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Acção contra a Fome e a Pobreza - Encontro de Líderes Mundiais

Nova York / Organização das Nações Unidas, 20 de Setembro de 2004

Um convite do Brasil

Histórico. As Metas de Desenvolvimento do Milénio e Monterrey

As Metas de Desenvolvimento do Milénio (MDMs) estabeleceram objectivos


ambiciosos - porém factíveis - com respeito à redução da pobreza e à promoção do
desenvolvimento sustentável entre os países em desenvolvimento. A Declaração do
Milénio, aprovada por 189 países, menciona que os governos "não economizariam
esforços para libertar nossos homens, mulheres e crianças das condições abjectas e
desumanas da pobreza extrema". Acima de tudo, as MDMs expressam a decisão da
comunidade internacional de reduzir à metade o número de pessoas que vivem com
menos de um dólar por dia até o ano 2015.

O Consenso de Monterrey reiterou os objectivos dispostos nas MDMs e enfatizou o


papel de todas as partes envolvidas no processo de financiamento ao desenvolvimento.
Por um lado, espera-se que os países em desenvolvimento melhorem suas próprias
políticas e condições gerais de governação; por outro lado, os países desenvolvidos são
chamados a prestar apoio aos esforços dos países em desenvolvimento, especialmente
no que se refere ao aumento dos fluxos de ajuda oficial e dos investimentos directos do
estrangeiro, ao alívio da dívida externa e a maior abertura de seus mercados.

A despeito do amplo consenso sobre os objectivos a serem alcançados, até o momento,


os governos não obtiveram êxito na identificação de caminhos para implementar,
efectivamente, as MDMs. De acordo com o "World Development Report", em muitos
países, o crescimento económico permanece abaixo no nível considerado necessário
para se alcançar aqueles objectivos. No período de 1998 a 2002, o crescimento per
capita ficou em menos de 2% em 60% dos países de baixa renda; em 32% desses países,
as taxas de crescimento foram negativas. Estimativas indicam que um crescimento
sustentável da ordem de 3% é a taxa mínima necessária para se que possam atingir os
objectivos de desenvolvimento. A permanecer o ritmo actual de crescimento, as MDMs
serão atingidas apenas em 2147! Embora seja necessário conferir atenção especial às
necessidades prementes dos países de baixa renda, não se pode esquecer que os países
de renda média abrigam 280 milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por
dia e 870 milhões de pessoas com menos de dois dólares por dia.

A posição brasileira

O Brasil apoia, com vigor, os esforços multilaterais no combate à fome e à pobreza. Em


particular, o governo brasileiro aprova a parceria estabelecida em Monterrey: embora os
países sejam os responsáveis primeiros por seu próprio desenvolvimento económico, a
comunidade internacional deve favorecer suas estratégias de desenvolvimento. De
acordo com a Declaração do Milénio, "o desafio central que enfrentamos hoje é a
necessidade de assegurar que a globalização se torne uma força positiva para todos os
povos do mundo".

O governo brasileiro reconhece o fato de que muitos países latino-americanos, assim


como outras nações em desenvolvimento, vêm implementando políticas

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macroeconómicas consistentes, consolidaram suas democracias e adoptaram medidas
para aumentar a transparência da administração pública e combater a corrupção. Apesar
de seus esforços domésticos, tais países permanecem à margem dos benefícios da
globalização. Em muitos países, taxas de crescimento insuficientes têm contribuído para
gerar um clima de frustração e exclusão em amplos segmentos da população.

O Brasil também reconhece que os fluxos de ajuda oficial aos países em


desenvolvimento aumentaram marginalmente nos últimos dois anos. Embora tal
aumento represente uma reversão da tendência de queda observada ao longo dos anos
90, há consenso no sentido de que muito mais deve ser feito para se atingir as MDMs.
Estimativas da ONU e do Banco Mundial mostram que seriam necessários US$ 50
bilhões em recursos adicionais para que as metas possam ser cumpridas até o ano de
2015. Em outras palavras, faz-se necessário, com urgência, incrementar os esforços em
curso nesse domínio.

Desde que o Presidente Lula assumiu o poder em 2003, o combate à fome e à pobreza
tornou-se a prioridade do Governo. Em nível doméstico, o Brasil lançou o "Programa
Fome Zero" e outros programas sociais, os quais combinam medidas estruturais e
emergenciais, distribuição de alimentos e transferência de renda e envolvem outros
parceiros na sociedade civil e no setor privado. Em menos de dois anos, o "Fome Zero"
vem apresentando resultados animadores, com mais de 1400 empresas privadas já
envolvidas no Programa.

Esforços Internacionais para o combate à Pobreza e à Fome

A mobilização de apoio político e financeiro para a erradicação da pobreza e da fome


tornou-se também uma das principais acções da política externa brasileira. Como
declarou o Presidente Lula, é necessário que lutemos, por meio de uma acção conjunta,
para a combater a fome, de modo a atenuar o clima de frustração e desânimo que
estimula os conflitos sociais, a violência e a insegurança pelo mundo. Nesse sentido, o
Brasil reconhece o imperativo de se colocar assuntos afectos ao desenvolvimento
económico e social no centro da agenda mundial.

