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JURISPRUDÊNCIA NACIONAL
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar a Lei nº 9.613 de 3 de março de 1998, também conhecida como lei
de lavagem de dinheiro, primeiramente sendo analisado a evolução da conduta que passaria a ser o objeto da lei
e posteriormente as implicações na jurisprudência nacional, em que pese o Superior Tribunal de Justiça. Para tal,
utilizamo-nos da modalidade de pesquisa exploratória, com a utilização de doutrina especializada, como também
jurisprudências acerda do tema. Destarte, a lavagem de dinheiro possui uma rica discussão acerca de seus
aspectos jurisprudenciais.
1 INTRODUÇÃO
A prática da lavagem de dinheiro, embora possua origens que remontam a períodos
longínquos da civilização humana ocidental, encontrou tipificação enquanto ato ilícito na
maioria dos países americanos e europeus apenas nas últimas décadas do século XX — tendo
sido, àquela época, identificada como cerne da atuação de diversas organizações criminosas,
sobretudo relacionadas ao tráfico de drogas, dado que tais associações utilizavam-se de
operações bancárias escusas para explorar brechas de leis (internas e internacionais) e, assim,
manter a anonimidade de seus recursos financeiros.
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Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Maranhão; amandamaria.mc@gmail.com;
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Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Maranhão; beatrizmelomb@gmail.com;
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Graduando em Direito pela Universidade Federal do Maranhão; iagorss12@gmail.com;
4
Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Maranhão; mayla.2013.henrique@gmail.com;
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Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Maranhão; rackelfmadeira@gmail.com.
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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
A questão que envolve o surgimento do crime de lavagem de dinheiro ou de capitais
remonta a diversos acontecimentos históricos que contribuíram para a conceituação dessa
conduta pelo ordenamento jurídico nacional. Tendo em vista isso, é possível citar alguns
desses acontecimentos e como eles contribuíram até o conceito atual desse crime.
Num primeiro plano, Anselmo citado por Gondim (2015) destaca a máxima anedótica
pecunia non olet dita por Tito, filho do imperador Vespasiano, após seu pai ter gravado com
um determinado imposto as latrinas romanas. Tal máxima significa que o dinheiro não tem
cheiro, já que nesse fato histórico em questão, Vespasiano pergunta ao filho se sente algum
cheiro, obtendo uma resposta negativa. Vespasiano anteriormente teria mandado lavar as
moedas em um rio.
Outrossim, outro fato histórico que conforme Mendroni (2018) contribui para o
surgimento da lavagem dinheiro é a pirataria do séc. XVII, tendo em vista que era algo
considerado uma proposta de elevado custo, tendo em vista que manter um navio não era
barato, como é possível observar o exposto abaixo
Havia um alto custo em manter um navio pirata, posto que muitas coisas eram
obtidas por meio de hostilidade assumida. Uma vez admitida a pirataria, a tripulação
necessitava ser alimentada e paga; o navio tinha que ser mantido, armas deviam ser
estocadas com pólvora e munição. Muitas coisas eram obtidas por roubos, mas
muitas outras com a ajuda dos portos amigos. Aí mercadores providenciavam coisas
para o navio, roupas, cerveja, vinho, munição, enquanto oficiais corruptos fechavam
os olhos para a presença de saqueadores no seu setor de vigilância. Mas então os
piratas, após saquearem e roubarem, não enterravam as ―arcas dos tesouros‖, como
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Em síntese, havia uma troca de moedas por meio dos donos dos navios piratas com
outros mercadores que possuíam boa reputação, era entregue moedas advindas das atividades
ilícitas desses mercadores – donos de navios – e em troca recebiam outras moedas em uma
quantidades menores ou moedas de valores mais altos, dessa forma observa-se uma
equivalência entre essas moedas.
