nao os deixar ir embora, eu me lancei para a


parte de tras do caminhao, com a intençao de saltar para dentro.

Onde quer que ela vá, eu vou.

Eu perdi a parte de tras por centímetros.

Os pneus do caminhao guincharam quando o homem acelerou,


deixando um rastro de borracha queimada e fumaça em seu
caminho. Correndo mais rapido do que eu ja tinha antes, eu corri
atras dele, meus tenis desgastados batendo no asfalto a cada passo
que eu dava.

Mais uma vez, Ty caiu ao meu lado.

Como eu, ele foi rapido.

Mas nenhum de nos foi rapido o suficiente.

— Lily! — Eu berrei quando o caminhao rugiu atraves de um


pequeno cruzamento. — Teacup!

O caminhao virou, desaparecendo na esquina.

Meu tornozelo rolou e quebrou quando entrei em um pequeno


buraco. Eu caí para frente, acertando o asfalto escaldante da
Georgia. O asfalto mordeu minha pele, arrancando-a do meu corpo.

Eu me levantei e manquei para frente.


Mas eu cheguei tarde demais.

Minha Teacup foi embora.

E parte de mim sabia que ela nunca voltaria.

O silencio era sufocante.

Sozinho no meu quarto, sentei-me na beira da minha cama, um


gesso temporario cobrindo meu pe e minha perna. Meu tornozelo
estava fraturado, mas nao senti dor.

A unica dor que senti irradiava do meu peito.

Fazia nove horas desde que Lily foi levada.

Nove horas desde que eu falhei com ela.

Nove horas desde que eu quebrei minha promessa de sempre


cuidar dela... de sempre protege-la.

A polícia local, junto com o FBI despachado de Atlanta, nao


tinham pistas. Eles entrevistaram Ty e eu varias vezes, mas nenhum
de nos tinha muito a oferecer. Nos nao sabíamos o numero da placa
do veículo que levara Lily, e nenhum de nos se lembrava muito do
homem que a pegou alem do seu tamanho e cor de cabelo.

Eu nao lembrava o que ele estava vestindo.

Nem me lembro se ele tinha tatuagens ou piercings.

Mas o que eu lembrei era o vazio em seus olhos, a dureza em


sua expressao, e a frieza que se enraizou no centro do meu peito no
momento em que seu olhar encontrou o meu.

No momento em que o vi pela primeira vez, soube que ele era


um monstro.

Eu estava certo.

E ele tinha levado a pessoa mais importante da minha vida.

O que ele estava fazendo com ela, ou para ela, eu nao tinha ideia.

Parte de mim tambem nao queria pensar nisso, mas parte de


mim precisava saber. Eu precisava sentir o que ela sentia, precisava
experimentar o que ela estava passando. Se ela se machucasse, eu
precisava me machucar, e se ela ia morrer, eu queria morrer junto
com ela.

Teacup nao era apenas minha irmazinha.

Ela era meu tudo.

TOC, Toc, toc.

Tres batidas suaves soaram na porta do meu quarto. Um


homem, que eu nunca tinha visto antes, abriu um segundo
depois. Vestido com calças pretas, uma camisa branca de botoes e
uma jaqueta azul e amarela, ele lembrava tanto um agente do FBI
que eu sabia que ele era.

— Kyle. — disse ele, balançando a cabeça em saudaçao. — Se


importa se eu entrar?

Incapaz de falar, balancei a cabeça.

O agente entrou no meu quarto, fechando a porta suavemente


atras dele. Agarrando a cadeira da minha mesa, ele girou e se sentou
na minha frente.

— Eu sou o Agente Especial Haskins. — disse ele, sua voz


calma. — Eu queria verificar voce. Ver como voce esta.

Eu permaneci mudo.

— Eu sei que isso nao e facil. — continuou ele. — Mas eu


garanto a voce que estamos fazendo tudo o que podemos para trazer
Lily para casa. — Cerrei meus olhos com o som do nome dela. Meu
peito se apertou ainda mais. — Certo, amigo, vou voltar para a sala
para falar com seus pais. Voce precisa de mim para conseguir
alguma coisa antes de eu ir?

Mais silencio.

— Voce vai passar por isso, Kyle.

Minha cabeça se levantou.

— Nao, eu nao vou. — eu sussurrei. — Nao se ela nao voltar.

O agente Haskins assentiu em compreensao.

— Meus agentes estao trabalhando contra o relogio...

Suas palavras morreram em sua língua quando um grito de


gelar o sangue repentinamente rasgou a casa. Com os olhos
arregalados, ele se levantou e foi para a porta do meu
quarto. Abrindo a porta, ele olhou para mim por cima do ombro e
acenou em direçao a cama onde eu ainda estava sentado, meu peito
subindo e descendo em rapida sucessao.
— Fique aí.

Uma bola de pavor se instalou na boca do meu estomago como


um peso de chumbo quando ele se mudou para a sala onde meus
pais, juntamente com um punhado de oficiais locais e agentes do FBI
estavam.

Tremores me sacudiram.

Precisando saber o que estava acontecendo, peguei as muletas


que o hospital tinha me dado horas antes e me levantei na minha
perna boa.

Meu corpo inteiro tremeu quando eu me movi para a minha


porta.

Coraçao na minha garganta, eu olhei para a sala de estar.

O que vi fez meu estomago cair no chao.

Minha mae estava curvada na cintura, as maos cerradas em


punhos apertados. Uma enorme quantidade de lagrimas escorreu
pelo seu rosto manchado. Ela soltou um suspiro de desmaio.

Papai estava atras dela, seus braços musculosos envolvendo seu


torso, segurando-a com força.

Lagrimas proprias caíram silenciosamente pelo rosto.

Na frente deles estava uma agente do FBI. Na mao dela, ela


segurava um saco plastico transparente com uma fita
laranja presa no alto. Dentro havia algo vermelho que nao reconheci
imediatamente.
Eu estreitei meus olhos e dei uma olhada mais firme.

Meu corpo balançou quando a percepçao bateu em mim.

O item vermelho era o arco de Lily.

O mesmo que ela tinha usado nos cabelos dela no parque.

Antes que eu pudesse processar por que a senhora do FBI a


tinha, minha mae desmoronou. Ela e papai caíram de joelhos. Entao
ela gritou novamente, desta vez mais alto.

— Mamae! — Eu gritei, incapaz de me conter.

O agente Haskins se virou ao som da minha voz.

Nossos olhos se encontraram.

Foi nesse momento que eu soube…

Lily nao voltaria.

Agonia entrou em erupçao no meu peito.

Eu tropecei para tras, largando minhas muletas. Incapaz de me


segurar, e indiferente se eu abrisse meu cranio, caí. Minhas costas
bateram no chao, sacudindo minhas entranhas. A dor dentro do meu
peito se intensificou; eu pensei que estava morrendo.

Eu me virei para o meu lado, puxando meus joelhos para a


minha barriga. Minha capacidade de respirar desapareceu. Por mais
que tentasse, nao conseguia respirar com a menor força. A frieza se
instalou profundamente em meus ossos quando a sensaçao de
perda me dominou, fazendo meu corpo tremer.
Eu gritei o mais alto e forte que pude.

O som que escapou da minha garganta soou como um animal


ferido.

De certa forma, e exatamente isso que eu era.

Lagrimas, as primeiras que eu chorei em anos, escaparam dos


meus olhos.

Na sala de estar, os gritos agonizantes de minha mae


continuaram.

Um soluço soltou-se do meu peito em resposta.

Maos fortes de repente agarraram meus braços.

— Kyle, amigo, preciso que voce respire para mim. — disse o


agente Haskins, forçando-me a sentar. — Apenas respire.

Eu balancei a cabeça descontroladamente.

Lily tinha ido embora e ela nunca mais voltaria.

Sem ela, eu nunca tomaria outro folego.


CAPÍTULO 1
Kyle
Quatorze anos depois

Mantenha suas coisas juntas...

Mais do que o inferno, entrei na estaçao 24, o mesmo quartel ao


qual fui designado no ano passado, com as maos entrecortadas em
punhos apertados. Eu tirei o meu equipamento de turno enquanto
eu fui jogando cada peça do outro lado da sala, nao dando a mínima
onde tudo pousou. Concentrado em manter a raiva que lubrificava
na boca do meu intestino, eu nao tinha tempo nem a inclinaçao para
seguir o protocolo e guarda-lo.

Cap me mataria mais tarde por agir como um idiota, mas eu nao
me importei. Ele poderia me colocar no serviço de arrumaçao... me
suspender, fazer qualquer coisa. Naquele momento, a unica coisa
que importava era me afastar de todos e de tudo antes que eu
perdesse a cabeça e atirasse minha raiva em alguem que nao
merecia isso.

Eu bloqueei todo o som enquanto eu entrava nos chuveiros,


parando apenas por um segundo para tirar minhas botas e
meias. Primeiro um pe e depois o outro. Eu arranquei minhas calças
e cuecas, seguido pela minha camiseta. Eu deixei tudo no chao antes
de ir em direçao a baia, indiferente se um dos caras entrasse e visse
minha bunda antes de eu chegar la.
Dentro do box, eu estava sob o chuveiro, minhas costas de
frente para a parede enquanto a agua fria derramava sobre mim,
encharcando minha pele superaquecida. A temperatura gelada fez
pouco para acalmar o inferno alimentado pela raiva que rugia
dentro de mim. De olhos fechados, tentei conter a vontade de socar
alguma coisa.

Tentei e falhei.

Imagens da cena que acabei de deixar brilharam em minha


mente, cada uma pior que a anterior.

Uma mae desesperada e gritando.

Um pai irritado e de coraçao frio.

Um corpo minusculo e sem vida.

Remorso subiu no meu peito, superando a raiva que ameaçava


me rasgar nas costuras. Eu tentei salvar a criança, eu juro que tentei,
mas o corpo dela estava muito quebrado, a cabeça dela muito
danificada. Cercada por uma poça de seu proprio sangue, suas
respiraçoes cessaram, seu coraçao parou de bater. Quando a
caminhonete chegou, seguida pela EMS, ja era tarde demais.

Um olhar para seus olhos sem vida e eu sabia que nao havia
esperança.

Ainda assim, lutei por ela.

CPR. Primeiros socorros. Um IV inutil.

Meus esforços foram em vao.


Nada do que fiz salvaria ela.

Ela estava morta.

A lembrança da ambulancia se afastando, as luzes e sirenes


escuras e silenciosas, foi o suficiente para me levar ao meu ponto de
ruptura. O aperto minusculo que eu tinha em minhas emoçoes
quebrou, meu controle estalou, e meu peito se abriu, libertando cada
grama de furia que viveu no fundo da minha alma por anos.

Eu me virei, de frente para a parede de azulejos do chuveiro.

Um grito enfurecido saiu da minha garganta quando eu bati


minha mao fechada na ceramica. O osso rangeu, meus dedos se
romperam, raios de dor subiam pelo meu braço, e o azulejo azul
encardido rachado sob o impacto do golpe. Decadas de idade de
poeira de argamassa flutuaram no ar antes de serem levados pela
agua gelada que ainda caía sobre mim.

— Droga! — Eu gritei, jogando um segundo soco, muito mais


duro.

Mais dor.

Outro azulejo rachado.

Do lado de fora do banheiro, os pes de botas batiam contra o


chao do corredor de vinil. Segundos se passaram antes que alguem
pisasse pela porta aberta e parasse do outro lado da sala.

Eu nao me incomodei em levantar o meu olhar e ver quem era.

Eu ja sabia.
— Voce ja acabou? — Uma voz irritada latiu. — Ou voce precisa
jogar mais alguns socos e danificar minha estaçao um pouco mais?

Virei a cabeça e olhei para James 'Pop' Cole, ou Cap, como eu o


chamava, com os olhos apertados. O homem era meu capitao, meu
chefe e o pai de Hendrix. Eu o conheci toda a minha vida e, tendo-o
conhecido toda a minha vida, eu poderia dizer pela expressao em
seu rosto que ele estava prestes a me arrancar um ovo.

Nao importa embora.

Eu acolheria sua raiva.

Cristo sabe que eu nao merecia nada menos.

Quando nao respondi, ele cruzou os braços sobre o peito e


ampliou sua postura.

— Voce vai me responder? — Sua mandíbula assinalou meu


silencio contínuo. — Eu sei que voce pode falar, Tucker. — disse ele.
— Ouvi dizer que voce fez isso muitas vezes antes.

Eu exalei tao duramente que minhas narinas se dilataram.

Com o peito arfando com a força da minha respiraçao irregular,


agarrei a divisoria do chuveiro azul-marinho com a altura da cintura
e deixei cair meu olhar no chao escorregadio enquanto meu coraçao
batia contra as minhas costelas.

Eu respirei fundo, lutando para recuperar o controle.

Era uma batalha perdida.

— Eu deveria ter matado aquele filho da puta! — Eu gritei,


espetando meus dedos pelo meu cabelo molhado. — Eu deveria ter
arrancado o coraçao ainda batendo daquele filho da puta do
peito pelo que ele fez com ela! Ela era filha dele, Cap! Ele deveria
ama-la e protege-la! Mas esse filho da puta a matou!

Assim como você matou Lily, uma voz na minha cabeça


sussurrou.

Meu proprio passado veio correndo sem aviso previo.

Imagens mentais de outra garota, que eu amei uma vez mais do


que qualquer coisa no mundo, brilhou diante dos meus
olhos. Meu coraçao se partiu quando memoria apos memoria me
bombardeou, causando uma dor indescritível deslizando pelas
minhas veias, roubando meu folego.

Eu recuei e tentei respirar fundo.

Cada centímetro de raiva que eu sentia pelo homem que havia


espancado sua filha ate a morte horas antes desapareceu e, em seu
lugar, deslizou meu velho amigo... auto-odio.

O mesmo auto-odio que eu estava destinado a carregar como


um peso de um quilo e meio ate o dia em que desse meu ultimo
suspiro.

— Assim como eu deveria ter protegido Lily. — Minha voz


falhou quando falei o nome dela em voz alta. Era algo que eu nao
fazia muitas vezes porque era angustiante dizer e ouvir.

As características do Cap suavizaram-se.

— Kyle...
Eu deixei cair a cabeça para tras.

A vergonha passou por mim.

— Diga-me que voce nao quer dizer isso. – A bota de


Cap guinchou quando ele deu um passo solitario para frente. – Filho.
— ele disse em descrença. — A morte da Lily, por mais tragica que
seja, nao esta em voce.

E aí que ele estava errado.

Tao errado.

— Nah, Cap. — Eu endireitei minha cabeça e olhei para a parede


distante enquanto ondas de culpa colidiam em mim como um
tsunami. — Foi minha culpa. Tudo isso. O que aconteceu no dia em
que ela morreu, o que aconteceu nos anos que se seguiram, esta tudo
em mim. — Levantando minha mao fechada, bati meu peito com o
meu punho sangrando duas vezes, enfatizando cada palavra que se
seguiu. – So minha.

Uma faca invisível se torceu no meu intestino.

A lembrança, a culpa, a dor de perder a pessoa mais importante


da minha vida era insuportavel.

Incapaz de ficar ali por mais tempo, desliguei a agua caindo


sobre mim sem me ensaboar. O fedor da morte ainda se agarrava a
minha carne como uma segunda pele. Era um cheiro que eu duvidei
que eu estaria livre. Nao depois de tudo que vi, depois de tudo que
fiz.

Rasguei uma toalha do cabide ao lado do chuveiro, envolvi-a em


volta da minha cintura e saí do banheiro. Eu nao poderia ficar mais
um segundo. Eu precisava escapar da dor sufocante que me
consumia e do arrependimento interminavel que estava prestes a
me deixar de joelhos.

Eu quase consegui chegar ate a porta quando Cap estendeu a


mao e puxou sua mao para baixo no meu ombro, me impedindo de
andar. Seu aperto era forte. Implacavel.

— Kyle... — disse ele, — ...olhe para mim. — Seu olhar firme


encontrou o meu sentimento de culpa. — O que aconteceu com
aquela garotinha hoje nao e sua culpa. E o que aconteceu com Lily
com certeza tambem nao e sua culpa.

Ele poderia repetir essas palavras durante todo o dia.

Isso nao mudaria nada.

— Voce tem que parar de carregar toda essa culpa ao redor,


culpa que nao pertence aos seus ombros. — Isso pertencia
diretamente aos meus ombros. Eu merecia viver com a dor e
o cansaço do que fiz pelo resto da minha vida. Cap pode nao
acreditar nisso, mas eu merecia. E o que eu acreditava era a unica
coisa que importava. — Em algum momento, voce vai ter que aceitar
que o que aconteceu com sua irma nao e sua culpa. Se voce nao
fizer isso, vai comer voce ate que nao haja mais nada para tomar. —
Ele fez uma pausa. — Confie em mim, garoto, eu sei.

Eu engoli em torno do pedregulho alojado na base da minha


garganta.

— Voce pode estar certo sobre a garotinha hoje, mas voce esta
errado sobre a Lily. — Minha voz estava baixa, firme. — Ela morreu
porque eu estraguei tudo, e nada que voce, Hendrix, Ty, ou qualquer
outra pessoa diga, vai mudar esse fato. — Ele abriu a boca para falar,
mas eu continuei falando, nao dando a ele a chance de falar. — Eu
disse a ela que iria protege-la, que sempre estaria la...

Culpa em volta da minha garganta como uma jiboia. Entao


apertou. Duro. Minha capacidade de respirar se dissipou quando a
dor no meu coraçao se intensificou.

— …Eu menti.

As palavras verdadeiras queimavam como acido na minha


língua.

— Kyle...

Eu arranquei meu ombro livre de seu aperto.

— Guarde isso. — eu estalei, minha voz dura. — Eu sei a


verdade. Isso e tudo que importa.

Eu fui embora sem olhar para tras.

Meu turno terminou uma hora depois.

Mais do que pronto para sair, fui para a porta da frente da


estaçao, minha mochila em uma das maos e as chaves da
caminhonete na outra. Eu so dei dois passos para fora da porta
quando Cap entrou na minha frente, bloqueando o caminho para o
meu caminhao.

Ele estava esperando por mim.


Isso era obvio.

Minha pele se arrepiou de irritaçao.

— O que voce precisa, Cap?

— Voce esta indo para a minha casa para a noite de poquer? —


Ele perguntou, levantando o queixo.

Eu empurrei meu queixo para baixo uma vez em afirmaçao.

— Sim.

Seus olhos avaliadores estudaram meu rosto.

— Voce esta pensando em ficar la?

Eu permaneci mudo.

Cap, no entanto, nao o fez.

Deslizando as maos nos bolsos, ele endireitou os ombros,


mantendo os olhos fixos nos meus.

— Eu nao quero voce sozinho esta noite. Nao depois do seu


pequeno episodio anterior.

Por um momento, apenas um breve momento, fiquei


confuso. Entao a compreensao me ocorreu, e minha irritaçao se
transformou em raiva.

— Voce nao pode estar falando serio. — Uma risada sem humor
derramou dos meus labios. — Voce esta preocupado que eu vou sair
de mim ou algo assim?

Seu silencio foi a unica resposta que eu precisava.


— Voce tem que estar me gozando. — eu continuei, meu tom
atado com desgosto. — Pelo amor de Deus, Cap, eu sei que estou
confuso, mas eu nao estou assim tao confuso.

Era mentira.

Uma grande mentira.

Eu pensei em comer uma bala antes.

Mais de uma vez.

A unica razao que eu nao fiz era por causa da minha mae.

Eu posso nao ter razao para continuar respirando, mas ela ja


perdeu o suficiente. Ela nao precisava perder seu unico filho
tambem. Mesmo que o dito filho fosse um merda sem valor que lhe
causara mais dor do que felicidade.

Cap, cara inteligente que ele e, nao estava convencido.

— Cara, vamos la... — eu balancei a cabeça em exasperaçao —


...voce me conhece melhor do que isso.

Outra mentira.

Ele nao me conhecia.

Na verdade, nao.

— Va para minha casa. — disse ele, puxando-me para fora dos


meus pensamentos sombrios. — Encontre-se com Hendrix, jogue
poquer com o resto dos caras, divirta-se. — Ele deu um pequeno
passo a frente, fechando o espaço entre nos. — Mas voce fica,
inferno. Eu quero dizer isso, Kyle. Voce não saia da minha casa. Nao
ate eu chegar la.

Ridículo.

Isso e o que isto era.

A mao segurando minhas chaves em punho.

Eu me movi para contornar o grande bastardo entre a liberdade


e eu, mas fui interrompido quando ele agarrou meu ombro. Foi a
segunda vez que ele fez isso, e eu estava pronto para quebrar cada
um dos seus dedos para que ele nao pudesse fazer isso de novo.

Minha tolerancia por sua besteira diminuiu.

— Voce e eu... — seus olhos entediados nos meus —


...precisamos conversar.

Tanto quanto eu estava preocupado, nao havia nada para


falar. Eu disse o que precisava dizer, e nao estava com vontade de
refazer nada disso.

— Eu ja disse tudo o que tinha a dizer. — afirmei com firmeza.

Os labios se diluíram em uma linha reta, ele balançou a cabeça


lentamente.

— Isso nao acabou.

Ele tinha acabado.

Feito.

Acabado.

Eu sem palavras dei um passo para tras, me libertando do


aperto de Cap. Eu pisei em torno dele e fui para o estacionamento
escuro. Eu fiz isso a meio caminho da minha caminhonete quando
ele chamou meu nome.

— Kyle!

Meus pes pararam de se mexer.

Eu olhei para o ceu estrelado da noite.

— Pelo amor de Deus. — eu murmurei. — Se este homem nao


me deixar sozinho, eu sou capaz de derruba-lo.

— Voce me ouve? Voce não sai.

Minha pele se arrepiou, meu sangue ferveu.

A autoridade que escorria da voz de Cap me lembrou meu pai.

Ele era a última pessoa que eu queria pensar.

Eu rosnei quando uma mistura de odio e repulsa subiu pela


minha espinha antes de se encaixar na base do meu
cranio. Fervendo, fui para a fileira de tras do lote escuro, ignorando
os gritos contínuos de Cap atras de mim. O que ele disse, eu nao
tenho a menor ideia. Eu estava muito chateado, muito irritado para
entender uma unica palavra.

Eu empurrei a porta da caminhonete aberta em um movimento


rapido e olhei de volta para Cap pela ultima vez. Ele parecia pronto
para me estrangular com as proprias maos.

— Voce precisa de ajuda, Kyle. – Ele disse em palavras


firmes. Resoluto — E eu vou me certificar de que voce consiga... —
ele pausou — ...de um jeito ou de outro.

Um sorriso sardonico cruzou meu rosto.

— Eu nao preciso de ajuda, Cap. — eu respondi, minha voz


firme. — O que eu preciso... — eu removi o bone que eu estava
usando e joguei no banco do caminhao — ...e um maldito milagre.

Eu subi na minha caminhonete e liguei a igniçao. Depois de


mudar de direçao, pisei no acelerador e saí do estacionamento, com
os pneus cantando. Eu precisava me afastar de Cap e das memorias
que me assombravam.

Infelizmente para mim, nao havia como escapar dos meus


demonios.

Nao importa o quao rapido eu dirigi, eu nunca poderia superar


minha dor.
CAPÍTULO 2
Carissa
Eu senti vontade de vomitar.

Sentada em uma pequena escrivaninha branca no meu quarto,


olhei fixamente para uma pilha nao muito pequena de notas
vencidas na minha frente, a maioria das quais tinha um aviso
final estampado na frente da pagina em letras vermelhas em
negrito. A tinta de cor escarlate se destacava, tornando as palavras
inconfundíveis.

Apenas a visao delas fez minha cabeça doer.

Com as maos tremulas, peguei dois extratos bancarios, um que


pertencia a mim, o outro ao meu pai, que ficavam ao lado das
notas. Os saldos em ambas as contas eram risíveis. Nenhuma delas
possuía saldos suficientes para cobrir as despesas mensais.

Nem mesmo perto.

— Merda. — eu sussurrei para a sala vazia, sentindo a dor


maçante em minhas temporas se intensificar. — So merda. — Meu
estomago rolou quando eu deixei cair as folhas de papel e coloquei
minhas palmas tremulas sobre a mesa. Eu estava tao
sobrecarregada que mal conseguia pensar direito.

Forçando-me a me acalmar, tomei uma respiraçao muito


necessaria.
— Eu posso resolver isso. — eu murmurei para mim mesma. —
Eu sempre faço.

Era a verdade.

Desde que mamae faleceu, eu estava no comando das finanças


da minha família. Papai, um caminhoneiro em transito quase nunca
mais estava em casa. Quando ele estava presente, o que nao era
frequente, a dor de perder a mae consumia-o, tornando impossível
que ele pensasse direito.

Ela tinha sido seu mundo inteiro.

Sem ela, ele estava a deriva.

Minha irma Heidi teria ajudado se eu tivesse pedido, mas nao


podia permitir isso. Embora ela fosse apenas onze meses mais
jovem do que eu, era inocente demais para lidar com questoes como
falta de dinheiro, contas de sugadores de almas e o estresse
interminavel que acompanhava nos dois.

Portanto, tudo caiu sobre meus ombros.

Na maioria das vezes eu estava bem com isso.

Mas as vezes o que restava da minha sanidade gritava para eu


deixar outra pessoa lidar com a bagunça financeira em que eu me
encontrava. Apenas mantendo minha cabeça acima da agua, e sem
ninguem para me dar um salva-vidas, eu temia que nao faltaria
muito antes de me afogar.

Um no se formou na minha garganta ao pensar nisso.

Afogar estava fora de questao.


Minha família contava comigo e decepciona-los nao era uma
opçao. Nunca foi, e certamente nunca seria. Enquanto eu tivesse
um unico folego no meu corpo de vinte anos, encontraria uma
maneira de nos manter a salvo.

Assim como eu prometi a mamae que faria.

Eu fechei meus olhos quando uma onda de dor fresca cortou


meu coraçao, abrindo velhas feridas.

Apenas quatro anos se passaram desde que Mama, a mulher


que eu amava mais do que qualquer outra pessoa no mundo inteiro,
estava deitada em uma cama de hospital, e toda a esperança de
sobrevivencia se foi. Perto do fim de uma batalha de tres anos com o
cancer de mama metastatico, seu corpo estava cheio de dor, seu
espírito exausto.

Apesar dessas coisas, ela se recusou a desistir.

Preocupada com o que seria do papai, da Heidi e de mim


quando ela se fosse, ela lutou contra o fato de se afastar, embora se
agarrar significasse uma dor agonizante.

Eu nao suportava ve-la assim.

Eu tinha apenas dezesseis anos, ainda criança, mas sei que


tinha que fazer alguma coisa.

Entao eu fiz.

Uma noite, depois de muita angustia no coraçao, fiz uma


escolha.

Qual escolha? Ajudar mamae a descansar.


Foi a coisa mais difícil que ja fiz.

Era uma tarde chuvosa de domingo quando entrei no quarto do


hospital e me sentei na beira da cama. Tomando sua mao fria e fraca
na minha, eu enlacei meus dedos com os dela e olhei diretamente
para seus olhos semicerrados.

Foi quando eu fiz o que eu tinha para fazer.

Determinada a ser a força que minha família precisava, prometi


a ela que cuidaria do papai e da Heidi quando ela estivesse fora. Com
lagrimas e um monte de choramingos, eu jurei para ela que depois
que ela chegasse ao ceu, eu colocaria seus sapatos e seria a mulher
que minha família precisava que eu fosse, nao importa o quao difícil
fosse ou o que a vida jogasse para nos.

Eu entao deitei na cama ao lado dela e me enrolei em seu lado


ossudo, ignorando o modo como suas costelas se projetavam de sua
pele palida. Mordendo meu labio inferior para nao gritar em
desespero, descansei minha cabeça em seu peito e escutei seu
coraçao enquanto lutava para bater. Quando eu nao mais pude
suportar o silencio que se estendia entre nos, eu estendi a mao e
gentilmente segurei sua bochecha afundada. Entao, eu sussurrei
mais garantias para ela.

Eu tenho isso, mamãe, eu disse a ela. Eu prometo.

Quando seus olhos cansados e cheios de lagrimas se fecharam


momentos depois, eu sabia que nao demoraria muito para ela ir.

Eu tinha razao.

Duas horas depois, com a cabeça ainda apoiada no peito, ouvi o


coraçao de Mama bater pela ultima vez.

Foi o dia mais doloroso da minha vida.

Lembrando as palavras que eu falei e a promessa que eu fiz


acendeu um fogo na minha barriga. Meus olhos se abriram, a
determinaçao rugiu para a vida dentro de mim, e a teimosia que eu
herdei de ambos os meus pais quebrou minha espinha.

Eu levantei meu queixo, ajeitando meus ombros.

Nao importava que eu estivesse me afogando sem ninguem


para me salvar. Eu encontraria meu proprio caminho para fora da
agua escura que ameaçava me engolir inteira. Minha família pode ter
sido ignorante para os problemas financeiros em que estavamos,
mas eles ainda estavam contando comigo para garantir que tudo
ficasse bem.

Era algo que eu lutaria como o inferno para fazer.

Como mamae, eu era durona. Forte.

Eu encontraria uma maneira de sair do buraco em que nos


encontramos.

Pegar turnos extras no abrigo das mulheres maltratadas, onde


Heidi e eu trabalhamos vinte horas por semana, era uma coisa que
eu poderia fazer para nos desenterrar. Encontrando mais casas para
limpar, outra coisa que ela e eu fazíamos em meio período enquanto
trabalhavamos em direçao aos nossos diplomas era outra. Ambas as
opçoes me deixariam com pouco tempo para fazer qualquer outra
coisa, exceto ir ao trabalho e aula, mas tudo bem.

Minha família vem primeiro.


Sempre.

Meu nariz de repente se contorceu quando o cheiro de alguma


coisa, é fumaça? Flutuou para o meu quarto. Eu me inclinei para tras
na minha cadeira e inalei profundamente, puxando o cheiro
profundamente em meus pulmoes.

Sim, definitivamente fumaça.

Em panico, eu empurrei para tras da minha mesa e pulei para


cima. Minha cadeira caiu para tras do movimento abrupto, mas eu
nao parei para pega-la antes de sair do meu quarto e pelo corredor.

— Heidi! — Eu gritei, descendo as escadas, pulando dois


degraus de cada vez. Meu coraçao disparou quando os alarmes de
fumaça imploraram para gritar, um apos o outro.

Eu tossi antes de cobrir minha boca e nariz com o braço.

— Heidi! — Eu gritei novamente sabendo muito bem que meus


gritos provavelmente seriam em vao.

O medo percorrendo minhas veias se acelerou.

Precisando encontra-la, corri para a sala de estar onde a vira


pela ultima vez tirando uma soneca. – Hei...

Seu nome morreu na minha língua quando nossos corpos


colidiram, quase derrubando nos duas. Enrolei um braço ao redor
de sua parte inferior das costas enquanto usava o outro para nos
apoiar contra a parede.

Foi um milagre que me impediu de cair.


O olhar de olhos arregalados de Heidi trancou brevemente no
meu antes de correr por cima do meu ombro em direçao a cozinha.

— Minha torta! — Ela gritou, saindo do meu aperto e correndo


no sentido oposto.

Eu me virei, seguindo os calcanhares dela.

Na cozinha, a fumaça saía do forno.

Felizmente, nada estava em chamas.

Heidi abriu a porta do forno, pegou as amadas luvas de forno de


mamae e tirou uma panela de prata enegrecida antes de coloca-la no
balcao. Sentindo como se eu fosse abrir um pulmao a cada segundo,
eu me virei, abri a janela acima da pia e liguei o ventilador acima do
fogao.

— O que diabos voce... — eu comecei.

A porta da frente se abriu.

— Garotas! — A voz de panico do papai ecoou pela casa.

— Estamos na cozinha! — Eu gritei de volta, esperando que ele


me ouvisse sobre os alarmes que continuavam a soar. — Nao se
preocupe, nada esta pegando fogo! Heidi acabou de queimar alguma
coisa!

Ele nao disse nada enquanto seus passos pesados batiam


contra o chao de madeira. Com o peito arfando, ele invadiu a
cozinha. Com sua estatura mais alta que a media, ombros largos,
olhos cor de mel, cabelos desgrenhados e rosto barbudo, ele parecia
um urso pardo e desgastado.
Eu sorri com a visao.

Papai estalou os dedos, chamando a atençao de Heidi para ele.

Seus olhos se fecharam em seus labios, prontos para ler as


palavras que ele estava prestes a dizer.

— O que no mundo voce queimou, Bug? — Seus olhos eram do


tamanho de pires. — Eu vi fumaça saindo pela porta de tela e pensei
que a maldita casa estava queimando. Eu corri todo o caminho do
celeiro. — Ele agarrou o peito. — Senhor, tenha misericordia, meu
coraçao parece que vai explodir.

Com o nariz amassado, Heidi olhou para o que eu assumi que


era uma vez uma torta, mas agora se assemelhava a um frisbee
queimado.

— Era uma torta para Maddie. — disse ela lentamente,


enunciando cada palavra com cuidado. — Mas eu nao acho que ela
vai querer comer isso.

Maddie era a chefe do abrigo onde trabalhavamos. Tambem era


ex-baba de Heidi e minha de infancia, eu a conhecia toda a minha
vida, e ela era uma das pessoas mais doces que eu ja conheci. Aos
oito meses de gravidez, ela tinha menos de um mes antes de sua data
de vencimento e data do casamento.

Naquela noite, Heidi e eu estavamos em sua festa de despedida


de solteira.

— Acredite, Hendrix come tudo a vista, mas duvido que ate ele
toque... — Heidi apontou para a torta — ...nessa coisa. — Ela soltou
um suspiro frustrado. — Acho que vou jogar fora.
Eu ri da idria de Hendrix, o noivo de Maddie, recusando
comida. Nao importava se estava queimado ou nao, ele ainda
comia. O homem era um poço sem fundo.

Papai cruzou os braços sobre o peito largo.

— Nao, voce nao vai jogar fora. — ele gritou. — A crosta pode
estar queimada, mas o interior ainda esta bom.

Abriu a gaveta ao lado dele, pegou um garfo e atravessou a


cozinha aberta. Segurando outro dos pegadores de panela de
mamae em uma mao, ele agarrou a lateral do prato de torta com
força e tediosamente raspou a crosta queimada. Quando a maior
parte foi removida, ele espetou o garfo em um pedaço de maça,
soprou para esfriar e colocou na boca.

Heidi e eu nos encolhemos.

-Vejam? O gosto esta muito bom. Nao ha razao para


desperdiçar boa comida. — Ele olhou para Heidi. — Voces sabem
melhor.

Balançando a cabeça, acenei para Heidi, chamando sua


atençao. Quando a cabeça dela virou na minha direçao, eu murmurei
e gesticulei as palavras.

— Quer me ajudar a me preparar para a festa de Maddie?

Ela sorriu e assentiu.

Ao encontrar meu braço, ofereci-lhe minha mao.

Ela pegou imediatamente.


Papai deu outra mordida no recheio e arqueou uma
sobrancelha.

— Onde voces estao indo?

Ele obviamente estava muito ocupado com a comida para


prestar atençao ao que estava sendo dito ou assinado em torno dele.

— Nos preparar para a festa de Maddie.

— Espere um minuto. — Disse ele. — Quem vai estar la?

Eu estava perto de revirar os olhos. Eu deveria saber que essa


pergunta estava chegando. Nao importava se eu tinha doze ou vinte
anos, papai ainda queria saber com quem eu ia estar o tempo todo.

— Vovo, Maddie, Hope, Shelby e Clara. — eu respondi.

As ultimas tres eram mais minhas colegas de trabalho e


amigas. Hope e Maddie se conheceram na faculdade, e Shelby se
mudou para a Georgia um ano antes. Todas nos conhecemos Clara
quando ela apareceu no abrigo, meio espancada ate a morte e em
busca de um refugio seguro para ela e seus filhos.

Ela chegou tao longe desde entao.

Eu estava tao orgulhosa dela.

Papai soltou um suspiro.

— E melhor que nao haja meninos la.

Eu quase, e quero dizer quase, dei uma risada.

Dizer que papai era superprotetor de Heidi e eu era um


eufemismo. Segundo ele, nao podíamos namorar ate os trinta
anos. Talvez ate quarenta.

O homem era mais maluco do que um bolo de frutas.

Incapaz de resistir a provoca-lo, dei de ombros.

— Nao se preocupe, papai, eu duvido que haja garotos la desde


que e uma festa de despedida de solteira. — Minha resposta o
apaziguou. Pelo menos ate eu continuar. Era imaturo como poderia
ser, mas eu nao pude resistir a cutucar o urso. — Porem, pode haver
alguns homens. Voce sabe, como strippers masculinos. E uma festa
de despedida depois de tudo.

O rosto do papai caiu.

— Eu vou ser amaldiçoado! — Ele gritou, jogando o garfo na pia,


onde bateu contra a tigela de aço inoxidavel. — Voce nao vai a
nenhuma festa com strippers masculinos!

Meus labios tremeram quando Heidi empurrou seu rosto para


o meu braço para nao rir.

— Papai... — eu disse calmamente, — ...se voce nao nos deixar


ir, entao vovo vai aparecer na nossa porta da frente. — Fiz uma
pausa. — E voce sabe disso.

Vovo era a avo de Maddie e, como Maddie, eu a conhecia toda a


minha vida. Antes da minha Nana morrer, elas eram melhores
amigas. Cheias de coragem e mais do que um esquilo em um buffet
que voce pode comer, vovo era uma das melhores mulheres que eu
ja conheci.

Heidi e eu a amamos ate a morte.


Papai tambem, mesmo que ele estivesse com medo dela e da
arma que carregava em sua bolsa. Uma arma que, segundo Nana,
vovo usou para atirar em seu falecido marido na coxa quando ela o
pegou correndo pela cidade com outra mulher.

Era uma historia que nao duvidei.

Nem um pouco.

— E melhor voce ir se vestir entao. — papai acrescentou


rapidamente. — Deus sabe que eu nao quero aquele morcego
teimoso batendo na minha porta.

Sorrindo de orelha a orelha, Heidi e eu saímos da cozinha,


deixando papai com sua torta.

— Boa velha vovo. — ele murmurou para si mesmo. — Agora


aquela mulher esta totalmente louca.

Eu ri todo o caminho ate as escadas.

Uma hora depois

Ja passava das seis quando papai estacionou o caminhao em


frente a casa de vovo, o lugar onde a festa de Maddie estava
acontecendo. Hendrix, junto com Evan, que trabalhava na segurança
do abrigo, estavam na calçada, com as maos nos bolsos.

Evan se aproximou, deixando Hendrix para tras e abriu minha


porta. Um raro sorriso inclinou seus labios para o ceu.

— Ainda bem que voces duas estao finalmente aqui. Vovo


estava prestes a enviar uma equipe de busca.

Eu peguei a mao de Heidi na minha, ajudando-a a sair do


caminhao.

— Alguém... — eu disse, olhando para o papai, — ...continuava


me fazendo trocar de roupa antes que ele me deixasse sair de casa.

Os olhos de papai se estreitaram.

— Cada saia que voce possui e de seis polegadas, muito curta. E


por isso que eu planejo começar uma fogueira e queimar cada uma
delas quando eu voltar para casa.

Heidi, que usava seus aparelhos auditivos, virou-se para


encarar papai falou e fez sinais.

— Nao se atreva. — Ela olhou para Evan, com um olhar nervoso


no rosto. Se estivessemos em casa, ela teria falado em vez de fazer
sinais, mas como temia que seu tom nao fosse traduzido
corretamente, ela fazia sinais na presença de pessoas com quem nao
se sentia completamente a vontade; como Evan e Hendrix. — Elas
nao eram pequenos.

Papai bufou e murmurouh

— As suas tambem.

Evan riu.

Puxando Heidi para fora do caminho, eu pisei na frente de Evan


e peguei a porta da caminhonete, preparada para fecha-la.

— Eu te ligo quando estivermos prontas para voltar para casa.


Papai se recostou no banco e cruzou os braços sobre o peito.

— Lembre-se do que eu disse, Carissa Ann. — Ele fez uma pausa


para dar enfase. — E melhor nao....

— Daryl!

Eu me virei ao som de vovo gritando o nome de papai.

Felizmente Evan tinha dado um passo para tras, entao eu nao


me plantei em seu peito.

Meus olhos encontraram a vovo imediatamente. De pe no fundo


dos degraus da varanda, suas maos em punhos descansando em
seus quadris, ela parecia louca como poderia ser.

— Ja e hora de voce vir aqui com minhas meninas, — ela disse,


batendo o pe coberto de chinelo no chao. — Eu estava prestes a
entrar no carro.

Papai fez um barulho sufocante.

— Doris. — disse ele balançando a cabeça em saudaçao. — Voce


nao contratou nenhum stripper masculino, nao e? Porque eu nao
quero minhas garotas em torno desse tipo de coisa.

As sobrancelhas da vovo subiram em sua testa.

Um olhar que gritava problemas se espalhou pelo rosto dela.

— Merda. — Evan murmurou. — Aqui ela vai.

— Claro que nao. — ela respondeu, acenando com a mao em um


gesto desdenhoso. — Eu pensei de todas nos nos empilharmos no
meu Cadillac e irmos para a Base Naval. Eles nao tem nenhum clube
de striptease la, mas eu imaginei que faríamos uma parada em um
dos quarteis. Aposto que podemos encontrar muitos problemas
para entrar com um bando de marinheiros bebados. — Ela piscou
na minha direçao. — Mas isso e depois de começarmos a tropeçar e
a dançar na mesa no Watering Hole, e claro.

Papai ia ter um derrame em 3, 2...

— E nao se incomode em esperar tambem — continuou


vovo. — Eu e as meninas temos um cronograma apertado para
manter. Sem duvida voltaremos antes que os primeiros barulhos do
galo venham de manha.

O rosto do pai ficou vermelho.

— Meninas. — ele rosnou. — Entrem no caminhao. Estamos


voltando para casa. Agora.

Meus olhos encontraram os de Heidi.

Um acordo nao dito saltou entre nos.

— Desculpe, papai. — eu disse. — Eu prefiro passar a noite com


marinheiros bebados.

Heidi desatou a rir quando eu agarrei sua mao e corri para ela,
arrastando-a para tras de mim.

Vovo sorriu com orgulho.

— Essas sao minhas garotas! — Ela gritou. — Agora, entre na


casa antes que aquela montanha de homem decida subir ate aqui e
arrastar seus traseiros. Eu odiaria ter que atirar nele.
Parando ao lado dela, olhei por cima do ombro em direçao
a rua. Tanto Hendrix quanto Evan estavam conversando com o
papai, tentando o seu melhor para acalma-lo.

Ele parecia apto para ser amarrado.

— Eu quero dizer, voces vao em frente e vao para dentro. —


disse vovo, seu sotaque sulista grosso. — Os meninos e eu vamos
lidar com ele. Eu nao me importo como o cara e, seu tamanho nao
me assusta.

Um leve sentimento de culpa surgiu dentro de mim.

— Eu provavelmente nao deveria ter dito isso. Mesmo se eu


estivesse brincando. — Mordi meu labio inferior. — Voce sabe o
quao superprotetor ele pode ser.

Vovo assentiu.

— Eu sei. Mas eu tambem sei que voce e Heidi tem vinte e


dezenove. E hora de ele dar um passo atras. Antes de muito tempo
voces terao namorados e...

Eu zombei.

Um namorado? Eu?

Nao e provavel.

Eu nao tenho tempo para esse absurdo.

Com uma graduaçao em trabalho social para ganhar, uma


família para cuidar e uma bagunça financeira para me desenterrar,
meninos, ou melhor, homens, eram a ultima coisa em minha mente.
Talvez eu mudasse de ideia em tres anos quando me formasse, mas
ate entao o namoro nao estava no meu radar.

De jeito nenhum. Nao tinha como.

— Eu nao tenho tempo para um namorado, vovo. — eu disse


confiante. — Nao no momento, de qualquer maneira.

Os olhos da vovo brilharam.

— Quando o momento certo aparecer, voce fara o tempo. Confie


em mim.

Abri a boca para argumentar, mas fechei quando a porta da


frente da vovo se abriu e Maddie saiu para a varanda. Ela sorriu e eu
juro que o mundo ao nosso redor ficou um pouco mais brilhante.

— Voces duas entrem aqui. — disse ela, acenando com a mao


para nos. — Clara, Hope e Shelby estao fazendo doses. Algo
chamado mamilo amanteigado, o que quer que seja. Eu nao posso
ter nenhum — ela apontou para a barriga inchada. — mas todas
podem.

Nem Heidi nem eu tínhamos idade suficiente para beber


legalmente. Mas Moonshine caseiro tambem nao era legal, e vovo
tinha o suficiente em seu porao para administrar um cabare.

Apertando suavemente a mao de Heidi , acenei para a porta.

— Vamos la.

Nos subimos os degraus, cruzamos a varanda e entramos na


casa.
De dentro ouvimos vovo gritar.

— Daryl, fique no caminhao! Quero dizer! Eu nao me importo


com o quao bonito voce e, e que essa sua barba seja sexy! Vou
descarregar uma rodada de chumbo na sua parte traseira deliciosa
se voce pisar na minha grama cortada!

Prendi a respiraçao e esperei para ver se papai viria atras de


nos.

Ele nao fez isso.

Seu caminhao rugiu para a vida, abafando a gargalhada de vovo.

Segundos depois, ele foi embora.

Deveria saber que ele recuaria.

A voz divertida de vovo flutuou para dentro da casa.

— Evan! — Ela gritou. — Se voce e Hendrix nao saírem do meu


gramado, vou coloca-los para trabalhar como entretenimento! Eu
tenho uma bolsa cheia de notas de dolar com seus nomes escritos
por toda parte!

— Pelo amor de Deus, vovo! — Evan gritou de volta, claramente


exasperado. – Que maneira de me fazer sentir barato!

Constrangimento misturado com diversao passou pelo rosto


bonito de Maddie.

— Bem. — ela disse, batendo a porta. — Agora que a vovo se


colocou louca para toda a vizinhança, eu diria que e hora de começar
a festa.
Juntas, nos dirigimos para a sala de estar.

Era o começo de uma noite que eu nunca esqueceria.


CAPÍTULO 3
Kyle
Cansado como o inferno, sentei-me numa cadeira de balanço
na varanda da frente do Cap.

De um lado meu, estava Hendrix. Do outro lado, Evan. Keith, o


pai de Maddie, jogava basquete no final da entrada de automoveis
sob a iluminaçao da rua com os dois filhos de Clara, Liam e Declan.

Ver os meninos brincarem tinha sido o destaque da minha


noite. Eles me lembravam de Hendrix, Ty e eu
quando crianças. Proximos em idade, eles eram competitivos como
o inferno um com o outro, brigando pela bola e empurrando um ao
outro. Eu esperava que um deles atacasse o outro no chao a qualquer
momento.

Eu me inclinei para frente na cadeira de balanço e olhei para a


lua cheia.

— Que horas sao?

Eu estava mais do que pronto para sair.

Depois de passar tres horas na casa de Cap, ele ainda nao tinha
se mostrado.

Eu nao tinha ideia de onde ele estava.

Eu nao ligava tambem.


Nosso proximo encontro nao era algo que eu estava ansioso.

Bem-intencionado ou nao, se ele nao mantivesse o nariz fora do


meu negocio, so havia uma maneira de terminar, comigo batendo os
dedos em sua garganta; uma açao que resultaria em eu ter minha
bunda chutada.

O Cap ja passou dos quarenta anos, mas estava em melhor


forma do que a maioria dos homens na faixa dos vinte anos. De pe
com um metro e noventa de dois e pesando cem quilos, eu era alto e
forte. Cap, porem, ele tinha cerca de cinco centímetros e cinquenta
quilos de musculos a mais que eu. Desde que começou a ficar sobrio
uma decada antes, ele estava batendo na sala de musculaçao na
estaçao.

Isso se via em sua aparencia.

Eu rosnei quando Hendrix deu um soco no meu braço,


chamando minha atençao da noite.

— Ouvi dizer que voce teve um dia difícil. — Disse ele, sorrindo
para o olhar de morte que eu mandei em seu caminho.

Claro que ele ouviu.

Cap provavelmente o chamou no segundo em que saí da


estaçao.

— Voce nao quer ouvir sobre isso. — Eu saltei minha perna


direita para cima e para baixo em agitaçao. — Confie em mim.

Hendrix assentiu.

— Sim, Pop me disse o suficiente. Voce mostrou mais controle


do que eu teria. Se eu estivesse ali e visse o que voce viu... — Sua voz
sumiu. De pe, ele cruzou a varanda e descansou as maos na grade
em volta. Sua mandíbula tensionou uma vez. Duas vezes. — Ha
algumas pessoas doentes neste mundo, cara.

Meus olhos se fecharam enquanto eu deixei minha cabeça cair


para frente.

Eu conhecia essa verdade melhor que ninguem.

Era uma liçao que aprendi ha muito tempo.

Como se na sugestao, o rosto sorridente de Lily brilhou na


vanguarda da minha mente. Sua voz doce seguiu. Eu amo você,
Kyle. Você também me ama, certo?

Meu coraçao se partiu pela milionesima vez.

Eu também, respondo mentalmente. Para sempre, Teacup.

Uma tabua do assoalho rangeu quando Evan se levantou.

— O que aconteceu? — Com os olhos ainda fechados, eu nao


sabia com quem ele estava falando. Tambem nao me importei em
descobrir. Eu estava muito ocupado lutando contra meus demonios
para lidar com ele.

— A ligaçao veio para despachar pedindo ajuda para uma


criança de tres anos que nao respondia, — respondeu Hendrix. —
Pop disse que quando chegaram la, ja era tarde demais.

Sempre era tarde demais.

Nao importava o quanto eu tentasse, nunca era o suficiente. As


pessoas ainda morriam e as famílias ainda estavam separadas. A dor,
a miseria. Isso nunca terminava.

— O que aconteceu com a criança?

— Seu maldito pai bateu nela ate a morte. — eu bati, em


pe. Meus punhos se contorceram com a necessidade de bater em
alguma coisa. — Ele estava com raiva de sua esposa por deixa-lo,
entao ele matou sua filha.

O ar circundante engrossou de raiva.

Voce poderia ter cortado com uma faca cega.

Evan tirou as maos dos bolsos e correu as palmas pelas laterais


do rosto.

— Cristo. — ele sussurrou. — Voce nao estrangulou o pai?

Eu balancei a cabeça.

— Eu vou dar credito a voce, Tucker. — continuou ele. — Voce


tem mais contençao do que eu.

Nao, eu nao tinha.

Minha contençao era inexistente.

A unica razao pela qual eu nao estava na cadeia em


uma acusaçao de homicídio capital foi porque Cap e Bull me
seguraram. Quando consegui afasta-los, o pai da garota estava
algemado e trancado na traseira de um carro da polícia. Se eu tivesse
a chance de colocar minhas maos nele, teria sido o fim dele.

Eu garanto isso.
Hendrix se virou, apoiando o quadril no corrimao.

— Pessoas loucas assim... — disse ele para Evan, — sao a razao


exata pela qual eu nao gosto que Daryl deixe Carissa e Heidi
sozinhas. — Evan abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Hendrix
continuou falando. — Eu sei que as garotas estao crescidas, e eu
entendo que o homem nao tem escolha, mas quando eu penso em C
e Bug sempre estando sozinhas eu nao suporto isso. Vivendo em
Bumfuck, o Egito nao ajuda em nada. Se algo acontecesse e elas
tivessem que pedir ajuda, levaria vinte minutos para alguem
alcança-las. — Sua voz subiu com cada palavra. — Essa
merda não esta certa.

— Eu tentei dizer a ele. — Evan começou antes de ser cortado


pelo toque de seu telefone. Tirando do bolso, ele se virou, dando a
Hendrix e a mim as costas. — Sim, Chris, o que esta acontecendo?

Ignorando-o, enfrentei Hendrix.

Eu nao sabia de quem ou o que ele estava falando. Eu tinha


certeza como inferno que estava prestes a descobrir embora. Carissa
e Heidi. Eu ja tinha ouvido esses nomes antes, mas nunca conheci as
garotas a quem pertencia.

— Se algo acontecesse com qualquer uma delas, destruiria


Maddie, — Hendrix continuou, suas feiçoes endurecendo enquanto
ele olhava na minha direçao. — Vovo tambem. Elas amam essas
garotas. Inferno, eu amo essas garotas. E difícil nao fazer. Ambas sao
doces como o inferno. Muito doces. — Seus olhos perfuraram os
meus. Uma mensagem nao dita saltou entre nos. — Elas precisam de
alguem para cuidar delas quando Daryl sai, mas nenhuma delas tem
namorado, e isso e algo que nao consigo compreender.
Com meu temperamento exaltado pelo que foi provavelmente a
centesima vez naquele dia; eu cruzei meus braços sobre o
peito. Minhas temporas latejavam e os tendoes do meu pescoço
estavam torcidos.

— Quem sao Carissa e Heidi? — A agitaçao em minha voz era


inconfundível. — E quem e Daryl?

Hendrix olhou para mim como se eu fosse idiota.

— Serio? Voce nunca conheceu Carissa e Heidi?

Era a minha vez de olhar para ele como o idiota que ele
claramente era.

— Eu nao teria perguntado se eu soubesse, idiota.

— Elas sao irmas. Maddie costumava cuidar delas quando eram


pequenas. Elas estao todas crescidas agora embora. Ambas
trabalham no abrigo com minha garota — ele apontou para Evan,
que ainda estava ao telefone – e a do idiota ali. Daryl e o pai delas.

Minha pele começou a se contorcer.

Memorias ameaçaram ressurgir.

— Por que o pai delas as deixa sozinhas o tempo todo? — Eu


precisava saber. Eu nao suportava um homem que falhava em
proteger as mulheres em sua vida, homens como eu, e a maneira
como Hendrix descreveu as garotas fez com que elas parecessem a
presa perfeita para um psicopata distorcido.

Assim como a Lily tinha sido...


— Ele e um caminhoneiro da estrada. — respondeu Hendrix. —
Ele nunca esta em casa.

Sua resposta fez pouco para acalmar a torrente de emoçoes me


batendo de dentro para fora.

— E a mae delas?

Evan, que terminara sua ligaçao responde.

— Ann esta morta. Faleceu ha alguns anos atras. Eu nunca a


conheci, mas as meninas falam muito dela.

A pulsaçao no meu templo se intensificou.

— Quantos anos elas tem?

Hendrix olhou para Evan.

— O que elas tem? Dezenove e dezoito?

Evan balançou a cabeça.

— Vinte e dezenove anos, penso eu. Heidi se formou no ensino


medio na primavera passada.

— E o pai delas as deixa sozinhas? Por longos períodos de


tempo? — Ouvir as palavras pronunciadas em voz alta bagunçou
minha cabeça. — Cara, eu nao posso...

Hendrix encolheu os ombros.

— Eu nao gosto mais do que voce, mas Daryl nao tem


escolha. Ele tem que pagar as contas, tem que apoiar sua família. O
que mais o homem deveria fazer?
Eu nao sabia o que ele deveria fazer.

Mas deixar duas jovens sozinhas e vulneraveis nao estava bem.

Nunca.

Se as meninas precisassem de alguem para cuidar delas, entao


eu faria. Esse provavelmente era o plano de Hendrix em primeiro
lugar. Por que mais ele teria mencionado isso? Ele saberia que so
havia uma maneira de terminar essa conversa, e isso era comigo
assumir a responsabilidade por duas garotas que eu nunca
conheci. O fato de nao as conhecer nao fazia diferença. Tudo o que
importava era mante-las a salvo dos fodidos doentes do mundo...

Doente fodidos como o que eu deixei roubar minha irma.

Eu falhei uma vez.

Eu não vou falhar novamente.

— Hendrix! — Keith gritou.

Hendrix tirou os olhos dos meus e olhou para Keith.

— O que e isso, meu velho?

Os olhos de Keith se estreitaram.

— Por que voce nao vai na porta ao lado e checa a minha


filha? Certifique-se de que ela esta bem.

— Sua filha? Voce nao esta falando da minha noiva?

Evan riu.

— Voce continua correndo a boca, e Keith vai atirar em voce um


dia. — disse ele, movendo-se em direçao aos degraus da varanda. —
Ele e filho da vovo depois de tudo.

— Ele nao vai atirar em mim. Vovo embora — um sorriso


vacilante se espalhou pelo rosto de Hendrix — e um milagre que ela
ainda nao tenha feito.

— Chegue na porta ao lado. — Keith gritou, suas maças do rosto


tingidas de vermelho. Atras dele, Liam e Declan continuaram a jogar
bola, ignorando o mundo ao seu redor. — E certifique-se de dizer a
Clara que os meninos estao bem.

Hendrix assentiu e olhou para mim.

— Voce vem?

— Depende. Carissa e Heidi estao la?

— Sim. — disse Hendrix, acenando com a cabeça. — Junto com


Shelby, Clara e Hope. — Ele olhou para a casa de vovo por cima do
ombro. — So Cristo sabe no que estamos prestes a entrar. Shelby,
aquela dor no rabo, estava encarregada de arrumar tudo. — Quando
eu nao respondi rapido o suficiente, o idiota deu um soco no meu
braço. Ele tem sorte que eu nao acertei seus olhos em troca. — Nao
seja uma boceta, Kyle. E so um monte de garotas. — Um sorriso
apareceu em seu rosto. — Quem sabe, talvez voce conheça sua
futura esposa. Clara e solteira. — Seu olhar cortou para Evan. –e
tambem Hope.

A cabeça de Evan deu um estalo em minha direçao. Um aviso


brilhou em seus olhos.

— Se voce for a algum lugar perto de Hope, eu vou te matar e


enterrar seu corpo onde ninguem nunca vai encontra-lo.

Ele saiu sem dizer outra palavra.

Hendrix balançou a cabeça, com diversao dançando em seu


rosto.

— Esse idiota precisa reivindicar Hope ja. Talvez entao ele pare
de ser tao infeliz o tempo todo.

Hendrix desceu os degraus, levando dois de cada vez.

— Vamos la. — ele disse, — quero que voce conheça Clara.

Eu nao importo em conhecer Clara.

Carissa e Heidi embora? Historia completamente diferente.

Maos nos bolsos, eu segui atras dele.

— Nao estou interessado. Voce de todas as pessoas sabe disso.

A verdade e que eu nao perdi meu tempo com mulheres alem


de uma noite. Essa era a extensao da minha historia de
relacionamento. Tambem ficaria assim. Eu estava muito enroscado
na cabeça para perseguir algo mais do que conexoes casuais.

Hendrix olhou para mim por cima do ombro, um sorriso


arrogante no rosto.

— Sim, mas eu tambem sei que as coisas mudam. — Eu abri


minha boca para discutir com ele, mas ele continuou falando,
recusando-se a deixar-me dar uma palavra no ar. — Marque minhas
palavras, Kyle. Um dia, uma mulher vai aparecer e bater na sua
bunda.
Suas palavras foram em um ouvido e saíram do outro.

O idiota estava cheio disso.

Pelo menos e o que eu disse a mim mesmo.

Acontece que eu estava errado.

E pela primeira vez, Hendrix estava certo.


CAPÍTULO 4
Carissa
Eu estava exausta.

Parada na cozinha da vovo, recostei-me na porta da despensa e


fechei os olhos. Minhas pernas pareciam gelatina, meus braços
pareciam macarroes moles. Eu passei as ultimas quatro horas
dançando, e isso foi depois de tomar tres doses, algo que eu nunca
tinha feito antes.

Era oficial. Eu nao era do tipo festeira... ao contrario de Heidi,


que parecia ganhar mais energia a cada segundo que passava. Eu
simplesmente nao fui construída para isso.

— Carissa Ann, abra os olhos, docinho. — Meus olhos se


abriram e colidiram em um par de centaureas azuis pertencentes a
Shelby. — O que diabos voce esta fazendo, C?

— Tentando nao dormir. — eu respondi. — Eu nao acho que sou


feita para isso.

Shelby balançou em seus pes.

— Por que voce nao vem dançar com Hope e eu mais um


pouco? Isso vai te animar.

Ou me derrubar, pensei.

Eu balancei a cabeça.
— Eu estou totalmente batida, Loirinha.

Shelby levantou a mao direita e tirou uma mecha de cabelo do


meu rosto.

— Voce e Maddie. Espero que ela desmaie a qualquer momento.

Maddie tinha uma desculpa para estar cansada.

Ela estava gravida.

Eu nao estava.

Eu era apenas uma desmancha-prazeres.

O silencio caiu entre nos. Entao...

— Voce tem certeza que nao quer dançar com a gente?

— Tenho certeza. – Eu balanço a cabeça.

Shelby sorriu; o rosto dela se suavizou.

— Tudo bem, menina doce. — ela continuou, — voce sabe onde


me encontrar se voce mudar de ideia. — Ela piscou antes de se virar
e tropeçar de volta para a sala de estar.

Eu ri.

Shelby está mais bêbada que um gambá. Eu aposto...

Heidi apareceu, cortando meus pensamentos internos.

Atravessei a cozinha e joguei meus braços ao redor


dela. Enquanto eu vivesse, nunca me cansaria de abraça-la. Nao
importa o que estava acontecendo na minha vida, o toque dela me
acalmava. Sempre fez.

Mamae costumava dizer que era porque estavamos tao


proximas da idade.

Eu nao sabia disso.

O que eu sabia era que Heidi nao era apenas minha irma.

Ela era minha melhor amiga tambem.

Eu respirei fundo.

— Estou cansada.

Heidi envolveu seus braços em volta de mim.

— Nos podemos ir se voce quiser. — ela sussurrou. — Voce


quer ligar para o papai?

— Sim. — Eu abaixei meus braços e dei um passo para tras. —


Voce tem seu telefone? O meu esta mais morto que um rabo de
andorinha.

Eu nunca me lembrava de carregar a coisa estupida.

Era um habito tao ruim.

Heidi sacudiu a cabeça.

— Eu deixei o meu em casa.

Eu bufei.

— Nos duas somos ridículas. — Envolvendo meus dedos em


torno de seu pulso, eu a puxei para a sala de estar. — Vamos. Tenho
certeza de que Shelby ou Maddie vao me deixar usar o delas.

Na sala de estar, Shelby ficou em frente a lareira. Ao lado dela


estavam Clara e Hope, e em frente a elas, uma exausta Maddie estava
sentada no sofa, a cabeça apoiada no ombro de Hendrix. Vovo estava
perto da porta da frente conversando com alguem.

Meu foco estava em Shelby.

— Shelby, voce se importa se eu usar o seu telefone para ligar


para o meu pai para uma carona para casa? — Eu perguntei. — O
meu esta morto e Heidi nao trouxe o dela desde que ela veio comigo.

Shelby puxou o olhar de mim e o levou para onde vovo


estava. Suas sobrancelhas se levantaram e uma expressao
divertida cruzou seu rosto, embora eu nao soubesse por que.

Ela permaneceu em silencio.

Abri a boca para perguntar de novo, talvez ela não tivesse me


ouvido, mas fechei quando uma voz profunda que eu nunca tinha
ouvido antes disse.

— Vou leva-la para casa.

Eu virei minha cabeça, seguindo o som da voz.

Quando meus olhos pousaram sobre ele, o cara que tinha


falado, o mundo ao meu redor diminuiu.

Nunca na minha vida eu tinha visto um homem como ele antes.

Senhor, tenha misericórdia, ele é lindo.

Com mais de um metro e noventa de altura, ele tinha cabelos


castanho-escuros raspados nas laterais e um pouco maior por
cima. Seus olhos eram do mais bonito tom de marrom que eu ja vi, e
sua mandíbula era forte, angular. Longos cílios apimentavam suas
palpebras enquanto labios cheios mas firmes completavam o olhar
sombrio e misterioso que ele tinha.

Pelo que pude ver, o corpo dele estava perto da perfeiçao


tambem.

Seus ombros eram largos e musculos que pareciam ter sido


esculpidos em granito sob a pele bronzeada que espreitava por
baixo de sua camisa. Suas pernas eram longas, a calça cobria coxas
grossas.

Eu poderia ter olhado para ele o dia todo.

Mas por mais que eu gostasse, nao podia fazer isso.

— Onde voce mora? — Ele perguntou, se aproximando.

Incapaz de formar um pensamento coerente, muito menos uma


frase, procurei ajuda em Shelby.

Ela nao me ofereceu nenhuma.

Felizmente, Maddie falou, me salvando.

— Eu vou ter papai dando a voces uma carona para casa...

O homem, cujo nome eu nao conhecia, parecia irritado com a


resposta de Maddie. No entanto, ele nao disse nada.

Incapaz de segurar o olhar por mais tempo, abaixei a cabeça e


enfiei uma mecha de cabelo atras da orelha.
— Obrigada por me oferecer uma carona. — eu disse, nao
querendo parecer rude. — Mas eu acho que e melhor se o Sr. Davis
me levar para casa.

Eu so podia imaginar o rosto do papai se ele visse Heidi e eu


sairmos da caminhonete de um estranho.

Palavras de maldiçoes, junto com balas, voariam.

Eu olhei para Maddie.

— Contanto que ele nao se importe.

Maddie acenou com a mao.

— Ele nao vai se importar. Confie em mim.

Hendrix passou o braço ao redor de Maddie, puxando-a para o


lado, enquanto Evan, que eu nem percebi, se moveu em direçao a
Hope.

Hope imediatamente franziu o cenho.

— Voce nao precisa se preocupar comigo, Cara Grande. — disse


ela, balançando em seus pes. Ela estava tao bebada quanto
Shelby. — Eu nao quero ouvir isso.

Incapaz de resistir, eu espiei o homem de antes.

Seus olhos estavam fixos em mim, seu olhar imovel.

Heidi, que ainda nao havia dito uma palavra, colocou a mao na
minha parte inferior das costas e me empurrou para frente, em
direçao a ele.
Eu gritei, depois tropecei.

Irmã ou não, eu vou matá-la!

O homem se adiantou, fechando o espaço entre nos.

Suas maos pousaram nos meus quadris, me segurando.

— Cuidado. — ele disse, sua voz baixa e profunda. — Nao quero


que voce caia.

Minha pele queimava sob o toque dele.

— Eu nao quero cair. — Minha voz tremia com cada palavra.

— Eu nao vou soltar voce. – ele sussurrou, inclinando a cabeça


para o lado. — Voce deve ser Carissa.

O jeito que meu nome saiu da sua língua era francamente


pecaminoso. Por um breve segundo, meus joelhos tremeram. Cabeça
girando, eu tomei uma respiraçao instavel e assenti.

— Era da ultima vez que chequei.

Um pequeno sorriso brincou nos labios do homem. Olhando


por cima do meu ombro, ele olhou atras de mim.

— E eu estou supondo que ela e Heidi.

— Sim. — Eu me senti perto de hiperventilar. — Ela e minha


irma.

— Voce vai perguntar o meu nome? — Ele brincou antes de


passar a língua em seu labio inferior. — Ou prefere apenas olhar
para mim? Mas eu gosto disso.
Oh Deus, pensei. Isso é tão embaraçoso!

— Eu... eu nao sei. — eu gaguejei.

Seu sorriso cresceu.

— E Kyle, menina bonita. — disse ele. — Kyle Tucker.

— E bom conhecer voce... — Língua seca e pesada, minha voz


sumiu.

Kyle aproximou o rosto e por um momento achei que ele me


beijaria. Mas ele nao fez. Parte de mim, uma pequena parte, ficou
desapontada.

Estou perdendo minha mente maldita.

— Diga. — ele exigiu antes de respirar fundo. Um segundo ou


dois se passaram antes que ele falasse de novo. Quando ele fez, seu
tom era menos severo, mais controlado. — Por favor.

Com a mente confusa, eu nao conseguia pensar.

Confusa nao começou a descrever como eu me sentia.

— O que voce esta me pedindo para dizer?

— Meu nome, princesa. — respondeu ele. — Diga meu nome.

Meus olhos se arregalaram.

— Kyle. — eu sussurrei, sem saber se eu estava louca ou se


as borboletas dançando ao redor da minha barriga eram normais.

Seus olhos se fecharam e ele baixou a cabeça para a frente.


— Cristo. — ele gemeu, soando quase como se estivesse com
dor. — Estou bem e verdadeiramente fodido.

Eu sou uma mulher inteligente, sempre fui, mas me senti tao


idiota naquele momento. Eu nao tinha ideia do que estava
acontecendo.

— Eu nao... eu nao entendo.

Sua cabeça se levantou, seus olhos se encontraram com os meus


novamente.

— Voce vai. — disse ele, com firmeza. — Eu garanto isso.

Antes que eu pudesse dizer uma palavra, vovo se aproximou de


mim. Ela olhou de mim para Kyle e depois de volta para mim
novamente.

— Bem. — ela disse, assentindo. — Isso aqui vai ser um


problema.

Ela estava absolutamente certa.


CAPÍTULO 5
Kyle
Estou ficando louco.

O pensamento solitario caiu ao redor da minha cabeça


enquanto meus dedos cavavam nos quadris de Carissa.

De olhos arregalados, ela parecia a um batimento cardíaco


longe de escapar do meu aperto e correr na outra direçao. Eu seria
amaldiçoado se deixasse isso acontecer. No espaço de um segundo,
ela me chamou a atençao.

Anzol, linha e chumbada.

Era algo que nenhuma outra mulher havia feito antes.

Quando eu invadi a casa da vovo atras de Evan e Hendrix, eu


estava decidido a encontrar ela e Heidi. Eu queria ver as garotas que
Hendrix, um homem que nao amava com facilidade, estava tao
preocupado.

Eu nao estava preparado para as emoçoes que a ver


pela primeira vez se inflamaria no meu peito.

Hendrix disse que ela e Heidi eram doces. Ele nao disse nada
sobre a beleza de Carissa. Um olhar para ela me deixou
aturdido. Deslumbrado. E isso era algo que nunca aconteceu
comigo.
Nunca.

Eu ja vi mulheres bonitas antes. Tinha levado algumas para


minha cama. Mas nenhuma me deixou sentindo como se tivesse sido
golpeado na cabeça.

Carissa tinha.

Eu nao conseguia explicar a atraçao instantanea.

Nao me importava com isso.

Tudo que eu sabia era que ela tinha esse puxao.

Como uma corda invisível, ela me puxou, exigindo que eu me


aproximasse.

O que exatamente era, eu nao tenho a menor ideia.

Talvez fosse o brilho em seus olhos ou seu sorriso de parar o


coraçao. Pode ter sido o som melodico de sua voz doce ou o cheiro
viciante de seu perfume.

Inferno, talvez fosse apenas o destino.

Seja qual for o caso, ela me deixou completamente encantado,


impotente para qualquer feitiço que ela me colocou. Como uma
mariposa para uma chama, nao pude resistir a ela. Isso me irritou
enquanto simultaneamente fazia meu coraçao bater forte.

Meu cerebro gritou que estava errado, ilogico.

Meu intestino disse o contrario.

Incapaz de me ajudar, puxei-a para mais perto.


Eu inalei profundamente, puxando o cheiro dela para os meus
pulmoes. Lavanda. E isso que o perfume que ela usava cheirava. Era
sutil, mas o cheiro inebriante foi direto para minha cabeça, me
desequilibrando.

Os labios de Carissa se separaram com o movimento


repentino. Olhos trancados com os meus, ela envolveu suas maos
suaves ao redor do meu tríceps. Meus musculos se contorciam sob
as palmas das maos, e eu rangi os dentes de tras juntos em
frustraçao.

Eu a queria sozinha.

Nao porque eu quisesse fazer algo inapropriado. Porque eu nao


faria. Tirar vantagem dela era a ultima coisa em minha mente. Eu so
queria falar com ela sem meia duzia de olhares
indiscretos, esquadrinhando todos os meus movimentos, incluindo
os que pertenciam a velhinha maluca que permanecia ao nosso lado,
seu olhar avaliador queimando buracos na lateral do meu rosto.

Nao culpei vovo por querer saber o que estava acontecendo.

Minha reaçao a Carissa nao era normal, nao para mim, e ela
sabia disso. Ela, junto com Hendrix e Maddie, estava bem ciente de
que eu nao dava a maioria das mulheres uma segunda olhada, e com
certeza nunca as ofereci uma carona para casa.

Carissa era diferente.

Embora eu nao soubesse como... ou por que.

Eu aproximei meu rosto do dela. Uma polegada separou seu


nariz do meu.
— Deixe-me leva-la para casa. — eu sussurrei tao baixo que so
ela podia ouvir. — Eu prometo que nao vou machucar voce.

Eu mataria qualquer homem que tentasse.

E isso era um fato.

Enquanto eu esperava que ela respondesse, meus olhos


vagaram pelo seu rosto de tirar o folego, memorizando cada
característica dela. Olhos azuis oceanicos, nariz coberto de sardas,
labios cor-de-rosa e em forma de arco que eu queria provar,
madeixas loiras palidas na altura dos ombros.

Eu brevemente me perguntei se o cabelo dela seria tao sedoso


quanto parecia.

E tinha apenas uma maneira de saber.

Antes que eu pudesse toca-lo, Carissa soltou as maos dos meus


braços e deu um passo para tras, afastando-se do meu aperto. Cada
celula do meu corpo gritou para eu puxa-la de volta para o meu
espaço. Mas eu nao pude fazer isso. Mesmo que eu sentisse uma
atraçao inexplicavel, nao sabia o que ela sentia. Se ela quisesse se
afastar de mim, eu nao poderia impedí-la, nao importa o quanto eu
quisessese, ela nao sentia o mesmo. Ela estava nervosa porque
estava roendo o esmalte lascado em suas unhas, ela sorriu.

Foi o sorriso mais lindo que eu ja vi.

— Eu nao estou preocupada com voce me machucando. — ela


respondeu docemente. — Estou mais preocupada com o meu pai te
machucando, se ele me ver ou a minha irma sair do seu veículo.

Meu olho direito se contraiu em aborrecimento.


Eu nao estava preocupado com o pai dela, mas ouví-la dizer que
o nome dele trouxe tudo que Hendrix me disse minutos antes. Eu
nao estava bem com ele deixando ela e Heidi sozinhas antes, mas
agora que eu tinha posto os olhos nela, eu com certeza nao estava
bem com isso.

Eu posso ter falado apenas um punhado de palavras para ela,


mas um olhar nos olhos de Carissa fez com que todos os instintos de
proteçao que possuía rugissem para a vida. A necessidade de mante-
la segura me consumiu. Pensar que ela estava sozinha e, portanto,
desprotegida, me deixou furioso por dentro.

O que eu sentia por ela nao fazia sentido.

Mas eu estava alem de dar uma merda.

Naquele momento, tomei uma decisao.

Uma que mudaria minha vida para sempre.

Essa decisao? De mante-la segura.

Nao importa o custo.


CAPÍTULO 6
Carissa
Eu podia sentir os olhos de Kyle em mim.

Seu olhar perfurou minhas costas, fazendo minha pele


esquentar.

Eu respirei fundo de onde eu estava sentada, aninhada entre


Maddie e Heidi. Uma Hope chocada estava aos meus pes, seus olhos
meio fechados. Vovo estava sentada no sofa em frente a nos e Keith,
Clara, Liam e Declan estavam jogando Monopoly na mesa da
cozinha. Shelby tinha saído minutos antes, correndo pela rua no
escuro para a bela casa de dois andares que seu namorado, Anthony,
um detetive de homicídios da DP Toluca, possuía. Ela deveria voltar
depois de verificar seu filho de dois anos, Lucca, mas eu duvidava
que ela voltasse.

Uma vez que Anthony visse como ela estava bebada, ele a
manteria la.

Ele era superprotetor dela e de Lucca.

Nao que eu o culpasse.

Shelby era uma pessoa bonita que tinha sido entregue a um


negocio podre na vida. Uma sobrevivente de violencia domestica
como Clara, ela merecia alguem que a tratasse e a Lucca como nada
menos que ouro.
Pelo que eu vi, Anthony fazia exatamente isso.

Mastigando meu labio inferior, eu espiei por cima do meu


ombro ate o lugar onde Hendrix, Evan e Kyle estavam ao longo da
parede distante. Hendrix e Evan estavam conversando, mas Kyle
ignorava os dois. Com os braços cruzados sobre o peito, ele estava
muito ocupado me observando para prestar atençao a eles.

Nao sabendo mais o que fazer, ofereci-lhe um sorriso tremulo.

Minha barriga virou quando ele piscou em retorno.

Com o coraçao batendo descontroladamente, girei de volta para


encontrar os olhos de todos em mim.

A parte superior do corpo de Hope balançou quando ela


arqueou uma sobrancelha.

— Bem, bem. — disse ela, com um sorriso torto no rosto


bonito. — Parece que alguem tem uma paixonite.

Ao meu lado, Heidi bufou.

— Eu nao estou. — Eu bufei um suspiro. — Ele e legal. Isso e


tudo.

Vovo olhou para mim como se eu fosse louca.

— Senhor, tenha misericordia, Carissa, acho que e a primeira


vez que ouço alguem se referir a Kyle Tucker como legal desde que
ele era criança. A maioria das pessoas em torno dessas partes o
chama de velho chato. — Ela, junto com todas as outras, riu. — Eu
incluída.
Ao meu lado, Maddie suspirou.

— Ele passou por muita coisa. — ela disse, uma expressao triste
deslizando no lugar da feliz que ela usava anteriormente. — Se eu
fosse ele, eu seria um ogro tambem.

Vovo assentiu.

— Essa e verdade.

Minha curiosidade despertou.

Mais do que curiosa, me virei para encarar Maddie.

— O que ele passou? — Nao era da minha conta, mas meu eu


intrometido ainda queria saber. Na verdade, eu queria saber tudo
sobre ele, e isso nao fazia muito sentido. Eu nao estava interessada
em homens, entao por que eu me importava tanto com um que
acabei de conhecer?

Provavelmente porque sou atraída por ele.

Como, super-mega atraída por ele.

Os olhos de Maddie se encheram de tristeza. Doeu meu coraçao


ver. Eu nao aguentava ver alguem ficar chateado.

— Voce se lembra da garotinha que foi sequestrada e


assassinada quando eramos crianças? Aquela cujo corpo o FBI
encontrou em um campo na Highway 3?

Eu balancei a cabeça, lembrando-me do incidente muito


bem. Eu tinha apenas seis anos quando aconteceu, mas lembrei do
papai se voluntariando para ajudar a procurar por ela depois que ela
foi levada. Depois que ela foi sequestrada, mamae nao deixou Heidi
e eu fora de sua vista por meses.

— Eu lembro.

— Bem, o nome dela era Lily. — Uma lagrima escorregou pelo


rosto de Maddie. — E ela era a irmazinha de Kyle.

Meu coraçao se partiu.

— Oh meu Deus. — eu sussurrei, sentindo meu peito apertar. —


Eu nao posso... — Estendendo a mao, peguei a mao de Heidi na
minha, apertando-a com força. — Eu nao posso nem imaginar. — E
eu nao podia. Tanto quanto eu amava minha irma mais nova, eu nao
poderia contemplar algo que tragico acontecendo com ela. Se isso
acontecesse, eu morreria junto com ela.

Maddie pegou na bainha de seu vestido.

— Eu tambem nao posso. Lily era uma criança tao boa. Uma
garota doce. — Outra lagrima caiu. — Ela nao merecia o que
aconteceu com ela, e nem Kyle. Ele e tao confuso com isso,
Carissa. Voce nao tem ideia...

Pop, pop, pop!

As palavras morreram na língua de Maddie quando tres sons


altos ecoaram pela casa, cortando a conversa. Por um breve
momento, a sala ficou vazia.

Entao, o caos entrou em erupçao.

Antes que eu pudesse compreender quais eram os sons,


Hendrix atravessou a sala e pegou Maddie atordoada em seus
braços. Onde ele a levou, eu nao tinha a menor ideia. Tudo o que sei
e que eles desapareceram em um piscar de olhos.

Heidi e eu pulamos de pe quando Evan se moveu na nossa


frente e agarrou Hope do chao, empurrando-a para seus pes. Em um
movimento rapido, ele a jogou por cima do ombro e correu em
direçao a cozinha, enquanto vovo gritava para Clara tirar Liam e
Declan das janelas.

Eu ainda nao tinha certeza do que estava acontecendo.

Pop, pop, pop!

Quando mais tres estalos surgiram no ar, a compreensao


ocorreu.

Os sons eram tiros.

Eu nao sabia de onde eles estavam vindo, mas eles estavam


perto.

Tipo, muito perto.

O medo me paralisou.

Por instinto, agarrei o braço de Heidi e a puxei para tras, usando


meu corpo para proteger o dela. Se uma de nos fosse levar um tiro,
nao seria ela.

Nao se eu tivesse algo a dizer sobre isso.

Eu comecei a me virar, com a intençao de empurrar Heidi para


a cozinha, onde eu sabia que ela estaria mais segura, quando um
corpo duro bateu no meu.
Eu sabia quem era imediatamente.

Kyle.

Braços fortes envolveram meu torso e comecei a cair. Aconteceu


tao rapido que nao tive tempo de me preparar para o
iminente impacto. Nao importava, no entanto. Kyle de alguma forma
contorceu seu corpo, torcendo-nos para que ele tomasse o peso da
queda. Suas costas encontraram o chao e eu caí em seu peito.

Antes que eu pudesse respirar, ele me virou de costas e agarrou


o braço direito de Heidi, puxando-a para o chao ao meu lado. Ela
bateu forte, soltando um grito quando seu quadril bateu contra o
chao.

Kyle ignorou seu grito de dor e cobriu nossos corpos com o seu.

Braços enrolados em torno de nos duas, ele segurou firme.

Pop, pop, pop!

Mais tres tiros soaram.

Vovo, que eu nao tinha visto levantar de sua poltrona, começou


a gritar.

— Keith! — Sua voz estava atada com panico. — Os tiros estao


vindo do outro lado da rua! – Passos, de quem eu nao sei, bateram
em direçao a porta da frente. — Da casa de Anthony!

Dois rostos se espalharam em minha mente.

Primeiro Shelby.

Entao o doce pequeno Lucca.


Meu medo aumentou dez vezes.

Com medo do meu raciocínio, envolvi um braço ao redor da


parte inferior das costas de Kyle, segurando-o com força. Com a
outra mao, agarrei a mao de Heidi e entrelacei seus dedos com os
meus. Entao, eu fechei meus olhos e falei com a unica pessoa que eu
sabia que estaria ouvindo.

Por favor, mamãe, eu rezei. Mantenha todos nós em segurança.


CAPÍTULO 7
Kyle
Eu fiquei na varanda mal iluminada da vovo assistindo a
agitaçao da atividade policial do outro lado da rua. Atras de mim,
Hope, Clara e os meninos estavam sentados em uma fileira de
cadeiras de vime branco. Do outro lado da varanda, a cerca de quatro
metros de distancia, Carissa e Heidi estavam sentadas no balanço,
seus olhares fixos no mesmo lugar que o meu havia estado nos
ultimos vinte minutos.

Preocupaçao com as pessoas que elas consideravam sua família


enchia seus olhos.

Raiva me consumiu com a visao.

Ela fluiu em minhas veias, fervendo abaixo da superfície da


minha pele. Como uma segunda batida de coraçao, eu senti isso
correr atraves de mim, totalmente consciente da destruiçao que
causaria se permitisse correr livre.

Liberta-lo era exatamente o que eu queria fazer.

Eu nao sabia quem tinha atirado na casa de Anthony com ele,


Shelby e Lucca la dentro, mas se eu descobrisse e os alcançasse antes
da polícia, eles morreriam pelas minhas maos. Claro e simples.

Por causa de algumas açoes de idiotas desconhecidos, uma


mulher bonita poderia ter sido ferida, uma criança inocente poderia
ter morrido, e um homem bom poderia ter perdido sua vida e sua
família.

Nada disso estava bem.

— Kyle! — Eu olhei para a entrada da garagem ao som do grito


de Evan, avistando-o imediatamente. Dirigindo-se para a casa e
caminhou ao lado de Keith, que segurava Lucca nos braços.

Hendrix, Maddie e vovo ainda estavam dentro da casa de


Anthony.

Cap, que apareceu minutos depois da polícia, tambem estava la.

O que diabos ele estava fazendo la, eu nao tinha a menor ideia.

