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Dilemas e desafios para instalação de sistemas agroflorestais no interior e


entorno do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba – (SP)

Article · December 2016


DOI: 10.14393/RCT112219

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2 authors:

Sidnei Raimundo Eliane Simoes


University of São Paulo University of Campinas
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DILEMAS E DESAFIOS PARA INSTALAÇÃO DE SISTEMAS
AGROFLORESTAIS NO INTERIOR E ENTORNO DO PARQUE
ESTADUAL DA SERRA DO MAR – NÚCLEO PICINGUABA – (SP)

DILEMMAS AND CHALLENGES TO INTRODUCE


AGROFORESTRY’S SYSTEMS IN THE CORE AND BUFFER
AREAS OF THE SERRA DO MAR STATE PARK - PICINGUABA
NUCLEUS – STATE OF SÃO PAULO, BRAZIL

Sidnei Raimundo
Doutor em Geografia. Professor da EACH-USP. Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
Universidade de São Paulo – Campus da Zona Leste
sraimundo@usp.br

Eliane Simões
Doutora em “Ambiente e Sociedade” pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Ex-
gestora do Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar,
licanp@terra.com.br

Resumo

A criação de Unidades de Conservação (UCs) no Estado de São Paulo reproduziu um


padrão arbitrário e antidemocrático, comum a todo o país, pois o processo de criação
destas áreas foi realizado sem considerar os anseios de comunidades humanas
tradicionais que habitavam a área. Estas populações tiveram seus modos de vida
alterados, pois foram tolhidas de praticar seus sistemas tradicionais de manejo. Essa
situação produziu conflitos ambientais e sociais, com um baixo envolvimento e
reconhecimento das áreas protegidas por parte dessas comunidades tradicionais e
também agravamento das condições de vida das comunidades. Esse artigo descreve os
principais problemas enfrentados por uma comunidade localizada no interior e entorno
do Parque Estadual da Serra do Mar, localizado no extremo norte do litoral paulista no
período de 2013 a 2014; discute alguns dos manejos praticados pela comunidade, com
destaque às práticas agrícolas tradicionais e uso dos recursos, numa tentativa de
instalação de sistemas agroflorestais; e aponta possibilidades e perspectivas para manter
o uso tradicional agrícola destas comunidades que habitam o interior e entorno de
unidades de conservação de proteção integral.

Palavras-Chave: Comunidades tradicionais. Plano de manejo. Sistemas agroflorestais.


Agricultura de coivara. Unidades de Conservação.

Abstract

The Protect Areas in the São Paulo State has been created based in an arbitrary and
antidemocratic process that had never considered the desires and needs of traditional
human communities, who inhabited the area. These populations had had its modified
ways of life, therefore they had been hindered to practice its traditional systems of
handling. This situation produced environmental and social conflicts, with a low

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involvement and recognition of this protect areas on the part of these traditional
communities and these communities had also aggravated their conditions of life. On the
basis of these information, this paper describes the main problems faced for a
community located into and in the buffer areas of the Serra do Mar State Park -
Picinguaba Nucleus - located in the extremity north of the São Paulo coast from 2013 to
2014; it argues some of the uses practiced for the community, with prominence to the
practical traditional of agriculture and use of the resources, in an attempt of installation
of agroforestys systems; and showing possibilities and perspectives to keep the
traditional agricultural uses of these communities that inhabit protect areas in State of
São Paulo.

Keywords: Traditional communities. Master plans. Agroforestry’s systems. Slash-and-


burn agriculture. Protect areas.

Introdução

O Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) estende-se do Litoral Norte do


Estado de São Paulo, a partir da divisa com o Estado do Rio de Janeiro, até os
municípios de Peruíbe e Pedro de Toledo no Litoral Sul, envolvendo parte de 23
municípios (litorâneos e de planalto). É o maior parque estadual paulista, com 323.390
ha, englobando escarpas e alguns promontórios da Serra do Mar, porções do Planalto
Atlântico e segmentos restritos de planícies costeiras. Detém, assim, a maior parte das
nascentes dos rios que vertem para o Atlântico, responsáveis pelo abastecimento de
água das populações desses municípios, especialmente do litoral. No município de
Ubatuba, o Parque abrange uma área de aproximadamente 47.500ha, administrada pelo
núcleo operacional cuja sede está localizada na região de Picinguaba, fronteira com o
município de Paraty (RJ), situando-se, portanto, no grande eixo de desenvolvimento
econômico do país, entre São Paulo e Rio de Janeiro e apresentando forte apelo para as
práticas de veraneio e turismo.
Dentro dos limites do Núcleo Picinguaba são encontrados vários ecossistemas
representativos da Mata Atlântica, desde manguezais e vegetação de planície litorânea
com grande diversidade de espécies, até pequenas ocorrências de vegetação de altitude
no alto de seus pontos culminantes, como a Pedra do Espelho (1.670 metros) e os Picos
do Corcovado (1.150 metros) e Cuscuzeiro (1.275 metros). É o único trecho do Parque
Estadual que abrange o nível do mar, incluindo cinco praias e também cinco vilas. São
os bairros do Cambury, Sertão da Fazenda, Vila de Picinguaba, Sertão de Ubatumirim e
Aldeia Boa Vista, compostos predominantemente por moradores tradicionais, entre

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caiçaras, quilombolas e indígenas, num total de cerca de 1200 habitantes. Estes
agrupamentos constituem-se num dos últimos redutos de todo o litoral paulista em que
caiçaras ainda mantêm aspectos de sua cultura tradicional, praticando pesca artesanal e
agricultura de subsistência. No sertão de Ubatumirim, como se demonstrará mais
adiante, a agricultura comercial de banana, principal atividade econômica desta
comunidade, herdou parte das técnicas tradicionais de manejo para a produção
comercial desta fruta.
Através de dados obtidos no Diagnóstico Sócio-Econômico, elaborado pelo
Instituto Florestal em 1992 e 1993, com algumas atualizações posteriores,
identificaram-se os seguintes dados populacionais: Cambury: 308 pessoas, divididas em
49 famílias e 152 casas (dados atualizados em 2004, pelo Programa de Saúde da Família
– Secretaria Municipal de Saúde); Sertão da Fazenda: 184 pessoas, divididas em 46
famílias e 25 casas (dados de 1992); e Sertão de Ubatumirim, objeto principal deste
artigo – 365 pessoas, divididas em 144 famílias (DEVIDE, 2004).
O Plano de Manejo do PESM foi elaborado em 2005 e aprovado em 2006 e
embora já devesse ter sido revisado em 2011, segundo a legislação, isto ainda não
ocorreu. Mas é importante destacar que no plano foi estabelecida pela primeira vez,
após 30 anos da implantação do Parque, uma estratégia institucional/oficial de gestão
das áreas ocupadas pelas populações tradicionais, em consonância com o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e as atuais diretrizes do decreto que o
implantou (Decreto Federal 6.040/2007). Apesar de estarem localizadas no interior de
unidade de conservação de proteção integral (PESM), as comunidades tradicionais que
ali vivem utilizam os recursos naturais da região há muito tempo.
Para viabilizar a integração das populações tradicionais aos objetivos mais gerais
do PESM, foi estabelecido no Plano de Manejo do Parque um zoneamento que incluiu
as então chamadas Zonas Histórico-Cultural Antropológicas (ZHCAn), que contemplam
as áreas nas quais vivem as comunidades caracterizadas como tradicionais (caiçaras e
quilombolas), dos quatro agrupamentos do Núcleo Picinguaba (Cambury, do Sertão de
Ubatumirim, do Sertão da Fazenda e da Vila de Picinguaba).
Dentre as atividades de implantação do Plano de Manejo, o Programa de Interação
Sócio-Ambiental aponta uma série de ações para viabilizar a gestão compartilhada dessas
ocupações e, entre elas, a formulação de um Plano de Uso Tradicional no Sertão de

