Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INSTITUTO DE ECONOMIA
CAMPINAS
2019
LEONELA GUIMARÃES DA SILVA
CAMPINAS
2019
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
Defesa em 03/06/2019
BANCA DE AVALIAÇÃO
A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de
Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.
CAMPINAS
2019
À Minha Mãe, in memoriam, com todo
amor, respeito e agradecimento.
Os professores abrem a porta, mas você
precisa entrar sozinho.
Provérbio Chinês
RESUMO
Essa pesquisa apresenta uma breve análise da estrutura da produção e do comércio mundial das
commodities no período entre 1995-2015. Para tanto, partimos da classificação das
commodities em seis setores, sendo o das primárias: agrícolas, minerais energéticos, minerais
não energéticos; e das processadas: alimentos, coque refinado e produtos do petróleo; metais
básicos. Os maiores exportadores de commodities primárias em 2015 foram: Arábia Saudita,
Rússia, Canadá, Austrália, Estados Unidos, Brasil, Noruega, Indonésia, Chile, México, Reino
Unido, Holanda, China, Colômbia e África do Sul. Em relação às commodities processadas, no
referido ano, os maiores exportadores foram Estados Unidos, China, Alemanha, Rússia, Coréia,
Canadá, França, Índia, Japão, Itália, Brasil, Holanda, Espanha, Bélgica e Reino Unido. No
período de análise as economias desenvolvidas lideram as exportações das commodities, em
especial das processadas, onde representam parcela majoritária. Mesmo que dentre essas
economias hajam importantes economias produtoras-naturais de commodities, portanto das
commodities primárias, como Estados Unidos, Austrália, Canadá, Noruega, isso não explica
completamente o peso do agrupamento das economias desenvolvidas, ou de algumas em
particular, nas exportações das commodities. A partir dessa pesquisa observa-se que na inter-
relação agrícola-alimentos a participação de economias desenvolvidas, como algumas
europeias, enquanto grandes exportadoras dessas commodities, projeta-se a partir de uma base
altamente subsidiada que implica não apenas em barreiras que reduzem o acesso das
importações agrícolas e de alimentos originárias de economias em desenvolvimento para esses
mercados, como também as possibilita participarem da oferta mundial concorrendo como
grandes exportadoras nesses setores. Na inter-relação mineração e extração-seus processados,
as importações do âmbito primário, extração e mineração, para composição parcial ou total da
demanda intermediária constitui um dos principais elementos para compreensão da participação
de algumas dessas economias nas exportações dessas commodities. Ou seja, muitas das
economias desenvolvidas utilizam as importações de commodities primárias dos setores de
mineração e extração para compor tanto a base para produção destinada ao mercado interno
como também utilizam essa produção, em especial das commodities processadas, para
participarem como grandes players nas exportações mundiais dessas commodities. Os subsídios
e as importações aparecem como alguns dos elementos centrais para compreensão da
participação das economias desenvolvidas com maior parcela das exportações mundiais das
commodities processadas, e esse movimento acaba por refletir, de certo modo, uma orientação
de um tipo de demanda que condiciona um tipo de oferta principalmente nas economias em
desenvolvimento produtoras-naturais de commodities para o mercado externo: uma oferta
baseada na ampliação da produção de commodities primárias em detrimento das commodities
processadas.
Palavras-chave: Commodities primárias. Commodities processadas. Produção mundial.
Comércio mundial. Concorrência.
