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REVISTA VERDE DE AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

GRUPO VERDE DE AGRICULTURA ALTERNATIVA (GVAA) ISSN 1981-8203

CRESCIMENTO INICIAL DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM SOLO


DEGRADADO DO SEMI-ÁRIDO TRATADO COM CORRETIVOS
Egeíza Moreira Leite
Mestre em Manejo e Conservação de Solos. CCA-Areia-PB.

Rivaldo Vital dos Santos


Profs. da UFCG/CSTR Campus de Patos, CEP 58708-110. Caixa Postal 064. E-mail: rvital@cstr.ufcg.edu.br.

Patrícia Carneiro Souto


Profª Adjunto da UAEF/CSTR, Universidade Federal de Campina Grande. Caixa Postal 64, CEP: 58700-790, Campus
de Patos, PB,E-mail: pcarneirosouto@yahoo.com.br

Adriana de Fátima Meira Vital


Profa. UFCG/CDSA/ Campus de Sumé-PB. Email: vital.adriana@ufcg.edu.br

Josinaldo Lopes Araújo


Professor da UFCG/CCTA – Campus de Pombal, CEP 58840-000, Pombal - PB. E-mail: josinaldo@ccta.ufcg.edu.br.

RESUMO: Nas regiões semi-áridas a salinização e a sodificação dos solos têm proporcionado severas restrições às
explorações agrícolas, principalmente nos perímetros irrigados do Nordeste, resultando em impactos sócio-econômico-
ambientais negativos. A presente pesquisa teve como objetivo estudar o efeito do ácido sulfúrico e do gesso no
crescimento de espécies arbóreas cultivadas em solo degradado por sais. O experimento foi conduzido em casa-de-
vegetação do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da UFCG. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com
os tratamentos em um arranjo fatorial 4 x 6, onde foram combinados quatro tratamentos referentes a correção do solo
(não salino, solo salino-sódico, solo salino-sódico com ácido sulfúrico e solo salino-sódico com gesso) com seis
espécies vegetais arbóreas [(moringa (Moringa oleifera), algaroba (Prosopis julifora), sabiá (Mimosa
caelsalpiniaefolia), jucá (Caesalpinia ferrea), leucena (Leucaena leucocephala), tamboril (Enterolobium
contortisiliquum)] com três repetições totalizando 72 vasos de 2,5 L. As amostras de solo foram coletadas no Perímetro
Irrigado de São Gonçalo-PB, na profundidade 0-40 cm. Após seco e peneirado o solo foi colocado em vasos com os
respectivos tratamentos. Após quinze dias de incubação, o solo foi lavado e posteriormente realizado a semeadura
diretamente nos vasos. A adição de ácido sulfúrico ou gesso ao solo salino sódico proporcionou um maior crescimento e
uma maior produção de matéria seca da parte aérea das espécies avaliadas, especialmente para a algaroba, o tamboril e a
moringa, em relação ao solo salino sem corretivo.

Palavras-chave: recuperação de solos, salinidade, árvores, gesso agrícola.