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Ubatumirim. No Cambury foi elaborado um micro-zoneamento em 2004, destinando, no
interior do parque, áreas para o manejo tradicional das roças caiçaras (sistema de coivara
ou agricultura de “corte-e-queima”) e um remanejamento na orla de áreas comunitárias
voltadas à visitação, que englobam construções para o atendimento ao visitante
(campings, restaurantes e pousadas). Este micro-zoneamento teve a aprovação dos
Ministérios Públicos Federal e Estadual e constituiu-se numa importante ferramenta para
redução dos conflitos sociais e para garantir espaços de conservação da natureza. Seus
resultados foram incorporados na elaboração do plano de manejo da unidade de
conservação e têm sido externados a outras áreas do Núcleo, como a Vila de Picinguaba,
que está construindo um instrumento equivalente. A equipe gestora do parque iniciou as
discussões com a comunidade do Sertão de Ubatumirim para também construir
conjuntamente com a comunidade um instrumento equivalente ao do Cambury e, assim,
reduzir os conflitos lá existentes.
Considerando essas informações, esse artigo teve como objetivos: identificar os
principais problemas que a comunidade do Sertão de Ubatumirim atravessa; discutir
alguns dos manejos praticados pela comunidade, com destaque às práticas agrícolas
tradicionais e uso dos recursos, numa tentativa de instalação de sistemas agroflorestais;
e apontar possibilidades e perspectivas para manter o uso tradicional agrícola destas
comunidades que habitam o interior e entorno de unidades de conservação de proteção
integral.
Para tanto, os procedimentos metodológicos se dividiram em três frentes de
levantamento: 1) pesquisa bibliográfica e documental sobre a legislação incidente e os
principais instrumentos de planejamento, como o plano de gestão e plano de manejo do
parque e zoneamentos técnicos elaborados pelo órgão gestor do parque (Fundação
Florestal). Estes instrumentos forneceram informações sobre o ordenamento oficial
proposto e os conflitos ainda estabelecidos com a população caiçara residente. 2) uma
análise da paisagem, numa abordagem geossistêmica, conforme preconizado por Passos
(2003), Colângelo (1996), Monteiro (1980), entre outros, com o qual procurou-se a inter-
relação dos componentes da paisagem formando um conjunto único, que caracterizaram
os diversos ambientes e possibilitando a identificação da zonação e a transição da
paisagem natural da área de estudo. 3) entrevistas com lideranças, que visaram apontar
como se dá o manejo tradicional e os usos e ocupação da região, cujas informações

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também foram analisadas para compreensão das causas, desenvolvimento e processo
conflitual em curso, além das lideranças também exercerem o papel de mediadores entre o
pesquisador e a comunidade, diminuindo o impacto entre o pesquisador e o informante
(FERREIRA, 1996). Todas essas informações foram sistematizadas a fim de estabelecer
informações e diretrizes para o gerenciamento deste setor do litoral paulista, assim como
para refinar o manejo do Parque Estadual da Serra do Mar.
A pesquisa está atrelada ao grupo de pesquisa “Territorialidades, Políticas
Públicas e Conflitos na Conservação do Patrimônio”, cadastrado no CNPq1, e cujo
primeiro autor é o coordenador.

A criação de Unidades de Conservação e seus reflexos em comunidades


tradicionais: O Núcleo Picinguaba e a comunidade do Sertão de Ubatumirim

A criação de Unidades de Conservação (UCs) no Estado de São Paulo


reproduziu um padrão arbitrário e antidemocrático, comum a todo o país, pois o
processo teve início durante os governos militares. Assim, as UCs propostas no Brasil
não levaram em consideração a questão da legitimidade do padrão de ação política de
conservação adotado, seja no âmbito federal, seja no estadual, mas foram resultado de
um processo arbitrário de tomada de decisões, cujos atores partiam da suposição de que
a conservação de remanescentes florestais não seria um direito reivindicado pelas
coletividades que vivem e moram nos limites territoriais de suas esferas de atuação
(Ferreira et al, 2004; 2001). Essa situação produziu conflitos sociais relacionados à
conservação da biodiversidade, seja através da proteção de biomas e/ou espécies da
flora e fauna, e situações concretas de ocupação humana pré-existentes em áreas
consideradas prioritárias para a proteção da biodiversidade.
Baseado nesse padrão predominante de atuação institucional, que
desconsiderava inicialmente a presença de residentes no território das UCs de Proteção
Integral, até a instituição do SNUC (Lei Federal Nº 9.985, de 2000), praticamente
inexistiam políticas públicas voltadas à gestão dos conflitos de interesse frente aos
diversos usos dos recursos naturais inerentes à situação criada. A incongruência entre
as concepções de conservação em voga, a legislação constituída para respaldá-las, as
políticas de implantação e gestão de UCs praticadas pelo poder público, e a realidade
sócio-jurídica criada, acarretou as seguintes implicações:

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a) impossibilidade ou dificuldade de aplicação da legislação pertinente à criação
e implantação real ou parcial de UCs por parte dos agentes ambientais;
b) fortalecimento de expectativas acerca da indenização ou desapropriação de
áreas ocupadas sem atendimento efetivo por parte do poder público;
c) desenvolvimento da “indústria” de indenizações indiretas e de precatórios
milionários;
d) agravamento de situações de exclusão social, sobretudo nas áreas ocupadas
por pequenos pescadores e agricultores familiares, acarretando diversos problemas para
serem enfrentados por agentes ambientais, tais como: empobrecimento, marginalização,
aumento na criminalidade, violência, ausência de infra-estrutura básica,
descaracterização cultural e das atividades econômicas para manutenção do grupo
doméstico, e de organização comunitária, dentre outros aspectos;
e) agravamento dos riscos à biodiversidade, graças à especulação imobiliária,
desmatamento, aumento da ocupação irregular, erosão de encostas, uso inadequado e
destruição de nascentes e corpos d’água, poluição do solo e recursos hídricos, ausência
de controle sobre o extrativismo vegetal e animal, além da falta de compromisso com a
biodiversidade por parte dos residentes do interior e entorno das áreas de proteção de
recursos naturais;
f) situações concretas de conflito, envolvendo residentes e agentes ambientais,
em diferentes graus de intensidade, gerando inclusive casos graves de violência mútua;
g) comprometimento das condições de governabilidade nas UCs, justificando o
não cumprimento de competências específicas de várias instâncias, além do descrédito
da opinião pública nas áreas de entorno.
Com a democratização do processo decisório sobre o uso e a conservação de
recursos naturais no Brasil, a partir dos anos de 1990, “policy makers”, usuários de um
modo geral das áreas protegidas, além de pesquisadores passaram a preocupar-se com
os conflitos sociais relacionados à conservação in situ da biodiversidade, buscando uma
mudança compartilhada de comportamento na relação da sociedade com o patrimônio
natural (FERREIRA et al, 2007).
Compreende-se o patrimônio natural como recursos de uso comum, ou seja,
aquilo que pertence a todos, supondo que tais recursos apresentam duas características
básicas: 1) o controle do acesso a eles é sempre conflituoso, envolvendo problemas