Apesar de eu saber que ele estava sendo o habitual intrometido


que ele era.

Ao ver Lucca, Clara levantou-se de um pulo, desceu os degraus


e correu pela calçada, soluçando o caminho inteiro. Uma vez que ela
chegou a Keith, ela pegou Lucca nos braços e segurou-o contra o
peito. Keith passou um braço em volta dela e guiou-a de volta ao
alpendre.

Evan me alcançou segundos depois.

— O que voce descobriu? Todo mundo esta bem? — Minha voz


soou mais aspera do que uma lixa, fazendo a raiva borbulhar dentro
de mim. — Eles sabem quem fez isso?

Evan olhou para Hope antes de me responder.

— Todo mundo esta bem. A casa foi alvejada varias vezes, mas
ninguem foi atingido. Quanto a quem fez isso, o criminoso e o ex de
Shelby. O pai de Lucca. — Respirando frustrado, ele bateu as
palmas das maos nos lados do rosto. — A polícia colocou um BO,
mas Anthony nao esta esperançoso. O cara, homem, ele e um
verdadeiro trabalho. Eu nao vou entrar em detalhes porque nao e
minha historia para contar, mas aquele filho da puta fez um numero
em Shelby antes dela escapar. Tentou ferir Lucca tambem. Se ele
colocar as maos em qualquer um deles novamente...

Ele nao precisava dizer mais.

Eu tenho a imagem.

A raiva fervendo em minhas veias atingiu um ponto de


ebuliçao. Eu tinha que fazer algo. Se nao fizesse, explodiria.

— O que voce precisa de mim para fazer ?

Ele apontou para Carissa e Heidi.

— Voce pode leva-las para casa? Estou mantendo Hope, Clara e


os meninos comigo.

Braços cruzados sobre o peito, olhei para Carissa. Seus olhos


estavam fixos em mim, uma expressao vazia em seu lindo rosto.

— Ninguem alem de mim vai leva-las para casa novamente. —


eu respondi para que apenas Evan pudesse ouvir. — Voce entende o
que estou dizendo?

Seus olhos procuraram meu rosto.

— Voce quer C, nao e?

— Sim. — respondi sem hesitaçao. — Eu quero.


Ele assentiu uma vez.

— Ela e uma boa menina. Ambas sao. — Olhando para Hope


novamente, ele bateu os dedos contra sua coxa, um olhar confuso em
seu rosto. — Trate-a bem, Tucker. Se voce nao fizer, vovo vai mata-
lo. Isso e se uma das outras mulheres nao chegar ate voce primeiro.
Elas sao todas protetoras dessas garotas.

Disso eu nao tinha duvidas.

Eu me virei e dei um passo em direçao a Carissa. Quando Evan


falou novamente, parei.

— Ha algo mais que voce deve saber. — Eu olhei para ele por
cima do meu ombro. — Nao e o meu lugar para dizer-lhe, mas desde
que Hendrix e seu melhor amigo, eu acho que voce vai descobrir em
breve, independentemente.

Eu esperei que ele respondesse.

— Shelby, — ele disse, suas sobrancelhas juntas. — Acontece


que ela e mais do que apenas uma garota que Maddie e eu ajudamos
a ficar a salvo. — Eu fiquei mais confuso a cada segundo que
passava. — Ela tambem e a irmazinha de Hendrix. — Minha mente
ficou vazia por um momento. — Pop e o pai dela.

Demorou alguns segundos, mais como um minuto, para me


recuperar. Entao.

— Segure o inferno. — eu disse. — Voce esta me dizendo que


Cap e o pai de Shelby?

Evan assentiu.
— Isso e exatamente o que estou dizendo a voce.

Aturdido, fui para Carissa.

Meu ultimo pensamento antes de alcança-la? Fale sobre um


caos de proporções épicas.

A cabine do meu caminhao ficou em silencio.

Ao meu lado, o corpo de Carissa tremeu, seu medo persistente


evidente. Ao lado dela, Heidi olhou pela janela, a testa pressionada
contra o vidro. Nenhuma das duas dissera uma palavra desde que
saíram da casa da vovo, e isso me irritava porque algum idiota fez
com que se preocupassem assim.

Eu nao estava com raiva delas, mas da situaçao.

Eu nao as culpei por nao estarem falando.

Se nossos papeis fossem invertidos, eu nao teria muito a dizer


tambem.

Entao, novamente, eu nunca disse muito para começar.

Nao com palavras de qualquer maneira.

Meus punhos embora? Esses falaram bastante.

Precisando consola-las de alguma forma, eu me mexi no


assento e engoli em torno do pedregulho alojado na base vai ficar
tudo ficar bem. — eu disse, quebrando o silencio. — Nada para se
preocupar.
Eu estava cheio de merda.

Eu nao sabia se tudo ficaria bem.

Na verdade, tive a sensaçao de que nao seria assim.

Mais cedo, um monstro apareceu. Pode ter recuado depois de


atirar na casa de Anthony, mas se havia uma coisa que eu sabia sobre
monstros, era que eles nao paravam. As vezes, eles desapareciam
por um tempo, mas nunca ficavam longe. Peritos em espreitar nas
sombras, eles permaneciam escondidos ate que surgisse a
oportunidade de atacar.

Isso e precisamente o que aconteceu com a Lily.

O monstro que a roubou de nos esperou pacientemente,


aguardando seu tempo.

Entao, quando o momento estava certo, ele atacou.

Assim como o ex de Shelby fez...

Carissa continuou a tremer.

— Eu espero que sim. — ela respondeu, suavemente. — Nao


suporto pensar em algo acontecendo com Shelby ou Lucca. — Ela fez
uma pausa. — Anthony tambem. Me deixa doente pensar nisso. —
Ela apontou o para-brisa em direçao a uma casa bem iluminada
na estrada. — Essa e a nossa casa.

Liguei meu sinal de direçao e conduzi o caminhao para a


entrada de cascalho que levava a sua casa. Hendrix nao estava
mentindo quando disse que ela e Heidi moravam em Bumfuck, no
Egito. Eu nao tinha visto outro carro ou casa nos ultimos cinco
quilometros.

Isolada ou nao, a casa delas era linda.

Mesmo a noite, pude ver isso. Com um alpendre envolvente e


grandes carvalhos espalhados pelo quintal da frente, era o tipo de
casa pela qual mamae teria se apaixonado.

Lily tambem.

O pensamento me cortou profundamente.

Lily deveria ter estado la.

Comigo.

Nao morta e enterrada no chao.

Sinto muito, Teacup. Sinto muito mesmo.

Eu estacionei meu caminhao no topo da garagem. Antes que eu


pudesse abrir a porta, Heidi abriu a dela e pulou para fora. Ela se
virou para mim, um pequeno sorriso no rosto bonito. A semelhança
entre ela e Carissa era estranha. A unica diferença entre as duas era
a cor do cabelo delas.

O cabelo de Carissa era loiro.

Da Heidi era preto como tinta.

Levando os dedos a boca, Heidi colocou-os de novo nos


labios. Entao ela moveu a mao para mim e para baixo enquanto
pronunciava as palavras, obrigada.

Ate aquele momento, eu nao sabia que ela era surda.


Considerando o fato de que ela usava aparelhos auditivos nos dois
ouvidos, algo que acabei de notar, deveria ter sido obvio. Mesmo que
eu estava tao focado em Carissa que eu so tinha poupado a Heidi um
olhar fugaz.

Eu me senti como o idiota que todos pensavam que eu era.

Eu me certifiquei de olhar diretamente para ela enquanto


respondia.

— De nada.

Ela sorriu uma ultima vez antes de correr para a casa.

Carissa saiu em seguida.

Como sua irma, ela parecia pronta para fugir.

Isso nao estava acontecendo.

Heidi poderia entrar na casa, mas Carissa nao estava me


deixando.

Ainda nao.

Determinado a para-la, peguei a maçaneta da porta. Meus


dedos agarraram o ar quando minha porta foi aberta do lado de
fora. Antes que eu pudesse processar o que diabos aconteceu, uma
mao enorme agarrou a frente da minha camisa e me puxou para fora
do caminhao.

Meus pes de botas bateram no cascalho e minhas maos se


fecharam.

Antes que eu pudesse dar um soco, a pessoa que me segurava


bateu minhas costas contra a traseira do caminhao. O final de uma
espingarda de cano duplo encontrou meu peito um segundo depois.

— Papai! — Carissa gritou, correndo ao redor da parte de tras


do meu caminhao. — Pare com isso!

— Voce tem um maldito segundo. — disse o homem com uma


voz enganosamente fria e controlada. — Um segundo maldito para
me dizer quem voce e e por que minhas meninas estavam em seu
caminhao.

Carissa, que parecia assustada ate a morte, falou antes que eu


pudesse.

— O nome dele e Kyle, papai. Ele e amigo de Hendrix.

Ouvir que eu era amigo de Hendrix poderia ser de duas


maneiras. Ou o homem ia me dar um soco ou atirar em
mim. Hendrix, como eu, nao era apreciado pela maioria das
pessoas. Nos dois eramos idiotas. Veio com o territorio.

— Ele estava na casa da vovo e se ofereceu para nos dar uma


carona para casa, ja que todos os outros estavam preocupados. —
Carissa continuou, — e por um bom motivo tambem.

O grande bastardo segurando a arma inclinou a cabeça para o


lado um pouquinho. Seu olhar vagou pelo meu rosto antes de cair
para a camisa azul-marinho do Corpo de Bombeiros de Toluca
County que eu ainda usava. O reconhecimento, seguido de pena,
brilhou em seus olhos.

— Voce e Kyle Tucker. — ele murmurou.

Sem ter que perguntar, sabia o que ele estava pensando.


Ele é o idiota que deixou sua irmã ser assassinada...

— Sim. — eu respondi, raiva correndo atraves de mim. — Este


sou eu.

Ele largou a arma ao seu lado, deixando-a balançar


livremente. Seus olhos se voltaram para Carissa.

— Achei que voce ia me ligar quando voce e Bug estivessem


prontas para voltar para casa?

O olhar nervoso de Carissa passou entre seu pai e eu.

— Algumas coisas aconteceram. EU...

— Que tipo de coisa?

— Heidi e eu estamos bem. — ela correu para dizer. — Mas o ex


de Shelby atirou na casa de Anthony. Nos íamos ligar para voce, mas
Kyle nos ofereceu uma carona. Eu pensei que era melhor do que voce
ter chegado a estrada tao tarde, especialmente desde que voce esta
prestes a ir para a estrada novamente. Eu imaginei que voce tinha
conduçao suficiente para fazer nas proximas semanas.

Eu ri para ela tentando minimizar a situaçao.

O pai dela, Daryl, acho que Hendrix disse que era o nome dele,
estava piscando.

— Voce deveria ter me ligado! — Os olhos de Carissa se


arregalaram com sua voz alta. — Carissa Ann Johnson, bom Deus
todo-poderoso, quando algo assim acontece, a primeira coisa que
voce faz e me chamar!
— Nos tínhamos tudo sob controle. — eu disse, entrando em
cena. O homem era seu pai, e eu nao era ninguem, mas sua voz
levantada me irritou. Ninguem jamais falaria com ela desse
jeito. Nao quando eu estava por perto. Pai ou nao, eu nao tinha
nenhum problema em ir de igual para igual com ele. — Ela esta
bem. Heidi esta bem. Calma, grandalhao.

Daryl parecia que queria me bater. Por um minuto, eu esperava


por ele tambem. Em vez disso, ele cresceu conduzido em minha
direçao.

— Quantos anos voce tem? Voce parece muito mais velho que
qualquer uma das minhas garotas.

Isso é porque eu sou.

— Vinte e seis.

Usando uma expressao estupefata no rosto, Daryl balançou a


cabeça e apontou um dedo solitario em minha direçao.

— Nenhuma das minhas filhas pode namorar ate que elas se


formem na faculdade, entao nao tenha ideias brilhantes na sua
cabeça. Voce me entende?

Eu arqueei uma sobrancelha. Um sorriso torto enfeitou meu


rosto.

— Voce quer dizer que eu tenho que esperar tres anos para
pedir a Carissa para se casar comigo?

Carissa engasgou com o que ela achava que era uma piada.

Pelo contrario, seu pai nao parecia estar longe de ter um ataque
cardíaco.

— Rapaz, se voce sabe o que e bom para voce, voce vai subir de
volta naquele seu Chevy preto brilhante e dar o fora da minha
propriedade. — Ele se virou para Carissa. — E voce... se voce sabe o
que e bom para voce, Carissa Ann, voce vai dizer boa noite antes que
eu seja forçado a atirar... — ele apontou para mim de novo. – ...nele.

Carissa ficou mais alta. Um olhar de desafio cruzou seu rosto.

— Eu vou dizer boa noite assim que voce entrar. — O desafio


em seu tom nao passou despercebido por seu pai ou por mim. — Eu
gostaria de um pouco de privacidade, por favor.

— Cinco minutos. — disse Daryl, olhando de mim para ela,


depois de volta para mim novamente. — Nem mais um segundo. —
Sem outra palavra, ele se virou e entrou na casa, deixando Carissa e
eu sozinhos.

— Sinto muito sobre ele. — ela murmurou. — Ele e um


pouquinho superprotetor e aparentemente um pouco louco.

— Sim. — eu respondi, sorrindo. — Eu entendi.

Nao que eu o culpasse.

Cobrindo o rosto com as maos, Carissa riu suavemente.

— Isso e embaraçoso. Eu nem sei o que dizer. — Ela baixou as


maos e olhou para mim. Quando nossos olhos se encontraram, eu
me perdi em seu olhar. Mais uma vez, a atraçao estava de volta, me
chamando para me aproximar. — Eu nao posso acreditar que ele
disse a voce que eu nao posso namorar. Quero dizer... eu nao quero.
Nao ate eu ganhar meu diploma. Mas ele e louco se ele acha
que você gostaria de sair comigo para começar.

Meu rosto caiu.

Na minha expressao endurecida, o sorriso de Carissa


desapareceu.

Mergulhando a cabeça, ela começou a pegar seu esmalte pela


segunda vez naquela noite.

Antes que eu pudesse me controlar, deslizei minhas maos pelo


seu pescoço suave e segurei sua mandíbula gentilmente. Ela
engasgou quando eu inclinei a cabeça para tras, forçando-a a olhar
para mim. Nossos olhares se trancaram e meu coraçao acelerou.

— Carissa, eu quero muito mais do que sair com voce.

Eu quero te proteger.

Eu quero te manter segura.

Seus olhos se arregalaram.

No entanto, ela nao disse nada.

— Mas se voce quer que eu espere ate que voce termine com o
seu diploma antes de eu te convidar para sair, entao eu vou. — Eu
estava cem por cento serio. Eu sabia o que queria e o que eu queria
era ela. — Nao importa se e um ano, dois, tres. Eu vou esperar.

— Voce vai esperar tanto tempo? — Ela perguntou,


aparentemente confusa. — So para me levar em um encontro?

— Sim, princesa, eu vou.


— Por que?

Eu nao me incomodei em impedir que as palavras


que dançavam na borda da minha língua rolassem.

— Porque... — eu disse. — Hoje a noite, voce virou meu mundo


de cabeça para baixo com apenas um simples olhar.

— Eu? — ela perguntou em descrença.

— So voce. – Eu sorri.

— Eu nao entendo... como eu...

— Entenda isso, garota linda. Um dia... — eu mergulhei meu


rosto na direçao dela, fechando o pequeno espaço entre nos —
...quando voce estiver pronta, vou fazer voce minha.

— Kyle... — Seus olhos se fecharam enquanto respirava


fundo. — Voce vai me beijar agora?

Nao houve hesitaçao da minha parte.

— Claro que sim.

Sem perder mais um segundo, eu pressionei meus labios nos


dela, provando sua doçura pela primeira vez. Envolvendo um braço
ao redor de sua parte inferior das costas, segurei-a firme enquanto
suas maos voavam para os meus ombros.

A dor sempre presente no meu peito diminuiu.

Em seu lugar espalhou calor.

Naquele exato momento, eu sabia a verdade.


Essa verdade? Carissa Ann Johnson era minha salvaçao.

Nao importava que eu tivesse que esperar tres anos para


reivindica-la como minha.

Ate entao eu passaria cada minuto observando-a do lado de


fora.

Protegendo-a de longe.

A espera nao seria facil.

Mas com certeza valeria a pena.


CAPÍTULO 8
Carissa
Três anos depois

Eram 9:03 da noite quando eu bati o ponto.

Bocejando, eu deslizei meu cartao de ponto de volta para o


suporte entalhado que estava pendurado na parede ao lado do
antigo relogio do abrigo. Cansada como poderia estar, eu estava
pronta para ir para casa e mergulhar de cabeça na minha cama. Mas
primeiro eu tinha que dirigir para casa, e isso era algo que eu nao
tinha certeza se poderia fazer com segurança.

Eu estava tão esgotada.

— Voce esta saindo, senhorita Carissa?

Eu me virei ao som da voz de Charlotte, que era minha chefe e


tambem a mae de Hope. Sentada atras de sua mesa, seu cabelo preto
e brilhante puxado para tras em um rabo de cavalo elegante, ela
parecia uma versao mais velha de sua unica filha.

— Sim senhora. — eu respondi. — A menos que voce precise


que eu fique.

Charlotte sorriu para mim.

Eu devolvi um dos meus.

Como Hope, ela irradiava felicidade. Nao importava que


preocupaçao me pesasse, era impossível nao me sentir mais leve em
sua presença. De pe, ela deu a volta na mesa e caminhou na minha
direçao.

— Absolutamente nao. Amanha e um grande dia e voce precisa


de todo o descanso que puder.

Eu tomei folego com a mençao de amanha.

Era um grande dia.

Enorme, na verdade.

Uma miríade de emoçoes golpeou meus nervos, me dominando


com o pensamento. O mais proeminente entre eles: orgulho
misturado com descrença.

— Eu nao posso acreditar que estou me formando. — eu


sussurrei, falando o mais claro dos meus pensamentos confusos em
voz alta. — Nao parece real.

— E melhor voce acreditar. — Charlotte gentilmente segurou


meus braços nus com as maos macias. — Voce trabalhou duro, e eu
estou mais do que pronta para ve-la atravessar esse palco amanha.
— ela disse, seus olhos cheios de orgulho olhando para os meus. —
Voce vai ser uma otima assistente social menina doce, e eu nao
poderia estar mais orgulhosa.

Seu tom, sua voz... ambos me lembravam de mamae.

Uma dor familiar perfurou meu peito na realizaçao.

Uma dor enorme e incessante se seguiu.


Passar por cada dia sem ela ao meu lado era difícil. Mas nao te-
la por perto para ocasioes especiais, como aniversarios, baile de
formatura e formatura, machucava muito.

Quem disse que a perda fica mais facil com o tempo mentiu.

Nao ficou mais facil com o passar dos dias.

Se alguma coisa, ficou mais difícil... mais doloroso.

Charlotte viu as lagrimas enchendo meus olhos


imediatamente.

— Oh, querida. — Sabendo muito bem o que estava errado, ela


me puxou para seus braços e me segurou firme. Eu enterrei meu
rosto contra o ombro dela enquanto um soluço silencioso sacudiu
meu corpo. Descansando uma mao entre minhas omoplatas, ela
deslizou a outra pelo meu cabelo em movimentos lentos e
calmantes. — Esta tudo bem, Carissa. — ela continuou, me
balançando de um lado para o outro. — Deixe tudo sair, baby.

Isso foi precisamente o que eu fiz.

— Eu sinto muito a falta dela. — eu chorei quando meu corpo


tremeu. — Nao era para ser assim... ela deveria estar aqui... co...
migo. — Eu me engasguei com as palavras enquanto elas caíam dos
meus labios em uma sequencia de sílabas gaguejadas e meio
incoerentes. — Ela nao deveria morrer.

Charlotte me apertou mais forte, acalmando minha dor de uma


maneira que apenas uma mae podia.

Foi ao mesmo tempo reconfortante e comovente.


— Eu sei, querida... — Angustia alinhou sua voz. — Eu sinto
muito.

Disso eu nao tinha duvidas.

Se alguem conhecia a agonia da perda, era Charlotte Peterson,


uma mulher que, anos depois de perder o marido para o cancer,
perdeu seu unico filho para a guerra. Como ela saía da cama todas as
manhas era algo que eu nao conseguia entender.

Perder a mae era uma coisa. Mas perder o amor da sua vida,
junto com o seu filho?

Eu nao podia imaginar esse tipo de dor esmagadora.

Precisando me controlar, respirei fundo e engoli toda a minha


dor. Entao eu fiquei de pe, me puxando para tras do aperto de
Charlotte. Suas maos permaneceram em meus ombros antes de
viajar para minhas bochechas. Seus polegares enxugaram as
lagrimas agarradas a minha pele avermelhada.

— Eu sinto muito. — Vergonha rolou atraves de mim. — Eu nao


quis dizer...

— Carissa Johnson. — disse ela, seu tom agudo. — Fofinha, eu


te amo um bocado, mas se voce sequer pensar em se desculpar eu
vou dar um pontape no seu traseiro. Voce me entende?

As palavras de Charlotte eram ferozes.

O olhar no rosto dela era tudo menos isso.

A dor no meu peito diminuiu e eu lutei contra o sorriso que


ameaçava ultrapassar meus labios. Foi uma batalha que perdi.
— Nao, voce nao vai. Hope me contou tudo sobre voce, senhora
chefe.

Uma expressao divertida enfeitou seu lindo rosto.

— Ela fez, nao fez? Bem, ela deveria saber. O ceu sabe que eu
ameacei com palmadas a ela e o pequeno traseiro de Ry mais de uma
vez quando crianças. Nao que eu tenha seguido com isso. — Ela
riu. — Eu juro, aqueles dois fugiram de assassinato. Hope ainda o
faz. Basta perguntar ao meu genro. Ele dira a voce.

Felicidade floresceu no meu peito, extinguindo a dor residual.

Tantas coisas mudaram nos ultimos tres anos.

Uma das maiores foi Evan finalmente puxando a cabeça para


fora do traseiro e se casando com Hope. Juntos, eles compartilham
o filho de dez meses, Ryker, que recebeu o nome de seu falecido
tio. Bonito como um botao, ele capturou meu coraçao no momento
em que o segurei em meus braços.

Para tornar as coisas mais emocionantes, Hope estava pronta


para dar a luz novamente em seis meses.

Desta vez gemeos.

Todo mundo estava na lua, Charlotte especialmente.

Alem disso, como planejado, Hendrix e Maddie se casaram um


mes depois da festa de despedida de Maddie. No dia do casamento,
Maddie deu a luz sua filha, Melody. Dezesseis meses depois, Maci
seguiu sua irma mais velha para o mundo. Elas eram as duas das
garotas mais lindas que eu ja vi. Melody era a imagem de Hendrix
enquanto Maci era a copia de carbono de Maddie.
Ambas eram perfeitas.

Hope e Maddie nao eram as unicas duas cujas vidas tinham


mudado muito nos ultimos dois anos. Dois anos atras, Shelby e
Anthony tinham se casado. Pouco depois de trocarem votos, Shelby
tomou as providencias necessarias para tornar Anthony, o pai legal
de Lucca. Em sua mente, Lucca era filho de Anthony. O fato de nao
compartilharem DNA era um ponto discutível.

Anthony, junto com o sistema judicial, concordou.

Nos meses que se seguiram, eles expandiram sua família


adotando mais duas filhas, as quais precisavam desesperadamente
de um lar estavel e do maximo de amor possível.

A primeira era Ashley, uma fugitiva de dezessete anos que caíra


nas garras do homem errado. Buscando consolo de um cafetao local,
ela apareceu no portao do abrigo, abusada, assustada ate a morte, e
quinze quilos abaixo do peso.

Shelby se apaixonou por ela em um instante.

Anthony tambem o fez.

O segundo pequeno milagre que roubou os coraçoes dos


Morettis foi a preciosa Gracie. Nascida com grandes olhos azuis,
cabelo loiro palido e as bochechas mais gordas que eu ja vi, ela era
tao fofa que deveria ter sido criminosa.

Com apenas nove meses de idade, ela tinha Anthony enrolado


em seu dedo mindinho. Assistí-lo virar mingau cada vez que ele a
segurava em seus braços era uma das coisas mais doces e mais
comoventes que eu ja havia testemunhado.
Eu nunca me cansava de tal visao.

A família Moretti certamente cresceu, mas Ashley e Gracie nao


foram as unicas novas adiçoes. Embora Anthony e Shelby nao o
tivessem adotado, Felix, ou o tio Fe-Fe, como as crianças o
chamavam, era um veterano do Vietna com um coraçao de
ouro. Uma vez desabrigado, ele morou na floresta ao lado do duplex
de ma qualidade em que Shelby morava antes de conhecer Anthony.

Naquela epoca, Shelby era uma mulher com cicatrizes em fuga


de seu ex abusivo, enquanto Felix era um homem ferido que tinha
sido espancado pela vida. Apesar de suas muitas diferenças, eles
encontraram conforto um no outro, formando um elo inquebravel
que duraria para sempre.

Felix agora ocupava o pequeno apartamento acima da garagem


dos Moretti.

Pela primeira vez em quarenta anos, ele tinha uma casa.

E pela primeira vez em toda a sua vida, ele tinha uma família.

— Charlotte, voce viu...

Eu me puxei o resto do caminho dos braços de Charlotte e me


virei ao som de uma voz familiar.

Clara estava na porta do escritorio, com as maos em cada lado


da moldura. Vestindo um enorme sorriso e um vestido estilo boemio
cor de coral que cascateava sobre seu corpo, mostrando sua barriga
de bebe perfeitamente, ela nunca pareceu mais bonita.

Como os outros, o mundo de Clara mudara drasticamente.


Depois de conhecer e se apaixonar por Brantley e Isabella,
irmao gemeo de Evan e sobrinha de quatro anos, tudo mudou em
sua vida para melhor. No espaço de um batimento cardíaco, ela
deixou de ser uma mae solteira de dois meninos, para uma prospera
mae de dois filhos e mais uma filha bonus.

Em poucos meses, ela teria o primeiro bebe junto com Brantley,


uma garotinha.

Depois disso, eles se casariam.

Eu nao podia esperar.

— Eu estava procurando por voce. — disse Clara, com os olhos


fixos nos meus. — Seu homem esta do lado de fora. Evan viu em uma
das cameras de segurança o seu carro.

Meu ritmo cardíaco acelerou.

Embora as coisas ao meu redor tivessem mudado, tres


permaneciam constantes. O primeiro era o meu amor e dedicaçao a
minha família, o segundo era a loucura interminavel de vovo, e o
terceiro era ele…

Kyle Tucker.

Desde que entrou na minha vida, ele estava sempre por perto.

Quando nao estava em turno na estaçao, ele nunca estava longe


do meu lado. Se ele estava esperando do lado de fora do abrigo para
eu sair do trabalho ou sentado em seu banco favorito ao lado do
predio onde eu tinha aulas, ele estava sempre perto, seu olhar atento
procurando por mim.
Para algumas pessoas, papai em particular, achavam que ele era
maluco.

Eu nao achava.

Ele era um pouquinho superprotetor de mim, uma garota que


ele jurou que um dia seria dele? Claro, mas isso nao o deixou louco. O
passado de Kyle era a unica explicaçao que eu precisava para seu
comportamento exagerado. Eu nao entendia por que, mas ele
gostava de mim. Muito. E por ele gostar tanto de mim, ele queria me
manter segura, algo que Hendrix disse que ele sentia porque nao
conseguiu fazer com sua irma.

So de pensar em Lily, senti meu peito como se estivesse


se abrindo.

Vendo a agonia que permanecia nos olhos de Kyle era o


suficiente para quebrar meu coraçao em um milhao de pequenos
pedaços irregulares. Mais de uma vez, eu queria puxa-lo para os
meus braços e aliviar a dor que o mantinha cativo.

Infelizmente, nunca fiz isso.

Kyle jurou que eu nao estava pronta para ele.

No fundo eu sabia que era ele quem nao estava pronto para
mim.

Na noite da despedida de solteira de Maddie eu disse a ele que


nao queria namorar ate depois da formatura.

Na epoca, isso era verdade.

Mas essa verdade nao existia mais.


Nao existia ha muito tempo.

Passar um tempo com ele, mesmo que nossos momentos


compartilhados fossem platonicos, acabara com minha resoluçao,
transformando-a em uma pilha de poeira.

Agora, com a graduaçao a poucas horas de distancia, eu o


queria.

Seriamente.

Nao importava que ele estivesse um pouco quebrado e muito


danificado tambem. Se havia uma coisa que mamae ensinou a Heidi
e a mim quando crianças, era que ate mesmo as pessoas mais
bonitas vinham adornadas com cicatrizes. E nao importa quantas
manchas eles carregassem em suas almas, uma pilha de paciencia e
um suprimento inesgotavel de amor antiquado os faria brilhar
novamente.

Era uma liçao que eu acreditava com todo o meu coraçao.

E por isso que trabalhei tanto para me tornar uma assistente


social.

Eu queria ajudar aqueles que mais precisavam.

O coraçao partido.

O danificado.

O esquecido.

Pessoas como Kyle.

Pessoas como eu.


Observar as pessoas ao meu redor a encontrar a felicidade
depois que alguem decidiu lutar por elas era a unica prova de que eu
precisava daquele amor de cura. Eu posso nao ter sido a mulher mais
forte do mundo, especialmente quando comparada aos que me
cercam, mas eu era tao teimosa quanto qualquer mula, e ja era
tempo de lutar pelo homem que eu queria.

O homem que eu precisava.

Mais de tres anos se passaram desde que Kyle invadiu minha


vida como um furacao, inclinando meu mundo em seu eixo. Com um
beijo ele penetrou na minha cabeça, e depois de dezenas de toques
e química suficiente para acender um fogo no fundo da minha alma,
ele estava perto de roubar meu coraçao sem sequer tentar.

Eu queria roubar o dele em troca.

O unico problema era, antes que eu pudesse roubar o dele, eu


tinha que coloca-lo de volta novamente.

Tudo bem.

Eu tinha a paciencia de um santo, amor suficiente para durar


uma vida inteira e um kit de costura figurativo capaz de consertar as
coisas mais esfarrapadas, ponto por ponto.

A unica coisa que eu nao consegui consertar era o meu proprio


coraçao.

Perder a mamae tinha me quebrado, e testemunhar parte de


papai e de Heidi morrerem no dia em que a colocamos no chao
quebrou as partes que restaram. Desde entao, nao importa o quanto
eu tentei, nao consegui reconstruir a parte mais importante de mim.
Eu tinha pensado, Deus sabe que eu tinha, mas meus esforços
foram em vao.

Agonia, dor, perda de alma...

Eles eram meus companheiros constantes.

Mas pela primeira vez desde que ouvi o coraçao de mamae


bater pela ultima vez, vi a luz no fim do tunel. Como um farol
no escuro da noite, me chamando.

E essa luz era Kyle.

Vovo uma vez me disse que precisava de alguem para ama-lo


mais do que precisava de sua proxima respiraçao. Na epoca, eu me
perguntava se eu poderia ser aquela pessoa que ele precisava mais
do que tudo.

Eu tinha fe que podia.

Kyle pode ter precisado de alguem para lutar por ele, mas eu
tambem.

Onde ele estava quebrado, eu estava estragada e, embora a


agonia o consumisse, a dor me devorava.

Ele estava se afogando em tristeza enquanto eu lutava para nao


desmoronar.

Para ele, eu seria o salva-vidas que ele precisava para se manter


a tona.

E para mim, ele seria a cola que eu precisava para me manter


unida.
— Terra para Carissa. — A voz de Clara me tirou dos meus
pensamentos internos. Pisquei para limpar o nevoeiro que cobria
meus olhos e olhei para ela, encontrando seu olhar de frente. Seus
olhos verdes brilharam e um sorriso tomou conta de seu rosto. — O
que voce esta pensando tao duro, C? — Ela brincou, indo para o
escritorio. Atras da mesa de Charlotte, ela se sentou em uma
cadeira. — Um certo bombeiro chato, talvez?

Eu era tao obvia?

Depois de olhar para o rosto sorridente de Charlotte, eu tive a


minha resposta.

— E impossível nao pensar nele. — Nao havia sentido em negar.

Charlotte riu.

— E sempre assim que começa.

— Essa e a verdade, se eu ja ouvi isso. — concordou Clara. —


Antes de Brantley e eu...

Ela fechou a boca quando um Evan carrancudo entrou no


pequeno escritorio. Quando seus olhos me encontraram, ele cruzou
os braços enormes sobre o peito.

— C, pegue seu traseiro para fora. Tucker esta la fora, andando


de um lado para outro como um animal enjaulado. Ele checou
seu relogio vinte vezes nos ultimos cinco minutos. Juro por Cristo,
ele parece pronto para arrombar a porta da frente.

Eu olhei para o relogio que estava pendurado na parede oposta.

Ele marcava 9:15.


Eu deveria ter saído pela porta dez minutos atras.

— Merda. — Eu virei meu calcanhar e puxei minha bolsa do


cabide ao lado de onde Evan estava. — Desculpe, Ev.

Ele deu um passo para o lado, me dando espaço para sair pela
porta.

— Nao diga desculpa. Apenas saia. — Ele olhou de mim para as


outras senhoras, depois de volta para mim novamente. — Nunca
pensei que existisse um homem mais possessivo do que o idiota do
Hendrix, mas Kyle o bateu por quilometros.

Clara riu antes de cobrir a boca.

— O que? — Evan perguntou, olhando para ela. — E a verdade


e voce sabe disso.

Seu olhar se moveu para Charlotte.

— Hendrix tentaria me destruir se eu ficasse entre ele e


Maddie. — Com os olhos arregalados, ele balançou a cabeça para
tras e para frente. — Mas Kyle? Ele e um tipo especial de
louco. Aquele filho da mae me mataria.

Havia aquela palavra de novo.

Eu odiei isso!

— Ele não e louco. — eu estalei, fazendo com que seu


olho ficasse arregalado.

Eu nunca gritei com ninguem, mas ouví-lo chamar Kyle de louco


acertou um nervo. Nunca em minha vida coloquei minhas maos em
outra pessoa, mas naquele momento meus dedos se contorciam com
a necessidade de dar um tapa no rosto dele. Todos no meu círculo
chamavam Kyle de possessivo e superprotetor... bem, ele nao era o
unico. Ele nao era meu ainda, mas eu estava mais do que disposta a
arrancar os olhos de alguem sobre ele se a situaçao exigisse isso.

Os olhos de Evan caíram para a minha mao tremendo antes de


encontrar meu rosto novamente. Um sorriso torto inclinou os labios
para um canto.

— Voce quer me bater, C?

Mais do que uma vespa presa em uma velha lata de Coca-Cola,


agarrei minhas alças com as duas maos e apertei. Duro.

— Nao chame Kyle de louco de novo, porque ele não e.

Evan abriu a boca para falar, mas Charlotte deu um passo a


frente, posicionando seu pequeno corpo entre o dele e o meu.

— Voce. — disse ela, apontando para Evan, — volte para o


escritorio de segurança antes de eu ligar para a minha filha e dizer
que voce esta dando um tempo difícil para Carissa.

Evan franziu o cenho.

— Me ameaçando com minha esposa. Isso e apenas insensível,


mamae C.

Charlotte deu de ombros.

— Se funciona, entao esta bem. — Clara bufou quando Charlotte


se virou e me encarou. — E voce... — Ela colocou as maos nos meus
ombros. — Voce tira sua bunda daqui. Nos nao precisamos de Kyle
para arrombar a porta da frente e assustar os moradores ate a
morte. — Ela baixou os braços para os lados. — E tenha certeza de
ter uma boa noite de sono. A ultima coisa que quero e que voce
esteja exausta, de manha.

Eu balancei a cabeça em compreensao.

— Eu vou.

Ela me puxou para um abraço e me apertou com força.

— Estou tao orgulhosa de voce, Carissa. — disse ela, repetindo


suas palavras de mais cedo. — Tao, tao orgulhosa.

Eu a abracei de volta, tomando todo o conforto que ela dava.

— Obrigada, senhora chefe.

Charlotte deixou cair os braços e deu um passo para tras,


colocando espaço entre nos.

Eu nao tive tempo de respirar fundo antes que Clara me puxasse


para seus braços. Eu estava tao focada em Evan que nao a vi ficar de
pe na cadeira de Charlotte e atravessar a sala.

— Estou orgulhosa de voce tambem. — Ela me apertou


tao apertado que eu mal conseguia respirar. — Todo mundo esta.

— Obrigada, Red. — eu sussurrei, bem, mais como chiei. —


Estou muito orgulhosa de voce tambem.

Com os braços ainda em volta de mim, Clara se inclinou para


tras, me olhando nos olhos.

— Por que?
Inclinei a cabeça para o lado e encolhi os ombros.

— Por ser uma das mulheres mais fortes que ja conheci. — Cada
palavra era a verdade. Todas as mulheres da minha vida eram
poderosas, mas Clara e Shelby eram duas das mais fortes. Elas
conquistaram tantos demonios, superaram tantos traumas. Eu era
durona, mas eu gostaria de retirar tudo que elas suportaram. — E
por escolher ser uma mae tao boa para Bella, mesmo quando voce
nao tem que ser.

Bella era uma menina tao linda.

Eu a amava tanto.

Kyle tambem. Parte de mim se perguntou se era porque ela


lembrava Lily de alguma forma. Era uma pergunta que eu duvidei
que eu tivesse a resposta tambem.

— Voce esta errada, Carissa. — Os olhos de Clara se encheram


de lagrimas nao derramadas. — Eu nunca tive escolha. Bella pode
nao ter vindo do meu ventre, mas ela sempre foi minha. — Uma
unica lagrima escorregou. — So demorei um pouco para encontra-
la. Isso e tudo.

— Eu sei...

— Eu nao pretendo acabar com o festival de amor que voces


tem... — Evan interrompeu. — Mas, falando serio, C, voce precisa ir.

Com um rolar de meus olhos, eu soltei Clara de meus braços e


dei um passo para tras.

— Eu vou, Ev, nao tenha um derrame.


O alívio atravessou suas feiçoes antes que ele mascarasse e
acenou para a porta ao lado dele.

— Bom. Agora sai daqui.

Eu olhei para Charlotte.

— Voce esta indo amanha, certo?

Ela assentiu, com um sorriso no rosto.

— Keith e eu vamos. Nenhum de nos perderia por nada neste


mundo.

Keith e Charlotte eram outra coisa que mudou nos ultimos dois
anos. Viuvo e viuva, eles se apaixonaram quando menos
esperavam. Pouco depois, Charlotte deixou o emprego no Abrigo das
Mulheres Maltratadas em Memphis e mudou-se para a Georgia para
ficar mais perto de Hope e, por extensao, de Keith. Juntaram-se a
família e agora dividiam um apartamento no ultimo andar do abrigo.

Eu duvidava que demoraria muito para que Maddie e Hope se


tornassem meias-irmas.

Ambas estavam entusiasmadas, como poderia ser com a


perspectiva.

— Bom. — respondi, voltando meu olhar para Clara. — Voce


estara levando Bella e os meninos, certo?

Como Charlotte, ela assentiu.

— Voce sabe que sim.

— Brantley tambem?
— Eu acho que ele nao perderia isso.

— C. — Evan latiu. — Pare de latir, comece a andar.

Eu soltei uma respiraçao irritada e saí para a porta. Depois de


cruzar o limiar, olhei por cima do ombro. Tres pares de olhos
estavam trancados em mim, observando minha partida.

— Eu vou ver voces amanha.

— Amanha, querida. — respondeu Charlotte.

Clara permaneceu em silencio, mas levantou a mao e me deu


um beijo.

Eu soprei um de volta.

Meus olhos encontraram os de Evan.

— Tchau, cabeça grande.

-Ate mais tarde, Tagarela. – Ele sorriu.

Sorrindo, eu segui pelo corredor.


CAPÍTULO 9
Carissa
Pequenas gotas de suor surgiram ao longo da minha pele no
momento em que saí do abrigo. O ar umido da Georgia era denso,
quase sufocante. Horas se passaram desde que o sol mergulhou
abaixo do horizonte, mas a temperatura ainda pairava acima
da marca de trinta graus.

Era miseravel.

Eu empurrei uma mecha de cabelo ja umida e perdida do meu


rosto e virei a esquerda em direçao ao estacionamento. Graças a uma
luz apagada, a parte de tras do estacionamento onde eu havia
estacionado, estava envolta em escuridao, impossibilitando que eu
enxergasse mais de quarenta metros a minha frente. Como Evan
podia ver aquela area na camera de segurança, eu nao sabia.

Mas isso nao importava.

Mesmo que eu nao pudesse ve-lo, eu sabia que Kyle estava la. Eu
podia sentir seus olhos em mim, seu olhar inabalavel em toda a
minha carne. Precisando encontra-lo, e talvez ate mesmo toca-lo,
virei-me pela cintura e puxei a porta do abrigo, verificando se as
travas automaticas haviam se encaixado quando o metal pesado se
fechou atras de mim.

Elas tinham.

Sabendo que os moradores e a equipe estavam a salvo, desci a


rampa de concreto que levava ao terreno coberto de
cascalho. Emoçao se enraizou na minha barriga quando meus
nervos se fizeram conhecidos.

Uma gota de suor escorreu pelas minhas costas enquanto


minha frequencia cardíaca aumentava a cada passo.

Eu saí da luz e fui para o escuro.

Escuridao me engoliu.

Um momento de terror beliscou minha espinha, mas foi


esmagado quando o som de cascalho ressoando reverberou pelo
ar. Eu parei de me mover, meus olhos focados no vazio diante de
mim.

Eu respirei quando Kyle apareceu.

Vestido com uma camiseta preta que se agarrava a ele como


uma segunda pele, jeans escuros que abraçavam suas coxas
musculosas e um bone vermelho que escondia seu lindo rosto, ele
roubou meu folego. Literalmente. Nao importava quantas vezes
tivessemos feito essa dança, ainda acho difícil respirar em sua
presença.

Esse homem será a minha morte.

Um silencio se estendeu entre nos quando nos encaramos, eu


sorrindo como uma idiota; ele olhando para mim com a mesma
expressao seria que ele sempre usava. Eu abri minha boca para
dizer algo, mas fechei quando o cheiro de sua colonia, um perfume
picante que eu nunca me cansava, fez cocegas na ponta do meu nariz.

Ele se aproximou, e o calor que irradiava dele dançou atraves


da minha pele, fazendo minha barriga virar. Depois de traçar cada
uma das minhas feiçoes com o seu olhar, ele levantou a mao e correu
uma unica junta pelo lado do meu rosto, começando na minha testa
e terminando no meu queixo. Arrepios surgiram ao longo dos meus
braços, uma sensaçao suave.

Eu me perguntei quem seria o primeiro a falar.

Era um pensamento que nao precisei ponderar muito.

— Voce tem alguma ideia de como voce e linda? — Ele


sussurrou, deslizando o mesmo no pela minha garganta antes de
passar a ponta do dedo sobre a clavícula exposta. Ele fez uma pausa
onde o topo da minha blusa encontrava minha pele
superaquecida, deixando seus dedos ao longo do decote.
Lentamente deslizando a língua pelo labio inferior cheio, ele olhou
para o lugar onde sua pele tocou a minha, uma expressao que eu nao
conseguia ler em seu rosto. Quando eu nao respondi imediatamente,
ele olhou para cima, encontrando meu olhar semicerrado. —
Responda-me, Carissa.

Minha garganta estava seca, minha boca o equivalente a uma


lixa; ainda assim seu tom exigente foi o suficiente para me fazer
falar.

— Nao. — eu respondi. — Eu nao sei.

Seus olhos se estreitaram um pouco.

— Acho que isso significa que eu preciso trabalhar mais.

Antes que eu pudesse responder, sua palma calejada subiu na


frente da minha garganta, parando no meu queixo.
Meus olhos se fecharam com a sensaçao.

Kyle se aproximou, derrubando meus sentidos. Ter ele perto me


fez sentir desequilibrada, como se o mundo ao meu redor mudasse
quando seu corpo estava perto do meu.

Precisando me estabilizar, minhas maos voaram para o peito


dele. Meus dedos agarraram o tecido de sua camisa de algodao
macio, segurando-o com força.

— Kyle. — Minha voz estava baixa, mal audível. — O que voce


esta fazendo?

Mesmo com os olhos fechados, senti seu rosto se inclinar em


direçao ao meu.

Minhas palpebras se abriram em resposta.

Eu preciso ver ele...

A mao de Kyle se moveu de novo, so que desta vez escorregou


no meu cabelo. Ele segurou minhas mechas loiras, segurando-as
com força. Puxando um pouquinho, ele inclinou minha cabeça para
tras, movendo nossos rostos muito mais perto. Por um breve
segundo, achei que ele levaria meus labios com os dele.

Eu estava errada.

Um leve desapontamento deslizou por mim quando ele


pressionou um beijo na minha testa, deixando seus labios
saborearem minha pele corada. Foi um movimento tao doce, que
muitos argumentariam que Kyle nao era capaz, mas isso me deixou
querendo o que ele nao tinha dado.
Desde que ele e eu nos conhecemos, nos so compartilhamos um
unico beijo.

Naquela epoca, eu ansiava por mais dele, queria qualquer coisa


que ele desse, mas eu nunca fiz nada. Minha vida, meu diploma, eles
tinham precedencia. Agora que a escola acabou, e as coisas
melhoraram em casa, bem, mais ou menos, nada me impedia de ir
atras dele, a unica pessoa que fazia meu corpo doer e meu coraçao
querer.

Usando sua camisa para puxa-lo para mais perto, eu sussurrei.

— Isso nao e justo, voce sabe.

Kyle se afastou um pouco, seus olhos procurando os meus.

— O que nao e justo?

Eu respirei um pouco.

— Ter seus labios tao perto dos meus, mas nao conseguir prova-
los.

Foi a vez de Kyle respirar fundo. Apertando a mandíbula com


força, ele esperou um momento antes de falar.

— Voce nao tem ideia, nao e, princesa?

Obviamente nao.

Me chame de sincera, mas eu o queria e ele me queria; portanto,


nao entendi porque ele nao me beijava.

Talvez eu deva tomar as rédeas...


Mas e se ele não me quiser como eu o quero?

Um momento de duvida insinuou-se, esmagando meus


pensamentos internos. Sentindo-me autoconsciente, afundei meus
dentes no meu labio inferior, mastigando nervosamente a carne
gorducha.

— Voce nao quer me beijar?

Descrença brilhou nos olhos de Kyle.

— Voce tem que estar brincando. — Eu nao estava brincando e


julgando pela expressao que varreu em seu rosto que a verdade era
obvia. — Carissa, querida, eu quero te beijar mais do que tudo.

Minha frustraçao aumentou.

— Entao por que voce nao faz?

Seu aperto no meu cabelo apertou, mas em vez de sentir uma


mordida de dor como eu esperava, uma emoçao aguda correu
atraves de mim, fazendo meus dedos ondularem. Por mais cliche
que pareça, meus joelhos pareciam fracos, e eu poderia jurar que
meu coraçao iria bater direto do meu peito.

— Porque..— ele envolveu seu braço ao redor da minha parte


inferior das costas, segurando-me firme — ...se eu tomar sua boca
agora, nao serei capaz de parar ate que eu possua cada centímetro
de voce.

Eu cavei minhas unhas em seu peito, me ancorando a ele.

— Entao nao pare... eu nao quero... — Minha voz sumiu


enquanto eu tentava formar palavras que nao vinham. Meu cerebro
virou mingau. — Quero dizer, eu nao vou pedir para voce.

— Carissa. — ele gemeu. — Inferno, voce nao pode dizer...

— Pelo amor de Deus, cara. — uma voz masculina interrompeu,


— arrume um quarto.

O olhar que apareceu no rosto de Kyle era pura raiva. Por um


momento, temi pela pessoa que se intrometeu em nosso momento
particular. Ele soltou meu cabelo e soltou o braço das minhas
costas. Ele entao se virou, olhando para a direçao em que a voz veio,
que meu cerebro nebuloso reconheceu, mas nao conseguiu localizar,
de onde veio.

— O que voce esta fazendo aqui, Jacobs?

Eu estava quase revirando os olhos com a mençao do nome de


Ty.

Ele e Kyle podem ter sido amigos íntimos desde a infancia, mas
ele me irritava. Por que? Porque toda vez que ele via Heidi, seus
olhos demoravam mais do que deveriam.

Ate cego pode ver seu interesse por ela.

A maneira como ele a observava me lembrava de um lobo


perseguindo um cordeiro.

Eu nao gosto disso.

De modo nenhum.

Quando criança, Ty nao passava de um valentao. Heidi, por


outro lado, foi atormentada por pessoas como ele durante toda a
escola. Ele pode ter se tornado um homem decente, mas eu vi o
suficiente para saber que ele ainda tinha muito amor em seu
coraçao, e eu nao o quero perto da minha irma.

Diferentemente de mim, Heidi nao consegue ver a dor e se


calar. Ela usa o coraçao na manga e se sente atraída pelas almas mais
sombrias, da tudo para quem precisa, nunca pedindo nada em troca.

Um homem como Ty a destruiria em um piscar de olhos.

Eu me recuso a permitir isso.

Heidi merece o melhor.

Ponto final.

Ty se aproximou. Com os olhos fixos em Kyle, ele levantou uma


pilha de papeis brancos.

— Papaw queria que eu largasse isso com Charlotte antes de eu


ir para casa.

O avo de Ty, ou papaw como ele o chamava, era dono de uma


empresa de segurança privada chamada First Defense. Eles
forneciam aos moradores do abrigo transporte gratuito de qualquer
lugar para o hospital, o tribunal, a delegacia de polícia, etc. Quando
ele nao estava no turno da estaçao 24, o mesmo quartel dos
bombeiros em que Kyle, Hendrix e Pop trabalhavam, Ty estava
ajudando nos transportes.

Embora ele nao fosse minha pessoa favorita, admito que ele era
bom em seu trabalho. Ele fez nossos moradores se sentirem seguros,
e isso nao era uma tarefa facil. Por isso, ele tinha minha eterna
gratidao; embora ele ainda nao tivesse a minha bençao para
perseguir minha irmazinha.

Os olhos de Ty se moveram para mim.

— Ei voce.

Eu olhei para ele.

— Oi.

Uma expressao divertida atravessou seu rosto.

— Tente conter sua emoçao ao me ver, Carissa. — Ele riu antes


de olhar para tras de mim. — Onde esta Heidi?

Minha pele se arrepiou.

— Ela esta fora com seu namorado. — eu menti, agindo como


uma pirralha total. Era fora do personagem para mim e
desnecessario. Eu posso nao ter pensado que Ty era certo para
minha irma, mas ele nao merecia minha hostilidade.

O rosto de Ty endureceu imperceptivelmente.

— Namorado?

Permaneci muda, recusando-me a mentir.

— Quem e ele? — Ty continuou, raiva alinhando sua voz.

Eu engoli, sentindo arrependimento subir na minha garganta.


Eu odiava mentirosos. Odiava-os com uma paixao e ainda assim eu
me tornaria uma. Nao ficou bem comigo e mesmo que isso me
fizesse parecer uma tola, na frente de ninguém menos que Kyle, eu
tinha que consertar o que eu tinha acabado de estragar.
Meus pais me criaram melhor do que isso .

Mamãe rolaria em seu túmulo...

Forçando um sorriso, eu joguei meu cabelo para tras sobre o


meu ombro direito.

— Eu so estou brincando. — Essa expressao soou muito melhor


do que, eu sou uma grande mentirosa. — Heidi esta em
casa. Provavelmente dormindo. Ela saiu ha algumas horas atras.

Kyle alcançou atras dele e agarrou meu quadril, dando um leve


aperto.

Eu rezei para que minhas açoes nao o fizessem pensar menos


de mim.

As características de Ty relaxaram.

— Nao sozinha, espero.

Eu balancei a cabeça.

— Claro que nao. Eu nunca a deixo sozinha a noite. Se tiver que


trabalhar ate tarde, ela fica com uma das outras senhoras ate eu
sair. De qualquer forma... — eu acenei com a mao com desdem —
Papai esta la. Ele saiu da estrada ha algumas horas atras.

Ty assentiu.

— Apenas checando.

Kyle, que permaneceu em silencio durante a troca de Ty e eu,


soltou meu quadril e segurou minha mao, entrelaçando nossos
dedos juntos. O calor de sua palma me confortou, fazendo dissipar o
mal-estar que eu sentia.

— Por que voce nao vai para dentro? Voce ja ocupou o


suficiente o nosso tempo. Eu preciso levar minha garota para casa.
— Sua mao apertou a minha. — Ela tem um grande dia amanha.

Mais do que familiarizado com o comportamento de Kyle, Ty


riu, deixando o comentario rude sair de suas costas.

— Sim, graduaçao, eu sei. Voce tem se gabado sobre isso nos


ultimos tres meses para quem quiser ouvir. Estamos todos
conscientes, cara, confie em mim.

Choque começou e antes que eu pudesse para-lo, a unica


pergunta que ricocheteava ao redor do meu cerebro saiu da ponta
da minha língua.

— Ele esta se gabando de mim?

As costas de Kyle ficaram rígidas em resposta.

Ty, entretanto, ele sorriu.

— Sim. — Seus olhos voaram para Kyle, que agia como um


sentinela na minha frente, quase me bloqueando da visao de Ty,
antes de voltar para mim novamente. — Inferno, Carissa, voce e
a única coisa que ele fala.

Eu fiquei sem palavras.

O unico som que consegui foi um pequeno guincho quando Kyle


se virou e deu um passo para tras. Curvando-se na cintura, ele
envolveu um braço forte ao redor da parte de tras das minhas coxas
e empurrou um ombro largo na minha barriga.

Eu nao percebi o que ele estava fazendo ate meus pes deixarem
o chao.

Posicionada sobre o ombro, minha bunda no ar, olhei para o


chao de cascalho debaixo de mim enquanto nos movíamos.

— Oh meu Deus! — Eu gritei, sem saber se deveria estar


envergonhada ou excitada. — Kyle, me coloque no chao!

Ele permaneceu em silencio.

Ty riu quando passamos por ele, indo em direçao ao fundo do


estacionamento.

— Mais tarde, idiota.

— Depois,

— Ate mais, Carissa.

Com medo, de que Kyle me largaria, eu nao disse nada.

Minha parte superior do corpo saltou um pouco quando as


longas pernas de Kyle engoliram o espaço entre nos e seu caminhao,
que estava estacionado ao lado do meu carro. Quando chegamos ao
espaço entre os dois veículos, eu pensei que ele iria me colocar para
baixo para que eu pudesse tirar minhas chaves da minha bolsa e
abrir minha porta.

Eu estava errada.

Abrindo a porta do passageiro de seu caminhao, Kyle me sentou


no banco. Antes que eu pudesse perguntar o que ele estava fazendo
no mundo, ele agarrou meus quadris e me torceu, entao eu estava de
frente para o para-brisa. Com maos capazes e movimentos
graciosos, ele puxou o cinto de segurança pela minha frente,
trancando-o no lugar.

— Voce percebe que meu carro esta ao nosso lado, certo? — Eu


provoquei. — Quero dizer, eu sei que esta escuro e tudo mais...

— Voce nao esta dirigindo. — ele interrompeu, sua voz


severa. — Eu sei que voce esta exausta, baby. Esta escrito em todo o
seu belo rosto. — Agarrando o lado do meu pescoço, ele descansou
o polegar contra o meu ponto de pulsaçao. — Eu serei amaldiçoado
se eu deixar voce dirigir assim. Se voce cair no sono e entrar em um
acidente... — Sua voz sumiu. Soltando a mao, ele fechou os olhos com
força. Um tormento se espalhou por seu rosto, revelando o fato de
que ele estava pensando em coisas que ele nao deveria.

Doeu em mim ver.

Precisando lavar a agonia que o consumia, eu segurei seu rosto


com as maos, acariciando suas maças do rosto altas com meus
polegares.

— Kyle. — eu sussurrei, — olhe para mim. — Seus olhos se


abriram. A emoçao que se formava em suas íris escuras fez minhas
maos tremerem. Eu odiava que ele sentisse tanta dor.

Determinada a aliviar isso, eu me inclinei para frente e


pressionei meus labios em sua mandíbula. A adrenalina correu
atraves de mim, diminuindo meus nervos fragilizados. Kyle
congelou, e eu me afastei, trancando os olhos com ele mais uma vez.
— Voce nao precisa explicar isso. Eu compreendo.

E eu fazia.

Sinceramente.

— Nada... — Cerrando as maos em punhos apertados, ele


exalou. — Nada pode acontecer com voce, Carissa. — Eu abri minha
boca para falar, mas ele continuou falando, nao me dando a
chance. – Nunca!

— Kyle...

— Voce e a unica coisa boa na minha vida. — Meu coraçao se


inchou e quebrou em sua admissao. — Eu nao posso perder voce
tambem.

Com o queixo tremulo, eu pisquei de volta as lagrimas que


ameaçavam derramar minhas bochechas.

— Voce nao vai me perder. — Não, se eu tiver alguma coisa a


dizer sobre isso. — Prometo.

As maos de Kyle envolveram minhas coxas externas. Elas se


moveram para cima, parando abaixo da minha caixa toracica. Meu
peito subiu e desceu em rapida sucessao quando ele baixou a cabeça,
pairando seus labios acima da junçao sensível do meu pescoço.

— Bom. — Ele sussurrou, seu halito quente em minha carne


macia. Eu queria que ele me beijasse tao mal, mas ele nao o fez. —
Porque amanha, princesa... — ele fez uma pausa — ...voce
sera minha.

De pe, ele deu um passo para tras.


Sem dizer outra palavra, ele bateu a porta e passou a frente do
caminhao, me observando o tempo todo atraves do para-brisa. Em
poucos segundos, ele subiu e ligou o motor. O caminhao ficou em
silencio, exceto pelo zumbido do ar-condicionado quando saímos do
estacionamento e viramos a direita na rua que nos levaria para fora
da cidade e para minha casa.

Kyle estendeu a mao pelo assento e pegou minha mao na dele.

Como antes, ele juntou nossos dedos.

Calor espalhou-se atraves de mim, e eu relaxei no assento de


couro enquanto seu calejado dedo acariciava as costas da minha
mao. A exaustao que havia me atormentado nas ultimas horas
voltou e meus olhos se fecharam.

Em poucos segundos, eu estava dormindo.

Trinta minutos depois

Braços fortes me carregaram para casa.

A porta de tela maltratada, a mesma que papai ainda nao tinha


conseguido consertar, guinchou e depois se fechou atras de nos
quando Kyle e eu nos movemos para a casa e subimos as
escadas. Seus passos de botas junto com o rangido dos pisos de
pinho de cem anos eram os unicos sons a serem ouvidos enquanto
nos movíamos pelo corredor em direçao ao meu quarto.

A casa estava em silencio; todo mundo estava dormindo.


Isso era obvio quando papai nao começou a gritar com Kyle por
me carregar e, em troca, Heidi nao começou a reclamar com papai
por ter gritado com Kyle.

Suspirei de alívio quando minhas costas bateram nos lençois de


algodao que cobriam minha cama.

Kyle riu enquanto tirava os sapatos que cobriam meus pes


cansados, primeiro um, depois o outro. Depois de larga-los no chao
ao lado da cama, ele pressionou um joelho na borda do colchao e se
inclinou sobre mim, enjaulando meu corpo com o seu muito maior.

De repente, bem acordada, meus olhos semicerrados se


abriram.

Peito pairando sobre o meu, ele olhou para mim, um enorme


sorriso em seu rosto bonito.

Eu vi muita beleza na minha vida, mas nada comparado ao seu


sorriso.

Era ao mesmo tempo comovente e delicioso; alma despedaçada


e doce.

Eu amei.

— Lembre-se do que eu disse, Carissa. — ele sussurrou. —


Amanha...

— ...Eu serei sua. — eu terminei por ele, dando-lhe um sorriso


meu proprio.

— Voce e muito boa. — Inclinando-se, ele beijou minha testa


pela segunda vez naquela noite. Seus labios demoraram, provando
minha pele. Quando ele se afastou, ele olhou para mim uma ultima
vez. — Boa noite, linda.

— Boa noite.

Parando na porta, ele se virou e apoiou as maos em cada lado


da moldura.

— Eu estarei aqui na primeira hora da manha para busca-la.

Meus olhos brilharam.

Papai teria um ataque total. Ele estava decidido a me levar para


a cerimonia, mas parecia que Kyle tinha outros planos.

Isso não vai acabar bem...

— Nao se preocupe com Daryl. — continuou Kyle, lendo meus


pensamentos. — Eu vou lidar com ele.

Eu balancei a cabeça, sabendo que ele faria.

Papai e Kyle podem ter batido de frente constantemente, um


deles ainda me via como sua filhinha, enquanto o outro me via como
sua garota, mas Kyle sempre encontrava um jeito de acalmar o velho
e mal-encarado conhecido como meu pai.

Como ele faz isso, eu nao tenho a menor ideia.

Era um feito que ninguem realizou desde... bem, mamae.

— Mil, cento e quarenta e seis. — disse Kyle, tirando-me dos


meus pensamentos.

— O que? — Eu pisquei, com os olhos turvos, e um pouco


confusa.

Soltando as maos do quadro, ele beliscou o labio inferior entre


dois dedos.

— Isso e quantos dias eu esperei por voce, Carissa. — Meu


coraçao começou a bater. — E voce valeu cada segundo.

Oprimida pela emoçao, meus olhos se fecharam.

Respirando baixinho, sussurrei de volta:

— Voce tambem valeu a pena.

Quando abri os olhos novamente, ele se foi.


CAPÍTULO 10
Kyle
Lar. Doce Lar.

Temor se agitou na boca do meu intestino enquanto eu olhava


para o tapete marrom de boas-vindas debaixo dos meus pes. As
fibras estavam gastas; a cor desapareceu. Deveria ter sido jogado
fora ha muito tempo, mas isso nunca aconteceria.

Enquanto a casa permanecesse, o tapete permaneceria.

E assim que mamae queria.

Segurando uma duzia de rosas amarelas em uma mao, usei a


outra para abrir a porta de vitral na minha frente. A bile subiu na
minha garganta quando eu girei a maçaneta e a empurrei para abrir.

Eu so havia dado um passo no foyer quando a primeira


memoria bateu. A risada fantasmagorica de Lily soou, seguida pelo
som de seus passos enquanto descia as escadas, os sapatos
desgastados batendo contra os degraus de carvalho. Kyle! O grito
dela soou distante, abafado. Venha brincar comigo!

Uma dor misturada com raiva cortou meu coraçao como um


bisturi quente.

Era agonizante.

Eu vindo aqui hoje, horas antes da formatura de Carissa era um


erro.

Um grande erro.

Eu precisava sair, respirar.

Eu me virei, pronto para sair, mas congelei quando os passos


suaves de minha mae chegaram aos meus ouvidos.

— Kyle. — disse ela atras de mim, o coraçao sempre presente


que alinhava sua voz clara. — O que voce esta fazendo aqui?

Meu aperto nas rosas se aumentou.

Eu segurei o fundo do meu pescoço com a mao livre e cerrei os


dentes de volta enquanto olhava para o jardim da frente onde Lily e
eu ficavamos sentados. Localizado entre a caixa de areia e a cerca
branca, suas tabuas estavam podres, os balanços
quebrados. O escorregador azul desbotado estava faltando pedaços
de plastico e inclinado para um lado. A caixa de areia, a posse mais
preciosa de Lily, estava vazia ha muito tempo sem areia.

Um grande pedaço de terra seca para vasos ficava a esquerda


da caixa de areia, o unico item que restava da preciosa roseira de
mamae. Ha muito abandonada, os arbustos estavam nus, as flores
inexistentes.

Um lembrete de tudo que eu perdi, eu nao aguentava ver nada


disso.

Isso me matou por dentro.

— Eu queria ver voce. — eu disse, virando-me, trazendo mamae


e eu cara a cara.
A visao dela fez a dor no meu peito aumentar dez vezes.

Cabelos secos, grisalhos.

Cansados, olhos castanhos.

Sorriso inexistente.

Minha mae era uma casca de seu antigo eu.

Eu levantei o buque embrulhado em celofane, mostrando-lhe as


rosas.

— Eu trouxe estas para voce. — Eu esperava como o inferno,


nao, eu rezei como o inferno, que elas a fariam sorrir. — Eu sei que
elas sao suas favoritas.

Mamae permaneceu muda, imovel, com as pupilas desprovidas


de emoçao.

Outra oração continua sem resposta...

— Eu queria parar e ver se voce precisava de alguma coisa antes


de sair para o dia.

Silencio.

Lutando para permanecer paciente, fechei a porta da frente e


atravessei o vestíbulo.

— Vamos la, mamae. — Eu enfiei uma mecha de cabelo


selvagem atras da orelha. — Deixe-me fazer algo para voce comer
antes de ir. Voce tem comida? Se nao, posso correr...

— A despensa ainda esta cheia de mantimentos que voce


entregou no início desta semana.

Minhas sobrancelhas se uniram. A ultima vez que eu tinha


mantimentos entregue a ela foi mais de duas semanas antes. Se a
despensa ainda estivesse cheia, so poderia me fazer uma coisa.

— Voce comeu o suficiente?

Um olhar para a estrutura ossea dela e eu tive a minha resposta.

— Eu como muito bem.

Era uma mentira maldita.

— Mamae, voce tem que comer. — Irritaçao dançou debaixo da


minha pele. — Se voce nao fizer isso, voce vai ficar doente.

Sem responder, ela enfiou as maos nos bolsos do roupao,


caminhou ate a sala de estar e sentou-se no centro do sofa. Era o
mesmo sofa que Lily e eu tínhamos passado incontaveis tardes,
assistindo filme apos filme. Sua manta favorita ainda estava sobre as
almofadas de tras, o travesseiro em forma de Nemo ainda estava
encostado no braço da cadeira.

Eu desviei meu olhar, recusando-me a olha-los.

Mamae descansou as maos nos joelhos e olhou para a lareira


vazia a sua frente.

— Eu nao me importo se eu ficar doente. — disse ela, sua voz


monotona. — Seria melhor se o bom Deus me tomasse agora. Estou
cansada de viver assim. Meu coraçao nao aguenta muito mais.

Larguei as rosas na almofada ao lado dela e me ajoelhei diante


dela. Com movimentos suaves, eu peguei suas maos nas minhas
e balancei meus polegares ao longo dos nos dos dedos.

— Nao fale assim.

Suas palavras me cortaram profundamente.

Talvez esse fosse o ponto...

— Sinto muito, Kyle. — Incapaz de suportar o meu toque, ela


puxou as maos das minhas e entrelaçou os dedos. — Eu nao quero
chatear voce. Eu apenas sinto muita falta da minha doce menina.

Um caroço formou na minha garganta.

Culpa definida em mim.

Eu me forcei a olhar para o lado de Lily no sofa.

Eu merecia ser lembrado do que fiz pelo resto da minha vida.

Ela está morta por minha causa.

— Seu aniversario esta chegando.

O lembrete era desnecessario. Era uma data que eu nunca


esqueceria.

— Eu sei.

— Eu pensei em fazer um bolo para ela. — Ela assentiu com a


cabeça, acrescentando enfase as suas palavras. — Talvez levar para
o cemiterio e deixar em sua lapide.

Eu nao queria fazer parte disso, mas se e o que mamae queria


ou precisava fazer, entao eu nao a impediria. Todos sofreram de
maneira diferente. Mamae fez isso muito mais difícil do que a
maioria.

— Voce quer que eu leve voce?

Ela puxou o queixo para baixo uma vez em afirmaçao.

— Eu apreciaria.

— Eu vou leva-la entao. Tudo o que voce precisa ou quer, voce


sabe disso.

Uma expressao que reconheci passou pelo rosto dela. Eu


imediatamente me arrependi das palavras que eu havia
falado. Totalmente consciente do que ela estava prestes a dizer, ou
ao inves disso, perguntei, eu me levantei, girei no lugar e atravessei
a sala, parando em frente a lareira. Eu descansei meus punhos
brancos no manto e olhei para a foto de família emoldurada em ouro
que estava pendurada na parede na minha frente.

O desejo de pega-la com ambas as maos e bater no chao ate que


ele quebrasse era forte, mas o bem que permaneceu em mim se
recusou a faze-lo. Mesmo que a foto abrigasse um homem que eu
odiava com cada pedacinho do meu coraçao levantado, eu nao
destruiria algo que tivesse o rosto da Lily nele.

De jeito nenhum.

— Nao me peça para ve-lo, mamae. — eu rosnei, minha raiva


obvia. — Eu nao vou fazer isso. — Eu me virei, encarando a cabeça
dela. Com os braços cruzados sobre o peito, olhei para a mulher que
costumava ser tao cheia de luz e felicidade que irradiava de sua
alma. Agora, envolta na escuridao de sua dor e miseria, ela nao era
nada como a mae que eu conheci uma vez.

Quando a Lily morreu, perdi mais do que a minha irmazinha.

Eu tambem perdi a mamae.

E meu pai? Eu perdi esse filho da puta tambem.

— Ele e seu pai, Kyle. — mamae sussurrou, as lagrimas em sua


voz.

O ar na sala mudou, tornando-se mais pesado, quase sufocante.

Incapaz de controlar a raiva que se infeccionou dentro de mim


como uma fervura cheia de pus, explodi.

Eu nao podia mais segurar meus sentimentos de frustraçao e


traiçao.

Eu tive o suficiente e estava acabado.

Perdido na raiva que me consumia, dei dois passos a frente e


bati minhas maos com punhos na mesa de centro.

A madeira se despedaçou, a estrutura se partiu.

Detritos caíram no ar e atravessaram o chao empoeirado.

— Kyle! — Mamae gritou, jogando-se de volta sobre as


almofadas.

Mais furioso do que eu estava ha muito tempo, peguei um


pedaço de madeira quebrada e bati contra o chao sob os meus pes.

— Foda-se... — levantei-a no ar e esmaguei-a contra a madeira


de novo — ...ele!
— Kyle! — Mamae chorou. — Acalme-se!

Eu congelei; meu olhar foi para minha mae.

— Calma? — Perguntei, incredulo. — Voce esta me dizendo


para me acalmar? — Eu joguei a peça quebrada na sala, observando
quando ela bateu na parede oposta antes de pegar outra. — Voce
deveria ter dito a ele para se acalmar no dia em que, sozinho, ele
arruinou o que sobrou da porra da minha vida!

Mamae levantou-se do sofa e agarrou o cinto do roupao. De


olhos arregalados, ela olhou para os pedaços da mesa quebrada
antes de olhar para o mesmo retrato de família que eu estava
olhando momentos antes.

Meu estomago se contorceu em uma duzia de nos.

A dor so me enfureceu ainda mais.

— Mas voce nao fez isso! — Eu continuei a gritar.

Eu derrubei a madeira no chao e fechei o espaço entre


nos. Mamae nao me deu atençao. Como sempre, sua atençao era
focada sobre ele, o bastardo que nao merecia um segundo
pensamento dela, muito menos meu.

— Olhe para mim. — eu exigi. Nao afetada pelo meu tom


aspero, seus olhos nao se desviaram da imagem. Desesperado por
uma resposta, mesmo que fosse um tapa na cara, eu bati no peito
com a mao em punhos duas vezes como um psicotico enfurecido. —
Olhe para mim, mamae! Olhe para o seu unico filho!

O silencio reinou.
Nada alem do som da minha respiraçao pesada encheu a sala.

— Tudo bem, porra, me ignore!

Consciente de que eu estava lutando uma batalha perdida,


chutei os pedaços quebrados de madeira para fora do caminho e
pisei em direçao a porta da frente. Depois de abrir com tanta força
que as dobradiças gritaram, parei e olhei para a mulher que tanto
amava e me odiava.

Ainda de frente para a lareira, ela nao se importava que eu


estivesse saindo.

Por que ela iria? Eu fui responsavel pela morte de sua filha
favorita.

— Eu percebi que nao sou importante para voce, para o papai.


— eu disse, meu peito subindo e descendo em rapida sucessao, —
mas eu tentei, mamae... — Um vício apertou em torno da minha
garganta, tornando quase impossível respirar, muito menos falar. —
Eu tentei muito duro salva-la!

A cabeça de mamae caiu para frente e seus ombros se


sacudiram quando um soluço silencioso sacudiu seu corpo quase
sem vida. Eu queria ir ate ela, puxa-la para os meus braços, mas nao
fazia sentido. Ela so me afastaria, me destruindo ainda mais.

— Kyle, voce nao entende. — Seu sussurro foi tao quieto que foi
um milagre que eu ouvi. — O que seu pai disse, o que ele fez...

Nojo rolou atraves de mim.

— Como voce pode defende-lo? — Eu gritei, minha voz ficando


mais alta a cada palavra. — Depois do que ele disse para mim no dia
em que ele saiu, como voce pode ficar la e tentar desculpar suas
malditas açoes?

Um interruptor virou na minha cabeça.

As lembranças daquele dia, o segundo pior da minha vida,


ressurgiram.

Tudo voltou correndo.

As palavras cheias de veneno do papai.

O odio que se formava em seus olhos tempestuosos.

Incapaz de para-lo, deixei a memoria tomar conta.

Dezessete anos antes

Era um sabado, exatamente tres meses depois da morte de Lily.

Eu estava de pe no meu quarto, de costas para a parede


leste. Papai estava na minha frente, suas maos tremulas segurando
a frente da minha camisa. Completamente enfurecido, ele olhou
para mim, uma expressao de repulsa cheia de nojo. Atras dele,
mamae estava na porta, os braços em volta de seu corpo
fragil. Lagrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ela assistia
silenciosamente a cena antes de ela se apresentar.

Eu estava com tanta raiva dela.

Ela deveria me defender.


Ela deveria me proteger.

Ela nao fez nenhum dos dois.

Com medo na minha mente, eu gritei quando papai me


empurrou para tras, batendo contra a parede. Meu cranio
ricocheteou no gesso, fazendo minha cabeça girar.

— Voce me deu sua palavra! — Ele gritou, cuspe voando de sua


boca. — Voce me prometeu que cuidaria da sua irma, que cuidaria
dela! — Abri a boca para falar, mas as palavras nao cediam. — Voce
mentiu!

— Eu... — eu comecei.

— Nao! — O volume de seus gritos cresceu. — Nao ha nada


que voce possa dizer. Nenhuma maldita coisa! — Ele respirou fundo
e segurou minha camisa com mais força. Minha cabeça estalou em
sua direçao quando ele me empurrou para frente, fazendo meu
pescoço estalar. Por um segundo pensei que estava quebrado. Nao
estava, mas assim que ele falou de novo, eu gostaria que estivesse. A
morte teria sido uma bençao em comparaçao com a semente
rançosa que ele estava prestes a plantar profundamente em minha
alma. — Deveria ter sido você!

Eu congelo.

Meu coraçao se apertou.

Meu mundo desmoronou.

Ele não queria dizer isso, eu disse a mim mesmo.

Mas ele quis dizer isso.


Todas as palavras.

— Papai? — Lagrimas caíram dos meus olhos.

Suas feiçoes suavizaram um pouco antes de endurecer


novamente. O odio que fluía dele em ondas era inconfundível. Ele me
amou uma vez, mas esse amor morreu com a Lily.

— Minha garotinha se foi e e tudo culpa sua. — disse ele,


soltando minha camisa. — Eu nao posso mais olhar para voce.

A frieza penetrou em meus ossos quando ele se virou e foi


embora.

Com suas palavras vas demorando entre nos, ele desceu as


escadas, pegou as malas ja prontas que estavam no hall de entrada e
saiu pela porta da frente, abandonando o que restava de sua família.

E era tudo por minha causa.

Meu erro nos custou tudo.

— Kyle. — a voz baixa de mamae me levou de volta ao presente.

Eu virei minha cabeça em sua direçao.

Ela ja nao olhava para a foto acima da lareira.

Em vez disso, ela olhava diretamente para mim, um olhar


quebrado em seu rosto.

Incapaz de me conter, fiz uma pergunta que nao tinha certeza


se queria a resposta.

— A merda que papai disse naquele dia... voce concordou com


ele, nao foi? — Eu nao dei a ela uma chance de responder antes de
continuar. — Voce gostaria que tivesse sido eu. Assim como o papai,
voce queria que fosse a minha morte em vez da de Lily. Diga,
mamae... diga as palavras que seu coraçao ja esta sentindo!

Ela nao disse nada, mas nao importava.

A verdade estava em seus olhos.

Qual verdade? Deus pegou a criança errada.

Meu estomago revirou; eu estava prestes a vomitar.

No fundo da minha mente, eu sempre soube como ela se sentia,


mas ter esse sentimento confirmado era como um soco direto na
cabeça. Isso me deixou cambaleando, instavel em meus pes.

Emocionalmente cru e de merdas para dar, forcei meu rosto a


permanecer passivo, escondendo a dor lancinante que me corroía,
destruindo-me peça por peça.

— Eu nao culpo voce, mamae. — eu respondi, pisando na


varanda. — Porque eu com toda maldita certeza gostaria que tivesse
sido eu tambem.

Sem outra palavra, eu fechei a porta com força. Duro.

Eu atravessei a varanda, desci os degraus e fui para a minha


caminhonete. Uma vez la, subi no banco do motorista e liguei o
motor. O radio ligou, abafando o silencio ao redor, enquanto eu
mudava a transmissao e dirigia para o acelerador, deixando um
rastro de borracha queimada e fumaça espessa no meu caminho.

No final da rua, virei a direita na rodovia 9 e fui direto para a


unica pessoa que poderia fazer toda a merda podre da minha vida
desaparecer sem tentar. Precisando chegar ate ela, apertei o volante
de couro e pisei no pedal ao chao.

A viagem ate a casa de Carissa normalmente levava vinte


minutos.

Naquele dia eu fiz isso em dez.


CAPÍTULO 11
Carissa
Eu sentei no balanço da varanda da frente, segurando uma
xícara fumegante de cafe na minha mao. Com os pes descalços e
vestindo um simples, mas bonito vestido cor de lilas azulado, eu
olhei para a estrada, nao tao pacientemente, esperando a
caminhonete de Kyle aparecer.

Dentro da casa, papai e Heidi discutiram sobre a saia que ela


planejava usar na cerimonia de formatura. Papai achou que era
muito curta; Heidi assegurou-lhe que ela tinha outras mais curtas.

Eu esperei ser arrastada para o meio da discussao a qualquer


momento.

— Carissa! — Na sugestao, a voz levantada do papai flutuou


pelas janelas abertas e porta de tela. — Diga a sua irma para colocar
alguma outra coisa! Ela vai a uma cerimonia de formatura pelo amor
de Pete, nao e uma entrevista no Hooters!

Bom Deus, pensei. Aqui vamos nós.

— A saia dela esta bem, papai. Pare de reclamar.

Eu nao tinha visto a saia que Heidi pretendia usar, mas eu estava
confiante de que nao era muito curta. Minha irmazinha era linda,
alem de bonita, mas era autoconsciente demais para usar qualquer
coisa que mostrasse muita pele; portanto, eu sabia que papai estava
exagerando.
Como sempre.

Papai zombou.

— Nao e. — Embora eu nao pudesse ve-lo de onde eu estava


sentada, imaginei que os braços dele estavam cruzados sobre o
peito, as bochechas estufadas como uma criança pequena. — Ela
pode ser crescida, mas ainda e minha filha, e eu digo que ela nao
deveria estar exibindo tanta... — Suas palavras sumiram quando a
caminhonete em alta velocidade de Kyle apareceu. O grande
Silverado preto dificilmente desacelerou antes de atravessar a
estrada deserta e entrar na nossa garagem.

Eu fiquei de pe, minhas sobrancelhas juntas.

Kyle nunca dirigiu assim.

Algo deve estar errado...

— Aquele maldito garoto! — Papai gritou, obviamente, tendo


visto Kyle de onde quer que ele estivesse na casa. — Voce diz a ele
para nao dirigir como um morcego fora do inferno na
minha propriedade! Ele esta acabando com a minha garagem!

— Como voce pode acabar com uma garagem? — Heidi, a


espertinha, perguntou. — E sujeira e cascalho. Nao ha muito para
estragar.

— Heidi Lynn Johnson! — Papai se irritou em troca. — Pare de


discutir comigo e suba as escadas! E enquanto voce estiver la em
cima, certifique-se de colocar algo que cubra seu traseiro de 22 anos
de idade!

O som dos passos de Heidi, seguido pelo som dela batendo a


porta do quarto dela, tremeram pelas janelas abertas e pela fragil
tela da porta. Em qualquer outro momento, eu teria tentado difundir
a situaçao entre ela e papai antes que ela descesse as escadas e o
irritasse ainda mais, mas eu nao tinha tempo nem inclinaçao.

Tres segundos se passaram antes que o caminhao de Kyle


chegasse a uma parada quase atras de meu estacionamento
habitual. Ele desligou o motor e abriu a porta antes de pular para
fora. Quando ele contornou a frente do caminhao, ele parou e enfiou
as maos nos bolsos, os olhos focados no chao coberto de cascalho.

Ele nao olhou para cima; seus olhos nao procuraram por mim.

Isso nao era normal.

Como em tudo.

Minha ansiedade disparou em resposta.

Aterrorizada que algo horrível aconteceu, eu deixei a xícara de


cafe escorregar dos meus dedos. Caiu no alpendre, quebrando-se em
pedacinhos pequenos. O líquido quente cheio de creme espalhou em
minhas panturrilhas e pes descalços, mas nao lhe dei
atençao. Concentrada em Kyle e minha necessidade de alcança-lo,
atravessei a varanda, desci os degraus e fui direto para ele.

O cascalho granulado entrou no fundo dos meus pes enquanto


eu cruzava a entrada, enviando fortes dores atraves das minhas
solas. Mas como as queimaduras nas minhas pernas, eu
ignorei. Naquele momento, tudo o que importava era o homem a seis
metros de distancia, uma expressao perdida em seu belo rosto.

Ao alcança-lo, parei.
Ele ainda nao olhou para mim.

Incapaz de lidar com a distancia física e emocional entre nos, eu


segurei sua mandíbula coberta de restolho de barba com as maos,
fiquei na ponta dos pes, e inclinei o rosto em minha direçao. Quando
seus olhos cheios de dor encontraram os meus, o panico se instalou.

Um milhao de pensamentos, nenhum dos quais bons, correu


pela minha cabeça.

Há algo de errado com Hendrix?

Maddie?

Oh Deus... vovó?

— Kyle. — eu sussurrei, sentindo nauseas. — Qual o problema,


querido?

Ele permaneceu em silencio.

— Responda-me. — eu exigi, perto de panico de pleno direito.

Ele exalou, entao envolveu seus dedos fortes em volta dos


meus. Puxando minha mao direita do rosto dele, ele beijou o interior
do meu pulso. Seus olhos se fecharam; seus labios demoraram na
minha pele.

Se eu nao estivesse morrendo de medo, teria me derretido.

— Nada esta errado. — ele sussurrou, abrindo os olhos. — Nao


mais.

Eu nao estava convencida.


Eu nao tinha motivos para nao acreditar nele, mas Kyle odiava
quando eu me preocupava. Eu duvidava que ele escondesse alguma
coisa de mim, mas se isso significasse me manter envolta
na bolha protetora que ele tentou me manter, ele poderia.

— Voce tem certeza? Quero dizer, o jeito que voce estava


dirigindo e depois...

As palavras morreram na minha língua quando ele passou um


braço em volta da minha parte inferior das costas e me puxou para
ele. Sua mao gentilmente acariciou minha parte inferior das costas
antes de deslizar para baixo para descansar no meu traseiro. Calor
se espalhou atraves de mim, e minhas palpebras ficaram pesadas
quando eu relaxei contra ele.

Nunca na minha vida eu tomei uma unica droga.

Eu nunca sequer fumei um cigarro.

Mas eu estava irrevogavelmente viciada em Kyle Tucker.

Suspirei, descansando minha cabeça contra seu peito duro.

— Eu pensei que algo terrível tinha acontecido. — eu sussurrei,


secretamente inalando a colonia que se agarrava a sua camisa de
botao. O homem cheirava tao delicioso quanto parecia, me deixando
tonta com a necessidade.

— Voce me assustou ate a morte, voce sabe. — eu continuei. —


Eu deveria te bater com um sapato — se ao menos eu estivesse
usando um — por me preocupar.