ABSTRACT
This research presents a brief analysis of the structure of world commodity production and trade
in the period 1995-2015. To do so, we start with the classification of commodities in six sectors,
being the primary: agricultural, energy minerals, non-energy minerals; and processing: food,
refined coke and petroleum products; metals. The largest exporters of primary commodities in
2015 were Saudi Arabia, Russia, Canada, Australia, the United States, Brazil, Norway,
Indonesia, Chile, Mexico, the United Kingdom, the Netherlands, China, Colombia and South
Africa. In relation to processed commodities China, Germany, Russia, Korea, Canada, France,
India, Japan, Italy, Brazil, the Netherlands, Spain, Belgium and the United Kingdom. The
developed economies lead the exports of commodities, especially of the processed ones, where
they represent the majority share. Even though there are large primary commodity producers
such as the United States, Australia, Canada, this does not fully explain the weight of these
countries in processed commodity exports, given that the largest share of primary commodity
production is not in this group. In the agricultural-food interrelationship, the participation of
some developed economies as major commodity exporters, such as the European ones, is
projected from a highly subsidized primary base, implying not only barriers that reduce access
to agricultural imports from developing economies, but also enables competition with these
economies at the global level. Imports of primary commodities for partial or total composition
of the production of processed commodities are largely in the interrelations of the processed-
mining sectors. Imports appear as one of the fundamental elements of this dynamic and this
reflects an orientation of a type of international demand that ends up conditioning a type of
supply. In this sense, developing economies specializing in commodity production are generally
subjected to two paths: one is the increasing specialization in primary commodities, even with
an industrial structure capable of advancing the production of processed commodities; or,
advance in the processing of commodities, and adjust their productive structures still in the
sense of serving the external market.
Keywords: Primary commodities. Commodities processed. Competition. World market.
LISTA DE ANEXOS
Anexo 3 – Lista de países, de acordo com os bancos de dados da OECD. ............................ 117
Quadro 1 – Classificação formal das commodities, com base na Standard International Trade
Classification (SITC) Revisão 3. .............................................................................................. 44
Quadro 3 – Classificação dos setores selecionados como setores das commodities primárias e
das processadas, com base na ISIC Revisão 4.......................................................................... 45
Tabela 1 – Exportações a partir da participação (%) por subsetor das commodities agrícolas,
1990/2017. ................................................................................................................................ 53
Tabela 2 – Distribuição (%) do VBP mundial do setor agrícola: VBP doméstico e VBP com
importações, 1995/2011............................................................................................................ 54
Tabela 3 – Exportações mundiais do setor agrícola: participação (%) dos maiores exportadores
do setor, 1995/2015. ................................................................................................................. 55
Tabela 4 – Distribuição (%) do VBP mundial do setor agrícola, das economias selecionadas:
VBP doméstico e VBP com importações, 2005/2015. ............................................................. 56
Tabela 5 – Valor adicionado mundial de commodities agrícolas: participação (%) dos maiores
produtores, 1995/2015. ............................................................................................................. 58
Tabela 6 – Participação (%) do valor adicionado do setor agrícola do país em seu valor
adicionado total, e participação (%) das exportações do setor agrícola do país no total das suas
exportações, para economias selecionadas, 1995/2015. ........................................................... 58
Tabela 7 – Exportações a partir da participação (%) por subsetor das commodities alimentos,
1990/2017. ................................................................................................................................ 59
Tabela 8 – Distribuição (%) do VBP mundial do setor de alimentos: VBP doméstico e VBP
com importações, 1995/2011. ................................................................................................... 60
Tabela 9 – Exportações mundiais das commodities alimentos: participação (%) dos maiores
exportadores, 1995/2015. ......................................................................................................... 60
Tabela 10 – Distribuição (%) do VBP do setor de alimentos, das economias selecionadas: VBP
doméstico e VBP com importações, 2005 e 2015. ................................................................... 61
Tabela 11 – Valor adicionado mundial do setor de alimentos: participação (%) dos maiores
produtores, 1995/2015. ............................................................................................................. 62
Tabela 12 – Participação (%) do valor adicionado do setor de alimentos do país em seu valor
adicionado total, e participação (%) das exportações do setor de alimentos do país no total das
suas exportações, para economias selecionadas, 1995/2015. ................................................... 62
Tabela 13 – Exportações a partir da participação (%) por subsetor das commodities minerais
energéticos, 1990/2017. ............................................................................................................ 63
Tabela 14 - Distribuição (%) do VBP mundial do setor de minerais energéticos: VBP doméstico
e VBP com importações, 2005/2015. ....................................................................................... 64
Tabela 21 – Distribuição (%) do VBP do setor de coque refinado e produtos do petróleo, das