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relacionados à exclusão de usuários; 2) cada usuário é capaz de subtrair para uso
próprio, aquilo que em tese pertence a todos, envolvendo problemas de rivalidades entre
possíveis usos. Recursos de uso comum abrangem as florestas naturais, as águas
continentais e costeiras, a atmosfera, as áreas de pastagem comunal, a fauna selvagem e,
por último, apesar de ser o foco desta proposta, os parques e demais Unidades de
Conservação (BERKES, 2005; FEENY et al. 2001; OSTROM, 1990).
No Núcleo Picinguaba do PESM, essa situação não foi diferente. O PESM foi
criado em 1977, aglutinando três antigas grandes Reservas Florestais ao longo da Serra
do Mar em São Paulo: Caraguatatuba, ao norte; Queiroz-Pilões, no município de
Cubatão; e Curucutu-Itariru-Pedro de Toledo, ao sul. A área do atual Núcleo
Picinguaba, em Ubatuba, foi incorporada ao PESM em 1981, com a anexação da antiga
Fazenda da Caixa.
O processo de criação desta unidade de conservação revestiu-se de grandes
pressões políticas por parte dos ambientalistas. A população local, conforme apontou
Brito (2000) ficou à margem das discussões. Para se ter uma idéia dessas pressões, o
parque foi delimitado em apenas dois dias, e com o material cartográfico disponível à
época. Técnicos do Instituto Florestal debruçaram-se sobre as cartas topográficas do
IBGE da fachada litorânea paulista, a maioria delas datadas de 1973, e com o apoio de
fotografias aéreas de 1962, 1973 traçaram os limites do parque. De norte para sul,
procuraram afastar os limites do parque de aglomerações urbanas, restringindo-se as
fronteiras da unidade, ora na cota de 100m, ora na de 200m, de acordo com o tamanho
do centro urbano próximo à escarpa da Serra do Mar. Realizaram esses procedimentos
desde Ubatuba até Pedro de Toledo, no vale do Ribeira. A idéia inicial era estender os
limites do parque até a divisa com o Paraná. Mas resolveram encerrar os limites sul do
parque em Pedro de Toledo, pois esta unidade de conservação já incorporava áreas de
23 municípios e mais de 300 mil hectares.
Contudo, é importante mencionar que a criação do Parque Estadual da Serra do
Mar também não teve plena concordância entre os órgãos que trabalhavam com a
questão ambiental na virada dos anos de 1970 e 1980. O relatório da Comissão Especial
de Inquérito da Assembléia Legislativa apontava claramente essas divergências:

Ficou claro um certo desaparelhamento e incompetência técnica e científica


no planejamento e implantação de Parques Estaduais[...]Na Serra do Mar,
bastaria construir uma rede de pequenos e médios Parques Estaduais, do tipo

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tampão, nos altos e nos piemontes da Serra, como evidenciado nas discussões
do CONDEPHAAT[...] Essa política de pequenos parques não corresponde à
política do Estado[...que] idealizou um impossível e inviável Parque da Serra
do Mar, numa alongada faixa de escarpas que se iniciam na fronteira com o
Rio de Janeiro e se estendem até a metade da fachada atlântica paulista. Desta
forma, a grande e excepcional Serra do Mar ficará expostas a todos os tipos
de saques, incluindo a possibilidade criminosa de um manejo pragmático de
suas matas, para fins econômicos, de grandes implicações para a predação da
natureza e insignificante lucratividade. (PESCARINI, 1981, p. 20)

Como se pode perceber, os conselheiros do CONDEPHAAT (Conselho de


Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, vinculado à
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo) tinham opinião contrária aos técnicos do
Instituto Florestal na conservação da Serra do Mar. Contudo, apesar dessas
divergências, acabou prevalecendo a delimitação proposta pelos técnicos do Instituto
Florestal.
Além das divergências entre os órgãos que trabalhavam com a conservação da
natureza em São Paulo, o processo de delimitação do parque, devido aos recursos
tecnológicos disponíveis à época, assim como à rapidez com que foi realizado, acabou
incorporando áreas com ocupação humana, como as cinco vilas mencionadas no tópico
anterior.
Ao longo da década de 1980 e parte da de 1990, o instrumento legal seguido
pelos agentes ambientais era principalmente o Regulamento de Parques Paulistas
(Decreto Estadual Nº 25.341 de 4 de junho de 1986). Baseado numa visão dicotômica
de natureza e sociedade, o parque era o espaço da natureza sem uso humano direto. Isso
pois, segundo esse regulamento paulista,

Os Parques Estaduais dotados de atributos naturais excepcionais, objeto de


preservação permanente, submetidas a condição de inalienabilidade e
indisponibilidade no seu todo[...]destinam-se a fins científicos, culturais,
educativos e recreativos[...]O objetivo principal dos Parques Estaduais reside
na preservação dos ecossistemas englobados contra quaisquer alterações que
os desvirtuem (Regulamento de Parques Paulistas, parágrafo 1, 2 e 3 do
artigo 1°).

Nessa linha, o regulamento apresentava uma série de proibições, passíveis de


multas e apreensão. Assim, a partir de 1986 passaram a ser proibidas algumas atividades
praticadas pelos moradores tradicionais caiçaras. Destacam-se, a seguir, alguns artigos
deste Regulamento que expressavam essa proibição mais diretamente, gerando conflitos
entre a comunidade e os órgãos de proteção ao meio ambiente:

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Artigo 10 - É expressamente proibida a coleta de frutos, sementes, raízes ou


outros produtos dentro da área dos Parques Estaduais;
Artigo 13 - É expressamente proibida a prática de qualquer ato de
perseguição, apanha, coleta,aprisionamento e abate de exemplares da fauna
dos Parques Estaduais, bem como quaisquer atividades que venham a afetar a
vida animal em seu meio natural.
Artigo 16 - Os animais domésticos, domesticados, ou amansados, sejam
aborígines ou alienígenas, não poderão ser admitidos nos Parques Estaduais.
Artigo 27 - Só serão admitidas residências nos Parques Estaduais, se
destinadas aos que exerçam funções inerentes ao seu manejo.
(Regulamento de Parques Paulistas Nº 25.341, 1986)

Assim, com a implantação do parque, os conflitos se intensificaram com os


moradores caiçaras, com o cerceamento de seu modo de vida. Diante do exposto, no
sertão de Ubatumirim passaram a ocorrem vários conflitos entre a comunidade caiçara e
as ações da unidade de conservação.
Já no presente século a situação não tinha se atenuado. Raimundo (2001) apontou
alguns problemas e conflitos levantados pelas lideranças da comunidade de Ubatumirim
em relação aos objetivos de conservação do Parque Estadual da Serra do Mar:
• As pessoas que moram acima da cota altimétrica de 100 metros estão em
piores condições de trabalho devido à proibição da lei. (A cota de 100
metros é o limite do parque no Sertão de Ubatumirim);
• Acima dessa cota 100, há vários bananais instalados que sofrem
constantes ameaças da “Florestal”. (Os moradores denominam como
“Florestais” todos os agentes de órgãos governamentais ambientais: A
Polícia Ambiental, os técnicos do Departamento Estadual de Proteção aos
Recursos Naturais (DEPRN), os guardas-parque do Instituto Florestal, entre
outros);
• Não há áreas demarcadas para o plantio;
• Não temos liberdade para trabalhar;
• Somos impedidos de cultivar o mandiocal;
• Não podemos roçar o bananal;
• Trabalhamos escondidos;
• Não podemos trabalhar, pois temos a “Florestal” que nos barra;
• Temos conflitos entre o que se quer plantar (alimentos) e o que a lei
permite (árvores nativas);
• Os “Florestais” tem resistência a idéia de não desmatar;
• A estrada não tem condições de escoar as bananas. (Há uma estrada
vicinal asfaltada que liga o bairro à BR-101. Esta estrada é asfaltada apenas
do entroncamento com a BR-101 até a escola municipal, por cerca de 5 km.
A partir da escola há ramificações, todas de terra. Na época das chuvas
[meses de verão] parte dessas estradas fica intransitável);
• Não temos luz elétrica, pois o “Florestal” não deixa;
• A luz elétrica é importante para movimentar as máquinas de processar

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banana. (Processar banana, no dizer dos moradores, é agregar valor ao
produto in natura. Trata-se de algumas técnicas de industrialização caseira
que no caso da banana plantada em Ubatumirim consiste principalmente em
transformá-la em doces e em passas, entre outros produtos).
• Não temos apoio técnico e financeiro nas áreas de agricultura;
• Falta banana no inverno;
• Não temos dinheiro para iniciar uma produção;
• Área pequena por família
• Problema de documentação de terras. (Sob esse aspecto é importante
destacar que a grande maioria dos moradores de Ubatumirim, tradicional e
migrante, é constituída por posseiros. A posse acaba se constituindo num
instrumento jurídico frágil para realizar investimentos ou adquirir
financiamentos, pois as garantias para liberação dessas verbas estão
associadas à apresentação de títulos da propriedade, junto às instituições
financeiras).
Raimundo (2001, p.89).