— Va em frente, princesa. — disse ele, rindo. — Curve-se e tire


um. Vai me dar a visao perfeita de... — Ele parou de falar e recuou,
colocando uma pequena quantidade de distancia entre nos. Seu
rosto se contorceu em uma mistura de raiva e preocupaçao
enquanto ele olhava para as minhas pernas e pes. — Que porra e
essa, Carissa? — Seu tom era duro, mas ele nao estava sendo
cruel. — Por que sua pele esta vermelha? Antes que eu pudesse
tentar uma resposta, ele acrescentou: — Isso sao queimaduras...

Era uma declaraçao, nao uma pergunta.

Kyle era um EMT alem de um bombeiro.

Ele sabia quais eram as marcas de imediato.

Eu vacilei quando ele se agachou para examinar as feridas. Com


meu medo e adrenalina diminuindo, elas estavam começando a
doer. Embora minha tolerancia a dor fosse maior do que a maioria,
nao suportava a sensaçao de queimadura. Eu preferia ter sido
esfaqueada.

Serio.

— Nao se mova. — ele exigiu antes de se virar e se dirigir para


o lado do passageiro de seu caminhao. Depois de abrir a porta,
ele pegou uma bolsa azul-marinho da EMT, que eu reconhecia em
qualquer lugar. Estava sempre em seu caminhao, descansando no
meio do banco de tras. Ele jogou por cima do ombro e correu de
volta para mim. Com cuidado para nao tocar nas queimaduras, ele
me pegou em seus braços e correu para a casa. Ele me segurou com
força enquanto abria a porta de tela, quase arrancando-a das
dobradiças.

Ela se fechou atras de nos, chamando a atençao de papai.


— O que diabos voce acha que esta fazendo? — Ele gritou, indo
em direçao a nos da sala de estar, com um olhar confuso no rosto. —
Marcas na minha garagem nao foram suficientes? Agora voce
tambem tem que quebrar a minha casa? — Quando seu olhar saltou
para mim, eu ofereci-lhe uma onda sarcastica. Ele zombou em
troca. — Senhor todo-poderoso, menino. — disse ele a Kyle. —
Ponha minha filha no chao por so um minuto. Ela tem duas
pernas; minha garota pode andar.

Papai estava lutando uma batalha perdida.

Ele tambem sabia disso.

— Nao comece sua merda, Daryl. — respondeu Kyle, movendo-


se para a cozinha, onde ele me sentou no balcao e virou meu corpo
para que minhas pernas pendessem sobre a pia. — Eu nao tenho
tempo para isso.

Os olhos do papai caíram nas minhas pernas.

— O que diabos voce fez?

— Ela derramou cafe em cima de si mesma. — respondeu Kyle


para mim, — mas eu tenho isso sob controle.

Ele virou a torneira com uma mao enquanto empurrava para


cima o tecido do meu vestido com o outro para que nao ficasse
molhado. Eu esperei o papai repreende-lo, mas ele estava muito
focado nas queimaduras estragando o topo dos meus pes para
prestar atençao nas minhas coxas.

Kyle pegou um copo limpo do armario a sua esquerda e encheu-


o com agua gelada. Ele entao derramou delicadamente o líquido
frígido sobre as manchas avermelhadas de pele, aliviando a
queimadura que estava perto de me levar as lagrimas.

Suspirei de alívio.

Com as maos enfiadas nos bolsos, papai estava na porta da


cozinha, o olhar atento para o homem que cuidava da sua filhinha
mais velha. Uma expressao que eu nao pude ler, uma que parecia
semelhante a aprovaçao, espalhou-se por seu rosto enquanto ele
observava Kyle diligentemente cuidar de mim.

— Papai! — Heidi gritou do que parecia a sala de estar. — Venha


aqui! Eu preciso que voce olhe para uma coisa.

Eu lutei contra um sorriso.

Minha irmazinha estava cheia disso. Ela nao precisava que


papai olhasse para nada. Ela estava apenas tentando impedí-lo de
pairar sobre Kyle e eu.

Papai caiu no ato dela tambem.

— Imagino o que ela quebrou agora.

Ele balançou a cabeça e foi embora.

Eu olhei da porta agora vazia de volta para Kyle.

— Isso parece muito melhor.

Minhas palavras fizeram pouco para aliviar a frustraçao em seu


rosto.

— Sua pele perfeita. — ele murmurou, baixo e profundo. — E


melhor nao deixar uma cicatriz.
— Por que? Voce vai me despejar se isso acontecer? — Eu fingi
estar brincando, embora houvesse um pouquinho de verdade nas
minhas palavras. Kyle nao era uma pessoa vaidosa, mas achar que
ele poderia ficar menos atraído por mim se eu ganhasse algumas
cicatrizes me aterrorizava. Era uma coisa tao idiota de se falar. Ele
nunca faria algo tao insignificante.

Sem mencionar que nem estavamos namorando ainda,


portanto, ele nao poderia me largar.

Ainda derramando agua sobre as queimaduras, ele olhou para


mim, uma expressao determinada gravada em suas feiçoes.

— Nao e uma chance no inferno. — Como ele, suas palavras


eram asperas, mas bonitas. — A unica maneira que voce esta se
livrando de mim e se eu estiver em uma bolsa de corpo.

Eu ofeguei entao bati em seu braço.

— Isso nao e engraçado!

Ele olhou para mim como se eu fosse louca.

— Eu nao estava tentando ser.

Muitas mulheres teriam se afastado e talvez ate um pouco


assustadas com a possessividade que Kyle tinha sobre mim, mas eu
nao era uma delas. Quando ele falava do jeito que ele fazia,
prometendo ficar ao meu lado para sempre, isso so fortalecia os
sentimentos que eu tinha por ele; sentimentos que ja eram fortes o
suficiente para o banco pressionar um onibus da Greyhound.

— Ha algo que eu quero falar com voce. — eu respondi,


traçando a ponta do meu dedo para cima e para baixo em seu braço
musculoso. — Eu acho que agora e tao bom quanto qualquer outro
momento.

Ele sentou a xícara no fundo da pia, virou-se para a agua e


pegou um pano de prato limpo da gaveta ao lado dele. Com uma
delicadeza que muitos duvidariam de que ele fosse capaz, ele limpou
as gotas de agua ainda agarradas as minhas pernas e pes. Quando
ele terminou, ele jogou a toalha na cozinha em direçao a
lavanderia. Ele entao abriu a bolsa da EMT, colocou um par de luvas
de latex e tirou alguns pacotes de pomada. Um por um, ele os abriu
e aplicou o creme oleoso na minha pele.

— Sim? — Incerteza atormentou seu rosto. — Entao fale, garota


linda.

Esperei ate que ele terminasse com as minhas pernas e


descartasse as luvas antes de falar novamente. Eu queria toda a sua
atençao em mim. Eu precisava disso, ansiava por isso.

— Nao e nada muito importante. — Fiz uma pausa para um


efeito dramatico. — Eu apenas queria lembra-lo do fato de que voce
me prometeu um encontro ha tres anos e, bem, acho que e hora de
voce pagar.

Um sorriso enorme atingiu seu rosto, me dando um vislumbre


de seus dentes retos e brancos.

— Isso esta certo?

Eu balancei a cabeça.

Depois de lavar as maos com agua quente e sabao, ele me virou


e ficamos cara a cara. Eu corri para a borda da bancada, permitindo
que minhas pernas caíssem na frente dos armarios.

Sorrindo, Kyle abriu minhas pernas com as maos e posicionou


seus quadris magros entre elas. Com a saia em minha coxa ainda
subindo, havia pouco material cobrindo minha metade inferior. Se o
papai entrasse e visse quanto da minha pele estava aparecendo, ele
teria um derrame.

Ou ele me mataria...

O calor se espalhou atraves de mim quando Kyle se aproximou,


colocando uma mao em cada lado de mim, efetivamente me
prendendo. Ele baixou a cabeça, trazendo seu rosto para perto do
meu. O desejo de beija-lo era forte, mas por algum milagre eu me
segurei.

— Voce se lembra do que eu te disse na noite em que te beijei?

Claro que me lembrava. Era uma cena que eu repassava na


minha cabeça diariamente.

— Como eu poderia esquecer? — eu sussurrei, minha garganta


de repente seca.

— Entao voce deve se lembrar do que eu te disse que um dia


faria.

Eu mordi de volta um sorriso porque me lembrei muito


bem. Era algo que eu estava ansiosa para todos os dias desde
entao. Incapaz de resistir a provoca-lo, inclinei a cabeça para o lado
e bati meu dedo indicador contra o meu labio inferior.

— Hummm. — eu cantarolei. — Nao tenho cem por cento de


certeza de que sei o que voce esta se referindo. Quero dizer, lembro-
me da parte do encontro, mas foi ha tres anos.

Ciente do jogo que eu estava jogando, Kyle sorriu.

— E mesmo?

Dei de ombros, tentando o meu melhor para parecer


indiferente.

Ele chegou mais perto, pairando seus labios a um quarto de


polegada do meu.

— Acho que isso significa que voce precisa ser lembrada.

Eu gentilmente coloquei minha mao nas laterais do pescoço


dele.

— Entao me lembre.

Uma mordida de dor passou por mim quando ele agarrou meus
quadris e cravou seus dedos em minha carne. Eu nao estremeci ou
me afastei. Em vez disso, eu gemi baixinho, esperando que ele
apertasse com mais força. Nao fazia muito sentido, mas eu queria. A
unica coisa que me importava era ter suas maos em mim, se seu
toque era aspero ou gentil.

Uma emoçao que nao reconheci brilhou nos olhos de Kyle. Seus
dedos apertaram, respondendo a minha oraçao. Meu peito se
arqueou no dele; meus olhos se fecharam. Eu estava agindo como
uma completa prostituta no meio da cozinha de mamae e papai, mas
eu nao poderia ter me importado menos.

Eu passei muitas noites fantasiando sobre o toque de Kyle.


Agora que eu estava experimentando, eu estava saindo da
minha pele e incapaz de controlar minha reaçao. De repente, entendi
o que o termo desejo de bebado significava. Naquele momento, nao
havia nada que eu nao tivesse deixado que ele fizesse comigo. Meu
corpo estava no controle, e minha mente tinha oficialmente
desligado.

Ele tirou as maos dos meus quadris. Antes que eu pudesse


chutar um alvoroço em protesto, ele deslizou seus dedos em meu
cabelo e agarrou meus longos cabelos. Ele puxou os fios e empurrou
minha cabeça para tras, expondo o comprimento do meu pescoço.

— Tres anos atras... — disse ele, olhando-me nos olhos, — ...eu


prometi a voce que quando estivesse pronta, eu faria de voce minha.

Incapaz de falar, eu assenti.

— Princesa.... — ele continuou, — ...estou fodidamente cansado


de esperar.

Ele nao me deu tempo para reagir antes de bater seus labios nos
meus. Seus dentes morderam a carne gorda, entao sua língua
deslizou ao longo da costura dos meus labios, exigindo a
entrada. Meus labios se separaram, e sua língua mergulhou dentro,
explorando cada centímetro de mim. Ele tinha sabor de cafe com
sabor de menta, pesado no creme.

Eu nunca conseguiria o suficiente.

Um segundo gemido escapou de mim quando ele puxou mais


forte, forçando minha cabeça para tras ainda mais. Minhas
coxas tremeram, depois sacudiu quando ele se aproximou, cavando
a ereçao alinhada no lugar onde eu nunca fui tocada por um homem
antes.

Prazer rasgou atraves de mim, fazendo com que meu corpo


tremesse.

Fora de controle e tonta de desejo, eu arranquei meus labios


dos dele e respirei profundamente.

Nao estando pronto para me deixar ir, Kyle atacou meu pescoço.

Labios, língua, dentes, ele chupou, lambeu e beliscou a coluna


sensível da minha garganta, me fazendo cair em uma pirueta. Tudo
estava se movendo muito rapido, mas nao rapido o
suficiente. Eu queria sentir suas maos em todos os lugares, queria
provar sua pele. Meu corpo doía por ele para me possuir
inteiramente enquanto meu coraçao ansiava por algo muito mais...

Eu quero que ele se apaixone por mim...

Vagamente ciente de que papai ou Heidi podiam entrar a


qualquer momento, eu sussurrei, meio gemi o nome de
Kyle. Perdida para a necessidade enlouquecida que nos mantinha
cativos, ele nao parou de me tocar nem me beijar. Suas maos se
moveram do meu cabelo para meus quadris para as minhas coxas
externas. Suas palmas calejadas rasparam minha carne sensível,
deixando gosma em seu rastro.

Uma dor se formou na parte baixa da minha barriga.

Impulsionada pelo instinto, eu agarrei sua mao e deslizei as


pontas dos dedos por cima da minha coxa. Eu me inclinei para tras e
abri minhas pernas, dando-lhe um vislumbre da calcinha azul bebe
que eu usava. Meu peito arfava com a força da minha respiraçao
enquanto eu esperava que ele aceitasse o convite silencioso que eu
acabara de lhe dar.

Toque-me, minha mente implorou. Por favor.

Nao houve hesitaçao da parte dele.

Sua palma calejada roçou o interior da minha perna enquanto


se movia mais alto. Quando seus dedos encontraram a costura da
minha calcinha umida, ele congelou. Um gemido baixo saiu de sua
garganta.

— Voce esta fodidamente encharcada. — Antes que eu pudesse


respirar, seu dedo medio passou pelo tecido de algodao que cobria a
parte mais íntima de mim. Meu corpo inteiro estremeceu quando eu
gemi o nome de Kyle.

— Kyle...

A mao ainda segurando a minha apertou.

— Boa menina. — ele sussurrou em uma voz grave, claramente


satisfeito. — Agora diga de novo para mim.

Eu estava prestes a fazer isso quando Heidi apareceu.

— Carissa, voce viu...

Ao ve-la, eu congelei.

Kyle tirou a mao da minha calcinha e virou-se, dando-lhe


uma visao de perto e pessoal da tenda, e menino era grande,
adornando a frente de sua calça.

As maos de Heidi voaram para a boca dela.


— Oh meu Deus. — ela sussurrou. — Me desculpe, eu nao quis...

O fogo que me cercava se dissipou, e a percepçao do que ela


acabara de interromper bateu em mim com a força de um trem de
carga.

Kyle com a mão no meu vestido...

Minha cabeça jogada em êxtase.

Oh meu Deus , pensei. Sério, oh. Meu. Deus!

Eu me senti fraca enquanto empurrava Kyle para longe.


Surpreso com o movimento, ele tropeçou para o lado, mas se conteve
antes de perder o equilíbrio. Incapaz de olha-lo nem Heidi nos olhos,
pulei do balcao. Meu rosto queimava e eu sabia que minhas
bochechas estavam mais vermelhas do que um extintor de incendio.

— Eu vou... — Eu acenei minha mao sem rumo, procurando as


palavras que nao se materializariam. — Eu vou, uh...

— Terminar de se preparar? — Heidi sugeriu, vindo em meu


auxílio.

Eu balancei a cabeça, estalando meus dedos.

— Sim, e o que eu vou fazer.

Precisando sair antes de desmaiar e encarar o chao da cozinha,


saí da cozinha sem dizer outra palavra. Fugir dessa maneira era
simplesmente idiota, mas eu estava mortificada.

Papai olhou para mim da poltrona reclinavel na sala de estar.

— Para onde voce vai com tanta pressa? — Ele perguntou, uma
sobrancelha arqueada. — Voce finalmente faz sentido o suficiente
para saber que voce deveria estar fugindo do grande menino e, nao
abraçando ele?

Eu o ignorei e virei para as escadas, empenhada em alcançar a


segurança do meu quarto. Meu pe aterrissou no degrau inferior
quando ouvi Heidi assobiar.

— A cozinha, Kyle. Mesmo?

Sua risada seguiu.

Congelada no lugar, eu escutei quando Kyle resmungou alguma


coisa. O que ele disse, nao tenho certeza. O unico pensamento que
passou pela minha cabeça foi, Heidi falou com ele usando a voz dela.

Foi a primeira vez que ela fez isso.

Naquele momento, percebi que nao era a unica a perder a


timidez com Kyle Tucker. Embora de uma maneira completamente
diferente, minha irmazinha tambem.
CAPÍTULO 12
Carissa
Meu coraçao disparou contra minhas costelas.

Com as maos tremulas, fiquei na beira do palco de formatura. A


quinta na fila para ter meu nome chamado, eu estava escondida
atras de uma cortina gigante, protegida da visao da
multidao. Minhas maos estavam cobertas de suor e senti meus
joelhos tremerem sob a longa tunica preta que eu usava.

Dizer que eu estava nervosa era um eufemismo.

Eu soltei um suspiro quando endireitei os cordoes dourados e


pretos que pendiam sobre meus ombros junto com o chapeu de
formatura que se ajustava bem na minha cabeça. Eu trabalhei tao
duro para alcançar este marco, e agora que estava aqui eu me senti
como se fosse desmaiar.

A fila mudou quando mais nomes foram chamados.

Em pouco tempo, eu seria a proxima.

Finalmente consegui ver o auditorio, olhei para a multidao,


procurando no mar de rostos por um familiar. Eu encontrei um em
um instante graças ao chapeu de cor fucsia que a avo usava. O
chapeu exagerado agia como um farol, chamando meus olhos para a
velha louca a quem pertencia.

Eu quase chorei ao ve-la e Maddie sentadas uma ao lado da


outra.

Ambas tinham desempenhado grandes papeis na minha vida


desde que eu era uma garotinha. Elas eram minhas rochas e duas
das minhas maiores líderes de torcida. Ve-las la fez coisas
engraçadas no meu coraçao.

Foi um milagre que mantive minhas lagrimas a distancia.

Eu movi meu olhar para baixo na fileira de cadeiras,


reconhecendo cada ultima face. Um no se formou na minha barriga
quando eu olhei para cada um deles, seus rostos sorridentes
trancados no palco, esperando pelo meu nome ser chamado.

Nenhuma pessoa estava faltando.

Papai, Heidi, Kyle, Hendrix, Shelby, Anthony, Ashley, Felix, Hope,


Evan, Charlotte, Keith, Brantley, Clara, Pop, alem de todas as
crianças. Eles estavam todos la, sentados em ambos os lados de vovo
e Maddie. Quase todas as cadeiras da longa fileira foram ocupadas.

Todas, exceto uma.

Entre o papai e a Heidi havia um unico espaço vazio. Bem, nao


estava exatamente vazio. No assento vago estava um vaso branco
cheio do que pareciam duas duzias de rosas vermelhas. Confusa, eu
olhei para as lindas flores enquanto minha mente girava.

Minhas maos começaram a tremer quando a realizaçao me


atingiu no rosto.

Essa percepçao? O assento era de mamae e as rosas eram dela.

Oprimida pela emoçao, minhas maos tremiam. Eu senti


vontade de cair no chao e chorar. Doeu que mamae nao fosse capaz
de me ver andando, mas fez meu coraçao inchar ao saber que
alguem havia guardado um lugar para a unica pessoa que eu sabia
que seria a mais orgulhosa.

Eu sabia quem tinha feito isso tambem.

Coraçao na minha garganta, eu fiz a varredura da linha lotada


ate que meus olhos o encontraram, o homem que virou meu mundo
de cabeça para baixo. Sentado entre Hendrix e Heidi, os olhos de
Kyle estavam grudados no palco, seu olhar sempre vigilante
procurando por mim. Ele era tao bonito, por dentro e por fora, e
embora alguns possam nao ter concordado, eu era a mulher mais
sortuda do mundo por te-lo ao meu lado, um lugar que eu esperava
que ele permanecesse para sempre.

Era um pensamento em que nao tive tempo para me debruçar


porque era a minha vez de entregar meu cartao de visitas para a
jovem que atuava como intermediaria entre os formandos e o orador
anunciando cada nome. Eu nervosamente entreguei o pequeno
papel para ela e ela deslizou para o alto-falante, um homem mais
velho e sorridente, sem nunca deixar a sombra da cortina.

O orador olhou para mim e assentiu.

Entao, segurando o microfone apertado na mao, ele anunciou


meu nome.

— Carissa Ann Johnson.

É isso, eu disse a mim mesma. Este é o momento pelo qual eu


tenho lutado.
Energia nervosa me consumiu quando eu pisei no palco e na
luz. No momento em que entrei em vista, minha família e meus
amigos se levantaram. Suas palmas, gritos e assobios ecoaram pelo
auditorio, atraindo os olhos de todos.

O orgulho me consumiu enquanto eu caminhava pelo palco.

Queixo erguido, eu apertei a mao do diretor com a mao direita


enquanto aceitava meu canudo de diploma dele com a esquerda.

— Parabens, Srta. Johnson. — ele disse, com um sorriso enorme


no rosto.

Eu engoli em torno do no na garganta e assenti.

— Obrigada.

Ele soltou minha mao e eu olhei para minha família mais uma
vez.

Os olhares que eles usavam quase me quebraram.

Cada um deles estava orgulhoso de mim, isso era obvio, mas


nenhum tinha um sorriso tao grande quanto o da vovo. Com
lagrimas nos olhos, ela ergueu os braços, dando-me dois polegares
para cima.

— Essa e minha garota!. — Ela gritou.

Ao lado dela, papai bateu palmas antes de bater no lugar onde


seu coraçao estava com a palma da mao. Mesmo de longe, eu podia
ler as palavras nao ditas que dançavam em seus olhos cheios de
emoçao. Estou orgulhoso de você, Carissa Ann, eles diziam.
Com a garganta entupida de lagrimas, enfiei meu canudo de
grau debaixo de um braço e levantei uma mao fechada no ar. Incapaz
de resistir, eu murmurei, eu fiz isso!

O movimento so fez com que eles gritassem mais alto e


batessem palmas mais forte.

A maioria deles estava agindo como tolos enlouquecidos, mas


tudo bem. Eles eram meus tolos, e eu amava cada pedaçinho deles.

Depois de sair do palco, eu segui pelo corredor principal


em direçao a fila de assentos onde minha cadeira designada
estava. Assim que cheguei a fileira correta, meus olhos encontraram
os de Kyle. Um sorriso de tirar o folego adornou seu rosto e levou
todo o controle que possuía para nao correr diretamente para os
braços dele.

Embrulhada em minha paixao louca por ele, levantei minha


mao e soprei-lhe um beijo.

O telefone de Maddie brilhou quando ela tirou uma foto,


eternamente memorizando o ato.

Kyle ultrapassou Hendrix e deu um tapinha no braço dela.

— Envie-me essa foto. — ele exigiu no mesmo tom mandao que


fazia o meu dedo do pe se enrolar. — Agora.

Maddie revirou os olhos.

— Segure se Romeu.

Voltando sua atençao para mim, Kyle piscou.


Eu pisquei de volta e fui para o meu lugar.

Uma vez que a minha bunda encontrou o metal frio, eu segurei


o canudo de grau contra o meu peito e fechei os olhos. Inclinando a
cabeça para tras, enviei uma mensagem silenciosa aos ceus
acima. Eu fiz isso, mamãe, eu mentalmente sussurrei. Eu espero que
você esteja orgulhosa.

No fundo do meu coraçao, eu sabia que ela estava.


CAPÍTULO 13
Kyle
Estou no inferno.

O pensamento solitario ecoou em volta do meu cranio enquanto


eu ficava ao lado da cerca no quintal de Brantley e Clara. Perto de
perder o controle, lutei contra o impulso de empurrar o grupo de
pessoas que separavam Carissa de mim. Ter ela a minha vista, mas
nao ao meu lado, estava mexendo com a minha cabeça ja fodida.

Eu precisava dela mais perto.

Sentada ao lado da piscina em uma espreguiçadeira que ela


dividia com Heidi e cercada pelas crianças que formavam seu círculo
íntimo, ela parecia feliz como poderia ser. Por mais que eu quisesse
ir la e rouba-la, eu nao podia. Eu odiava admitir, mas ela precisava
passar mais tempo com pessoas alem de mim.

Eu nao podia ocupar todo o tempo dela.

Mesmo se eu quisesse.

Eu era um merda de um egoísta, mas eu nao tinha que


ser egoísta.

Eu daria a ela o espaço que ela precisava, mas eu seria


amaldiçoado se eu a deixasse fora da minha vista. Nao se eu pudesse
evitar. Se ela estivesse comigo ou com outra pessoa, sua segurança
era a coisa mais importante, e no inferno ou no fundo do mar, eu me
recusava a deixar que qualquer coisa, ou qualquer um, a pusesse em
perigo.

Enquanto eu tivesse um folego no meu corpo, Carissa ficaria


exatamente como ela estava.

Segura. Feliz. Viva.

Eu não vou sair...

Eu bati minha cabeça para a esquerda quando um punho bateu


no meu braço. Limonada espirrou para fora do copo de plastico que
eu segurava na minha mao, pousando no meu braço e camisa. Eu
cerrei meus dentes de volta juntos, lutando para controlar a raiva
que rugiu para a vida dentro de mim.

— Cara, voce pode parar de olhar para C por cinco malditos


segundos? — Hendrix, que estava ao meu lado, disse. Sua mao ainda
estava cerrada, pronta para dar outro soco. Melhor amigo ou nao, ele
tem sorte que eu nao lhe dei um soco no rosto. — Voce nao tirou os
olhos dela o dia todo.

— Voce, de todas as pessoas, nao tem espaço para dizer com a


maneira como voce observa Maddie. — eu respondi.

Hendrix encolheu os ombros.

— Ponto tomado.

Na minha frente, Evan balançou a cabeça.

— E a festa de formatura dela, idiota. O mínimo que voce pode


fazer e sorrir — disse ele, cruzando os braços sobre o peito. — Se ela
pensar que voce esta chateado, o que e exatamente como voce esta,
ela vai se sentir infeliz. E se voce a incomodar, voce tera que lidar
com o Clube das garotas loucas. Acredite em mim, cara, voce nao
quer passar por essa estrada.

Esse comentario ganhou uma risada de mim.

— Voce acha que estou brincando. — acrescentou, de olhos


arregalados. — Apenas espere ate que a vovo puxe uma arma em
voce ou Shelby ameace enfiar seu pe de vaqueira a um metro de sua
bunda.

Mal sabia Evan, que Shelby ja havia me ameaçado inumeras


vezes. Protetora como o inferno sobre Carissa e Heidi, ela nao se
conteve ao descrever todas as coisas horríveis que faria comigo se
eu fizesse qualquer uma delas chorar.

— E nao me faça começar com Maddie, Charlotte ou minha


esposa — continuou Evan. — Elas podem ter pouca estatura e
parecerem doces como mel, mas todas as tres podem passar de
razoavel a psicotica em dois segundos. Eu deveria saber, eu tenho
recebido tudo isso de cada uma delas... — ele pausou — ...mais de
uma vez.

— Nao esqueça, Clara. — Hendrix, um pouco aterrorizado,


acrescentou. — Alem de vovo, eu nunca tive medo de uma mulher
na minha vida, mas faço questao de observar minhas costas ao redor
dela.

Evan assentiu em concordancia.

— E o cabelo ruivo, cara. Garotas ruivas sao sempre loucas.

Anthony escolheu aquele momento para subir. Segurando sua


filha mais nova, Gracie em seus braços, ele olhou de Evan para mim.

— O que minha esposa fez agora? Eu ouvi voce dizer o nome


dela.

Hendrix se recostou na cerca, cruzando os braços sobre o peito.

— Evan estava apenas dizendo a Kyle como ela e doida.

Eu olhei para ele.

— Voce sempre fala sobre sua irma assim?

— Voce conheceu minha irma, certo? A mesma pessoa que


ameaçou incendiar a padaria Sugar Babies se nao lhe fizesse um
novo lote de donuts recheados de creme naquele minuto? — Ele
perguntou, arqueando uma sobrancelha. — Nao e falar sobre ela se
essa e a verdade. Eu a amo, mas vamos encarar isso, Shelby e louca
por merda.

Se eu estivesse no lugar de Anthony, eu teria derrubado os


dentes de Hendrix em sua garganta.

Anthony nao fez isso.

Em vez disso, ele sorriu.

— Ela e otima, nao e?

— Voces sao todos idiotas... — eu comecei.

— Ky Ky! — Uma voz pequena, mas doce como o inferno, gritou


meu nome, me cortando no meio da frase.

Coraçao batendo, meus olhos procuraram no quintal pela fonte.


Eu a encontrei em dois segundos.

De pe ao lado de um balanço gigante de pneus, Melody, a filha


de dois anos e meio de Maddie e Hendrix sorria para mim por baixo
da enorme coroa prateada de princesa que ela usava no alto da
cabeça.

— Ky Ky. — ela repetiu, inclinando a cabeça para o lado. —


Venha comigo. — ela bateu no balanço do pneu — voar.

Uma memoria correu para frente.

Com seu cabelo escuro e encaracolado, expressao inocente e


grandes olhos castanhos, Melody parecia tanto com Lily naquele
momento que quase se tornou minha ruína. Recusando-me a
derrubar aquele buraco de coelho na frente da linda menininha que
eu considerava minha sobrinha, eu a empurrei para tras, engolindo
a dor que se espalhava pelo meu peito, plantando suas raízes
enquanto ela ia.

Eu lidaria com a dor, com a angustia, com a maldita


culpa depois.

— O que? — Hendrix perguntou, confuso. — Melly Belly, voce


deveria pedir ao papai para balançar com voce, nao Kyle!

Cruzando os braços sobre o peito, Melody balançou a cabeça e


enfiou o nariz no ar.

— Quero Ky Ky. — Ela olhou de seu pai para mim. – por favooor.

Nao precisava que me perguntassem novamente.

Virando a cintura, empurrei meu copo na mao de Hendrix.


— Segure isso.

Eu nao esperei por ele responder antes de ir em direçao a


Melody.

Atras de mim, ele resmungou.

— Isso e besteira completa. — Evan e Anthony riram, enviando


Hendrix em um discurso. — Continue rindo. Mas esperem ate ele
roubar seus filhos tambem. O idiota sempre traz livros para Melody
colorir e doces, subornando-a. Ja e ruim o suficiente eu ter que
competir com Pop e Keith. Agora eu tenho que lidar com Kyle
tambem. — Ele fez uma pausa. — Graças a Cristo Maci e muito
pequena para ele corromper... por enquanto.

Evan respondeu, mas nao ouvi o que ele disse.

Minha atençao estava voltada apenas para Melody.

Quando tres pes me separaram dela, ela levantou os braços no


ar em um pedido tacito para ser pega. Foi um pedido que eu estava
feliz em fazer. Pegando-a em meus braços, abracei-a com força.

— Ei, lindo bebe. — eu sussurrei, pressionando meu nariz em


seu cabelo macio.

— Ky Ky. — disse ela, rindo. — voar Melly Belly!

Eu ri, agarrando o balanço com uma mao.

— Tudo bem, bonequinha, vamos fazer isso.

Virando-a de modo que suas costas estavam pressionadas


contra o meu peito, eu deslizei nossos dois corpos pela abertura do
balanço, sentando no anel interno. Eu a segurei forte, nao dando a
ela a chance de escapar do meu aperto. Inclinando-me para tras,
levantei meus pes do chao e bombeei minhas pernas quando
começamos a nos mover.

Melody apertou meu braço com as maos, gritando de emoçao


toda vez que mudavamos de direçao ou giravamos um pouquinho.

— Alto, Ky Ky! — Ela gritou, cravando as unhas no meu


antebraço. – Alto, alto!

Incapaz de dizer a ela que nao, eu bombeei mais forte, fazendo-


nos voar mais alto.

Mais gritos seguidos.

Logo nos chamamos a atençao de todos no quintal.

Eu podia sentir varios conjuntos de olhos em mim, mas eu nao


dava a mínima para nenhum deles, exceto um.

Eu olhei para o lugar onde eu vi Carissa pela ultima vez. Quando


nao a vi, o panico momentaneo se instalou. Desapareceu quando a
encontrei em pe a menos de seis metros de distancia, com os olhos
fixos em Melody, com uma expressao de desejo no rosto.

Eu levantei meu queixo em saudaçao.

Ela acenou em retorno.

Atordoado pela expressao de desejo que ela usava, eu tentei


obter uma leitura sobre o que estava acontecendo em sua cabeça
bonita. Era algo que eu nao tive que pensar por muito tempo.
Envolvendo seus braços ao redor de seu meio, ela fechou os
olhos. Entao, na frente das pessoas que ambos consideramos nossos
amigos e familiares, ela murmurou duas palavras palavra; duas que,
se eu estivesse em pe, teria me deixado na minha bunda.

Algum dia.

Meu peito se apertou; seus olhos se abriram.

Quando seu olhar encontrou o meu, eu devolvi tres palavras


minhas.

As palavras? Você está certa.


CAPÍTULO 14
Carissa
— Que raio foi aquilo?

Ao som da voz aguda de Maddie, eu me virei, afastando meu


olhar de Kyle e Melody. Seus olhos arregalados estavam fixos em
mim, uma expressao estupefata em seu rosto. Concentrada na visao
de parar o coraçao diante de mim, eu nem sequer a ouvi, nem Shelby,
que estava ao lado dela.

— Serio. — Continuou ela, — O que em nome de Hades foi isso?

Eu pisquei.

— O que foi o que?

Seus olhos se estreitaram.

— Nao se atreva. — ela disparou de volta, colocando as maos


nos quadris. Todo o seu comportamento me lembrou de vovo
naquele momento. – Voce não tem permissao para negar para mim.

— Eu nao sei do que voce esta falando.

Eu nunca fui uma boa mentirosa; portanto, eu sabia que Maddie


via atraves de mim.

— Uh-huh. — disse Shelby, mastigando o fim de uma


cenoura. — Voce pode negar, mas todos nos vimos isso.
— Viu o que?

Maddie sacudiu a cabeça.

— Eu posso ter nascido a noite, C, mas nao foi ontem a noite.

— E eu posso ser loira, mas nao sou burra. — acrescentou


Shelby, com o olhar fixo em mim. — Entao voce pode muito bem
confessar.

Afobada, soltei um suspiro.

— O que voce acha que viu?

Charlotte, que segurava uma Maci balbuciando nos braços,


escolheu aquele momento para se aproximar, com um sorriso no
rosto.

— Bem, eu nao sei sobre muita gente, mas eu testemunhei que


voce disse a Kyle que voce quer ter o bebe dele. — ela levantou uma
unica mao no ar e enrolou os dedos fazendo aspas no ar — Algum
dia.

Eles estavam errados. Eu nao tinha dito a Kyle que queria ter o
bebe dele. Eu estava apenas me referindo ao fato de que eu queria
uma garotinha como Melody algum dia. Kyle so estava sentado la.

Mentirosa, mentirosa, vai arder nas chamas do inferno, a voz na


minha cabeça sussurou.

A verdade era que ve-lo com Melody fez minha barriga dar
cambalhotas. Havia algo sobre o sorriso em seu rosto e a adoraçao
em seu corpo que fez meus ovarios queimarem.
Eu sempre quis ser mae, mas ate Kyle, nunca conheci alguem
com quem eu pensasse em ter filhos. Para ser justa, eu nao tinha
saído muito. A experiencia limitada que eu tive com o sexo oposto se
estendeu a um punhado de namorados do ensino medio, nenhum
dos quais eu deixei passar da segunda base graças ao sistema de
crenças que a mamae tinha incutido em mim.

Voce ve, apesar de ser uma crista devota, mamae nunca disse a
Heidi e a mim para nos salvarmos para o casamento como a igreja
exigia que fizessemos. Em vez disso, ela nos disse para nunca deitar
com um homem que nao gostaríamos que fosse o pai de nossos
filhos.

Os preservativos podem estourar e o controle da natalidade pode


falhar, mas os bebês são para sempre, e o que ela costumava dizer.

Eu levei essas palavras a serio.

Foi a principal razao pela qual eu nunca tinha experimentado


mais do que uma mao errante na minha camisa. Eu nao era puritana,
e eu nao acreditava que sexo fosse sujo, mas eu nao estava bem em
possivelmente conceber um bebezinho com alguem que nao era
digno de ser o pai de meu filho.

Com Kyle era diferente.

Nos nao estavamos em um relacionamento oficial, ainda,


mas parecia que estavamos juntos desde sempre. Tres anos era
muito tempo e, embora tivessemos nos beijado apenas uma vez
hoje, compartilhavamos muito mais. Eu tinha a batida de seu
coraçao memorizada e ele sabia dos sons que minha alma danificada
fazia quando eu chorava.
— O que esta passando por essa sua cabeça? — Shelby
perguntou, me puxando dos meus pensamentos internos. Seus olhos
passaram por mim para o lugar onde Kyle ainda estava balançando
com Melody. — Voce esta pensando em pedir ao Hulk uma doaçao
de esperma? Tenho certeza de que ele ficaria mais do que feliz ...

A voz estrondosa de vovo rasgou o ar, cortando Shelby no meio


da frase.

— Voces, olhem, eu trouxe as salsichas de novo! — Gritou,


pisando na varanda dos fundos da cozinha. Fechando a porta atras
de si, ela pegou uma salsicha maior que o normal de um prato
vermelho e girou-a no ar, provocando Keith, que estava na frente da
churrasqueira. — Trouxe hamburgueres tambem, mas esses nao sao
tao interessantes.

Shelby e eu rimos. Maddie e Keith embora? Ambos pareciam


que morreriam de vergonha.

— Nao as coisas de salsicha de novo — Maddie gemeu


enquanto Keith gritava.

— Voce nao pode agir como uma velha normal por um dia,
mamae?

Vovo pareceu ofendida.

— Normal? — Ela perguntou meio confusa. — Eu nunca agi


normal um dia na minha vida, e com certeza nao estou começando
agora. — Balançando a cabeça, ela colocou o prato na mesa de
preparaçao ao lado da grelha. – Sinos do inferno, filho, isso soa chato
como quando tudo acaba. — Ela zombou e cruzou os braços sobre o
peito. — Eu nao quero fazer parte disso. — Seus olhos procuraram
o quintal ate que eles pousaram em Brantley, que estava no extremo
oposto com Clara, Pop, Felix, papai e Heidi. Todo o grupo estava
assistindo todos os pequenos jogarem um jogo de cartas. — Agora
isso... — ela apontou para Brantley — Vou pegar um pedaço gigante
disso, nu e coberto de chantilly.

Os olhos de Maddie se fecharam.

— Ela não acabou de dizer isso.

Os olhos de Shelby brilharam.

— Ela fez.

— Jesus. — sussurrou Maddie. — Ela e louca.

Charlotte riu.

— De a ela um minuto. Ela esta apenas começando.

Os olhos de Maddie se abriram.

— Deus, espero que nao.

— Cinco dolares que ela vai dizer... Shelby começou.

— Shelby! — Gritou vovo, interrompendo-a. — Saia daí e ajude


o homem a grelhar! Eu tenho duas duzias de sanduíches e pelo que
eu ouvi voce ja dominou os grandes. — Eu respirei fundo enquanto
vovo balançava seu olhar para Anthony. — Nao e mesmo, garanhao?

A mandíbula de Anthony assinalou.

— Pelo amor de Deus, vovo! Ha crianças la fora!

Vovo zombou.
— Oh, silencio. Nem um unico deles esta me observando, exceto
Melody e ela nao tem a menor ideia do que estou falando. Ela tem
uma duzia de anos antes de descobrir a arte do corpo masculino.

Hendrix tendo um ataque cardíaco em 3, 2 —

— Oh inferno, nao! — Ele gritou, na hora certa. – Nao, nao, nao!

— Ela tinha que ir la, nao e? — Maddie disse, zombando. —


Vamos Maci, baby. — ela pegou uma Maci sorridente dos braços de
Charlotte — vamos ficar fofinhas e acalmar o papai. Se nao o
fizermos, ele pode colocar a vovo no caminhao e leva-la ate a casa do
idoso mais proxima.

Shelby zombou.

— Sim. — ela disse, olhando de seu irmao mais velho para


vovo. — Deixe ele tentar. Vovo ou morderia os dedos dele ou atiraria
nele.

Maddie assentiu em concordancia.

— Isso e malditamente verdade.

Ela se dirigiu para Kyle e estendeu a mao.

— Venha, Melly Belly. Vamos dar uma folga ao tio Kyle e ir ver o
papai.

Kyle parou o balanço dos pneus com os pes e ajudou Melody a


sair de seu colo. Cambaleando ate sua mae, Melody enfiou a mao na
de Maddie e olhou por cima do ombro para Kyle.

— Tchau-tchau, Ky Ky.
Quando ela levantou a pequena mao e lhe deu um beijo, meu
coraçao inchou.

Mas quando Kyle levantou a sua e fingiu pegar o beijo, quase


explodi.

— Bem. — disse Charlotte, batendo meu quadril com o dela. —


Nao e de admirar que voce queira ter os bebes do homem. Eu nem
tenho mais um utero, e meu estomago ainda esta um pouco
apertado.

Shelby riu.

— Falando de bebes... — ela apontou para Anthony e Gracie —


— Eu vou roubar minha mais nova do meu marido. Isso e se ele me
deixar.

Quando Shelby se afastou, Charlotte se virou, olhando para a


direçao oposta e acenou com a cabeça em direçao a casa.

— Vou checar Ashley, depois Hope. Ashley esta deitada no


quarto de Bella com uma enxaqueca e Hope esta dormindo com o
bebe Ry no quarto de Brantley e Clara. Evan tentou levar Ry com ele
para que ela pudesse descansar mais facilmente, mas ela jogou um
sapato na cabeça dele e disse-lhe para deixa-los em paz.

Meus olhos se arregalaram.

Hope jogou um sapato?

Em Evan de todas as pessoas?

Isso estava fora do personagem para ela.


— Sao seus hormonios. A garota perdeu isso. — Um olhar
preocupado cruzou o rosto de Charlotte. — Estou lhe dizendo,
Carissa, o resto da gravidez nao sera facil para ela. Eu ja posso
dizer. Enfim, voce quer vir comigo? Ou voce vai ficar aqui? — Seus
olhos se voltaram para Kyle. — Com ele?

Eu nao precisei responder.

Minha decisao estava escrita em todo meu rosto.

— Certo. — Ela sorriu. — Eu vou ver voce daqui a pouco. —


Jogando um braço em volta de mim, ela me puxou para ela, me
abraçando. Entao ela beijou minha bochecha e se afastou. – Estou
orgulhosa de voce, menina doce.

— Obrigada, mamae C.

Se possível, o sorriso no rosto dela ficou maior.

— Eu gosto quando voce me chama assim. Continue.

Ela se virou e foi embora.

Por um momento, eu estava sozinha; embora nao tenha durado.

Quando me virei na direçao de Kyle, coloquei o rosto em seu


peito.

Surpresa, eu gritei e tropecei para tras um passo.

Kyle passou um braço ao redor da minha parte inferior das


costas, me impedindo de perder o equilíbrio.

— Droga, baby. — ele assobiou. — Voce ja se machucou o


suficiente por um dia.
Envergonhada ate a morte, agarrei as costas do tríceps dele e
tirei uma mecha de cabelo do meu rosto.

— Desculpe.

— Nao se desculpe. — Seu rosto suavizou. — Voce nao fez nada


de errado. Apenas tenha cuidado. — Seus olhos procuraram os
meus. — Algo acontecendo com voce nao e uma opçao.

Suas palavras eram reminiscentes das da noite anterior.

O mesmo aconteceu com a minha.

— Nao vai. — eu assegurei a ele. — Prometo.

— Kyle! — Vovo gritou, interrompendo o nosso momento. —


Venha aqui, Hulk, e coloque este grande e velho carro na piscina para
mim. Eu tenho que trocar meu biquíni, e entao voce vai me ajudar a
entrar no negocio.

O olhar que cruzou seu rosto era comico.

— Isso e uma boia de unicornio?

Eu lancei na direçao da piscina e assenti.

— Parece que sim.

— A maldita coisa e tao alta quanto eu. — disse ele, — e tem


redeas brilhantes nela. — Eu abri minha boca para responder, mas
ele continuou falando, nao me dando a chance. — Ela disse que
estava colocando um biquini?

Mais uma vez, assenti.


— Ela fez. — Mordendo de volta o riso, eu dei um tapinha no
ombro dele. — Nao se esqueça da parte sobre voce ajudando-a a
entrar no flutuador.

Ele franziu o cenho.

— Isso e besteira. — A risada que eu estava segurando se


soltou. Seus olhos mergulharam para encontrar os meus. – Continue
rindo, princesa. Sua bunda nao e aquela que ficara coberta de
hematomas graças a toda a pressao que ela faz.

Eu franzi o nariz.

— E sua culpa, voce sabe. Se voce nao tivesse uma bunda tao
bonita, ela nao sentiria a necessidade de beliscar tanto.

— Isso esta certo? – Ele sorriu.

Eu balancei a cabeça.

— E como voce sabe o quao boa e a minha bunda?

Eu afinei meus labios, reprimindo o constrangimento que se


espalhou atraves de mim. Chamando toda a insolencia que eu
possuía, coloquei minhas maos em meus labios e olhei diretamente
em seus lindos olhos.

— Eu posso ter observado... — fiz uma pausa — ...uma vez ou


duas.

Esperei que ele respondesse, mas ele nao respondeu.

Em vez disso, ele se inclinou na cintura e me jogou por cima do


ombro pela segunda vez nos ultimos dois dias.
— Kyle! — Eu gritei, rindo. — Coloque-me para baixo! – Eu
prontamente bati sua parte inferior das costas com cada palavra. —
Agora mesmo!

Eu gritei de surpresa quando sua mao forte bateu na minha


bunda tres vezes em resposta.

— Meu pai vai te matar. — eu sussurrei, sentindo meu rosto


vermelho.

— Daryl nao vai fazer nada. — respondeu ele, caminhando em


direçao a casa. — Ele sabe a quem voce pertence.

Minha cabeça levantou. Olhos do tamanho de discos, eu me


atrapalhei por algo para dizer.

— A proposito, Princesa... — Alcançando a area da piscina, ele


me deslizou pela frente de seu corpo ate que meus pes tocaram o
chao. Braços em volta de mim, ele me segurou firme e pairou seus
labios ao lado da minha orelha. — Eu olhei para o seu traseiro uma
vez ou duas tambem. — Eu respirei fundo; meu pulso começou a
pulsar. — Perfeiçao, baby.

Todo o ar deixou meu corpo em um rapido sussurro.

— Kyle... — Meu coraçao acelerou. — Me beije.

Ele nao hesitou.


CAPÍTULO 15
Carissa
Eu estava ao lado da piscina.

Heidi sentou a minha esquerda em uma espreguiçadeira, e


papai ficou a minha direita observando Hendrix puxar Melody e
Maci ao redor da piscina em boias circulares. Um enorme sorriso
curvou seus labios para o ceu. Nao havia duvida em minha mente
que ele estava pensando em Heidi e eu como bebes.

Tenho certeza que ele sente falta de nós sermos pequenas...

Com os braços ao redor da minha barriga, eu puxei meus olhos


do papai e olhei para o portao que ligava o jardim da frente para os
fundos e esperei Kyle aparecer. Dez minutos antes ele e Felix saíram
para pegar alguns sacos de gelo, e eu senti como se estivesse saindo
da minha pele a cada segundo desde entao.

Eu queria ir, e Kyle com certeza me queria ao seu lado, mas


papai tinha feito uma birra do tamanho do Texas.

Em poucas horas, ele estava saindo para voltar para a estrada e


nao estaria em casa por quem sabe quanto tempo. Portanto, ele
queria que eu ficasse com ele. Mesmo que ele odiasse me deixar para
tras, Kyle tinha saído sem fazer muito barulho.

Embora ele estivesse voltando, eu ainda odiava ve-lo sair.

Odiava com um grande O.


Sem ele, nao me sentia bem. Por mais idiota que pareça,
parecia que minha ancora, a coisa que me impedia de
flutuar, desaparecera. Parte de mim percebeu o quao boba a ideia
era, mas a outra parte, aquela que era dominada pelo meu coraçao,
sabia que sem ele ao meu lado, eu nunca estaria completa.

Sem ele, eu vou estar perdida...

Papai passou a mao sobre a mandíbula coberta de barba por


fazer e me deu um tapinha no braço.

— Voce nao acha que Doris esta realmente de biquíni, nao e? A


mulher e mais velha que a sujeira. Certamente ela nao iria.

Dei de ombros.

— E vovo, papai. Todas as apostas estao encerradas.

— Sim, ela nao e exatamente normal, nao e? — Ele riu e colocou


uma grande mao no topo da minha cabeça, bagunçando meu
cabelo. — Voce com certeza ficou linda hoje, Carissa Ann. — disse
ele, envolvendo um braço em volta de mim e me puxando para o lado
dele. — Me deixou orgulhoso quando todos saíram para ver voce
atravessar esse palco. — Seus olhos se tornaram vítreos, um sinal
claro de que ele estava sentindo falta de mamae.

Meu coraçao se partiu por ele.

Ela deveria estar aqui...

— Sua mae ficaria orgulhosa de voce tambem. — Sua voz falhou


na ultima palavra. — Disso, tenho certeza.

Meu queixo tremeu.


Lagrimas encheram meus olhos, mas eu as limpei antes que
elas tivessem a chance de cair.

— E o bom Deus sabe que voce com certeza deixou o homem


orgulhoso. Eu nunca o vi sorrir ate hoje.

— Isso e porque ele nao sorri. — interceptou a bunda de


Hendrix da piscina. Ele olhou para cima, encontrando o olhar de
papai. — Exceto quando se trata de Carissa. Pergunte a Pop. Tudo o
que alguem na estaçao tem que fazer e mencionar o nome de C e
aquele rosto de filho da puta se ilumina. — Ele riu. — A menos que
seu nome seja Carson, de qualquer maneira. Da ultima vez que o
idiota mencionou o nome de Carissa, Kyle passou sua cabeça pelo
armario.

Espere. O que?

— Quem e Carson? — Eu perguntei, confusa.

— Ele e um novato na estaçao. — respondeu Hendrix. — Alguns


meses atras, ele viu uma foto sua e Maddie na mesa de Pop. O idiota
desenvolveu uma paixao, sem perceber que isso era um desejo
inutil.

Papai grunhiu.

— Kyle o colocou em linha reta?

Hendrix assentiu.

— Mais de uma vez. Tenho certeza que ele conseguiu a foto


desta ultima vez embora. Duvido que ele pense no nome de Carissa
novamente, muito menos diga em voz alta.
Bem então…

— Isso nao e justo. — Heidi assinou rapidamente, ela estreitou


os olhos em mim. — Voce tem todos esses caras que gostam de voce
e nem um so gosta de mim. — ela jogou as maos para o alto antes de
continuar — e nos parecemos iguais!

Hendrix, que se esforçara para aprender ASL, olhou para ela


como se ela fosse louca. Acenando com a mao para chamar sua
atençao, ele se certificou de que seus olhos estivessem nos labios
antes de falar. Entao.

— Voce tem que estar brincando comigo, Bug.

— Eles nao fazem. — Heidi assinou, entao bufou.

— Eles com certeza fazem.

A irritaçao percorreu seu rosto enquanto suas maos


continuavam a se mover.

— Entao, como e que ninguem me convidou para sair?

Hendrix olhou para as meninas antes de voltar o olhar para


Heidi.

— Porque Ty matará qualquer um que o faça, e ele deixou isso


claro para todo homem dentro de sessenta milhas.

— Voce tem que estar de merda...

Eu bati no braço do papai.

— Linguagem, papai. Os bebes estao bem aí.


Ele balançou a cabeça e sorriu para Melody e Maci.

— Desculpe, queridinhas.

Seu olhar saltou para Hendrix.

— Ty como em Ty Jacobs?

— Sim, esse idiota.

Papai inclinou a cabeça para tras, olhando para o ceu.

— Isso so continua ficando melhor e melhor. — Soprando a


respiraçao, ele olhou para Heidi, contraindo os olhos. – Voce... — ele
apontou para ela — ...nao e permitido namorar, nunca, e voce tenha
certeza que nao e permitido namorar ninguem chamado Ty Jacobs.

Papai pode ter jogado a alavanca para baixo, mas Heidi ficou
feliz em pega-la de volta.

— Vamos ver. — ela assinou e mandou de volta, um desafio


dançando em seus olhos. — Ty e fofo. Gosto muito de fofo.

Mordi minha língua, recusando-me a dizer qualquer coisa.


Heidi era doce como poderia ser, mas ela tinha um traço rebelde de
uma milha de comprimento nela. Se eu dissesse alguma coisa ruim
sobre Ty, a primeira coisa que ela faria seria correr direto para os
braços dele.

Isso nao era uma opçao.

— Heidi, eu nao estou brincando. — papai continuou. — Quero


dizer. Voce fica longe...

As palavras morreram em sua língua quando vovo saiu da casa


de piscina recem-construída de Brantley e Clara.

Ao ve-la, meu queixo caiu no chao.

— Bem, papai. — Heidi assinou, com uma expressao sarcastica


no rosto. — Isso com certeza parece um biquíni para mim.

— Senhor tenha piedade. — Papai parecia espantado. — Eu nao


achei que o velho passaro tivesse isso nela. Eu sei que ela e louca,
mas eu nao achei que ela fosse tão louca.

Eu nao pude deixar de rir.

Vestida com um biquíni rosa e chapeu de sol combinando,


chinelos incrustados de babados brancos e usando o que tinha que
ser meio tubo de batom de cor magenta, vovo desfilou na direçao da
piscina, com o queixo erguido.

— Eu nao sei o que todo mundo esta olhando. — disse ela,


segurando uma toalha de piscina em uma mao e um copo de cha
doce na outra. — Eu sei que eu tenho pernas como Tina Turner, mas
isso nao significa que voce tem que ficar de boca aberta.

Shelby, que estava sentada em uma espreguiçadeira do outro


lado da piscina, ergueu o copo de Chardonnay no ar e gritou.

— Vai, vovo!

Vovo sorriu antes de procurar na area por alguem.

Quem esse alguem era, eu soube imediatamente.

Quando seus olhos nao encontraram Kyle, ela olhou para mim.

— Onde esta o meu homem e seu, pequena vadia?


Levantei uma sobrancelha e cruzei os braços sobre o peito,
acrescentando uma dose de insolencia ao meu comportamento.
Exagerar com vovo era uma das minhas coisas favoritas para
fazer. Sempre foi.

— Seu homem? — Fiz uma pausa para efeito dramatico. —


Estou bastante certa de que ele e meu e nao seu, velha louca jararaca.

— Ele nao e seu tambem. — papai bufou, agindo como uma


criança pronta para jogar uma birra.

Heidi mandou ele se calar, levantando as maos no ar.

— Quieto, papai. — ela assinou. — Ele tambem e.

Diversao dançou nos olhos de vovo quando ela olhou para mim.

— Veremos. Eu conheço seu sexy por muito tempo...

Ela fechou a boca quando um braço forte envolveu meu


corpo por tras. O cheiro de Kyle tomou conta de mim, me deixando
a vontade.

— Ei, menina bonita. — disse ele, beijando a casca da minha


orelha. — Eu perdi o inferno longe de voce.

Heidi sorriu de orelha a orelha.

Vovo, no entanto, ela colou uma carranca falsa.

— Olhe para a pequena novilha, — ela murmurou alto o


suficiente para eu ouvir. — Ela acabou de roubar meu Hulk.

Eu pisquei.
— Voce me chamou de gorda?

Os olhos de vovo se arregalaram.

— Nao!

— Sim, voce fez. — eu atirei de volta, provocando. — Uma


novilha e uma vaca e as vacas sao gordas.

Vovo revirou os olhos.

— Infernos, aqui vai ela...

— Ouça, eu sei que eu tenho um pouco de carne extra. — Eu dei


um tapinha no lado da minha perna. — Mas eu não sou gorda.

Kyle endureceu.

No entanto, ele nao disse nada.

Brantley, porem, ele tinha muito a dizer.

— Nao ha nada de errado com a carne. — disse ele, sorrindo


para Clara, que estava sentada em uma espreguiçadeira ao lado de
Shelby. — Sem curvas, um homem pode adormecer ao volante. Certo
foguete?

— Voce... — Clara apontou para ele — ...cale-se, menino


bonito. Ha muitos ouvidos pequenos por aqui.

Brantley sorriu.

— Sim, senhora.

Kyle escolheu esse momento para me girar, roubando toda a


minha atençao. Ele caminhou para tras, me puxando com ele ate que
dez metros de espaço nos separaram do papai e da Heidi. Maos nos
meus quadris, ele olhou para mim, uma expressao seria no rosto.

— Diga-me que voce acredita nisso.

Inclinei a cabeça para o lado.

— Acreditar no que?

— Que voce nao e gorda.

— Eu nao acho que sou gorda. — respondi. — Robusta, sim,


mas nao...

— Voce não e robusta. — Kyle interrompeu, cavando os dedos


em meus quadris. — Voce e fodidamente perfeita.

— Kylie, certas partes de mim balançam quando eu ando.


Portanto, sou um pouco gordinha.

Nao que houvesse algo de errado com isso. Como mamae e


Heidi, eu sempre carregava um pouco de peso extra em certos
lugares. Nunca me incomodou. Fui criada para acreditar que
as mulheres eram bonitas, nao importando o tamanho ou a forma do
corpo. Era algo que eu acreditava de todo o coraçao. Como eu nao
poderia? Todos os dias, durante dezesseis anos, escutei o papai dizer
a mamae como ela era linda, e mamae nao era uma mulher pequena.

Isso nunca importava para o papai.

Para ele, ela era a mulher mais linda do mundo.

Ponto final.

— Mas tudo bem. — eu continuei. — Eu gosto de mim do jeito


que sou.

E eu gostava.

Kyle deslizou as maos pelos meus lados ate que descansaram


em minhas costelas. Um olhar parecido com o que ele usou na
cozinha mais cedo naquela manha se espalhou por seu rosto.

— Eu gosto de voce do jeito que voce e tambem, princesa. — ele


sussurrou no meu ouvido depois de abaixar a cabeça. — Voce pode
apostar nisso.

— Bom. — Eu descansei minhas maos em seu abdomen, enrolei


meus dedos no tecido de sua camisa e fiquei na ponta dos pes,
pairando meus labios ao lado de sua orelha. — Porque eu balanço
muito quando estou nua.

Era para ser uma piada.

Mas Kyle sendo Kyle, ele tomou uma direçao diferente.

Envolvendo suas maos ao redor dos meus pulsos, ele me


segurou firme.

— Confie em mim, baby. — ele sussurrou. — Quando eu tomar


sua boceta apertada por tras, eu vou descobrir exatamente o quanto
sua bunda perfeita se move.

Minha boca se abriu.

— Eu nao posso acreditar em voce

— Hulk! — Vovo interrompeu. — Venha aqui e me ajude na


boia!
Kyle baixou a cabeça e rosnou.

— Eu... — Eu nao tinha ideia do que dizer. Por mais que eu


tentasse, as palavras nao viriam. — Apenas... — Eu acenei em
direçao a vovo. — Ajude ela.

Ele deslizou a mao no meu cabelo e beijou minha testa.

— Fique aqui. Eu estarei de volta em um minuto.

Ele saiu, tirando a camisa enquanto ia.

— Tudo bem, vovo. — disse ele, alcançando a velha louca que


eu amava mais do que as palavras poderiam expressar. — Vamos
fazer isso.

Vovo gritou quando Kyle a ergueu em seus braços.

— Alguem tire uma foto comigo em seus braços! — Ela gritou


quando ele saltou quase completamente vestido na parte rasa da
piscina, levando-a com ele.

Pop, que eu nao tinha visto sair da casa, entrou logo atras dele
e pegou o flutuador.

— Eu vou segura-lo enquanto voce coloca ela.

Vovo gargalhou quando Kyle a colocou no flutuador,


certificando-se de que ela estava firme antes que ele tirasse as maos.

— Voce esta bem? — Ele perguntou, sua voz brilhando de


felicidade.

— Voce esta certo querido! — Ela gritou, agarrando redeas


brilhantes do unicornio.
Bella, junto com Lucca, Liam e Declan, correram ate a piscina do
final do quintal onde eles estavam jogando.

— Olha, mamae! — Bella gritou para Clara. — Vovo esta


montando um unicornio! — Batendo palmas, ela saltou na ponta dos
pes. — E tao bonito! Posso andar?

Vovo gargalhou quando Kyle empurrou o flutuador, mandando-


a para o outro lado da piscina.

— Pegue sua roupa de banho, Pumpkin, e venha!

Com um grito estridente, Bella foi para a casa.

— Hey, vovo. — disse Declan, uma expressao confusa no


rosto. — Voce nao e velha demais para andar de boias?

Vovo balançou o olhar em sua direçao.

— Eu vou te dizer a mesma coisa que eu sempre disse a Maddie.


— Ela fez uma pausa. — Ser velha nao e desculpa para ser chata.

— Essa e a verdade! — Charlotte disse, saindo da casa com


Ryker em seus braços e uma sonolenta Hope se arrastando atras
dela. — Voce pode ser velha, mas voce nao esta morta ainda, certo,
vovo?

Vovo levantou a mao para o ar e gritou alguma coisa que eu nao


conseguia entender.

Heidi levantou-se da espreguiçadeira e piscou na minha


direçao. Um olhar que soletrou dificuldade apareceu em seu rosto
bonito.
Ela está tramando algo...

— Papai. — ela assinou, em pe na frente dele. — Posso usar seu


telefone? Preciso fazer uma ligaçao e deixei o meu no seu caminhao.

Papai tirou o celular do bolso.

— Contanto que voce nao chame nenhum garoto chamado Ty.


— Seus olhos se estreitaram. — Eu odiaria ter que mata-lo.

Heidi revirou os olhos e pegou o telefone da mao dele.

— Eu posso segurar sua carteira tambem?

Papai nao se incomodou em perguntar por que ela queria


segurar sua carteira. Em vez disso, ele respondeu com.

— Deixei no painel do caminhao. Voce precisa de dinheiro?

Como ele nao viu o que estava por vir, nao tenho a menor ideia.

Heidi sorriu enquanto balançava a cabeça.

Antes que eu pudesse avisar o papai, não que eu quisesse, ela se


adiantou, colocou as maos no peito dele e empurrou-o para
tras. Hendrix deve ter sabido o que ela estava prestes a fazer porque
ele ja havia levado Melody e Maci para o outro lado da piscina.

Incapaz de se endireitar, papai tropeçou para tras e para a


borda. Com os braços agitados, ele caiu bem em cima de vovo,
derrubando-a do flutuador.

Ambos desapareceram debaixo da agua.

Entrei em panico e por um momento Heidi tambem.


Kyle e Pop ambos pularam para vovo.

Ela subiu a superfície antes que eles chegassem a ela.

Espalhando uma boca cheia de agua, ela olhou para o papai.

— Diabos, Daryl! — Ela gritou, empurrando um pedaço de


cabelo grisalho para fora do rosto. — Voce poderia pelo menos me
comprar um drink primeiro!

Eu quase engasguei.

Papai nao estava tao divertido.

Apontando um dedo para Heidi, ele rosnou.

— Voce... — ele nadou em direçao a ela — ...melhor


correr. Rapido.

Heidi nao parecia nem um pouco assustada.

— Ei, Pop. — ela disse, usando sua voz e me surpreendendo. —


Ty esta na estaçao?

Pop, que arrastava vovo ate a beira da piscina, assentiu.

— Sim, garota, ele estara la o dia todo.

Heidi olhou para o pai e sorriu.

— Eu nao estou correndo para qualquer lugar, mas eu sei para


onde estou dirigindo.

Sem perder mais um segundo, virou-se e correu pelo portao e


desceu a entrada em direçao ao caminhao de papai.
Papai pulou da piscina e foi atras dela, mas ja era tarde demais.

Seu caminhao rugiu para a vida, e Heidi decolou pela estrada.

— Voce deixou as chaves nele? — Eu perguntei, sem saber o que


fazer.

Os olhos de papai se arregalaram.

— A droga tem trinta anos e usa mais combustível do que um


747, Carissa Ann. Eu nao estava preocupado com ninguem
roubando!

Ele se virou.

— James. — disse ele para Pop. — Voce pode me dar uma


carona?

Pop saiu da piscina.

— Coisa certa. Apenas me deixe pegar minhas chaves.

— Marque minhas palavras, Daryl. — vovo interveio. — Se voce


perseguir aquela garota e arrasta-la de volta para casa, voce so
piorara as coisas. Confie em mim.

Nao ouvindo uma palavra que vovo disse, papai se afastou,


seguindo o mesmo caminho que Heidi tomara. Ele parecia tao louco
quanto eu ja vi. Eu nao invejei minha irma nem Ty se papai os
pegasse juntos.

Tudo o que eu pude pensar enquanto o observava foi que Deus


ajude os dois.
CAPÍTULO 16
Carissa
O apartamento de Kyle era maior do que eu imaginava.

Pisos de madeira escura, tinham o comprimento de dois


quartos, dois banheiros, as paredes eram pintadas de amarelo
cremoso que exalavam conforto, e uma porta de vidro deslizante
conectava a sala bem iluminada a uma pequena sacada que dava
para o estacionamento.

Alem de roupas descartadas espalhadas em lugares aleatorios


e uma caixa de pizza vazia ou duas, nao se parecia em nada com o
típico apartamento de solteiro. Nao estava bagunçado ou cheio ate a
borda com moveis de couro e eletronicos caros.

Ate cheirava bem.

Uma mistura de colonia de Kyle e algo terreno pairava no ar,


enchendo o espaço.

Eu amei.

Segurando bem as alças da minha bolsa, puxei meu olhar do


sofa cinza escuro que abraçava a parede ao meu lado e olhei para
Kyle. Ele ficou do outro lado da sala, as costas encostadas na parede
oposta, olhando para mim, uma expressao ilegível em seu rosto.

Inclinei a cabeça para o lado e sorri para ele.


— Sobre o que voce esta pensando?

Ele nao falou.

Ele nao piscou.

Eu soltei um suspiro quando atravessei a sala e parei na frente


dele. Uma onda de cloro emanava dele, queimando meus
olhos. Ainda usando as mesmas calças encharcadas da minha festa
de formatura; as substancias químicas se agarravam a ele como uma
segunda pele.

Eu apertei meu nariz e deslizei minha bolsa do meu braço. Eu


deixei cair no chao pelos meus pes sem pensar duas vezes.

— Voce pode querer tomar um banho, Hulk. — eu sussurrei. —


Se nao, o cloro vai secar na sua pele.

— Eu nao dou a mínima para isso. — respondeu ele, seus olhos


nunca se desviando dos meus. — A unica coisa que me interessa
agora e voce.

— Eu?

— Sim, voce. — ele respondeu, em pe alto. — Só voce.

— Voce nao precisa se preocupar comigo. — Eu levemente


passei a ponta do dedo pelo seu peito nu. — Eu nao estou indo a
lugar nenhum.

E eu nao estava.

Nao por um tempo, de qualquer maneira.

Mais cedo, depois que papai e Pop saíram correndo atras de


Heidi, que a encontraram estacionada em frente a biblioteca publica,
longe de Ty, Kyle me implorou para voltar para casa com ele. Ele
sabia que papai estava indo para a rua assim que a festa acabasse, e
desde que ela tinha planos de passar a noite com Hope, ele nao me
queria sozinha.

Isso nao teria acontecido, independentemente disso.

Como Heidi, eu estava planejando ficar com Hope. Mas no


momento em que Kyle me pediu para ficar com ele, meus planos
mudaram. Eu nem me incomodei em lutar.

Papai nao estava muito feliz quando eu mandei uma mensagem


para ele, deixando-o saber onde eu estaria. Mas o que ele poderia
fazer? Eu tinha vinte e tres anos e era a noite da minha formatura na
faculdade. Por mais que odiasse, recuar era a unica opçao que ele
tinha.

Surpreendentemente, depois de um punhado de ameaças bem


feitas, foi o que ele fez.

Ouça-me agora, Carissa Ann, ele disse. Se o grande menino te


fizer chorar, eu mato ele e descarto o corpo dele no pântano, as
consequências serão um inferno.

Tambem nao era uma ameaça ociosa; embora tivesse sido


desnecessaria.

Kyle se mataria antes que ele me machucasse.

— Eu sei que voce nao vai. — ele respondeu em resposta a


minha pergunta segundos antes. — Porque eu nao vou deixar voce.

Eu sorri e inclinei a cabeça para tras, me dando uma visao


melhor de seu lindo rosto.

— E assim mesmo?

Ele assentiu, passando a língua pelo labio inferior.

— Bem... — eu coloquei minhas maos em seus ombros,


massageando os musculos fortes que ficavam sob as palmas das
maos — ...e uma coisa boa que eu nao planejo ir a lugar nenhum
entao, nao e?

— Se eu tiver algo a dizer sobre isso, voce nunca mais ira a lugar
algum.

Meu rosto caiu.

Eu nao sabia se ele estava falando serio ou nao, embora


estivesse apostando no primeiro e nao no segundo.

— Kyle. — eu sussurrei. — Eu sei que sou sua princesa, mas


voce nao pode me manter trancada em uma torre de marfim. Eu
tenho dois empregos, amigos, uma família...

Ele piscou antes de envolver seus braços em minhas costas e


me puxar para ele. Suas calças encharcadas umedecendo a saia do
meu vestido e a frente das minhas coxas.

— Sim, nos vamos falar sobre isso tambem. Essa merda de dois
empregos precisa terminar. — Ele passou o nariz ao longo do meu
queixo, respirando. — No que diz respeito a trancar voce, tente-me.

Meus olhos se fecharam.

Entre o jeito que ele me segurou em seus braços e as palavras


que dançavam passando por seus labios, eu era uma bola de papa.

— Que tal começarmos esta noite. — respondi, ignorando o


comentario sobre eu ter dois empregos. Alem de trabalhar no
abrigo, ainda limpava casas a tempo parcial com a Heidi. Eu estava
fazendo isso desde o meu ultimo ano do ensino medio, e eu nao tinha
planos para parar tao cedo.

Eu tinha emprestimos estudantis para pagar e Heidi tinha livros


para comprar.

Embora as coisas tivessem melhorado desde que conheci Kyle,


o dinheiro ainda estava apertado e nossa situaçao financeira nao era
facil. Mas tudo bem. Eu nasci com uma coluna de titanio e
uma vontade de ferro. Eu trabalharia meus dedos ate o osso se fosse
necessario.

Eu deixei cair a cabeça para tras e deslizei meus braços ao redor


da parte de tras do seu pescoço, entrelaçando meus dedos
juntos. Seus labios arrastaram beijos para baixo da coluna da minha
garganta.

— Quem sabe, voce pode ficar farto de mim depois


da noite. Pelo que Heidi diz, eu ando em meu sono e tiro todas as
cobertas.

Kyle congelou.

— Carissa. — ele rosnou meu nome contra a minha pele


sensível. — Nunca mais diga isso de novo.

Meus olhos se abriram.

— Dizer...
— Eu nunca vou... — ele se afastou e olhou para mim — ...e eu
quero dizer, porra nunca ficar farto de voce.

— Kyle...

— Nao hoje a noite, nem amanha, e nem quando estiver tao


velho que nao consiga lembrar meu proprio nome. Voce me
entende?

Eu balancei a cabeça, surpresa com a aspereza que revestia sua


voz.

— Diga isso. — ele rosnou, aumentando seu aperto. — Diga-me


que voce entende.

— Eu entendo. — Eu soltei meus braços de seu pescoço e


enrolei meus dedos ao redor de suas costas.

Ele exalou; suas feiçoes se suavizaram.

— Cristo, baby, me desculpe. Eu sei que pareço um idiota, mas


nao quero dizer. Isso so me irrita que voce pode ate brincar com algo
assim.

— Eu nao fiz.

— Voce nao sabe o que voce significa para mim. — disse ele,
interrompendo-me. — Voce pode pensar que sim, mas Carissa, voce
nao tem a menor ideia.

Eu esperei que ele continuasse.

— Eu esperei por voce desde que eu tinha 12 anos de idade,


garota linda. Voce pode nao acreditar, mas eu fiz.
— O que? — Minha voz era de descrença.

Seus dedos cravaram na minha parte inferior das costas quando


seus olhos se encheram de algo escuro, algo doloroso.

— Quando Lily... — Apertando a mandíbula com força, ele


respirou fundo. — Quando minha irmazinha morreu, toda a minha
vida se desfez. Alem dela, perdi minha mae, perdi meu pai. Inferno,
eu perdi todas as malditas coisas.

Meu coraçao estava partido.

Juro por Deus, eu podia senti-lo estalando no centro.

— Eu nunca deixo ninguem chegar perto depois disso. Nem


Hendrix. Nem Ty. — Uma risada sem humor se derramou de seus
labios. — Tenho vinte e nove anos e nunca tive um
relacionamento. Nao me entenda mal, dormi com minha parte de
mulheres...

— Kyle...

Eu nao queria ouvir isso.

Nem um pouco.

— Mas... — ele continuou, me cortando. — Eu nunca levei uma


mulher para um encontro, nunca mostrei qualquer afeto. Eu nunca
deixei ninguem passar a noite depois que ela cumpriu o seu
proposito.

Bem, isso é todo tipo de confusão...

— Entao voce veio e tudo mudou.


— Voce... — Eu comecei antes de parar para recuperar o
folego. — Voce dormiu com alguem depois...

— Depois que te conheci?

Nao querendo falar, eu assenti. Embora eu nao pudesse segura-


lo novamente, se ele estivesse com outra pessoa, eu sabia que nao
iria lidar bem com isso. Eu posso ser a mais equilibrada da minha
família, mas ainda tinha um temperamento digno do nome da
família Johnson.

Se ele tivesse dormido com alguem depois de prometer me


reivindicar quando eu estivesse formada, estaria sujeito a dar uma
joelhada nele; uma açao que me deixaria me sentindo culpada e
justificada.

Emoçoes por todo o lugar, meu rosto aquecido de raiva.

— Sim. — eu bati, sentindo meu corpo endurecer. — Depois


que voce me conheceu.

Kyle riu.

Meus olhos se estreitaram em resposta.

Ele está rindo de mim?

— Voce realmente nao entende, nao e?

Eu lutei contra o desejo de bater no meu pe contra o chao


enquanto afinava meus labios em tiras planas.

— Bem, voce fez isso?

— Carissa. — ele continuou a rir, — Baby, eu nao


tenho sequer olhado para outra mulher desde que voce valsou sua
bunda linda em minha vida e virou meu mundo de cabeça para
baixo.

O alívio passou por mim.

Obrigada, Deus.

Nao sabendo o que dizer ou fazer, eu sussurrei a primeira coisa


que surgiu na minha cabeça.

— Entao voce meio que gosta de mim, hein?

— Depois de tudo que eu acabei de dizer, essa e a sua resposta?


— Dei de ombros, e seus olhos se estreitaram. — Voce e uma
espertinha, voce sabe disso?

Uma risada escapou dos meus labios.

— Eu entendo isso honestamente. Voce conheceu meu pai e


minha irma. Tenho certeza de que e genetico.

— Porra, Heidi. Aquela garota. — Kyle balançou a cabeça. — Ty


nao tem a menor ideia do que ele esta se metendo.

Meu rosto caiu com a mençao do nome de Ty.

— Ele nao e permitido em qualquer lugar perto de Heidi. — eu


disse com firmeza. — Isso nao esta acontecendo.

— Baby. — ele respondeu, rindo. — Eu odeio ser o unico a lhe


dizer isso, mas voce nao o esta parando. Eu conheço Ty desde que
eramos crianças. Ele e um pirralho mimado que sempre consegue o
que quer, e o que ele quer e Heidi.
Minha espinha se endireitou.

— Ele queria Maddie, mas nao a pegou.

— Isso e porque Maddie tinha Hendrix. Mesmo assim, Ty levou


alguns espancamentos antes de desistir dela.

— Sim mas...

— Nao ha mas. Ty vai enterrar quem for atras de Heidi, e isso e


um fato.

Eu respirei fundo.

— Como voce sabe?

— Porque ele olha para a sua irmazinha da mesma maneira que


eu olho para voce.

E assim, as borboletas na minha barriga mais uma vez


levantaram voo.

— Sim? E como voce olha para mim?

Seus labios pairaram sobre os meus.

— Como se voce fosse o meu mundo inteiro.

Eu engoli em torno do caroço que se expandiu na minha


garganta.

— Eu sou o seu mundo inteiro? — Eu perguntei, ja sabendo a


resposta. Eu queria, nao, precisava, ouví-lo dizer as palavras que
tanto meu coraçao quanto minha alma ansiavam.

— Carissa... — ele segurou meu queixo com suas maos


calejadas — ...voce e meu tudo. Meu coraçao, minha alma, minha
vida inteira.

Meus olhos encheram de lagrimas.

— E e melhor voce nunca esquecer tambem.

Meu queixo tremeu quando uma lagrima escorregou.

— Eu nao vou. — eu sussurrei, sufocando o soluço completo


subindo minha garganta. – Prometo.

— Bom. — ele sussurrou, espanando seus labios contra os


meus. — Mas apenas no caso, eu planejo lembra-la todos os dias
para o resto de nossas vidas. — Ele fez uma pausa e beliscou meu
queixo entre o polegar e o dedo indicador, olhando-me nos olhos. —
Começando agora.

Foi a ultima coisa que ele disse antes de bater seus labios nos
meus.
CAPÍTULO 17
Carissa
Com o celular na mao, sentei no final da cama de Kyle, minhas
pernas nuas cruzadas uma sobre a outra, ouvindo o chuveiro
corrente do banheiro ligado.

Energia nervosa rolou atraves de mim enquanto eu olhava para


o vapor que se derramou pela porta aberta. Sabendo que Kyle estava
a poucos metros de distancia, nu e coberto por uma mistura de agua
e sabao, causou estragos em minha mente.

Cada centímetro do meu corpo gritava para eu me levantar e


me juntar a ele, mas nao conseguia me obrigar, nao importa o quanto
eu quisesse. Inexperiente em todas as coisas sexuais, incluindo
seduçao, eu nao tinha a menor ideia de como eu abordaria tal
situaçao.

Eu só entro?

Preciso perguntar a ele primeiro?

E se ele não me quiser lá?

Tantas perguntas estupidas.

Respostas zero.

Frustrada, eu peguei um pedaço de fiapo preso ao final de seu


edredom. Um edredom que, devo acrescentar, era super macio e
cheirava exatamente como ele, o homem com quem eu estava
obcecada.

Mais como... No limite,

Meu celular vibrou, cortando meus pensamentos.

Eu olhei para baixo para ver uma mensagem de Shelby piscando


na tela.

Acabei de sair da casa de Hope, ela mandou uma


mensagem. Heidi está bem. Ela está dormindo ao lado de Ashley no
quarto de hóspedes.

Eu comecei a responder, mas quando ela continuou, eu esperei.

Divirta-se com o Hulk e lembre-se de usar proteção, disse a


segunda mensagem. Ou não... Isso funciona também.

Revirei os olhos antes de responder. Noite, loirinha. Vejo você no


trabalho amanhã.

Um emoji risonho seguido de um coraçao vermelho foi a ultima


mensagem que ela enviou.

Heidi estava certa, liguei meu telefone silenciosamente, torci a


cintura e joguei na direçao da cabeceira da cama. Eu ofeguei quando
eu virei e vi Kyle de pe dentro do quarto, nada alem de uma toalha
escura cor de chocolate enrolada em sua cintura magra.

Minha respiraçao saiu de dentro de mim.

Eu o vi sem camisa antes,muitas vezes, mas nada comparado a


maneira como ele parecia naquele momento. Seu cabelo ainda
estava umido, completamente despenteado da toalha que ele
passara por ele, e gotas de agua ainda se agarravam a sua pele
bronzeada, chamando a atençao para os musculos duros e vales
profundos que cobriam seu torso.

Ele parecia de dar agua na boca.

Mordi meu labio inferior para nao babar.

Ele nao disse nada quando seus olhos castanhos sentiram-se no


meu rosto antes de deslizarem pelo meu pescoço e ate a camiseta
cinza enorme que me cobria. Sua mandíbula marcada coberta de
restolho de barba enquanto ele olhava para o material macio, posse
se formando em seus olhos.

— O que voce esta vestindo?

Minha pele aqueceu sob o olhar dele. Deixando cair meu olhar
para minhas maos, eu escolhi o polimento azul lascado que cobria
minhas unhas.

— Sua camisa. — eu respondi, minha voz um sussurro. — Meu


vestido estava molhado, e eu precisava de algo para vestir, entao eu
peguei a primeira coisa que encontrei em sua comoda. — Eu olhei
para cima, encontrando seu olhar. — Eu espero que esteja tudo bem.

Eu esperei que ele respondesse.

Ele nao fez isso.

Em vez disso, ele apenas ficou ali, com uma expressao de dor no
rosto.

Porcaria! Ele está com raiva?


— Eu posso tira-lo se voce quiser. Eu nao quis dizer...

— Carissa. — ele disse, sua voz tao grave que eu mal reconheci
isso. — Pare de falar e levante-se.

Nao querendo desobedece-lo, eu deslizei do fim da cama e me


levantei.

— Boa menina. — ele continuou. — Agora venha aqui.

Nao houve hesitaçao quando me movi, meus pes descalços


encostados no chao frio. Parei na frente dele, meu corpo a poucos
centímetros do dele.

Seus olhos brilharam com a minha obediencia.

Eu esperava que ele me tocasse, mas ele nao o fez. Em vez disso,
ele segurou a toalha com mais força e aproximou seus labios dos
meus. A umidade aquecida saindo de sua pele passou atraves do
algodao fino cobrindo meu peito, me banhando em seu calor.

— Eu gosto da minha camisa cobrindo a sua pele, mas eu vou


gostar mais dela aos seus pes.

Meus olhos se arregalaram.

— Tire isso. — O halito de menta flutuou sobre o meu rosto.

Eu nao conseguia me mexer, nao conseguia pensar.

Mal podia respirar.

Kyle sorriu. Levantando uma unica mao, ele traçou a ponta do


meu dedo pelo lado do meu rosto e atraves do meu labio inferior.
— Tire isso e me mostre o que e meu.

Embora sua voz fosse exigente, a emoçao em seus olhos era


tudo menos isso.

Era obvio que ele ansiava por ver as partes de mim que
eu escondia, desejava explorar minha carne tremula com as
maos, talvez até com a língua, mas o fato de a bola estar na minha
quadra era claro. Kyle pode ter ordenado que eu me despisse, mas a
escolha de obedecer era minha.

Se eu dissesse nao, ele entenderia.

Se eu nao estivesse pronta, ele nao iria empurrar.

Dessas duas coisas, eu estava confiante.

Olhos presos nos dele, eu belisquei a bainha de sua camisa


entre meus dedos. Meus movimentos estavam ausentes de hesitaçao
quando eu levantei o material, revelando minha pele cremosa,
polegada por polegada. Sua respiraçao engatou quando sua camisa
deslizou sobre meus quadris revelando o apice das minhas coxas.

Junto com o meu vestido e sutia encharcados, minha calcinha


havia desaparecido ha muito tempo, descartada no canto do
quarto. Eu sabia que este momento estava chegando, eu esperava, e
me preparei.

Quanto menos eu usasse, menos precisava ser removido.

Eu puxei a camisa sobre as minhas costelas, revelando o


inchaço dos meus seios, depois meus mamilos. Meus olhos se
fecharam enquanto eu puxava a camisa sobre a minha cabeça e a
tirava dos braços, deixando-a flutuar no chao.
O voto que ele fez naquela noite fatídica, e o vínculo
inquebrantavel que tínhamos formado desde entao, todos estavam
conduzindo a este momento; um que iria cimentar nosso
relacionamento, mudar o curso de nossas vidas, e selar nossos
destinos. Para sempre..

De pe diante dele, meu corpo estava nu.

Minha alma estava aberta.

E meu coraçao? Era dele para tomar.

Com os olhos abertos, olhei para ele enquanto meu coraçao


batia descontroladamente.

— Nao me faça esperar. — eu sussurrei, sentindo minhas maos


tremerem. — Ja faz tempo demais. — Senti-me ousada, fortalecida,
enquanto pegava sua mao livre com a minha e a descansava no meu
quadril curvo. — Por favor, Kyle. — eu implorei, — toque-me.

Ele nao hesitou.