economias selecionadas: VBP doméstico e VBP com importações, 2005/2015. .................... 69
Tabela 24 – Exportações a partir da participação (%) dos subsetores das commodities primárias
minerais não-energéticas e maiores exportadores por subsetor, 1990/2017. ........................... 72
Tabela 26 – Exportações mundiais de minerais não energéticos: participação (%) dos maiores
exportadores do setor, 2005/2015 ............................................................................................. 74
Tabela 28 – Valor adicionado mundial do setor de minerais não energéticos: participação (%)
dos maiores produtores do setor, 2005/2015. ........................................................................... 76
Tabela 29 – Participação (%) do valor adicionado do setor de minerais não energéticos do país
em seu valor adicionado total, e participação (%) das exportações do setor de minerais não
energéticos do país no total das suas exportações, para economias selecionadas, 2005/2015. 77
Tabela 30 – Exportações a partir da participação (%) por subsetor do setor de metais básicos,
1990-2017. ................................................................................................................................ 78
Tabela 31 – Distribuição (%) do VBP mundial do setor de metais básicos: VBP doméstico e
VBP com importações, 1995/2015. .......................................................................................... 78
Tabela 33 – Distribuição (%) do VBP do setor de metais básicos, das economias selecionadas:
VBP doméstico e VBP com importações, 2005/2015. ............................................................. 80
Tabela 34 – Valor adicionado mundial de metais básicos: participação (%) dos maiores
produtores, 1995/2015. ............................................................................................................. 81
Tabela 38 – Distribuição (%) do VBP mundial, por setores agregados, 1995/2011. ............... 86
Tabela 42 – Participação (%) das importações intermediárias nas exportações dos setores de
commodities processadas, para os principais exportadores, 1995/2015. ............................... 103
Introdução ............................................................................................................................... 17
Capítulo 1 Apontamentos acerca da formação e evolução do mercado mundial das
commodities ............................................................................................................................. 24
1.1 Formação do mercado mundial das commodities ......................................................... 24
1.2 Principais acordos de regulação e proteção nos mercados das commodities ................ 28
1.2.1 Os acordos interestatais .......................................................................................... 28
1.2.2 O protecionismo nos mercados agrícolas ............................................................... 31
1.2.3 As tarifas escalonadas ............................................................................................ 34
1.3 Ciclos de preços das commodities ................................................................................. 35
Capítulo 2 Definição de commodities e metodologia para tratamento dos dados ............ 41
2.1 Revisão das principais classificações para commodities ............................................... 41
2.2 Definição para commodities a partir de uma classificação setorial ............................... 42
2.3 Metodologia para tratamento dos dados ........................................................................ 46
2.3.1 Bancos de dados ..................................................................................................... 46
2.3.2 Principais variáveis da análise ............................................................................... 47
Capítulo 3 Os mercados das commodities primárias e das processadas, 1995-2015 ........ 52
3.1 Setor agrícola ................................................................................................................. 53
3.2 Setor de alimentos, bebidas e tabaco ............................................................................. 59
3.3 Setor de minerais energéticos (carvão mineral, petróleo bruto e gás natural) ............... 63
3.4 Setor de coque refinado e produtos do petróleo ............................................................ 68
3.5 Setor de minerais não energéticos (minerais não-metálicos e minerais metálicos) ...... 72
3.6 Setor de Metais básicos ................................................................................................. 77
Capítulo 4 A dinâmica do “mundo das commodities”, 1995-2015 ..................................... 83
4.1 Configuração geral do mercado de commodities .......................................................... 83
4.2 Perfil básico das economias no mercado das commodities ........................................... 88
4.3 Reflexões acerca da concorrência no mercado mundial das commodities .................... 94
Considerações Finais ............................................................................................................ 106
Bibliografia ............................................................................................................................ 110
Anexos .................................................................................................................................... 115
17
Introdução
Esta tese constitui uma pesquisa com o propósito de examinar a estrutura de produção e
comércio mundial das commodities, em especial no período 1995-2015. Nesse trabalho
adotamos a definição que agrupa tanto a parte primária, quanto uma parcela processada dessas
commodities primárias, e para essa definição parte-se de uma análise de setores econômicos,
quais sejam: agrícola1, e extração e mineração, que divide-se em minerais energéticos e
minerais não energéticos, enquanto setores das commodities primárias; e, alimentos, coque
refinado e produtos do petróleo, e metais básicos, os três principais setores enquanto
commodities processadas.