Nesse sentido, na comunidade do Sertão do Ubatumirim, os conflitos se dão,


sobretudo, pela substituição de áreas florestadas por plantações de banana, seja em um
sistema agroflorestal, com os pés de banana entremeados à floresta, seja num sistema
monocultural.
Picolo & Troppmair (1994) apontam que

[...] a necessidade de pesquisa nos trópicos sobre a questão da biodiversidade


é imensa e novas perspectivas estão abertas pela mudança epistemológica e
os novos paradigmas na conservação biológica, como a revisão dos modelos
de parques, com abordagens que considerem o homem dentro da natureza,
permitindo seu trabalho junto às áreas como o desenvolvimento rural
integrado e o planejamento geoambiental (Picolo & Troppmair, 1994, p.126).

Esse enfoque nos faz voltar a atenção para o uso da terra realizado pelos caiçaras
em seu modo de vida: as práticas agrícolas ditadas pelos ciclos naturais e o baixo grau
de interferência das culturas anuais e mesmo perene (banana), haja vista, os plantadores
de banana de Ubatumirim guardaram muito das técnicas tradicionais na cultura
comercial da banana.

A formação e consolidação do bairro camponês de Ubatumirim

A população do Sertão de Ubatumirim era de 365 habitantes (Devide, 2004),


composta por 73,6% de moradores tradicionais do local, os quais são agricultores
(plantio de mandioca e banana), responsáveis por, aproximadamente, 90% da banana

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produzida no Município, sendo considerado uma das regiões de maior importância
agrícola de Ubatuba.
Como apontado, parte das moradias e praticamente todos os bananais situam-se
no interior do Parque Estadual (acima da cota altimétrica de 100m), em áreas de 1 a
10ha de plantio, sendo que o levantamento realizado pela Fundação Instituto de Terras
de São Paulo – “José Gomes da Silva” (FITESP) em 1998, constatou a presença de,
aproximadamente, 18 glebas dentro dos limites desta unidade. Já no recadastramento
realizado em 2007, foram informadas 65 glebas pela FITESP. O Parque Nacional da
Serra da Bocaina também se sobrepõe neste local, a partir da cota 200m de altitude.
A ocupação do Sertão de Ubatumirim é relatada desde 1800, quando o pioneiro
João Alexandre da Conceição, vindo de Portugal e com passagem pela praia do Puruba,
assentou-se entre a terra e o mar. A partir dessa origem, a ocupação caracterizou-se por
caiçaras que sempre foram agricultores dependentes da interação “roça-mata”. As
primeiras famílias vindas para Ubatumirim ocuparam as áreas baixas do sertão (ainda
na planície costeira), tendo sido marcante a característica de agregação na ocupação do
território. O cultivo da terra está associado ao sistema de pousio, também denominado
de agricultura itinerante, de coivara ou de “corte-e-queima”, o qual é a prática mais
utilizada pelos agricultores tradicionais de Ubatuba.
O Sertão de Ubatumirim manteve-se com sua função e vocação agrícola, mesmo
com as pressões imobiliárias a partir de década de 1970, com a abertura da estrada Rio-
Santos (BR-101). Ao contrário de outras parcelas desse município, Ubatumirim
apresenta uma função agrícola desde suas origens e que não se transformaram pela
pressão das atividades de veraneio e turismo, quando da abertura daquela estrada, em
1973 (RAIMUNDO, 2007). A partir desse período, as terras se valorizaram e a
demanda ligada ao turismo passou a influenciar todas as atividades nessa região.
Ubatumirim se manteve ligado às origens de uma agricultura caiçara, realizada no
sistema de coivara. Nesse período, plantações de banana se consolidaram na paisagem,
ganhando os espaços sobre os colúvios e fundos de vale da fachada atlântica da Serra do
Mar, locais estes com solos de fertilidade natural mais elevada e afastados da cunha
salina da planície costeira.
As roças tradicionais caiçaras de culturas anuais, como mandioca e milho estão
presentemente entremeadas às culturas perenes da banana. Tais atividades dominam a

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paisagem e constituem-se em símbolos de identidade dos moradores do Sertão de
Ubatumirim.
Estas características camponesas foram reforçadas à época da elaboração do
plano de manejo do PESM. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ubatuba, no
intuito de contribuir para a elaboração deste plano, produziu um documento sucinto, em
outubro de 2005, do qual se destaca o conhecimento para implantação de roças num
sistema tradicional de coivara e de outras atividades agrícolas:

Se o pousio for muito curto, ocorre uma degradação do local e se for muito
longo, se torna impraticável devido à grande extensão de terra necessária. A
agricultura migratória suporta apenas 10 a 20 pessoas por 100 ha, em função
de que a qualquer tempo apenas 10% pode estar sob cultivo; os demais 90%
devem estar nos diversos estágios de pousio. As cerca de 400 pessoas do
Ubatumirim precisariam de cerca de 2 500 ha e a microbacia tem 7.000 ha. É
preciso ainda descontar as áreas impróprias e caminhar para a introdução de
tecnologias que permitam o uso do sistema de aléias e os jardins
multifuncionais.
O sistema de pousio apresenta a grande vantagem de, além de recuperar a
fertilidade das terras, quebrar o ciclo das pragas e ainda, pode e deve ser
usado em combinação com os outros sistemas. Assim, com o tempo,
diminuirá a demanda por novas áreas.
A ferramenta para a liberação do pousio é o planejamento individual da
propriedade, considerando-se a capacidade de uso da terra e não o estágio em
que se encontra a vegetação. Muitas vezes as melhores áreas da propriedade
são justamente aquelas que foram “congeladas” quando da criação do Parque.
Aceitar o pousio agora é considerar a possibilidade de liberar as áreas das
propriedades que tem estágio avançado de vegetação. A área cultivada atual é
de menos de 250 ha, ou seja, menos de 5% da área da microbacia
hidrográfica.
(...) A proibição do pousio representou uma forte interferência externa, que
vem contribuindo de forma marcante e determinante para a destruição do
modo de vida caiçara.
É notório o destaque alcançado pelo Núcleo Picinguaba no âmbito das
pesquisas do meio natural. Cabe agora a urgência de avançarmos com
pesquisas participativas dos elementos históricos e a realização de
diagnósticos estruturais para prover medidas emergenciais que estanquem o
êxodo rural e o parcelamento irregular do solo por falta de retorno econômico
suficiente das atividades rurais motivadas, entre outras razões, pela queda de
produtividade provocada pela proibição do pousio e rotação das áreas de
cultivo.
A proposta da Zona Histórico-Cultural deverá estar atrelada à permissão da
prática cultural do pousio e da utilização das terras de acordo com a sua
capacidade de uso, conforme o planejamento individual da propriedade e
utilizando como principal unidade de planejamento dos recursos naturais - a
microbacia (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ubatuba, 2005, apud
SIMÕES, 2010).