EL CRECIMIENTO INICIAL DE ESPECIES DE ARBOREAS EN SUELOS


DEGRADADOS DE LA ZONA SEMIÁRIDA TRATADOS CON CORETIVOS
RESUMEN: En las regiones semi-áridas La salinización y sodificación han proporcionado las severas restricciones en
las explotaciones, especialmente en las zonas de regadío del noreste, dando lugar a los impactos socioeconómicos y
ambientales. Esta investigación tuvo como objetivo estudiar el efecto del ácido sulfúrico y el yeso en el crecimiento de
especies arbóreas que crecen en suelos degradados por la sal. El experimento se llevó a cabo en el invernadero del
Centro de Salud y de Tecnología Rural UFCG. Se utilizó un diseño completamente al azar con tratamientos en un
factorial 4 x 6, donde cuatro tratamientos que se combinan la corrección del suelo (no salinos, suelos salinos sódicos-, el
suelo salino-sódicos con ácido sulfúrico y salino-sódicos del suelo con yeso) con seis especies de árboles [(marango
(Moringa oleifera), el mezquite (Prosopis julifora), aftas (Mimosa caelsalpiniaefolia) Jucá (Caesalpinia ferrea)
(Leucaena leucocephala), rape (Enterolobium contortisiliquum)] con tres repeticiones por un total de 72 vasos de 2,5 L.
Las muestras de suelo fueron recolectadas en el perímetro de riego de São Gonçalo-CP a una profundidad de 00-40 cm.
Después de secado y tamizado del suelo se colocó en macetas con sus tratamientos. Después de quince días de
incubación , el suelo se lavó y, posteriormente, realizar la siembra directa en macetas. La adición de ácido sulfúrico o
del yeso en suelos salinos sódicos mostraron el crecimiento más y más alto rendimiento de materia seca de tallos de las
especies estudiadas, especialmente para el mezquite, el pescador y marango, en comparación con suelos salinos sin cal.

Palabras clave: recuperación de los suelos, la salinidad, los árboles, yeso agrícola.

Revista Verde (Mossoró – RN – Brasil) v.5, n.3, p.179 – 187 julho/setembro de 2010
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INITIAL GROWTH OF TREE SPECIES IN DEGRADED SOIL IN SEMI-


ARID TREATED WITH AMENDMENTS
ABSTRACT: In the semi-arid areas soil salinization and sodification have been providing severe restrictions for the
agricultural explorations, mainly in the irrigated perimeters of the Northeast of Brazil, resulting in negative social
economical and environmental impacts. The present research aimed to study the sulfuric acid and gypsum effect in the
growth of arboreal species cultivated in soil degraded by salts. The experiment was carried in green house in the Centro
de Saúde e Tecnologia Rural-UFCG. The experimental design was entirely randomized, with the treatments in a
factorial arrangement 4 x 6, where four treatments regarding correction of the saline-sodic soil (no saline soil, saline-
sodic soil, saline-sodic soil with sulfuric acid and saline-sodic soil with gypsum) were combined with six arboreal
arboreal species [(moringa (Moringa oleifera), algaroba (Prosopis julifora), sabiá (Mimosa caelsalpiniaefolia), jucá
(Caesalpinia ferrea), leucena (Leucaena leucocephala), tamboril (Enterolobium contortisiliquum)] with three
repetitions totaling 72 pots. The soil samples soil was collected in the São Gonçalo-PB Irrigated Perimeter, in the depth
0-40 cm. The soil after drying and sieving was homogenized and placed in 2,5 L capacity pots. After the incubation
period of fifteen days, the soil was washed and later accomplished the sowing directly in the vases. The sulfuric acid or
gypsum addition to the sodic-saline soil provided a larger growth and a larger production of dry matter of the aerial part
of the evaluated species, especially for the algaroba, the tamboril and the moringa , in relation to the saline soil without
corrective.