A definição de commodities a partir de setores econômicos é realizada com base
classificação internacional para setores econômicos, a classificação ISIC Revisão 4
(International Standard Industrial Classification of All Economic Activities). O uso dessa
definição deve-se a seleção de uma das principais fontes de dados dessa pesquisa, qual seja, o
banco de dados de tabelas de insumo-produto da OECD, o banco IOTs (Input-Output Tables),
o qual disponibiliza essas tabelas a partir de uma divisão setorial baseada na classificação ISIC.
O mercado mundial das commodities, no período de análise, tem como uma das principais
características a expansão dos preços das commodities no período 2002-2012. A expansão
desses preços, que foi parcialmente interrompida na Crise de 2008, é apontada como resultante
do movimento de crescimento econômico asiático que resultou em uma expansão da demanda,
e assim, refletiu como um dos principais vetores para o boom dos preços no referido período.
Houve, nesse sentido, uma expansão desse mercado e essa expansão influencia muitos dos
resultados que são aqui apresentados, e isso pode resultar em algum viés na análise. No entanto,
não houve a possibilidade de expansão da série de dados em função da limitação de dados
estatísticos para o período anterior a 1995, nos moldes dessa proposta de pesquisa.
Em 1995 a participação das commodities2 nas exportações totais mundiais correspondia
a aproximadamente 17,7% e, em 2015, essa parcela ampliou-se para 20,8%, sendo o pico da
1
No que diz respeito aos setores do âmbito primário, o setor agrícola tem em si um aspecto em que a sua produção
não corresponde completamente à uma produção orientada para o mercado, como é o caso do setor de extração e
mineração. No setor agrícola coexistem, no limite, ao menos dois tipos de produções: uma produção para
autossuficiência e uma produção orientada para o mercado. Os dados apresentados aqui não apresentam essa
distinção, e portanto, todo o setor agrícola é considerando como setor de commodities para fins dessa análise.
2
A referência a commodities indicará sempre o agrupamento dos setores selecionados enquanto setores das
commodities; quando referido a commodities primárias, isso indicará o agrupamento dos setores: agrícola,
minérios energéticos e minérios não energéticos; e quando referido a commodities processadas, o agrupamento
será referente aos setores: alimentos, coque refinado e produtos do petróleo, e metais básicos.
18
que dão base para produção primária e das commodities processadas. Nesse grupo estão
economias como por exemplo: Brasil, Argentina, Rússia, México, Canadá, Austrália, Estados
Unidos, Indonésia e a Índia. As economias produtoras-importadoras seriam as economias que
em grande medida dependem das importações das commodities primárias como base de
produção, e consequentemente para concorrer no cenário da oferta mundial das commodities.
Nesse grupo estão economias como: Japão, Alemanha, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e
Coréia.
O ordenamento geral da análise partiu da identificação das principais economias
exportadoras do agregado das commodities, e em cada setor analisado. Esse processo implicou
em alguns questionamentos, os quais foram norteando essa análise e deram base para os
principais resultados alcançados. Assim, a problematização geral foi construída em partes. As
primeiras evidências da configuração do cenário da oferta mundial das commodities
apresentaram a participação, dentre os maiores exportadores de commodities, de economias
desenvolvidas, sendo essas não somente aquelas que se destacam como grandes produtoras
primárias, dado a disponibilidade de recursos naturais, como Austrália, Canadá, Noruega,
Estados Unidos. Isso levou ao seguinte questionamento: o que explicaria a participação de
economias desenvolvidas no cenário do comércio mundial das commodities, pelo lado da
oferta? Para responder esse questionamento avançamos então para a necessidade de
compreensão de aspectos relacionados ao âmbito da produção, e em conjunto a isso, uma
tentativa de investigação que propiciasse também responder: por que algumas das grandes
produtoras e exportadoras das commodities primárias não reflete necessariamente grandes
produtoras e exportadoras das commodities processadas?
