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Contratos In House

O que é decisivo para efeitos de reconhecimento da existência de uma relação in


house não é a natureza do contrato ou a concreta tipologia das prestações que
integram o respectivo objecto, mas antes a especificidade da relação inerente ao
mesmo contrato.

Esta tese propugna a ideia de que uma entidade adjudicante está dispensada de
cumprir as regras da concorrência quando escolhe realizar, ela mesma, as operações
económicas de que necessita, embora, no âmbito da sua autonomia organizativa,
através de uma outra entidade que funciona como seu prolongamento
administrativo.

Será, então, essa especial relação de prolongamento que, integrando, no plano


substantivo, uma relação de dependência entre os entes em causa, elimina a
autonomia de vontade de um deles e permite considerar que o contrato não é
celebrado com um terceiro.

A contratação “doméstica“ é uma matéria de origem jurisprudencial, 
definida pelo TJUE através do Acórdão Teckal, que aparece assim 
como uma primeira solução, assumindo-se este processo como o 
verdadeiro leading case e que estipula o seguinte regime: só não se 
aplicarão as regras da contratação pública se, em primeiro lugar, a 
entidade adjudicante exercer sobre a adjudicatária um controlo 
análogo ao que exerce sobre os seus próprios serviços e, em 
segundo lugar, se esta última entidade dedicar à primeira o
essencial de sua actividade

Se o controlo que a entidade adjudicante exerce sobre uma outra pessoa colectiva é
tão intenso que permite “anular por inteiro a vontade negocial e a autonomia” desta
última, a relação entre tais duas entidades (apenas) formalmente autónomas é afinal
idêntica àquela que resulta, dentro da própria Administração Pública, de uma mera
“delegação interorgânica”.
Foi nesse contexto que, desde o célebre Acórdão Teckal, e através de uma sequência
de arestos onde pontificaram os Acórdãos Stadt Halle, Coname, Parking Brixen,
Comissão c. Áustria (Mödling), ANAV, Carbotermo, Asemfo c. Tragsa, Comissão c. Itália,
Coditel, Sea e Econord, o TJUE veio a fixar os dois requisitos (cumulativos) que não
mais abandonou para autorizar o apelo à contratação in house: i) a entidade
adjudicante deve exercer sobre o adjudicatário um controlo análogo ao que exerce
sobre os seus próprios serviços; e ii) o adjudicatário deve realizar o essencial da sua
actividade em benefício da entidade adjudicante.
Nestes casos, a relação “contratual” reduz-se a uma relação interna da
Administração, no âmbito da qual a entidade criadora se limita a beneficiar das
prestações realizadas pela sua criação instrumental – mesmo que a tenha dotado
de personalidade jurídica (seja ela pública ou privada) própria e autónoma. Nesse
cenário, seja por se considerar que não existe, nesses casos, um verdadeiro
contrato, seja por se defender que o adjudicatário, ainda que com personalidade
distinta, representa um simples prolongamento da entidade adjudicante no
âmbito da autonomia organizativa de que esta dispõe, fica prejudicada a aplicação
das regras de fo

O Artigo 5-A/1 CCP estabelece que a parte II do CCP não é aplicável à formação
dos contratos, independentemente do seu objeto, a celebrar por entidades
adjudicantes com uma outra entidade, quando se verifiquem, cumulativamente,
as seguintes condições:
 A entidade adjudicante exerça, direta ou indiretamente, sobre a
atividade da outra pessoa coletiva, isoladamente ou em conjunto com
outras entidades adjudicantes, um controlo análogo ao que exerce
sobre os seus próprios serviços – requisito do controlo;
 A entidade controlada desenvolva mais de 80 % da sua atividade no
desempenho de funções que lhe foram confiadas pela entidade
adjudicante ou entidades adjudicantes que a controlam, ou por outra
ou outras entidades controladas por aquela ou aquelas entidades
adjudicantes, consoante se trate de controlo isolado ou conjunto –
requisito do destino da atividade;
 Não haja participação direta de capital privado na pessoa coletiva
controlada, com exceção de formas de participação de capital privado
sem poderes de controlo e sem bloqueio eventualmente exigidas por
disposições especiais, em conformidade com os Tratados da União
Europeia, e que não exerçam influência decisiva na pessoa coletiva
controlada – requisito da não participação direta do capital privado.

Abrange-se aqui a designada contratação interna, que se refere a contratos


celebrados entre entidades formalmente autónomas (com personalidade jurídica
própria), mas, em regra, ligadas entre si por laços de dependência jurídica ou
organizativa (controlo análogo) e de dependência económica (destino da
atividade).

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