Key word: soil reclamation, salinity, trees, gypsum

INTRODUÇÃO neutros, como o gesso, ou de reação ácida, como o H2SO4


podem se constituir em uma alternativa importante para
Os solos halomórficos são caracterizados por recuperação desses solos, principalmente quando
apresentarem concentrações elevadas de sais solúveis, associado ao cultivo de espécies arbóreas mais tolerantes
sódio trocável ou ambos (RIBEIRO et al., 2003). Tais ao ambiente salino (TERTULIANO et al., 1998;
solos ocorrem em todo o mundo, particularmente em AMEZKETA et al., 2005).
regiões áridas e semi-áridas da terra, onde a precipitação Muitas espécies arbóreas apresentam potencial para
pluviométrica é sempre inferior a evapotranspiração recuperação dessas áreas por possuírem sistema radicular
(QADIR et al., 1996). No Brasil os solos salinizados profundo, aumentando a permeabilidade do solo, a
localizam-se na região Nordeste ou mais especificamente lixiviação dos sais e o abaixamento do lençol freático.
nos perímetros irrigados, encontrados nos polígonos das Além do disso, algumas são espécies de uso múltiplo,
secas, que perfazem 57% da área total da região semi- fixam o nitrogênio atmosférico e concentram grande
árida (GUPTA & ABROL, 1990; RIBEIRO et al., 2003). quantidade de matéria orgânica no solo. Trabalhos
Nessas áreas, os efeitos adversos da salinidade sobre as avaliando o potencial de corretivos associados com
plantas constituem um dos fatores limitantes da produção espécies arbóreas, principalmente aquelas comumente
agrícola, devido principalmente a diminuição do potencial encontradas no ecossistema caatinga, visando a
osmótico da solução do solo e toxidez causada pela alta recuperação de áreas degradadas por sais, são escassos.
concentração de íons específicos tais como o sódio e o Dessa forma o presente trabalho objetivou avaliar o efeito
cloreto (MUNNS, 2002). dos corretivos gesso e ácido sulfúrico no crescimento
A salinidade exerce efeitos complexos sobre as plantas inicial de espécies arbóreas em solo salino-sódico.
como o resultado das interações iônicas, osmótica e
nutricional (HAZEGAWA et al., 2000; TAIZ &
ZEIGUER, 2004). O alto pH, o excesso de sais e de sódio MATERIAL E MÉTODOS
trocável, as propriedades físicas indesejáveis e a reduzida
disponibilidade de nutrientes prejudicam o crescimento O trabalho foi realizado em casa-de-vegetação do
adequado das culturas nesses solos. Quando a salinidade Centro de Saúde e Tecnologia Rural (CSTR) da
não é muito elevada o sódio é o íon predominante, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em
verificando-se toxidez nas plantas, dispersão de argilas e Patos, PB. Amostras de um solo salino-sódico foram
desestruturação dos solos, tornando-os impermeáveis obtidas da camada de 0-40 cm, no setor 10 do Perímetro
(LEBRON et al., 2002; McBRIDE & BAVEYE, 2002). Irrigado de São Gonçalo, Sousa-PB (Tabela 1). A análise
Alguns trabalhos foram conduzidos visando do extrato de saturação (EMBRAPA, 1979) desse solo
estabelecer estratégias de recuperação de tais solos de
revelou CE=2,5 dS m-1, PST ( Na x 100) =98 e
forma a reintegrá-los à exploração agrícola (SANTOS, CTC
1995; VITAL, 2002; NERY et al., 2007; CARNEIRO et pH=7,0; e a granulometria revelou um solo de textura
al., 2007; MENEZES JR, 2008). O uso de corretivos

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franco-arenosa. Para o estabelecimento de tratamentos salino (Tabela 1), coletado em área não salinizada,
testemunha, foram empregadas amostras de um solo não adjacente ao solo salino-sódico..

Tabela 1. Atributos químicos das amostras dos solos empregados no experimento.


Solo pH P Ca2+ Mg2+ Na+ K+ H++Al3+ CTC V
-3 -3
mg dm ------------------------- cmolc dm ------------------------------ %
Salino-sódico 7,9 44 2,8 2,6 16 0,77 0,7 22,9 97
Não salino 5,6 33,5 12,8 5,0 0,7 1,3 1,4 21,2 93