A toalha que ele usava caiu no chao quando ele soltou e me


puxou para seus braços. Perdida em seus olhos, nao olhei para
baixo. Parte de mim estava com medo tambem, enquanto a outra
parte nao queria perder a emoçao que brilhou em seu rosto, me
dando um vislumbre dos sentimentos que se formavam dentro dele.

Braços em volta de mim, ele girou em torno de nos e empurrou


minhas costas contra a parede. Suas maos foram para a minha
cintura e seu abdomen pressionou meu peito, enjaulando meu
corpo, e me deixando sem espaço para escapar.

Vulnerabilidade atada com o desejo consumindo se insinuou.


Removendo as maos dos meus quadris, ele segurou meu
rosto. A expressao que ele tinha me lembrou a de um predador, mas
o jeito que ele me tocou era suave. Gentil.

— Diga-me se voce nao quer isso. — disse ele, sua voz ainda
mais profunda do que antes. — Nao importa o quanto eu te quero,
princesa, eu nunca vou tocar em voce sem o seu consentimento.

A honestidade que revestia suas palavras era minha ruína.

— Toque-me. — eu sussurrei em resposta, cavando minhas


unhas nos ombros. — Sou sua.

Seu controle minguante estalou.

Uma mao foi para a minha garganta enquanto a outra afundou


no meu cabelo. Envolvendo minhas mechas loiras em torno de seu
punho, ele empurrou minha cabeça para tras e bateu sua boca em
cima de mim. Meus labios abriram em um suspiro, e sua língua
disparou para dentro, encontrando a minha.

Eu derreti.

Meus braços foram ao redor de seu pescoço; minhas pernas


tremiam.

Ele recuou e afundou seus dentes no meu labio inferior,


mordendo minha carne. Doeu, mas a pequena mordida de dor foi
misturada com prazer, algo que eu nunca soube que era possível
antes dele.

Kyle se afastou, soltando as maos do meu corpo.

Eu lamentei em protesto.
— Eu nao posso esperar. — ele rosnou, ajoelhando-se. — Tem
sido tempo suficiente.

Antes que eu pudesse perguntar o que ele queria dizer, ele


enganchou a perna direita sobre o ombro.

— Incline-se contra a parede. — A demanda em sua voz era


aguda, nao deixando espaço para um desafio. Nao que eu teria
argumentado para começar.

Eu me inclinei para tras e ele me levantou em seus ombros,


colocando minha outra perna em frente ao topo. Eu chorei em
choque quando ele se levantou, empurrando-me para a
parede. Meus dedos encontraram o cabelo dele; eu agarrei as
mechas por minha vida enquanto ele me segurava, seu rosto a
centímetros do meu centro.

— Oh meu... — ofeguei — ...Deus!

Kyle virou a cabeça, espanando os labios contra o interior


da minha coxa. Primeiro uma, depois a outra.

— Quando voce gozar, Carissa... — ele envolveu seus braços ao


redor das minhas pernas, me segurando firme — e melhor que seja
meu nome que voce grita. Nao o de Deus.

Sem aviso, Kyle pressionou a boca aberta entre as minhas


pernas e enfiou a língua entre as minhas dobras. Eu gritei, minhas
costas arqueando. O extase me consumiu, ameaçando me dilacerar
pelas costuras.

Sua língua traçou minha fenda, provando cada centímetro de


mim.
Prazer beliscou meus nervos; o mundo desapareceu.

Eu puxei sua cabeça, puxando-o para mais perto.

Em resposta, ele rosnou baixo em sua garganta enquanto seus


dedos cavavam em minhas coxas.

Gemidos e gritos — estão vindo de mim? encheram o quarto,


ecoando pelas paredes.

A língua de Kyle mergulhou um centímetro mais baixo dentro


de mim e minha visao vacilou. Pressao construída, me levando para
um lugar que eu nunca tinha estado antes. Eu ofeguei, suspirei e
depois gritei. Alto.

— Kyle!

Seu nome em meus labios apenas o estimulou.

Suas lambidas vieram mais rapido... suas mordidas suaves mais


duras.

Minhas coxas se apertaram, e meus dedos dos pes se curvaram


quando eu enterrei meus dedos em seu couro cabeludo, agarrando-
o por toda a vida. Eu balancei contra ele o maximo que pude,
determinada a alcançar a explosao que meu corpo estava correndo
em direçao.

Eu gritei em desespero.

— Kyle. — eu implorei, apertando mais forte, ondulando meus


quadris mais rapido. — Por favor...

Minhas palavras morreram em meus labios quando ele chupou


meu clitoris em sua boca, em seguida, sacudiu com a língua.

Como um fio esticado muito apertado, a faixa na minha barriga


baixa estalou.

Minha cabeça caiu contra a parede, meu pescoço arqueou e o


mundo ao meu redor explodiu.

— Kyle!

Uma miríade de cores brilhou por tras das minhas palpebras e


eu juro que minha alma saltou para a direita do meu corpo. Mais e
mais eu voei, a felicidade me dominando. Coraçao batendo de forma
irregular, ofeguei a respiraçao, montando a onda que me consumia.

Atingiu seu auge e diminuiu.

Eu desci ate o fim, ate que a ultima gota de prazer fugiu do meu
corpo, deixando o entorpecimento em seu rastro.

Meus olhos se fecharam.

Cabeça encostada na parede, soltei o cabelo de Kyle, meus


braços caíram para os lados. Exaustao se instalou e eu me senti
começando a me afastar, entao o homem que ainda me segurava nos
ombros nao permitiu.

Meus olhos se abriram quando meu corpo deslizou pela frente


dele.

No momento em que meus pes tocaram o chao, ele me pegou


em seus braços e se dirigiu para a cama. Ele deu um beijo na minha
bochecha; seus labios ainda encostados em mim, sussurrou.
— Nao terminei com voce ainda, princesa. — Sua voz estava
cheia de necessidade desesperada. — Estou apenas começando.
CAPÍTULO 18
Kyle
Carissa deitou na minha cama, seu cabelo se espalhando pelo
meu edredom.

Com as pernas bem abertas, o peito dela se avolumava com a


força de sua respiraçao, balançando seus peitos pesados. Minha
boca se regou para prova-los, e meus dentes doíam para morde-los,
deixando minha marca onde nenhum outro homem jamais veria.

Impulsos primitivos, um apos o outro, me atormentavam, me


empurrando para reivindicar o que eu considerara meu desde o
momento em que nos conhecemos. Eles comeram a minha
determinaçao, exigindo que eu deslizasse meu pau dentro dela,
enchendo sua boceta virgem com cada centímetro de mim. Eu
queria sentí-la em volta de mim, sua pele sedosa cobrindo a minha
quando eu gozava, aceitando cada gota que eu tinha para dar.

Eu trilhei minhas maos pelos lados dela, segurando seus


seios. Seus labios se separaram quando meus polegares deslizaram
sobre seus mamilos. Incapaz de resistir a provar sua boca perfeita,
inclinei-me sobre ela e tomei seus labios com os meus.

Ela choramingou embaixo de mim; murchando em resposta


quando mergulhei minha língua para dentro, saboreando a doçura
que so eu conheceria.

Eu me afastei e ela choramingou.


— Kyle...

Eu pressionei um dedo nos labios dela, silenciando seu


protesto.

— Quieta. — De pe ao lado da cama, eu agarrei seus quadris e


puxei-a para mim. Eu assobiei quando ela envolveu minha cintura
com as pernas e elevou seus quadris, procurando a unica coisa que
eu nao tinha intençao de dar a ela.

Ainda nao.

— Calma, Carissa.

Ela choramingou novamente, levantando o peito um pouco.


Seus mamilos rosados e arrepiados sobressaíam, agindo como um
farol para minha boca molhada e apertando as maos.

— E isso que voce quer? Minha boca em seus lindos peitinhos?

Um pedido nao dito dançou em seus olhos.

— Nao se preocupe, baby. — inclinei-me sobre ela — Estou


prestes a dar o que voce quer.

Eu abaixei minha cabeça, tomando um dos mamilos dela em


minha boca. Seu corpo inteiro estremeceu e eu rosnei em torno do
pico, mordendo-o com os dentes. Eu levantei minha mao, segurando
seu outro seio, rolando o mamilo negligenciado entre o meu polegar
e o meu dedo indicador.

Cabeça indo para frente e para tras, ela se moveu embaixo de


mim.
— Kyle, por favor, eu preciso... — Ela engasgou quando eu mordi
novamente. Entao. – Oh...

Ela levantou os quadris mais, batendo sua boceta escorregadia


contra o meu penis dolorido.

Levantando, eu segurei meu pau. Gotas de pre-gozo vazaram


da cabeça ingurgitada quando eu encontrei seu olhar.

— Carissa. — eu assobiei. — Se voce quer que eu faça voce


gozar de novo, eu preciso que voce fique parada. Eu estou
pendurado por um maldito fio aqui.

Ela assentiu, com o rosto cheio de concentraçao.

— Eu vou ficar quieta.

O suor escorria da minha testa quando eu me movi para frente,


descansando a cabeça do meu pau contra sua fenda.

Ela agarrou o edredom tentando permanecer quieta.

— Boa menina. — eu disse a ela. — Boa menina do caralho.

Segurando meu pau apertado, eu belisquei suas dobras contra


mim, me cercando em sua carne pingando. Nao querendo segurar
mais, eu balancei para frente, roçando seu clitoris.

— Foda-se. — eu disse, repetindo o movimento de novo e de


novo. — Voce e perfeita.

— Kyle! — Carissa gritou, mais uma vez batendo a cabeça para


tras e para frente. — Por favor. — ela implorou novamente. — eu
quero voce dentro.
Balançando mais rapido, eu ignorei seu pedido.

Eu nao queria nada mais do que recuar e enfiar meu pau ate as
bolas dentro dela, mas isso nao era uma opçao. Meu controle seria
disparado para a merda em leva-la, entao, teria feito uma porra suja,
aspera e implacavel. Haveria muito tempo para isso no futuro, mas
Carissa merecia melhor pela primeira vez, e o melhor era tudo que
eu pretendia dar a ela.

Nos teríamos a espera.

Mas por enquanto, com certeza pretendia nos dar um gostinho.

— Voce quer o meu pau, princesa?

Levantando a cabeça da cama, minha garota assentiu.

Eu soltei suas dobras e bati meu pau pesado contra seu clitoris
inchado, fazendo-a gritar.

— Eu vou te dar um gosto, doce menina. — eu sussurrei,


puxando para tras, — mas eu nao vou te foder. Nao essa noite.

A partir do momento que ela pode protestar, eu levantei uma


mao para cima e para baixo do meu eixo enquanto usava a outra para
pressionar um dedo contra a entrada dela, mergulhando a polegada
mais simples dentro.

— Maldiçao. — eu amaldiçoei, sentindo sua bainha apertada


apertar em cima de mim. Querendo sentir mais dela,
escorrego profundamente.

Carissa empurrou e eu congelei.


— Voce esta certa?

Ela assentiu com a cabeça, seus olhos cheios de calor fixos nos
meus. Com o peito arfando, ela moveu o menor pedaço, testando a
sensaçao.

— Kyle, por favor, eu quero... — seus olhos caíram para o meu


pau — ...voce.

— Nao.

Minha resposta foi firme. Resoluta.

Ela abriu a boca, sem duvida para lamentar, mas eu coloquei um


fim a essa merda rapida.

Eu puxei para fora, acrescentei um segundo dedo e voltei para


dentro.

De boca aberta, os olhos semicerrados perderam a


concentraçao. Um pequeno gemido escapou de seus labios.

— Voce quer mais?

Incapaz de falar, ela assentiu.

Soltando meu pau, eu coloquei minha mao em sua parte inferior


do estomago, acariciando sua pele macia enquanto eu lutava com os
impulsos de monta-la, tentando-me a leva-la completamente e
rasgar o que restava de sua inocencia. Quando me recusei, um jogo
de cabo de guerra, empurrar e puxar, dar e receber começou.

Meu corpo exigiu que eu reivindicasse ela.

Meu coraçao gritou para eu esperar.


Olhos fechados, os dedos de Carissa agarraram o edredom
novamente.

Eu deslizei meus dedos por seu estomago e descansei meu


polegar em seu clitoris necessitado. Seus olhos se abriram.

— Voce quer isso? — Eu perguntei, circulando a protuberancia


inchada.

Sua boca abriu e fechou, tentando encontrar as palavras.

— Diga-me, menina bonita. — Eu tinha que ouvir sua voz. Eu


queria, precisava, ansiava. — Diga-me, ou eu vou parar.

A ameaça era uma besteira completa.

Eu teria feito qualquer coisa que Carissa pedisse.

Qualquer coisa exceto foder ela...

— Nao. — ela engasgou quando eu apliquei mais pressao —


pare.

— Eu nao vou. — Eu deslizei suas pernas para os meus ombros


e inclinei seus quadris. Virando minha cabeça, eu beijei seu lado
interior.

A base da minha coluna começou a formigar e eu sabia que nao


iria durar. Minha mao nao estava mais no meu pau, mas eu estava
pronto para gozar. Foi a primeira vez para mim, prova do poder que
minha garota tinha.

Minha resistencia nunca foi um problema, mas isso era


diferente.
Tao malditamente diferente.

Depois de tres anos sem fim, eu finalmente tinha a minha


garota, minha, abaixo de mim, seu belo rosto contorcido em
extase. Eu esperei tanto tempo por isso, por ela, e nao pude
evitar. Ter a mulher com quem eu tinha certeza de estar apaixonado
na minha cama era a minha ruína.

Amor…

Nunca em um milhão de anos eu pensei...

As costas de Carissa se curvaram, e sua boceta apertou meus


dedos, me sugando com rigor.

— Merda. — eu murmurei, sentindo minhas bolas apertarem


em resposta. — Carissa, baby, voce tem que gozar para mim.

Ela correu a cabeça para tras e para frente, alcançando o prazer


que ela sabia que eu poderia dar a ela. Eu pressionei seu clitoris com
mais força, circulei o pequeno no mais rapido. Pernas apertando, sua
cabeça caiu para tras. Um grito agudo escapou de seus labios e
qualquer controle que eu ainda possuísse desapareceu mais rapido
que Houdini.

Eu bati meus dedos profundamente, enrolando-os para atingir


o local perfeito. Seus gritos continuaram quando mais uma vez
toquei seu clitoris com meu pau, bombeando minha mao fechada
para cima e para baixo do eixo.

Seu orgasmo diminuiu exatamente quando o meu atingiu.

— Porra! — Eu berrei, observando o meu gozo, cobrindo sua


boceta perfeita em cordas leitosas.
Manchas brancas dançaram diante dos meus olhos quando eu
soltei meu eixo e passei meus dedos pela minha liberaçao,
massageando-a em seus labios inchados. Ela olhou para mim,
seus olhos azuis brilhando.

— O que voce esta fazendo?

— Marcando voce. — eu respondi, minha voz aspera para os


meus proprios ouvidos.

Um sorriso preguiçoso curvou seus labios.

— Voce e muito possessivo, Hulk. — brincou ela.

Eu pairava sobre ela, meus labios a alguns centímetros dos


dela.

— E voce e fodidamente minha.

Esse era o maldito ponto final.


CAPÍTULO 19
Carissa
Eu acordei ao som do meu alarme.

Com os olhos turvos e ainda meio adormecida, eu peguei meu


telefone na mesa de cabeceira, silenciando-o antes que ele pudesse
acordar Kyle. Ainda dormindo, ele deitou atras de mim, seu peito as
minhas costas.

Soltando meu celular no colchao ao meu lado, eu desenrolei


minhas pernas das dele e rolei, trazendo-nos cara a
cara. Determinada a deixa-lo dormir o maior tempo possível, apoiei
minha cabeça na minha mao e olhei para ele, observando o modo
como seu peito subia e descia a cada respiraçao que ele dava.

Senhor, ele era lindo.

Nunca na minha vida eu tinha visto outro homem como ele


antes.

Quero dizer, eu tinha visto muitos homens atraentes, Hendrix


estando no topo da lista, mas nenhum deles conseguia segurar uma
vela para Kyle. Nem mesmo perto. Como mamae costumava dizer,
ele estava tao delicioso que eu poderia te-lo comido com uma colher.

Se ela estivesse aqui para conhecê-lo...

Empurrando a barriga para tras, eu deslizei um dedo


pelo centro do seu peito e para o lado dele, onde uma tatuagem
solitaria decorava sua pele bronzeada. Eu corri meus dedos sobre as
asas de anjo preto e branco que espanavam suas costelas. Uma dor
aguda perfurou meu peito enquanto eu traçava a elegante caligrafia
sob as asas, cada letra trabalhando para soletrar um unico nome.

Esse nome? Lily.

Pela milionesima vez desde que nos conhecemos, meu coraçao


se partiu por ele. A vida nao era justa, isso era um fato, mas
certamente nao tinha sido gentil com Kyle. A dor de perder sua
irmazinha, combinada com a culpa que ele nutria pela morte dela,
teria sido demais para a maioria das pessoas suportar. Mas de
alguma forma ele encontrou a vontade de continuar, um testemunho
de sua força.

Eu gostaria de poder voltar no tempo e parar os eventos que o


destruíram. Embora eu nao pudesse fazer isso, eu tinha toda a
intençao de cavar as peças quebradas que restaram, e com um pouco
de sorte e muita determinaçao, eu estava decidida a consertar, uma
peça quebrada de cada vez.

Seria uma das coisas mais difíceis que ja fiz, mas Kyle valia a
pena.

Mais que valia a pena.

Eu tinha acabado de traçar a ultima letra quando uma mao forte


envolveu meus dedos, impedindo todos os movimentos. Eu ofeguei
e olhei para cima, encontrando o olhar sonolento de Kyle.

— O que voce esta fazendo? — Ele perguntou, sua voz grossa


de sono.
Incapaz de dizer se ele estava com raiva de mim por toca-lo la,
mordi meu labio inferior e permaneci em silencio. Kyle nunca ficou
chateado comigo, mas temi que a tatuagem estivesse fora dos
limites. Tudo o que envolvia Lily era um ponto doloroso para ele. Ele
raramente a discutia comigo, e nas poucas vezes que ele fez, a
conversa curta e principalmente unilateral terminara com ele
ficando furioso, algo que eu rezei para nao acontecer.

— Responda-me, Carissa.

Eu hesitei, sem saber o que dizer.

— Eu estava olhando para a sua tatuagem. — Meus


dedos tremiam em suas maos. — Eu ja vi isso antes, mas eu nunca
tive a chance de olhar para ela e...

Olhos cheios de uma emoçao que eu nao pude ler, Kyle se sentou
e soltou minha mao.

O desconforte se desenrolou no buraco da minha barriga.

— Voce esta bravo? Se sim, sinto muito. Eu nao quis fazer...

— Nao. — ele interrompeu antes de virar e arrastar uma junta


no lado do meu rosto. — Por que eu ficaria bravo?

Dei de ombros e me sentei. Cruzando minhas pernas abaixo de


mim, eu peguei o edredom, evitando o seu olhar.

— Eu sei que e difícil para voce falar sobre ela, e eu nao quero
exagerar ou deixa-lo chateado. Eu so…

— Voce so o que?
Seja honesta com ele, eu disse a mim mesma.

— Eu so quero saber sobre ela. — eu respondi honestamente.

— Carissa, olhe para mim. — Como sempre, virei meu corpo


para encara-lo, obedecendo ao comando dele. Nossos olhos se
encontraram e eu tremi com a intensidade em seu olhar. — Quando
se trata de voce e eu, nao ha fronteiras. Voce quer saber alguma
coisa, voce pergunta. Voce me entende?

Eu balancei a cabeça.

— Eu entendo.

— Mas, baby. — ele continuou. — Estou lhe dizendo agora. Meu


passado? E feio, linda garota. Muito feio. Eu tenho um monte de
bagagem e bastante arrependimento e culpa para me sufocar. A
ultima coisa que quero e vomitar essa merda podre em cima de voce,
mas nao vou guardar nada de voce. Nunca. Entao, se voce quer saber,
pergunte, mas mantenha isso em sua mente, minha historia esta
fodida.

Meus olhos procuraram os dele antes de cair de volta para sua


tatuagem. Meus sentimentos estavam em conflito. Eu nao queria
trazer coisas que lhe causassem dor, mas, ao mesmo tempo, queria
ajudar a aliviar sua culpa e mover a bagagem que ele carregava em
seus ombros.

A unica maneira que eu poderia fazer isso era descobrir


exatamente o que eu estava enfrentando.

Soltei um pequeno suspiro e fiz uma oraçao silenciosa. Por


favor, não me deixe estragar isso.
Com os olhos ainda trancados nos seus, eu coloquei minha mao
livre em sua barriga, deslizando meus dedos de volta para o lado
dele onde a tatuagem estava, a tinta bonita contrastando com sua
pele lisa.

— Conte-me sobre ela.

Parecia uma eternidade antes de ele falar.

Quando ele fez, minhas emoçoes subiram na minha garganta,


quase me atrapalhando.

— Teacup era linda. — disse ele, com um pequeno sorriso no


rosto. — Mas ela tambem era muitas outras coisas. Inteligente,
engraçada e barulhenta. — Ele riu. — Cristo ela era barulhenta.

— A maioria das meninas sao. — respondi, sabendo muito bem


que Heidi e eu eramos iguais. — O que mais?

— Ela era uma garota típica, eu acho. Amava dançar, cantar e


brincar em sua caixa de areia do lado de fora. — Eu sorri. Embora eu
nao tivesse tido a sorte de conhecer Lily, sabia que a amaria. — Se
ela estivesse aqui, ela estaria ligada ao seu quadril. — Kyle
acrescentou como se ouvisse meus pensamentos. – De Heidi
tambem.

Meu peito apertou, mas eu mascarei os sentimentos


tumultuosos que se formavam dentro de mim.

Ela ainda deveria estar aqui...

A angustia cobria o rosto de Kyle, substituindo o sorriso que ele


usara segundos antes.
— Ela tinha sete anos quando ela... — ele fez uma pausa —
...morreu.

Lamento instantaneo deslizou pelas minhas veias.

— Nos nao temos que falar sobre isso, querido. Eu nao deveria
ter...

— Nao. — Ele chegou para mim com este braço livre, e eu fui
ate ele, deitando-me ao lado dele. Sua pele nua estava quente contra
a minha e eu derreti em seu lado como manteiga. — Eu preciso falar
mais sobre ela. Como voce, Lily foi uma das poucas coisas boas da
minha vida. Ela merece ser lembrada.

Jogando um braço sobre sua barriga, descansei minha cabeça


em seu peito.

— Me diga mais.

Ele suspirou e recostou a cabeça contra a cabeceira da cama.

— Ela era perfeita, Carissa. Perfeita, doce e cheia de vida. —


Disso, eu tinha pouca duvida. — Ela era obcecada por filmes da
Disney. Procurando Nemo especialmente. Eu nao posso te dizer
quantas vezes nos assistimos no verao em DVD. Juro por Cristo,
querida, ela memorizou cada fala. Ela faria os rostos mais
engraçados quando ela pronunciava as palavras junto com os
personagens. — Ele riu novamente. — Eu sempre me diverti com
isso.

Lily parecia tanto com Heidi.

Inclinando minha cabeça para tras, eu olhei para o rosto bonito


dele, esperando que ele continuasse. Seus olhos se arregalaram
quando ele recordou memoria apos memoria.

— Ela amava o parque mais do que tudo. — disse ele,


deslizando suavemente um dedo pelo meu braço. — Quando eu e Ty
ou eu e Hendrix jogavamos uma partida, eu costumava leva-la
comigo para que ela pudesse brincar nos escorregas. — Rolando a
língua sobre o labio inferior, ele olhou para a distancia. — Isso e o
que ela estava fazendo no dia em que ela...

— ... foi levada. — terminei por ele.

— Sim. — Sua mandíbula ficou tensa. — Eu deveria estar


olhando ela, mas eu nao estava. Eu estava tao concentrado em bater
em Ty e discutir com ele depois que ganhei que parei de prestar
atençao nela. Se eu estivesse apenas a observando em vez de entrar
em uma competiçao de mijo com ele, eu teria visto...

No espaço de um segundo, o feroz protecionismo passou por


mim.

Eu não vou deixar ele dizer isso...

Eu não vou deixar ele se culpar.

Eu me levantei e olhei para ele, meu coraçao trovejando.

— Nao se atreva. — eu disse, minha voz mais mordida do que


eu pretendia. Seus olhos brilharam, mas eu nao recuei. —
Independentemente das circunstancias, o que aconteceu naquele
dia não e culpa sua.

— Baby...

Minha coluna se endireitou e eu subi de joelhos. Soltando sua


mao, descansei minhas maos nas minhas coxas.

— Você não me ama, Kyle Tucker. — eu assobiei. — Eu nao me


importo se voce e Ty estavam discutindo, eu nao vou sentar aqui e
deixar voce me dizer que Lily sendo sequestrada foi sua culpa. — Ele
abriu a boca para dizer algo, mas eu continuei exagerando, nao
dando a ele a chance de falar. — Porque não foi.

— Carissa, voce nao entende.

E aí que ele estava errado.

Eu entendi muito, incluindo o fato de que ele passou as ultimas


duas decadas se culpando por uma tragedia pela qual nao era
responsavel. Depois de testemunhar em primeira mao a dor e a
culpa que ele carregava, nao era de admirar que ele estivesse tao
cheio de raiva.

Se nossos papeis tivessem sido invertidos, eu duvidava que


fosse capaz de funcionar.

O que ele passou foi demais para a mais forte das almas
sobreviver; muito mais uma criança.

Querendo conserta-lo, absolve-lo das trevas que corroíam sua


alma, eu balancei a perna sobre seus quadris e escarranchei sua
cintura. Segurando suas bochechas com minhas maos, eu
estou olhando em seus olhos, querendo que ele acreditasse nas
palavras que eu estava prestes a falar.

— Eu sei que voce se sente culpado e eu sei que voce se culpa...


Mas Kyle, querido, ouça quando eu digo que toda essa auto-culpa
que voce esta segurando e completa merda. O que aconteceu
com sua linda irmazinha nao foi sua culpa, e ja passou da hora em
que voce aceite esse fato nao tao pequeno.

Seu rosto se contorceu.

Com as maos firmemente nos meus quadris, ele enfiou os dedos


na minha pele. Eu nao tinha certeza do que estava passando pela
cabeça dele, mas estava claro que ele estava lutando contra alguma
coisa.

Era uma batalha que eu queria ajuda-lo a vencer.

— Deixe-me entrar, Kyle. — eu implorei. — Diga-me o que esta


acontecendo na sua...

Em um movimento inesperado, ele me levou para o lado,


depositando-me no colchao. Deslizando os dedos em seu cabelo, ele
silenciosamente se moveu e marchou atraves do quarto, dando-me
as costas. Eu estremeci quando ele puxou com força seus cabelos
sedosos, seu peito subindo e descendo em rapida sucessao.

— Voce esta errada. — ele disse, sua voz torturada. — Eu disse


aos meus pais que eu iria cuidar de Lily. — Ele puxou seu cabelo
mais forte, seu aperto de dedos brancos implacavel. — Eu dei ao
meu pai a minha palavra que eu iria cuidar dela, que eu iria protege-
la.

Naquele momento, senti sua dor.

Nos recessos mais profundos da minha alma, senti isso.

— Eu menti, Carissa...

Eu saí da cama e dei um passo a frente.


— Querido...

— Eu menti, e agora ela se foi. — Kyle se virou, encontrando o


meu olhar. — E e tudo minha culpa. Se eu estivesse apenas
prestando atençao nela em vez de discutir com Ty, eu poderia te-la
parado antes que ela chegasse aquele filho da puta! — Sua voz subiu
enquanto a escuridao passava por seu rosto, me mostrando um lado
dele que eu nunca tinha visto antes.

Tao bravo, tao irado e tao assustador quanto parecia, nao


recuei. Como a mulher teimosa que eu era, mantive-me firme,
recusando-me a voltar quando ele continuou.

— Aquele filho da puta, aquele que levou a minha irmazinha e


a matou, estava nos observando desde que pisamos naquele parque!

Meus olhos se encheram de lagrimas, mas eu me recusei a


deixa-las cair.

— Ele viu que eu nao estava prestando atençao, e se aproveitou


do meu erro!

Eu balancei a cabeça.

— Nao foi sua culpa.

— O caralho que nao foi! — Ele gritou mais alto, seu rosto
vermelho beterraba.

Embora eu soubesse que ele nao estava gritando comigo, mas


com a agonia que o mantinha preso em seu implacavel controle, a
voz elevada dele fez a lutadora que vivia dentro de mim subir a
superfície. Em um instante, minha coluna se transformou em aço e
cada pedacinho do sul que eu herdara como cortesia de mamae.
É hora de lançar um ataque de pato moribundo...

Eu me movi em sua direçao, indiferente que eu estava nua como


no dia em que nasci. Parando na frente dele, eu bati minha cabeça
para tras e olhei para ele, meus olhos cheios de fogo.

— Voce me escuta, Hulk. — eu disse, apontando um dedo no


centro do seu peito. — Voce pode ser bonito o quanto pode ser, e
voce pode ter a capacidade de me fazer derreter em uma gota de
agua na queda de um chapeu, mas voce nunca, e eu quero
dizer nunca, grite comigo assim de novo, ou vou te fazer creme de
milho.

Eu nao estava brincando.

Nem um pouco.

Eu assisti Mamae dar ao papai um ajuste de atitude mais de


uma vez, e eu estava mais do que disposta a fazer o mesmo.

— Entendeu?

A raiva que revirou o rosto de Kyle se dissipou.

— Creme de milho? — Ele perguntou, piscando. — E isso que


voce acabou de me dizer?

— Sim. — eu respondi, — e eu quis dizer isso tambem.

— Carissa. — ele começou, um pequeno sorriso brincando em


seus labios.

— Nao. — eu bati, interrompendo-o. — Voce pode rir de mim


em um minuto, mas primeiro voce vai ouvir cada palavra que eu
estou prestes a falar. — Kyle arqueou uma sobrancelha e nao disse
nada. — Eu nao conheço todos os pequenos detalhes, mas sei o
suficiente para dizer com cem por cento de certeza que o que
aconteceu com a Lily não e culpa sua.

Seu rosto caiu.

Eu continuei indo.

Dirija seu ponto em casa, Carissa, eu disse a mim mesma.

— Nao importa que voce tenha voltado sua atençao para Ty em


vez dela. Voce nao sequestrou Lily e voce certamente nao a
machucou. — As palavras tinham gosto de acido saindo da minha
língua. Ainda assim, nao hesitei nem diminuí. – Voce
não e responsavel por sua morte, Kyle. — Eu endireitei meus
ombros, me preparando para a luta que provavelmente viria. —
Como a Lily, voce e uma vítima.

Como eu esperava, ele explodiu.

— Eu não sou uma fodida vítima! — Ele gritou, recusando-se a


ver a verdade. — O que eu sou e uma merda de vida baixa que
provavelmente deveria ser baleado pelos erros que cometi e pelas
vidas que arruinei!

Afastando-se de mim, ele saiu pelo corredor, indo para a porta


da frente. Se eu nao o pegasse a tempo, ele escaparia para fora. Mas
isso nao importava. Eu o perseguiria ate os confins da terra, se
necessario.

Maddie uma vez me disse que Kyle precisava de alguem para


lutar por ele e faze-lo ver a razao.
Essa pessoa seria eu.

Eu posso ter sido mais quieta do que um rato de igreja as


vezes, mas trabalhar no abrigo durante os ultimos quatro anos me
ensinou a levantar-me e dar um soco verbal ou dois.

Kyle poderia tentar fugir da verdade.

Mas ele nao seria bem-sucedido.

Venha o inferno ou mare alta, eu jurei por tudo de precioso que


eu acharia um modo para bater algum senso em seu cranio grosso.
Com nada me atrapalhando, era hora de pegar meu kit de costura
figurativo e enfiar uma agulha. Kyle foi dilacerado pela culpa por
tempo suficiente; culpa que nao era dele para carregar.

Era uma situaçao que eu pretendia consertar, ponto a ponto.

Começando agora.

A determinaçao inundou minhas veias quando abri a comoda e


tirei uma camisa. Puxando-a sobre minha cabeça, eu o segui, meus
passos medidos e calculados.

Cheguei a ele quando ele pegou um par de shorts de basquete


de um cesto de roupa suja sentado no sofa. Ele começou a vestí-los,
mas eu os arranquei da mao dele e joguei-os pela sala. Onde eles
pousaram, eu nao tenho a menor ideia.

Eu nao estava prestando nem um pouco de atençao.

— Regra numero um. — eu disse, minhas maos em punhos nos


meus quadris. — Voce nao consegue se afastar de mim. Eu nao me
importo se estamos gritando na casa ou a beira de matar um ao
outro, voce nunca me mostra suas costas e depois me deixa.

— Deixar voce? — Confusao estragou suas feiçoes. — Voce acha


que eu deixaria você, de todas as pessoas? Jesus Cristo, Carissa, eu
prefiro me socar na cara.

— Entao nao se afaste de mim. — eu respondi, minha voz um


pouco mais calma. — Eu nao me importo com o quao louco voce
esteja ou qual e o problema, se nos discordamos sobre algo, e melhor
voce se sentar e se sentir confortavel porque nos vamos resolver
isso. De uma forma ou de outra.

— Louco com voce? — Com cada segundo que passou, sua


expressao ficou mais confusa. — Por que diabos eu estaria com raiva
de voce?

Eu soltei uma respiraçao frustrada.

— Por causa do que eu disse sobre voce ser uma vítima.

Ele balançou sua cabeça.

— Eu posso nao concordar com o que voce disse, mas eu nao


estou pu... nao com voce. — Virando-se para me encarar
completamente, ele deslizou um braço em volta de mim, puxando
meu corpo contra o dele. — Nao ha uma unica coisa que voce
poderia fazer para me irritar.

Suas palavras, junto com seu toque, eram doces.

— Voce diz isso agora, mas nao faz ideia do que


estou planejando.

Inclinando a cabeça para o lado, seus olhos deslizaram pelo


meu rosto.

— Sim? E o que voce esta planejando?

— Estou pensando em consertar voce. — respondi,


honestamente. — porque nao gosto de ver voce quebrado.

Exalando, seus olhos se fecharam por um breve momento.

— Baby... — ele começou antes de parar. — Voce não pode me


consertar. Estou muito fodido.

Que bando de mentira!

Meu queixo tremeu quando lagrimas de raiva encheram meus


olhos novamente.

— Nao se atreva a dizer isso porque nao e verdade. Eu tenho


um plano de jogo infalível no lugar e um kit de costura na
mao. Acredite em mim, Hulk... — bati levemente no meu peito — eu
tenho isso.

— Sim? — Descrença alinhou sua voz. — E o que voce vai


fazer? Costurar meu coraçao de volta?

Eu balancei a cabeça.

— Nao.

— Entao o que?

— Eu nao planejo costurar seu coraçao de volta, mas eu tenho


toda a intençao de costurar seus pedaços quebrados nos meus
pedaços. Dessa forma, podemos ser ambos inteiros novamente.
Tao quebrado como ele pode ter sido, Kyle nao era o unico.

Ele nao disse nada quando ele soltou o braço das minhas costas
e colocou as maos em cada lado do meu pescoço. Pressionando os
polegares na parte inferior do meu queixo, ele inclinou a cabeça para
tras.

— Se voce unir nossos coraçoes, Princesa, voce nunca podera


separa-los. Se voce fizer isso, sera o fim de nos dois. Voce percebe
isso, sim?

— E uma coisa boa. Por que eu nao planejo os separar, — eu


sussurrei, definindo a vulnerabilidade crua encher meu peito
livre. — Isso pode ser uma surpresa para voce, mas eu estou
contando com voce, para nos tornarmos um tipo de coisa para
sempre.

Esperança queimou em suas pupilas.

Olhos trancados nos meus, ele suavemente pressionou seus


labios nos meus em um beijo casto.

Mais uma vez, eu me derreti.

— Quer saber um segredo? — Ele perguntou, seus labios


pairando sobre os meus.

Eu balancei a cabeça.

— Sempre.

— Por mais confuso que eu esteja e tao escuro quanto minha


alma possa estar, todo o bem que permanece em mim esta se
apaixonando por voce, Carissa.
Meu coraçao acelerou; minha alma se agitou.

— E nao importa o que aconteça deste dia em diante. — ele


continuou, — voce sempre possuira cada pedaço do meu coraçao
quebrado. Isso e um fato. A unica coisa que peço em retorno e que
voce cuide disso. O pobre bastardo foi quebrado o suficiente. Nao
pode aguentar muito mais.

Meus ombros sacudiram quando um soluço seguido de riso


subiu pela minha garganta e escapou dos meus labios.

— Voce tem uma capacidade incrível de dizer as coisas mais


doces enquanto usa a linguagem mais suja.

— E um dom. – Ele sorriu.

— Um dos muitos que voce possui. – Eu cantarolei.

— E mesmo? — Um sorriso puxou seus labios.

Dei de ombros, permanecendo muda.

— Bem, princesa. — disse ele, removendo o seu poder sobre


mim. — Acho que e hora de relembrar quao talentosa e minha boca.
— Antes que eu pudesse processar seu significado, ele se inclinou
na cintura e me jogou por cima do ombro.

Eu gritei quando ele me carregou pelo corredor, atraves de seu


quarto, e para o banheiro ao lado.

Estava la, embaixo do fumegante chuveiro, com minhas costas


pressionadas contra a parede de azulejos, enquanto Kyle me
lembrava exatamente o que ele poderia fazer com o meu corpo com
um simples movimento de sua língua.
Duas vezes.
CAPÍTULO 20
Carissa
Eram quinze para as nove quando Kyle estacionou sua
caminhonete ao lado do meu carro na parte de tras do terreno
coberto pelo cascalho do abrigo. Vestida com uma nova roupa,
sentei-me ao lado dele, com a cabeça apoiada no braço dele.

Mais cedo, depois de tomar banho juntos, entre outras


coisas, Kyle me levou para casa o tempo suficiente para eu encher
uma sacola com roupas. Determinado a me impedir de ficar em casa
sozinha enquanto ele estava no turno, ele me fez pegar tudo o que
eu precisava para o resto da semana.

Como Heidi ja planejava ficar com Ashley na casa de Anthony e


Shelby nos proximos dias, eu nao tinha discutido nem lutado. Por
um lado, eu nao queria, e por outro, teria sido inutil.

Impertinente e cabeçudo como ele era, Kyle teria conseguido o


seu caminho.

Eu sentei direito quando ele desligou a igniçao, parando o


motor. Depois de desafivelar o cinto de segurança, ele se virou para
mim, seus olhos intensos perfurando os meus.

— A que horas voce sai hoje a noite?

— Nove.

Ele assentiu.
— Que horas voce tem que estar de volta amanha?

— Eu nao tenho. Eu estou de folga.

Erguendo a mao, ele acariciou meu queixo com o polegar.

— Bom. Estarei em turno pelas proximas vinte e quatro horas,


mas depois que eu sair, voce e eu passaremos o dia juntos.

Um sorriso puxou meus labios.

— E o que vamos fazer?

— Estou levando voce para a praia. — ele respondeu, colocando


a mao no colo.

— Entao e por isso que voce me disse para arrumar uma roupa
de banho.

— Isso e eu queria ver... – Ele sorriu.

Kyle fechou a boca quando alguem bateu na janela do lado do


motorista tres vezes.

Toque, toque, toque.

Girando a cabeça ao redor, Kyle olhou para o rosto sorridente


olhando atraves do vidro colorido.

— Que diabos voce quer? — Ele perguntou a um de seus dois


melhores amigos. — Eu tenho quinze minutos antes de eu ter que
começar a aturar sua merda nas proximas vinte e quatro horas.

Hendrix, idiota que ele era, sorriu.

— Ah, vamos la, querida. — ele brincou. — Voce sabe que sentiu
minha falta. — Seus olhos divertidos encontraram os meus. —
Manha, C.

Eu ofereci um aceno educado.

— Maddie esta esperando por voce. — disse ele, apontando


para o abrigo. ― Houve algumas entradas na noite passada e Hope
ligou doente, entao ela esta correndo por aí como uma galinha com
a cabeça cortada. Tentei ajuda-la, mas acabei irritando-a e ela me
expulsou.

— Que novidade. — Kyle murmurou.

O panico me assaltou.

— Merda, eu preciso ir. — Eu me virei e peguei a maçaneta da


caminhonete, abri a porta e pulei para fora, arrastando minha bolsa
e mochila atras de mim. — Kyle, eu... — Eu bati minha boca quando
vislumbrei a expressao em seu rosto.

Uh-oh ...

Ele parecia irritado quando abriu sua propria porta, atingindo


Hendrix.

— Mova-se, idiota. — ele rosnou, antes de fecha-la e contornar


a frente do caminhao para me alcançar.

Eu coloquei a mochila junto com minha bolsa no chao.

— Carissa, boneca, me faça um favor. — Hendrix olhou para as


costas de Kyle enquanto esfregava o braço onde a porta o atingiu. —
Ensine este idiota algumas maneiras.
Eu nao respondi.

Ao me alcançar, Kyle agarrou minha cintura e me empurrou


contra a traseira do caminhao. Meus olhos se arregalaram quando
minha blusa aberta atras encontrou o metal frio.

— Baby. — disse ele, com os olhos fixos nos meus, — voce


nunca mais fuja de mim daquele jeito. Nao a menos que voce queira
que eu te persiga, sim?

Eu ignorei a excitaçao que dançou na minha barriga com suas


palavras.

Eu fiquei de pe, meu queixo no ar.

— Maddie precisa da minha ajuda.

Colocando as palmas das maos no caminhao, ele me enjaulou


com os braços. Ele se inclinou para frente, pressionando o peito e os
abdominais contra mim. Minha barriga sacudiu quando seu calor
combinado com o cheiro de sua colonia passou por mim.

— Eu preciso de voce muito mais do que Maddie Cole vai


precisar, Carissa..

Impulsionada pela necessidade de toca-lo, deslizei minhas


maos ate a frente de sua camisa, descansando as palmas das maos
em seu abdomen de granito.

— Eu preciso de voce tambem. — eu respondi, cavando minhas


unhas em sua pele.

Seu rosto se moveu em direçao ao meu, e me preparei para o


beijo que ele estava prestes a...
— Vamos la, voces, droga! — Hendrix gritou, interrompendo o
momento. — E dia claro e estamos a cinco metros de uma estrada
movimentada.

Kyle congelou.

— Juro por Cristo, estou prestes a mata-lo.

— Nao. — eu o interrompi, — voce nao vai. Ele pode ser uma


dor na extremidade traseira, mas se voce mata-lo, Maddie vai te
matar.

Balançando a cabeça, Kyle ficou em pe, soltando as maos do


caminhao. Ele olhou para Hendrix, uma carranca no rosto.

— Falando de Maddie, eu nao sei o que ela ve em voce.

Eu me virei a tempo de ver Hendrix bater em seu peito com a


mao fechada, um sorriso arrogante no lugar.

— Quer que eu tire a minha calça e te mostre? — Ele balançou


as sobrancelhas, e eu nao sabia se devia vomitar ou rir.

Kyle parecia um pouco longe de ficar desequilibrado. Ele


apontou para o caminhao de Hendrix.

— Ultima chance, Cole. Se voce nao sair agora, meu punho


estara em seu rosto nos proximos cinco segundos.

O sorriso de Hendrix cresceu.

— Tambem te amo, tetas de açucar. — Ele olhou de Kyle para


mim e piscou. — Cuide da minha esposa, C. Certifique-se de que ela
nao trabalhe demais.
Eu balancei a cabeça.

— Eu vou. Prometo. — Hendrix se virou para sair, mas ainda


nao terminei com ele. — Hendrix, espere! — Quando ele olhou para
mim, corri para continuar. — Eu preciso de voce para fazer algo por
mim.

— Diga.

— Eu preciso de voce para manter Kyle seguro para mim. Eu


estou meio que planejando mante-lo por perto, entao eu apreciaria
se voce nao deixasse nada acontecer com ele.

Kyle endureceu e uma emoçao que eu nao consegui ler brilhou


nos olhos de Hendrix.

— Nao se preocupe, C, eu tenho as costas dele. — ele


respondeu. — Sempre.

Sem dizer outra palavra, ele saiu e entrou em sua


caminhonete. Segundos depois, ele ligou o motor e saiu do
estacionamento, desaparecendo na estrada.

Eu olhei para Kyle e deslizei meus braços ao redor de sua parte


inferior das costas.

— Sobre o que voce esta pensando?

— Voce. — ele sussurrou em resposta. — Sempre voce.

— E o que sobre mim?

Ele balançou sua cabeça.

— Agora nao, baby. Se começarmos esta conversa aqui, nenhum


de nos fara isso funcionar hoje.

Minha curiosidade foi despertada.

— Prometa me dizer mais tarde?

— Sim. — ele disse, assentindo. — Eu faço.

Eu olhei de volta para o abrigo. Imagens de uma Maddie


estressada correndo ao redor do predio brilhou em minha
mente. Voltando-me para Kyle, pressionei meu corpo contra o dele,
abraçando-o com força.

— Eu tenho que ir, Hulk. — eu disse, respirando fundo. —


Maddie precisa de mim.

Kyle nao queria me deixar ir.

Isso era obvio.

Fechando os olhos, ele descansou a testa contra a minha,


permanecendo em silencio.

— Kyle. — eu sussurrei, minha pele formigando.

— O que e isso, princesa?

— Voce vai me dar um beijo de despedida ou nao?

Seus olhos se abriram; suas íris escuras se concentraram em


mim.

— Apenas tente sair sem me dar seus labios primeiro.

Eu arqueei uma sobrancelha.


— E se eu fizer?

Nao houve hesitaçao da parte dele.

— Voce faz, e eu vou colocar voce sobre o meu joelho e espancar


sua bunda nua.

Eu deixei cair meus braços ao redor dele e cobri minha boca


para silenciar os sons das minhas respiraçoes irregulares
provocadas pela excitaçao que corria atraves de mim. Nunca na
minha vida eu teria pensado que a ameaça de ser espancada me
excitaria, mas quando veio da boca de Kyle, com certeza.

— Voce nao pode dizer coisas assim. — eu murmurei por tras


da minha palma. — Isso e so... apenas...

Um canto dos labios de Kyle apareceu.

— Apenas o que?

— E apenas...

O toque do meu celular cortou o ar da manha, me


interrompendo. Sem ter que olhar para o identificador de chamadas,
eu sabia quem estava ligando.

Maddie.

— Oh foda-se isso. — Agitado, Kyle agarrou meus quadris e me


puxou para ele. Suas maos encontraram o caminho para o meu
pescoço, e antes que eu pudesse respirar uma vez, seus labios
bateram nos meus. Segurando-me com força, ele enfiou a língua na
minha boca, onde brigou com a minha propria, lutando pelo
domínio.
Eu gemi, apertando a frente de sua camisa Toluca FD em meus
dedos.

Ofegando, ele arrancou seus labios dos meus e me levantou em


seus braços, enterrando seu rosto contra o lado do meu
pescoço. Minhas pernas envolveram sua cintura. Em troca, ele
encostou minhas costas contra o caminhao.

— Isso e besteira. — ele rosnou contra a minha pele. — Eu nao


deveria ter que deixar voce aqui.

De olhos fechados, eu deixei cair a cabeça para tras, inclinando


o rosto para o ceu.

— Nos dois temos que trabalhar.

Ele rosnou e o som reverberou pela minha espinha.

— Ainda e besteira.

— Carissa! — A voz de Maddie rasgou o ar, chamando minha


atençao. Eu olhei para o abrigo; meus olhos a encontraram
imediatamente. Com as maos nos quadris, ela olhou para mim
primeiro, depois para Kyle. — Eu sei que ele e fofo e tudo, mas voce
acha que poderia se separar de Kyle e entrar? Eu sou a unica aqui e,
bem, estou prestes a arrancar meu cabelo.

— Indo! — Eu desenrolei minhas pernas da cintura de Kyle e


deslizei para baixo de sua frente. — Eu preciso ir.

Ele assentiu.

— Sim, baby, eu diria que sim.


Eu me inclinei e peguei minha mochila gasta, seguida da minha
bolsa. Entao comecei a andar. Olhando por cima do meu ombro,
olhei de volta para Kyle.

— Me ligue hoje a noite?

Deslizando as maos nos bolsos, ele olhou para mim, um olhar


de apreensao em seu rosto.

— Eu vou. — Ele ergueu o queixo no ar. — Voce ainda tem a


chave do meu apartamento que eu te dei?

— Eu faço.

— Bom. Use esta noite. — Sua mandíbula se apertou. — Eu


quero dizer isso, Carissa. E melhor voce nao voltar para casa.

Eu revirei os olhos em um punhado de insolencia de seu jeito.

— Vou pensar sobre isso.

Em vez de ficar com raiva da minha resposta, Kyle sorriu.

— Voce continua correndo a boca, baby, e eu vou preenche-la.

Maddie engasgou e eu ri.

Parando ao lado de Maddie, pisquei em sua direçao.

— E com isso que eu estou contando.

Sem dizer outra palavra, abri a porta pesada e desapareci la


dentro.

Maddie seguiu.
— Bem. — disse ela, divertimento em seu tom. — Se isso nao
deixou o homem com bolas azuis, entao eu nao sei o que vai.

Ainda rindo, me dirigi para o escritorio.

— Vamos la, Mad. — eu disse. — Eu preciso de voce para me


manter ocupada, entao o dia vai passar rapido.

Isso e precisamente o que ela fez.


CAPÍTULO 21
Kyle
Doze horas e trinta e dois minutos...

De pe na baía ao lado de uma das duas caminhonetes da Estaçao


24, olhei para o meu relogio, meus olhos grudados na contagem
regressiva olhando para mim. A cada segundo que passava, eu ficava
mais ansioso, mais ansioso para o meu turno acabar.

Fazia mais de treze horas desde a ultima vez que vi minha


garota.

Eu estava prestes a sair da minha pele.

Sem ela, tudo parecia errado.

Meu intestino estava inquieto, meu peito vazio.

Eu nao aguentava.

Mais do que tudo, eu queria pegar meu telefone e ligar para ela,
mas nao consegui. Ela tinha encerrado minutos antes; portanto, ela
provavelmente estava dirigindo para o meu apartamento. Atender o
telefone quando ela estava atras do volante nao era algo que eu
queria que ela fizesse.

Se ela sofrer um acidente, perderei o que resta da minha mente.

— Se voce estragar tudo isso, voce sabe que eu vou bater na sua
bunda, certo? — A voz dura de Ty me puxou dos meus pensamentos.
Com olhos estreitados, eu olhei para cima, encontrando seu
olhar.

Sentado em um banco de metal do outro lado da baía, ele olhou


para mim, com os braços cruzados sobre o peito.

— Serio, Tucker, eu nao me importo com o quao longe nos


vamos, se voce machucar Carissa, eu juro...

— Eu nao vou machuca-la. — eu bati, interrompendo-o. —


Nunca. Entao leve suas ameaças de merda para algum outro lugar.

Eu soei como um idiota, mas eu nao me importei. Eu estava


doente e cansado de pessoas assumindo que machucar Carissa era
mesmo uma opçao para mim.

Nao era.

Alem disso, Ty nao tinha motivos para dizer qualquer coisa para
começar. Ele nao conhecia Carissa. Na verdade nao. Ele pode ter
abrigado algum protecionismo equivocado em relaçao a ela por
causa de seus sentimentos por Heidi, mas precisava parar.

Carissa era minha para proteger, nao dele.

— Tem certeza?

— O que eu acabei de dizer? — Meu temperamento explodiu. —


Cristo, Ty, voce de todas as pessoas deveria saber que eu iria me
esfaquear com um picador de gelo antes de eu fazer algo para
machucar Carissa. Aquela garota e minha vida inteira!

Ele continuou a olhar para mim, avaliando seu rosto.


— Isso significa que voce finalmente vai deixar tudo ir?

Irritado com as palavras que ele ja havia falado, eu nao entendi


onde a nossa conversa estava indo ate que fosse tarde demais.

— Deixar tudo ir?

Ele se levantou e deslizou as maos nos bolsos.

— Lily.

Uma palavra, um nome.

Isso e tudo o que levou para o meu humor ja no limite


mergulhar nas profundezas do inferno.

— Nao fale comigo sobre a minha irmazinha.

O rosto de Ty endureceu um pouco. Balançando a cabeça, ele


zombou de mim.

— Seu bastardo egoísta. — Ele riu em uma mistura de irritaçao


e descrença. — O que vai levar para voce tirar a cabeça da sua
bunda?

Hendrix escolheu aquele momento para entrar na baía.

Imediatamente ele soube que as coisas estavam prestes a


aumentar.

Ele olhou de Ty para mim, depois de volta para mim


novamente.

— Eu nao sei o que esta acontecendo, mas Kyle, cara, voce


precisa ficar calmo.
Ignorando-o, ergui meu queixo no ar, meu olhar focado em Ty.

— O que isso deveria significar?

— Exatamente o que eu disse. — respondeu Ty, a imagem da


arrogancia. — Voce usa o que aconteceu com a Lily como arma, e tem
que acabar, cara. Se isso nao acontecer, voce vai estragar a unica
coisa boa que voce tem, mesmo sem perceber.

Meus olhos se estreitaram.

— Uma arma? Explique isso. — Eu estava correndo para o


ponto sem retorno. Se Ty nao observasse suas palavras, meu punho
estaria em seu rosto antes que ele pudesse piscar. — E nao fale
comigo sobre foder com Carissa. Pelo menos eu tenho a mulher que
eu quero — eu apontei para ele — ao contrario de sua bunda
covarde.

Um sorriso sinistro cruzou seu rosto.

— Voce quer ver um covarde, Kyle? Va dar uma olhada no


espelho mais proximo.

— Tudo bem, e o suficiente. — Hendrix avançou, agarrou um


punhado da minha camisa e tentou, palavra-chave, tentou,
empurrar-me atraves da porta aberta do compartimento.

Eu permaneci firme, recusando-me a me mover.

— Nao, eu quero ouvir o que ele tem a dizer. Vamos la, Ty. — eu
pedi. — Continue falando. A menos que voce seja muito covarde
para fazer isso.

O temperamento infame de Ty apareceu e ele explodiu.


Com o rosto vermelho e mais louco do que eu o vi desde que
eramos crianças, ele me acusou. Ele fechou a mao em preparaçao
para dar um soco, ou dois, mas no ultimo momento parou,
parecendo ganhar um fio de controle.

— Seu bastardo covarde! — Ele gritou. — Estou enjoado e


cansado de voce, usando o que aconteceu com a Lily como uma
desculpa para ser uma merda tao miseravel! Voce quer ficar triste,
bravo com o mundo por algo que aconteceu ha duas decadas? Seja
meu convidado. Mas no minuto em que voce arrasta Carissa e, por
extensao, Heidi, para a fossa que voce lava diariamente, temos um
grande problema.

— Quem diabos voce...

— Eu ouvi voce. — ele interrompeu, um sorriso malicioso


puxando seus labios. – mais cedo esta manha, em seu apartamento,
ouvi voce. — repetiu ele. — Isso pode te surpreender, mas as vezes
acontece entre vizinhos. — ele estimulou. — As paredes dos nossos
apartamentos sao finas como papel, as aberturas sao condutores
perfeitos para o som.

Ainda segurando minha camisa, Hendrix virou a cabeça na


direçao de Ty.

— Do que voce esta falando?

O sorriso que decorava o rosto de Ty era o alvo perfeito para o


meu punho.

Meus dedos se contraíram quando o desejo de soca-lo


aumentou dez vezes.
— Eu levei meu irmao para o cafe da manha esta manha. —
disse Ty para Hendrix, enquanto olhava para mim. — Quando
voltamos, Chase e eu pegamos um papo com nosso amigo por aqui
falando sobre a Lily.

— Oh merda. — murmurou Hendrix.

— Tambem tem um lugar na primeira fila para a dor na voz de


Carissa, quando ela tentou acalma-lo e faze-lo ver a razao. — Ty
continuou, nao parando para respirar. — Voce age como se se
importasse com essa garota, mas voce nao pensou duas vezes antes
de jogar sua cabeça no seu veneno.

A raiva que borbulhava no meu intestino encontrou o caminho


para a minha garganta, onde começou a sufocar a vida fora de
mim. Vermelho sangrou na minha visao, e eu sabia, eu sabia muito
bem, que eu estava a segundos de causar dano físico a um dos meus
melhores amigos.

— Ty. — eu disse, minha voz baixa enganosamente calma. —


Nao e da sua conta.

Ele balançou sua cabeça.

— Nao, cara. Por dezessete anos, cuidei do meu proprio


negocio, fiquei de boca fechada. Isso termina agora. Carissa e eu
podemos nao estar perto, mas Heidi e eu com certeza vamos estar. E
eu serei amaldiçoado se ficar de pe e deixar voce destruir qualquer
uma delas com suas auto-ilusoes distorcidas e culpa equivocada.

Auto-ilusoes distorcidas?

Culpa equivocada?
Eu posso ter sido torcido, mas eu nao estava delirando, e nada
da culpa que eu carregava estava fora de lugar.

Eu merecia tudo.

Livrando-me do aperto de Hendrix, apontei um dedo solitario


para Ty.

— Voce nao tem a menor ideia do que voce esta falando! — Eu


gritei, meu peito arfando com a força das minhas palavras. — Minha
irma morreu por causa do meu erro! Ate que voce saiba o que isso
significa, nao pregue para mim sobre uma unica coisa!

Eu esperava que o Ty gritasse em troca, talvez ate me batesse.

Ele nao fez isso.

— Voce acha que e o unico que se sente culpado? Eu estava la


naquele dia tambem, idiota.

Ele pode ter estado la, mas nao era o mesmo.

Nem mesmo perto.

— Como voce, eu assisti Lily ser jogada naquele caminhao, e a


vi ser levada embora depois que nos dois nao conseguimos salva-la.
— Ele se aproximou. — A culpa que voce sente, Kyle? Eu tambem
sinto essa merda. A unica diferença e que eu trabalho depois de me
lembrar da verdade.

Um milhao de pensamentos passou pela minha cabeça.

Eu so conseguia me concentrar em um.

— Que verdade?
— Aquele que diz que nao foi nossa culpa. Nos eramos crianças,
nos tres. A unica pessoa responsavel pelo que aconteceu naquele dia
e Edgar Louis, e ele esta morto, Kyle. Tem sido por um longo tempo.
So espero que o filho da puta esteja assando em um espeto nos
recessos mais profundos do inferno enquanto falamos.

Ao som do nome daquele monstro, eu me virei e bati a mao na


lateral do caminhao da escada. Como todos os ossos do meu punho
nao quebraram, eu nao tenho ideia.

— Droga! — Eu gritei, lagrimas brotando nos meus olhos.

Eu nao queria ser lembrado dele, das coisas que ele fez com a
minha irma.

Bloqueie, eu disse a mim mesmo. Empurre tudo de volta.

Fora de controle, levantei meu punho para dar outro soco, mas
braços fortes me envolveram por tras, impedindo-me de faze-lo.

— Isso e o suficiente. — uma voz profunda pertencente a Cap


disse ao lado do meu ouvido. Correndo por instinto, eu tentei me
livrar de seu domínio, mas mesmo tao forte quanto eu era, nao tive
chance de fugir. — Quero dizer isso, garoto, chega!

O mundo ao meu redor desapareceu quando a tristeza


esmagadora me consumiu, roubando minha respiraçao e
capacidade de pensar. Uma miríade de emoçoes, raiva, culpa,
ressentimento, me agrediu, me deixando em parafuso.

O desespero sugador de vida envolveu meu coraçao quando a


raiva me consumiu.

Em segundos, tudo ficou preto.


Onze horas e dezoito minutos...

Sentado no escritorio de Cap, olhei para o relogio na parede,


meu coraçao batendo forte. Ao meu lado estava Hendrix e ao lado
dele estava Ty. Um Cap irritado estava sentado atras da mesa na
minha frente, seu olhar furioso focado em mim.

— Deus todo-poderoso. — disse Hendrix, retirando o bone. —


E como se estivessemos na escola primaria de novo. So que desta vez
nao e minha culpa estarmos no escritorio do diretor. — Ele riu. —
Pela primeira vez, sou inocente.

— Voce... — apontou Cap para seu unico filho — coloque uma


tampa sobre a boca.

— Estou me calando. — Hendrix levantou as maos.

Ele entao apontou para Ty.

— E voce, eu vou lidar com voce em um minuto.

Seus olhos, junto com o dedo, saltaram para o proximo, para


mim.

— Voce. — disse ele, com os dentes de tras cerrados. — Estou


lidando com a sua bunda agora. — Rasgando seu olhar do meu, ele
abriu a gaveta da mesa direita, puxou um folheto azul dobrado e se
levantou. — Voce tem o pior temperamento que eu ja vi, e isso e
dizer algo considerando as duas pessoas sentadas ao seu lado.

Hendrix zombou.
Ty e eu permanecemos mudos.

— Sua raiva esta fora de controle, Kyle, e isso so esta piorando.

— Isso e besteira. — eu respondi, sentindo a veia na minha testa


protuberante.

— Sim? — Cap refutou em descrença. — E quando foi a ultima


vez que voce desmaiou de raiva como voce fez ha poucos minutos
atras?

A resposta era nunca, embora eu nao estivesse prestes a admitir


isso em voz alta.

O que aconteceu na baía minutos antes tinha sido uma coisa


unica. Eu estive com raiva antes, eu me enfurecia muitas vezes, mas
quando Ty me acusou de encher a cabeça de Carissa com meu
veneno, eu me perdi.

Eu nunca quis sombrear minha linda garota com a escuridao


que habitava minha alma, mas ela me pegou de surpresa esta manha,
e eu fui incapaz de parar a dor que arrancou do meu peito enquanto
eu lhe contava sobre Teacup.

— Responda-me, Kyle. — exigiu Cap. — Agora.

Silencio. Desdem cruzou o rosto dele.

— Seu silencio e toda a resposta que eu preciso. — Louco como


o inferno, ele bateu o folheto azul na mesa na minha frente e apontou
para ele com um dedo tremulo. — Voce tem tres opçoes. — disse ele.
— Escolha numero um, voce liga para o numero do folheto e marca
uma consulta. Escolha numero dois, voce encontra um grupo de
aconselhamento de luto junto com uma aula de gerenciamento de
raiva e voce vai. Regularmente. Escolha numero tres, voce nao faz
nada e continua em espiral.

— Espiral?

— Sim, espiral. — acrescentou ele, lendo meus pensamentos. —


Estou te avisando agora, garoto. Se sua bunda malvada escolher essa
rota, voce perdera tudo. Seu trabalho, seus amigos... — ele fez uma
pausa — Carissa.

Minhas costas enrijeceram.

Perder Carissa nao era uma opçao.

Nunca.

O Cap contornou a mesa e parou na minha frente. Segurando


meu ombro em sua mao, ele apertou.

— Confie em mim, Kyle. — disse ele, seus olhos fixos nos


meus. — Eu posso ser ignorante para muitas coisas, mas nao isto. O
lugar em que voce esta... — ele apertou com mais força — ...e o
mesmo local em que eu estava ha quase trinta anos, e nao conseguir
ajuda quase me custou tudo. Eu nao vou deixar a mesma coisa
acontecer com voce. — Determinaçao forrou seu tom. — Nao se eu
puder para-lo.

Sabendo que ele nao iria sair da minha bunda ate eu satisfaze-
lo, eu puxei meu ombro livre de seu aperto e peguei o
folheto. Minhas sobrancelhas se levantaram quando li as palavras
rabiscadas na frente.

— Terapia? — Olhei para Cap. — Voce quer que eu veja um


psiquiatra?
— Controle da raiva, aconselhamento de luto em grupo ou
terapia cara-a-cara. Faça sua escolha.

Ele havia perdido sua maldita mente.

— Nao e tao ruim quanto voce pensa. — disse Hendrix, olhando


para o folheto. — Evan foi por um tempo. Ajudou-o a se recompor
antes que Hope se afastasse. Inferno, acho que ele ainda vai.

— Chase vai para o controle da raiva. — Ty acrescentou, seus


olhos na parede oposta. — E ordenado pelo tribunal, mas ajudou-
o. Ele nao enfiou o punho pela parede do apartamento em meses,
entao estou contando isso como progresso.

Apesar da situaçao confusa em que eu estava, meus labios se


curvaram. Ty pode nao ter percebido, mas acabara de me dar a
chance de provocar Cap e Hendrix.

— O controle da raiva nao fez nada a Chase. — eu disse, me


preparando para o soco que Hendrix provavelmente lançaria. – A
unica razao que ele nao esta explodindo a cada pessoa que olha torto
para ele e por causa de Ashley.

Hendrix endureceu.

— Se ele percebe ou nao, ele esta apaixonado por ela. —


acrescentei, continuando a correr minha boca. — Provavelmente
nao quer assusta-la.

Cada palavra que eu falei era a verdade, provando que Chase era
muito mais esperto que eu. Ele se acalmou para manter a garota que
ele queria perto, mas eu nao tinha sido capaz de parar de explodir
na frente da minha.
Eu estou tão fodido...

Com minhas palavras, Cap rosnou, pisou em volta de sua mesa


e caiu em sua cadeira.

Hendrix permaneceu em silencio, com as maos em punhos nos


joelhos.

Mas Ty, ele foi estupido o suficiente para rir antes de dizer.

— Provavelmente.

Qualquer controle que Hendrix havia quebrado.

De cara vermelha, ele pulou e foi em direçao a porta. Parando


no limiar, ele olhou para Ty por cima do ombro.

— Voce mantem seu irmao longe da minha sobrinha, Ty. Ashley


tem problemas suficientes, ela nao precisa de sua bunda mal-
humorada acrescentada a eles.

Ty arqueou uma sobrancelha.

— E como voce propoe que eu faça isso?

Hendrix franziu o cenho.

— Nao importa, e melhor voce fazer alguma coisa; senao eu vou


mata-lo.

— Eu vou ajudar a enterrar seu corpo. — Cap balbuciou, suas


maos cerradas descansando em sua mesa.

Sem outra palavra, Hendrix saiu em disparada.

O som de seu punho batendo na bolsa pesada que estava


pendurada na sala de jogos logo se seguiu.

Eu sorri.

— Tal temperamento.

Os olhos inexpressivos de Cap encontraram os meus.

— Continue assim, e voce estara no serviço de boot com Carson.

Meu rosto caiu.

— Foda-se isso e foda-se ele. Eu nao suporto esse garoto.

— Por que? — Perguntou Cap, erguendo o queixo.

Cruzando meus braços sobre o peito, recostei-me na cadeira.

— Voce sabe porque.

— Porque ele gosta de Carissa?

— Como? — Ty perguntou, batendo-me para ele. — Ele esta


apaixonado por C. Nao importa o que esta acontecendo, se alguem
menciona o nome dela, ele magicamente aparece. Esta uma bagunça.

Ty acertou o prego na cabeça.

Algo nao estava certo com Carson.

Isso era um fato.

Apenas o que essa coisa era, eu nao tinha a menor ideia.

Folheto na mao, eu estava de pe, a necessidade de manter e


proteger o que era meu rugindo para a vida dentro de mim.
— Mantenha ele longe de mim, Cap. Se voce nao fizer, eu nao
posso prometer que nao vou colocar a cabeça dele em um segundo
armario.

Cap revirou os olhos.

— Voce provavelmente fara isso, de qualquer maneira.

Eu nao me incomodei em negar isso.

Precisando fugir antes que eu explodisse de novo, me virei para


sair do escritorio. Eu quase cheguei a porta quando Cap chamou
meu nome, me impedindo.

— Kyle...

Eu virei minha cabeça, olhando para ele por cima do meu


ombro.

— Eu quis dizer o que eu disse antes. Voce tem tres


escolhas. Escolha uma.

Agitaçao fervia em minhas veias.

— Sim, Cap. — eu respondi, assentindo. — Deixa comigo.

Saí do escritorio e segui pelo corredor em direçao ao


banheiro. Quando entrei, fiquei cara a cara com a ultima pessoa que
queria ou precisava ver.

— O que voce esta fazendo aqui? — Perguntei a ninguem menos


que Carson. — Pensei que voce estivesse do lado de fora varrendo o
estacionamento.

Recusando-se a me responder, ele zombou em minha direçao,


deixando claro seu desdem por mim.

Isso me irritou imediatamente.

Eu nao me importava se o babaca gostasse de mim ou nao, mas


ele com certeza me mostraria algum respeito.

— Responda-me quando...

Meu telefone tocou me cortando no meio da frase. Puxando-o


do meu bolso, olhei para o nome que piscava na tela. Em um piscar
de olhos, cada grama de raiva e ressentimento que permaneceu
dentro de mim evaporou.

Eu inalei, em seguida levantei o telefone para o meu ouvido.

— Ei, menina bonita. — eu respondi, meus olhos encontrando


Carson mais uma vez. Um sorriso arrogante inclinou meus labios. —
Voce chegou ao meu apartamento, certo?

Era um movimento de pau, mas Carson precisava ser lembrado


de que minha garota nunca seria dele. Nao importava o quao bonita
ele pensasse que ela era, ou o quao apaixonado ele se tornava a
distancia, o resultado era que Carissa Ann Johnson era minha.

Para sempre.
CAPÍTULO 22
Carissa
Dirija mais rápido…

Quem se importa se você conseguir uma multa?

Ouvindo a voz diabolica na minha cabeça, pressionei meu pe no


acelerador do meu Corolla de quinze anos, passando por um
semaforo assim que ele mudou de amarelo para
vermelho. Encontrando uma pequena linha de trafego, entrei e saí
dos carros que se moviam lentamente, empenhada em chegar ao
meu destino mais rapido.

Um homem em um Prius branco buzinou, depois que virei


enquanto eu mergulhava na frente dele, interrompendo-
o. Normalmente eu teria ficado horrorizada em dirigir como uma
idiota, mas naquele momento, eu nao dei a mínima.

A unica coisa que me preocupava era chegar a estaçao 24.

Ansiosa demais, olhei para a direita, verificando se o


cruzamento estava claro antes de virar para a rua Sycamore. Era
isso. Meus pneus entao gritaram em protesto quando pisei no
acelerador novamente, desta vez com mais força.

Ao meu lado, uma Heidi de olhos arregalados colocou uma mao


no painel e a outra no console do meio.

— Jesus, Carissa! — Ela gritou. — Desacelere!


Atras de mim, Ashley permaneceu em silencio, suas maos de
dedos brancos segurando a parte de tras do meu apoio de cabeça
pela sua vida querida.

— Desculpe. — eu murmurei, olhando para os numeros


iluminados no meu painel. — Estou com pressa.

Eu tinha sete minutos para chegar ao quartel de bombeiros


antes que o turno de Kyle terminasse. Era bobo de mim e um pouco
idiota, mas eu queria surpreende-lo tanto. Eu aparecendo la seria a
ultima coisa que ele estava esperando, e eu queria ver seu rosto
quando me visse.

Alem disso, nao queria esperar mais um segundo para ve-lo.

Fazia vinte e quatro horas desde a ultima vez que eu senti seu
perfume ou toquei sua pele, e estava perdendo a cabeça. Nos
passamos dias sem nos ver antes, mas agora que eu sabia como era
acordar em seus braços, eu nunca seria a mesma.

Sem ele ao meu lado, as coisas pareciam diferentes.

E nao de um jeito bom tambem.

— Eu posso ver que voce esta com pressa, mas pare com isso,
chumbo. Nao quero morrer hoje! — Ela continuou a olhar pelo para-
brisa. — Eu nem sequer fiz sexo ainda!

Eu virei minha cabeça, olhando para ela.

Ela encontrou meu olhar.

— Oh meu Deus, Carissa, olhe para a estrada fodida! — Ashley


gritou, voltando minha atençao de volta para o pavimento na minha
frente.

— Voce ainda e virgem?

Por que no mundo eu perguntei a minha irmazinha tal


pergunta, eu nunca saberei. Nao so isso era inadequado, mas
tambem era desnecessario porque eu ja sabia a resposta.

Heidi nunca esteve em um encontro, nunca teve um namorado.

Na verdade, eu tinha certeza de que ela nunca tinha tido uma


paixao antes.

Pelo menos, nao ate Ty.

— Nao importa, nao responda isso.

Eu balancei a cabeça, dissipando os pensamentos correndo


soltos pelo meu cerebro.

Ocupada tentando forçar minha mente para outro assunto, eu


nao vi a lombada se aproximando ate que fosse tarde demais. Eu nao
tive tempo de desacelerar antes que o carro batesse, nos mandando
voando um pe ou dois no ar.

Heidi e Ashley gritaram enquanto eu agarrei o volante com as


duas maos, apertando meus dedos ao redor do couro ate ele
guinchar em sinal de protesto.

Querido Deus, eu orei, por favor, não nos deixe bater porque eu
sou uma idiota.

Faíscas voaram quando o para-choque dianteiro desceu,


raspando o asfalto.
Foi um milagre que eu mantive o controle.

Com apenas cem jardas de distancia, tirei meu pe do acelerador,


deixando o carro lento. Alguns segundos depois, virei a direita na
estaçao, dirigi ate o estacionamento dos fundos e estacionei entre os
caminhoes de Hendrix e Kyle.

— E isso. — disse Heidi, destravando o cinto de segurança. – Eu


nunca mais vou andar com voce de novo. Eu nao me importo se eu
tenho que andar 30 milhas em uma tempestade de neve em ambos
os sentidos. Eu nao vou fazer isso.

— Nao seja tao dramatica. — Eu mudei o carro para estacionar,


desliguei o motor e sorri para ela. — Voce nao morreu, nao e?

O olhar que ela atirou em mim foi contundente.

— Ashley. — eu disse, olhando por cima do meu ombro. — Diga


a ela que ela esta exagerando.

Ashley franziu o nariz.

— Eu prefiro nao mentir.

Abri a boca para dizer alguma coisa, mas as duas pularam do


carro e se dirigiram para o predio antes que eu saísse. Revirei os
olhos quando tirei minhas chaves da igniçao e segui atras delas,
rindo o caminho todo.

Ashley abriu a porta de metal ao longo da lateral da estaçao que


levava ao escritorio de Pop. Ela, junto com Heidi, desapareceram
dentro sem sequer um olhar em minha direçao.

Sabendo que Kyle nao estaria naquela parte do grande predio


de dois andares, eu me dirigi para as portas abertas do
compartimento. Todos os caminhoes, a ambulancia incluída,
estavam estacionados la dentro, a tinta vermelha brilhando ao sol da
manha.

Eu nao vi ninguem em lugar nenhum.

Deslizando minhas maos nos bolsos traseiros do meu short


jeans, entrei na primeira baia. Com as sobrancelhas franzidas, olhei
em volta do espaço silencioso.

— Onde diabos esta todo mundo? — Eu murmurei para mim


mesma.

— Eu estou bem aqui.

Eu me virei ao som de uma voz desconhecida, ficando cara a


cara com um cara que eu nunca tinha visto antes. Com cerca de um
metro e setenta de altura, ele tinha um corpo esguio, cabelos cor de
cobre e olhos castanho-dourados. Segurando um esfregao em uma
mao, ele sorriu e passou o olhar por cima de mim, começando na
ponta dos dedos recem-pintados e terminando no topo do meu
cabelo esticado.

A maneira como ele olhou para mim disparou os


alarmes. Embora ele nao tivesse feito nada de errado, sua mera
presença me colocou no limite, me deixando desconfortavel.

Querendo fugir dele, forcei um sorriso e dei um passo para tras.

— Estou procurando meu namorado, Kyle. — Colocando meu


polegar sobre o ombro, apontei atras de mim para a porta que ligava
as baias para o interior do edifício. — Voce sabe se ele esta la?
O sorriso do homem caiu.

A raiva deslizou pelo rosto dele.

Ele deu um unico passo a frente; eu recuei dois.

O medo deslizou pela minha espinha enquanto meu cerebro


gritava para eu me virar e correr.

Algo não está certo.

Eu preciso sair daqui.

Como agora mesmo.

Eu me virei, pronta para fugir, quando uma porta lateral ao


longo da parede oposta, uma que eu nao tinha visto antes, abriu e
Hendrix, seguido por Kyle, entrou nas baias.

O alívio passou por mim.

Ocupado olhando para o telefone, Kyle nao me viu


imediatamente.

Mas Hendrix fez.

Um sorriso inclinou seus labios para o ceu quando seus olhos


encontraram os meus pela primeira vez, mas desapareceu no
momento em que ele leu minha expressao, uma de medo e
apreensao, emplastada no meu rosto. Foi quando ele olhou de mim
para o homem que estava a tres metros de distancia na minha frente.

— Oh, merda. — ele murmurou para si mesmo.

Ao som, Kyle levantou a cabeça.


Seu corpo inteiro estalou quando seus olhos encontraram os
meus aterrorizados.

— Kyle. — eu sussurrei, sentindo o ar circundante crescer


espesso.

Sabendo que algo estava errado, ele virou o olhar para o homem
cujo nome eu nao conhecia. Em um instante, um olhar sinistro
cruzou seu rosto, fazendo meu coraçao disparar.

— Seu filho da puta. — ele rosnou, largando o telefone e a


mochila pendurada no ombro ate o chao.

O telefone quebrou quando bateu no concreto, mas Kyle nao


deu uma segunda olhada enquanto andava em direçao ao homem,
com os ombros ao quadrado.

— O que voce disse a ela? — Ele perguntou, fechando a


distancia entre eles, suas maos em punhos; uma delas parecia
inchada e machucada.

Aconteceu alguma coisa?

— Voce tentou toca-la? — Ele continuou. — Porque se assim for,


voce esta prestes a...

Apavorada com o que estava prestes a acontecer, corri para


frente, interceptando Kyle antes que ele pudesse alcançar o
homem. Agarrando a frente de sua camisa em minhas maos,
descansei minha cabeça em seu peito, absorvendo o som de seu
coraçao batendo.

— Ele nao fez nada. — corri para dizer, rezando para que ele
acreditasse em mim. — Eu juro.
Kyle nao disse nada quando envolveu um braço forte em minhas
costas, segurando-me com força contra ele.

— Fique longe dela, Carson. — disse ele, seu timbre profundo


sinistro. – Eu quero dizer isso.

Oh Deus, ele é Carson?

Meu estomago revirou ao perceber. Embora eu nao entendesse


por que ele me assustou, me mandando direto para o modo de lutar
ou fugir, eu acredito em confiar em seus instintos, e meu instinto
estava gritando para eu ficar longe dele.

Eu planejei ouvir.

Querendo sair de la, eu enterrei meus dedos no peito de Kyle.

— Eu quero voltar para o seu apartamento, Hulk. Eu nao...

As palavras morreram na minha língua quando a porta lateral


se abriu novamente e uma terceira pessoa entrou no espaço.

— No que eu acabei de entrar? — Ty perguntou, curiosidade


alinhando sua voz. — Kyle esta prestes a matar o novato ou o que?

— Nao e engraçado, babaca. — Hendrix retrucou. — Voce nao


ve Carissa em pe na frente dele?

Ty se inclinou para o lado, olhando em volta de Kyle. Quando ele


me viu, seus olhos se arregalaram.

— Oh, merda. — disse ele, repetindo as palavras exatas de


Hendrix de um minuto antes. — O que diabos esta acontecendo?

Ignorando Ty, Kyle passou a mao em volta do meu queixo e


inclinou minha cabeça para cima, forçando-me a encontrar seu
olhar.

— Voce veio sozinha?

Eu balancei a cabeça.

— Heidi e Ashley vieram comigo. Ambas devem ir para casa


com Hendrix para que possam observar as garotas depois que
Maddie saia para o trabalho.

Seus olhos se voltaram para Carson; depois de volta para mim.

— Onde elas estao?

— Escritorio do Pop, eu acho. Eu vi as portas da baía abertas,


entao entrei aqui porque nao achava que voce estaria la. Eu deveria
ter ficado com elas. Eu nao deveria ter...

Kyle me silenciou pressionando um dedo nos meus labios.

— Shh, baby. Voce nao fez nada errado.

Eu balancei a cabeça, nao querendo discutir.

— Kyle, eu quero ir. Eu nao...

A porta atras de mim, a que eu planejava percorrer, abriu. A voz


de Ashley seguiu.

— Tio Henny, voce viu... — Sua voz sumiu. — Uh-oh. O que esta
acontecendo?

— Nada. — respondeu Hendrix. — Volte para dentro, Ash.

Eu congelei quando outro par de passos ecoou pelas baías,


anunciando a chegada de outra pessoa.

Imediatamente, eu sabia que era Heidi.

Carson deve ter olhado para ela errado, porque a proxima coisa
que ouvi foi um grunhido seguido por Ty dizendo.

— Eu sugiro que voce olhe na outra direçao, novato, senao eu


vencerei as celulas cerebrais que voce deixou de fora de voce.

Eu olhei por cima do meu ombro para Heidi.

De pe atras de Ashley, seus olhos estavam fixos em Ty, com um


sorriso de flerte no rosto.

Ah, eu pensei. Aqui vamos nós...

Kyle se virou, me levando com ele. Mantendo Carson dentro de


sua linha de visao, ele olhou para Hendrix.

— Estou levando minha garota de volta para o meu


apartamento. Voce leva Heidi e Ashley?

Hendrix assentiu com os olhos em Carson.

— Sim, cara, eu cuido disso.

Kyle assentiu, depois me levantou em seus braços, esquecendo-


se tanto da sua mochila quanto do telefone preso.

— Diga a sua irma tchau, baby.

Envolvendo um braço em volta do seu pescoço, usei o outro


para acenar para minha irmazinha.

— Tchau, Bug. — Uma pequena quantidade de medo beliscou


minha espinha enquanto nos dirigíamos para a porta, mas eu sabia
que nao havia razao para me preocupar. Mesmo que Carson ainda
estivesse la, com uma expressao vazia no rosto, nao havia como
Hades chegar perto da minha irma ou de Ashley.

Hendrix o despedaçaria primeiro.

Ty tambem.

Heidi levantou a mao e me deu um beijo antes de gesticular.

— Eu te amo. — disse em minha direçao.

Com o coraçao inchando, soprei-lhe um beijo de volta e disse.

— Te amo mais.

Sorrindo, ela revirou os olhos para mim.

— Cuide da minha irma, Hulk. — disse ela usando sua voz e


mais uma vez me surpreendendo. — Eu meio que gosto dela...
mesmo que ela seja uma motorista horrível.

Kyle riu.

— Sempre, Heidi.

Foi a ultima coisa que ele disse antes de sair do predio e seguir
em direçao a sua caminhonete. Quando chegamos, ele me deixou de
pe e me empurrou contra a porta do motorista. Suas maos voaram
para meus quadris e seus dedos cravaram em minha pele em um
aperto implacavel. Pressionando seu peito contra mim, ele olhou nos
meus olhos, possuindo cerveja em suas pupilas.

— Eu senti uma falta da porra de voce.


Uma boca tão suja...

— Eu tambem senti sua falta. — respondi. — Um monte de


saudades.

— Sim?

Eu balancei a cabeça.

— Sim. — Ele sorriu e cada grama de medo que permaneceu no


meu peito desapareceu. — Agora a unica questao e, o que fazemos
agora?

Seu sorriso cresceu.

— Estou levando voce de volta ao meu apartamento para me


trocar, e entao vou leva-la para a praia. — ele sussurrou, enviando
arrepios pela minha espinha. — Mas primeiro, eu preciso de algo de
voce.

Minhas sobrancelhas subiram minha testa.

— E o que voce precisa?

— Isso... — seu rosto se aproximou do meu — ...e o que eu


preciso.

Antes que eu pudesse pronunciar uma unica palavra, seus


labios encontraram os meus.
CAPÍTULO 23
Kyle
Era depois do almoço quando chegamos a Ilha Pawleys.

Sentado atras do volante do meu caminhao, Carissa sentou ao


meu lado, sua cabeça descansando no meu ombro.

Ainda indignado com o que havia acontecido na estaçao horas


antes, fiquei em silencio a maior parte do percurso de uma
hora. Com o maxilar cerrado, agarrei o volante em uma tentativa
desesperada de manter a raiva fervendo. Testemunhar Carson tao
perto de Carissa me deixou furioso, mas um olhar para a expressao
aterrorizada em seu rosto, e eu estava pronto para cometer
assassinato.