Assim, não se trata apenas de apresentar o comportamento das exportações e da produção
das commodities, mas, de apresentar os principais elementos do ponto de vista da produção,
que auxiliam na compreensão da participação de algumas economias enquanto grandes
exportadoras de commodities, para além da disponibilidade de produção primária. Como será
observado, algumas economias produtoras-importadoras alcançam posição de destaque no
ranking das exportações de commodities, em especial das processadas, com base em uma oferta
do setor primário dado a partir de importações, enquanto economias produtoras-naturais que se
destacam como grandes produtoras primárias ficam abaixo desses países. Esse será por exemplo
o caso da Arábia Saudita e da Alemanha nas exportações de coque refinado e produtos do
petróleo (Tabela 20).
Para tentar dar conta dessa tentativa de investigação dos elementos principais que
caracterizam o cenário de concorrência entre os maiores exportadores de commodities, são
20
3
De modo mais claro, os aspectos metodológicos são apresentados no Capítulo 2.
21
dos setores das commodities no valor adicionado total da economia, para economias
selecionadas4). Em geral, a dependência dos setores de commodities para receitas de
exportações, dado a concentração desses setores nas exportações totais, é observada
principalmente nas economias em desenvolvimento que são grandes exportadoras de
commodities (Quadro 5). No entanto, é importante destacar que em economias desenvolvidas
como Austrália, Canadá, Noruega há um peso significativo da concentração das exportações
das commodities, relativo ao restante das suas exportações.
Essa pesquisa está dividida em quatro seções principais, que corresponde aos capítulos
dessa tese. O Capítulo 1 tem por objetivo apresentar uma contextualização geral básica, sobre
a formação do mercado mundial das commodities. A formação e evolução do mercado mundial
das commodities se manifesta a partir dos processos de mutações da economia mundial, de
acordo com as formas de acumulação que estão na “fronteira” de cada tempo histórico, e assim,
o Capítulo 1 procura apresentar esse processo de evolução para se distinguir, quando possível,
os principais momentos da evolução da configuração desse mercado.
Muitas são as dimensões para tratar dos aspectos históricos da evolução do mercado
mundial das commodities, portanto, aqui estabelece-se como principais elementos a serem
discutidos: 1) uma contextualização do processo de surgimento do mercado das commodities:
principais aspectos da expansão comercial até os anos 1930; 2) o movimento de regulamentação
internacional dos preços que marcam o período de 1930-80, a partir de acordos entre economias
produtoras e economias importadoras, com objetivo de reduzir a instabilidade dos preços das
commodities; 3) desregulamentação dos acordos interestatais dos preços até o ciclo dos preços
das commodities do período 2002-2012.
No Capítulo 2 é apresentando um aparato metodológico que auxilia na compreensão do
tratamento empírico presente nesse trabalho, qual seja, o tratamento dos dados referentes a
estrutura da produção e do comércio das commodities, para o âmbito mundial e por economias
selecionadas, no período 1995-2015. A metodologia apresenta como foi realizada a definição
dos setores econômicos, bem como as principais variáveis de análise.
Foram selecionados seis setores econômicos que resultaram em um agrupamento para
commodities primárias (setores: agrícola; extração de minerais energéticos; extração de
minerais não-energéticos) e um agrupamento para commodities processadas (setores:
alimentos; coque refinado e produtos do petróleo; metais básicos).
4
A amostra para essa observação é de sessenta e quatro economias, de acordo com os dados disponíveis nos bancos
de dados da OECD, dos quais são extraídos essas variáveis. O detalhamento desses bancos de dados é realizado
na Subseção 2.3.1.