Infelizmente, muito provavelmente em função da situação de irregularidade


instaurada e de ausência de ferramentas oficiais para o planejamento e orientação das
práticas agrícolas, conforme indicado por este documento do Sindicato, ainda há

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ocorrência de desmatamento de cerca de 3 ha para extração de madeira e posterior
plantio de bananas; existência de marcenaria e de extrativismo predatório de palmito.
Ainda entre as conseqüências dos conflitos relativos à condição de inserção nas
Unidades de Conservação, causados pelo impedimento de suas práticas tradicionais,
mais uma vez apontado pelo Sindicato, vem ocorrendo um aumento crescente da venda
de terras para instalação de chácaras de veraneio para turistas, pressionando a expansão
para dentro do Parque, o que vem gerando um aumento cada vez maior na abertura de
áreas novas na floresta. Isto é facilitado pela estrada de acesso que está parcialmente
asfaltada e, mais recentemente, a luz elétrica que está presente em quase todo o bairro.
Nesse bairro há, ainda, uma escola até 4ª série do ensino fundamental, posto de
saúde e linha de ônibus até o final do asfalto.
O Programa da Saúde da Família (Secretaria Municipal da Saúde de Ubatuba)
tem registrado alto índice de verminose, alcoolismo e violência, sobretudo relacionada a
disputas pela posse da terra e criminalidade crescente. Para tentar dirimir esses
problemas, a organização comunitária vem trabalhando de forma crescente com
Associação dos Moradores de Ubatumirim e apoio do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais e da Secretaria Estadual de Agricultura, através do Programa de Microbacias
Hidrográficas, coordenado pela CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral).
Em dezembro de 2005 foi montada uma Câmara Técnica para a negociação de
um pacto de uso do solo, contando com os seguintes componentes: Ministério Público
Federal, Ministério Público Estadual, Parque Nacional da Serra da Bocaina- IBAMA,
Polícia Ambiental, DEPRN, Prefeitura: Regional Norte, Secretaria de Agricultura, Meio
Ambiente,Planejamento, Saúde, e Turismo, Escola Municipal Manoel Inocêncio Alves
dos Santos, Casa da Agricultura, APTA – UPDU, Instituto de Permacultura – IPEMA,
EMBRAPA, Diretoria da Sociedade dos Amigos do Sertão de Ubatumirim, Sindicato de
Trabalhadores Rurais, 01 Representante por família moradora: 20 pessoas.
Desde então, está em andamento os licenciamentos emergenciais de áreas de
cultivo solicitadas, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e dos órgãos
gestores. Dessas reuniões, é possível constatar a abertura de diálogo entre a comunidade
e os gestores do parque. Tais reuniões tiveram a finalidade de permitir que esses
problemas vivenciados pelos agricultores tradicionais de Ubatumirim fossem debatidos
num colegiado reconhecido pelo Núcleo Picinguaba. A tarefa agora diz respeito à

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implantação das recomendações do plano de manejo, com destaque para o planejamento
e normatização do uso e ocupação das terras, conciliando as práticas agrícolas caiçaras
com os objetivos de conservação do parque.

A produçâo de banana em Ubatumirim

A banana produzida no Sertão de Ubatumirim constituiu-se numa especialização


do bairro, em complementação às atividades de subsistência marcadas pelas culturas
anuais, como o milho e a mandioca. Os bananais e roças de culturas anuais se inserem
na função espacial maior, que é a do veraneio e turismo. Nesse sentido, os agricultores
de Ubatumirim participam das atividades econômicas regionais como fornecedores
desses produtos aos bares e restaurantes, ou ainda na venda direta aos visitantes, nas
margens das rodovias e nas feiras-livres de Ubatuba. As culturas anuais são praticadas
pelo sistema de coivara, com um ou dois anos de produção e alguns outros de pousio.
Mas os bananais não são cultivados dessa maneira, um bananal pode durar até 20 anos
na região. Parte das plantações de banana não se estende por grandes áreas na bacia,
num sistema de “plantation”, mas sim intercalada com a vegetação nativa. Essas
características do manejo das plantações, associadas às características climáticas da
região garantem uma produtividade razoável por família.
Segundo dados da CATI em Ubatuba, a bananeira é cultivada em regiões de
temperaturas e pluviosidades elevadas, exigindo temperaturas que não estejam abaixo
de 10º C e nem acima dos 40º C e encontrando melhor desenvolvimento em regiões
cujas médias mensais estejam entre 24 e 29º C. As precipitações pluviométricas devem
estar acima de 1.200 mm/ano e bem distribuídas (100 a 180 mm/mês), para não haver
períodos de déficit hídrico.
Outros fatores de influência nos bananais são a altitude e a latitude que quanto
maiores, aumentam o ciclo de produção. Ubatuba possui condições agroecológicas
muito propícias para o cultivo da banana, com temperatura média mensal variando de
18 a 33º C e precipitação anual média de 2.800 mm (IAC, 2000), sem estação seca.
Esta aptidão agroecológica para o cultivo da banana no município de Ubatuba
permitiu a permanência e o manejo desse produto pela população caiçara de forma
extrativa, mesmo após o impedimento da rotação de áreas pela legislação ambiental,
como comentado no tópico precedente.

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Os bananais são plantados principalmente no sopé da Serra, no contato dessa com
a planície costeira, naqueles terrenos formados por escorregamentos pretéritos – os
colúvios – e nos fundos de vale. Contudo, eles aparecem também na planície costeira e
em posições mais cimeiras da Serra. Merece destaque também que parte dos bananais não
são plantados na forma de monocultura. Ao contrário, percebe-se um entremeado das
plantações de banana com os remanescentes da floresta. Ocorre, portanto, um mosaico de
ambientes interessante em Ubatumirim. A paisagem se sucede ora com trechos de
floresta, ora com bananeiras, com predomínio areal das primeiras. Há uma “matriz
florestal” na paisagem da bacia hidrográfica de Ubatumirim, com manchas (ilhas) de
plantações de banana. As culturas anuais e as construções completam a paisagem.
Os usos são de baixa interferência aos solos e à dinâmica nos fluxos e processos
naturais. Tal fato pode ser explicado pelo manejo da área praticado pelos agricultores.
Estes não “limpam” o solo do bananal, deixando-o exposto. Ao contrário, mantém
algumas espécies do extrato herbáceo da floresta, juntamente com algumas outras de
maior valor econômico ou que são proibidas de corte, como o palmito jussara (Euterpes
edulis), que protegem o solo e aumentam o aporte de matéria orgânica. Além disso,
após a colheita do cacho de banana, o pseudo-caule da bananeira é cortado,
permanecendo no local, participando, assim, do fornecimento ao solo de matéria
orgânica e outros elementos químicos como o fósforo. Isso faz aumentar a fertilidade
natural destes solos muito lixiviados da encosta atlântica da Serra do Mar.
Esse manejo foi construído como alternativa de agricultores pouco capitalizados.
Em Ubatumirim, os agricultores raramente têm condições de adquirem insumos, como
fertilizantes para a melhoria da fertilidade do solo e adequada correção do pH. As
entrevistas com as lideranças locais apontaram que não são utilizados quaisquer tipos de
fertilizantes ou defensivos agrícolas nas plantações de banana. Em Ubatumirim, uma
bananeira produz em torno de 01 cacho/ano ou 04 cachos/touceira/ano. No manejo das
roças, após essa produção, os agricultores cortam o pseudo-caule das bananeiras
improdutivas e os deixam entrar em decomposição no solo.
Dessa forma, o manejo dos agricultores no trato dos bananais, não limpando o
sub-bosque, deixando os pseudo-caules e uma vegetação herbáceo-arbustiva ocorrerem
entre eles potencializa a ciclagem de nutrientes nessa cultura, aumentando
consideravelmente a presença de fósforo no solo. Com isso, não há a necessidade de

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fertilizantes fosfatados para melhorar a produtividade do bananal. As próprias
bananeiras e o sub-bosque de herbáceas fornecem esse elemento às plantas. Contudo,
para melhorar a produtividade, é interessante a aplicação de Ca a fim de elevar o pH até
6,0 e assim disponibilizar o fosfato existente.