O experimento foi conduzido em delineamento das plantas rente ao solo, as quais foram acondicionadas
inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4 x 6, em sacos de papel, secas em estufa com ventilação
sendo quatro tratamentos referentes ao emprego de forçada a 65°C para a obtenção da produção de matéria
corretivos nos solos (solo não salino, solo salino-sódico, seca da parte aérea. Dividindo-se a altura de planta ou
solo salino-sódico com ácido sulfúrico e solo salino- matéria seca da parte aérea produzida nos tratamentos
sódico com gesso) e seis tratamentos referentes às com solo salino-sódico pela altura ou matéria seca da
espécies arbóreas moringa (Moringa oleifera), algaroba parte aérea obtida nos tratamentos com solo não salino,
(Prosopis julifora), sabiá (Mimosa caelsalpiniaefolia), obtiveram-se a altura relativa (AR) e a produção relativa
jucá (Caesalpinia ferrea), leucena (Leucaena (PR) de matéria seca da parte aérea das plantas,
leucocephala) e tamboril (Enterolobium contortisiliquum), respectivamente. Assim tratamentos referentes ao solo não
com três repetições, totalizando 72 vasos com 2,5 L de salino tiveram AR e PR sempre 100%.
solo. As variáveis foram avaliadas mediante análise de
O gesso empregado foi obtido de uma amostra do variância e teste de Tukey, quando pertinente, ao nível de
mineral moído (gipsita) extraído no município de Sousa- 5% de significância.
PB. Sua composição média é 19% de sulfato e 12% de
cálcio solúvel em água. A dose de gesso aplicada (6,2 g
kg-1) foi calculada através de equilíbrio químico, como RESULTADOS E DISCUSSÃO
sugere RICHARDS (1954). Esse produto, após ser
peneirado em malha de 1,0 mm de abertura, para O Crescimento das espécies arbóreas durante o
uniformizar a granulometria, foi incorporado e período experimental foi afetado pelos tratamentos de
homogeneizado aos 2,5 L de solo contidos em cada vaso. correção do solo (Figura 1). Para todas as espécies, as
Para o H2SO4, empregou-se produto analítico (p.a) plantas cultivadas em solo salino-sódico com emprego de
concentrado cuja dose (2,1 mL kg-1 solo) foi calculada gesso ou ácido sulfúrico, apresentaram sempre o maior
com base na dose de gesso, objetivando fornecer a mesma crescimento em altura em relação ao solo sem a aplicação
quantidade de enxofre fornecida pelo gesso. O ácido dos corretivos, embora em geral, menor em relação ao
depois de diluído em água destilada foi incorporado a todo solo não salino.
o volume de solo contido nos vasos. Entre os corretivos, a adição de ácido sulfúrico ao solo
Após a aplicação dos corretivos os solos foram salinizado proporcionou, à exceção do tamboril e da
mantidos por 15 dias com umidade correspondente a 70% algaroba, crescimento das plantas, semelhante ao
da capacidade de campo. A fase seguinte correspondeu a observado no solo não salino, sendo, portanto, mais
lavagem do solo, aplicando-se um volume de água eficiente que o gesso. AMEZKETA et al. (2005)
equivalente a duas vezes a porosidade total do solo. observaram que o ácido sulfúrico foi um melhor corretivo
Foram semeadas seis sementes por vaso e após oito de solo salino-sódico em relação ao gesso,
dias da germinação foi efetuado o desbaste, mantendo-se proporcionando uma maior redução da condutividade
três plantas em cada vaso. elétrica e dos teores de sódio trocáveis e prevenção do
Durante um período de 35 dias foram efetuadas encrostamento da superfície do solo.
medições semanais da altura e diâmetro das plantas.
Transcorrido esse período, foram cortadas a parte aérea

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Não salino
Moringa Salino-Sódico
Salino-Sódico +ácido Algaroba
40 Salino-Sódico +gesso 40
35 35
30 30
Altura (cm)

25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
7 14 21 28 35 7 14 21 28 35

Tamboril
Jucá
40 40
35 35
30 30
Altura (cm)

25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
7 14 21 28 35 7 14 21 28 35

Leucena Sabiá

20 20

15 15
Altura (cm)

10 10

5 5

0 0
7 14 21 28 35 7 14 21 28 35
Dias após o desbaste Dias após o desbaste

Figura 1. Altura das plantas de moringa, algaroba, tamboril, jucá, leucena e sabiá em função dos dias após o desbaste
nos diversos tratamentos de correção do solo.