Não é necessário dizer que o Brasil vê a campanha contra a pobreza e a fome não como
um fim em si mesmo, nem como uma medida paliativa, mas como parte de um processo
integrado de desenvolvimento que deve incluir esforços na direcção de um sistema
multilateral de comércio justo e equitativo, do aumento dos fluxos de investimentos e do
estabelecimento de esquemas adequados de sustentabilidade da dívida externa entre os
países altamente endividados do mundo. No centro desse processo, figura a necessidade
de identificar mecanismos financeiros inovadores capazes de promover o
desenvolvimento e libertar o mundo da fome.

Durante o Fórum Económico Mundial em Davos e a Cúpula ampliada do G-8 em Evian,


o Presidente brasileiro argumentou a favor de uma nova ordem mundial para reconciliar
crescimento económico e justiça social. Naquelas ocasiões, o Brasil propôs a criação de
um fundo internacional, concebido especificamente para o combate à pobreza e à fome,
e fez referência a fontes alternativas de financiamento ao desenvolvimento.

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Na abertura dos debates da 58ª AGNU, o Brasil, em parceria com a Índia e a África do
Sul, criou tal fundo, o chamado Mecanismo IBAS de Alívio à Fome e à Pobreza, no
âmbito do PNUD. A iniciativa IBAS foi planejada como forma de reproduzir e
disseminar projectos sociais de sucesso nas áreas de saúde, educação, saneamento e
segurança alimentar, dentre outras. O fundo não foi concebido para competir com as
iniciativas do género já existentes - como o Fundo de Solidariedade Mundial - mas para
complementá-las. A execução dos projectos será conduzida pelo Sistema das Nações
Unidas, de acordo com suas áreas de competência.

Em Janeiro de 2004, em Genebra, os Presidentes do Brasil, França e Chile, juntamente


com o SGNU, iniciaram um programa de acção com o objectivo de identificar fontes
alternativas de financiamento. Foi instituído um Grupo Técnico para explorar novas
fontes de financiamento, tais como a taxação sobre a venda de determinadas armas,
taxas sobre transacções financeiras, investimentos voluntários e socialmente
responsáveis e taxação ambiental. A proposta britânica de estabelecer um "Mecanismo
Financeiro Internacional" também está em análise no Grupo.

Espera-se que os trabalhos do Grupo Técnico possam contribuir para os esforços


multilaterais na mobilização de recursos adicionais ao desenvolvimento, na linha das
resoluções adoptadas pela Assembleia Geral. A esse respeito, é importante mencionar
que a AGNU, em sua 24ª sessão especial, conclamou a comunidade internacional a
"conduzir análise rigorosa das vantagens, desvantagens e outras implicações das
propostas que visam ao desenvolvimento de fontes novas e inovadoras de
financiamento, tanto públicas quanto privadas, direccionadas a programas de
desenvolvimento social e erradicação da pobreza." Além disso, em sua 59th sessão
plenária, a AGNU decidiu "considerar, por ocasião de sua 59ª sessão, possíveis fontes
inovadoras de financiamento ao desenvolvimento."

Próximos Passos: O Encontro dos Líderes Mundiais e seu objectivo

Neste contexto, O Presidente Lula convidou todos os líderes mundiais para participar de
encontro, no dia 20 de Setembro em Nova Iorque, na véspera da sessão de abertura da
59ª AGNU, com vistas a discutir as conclusões do Grupo Técnico, assim como outras
contribuições de governos e instituições. O objectivo último do encontro consiste em
angariar apoio político para a implementação de mecanismos financeiros viáveis, em
uma tentativa de chegar a um consenso sobre caminhos possíveis para a efetiva
implementação das MDMs até o ano de 2015.

O resultado final do encontro, que deverá tomar a forma de uma Declaração, encorajará
análises mais profundas sobre fontes alternativas de financiamento e propiciará maior
ímpeto político, assim como sugestões concretas, para o evento de alto nível sobre a
implementação da Declaração do Milénio em 2005.

O encontro de 20 de Setembro, dessa forma, fortalecerá uma parceria que, em linha com
o espírito da Declaração do Milénio e do Consenso de Monterrey, deverá mobilizar
governos, o sistema das Nações Unidas, instituições regionais e internacionais, o sector
privado e organizações não-governamentais no que diz respeito à adopção de acções
concretas para o alívio da fome e da pobreza, por meio de um processo de
desenvolvimento que assegure o crescimento económico sustentável nos países em
desenvolvimento.

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Nesse sentido, o Presidente Lula espera que os líderes mundiais possam unir-se a ele,
em Nova Iorque, no dia 20 de Setembro, em esforço um político de alto nível em favor
do desenvolvimento económico e social e da erradicação da fome e da pobreza.

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