Vale frisar ainda, outro evento histórico mais contemporâneo, que é o movimento das
organizações mafiosas norte-americanas da década de 1920, podendo citar dois gangsters6
Meyer Lansky e Al Caponne duas figuras icônicas da lavagem de dinheiro, um obteve sucesso
com tal conduta delitiva, já o outro nem tanto. O contexto da atuação dos dois é bem parecido,
ambos líderes de associações criminosas. Al Caponne lucrava com o contrabando de bebidas
com alto teor alcoólico, tendo em vista que vigorava uma Lei Seca que permitia apenas a
venda de bebidas com 0,5 grau de teor alcoólico, além de outras condutas criminosas. Já
Lansky ficou bastante famoso pela forma como lavava o dinheiro advindo de suas condutas
ilícitas, sendo por meio de depósitos em bancos que estavam fora da jurisdição americana e
dessa forma implantou séries de lavanderias para mesclar o dinheiro obtido de forma ilícita
como a lícita.
Por fim, é possível notar dentro desses três acontecimentos históricos tão distantes
entre si, porém com finalidades semelhantes a perpetuação da lavagem de dinheiro, e com
isso a necessidade da implementação de maneiras a coibir tais práticas, sendo que no Brasil
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Faz referência a alguém envolvido em atividades criminosas.
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ocorreu por meio da ratificação da Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de
Entorpecentes em que se comprometeu a criminalizar a conduta da lavagem de dinheiro
advindas desse tráfico ilícito e posteriormente ampliando o rol de crimes antecedentes, com
isso foi promulgada a Lei nº 9.613 de 3 de março de 1998.
de Processo Penal, isto é, se o acusado não comparecer nem constituir advogado, deve ser
citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo.
O artigo 7º da Lei nº 9.613/98 trata dos efeitos da condenação, para além daqueles já
previstos pelo Código Penal. São eles: a perda, em favor da União ou dos Estados, de todos
bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática dos crimes de lavagem
de dinheiro; e a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de
diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas, pelo
dobro do tempo da pena privativa de liberdade aplicada, isto é, de 6 a 20 anos.
Outro dispositivo que merece destaque é o artigo 14 da Lei de Lavagem de Dinheiro,
que trata da criação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), no âmbito
do Ministério da Economia. De acordo com o supracitado dispositivo, o COAF tem ―a
finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as
ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta Lei, sem prejuízo das competências
de outros órgãos e entidades‖. Destarte, fica evidente a relevância de tal órgão para ações
rápidas e eficientes no combate à ocultação ou dissimulação de bens, direitos e valores.
Por fim, destaca-se que os aspectos trazidos no bojo da Lei de lavagem de dinheiro não
se encerram nas pontuações aqui apresentadas. A Lei possui diversos outros apontamentos
substanciais, como a questão da comunicação de operações financeiras e dos crimes da
lavagem praticados no exterior, que só são possíveis de serem abordados em toda sua
complexidade com aprofundado estudo. Contudo, como forma de complementar os pontos
destacados da lei seca, a seguir, serão apontadas algumas teses acerca da Lei nº 9.613/98 no
Supremo Tribunal Federal.
exemplo. A Convenção de Palermo, em seu art. 6º, item 2, ―e‖, apresenta que devem ser
observados os princípios fundamentais de cada Estado parte para a responsabilização do autor
do crime antecedente pelo crime de lavagem de dinheiro. No ordenamento jurídico brasileiro
não existe a mesma vedação presente em alguns países europeus, o que alguns doutrinadores
entendem como indicativo da possibilidade dessa criminalização.
Entretanto, ainda assim, diversos doutrinadores pátrios são contrários à essa
possibilidade de responsabilização do autor do primeiro ilícito cometido. Muitos utilizam
como argumento o exemplo do crime de receptação, que nesse caso o sujeito ativo não pode
ser o mesmo do crime antecedente; na hipótese de ser a mesma pessoa, haveria mero
exaurimento da conduta. (LIMA, 2020)
Corroborando a ideia de criminalização, Delmanto (2006) aponta bis in idem,
afirmando que assim como no crime receptação, a lavagem de dinheiro seria um exaurimento
do crime anterior. Ainda, há o entendimento de que essa responsabilização estaria ferindo o
art. 5º, LXIII, da Constituição Federal, em que é apresentado o direito do acusado em não
produzir provas contra si mesmo; baseado nisso, não seria coerente requerer que uma pessoa
que comete um crime não busque encobri-lo.