O medo gravado em suas belas feiçoes enquanto ela estava la,


seu corpo inteiro tremendo, me lembrava de Lily enquanto ela lutava
para escapar do animal que a tinha tirado de mim, e depois roubou
sua vida dela.

Eu nao aguentei.

A unica coisa que me impediu foi a merda rançosa que Ty


vomitou em cima de mim na noite anterior. Suas palavras repetiram
em minha cabeça, uma lembrança do veneno que fervia em minhas
veias.

Eu permiti a Carissa vislumbrar a escuridao que vivia dentro de


mim uma vez antes.
Foi um erro que nao pretendi repetir.

Embora eu tivesse planos de lidar com Carson mais tarde, eu


faria isso quando ela nao estivesse perto. Eu posso nao saber o que
ele fez para assusta-la, mas eu descobriria.

Se eu descobriria olhando as cameras de segurança da estaçao


ou quebrando um punhado de ossos para faze-lo falar, eu nao tinha
certeza. Com o jeito que eu me sentia, o novato precisaria de um par
de muletas logo, talvez ate mesmo uma cadeira de rodas.

Eu estava tão chateado.

— O que voce esta pensando? — Carissa perguntou, arrastando


um dedo no meu antebraço. — Parece que voce esta prestes a
estourar um vaso sanguíneo.

Merda.

Apesar da raiva que me dominou, forcei um sorriso e me


inclinei contra o assento, tentando o meu melhor para parecer
calmo.

— Nada, princesa. — eu menti. — Apenas pronto para chegar a


praia.

Minha garota nao disse nada, so me ofereceu um sorriso doce


enquanto eu ligava o sinal de minha vez e seguia direto para uma
estrada particular que levava a uma praia ainda mais
privada. Desolada e desprovida das multidoes que habitavam as
praias arenosas mais ao norte, a Praia de Lottie, o lugar para onde
estavamos indo, era perfeita para o dia que eu planejara.

Quando o oceano apareceu, Carissa sentou-se, inclinando-se


para a frente.

— E lindo aqui fora. — disse ela enquanto eu puxava para um


terreno vazio de cascalho e estacionava ao lado de uma pequena
cabana de madeira. — Espere. — Olhos na praia, ela olhou da direita
para a esquerda. — Onde esta todo mundo?

Eu apontei para a placa de madeira a nossa frente.


Esparramados na frente da madeira envelhecida, em letras brancas
e brilhantes, estavam as palavras Praia Privada. Nenhuma invasão.

— Esta e uma praia privada? — Seus olhos se arregalaram. —


Vamos nos meter em problemas por estarmos aqui?

Mudando o caminhao para o estacionamento, eu desliguei o


motor e tirei a chave.

— Nao, querida, nao vamos. O avo de Ty e dono disso; ele me


deixa visitar sempre que eu quiser.

A boca de Carissa formou um O.

No entanto, ela nao disse nada.

Um milhao de pensamentos sujos passaram pela minha cabeça


com a visao. O mais proeminente entre eles: eu quero aqueles lábios
em volta de mim.

— Vamos la, menina bonita. — eu disse, abrindo a minha


porta. — Vamos la.

Eu saí do caminhao.

Carissa seguiu.
Agarrando o cooler, junto com a sacola de praia cheia demais do
banco de tras, fechei a porta atras de mim e segui enquanto minha
garota cruzava o estacionamento e se dirigia para a margem.

Uma vez que ela chegou a areia, ela se virou.

Eu parei de andar.

De pe peito a peito, ela inclinou a cabeça para tras e olhou para


mim.

— Estamos realmente sozinhos?

Eu balancei a cabeça.

— Nao deve ter mais ninguem por uma milha e meia em cada
direçao.

Uma pequena rajada de vento soprou ao nosso redor,


bagunçando seus cabelos e enviando seu perfume, um que eu
ansiava a cada minuto que eu nao estava com ela, veio em minha
direçao. Eu inalei, puxando as notas macias de lavanda nos meus
pulmoes.

Meu coraçao disparou.

Um sorriso malicioso apareceu em seu rosto.

— Entao, se todas as minhas roupas caíssem, ninguem me veria,


certo? — Seu sorriso cresceu. — Quero dizer, ninguem alem de voce.

Eu respirei fundo quando minha mente conjurou uma imagem


semelhante ao que ela descreveu. O sangue que corria pelas minhas
veias desviou e foi para o sul, direto para o meu pau endurecido.
— Carissa... — Minha voz soou aspera para os meus proprios
ouvidos. — Se voce ficar nua na minha frente, e melhor voce estar
preparada para o que vem a seguir.

— Hmm. — ela cantarolou. — Diga-me, Hulk, o que viria a


seguir?

Eu abri minha boca para responder, mas ela pressionou um


unico dedo nos meus labios, me silenciando.

— Esquece. — ela brincou, soltando a mao e dando alguns


passos para tras. — Nao me diga. Eu prefiro descobrir por conta
propria.

Antes que eu pudesse processar suas palavras, ela segurou a


bainha de sua blusa entre os dedos e puxou o material rosa bebe
sobre a cabeça. Minha mandíbula afrouxou quando eu vislumbrei o
simples top de biquíni cobrindo seus seios. Azul-celeste e
construído com dois triangulos e um punhado de cordoes, revelava
sua pele cremosa enquanto escondia as partes dela que minha boca
queria desesperadamente provar.

— Carissa... — eu comecei.

— Calma. — ela interrompeu, soltando o botao do short


jeans. — Voce nao consegue ver que estou tentando ficar nua aqui?

Eu olhei como um tolo quando ela puxou o zíper de prata para


baixo e empurrou o jeans desbotado para baixo em suas coxas lisas,
revelando partes inferiores do biquíni combinando. Meus dedos
coçaram para desamarrar as cordas que pendiam sobre seus
quadris, segurando o pedaço de material.
Com a intençao de fazer exatamente isso, deixei a bolsa de praia
escapar do meu alcance.

Carissa tinha planos proprios.

Depois de chutar o short descartado para o lado, ela soltou as


cordas finas, deixando a parte de baixo cair no chao.

Sua parte de cima rapidamente seguiu.

Nua como no dia em que nasceu, ela estava diante de mim, um


rubor manchando suas bochechas. Dando um passo a frente em
pernas instaveis, ela fechou o pequeno espaço entre nos e arrastou
um dedo tremulo para o centro do meu peito coberto de camisa,
parando uma polegada acima do cos do meu short de tenda.

— Voce esta vestindo muitas roupas. — ela sussurrou, seus


lindos olhos nunca deixando os meus. — Talvez voce devesse fazer
algo sobre isso.

Suas açoes eram ousadas, suas palavras ousadas.

Ela estava tentando o seu melhor para parecer confiante, mas a


expressao que ela usava era a prova dos nervos que a
consumiam. Minha garota estava ansiosa e provavelmente
apreensiva do novo territorio que ela navegava.

Precisando confirmar que isso era o que ela queria, deixei cair
o cooler no chao, nao dando a mínima se ele quebrasse ao meio. Um
cooler danificado era facil de substituir, mas consertar uma Carissa
quebrada seria muito mais difícil.

Meu coraçao batia contra a minha caixa toracica enquanto eu


segurava seus braços, deixando o calor das minhas palmas sangrar
dentro dela.

— Tem certeza de que e isso que voce quer, princesa? — Eu


deslizei minhas maos sobre os ombros, ate o pescoço e em seus
cabelos. — Eu sei que nos brincamos, o mínimo possível, mas se voce
nao estiver pronta para mais, podemos esperar. Inferno, baby,
esperei tres anos. Vou esperar mais trinta se voce precisar de mim
tambem.

Momentos de silencio passaram.

Tick Tack.

Tick Tack.

Entao.

— Voce realmente quer dizer isso, nao e?

Eu quis dizer isso.

Com cada pedaço do meu coraçao fodido.

Eu posso ter sido um homem das cavernas possessivo e


exagerado que andou gritando a palavra minha para qualquer
homem que ousasse olhar em sua direçao, mas pegar algo que
Carissa nao estava pronta para dar nao era uma opçao.

Se ela quisesse esperar, eu iria.

Se ela precisasse de mais tempo, eu daria a ela.

Mante-la segura e protegida, mental, física e emocionalmente,


era a unica coisa que importava. Enquanto eu a tivesse ao meu lado,
eu estava mais do que disposto a me masturbar todos os dias pelo
resto da minha maldita vida; no entanto, eu esperava que ela me
desse uma maozinha de vez em quando.

— Sim, garota linda, — eu respondi, respondendo a sua


pergunta anterior. — Eu faço.

Lagrimas encheram seus olhos enquanto ela descansava as


palmas das maos contra cada lado da minha garganta.

— Quer saber um segredo? — ela perguntou, refletindo a


pergunta que eu fiz no dia anterior.

Eu balancei a cabeça.

— Sempre.

— Quando voce diz coisas assim, voce faz eu me apaixonar um


pouco mais profundo — ela fez uma pausa-me faz perder meu
coraçao um pouco mais rapido.

Seu corpo inteiro tremeu quando puxei minhas maos de seu


cabelo e envolvi meus dedos em torno de seus pulsos.

— De para mim, Carissa. — eu sussurrei, baixando meu rosto


para o dela. — Juro pela minha vida que vou cuidar disso.

Uma unica lagrima deslizou por sua bochecha.

— Eu sei que voce vai.

Uma emoçao crua brotou dentro de mim.

Eu abaixei minha cabeça para pegar seus labios com os meus,


mas antes que pudesse, ela deu um passo para tras. Um sorriso de
parar o coraçao se espalhou pelo rosto dela enquanto ela limpava a
unica lagrima que havia caído com as costas da mao.

— Ei, Hulk. — ela sussurrou, — lembra-se ontem quando voce


disse que iria me perseguir?

Sabendo muito bem o jogo que ela queria jogar, eu sorri.

— Tudo o que voce precisa fazer e correr, baby.

Em um piscar de olhos, o sorriso dela passou de parar coraçao


para o desonesto.

— Pegue-me se voce puder. — Seu riso soou quando ela girou e


saiu em direçao a agua, sua bunda redonda saltando a cada passo
que ela dava.

Um sorriso predatorio se espalhou pelo meu rosto.

— Nao importa o quao rapido voce corra, baby. — eu sussurrei


para mim mesmo. — Voce nunca vai fugir de mim.

Eu tirei minhas roupas.

Entao eu dei início a perseguiçao.


CAPÍTULO 24
Carissa
Eu quase cheguei para a segurança da agua quando os braços
grandes de Kyle me envolveram por tras, me impedindo. Como ele
conseguiu tirar suas roupas e me alcançar antes de eu mergulhar de
cabeça nas ondas, eu nao tinha ideia.

O homem é mais rápido que um guepardo...

Sem esforço me levantando no ar, ele me segurou no estilo de


noiva.

— Voce pensou que poderia ficar longe de mim?

— Eu nao sou tao burra. — eu respondi, envolvendo meus


braços em volta do seu pescoço. — Eu sei que voce nunca vai me
deixar ir longe.

— Voce esta certa. — Rindo, ele continuou se movendo para


frente, carregando-me para a agua. Gotas minusculas de agua
salgada salpicavam minhas panturrilhas e coxas, depois minhas
costas e ombros, quando uma pequena onda se elevava, caía ao
nosso lado.

Eu gritei quando Kyle se lançou para frente, mergulhando sob


uma onda e nos submergindo no Atlantico.

Quando nos aparecemos segundos depois, meu cara encontrou


o pe e me ajustou em seu braço. A agua na profundidade do cotovelo
girou em torno de nos enquanto eu circulava seus quadris magros
com minhas pernas, me ancorando a ele.

Nenhum de nos falou enquanto olhamos nos olhos um do outro,


nossos coraçoes batendo em uníssono.

Incapaz de suportar ate um centímetro de espaço entre nos, eu


deslizei minhas maos em seus cabelos, puxando os fios molhados.

— Kyle. — eu sussurrei. — Por favor me beije.

Ele obedeceu, tomando posse dos meus labios doloridos.

Eu gemi, ronronando em sua boca, entrelaçando minha língua


com a dele.

Segurando-me com um braço, ele colocou a enorme palma na


parte de tras da minha cabeça, me puxando para mais perto e
aprofundando o beijo.

Minha pele aqueceu; minha cabeça ficou tonta de luxuria.

Eu apertei minhas pernas, movendo meus quadris.

Sentindo como se eu estivesse queimando viva de dentro para


fora, eu puxei meus labios dos dele.

Ele rosnou em retorno, atacando minha garganta com vigor.

Arqueando meu pescoço, enterrei minhas unhas nos ombros


dele, dando-lhe melhor acesso.

— Kyle. — eu chorei, apertando minhas pernas com mais


força. — Por favor... eu preciso de voce.
Sem puxar seus labios da minha pele sensível, ele se virou,
levando-me de volta para a praia. Uma vez fora da agua, ele caiu de
joelhos e me deitou na areia, cobrindo meu corpo com o seu muito
maior. Quadris encravados entre as minhas coxas, ele pressionou
seu peito contra o meu, e balançou sua pelvis para frente, me dando
um gostinho do prazer que ele logo iria entregar.

Quebrando a conexao entre seus labios e minha pele, ele se


afastou e olhou nos meus olhos.

— Tem certeza que quer isso? — Ele balançou para frente


novamente, enfatizando seu ponto. — Nos podemos esperar...

— Nao. — eu interrompi, sem folego e perdida para a nevoa de


desejo que me cercava. — Estou cansada de esperar.

Minhas palavras eram a unica garantia de que ele precisava.

Subindo a seus joelhos, ele continuou a olhar para mim,


seu pau duro, para nao mencionar enorme, saliente do seu corpo
digno de babar. Um arrepio correu atraves de mim, fazendo meus
membros tremerem enquanto ele passava as maos calejadas pela
minha parte interna das coxas. Seus olhos escureceram quando ele
abriu minhas pernas, espalhando-as, revelando minha carne
molhada para seu olhar cheio de necessidade.

Sua mandíbula ficou tensa.

Indecisao brilhou em seu rosto.

— Inferno, baby. — ele murmurou para si mesmo. — Eu nao sei


se quero provar sua boceta virgem de novo primeiro. — ele fez uma
pausa, encontrando o meu olhar — ou foder.
Eu deixei minha cabeça cair de novo na areia e fechei meus
olhos.

— Kyle. — eu sussurrei seu nome, sentindo como se meu


coraçao fosse explodir a qualquer segundo. — Eu nao me importo
com o que voce faz. Apenas faça alguma coisa! — O desespero
forrava minha voz. — Se voce nao fizer eu posso...

Meus olhos se abriram e um grito baixo saiu do meu peito


quando ele pressionou sua língua no meu clitoris. Com meus olhos
fechados, eu nao tinha visto ele abaixar seu rosto para o meu centro,
e eu perdi a chance necessaria para me preparar para a intensidade
que brilhou atraves de mim no momento em que ele me tocou.

— Oh, Deus. — eu choraminguei, minhas maos voando para sua


cabeça. Agarrando seu cabelo, eu o segurei contra mim quando ele
puxou meu clitoris em sua boca e deslizou um dedo grosso dentro
de mim.

Meus quadris se sacudiram; minhas costas se curvaram.

Um som de asfixia se formou no fundo da minha garganta


quando ele roçou minha carne sensível com os dentes, mordendo,
lambendo e sugando cada centímetro da minha fenda ate que eu
balancei incontrolavelmente.

Prazer intenso me consumiu, ameaçando me rasgar nas


costuras.

Eu ofeguei quando um peso se desenvolveu entre as minhas


coxas, irradiando para a minha barriga inferior. Meu orgasmo estava
bem ali, ao alcance e eu ansiava, precisava...
— Kyle! — Eu gritei. — Por favor, eu preciso...

Conhecendo meu corpo e sabendo o que eu precisava, ele


enrolou o dedo dentro de mim e sacudiu a língua uma ultima vez.

Como magica, explodi.

Meu corpo convulsionou quando o grito foi arrancado de minha


garganta enquanto Kyle segurava meus quadris com seus braços
fortes e continuava a devorar-me, prolongando a onda de prazer que
eu cavalgava.

Olhos cerrados, minhas coxas ondulando ao redor de sua


cabeça, a explosao que ele causou ainda estava forte.

Flash apos o flash, sacudida apos sacudida.

O prazer ofuscante continuava e continuava.

Entao, so Deus sabe quantos segundos depois, eu gozei, gozei


forte.

Apaixonada e perdida para o mundo ao meu redor, eu nao


registrei o momento em que Kyle moveu sua boca do meu centro e
manobrou seu corpo sobre o meu, seu pau duro apontado para
minha entrada.

— Carissa. — disse ele, seu tom exigente. — Abra seus olhos e


olhe para mim.

Quando eu nao cumpri imediatamente, ele levantou minhas


pernas e as colocou sobre seus ombros. Entao, quando minha
sanidade voltou, eu abri meus olhos e olhei para o lugar onde seu
penis orgulhoso se projetava de seu corpo.
Trepidaçao me inundou.

Isso não vai caber...

Um olhar de determinaçao se espalhou pelo rosto dele.

— Eu vou devagar. — disse ele, segurando seu penis. —


Prometo, baby.

— Eu sei que voce vai. — eu sussurrei, assentindo. — Eu confio


em voce.

Uma miríade de emoçoes cruzaram seu rosto, uma apos a


outra.

— Voce nao tem ideia do que ouvir sua voz faz comigo.

Meu queixo tremeu quando meus sentimentos, meu amor, por


ele me atingiram de dentro para fora, fazendo meu coraçao inchar
ao ponto de explodir.

— Conte-me...

Ele tirou os olhos de mim e provocou minha abertura


escorregadia. Movendo um pouco para frente, minha entrada beijou
a cabeça de seu penis, atraindo-o para se aproximar, para mergulhar
mais fundo. Levemente arrastando os dedos sobre minha barriga
inferior, ele encontrou meu olhar mais uma vez.

— Isso me da esperança... — Sua voz era calma, apesar do caos


que se espalhou por suas feiçoes. — Espero que um dia voce va me
amar do jeito que eu te amo.

Uma lagrima, a primeira de muitas, caiu.


Kyle tinha me dito que ele estava se apaixonando por mim, mas
eu nao achei que isso significava que ele ja estava la. Eu esperava,
mas...

Meu peito apertou e meu ventre caiu no chao, desaparecendo


na areia.

— Voce me ama?

Erguendo a mao fechada, ele bateu no lugar onde seu coraçao


quebrado estava.

— Com cada grama do meu coraçao fodido e alma cansada.

Antes que eu pudesse pronunciar uma unica palavra, ele tirou


a mao da minha, soltou minhas panturrilhas de seus ombros e
forçou minhas pernas ao redor de seus quadris. Seu pau mergulhou
centímetros mais baixo dentro de mim quando ele se inclinou sobre
o meu corpo, cobrindo meu tronco com o dele.

Eu ofeguei, rezando para que ele mergulhasse o resto do


caminho.

Com a confissao dele pendurada entre nos, eu estava mais do


que pronta para ele pegar a unica coisa que eu esperei para dar a ele.

Depois de vinte e três anos, estou pronta...

Peito a peito, ele descansou uma mao na base do meu pescoço


enquanto ele afundava a outra no meu cabelo, envolvendo meus
cabelos em torno de sua mao fechada.

A beira de perder a cabeça, passei minhas unhas pelas costas


dele.
— Leve-me, Kyle. — eu sussurrei. — Sou sua.

Liberando meu pescoço, ele alcançou entre nos, prendendo seu


penis.

Ele apenas começou a alimentar sua espessura em mim quando


a realidade caiu ao meu redor.

— Espere. — eu gritei, minha voz uma oitava maior do que eu


pretendia.

Ele congelou; seus olhos encontraram os meus.

— Voce quer que eu pare?

Suor escorria de sua testa.

Eu balancei a cabeça tanto quanto o seu aperto implacavel


permitiria.

— Eu nao estou em controle de natalidade. Voce nao precisa,


quero dizer, voce nao deveria...

— Eu nao quero usar uma maldita camisinha, Carissa. — ele


respondeu, sua voz grossa. — Nao com voce. — acrescentou. —
Nunca com voce.

Engoli.

— E se eu engravidar?

Silencio.

Entao.

— Eu estou esperando como o inferno que voce engravide.


Minha mente se apagou e, certo ou errado, a excitaçao
percorreu minhas veias, inundando meu sistema.

— Voce quer um bebe? — Fiz uma pausa e respirei fundo. —


Comigo?

— Um bebe? Nao.

Meu coraçao se partiu.

Juro por tudo que e sagrado, ele me quebrou... pelo menos, ate
que ele continuou.

— Eu quero mais do que um princesa. Um bebe nao vai cortar


isso.

— Agora?

Ele abaixou a cabeça uma vez em afirmaçao.

— Eu passei mais de tres anos esperando por voce, fantasiando


sobre a vida que construiríamos juntos.

Estou totalmente a ponto de chorar...

— Para mim, isso nao e cedo demais. Mas se voce quer que eu
use uma camisinha ou puxe para protege-la de ser arremessada tao
rapido, eu vou. Eu sempre farei o que voce quiser.

Minha mente cambaleou.

Apenas um unico dia se passou desde que Kyle confessou que,


quando Lily morreu, ele perdeu tudo, inclusive o que restava de sua
família esfarrapada.
A perda surpreendente tinha fraturado seu coraçao vulneravel,
deixando-o quebrado e em condiçoes precarias.

Por quase duas decadas, ele flutuou pela vida sozinho e em


desesperada necessidade de uma família. Embora ele tivesse seu
quinhao de amigos, bem, dois, nao era o mesmo. Hendrix estava feliz
casado com duas meninas e, apesar de Ty ser solteiro, ele ainda
tinha Chase.

Kyle nao tinha ninguem.

Mas, deitada ali naquela praia, com minhas costas pressionadas


contra a areia, percebi que era algo que eu tinha o poder de
mudar. Eu poderia dar a Kyle uma família; algo que ele confessou em
mais de uma ocasiao querer.

Tudo o que eu tinha que fazer era dizer duas pequenas palavras.

Maos tremendo, eu segurei seu rosto. Olhos trancados com os


dele, eu levantei a cabeça e pressionei meus labios contra os dele em
um beijo suave. Quando me afastei, respirei fundo. Entao, com o
coraçao na garganta, falei as palavras que tinham o poder de mudar
nossas vidas irrevogavelmente.

— Sem preservativo.

Kyle congelou.

Ele nao se mexeu, nao falou.

Nao respirou uma unica vez.

Corpo tremendo contra o meu, ele olhou para mim, seus olhos
cheios de esperança nunca se desviando dos meus.
— Diga-me que voce me ama, Carissa. — ele sussurrou. —
Mesmo que seja uma mentira, baby, eu preciso...

Uma faca invisível se retorceu na minha barriga com a duvida e


a dor que enchiam suas palavras. Lutando contra as lagrimas,
coloquei outro beijo em seus labios imoveis.

— Eu amo voce, Kyle. — eu disse a ele. — Sempre.

Seus olhos se fecharam enquanto ele refletia sobre as palavras


que eu acabei de falar.

Ele pensou que eu estava fingindo, fazendo o meu melhor para


apaziguar ele.

Mal sabia ele que cada palavra era a verdade falada diretamente
do meu coraçao.

Quando seus olhos se abriram novamente, o fogo ardia em suas


pupilas.

Correndo em pura emoçao, ele puxou a mao do meu cabelo,


trancou meus pulsos em seu aperto implacavel e levantou meus
braços acima da minha cabeça, me segurando em cativeiro. Ele nao
disse nada enquanto lentamente começou a empurrar dentro de
mim, seu toque suave, seus movimentos lentos.

Eu ofeguei quando uma mordida aguda de dor ricocheteava


atraves de minhas entranhas enquanto seu penis batia contra a
minha barreira.

Os bíceps de Kyle se expandiram quando ele flexionou os


braços.
— Vai doer, princesa. — ele sussurrou. — Eu odeio isso, mas
nao pode ser evitado. — Ele expandiu o peito, entao desinflou
quando ele tomou uma respiraçao rapida apos a outra. — Mas eu
juro por Deus que farei melhor. Eu so...

— Esta tudo bem. — eu interrompi, assegurando-lhe. —


Apenas faça rapido. Por favor.

Soltando a mao que estava em volta da base de seu penis, ele


segurou meu quadril, apertando com força.

Ele nao me deu nenhum aviso antes de empurrar seus quadris.

Forte.

Minha boca abriu e um suspiro se soltou do meu peito enquanto


ele destruía a ultima parte da minha inocencia. Lagrimas
escorreram dos meus olhos.

— I... isso doeu.

Levantando a mao do meu quadril, ele acariciou meu cabelo.

— Respire, baby. — ele murmurou, salpicando beijos ao longo


do meu queixo e no meu pescoço. — Isso vai diminuir em um
minuto.

Eu respirei, entao exalei em alívio quando a dor aguda


recuou, como ele disse, e uma leve dor deslizou em seu lugar.

— Estou bem. — Chocada com a facilidade com que meu corpo


o atraiu, trancando-o no lugar, eu mexi meus quadris, testando a
sensaçao dele dentro de mim. Embora ainda doesse, a promessa de
algo melhor estava la. — Voce pode se mover.
— Obrigado foda Cristo. — ele amaldiçoou, seus braços
tremendo. — Eu sinto que vou morrer se eu nao me mexer.

Prendendo seus labios aos meus, ele deslizou para dentro e fora
de mim, arrastando sua dureza contra a minha carne
sensível. Línguas dançando uma com a outra, eu gemi em sua boca
quando a sensaçao de estar sendo levada aos meus limites se
transformou em algo mais.

Kyle se afastou, quebrando nosso beijo.

— Voce esta bem?

Eu balancei a cabeça, meus olhos se fecharam.

— Bom. — Seus labios mais uma vez encontraram meu


pescoço. — Porque eu estou prestes a mostrar o que posso fazer.

Ainda enterrado dentro de mim, ele soltou meus pulsos e


levantou minha pelvis, inclinando-a um pouquinho. Movendo uma
das maos para o meu centro, seu polegar encontrou meu clitoris,
massageando o feixe de nervos em traços lentos e calculados.

Prazer como eu nunca conheci antes me envolveu.

Ter sua boca entre as minhas pernas tinha sido alucinante, a


liberaçao que ele tinha me dado epica, mas isso era melhor.

Muito melhor.

— Kyle. — eu gemi, cavando minhas unhas em seus bíceps, e


levantando meus quadris para atender seus impulsos lentos e
profundos. — Mova-se mais rapido... agora.
Como sempre, ele fez o que eu pedi.

Ou melhor, exigi.

Ele rosnou quando ele empurrou para dentro de mim, sua


espessura batendo em uma nova profundidade e me enviando em
uma pirueta.

— Kyle! — Eu gritei sentindo minhas pernas tremerem.

— Continue gritando meu nome. — disse ele, rolando seus


quadris para tras e para frente, pegando velocidade com cada
impulso. — Continue gritando, porra.

Era uma exigencia que eu cumpri.

Maos ainda nos meus quadris, ele me levantou mais alto,


empurrou mais forte.

Abaixo de nos, a areia cedeu, permitindo-nos entrar mais fundo


no chao. Os granulos cortaram minhas costas, deixando marcas que
marcariam minha pele por dias, mas eu nao me importei. Eu estava
tao perdida no prazer que eu nao conseguia me concentrar em nada
alem do jeito que Kyle se sentia quando ele me preenchia, entrando
e saindo de mim com uma ferocidade que eu nao tinha gerenciado.

Tentando o meu melhor para segura-lo quando ele me pegou


com força, eu passei meus braços ao redor dele e novamente cavei
minhas unhas em suas costas, ofegando por ar. O movimento so o
estimulou, enviando-o para um frenesi irracional.

— Goze no meu pau, Carissa. — ele rosnou, batendo em mim


com tanta força que eu estava certa de que meu cerebro estaria
embaralhado quando chegasse ao meu clímax. — Agora bebe.
Eu estiquei meu pescoço, inclinando a cabeça para tras quando
ele pressionou mais forte no meu clitoris, aumentando a velocidade
de cada golpe circular.

Minhas entranhas se curvaram, depois se torceram.

Um orgasmo, que teve a força para me rasgar, correu atraves de


mim como uma onda de mare.

Gritando e empurrando contra ele, eu gozei, minha boceta


espasmodica apertando seu pau duro quando ele me agrediu, suas
bolas pesadas batendo contra a minha bunda.

Convulsao apos convulsao me rasgou.

Seu corpo inteiro se apertou quando uma gota de suor caiu de


sua testa, salpicando meu peito.

— Porra! — Ele gritou, batendo bolas profundas. O instinto


assumiu enquanto eu marcava suas costas com minhas unhas,
apertava minhas pernas ao redor dele e afundava meus dentes na
carne de seu ombro.

Envolvido profundamente dentro de mim, seu penis inchou, em


seguida, entrou em erupçao.

Segurando-me com seu corpo pesado, ele nao me permitiu


nenhum movimento quando seu orgasmo o tomou, banhando meu
utero desprotegido em seu gozo. Desesperada por isso, minha
boceta o puxou mais fundo, aceitando avidamente cada gota de sua
semente que ele tinha para oferecer.

O orgasmo que ainda rugia dentro de mim chegou ao maximo.


A escuridao entrou em minha visao, o mundo ao meu redor
entorpeceu e eu flutuei para longe.

Entao eu fui embora.

Para cima e para cima eu fui, voando para um lugar que so Kyle
poderia me enviar.

Quando voltei a realidade, ele deitado em cima de mim, seu


corpo pesado pressionado contra o meu. Rosto enfiado no lado do
meu pescoço, ele atacou minha pele suada com beijo apos beijo
enquanto ele sussurrava palavras doces no meu ouvido, fazendo
meu coraçao inchar.

— Voce e foda perfeita. — disse ele, acariciando seu rosto


contra mim. Eu ofeguei quando ele beliscou meu pescoço, marcando
minha pele. — E voce e toda minha.

Meus olhos se fecharam.

Com o peito arfando enquanto eu tentava sugar o oxigenio tao


necessario, deslizei meus dedos para cima e para baixo nas suas
costas, rezando para que ele pudesse sentir o amor que eu tinha por
ele.

— Sua. — eu sussurrei em resposta. — Só sua.

Eu abri meus olhos quando ele se empurrou para seus braços,


colocando alguns centímetros de espaço entre seu peito e o
meu. Posse, propriedade e orgulho, tudo estava em seus olhos.

— Voce esta malditamente certa, — disse ele, escovando uma


mecha de cabelo suado do meu rosto. — E e assim que sempre sera.
Suas palavras eram cem por cento verdadeiras.

Daquele momento em diante, eu sempre seria dele.


CAPÍTULO 25
Carissa
O sol estava começando a se por.

Deitada de lado, minha cabeça apoiada na minha mao, movi


meu olhar do horizonte escuro para Kyle, que se ajoelhou a menos
de tres metros de distancia ao lado de uma fogueira caseira, com o
rosto mascarado de concentraçao.

Segurando um isqueiro com uma mao e um pequeno fogo na


outra, ele usou a palma da mao para reorganizar a areia
emoldurando o buraco antes de acender a pequena entrada
revestida de cera. Uma vez que pegou fogo, ele deslizou por baixo de
uma camada de madeira seca; a maior parte das quais ele encontrou
empilhadas atras da cabana que ficava ao lado do estacionamento
onde ele havia estacionado a caminhonete mais cedo.

Completamente hipnotizada, observei as chamas crescendo,


subindo a estrutura de madeira em forma de cone que ele
construíra.

Sentindo-o olhando para mim, eu puxei meus olhos do fogo e


olhei em sua direçao. Assim como eu sabia, seu olhar estava grudado
em mim, uma expressao ilegível em seu rosto.

— O que? — Eu perguntei, incapaz de esconder o sorriso que se


espalhou pelo meu rosto.

Ele ergueu o queixo no ar.


— Venha aqui. — ele exigiu, seu tom firme.

Eu balancei a cabeça, desafio dançando na minha barriga.

— Que tal voce vir aqui em vez disso?

O labio do Hulk se contraiu.

— Um dia eu vou dar uma surra em voce.

Eu afundei meus dentes no meu labio inferior para evitar gemer


ou rir. O que teria saído primeiro, eu nao tenho ideia.

— Isso deveria ser uma puniçao? Porque de onde estou


sentada, isso soa muito como uma recompensa.

Kyle sorriu.

— Venha ca, Carissa. Agora bebe. Eu nao vou pedir de novo.

Incapaz de desobedece-lo por mais tempo, fiquei de pe,


permitindo que a camisa enorme que eu usava, a dele, caísse em
minhas coxas. Entao, com meus olhos fixos nos dele, eu contornei o
fogo e parei na frente de sua forma ajoelhada.

— Estou aqui. — eu sussurrei, sem saber o que ele queria. — O


que agora?

Sem dizer uma palavra, ele agarrou meus quadris e me puxou


para baixo.

Manobrando para uma posiçao sentada, ele me depositou em


seu colo, virando-me de lado para que pudessemos nos ver.

Eu suspirei quando ele envolveu um braço ao redor da minha


parte inferior das costas e do lado enquanto arrastava os dedos para
cima e para baixo em uma das minhas pernas nuas. Derretendo de
seu toque, eu me inclinei para ele, descansando minha cabeça em
seu peito.

— Eu gostaria que este dia nao tivesse que terminar. — eu


sussurrei, me consolando com o som de seu batimento cardíaco
constante. — Estando aqui com voce... — fiz uma pausa e respirei
fundo — fazendo as coisas que fizemos...

Segurando meu queixo, ele inclinou meu rosto para cima,


forçando meus olhos a se conectarem com os dele.

— Voce gosta de passar o tempo comigo? — Ele perguntou, com


segunda intençao brilhando em sua íris.

Eu balancei a cabeça.

— Mais do que tudo.

Embora as palavras que eu falei fossem verdade, me senti


culpada dizendo-as. Desde que Kyle invadiu minha vida, ele se
tornou minha pessoa, o unico humano com quem eu queria passar
mais tempo do que todos os outros; minha irma, papai e amigos
incluídos. Em mais de uma ocasiao, eu me encontrei perdida em
pensamentos sobre ele enquanto passava tempo com eles.

Isso me fez sentir mais baixa do que o coco de verme.

Eu nunca tinha sido o tipo de pessoa que mudou seu círculo


íntimo com a mesma frequencia com que trocavam de roupa de
baixo, mas quando eu conheci Kyle, ele voou para o topo da minha
lista VIP, ultrapassando todos.
A pior parte? Todo mundo que era alguem para mim sabia
disso.

Durante muito tempo, temi que eles ficassem com raiva, mas
nenhum deles ficou. De fato, a maioria, incluindo Heidi, tinha ficado
feliz por mim. Sem sequer uma queixa, eles se afastaram, abrindo
espaço para o homem com quem eu tinha certeza de que um dia me
casaria.

A unica pessoa que me dera pena era o papai.

Bem, ele e vovo.

Apesar da atitude atrevida que ela jogou na minha direçao, a


velha louca jararaca apenas fingiu estar chateada por eu roubar seu
homem, como ela alegou que Kyle era. Por mais fragil que ela agisse
as vezes, era tudo muito divertido. Na realidade, ela estava na lua
que ele e eu nos encontramos; mesmo que ela gostasse de me
importunar.

— Isso e bom, baby. — Kyle respondeu, acariciando meu queixo


com o polegar. — Porque eu com certeza gosto de passar o tempo
com voce.

— Isso significa que eu posso passar o dia todo com voce


amanha tambem? Eu estou fora e...

Meus sentidos ficaram em alerta maximo quando o corpo


inteiro de Kyle endureceu. Rapidamente fechando a boca, sentei-me,
sentindo uma mistura de confusao e autoconsciencia. Incapaz, mais
como não querendo, olhar para ele, desviei o olhar, escolhendo focar
no fogo que dançava na minha frente.
Em seu silencio contínuo, um milhao de perguntas percorreu
meu cerebro.

Entre elas: por que ele não iria querer passar o dia comigo?

Eu nao entendia.

Quando ele soltou a mao do meu rosto, meu panico entrou em


açao.

Cenarios irracionais horríveis, cada um pior que o anterior, se


desenrolaram na minha cabeça.

Estou sendo muito grudenta?

Ele precisa de espaço?

Eu dei a ele minha virgindade, é tudo o que ele queria?

Meu queixo tremeu quando uma dor familiar floresceu no meu


peito, roubando minha respiraçao.

— Eu fiz... — Minha voz sumiu quando minha garganta


inchou. — Fiz algo de errado?

Arrependimento cruzou seu rosto. Envolvendo um segundo


braço em volta de mim, ele me puxou para mais perto, me segurando
firme.

— Nao. — ele respondeu, sua voz cheia de dor. De onde viera eu


nao tinha certeza. — Voce nao fez nada de errado, princesa.

Sua resposta fez pouco para me acalmar.

— Entao, o que e?
Ele olhou para o ceu noturno antes de virar o rosto para o meu.

— Eu tenho que levar minha mae para algum lugar amanha. Eu


nao quero, mas nao e como se eu tivesse escolha. Eu sou tudo o que
ela tem — ele riu sem humor — embora isso nao esteja dizendo
muito.

No reflexo, eu bati no braço dele.

— Nao diga isso. — eu bati, minhas sobrancelhas franzidas. —


Voce esta sempre se menosprezando. Me deixa louca.

— Carissa, voce nao entende... — Sua mandíbula conteve. — Se


ao menos voce soubesse...

— Entao explique. — eu interrompi.

Eu pensei que estava preparada para o que ele estava prestes a


dizer.

Acontece que eu nao estava.

Kyle enfiou a ponta dos dedos em minha panturrilha e


sussurrou.

— Minha mae me odeia. — Eu ofeguei em choque e descrença.


— Desde os doze anos de idade, e provavelmente ate que ela de o
ultimo suspiro.

Oh Deus, pensei. Isso não pode ser verdade.

— Voce nao quer dizer isso.

— Eu quero dizer cada palavra.


— Como...

— Lily, — ele interrompeu. — Ela me odeia por causa do que eu


permiti que acontecesse com a Lily.

Cada grama do feroz protecionismo que eu senti no dia anterior


veio rugindo de volta. Eu nao tinha certeza do que seria necessario
para Kyle entender que o que aconteceu todos aqueles anos atras
nao era culpa dele, mas tinha chegado a hora de eu cavar meus
calcanhares e lutar contra os demonios que o assombravam.

As palavras que eu tinha falado antes podem ter ido em um


ouvido e saído do outro, mas isso nao aconteceria desta vez. Nao
importava o que eu tinha que fazer, ou o que eu tinha a dizer, ele me
ouviria, junto com a verdade que eu falava.

De um jeito ou outro.

Pulando de seu colo, eu me levantei e olhei para ele, meus olhos


cheios de fogo fixos nos dele.

— O que voce permitiu que acontecesse com a Lily? Foi isso que
voce acabou de dizer?

Kyle amaldiçoou em voz baixa e olhou para o lado, quebrando o


contato visual.

— Responda-me. — retruquei, afastando cada gota da gentileza


que eu normalmente possuía.

Com o maxilar cerrado, ele permaneceu mudo.

— Nos ja tivemos essa conversa. — Sua voz era calma, apesar


do caos que dançou atraves de suas feiçoes. — Nao importa o que
alguem diga, eu sei a verdade sobre o que aconteceu com a minha
irma.

— Nao importa o que alguem diga. — repeti suas palavras,


minha voz monotona. — Nem mesmo eu?

Ele estendeu a mao para mim, mas eu dei um passo para o lado,
fugindo de sua garra.

— Baby, voce nao...

— Entende. — terminei para ele, tendo ouvido a mesma coisa


antes. — Eu sei. — Eu dei outro passo para tras, meu coraçao
estalando bem no centro. — Mas e aí que voce esta errado, Kyle. Eu
entendo muito mais do que voce pensa.

— Princesa...

— Eu vejo isso o tempo todo.

— Ve o que?

— A negaçao, a culpa, a necessidade de culpar alguem, mesmo


que seja a si mesmo, por algo terrível que aconteceu.

— Carissa...

— Quando olho para voce, vejo. Quando eu olho para as


mulheres que moram no abrigo, eu vejo, — eu interrompi, nao
deixando ele falar uma unica vez. — E quando eu olho no espelho
todas as manhas, eu vejo.

Precisando estar mais perto dele, mesmo que fosse pela minha
propria sanidade, eu recuei entre as pernas abertas e caí de
joelhos. Segurando suas bochechas, eu o forcei a olhar para mim.

— Eu entendo porque voce se sente assim, mas querido, voce


nao pode se culpar pelas açoes de outra pessoa. Assim como nao
posso me culpar por pedir a mamae que deixasse a vida de lado
quando ela estava tao devorada pelo cancer que mal conseguia
respirar sem gritar de dor.

Kyle nao disse nada.

Parte de mim esperava que fosse porque ele estava finalmente


começando a entender, enquanto a outra parte gritava para eu
continuar, continuar falando, nao importava o quanto me doesse.

Se eu quisesse liberta-lo, absolve-lo de sua culpa, eu precisava


fazer o mesmo por mim mesma.

Pregar para Kyle sobre deixar as coisas irem quando carregava


minha propria bolsa de sentimentos reprimidos, e a culpa roubando
a respiraçao me fez uma hipocrita.

Eu nao estava bem com isso.

— Eu acho que e hora de eu contar uma historia. — Com toda a


força que pude reunir, deixei as palavras que ele precisava ouvir se
espalharem. — Quando eu tinha dezesseis anos, minha mae estava
cansada, Kyle... tao cansada. — Uma torrente de lagrimas escorreu
pelo meu rosto, mas sabendo que mais cairiam antes que a historia
acabasse, eu nao me incomodei em limpa-las. — Ela esteve lutando
contra o cancer por tanto tempo e seu corpo, junto com seu espírito,
ha muito se desgastaram. — Eu tomei uma respiraçao tremula antes
de dizer as palavras que eu nunca me permiti pensar, muito menos
falar. — E eu tambem estava cansada.
Vergonha desceu sobre mim, esmagando minha alma.

— Nem uma vez eu admiti isso em voz alta, mas no final, parei
de rezar para que ela melhorasse, e comecei a orar para que ela
partisse. — Um soluço arrancou da minha garganta, tornando difícil
respirar, mas continuei, embora. Colocando minhas trevas para ele
ver. — Papai estava se afogando em contas medicas, estavamos
prestes a perder a casa para o banco, e Heidi nao podia comer, nao
conseguia dormir. E eu te disse, mamae estava com muita dor. — Eu
soltei minhas maos do seu rosto e abaixei a cabeça, incapaz de olhar
para ele por mais tempo. — Mesmo antes de descobrirmos que ela
era terminal, eu rezei para que tudo aquilo parasse. Eu so... — As
palavras morreram na minha língua quando Kyle me levantou em
seus braços e me segurou perto de seu peito. — Eu so queria que
acabasse... — eu gaguejei, mal conseguindo falar. — Entao, uma
noite, caí de joelhos e rezei por Deus para resolver.

Foi algo que me arrependi com cada fibra do meu ser.

— Voce ve, Deus resolveu isto.

Apenas nao do jeito que eu pretendia.

Deixando as lembranças se desenrolarem na minha cabeça, eu


respirei tremendo, lutando por calma.

— No dia seguinte, o oncologista de mamae nos disse que nao


havia mais nada que eles pudessem fazer.

Eu levantei minha cabeça, olhando meu cara em seus olhos.

— O que aconteceu com a Lily nao foi sua culpa, Kyle. Voce era
apenas uma criança; alguem que nunca deveria ter estado em tal
situaçao para começar. Mas eu? Eu praticamente rezei por minha
mae, a mulher que me deu a vida, para morrer. Se alguem deve ser
punida com uma interminavel culpa e agonia pelas coisas que eles
fizeram e pelos erros que cometeram, deveria ser eu. Voce nao.

— Nao diga isso. — disse Kyle, enterrando o rosto no meu


cabelo. — Nunca mais diga isso de novo. — Suas palavras foram
duras, seu tom de coraçao partido. — Voce nao merece ser punida.
— acrescentou. — Nunca.

— Eu a matei. — eu chorei, apertando seu antebraço por sua


vida. — Eu rezei para que isso acabasse. Foi minha culpa...

Me balançando para frente e para tras, Kyle me segurou mais


apertado.

— Não foi sua culpa, Carissa.

Meu corpo inteiro tremeu quando soluço apos soluço acumulou


meu corpo.

— Nao foi... su... sua. Nem de Ty — gritei, querendo que ele


acreditasse na verdade. — Foi aquele homem, aquele que levou sua
Teacup em... embora.

Eu senti, em vez de ver as lagrimas de Kyle cair no meu cabelo,


umedecendo os fios e molhando meu couro cabeludo.

Peito levantando, seu abdomen apertado.

— Seu nome era Edgar Louis. — ele sussurrou, sua voz crua, —
e ele era um monstro.

Eu me enterrei nele com mais força, desejando que ele


continuasse falando.

— Conte-me sobre ele. — eu sussurrei. — Sobre o monstro.

Erguendo a cabeça, Kyle enxugou as lagrimas que cobriam suas


bochechas e mandíbula. Foi a primeira vez que o vi chorar; algo que
eu duvidava que ele fizesse com frequencia. — Ele era um criminoso
sexual registrado.

Eu congelo.

Espinha rígida, eu olhei para ele com os olhos arregalados.

— Antes de sequestrar Lily, ele havia sido condenado por tomar


liberdades indecentes com uma criança com menos de doze anos na
Carolina do Norte. — Mais lagrimas caíram de seus olhos. — A
família da menina so estava morando ao lado dele por algumas
semanas, quando ele começou a prepara-la, fazendo-a confiar nele.

Meu estomago revirou.

— A unica razao pela qual ele foi pego foi porque a garotinha
contou a prima o que estava acontecendo, e a prima contou a uma
professora.

Serio, eu ia vomitar.

— Ele foi para a prisao por dezoito meses inteiros. — O


desgosto que revestia sua voz era inconfundível. — Nao muito
tempo depois de sair, ele se mudou para a Georgia. Duas semanas
depois de chegar aqui, ele viu mamae e Lily na mercearia.

Meu peito se apertou.


Eu nao conseguia respirar.

— Naquele primeiro dia, ele foi ate mamae e perguntou se


poderia dar um pirulito a Lily. Mamae nao desconfiou de nada, entao
ela deixou. Foi aí que começou.

Minha garganta estava mais seca do que o Saara. Ainda assim,


perguntei.

— Onde o que começou?

— Sua obsessao.

— Oh meu Deus. — eu sussurrei, sentindo meu peito se abrir.

— Por semanas, ele a perseguiu. No caminho para a escola, no


caminho de volta para casa. — Seus olhos se fecharam. — Eu deveria
te-lo visto, deveria ter notado que algo estava errado. — Quando
seus olhos se abriram novamente, eles estavam cheios de tanta
angustia que eu nao entendia como ele poderia falar. — Ela estava
sempre comigo. Sempre. Se eu tivesse prestado mais atençao, talvez
eu tivesse...

— Nao. — eu interrompi. — Nao, querido. Voce era apenas um


menino.

Ele assentiu um pouco antes de continuar.

— Aquele dia no parque, Lily me pediu para ir brincar com ela,


mas eu nao fiz. Eu estava tao envolvido em querer derrotar Ty em
um jogo de um-contra-um que eu a ignorei. Eu disse a ela que
brincaria em um minuto, mas tive que derrubar Ty primeiro no um-
contra-um.
Mais uma vez, oh meu Deus.

— Estacionado ao lado do meio-fio, Edgar viu quando eu virei


de costas para ela.

— Nao foi sua culpa. — eu disse para o que parecia ser a


milionesima vez. — Kyle, eu juro que nao foi...

Com o olho vidrado, ele continuou falando, me cortando.

— Quando Lily o viu sair de sua caminhonete, ela correu direto


para ele. A polícia achou que ela o reconheceu como o homem que
lhe dera o pirulito e se sentia segura em se aproximar dele.

— Como voce sabe disso? — Eu perguntei, incapaz de me


conter.

— Sabe o que?

— Que ela correu direto para ele.

— A igreja Batista, ao lado do parque tinha cameras de


segurança afixadas no telhado. Eles pegaram tudo; incluindo o
momento em que ele a forçou a entrar na caminhonete e partiu.

— O que ele fez... — Incapaz de falar as palavras, deixei a


pergunta morrer na minha língua. — Quero dizer, ele nao tocou
nela... — fiz uma pausa — ...assim, nao e?

Por favor, diga não.

Por favor, diga não.

Kyle sacudiu a cabeça.


— Ele nao teve tempo.

O alívio passou por mim.

— O que Ty e eu dissemos aos policiais nao era muito, mas as


cameras lhes deram tudo o que precisavam. Sabendo quem eles
estavam procurando, eles montaram bloqueios de estrada e dois
helicopteros voaram de Atlanta para ajudar na busca.

Embora eu fosse jovem quando Lily foi levada, lembrei-me de


ver os helicopteros da janela do meu quarto.

— Voce sabe que o pai de Ty e um policial, certo?

Eu balancei a cabeça.

— Sim, bem, ele foi o unico que avistou o caminhao de Edgar


estacionado na floresta ao lado da Highway 3.

Prendi a respiraçao, esperando que ele continuasse.

— Ele pediu reforço antes de se aproximar, mas isso nao


importava. Edgar ja estava morto.

— O que? — Eu engasguei, choque correndo atraves de mim.

— Havia um 38 no chao ao lado de seus pes e um buraco de bala


no topo de sua cabeça. Ele enfiou a arma contra o ceu da boca e
puxou o gatilho horas antes de ser descoberto.

— E quanto a Lily? — Tantas emoçoes, nenhuma das quais eu


poderia processar, me consumiram. — O que ele fez com ela?

Os olhos de Kyle encontraram os meus.


— Ele a matou. — afirmando o obvio. — Estrangulando-a e
jogou seu corpo em um campo de trigo a menos de cem metros de
onde ele estava estacionado.

Eu abri minha boca para falar, mas as palavras nao vieram.

— Ouvi um dos agentes do FBI dizer a um policial de Toluca que


ele entrou em panico quando percebeu que nao havia saída. Os
policiais locais reagiram rapidamente, bloqueando todas as estradas
e fechando todo o condado. Coward sabia que seria pego e se matou
para nao ser mandado de volta a prisao.

Eu não entendo...

— Entao por que machucar a Lily? Ele poderia apenas deixa-la


ir. Ele nao tinha...

— Porque ele estava bravo. Com raiva que ele nao conseguiu o
que tinha fantasiado desde o momento em que a viu pela primeira
vez.

— Kyle...

— Meu pai nunca me perdoou por nada disso. — ele


interrompeu, falando da unica pessoa que ele nunca mencionou
antes. — Disse que ele nao podia mais me olhar depois que Teacup
morreu — ele parou de novo — disse que deveria ter sido eu.

O desgosto que me agarrava desapareceu em um flash.

Em seu lugar deslizou a raiva.

Quente, fiquei tao brava que eu poderia dar um soco em alguem,


de pura raiva.
Eu cerrei os dentes de tras, esperando ter escutado errado.

— Por causa do meu fracasso em proteger Lily, ele saiu,


deixando mamae e eu para tras.

Que homem covarde!

— Ele ja voltou? Ou pelo menos pediu desculpas.

Olhos presos no fogo diante de nos, Kyle balançou a cabeça.

— Nao, baby, ele nao fez.

Meus dedos cravaram em seu antebraço enquanto uma furia


incontrolavel rolava em minhas veias, aquecendo minha pele.

— Bem, onde ele esta? Porque eu gostaria de nada mais do que


empurrar meu pe na parte de tras dele. — Kyle sorriu, mas eu nao
estava brincando. — Eu nao estou brincando. Isso me enfurece. Eu
nao ligo para o que aconteceu, ou pelo que ele passou, um homem
de verdade nunca faria uma coisa dessas. — Eu soltei um suspiro e
repeti a minha pergunta de um segundo antes. — Entao, onde ele
esta?

— Na rota 17, onde o Condado de Kissler se transforma em


Toluca.

Eu me levantei do colo de Kyle.

— Levante-se, Hulk. Esta na hora de visita-lo, porque o que ele


fez nao esta bem, e ficarei muito aborrecida se o deixar ir outro dia
sem perceber o erro dele. — Ele nao se mexeu e minha agitaçao
aumentou. — Vamos, Kyle, serio. Podemos estar la em uma hora e
depois...
Espere.

— Voce disse rota 17, certo?

Ele assentiu.

— Perto da linha do condado?

Mais uma vez, ele assentiu.

Ah não.

Não, não, não!

— Nao ha casas fora dessa maneira. A unica coisa la fora e o


Sunset Cemetery. — Kyle nao disse nada, entao continuei.

— Ele esta...

Kyle se levantou e deslizou as maos no bolso de seu calçao de


banho, a unica roupa que ele usava, antes de olhar para mim.

— Sim, baby, ele esta morto. — ele respondeu antes que eu


pudesse terminar de perguntar. — Tem estado desde que eu tinha
15 anos.

Meu queixo quase bateu no chao.

— Por que... quero dizer, como?

— Mama jura que ele morreu de um coraçao partido, mas sua


certidao de obito lista acidente vascular cerebral em massa como a
causa.

Eu nao tinha palavras.


Zero.

— Sinto muito. — eu sussurrei, desejando que eu pudesse


limpar toda a sua dor com um aceno de minha mao.

— Voce nao merecia nada disso. Se eu pudesse voltar...

Removendo as maos dos bolsos, Kyle passou um braço em volta


das minhas costas, me puxando para ele.

— Nada para voce se desculpar. Nada disso e culpa sua.

Eu sabia disso, mas a dor de Kyle agora era minha dor.

Sempre.

Descansando minhas maos tremulas em seu peito, eu enrolei


meus dedos em sua pele suada e escorregadia.

— Eu nao gosto de ver seu coraçao partido.

— Boa coisa que voce planeja costurar meus pedaços


quebrados para seus esfarrapados entao, sim? — Seus olhos
escureceram um pouco. — Ou voce ja teve o suficiente de mim e
meus problemas? — Soltando o braço de minhas costas, ele deu um
passo para tras, colocando um pequeno espaço entre nos. – Eu nao
te culparia se voce tivesse. Te disse que minha historia era fodida,
menina bonita.

— Voce nao e o unico com problemas. — respondi.

Seus olhos encontraram os meus.

— Acho que nos dois somos um pouco loucos.


Eu mesmo forcei um sorriso.

— Sim, mas isso so mantem as coisas mais interessantes.


Apenas pergunte a vovo, ela lhe dira.

Ele riu.

— Porra, vovo. Essa mulher e mais do que um pouco


maluca. Ela e louca de merda.

Eu nao pude deixar de rir.

— Palavras mais verdadeiras nunca foram ditas.

O silencio caiu entre nos.

Momentos passavam.

Entao.

— Cap me deu este folheto na noite passada.

Minhas sobrancelhas subiram minha testa.

— Que tipo de folheto?

Ele hesitou por um breve momento.

— Um de um terapeuta no condado de Garrison.

— Pop quer que voce va para a terapia? — Quando ele acenou


com a cabeça novamente, eu pisei levemente com as palavras que eu
falei em seguida. — E que você quer ir?

Mais uma vez, ele hesitou.


— Eu quero melhorar.

Tres pequenas palavras.

Tanto significado.

— Sim?

— Sim, princesa, eu quero.

Antes que eu pudesse pensar duas vezes, perguntei.

— Quer que eu va com voce?

Seus ombros caíram em alívio. Segurando a nuca com a mao, ele


sorriu para mim.

— Cristo, Carissa, eu estava esperando como o inferno que voce


perguntasse isso.

— Entao eu vou. — Eu joguei meus braços ao redor de sua


cintura. — Onde quer que voce precise de mim, eu estarei la.

Soltando a parte de tras do seu pescoço, sua mao forte segurou


meu queixo, me segurando firme.

— Hendrix estava certo.

A confusao começou.

— Certo sobre o que?

— Tres anos atras, ele me disse que um dia uma mulher iria
aparecer e me bater na minha bunda. — Eu respirei fundo. — Cinco
minutos depois, conheci voce.
— E eu bati em sua bunda?

— Voce fez. — Ele baixou a cabeça, trazendo seus labios mais


perto dos meus. — Voce foi o golpe duplo que eu nunca vi vindo,
linda garota, e eu ainda estou cambaleando.

— Kyle...

Ele pressionou seus labios nos meus.

Quebrando o beijo, ele se afastou, seus olhos nos meus.

— Eu nunca vou deixar voce ir, Carissa. Nunca.

— Bom. — eu sussurrei, meu coraçao batendo longe. — Porque


eu nunca planejo deixar voce ir tambem.

Isso era um fato.


CAPÍTULO 26
Kyle
Era o 24º aniversario da Lily.

Como todos os anos, eu ficava no centro da minha cozinha


usando apenas um par de bermudas, meus olhos focados no simples
calendario preto e branco pendurado na parede oposta. A data
circulada em vermelho, junto com as palavras escritas abaixo dela,
olhando de volta para mim, zombando da minha dor.

Era o suficiente para fazer meu temperamento brilhar.

Todos os musculos do meu corpo estavam tensos quando cruzei


o pequeno espaço, agarrei o calendario com uma mao e tirei-o do
pequeno prego que o prendia ao gesso cor de creme.

Eu joguei direto no lixo.

Eu soltei um suspiro quando me virei de volta, o desejo de


enfiar minha mao na parede mais proxima, crescendo a cada
segundo que passava.

Minha furia diminuiu no minuto em que meus olhos pousaram


na unica pessoa que podia acalmar o oceano de raiva que se
amontoou dentro de mim.

Carissa...

— Ei, princesa. — eu disse, olhando-a da cabeça aos pes. — Nao


sabia que voce estava acordada.

Vestindo apenas uma das minhas camisetas, seus pes estavam


descalços, o cabelo despenteado. Marcas de seu travesseiro, o que eu
tinha dado a ela, vincavam o lado de seu lindo rosto e seus olhos
estavam pesados de sono.

Ela nunca pareceu mais bonita.

— Hey, de volta. — Ela tirou o cabelo selvagem do rosto. — Eu


senti cheiro de cafe, entao eu pensei em pegar uma xícara antes de
pular no chuveiro. Nao sabia que voce estava redecorando — ela
apontou para o lugar agora vazio na parede — ou
desmanchando. No entanto, voce quer coloca-lo. — Inclinando a
cabeça para o lado, ela estudou meu rosto, tentando o seu melhor
para obter uma boa leitura sobre mim. — Voce vai me dizer? Ou eu
preciso arrancar isso de voce?

Eu fiz o meu melhor para dançar em torno de sua resposta.

Não minta, mas não seja muito direto, eu disse a mim mesmo.

— Eu nao gosto da data.

— Voce nao gosta da data?

Apoiando meu quadril contra o balcao ao meu lado, balancei a


cabeça.

— Nao, baby, eu nao gosto.

A curiosidade queimava em seus grandes olhos azuis.

— Por que?
Quando nao respondi imediatamente, ela atravessou a cozinha
e puxou o calendario do lixo. Vestindo uma expressao pensativa em
seu rosto de tirar o folego, folheou os varios meses ate encontrar
Junho.

No momento em que seus olhos pousaram na data e as palavras


escritas abaixo, seus olhos brilharam.

Virando-se para mim, ela olhou para mim, uma expressao quase
magoada em seu rosto.

— Por que voce nao me contou?

Frustrado comigo mesmo, eu corri minhas maos para o lado do


meu rosto.

— Eu coloquei merda suficiente em voce nos ultimos dias. Eu


nao quero adicionar mais. Nao quando... — Mordendo minha língua
para me impedir de falar demais, eu permiti que minha voz parasse.

— Nao quando o que? — Meu silencio a irritou


imediatamente. — Responda-me, Kyle. — ela insistiu, um olhar que
me lembrou da mamae, antes que Lily morresse, de qualquer
maneira, em seu rosto.

Foda-se... Apenas diga a ela.

— Droga... — Eu deixei cair a cabeça para tras e olhei para o teto


antes de mais uma vez encontrar seu olhar. — Eu nao queria
empilhar mais coisas em voce quando eu ja estou apavorado, que
voce logo se cansara do meu tumulto e ira embora.

Eu esperei ansiosamente para ela falar.


Ela permaneceu em silencio.

— Carissa, fale...

Eu bati minha boca quando ela levantou ambas as maos,


agarrou meus mamilos entre os dedos e torceu. Duro.

— Ow, inferno. — eu amaldiçoei, batendo as maos dela. — Que


diabos foi isso?

Os labios se diluíram em linha reta, suas maos foram para os


quadris.

— Diga-me, Hulk, o que vai levar para a verdade afundar em seu


cranio grosso?

Meus olhos se arregalaram, depois se estreitaram.

— Perdao?

— Pelo amor de Deus, Kyle. — minha garota respondeu, suas


palavras ferozes. — Voce nao esta ouvindo uma palavra que eu disse
nos ultimos dias? — Nao sabendo como responder, e nao querendo
ter meus pobres mamilos arrancados da minha pele, eu cruzei meus
braços sobre o peito e mantive minha boca fechada.

Sem folego pelo meu silencio, ela continuou.

— Eu nao estava brincando quando disse que estava contando


que voce e eu fossemos uma especie de coisa para sempre. Nem eu
estava contando uma mentira quando lhe disse — ela fez uma pausa
— na noite passada, devo acrescentar, que nunca deixarei voce ir.

Alguém acordou cheia de fogo...


— Alem disso, nao vamos esquecer o fato nao tao pequeno de
que voce nao e a unica pessoa nessa cozinha que tem
problemas. Entao, por favor, me explique por que voce acha que eu
iria embora so porque as coisas em sua cabeça, coraçao e alma nao
sao so sol e arco-íris.

Cruzando os braços sobre o peito, Carissa esticou o quadril para


o lado e lançou um olhar de pura atitude em minha direçao. Certo ou
errado, eu ri.

— Bunda atrevida. — eu disse, soltando meus braços. — Eu


gosto disso.

Suas sobrancelhas subiram na testa.

— E por isso que voce ameaçou espanca-la fora de mim na noite


passada?

— Baby... — eu respondi, beliscando o queixo entre o polegar e


o dedo indicador, — ...qualquer desculpa para tocar sua bunda
parece uma boa.

Ela levantou uma sobrancelha.

Entao ela riu. Duro.

Era um dos sons mais bonitos que eu ja ouvi.

Quando ela se acalmou o suficiente para respirar, ela deslizou


os braços em volta das minhas costas nuas e deu um beijo suave no
meu esterno. Olhos trancados nos meus, ela descansou o queixo
contra o meu peito.

— A que horas voce esta indo para a casa da sua mae?


Eu olhei para os numeros iluminados no fogao.

— Em cerca de uma hora.

— Voce precisa de mim para fazer qualquer coisa antes de ir?

Por um momento, apenas um breve segundo, eu pensei em


convida-la para vir comigo, mas esmaguei a ideia assim que ela
invadiu minha cabeça. Eu nao tinha certeza de como mamae reagiria
tendo companhia em um dia normal.

Mas hoje?

Esqueça isso.

A ultima coisa que eu queria era que mamae ficasse chateada.

Ou que Carissa se machucasse. Algo que eu sabia que


aconteceria se mamae nao a recebesse em minha casa de infancia de
braços abertos. Se ela pensasse que nao era desejada ou apreciada
pelo menor segundo, isso quebraria seu coraçao.

Isso nao era algo que eu permitiria.

Nunca.

— Nao, baby. — eu respondi, penteando meus dedos atraves de


seu cabelo emaranhado. — Voce ja fez o suficiente por mim.

— Voce tem certeza? Nao levaria muito tempo para preparar


um monte de bolinhos, biscoitos ou algo assim.

Ela era tao doce que me matou.

Eu estava prestes a dizer-lhe apenas quando alguem bateu


contra a porta do meu apartamento tres vezes.

Boom, Boom, Boom!

— Kyle! — Chase, o irmao mais novo de Ty, gritou da passagem


livre. — Cara, voce precisa vir para fora! Alguem fodeu seu
caminhao!

Carissa respirou fundo enquanto eu soltava minhas maos do


cabelo dela, contornei-a e me dirigi para Chase. Minha pele arrepiou,
e minha raiva ameaçou borbulhar quando eu soltei o ferrolho e abri
a porta.

De pe na minha frente, vestido com seu equipamento de treino,


Chase apontou para o estacionamento.

— Cara, alguem foi para a cidade na sua merda. Va ver.

Eu olhei para Carissa por cima do meu ombro.

— Fique dentro, baby.

Chase se inclinou para o lado e olhou em volta de mim.

— Ei, Carissa. — disse ele, sorrindo de orelha a orelha. — Como


esta indo, querida?

Rosnando, eu empurrei Chase para tras, observando enquanto


ele tropeçava.

— Fora dos limites. — eu estalei, minha raiva aumentando a


cada batida do meu coraçao.

— Oh, por favor. — Chase respondeu com um revirar de


olhos. — Eu estava apenas sendo legal. Nao precisa mijar em todo o
seu territorio, cara. — Ele ergueu o queixo no ar. — Alem disso,
todos nos sabemos que prefiro morenas.

O que ele queria dizer era que preferia Ashley, que


definitivamente era uma morena.

Eu fechei a porta.

— Fique aqui. — eu disse a ele, — e vigie a porta.

Ele assentiu, encostando-se na parede atras dele.

— Ela esta segura comigo.

Sabendo que as palavras que ele falou eram a verdade, eu fui


para o estacionamento.

Quando cheguei la, Ty estava de pe ao lado do meu caminhao,


esperando por mim. Ignorando-o, eu contornei a frente do meu
Silverado, absorvendo a enorme quantidade de dano. Cada pneu foi
cortado, o para-brisa esmagado. Raios de tinta vermelha cobriam
todo o corpo, e marcas profundas adornavam os lados e a porta do
bagageiro.

— Aquele filho da puta. — eu amaldiçoei, sabendo quem era o


culpado. — Aquele pedaço de merda de cachorro, filho da puta que
chupa pau filho da puta!

Ty agachou-se, inspecionando um dos pneus cortados. Depois


de passar a mao sobre a borda da borracha lacerada, ele olhou para
mim.

— Se importa em compartilhar de quem voce esta falando?


Apenas uma pessoa faria isso...

— Carson! — Eu gritei alto o suficiente para acordar os mortos.

O rosto de Ty caiu.

— Merda. — ele sussurrou, olhando de mim para o caminhao.


— Se ele fez isso...

— Foi ele.

Eu comecei a andar.

Vai e volta.

Vai e volta.

— Nao depois dos dois ultimos encontros que tive com ele. Voce
ja sabe que ele tem uma paixao distorcida pela minha garota. O
pedaço de merda obviamente explodiu quando ele nos viu saindo da
estaçao juntos ontem.

Eu olhei de volta para o meu apartamento.

Carissa estava na janela da sala de estar, com um olhar


preocupado no rosto.

Eu olhei para ela, minha mente correndo.

Desconforto beliscou na base da minha espinha. Eu nunca


pensei que Carson fosse inofensivo como Hendrix e Cap
sugeriram. Talvez fosse porque eu estava cansado da minha
experiencia com o mal que vivia entre nos, mas desde o início, eu
sabia que algo estava errado no que dizia respeito a ele.
O dano ao meu caminhao era a prova de que eu estava certo.

— Ele e obcecado com Carissa. — eu murmurei.

Assim como Edgar era obcecado por Teacup, acrescentei


mentalmente.

— Ele nao vai machucar Carissa, Kyle. Eu garanto isso.

Embora sua garantia nao significasse nada, ele estava certo


sobre que Carson nao iria fazer nada para Carissa.

Eu o mataria primeiro.

Essa era a minha garantia.

— Eu preciso ir para a estaçao e lidar com essa merda. — eu


disse, meus olhos nunca deixando Carissa. — Mas e o aniversario de
Lily, e eu devo levar mamae ao cemiterio.

Ty exalou.

— Porra, cara. Voce esta levando C com voce?

Temendo a reaçao de mamae, eu nao tinha planejado.

Meus planos agora mudaram.

— Nao tenho outra escolha. — respondi. — Eu nao vou deixa-


la fora da minha vista ate que esta situaçao de Carson seja resolvida.

— Sim, e como voce planeja lidar com isso?

Um sorriso malicioso se espalhou pelo meu rosto.

— Da mesma maneira que eu lido com todo o resto. — Fiz uma


pausa, encontrando os olhos de Ty. — Com meus malditos punhos.

Nao esperei que ele respondesse.

Sem falar outra palavra, fui para dentro.


CAPÍTULO 27
Carissa
Eu senti vontade de vomitar.

Com o estomago revirando, eu olhei para fora do para-brisa do


meu Corolla em silencio enquanto Kyle navegava pelo carro pelas
ruas tranquilas do bairro que levavam a sua casa de infancia.

Entre o que aconteceu com seu caminhao, uma situaçao da qual


ele se recusou a falar, e o fato de que eu estava prestes a conhecer
sua mae pela primeira vez, eu estava prestes a perder a cabeça. Eu
nao tinha planejado nada disso, mas fui jogada de cabeça para ele.

Dizer que eu nao estava lidando bem com isso era um


eufemismo.

Agarrando minhas maos no meu colo, olhei para Kyle.

Vestindo uma mascara de apreensao, ele parecia tao ansioso


quanto eu me sentia.

— Quem vandalizou seu caminhao? — Eu perguntei, incapaz de


manter a questao da queima por mais tempo. — Eu vi seu rosto
quando voce estava conversando com Ty. Voce sabe quem foi, nao
sabe?

Sua mandíbula ficou tonta.

— Nao se preocupe, Princesa. — Removendo uma mao do


volante, ele alcançou o pequeno console central e pegou minha mao
esquerda na sua. — Eu vou lidar com isso.

Eu estava perto de revirar os olhos.

— Eu nao duvido disso por um minuto. Mas como voce esta


planejando lidar com isso?

— A unica maneira que eu sei como.

Isso não é tão bom...

— Kyle. — eu sussurrei. — Querido, eu nao sei quem levou um


taco de beisebol e uma lata de tinta spray vermelha para seu
caminhao, mas voce nao pode simplesmente dar uma surra em
alguem.

Uma risada sem humor deslizou por seus labios.

— Sim? E porque nao?

Eu soltei uma respiraçao frustrada.

— Porque nao e a coisa certa a fazer! — Minha voz beirava a


histeria. — Mesmo se voce quiser levar um ferro de engomar para
os joelhos de alguem, voce nao pode. E contra a lei pelo amor de
Deus!

Ele encolheu os ombros.

— Nao seria a primeira vez que fui preso.

Meus olhos se arregalaram.

— Desculpe?
Ele permaneceu em silencio.

— Oh nao, voce nao... — eu continuei. — Voce nao consegue


soltar uma bomba assim e depois fica em silencio comigo. Voce foi
preso? Por que? E quando?

Sua mandíbula ficou tonta.

— Eu tinha dezesseis anos. Ty e eu entramos em um bar e


acabamos brigando. Nos dois fomos presos por assalto e
vandalismo, mas seu Papaw puxou algumas cordas e fez as
acusaçoes caírem.

Fiquei espantada.

A serio.

— Entao voce definitivamente nao pode ser preso novamente.


Desta vez voce pode nao ter alguem la para pedir um favor ou dois.

Ele tamborilou os dedos ao longo do topo do volante.

— Eu nao vou ser preso. Se Carson chamar a polícia, entao ele


tera que explicar...

— Carson? — Eu gritei. — Ele fez isso?

Raiva atravessou seu belo rosto.

— Tenho certeza que ele fez.

— Como voce sabe?

— Um, ele e a unica pessoa em toda a area do condado idiota o


suficiente para mexer comigo. Dois, ele gosta de voce... — ele fez
uma pausa — um pouco demais.

O medo deslizou pelas minhas veias; suor estourou ao longo da


minha testa em resposta.

— O que voce quer dizer com um pouco demais? Ele... quero


dizer, ele vai tentar machucar...

A temperatura no carro despencou quando o humor dele


explodiu.

Depois de olhar no espelho retrovisor, Kyle desviou para a


direita e pisou no freio. Eu gritei quando meu carro parou ao lado do
meio-fio.

Batendo a transmissao no morto, ele desafivelou o cinto de


segurança com velocidade rapida e virou-se para me encarar.

— Ninguem... — ele rosnou, apertando meus dedos com força,


— ...vai te machucar.

Eu abri minha boca para responder, mas ele nao me deu a


chance.

— Voce e minha, Carissa. Minha para cuidar, minha para manter


segura, minha para proteger. — Cerrando a mao livre em um punho
apertado, ele bateu no peito uma vez, enfatizando a palavra que se
seguiu. — Minha.

Eu permaneci em silencio enquanto ele continuava.

— Ninguem, e eu quero dizer que, nem fodendo, nunca chegara


perto o suficiente para te machucar. Enquanto eu tiver um unico
suspiro no meu corpo, farei o que for preciso para mante-la
segura. Se isso significa bater algum sentido no filho da puta que
destruiu minha propriedade porque ele quer algo que eu tenho,
entao que seja.

— Kyle, querido... — eu comecei.

— Eu quero dizer isso, Carissa, vou fazer o que for necessario


para mante-la segura. — ele continuou, interrompendo-me. — Se
isso me pede para matar outro homem com minhas proprias maos
ou dar a minha vida para garantir que seu coraçao continue batendo,
entao eu nao hesitarei, porque voce, menina bonita, e o meu mundo
inteiro.

Lagrimas encheram meus olhos.

— Cale a boca. — eu bati, sentindo um deslize livre. — Voce nao


tem permissao para morrer por mim, entao nao fale assim. —
Colocando a mao contra o meu peito, eu respirei fundo. — Isso me
machuca... — eu toquei no lugar onde meu coraçao descansou —
...aqui.

— Bebe...

Eu pressionei um dedo nos labios dele, silenciando-o.

— Eu nao quero ouvir isso, Kyle.

Mordendo meu dedo com os dentes, ele sussurrou.

— Nos nao vamos mais falar sobre isso.

Eu balancei a cabeça, sentindo minha cabeça ficar leve.

— OK.
Eu tive morte suficiente para durar uma vida inteira.

— Podemos ir agora? — Eu me contorcia no meu lugar. — Nos


nao queremos manter sua mae esperando.

Deixando cair minha mao em seu colo, Kyle se moveu e juntou


os dedos.

Ele olhou pela janela, segurou o cinto de segurança de volta no


lugar e mudou o carro para a direçao.

Entao, começamos a seguir.

Eu queria chorar.

De pe na calçada em frente a casa de infancia de Kyle, meus


olhos fixos no lugar onde ele crescera, eu queria seriamente cair no
chao e chorar.

A casa em si estava em boa forma, o quintal era mantido, mas


uma nuvem de angustia pairava sobre a propriedade, envolvendo
tudo o que tocava em tristeza. Eu senti isso no momento em que
pisamos na calçada e, a julgar pelo olhar no rosto de Kyle, ele
tambem o fez.

Isso me deixou tao chateada.

Querendo nada mais do que me virar e subir de volta no meu


veículo, eu lutei contra os sentimentos tumultuosos que se agitaram
dentro de mim, espalhando discordia entre o meu coraçao e a mente
confusa. Tantas emoçoes, nenhuma delas boa, agitaram meu peito,
fazendo crescer o mal-estar que habitava cada um dos meus
membros.

Ver a casa de Kyle era difícil, mas tentar descobrir o que fazer
ou como me comportar quando conhecesse sua mae pela primeira
vez era ainda mais difícil. Fui criada para respeitar os mais velhos,
independentemente da situaçao, mas, ao mesmo tempo, suas
palavras da noite anterior se repetiram em um loop na minha
cabeça.

Minha mãe me odeia, ele disse. Por causa do que eu permiti que
acontecesse com Lily.

Raiva, o tipo que faz suas orelhas queimarem e seus olhos


endurecerem, agitou minha barriga. Como alguem poderia odiar seu
filho, especialmente quando aquela criança era Kyle, estava alem de
mim. Ele pode ter um temperamento para rivalizar com o de um
urso pardo, prematuramente acordado, mas era lindo em todos os
sentidos.

E querido Senhor, ele perdeu o suficiente.

Apesar da perda dolorosa que seus pais haviam sofrido, nao


havia desculpa para a maneira como trataram Kyle, e me horrorizou
pensar que talvez nao conseguisse manter minhas opinioes para
mim mesma no momento em que meus olhos se encontrassem com
os de sua mae.

A morte de Lily foi tragica.

Mas suas açoes apos sua morte, que efetivamente mataram a


luz que permaneceu em Kyle, eram evitaveis..
Hoje nao era o dia para eu rasgar em alguem um novo buraco
no traseiro.

Nao importa o quanto eu quisesse.

— Voce esta pronta, princesa? — Kyle perguntou do meu lado,


seu olhar avaliador bloqueado no meu rosto.

Engolindo a mistura de dor e raiva me consumindo, eu deslizei


minha mao na dele e forcei um sorriso.

— Pronta quando voce estiver.

Ele soltou um suspiro, mas nao disse nada enquanto caminhava


em direçao a casa, me puxando junto com ele. Depois de subir os
degraus, cruzamos a varanda e paramos.

Kyle hesitou por um breve momento antes de levantar a mao e


bater na porta de vidro manchado.

Quando nao recebeu resposta, enfiou uma chave no ferrolho,


soltando a fechadura.

Entao, com um olhar de trepidaçao no rosto, ele empurrou a


viga de madeira.

Parado, enraizado no local, ele espiou dentro do foyer.

Dor seguida de arrependimento girou em seus olhos.

Meu peito doía em resposta.

Precisando consola-lo enquanto tambem lhe dava o empurrao


que ele precisava para entrar, eu dei a sua mao um leve aperto.
— Vamos la, Hulk. — eu sussurrei. — Vamos encontrar sua mae.

Ele assentiu.

Eu o segui quando ele cruzou o limiar ate o vestíbulo. Uma vez


que eu estava completamente dentro, ele fechou a porta atras de
mim.

— Mamae! — Ele gritou, sua voz saltando das paredes cobertas


de poeira. — Estou aqui.

Quando o som de passos se aproximando chegou aos meus


ouvidos, meu coraçao começou a bater, minhas maos
suavam. Sentindo meus pulmoes queimarem, concentrei-me em
minha respiraçao enquanto dizia a mim mesma para nao ficar tao
excitada.

Inspire e depois expire.

Eu pensei que tinha minhas emoçoes sob controle.

Eu pensei que eu tinha minha marca especial de louca trancada.

Eu pensei errado.

No momento em que a mae de Kyle apareceu, toda a raiva que


senti antes de entrar na casa se dissipou. Magra como trilho e
usando um vestido azul desbotado que era pelo menos tres
tamanhos muito grandes e oculos de aros dourados que pareciam
mais velhos do que eu, ela parecia desgastada.

Com apenas um olhar, ela partiu meu coraçao.

E a julgar pelo olhar em seu rosto, me vendo la com Kyle


quebrou o dela tambem.

— Mamae. — disse Kyle, olhando de sua mae para mim; depois


de volta para ela novamente. — Eu quero te apresentar a
alguem. Esta e minha namorada...

— Voce e o bebe de Ann. — ela interrompeu, seus olhos vazios


nunca se desviando dos meus. — Seu nome e Carissa. — ela
continuou, aproximando-se. — Carissa Johnson.

Ao meu lado, Kyle congelou.

Enquanto isso, meu estomago caiu aos meus pes com a mençao
do nome de mamae. Eu nao tinha ideia de como ela conhecia mamae,
nem tinha a menor ideia de como ela sabia meu nome, mas estava
prestes a descobrir.

— Voce conhecia minha mae?

Sua mae assentiu.

— Ela e eu... — Seus olhos castanhos, identicos aos do filho,


cheios de lagrimas. — Nos eramos amigas durante todo o ensino
medio. Acabamos nos separando a medida que envelhecemos, mas
nunca a esqueci. — Um pequeno sorriso inclinou seus labios para o
ceu. — Voce se parece com ela. — acrescentou. — Quase identica.

Isso fez sentido.

Embora nao explicasse como ela sabia meu nome.

— Eu li o obituario dela, aprendi seu nome disso. — ela


acrescentou, lendo meus pensamentos. — Eu nao pude comparecer
ao funeral dela... — ela desviou o olhar, olhando para o chao em vez
de mim — ...mas eu chorei como o diabo quando soube de sua morte.
— Eu abri minha boca para dizer algo, mas ela continuou falando. —
Ann era uma boa amiga, mas tenho certeza de que ela era uma mae
ainda melhor.

Um caroço formou na minha garganta.

— Ela era uma mae incrível, — eu respondi, minha voz falhando


na ultima palavra.

A mae de Kyle assentiu, os olhos ainda no chao sob os pes.

— Eu nao duvido disso. Talvez eu devesse ter... — Estalando a


boca, ela balançou a cabeça e acenou com a mao solitaria no ar,
descartando quaisquer palavras que ela quase falou. – Nao importa.
— Ela olhou para cima; primeiro para mim, depois para Kyle. — Nao
importa agora.

Caminhando para a frente, ela parou a um metro e meio a nossa


frente.

— Meu nome e Dorothy. — ela sussurrou, — mas voce pode me


chamar de Dottie.

— Prazer em conhece-la, Dottie. — eu respondi docemente,


minhas maneiras do sul em plena exibiçao quando eu olhei ao redor
da entrada de casas. — Voce tem uma bela casa.

Era a verdade.

Apesar do exercito de coelhinhos que cobriam as paredes, a


casa era linda.

Seu queixo vacilou enquanto lutava para evitar que suas


lagrimas se derramassem.

Torcendo as maos juntas, ela puxou o olhar de mim e olhou para


Kyle. Seu peito subiu e desceu, cada respiraçao ela tomou mais
rapido que a anterior.

— Bom dia, filho.

Tentando o meu melhor para nao chamar a atençao para mim,


observei enquanto ela olhava para Kyle, fazendo o meu melhor para
examinar sua linguagem corporal e sinais faciais. Percebendo que
havia muito mais para ela do que eu pensava, de repente eu queria
saber tudo.

Kyle pensou que ela o odiava.

Ele estava errado.

Essa verdade era obvia pela maneira como os dedos dela se


contorciam para toca-lo, e pelo jeito que seus olhos brilhavam ao
menor momento enquanto ela olhava para ele, seus traços muito
mais suaves do que eram momentos antes.

Embora sua expressao fosse de dor e pesar, o amor que ela


nutria por ele era astronomico.

Como ele nao viu, eu nao fazia ideia.

Provavelmente porque ele não acredita que ele é digno de seu


amor...

— Voce esta pronta para ir? — Kyle perguntou, seu tom agudo.

Os olhos de Dottie se fecharam.


A dor mascarou seus traços.

Minha alma se mexeu quando a voz de mamae falou na minha


cabeça, lembrando-me da liçao que ela me ensinou ha muito
tempo; aquela que me deu a unidade para me tornar uma assistente
social em primeiro lugar.

— Até mesmo a maioria das pessoas bonitas tem cicatrizes que


entorpecem sua luz, Carissa Ann. — sua voz disse, — mas com uma
pilha de paciência, uma fonte inesgotável de amor, e um monte de
graxa de cotovelo você pode fazer até o mais quebrado entre nós
brilhar novamente.

A sensaçao de seus dedos acariciando meu cabelo, o cheiro de


seu perfume, tudo veio correndo de volta, e por um momento, eu
poderia jurar que ela estava bem ali comigo, sua teimosia sangrando
em mim.

Lagrimas obscureceram minha visao.

Minutos antes, eu estava pronta para dar um no na mulher que


eu achava que ajudou sozinha a destruir o que restava do coraçao de
Kyle apos a morte de Lily. Embora ela possa ter feito exatamente
isso, nunca foi sua intençao.

Isso ficou claro.

Eu nao era medica e nao conseguia fazer um diagnostico, mas


acreditava com todo o meu coraçao que perder sua unica filha fora
demais para Dottie suportar. Consumida pela tristeza, ela tinha
saído mentalmente e recuou para uma concha da qual nunca mais
ressurgiu.
Nao era culpa dela.

Assim como nao era de Kyle.

A unica pessoa a quem culpar era Edgar Louis, que apodrecesse


no inferno.

Derrotada e quebrada, Dottie precisava de alguem para lutar


por ela, da mesma forma que seu filho. Eu ja decidi que seria eu
quem tiraria Kyle da escuridao que habitava todo o seu coraçao e
alma.