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A aplicação de gesso aos solos salinizados seguida da Avaliando-se o efeito dos tratamentos sobre o
aplicação de uma lâmina de lixiviação, em geral crescimento das plantas na quinta semana do experimento,
proporciona alterações nos seus atributos químicos constata-se resultado semelhante ao discutido
favoráveis ao crescimento vegetal (SANTOS, 1995; anteriormente, ou seja, a adição de gesso e ácido sulfúrico
VITAL et al., 2005). Essas alterações envolvem em geral, ao solo salino-sódico em geral, proporcionaram um maior
diminuição da condutividade elétrica da solução do solo e crescimento a todas as espécies vetais, quando comparado
dos teores de sódio trocável o qual é substituído pelo com o solo salino-sódico sem a aplicação de corretivo
cálcio no complexo sortivo (ILYAS et al., 1997; LEITE et (Tabela 2). Embora não significativo, o ácido sulfúrico
al., 2007). Com relação ao ácido sulfúrico. A substituição tendeu proporcionar um maior crescimento das espécies
do sódio, a dos ânions carbonatos e bicarbonatos e a em relação ao gesso. Entre as espécies vegetais, a algaroba
redução provocada no pH do solo, podem ser a causa e o tamboril parecem ser mais tolerantes à salinidade, uma
direta e, ou, indireta, desse aumento no crescimento vez que seu crescimento foi menos afetado pelo solo
vegetal (COSTA SILVA et al. 1997; SANTOS & salino-sódico sem corretivo, em relação às demais
TERTULIANO, 1998). espécies (Tabela 2).

Tabela 2. Altura das plantas na quinta semana em função dos tratamentos de correção do solo e espécies vegetais.
Espécies vegetais
Correção do solo Moringa Algaroba Tamboril Jucá Sabiá Leucena
------------------------------------- cm -------------------------------------
Não salino 21,5 a* 32,6 a 36,2 a 28,9 a 17,4 a 17,7 a
Salino-Sódico 12,1b 23,1b 22,5 b 10,4 c 2,3 c 10,2 b
Salino-Sódico + H2SO4 23,9 a 26,9 ab 29,1 ab 21,9 ab 13,0 ab 18,2 a
Salino-Sódico + gesso 19,6 a 25,5 ab 30,6 a 16,1bc 9,0 bc 14,4 ab
*Médias seguidas de letras diferentes, nas colunas, diferem entre si (Tukey 5%).

A produção de material vegetal seco também foi ao solo não salino. Entre os corretivos, as espécies
influenciada pelos tratamentos referentes à correção do moringa, jucá e sabiá mostraram maior produção de
solo e às espécies vegetais avaliadas (Tabela 3). Como matéria seca vegetal quando o solo salino-sódico foi
observado para o crescimento em altura, à exceção da tratado com ácido sulfúrico. Por outro lado, as espécies
algaroba e do tamboril, a adição de gesso e ácido sulfúrico algaroba, tamboril e leucena apresentaram produção de
ao solo salino-sódico, proporcionaram uma maior material vegetal seco semelhante em ambos aos
produção de matéria seca da parte aérea nas plantas em corretivos.
relação ao solo não corrigido, embora menor em relação

Tabela 3. Massa de material vegetal seco das plantas em diferentes em função dos tratamentos de correção do solo e
espécies vegetais.
Espécies vegetais
Correção do solo Moringa Algaroba Tamboril Jucá Sabiá Leucena
------------------------------ g vaso-1 ---------------------------
Não salino 4,5 a* 9,3 a 8,1a 7,2 a 6,3a 9,9 a
Salino-sódico 0,6 a 4,2 b 2,1 b 0,21c 0,12 c 1,5 c
Salino-sódico + H2SO4 3,3 b 6,6 ab 4,5 b 3,3 b 3,9 ab 5,4 b
Salino-sódico + gesso 2,1 a 5,4 b 3,6 b 1,8 c 1,5 bc 5,7 b
*Médias seguidas de letras diferentes, nas colunas, diferem entre si (Tukey 5%).