Os bananais e as experiências de instalação de um sistema agroflorestal caiçara

Dubois (1996, p. 261-262) aponta que os sistemas agroflorestais constituem-se


num neologismo de uso relativamente recente e a agro-silvicultura não passa de uma
palavra nova para práticas seculares, sendo que o conhecimento dessas práticas
encontra-se nas comunidades sem tecnologia.
Do ponto de vista técnico um sistema agroflorestal é uma tentativa de imitar a
natureza adicionando-lhe espécies de uso econômico importante para as comunidades.
Junk (1995) define um sistema agroflorestal como “um sistema de comunidades
vegetais anuais e juntamente com plantas perenes de valor econômico, para garantir
uma cobertura permanente do solo, visando reduzir as perdas de nutrientes pela chuva e
erosão eólica” (Junk, op. cit., p. 58).
Ainda segundo esse autor, estes sistemas apresentam resultados muito
importantes, porque correspondem também às exigências ecológicas e às exigências dos
pequenos produtores, contribuindo para a fixação de população em áreas rurais, por
providenciar muitos empregos.
Nesse sentido, os sistemas agroflorestais são alternativas de usos da terra que se
apóiam numa forte integração entre as condições naturais e as demandas sociais,
conciliando árvores e/ou arbustos nas atividades agrícolas e pecuárias, de uma forma
simultânea e seqüencial, visando assegurar uma produção global maior e sustentável em
longo prazo. Dubois (1996) estudando agroflorestas da Amazônia brasileira e peruana
aponta que esse sistema agiliza a regeneração florestal e melhora as condições ecológicas
locais. Do rol de tipos desses sistemas, Dubois (1996) apresenta o sistema silvo-agrícola
simultâneo, consorciando plantas de culturas comerciais e árvores. Nesse sistema, o
sistema silvo-bananeiro consiste na integração de espécies arbóreas com plantações de
bananeiras, notadamente as variedades “ouro” e “prata” que suportam melhor o
sombreamento no sub-bosque. Nesse sistema, as espécies arbóreas, segundo Dubois (op.
cit.), devem ser de preferência madeiráveis de alto valor e de crescimento rápido.

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Diante do quadro de conflitos entre comunidades e agentes ambientais
encontrados no Sertão de Ubatumirim, é possível pensar num zoneamento abarcando
todo o entorno do parque, no qual se permitiria a instalação desses sistemas agro-
florestais. Com isso a comunidade poderia encontrar áreas para o plantio, sem conflito
com os agentes ambientais e a conservação do parque poderia ser aumentada pois esses
sistemas funcionariam com um “tampão” – uma zona de amortecimento - às pressões de
urbanização sobre o parque. Dessa forma, os terrenos menos íngremes, com maior
capacidade suporte poderiam ser utilizados como experiência para essas práticas
agroflorestais. É claro que os trechos mais íngremes, que coincidem com as médias e
altas encostas em Ubatumirim e que são também as áreas do parque estadual, não têm
aptidão para esses usos e, portanto, deverão resguardar as formações de Mata Atlântica.
Em Ubatumirim, há bananais com características de agrofloresta. Há algumas
áreas nas quais, as ruas (leiras), têm plantações de café, cacau laranja e cana. Nessas
áreas, os agricultores plantam suas roças sem acompanhamento técnico, com seu
conhecimento tradicional e, imitando a natureza, esboçam um sistema agroflorestal:

“o cultivo da banana é feito na serra, no pé do morro, sem adubo nem


veneno. Na mata é lugar fresco, a mata aduba a terra, de longe nem se vê [o
bananal], é que cada lado do morro cobre o outro. O mandiocal é plantado
em qualquer lugar... Um bananal dura de 15 a 20 anos. Cada pé dá 2 a 3
cachos bons, depois a gente corta e nasce outro no lugar. Pra fazer o
bananal, primeiro se desmata a área, pega-se a muda da touceira, faz a
cova, um buraco pequeno, e planta. Quando o mato cresce ele é rebastado. A
gente corta o mato miúdo pra adubar a terra, mas deixa alguma planta como
a embaúba [Cecropia sp], a candiúba [Trema micrantha], palmito [Euterpe
edulis], jacatirão [Miconia cinnamomifolia] e outras, que são boas de
deixar” (Liderança do bairro de Ubatumirim, 60 anos e agricultor de
banana).

Contudo, não há, na maioria dos bananais, espécies arbóreas plantadas ou com
ocorrência natural em grandes proporções ao bananal, que poderiam ter um melhor
aproveitamento econômico. As árvores nativas existem na borda dos bananais,
entremeadas aos pés de banana e algumas dispersas em seu interior.
Nesse sentido, há ainda um certo ceticismo por parte de alguns produtores em
desenvolver práticas agroflorestais, devido aos impedimentos legais. “O que adianta
plantar essas coisas, se depois vem a ‘florestal’ e não deixa cortar nada” (liderança do
bairro de Ubatumirim, 46 anos e agricultor de banana). Os resultados das reuniões das
Câmaras Técnicas do Núcleo Picinguaba para esse bairro, apontam necessidades de

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regularização da situação fundiária e da demarcação do parque como principais pontos a
serem enfrentados para a resolução dos conflitos. Contudo, é preciso também quebrar
essa “inércia” que impede alguns agricultores de iniciarem produções de banana
baseadas em sistemas agroflorestais, a despeito do conhecimento tradicional que
possuem acerca do tema.
O manejo de uma agrofloresta, a despeito de causar uma baixa interferência na
paisagem, não pode ser efetuado num parque devido às limitações legais. Em um
parque, a utilização dos recursos deve ser dada apenas pelo uso indireto. E em um
parque como o da Serra do Mar, as limitações do meio físico são mais severas. A
categoria de manejo mais adequada para uma unidade de conservação que possa
conciliar o uso dos recursos por moradores locais não é um parque, mas as unidades de
conservação de uso sustentável, como as reservas extrativistas ou reservas de
desenvolvimento sustentável. Contudo, o plano de manejo do Parque Estadual da Serra
do Mar, instituiu a Zona Histórico-Cultural Antropológicas (ZHCAn). Esta zona, da
qual a comunidade do Sertão do Ubatumirim está inserida

Abriga as comunidades tradicionais de caiçaras e quilombolas, também


temporária, onde também foram definidos procedimentos para atender as
necessidades básicas dos ocupantes do parque, mas com abordagem
diferenciada em relação às perspectivas futuras: as áreas serão avaliadas na
perspectiva de mudança de categoria de manejo num processo continuo e
compartilhado, considerando, uma vez que ainda se faz necessária uma
avaliação mais abalizada sobre a pertinência social e ambiental da
permanência destas comunidades em categorias de manejo de unidade de
conservação de uso sustentável (Instituto Florestal, 2006, p. 261).

Nesse sentido, o conhecimento tradicional sobre o manejo dos bananais no


Sertão do Ubatumirim deve ser incentivado para garantir a produtividade dos bananais,
ao mesmo tempo em que gera uma baixa interferência na paisagem e nos ciclos
ecológicos da floresta. Mais que isso, a permissão desses usos serve também para
atenuar os conflitos existentes entre os moradores e os agentes ambientais.
Os trabalhos da Câmara Técnica deste bairro devem avançar nos estudos e
discussões acerca das áreas mais adequadas para realização dos plantios,
preferencialmente em sistemas agroflorestais, assim como na regularização fundiária.
Ambas as ações (agroflorestas e regularização fundiária) são fundamentais para o
estabelecimento de uma possível futura recategorização da área em uma unidade de
conservação de uso sustentável, como uma reserva de desenvolvimento sustentável.