Como meu cara, ele era meu para salvar.

Mas logo em seguida, percebi que ela era minha para salvar
tambem.

Nao so era a mae de Kyle, mas tambem era amiga de mamae.

Isso me contou tudo o que eu precisava saber sobre Dorothy


Tucker.

Invocando toda a compaixao que eu tinha, combinada com tudo


o que meu tempo trabalhando no abrigo me ensinou, eu me retirei
do aperto de Kyle e dei um passo a frente.

Os olhos de Dottie se abriram; seu olhar encontrou o meu.

Adicionando uma dose de goma a minha espinha, fiquei de pe,


ajeitando meus ombros.

— Vamos la, Sra. Dottie. — eu sussurrei. — E hora de ir visitar


sua doce menina.

Uma lagrima caiu de seu olho direito.


— Voce vem com a gente?

— Voce quer que eu va?

Um olhar quase implorante se espalhou por seu rosto.

— Eu quero.

— Entao eu vou. — Levantando meu braço, eu ofereci a ela


minha mao. — Sempre que voce estiver pronta, linda senhora.

Dottie nao hesitou.

Colocando suavemente a mao na minha, ela olhou para Kyle.

— Voce pode pegar o bolo, filho? Esta no balcao da cozinha.

O silencio seguiu.

Sem responder, Kyle se virou para ir embora.

Eu agarrei as costas da camisa dele com a minha mao livre,


parando ele.

Ele olhou para mim por cima do ombro, uma expressao


sombria, uma que me fez perder o folego, em seu rosto.

— Nos vamos encontra-lo no carro.

Ele assentiu, mas ainda nao disse nada.

Minha barriga se agitou.

Algo estava errado, mas eu nao tinha ideia do que era.

Eu ultrapassei?
Ele está com raiva de mim?

A mandíbula de Kyle assinalou.

— Deixe Carissa leva-la para o carro, mamae.

O silencio caiu sobre a sala enquanto ele se movia na outra


direçao, colocando espaço entre nos.

Espaço que eu nao gostei.

Espaço que eu nao queria.

Espaço que me fez sentir em panico.

Engolindo a dor que subiu em minha garganta graças ao seu


comportamento frio, forcei um sorriso, depois voltei minha atençao
para Dottie.

— Pronta?

Quando ela assentiu, apertei sua mao fragil.

Juntas, nos dirigimos para fora.

Eu vi, e senti, muita magoa em minha vida.

Eu tinha visto todos os 1,80m do meu pai inconsolavel cair de


joelhos no dia em que deitamos mamae no chao, e eu observei minha
linda e pequena irma desmoronar sob o peso do diagnostico
terminal de nossa mae. Eu observei inumeras mulheres e crianças
passarem pelo abrigo, seus corpos machucados, suas almas
quebradas e sua vontade de continuar inexistente.

Mas nada, e quero dizer nada, comparado com o desgosto que


testemunhei em primeira mao quando Dottie Tucker se ajoelhou
sobre o tumulo de sua filha falecida, um bolo de chocolate caseiro
em suas maos e deixando cada gota de sua dor livre.

Soluço sob soluço depois.

Grito depois de grito.

A agonia no rosto de Kyle quando ele se ajoelhou ao lado dela,


um braço em volta de seu meio, o outro apoiado contra a lapide de
Lily foi o suficiente para rasgar meu peito.

Esperando que eu estivesse fazendo a coisa certa, ajoelhei-me


ao lado de Dottie do outro lado. Pegando o bolo de chocolate de suas
maos, sentei-o no chao na frente dela. Sua mao tremula agarrou a
minha enquanto ela chorava, seus gritos cheios de agonia ecoando
pelo cemiterio vazio.

Virando a cabeça para o lado, Kyle olhou para mim, seus olhos
cheios de escuridao.

A raiva que o consumia era palpavel; a frieza de antes


irradiando dele em ondas.

Enquanto o coraçao de sua mae estava partindo da perda de


Lily, Kyle permitiu que isso alimentasse sua raiva. Nao havia uma
unica duvida em minha mente de que, se Edgar Louis ainda estivesse
vivo, Kyle o mataria.

Lentamente.
Certamente.

E sem um unico fragmento de remorso.

Nao me lembro de quanto tempo ficamos no cemiterio, mas


quando saímos, Dottie chorou tanto que suas lagrimas
desapareceram e seus olhos secaram. Mentalmente exausta e
fisicamente drenada, nao conseguira ficar em pe, muito menos
andar.

Entao Kyle a carregou.

Como se fosse uma criança ferida, ele a ergueu em seus braços,


segurou-a perto de seu peito e levou-a para o meu carro. Depois de
abrir a porta, ele esperou que eu subisse no banco de tras antes de
deposita-la ao meu lado. Entao, com a cabeça no colo e a mao
esfregando as costas, Kyle nos levou de volta ao lugar que ele
chamara de lar.

Uma vez na casa, ele estacionou meu carro ao longo do meio-fio


e levou sua mae aparentemente sem vida para dentro da casa e subiu
as escadas. Uma gama de emoçoes brilhou em seu rosto quando ele
a depositou no centro da cama queen-size no quarto principal e
cobriu seu corpo fino como lapis com uma colcha costurada a mao.

— O que agora? — Eu perguntei, empurrando uma mecha de


cabelo do rosto dela. — Nos apenas saímos?

Sentado na beira da cama, Kyle descansou a mao ao longo da


bochecha de Dottie, esfregando o polegar em sua mandíbula. O
movimento era doce e cheio de amor.

— Sim. Eu vou dar uma olhada nela amanha, mas por enquanto
ela precisa descansar. — Ele fez uma pausa antes de falar
novamente. — Antes de irmos, preciso verificar se ela ainda tem
comida na geladeira.

— Eu vou olhar. — eu respondi, querendo dar-lhe alguns


minutos de tempo sozinho com sua mae.

Cansada como poderia ser, eu me inclinei sobre a forma imovel


de Dottie e pressionei um beijo suave em sua bochecha.

— Durma bem, Sra. Dottie. — eu sussurrei. — Eu vou te ver


novamente em breve. Prometo.

Quando me endireitei, os olhos escuros de Kyle estavam


trancados em mim e, pela primeira vez desde que o conheci, queria
que ele desviasse o olhar. Ele estava com raiva, isso era obvio, mas
eu nao sabia por que.

— Eu vou esperar por voce la embaixo. — Minha voz tremeu


com cada palavra.

Sentindo-me vulneravel e fora de ordem, eu contornei a


extremidade da cama e saí do quarto.

La embaixo a cozinha estava escura e silenciosa.

Eu estava la, com minha mao cobrindo minha boca para abafar
os sons dos meus soluços, que eu coloquei sobre as lagrimas que eu
estava segurando.
CAPÍTULO 28
Kyle
Eu fodi tudo...

A percepçao ecoou na minha cabeça, fazendo com que o


desgosto montanhoso e o odio que eu ja possuía aumentassem dez
vezes, enquanto eu ficava no corredor escuro ao lado da cozinha de
mamae, vendo Carissa chorar.

Com uma mao cobrindo a boca, e a outra segurando a borda da


pia, ela permitiu que lagrimas apos lagrimas escorressem pelo seu
belo rosto, mostrando cada gota da dor que sentia.

Dor que ela sentia por minha causa, o homem que jurou sempre
protege-la.

Fisicamente, emocionalmente, mentalmente.

Eu me fiz malditamente doente.

Se eu pretendia ou nao, eu passara as ultimas horas mantendo-


a a distancia enquanto eu permitia o odio, e a raiva que escorria em
minhas veias para me segurar, consumindo-me pouco a pouco.

Sabendo que eu tinha sido frio em direçao a ela foi o suficiente


para rasgar um buraco no meio do meu peito.

Carissa era minha garota, minha alma gemea e a mulher que eu


amava.
No entanto, eu a machuquei; algo que prometi que nunca faria.

Eu me odiei por isso.

Mas o que me fez me odiar ainda mais foi a forma como


continuei a ficar nas sombras, observando enquanto ela lutava para
se recompor. Apesar do desgosto que agitou meu intestino, eu
deveria ter ido ate ela, deveria te-la consolado, deveria ter me
desculpado.

Eu nao fiz nada disso.

Em vez disso, esperei ate que ela enxugasse as lagrimas e


espirrasse o rosto com agua fria da torneira da cozinha antes de
entrar na cozinha.

Ao som dos meus passos, ela se virou.

Quando nossos olhos se encontraram, eu nao queria nada mais


do que pegar meu telefone e ligar para Hendrix. Ele teria sido mais
do que feliz em vir bater minha bunda por faze-la chorar.

Ty tambem.

O unico problema era que eu nao tinha substituído meu


telefone depois de quebra-lo na estaçao.

Nao importa.

Eu poderia me bater melhor do que Hendrix ou Ty jamais


poderiam.

Eu fazia isso ha anos.

Eu era praticamente um especialista nisso.


Carissa soltou um suspiro e exibiu um sorriso mais fingido do
que a maioria dos peitos de estrelas porno em seu rosto.

— Voce esta pronto para ir? — Ela perguntou, sua voz pequena
e hesitante.

Graças a jiboia enrolada no pescoço, nao respondi


imediatamente.

No meu silencio, ela atravessou a cozinha e abriu a geladeira.

Eu observei enquanto os olhos dela examinavam cada uma das


prateleiras antes de fechar a porta.

— Ela tem muita comida. Embora seu leite esteja prestes a


expirar. Eu... — perturbada, ela parou. — eu posso pegar um galao
para ela amanha.

Encontrando minha voz, falei.

— Eu vou busca-lo. Voce nao precisa se preocupar com isso.

Foi a coisa errada para eu dizer.

Um olhar para o rosto dela e eu sabia, eu sabia que eu estraguei


tudo de novo.

Conserte, estúpido, a voz na minha cabeça ordenou. Agora.

Sem dizer uma palavra, atravessei a cozinha, fechando o espaço


entre nos. Quando cheguei perto dela, envolvi meus dedos nos dela
e levantei seu braço, colocando um beijo no interior de seu pulso.

Ela respirou fundo.


Labios ainda se demorando em sua pele sensível, olhei para
baixo em seus olhos.

— Sinto muito, princesa. — eu sussurrei, querendo dizer cada


palavra. — Eu estou tao arrependido.

Seu queixo tremeu.

— Eu nao entendo. — Ela mordeu o labio inferior antes de


continuar. — Voce esta bravo comigo?

— Nao. — Minha resposta foi imediata.

— Entao por que...

As palavras, tao fodidas como eram, rolaram minha língua antes


que eu tivesse a chance de para-las.

— Porque minha mae olhou para voce do jeito que eu gostaria


que ela olhasse para mim.

Carissa nao disse nada.

Eu nao a culpei.

Eu soava como uma criança ciumenta e faminta de atençao; que


de certa forma, isso e precisamente o que eu era.

— Eu nao estou chateado com voce, Princesa, nem estou bravo


com ela, mas ainda estou louco como o inferno. Irritado com Deus
pelo erro que cometi, chateado com meu pai por ter nos deixado e
enfurecido com Edgar Louis por roubar minha linda irmazinha.

Nao havia muito com que eu nao estivesse zangado.


— Eu nunca deveria ter descontado em voce. Eu percebo isso. E
eu sinto tanto por ter lhe dado o ombro frio e nao ter te abraçado do
jeito que deveria, mas preciso que voce entenda, no momento em
que vi os olhos de mamae se iluminarem para voce, cada gota de
amargura, raiva e o ressentimento que vive dentro de mim
penetraram na minha garganta, sufocando o inferno fora de mim.

Carissa ainda nao falou, entao continuei.

— Nada disso e uma desculpa para o meu comportamento, e


nao vou fingir que e. Eu posso ser temperamental e teimoso pra
caralho, mas quando estou errado, eu digo que estou errado. E baby,
o jeito que eu te tratei antes estava errado. Ponto final.

Mais silencio.

Desarrumado como estava, eu estava pronto para socar minha


mao na parede mais proxima.

Com certeza nao teria ajudado a situaçao, mas teria me feito


sentir melhor.

Pelo menos temporariamente.

— Carissa, menina bonita, por favor...

— Deus nao comete erros.

De olhos arregalados e chocado como o inferno, eu me virei ao


som da voz da minha mae.

De pe na porta e usando as mesmas roupas que ela usava no


cemiterio, seus olhos brilhavam com lagrimas.
— Mamae, o que voce esta fazendo aqui?

Torcendo as maos dela, ela entrou na cozinha.

— Deus nao comete erros. — ela repetiu. — Nunca.

Embora eu nao estivesse prestes a começar uma discussao, eu


discordei dela.

Extremamente disso.

— Eu sei o que voce esta pensando. — Sua voz soou mais forte
do que em anos. — E eu quero que voce deixe, Kyle. — Ela deu um
unico passo para frente. — O suficiente e o suficiente. — Seus olhos
voaram para Carissa antes de voltar para mim. — Voce sofreu mais
do que o seu quinhao, menino doce, e tem que parar.

A mao de Carissa pousou na minha parte inferior das costas; o


toque dela me ancorou.

Alcançando atras de mim, eu enlacei meus dedos com os dela.

Ela apertou minha mao em resposta, deixando-me saber que


ela estava bem ali comigo.

— Mamae, com nenhum desrespeito, mas eu nao sei do que


diabos voce esta falando.

Isso foi colocando de animo leve.

Ela veio mais perto ate menos que um pe a separou de mim.

— Da ultima vez que voce esteve aqui... — ela sussurrou, —


voce me acusou de desejar que fosse voce que morresse em vez de
Lily.
Incapaz de suportar olhar para ela, fechei os olhos com força.

— Voce estava errado, filho. — ela continuou.

Meus olhos se abriram.

Atras de mim, Carissa ofegou.

— Nem uma vez eu pensei nisso.

— Mamae...

— Nem mesmo quando a dor estava no seu pior, eu pensei isso.


– Levantando suas maos frageis, ela segurou meu rosto. — Eu sei
que nao tenho sido uma mae muito boa. — A primeira de suas
lagrimas caiu. — Bem, eu acho que nao tenho sido mae de verdade.

Minha garganta parecia estar inchando.

— Voce e meu garotinho, Kyle. Voce sempre foi e sempre sera.

— Entao por que? — Eu perguntei, repetindo a pergunta de


Carissa mais cedo. — Por que voce parou de me amar?

Cerrando seus labios em tiras planas, ela baixou a cabeça para


tras e olhou para o teto. Entao, depois de deixar cair as maos das
minhas bochechas, ela envolveu seus braços esguios em volta do
meio e olhou para cima, encontrando meu olhar.

— Eu nunca parei de te amar.

O inferno ela nao fez.

— Nem uma vez. — eu disse, sentindo o calor da minha pele. —


Nem uma vez em dezessete anos voce me disse que me amava, muito
menos agia assim. — Transitando suavemente para o modo idiota,
levantei meu queixo no ar. — Diga-me o porque.

— Kyle. — Carissa começou, saindo de tras de mim. — Querido,


talvez devessemos...

Minha garota fechou a boca quando mamae se curvou na


cintura e soltou um grito primal. Seus agonizantes foles ecoaram
pelas paredes, saltando ao redor do primeiro andar.

Carissa entrou em açao.

Passando por mim, ela colocou os braços em torno de mamae,


pegando seu peso contra ela.

— Tudo bem, Sra. Dottie. — disse ela, segurando firme. – Esta


tudo bem.

Sacudindo a cabeça violentamente para frente e para tras,


mamae continuou a gritar.

Os gritos estridentes da alma foram direto para o meu coraçao,


perfurando-o.

Ofegante, mamae bateu com as maos cerradas na frente das


coxas.

— Voce nao entende! — Ela gritou, mostrando mais vida do que


eu tinha visto na ultima decada. — Voce nao...

Eu agarrei.

— Entao explique, mamae! — gritei, observando os olhos de


Carissa se arregalarem. — Por favor, pelo amor de Deus, explique
para mim!

Mamae ficou em pe. Seus olhos se encheram de fogo, me dando


um vislumbre da mulher que uma vez foi; a mulher que eu senti falta
como louco.

Erguendo as maos ainda em punhos no ar, ela se soltou do


aperto de Carissa e bateu contra o meu peito.

— Voce... — bateu — ...nao... — bateu — ...entende!

Eu envolvi minhas maos em torno de seus pulsos, impedindo-a


de me bater de novo. Eu nao poderia me importar menos com ela
me espancando, mas eu nao queria que ela se machucasse.

— Explique... — minhas narinas chamejaram enquanto eu


exalava — ...isso!

Sua luta desapareceu tao rapidamente quanto havia chegado.

Caindo em mim, ela arrancou seus pulsos do meu aperto,


enrolou os dedos na minha camiseta e apertou o rosto contra o meu
peito. Entao ela começou a soluçar. Forte.

— A ultima ve... vez... — gaguejou entre suspiros para respirar,


— Que eu disse a um dos meus bebes que eu amava ele, ele nao
voltou.

Toda a raiva e ressentimento que senti recuaram.

Em seu lugar escorregou.

Um monte de magoa.

Atras de mamae, Carissa começou a chorar, os ombros


tremendo por causa das convulsoes que agitavam seu corpo. Eu
queria ir ate ela, queria abraça-la com força, mas nao podia, e isso
quase me matou.

Por favor entenda…

Mamae se enterrou ainda mais em mim.

Envolvendo meus braços ao redor de seu corpo magro, eu a


abracei apertado.

Foi a primeira vez em quase duas decadas que a abracei de


maneira amorosa.

Eu inalei, enfiando meu queixo contra o topo da cabeça dela.

— Esta tudo bem, mamae. — assegurei a ela. — Apenas respire


por mim, sim?

— Nao esta tudo bem. — ela respondeu, continuando a


gaguejar. — Nada disso esta be... bem.

— Sim, esta. — argumentei.

— Kyle, po... por favor... — seu corpo estremeceu quando seus


soluços se fortaleceram — um dia, perdoe-me.

Fechando meus olhos, eu pressionei um beijo no topo de sua


cabeça.

— Eu ja fiz.

Era a verdade.
CAPÍTULO 29
Carissa
Acordei com a sensaçao de alguem me observando.

Coraçao batendo descontroladamente, eu abri meus olhos e me


levantei na cama enquanto o panico me assaltava. Correndo em puro
instinto, eu levantei minhas maos para afastar um ataque iminente.

Com os olhos turvos, eu ofeguei a respiraçao quando pulei para


o lado oposto do colchao, longe de quem quer que seja, ou o que quer
que seja, que eu senti me olhando. Tendo saltado longe demais, meu
quadril escorregou da cama. Antes que eu pudesse me endireitar,
comecei a recuar, indo direto para o chao.

Um pequeno grito escapou dos meus labios quando uma mao


forte pegou a frente da camisa enorme que eu usava, me impedindo
de cair no chao duro. Cercada pela escuridao, eu agarrei a mao que
me segurava e gritei o mais alto que a minha garganta obstruída pelo
sono permitiria.

— Kyle!

— Jesus, baby. — ele respondeu rapidamente, — sou so eu.

Espere.

Ele está bem na minha frente?

Piscando para limpar o nevoeiro que revestiu minha visao e


poluiu meu cerebro, olhei para a mao que me segurava firme.

Eu reconheci isso imediatamente.

Tremendo pela adrenalina que meu coraçao batendo despejou


em minhas veias, eu envolvi minhas maos em torno do antebraço de
Kyle, segurando minha querida vida enquanto olhava para cima,
encontrando seu olhar.

— Desculpe. — eu murmurei, sentindo minhas bochechas


coradas de vergonha enquanto meu coraçao trabalhava para se
acalmar. — Eu pensei que voce fosse outra pessoa.

Seu humor despencou; sua raiva aumentou.

— Sim, voce precisa explicar isso, Carissa. Quem voce achou


que eu era? — Antes que eu pudesse tentar responder, ele
continuou. — Alguem te machucou, princesa? — Sua voz era
baixa. Letal. — Se sim, quero um nome. Agora.

Eu soltei uma respiraçao instavel.

— Ninguem me machucou. Eu so...

— Algo aconteceu ou entao voce nao reagiria do jeito que voce


fez. Conte-me.

— Oh, Jesus. — eu sussurrei, fechando os olhos, enquanto


muita vergonha e constrangimento atravessavam meu sistema. —
Nao e o que voce pensa.

— Diga-me. — Seu tom deixou pouco espaço para discussao.

— Quando eramos crianças, Heidi se alegrava em me assustar


todas as chances que tinha.

— Volte novamente?

Eu ri, meio mortificada com o que eu estava prestes a dizer.

— Gorilas. – respondi. — Eu era, e ainda sou, apavorada com


eles.

— Gorilas?

— Sim. — eu respondi, assentindo. — Papai tinha essa mascara


de gorila que ele guardava em seu armario. Ele comprou um ano
para o Halloween e, por alguma razao desconhecida, nunca se livrou
dela. De qualquer forma, Heidi sendo a doce irmazinha que ela e —
minha voz gotejava com sarcasmo — a colocava e depois pulava em
cima de mim no meio da noite enquanto eu dormia, me assustando
tanto que fiz xixi na cama. Mais de uma vez.

Deixando cair a cabeça para tras, Kyle olhou para o teto.

Entao ele riu. Forte.

— Nao e engraçado! — Eu gritei, liberando meu aperto e


batendo em seus ombros com as duas maos uma vez, depois duas
vezes. — Eu estava traumatizada!

Aparentemente, eu ainda estou, acrescentei mentalmente.

— Sim. — disse, olhando para cima. Sorrindo de orelha a


orelha, seus olhos brilhavam. — Eu posso ver isso.

Apoiando-me no colchao, cobri meu rosto com as duas maos.

— Isso e embaraçoso. — Isso foi colocando de animo leve. —


Kyle, serio, voce nao pode deixar Heidi saber disso. Se ela descobrir,
nunca vou ouvir o final disso.

Kyle puxou minhas maos do meu rosto.

— Nao esconda seu rosto de mim. — Suas palavras eram


exigentes, mas seu tom era suave. — Eu nao gosto de nao ser capaz
de ver seus lindos olhos.

O calor se espalhou por mim nas palavras dele. —Eu nao vou,
desde que voce prometa nao derramar os feijoes para minha irma
fedorenta..

Ainda sorrindo... Senhor, eu amo esse olhar nele, meu cara


ergueu o queixo no ar.

— Eu nao vou, menina bonita. Prometo. Agora vamos la, eu fiz


o cafe da manha.

Por mais que soe, juro que meu coraçao acelerou.

— Voce me fez cafe da manha?

Ele assentiu.

— Panquecas. Eu sei que elas sao suas favoritas.

Na palavra panquecas, eu passei pela cama. Uma vez de pe e de


frente para a porta, olhei de volta para ele por cima do meu ombro.

— Eu sei que eu deveria ser toda menininha com comida, mas


quando se trata de panquecas, todas as apostas estao fora,
Hulk. Espero que voce tenha feito mais. Se nao, nao posso deixar
nada para voce.
— Vou me ferrar...

Risos borbulhavam do meu peito quando eu me virei e corri


para fora do quarto, nao dando tempo para ele terminar a
frase. Cheguei no final do corredor e na cozinha, onde eu parei de
repente.

Todo o ar desapareceu dos meus pulmoes.

— Oh meu Deus. — eu sussurrei, assobiando, olhando para a


sala de jantar de duas cadeiras ao longo da parede.

Atras de mim, os passos de Kyle anunciavam sua chegada,


seguidos pela sensaçao de seus braços envolvendo minha
barriga. Mergulhando a cabeça, ele acariciou seu rosto coberto de
barba ao longo da coluna da minha garganta antes de pressionar um
beijo para o lugar onde meu ombro encontrava meu pescoço.

— Eu espero que voce goste. — Seus braços se apertaram em


volta de mim. — Eu nao tinha certeza de qual flor era a sua favorita,
o que e besteira, porque eu deveria saber, entao eu comprei a minha
favorita.

Emoçoes me inundaram enquanto eu olhava para a cena diante


de mim, meu coraçao na minha garganta.

— Voce fez isso?

Apontei para a pequena mesa adornada com duas velas acesas,


uma pilha de panquecas fofas, um par de talheres completos e o vaso
mais bonito em forma de furacao que eu ja vi; um vaso cheio ate a
borda com lírios de tigre.

Lírios sendo seu favorito nao era surpresa.


— Quando... — Um no se formou na minha garganta, cortando
minhas palavras. — Quero dizer...

— Eu escapei enquanto voce estava dormindo e peguei tudo


enquanto Ty esperava do lado de fora na passarela.

— Voce o fez esperar do lado de fora? – Eu ri.

Era uma pergunta boba, considerando que eu ja sabia a


resposta.

Essa resposta? Claro que ele fez.

— Claro que sim. — ele respondeu. — Ninguem chega perto de


voce quando nao estou por perto; muito menos quando voce esta
dormindo em nada mais que minha camiseta.

Eu me virei e deslizei meus braços ao redor de seu pescoço.

— Voce e muito possessivo. — eu disse, repetindo minhas


palavras de dias antes.

Kyle arqueou uma sobrancelha.

— E como eu lhe disse antes, voce e fodidamente minha.

— Hmm… Bem, desde que eu sou sua, isso significa que voce
vai me alimentar agora? Porque eu estou morrendo de fome.

— Sim, baby, eu vou. — ele respondeu, descansando as maos


nos meus quadris. — Mas voce vai me alimentar primeiro.

Eu engasguei quando ele me levantou e virou, colocando meu


traseiro nu na bancada fria.
— O que voce e...

Minha boca se abriu em choque, ou talvez fosse antecipaçao,


quando ele colocou as maos em volta das costas dos meus joelhos e
me puxou para a borda, fazendo com que a camisa que eu usava
subisse, revelando minha metade inferior sem calcinha.

Aproximando-se, ele deslizou as maos calosas pelo topo das


minhas coxas.

Eu deixei cair minha cabeça para tras e permiti que meus olhos
se fechassem.

A sensaçao, tao boa quanto parecia, era esmagadora.

— Kyle. — eu gemi, minha voz ofegante e atada com luxuria. —


O que voce esta fazendo?

Espalhando minhas pernas com suas maos fortes, ele beijou


meu queixo antes de morder o lobulo da minha orelha. Seus labios
entao viajaram para o sul, pelo meu pescoço e por cima do meu peito
coberto de camisa.

— Eu estou fazendo o que eu deveria ter feito na noite passada.


— ele sussurrou, caindo de joelhos diante de mim. — Eu estou
adorando voce, baby.

Eu nao tive tempo de falar antes de sua língua bater no meu


clitoris.

Costas arqueadas, eu arqueei meu pescoço e gritei para os ceus


acima, apenas meio consciente de que Ty ou Chase podem me ouvir
atraves das paredes finas.
— Boa menina. — Kyle rosnou, puxando sua boca aberta de
mim o tempo suficiente para falar. — Boa menina do caralho.
Continue gritando.

A autoconsciencia floresceu na minha barriga.

— Eles vao... — eu ofeguei quando ele deslizou um dedo longo


dentro de mim — ...ouvir.

Eu lamentei em protesto quando sua língua se afastou.

— Bom. Grite meu nome, Carissa. Meu. Deixe-os saber a quem


voce pertence.

Em menos de um segundo, sua boca estava em mim novamente.

Incapaz de fazer qualquer outra coisa, eu fiz como ele exigiu.

Eu gritei o nome dele.

Alto.

Uma hora depois...

Segurando um garfo cheio de panquecas em uma mao e um


copo de suco de laranja espremido na outra, sentei-me a mesa em
frente ao Kyle. Tendo ja terminado sua comida, ele se recostou na
cadeira, seus braços musculosos cruzados sobre o peito volumoso.

Olhos cheios de nuvens de tempestade, eu sabia que algo estava


em sua mente.
Isso era obvio.

Apenas o que essa coisa era, eu nao tinha certeza.

— Voce quer falar sobre isso? — Eu perguntei, meus olhos


nunca se desviando dele quando eu sentei meu garfo de volta no
prato e meu copo de volta na mesa.

Para minha surpresa, meu Hulk assentiu.

— Sim, querida, eu quero.

Bem, eu serei amaldiçoada...

Inclinando-se para frente, ele colocou os braços sobre a mesa e


passou a língua pelo labio inferior.

— Eu sei que ja disse isso uma vez, mas Carissa, eu preciso que
voce entenda como eu sinto muito sobre ontem.

Ontem nao era algo que eu queria pensar.

Nunca mais.

— Kyle, es...

— Nao diga que esta tudo bem, princesa. — ele interrompeu, —


porque com certeza nao esta.

— Muita coisa estava acontecendo. Nada disso foi facil para


voce.

Repulsa cruzou o rosto dele.

— Isso nao e desculpa.


— Eu acho que e. — eu repliquei. — Quando as pessoas estao
chateadas, magoadas ou com medo, elas atacam, fazendo coisas que
normalmente nao fariam. E uma falha horrível, mas e uma que todos
nos temos.

Kyle sacudiu a cabeça, frustraçao piscando em seus olhos.

— Eu nao me importo com quem tem falha. A unica coisa que


me interessa e saber que nunca vou agir assim com voce de
novo. Eu garanto isso.

Colocando uma de suas maos em punhos na mesa, ele bateu na


madeira tres vezes.

Toque, toque, toque.

— Ver mamae assim com voce, e so... — Apertando a mandíbula


com força, ele virou a cabeça para o lado, estalando o pescoço.

Eu me encolhi.

— Eu tenho tentado reanima-la por dezessete anos, Carissa, e


voce a trouxe de volta a vida em menos de cinco minutos.

Querendo faze-lo sorrir, ou pelo menos cortar o peso que nos


cercava, eu sussurrei.

— E porque eu sou uma garota.

Ele assentiu em concordancia, mas ele nao sorriu.

— Sim, essa e uma grande parte. Voce viu o rosto dela quando
te apresentei como minha namorada? Ela me cortou naquele
momento, e daquele momento em diante, voce foi quem ela tambem
se agarrou.

— E isso que te deixou com raiva?

Ele inclinou a mao para o lado.

— Bravo? Nao. Quero dizer, eu estava chateado, ainda estou se


estou sendo honesto, mas nao fiquei chateado com voce ou ela.

— Diga-me por que entao.

— Por que eu fiquei chateado?

Eu assenti sem palavras.

— Porque. — ele continuou, com o tom cortado. — nenhum de


nos deveria ter estado nessa situaçao para começar. Eu nao deveria
estar preocupado em te apresentar a ela, nem deveria estar
preocupado com a reaçao dela a voce.

Havia mais na sua explicaçao, mais que ele nao estava


divulgando, mas eu nao tinha certeza do quao longe eu deveria
empurrar. Ja no limite, eu nao queria que ele explodisse. Mas Kyle
era um homem adulto. Ele poderia lidar com isso.

— Eu sei que nao e tudo.

— Voce esta certa. — ele sussurrou tao baixo que eu mal o


ouvi. — Eu estava chateado com a situaçao, mas eu estava muito
chateado comigo mesmo.

— Por que?

Se ele se culpasse pela morte da Lily novamente, eu poderia


esfaquea-lo nas bolas com meu garfo coberto de xarope.
Bem, na verdade nao.

Ameaçando-o na minha cabeça com certeza me fez sentir


melhor embora.

— Porque eu deveria ter trazido voce ao redor dela antes de


ontem. Se eu tivesse, voce poderia ter quebrado a concha de mamae
mais cedo, e talvez, apenas porra, talvez, eu teria sentido seus braços
amorosos ao meu redor e ela teria sentido o meu ao redor dela muito
mais cedo.

Lagrimas estupidas brotaram nos meus olhos. Novamente.

— Kyle...

— Dezessete anos, Carissa. — ele interrompeu. — Antes de


ontem, isso e quanto tempo se passou desde que minha mae me
tocou de maneira amorosa. Eu sei que muita coisa ainda esta
instavel entre nos, e ha muito mais conversas a serem feitas, mas na
noite passada eu finalmente vi a verdade.

— Sim? — Eu sorri. — E que verdade e essa?

— Que eu sou mais filho da minha mae do que eu pensava. —


Eu nao tinha certeza do que isso significava, e eu estava prestes a
pedir-lhe esclarecimentos quando ele continuou. — Ela se culpa
por tudo, ate por merda que nao foi culpa dela. — Soltando um
suspiro, ele correu as palmas das maos pelos lados do rosto. — O
que ela fez comigo, o que ela permitiu que meu pai fizesse... — sua
mandíbula tiquetaqueou — ...nao estava certo, mas pelo menos ela
ficou, ao contrário do papai. Eu nao estou tentando dar desculpas
para ela, mas eu nao sei como diabos eu teria reagido se eu estivesse
no lugar dela. Lily era minha irma, e eu a amava com tudo que eu
tinha... ainda faço, ...mas ela era a garotinha de mamae. Grande
diferença.

— Nao faça isso. — eu sussurrei.

Suas sobrancelhas se levantaram.

— Fazer o que?

— Marginalizar sua dor.

— Eu nao estava...

— Voce esta. — argumentei. — Sim, a Lily era filha da sua mae,


mas ela tambem era sua irma e sei que a amava tao ferozmente; o
mesmo que eu faço Heidi.

Kyle sorriu.

— Falando da minha pequena encrenqueira favorita. Por que


voce nao a convida para jantar ou algo assim? Eu sinto falta daquela
criança.

Era a minha vez de sorrir.

— Voce sente falta da minha irmazinha?

— Sim, querida, eu sinto.

Eu me inclinei para a frente, apoiando meus cotovelos na mesa.

— Tudo bem, vou convidar Heidi para o jantar, papai tambem


quando ele voltar para a cidade, mas voce tem que convidar sua mae.

O rosto de Kyle caiu um pouquinho, me dando um vislumbre do


garotinho quebrado que ele tinha sido uma vez.
— Ela nao vira. — disse ele, fazendo com que meu coraçao se
quebrasse pela bilionesima vez.

Hora de entrar e consertar isso...

Querendo estar perto dele, eu me levantei e caminhei para o


lado dele da mesa. Virando, sentei-me de lado no colo dele e me
inclinei contra o peito quente dele.

— Voce pensou que ela odiava voce. — eu sussurrei, tomando


uma das maos dele na minha. — Voce estava errado, querido. Sua
mae te ama com cada parte de seu coraçao cheio de cicatrizes. — Um
sorriso inclinou meus labios para cima. — Nao que eu a culpe, — eu
provoquei. — E impossível nao te amar por tras da sua tristeza.

Pela segunda vez naquela manha, seus olhos brilharam


enquanto a felicidade penetrava em suas pupilas.

— Isso e certo?

Eu balancei a cabeça.

— E. — Ele abriu a boca, mas eu me virei em seu colo,


abrangendo suas coxas. Pressionando minha mao contra sua boca,
parei o fluxo de palavras que ele estava falando. — Antes de tentar
discutir comigo sobre isso, saiba que sou uma especialista.

Agarrando meus dedos, ele puxou minha mao do rosto dele.

— Uma especialista, hein?

Eu balancei a cabeça.

— E como e isso?
Olhos trancados nos dele, eu respirei fundo.

— Simples. Comecei a me apaixonar por voce no momento em


que nos conhecemos. — Por mais impossível que pareça, cada
palavra que eu falei era a verdade. Embora tivesse demorado meu
cerebro para pegar, minha alma tinha reconhecido Kyle como sua
companheira instantaneamente. — E eu nunca parei.

— Carissa...

— Voce nao ve, Hulk? — Eu perguntei, interrompendo-o. —


Estou irrevogavelmente e loucamente apaixonada por voce.

Seus olhos se fecharam.

— Diga isso de novo, Carissa. — ele sussurrou. – bebe diga...

— Olhe para mim.

Na sugestao, suas palpebras se abriram; nossos olhares se


trancaram mais uma vez.

— Eu te amo, Kyle Tucker. — Ele respirou fundo. — Eu te amo


agora, e eu vou te amar sempre. — Pairando meus labios sobre os
dele, eu sorri. — E essa e a minha promessa.
CAPÍTULO 30
Kyle
Eram cinco e quinze quando estacionei o carro da minha garota
atras do Station 24, bem ao lado da novíssima Tundra de Ty. Dez
minutos antes, eu a deixei no abrigo, deixando-a com Shelby, que eu
disse para ficar de olho nela.

Embora eu soubesse que Shelby manteria minha garota segura,


eu ainda nao gostava que ela estivesse fora da minha vista. Eu
sempre a mantinha perto, observando-a de longe, mas quando isso
era impossível, como agora, isso me deixava nervoso e instavel.

A situaçao com Carson apenas intensificou esses sentimentos.

Falando em Carson, eu propositalmente evitei falar sobre ele na


frente de Carissa. Um, eu nao queria aborrece-la; dois, se ela
descobrisse exatamente como eu planejava lidar com o vandalo, ela
teria tentado me convencer a desistir disso.

Seus esforços teriam sido infrutíferos.

Eu nao dava a mínima que o novato tinha destruído o meu


caminhao, isso poderia ser consertado, mas o que eu me importava
era o fato dele ter feito isso logo depois de ver Carissa e eu juntos
pela primeira vez.

Embora eu nunca tenha ido para a faculdade e eu nao fosse um


policial como Anthony, eu ainda sabia mais sobre pessoas
mentalmente instaveis do que a maioria.
E Carson? Eu temia que ele tivesse atingido cinco paradas
instaveis.

A paixão, mais como fixação, que ele tinha na minha garota nao
era normal. Antes de aparecer na estaçao, ele nunca a conheceu,
nunca ouviu falar dela. O mais proximo que ele chegou dela foi uma
foto em preto e branco de ela e Maddie que estavam na mesa de Cap.

No entanto, ele agiu como se estivesse obcecado.

Todos, incluindo Cap, Hendrix e Ty, minimizaram seu


comportamento.

Eu nao estava comprando isso.

O pequeno idiota pode nao ter tido nenhuma ma intençao em


relaçao a Carissa, mas ele nao estava bem na cabeça. Eu nao achei
que ele a machucaria, se eu fizesse, ele estaria morto, mas eu
tambem nao confiava nele. Certo ou errado, ele precisava entender
o que aconteceria se ele pensasse em se aproximar a cem pes dela.

Rosto contorcido de raiva, eu atravessei a porta lateral da


estaçao e fui direto para a sala de recreaçao, o unico lugar que eu
achava que Carson estaria.

Cap pulou de sua mesa enquanto eu passava por seu escritorio.

— Kyle! — ele gritou, perseguindo. — Pare!

De jeito nenhum.

Ignorando seu comando, continuei indo, um inferno de


empenhado em alcançar o novato antes que alguem pudesse me
interceptar.
A cada passo que eu dava, imagens de Carissa brilhava diante
dos meus olhos, uma apos a outra, cada uma mais linda que a
anterior. Cada instinto protetor que possuía rugiu para a vida
fazendo minhas pernas se moverem mais rapido.

— Hendrix! — Cap gritou o nome de seu unico filho quando ele


virou a esquina, entrando em vista. — Pare ele antes que ele mate
alguem!

Matar alguem? Nao e provavel.

Acredite ou nao, assassinar Carson nao era minha intençao.

Ainda nao, de qualquer maneira.

A unica coisa que planejei fazer foi assusta-lo, garantindo que


ele nunca mais chegasse perto da minha garota nem da minha
propriedade. Se ele fosse estupido o suficiente para nao dar atençao
ao aviso que eu estava prestes a entregar, entao eu lidaria com essa
situaçao quando ela surgisse.

— Kyle, cara, nao faça isso. — Hendrix entrou na minha frente,


tentando bloquear meu caminho. Nao adiantou. Um trem de carga
nao poderia ter me parado. Soltando meu ombro, empurrei-o no
centro de seu peito, observando enquanto ele tropeçava para tras,
nao conseguindo se segurar.

Surpresa e furia brilhavam em seus olhos quando sua bunda


bateu no chao duro.

Nao parei para pensar nas repercussoes. Como eu, Hendrix era
cabeça quente e usava os punhos para falar quando a necessidade
exigia. Nao havia duvida em minha mente que ele teria algo a dizer
sobre o que eu tinha acabado de fazer...

Sob a forma de um soco ou dois.

No final do corredor, virei a direita e entrei na sala de recreaçao.

Meus olhos encontraram Carson instantaneamente.

Sentado no meio do sofa ao longo da parede mais distante, ele


olhou para o iPad que segurava na mao, inconsciente da tempestade
de merda em que estava prestes a ser pego.

Sabendo que eu nao tinha tempo a perder antes que Pop ou


Hendrix me pegassem, eu o cobri.

Um passo, dois passos, três...

Carson olhou para cima quando cheguei a ele.

Seus olhos se arregalaram e seu rosto ficou vazio.

Ele tentou pular e fugir, mas ja era tarde demais.

Em um piscar de olhos, eu estava em cima dele.

Um grito furioso saiu dos recessos mais profundos do meu


peito quando tirei o iPad da mao dele, observando com prazer
quando ele se estilhaçou no chao. Curvando-me pela cintura,
agarrei-o pela frente de sua camisa e empurrei seu corpo magro em
minha direçao, levantando-o do sofa em um so movimento.

— Bom dia, sol. — eu disse, sentindo o sorriso maníaco no meu


rosto crescer. — Parece que voce e eu temos uma coisa ou duas para
falar.
Medo nadou em seus olhos, mas o babaca nao disse nada.

— O que ha de errado, novato? — Eu perguntei, movendo meu


rosto para mais perto dele. — O gato comeu sua língua?

— Kyle! — A voz profunda de Hendrix cresceu atras de mim,


mas eu nao lhe dei atençao. — Cara, voce sera suspenso se for mais
longe.

Eu nao dava a mínima.

Ignorando-o, mantive meus olhos focados em Carson.

— Parece que voce decidiu jogar uma birra e jogar lixo na minha
caminhonete. — A veia na minha testa se inchou. — Tudo porque
voce quer algo que me pertence. — Eu abaixei minha voz para
sussurrar. — Algo que voce nunca vai ter.

Os olhos de Carson se encheram de fogo, mas o boceta nao disse


uma unica palavra

— Este e seu unico aviso. Voce fica longe da minha propriedade,


e com certeza e melhor que mantenha sua bunda louca longe da
minha mulher, aquela que em breve usara meu anel. Se voce nao
fizer isso... — eu ri — ...bem, deixarei essa parte a sua imaginaçao.

— Filho. — disse Cap, parando ao meu lado. — Deixe ele ir.

Meus olhos nunca deixaram Carson enquanto eu sacudia a


cabeça.

— Nah, Cap. Nao ate ele entender.

— Diga-me, imbecil... Voce entende? — Eu perguntei, apertando


sua camisa mais apertada.

— Ou eu preciso entregar a mensagem de uma forma que voce


compreenda melhor?

Eu esperava que Carson negasse que ele tivesse vandalizado


meu caminhao.

Entao eu esperava que ele se encolhesse como a boceta que ele


era.

Surpreendentemente, ele nao fez nenhum dos dois.

Em vez disso, ele estreitou os olhos, devolvendo o olhar que eu


lhe enviava com força total.

— Cuidado. — ele respondeu. — Voce nao gostaria de fazer algo


que iria perturbar a princesa agora, voce faria?

Princesa…

Algo escuro, algo primitivo, algo fodidamente letal mexeu no


meu peito ao ouví-lo chamar Carissa pelo apelido que eu tinha dado
a ela. Assim como eu esperava, algo nao estava certo com ele,
embora eu ainda nao soubesse o que era.

O desconforto beliscou na minha parte inferior enquanto eu


olhava em seus olhos, me colocando no limite.

— Cuidado com o seu passo, Carson. — eu sussurrei, entao so


ele podia ouvir.

Um sorriso ameaçador se espalhou por seu rosto.

— E se eu nao fizer? — Face corada de raiva e desafio, ele se


inclinou para mais perto de mim; nossos narizes quase se
tocaram. — O que voce vai fazer?

— Tudo bem, voces dois. — disse Cap, deslizando um braço


entre nos. — Hora de acabar com isso.

Sem enfase nas minhas ameaças ou nas palavras de Cap, Carson


continuou.

— Voce vai me matar, Tuck? — Seu sorriso cresceu. — Da


mesma maneira que voce matou sua irma?

Em um instante, minha mente ficou vazia.

Silencio mortal me cercou quando uma nevoa vermelha de


sangue penetrou nos campos da minha visao.

Meus braços pareciam sem peso quando eu soltei sua camisa e


dei um passo para tras.

Com as maos cerradas, cerrei os dentes de tras juntos.

Entao eu balancei.

Meu punho encontrou o nariz de Carson e o som de ossos


quebrados se seguiu.

No impacto, minhas juntas se abriram.

Eu levantei meu braço para dar outro soco, para machuca-lo


ainda mais, mas nunca tive a chance uma vez que Cap manobrou seu
grande corpo entre nos, me impedindo de alcançar o filho da puta
que estava prestes a morrer a menos de um metro e meio de
distancia.
— Seu pedaço de merda! — Eu gritei, lutando com tudo que eu
tinha para passar Cap. Se eu colocasse minhas maos em Carson,
provavelmente nunca veria Carissa novamente, porque acabaria
cumprindo uma sentença de prisao perpetua por assassinato.

A percepçao deveria ter me tirado da nevoa induzida pela raiva


que me rodeava, mas isso nao aconteceu. Tudo o que eu pude ver
atraves do revestimento de nevoeiro vermelho da minha visao foi o
rosto sorridente de Lily, seguido por seu caixao enquanto ela era
abaixada no chao.

— Mova-se, Cap!

Cap virou-se, provavelmente para me bater na minha bunda,


assim como Hendrix passou os braços em volta de mim por tras.

— Acalme o inferno. — Hendrix rosnou ao lado do meu


ouvido. — Se voce nao fizer isso, voce terminara com uma decisao
que nao pode tomar de volta.

Correndo em nada alem de puro veneno, qualquer senso


comum ou logica que eu tinha foi embora.

Desapareceu.

Minha garganta parecia estar se fechando enquanto eu lutava


para puxar respiraçoes irregulares. Com o canto do olho, vi Ty entrar
na sala de recreaçao, uma caixa nas maos dele. Que tipo de caixa era
ou o que estava nela, eu nao sabia.

Nao ligava tambem.

A unica coisa que me importava era liberar toda a furia que


fervia em minhas veias em Carson ate que a unica coisa que restava
de seu corpo era uma polpa sangrenta. Ele queria a minha mulher,
algo que eu morreria antes que eu permitisse acontecer, e sua boca
suja falara sobre a minha irma.

Nenhum deles era aceitavel.

Ficando mais enfurecido a cada segundo, tentei arrancar os


braços de Hendrix do meu corpo.

— Tire essa merda de mim...

— Cap! — Ty gritou, interrompendo-me. — Encontrei o que


voce pediu.

— Kyle. — disse Hendrix, lutando para me segurar. — Carson


esta prestes a se tornar uma memoria distante. Confie em mim, cara.

Havia algo em sua voz que me fez parar.

O silencio caiu sobre o quarto.

Cap parecia pronto para me estrangular com as proprias maos.

— Voce. — disse ele apontando na minha direçao, — e


melhor não se mexer.

Quando nao disse nada em troca, ele voltou sua atençao para
Ty.

— O que voce achou?

Ty nao disse nada quando chegou ao interior da caixa de


tamanho medio e tirou quatro latas, cada uma identica a que a
antecedia. Ainda louco como o inferno, eu nao compreendi o que
elas eram no começo.
Entao, como um tijolo no rosto, o entendimento me atingiu.

— Seu filho da puta. — eu rosnei, olhando Carson diretamente


nos olhos.

A minha esquerda, Ty balançou a cabeça, aparentemente


incredulo, enquanto segurava uma lata vazia de tinta vermelha, a
mesma cor usada para marcar meu caminhao.

— Cara, quao idiota voce pode ser? Voce deixou estes, alem do
Louisville Slugger que voce usou para esmagar o para-brisa de Tuck,
na traseira do seu caminhao.

— Aparentemente muito burro. — acrescentou Hendrix, ainda


segurando em mim como se eu fosse para Carson a qualquer
segundo. — Eu nao posso ser o lapis de cera mais brilhante da caixa,
mas ate eu sei para me livrar das provas.

Ty sorriu para Hendrix.

Cap se virou para encarar Carson.

— Pegue sua merda e saia da minha estaçao, Rookie. Enquanto


aguarda uma revisao pelo conselho disciplinar, voce esta suspenso.

O rosto de Carson ficou branco.

— O que? Voce nao pode...

— Acabei de fazer. — Cap respondeu, seu tom nao deixando


espaço para discussao. — Se voce tiver algum problema com a
minha decisao, ligue para o representante da uniao. Ate onde eu sei,
voce terminou aqui.
Uma sombra deslizou sobre o rosto do novato.

Ele olhou para mim, malícia em seus olhos.

— Lembre-se do que eu disse, filho da puta. — rosnei,


finalmente me libertando do aperto de Hendrix. — Venha para
qualquer lugar perto de mim ou de minha garota de novo e eu
prometo que eles nunca encontrarao seu corpo.

Sem dizer outra palavra, ele saiu.

Uma vez que Carson estava fora de vista, Cap voltou sua atençao
para mim. A decepçao que brilhava em seus olhos era inconfundível.

— Eu lhe disse para fazer uma escolha. — disse ele. — Voce


escolheu errado.

Minhas sobrancelhas franziram.

— Eu nao escolhi nada. EU...

Ele nao me deu uma chance para explicar.

— Eu nao quero ouvir isso. Pegue sua merda e saia.

— Voce esta me suspendendo? – Eu congelo.

Alargando sua postura, ele cruzou os braços sobre o peito


corpulento.

— Voce tem sorte de nao estar fazendo mais, considerando que


voce acabou de quebrar um punhado de leis bem na minha frente.

Minha mandíbula tiqueou.

Eu terminei com essa merda…


Depois de olhar ao redor da sala, me virei para sair.

Eu tinha dado apenas dois passos em direçao a porta quando


Cap chamou meu nome, me impedindo.

— Kyle, espere.

Recusando-me a olhar de volta para ele, fiquei parado,


enraizado no local e esperei que ele continuasse.

— Voce teve uma vida difícil, garoto. Mais difícil que a


maioria. Mas chega um momento em que voce tem que deixar tudo
o que aconteceu exatamente onde pertence… No passado.

Suas palavras eram verdade.

Eu sabia.

Eu tinha que melhorar. Se nao fosse por mim, entao que fosse
por Carissa e mamae, ambas.

Nao seria facil, mas eu tinha que tentar.

Se eu não fizer isso, vou perder tudo...

— Eu ja disse isso uma vez antes, mas vou lhe dizer de novo, ja
que nao afundou na primeira vez. — Cap continuou. — Se voce nao
soltar o veneno correndo em suas veias, ele vai apodrecer de dentro
para fora. Confie em mim, eu sei.

O silencio caiu sobre a sala.

Nao tendo mais nada a dizer, e com as palavras de Cap ainda


frescas em minha mente, fui para a porta.
CAPÍTULO 31
Kyle
Eu queria Carissa.

Queria mais do que eu queria a minha proxima respiraçao, mas


ir ate ela no abrigo era impossível. Com a raiva ainda borbulhando
no meu intestino e sangue encharcando meus dedos estourados, o
ultimo lugar que eu precisava aparecer era o refugio seguro do
condado para mulheres e crianças vítimas de abuso.

Aqueles eram limites que eu nao atravessaria, nao importa o


quanto eu precisasse ver, tocar e beijar minha garota. Com a
capacidade de me acalmar, mesmo quando eu estava no meu pior,
ela era minha rocha, minha ancora e a força que me puxava ate
mesmo quando eu estava desmoronando.

Como agora.

— Foda-se. — eu disse, navegando seu Corolla pelo centro de


Toluca. Eu nao sabia para onde ir, o que fazer. Voltar para o meu
apartamento nao era uma opçao, nao quando ela nao estava la. O
vazio so me comeria vivo, me enfurecendo ainda mais. Hendrix e Ty
estariam na estaçao por mais vinte e quatro horas, entao estavam
fora de questao.

Eu sempre posso ir para a casa da vovó...

Mesmo tao louco quanto eu estava, o pensamento me fez rir.


Minha bunda estaria coberta de hematomas ao pôr-do-sol.

Chegando a um semaforo, olhei para o cruzamento de quatro


vias.

Continuar em frente me levaria de volta ao meu apartamento,


mas, novamente, isso nao era realmente uma opçao. Virar a direita
me levaria para o abrigo, mas eu nao podia ir la por razoes
obvias. Virar a esquerda me levaria para fora da cidade e para o lugar
onde meu pai e Lily estavam enterrados. Isso definitivamente nao
era uma boa ideia considerando o meu humor.

Eu olhei no espelho retrovisor.

Virando e voltando pelo caminho que eu vinha me levaria direto


para a minha casa de infancia, o lugar onde eu sabia que mamae
provavelmente sentava sozinha na varanda da frente, seu olhar
vazio fixo nas coisas diante dela que continham tantos recordaçoes.

Minha casa na arvore.

A caixa de areia de Lily.

Seu jardim de rosas abandonado.

A rede podre e desgastada do papai.

A luz ficou verde e o carro atras de mim buzinou.

Uma decisao tinha que ser tomada, um caminho precisava ser


tomado.

Sem outro pensamento, pisei no acelerador e arranquei o carro,


fazendo uma inversao de marcha. Entao, com o coraçao na garganta,
dirigi-me para o unico lugar que uma vez chamei de lar e para a
unica pessoa que esperava estar de braços abertos.

Mamae nao estava sentada na varanda da frente.

Onde ela estava, eu nao tinha a mínima ideia.

As cortinas das janelas ao longo da frente da casa estavam todas


fechadas, a luz da varanda ainda acesa da noite anterior. Seu jornal,
o que ela ainda olhava todos os dias, apenas para ler os obituarios,
ficava nos degraus ao lado de um vaso de flores vazio.

Sabendo que poderia ser uma ma ideia, e que poderia acabar


em desastre, eu saí do carro, fechando a porta atras de mim. De
proposito, mantendo a cabeça baixa para nao ter que ver a caixa de
areia de Lily, eu fiz meu caminho ate a frente da casa, parando para
pegar o jornal quando cheguei aos degraus.

Uma vez na porta, envolvi minha mao ao redor da maçaneta e


nao me incomodei em bater, torci. A pesada porta de madeira se
abriu e eu entrei no vestíbulo.

Como sempre, memoria apos memoria me bombardeou,


agredindo meus sentidos e roubando minha respiraçao. O bom, o
mau e o absolutamente feio, todos eles brilhavam diante dos meus
olhos, deixando-me cambaleante e lutando para ficar em pe.

O som da voz fantasmagorica de Lily enquanto ela gritava Ei,


Kyle reverberava em minha cabeça, enquanto o som da risada
brilhante de mamae e a risada baixa de papai ecoavam pelas
paredes.

Meu peito doeu; meu coraçao parecia estar rachando ao meio.

A culpa, a agonia, a sensaçao de perda... todos eles me


agrediram, espancando minha alma manchada e meu coraçao
mutilado.

Sem folego e sentindo minha cabeça girar, me inclinei,


colocando minhas maos em minhas coxas para me apoiar. A sala ao
redor começou a girar. Juro por Cristo que eu estava perto de
desmaiar.

Era a primeira vez para mim.

Passos desceram as escadas. A voz de panico de mamae se


seguiu.

— Kyle. — ela gritou, seus passos se movendo mais rapido. —


Filho, o que ha de errado?

Olhar focado no chao de madeira sob meus pes, eu nao lhe dei
atençao quando ela parou na minha frente, suas maos ossudas
segurando a lapela de seu robe gasto.

— Kyle. — ela sussurrou, sua voz atada com panico. — Diga


alguma coisa, por favor. — Soltando as maos de seu roupao, ela
passou as maos sobre meus ombros, peito e braços, procurando por
ferimentos. — Por que ha sangue em sua camisa? O que aconteceu?

Eu abri minha boca para responder, mas as palavras nao


vieram.

— Filho, voce esta me assustando. — Sua voz tremeu. — Oh


meu Deus — ela engasgou — ...sua mao. — Descansando as maos
nos meus ombros, ela apertou com toda a força. — Kyle Andrew
Tucker, voce me diz o que aconteceu neste exato minuto.

Nunca pensei que sentiria tanta alegria ao ouví-la me


repreender, mas quando ela falou para mim em um tom que eu nao
tinha ouvido em dezessete anos, a dor que estava envolvida no meu
pescoço em um vício diminuiu lentamente.

Soltando uma respiraçao, endireitei meu corpo, subindo para a


minha altura total.

Meu coraçao batia forte quando olhei para ela, encontrando seu
olhar de frente.

— Temos que conversar, mamae.

Ela assentiu, sem hesitaçao.

— Eu nao posso continuar fazendo essa merda. — afirmei


claramente. — Nem voce pode. Temos que encontrar uma maneira
de seguir em frente, deixar tudo que aconteceu.

Parte de mim esperava que ela gritasse comigo, talvez ate


mesmo me repreendesse por sugerir que deixassemos o passado
para tras, enquanto a outra parte esperava que ela recuasse para sua
concha e desligasse.

Ela nao fez nenhum dos dois.

Em vez disso, ela soltou as maos dos meus ombros e colocou os


braços ao redor de sua barriga.

— Voce quer um pouco de cafe primeiro? Eu estava prestes a


colocar um pote de descafeinado.

Eu balancei a cabeça.

— Precisa de alguma ajuda?

Um pequeno sorriso inclinou seus labios, me surpreendendo.

— Eu gostaria disso. — ela respondeu, seus olhos brilhando um


pouco mais brilhantes. — Mas primeiro eu quero que voce lave as
maos e limpe os nos dos dedos para que eles nao fiquem com
cicatrizes.

Meus dedos ja estavam marcados, havia muito tempo.

Eu nao estava disposto a discutir com ela embora.

— O kit de primeiros socorros esta no banheiro no andar de


cima. Ainda no lugar que sempre esteve.

Eu nao disse nada enquanto caminhava em volta dela e comecei


a subir as escadas.

Quando cheguei no meio do caminho, ela gritou meu nome, me


impedindo de continuar.

— Kyle. — ela disse. — filho, olhe para mim.

Eu virei minha cabeça, olhando para ela por cima do meu


ombro.

As lagrimas nao derramadas enchendo seus olhos me


derrubaram.

— Que bom que voce voltou. — ela sussurrou. — Estou muito


feliz, meu doce menino.

Eu engoli a emoçao que subiu na minha garganta.

— Sim, mamae. — eu respondi. — Eu tambem.

Eu nao esperei que ela respondesse antes de continuar subindo


as escadas.

Meu ultimo pensamento enquanto me dirigi para o banheiro no


final do corredor: isso não será fácil.

Acontece que eu estava certo.

Ha muito tempo, a conversa que estava por vir era o inferno.

Mas valia a pena.

— Nao foi sua culpa.

Sentada em uma poltrona ao lado da lareira, com a cabeça na


mao enfaixada, ouvi mamae chorar, seus soluços suaves pouco
contribuindo para impedir as confissoes dolorosas que saíam de
seus labios, uma apos a outra.

— Eu nunca pensei que era sua culpa. — disse ela,


acrescentando as suas palavras de segundos antes. — Apenas a
pessoa que eu culpei fui eu mesma.

Minhas sobrancelhas franziram.

Levantando minha cabeça latejante, olhei para ela, meus olhos


cheios de confusao.

— Por que? Voce nao estava la naquele dia.

A xícara de cafe que ela segurava na mao tremeu um


pouco. Engolindo, ela se inclinou para o lado, colocando-o em uma
das duas mesas finais.

— Eu posso nao ter estado la, mas fui eu quem permitiu que
aquele monstro... — sua voz quebrou na ultima palavra — ...chegasse
perto da minha filhinha em primeiro lugar. Se nao fosse por eu
deixar ele dar a ela aquele pirulito, ela nunca teria se aproximado
dele naquele dia no parque.

A culpa que escorria das palavras de mamae era obvia.

Desoladora tambem.

— Eu deveria saber que havia algo errado com ele quando ele
ficava me dizendo como a Lily era bonita... — seus olhos se fecharam
— ...como ela era doce.

Eu senti vontade de vomitar.

— Sou uma mulher tao estupida, porque nao pensei nisso. As


pessoas sempre, e eu quero dizer sempre, comentaram como a Lily
era bonita. — Abrindo os olhos, ela encontrou meu olhar. — Como
eu pude ser tao burra?

— Voce nao era burra. — eu disse a ela. — Nao foi antes e nao e
agora.

Emoçao apos emoçao atravessou seu rosto, contorcendo suas


feiçoes, e quebrando meu maldito coraçao ainda mais.
— Eu deixei ele perto do meu bebe. Eu mesma me certifiquei de
que ela lhe dissesse obrigada pelo pirulito. Se eu soubesse...

A culpa de mamae, tao fora de lugar quanto era, fazia sentido.

Nao era de admirar que ela tivesse recuado, desaparecendo da


vida. A culpa que eu carregava nos meus ombros me transformou
em um homem que era, movido e alimentado pela raiva. Mamae, por
outro lado, tinha saído, recuando para sua cabeça.

— Eu pensei que voce me odiasse. — eu disse, sentindo meu


peito queimar. — Pensei que voce me culpava pela morte de Teacup.

Os olhos de mamae se arregalaram.

Horror seguido de descrença atravessou seu rosto.

— Odiar voce? Kyle, baby, nao ha nada que voce possa fazer
para me fazer odiar voce.

— Tem certeza? Porque eu com certeza me odeio.

— Por que...

— Porque... — eu bati. — Se eu nao tivesse virado as costas para


ela, ela nunca teria sido tomada. Se eu nao tivesse sido tao
consumido com a minha necessidade de vencer Ty, entao aquele
pedaço de merda que era Edgar Louis nao teria tido a chance de
leva-la. Eu o teria visto, teria sido capaz de dete-la antes que ela o
alcançasse e...

— Isso nao e verdade. — interrompeu mamae, me parando.

— Sim, e. — argumentei, aborrecimento beliscando a minha


espinha.

— Ele tinha uma arma, Kyle. — ela sussurrou, balançando a


cabeça. — Uma arma que ele estava preparado para usar.

Todo o ar evaporou dos meus pulmoes.

— Se voce tivesse tentado intervir mais do que voce fez, estaria


morto. Voce, Ty, e qualquer outra pessoa que tentasse o parar. —
Lagrimas apos lagrimas deslizaram por suas bochechas. — Entao eu
teria perdido meus dois bebes.

Eu engoli a dor que subiu na minha garganta.

— Eu ainda deveria te-lo parado. Tinha que haver um jeito.

Mamae sacudiu a cabeça.

— Nao havia. Nao importa como voce tentasse, aquele homem


teria conseguido o que ele queria, nao importa o que voce
fizesse. Voce poderia estar de pe ao lado da sua irma, a mao dela na
sua, e ele teria atirado em voce como um cachorro raivoso.

— Mas eu...

— Nao, Kyle. — disse ela, parando a firme negaçao que eu


estava prestes a atirar em seu caminho. — Nada do que voce disser
mudara a verdade. E essa verdade? Mesmo quando nos culpamos,
no final ha apenas uma pessoa responsavel pela morte de Lily — um
soluço sufocado escapou de seu peito — e e Edgar Louis.

Eu odeio ouvir seu maldito nome!

Precisando seguir em frente, fiquei de pe. Eu nao podia falar


sobre Edgar, o maldito monstro, um segundo a mais. Se eu fizesse,
minha cabeça explodiria. Ou isso, ou empurraria minha mao pela
parede mais proxima, algo que nao queria ou precisava fazer.

— Se voce nao me culpou, entao por que voce nao parou o papai
naquele dia no meu quarto? — Andando pela janela de tras, eu olhei
para o quintal. — Por que voce nao disse algo quando ele me bateu
contra a parede, ou quando ele me disse que desejava que tivesse
sido eu a morrer em vez de Teacup?

Eu esperei ansiosamente que ela me desse uma desculpa ou


tentasse explicar suas açoes, ou melhor, nao açoes, naquele dia.

Ela nao fez nenhum dos dois.

— Porque eu sou uma mulher tola.

— O que voce quer dizer? – Eu me virei.

— Nao ha desculpa para o que aconteceu naquele dia e para as


coisas que eu permiti que acontecessem. Nao vou me sentar aqui e
tentar justificar o comportamento de seu pai, nem tentarei justificar
a escolha que fiz de nao levar uma frigideira de ferro fundido para a
parte de tras de sua cabeça. Ele cometeu um erro ao fazer o que fez,
mas eu fiz um maior por nao intervir. Isso e algo com que vou ter que
viver ate o meu ultimo suspiro.

— Voce se sente culpada por nao te-lo impedido?

Fogo sangrava na íris de mamae.

— Todo dia.

Nao fazia muito sentido, mas ouvir a mae admitir seus erros
juntou uma peça quebrada dentro de mim de volta no lugar.

Movendo-me pela sala, sentei-me no sofa ao lado dela, do outro


lado de onde Lily sempre se sentava. Expirando, peguei a mao de
mamae na minha e passei o polegar pelas juntas salientes dela.

— Entrei em uma briga no trabalho hoje.

O olhar de mamae caiu para a minha mao estourada.

— Eu imaginei. O ceu sabe que eu limpei suas juntas sangrentas


mais de uma vez depois que voce brigou com Hendrix ou Ty. — Seus
olhos encontraram os meus novamente. — Qual deles voce socou
dessa vez?

— Nenhum. – Eu ri.

— Entao quem?

Minha pele se arrepiou, a raiva voltou.

— Um novato chamado Carson.

— E melhor voce ter um bom motivo, filho. A unica razao pela


qual voce deve bater em alguem e se ele te acertar primeiro.

A voz do meu pai soou na minha cabeça. Nunca dê o primeiro


soco, ele disse uma vez. Mas se alguém bater em você, você acerta.

— Ele nao me bateu primeiro.

Mamae arqueou uma sobrancelha, esperando que eu


continuasse.

Entao eu fiz.
— Ele quer Carissa.

Os labios de mamae se estreitaram.

— Ele nao esta incomodando ela, ele esta?

Eu balancei a cabeça.

— Ele ainda esta respirando, entao para responder sua


pergunta, nao, ele nao esta.

— Kyle...

— A unica coisa que ele fez ate agora foi destruir meu
caminhao. Que teve que ter rebocado para ser consertado.

— Quao ruim foi isso?

— Terrível. O imbecil cortou os pneus, destruiu o para-brisa,


acabou com a pintura.

— Tem certeza de que foi ele?

Eu balancei a cabeça.

— Aconteceu logo depois que Carissa me encontrou na estaçao,


e ele nos viu juntos. — Ainda segurando a mao dela na minha, eu
continuei. — Ty encontrou as latas de tintas vazias que ele usou,
junto com um bastao na parte de tras de seu caminhao. A menos que
seja uma coincidencia infernal, eu diria que foi ele.

— Como Carissa se sente sobre isso?

— So o encontrou uma vez, mas havia algo nele que a deixava


nervosa. Ela nao sabe que eu bati nele ainda, nem que eu estou
suspenso, mas tenho certeza que ela vai ter muito a dizer. — Eu ri. —
Ela nao gosta de violencia. Nao que eu a culpe. Ela ve o suficiente do
rescaldo no abrigo onde trabalha.

— Nos vamos falar sobre voce estar suspenso em um minuto.


— Mamae respirou fundo. — Mas primeiro, Carissa trabalha em um
abrigo?

— Sim, o abrigo das mulheres maltratadas no centro de


Toluca. Ela esta trabalhando la ha quatro anos como defensora das
vítimas, mas ela esta prestes a ser contratada como assistente social,
desde que ela finalmente se formou.

— Ela e uma assistente social?

Mamae soou admirada.

Mais uma vez, assenti.

— Sim, mamae, ela e.

Agarrando seu peito, ela tirou o olhar de mim e olhou para a


foto de família emoldurada que ainda estava pendurada acima do
manto. Era a mesma que eu queria destruir ha pouco tempo.

— Eu gosto de Carissa. Ela e uma linda garota e de bom


coraçao. Me lembra muito da mae dela. — Sorrindo, ela virou a
cabeça e trouxe os olhos de volta para mim. — Voce cuida daquela
garota, Kyle.

— Planejo fazer isso.

Mamae assentiu.
— Bom, porque eu com certeza gostaria de ve-la mais por perto.

Inspiraçao atingiu.

Soltando a mao dela, inclinei-me para frente e passei a mao pelo


lado do rosto dela.

— Voce gostaria de ve-la hoje? — Os olhos de mamae se


arregalaram. — Ela queria que eu te convidasse para jantar. Por que
nao hoje a noite?

Eu meio que esperava que mamae me rejeitasse.

Ela nao fez.

— Eu tambem adoraria.

Outra peça quebrada se encaixou no lugar.

— Sim? Bem, que tal voce vir comigo para busca-la no trabalho
mais tarde? Podemos surpreende-la juntos.

O sorriso de mamae cresceu.

— O que faremos ate entao?

Um no se formou na minha garganta quando eu levantei a mao


de mamae e dei um beijo nos nos dos dedos.

— Compensar o tempo perdido. — eu sussurrei.

Mais lagrimas, essas boas, encheram os olhos de mamae.

— Eu gostaria disso, filho. — ela respondeu. — Eu gostaria


muito disso.
Foram algumas das palavras mais doces que eu ja ouvi.
CAPÍTULO 32
Carissa
Eu estava sentada atras da mesa de Charlotte, trabalhando em
uma pilha de formularios de entrada quando Heidi atravessou a
porta do escritorio, uma expressao que eu nao conseguia ler em seu
rosto.

Foi a primeira vez que a vi desde que comecei a trabalhar horas


antes.

— Ei, Bug. — Eu me levantei e contornei a mesa antes de jogar


meus braços ao redor de seu pescoço, abraçando-a com força. —
Senti sua falta.

Eu recuei no tempo para ve-la revirar os olhos.

— Claro. — ela gesticulou, com uma expressao sarcastica no


rosto. — Vamos encarar isso, eu fui substituída pelo Hulk.

Embora ela estivesse brincando, meu sorriso caiu.

Eu amava Kyle com cada gota do meu coraçao, mas ele nunca
substituiria Heidi.

Ninguem nunca poderia.

— Pare com isso. — eu disse, olhando-a diretamente nos


olhos. — Isso nao e engraçado.

Percebendo que suas palavras me aborreceu, ela franziu a


testa.

— Desculpe. — ela gesticulou. — Eu estava tentando ser


engraçada. – Mordendo o labio inferior, ela baixou as maos e
sussurrou. — Eu tambem senti sua falta, a proposito. E estranho nao
ter voce por perto todos os dias.

Meu coraçao se apertou.

— Idem.

Dando um passo para tras, olhei para o relogio que estava


pendurado na parede oposta.

Marcava 4:55.

— Eu saio em trinta e cinco minutos. Kyle tem meu carro desde


que seu caminhao esta sendo consertado, mas tenho certeza que ele
nao se importara se voce for para o apartamento dele conosco para
que voce e eu possamos passar algum tempo juntas.

— O que ha de errado com o caminhao dele?

— Voce nao quer saber. — Eu gemi.

Ela assentiu, com um sorriso bobo no rosto.

— Sim.

Sabendo que ela nao iria deixar, eu expliquei a situaçao para


ela.

— Tudo bem. Lembra daquele cara, Carson da estaçao?

Um olhar sombrio se espalhou pelo rosto dela.


— O cara com cabelo cor de cobre?

— Sim, ele. – Foi a minha vez de acenar.

— Bem, ele meio que vandalizou o caminhao de Kyle. Tipo,


muito.

— Voce deve estar brincando, merda. — Heidi amaldiçoou, me


surpreendendo.

— Voce acabou de xingar?

Ela encolheu os ombros.

— Menos perguntas, mais respostas.

De olhos arregalados, balancei a cabeça.

— Nao, eu nao estou... — fiz uma pausa — ...voce sabe ..merda.

Heidi revirou os olhos para minha recusa em xingar.

— O que o Kyle fez?

Mordi meu labio inferior, mastigando a carne gorda antes de


responder.

— Eu nao sei. Quero dizer, ele nao fez nada ainda, porque ele
nao voltou para a estaçao desde que aconteceu. Mas ele esta
trabalhando em um turno de 8 horas hoje e eu nao tenho notícias
dele.

Os olhos de Heidi se arregalaram.

— Carson provavelmente esta morto agora.


— Heidi! — Eu repreendi. — Nao diga...

— Toc, toc. — Shelby, que estava na porta, disse, interrompendo


a palestra de um quilometro de extensao que eu estava prestes a dar
a minha irmazinha. Sorrindo de orelha a orelha, ela se encostou no
batente da porta. — Voces tem uma visita.

— Quem? — Eu perguntei, confusa.

Eu nunca tive visitantes, nem Heidi. Os unicos amigos que


tínhamos trabalhavam no abrigo. Bem, exceto por Kyle, mas ele
nunca entrou. Alem disso, se fosse ele que estivesse la para me ver,
Shelby nao o chamaria de visitante.

Em vez disso, ela teria dito algo inapropriado, com certeza.

Shelby nunca iria deixar passar uma oportunidade para me


envergonhar ou a qualquer outra pessoa. E quem ela era e eu amava
isso nela.

Sem responder minha pergunta, Shelby recuou e gesticulou


para alguem entrar no escritorio.

— Entre, grande homem.

Um segundo depois, um rosto familiar apareceu.

Meu coraçao disparou.

— Papai!

Heidi e eu corremos para ele ao mesmo tempo.

Jogando nossos braços ao redor de cada um de seus lados, nos


pressionamos nossos rostos contra suas costelas e o abraçamos com
força. Em resposta, ele passou os braços em volta de nos enquanto
beijava cada uma de nos na cabeça; primeiro eu, depois Heidi.

— Eu senti falta de voces, garotas. — ele disse, apertando mais


forte. – Muito mesmo.

Emoçao me dominou quando eu inalei, puxando seu perfume


amadeirado, um que era exclusivamente dele, profundamente em
meus pulmoes. Embora eu estivesse ocupada em passar todos os
momentos em que nao estava no abrigo com Kyle, senti uma falta
feroz de papai.

Ele pode ser uma dor no meu traseiro a maior parte do tempo,
mas eu o amava mais do que as palavras poderiam dizer. Uma
menina do papai desde o dia em que nasci, eu ficaria assim.

Para sempre.

Puxando para tras, limpei as lagrimas de felicidade que corriam


pelas minhas bochechas.

— Por que voce nao me disse que estava voltando para casa?
Pensei que tivesse mais uma ou duas semanas na estrada.

Ele sorriu para mim.

— Bem, Carissa Ann, eu percebi que te surpreenderia. — Seus


olhos se estreitaram um pouco. — Como o grande menino esta
tratando voce? Eu preciso cavar um buraco? Se sim...

Heidi bufou e eu zombei.

— Oh meu Deus, pela milionesima vez, voce nao tem permissao


para matar Kyle. Como sempre. Entao pare de falar sobre isso.
Ele resmungou antes de murmurar um, Vamos ver baixinho.

Revirei os olhos exatamente como Heidi havia feito momentos


antes.

Girando sua atençao para Heidi, papai deslizou um dedo sob o


queixo dela, forçando a cabeça para cima. Olhando-a nos olhos, ele
lentamente disse.

— E voce? Voce ficou longe daquele garoto Jacobs como eu te


disse?

Heidi soltou um suspiro, mas nao disse nada.

— Bug, eu quero dizer isso. Voce chega perto daquele garoto e


eu quebro as pernas dele.

Heidi nao teve a chance de responder antes de Charlotte entrar


no escritorio, um lindo sorriso em seu lindo rosto.

— Ei, Daryl. — disse ela. — Nao sabia que voce estava de volta
ainda.

Soltando o braço que ele ainda tinha em volta de mim, ele


correu a palma da mao pelo lado do rosto barbado.

— Acabei de voltar. Queria surpreender minhas meninas, talvez


as levar para jantar.

O sorriso de Charlotte cresceu.

— Que doce. — Como eu fiz minutos antes, ela olhou para o


relogio. — E quase a hora de ambas saírem, entao por que voces nao
vao em frente e saem daqui. As meninas do segundo turno estarao
aqui em breve e Shelby e eu poderemos segurar o forte ate la.

— Voce tem certeza? — Eu perguntei. — Eu posso ficar ate...

Ela acenou com a mao, me cortando.

— Claro que estou falando serio. Agora, voces saiam daqui e


passem algum tempo juntos em família. Deus sabe que nao ha nada
melhor.

Eu balancei a cabeça.

— Obrigada, senhora chefe.

Ela sorriu.

— A qualquer hora, querida. Voce sabe disso.

Caminhando ate o relogio, Heidi pegou nossos dois cartoes de


ponto e nos marcou, enquanto eu buscava nossas duas bolsas na
prateleira que ficava pendurada ao lado do arquivo.

Assim que eu entreguei a dela, me virei para encarar papai


novamente.

— Kyle tem meu carro. Ele esta me pegando as 5:30, mas


podemos seguí-lo.

Papai zombou.

— Senhor Todo-Poderoso, Carissa Ann, eu nao convidei o


grande menino.

Depois de colocar minha bolsa no meu braço e segurando-a no


meu ombro, eu olhei para ele.
— Onde eu vou, ele vai. Voce nao percebeu isso ate agora?

Papai, sendo a rainha do drama que ele era, jogou as maos para
o ar.

— Acho que vou ter que lidar entao.

— Agora, agora, Daryl, — Shelby interveio atras dele. — Eu sei


que e difícil ver sua garotinha se apaixonando, mas pense, em pouco
tempo voce tera um exercito de netos para lhe fazer companhia.

O choque se espalhou pelo rosto do papai. Entao.

— Ah, diabos nao. Isso exigiria que minhas garotas fizessem...


— ele pausou e respirou fundo — ...para ter ...voce sabe...

— Sexo. — disse Heidi. — A palavra que voce esta procurando


e sexo.

O rosto de papai ficou vermelho como a torta de ruibarbo da


vovo, e Heidi sendo Heidi, ela se aproveitou de seu embaraço.

— Sexo sujo, suado e barulhento. Esse e o tipo que faz bebes. —


Ela virou o olhar para mim. — Certo, Carissa?

Shelby e Charlotte caíram na gargalhada.

Mas eu? Eu morri.

Juro por Deus, quase tive um ataque cardíaco.

— Heidi Lynn Johnson! — Papai gritou. — Juro por tudo o que


e sagrado, vou te arrebentar.

Vestindo um enorme sorriso, Heidi encontrou meus olhos e


piscou.

— Voce esta pronta? Tenho certeza que o Hulk esta esperando


por voce.

Incapaz de falar, eu assenti.

— Vamos la.

Eu ofereci a Charlotte e Shelby um aceno rapido antes de sair


do escritorio. Caindo ao meu lado enquanto seguíamos pelo
corredor, Heidi bateu no meu ombro com o dela.

— Entao voce vai me dizer? Ou eu preciso sair e perguntar?

Eu nao tinha ideia do que ela estava falando.

— O que?

Ela zombou antes de olhar por cima do ombro para o nosso pai,
que seguia atras de nos.

— Voce esta me escondendo. Isso e errado.

Minha confusao cresceu a cada segundo.

— Serio, Bug, nao tenho ideia do que voce esta falando.

Chegando a uma parada abrupta, Heidi agarrou meu braço me


impedindo tambem. Virando-se para mim, ela colocou uma mao no
quadril enquanto mantinha a outra no meu braço.

— Voce sabe exatamente do que eu estou falando. — ela


sussurrou. — Voce so nao quer me dizer.

— Te dizer o que?
Minha pergunta me rendeu outro olho revirado.

— Eu realmente tenho que dizer isso?

— Se voce quer que eu responda, voce tem.

— Tudo bem. — ela respondeu, soltando meu braço e


sacudindo o cabelo para tras por cima do ombro. Depois de atingir
o papai pelo canto do olho, ela ficou de pe e sorriu. — Qual e o
tamanho do pau de Kyle?

Eu ofeguei e eu estava certa de que ouvi o pai começar a


engasgar.

— Voce não perguntou isso!

Passar tanto tempo na casa de Shelby obviamente tinha


distorcido a mente da minha doce irmazinha.

— O que? — ela perguntou, claramente ofendida pela minha


voz alta. — E uma pergunta legítima. Quero dizer, com a maneira
como ele se parece e se comporta, parece que ele teria um enorme...

— Heidi! — Papai gritou, encontrando sua voz.

Com a cabeça girando, agarrei Heidi pelo braço e comecei a


arrasta-la pelo corredor antes que uma das duas coisas
acontecesse. Um, papai ia ter um derrame. Dois, eu diria a verdade.

Essa verdade? Nenhuma duvida sobre isso, o pau de Kyle era


enorme.
CAPÍTULO 33
Carissa
Kyle estava esperando por mim quando eu pisei fora.

Para minha surpresa, Dottie tambem estava.

Embora eu nao soubesse o que eles estavam fazendo juntos, ao


ver Kyle em pe ao lado de sua mae, meu coraçao inchou.

— Sra. Dottie! — Eu gritei, descendo a rampa para onde eles


estavam ao lado do meu carro. — Voce esta aqui!

O sorriso que ela usava era tao brilhante que era quase
ofuscante. Era tao diferente do que o olhar que ela usava no dia
anterior que me chocou, momentaneamente me derrubando.

Algo está diferente...

— Eu espero que voce nao se importe que eu o acompanhei. —


ela respondeu, mudando seu peso de um pe para o outro. — Eu nao
quero me intrometer, mas Kyle me convidou para jantar, e eu nao
pude resistir.

Eu parei na frente dela. Heidi estava ao meu lado, e papai estava


dez pes atras de nos, seu olhar avaliador observando a situaçao de
longe.

— Estou feliz que voce veio. — eu respondi, atirando um sorriso


a Kyle antes de voltar o meu olhar para ela. — Quanto ao jantar, isso
parece perfeito. Meu pai acabou de voltar para a cidade para que
todos possamos ir juntos.

A mençao do papai, o olhar de Dottie se lançou atras de mim.

Lagrimas encheram seus olhos quando ela levantou a mao para


cobrir sua boca.

Incapaz de ler a situaçao, dei um passo para tras e me virei,


encontrando o olhar do meu pai.

— Papai, voce ja conheceu...

Eu fechei minha boca quando papai começou a se encaminhar


direto para nos. Olhos estreitados, ele olhou Dottie da cabeça aos
pes.

— Dottie? — ele perguntou. — E voce?

Dottie assentiu, as lagrimas caindo dos olhos.

— Sou eu.

Os olhos de papai se arregalaram ao tamanho de pires.

— Bem, eu vou ser amaldiçoado. — disse ele, um sorriso se


espalhando em seu rosto. — Nao te vejo ha muito tempo, senhora.
Onde voce esteve?

Nao querendo que Dottie caísse no buraco do coelho do qual


Kyle claramente saltou, entrei, intervindo.

— Papai, voce esta bem com Dottie e Kyle jantando com a gente,
certo?
Eu rezei para que ele pudesse ler meus olhos cheios de
culpa. Por favor, não seja um bundão...

Ele olhou para mim como se eu fosse louca.

— Claro que nao me importo. Eu e Dottie vamos um pouco ao


passado. Inferno, eu a conhecia antes de conhecer sua mae.

Bem, tudo bem então...

Eu ri.

— Entao e um negocio feito. Agora so precisamos...

Heidi me deu um tapinha no ombro, chamando minha atençao.

Com uma sobrancelha franzida, ela usava uma expressao


atrevida no rosto. Imediatamente, eu sabia o que ela queria.

Porcaria!

Entao, embrulhada em tudo ao meu redor, eu nao a tinha


apresentado ainda.

Eu era tao idiota.

— Antes de irmos mais longe. — eu disse a Dottie, determinada


a consertar minha bagunça. — Eu gostaria de apresentar a minha
irmazinha. — Movendo minha mao de Heidi para Dottie e depois de
volta para Heidi, continuei. — Heidi, esta e Dottie, a mae de Kyle.
Dottie, esta e Heidi, minha irmazinha e dor na bunda.

Eu estava a um segundo de explicar a Dottie que ela precisava


olhar diretamente para Heidi se ela falasse com ela desde que ela
tinha deficiencia auditiva, mas nao havia necessidade.
Sorrindo, Dottie bateu em cada uma de suas orelhas,
gesticulando para os aparelhos auditivos que Heidi usava nos seus.

Ao meu lado, Heidi endureceu.