Independentemente da espécie vegetal verifica-se que Resultados similares foram obtidos por FARIAS JUNIOR
a altura e a massa do material vegetal seco foram maiores et al. (2007) quando constataram que o gesso e o ácido
no solo não salino e que o uso dos corretivos ácido sulfúrico aumentaram a produção de matéria seca de
sulfúrico e gesso, apesar de não diferirem entre si, foram moringa e por HOLANDA et al. (2007) que verificaram
superiores ao solo salino-sódico sem correção (Tabela 4).

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maior crescimento em altura e diâmetro das espécies Nim, turco nos solos salinizados tratados com gesso.

Tabela 4. Altura e produção de material vegetal seco da parte aérea das plantas em função dos tratamentos de correção
do solo, independentemente da espécie vegetal.
Correção do solo Altura de planta Material vegetal seco
------- cm ------- --------- g vaso-1 --------
Não salino 25,7 a* 7,5 a
Salino-Sódico 13,4 c 1,4 c
Salino-sódico + H2SO4 22,2 b 4,5 b
Salino-sódico + gesso 19,2 b 3,4 b
*Médias seguidas de letras diferentes, nas colunas, diferem entre si (Tukey 5%).

Considerando a média das espécies, independente do maior quantidade de matéria seca do que a moringa
tipo de solo, aquelas que apresentaram maior crescimento (Tabela 4).
foram o tamboril e a algaroba. Observa-se que a espécie A velocidade de crescimento de uma determinada
tamboril demonstrou maior crescimento que a algaroba; espécie arbórea obviamente está condicionada também a
sabiá teve menor crescimento. A ordem de crescimento sua constituição genética. Contudo, é importante se
das espécies arbóreas foi a seguinte: tamboril > algaroba > conhecer quais espécies apresentam maior crescimento ou
jucá > moringa > leucena > sabiá. O maior crescimento velocidade de crescimento em condições de salinidade
em altura das plantas nem sempre correspondeu a maior (embora a média tenha incluído também o efeito do solo
produção de material vegetal seco. Assim, algaroba e não salino), uma vez que o rápido crescimento das
leucena apresentaram maior acúmulo de matéria seca em espécies é uma característica desejável em programas de
comparação ao tamboril que teve maior crescimento. A recuperação de áreas degradas por sais.
espécie sabiá teve menor crescimento, mas apresentou

Tabela 4. Altura e produção de material vegetal seco da parte aérea das plantas em função dos das espécies vegetais,
independentemente dos tratamentos de correção do solo.

Espécies Altura de planta Material vegetal seco


------- cm ------- ------ g vaso-1 --------
Moringa 19,3 b* 2,6 b
Leucena 15,1 c 5,6 a
Algaroba 27,0 a 6,3 a
Sabiá 10,4 d 3,0 b
Tamboril 29,6 a 4,6 ab
Jucá 19,3 b 3,1 b
* Médias seguidas de letras diferentes, nas colunas, diferem entre si (Tukey 5%).

Quanto ao crescimento relativo em altura (AR), à apresentaram o maior e o menor valor dessa variável
exceção da moringa e da leucena no solo salino-sódico foram a algaroba e a sabiá, respectivamente No solo salino
tratado com ácido sulfúrico, as demais espécies, quando tratado com ácido se destacaram a moringa e a leucena,
cultivadas no solo salino-sódico com ou sem corretivo, únicas espécies com AR superior a 100%. No solo tratado
apresentam AR sempre inferior a 100% (Figura 2). Para com gesso, a moringa também apresentou maior valor de
todas as espécies avaliadas, a adição de gesso ou ácido AR em relação às demais espécies, seguida do tamboril e
sulfúrico proporcionou os maiores valores de AR em da leucena (Figura 2).
relação ao solo salino-sódico sem corretivo. Em geral, a A análise produção de material vegetal seco
adição de ácido sulfúrico proporcionou maiores valores de relativa (PR) mostra que todas as espécies apresentaram
AR para as espécies em comparação com o gesso, drástica redução nos valores de PR quando cultivadas em
concordando com os resultados obtidos por SANTOS & solos salinizados sem a aplicação de corretivos,
TERTULIANO (1998) e AMEZKETA et al. (2005). No principalmente as plântulas de jucá e de sabiá (Figura 3).
solo salino-sódico sem corretivo, as espécies que Como ocorreu para a AR, os maiores valores de PR foram