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Os atributos naturais da paisagem em Ubatumirim e algumas condicionantes para
instalação de sistemas agroflorestais

As características da morfologia do terreno no norte do município de Ubatuba e


os padrões da fisionomia da vegetação permitem uma classificação em 4 ambientes:

a) da cumeeira da Serra do Mar até as cotas de 300-400 m, são caracterizados


por vertentes convexas com vegetação conservada, em transição e em menor
grau as degradadas;

b) dos segmentos de vertentes intermediários (cerca de 400 -300 m) até o


contaro com planície costeira, são caracterizados por vertentes côncavas com
vegetação conservada, em transição, ou degradadas;

c) nos vales há talvegues (colúvios e demais deposições nos fundos de vale) com
vegetação conservada, em transição, ou degradadas;

d) e a planície costeira com vegetação conservada, em transição, ou degradada;


Os ambientes “vertentes convexas com vegetação conservada” são os de maior
expressão areal. Ocupam todas as altas vertentes da Serra do Mar e formam um
continuum de leste para oeste.
O caráter de alto grau de conservação, atestado pela presença da floresta arbórea
primária, e, portanto, em biostasia, contrariam as informações de Cruz (1974) e de Cruz
e De Ploy (1979) sobre as instabilidades das vertentes da Serra do Mar devido à
clinografia superior a 22°. Embora sejam ambientes de alto dinamismo do embasamento
pedo-geomorfológico, não há áreas com expressão significativa de instabilidade
causada, sobretudo por movimentos de massa. Nesse sentido, a floresta primária é um
indicativo de equilíbrio nesse setor das altas escarpas da Serra do Mar. Um equilíbrio
muito fácil de ser rompido, mas que pode ser observado em toda a extensão dessas
escarpas na área de estudo e, portanto passível de serem classificadas como “em
biostasia”, denominação de Erhart (1966).
Nos ambientes das “vertentes convexas”, há setores que se apresentam
recobertos com vegetação em “transição”, ou seja, embora possua fisionomia arbórea,
estas têm características de florestas secundárias. Tais áreas localizam-se,
principalmente, nos interflúvios entre os sertões de Ubatumirim e da Fazenda (bairro

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vizinho ao norte de Ubatumirim).
Tal condição é reflexo do uso humano desde a primeira metade do século XX,
por meio de práticas camponesas caiçaras. Deduz-se que tais florestas já foram muito
utilizadas no passado, seja como “corte-raso” nas demandas para roças do sistema de
uso e pousio da agricultura tradicional caiçara, para roças anuais e perenes, seja pelo
corte seletivo de alguma madeira, para fabricação de canoas, mourão de cercas,
estrutura das casas de taipas, entre outras finalidades ou ainda, de uma maneira mais
sutil, através da coleta de algum produto vegetal. Relatos dos moradores de Ubatumirim
atestam essas informações. Estes moradores indicaram que até a abertura da BR-101
(1973) essa área foi muito utilizada para a plantação de café.
Com relação aos ambientes dos talvegues (os colúvios e deposições nos fundos
dos vales), estes se encontram com vegetação em estágio conservados somente nas
porções mais elevadas do terreno, nos altos e médios vales. Como são ambientes cuja
gênese se dá, sobretudo, pelas torrentes, estão sempre associados aos principais cursos
d´água da região. O Sertão de Ubatumirim apresenta predominantemente manchas com
características de transição e de degradado (resistasia). Novamente, as explicações para
essa condição estão associadas ao histórico de perturbação e não só aos usos atuais. Em
Ubatumirim, as áreas demandadas para a instalação de novos bananais se dão
principalmente nesses ambientes. Como a lógica de ocupação destes bananais é a
comercial, percebem-se as áreas mais alteradas, com um ritmo de ocupação muito
intenso dos ambientes de fundos de vale e colúvios e demais deposições.
O Sertão de Ubatumirim configura-se como um padrão de manchas de ocupação
que apresenta a abertura de novas frentes. A função agrícola comercial do Sertão de
Ubatumirim é a responsável presentemente pelas maiores transformações espaciais no
litoral norte de Ubatuba, chegando a adentrar os limites do Parque Estadual da Serra do
Mar, notadamente nos vales do Rio Iriri e Papagaio (RAIMUNDO, 2007).
Com relação ao 4° ambiente – a Planície Costeira - a característica que
predomina é a vegetação secundária, ou mesmo herbácea. Esta última se caracteriza
como campos antrópicos, ao longo do eixo da BR-101, ou agricultura anual caiçara.
Essa característica domina a paisagem na bacia do Ubatumirm e constituem-se na
matriz da paisagem das planícies.
Os ambientes degradados da planície de maior expressão areal da bacia do

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Ubatumirim numa mancha isolada junto à orla (longe do Sertão) ocupada por um
loteamento e no sertão, em função da abertura de novos bananais, ou mesmo de culturas
anuais.
Considerando essas informações reforçam-se as necessidades do fortalecimento
de um sistema agroflorestal em Ubatumirim que respeite parcelas desses 4 ambientes
aqui descritos. Os ambientes serranos são de dinâmica natural muito instável, por isso
devem ser evitados para instalação de novos bananais, mesmo em um sistema
agroflorestal.
Os talvegues são os ambientes mais solicitados para instalação dos bananais.
Contudo, são os ambientes naturais de menor expressão espacial. Portanto, é necessário
que parte destes ambientes, sobretudo aqueles que estejam com a fisionomia da
vegetação bem conservada, devam ser resguardados, evitando a instalação de novos
bananais. Naqueles em que a vegetação já está degradada ou em estágio intermediário,
os trabalhos da Câmara Técnica devem ser intensificado, para garantir espaços para
todos os agricultores do Sertão de Ubatumirim, mas, ao mesmo tempo, evitando a
ocupação contínua por bananais nesses ambientes.
As planícies devem funcionar então, como uma área alternativa para suportar
algumas propriedades rurais que não puderam ser instaladas nos talvegues.
Em todos esses casos, notadamente talvegues e planície, é importante considerar
o incentivo aos sistemas agroflorestais de plantação de bananas, consorciadas com
espécies nativas, mas também que tais bananais não adquiram uma expressão espacial
que desconecte os 4 ambientes naturais na bacia hidrográfica do Sertão de Ubatumirim.
Ao contrário, deve-se incentivar os usos de uma maneira descontínua na paisagem,
envoltos por uma matriz florestal. Dessa forma, pode-se conciliar os objetivos de
conservação da floresta e Serra do Mar em uma unidade de conservação de proteção
integral com a necessidades de produção de banana da comunidade, como recomenda a
Zona Histórico-Cultural-Antropológica do Plano de Manejo do PESM.

Considerações finais

É extremamente interessante verificar como as técnicas e ritos simbólicos de


comunidades tradicionais se re-elaboram, associados a outras práticas de tecnologia
diferenciadas e inseridas numa outra lógica. Os agricultores de Ubatumirim são um