Embora fosse obvio que ela era parcialmente surda, Heidi


sempre entrava em panico ao conhecer outras pessoas pela primeira
vez. As pessoas poderiam ser crueis, isso era um fato, e Heidi parecia
atrair os mais malvados humanos.

Prendi a respiraçao esperando que Dottie fizesse ou dissesse


outra coisa.

Felizmente, eu nao tive que esperar muito.

Erguendo as maos no ar, ela rapidamente gesticulou.

— Ola, Heidi. E bom conhece-la. — enquanto pronunciava as


palavras.

Meu queixo quase bateu no chao.

— Eu era uma vez uma professora na Georgia School for the


Deaf. — continuou ela a gesticular. — Mas eu me tornei uma mae e
dona de casa depois que minha filha mais nova nasceu.

O rosto de Heidi se iluminou e antes que eu pudesse impedí-la,


nao que eu fosse, ela se adiantou e puxou uma fragil Dottie em seus
braços, abraçando-a com força.

Dottie fechou os olhos e abraçou-a de volta, absorvendo todo o


conforto que lhe foi oferecido. Isso fez meu coraçao feliz,
extremamente feliz, ao ver.
Abri a boca para dizer-lhes o mesmo, mas parei quando um
modelo antigo, um Cadillac conversível cor-de-rosa imaculado,
atravessou o portao aberto do abrigo, levantando pedregulhos
quando passou voando pelo patio e entrou no estacionamento.

Eu nunca tinha visto o carro antes, e nao tive tempo de


distinguir o motorista porque o carro estava vindo direto para nos.

Tambem nao estava diminuindo a velocidade.

Instinto deu o pontape inicial e eu fui para Heidi e Dottie


enquanto Kyle se lançava para mim. Meus braços em volta de Heidi
e os braços de Kyle em volta de mim.

Atras de nos, papai fez um barulho, gritando para todo mundo


ouvir.

Em panico, segurei minha irma pela vida, enquanto o som de


pneus deslizando pelo cascalho chegava aos meus ouvidos. Eu me
preparei para o impacto que pensei que viria e fiz uma oraçao
silenciosa.

Por favor Deus, eu implorei. Não nos deixe morrer.

Prendi a respiraçao, esperando pela colisao.

Isso nunca veio.

Meu peito subiu e caiu em rapida sucessao quando Kyle me


soltou e se virou, olhando para tras.

— Droga! — ele gritou. — Voce poderia ter matado alguem!

Uma porta se abriu e depois se fechou.


— Ouça, aqui, Hulk. Eu nao me importo como voce parece
delicioso, se a sua boca sexy ladrar para mim assim de novo, eu estou
puxando meu mata-moscas! — Vovo, entre todas as pessoas, gritou
de volta.

Heidi soltou um suspiro e encontrou meu olhar.

— Ela dirige quase tao mal quanto voce.

Dottie deu uma risadinha como uma garotinha quando eu


estendi minha língua para Heidi em resposta.

— Pirralha...

Sentindo como se meu coraçao pudesse explodir, eu larguei


meus braços de Heidi e me virei.

— Vovo! — Eu me agitei. — Qual e o problema com voce? Voce


poderia ter nos matado!

Vestindo um vestido rosa bebe, que combinava com a cor do


carro que ela estava dirigindo, devo acrescentar, um lenço de cabeça
branco, sandalias prateadas e seu batom fucsia, ela parecia uma
bagunça quente.

Se eu nao estivesse tao louca, eu teria adorado.

— E quando voce conseguiu um carro novo? — Eu acrescentei,


acenando para o carro que parecia ter saído de um clipe de Bruce
Springsteen.

Vovo endireitou os ombros e sorriu como uma louca.

— O Sr. Bolso Cheio comprou para mim ontem.


— Brantley?

Vovo abaixou a cabeça uma vez em afirmaçao.

— Foi um presente por sequestra-lo e a cabeça dura de Clara na


noite da festa de despedida de Shelby. Se nao fosse por mim, os dois
nunca teriam ficado juntos.

Ao meu lado, Kyle parecia confuso, quase como se nao soubesse


se devia xingar ou rir.

— Agora... — disse vovo, colocando as maos nos quadris. —


Desde que eu tenho tudo no lugar, eu quero saber porque eu nao vejo
nem a sombra... — ela apontou de Kyle para mim — ...de voces dois
desde a formatura de Carissa.

Aqui vamos nós...

— Estavamos ocupados. — respondeu Kyle.

— Ocupados fazendo o que? — Um sorriso problematico se


espalhou por seu rosto, e eu sabia que o que saísse de sua boca em
seguida iria envergonhar o diabo de mim. — O que voce estava
fazendo, Carissa? Dança do bebe?

— Eu nao sei o que isso significa. — eu bufei.

Heidi deu um soco no meu braço.

— Pense nisso, idiota.

Entao de repente me bateu.

— Oh! — Minhas bochechas coraram de vergonha quando olhei


para Kyle.
Kyle passou um braço em volta de mim, me puxou para o lado e
acenou para papai.

— Vovo, coloque uma tampa antes de me matar, sim?

— Oh, por favor. — ela disse, acenando com a mao


desconsiderada no ar. — Daryl nao vai fazer porra nenhuma.

Percebendo que essa nao era uma conversa apropriada para ter
na frente de papai nem de Dottie, olhei para Kyle.

— Voce esta pronto para ir? Porque eu realmente acho que


precisamos ir.

Kyle assentiu.

— Sim, princesa. Vamos...

— Dottie. — disse vovo de repente, efetivamente cortando


Kyle. Sua voz era insegura e cheia de surpresa, algo que nao era
normal para ela.

— Oi, Doris. — disse Dottie. — E bom ver voce de novo.

A boca de vovo se abriu e lagrimas encheram seus olhos.

— Voce esta aqui... — seus olhos se moveram para Kyle, depois


de volta para Dottie — ...com Kyle.

Eu nao conseguia ver Dottie, mas assumi que ela assentiu.

— Eu estou. Ele e Carissa me convidaram para jantar.

— Jantar? — Os olhos da vovo se iluminaram. — Agora isso e


algo que eu posso lidar.
— Oh, merda. — Kyle murmurou baixo o suficiente para so eu
ouvir.

— Eu vou te contar o que, todo mundo sobe em seus carros e


vamos para a minha casa. Vou fazer algumas ligaçoes, reunir a
família e vamos fazer uma grande coisa com isso. Nao tenho jantar
em família por um tempo e estou ansiosa para colocar todos os meus
bebes de volta ao teto.

— Vovo... — eu comecei.

— Mata-moscas, Carissa. — ela disse, me lançando um olhar de


advertencia. — Eu vou tirar isso.

Minha boca se fechou. Ficou assim tambem.

Eu tinha visto vovo acertar Hendrix e Evan com uma surra


simples, e eu certamente nao queria ser o alvo de tal puniçao.

— Tudo bem, entao. — vovo continuou, sorrindo de orelha a


orelha, — vamos a isso!

Heidi riu atras de mim quando ela pulou de volta em seu novo
Cadillac, ligou o motor, e deu marcha-re. Antes de recuar, ela
estendeu a mao e ligou o radio.

Dottie se juntou a Heidi quando o Jailhouse Rock começou a


tocar nos alto-falantes, abafando os sons do trafego da hora do rush.

— Bem. — papai disse, deslizando as maos no bolso. — Pelo


menos a velha morcego demente tem bom gosto na musica.

— Dottie! — Vovo gritou por causa da musica. — Venha! Voce


esta indo comigo!
A mae de Kyle nao hesitou.

Depois de abraçar Heidi e eu uma ultima vez, ela deu um beijo


na bochecha de seu unico filho, acenou para o papai e correu para o
lado do passageiro do carro. Abrindo a porta, ela subiu e prendeu o
cinto de segurança.

Entao ela sorriu, e quero dizer que ela sorriu grande, quando
vovo lhe deu um lenço para usar. Depois de ajuda-la a coloca-lo, as
duas acenaram para todos nos uma ultima vez.

— E melhor voces nao se atrasarem! E eu quero dizer isso!

— Cuide da minha mae, vovo! — Kyle gritou antes de


murmurar: — Acabei de recupera-la.

Com um revirar de olhos, ela começou a recuar.

Depois de chicotear o carro, ela mudou de direçao e saiu,


deixando uma nuvem de poeira em seu rastro.

Soltando o braço ao meu redor, meu cara colocou as maos nos


quadris.

— Que porra acabou de acontecer?

Papai deu de ombros.

— A velha louca jararaca aconteceu.

Isso praticamente resumiu tudo.


CAPÍTULO 34
Carissa
Eu queria gritar.

Sentada nos degraus da varanda da frente da vovo, segurei a


mao de Kyle na minha, enquanto examinava os nos dos dedos e os
dedos machucados. Eu tentei dar uma olhada no carro, mas ele nao
me deixou olhar. Agora ele nao tinha escolha. E deixe-me dizer, ve-lo
ferido fez meu peito doer como um dente podre faria: contínuo e
sem cessar.

Ele jurou que estava bem, que nao doía nem um pouquinho,
mas eu tinha dificuldade em acreditar nele. Ele nunca mentiu para
mim antes, mas eu duvidava que ele me dissesse se ele realmente
estava com dor.

Daí a razao pela qual eu queria gritar.

Virando a mao, corri meus dedos sobre o interior de seu pulso.

— Voce vai me dizer? — Eu perguntei, forçando minha voz a


permanecer firme. — Ou eu preciso pegar vovo aqui e deixa-la levar
o mata-moscas em voce.

— Estou bem, princesa. — Ele fez uma careta e olhou para o


outro lado. — Nada para voce se preocupar.

— Eu sei que voce vai ficar bem. — eu respondi, nao enganada


por sua tentativa de fugir da minha pergunta. — Mas isso nao e o
que eu estava me referindo tambem.

Apertando a mandíbula, ele olhou para o quintal da frente, onde


Liam, Declan e Lucca estavam jogando futebol, enquanto Bella e
Melody observavam do balanço no quintal de Pop, que ficava ao lado.

— Diga-me. — eu sussurrei, nao querendo que ninguem nos


escutasse.

Ele virou a cabeça, os olhos pousando nos meus.

— Fui suspenso do trabalho.

Minha boca se abriu.

— O que? — Eu assobiei. — Por que?

— Porque eu dei um soco em Carson na sua maldita cara feia.

— Voce bateu em Carson? — Repeti sua resposta como uma


louca. Por que eu fiquei surpresa com a sua resposta, eu nao
sabia. Eu sabia que o confronto estava chegando, e eu ate esperava
que desse certo, mas isso ainda me frustrava. Kyle merecia melhor
que a raiva que ele usava como uma segunda pele.

O olhar que ele me deu foi toda a resposta que eu precisava.

— Por que?

— Voce sabe porque. — Seus olhos se estreitaram.

— Querido, eu sei que ele bagunçou seu caminhao, mas o


seguro vai pagar por isso, e nao vale a pena ser demitido...

— Foda-se meu caminhao. — ele retrucou, antes de


rapidamente olhar em volta para se certificar de que nenhuma das
crianças estava a uma distancia de audiçao.

Felizmente, elas nao estavam.

— Eu nao bati nele por vandalizar minha caminhonete.

— Entao por que voce fez isso?

— Numerosas razoes. — Sua mandíbula ficou tensa.

— Me conte. — Meus dedos pararam.

Levantando a mao livre, ele agarrou meu queixo entre os dedos


e inclinou meu rosto para encontrar o seu. Meus olhos se fecharam
quando ele baixou a cabeça, trazendo sua boca mais perto da minha.

— Abra seus olhos, Carissa. — ele exigiu, seu tom deixando


pouco espaço para discussao.

Como sempre, obedeci a seu comando.

Meus olhos se abriram e meus labios se separaram quando sua


respiraçao de menta flutuou sobre o meu rosto, banhando-me em
seu calor. Com o coraçao batendo descontroladamente, me
concentrei em inalar e depois expirar enquanto ele olhava nos meus
olhos, causando estragos no meu corpo.

— Motivo numero um; esse pedaço de merda destruiu minha


propriedade pessoal, e e o menor dos motivos pelos quais ele foi
atingido, mas ainda me custou tempo para lidar com isso.

Embora eu nao tolerasse a violencia na maioria das situaçoes,


eu poderia entender como alguem destruindo sua propriedade iria
colocar fogo em Kyle.

— Razao numero dois... — continuou ele. — Ele deixou voce


desconfortavel. Eu ainda nao sei o que aconteceu naquele dia nas
baias, e parte de mim nao quer saber, mas ele te assustar foi
inaceitavel. Ponto final.

A ferocidade em suas palavras foi direto para minha barriga,


fazendo as borboletas que la residiam acordarem.

— Razao numero tres; ele quer voce, e isso nunca ficara bem
em qualquer estado ou forma.

— Kyle...

— Sim, eu sou um idiota possessivo. — ele interrompeu, — mas


eu cuido do que e meu, e Carissa, voce e minha.

Eu soltei uma respiraçao instavel.

— Sei que eu sou. — Era a verdade. — Mas isso nao significa


que voce pode espancar todo cara que tem uma queda por mim.

— O inferno que nao posso.

— Nao pode. Assim como eu nao posso sair por aí revidando


em todas as garotas cujos olhos permanecem em voce mais do que
deveriam.

Soltando a mao do meu rosto, Kyle arqueou uma sobrancelha.

— Quando isso acontece?

Ele tinha que estar brincando.


— So todo o maldito tempo. Me deixa louca.

— Ciumenta, princesa? — Meu cara sorriu.

— Nao. — eu respondi honestamente. — Eu nao sou.

— Sim? E porque nao?

— Porque eu sei que nao importa o quao duro elas olham, ou o


quao duro elas se jogam em voce, voce nao vai me trair.

Ele roçou seus labios contra os meus. Suavemente.


Lentamente.

— Voce esta certa, — ele sussurrou. — Eu nunca vou te trair,


porque voce me possui, menina bonita. Sempre.

Ignorando o jeito que meu coraçao pulou com suas palavras, eu


me aproximei dele, pressionando meu lado contra ele.

— Entao o que voce vai fazer?

— Sobre o que?

— Trabalho.

Reajustando o bone preto que ele usava, ele soltou um suspiro.

— Depois que eu entrei com Carson, Cap me mandou para


casa. So nao voltei ao apartamento. Sem voce, parece vazio e nao
aguento mais isso.

As borboletas dançando na minha barriga chutaram.

— Entao voce foi para a casa da sua mae?


Ele empurrou o queixo para baixo uma vez em afirmaçao.

— E estranho porque passei semanas, ate um mes sem visita-la


antes. Mas depois da noite passada, eu queria ve-la novamente.

— Estou assumindo que tudo correu bem.

Mais uma vez, ele empurrou o queixo para baixo.

— Sim, baby, isso aconteceu. Conversamos muito e eu nao enfiei


a mao na parede. Isso e progresso certo?

— Definitivamente e. — Eu sorri.

— Sobre o que voces conversaram? — Me arrependi das


palavras no momento em que as falei. — Quero dizer, voce nao
precisa me dizer... so se voce quiser, eu estou aqui.

Virando-se para a cintura, ele colocou as maos nos meus


quadris e me levantou. Virando-me para o lado, ele me depositou em
seu colo e passou os braços em volta de mim, me segurando firme.

— Eu nunca vou esconder nada de voce. Nao importa se e serio


ou estupido, vou te contar. Entendeu?

Eu balancei a cabeça.

— Eu entendo isso. — Levantando minha mao, eu tirei seu bone


e corri meus dedos atraves de seu cabelo bagunçado. Apesar das
quantias copiosas de condicionador que eu usava no chuveiro, meu
cabelo nunca seria tao sedoso quanto o dele. Tentando ser fofa,
coloquei o bone na cabeça e esperei pacientemente para ver se ele
me contava sobre o que ele e sua mamae conversaram.
Sorrindo, ele olhou do bone que eu usava na minha cabeça para
o quintal.

— Falamos sobre como nos dois nos sentimos culpados pelo


que aconteceu com Lily, como por muito tempo nos culpamos por
merda que nao foi nossa culpa.

Espere um minuto.

— Kyle. — eu sussurrei. — Olhe para mim.

Quando seus olhos encontraram os meus, meu coraçao


começou a bater contra minhas costelas.

— Voce esta me dizendo que finalmente clicou?

— O que? — Confusao atravessou seu rosto.

Removendo meus dedos de seu cabelo, coloquei minhas maos


nas laterais de seu pescoço, sentindo seu coraçao bater em minhas
palmas.

— Voce finalmente entende que o que aconteceu com sua irma


nao foi sua culpa? Quero dizer, voce realmente entende isso agora?

O silencio caiu entre nos e de repente eu achei difícil respirar.

Por favor, me diga que você finalmente entendeu...

— Kyle...

— Nao foi minha culpa. — ele sussurrou, lagrimas brilhando em


seus olhos. — O que aconteceu com ela, o que o monstro fez com ela,
nada disso foi por minha causa. Nao estava na mamae nem no papai
tambem. Apenas o filho da puta responsavel pela morte da minha
irmazinha e Edgar Louis, e eu rezo, eu oro, que ele esteja queimando
no inferno por isso.

Eu nao consegui parar minhas lagrimas.

Como um rio inundado, elas se levantaram e saíram dos meus


olhos, deslizando pelas minhas bochechas. Eu nao conseguia dete-
las nem diminuir o fluxo delas; portanto, nao me incomodei em
tentar.

— Sua mae entende agora tambem?

Por favor por favor por favor…

Kyle assentiu.

— Ela faz, baby. Seu coraçao ainda esta quebrado, mas ela me
prometeu que trabalharia em cura-lo, que nós trabalharíamos em
cura-lo. Juntos.

Esse era o ponto de virada.

Mais cedo, quando saí do abrigo e vi Dottie, soube que algo


estava diferente. Tao ruim quanto parece, eu achei que o jeito que
ela abraçou Heidi e depois entrou no carro com a vovo fosse um
pouco estranho, porque menos de vinte e quatro antes dela tinha
estado tao cheia de dor e tristeza.

Mas ouvir sobre o avanço que ela e Kyle alcançaram explicava


tudo.

Embora nem ela, nem Kyle, estivessem completamente curados


por um longo tempo, qualquer passo na direçao certa era o
progresso, e hoje ambos deram um grande salto em direçao a uma
vida melhor.

Era uma coisa linda.

— Ela concordou em ir para aconselhamento comigo. —


continuou Kyle, figurativamente me derrubando no meu traseiro. —
Ate ligou e marcou uma consulta para a semana que vem.

— Voce marcou uma consulta de terapia?

Mais uma vez, ele assentiu.

— Eu quero melhorar, Carissa. Para voce, para mamae, para


mim. — Um sorriso malicioso apareceu em seu rosto. — Para a casa
cheia de crianças que vamos ter um dia.

— Eu quero pelo menos 3. — eu soltei. — Talvez mais.

— Eu posso cuidar disso. — Seu sorriso cresceu.

— Voce nao vai ser demitido, certo? Porque eu nao posso


sustentar tres crianças sozinha e...

— Eu nao vou ser demitido. — ele interrompeu pela


milionesima vez. — Cap esta apenas tentando provar um ponto.
Depois que eu sair da suspensao, vou esfregar os banheiros e lavar
os caminhoes com uma escova de dentes, mas farei tudo com um
sorriso no rosto. Quebrar o nariz daquele idiota valeu a pena.

— Voce e um homem das cavernas. – Eu gemi.

— Sim? Bem, este homem das cavernas diz que voce precisa
beija-lo agora; senao vou jogar voce por cima do meu ombro e leva-
la de volta para minha caverna, onde posso ser muito mau com voce.
— Voce quer?

— Voce sabe que eu fodidamente quero.

Eu passei minha língua pelo meu labio inferior, molhando-o.

— Entao pegue-os.

Kyle nao precisava ser mandado duas vezes.

Agarrando a parte de tras da minha cabeça, ele puxou meu rosto


para o seu, batendo minha boca contra a dele. Ele beliscou meu labio
inferior, uma demanda nao declarada de acesso. Meus labios se
separaram e sua língua mergulhou dentro, enroscando-se com a
minha. Completamente perdida para o lago do desejo, ele
submergiu-me, o resto do mundo desapareceu.

Toda vez que tocamos...

Perdida em prazer, eu estava a segundos de implorar para ele


me levar de la.

Felizmente, uma certa pessoa maluca interveio, me salvando


dos meus hormonios enlouquecidos pela luxuria.

— E melhor que voce nao esteja batizando minha varanda


recem pintada — gritou vovo pela porta de tela aberta,
interrompendo-nos.

Eu me afastei de Kyle, vergonha fervendo no meu sangue.

Ele rosnou em retorno, obviamente nao satisfeito com a


intrusao.

— Voce quer fazer essa bagunça se escondam na garagem como


todo mundo. Garoto, se essas paredes pudessem falar. — Ela riu. —
Alem disso, eu tenho vizinhos, pequenos malandros.

Olhando por cima do ombro para ela, Kyle sorriu.

— Esta aberta?

A louca e velha jararaca sacudiu a cabeça, fingindo estar


enojada.

— Voces dois sao piores que Anthony e Shelby. Eu juro que


aqueles dois fizeram s...

— Vovó. — eu assobiei, — calada. — Estendendo meu braço em


direçao ao quintal, continuei. — As crianças estao la.

— Nao, eles nao estao. Eles estiveram no quintal nos ultimos


cinco minutos. Agradeça ao bom Deus la em cima tambem, ja que
voces dois pervertidos estavam aqui fazendo um show e profanando
minha varanda recem pintada.

Eu desejei que o chao se abrisse e me engolisse inteira.

A serio.

Isso é tão embaraçoso!

Os olhos de vovo se moveram para Kyle.

— Falando em fazer o sujo, eu preciso falar com voce, Hulk.

— Sobre o que?

— Sobre o seu equipamento de fazer bebe.

— Vovo!
Ignorando-me, ela manteve os olhos focados no meu cara.

— Eu e sua mae conversamos. Ela quer um neto para


mimar. Voce precisa entender isso.

Juro por Deus, meus olhos se arregalaram ao tamanho de pires.

Eu abri minha boca para dizer a ela para fechar, mas Kyle falou
antes que eu pudesse.

— Trabalhando nisso. — disse ele, com um enorme sorriso se


espalhando pelo rosto. — Me de a chave da garagem e eu vou
trabalhar duro neste minuto.

Minhas bochechas arderam.

— Voce nao acabou de dizer isso. — eu sussurrei.

— O inferno que eu nao fiz. — respondeu ele.

Vovo abriu a porta e entrou na varanda. Vestindo um sorriso


desonesto, enfiou a mao pela blusa e tirou um conjunto de chaves
antes de entrega-las a Kyle.

— Va ate la. Sua mae precisa de um neto... assim como Daryl.

Kyle balançou as chaves do final de seu mindinho, claramente


estranhando.

— Isso estava no seu sutia?

— Claro que estava. E onde guardo tudo. Meu celular, minhas


chaves, meu pente, meu batom, meu dinheiro, meu frasco.

— Seu frasco? — Kyle perguntou.


Vovo assentiu.

— Seu palpite esta certo. Melhor lugar para isso. O unico


problema em que me deparo e quando perco algo e tenho que cavar
para ele. Ora, eu estava em Kroger na semana passada e...

Eu ja ouvi o suficiente.

— Tudo bem, Velha Jararaca Louca. — eu disse, lutando contra


o riso. — Nos nao precisamos saber sobre o material que voce
esconde em seu sutia.

Ela estreitou os olhos para mim.

— Voce de repente ficou tao educada.

Chave na mao, Kyle se levantou, me levando com ele.

— Cuide da minha mae, Velha Louca Jararaca.

— Ela esta na cozinha fazendo tortas. — respondeu vovo,


fazendo Kyle parar.

Ele virou a cabeça e olhou para ela.

— Tortas?

Ela assentiu.

— Sim, tortas. Fez tres, e ela esta indo para a cidade para
algumas mais. Daryl e Felix ja estao sentados a mesa como dois
cachorros a espera de seu jantar. — Ela mais uma vez acenou com a
mao em um gesto desdenhoso. — De qualquer forma, eu peguei
ela. Voces vao se divertir… Mas nao fiquem fazendo nenhum negocio
engraçado no meu carro novo! Eu se encontrar uma unica marca na
cera e vou atirar em voce.

Kyle riu porque achou que ela estava brincando.

Ela nao estava.

— Nos estaremos dentro a tempo para o jantar.

Foi a ultima coisa que Kyle disse antes de começarmos a nos


mexer novamente.
CAPÍTULO 35
Kyle
Carissa estava presa.

Incapaz de se mexer, eu tinha os pulsos dela presos nas maos,


os braços estendidos acima da cabeça e as costas dela pressionadas
contra o revestimento de metal que cobria a parede da
garagem. Bochechas coradas de excitaçao, seus labios se separaram
um pouco, e seus olhos, seus lindos olhos fodidos, estavam cheios de
luxuria.

Meu pau nunca esteve mais duro.

Deslizando minha mao livre sob sua camisa, eu toquei sua


barriga nua, subindo em suas costelas ate seus seios perfeitos. Ela
gemeu, sacudindo a cabeça de um lado para o outro quando eu
peguei a carne gorda em minhas maos e apertei. Meu pau se
contorceu quando seu mamilo coberto de renda endureceu sob a
minha palma, a ponta cor de rosa apenas implorando para ser
lambida, chupada e mordida.

Precisando prova-la, mergulhei meu rosto e mordi o lobulo de


sua orelha antes de arrastar meus labios e língua pela coluna
sensível de sua garganta.

Ela engasgou antes de se contorcer contra mim, esfregando


suas curvas suaves contra a minha dureza.

— Diga-me o que voce quer, baby. — eu sussurrei, plantando


beijos no outro lado do seu pescoço enquanto eu fazia o meu
caminho de volta. — Eu vou te dar qualquer coisa.

Sua cabeça caiu para tras, batendo no reboco.

— Eu quero o que voce quiser. — Suas palavras eram ofegantes,


seu tom necessitado. — Por favor, Kyle.

Eu sorri contra ela antes de raspar levemente meus dentes ao


longo de sua mandíbula.

— Voce tem certeza disso?

— Sim.

Uma palavra; uma resposta.

Era tudo que eu precisava.

Soltando seus pulsos, dei alguns passos para tras, dando espaço
para ela se afastar da parede.

— Venha aqui. — eu disse a ela. — Agora, princesa.

Ela começou a andar.

Sem hesitaçao.

Parando na minha frente, ela afundou os dentes em seu labio


inferior. Toda vez que ela mordeu ou lambeu os labios, eu so
conseguia pensar em uma coisa. E essa coisa? Era algo que ela nao
tinha me dado ainda.

— Fique de joelhos.

Seus olhos brilharam mais uma vez, ela nao hesitou.


De joelhos, ela estava preparada para pegar o que eu estava
prestes a dar a ela.

Meu peito arfava quando soltei o cinto, abri o botao e puxei o


zíper para baixo. Empurrando minhas calças, juntamente com
minha cueca para baixo de meus quadris, eu assisti quando meu pau
saltou livre, a cabeça ja umida com gotas de pre-gozo.

Tomando-me na minha mao, eu bombeei meu punho para cima


e para baixo do meu eixo, apertando com força para que minhas
bolas recebessem a mensagem para acalmar a porra da
boca. Atraídos, apertados e carregados de sementes, estavam
prontos para explodir.

Isso nao estava acontecendo.

Ainda nao.

— Me de sua mao, Carissa.

Liberando meu pau, envolvi meus dedos em torno de seu pulso


e guiei sua mao para mim. No momento em que sua mao de seda
circulou meu comprimento, eu respirei fundo.

— Boa garota. Agora mova a mao para cima e para baixo — eu


cobri a mao dela com a minha — assim.

Eu gemi quando ela me bombeava, encontrando rapidamente o


ritmo certo.

— Agora abra sua boca e me leve para dentro.

Ela fez o que eu pedi.


O unico problema foi que ela me levou muito fundo no primeiro
golpe.

Um erro de novata.

Ela engasgou antes de se afastar.

— Calma, baby. — eu disse, segurando o cabelo para tras do


rosto. — Meu pau e muito grande para voce fazer garganta profunda,
menina bonita. Apenas va devagar e pegue o que puder.

Assentindo, ela me agarrou forte e me puxou de volta para


dentro de sua boca quente, arrastando sua língua ao longo do lado
de baixo do meu pau antes de girar em torno da ponta sensível e
sugar a cabeça. Meu estomago apertou quando arrepios correram
pela minha espinha.

— Foda-se, baby. — eu assobiei, — apenas assim.

Encorajada e aprendendo rapidamente, ela apertou os labios


em volta de mim e sugou. Duro.

Minhas costas se curvaram.

Usando o cabelo dela, eu puxei de volta os fios, sacudindo a


cabeça para tras.

Meu pau se soltou de seus labios e ela choramingou em


protesto.

— Porque voce fez isso?

Porque eu estou perdendo a minha mente...

— Levante-se. — Quando ela nao se moveu rapido o suficiente,


eu deslizei minhas maos sob seus braços e levantei-a para seus
pes. Entao eu a girei e caminhei de volta para a parede. Com apenas
alguns pes me separando dela e da parede, coloquei uma mao no
meio de suas costas e pressionei para baixo. — Curve-se, Carissa.

Ela olhou para mim por cima do ombro.

— O que?

— Carissa... — uma risada impaciente derramou dos meus


labios — ...voce disse que queria o que eu quisesse... isso e o que eu
quero. Incline-se e pegue seus tornozelos.

— E voce diz que eu sou atrevida.

Eu sorri quando ela fez o que eu pedi, levantando sua bunda no


ar.

Controle deslizando, eu me aproximei e levantei a saia de seu


vestido, empurrando-o sobre as costas e revelando sua bunda
redonda.

— Jesus, baby.

Incapaz de resistir, eu espanquei uma bochecha, depois a outra.

O grito surpreso de Carissa se transformou em um gemido.

— Voce gosta disso?

Ela assentiu, mas isso nao foi bom o suficiente para mim.

— Me de sua voz, princesa.

— Sim. — ela gaguejou, sua respiraçao irregular e rapida.


— Voce quer mais?

Outro sim.

— Nao se preocupe. Eu vou dar a voce. — Deslizando meus


dedos na virilha de sua calcinha, eu a puxei para o lado, colocando
sua carne encharcada em exibiçao. — Voce sempre fica molhada
para mim? — Eu perguntei, arrastando as pontas dos dedos sobre
os labios da sua boceta. — Ou hoje e especial?

— Sempre. — ela sussurrou, movendo os quadris de um lado


para o outro, me incentivando a enterrar-me ao maximo. — Kyle, por
favor, eu nao posso...

— Eu sei, baby. — Eu me aproximei, pressionando a cabeça do


meu pau para sua entrada. — Voce pode ficar quieta?

Ela hesitou antes de responder.

— Eu nao sei.

Porra.

Sabendo que eu precisava fazer alguma coisa, procurei na


garagem algo para abafa-la. Carissa nao ficou quieta na primeira vez
que eu tive meu pau nela e ela com certeza nao ficaria desta vez. Eu
fui mais facil para ela antes, mas agora? Eu estava prestes a foder sua
boceta crua.

O brilho da fivela do meu cinto me chamou a atençao.

Agarrando-o com a mao livre, eu o arranquei do cinto e o dobrei


ao meio. Inclinando-me para a frente, enfiei o couro entre os labios
de Carissa.
— Morda, baby. — Depois que ela afundou seus dentes na
mordaça improvisada, eu me levantei e bati na sua bunda
novamente, recompensando-a. — Essa e minha garota.

Uma gota de suor escorria da minha testa quando eu deslizei a


cabeça do meu pau atraves de suas dobras, juntando sua umidade
com a ponta. Assim como antes, os desejos primitivos me
atormentaram, exigindo que eu a levasse.

Desta vez, nao lutei contra meus instintos.

Em vez disso, eu os abracei.

Com as maos nos quadris, eu bati em seu calor molhado em um


impulso rapido, enterrando cada centímetro de mim dentro dela. Eu
nao dei a ela uma chance de recuperar o folego, nem de se ajustar
antes de encontrar um ritmo punitivo que fez minhas bolas baterem
contra seu clitoris inchado com cada impulso.

Meu cinto fez o seu trabalho, abafando seus gritos quando eu


bati nela repetidamente, cavando meus dedos em seus quadris
arredondados. Sua boceta flutuou sobre o meu pau, me sugando, me
provocando, porra, me implorando para derramar dentro dela.

Era algo que eu nao permitiria que acontecesse.

Ainda nao.

— Coloque sua mao... — grunhi enquanto sua carne apertava a


minha — ...entre suas pernas. Brinque com minha boceta por
mim. A faça gozar por todo o meu pau gordo.

Ela choramingou quando a mao dela escorregou entre as


pernas, dedilhando seu pequeno e doce clitoris. Seus quadris
resistiram quando uma sacudida de prazer rasgou atraves dela,
enviando arrepios correndo por sua espinha.

— Kyle! — Ela gritou ao redor do couro.

Sua boceta me chupou, massageando meu comprimento.

O som da minha mao pousando na bunda dela, duro,


reverberou pela sala ecoando nas paredes enquanto os gemidos da
minha menina ficavam mais altos.

Como eu, ela estava perto.

— Mais rapido, Carissa. Esfregue seu clitoris mais rapido, baby.

Meus golpes vieram mais fortes, meus dedos cavaram mais


fundo.

Em poucos segundos, ela arqueou as costas e sua boceta


apertou, sufocando meu pau quando ela começou a gozar.

Empurrando.

Gritando.

Gozando.

— Foda-se! — Incapaz de se segurar uma vez que seu orgasmo


começou o meu, eu bati em sua bunda uma ultima vez, agarrei seus
quadris com mais força e enterrei minhas bolas profundamente
quando a minha porra saiu de dentro de mim, enchendo-a. Meus
joelhos ficaram fracos, minha cabeça leve, mas eu me recusei a me
mover ate esvaziar a ultima gota da minha semente dentro dela.

Segundos, inferno, podem ter sido minutos, passaram antes que


eu recuperasse o controle.

Afastando-me da minha garota, eu a ajudei a ficar em pe e a


levantei para me encarar. Quando seus olhos semicerrados
encontraram os meus, bati meus labios nos dela, dando-lhe um beijo
tao brutal quanto a porra que eu acabara de dar a ela.

Precisando respirar, puxei meus labios dos dela.

Eu inalei; entao eu exalei.

— Isso foi... — Carissa começou.

— ...perfeito. — eu terminei por ela. — Como voce, foi perfeita.

O sorriso brincou em seus labios roubou minha respiraçao.

— Obrigada.

— Por que? Foder voce? Garota linda, voce nao precisa...

Ela pressionou um dedo nos meus labios, me silenciando.

— Nao. Eu quis dizer, obrigada por me amar, Kyle. Por


esperar. Por lutar para superar tudo. Apenas... obrigada.

— Isso e uma coisa pela qual voce nunca tera que me


agradecer. A partir de agora ate o dia em que eu morrer, meu amor
sera dado a voce livremente, Carissa. Confie em mim.

— Eu confio em voce. — ela respondeu docemente. — Sempre.

Sempre.

Isso e o que eu estava contando.


CAPÍTULO 36
Carissa
Uma hora se passou desde que Kyle e eu estamos na garagem, e
eu ainda nao consegui absorver, nem o que tínhamos feito em minha
mente. Nunca em minha vida imaginei que me comportaria de tal
maneira, apostaria que mamãe rolaria em seu túmulo, mas estaria
mentindo se dissesse que me arrependi.

Porque eu nao fiz.

Em absoluto.

Nao importava que minhas pobres entranhas estivessem


provavelmente machucadas e doloridas, nem importava que eu
ainda pudesse sentir Kyle dentro de mim cada vez que me movia; o
que tínhamos feito me animava, me excitando de uma maneira que
nunca havia experimentado antes.

Quando saímos de maos dadas, nem uma unica pessoa piscou


em nossa direçao. Eu estava com medo, bem, mais mortificada, que
alguem nos tivesse ouvido, mas ate onde eu sabia ninguem tinha
ouvido.

Vovo nao tinha nem me incomodado.

Quando eu entrei na cozinha minutos antes para pegar um copo


de cha doce para Hope, a velha louca jararaca simplesmente me
entregou uma colcha dobrada e jogou uma piscadela na minha
direçao antes de continuar a comer frango suficiente para alimentar
um exercito.

Embora seu comportamento tivesse sido inesperado, nao


deveria ter sido.

Pelo que Maddie me contara, vovo tinha sido uma criança


selvagem em seus dias. A filha mais velha de um infame traficante,
ela era uma renegada nascida natural com um forte desgosto por
regras e ideias preconcebidas de como certas coisas deveriam ser.

O que explica muito.

De sua roupa para sua atitude, vovo era uma rebelde ate o
nucleo.

Eu quero ser como ela um dia...

Um pensamento mais verdadeiro nunca existiu.

Vovo pode ser mais louca do que um rato de casinha, mas ela
era amada por muitos. Um olhar ao redor do quintal dela, e as
pessoas que estavam espalhadas em todas as direçoes, eram
evidencias disso.

O que me traz ao agora...

Sentada sob um carvalho, minha bunda caiu na mesma colcha


que vovo me entregara na casa, silenciosamente deslizei meu olhar
pelo quintal, observando as posiçoes de todos e o que eles estavam
fazendo.

Ao meu lado estava Heidi e ao lado dela estava Ashley.

Do meu outro lado estava Maddie e em frente a nos estava Hope,


que estava sentada entre Clara e Shelby.

Em direçao ao meio do quintal, Kyle junto com Hendrix, Evan,


Brantley Ty e Chase estavam jogando com Liam, Declan e Lucca,
enquanto Anthony, que segurava uma Gracie dormindo em seus
braços, estava ocupado tomando um cha. Na festa com Melody e
Bella em uma mesa de piquenique laranja e amarela. Vestindo uma
coroa de princesa, poa de penas cor-de-rosa e oculos de sol roxos em
forma de estrela, ele parecia muito distante do detetive de
homicídios que a maioria das pessoas o conhecia.

Eu simplesmente adorei.

Sentados em uma fileira de cadeiras de balanço ao longo da


varanda dos fundos, estavam Felix, papai e Keith; junto com
Charlotte, que estava balançando o bebe Ryker para dormir, e Pop,
que estava ocupado soprando framboesas na barriga de uma Maci
rindo.

Foi a coisa mais fofa de todas.

Na casa, vovo e Dottie ainda estavam cozinhando, nao


permitindo que ninguem mais ajudasse com uma unica coisa. Eu
ofereci e assim o resto das senhoras, mas a velha louca jararaca
enxotou todos nos para fora.

Apesar de suas numerosas ameaças, ela nao tinha sido capaz de


me impedir, nem de Kyle, de verificar Dottie a cada quinze minutos.

Ela estava bem.

Mais do que bem.

Isso fez meu coraçao feliz de ver.


— Entao, C. — disse Shelby, puxando-me dos meus
pensamentos. — Como estao as coisas entre voce e o bombeiro?

Apesar de sua descriçao nao tao legal de Kyle, eu nao pude


deixar de sorrir quando peguei a saia do meu vestido.

— Bem.

— Tudo bem? — Hope perguntou, com um olhar sonolento no


rosto. — Eu estou chamando seu blefe. Voce esta muito mais do que
bem.

Dei de ombros, mas nao disse nada.

Ela riu.

— Seu silencio e toda a resposta que eu preciso. Voce esta


apaixonada por ele, voce nao esta, C?

— Ela nem precisa responder a isso. — Maddie interveio. —


Nos ja sabemos a resposta. Esta escrito em todo o rosto dela.

Ao meu lado, Heidi riu e sussurrou.

— Essa e a verdade.

Eu abri minha boca para dizer-lhes para cuidar de seus


proprios negocios, de uma forma ludica, e claro, mas Ashley falou
primeiro, interrompendo-me.

-O amor e uma coisa linda. Nos deveríamos estar felizes com


isso.

— Estamos felizes, boba, — acrescentou Hope. — Mas eu sei o


suficiente dos meus sentimentos por Evan antes de nos
ficarmos juntos, a reviravolta e justa. — Ela tinha razao nisso. —
Entao fechei o bico.

Shelby parecia que ela estava prestes a sair de sua pele


enquanto ela olhava para sua filha adotiva avaliando os
olhos. Subindo de joelhos, ela cruzou os braços sobre o peito.

— O que voce sabe sobre o amor? — Ela arqueou uma


sobrancelha. — Voce tem algo que voce quer me dizer?

Oh Senhor, aqui vamos nós...

O rosto de Ashley ficou da mesma cor de um hidrante, mas ela


se recuperou rapidamente.

— So que eu amo tacos, e acho que voce deveria me comprar


mais deles. — ela respondeu, sendo uma espertinha.

Clara levantou os braços em vitoria.

— Essa e minha garota!

Como se na sugestao, Chase escolheu aquele momento para


correr e cair ao lado de Ashley na colcha. Jogando um braço sobre os
ombros, ele deu um beijo suave na tempora.

— Ei, doçura.

A boca de Shelby ficou boquiaberta.

Ao meu lado, ouvi Maddie murmurar.

— Oh merda. — segundos antes de uma outra voz, a Hendrix,


gritou. — Ty obtenha o seu irmao longe da minha sobrinha antes de
Anthony ou Shelby atirarem nele... ou antes de eu mata-lo.
Se eu fosse Chase, a primeira coisa que teria feito depois de
vislumbrar os rostos dos pais de Ashley era se afastar. Chase, no
entanto, ele nao fez isso. Teimoso e rebelde como eles vem, ele se
manteve firme, ignorando todos, menos Ashley.

O menino tem um desejo de morte...

— Voce vai me encontrar no cinema amanha a noite? —


perguntou ele, aproximando o rosto do dela. — Esse novo filme que
voce quer ver esta saindo.

Ashley olhou de Shelby para Anthony; depois de volta para


Shelby novamente. Abrindo e fechando a boca, ela se atrapalhou por
algo para dizer.

— Eu vou busca-la. — continuou Chase. — Eu sei que voce


odeia dirigir a noite.

— Nao ha uma chance no inferno. — disse Anthony, pisando em


nossa direçao, carregando uma agora muito acordada, e pelo som,
muito chateada, Gracie em seus braços. Ainda usando a coroa de
princesa de plastico e a vestido de festa do cha, ele parecia
absolutamente ridículo enquanto encarava Chase. — Minha filha
nao vai a lugar algum com voce. Voce quer passar tempo com
ela? Bem. Mas voce faz isso debaixo do meu teto, onde posso
garantir que voce mantenha suas maos para si mesmo.

— Papai... — Ashley soltou uma respiraçao embaraçada.

— Nao, Ashley. — interrompeu Anthony. — Eu nao vou me


arrepender disso.

Nao querendo ser pega no meio da bagunça que estava prestesa


acontecer, levantei e estendi meus braços, pegando Gracie.

— Eu vou leva-la, Tony.

Anthony acenou com a cabeça uma vez antes de entregar sua


filha mais jovem.

Segurando-a em meus braços, dei um passo para tras e acenei


na direçao de Hope e Clara.

— Voces duas vem comigo. — eu sussurrei, nao querendo


chamar a atençao. Eu nao tinha certeza do que estava prestes a
acontecer entre Anthony e Chase, mas Clara e Hope, ambas estavam
gravidas, nao precisavam estar perto dessa briga.

Maddie e Heidi escolheram esse momento para vir e ajudar as


duas gravidas a se levantarem.

Sentindo-me um pouco melhor, conduzi o pequeno grupo ate o


meio do patio, onde todos os rapazes, incluindo os tres pequenos,
ainda estavam de pe, observando o que estava acontecendo

Eu fui ate Kyle.

Ele sorriu para Gracie antes de colocar as maos nos meus


quadris e me virar. Entao, de costas para o peito dele, ele me puxou
contra ele e passou os braços em volta de Gracie e de mim.

Gracie imediatamente se acalmou.

Pairando seus labios ao lado da minha orelha, meu cara


sussurrou.

— Senti muito sua falta, menina bonita.


O homem era tao doce quanto uma torta de pessego.

Eu torci e pressionei um beijo em sua mandíbula.

— Senti sua falta tambem, Hulk.

Ao nosso lado, Hendrix, que agora tinha Bella e Melody subindo


em cima dele, tocou no braço de Ty.

— Cinquenta dolares para que meu cunhado grite chamando o


seu irmaozinho de... — ele olhou para as duas garotinhas — ...asma...
ele vai gritar sua asma.

— Hendrix Cole — disse Maddie, com as maos nos quadris —


juro que, se alguma das minhas garotas começar a xingar, Chase nao
sera o unico a ter asma.

— Cem dolares para que Maddie pode falar sua asma, Cole. —
Ty disparou de volta.

Clara, que tinha os braços em volta da cintura de Brantley, com


a cabeça apoiada no peito, acrescentou:

— Pague-me cinquenta pratas e eu mesma irei chutar


a asma de Chase.

Na minha frente, Heidi bufou, chamando a atençao de Ty.

Um sorriso se espalhou por seu rosto enquanto seus olhos se


moviam sobre ela, começando na ponta dos pes e terminando no
topo de seu cabelo preto como tinta.

Eu queria bater nele.

Mas um segundo depois isso mudou e a vontade de dar um tapa


nele diminuiu.

Erguendo as duas maos no ar, Ty olhou diretamente para Heidi


e gesticulou.

— Ei, Anjo. Eu estive esperando por voce vir ate aqui.

Minha boca se abriu.

— Espere. — disse Hope para Ty, seus olhos enormes. —


Quando voce aprendeu ASL?

Os olhos de Ty nunca deixaram os de Heidi quando ele


respondeu:

— Quando conheci Heidi pela primeira vez.

— Bem, merda. — Evan amaldiçoou ao lado de Hope.

Nao acostumada a ser o centro das atençoes, Heidi corou e


desviou o olhar, roendo o labio inferior nervosamente.

— Aww, Heidi Bug. — Hendrix começou. — parece que voce


esta...

Eu estava a beliscar Hendrix quando Chase me chamou a


atençao. Afastando-se de Ashley, ele parecia mais furioso que um
sapo inchado. Quando ele chegou ao portao que levava ao jardim da
frente, ele se virou, lançando um olhar para Anthony.

— Ela nao vai viver sob o seu teto para sempre, Moretti. — ele
rosnou. — Lembre-se disso.

Chase fechou o portao atras dele.


Entao ele desapareceu.

Ty sacudiu a cabeça.

— Aposto que as paredes do meu apartamento serao decoradas


com alguns novos buracos hoje a noite. — Ele olhou para Kyle. —
para o controle da raiva.

Meu estomago torceu com a expressao agonizante que Ashley


usava enquanto olhava para o lugar onde Chase acabara de
desaparecer. Braços cruzados sobre o peito, ombros caídos, ela
parecia derrotada.

E ferida.

Tao, malditamente machucada.

Isso quebrou meu coraçao em um milhao de pedaços.

Eles estão fazendo progresso...

Com pensamento na minha cabeça eu estava ao lado da ilha na


cozinha da vovo, observando Kyle e Dottie, ambos sentados a mesa
da cozinha, conversando. Nenhum deles tocava um ao outro, mas a
expressao em seus rostos me dizia tudo o que eu precisava saber.

Eles estavam felizes.

Apesar dos problemas que ainda tinham e das lutas que ainda
enfrentavam, naquele momento precioso, nao estavam
sobrecarregados pela culpa, raiva ou arrependimento que ambos
carregavam por tantos anos.

Naquele momento, os dois pareciam livres.

— Bem. — disse vovo, correndo ao meu lado e cutucando meu


braço com o dela. — Eu nao sei o tipo de magia que voce trabalhou,
querida, mas voce fez um belo trabalho — ela apontou para Kyle e
Dottie — com a situaçao por la. — Ela sorriu um grande sorriso
cheio de dentes. — Estou muito orgulhosa de voce.

— Eu nao fiz muito.

— O inferno que voce nao fez. Dottie me contou tudo sobre


como voce a tratou com compaixao e paciencia. Eu sei que nao foi
facil fazer isso considerando a situaçao.

— Eu... — eu comecei.

— Por que, eu nao posso imaginar carregar toda essa culpa por
tanto tempo. — ela interrompeu. — Parece que depois de um tempo
isso destruiria tudo de bom em voce e nao deixaria nada alem de
podridao.

Eu congelo.

— Quero dizer, voce pode imaginar manter tudo isso dentro de


voce, apenas deixando que a comsumise pouco a pouco? — Ela
balançou a cabeça. — Eu nao posso endenter isso.

Meus ombros caíram.

Eu dei um passo instavel para tras.

— Carissa? — A voz de vovo se encheu de preocupaçao. —


Baby, o que ha de errado?

— Eu posso. — eu sussurrei. — Eu posso imaginar isso


perfeitamente... porque eu vivo com isso todos os dias.

Vovo estendeu a mao para mim, mas eu recuei, evitando o


alcance dela.

— Kyle. — disse ela, nunca tirando os olhos dos meus. — venha


ate aqui.

Ouvi o arranhar da cadeira de Kyle enquanto ele se levantava,


empurrando-a para tras, ecoou pela cozinha no mesmo instante em
que papai, seguido por Heidi, entrou na sala. Ao ver seus rostos, algo
dentro de mim quebrou, e cada segredo sombrio que eu carregava
em minha alma desde que eu tinha dezesseis anos se derramou de
mim, enegrecendo tudo o que tocava.

— Eu sinto muito, papai. — eu chorei, sentindo os braços de


Kyle envolvendo minha cintura por tras. Ele murmurou alguma
coisa no meu ouvido, mas eu nao conseguia ouvir nada alem do bater
do meu proprio coraçao. — Sinto muito, Bug. — eu continuei. — Eu
sinto muito.

Papai foi direto para mim, um olhar horrorizado no rosto.

— Carissa Ann, o que no mundo...

— Eu a matei. — eu chorei, sentindo meu interior se


transformar em um milhao de nos.

O panico voou pelo rosto de vovo.

Um soluço partiu do meu peito.


— Eu matei ela.

A histeria tomou conta.

Meus olhos encontraram os de Heidi quando ela deu um passo


a frente e gesticulou.

— Matou quem?

Sabendo muito bem, que eu estava prestes a perder a minha


família, mas incapaz de manter a culpa por mais tempo, fechei os
olhos e deixei a verdade acida sair da minha língua.

— Mamae. — eu disse, as lagrimas entupindo minha


garganta. — Eu matei ela.

A capacidade de respirar desapareceu.

Eu nao consigui a respirar.

Com a visao escurecendo, eu me inclinei contra Kyle.

Minhas pernas tremiam; meu coraçao bateu mais rapido.

Granulos de suor irromperam ao longo da minha pele.

Eu comecei a cair.

Meu ultimo pensamento antes de tudo ficar preto? É tudo culpa


minha…

Kyle me segurou em seus braços.

Sentado no centro do sofa da vovo, ele me embalou como se


fosse um bebe, me balançando para frente e para tras. Um papai em
panico e Heidi chorosa estava no final do sofa, com os olhos fixos em
mim. Eu nao conseguia ver onde vovo estava, mas podia ouví-la
andando.

E Dottie

Oh Deus... ela testemunhou tudo isso.

Meus olhos se fecharam enquanto lagrima apos lagrima


escorria pelo meu rosto, deixando minha vergonha para todos na
sala verem.

— Sinto muito, papai. — eu sussurrei. – EU...

— Carissa Ann. — ele começou. — Eu nao sei o que esta


acontecendo nessa sua cabeça, mas voce nao fez nada com a sua
mae. Cancer a roubou de nos. Nao voce, baby.

— Voce nao entende...

Kyle, que nao disse uma palavra antes disso, rosnou.

— Nao se atreva.

Meus olhos se abriram.

— O que?

— Todo esse tempo. — disse ele, balançando a cabeça. — Todo


esse tempo voce estava tao ocupada consertando todos os outros
que voce nao poderia se consertar. — Soltando sua cabeça para
frente, ele pressionou sua testa na minha. — Isso termina agora,
menina bonita.
— Kyle...

— Voce nao me venha com Kyle, princesa. Eu nao dou a mínima


se o seu pai esta a um metro e meio de distancia, eu vou te colocar
no meu maldito joelho.

Eu permaneci em silencio.

— Vai doer. — ele continuou, — mas voce tem que confessar


cada sentimento fodido que habita nessa sua cabecinha linda. — Eu
balancei a cabeça, mas ele removeu o braço que estava debaixo das
minhas pernas e agarrou meu queixo, parando todo movimento. —
E uma vez que voce fizer isso, voce vai deixar passar. Cada pedaço de
raiva, culpa de tristeza... voce tem que deixar pra la, baby.

Nao era tao facil.

— Entao vamos trabalhar com isso. Eu e voce. Juntos.

Suas palavras foram preenchidas com uma determinaçao tao


crua que me fez sentir esperançosa.

Posso passar por isso?

— Esta pronta?

Eu hesitei por um momento antes de concordar.

— Estou pronta.

Um sorriso inclinou seus labios em um canto.

— Boa menina.

Eu lutei para mante-lo junto quando Kyle me ajudou a sentar e


deslizar para a almofada ao lado dele. Ele passou um braço sobre os
meus ombros, ele me segurou enquanto ainda me dava espaço para
respirar.

Querendo me esconder e precisando me proteger dos olhares


fixos em mim, eu peguei um travesseiro do final do sofa e segurei
contra a mim, usando-o como um escudo o odio que eu estava
convencida a dizer sobre mim.

Eu respirei fundo.

Entao comecei a conversar.

— Foi a noite antes do diagnostico terminal de mamae. — Um


no se formou na minha garganta, mas eu me forcei a continuar
falando. -Naquela noite foi ruim. Muito ruim. Mamae estava tao
enjoada de sua ultima rodada de quimioterapia que nao conseguia
sair da cama. Ela estava usando uma fralda porque nao conseguiu
chegar ao banheiro. Eu estava notando isso o dia todo porque ela
tinha vergonha de deixar o papai fazer isso e a enfermeira que nos
tínhamos era muito rude com ela.

Assim como fez todos aqueles anos atras, meu coraçao começou
a doer quando se encheu de tristeza agonizante.

— Eu nao me importei de fazer isso, nem um pouco, mas


mamae odiava e chorava a todo momento. Ser destituída de sua
dignidade foi a pior parte de seu diagnostico. — A dor no meu peito
se intensificou. — Essa foi a noite em que ela me disse que gostaria
que o papai a levasse para fora e atirasse nela como se fosse um
cachorro. — Meu queixo vacilou, mas eu continuei lutando, exigindo
que meu corpo e mente segurassem juntos.
Só mais um pouco...

— Depois que eu limpei ela pela ultima vez e coloquei uma


camisola limpa nela, eu a coloquei na cama. A enfermeira tinha ido
fumar, entao eu estava ajudando mamae a tomar o remedio que ela
havia separado para ela. — Meus olhos encontraram os do papai. —
Voce sabe que levava um tempo para engolir todas as pílulas desde
que elas eram tao grandes, e sua garganta ficou tao seca que
precisava tomar a garrafa inteira. Naquela noite, ela queria acabar
com tudo, mas eu nao deixaria.

Foi a unica decisao inteligente que eu fiz.

— Depois que eu a peguei, beijei-a na cabeça e disse a ela que a


amava. Ela me disse que me amava de volta, mas tambem me contou
como estava cansada. Com cansaço do coraçao, cansaço da alma,
cansaço dos ossos, ela tinha todos os tres.

Apesar de lutar para nos segurar, ela estava pronta para ir.

— Quando ela adormeceu, eu caminhei pelo corredor. A


primeira coisa que ouvi foi Heidi vomitando no banheiro. Como
mamae, ela estava doente, embora de uma maneira diferente. Sendo
comida pelo estresse, ela estava perdendo peso, sua pele estava mais
palida do que o normal, e ela mal passava por suas aulas na escola.

Eu deveria ter cuidado melhor dela...

— Depois de ajuda-la a se limpar e ir para a cama, desci para


pegar um copo de agua e ouvi papai no telefone. — eu disse a
todos. — Ele estava pedindo ao seu chefe um pequeno emprestimo
porque depois que ele terminasse de pagar o remedio de Mama, ele
nao tinha mais dinheiro. Eu o ouvi dizer ao seu chefe que ele tinha
estourado todos os cartoes de credito, estava com a hipoteca
atrasada e que ele nao tinha dinheiro suficiente para alimentar Heidi
e eu durante a semana.

Os olhos de papai se fecharam de vergonha.

Coraçao partido deslizou pelo rosto dele.

Eu odiava isso.

— Ouvir isso foi a gota d'agua. — eu disse. — Voltei para o


andar de cima sem pegar agua, entrei no meu quarto e caí de joelhos
ao lado da cama. Entao eu orei.

Algo que eu gostaria de nao ter feito.

— Eu implorei a Deus para que tudo acabasse. Rezei para que


ele desse alívio a mamae, rezava para que ele curasse Heidi, rezei
para que ele guiasse papai para uma soluçao financeira, e rezei para
que ele me segurasse enquanto eu estava ocupada tentando manter
tudo em ordem.

Vergonha seguida de auto-aversao floresceu no meu peito.

No dia seguinte, descobrimos que mamae nao tinha mais


opçoes e que ela ia morrer. Embora nao do jeito que eu pretendia,
Deus respondeu, me dando o que eu pedi.

Meu corpo inteiro tremeu, enquanto eu olhava papai nos olhos.

— Voce nao ve, papai? Se eu nao tivesse sido tao fraca, se nao
tivesse sido tao egoísta, se nao tivesse orado para que Ele aliviasse o
cancer dela, ela poderia nao ter morrido. Foi tudo culpa minha.
Os dedos de Kyle afundaram no meu ombro; seu braço tremeu
contra mim.

— A culpa esta me comendo viva. A partir do momento em que


vi voce e Heidi desmoronarem no funeral dela, soube que arruinei a
vida de todos; tudo porque eu fui egoísta e nao conseguia mais lidar
com a dor e o estresse.

Com os olhos ainda focados nos seus, inclinei a cabeça para o


lado, deixando as lagrimas que saíam dos meus olhos deslizarem
pelas minhas bochechas.

— Sinto muito, papai. — Eu olhei para Heidi. — Eu juro que


sinto, Bug. Por favor nao me odeie. Se eu pudesse voltar...

Antes que eu pudesse terminar, Heidi se moveu.

Correndo em minha direçao, ela bateu as maos nas minhas


bochechas encharcadas de lagrimas e me forçou a olhar para
ela. Furia descontrolada sangrou em suas pupilas e por um
momento eu temi que ela me batesse.

Ela nao fez.

Em vez disso, ela sussurrou as palavras que eu precisava ouvir


tao mal quanto eu precisava da minha proxima respiraçao.

— Nao ha nada que voce possa fazer para me fazer odiar voce.
— ela disse, usando sua voz. — Nem uma unica coisa. — Seus olhos
perfuraram os meus, exigindo que eu ouvisse cada palavra que ela
falasse. – E não e sua culpa, e eu nao vou ouví-la dizer nem um
segundo a mais. A unica coisa culpada para a morte de mamae e o
cancer. — O rosto dela se contorceu quando ela mencionou a palavra
em C de que evitamos falar como se fosse a peste. Nao voce.

— Voce nao esta com raiva de mim?

Ela balançou a cabeça.

— Carissa, voce trocou as fraldas da mamae, voce a alimentou,


deu banho nela, e voce fez tudo que eu nao podia. Foi por causa de
voce que a mamae foi capaz de ficar em casa o tempo que ela passou
antes de passar os ultimos quatro meses no hospital e fora dele. E foi
por tua causa que ela adormeceu limpa e numa cama quente todas
as noites. Nem eu, nem o papai, voce...

— Heidi, eu teria feito isso por qualquer um. Eu...

— Eu sei que voce teria. — ela interrompeu. — E e isso que faz


de voce a pessoa mais linda que ja conheci; por dentro e por fora. —
Mergulhando o rosto, ela pressionou um beijo na minha testa. —
Agora pergunte a papai. Pergunte se ele te odeia, entao eu posso
sentar e ve-lo jogar ter um ataque.

Ao meu lado, Kyle riu.

Eu me inclinei para mais perto dele, esperando que ele me


segurasse mais apertado.

Ele fez.

— Odiar ela? — Papai perguntou, tendo ouvido Heidi. — Voce


tem que estar brincando! — Ele gritou, preparando-se para o que
seria o seu ajuste para acabar com todos os seus ataques, eu tenho
certeza. — Eu nunca odiei uma das minhas filhas e nao vou começar
agora.

Seu sotaque profundo da Georgia ficou mais denso com cada


palavra que ele falou.

— Carissa Ann, voce ouve agora.

— Eu vou deixar voce pegar emprestado meu mata-moscas. —


acrescentou vovo, sua voz cheia de lagrimas.

Papai a ignorou e continuou gritando.

— Heidi se mova para que eu possa ver o rosto de sua irma. Eu


preciso ter certeza de que ela esta me escutando.

Nao foi exatamente isso que eu disse sobre Kyle?

Heidi se moveu, me dando uma visao clara do meu pai.

— Voce... — ele apontou para mim com um dedo tremulo — se


eu ouvir voce se culpar pela morte de sua mae novamente, eu e voce
teremos um problema.

— Papai...

— Nao. — ele retrucou, seu tom exigindo obediencia. — Eu nao


terminei, e voce vai sentar aí e ouvir cada palavra que tenho a dizer
sem me interromper.

Eu permaneci em silencio.

— Nao importa se voce orou a Deus pedindo ou nao, o que


aconteceu com sua mae nao estava em suas maos, baby.

Pausando, ele baixou a cabeça para tras e respirou


fundo. Quando ele endireitou a cabeça e encontrou meus olhos
novamente, minhas costas endureceram. Embora eu nao soubesse o
que ele estava prestes a dizer, sabia que suas palavras mudariam
tudo.

Eu tinha razao.

— Uma semana antes do diagnostico terminal de sua mae, ela


ja planejava parar de lutar.

Espere. O que?

— Como voce disse, baby, ela estava cansada. Depois de anos de


cirurgias, algumas mal sucedidas, outras nao, e varias rodadas de
radiaçao e quimioterapia, ela estava pronta, Carissa Ann... e eu quero
dizer pronta.

Isso nao fez nem um pouco de sentido.

— Entao por que ela segurou? — Eu perguntei, extraindo-me


do aperto de Kyle e ficando em pe. — Depois que ela foi internada
no hospital pela ultima vez, por que ela continuava esperando se a
morte fosse uma escolha que ela ja tinha feito?

Eu tinha que garantir a mamae que eu iria cuidar do que restava


da nossa família uma vez que ela tivesse ido embora antes de ela ir
embora. Se ela estava planejando deixar ir de qualquer maneira, por
que ela lutaria para ficar?

Eu nao entendi.

— A resposta e culpa, Carissa. — acrescentou vovo, falando


comigo pela primeira vez desde o meu episodio na cozinha. — E por
isso que ela demorou tanto tempo para ir. Minha opiniao, ela deveria
ter soltado e encontrado a paz muito mais cedo, em vez de sofrer
tanto tempo.

— Ela deveria ter. — papai acrescentou, lagrimas escorrendo


por suas bochechas.

Eu olhei do papai para a Heidi.

— Voces realmente nao me odeiam?

Ambos abanaram a cabeça.

— Nao. — Heidi respondeu, falando. — Embora eu gostaria de


empurrar o meu pe na sua parte tras por pensar que eu faria.

— Ouça aqui, vadia. — disse vovo, colocando as maos em


punhos nos quadris. — Se alguem esta empurrando um pe para
alguem, vai ser eu.

— Claro que vai. — acrescentou Kyle.

— Voce se sente melhor agora, princesa?

Eu estava.

Eu me senti mais leve tambem, menos pesada.

— Eu estou.

— Bom, baby, porque eu e voce temos muito trabalho a


fazer. Começando agora.

Ele pressionou um beijo no meu ombro coberto de pano, e eu


afundei contra ele, quase derretendo em seus braços.

— Bem... — disse a vovo, — ...depois disso, eu preciso de uma


fatia da torta de maça recem assada de Dottie e uma dose de uísque
ou duas.

— Espero que voce planeje compartilhar o uísque, — disse


papai. — Eu tenho certeza que eu preciso depois disso.

— Vou pegar uma segunda fatia de torta. Minha bunda tem que
manter seu tamanho de alguma forma. – Heidi riu.

Ela está começando a soar como Clara...

Vovo se moveu em direçao a cozinha, com os pes cobertos de


sandalias colados ao chao enquanto ela ia.

— Vamos, todos voces.

Papai e Heidi a seguiram.

Kyle e eu os seguimos.

Quando saímos para o corredor, Dottie estava esperando por


nos.

Sem dizer uma palavra, ela fechou o espaço entre ela e eu, e
colocou os braços em volta de mim. Ela me balançou de um lado para
o outro, acalmando meus nervos em frangalhos e aquecendo minha
alma.

Soltando um suspiro, ela fechou os olhos e encostou a bochecha


na minha.

Entao, ela disse a unica coisa que eu precisava ouvir.

— Voce e meu filho vao fazer um ao outro tao feliz.


Mais lagrimas caíram dos meus olhos quando eu sorri e admiti
uma verdade que senti profundamente.

Essa verdade? Isso é com certeza.


CAPÍTULO 37
Carissa
Quatro semanas depois

Estava chegando perto da meia noite.

Depois de um turno de doze horas no abrigo, e depois de passar


mais tres horas ajudando Heidi a limpar dois condomínios no
condado de Garrison, eu estava cansada. Estar morta em meus pes
nao me impediu de parar no quartel de bombeiros no meu caminho
de volta para o apartamento de Kyle, no entanto.

Bem, acho que agora era nosso apartamento.

Eu nao saí da cama de Kyle desde a primeira noite em que dormi


ali.

Papai nao estava muito feliz com isso, mas ele tambem nao deu
muita importancia. Sabendo que ele estava lutando uma batalha
perdida, ele manteve o seu bufar e ofegar ao mínimo; na maioria das
vezes, de qualquer maneira. Ele ainda gostava de lançar um
punhado de ameaças na direçao de Kyle ocasionalmente, e Deus
sabe que um dia nao passou no qual ele nao ligou ou me mandou
uma mensagem perguntando se ele ja precisava cavar um buraco.

O homem era quase tao louco quanto vovo.


E isso estava dizendo alguma coisa.

Quanto a Heidi, ela se mudou com Anthony e Shelby para que


ela nao estivesse em casa sozinha com as viagens de papai. Apesar
dela me dizer que nao era o caso, eu ainda me sentia mal por
abandona-la. Vendo o quao perto ela e Ashley tinham ficado me
tranquilizou, e diminuiu a dor da nossa separaçao.

Ambas as meninas viveram vidas difíceis.

Elas mereciam nada menos que pura felicidade; algo que elas
encontraram uma na outra.

Por falar em pessoas encontrando felicidade uma na outra, Kyle


e Dottie se uniram. Ambos estavam vendo um terapeuta duas vezes
por semana, e ambos haviam superado grandes obstaculos. Embora
cada um deles ainda tivesse um longo caminho a percorrer, as coisas
estavam melhorando.

Dottie saía de sua concha mais e mais a cada dia e Kyle nao
socava ninguem, nem nada, desde que ele começara a terapia, o que
era um progresso definido. Entao, novamente, Carson nao estava
mais por perto para irrita-lo regularmente.

Pouco depois de sua briga, Carson foi dispensado de seus


deveres. Permanentemente. Kyle pode ter dado o primeiro soco,
pelo qual foi punido, mas Carson ainda estava em liberdade
condicional e considerou que nao era um bom ajuste para o batalhao
por Pop.

O que, de acordo com Hendrix, significava que ninguem gostava


dele.
Ele era sombrio, ele disse. Não confiável.

Eu nao poderia ter concordado mais.

Uma outra grande mudança com Kyle foi que ele sorria mais
agora, algo que eu amava com cada fibra do meu ser. Ele ate brincava
com Hendrix e Ty em uma base regular.

A primeira vez que Hendrix viu Kyle sacudir a cabeça para tras
e rir de algo que vovo disse, achei que ele fosse desmaiar. Ele e Ty
estavam vendo o seu melhor amigo em comum sob uma nova luz, e
pelo que pude perceber, ambos gostaram do novo Kyle muito mais
do que do antigo.

Quanto a mim, amo os dois.

Sim, Kyle teve seus momentos sombrios, como eu suspeitava


que ele sempre teria, mas eu adorava isso nele. Estar apaixonada por
alguem significava que voce ama cada pedaço dele, ate mesmo as
partes feias. Voce nao pode escolher quais partes queria.

Era um pacote.

Bocejando, liguei o sinal de minha vez e virei a direita no


estacionamento da estaçao. Depois de dar a volta e estacionar perto
do caminhao de Kyle, que havia sido consertado, mudei-me para o
estacionamento e saí.

Sem me incomodar em trancar a porta atras de mim, atravessei


o estacionamento escuro, meus pes trabalhando em dobro. Toda vez
que eu atravessava o local, sempre me sentia como se alguem
estivesse olhando para mim.

A sensaçao era pior a noite.


Soava tao estupido, mas porque arvores densas cercavam a
estaçao, eu ficava assustada toda vez que eu estava do lado de fora
sozinha. Heidi uma vez brincou que gorilas viviam na floresta e,
embora eu soubesse que ela estava cheia de merda, isso me
traumatizou. Agora, tudo em que eu conseguia pensar era ser
perseguida por um harem de gorilas com intençao de me rasgar em
pedaços.

Eu sou tão idiota...

Quando meu pe bateu na calçada que levava a porta lateral da


estaçao, eu estava correndo. Tenho certeza que eu parecia uma
palhaça nas cameras de segurança, mas nao dei a mínima
importancia. A unica coisa que me importava era entrar e ficar longe
de qualquer macaco disfarçado que estivesse a espreita nas
sombras.

Eu tinha acabado de chegar a porta quando ela abriu e Hendrix,


de todas as pessoas malditas, veio voando para fora, com pressa para
chegar onde quer que estivesse indo. Antes que ele pudesse parar
seu impulso para frente e antes que eu pudesse pular para fora do
caminho, ele foi direto para dentro de mim.

Hendrix era um cara grande.

Muito maior que eu.

Eu nunca tive a chance de ficar de pe quando nossos membros


se emaranharam.

Um grito escapou dos meus labios quando começamos a cair.

Hendrix de alguma forma contorceu seu corpo, entao ele


aterrissou no concreto primeiro, amortecendo minha queda. O
unico problema foi que eu pousei bem em cima dele. Meu peito
colidiu com o dele e minha testa bateu em seu queixo com tanta
força que eu tinha certeza que iria ferir.

— Merda! — Sentei-me na vertical, empurrando o cabelo para


fora do meu rosto. — Voce esta bem?

Piscando, ele olhou para mim como se estivesse me vendo pela


primeira vez.

— Carissa?

Eu rolei meus braços e atirei-lhe um olhar de descrença.

— Nao, Hendrix, e Jake da State Farm.

Hendrix sorriu.

— Eu estou bem, boneca, mas saia de cima mim antes de voce


nos matar.

Eu olhei para baixo, percebendo o quao ruim a posiçao em que


estavamos parecia se alguem fosse sair. Em panico e sentindo minha
pele queimar por ter o corpo de outro homem tocando o meu, eu
comecei a pular para cima, empenhada em encontrar Kyle.

Preciso do toque dele para levar o de Hendrix...

De joelhos, eu estava prestes a ficar de pe quando a porta se


abriu pela segunda vez. Sem ter que olhar, ja sabia quem era.

Uh oh...

— Foda-se, Carissa, saia de mim. — disse Hendrix, de olhos


arregalados.

Nao precisando ser mandada duas vezes, eu pulei para cima e


me virei, ficando cara a cara com Kyle.

Agitando a mao no ar, eu sorri.

— Oi querido!

Maos cerradas, a mandíbula de Kyle tiquetaqueando, mas ele


nao disse nada. Nem mesmo me olhando, seus olhos estavam fixos
em Hendrix, que tinha ficado de pe atras dele.

— Nao e o que parece. — eu corri para continuar. — Nos


apenas... uh, bem, nos caímos.

— Porra, C. — Hendrix gemeu. — Essa e a pior desculpa.

Eu virei minha cabeça, olhando para ele por cima do meu


ombro.

— Mas e a verdade! Nao e minha culpa que o seu eu mastodonte


estava muito ocupado correndo para fora do predio, como se os caes
do inferno estivessem te perseguindo para prestar atençao no que,
ou melhor, em quem, voce estava prestes a atingir.

Hendrix zombou.

— Eu deixei minha torta no caminhao. Eu ia pegar antes de Ty


cheirar e roubar. O idiota esta sempre achando minha comida e
comendo.

Eu pisquei.

— Voce quase me matou por torta?


Ele olhou para mim como se eu fosse louca.

— E uma torta da Dottie.

Tendo comido uma ou cinco tortas da Dottie antes, eu entendi


de onde ele estava vindo. Mas ainda assim, esse nao era o ponto.

— Voce me deve metade agora.

O rosto de Hendrix caiu.

— O inferno que voce diz! Nos vamos ter que lutar contra esse...

— Chega. — disse Kyle, com a voz calma. Eu sacudi minha


cabeça para encara-lo. — Entre, menina bonita. Mosquitos estao
fora e eu nao quero que comam voce.

— Isso significa que voce nao vai me matar? — Hendrix


perguntou, sua voz segurando uma pequena surpresa.

Kyle apontou para a camera de segurança.

— Vi voces colidirem nos monitores no escritorio de Cap.

Hendrix soltou um suspiro aliviado.

— Graças a Cristo. Agora, se voces nao se importarem, eu vou


pegar minha torta.

Ty escolheu esse momento para sair.

— Que tipo de torta?

Eu nao pude conter o som de um riso que irrompeu do meu


peito.
Sorrindo de orelha a orelha, Kyle fechou o espaço entre nos,
inclinou-se para a cintura e me jogou por cima do ombro, como
fizera varias vezes antes.

— Vamos la, princesa. E hora de eu e voce passarmos algum


tempo juntos.

Ainda rindo, me abaixei e espanquei a bunda dele tres vezes.

— Espere! — Eu gritei quando começamos a nos mover. — Eu


quero ver Ty e Hendrix brigando por uma das tortas da Sra. Dottie.

— Oh que porra e essa? — Ty disse. — E uma torta da Dottie?

— Sim! — Eu gritei, batendo na bunda do Kyle novamente. —


Hulk, espere! Ainda nao!

— Hendrix! — Ty gritou. – Guarde um pedaço para mim, idiota!


— Meu riso aumentou dez vezes enquanto eu assistia Ty puxar um
garfo de plastico envolto de seu bolso e segura-lo no ar antes de ir
em direçao a caminhonete de Hendrix. — Eu ate tenho meu proprio
talher.

— Jesus Cristo. — disse Kyle entre suas proprias gargalhadas


quando ele me levou para a estaçao e pelo corredor do escritorio de
Pop.

Pop olhou para cima quando passamos.

— Ei, Pop!

Ele arqueou uma sobrancelha, mas nao disse nada.

Eu nao tinha ideia de onde Kyle estava me carregando, mas


fiquei um pouco surpresa quando acabamos nas baias escuras.

— Onde estamos indo? — Eu perguntei enquanto ele


continuava a me levar pelo espaço silencioso. Pela terceira vez, eu
coloquei minha palma para baixo em seu firme aperto. — Responda-
me, Hulk!

Ele permaneceu em silencio.

Engoli em seco quando ele caminhou ate a parte de tras de um


dos caminhoes e subiu a escada ate o topo. Meus olhos se
arregalaram quando o chao coberto de concreto se tornou mais e
mais distante.

— Kyle!

— Silencio, baby. — disse ele, chegando ao topo. Eu grunhi


quando ele me deixou cair na minha bunda em cima do metal frio. —
Recue para tras.

Ele acenou atras de mim, mostrando-me onde ele me queria.

Fazendo o que ele disse, usei meus pes e maos para me


empurrar para tras ate chegar ao meio do caminhao. Entao parei.

— Aqui?

Ele se arrastou para mim e depois sobre mim, pairando sobre o


meu corpo.

— Voce tem um minuto. — disse ele, mergulhando o rosto mais


perto do meu. — Um minuto para puxar seu vestido e sua calcinha
para baixo. Exatamente sessenta segundos para me dar acesso
a minha boceta.
Minha mente ficou vazia.

— O que?

— A partir de agora. — ele rosnou, nao respondendo a minha


pergunta.

— Aqui?

— 59 e contando.

Recusando-me a pensar no fato de que eu estava no topo de um


caminhao de bombeiros no meio de um quartel de bombeiros, onde
eu conhecia quase todas as pessoas que trabalhavam la, eu puxei a
saia do meu vestido sobre a minha barriga, revelando as calcinhas
brancas rendadas que eu usava.

— Eu vou fazer isso em quinze segundos. — eu revidei, um


sorriso atrevido no meu rosto.

Manobrando meu corpo sob o seu, eu deslizei meus dedos para


os lados da minha calcinha, levantei meus quadris e os empurrei
para baixo das minhas coxas e sobre as minhas
panturrilhas. Quando eles penduraram em torno de meus
tornozelos, eu escorreguei um pe livre, depois o outro.

Livre da renda sedutora, eu deslizei minhas maos atras dos


meus joelhos e as puxei para cima, abrindo-me bem aberta para ele.

— Fiz em menos de dez.

Eu sorri.

Kyle nao perdeu tempo.


Agarrando a camisa por tras do colarinho, ele puxou o material
sobre a cabeça, mostrando seu peito duro e mostrando o abdomen
para mim. Em um instante, minha boca ficou molhada.

Ele sorriu quando eu choraminguei.

Indo para os joelhos, ele soltou o cinto, abriu o botao de sua


calça e empurrou o zíper para baixo com velocidade alucinante.

Seu penis saltou livre.

Alguém sem controle, eu vejo.

Eu o alcancei, envolvendo minha mao ao redor da base


grossa. Apertando minha mao como ele havia me ensinado tambem,
eu bombeei seu comprimento, gemendo quando gotas de pre-gozo
pingaram da ponta, e escorreram no meu monte nu.

— Kyle. — eu sussurrei, — eu quero voce.

Olhos trancados no que minha mao estava fazendo, ele nao


olhou para cima.

— Diga-me o que voce quer, baby, e eu vou dar a voce.

Segurando-o na minha mao, seu pau duro latejando ao meu


alcance fez eu me sentir forte, com poderes. Era novo, algo que eu
nunca tinha experimentado antes, mas estava ficando viciada.

Espalhando minhas pernas mais largas, eu deslizei minha mao


livre para o espaço secreto entre as minhas pernas, roçando minha
fenda encharcada com as pontas dos meus dedos. Meus olhos
reviraram na ligeira sensaçao.
— Kyle. — eu gemi. — Foda-me... por favor.

Sua cabeça se levantou; seus olhos se encontraram nos meus.

— Voce quer que eu te foda ou faça amor com voce?

Eu nao hesitei.

— Foda-me. — eu respondi, pegando uma pagina de seu


manual mandao. — Agora.

Ele passou a língua sobre o labio inferior, algo que fazia com
frequencia quando a luxuria fluía desenfreadamente em suas
veias. Sem dizer uma unica palavra, ele alinhou seu pau com a minha
entrada e bateu me preenchendo.

Minhas costas se curvaram.

Meu pescoço se arqueou.

E eu gritei. Alto.

A mao de Kyle apertou minha boca.

— Morda a minha mao se voce tiver que fazer. — disse ele,


puxando para fora e, em seguida, deslizando seu grande pau de volta
dentro de mim.

Eu fiz o meu melhor para acenar enquanto ele segurava meu


quadril com uma mao e começou um ritmo duro e profundo que fez
meus olhos revirarem na minha cabeça.

— Porra, sua boceta e boa. — ele gemeu, deslizando a mao que


estava no meu quadril na parte de tras da minha coxa. Levantando-
me um pouco, ele surgiu profundamente, me acertando em um
angulo diferente que me fez cambalear.

Minhas coxas apertaram quando meu orgasmo iminente foi


construído.

Eu choraminguei quando Kyle gemeu.

Embrulhando a perna que ele nao estava segurando em torno


de sua cintura, fiz o meu melhor para puxa-lo para mais perto. Eu
queria o peito dele pressionado contra o meu quando ele rasgasse
meu orgasmo de mim e se esvaziasse dentro da minha boceta.

Construindo, construindo, construindo...

Meu orgasmo estava bem ali, totalmente ao alcance, quando a


porta que ligava a baía ao corredor interior das estaçoes se abriu e
alguem entrou nas baias. Meus olhos se arregalaram quando o som
de passos se aproximaram.

Nao diminuindo seus golpes, Kyle soltou minha perna e me


deitou, peito a peito. Pairando seus labios ao lado da minha orelha,
ele sussurrou.

— Eu nao dou a mínima para quem esta la embaixo, nao vou


parar ate que sua doce e pequena boceta tome cada gota de gozo que
tenho a lhe dar.

Suas palavras, combinadas com nossas açoes, enviaram uma


emoçao inesperada correndo pela minha espinha.

Assentindo, eu passei meus braços ao redor dele, deslizei


minhas maos pelas costas de suas calças soltas e afundei minhas
unhas em seu traseiro apertado.
— Foda-se. — ele amaldiçoou, movendo-se mais rapido, me
fodendo com mais força. — Goze para mim, Carissa.

Em segundos, explodi.

Minha cabeça se moveu para frente e para tras; a mao de Kyle


escorregou da minha boca.

Nao dando uma maldiçao a quem me ouvisse, eu cavei minhas


unhas mais fundo, pressionei meus calcanhares na parte de tras de
suas pernas e gemi quando onda apos onda caiu sobre mim, me
afogando de prazer.

Kyle me seguiu pelo penhasco.

Empurrando meus joelhos de volta ao meu peito, ele se plantou


fundo e empurrou quando seu penis se contraiu, banhando minhas
entranhas nele. Seu calor misturado com o meu, prolongando os
choques de extase beliscando cada nervo do meu corpo.

Meus olhos se fecharam.

— Isso foi... — eu comecei.

As lampadas fluorescentes penduradas acima de nos se


acenderam, nos banhando em luzes brilhantes.

— Que porra voces estao fazendo? — Hendrix, de todas as


pessoas, perguntou. — Voce esta bem?

Mortificaçao se estabeleceu e eu cobri minha boca com as duas


maos quando Kyle se afastou de mim e se sentou, dando a um de
seus melhores amigos uma visao clara de seu peito nu.
— Cara, de o fora. — Kyle latiu, seu rosto torcido em
aborrecimento. — Voce comeu sua torta e eu estou tentando
aproveitar a minha.

Apesar do embaraço me consumindo, eu ri de tras da minha


mao.

Silencio.

Entao.

— Oh que porra! — Gritou Hendrix. — Em cima do caminhao,


Kyle? Voce esta falando serio? Eu estou no serviço de lavagem esta
semana, entao eu vou ter que limpar essa merda. — Ele fez uma
pausa. — Serio, no topo do maldito caminhao? Qual o problema com
voces dois? Isso nao e ‘cortina de fogo'!

Kyle sorriu.

— Diz o homem que foi pego batendo sua esposa contra a


parede do chuveiro.

Oh. Meu. Deus!

Maddie fez sexo com Hendrix contra a parede do chuveiro?

Na estação?

— Ela estava gravida! — Hendrix gritou. — Novidade, merda,


mulher gravida quer sexo. Muito. Pelo menos Maddie fez. Quem era
eu para dizer nao?

— Voce...

Pela segunda vez em tantos minutos, a porta se abriu.


Passos seguidos.

— Com quem voce esta gritando? — perguntou Ty a Hendrix.

Senhor, me leve agora!

— Olhe em cima do caminhao. — respondeu Hendrix.

Mais risadas saíram de mim quando Kyle sorriu de orelha a


orelha e acenou na direçao de Ty.

— Voce deve estar brincando. — ele respondeu. — Os


caminhoes sao sagrados, Tuck. Voce perdeu...

— E a minha torta que voce esta comendo, seu bastardo


sorrateiro? — gritou Hendrix, interrompendo Ty.

— Talvez.

— Voce ladrao...

As palavras de Hendrix foram cortadas quando a porta se abriu


novamente.

— Onde diabos Kyle esta? — Pop perguntou, soando em panico.