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obtidos quando as espécies foram cultivadas em solo ácido, a moringa e a algaroba apresentaram os maiores
salino com o uso de corretivos. Entre os corretivos, o valores de PR, enquanto que com a adição de gesso,
ácido sulfúrico foi o que proporcionou os maiores de PR. leucena e algaroba foram as espécies que apresentaram os
No solo salino sem corretivo, as espécies algaroba e maiores valores para esta variável.
tamboril se destacaram em PR. Já no solo salinizado com
120 moringa leucena algaroba
sabiá tamboril jucá 111
103
100
Crescimento relativo (%)

80

60

40

20

0
normal salinizado salinizado+ácido salinizado+gesso
C orreção do solo
Figura 2. Crescimento relativo das espécies arbóreas em função dos tratamentos de correção do solo.

100
m oringa leucena algaroba
90 sabiá tamboril jucá

80

70
Peso relativo (%)

60

50

40

30

20

10

0
normal salinizado salinizado+ácido salinizado+gesso
Tratam entos

Figura 3. Peso relativo das espécies arbóreas em função dos tratamentos de correção do solo.

Em geral, os resultados do presente trabalho mostram intensidades, mostrando que há entre as mesmas,
que as espécies arbóreas cultivadas em solo salino-sódico diferenças quanto à sua tolerância aos sais. informação
têm seu crescimento reduzido, mas com diferentes essa que pode ser aproveitada nos estudos que objetivam

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estabelecer estratégias de recuperação de áreas degradadas atributos de solo salinizado e em plantas. Workshop:
por sais. Essa tolerância, contudo, foi maximizada, quando Manejo e Controle da Salinidade na Agricultura Irrigada,
empregados corretivos como o gesso ou o ácido sulfúrico. 2007, Recife, Anais..., 06 a 09 de novembro de 2007.
No presente trabalho, o ácido sulfúrico mostrou-se mais
eficiente do que o gesso em relação as variáveis avaliadas GUPTA, R. K. & ABROL, I.P. Salt-affected soils: their
nas plantas. A superioridade do ácido sulfúrico em relação reclamation and manegement for crop production.
ao gesso, provavelmente, deve-se a seu efeito na redução Advances in Soil Science, New York, v. 11, p.224-88,
do pH do solo para valores que proporcionam uma maior 1990.
disponibilidade de nutrientes às plantas. Este aspecto é
ainda mais importante para solos salino-sódico que HAZEWAGA, P.; BRESSAN, R.A.; ZHU, J.K.;
apresentam reação alcalina (Tabela 1) e assim tem sua BOHNERT, J.; BRESSAN, R.A.; ZHU, J.K.; BOHNERT,
disponibilidade de micronutrientes catiônicos J. Plant cellular and molecular responses to high salinity.
desfavorecida (McBRIDE, 1995; NOVAIS et al., 2007). Annu. Rev. Plant Physiol. Plant Mol. Biol. V. 51, p.
463-499, 2000.

CONCLUSÕES HOLANDA, A.C.; SANTOS, R.V.; SOUTO, J.S;


ALVES, A.R. Desenvolvimento inicial de espécies
As espécies arbóreas apresentaram uma severa arbóreas em ambientes degradados por sais. Revista de
redução em seu crescimento quando cultivadas em solos Biologia e Ciência da Terra. Recife, v. 7, n. 1, p. 39-50.
salinizados sem a aplicação prévia de corretivos. A adição 2007.
de gesso ou ácido sulfúrico neste solo proporcionou um
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Recebido em 22/03/2010
Aceito em 12/06/2010

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