Em discordância a tudo que foi exposto, Renato Brasileiro (2020) ensina que a
legislação brasileira não aponta para a vedação da autolavagem, inexistindo a denominada
―reserva de autolavagem‖ e, ainda, que no crime de favorecimento real (art. 349, Código
Penal) há expressa descrição da impossibilidade do acusado responder pelo crime
antecedente, o que não é o caso da lei nº 9.613/98, que dispõe sobre o crime de lavagem de
dinheiro. Ainda, o doutrinador apresenta a impossibilidade da utilização do princípio da
consunção, tendo como fundamento que o delito anterior não consegue abarcar o delito
cometido através da conduta posterior.
Diante dos pontos controvertidos expostos, o Superior Tribunal de Justiça entende que
embora a tipificação da lavagem de dinheiro dependa da existência de um crime
antecedente, é possível a autolavagem - isto é, a imputação simultânea, ao mesmo
réu, do delito antecedente e do crime de lavagem -, desde que sejam demonstrados
atos diversos e autônomos daquele que compõe a realização do primeiro crime,
circunstância na qual não ocorrerá o fenômeno da consunção (APn 856/DF, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, Corte Especial, julgado em 18/10/2017, DJe
6/2/2018).
5 DISPOSIÇÕES FINAIS
Os acontecimentos históricos que contribuíram para a nomeação e posterior
delimitação do crime de lavagem de dinheiro fazem referência a diversos momentos da
história da civilização, tendo como ponto de partida a máxima anedótica pecunia non olet (―
o dinheiro não tem cheiro‖) dita por Tito, perpassando pela pirataria do séc. XVII e pela
atuação "gângster" do século XX, acarretando repercussões que viriam a se manifestar por
séculos.
Destarte, a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Psicotrópicos,
concluída em Viena a 20 de dezembro de 1988 e aprovada pelo Congresso Nacional em 14 de
junho de 1991, introduziu no Brasil a tipificação da lavagem de dinheiro enquanto conduta
criminosa. A partir disso e com a posterior promulgação da Lei nº 9.613/98, o tema passou a
ser alvo de inúmeras análises jurídicas tanto por parte de doutrinadores quanto de
magistrados. Por exemplo, em decorrência dessas discussões, a supramencionada Lei sofreu
aprimoramento por meio da Lei nº 12.683 de 2012. Outras teses relevantes foram suscitadas
pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), sendo este o caso do APn 856/DF, julgado em
18/10/2017 e do RHC 109122/DF, de 2019.
Entende-se, diante disso, que não encontram-se findas as possibilidades de
interpretação da Lei nº 9.613/98. Por este motivo, e tendo em vista o emprego do supracitado
dispositivo em casos de importância chave no cenário político e jurídico nacional,
compreendemos que embora os estudos realizados nesta pesquisa acadêmica tenham sido
deveras elucidativos, a riqueza do tema em discussão não nos permite esgotá-lo. Assim, resta-
nos atentar aos futuros entendimentos doutrinários e jurisprudenciais que certamente serão
firmados nos anos conseguintes, devendo o ordenamento brasileiro sempre visar primar de
forma mais efetiva pela coibição de atos ilícitos que atentem criminosamente contra a
isonomia dos recursos financeiros nacionais.
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REFERÊNCIAS
DELMANTO, Roberto. Leis penais especiais comentadas. Recife: Renovar, 2006.
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Penal Especial Comentada: volume único. 8. ed.
Salvador: Juspodvim, 2020.
MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime de Lavagem de Dinheiro. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2018.