A espinha de Kyle se endireitou.

— Aqui em cima, Cap.

O silencio reinou novamente.

Entao.

— Eu nao tenho tempo nem paciencia para lidar com qualquer


besteira que voce acabou de puxar na minha estaçao. — disse
Pop. — Mas voce precisa levar Carissa e ir ate Brantley e Clara agora.

Empurrando a saia do meu vestido para baixo dos meus


quadris, sentei-me.

— O que ha de errado?

Um monte de preocupaçao se espalhou pelo rosto de Pop.

— EMS apenas pegou Clara. Ela começou a hemorragia, os


medicos acham que e uma possível ruptura de placenta.

Meu coraçao parou.

Assim. Parou.

— Eles precisam da ajuda de Carissa para vigiar as


crianças. Bella viu a coisa toda e esta pirando. A Hope esta la, mas
Bella nao deixa ninguem segurar ela, Continua chorando por C.

Eu nao pensei antes de começar a me mexer.

Deixando minha calcinha e chinelos para tras, eu rastejei ao


redor de Kyle e desci a escada. Assim que meus pes descalços
atingiram o chao de concreto, eu corri, ignorando os gritos de Kyle
para eu esperar.

Lagrimas escorriam pelo meu rosto quando eu atravessei a


porta e a noite.

Sabendo que Kyle me pegaria antes que eu pudesse ligar meu


carro e sair de estaçao, corri para a caminhonete dele, abri a porta
destrancada e entrei. Depois, cercada por nada alem de silencio, fiz
uma oraçao.
Por favor, meu Deus, eu orei. Por favor, deixe-os ficar bem.
CAPÍTULO 38
Kyle
Cabeça em minhas maos, eu sentei no meio do sofa de Brantley
e Clara, meu olhar focado no chao. A sala estava escura, quase
totalmente silenciosa. O unico som a ser ouvido vinha do ar
condicionado do lado de fora.

No andar de cima, Carissa deitou na cama com Bella, seus


braços em volta dela.

A partir do momento em que chegamos horas antes, Bella tinha


agarrado a minha garota, recusando-se a deixa-la ir. Assustada e com
medo de que sua mae e irma ainda nao nascida morressem, ela
chorou ate dormir depois de ficar doente mais de uma vez.

De acordo com Evan, Bella tinha visto o sangue cobrindo as


pernas e a camisola de Clara quando ela foi colocada na maca e na
ambulancia.

Era algo que ela nunca esqueceria.

Liam e Declan estavam ambos dormindo em seus quartos, nao


tendo dito uma palavra desde que chegamos aqui. Um olhar para o
rosto de Declan e era obvio que ele estava apavorado. Liam
embora? O garoto era duro. Eu sabia que ele tinha que estar
preocupado, mas eu nao conseguia ler sobre ele. Era como se ele
tivesse se endurecido com homens dos quais ele nao era proximo.

Homens como eu.


Eu nao o culpo.

Se eu tivesse visto minha mae ser espancada pelo meu pai


biologico todos os dias durante anos, eu tambem desconfiaria da
maioria dos homens. Eu estava apenas feliz por ele ter Brantley, o
homem que se apresentou para ser seu pai mesmo quando ele nao
precisava ser.

— Minha mae vai ficar bem?

Eu levantei minha cabeça ao som da voz de Declan.

Quieto como o inferno, eu nao o tinha ouvido descer.

— Ei, amigo. — eu disse, sorrindo. — Ha quanto tempo voce


esta acordado?

— Carissa me acordou. — Minhas sobrancelhas franziram. —


Ela estava chorando no banheiro, mas ela agora esta dormindo
novamente.

Merda.

— Minha mae vai ficar bem? — perguntou ele, segurando um


ursinho de pelucia sob o braço direito. — E quanto a Olivia?

— Olivia? — Eu sorri. — Esse vai ser o nome da sua nova


irmazinha?

Declan assentiu.

— Belo nome. — Era a verdade.

— Voce nao respondeu a minha pergunta. — disse ele,


chamando-me para fora. — Minha mae esta morta?
Suas palavras eram como uma faca no coraçao.

Eu nao era uma pessoa emocional, mas ouví-lo perguntar tal


coisa me cortou profundamente. Eu me inclinei para frente,
olhando-o nos olhos.

— Nao, amigo, sua mae esta bem. Prometo.

Era uma promessa que eu esperava como o inferno que eu


pudesse manter.

— Olivia esta morta?

Porra, espero que não.

Balançando a cabeça, coloquei a mao em seu ombro, dando-lhe


um leve aperto.

— Todo mundo vai ficar bem. Sua mae e sua irmazinha estao no
melhor hospital da Georgia. Os medicos e enfermeiras cuidarao bem
delas.

Eu soei como um idiota.

Muito apropriado considerando que eu nao era otimo em


confortar ninguem.

Puxando meu telefone do bolso, olhei para a hora.

5:24 AM

Um desconforto misturado com ansiedade se espalhou por


mim. Nos deveríamos ter ouvido algo agora. Porra quase todo o
mundo estava no hospital, incluindo Hendrix e Maddie, entao eu nao
sabia por que diabos eles nao tinham se incomodado em nos chamar.
— Kyle. — disse Declan, chamando-me pelo meu nome pela
primeira vez.

— Sim?

— Se eu lhe disser algo, voce promete nao ficar bravo?

Mais uma vez, minhas sobrancelhas franziram em confusao.

— Eu nao vou ficar bravo. — eu assegurei a ele. — Nao com


voce.

Ele tirou os olhos dos meus, baixando o olhar para o chao.

— Eu tive um acidente.

Eu olhei para a frente do seu pijama do Homem-Aranha,


notando as manchas escuras na frente de suas calças pela primeira
vez. Como diabos eu nao tinha notado isso antes, eu nao sabia.

— Isso nao e um problema, amigo. — eu disse, honestamente.


— Acontece. — De pe, eu balancei a cabeça em direçao as escadas. —
Mostre-me onde esta seu quarto, e nos trocamos voce.

Declan caminhou ate as escadas, o ursinho ainda agarrado sob


o braço.

Eu segui atras dele enquanto ele me levou para o segundo andar


e depois para o final do corredor onde ficava seu quarto. Virando
direto para o quarto, fui direto para a cama e tirei os lençois e
edredons.

— Voce tem outro par de pijamas para colocar?

Ele assentiu, mas nao disse nada.


— Por que voce nao os agarra e vai se lavar? Vou arrumar sua
cama quando voce voltar.

Mais uma vez, ele assentiu.

Virando-se, ele atravessou a sala e abriu uma gaveta da


comoda. Depois de vasculhar por um minuto, ele tirou as roupas
identicas as que ele ja usava. Eu nao pude deixar de rir.

— Voce gosta do Homem-Aranha, sim?

Seu rosto se iluminou com a minha pergunta.

— Sim, ele e o mais legal. Meu irmao gosta do Batman, mas ele
e um idiota, entao nao e nenhuma surpresa.

Isso provocou uma risada genuína de mim quando me abaixei


e rolei a roupa de cama suja em uma bola.

— Eu nao tenho um irmao, mas minha irma era obcecada por


Procurando Nemo. Assistia todos os dias.

Declan sorriu.

— Minha irma tambem ve isso. Bem, mais ou menos. Ela assiste


Dory principalmente.

Dory tinha sido o personagem favorito de Lily.

A faca no meu coraçao se contorceu quando a memoria me


atacou.

— Eu vou me trocar. — Declan disse, me puxando dos meus


pensamentos. — Voce vai estar aqui quando eu voltar?
Eu balancei a cabeça.

— Assim que levar as roupas para a lavanderia, voltarei para


colocar lençois limpos em sua cama.

— OK. — Declan se virou e entrou no que eu assumi ser seu


banheiro, fechando a porta atras dele.

Pegando a roupa de cama, corri pelo corredor, desci as escadas


e passei pela cozinha para a lavanderia. Uma vez la, eu coloquei a
roupa suja no carregador frontal que tinha mais botoes do que eu
tinha celulas cerebrais, adicionei o detergente e apertei o botao ON.

Entao, eu virei minha bunda e voltei para o andar de cima.

Para minha sorte, encontrei lençois e cobertores extras no


armario do corredor do lado de fora do quarto de Declan. Depois de
pegar um lençol branco e um edredom azul-escuro, voltei para o
quarto e fiz a cama dele.

Eu tinha acabado de colocar o edredom quando meu novo


amiguinho entrou na sala.

— Tudo bem, cara, voce esta pronto para voltar a dormir?

Depois de mandar um sorriso para mim, ele pulou na cama e se


enfiou embaixo do cobertor antes que eu pudesse piscar.

— Ei, Kyle. — disse ele. — Voce e um bombeiro, certo?

— Sim. – Eu balancei a cabeça.

— Posso ir ve-lo no trabalho?

Nao houve hesitaçao da minha parte.


— Claro, sim. — Eu acabei de dizer isso? — Hendrix e eu
podemos leva-lo para dar uma volta no caminhao da escada.

Com os olhos arregalados, seu rosto se iluminou ate o inferno.

— Mesmo?

— Absolutamente.

— Eu gosto de voce, Kyle. — O sorriso que ele usava cresceu.

Um calor, semelhante ao que senti quando minha garota estava


perto, se espalhou pelo meu peito.

— Eu tambem gosto de voce.

— Ei, Kyle.

— Sim cara.

— Voce pode abraçar a Carissa por mim? Eu nao consegui


abraça-la antes, mesmo que eu quisesse tambem.

Descendo, eu baguncei seu cabelo.

— Eu te farei um favor melhor. Que tal descer as escadas daqui


a algumas horas e abraça-la voce mesmo?

— Sim! — Ele bateu a mao sobre a boca. — Desculpe, nao


queria gritar.

O garoto era engraçado como o inferno.

— Volte a dormir.

Seus olhos se fecharam.


— OK. Noite, Kyle.

— Noite, amigo.

Inclinando-me para o lado, desliguei a lampada que ficava na


mesa de cabeceira ao lado de sua cama.

Meu ultimo pensamento quando saí do quarto dele? Acabei de


encontrar o substituto de Hendrix.

Carissa

Eu nao conseguia parar de chorar.

Parada no centro da cozinha de Brantley e Clara, segurei o


telefone de Maddie na minha mao, olhando para o bebe mais bonito
que ja vi. Garantindo que eu mal podia ve-la atraves do brilho das
lagrimas que cobriam meus olhos, mas ela ainda era a menina mais
linda que eu ja tinha visto.

Bem, alem de Bella, Melody, Maci e Gracie, e claro.

— Oh Deus. — eu disse, continuando a babar como uma


boba. — Qual e o nome dela?

Maddie, que tinha aparecido uma hora antes para fazer o


proximo turno de baba, sorriu para mim.

— Olivia Marie. Nao e bonito?

Eu balancei a cabeça, as lagrimas entupindo minha garganta.


— E lindo... assim como ela.

Um soluço sacudiu meu corpo inteiro, e Maddie olhou para mim


com preocupaçao.

— Voce esta bem?

Eu balancei a cabeça, mudando o meu peso entre os meus pes.

— Bem. Apenas me diga o que Clara esta fazendo.

— Bom, considerando as circunstancias. Os medicos disseram


a Brantley que se ele nao tivesse reagido tao rapido, ela e Olivia
poderiam ter morrido.

Meu coraçao se apertou com o pensamento.

— O que aconteceu? Quero dizer, qual foi a causa?

— Deslocamento parcial da placenta, assim como o EMT


suspeitou.

— Eles fizeram uma cesariana?

Maddie assentiu.

— Sim. Eles colocaram Clara sob anestesia geral, uma vez que
era uma emergencia, e eles nao permitiriam que Brantley fosse
la. Ele nao conseguiu ver Olivia ate que ela estivesse na UTI e mesmo
assim ele nao teve permissao para toca-la. — Ela franziu a testa. —
Clara ainda nao a viu. Quebra meu coraçao para pensar nisso.

Eu não posso nem imaginar...

— Mas eles vao ficar bem, certo? Clara e o bebe?


Ela soltou um suspiro.

— Clara vai ficar bem, mas vai precisar acompanhar Olivia por
um tempo desde que ela foi tao prematura. O neonatologista disse
que ela era forte, entao estou esperançosa.

— Claro que ela e forte. — eu respondi, minha voz mais dura do


que eu pretendia. — Ela e filha de Clara. Estou surpresa que ela nao
tenha olhado para o medico no momento em que nasceu.

Jogando a cabeça para tras, Maddie riu. Muito.

— Estou falando serio! — Exclamei, rindo entre as lagrimas. —


Clara e doce como pode ser, mas Jesus, me assusta as vezes. Quero
dizer, voce a viu quando Evan comeu seu taco no trabalho
ha algumas semanas. Eu pensei que ela iria arrancar seus olhos para
fora. Os outros seguranças nao conseguiam escapar dela rapido o
suficiente.

Lagrimas escorriam pelo rosto de Maddie.

— Ela e maluca. Nao posso acreditar o quanto ela cresceu nos


ultimos anos.

— Eu tambem.

Ganhando o controle de si mesma, Maddie limpou as lagrimas


escorrendo pelas bochechas com as costas das maos. Eu fiz o
mesmo.

— Entao. — ela disse, olhando-me nos olhos. — Eu tenho algo


que eu preciso perguntar a voce.

Entregando-lhe o telefone de volta, inclinei a cabeça para o lado


e sorri.

— Entao pergunte.

— Tudo bem... — seu sorriso cresceu, espalhando-se por seu


rosto ate que pensei que iria se dividir — ...de quanto tempo voce
esta?

A confusao se instalou.

— Quanto tempo de que?

Maddie arqueou uma sobrancelha.

— Seu período.

Eu congelo.

— Do que voce esta falando.

Recostando-se contra a bancada, ela enfiou as maos nos bolsos


da frente de seu short.

— Seus peitos parecem maiores, voce esta mais emocional do


que o normal, e voce esta arrastando o bumbum no
trabalho. Carissa... — ela fez uma pausa — voce sabe que eu te amo
como uma irmazinha, entao nao minta. — Outra pausa. — Voce esta
gravida, nao e?

Engoli.

— Eu nao sei. — eu sussurrei, ansiedade agitando na minha


barriga. — Estou atrasada, mas...

— Quao atrasada?
— Uma semana.

Sem dizer uma palavra, Maddie se afastou do balcao e entrou


na sala de estar interligada. Depois de pegar sua bolsa no sofa, ela
vasculhou o conteudo e tirou um item roxo. Andando de volta para a
cozinha, ela levantou minha mao e colocou o objeto na minha palma.

Esse objeto? Um teste de gravidez.

Uma miríade de emoçoes me inundou, mas ao inves de focar em


uma unica, eu estreitei meus olhos e voltei meu olhar para Maddie.

— Por que voce tem um teste de gravidez em sua bolsa?

Ela balançou de volta em seus calcanhares e deslizou as maos


de volta em seus bolsos.

— Porque eu comprei um pacote de dois e eu so precisava de


um.

— Oh. — eu respondi, nao pegando o que ela estava dizendo


imediatamente.

Espere um minuto.

Meus olhos se arregalaram.

— Voce usou um?

Ela assentiu.

— E?

— E eu estou gravida.

Eu nao pude reprimir o grito que saiu da minha


garganta. Saltando para cima e para baixo, eu joguei meus braços em
volta do pescoço dela.

— Oh Deus, Maddie! — Eu chorei de novo. — Eu estou tao feliz


por voce!

Envolvendo seus braços ao redor da minha parte inferior das


costas, ela me apertou com força.

— Obrigada, menina doce. — Me soltando, ela deu um passo


para tras e apontou para o banheiro do primeiro andar. — Agora va
fazer xixi no pauzinho.

— Eu vou. Eu so...

Eu bati minha boca quando a porta se abriu e Kyle, que


carregava uma Melody rindo, entrou. Hendrix, que segurava um
Maci adormecida nos braços, seguiu-o. Precisando esconder o teste
antes que Kyle o visse, eu puxei uma de vovo e enfiei-a na minha
camisa, colocando-a em um dos meus copos de sutia.

Ela ficaria tão orgulhosa...

— Onde esta Liam, Declan e Bella? — Maddie perguntou, suas


sobrancelhas subindo na testa.

— Os meninos estao jogando basquete e Bella Boo adormeceu


na rede de Clara. — respondeu Hendrix. Levantando o queixo no ar,
ele continuou. — O que foi toda a gritaria?

Uma coisa sobre mim, eu nunca fui capaz de mentir bem; nem
tinha o dom de mascarar meus sentimentos. Tudo o que Hendrix
teria que fazer e olhar para o meu rosto e ele saberia que estavamos
escondendo alguma coisa. Portanto, eu me virei, coloquei minhas
maos no balcao da cozinha, dando aos caras minhas costas.

— Nada. — respondeu Maddie, fria como um pepino. — Nos


estavamos falando sobre o almoço e C ficou animada. — Ela piscou
meu caminho antes de atravessar a cozinha e abrir a
geladeira. Depois de observar o conteudo por um minuto, ela enfiou
a mao no interior e tirou um prato redondo. Deixando a porta fechar
sozinha, ela se virou de novo. – Sorte grande! — Segurando o prato
para todos verem, ela sorriu. — Quem quer torta?

Por um momento, o silencio caiu sobre a cozinha.

Entao, o caos entrou em erupçao.

Eu fiz um som de asfixia.

Kyle riu mais do que eu ja o ouvi.

E Hendrix? Ele olhou de Kyle para mim antes de rosnar.

— Esconda de ambos.

Era um dia que eu sabia que me lembraria por muito tempo.


CAPÍTULO 39
Carissa
Duas semanas depois

Era uma sexta-feira.

Passava das seis meia da noite, fiquei na frente do Shopping


Toluca City, esperando Heidi aparecer. Ashley deveria estar
deixando-a, mas eu nao a tinha visto ainda, e nem estavam
atendendo seus telefones.

Dizer que eu me preocupei era um eufemismo.

— Vamos la, Bug. — eu disse, esticando o pescoço enquanto


olhava ao redor do estacionamento em busca do carro de
Ashley. Quando eu nao vi em nenhum lugar, eu soltei um suspiro,
tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.

— Maldiçao... onde ela esta?

Assim que a ultima palavra saiu dos meus labios, Heidi


apareceu.

Nervosismo rolou atraves de mim enquanto eu a assistia se


aproximar, passo a passo, ate que ela me alcançasse. Aparelhos
auditivos no lugar, ela colocou as maos nos quadris, e olhou para
mim.
— Bem, — ela disse, — eu nao vi voce em tres dias, Carissa
Ann. Isso nao me da direito a um abraço pelo menos?

Sem hesitar, passei meus braços em volta do pescoço dela,


apertando-a com força.

— Eu senti sua falta. — Minha voz falhou na ultima palavra. —


Muito.

Heidi se afastou, com um olhar perplexo no rosto.

— O que ha de errado? — Suas feiçoes endureceram um


pouco. — Kyle fez alguma coisa? Se ele fez, eu vou bater no freio...

— Ele nao fez nada. — eu disse, interrompendo seu discurso


antes que pudesse começar. — Bem, quero dizer, eu acho que ele
fez alguma coisa, mas nao do jeito que voce esta pensando.

Confusao brilhou em seus olhos.

— Perdao?

Torcendo minhas maos na minha frente, eu balancei de volta


nos meus calcanhares.

— Eu preciso te contar uma coisa.

— Ok. — ela acenou com a mao em um gesto rapido — entao


me diga.

Meu queixo tremeu.

— Voce vai ser uma tia, Heidi Bug.

Seu rosto ficou branco.


— Kyle e eu... — um no se formou na minha garganta — ...nos
vamos ter um bebezinho doce, e eu vou precisar de voce.

— Voce esta gravida?

Eu balancei a cabeça.

— Voce esta realmente gravida?

Eu ri antes de acenar com a cabeça novamente.

— Eu estou.

— Eu vou ser uma tia?

— Voce vai.

Silencio.

Entao.

— Oh meu Deus! — Lançando-se em mim, Heidi envolveu seus


braços em volta de mim e apertou com tanta força que eu mal
conseguia respirar. — Oh meu Deus! — Ela recuou novamente. —
Um bebe!

Lagrimas do que eu podia dizer eram pura felicidade deslizou


por suas bochechas e respingou em meus ombros, molhando meu
vestido. Nao que eu me importasse. Ve-la tao animada foi o
suficiente para me colocar na lua.

— Voce esta feliz? — Eu perguntei, incapaz de parar as lagrimas


que caíram dos meus olhos tambem.

Soltando os braços ao meu redor, ela deu um passo para


tras. Com os olhos arregalados, ela olhou para mim como se eu fosse
louca.

— Feliz? Nao, estou em extase! O Hulk ja sabe?

Eu balancei a cabeça.

— Nao, e por isso que eu pedi para voce me encontrar aqui. —


Respirando, eu prendi meu polegar e apontei por cima do meu
ombro para a entrada do shopping. — Eu quero fazer algo mais do
que apenas dizer a ele que estou gravida. Por mais bobo que seja,
quero que seja mais especial. Para isso, preciso da sua ajuda.

Se possível, o rosto de Heidi se iluminou ainda mais.

— Nao diga mais nada. — Agarrando minha mao, ela entrelaçou


nossos dedos juntos. — Eu tenho isso.

Mais feliz do que eu a tinha visto ha muito tempo, Heidi me


arrastou para o shopping.

— Onde estamos indo?

— O primeiro da lista e o Tee de Jake. Eles fazem camisas


personalizadas.

— Primeiro? — Eu gritei. — Quantos lugares estamos indo?

Ela olhou para mim e encolheu os ombros.

— Um par.

Acontece que a definiçao de Heidi para um par na realidade,


foram cinco.
Ja eram quase nove quando Bug e eu saímos do shopping.

Como no mundo em que passamos tanto tempo dentro, nao tive


a mínima ideia. Eu poderia jurar que haviam passado apenas trinta
minutos, mas entre arrumar uma sacola revelando a gravidez para
eu dar a Kyle e depois me perder na Baby Superstore, o tempo tinha
se afastado de nos duas.

Eu nao pretendia ficar dentro ate depois do por do sol, Deus


sabe que eu odiava estacionamentos escuros, mas pelo menos eu
tinha Heidi comigo. Embora ela nao fosse tao grande ou forte como
Kyle, te-la ao meu lado ainda me fazia sentir mais segura.

Se alguem mexesse com qualquer uma de nos, ela tiraria a


pequena lata de spray de pimenta que ela segurava no chaveiro e iria
para a cidade com o criminoso; o que seria hilario.

— Eu odeio estacionamentos escuros.

Apesar da lua estar cheia e do lote nao tao escuro como de


costume, eu ainda nao gostava disso.

Apertei meu braço ao redor da de Heidi enquanto olhava ao


redor do lote desolado.

Juro que todos em Toluca estavam na cama as oito horas todas


as noites.

Isso era ridículo.

— Eu sempre sinto que alguem esta me observando. — eu


continuei. — Especialmente no posto de bombeiros. A floresta ao
redor me assusta ate a morte.

Heidi bufou.

— Voce quer dizer a floresta onde os gorilas vivem?

Eu bati nas costas da mao dela.

— Isso nao e engraçado, vadia.

— Tudo o que voce diz, vovo.

Eu tenho uma risada disso.

— Eu so posso esperar que eu esteja tao na moda como vovo


quando eu tiver a idade dela.

— Falando da velha louca jararaca, — ela disse, continuando a


usar sua voz. — Voce ja ouviu do que as pessoas estao chamando ela
e Dottie?

Eu balancei a cabeça, esperando que ela continuasse.

— Thelma e Louise.

Risos borbulharam na minha garganta.

— Oh meu Deus... — Segurando o saco de revelaçao de Kyle, eu


tirei meu braço do de Heidi e pulei alguns passos para frente,
girando ao redor e nos encarando enquanto eu caminhava para
tras. — Espere ate eu contar ao meu Hulk isso. Ele vai...

Eu bati minha boca quando os olhos de Heidi se arregalaram.

Antes que eu pudesse parar o meu impulso para tras e girar ao


redor para ver quem, ou o que, causou tal reaçao, minhas costas
bateram em alguma coisa, derrubando a bolsa de Kyle, junto com
minha bolsa e as chaves da minha mao.

Coraçao batendo, tentei girar, mas fui interrompida quando


dois braços longos me envolveram por tras. O primeiro agia como
uma videira ao redor da minha barriga, o lugar onde meu doce bebe
crescia, enquanto o segundo servia como uma ancora em volta do
meu peito.

O fedor de cigarros e odor corporal agrediu meu nariz.

Eu quase engasguei.

Com o peito arfando, torturei meu cerebro por um plano de fuga


enquanto guerreava comigo mesma para permanecer
calma. Embora eu nao quisesse mais nada do que lutar para sair do
controle em que estava, nao podia fazer isso. Se a pessoa so quisesse
me roubar, eles poderiam ter o que quisessem. Eu nao lutaria com
eles sobre a minha bolsa quando isso colocasse em risco a vida da
criança que eu carregava dentro de mim.

— O que voce quer?

Minha voz nao tremeu apesar do medo percorrendo minhas


veias.

— O que eu quero, princesa... — a pessoa falando fez uma pausa


— ...e você.

Meu estomago caiu aos meus pes e o medo que habitava cada
celula do meu corpo se transformou em horror.

— Oh Deus. — eu chorei, mal conseguindo respirar. — Carson...


— Isso mesmo, baby. — ele sussurrou, acariciando o nariz
contra a minha garganta. — Voce nao achou que eu deixaria voce ir
tao facil, nao e?

Chaves na mao, Heidi deu um passo a frente.

Sabendo o que ela estava pensando em fazer, balancei a cabeça.

— Heidi, nao faça isso.

— Sim, Heidi... — Carson removeu o braço em volta da minha


barriga, abriu um canivete e apontou em sua direçao. – Nao.

Minhas pernas tremeram.

— O que voce quer, Carson?

Ele riu antes de mais uma vez acariciar meu pescoço.

— Voce, Carissa... so você.

— Voce não pode te-la. — Heidi latiu, dando um passo a frente,


apesar do aviso que ela recebeu. — Ela nao e sua.

Carson riu.

— Oh, mas ela e.

— Nao se Kyle Tucker tiver algo a dizer sobre.

Foi o pior, e eu quero dizer pior, de tudo o que ela poderia ter
dito.

Eu ofeguei quando Carson pressionou a lamina afiada contra a


minha barriga.
— Isso. — ele assobiou, — e algo que eu planejo cuidar.

Um susto paralisante tomou conta de mim.

— Voce nao vai fazer nada.

A faca cavou mais fundo em minha pele com cada palavra


envolta em veneno que Heidi falou.

Se ela nao se calasse, so havia uma maneira de acabar com isso.

Com uma ou ambas mortas.

Arrastando os labios na parte superior do meu ombro, Carson


sussurrou.

— O que vai ser, princesa? Voce vai vir comigo de bom


grado? Ou eu preciso estripar sua pequena irma antes de provar que
nao estou brincando?

Minha pele se arrepiou toda vez que seus labios me tocaram.

— Responda-me. — ele exigiu, me cutucando com a lamina.

Qualquer calma que eu estava mantendo, voou pela janela


quando senti o sangue quente escorrer pela minha barriga. O
psicopata cortou o tecido do meu vestido de algodao, cortando
minha carne. Desesperada e sabendo que havia apenas uma saída,
olhei para minha linda irmazinha nos olhos e sussurrei.

— Eu vou.

Eu senti mais do que vi Carson sorrir.

— Uma garota tao inteligente.


Cada palavra que ele falou deslizou em meu intestino, fazendo
vomito preso na garganta.

Eu tinha certeza de que vomitaria a qualquer minuto.

Removendo o braço que ele ainda segurava em volta do meu


peito, ele passou a mao em volta do meu braço, apertando o pequeno
musculo. Eu me encolhi em resposta e ele soltou seu aperto o menor
pedaço.

— Desculpe, querida. Farei melhor da proxima vez — disse ele,


suavemente.

Sem outra palavra, ele me arrastou para um caminhao


branco; um que eu nunca tinha visto antes.

— Carissa, nao... — Heidi começou.

Virando a cabeça, olhei para ela por cima do meu ombro.

— Nao, Heidi. Fique.

Se ela nos perseguisse, algo que ela estava, sem duvida, prestes
a fazer, Carson a mataria, e isso nao era uma opçao. Heidi pode ter
uma lata de spray de pimenta, mas Carson tinha uma faca e delírios
suficientes para encher o Grand Canyon.

Jogar nessas ilusoes era a unica maneira de nos manter seguros.

Se eu pudesse mante-lo calmo por tempo suficiente para ela


fugir, Heidi poderia conseguir ajuda.

Com a visao borrada das lagrimas enchendo meus olhos, eu


mantive meu olhar focado nela e pronunciei duas palavras. Duas
palavras que eu conhecia nos recessos mais profundos do meu
coraçao que levariam ao meu resgate.

Tanto no infermo como em mare alta.

Aquelas palavras? Encontre o Kyle.


CAPÍTULO 40
Kyle
— Isso e besteira.

Se eu tivesse ouvido aquela fala uma vez de Ty, tinha-a ouvido


um milhao de vezes.

Depois de mergulhar a esponja na minha mao em um balde de


agua com sabao, puxei-a de volta e coloquei-a contra a lateral do
caminhao, movendo a mao em movimentos circulares, lavando as
cinzas e sujeira que revestiam a tinta vermelha.

— Qual e o problema agora, rainha do drama? — Eu perguntei


a Ty, que estava ao meu lado, segurando sua propria esponja na mao.

Virando a cabeça em minha direçao, ele olhou para mim.

— E uma completa besteira que o idiota do Hendrix nos colocou


na bagageira por Cap, e mesmo assim ele nem esta aqui!

— Maddie esta doente, idiota. Claro que ele nao esta aqui.

Ele ergueu o queixo no ar.

— O que ha de errado com Maddie?

— O estomago esta bagunçado. — Eu derrubei a esponja no


balde. — Intoxicaçao alimentar ou algo assim. Cara, eu nao sei.

Dando-lhe as costas, tirei meu celular do bolso e olhei para a


tela.

Meu queixo ficou tenso quando eu nao vi uma mensagem ou


uma chamada perdida da minha garota.

Isso nao era como ela.

— Voce. — eu disse, virando para encarar Ty novamente. —


Voce ouviu falar da Heidi hoje?

Ele sacudiu o dele.

— Nao. — ele rosnou. — Ela nao vai responder meus textos.

— O que voce fez?

— Eu nao fiz nada. — Seus olhos se estreitaram. — O que você


fez desde que Carissa nao ligou para voce?

— Nada, eu...

Eu fechei minha boca quando um carro, um que parecia


identico ao de Carissa veio rugindo pela estrada, e fez uma curva
acentuada para a estaçao, subindo a entrada pavimentada em
direçao a Ty e eu.

Ela vai nos acertar...

— Ty! — Eu gritei, pulando para o idiota. — Cuidado!

No momento em que minhas maos pousaram em seu peito


empurrando-o para tras, percebi que o carro era de fato de Carissa,
mas a pessoa que dirigia nao era minha garota.

— Heidi! — Eu gritei. — Devagar com essa porra!


A janela rolou, ela pisou no freio e parou de repente.

O cheiro de borracha queimada encheu o ar; fumaça cinza


seguiu.

Ty estava ao lado do carro antes que eu pudesse piscar.

Vestindo uma expressao de puro panico, ele rasgou a porta


aberta, sacudindo-a com tanta força que as dobradiças gritaram em
protesto e o painel lateral se curvou, estalando sob a força.

— Heidi, o que...

Quando uma soluçante Heidi pulou para fora, com as maos


cerradas em punhos apertados, o cabelo na parte de tras do meu
pescoço se levantou. Em um instante, soube que algo estava errado
e, sem ter que perguntar, sabia que Carissa estava envolvida.

Jogando um cotovelo no lado de Ty para faze-lo sair do seu


caminho, ela manobrou em torno dele e tropeçou em direçao a mim,
perdendo o equilíbrio.

Eu fiz uma tentativa para ela assim que ela começou a cair.

— Kyle! — Ela gritou, o som do meu nome em seus labios


animalesco e cheio de medo.

Eu a peguei antes que ela batesse na calçada e a levantei de


volta.

— Heidi, fale comigo. — Atado com medo, minha voz soou


estranha aos meus proprios ouvidos. Quando dois segundos se
passaram sem ela dizer uma palavra, eu enterrei meus dedos em
seus lados, apertando-a com força. — Merda, Heidi, fale!
Sua boca se abriu e seus labios se moveram, mas as palavras
nao vieram.

Frustrada, ela arrancou do meu abraço e girou para encarar Ty.

Levantando as maos rapidamente, ela sinalizou uma serie de


palavras para ele, disparando rapido, uma apos a outra.

As sobrancelhas de Ty franziram, e um olhar de concentraçao


cruzou seu rosto enquanto ele tentava decifrar o que ela estava
dizendo. Novo no ASL, Ty ainda estava aprendendo, e eu esperava,
nao, eu rezava pra caralho, que ele pudesse entender o que ela
estava tentando dizer.

— Droga, Ty! — Eu rugi, minha paciencia inexistente se foi. —


O que ela esta tentando nos dizer?

Como se possuído pelo proprio diabo, o rosto de Ty se


transformou no espaço de um segundo. Suas feiçoes endureceram,
seus olhos perderam o brilho, escurecendo diante de mim. A
expressao de panico que ele usou momentos antes desapareceu e a
raiva deslizou em seu lugar.

Ele passou os olhos de Heidi; seus olhos encontraram os meus.

— Diga-me! — Eu gritei.

— E Carissa. — disse ele. — Ela foi levada.

Meu coraçao parou.


Vinte minutos depois

Eu nao conseguia respirar.

Porra nao conseguia respirar!

Em pe na frente da estaçao, meus dedos entrelaçados atras da


minha cabeça, eu olhei para Anthony, que estava em frente a mim,
seu distintivo de detetive pendurado em um cordao preto em volta
do seu pescoço. Radio bidirecional na mao, ele gritou ordens para os
oficiais uniformizados que tinham puxado seus carros para a
estaçao, posicionando-os em direçoes diferentes.

— Eu quero cada estrada bloqueada. — ele gritou para um


detetive a paisana a tres metros de distancia. — Configure pontos de
verificaçao em todas as rodovias que saem do condado e feche todo
o acesso a interestadual. Nem um unico maldito carro sai deste
condado a menos que seja revistado.

O segundo detetive, muito mais velho, assentiu.

— Sobre isso, Moretti.

Ele olhou para mim, seus olhos azuis envelhecidos fervendo de


raiva.

— Nos vamos encontra-la, Kyle. — Angustia atravessou seu


rosto severo. — O cara mau nao vai ganhar... — ele fez uma pausa —
nao desta vez.

Eu nao disse nada quando ele se virou e foi embora.

A maldita raiva que fervia em minhas veias tornava impossível


respirar, muito menos falar. Cambaleando a beira de perder o que
restava da minha mente, eu estava perigosamente perto de quebrar.

Anthony olhou para tras e olhou para mim brevemente antes de


voltar sua atençao para uma Heidi aterrorizada.

Com o maxilar cerrado, ele exalou.

— Voce fez bem, Heidi, mas preciso saber se ha mais alguma


coisa que voce possa me contar sobre o sequestro de sua irma. Nao
importa quao pequeno ou irrelevante voce pense que seja, preciso
saber tudo.

Algo brilhou nos olhos de Heidi; minhas costas estalaram em


linha reta.

Ela está escondendo alguma coisa...

— Heidi. — eu rosnei. — Diga a ele.

Deixando cair a cabeça para tras, ela olhou para o ceu noturno
enquanto lagrimas escorriam de seus olhos.

Foi o suficiente para me fazer estalar.

— Heidi! — Eu gritei, completamente feito do silencio. — Porra,


se voce sabe alguma coisa diga a ele! — Eu odiava gritar com ela, e
olhando para tras agora, me mata que eu pulei em sua bunda quando
ela estava assustada e ferida, mas eu me importava mais em ter
Carissa de volta do que seus sentimentos. — Agora!

Ty deu um passo a frente, pronto para intervir, mas ele nao


disse nada. Ele pode ter ficado chateado comigo por ter gritado com
Heidi, mas ele estava comigo quando Lily foi levada. Mais do que a
maioria, ele entendia o que estava em jogo se nao conseguíssemos
encontrar Carissa antes que fosse tarde demais.

Endireitando a cabeça, Heidi assentiu.

Virando-se para mim, ela colocou os braços ao redor de sua


barriga, quase como se soubesse que as palavras que ela falasse em
seguida a despedaçariam.

Ela abriu a boca para falar, mas fechou, hesitando em falar as


palavras.

Isso fez meu sangue ferver mais quente.

— Heidi... eu comecei.

— Oh Deus... — ela chorou, interrompendo-me. Agarrando


punhados de seu cabelo, ela puxou os fios, fechando os olhos com
força. Coraçao partido e desespero ondularam em seu rosto; um
soluço angustiante veio em seguida. — Kyle, ela... ela...

— Cuspa, Bug!

Soltando as maos, ela abriu os olhos. Nossos olhares se


encontraram e ela colocou a mao em sua barriga, chamando minha
atençao para a area.

— Ela esta gravida... Carissa esta gravida.

Grávida…

A unica palavra saltou ao redor do meu cerebro, ecoando no


meu cranio.

Apesar da situaçao, o orgulho percorreu minhas veias.


Minha mulher estava gravida.

Com meu bebe.

Meu.

Qualquer controle que eu ainda possuísse desapareceu num


piscar de olhos. O instinto paternal varreu-me, bloqueando tudo,
exceto a necessidade de encontrar e proteger Carissa e nosso feto.

Ombros alinhados, arranquei minhas chaves do meu bolso e


olhei para Anthony.

— Eu nao vou esperar. Aquele filho da puta tem minha mulher


e meu filho. Eu nao vou ficar aqui com o meu dedao na minha bunda
enquanto espero que alguem salve Carissa e nosso bebe. Esse e o
meu trabalho. – Apertando minha mao em uma bola apertada, eu
bati no meu peito. — Meu.

Eu esperava que Anthony me dissesse para me acalmar e ficar


parado.

Ele nao fez isso.

Em vez disso, ele assentiu, jogando-me o radio nos dois


sentidos que ainda segurava na mao. Eu o peguei e agarrei firme.

— Canal 4. Mantenha a linha aberta. Se conseguirmos uma


pista, voce vai ouvir.

Comecei a me mexer, mas parei quando Ty colocou as maos em


cada lado do rosto de Heidi e inclinou a cabeça para tras. Olhos
trancados, ele pressionou um beijo na bochecha dela.
— Nos vamos encontra-la, Anjo. Eu juro.

Pressao cresceu dentro de mim enquanto eu os observava, me


rasgando de dentro para fora. O jeito que Ty olhou para Heidi era a
maneira exata que eu olhava para Carissa. Sabendo o quao errado
esta situaçao poderia ir, vendo-os assim era insuportavel.

Carissa poderia morrer.

Meu filho pode nunca nascer.

Eu so tinha duas palavras para ambos os pensamentos: Foda-se


isso.

Radio e teclas apertadas, eu fui para o meu caminhao, uma


determinaçao feroz se espalhando pelos meus membros. Eu so fiz
tres metros quando Ty deu um passo ao meu lado, sem surpresa,
seus pes enfiados batendo no asfalto ao mesmo tempo que os meus.

— Onde estamos indo primeiro?

Memorias aumentaram.

Eu as empurrei de volta.

— A menos que ele esteja levando-a para algum lugar local, o


filho da puta vai tentar encontrar o caminho mais rapido para fora
da area enquanto permanece sob o radar. Para fazer isso, ele
precisara pegar algumas estradas secundarias antes de chegar a
Rodovia 3, ja que e a mais desolada.

— Tem certeza?

Eu balancei a cabeça.
— Foi o que Edgar Louis fez.

Pela primeira vez desde que Carissa foi raptada, permiti que
pensamentos de minha irma se adiantassem. Dezessete anos se
passaram desde que ela foi arrancada de mim por um obsessivo
psicopata empenhado em reivindicar coisas que nao pertenciam a
ele.

Agora, todos esses anos depois, tudo estava acontecendo de


novo.

So que desta vez nao foi minha irma que foi levada.

Desta vez, foi o amor da minha vida e o nosso filho.

Eu seria amaldiçoado se deixasse o passado se repetir.


CAPÍTULO 41
Carissa
Eu ia ficar doente.

Meu estomago revirou enquanto olhava para fora do para-brisa


da caminhonete de Carson, meus olhos focados na lua cheia e nas
estrelas cintilantes. Menos de uma hora se passou desde que eu saí,
deixando Heidi sozinha em frente ao shopping, mas parecia muito
mais tempo.

Dias.

Anos.

Seculos

A cada segundo que passava, meu panico, junto com a


necessidade de fugir e escapar, percorria meu corpo, Consciente de
cada respiraçao que Carson tomava e cada pequeno movimento que
ele fazia, eu estava aguardando o meu tempo, procurando uma saída.

Por mais louco que pareça, embora ele tenha me ameaçado com
uma faca e cortado minha barriga com a lamina, nao achei que ele
pretendesse me matar.

Nao e assim que pessoas como ele trabalhavam.

Embora eu nao soubesse por que, ele estava apaixonado por


mim, completamente obcecado. Para ele, eu era o premio pelo qual
ele lutou e estava orgulhoso de ter. Contanto que eu nao o desafiasse
e destruísse qualquer auto-desilusao em que ele tivesse se
envolvido, eu estava a salvo da morte.

Mas isso nao significava que eu estava a salvo de todo o mal.

Eu acreditava que Carson me prejudicaria se eu o


perturbasse? Sim.

Eu acreditava que ele se forçaria em mim? Um duplo sim.

Eu ficaria parada e deixaria qualquer uma dessas coisas


acontecer? Nao e uma chance no Hades.

Eu nao era tao forte quanto Shelby ou Clara, mas eu tinha uma
espinha dorsal feita de aço e o sangue de meus pais correndo pelas
minhas veias. Eu posso nunca ter jogado um soco na minha vida,
mas quando encurralada em um canto voce pode apostar seu ultimo
dolar que eu sairia balançando.

Cada maldito tempo.

Sabendo muito bem que agora era a hora de agir, respirei fundo,
me forçando a permanecer calma. Inclinando minha cabeça contra o
assento, virei minha cabeça para encarar Carson. No momento em
que ele sentiu meu olhar em seu rosto, ele olhou, encontrando meus
olhos.

O sorriso que se espalhou por seu rosto me deixou doente.

— Ei, querida. — ele disse, sua voz sussurrando baixo e o que


eu supus que deveria ser doce; talvez ate mesmo sedutor. – Sobre o
que voce esta pensando?
A melhor maneira de escapar, eu respondi mentalmente.

— Ha quanto tempo voce esta me observando? — Quando seu


sorriso caiu um pouco, corri para continuar. — Eu nunca vi voce,
mas eu senti voce. — Essa era a verdade. Nao havia duvida em minha
mente que todas aquelas vezes em que eu senti alguem
acompanhando cada movimento meu, nao era apenas minha
imaginaçao.

Em vez disso, tinha sido ele.

O doente.

Estendendo a mao, ele pegou minha mao na sua, entrelaçando


nossos dedos juntos.

Mordi minha língua, lutando contra a reaçao instintiva de puxa-


la de volta.

— Um tempo. — ele respondeu.

Essa resposta nao me ajudou.

— Por que voce nunca se aproximou de mim? Eu nao mordo,


voce sabe — eu disse, tentando o meu melhor para adicionar uma
dose enorme de flerte falso as minhas palavras.

Sua mao apertou a minha.

— Eu pensei que tinha tempo.

— Tempo para que?

— Preparar as coisas.
Meu estomago caiu, mas nao mostrei. Sorriso costurado no
lugar, eu continuei.

— Voce estava preparando as coisas para mim?

Seus olhos encontraram os meus novamente antes de se


concentrar na estrada diante de nos mais uma vez.

— Nao. — Ele balançou a cabeça, o polegar massageando meus


dedos. — Eu tenho conseguido coisas prontas para nós.

Cruzando uma coxa sobre a outra, eu cantarolei.

— Sim? Como o que?

Outro aperto da mao dele.

— Voce vai ver quando chegarmos la.

Eu empurrei meus labios em um longo beicinho.

— Quanto tempo isso vai levar?

— Paciencia, querida. — ele respondeu, rindo. — E uma


virtude.

Meus dedos coçaram com a necessidade de arrancar seus olhos


para fora.

O sorriso de Carson desapareceu; concentraçao se espalhou


pelo rosto dele.

— Tudo esta perfeito, mas agora eu tenho que adicionar mais


algumas coisas. — Seu tom mudou, e a ansiedade beliscando meus
nervos entrou em colapso. — Coisas que o bebe vai precisar.
Meu sangue gelou.

Carson tambem sabia disso.

— Nao se preocupe, princesa. — disse ele, pronto para me


tranquilizar. — Eu nao estou bravo com voce. Eu sei que nao foi sua
culpa.

— Voce sabe? — Minha voz falhou, revelando meus nervos.

Ele assentiu.

— Eu sei tudo sobre o que Tuck fez com voce. Como ele
humilhou voce, fez voce fazer coisas que voce nao queria. — Sua mao
apertou no volante. — Eu assisti ele machuca-la, assisti voce gritar
de dor.

O significado de suas palavras bateu em mim como um trem de


carga.

O vomito subiu no meu esofago.

Ele estava assistindo enquanto Kyle fazia amor comigo. Isso era
obvio, mas o que nao era tao obvio era quantas vezes ele tinha feito
isso. Uma, duas, vinte? E doce Jesus, ele pensou que Kyle estava me
machucando? Eu nao podia... bem, eu nao podia acreditar no nível
de insanidade que eu estava lidando.

Kyle nunca, nem uma vez, me humilhou.

Nem ele me fez fazer algo que eu nao queria.

Quanto a me machucar, eu gritava toda vez que Kyle estava


entre as minhas coxas, tocando meu corpo como um instrumento,
mas nao era porque eu estava com dor.

Era exatamente o oposto de fato.

Meu Hulk nunca me fez sentir nada menos que bonita, mas
Carson me fez sentir completamente suja; e nao de um jeito bom
tambem.

Granulos de suor surgiram ao longo da minha testa e percebi


que tinha que fugir.

Como, entao.

Eu nao podia continuar a jogar este jogo na esperança de que


ele baixasse a guarda por tempo suficiente para eu escapar. Eu
estava assumindo um risco, mas a hora chegou. Eu nao podia me
sentar ao lado de um homem que acusara o pai de meu filho de nada
mais do que um estuprador.

Naquele momento, ficou claro que a luz da varanda na cabeça


de Carson talvez estivesse ligada, mas voce pode apostar que
ninguem estava em casa. Ele era louco!

E as pessoas acham que vovó é louca...

Inclinando-me para frente, fiz uma demonstraçao de cobrir


minha boca com a mao que Carson nao estava segurando.

— Carson. — eu disse, — querido, nao me sinto tao bem. Voce


pode encostar?

Olhos cheios de preocupaçao encontraram os meus.

— O que ha de errado?
Eu adicionei um brilho aos meus dramas, forçando uma
mordaça por tras da minha mao.

— O bebe. — eu disse, engasgando novamente. — Eu fico muito


enjoada.

Carson assentiu.

— Ha uma saída bem aqui. Espere, querida.

Desacelerando o caminhao, ele olhou pelo espelho retrovisor e,


em seguida, por cima do ombro antes de virar a direita em uma
estrada de terra, bem, mais como uma entrada de automoveis, que
mal era grande o suficiente para o caminhao andar.

Puxando cerca de quinze metros, apagou as luzes e desligou o


motor. Entao, como o cavalheiro que ele era, amaldiçoado, ele
estendeu a mao e desafivelou meu cinto de segurança, liberando-me
da restriçao.

Eu nao perdi tempo abrindo a porta e pulando para fora.

Isso foi um erro.

Um enfurecido Carson contornou a frente do caminhao, seu


rosto se contorceu em um grunhido hediondo.

Agarrando meu braço, ele enfiou os dedos na minha pele,


empurrou-me contra a porta fechada e aproximou seu rosto do
meu.

— Voce nunca. — ele rosnou, — fuja de mim assim novamente.

Qualquer semelhança de bondade que ele demonstrou


momentos antes se foi.

Desapareceu.

— Voce me entende?

Lagrimas brotaram nos meus olhos.

Nao da dor, mas do medo.

— Voce esta me machucando. — eu chorei, sentindo a primeira


lagrima cair.

E ele estava.

Nao necessariamente fisicamente, mas ele estava quebrando


meu coraçao em um milhao de pequenos pedaços. Eu nao queria que
ele me tocasse e nao o queria perto de mim nem do meu filho.

Tudo que eu queria era Kyle.

Eu queria o seu calor.

Sua segurança.

Seu amor.

Eu so queria ele.

— Eu pensei que voce gostasse de se machucar. — ele


rosnou. — Claro que parecia assim quando vi Tuck leva-la.

Eu ja disse isso antes, mas vou dizer de novo...

O homem estava louco!


Nao so as palavras dele eram uma completa contradiçao com o
que ele havia dito minutos antes, mas elas eram como um todo.

Eu estava feita.

Oficialmente feita.

Incapaz de manter a farsa por mais tempo, toda a raiva e medo


que giravam em minha barriga borbulhavam, nublando meu
julgamento e me enviando para uma raiva induzida pelo panico.

Como uma linha de pesca fraca, eu bati.

Colocando minha mao livre em seu peito, eu o empurrei para


tras com toda minha força. Eu nao era forte de jeito nenhum, mas
pega-lo desprevenido era fundamental. Quero dizer, Carson nao era
um cara grande como Kyle, Hendrix ou Ty, mas ele ainda era maior
que eu.

Alem disso, ele tinha uma faca.

E so Deus sabe o que mais.

Pego de surpresa, ele tropeçou para tras, soltando meu braço.

Seus olhos brilharam em choque antes de se estreitarem de


raiva.

— Sua puta ingrata!

Cinco pes nos separaram.

Nao era o suficiente.

Eu trabalhei com vítimas suficientes de violencia domestica


para saber que ele estava prestes a cobrar, e quando ele fizesse, seria
um inferno para pagar. Infelizmente para ele, eu nao me deitava
como um cachorro e tomava o que quer que fosse, ou pior, queria me
entregar.

Como a mulher que me criou, e as mulheres que entraram para


terminar o trabalho quando ela foi chamada do lar para o Ceu, eu era
forte, eu era capaz e estava prestes a provar ao monstro diante de
mim que ele havia sequestrado a mulher maldita errada.

— Nao se atreva a colocar suas maos imundas em mim! — Eu


gritei, pressionando minhas costas contra a porta da caminhonete.
— Nunca mais!

Como esperado, ele cobrou.

Mas eu estava pronta.

Com tanto poder quanto pude reunir, enfiei a palma da mao no


nariz dele.

Osso rachado.

Sangue pulverizado.

Carson lamentou.

Eu sorri.

Suas maos voaram para seu rosto e ele se inclinou um pouco,


me dando a abertura perfeita. Agarrando seus ombros, me
estabilizei e bati minha rotula em suas partes o mais forte que pude.

Ele inclinou-se.
Caindo de joelhos, Carson ofegou de dor.

Mas eu nao terminei com ele ainda.

Depois de tudo o que ele fez, e depois do trauma que sem


duvida infligiu a minha família e a mim, ele merecia pagar. Alem
disso, eu nao queria que ele me perseguisse quando eu começasse a
correr. Depois do que acabei de fazer, ele me mataria se eu nao
escapasse dele de um vez.

Eu nao estava me arriscando.

Minha vida, junto com meu bebe, estava em jogo.

Kyle tambem.

Ele me disse uma vez que sem mim, ele nao existiria.

Eu acreditei nisso.

Ele ja havia perdido muito.

Perder-me seria o seu fim.

Agarrando cada grama de coragem que eu possuía pela


garganta, eu coloquei minhas maos nas laterais do rosto de Carson
e enfiei meus polegares em seus olhos.

Duro.

Ele gritou e agarrou-se a mim, mas eu ja havia largado meus


braços e pulado para o lado, fora de seu alcance. Meu coraçao batia
descontroladamente, despejando baldes de adrenalina em minhas
veias enquanto eu girava e corria.
Eu nao tinha ideia para onde ir, entao apenas corri.

Atras de mim, Carson ficou em silencio.

Ele nao estava gritando, nao estava chorando.

Nao estava xingando.

Isso me apavorou.

Escondendo-me na cobertura das arvores, continuei correndo,


tentando o meu melhor para ficar quieta. Quando vi uma fresta na
linha das arvores, corri mais forte, sem olhar para tras. No intervalo,
parei, encostei-me a arvore ao meu lado e olhei para o campo de
trigo diante de mim.

Era grande, enorme, mas eu podia ver uma estrada do outro


lado.

Qual estrada era, eu nao tinha a menor ideia.

Nao importa.

Uma estrada significava carros e carros significavam pessoas.

Era um risco enorme, mas eu tinha que correr.

Eu estava prestes a dar o primeiro passo para o campo quando


o rugido distante de um motor me chamou a atençao. Prendi a
respiraçao, ouvindo, tentando descobrir a que distancia estava e de
que direçao estava vindo.

Se eu pudesse apenas...

Farois surgiram.
Eles estavam longe, mas isso me daria tempo para atravessar o
campo.

Eu nao pensei duas vezes.

Pulando na abertura, corri para a estrada.

Quando cheguei a vinte metros, parei e olhei por cima do


ombro, mas nao vi Carson em lugar nenhum. Isso nao significava que
ele nao estivesse la atras. Ele era um especialista em se esconder nas
sombras.

Quando olhei para a estrada, o veículo estava mais perto,


movendo-se mais rapido.

Banhado pela luz da lua cheia, eu saí correndo mais uma vez.

Coraçao batendo, eu bombeei minhas pernas o mais forte que


pude, querendo que elas me levassem para onde eu precisava
ir. Quando cheguei ao centro do campo, apertei os olhos, tentando
dar uma olhada melhor no veículo que rugia cada vez mais perto a
cada segundo que passava.

O reconhecimento me atingiu, meu coraçao parou, e pela


primeira vez desde que fui sequestrada por meio de uma faca e
forçada a entrar na caminhonete de Carson, respirei fundo, porque
la, ao longe, estava meu cara.

Kyle.

Eu reconhecia o caminhao dele em qualquer lugar.

Escorregando, perdi o equilíbrio e caí para a frente,


aterrissando de joelhos.
Eu gritei em agonia quando cascalhos atravessaram meus
joelhos e nas minhas coxas me fazendo gritar de dor.

Sabendo que ele nao pode me ver no chao, me forcei a ficar de


pe.

Braços no ar, eu acenei quando comecei a correr novamente.

Desta vez, mais devagar.

— Kyle! — Eu gritei.

Os pneus do caminhao rangeram quando ele pisou no freio.

Eu gritei quando ele, junto com Ty, pularam para fora do grande
Chevy preto e começou a correr em minha direçao. Pulando a cerca
de ma qualidade que ficava entre eles e eu em um salto, seus pes
caíram no chao e eles começaram a se mover.

Acabou, eu disse a mim mesma. Kyle está aqui.

Exceto, que nao acabou.

Passos soaram atras de mim e eu sabia que Carson estava


chegando.

— Kyle, por favor! — Eu gritei, freneticamente. — Ajude-me!

— Carissa! — Ele gritou.

Eu abri minha boca para gritar de volta, mas nao tive a chance.

Os passos ficaram mais altos, o som da respiraçao pesada


chegou mais perto.

Entao, impacto.
Minhas costas bateram no chao e antes que eu pudesse piscar,
Carson estava em cima de mim.

Suas maos encontraram minha garganta, roubando minha


capacidade de respirar.

Tudo o que eu pude pensar quando minha visao esvaía era, por
favor, Kyle, depressa...
CAPÍTULO 42
Kyle
Vamos, baby, onde você está?

Ty e eu estavamos dirigindo nos ultimos trinta minutos, e nao


estavamos mais perto de encontrar Carissa do que quando
começamos. Tantas malditas emoçoes brotaram dentro de mim,
sugando a força da vida para fora de mim. Eu nao sabia se gritava,
chorava ou socava alguma coisa.

Parte de mim queria fazer todos os tres, enquanto a outra parte


so queria a minha garota.

Nao saber onde ela estava, se ela estava ferida, ou se ela ainda
estava respirando, estava me matando.

Se eu nao a encontrasse logo, perderia a cabeça.

— Foda-se! — Ty gritou, socando meu traço. — Onde aquele


filho da puta a levaria?

Se possível, Ty estava em tao mau estado quanto eu.

Eu nunca admiti isso, ou mesmo reconheci isso, mas perder Lily


tambem tinha estragado tudo. Ele a amava tambem, a via como a
irmazinha que ele nunca teve.

Eu nao era o unico que sofreu depois da morte dela.

Isso com certeza.


— Eu nao...

O radio que Anthony tinha me dado estalou, me cortando.

Eu esperei ansiosamente para alguem dizer alguma coisa.

Graças a Cristo, foi apenas alguns segundos antes deles.

Estatica, seguida pela voz de um homem, encheu a cabine


silenciosa do meu caminhao.

— Possível avistamento de sequestro. Vítima: Carissa Ann


Johnson. Pessoa de interesse: Carson Dale Rogers. Veículo: Branco 4
Portas Pick-up. Numero da Matrícula: Desconhecido. Local do
Veículo: 4500 Highway 3, Condado de Toluca.

Meu corpo inteiro ficou rígido.

— 4500? — Ty perguntou, a raiva fazendo sua voz grossa. —


Onde diabos esta isso?

Completamente congelado, eu nao conseguia falar, nao


conseguia me mexer.

Inferno, eu mal conseguia controlar o volante.

Ty notou meu estado fodido e a percepçao afundou nessa


cabeça espessa.

— Nao, nao, nao! — Ele gritou, dando um soco no painel com


cada palavra. — Foda-se nao!

— E o campo de Lily. — eu consegui dizer, sentindo meu


intestino se contorcer em um milhao de nos. — Aquele em que eles
a encontraram...
— Eu sei! — Ty gritou, perdendo a cabeça completamente. —
Droga, Kyle, pise nisso!

Eu nao precisava que ele dissesse duas vezes.

Batendo com o pe no pedal do acelerador, agarrei o volante de


couro com força enquanto o motor rugia e meu caminhao
cambaleou para frente, subindo a estrada.

— Mais rapido!

— Eu tenho isso no chao!

Uma segunda voz, essa que pertencia a uma mulher, veio pelo
radio.

— 4500 Highway 3. Possível avistamento de sequestro. Todas


as unidades procedam com cautela.

— Foda-se a cautela! — Ty continuou, dando um soco no painel


novamente.

— Ty. — eu disse, minha voz enganosamente calma. — Eu


preciso de voce para fazer algo por mim.

Ele nao respondeu, mas eu podia sentir seus olhos em mim.

— Se Carissa nao... — Sentindo-me mal do estomago sobre as


palavras que estavam no final da minha língua, eu parei. — Se ele
esta machucando ela e eu nao conseguir salva-la, eu preciso de voce
para cuidar de mamae e Heidi para mim, sim?

— Que diabos voce esta falando?

— Eu nao posso perde-la. — Isso nao era nada, mas a


verdade. — Se aquele filho da puta a matou, se ela foi embora... —
meus dedos se apertaram ainda mais — Eu nao vou conseguir lidar
com isso.

Um pesado silencio caiu entre nos.

Entao.

— Carissa nao vai a lugar nenhum, Tuck, entao nao diga essa
merda. — Ty disse, sua voz mais calma do que momentos antes. —
Ela nao... — Ele estalou a boca, refletindo sobre suas palavras antes
de continuar. — C e forte e inteligente como o inferno. Se alguem
pode passar por algo assim, e ela.

Eu queria acreditar nele, mas sabia que nao devia esperar.

Aos doze anos de idade, eu aprendi como a vida poderia ser


amarga, e apesar de eu nao me culpar mais pela morte de Lily, eu
nao me perdoaria se algo acontecesse com Carissa ou nosso bebe.

Nunca.

— Ouça, babaca, — Ty estalou. — Nada vai acontecer com


Carissa, entao tire isso da sua cabeça. Nos vamos encontra-la e voce
vai beijar o inferno fora dela enquanto eu bato a merda fora do ex-
novato. Entao vamos todos para casa, comer um pouco da torta de
Dottie, duas doses da bebida da velha louca jararaca, e vou pegar sua
futura cunhada e tranca-la no meu apartamento porque eu estou
farto de sua merda.

Nao era a hora de Ty começar a reclamar sobre Heidi.

Isso o impediu? De jeito nenhum.


— Eu convido a ela para um encontro, ela me diz que nao. Mas
entao ela se vira e diz a Chase que ela quer tentar namorar outros
caras. — Ele rosnou. — Eu disse a ela, eu a vejo com outro homem, e
eles morreriam. Claro e simples.

Atençao focada em chegar a Carissa, eu o ignorei.

Nao o impediu de latir embora.

— Tenho quase trinta anos de idade. Eu sou muito velho para


esses jogos, mas vou mostrar a sua bundinha. Ela quer jogar duro
para conseguir, eu vou jogar. Alem de Maddie, e isso nao conta, eu
nunca fui rejeitado por uma mulher. Elas se jogam em mim o tempo
todo, mas a unica que eu quero esta ocupada, quer seja me
mandando sorrisos ou revirando os olhos. A garota nao pode
inventar sua maldita mente e eu...

Eu tive o suficiente.

— Voce pode calar a porra...

As palavras morreram na minha língua quando o campo onde


Lily tinha sido encontrada apareceu. Graças a lua cheia, eu podia ver
cada centímetro quadrado dele, ate a linha das arvores que
serpenteava pelo lado mais distante. Eu tirei meu pe do acelerador,
deixando o caminhao naturalmente lento.

Eu prendi a respiraçao enquanto meus olhos examinavam o


campo.

Sem saber onde Carson estava estacionado, embora eu tivesse


uma boa ideia, eu nao tinha um plano de ataque. A coisa mais
inteligente para mim era ir de carro e estacionar ao longo da estrada,
a meia milha de distancia, e correr de volta.

Dessa forma, ele nao iria ouvir a minha abordagem.

Mas eu nao tenho tempo para essa merda.

Eu precisava me mover.

Espere…

Eu estreitei meus olhos, focando minha visao.

Um segundo depois, meu maldito coraçao quase explodiu


quando Carissa apareceu.

— Carissa! — Eu gritei de dentro do carro. — Porra, ela esta


viva!

Sem pensar, apertei meu pe no freio, trancando as rodas. O


caminhao começou a deslizar, a bunda chicoteando, mas por algum
milagre eu mantive o controle. Realmente nao importava. Nos
poderíamos ter virado, rolado na vala ou sido atingido por um
veículo a reboque; nada disso me impediria de ir atras da minha
mulher.

Mudando a transmissao para o parque, deixei o motor ligado e


pulei para fora.

Eu nao respirei fundo enquanto corria em direçao a ela,


pulando a cerca de merda que rodeava o campo com facilidade.

— Eu disse a voce que ela faria isso!

Nao respondi a Ty quando enfiei os pes no chao umido,


esforçando-me para correr mais do que nunca, empenhado em
alcançar a mulher que era o meu mundo inteiro. Um sorriso se
espalhou pelo meu rosto quando meu coraçao martelou contra
minhas costelas, minha adrenalina chegando.

Eu abri minha boca para gritar o nome dela novamente quando


o movimento por tras dela chamou minha atençao.

Meu sorriso desapareceu quando o lindo rosto de Carissa se


contorceu com uma mistura de panico e terror. Ela ouviu os sons que
Carson fez enquanto corria em direçao a ela, seu rosto uma mascara
de raiva e ma intençao. Minha garota, tao inocente e doce como ela
era, conhecia um monstro a mostra, pronto para pegar o que nao era
dele.

De jeito nenhum eu permitiria isso.

— Kyle, por favor! — Ela gritou. — Ajude-me!

Calafrios correram pela minha espinha.

As palavras que Carissa acabara de gritar eram as palavras


exatas que Lily usara enquanto lutava para fugir de Edgar Louis, o
dia em que ele a roubou da minha família. Imagens da minha
irmazinha lutando para se afastar dele, enquanto eu lutava para
alcança-la, brilhou diante dos meus olhos.

Uma apos a outra.

No espaço de um batimento cardíaco, cada ferida que Carissa


costurou de volta se romperam, explodindo nas costuras, a tempo
de eu ver um segundo monstro, tao maligno quanto o primeiro, ir
atras da minha futura esposa e criança.

— Carissa!
Sua boca se abriu, e ela começou a gritar, mas entao Carson
mergulhou para ela, batendo o corpo dele no dela, derrubando os
dois no chao. Incapaz de fazer qualquer coisa alem de correr, eu
assisti com horror quando ele a virou de costas em uma cama de
trigo esmagando e envolvendo seus dedos ossudos ao redor de seu
pescoço.

Entao ele apertou. Forte.

Ele estava sufocando-a, tirando a vida dela.

Assim como a Lily...

Algo dentro de mim quebrou.

Raiva que eu gostaria de nunca ter experimentado antes


assumiu.

Minha audiçao entorpeceu, meus membros ficaram dormentes


e meus olhos se voltaram para Carson.

A pouca distancia, meu corpo se moveu no piloto automatico


enquanto eu mergulhava para o monstro que estava tentando
arruinar todo o meu mundo, derrubando-o da pessoa mais
importante da minha vida. Ele grunhiu quando suas costas bateram
no chao e antes que ele pudesse dar um unico soco, eu estava nele.

Minhas pernas montaram seus quadris ossudos e meu punho


encontrou seu rosto, aumentando o dano que alguem ja tinha feito
em seu nariz. Mentalmente controlado e consumido pela furia, eu
nao prestei atençao a nada acontecendo ao meu redor.

Eu nao queria nada mais do que me virar e puxar Carissa para


os meus braços, mas isso era algo que eu nao podia fazer. Ainda
nao. Sua segurança era a coisa mais importante, e para mante-la
segura, eu precisava me livrar do maldito vil que tentava tira-la de
mim.

— Seu filho da puta!

Querendo que ele sentisse o que fez a Carissa sentir, eu deslizei


minhas duas maos em volta do seu pescoço e apertei, forte. Ele
arranhou minhas maos e socou o meu lado na tentativa de me tirar
de cima dele, mas nao importava.

Eu nao estava me movendo.

Pelo menos foi o que eu disse a mim mesmo.

Mas no momento em que Carissa me chamou, esses planos


mudaram.

— Kyle. — ela gritou, — eu preciso... voce. — Sua voz era fraca,


sua garganta entupida com lagrimas. — Por favor.

Eu nao pensei duas vezes antes de liberar Carson e fechar o


espaço entre Carissa e eu. Deitada no chao ao lado de um Ty
ajoelhado, seu lindo cabelo espalhado ao redor dela, ela olhou para
mim com olhos cheios de lagrimas.

— Shh, baby, eu estou aqui.

Ty se levantou e caminhou ate o lugar que Carson estava


deitado no chao, suas pernas puxadas em sua barriga e seus braços
cobrindo seu rosto enquanto ele se encolhia como a boceta que ele
era.

Nao importa embora.


Sua posiçao fez pouco para afastar o chute que Ty plantou ao
seu lado.

-Seu Pedaço de merda filho da puta! — Ele gritou. — Eu espero


que voce apodreça na prisao!

Sabendo que Ty podia perde-lo a qualquer segundo, eu me


movi, bloqueando a visao de Carissa do que estava acontecendo
atras de mim.

— Linda menina. — eu disse, colocando minhas maos


gentilmente nas laterais do pescoço dela. — Eu nao quero nada mais
do que te pegar e beijar a porra de voce agora, mas eu nao
posso. Preciso leva-la ao hospital, para que possam te verificar
primeiro. Sem nenhum equipamento, nao posso dizer o quanto voce
esta ferida.

E eu tenho que tirar você daqui...

Minhas maos tremeram um pouco contra ela, e ela gritou


quando os pequenos movimentos fizeram a dor se espalhar por seu
pescoço avermelhado.

Eu mordi de volta uma maldiçao.

— Carissa, me escute, baby. — Lagrimas derramaram de seus


olhos e isso quase me matou. — Antes de te mover eu preciso saber
o que doi.

— Apenas a frente…

— ...na frente da sua garganta? — Eu perguntei, terminando por


ela.
Ela assentiu.

— Eu estou bem, Kyle. Eu prometo. Apenas... por favor, me tire


daqui.

Transporta-la assim foi contra todo tipo de treinamento que eu


ja recebi, mas eu nao podia dizer a ela que nao. Nao quando ela
estava com dor, com medo da morte, e eu tinha os demonios do meu
passado beliscando meus calcanhares.

Movendo-me lentamente, eu a levantei em meus braços,


segurando-a contra o meu peito.

— Ty. — eu disse, sem olhar para ele. — Voce esta bem?

— Leve ela para o hospital. Eu vou tomar conta do desgraçado


e lidar com os policiais quando eles chegarem aqui. Se eles
chegarem aqui. Lentos filhos da puta. Moretti pode obter
declaraçoes de voces mais tarde. C e mais importante agora.

Ignorando Ty, Carissa enfiou a cabeça no meu pescoço e


começou a chorar.

— Shh, princesa. — eu disse, tentando o meu melhor para


acalma-la. — Vai ficar tudo bem.

— Eu quero ir. — ela disse novamente. — Por favor.

Sem hesitar ainda mais, comecei a andar.

Era meia noite e meia.


Com o coraçao na garganta, sentei-me na beira da cama de
hospital de Carissa, meus olhos fixos em sua barriga lisa. Ao meu
lado, sentou-se mamae que estava ocupada correndo os dedos pelo
cabelo da minha mulher, acalmando-a de uma forma que eu nao era
capaz no momento.

Mais do que foda, eu ainda estava fumegando.

Mesmo que eu estivesse feliz como o inferno por ter Carissa e


nosso bebe de volta, eu nao conseguia tirar a imagem de Carson
debruçado sobre ela, suas maos em volta da garganta, fora da minha
cabeça.

Eu estive tao perto de perde-la...

Perder os dois.

E essa merda nao estava bem.

— Hulk. — Carissa sussurrou, chamando minha atençao. —


Esta tudo bem. Me diga que voce entende isso.

Isso era uma completa besteira.

— Nada do que voce passou esta noite esta bem, princesa. —


Lutando para manter a calma, eu me levantei, deslizando as maos
nos meus bolsos. — Eu devo mante-la segura, protege-la. Eu nao fiz
isso. — Minha voz subiu com cada palavra que eu falei. — Eu falhei
com voce.

— Kyle

— Sim, linda garota?


— Cale-se.

Minha mandíbula tiqueou.

— Perdao?

— Qual palavra confundiu voce? O cale ou o se?

Espertinha.

— A vovo estava certa. Voce ficou muito atrevida ultimamente.

Mamae riu.

Ela fodidamente deu uma risadinha.

Eu nao estou brincando.

— Sra. Dottie — disse Carissa. — Voce pode bater nele para


mim desde que eu estou muito cansada para fazer isso?

Usando a mao livre, mamae bateu na minha, me pegando nas


pontas dos meus dedos.

— Que porra e essa, mamae?

Isso me rendeu outro tapa.

— Voce sabe como me sinto sobre essas palavras.

Carissa sorriu e minhas sobrancelhas se uniram. Apontando


para mamae, eu disse.

— Voces duas sao problemas quando juntas.

O rosto da minha menina se suavizou.


— Kyle, me escute.

— Estou ouvindo, princesa. — respondi, rangendo os dentes de


tras juntos.

— O que aconteceu esta noite nao e sua culpa. E culpa dele e


nunca vai ser de outro, so dele. — Eu abri minha boca para falar, mas
ela apontou um dedo para mim e ergueu as sobrancelhas, me
lançando um olhar que significava encrenca.

Nosso bebe nem tinha nascido e ela ja tinha aquele ar de mae


assustadora olhando por baixo. Voce sabe, aquele em que toda mae
tem que fazer e olhar para voce de uma certa maneira e voce mijara
em suas calças. Era esse olhar.

— Nao vamos voltar por esse caminho. Nos dirigimos,


conquistamos e nao estamos recuando. Voce me entende?

Meu humor despencou.

— Nao e tao facil.

— Sim.

— Como?

— Porque eu disse.

Puxando minhas maos para fora dos meus bolsos, cruzei meus
braços sobre o peito.

— Carissa, esse desgraçado estava perseguindo voce por mais


de seis meses.

E eu não fazia ideia...


Mais cedo, logo depois que Carissa foi levada e Heidi identificou
Carson como o homem que a levou, Anthony conseguiu um
mandado de busca para o apartamento de Carson. O que ele
encontrou depois de revistar foi todo tipo de coisa fodida. So de
pensar nisso me deixou tao irritado que nao consegui respirar.

Todo o apartamento do idiota tinha sido um santuario para a


minha garota, mas a unica coisa que mais me irritou foram as fotos
que ele tinha. Eu nao as tinha visto, nao queria tambem. Se o fizesse,
ficaria com tanta raiva que encontraria uma maneira de entrar na
cadeia do condado de Toluca so para poder terminar o que tinha
começado antes.

Parte de mim queria ter matado ele.

A outra parte se perguntou por que Ty nao tinha.

— Voce esta me ouvindo?

Concentrando minha atençao de volta em Carissa, eu respondi.

— Sim, baby, eu estou.

— Nao de a ele esse poder. — ela sussurrou, lagrimas enchendo


os olhos pelo que parecia ser a centesima vez esta noite. — Nao
deixe que ele tire todo o progresso e toda a felicidade pela qual
lutamos. Apenas nao faça isso.

A dor em suas palavras me atingiu diretamente no peito.

Ela estava certa.

Eu nao podia permitir que as açoes de outra pessoa roubassem


minha felicidade. Eu estava prestes a ser pai e, com sorte, se
conseguisse convencer Carissa a se casar comigo, um marido.

— Eu sei que o que aconteceu hoje foi difícil para


voce; especialmente quando voce me encontrou la... naquele lugar.

O lugar onde minha irmã morreu...

— Mas querido, estou bem.

Mamae, que estava quieta ate aquele ponto, tirou os dedos do


cabelo de Carissa e se virou para mim. Seus grandes olhos
expressivos se fixaram nos meus e eu sabia que ela estava prestes a
dizer algo que era difícil para ela expressar.

— Filho, eu quero que voce me escute. — Eu permaneci em


silencio. — Eu amei sua irmazinha com cada gota do meu coraçao e
alma, mas, querido, ela se foi. Tem sido ha muito tempo agora. Seu
pai tambem. — Como Carissa, lagrimas começaram a cair em suas
bochechas. — E hora de deixar as memorias deles descansarem em
paz.

— Eu nao entendo.

E eu nao fazia.

Deixar suas memorias descansarem em paz?

O que diabos isso significa?

— Significa que nao nos demoramos em coisas que estao feitas


e terminadas. Nao podemos mudar o que aconteceu com Teacup
mais do que podemos mudar o que aconteceu com Carissa hoje. A
unica coisa que podemos fazer e aprender a rolar com os socos.
— Mamae, eu...

— Ela teria querido que voce fosse feliz, Kyle. Mais do que tudo,
e o que ela queria.

Eu nao duvidei disso nem um pouco.

— Se voce deixar que o que aconteceu hoje te jogue de volta


naquele lugar escuro, voce vai perder muito mais desta vez. Voce vai
perder Carissa... — ela fez uma pausa — ...e voce vai perder o seu
filho tambem.

Carissa ofegou.

— Como voce sabia? Heidi te contou? Se ela fez, eu juro...

Mamae riu. Virando-se para encarar Carissa novamente, ela


acariciou sua perna.

— Uma mae sabe. Voce descobrira isso em breve.

— Voce esta...

TOC, Toc, toc.

Antes que eu pudesse dizer quem estava na porta para entrar,


foi aberto. Uma sorridente Heidi seguida por um irritado Daryl
entrou.

— Este lugar nao tem uma xícara de cafe fresco. Em todos os


lugares, tudo o que esta naquelas xícaras la em baixo parecem lodo.

Depois de aparecer no hospital uma hora antes, Daryl nao tinha


feito nada alem de tomar cafe. O homem estava prestes a me tirar da
minha maldita mente. Eu sei que ele ficou abalado com o que
aconteceu com Carissa, mas eu nao podia suportar muito mais.

E o homem ia ser meu sogro.

— Daryl, por que voce nao desce...

Quando mais tres batidas soaram na porta, eu estava pronto


para puxar meu cabelo para fora. Carissa precisava descansar, nao
se distrair com todas essas malditas pessoas que continuavam indo
e vindo.

Mas quando uma senhora mais velha puxou uma maquina de


ultrassom atras dela, entrou no quarto, qualquer aborrecimento ou
raiva que eu senti se dissipou.

— Bom dia, senhorita Johnson. — ela disse, com a voz


embargada. — Meu nome e Betty e se esta tudo bem com voce, Dr.
Reynolds gostaria que eu desse uma olhada no seu doce bebe.

Daryl fez um som de asfixia.

— Bebe?

— Surpresa, papai! — Carissa sorriu. — Voce vai ser um vovo.

— Voce esta gravida?

Carissa assentiu.

Apontando para mim, Daryl continuou.

— Dele?

Mais uma vez, ela assentiu.

Olhos do tamanho de discos, Daryl virou o olhar para mim.


— Lembre-me de te matar amanha.

Suas palavras podem ter sido duras, mas seus olhos eram tudo
menos isso. O homem pareceu a meio segundo de cair em lagrimas.

O mundo ao meu redor caiu quando vi a maquina de ultrassom


acender. Sentado na cama ao lado de mamae, peguei a mao de
Carissa na minha.

— Voce esta pronta para isso, menina bonita?

Ela assentiu.

— Eu estou. Mais do que tudo, eu estou.

— Tudo bem. — disse Betty. — Aqui vamos nos.

A sala ficou em silencio e eu comecei a surtar. E se algo estivesse


errado? E se algo...

Minha mente ficou vazia quando um som rapido e constante


atingiu a sala.

— E isso. — disse Betty, — e o batimento cardíaco do seu bebe.

A mao de mamae se esticou e agarrou a frente da minha camisa


quando ela soltou um soluço alto o suficiente para acordar os
mortos. Eu passei um braço ao redor dela, puxando-a para mim
enquanto eu segurava a mao tremula de Carissa enquanto ela
chorava tao forte quanto.

No final da cama, Heidi gritou.

Nao tentei esconder isso tambem.


Daryl, por outro lado, tentou esconde-lo.

Mas tudo bem, eu ainda vi suas lagrimas.

Quanto a mim? O batimento cardíaco do meu bebe era a minha


ultima peça que faltava.

Ao ouvir isso, eu me tornei inteiro novamente.


EPÍLOGO
Kyle
Dez meses depois

Era uma tarde de sabado.

Segurando minha filha recem-nascida com força, ajoelhei-me


diante de uma lapide que nao havia visitado desde que foi colocada
no lugar. Se nao fosse pelo pacote dormindo que eu segurava em
meus braços, eu provavelmente nunca teria vindo.

Mas chegou a hora.

Hora de me perdoar.

Hora de eu deixar ir.

Hora de seguir em frente.

Engolindo em volta do caroço que se formou em minha


garganta, olhei para minha linda garotinha e sussurrei as palavras
que estive ensaiando na semana anterior.

— Quero que voce saiba que nao estou mais com raiva de
voce. Embora eu nao concorde com as coisas que voce fez, ou as
escolhas que voce fez, eu nao me ressinto mais de voce.

— Se estou sendo honesto, ainda amo voce tanto quanto


sempre. Por muitos anos voce foi meu melhor amigo.

— E entao tudo desmoronou.

— Sinto muito que voce tenha sido tao destruído pela sua
propria dor e pesar por ter perdido a Lily e que voce escolheu
descontar em mim, o que fez com que voce perdesse sua unica outra
criança no processo.

— Agora que tenho uma filha minha, posso entender melhor.

— Novamente, eu nao tolero as coisas que voce fez ou as


escolhas que voce fez, mas de um homem falho para outro, e de um
pai para outro, eu entendo. Mas tambem quero que voce saiba que
nao cometerei os mesmos erros que voce.

— Nao importa o que a vida me guarde, nunca abandonarei


minha esposa ou filhos, e nunca os farei sentir nada menos do que
sao, que e todo o meu mundo.

— Voce me criou para ser um bom homem; um homem forte, e


e exatamente isso que pretendo ser.

Parando para respirar, mergulhei a cabeça e dei um beijo na


testa da minha filha.

— Eu te perdoo pai. Por tudo. Onde quer que voce esteja, espero
que seja lindo, e espero que seja com a Lily.

Lagrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu me levantava


e andava dez passos na direçao oposta, onde minha linda garota
estava me esperando.

Sabendo que eu precisava ficar sozinho quando encontrasse o


fechamento que procurava com meu pai, ela me dera espaço.

— Oi, princesa. — eu disse, inclinando-me e pressionando um


beijo suave em seus labios. — Voce vem comigo em mais um?

Ela sorriu e assim como todas as outras vezes, meu coraçao


derreteu.

— Sempre. Eu amo voce, Hulk.

Calor se espalhou atraves de mim.

— Te amo mais, baby.

Cada palavra era verdade.

Depois de dar uma piscadela na direçao dela, virei-me e me


ajoelhei na frente de outra lapide, que eu havia visitado varias vezes
antes.

— Eu tenho alguem que eu quero te apresentar tambem,


Teacup. Tenho certeza que voce ja sabe tudo sobre ela, mas estou
fazendo o esforço apenas no caso.

Eu ri.

— Voce deveria ficar feliz em saber que sua sobrinha parece


exatamente como voce. Eu so estou esperando que ela nao tenha a
sua atitude para combinar. Se ela fizer, eu estou bem e
verdadeiramente fodido quando ela ficar mais velha.

Sorrindo, eu segurei minha doce menina com um braço, e usei


minha mao livre para soltar o cobertor rosa suave que Carissa a
tinha embalado, revelando mais de seu rosto de tirar o folego.
— Teacup, diga ola para Lily Ann.

Fim
Sobre a autora
JE Parker e uma escritora americana que nasceu e foi criada no
grande estado da Carolina do Norte. Uma beldade do sul no coraçao,
ela e viciada em cha doce, refrigerante de cereja e torta de pessego.

JE nao e apenas casada com o homem dos seus sonhos (embora


seja uma dor total na retaguarda), ela tambem e mae de um rebanho
de crianças doces e (as vezes) angelicais (apenas quando estao
dormindo). Apesar de seu comportamento demoníaco ocasional e
estomagos sem fundo, JE ama sua pequena tribo mais do que as
palavras poderiam expressar.

Nos fins de semana, voce pode encontra-la sentada no sofa,


aplaudindo (ou amaldiçoando) seu time de futebol favorito,
enchendo o rosto com comida lixo e bebendo uma garrafa de vinho
tinto barato.

Quando nao esta ocupada em garantir que o marido nao


queime a casa ou ser um arbitro para seus filhos brigoes, JE gosta de
ler, escrever (obviamente) e ouvir uma grande variedade de
musicas.
agradecimentos
Christina (AKA Cupcake)

Mais uma vez, voce me puxou. Como voce me aguenta, eu nunca


vou saber. Obrigada por ser minha pessoa.

Cupcake + Stinger = Forever

Sara Miller

A dedicaçao diz tudo. Simplificando, acho que voce e


incrível. Obrigada por ser uma xícara de sopa em um mundo cheio
de bosta demais.

Tempi Lark

Voce e forte, voce e capaz, e voce vai balançar o inferno fora


dessa coisa de autor.

Eu estou tao orgulhosa de voce.

Brittany, Julia e Ari (Red Hatter Book Blog)

Voces, senhoras, me apoiaram com o meu primeiro livro, e cinco


livros depois, voces ainda estao comigo. Pode parecer sentimental,
mas isso significa o mundo para mim. Embora eu sugue em
expressar isso as vezes, saiba que eu aprecio cada coisa que cada
uma de voces faz. Por causa de voces, o mundo dos livros brilha um
pouco mais.

As senhoras viciadas em romance de JE


Voces. Estao. Com. Tudo.

O apoio que voces me mostram e insondavel.

Obrigada por terem minhas costas, e obrigada por me amar


tanto quanto voces amam esses personagens loucos meus.

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