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exemplo desse processo. Eles aliam modernidade e tradição na produção da banana. Por
um lado, comercializam suas bananas sob a lógica do mercado, vendendo-as a
atravessadores. E por outro lado, suas plantações são realizadas sem quaisquer insumos,
associadas a grandes extensões de floresta, reproduzindo as técnicas tradicionais
herdadas dos indígenas.
As roças em Ubatumirim, embora com uma produtividade menor que a de outros
locais de São Paulo mais capitalizados (10 ton./ha/ano contra 22,50 ton./ha/ano no Vale
do Ribeira), não apresentam pragas, mesmo naquelas variedades mais susceptíveis. A
resposta está no manejo da área pelos agricultores. Manejo esse que incorpora técnicas
de plantio desenvolvidas por seus ancestrais, quando, durante o Brasil-Colônia
desvendaram os segredos dos ciclos naturais.
A técnica de pousio, muito utilizada nas culturas anuais tradicionais, é também
empregada nessa cultura perene. O consórcio de bananeiras com plantas nativas do
estrato herbáceo e arbustivo e algumas do estrato arbóreo, não alteram as propriedades
físicas e químicas do solo. Importante destacar que, caso sejam interrompidas as
culturas em Ubatumirim, o ciclo da sucessão florestal deverá ser mais rápido (a
reinstalação da floresta e sua evolução para estágios mais avançados de sucessão
florestal), pelo fato dos trechos com bananais apresentarem atualmente uma maior
fertilidade natural do solo e uma maior capacidade de suporte, quando comparados com
os solos dos trechos florestados contíguos. Mesmo assim, sob esse aspecto, é
interessante aprofundar pesquisas para avaliar mais detalhadamente as tendências de
alguns elementos químicos, como o fósforo e o alumínio neste processo.
O agricultor de Ubatumirim realiza, a sua maneira, um sistema agroflorestal. Só
não pratica essas agroflorestas com maior intensidade, pois a legislação ambiental não
permite. Isso faz cair a produtividade e pode tornar as culturas mais susceptíveis às
pragas. As técnicas simples de sistemas agroflorestais, como a floresta/pomar, a capina
seletiva e a poda controlada (GÖTSCH, 1996) são realizadas por alguns agricultores em
Ubatumirim, mas de uma forma clandestina, pois as imposições legais ainda são muito
severas. Em outras localidades que não são unidades de conservação, como o sul da
Bahia e trechos da Amazônia, onde experiências similares foram implementadas, houve
o aumento da produtividade e baixas perdas ao ambiente “natural”. Mais que isso,
aumentou-se a diversidade de ambientes, devido à alternância na paisagem de culturas

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agroflorestais e trechos de florestas maduras.
Contudo, não podemos deixar de considerar as condições onde a floresta
atlântica se assenta – as características da Serra do Mar. Essa, como discutido, tem um
potencial catastrófico bastante elevado, devido à inclinação de suas encostas e os altos
índices pluviométricos da região. Desta maneira, uma análise de áreas mais estáveis,
sem o risco dos movimentos de massa, assim como a diversidade de ambientes naturais,
como apontado, devem ser levadas em consideração. A agrofloresta no binômio Serra
do Mar x Mata atlântica só terá sucesso se respeitado esses critérios.
Nesse contexto, o fundamental é garantir uma matriz florestal, que apresente
uma grande área de ocorrência e com grande conectividade, como ainda é o caso de
Ubatumirim. Se essa matriz florestal for resguardada, garantindo também as paisagens
naturais dentro de um continuum ambiental, as perdas ambientais serão reduzidas, e é
plenamente possível pensar em vários usos agroflorestais, entremeados à floresta,
naqueles locais sem risco de escorregamentos e respeitando a diversidade dos 4
ambientes identificados no Sertão de Ubatumirim. Com isso, garantir-se-ia a
manutenção da floresta em seus processos ecológicos fundamentais, pois os corredores
e a conectividade seriam os agentes reguladores na matriz florestal; e garantir-se-ia
também a utilização da área por atividades humanas (agrícolas), dentro de um sistema
de baixo impacto ao meio natural. O manejo tradicional adotado pelos agricultores de
Ubatumirim encaixa-se nesse modelo de baixo impacto.
Contudo, deve-se atentar para as áreas dos talvegues (os colúvios e outras
formas de deposição) e principalmente para a planície costeira. Tais áreas têm seus
habitats cada vez mais reduzidos, promovidos pela instalação de chácaras de final de
semana (na planície) e alguns bananais (nos talvegues), o que resulta em graves
alterações ambientais. Na planície costeira, os principais agentes deste processo são a
instalação de segundas residências e a construção da BR-101, que praticamente
isolaram o trânsito de animais e dificultaram a troca genética de espécies animais e
vegetais desse setor com os ambientes serranos.
Nos talvegues da Serra do Mar ainda há baixa conectividade por causa das
manchas de floresta em estágio inicial, condição essa que precisa ser melhorada. Nessa
porção, os bananais e as culturas anuais são os responsáveis pela não conectividade de
ambientes fechados (florestais). Assim, mesmo que sejam utilizadas técnicas agrícolas

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de baixa interferência, é necessário pensar numa melhor alocação espacial das culturas.
Além das limitações das áreas de risco da Serra do Mar que devem ser observadas, se
todas culturas assentarem-se sobre os talvegues e colúvios do “pé-da-serra”, as
formações vegetais desse ambiente não terão mais áreas para se instalar na bacia. É
importante pensar na recuperação de alguns trechos de floresta nessa porção. Como por
exemplo, através do controle dos bananais, evitando sua expansão nesses trechos, e os
direcionando para ocupação de porções de ambientes contíguos, notadamente na
planície costeira, desde que aquelas condições de conectividade da matriz se
mantenham.
Esse direcionamento de culturas para outros ambientes merece ser praticado
dentro das técnicas tradicionais que os agricultores já realizam, mas, fundamentalmente,
deve ser negociado com todos envolvidos: a direção do parque estadual e outras esferas
legais, assim como com as lideranças locais. A classificação deste bairro como Zona
Histórico-Cultural Antropológicas (ZHCAn) no Plano de Manejo dá respaldo e permite
esse tipo de ação.
Algumas questões poderiam ser priorizadas nessas ações, as quais já são
praticadas em Ubatumirim, como o manejo tradicional da vegetação herbáceo-arbustiva
nos bananais e o corte do pseudo-caule, que garante baixa interferência nas
propriedades do solo. Ou ainda a utilização de práticas da agrofloresta, consorciando
espécies de valor econômico, com nativas que têm função de garantir o equilíbrio
ecológico, naqueles setores sem problemas (de conectividade ou de movimentos de
massa). Outras questões já constatadas precisam ser resolvidas com urgência, como o
manejo dos bananais no ambiente dos talvegues e a re-conectividade das áreas
florestadas na planície – todas interligadas por uma matriz florestal.
Contudo, algumas questões carecem de um maior debate, como a ampliação das
áreas de cultura e o aumento demográfico (que acaba gerando áreas cada vez menores
por família). Ou outras ligadas exclusivamente ao escoamento e processamento da
banana, como a melhoria da estrada. Este último problema não foi analisado ao longo
dessa pesquisa, mas constitui-se em pontos de conflitos entre os gestores ambientais e a
comunidade de Ubatumirim.
É preciso que todos discutam as conseqüências dessas obras de melhoria
(pavimentação da estrada ou ainda a extensão de instalação de energia elétrica). Quem

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seriam os reais beneficiados e, a partir daí, evitar outros usos que não atendam a essas
exigências como a transformação dessas áreas ainda agrícolas para segundas residências
e chácaras de final de semana de população flutuante. Estes fatores são grandes
preocupações dos agentes ambientais e provavelmente não atenderiam as exigências
para a manutenção dos processos ecológicos, devendo ser evitadas.
Nesse sentido, é curioso constatar que as principais áreas agrícolas de Ubatuba,
dentre elas Ubatumirim, estão inseridas nas áreas mais restritivas à ocupação, como o
Parque Estadual – Núcleo Picinguaba. Isto vem ocorrendo, pois, a legislação ambiental
de um parque coíbe a ocupação para instalação de loteamentos e chácaras de final de
semana. Estes avançam sobre áreas não protegidas e transformam a paisagem, expulsam
a comunidade caiçara para outros locais. Os caiçaras passam a ocupar áreas do parque,
muitas vezes locais que seus ancestrais ocuparam. Na clandestinidade, sob “as vistas
grossas” dos agentes ambientais acabam praticando sua agricultura tradicional
itinerante, incorporando novas técnicas às técnicas tradicionais.

Nota
1
http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/2100076260361857

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Recebido em 25/08/2015.
Aceito para publicação em 14/05/2016.

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