23
Capítulo 1
Apontamentos acerca da formação e evolução do mercado mundial das
commodities
Landes (1980) apresenta que o peso desse comércio marítimo europeu não estava atrelado
diretamente as necessidades básicas da demanda da região europeia. A acumulação europeia
que se origina do uso dessas “extensões territoriais” estaria atrelado, portanto, ao comércio
25
5
Importante destacar o processo de independência de algumas dessas, até então, colônias: Estados Unidos, em
1776; Argentina, em 1816; Chile, em 1818; Venezuela, em 1819; Colômbia, em 1819; México, em 1821; Brasil,
em 1822.
6
“As Índias Orientais haviam sido, [...], o exportador tradicional de tecidos de algodão, encorajada pela Companhia
das Índias Orientais. Mas como o interesse industrial estabelecido prevaleceu na Grã-Bretanha, os interesses
mercantis da Índia Oriental [...] foram empurrados para trás. A Índia foi sistematicamente desindustrializada e
passou de exportador a mercado para os produtos de algodão da região de Lancashire: em 1820 o subcontinente
26
Nesse contexto estão inseridas as principais relações que darão base para uma
configuração da formação de um mercado mundial das commodities pautado em grande medida
em uma especialização produtiva, em que áreas subdesenvolvidas, em especial antigas colônias
de exploração, inseriram-se como fornecedoras de bens primários e consumidoras de bens
manufaturados das economias centrais. Para Landes:
Radetzki (2008) destaca que a redução dos custos de transportes, resultante de inovações
como aplicação da energia a vapor, a partir de meados do século XIX, foi determinante para
expansão do comércio mundial das commodities. A partir dessa redução, houve uma expansão
em volume nesse comércio. “Um grande grupo de matérias-primas produzidas a distâncias
crescentes da costa em territórios ultramarinos tornou-se economicamente acessível aos centros
industriais do mundo, pois o transporte terrestre por tração animal foi sendo transferido para
ferrovias e navios a vapor de metal substituíam os veleiros de madeira” (RADETZKI, 2008, p.
12, tradução nossa). Também, o desenvolvimento de técnicas de conservação de alimentos
foram fundamentais para impulsionar o comércio mundial desses bens a partir de fins do século
XIX.
De acordo com Topik (2003 apud FREDERICO, 2013) o café foi a primeira commodity
adquiriu somente 11 milhões de jardas; mas, por volta de 1840 já adquiriu 145 milhões” (HOBSBAWN, 2018, p.
69).
27
agrícola mundial, com base na revolução dos transportes e na invenção do telégrafo7. De acordo
com esse autor, a partir da instalação do primeiro cabo submarino entre Nova York, Londres e
América do Sul, em 1874, teria revolucionado o mercado internacional do café, padronizando
informações em relação aos preços, oferta e demanda. Portanto, a padronização e a capacidade
de troca dessas informações padronizadas, aparecem como essenciais para a criação dos
mercados das commodities.
Ainda considerando o caso do café, de acordo com Frederico (2013) a ação decisiva para
essa padronização, commoditização do café, teria ocorrido a partir de 1882, com a criação
Coffee Exchange in the City of New York (CENY), a Bolsa de Café de Nova York. A criação
da CENY “normatizou o comércio internacional de café, ao padronizar e classificar o café em
diferentes tipos, favorecendo a permutabilidade dos fornecedores e definindo a qualidade
necessária para uma economia de produção e consumo em massa” (FREDERICO, 2013, p.
101).
No que diz respeito ao desenvolvimento do comércio mundial das commodities minerais
energéticas, no setor de petróleo, o crescimento da indústria se dá após a abertura do campo da
Pensilvânia em 1859 (a produção passou de dois mil para mais de quatro milhões de barris em
uma década) (LANDES, 1980). Na década de 1860, quase toda a oferta comercial mundial
origina-se da Pensilvânia, mesmo que essa produção tenha se espalhado pelo mundo em fins do
século XIX: Rússia, em 1870; Galícia, em 1878; Romênia, em 1880; Sumatra, em 1883; Java,
em 1886, Burma, em 1890; Bornéu, em 1896; Texas, 1898 (LANDES, 1980).
Data-se de 1859 o marco inicial do uso sistemático do petróleo, a partir da perfuração do
primeiro poço de petróleo, o qual ocorreu no estado da Pensilvânia, Estados Unidos, a partir da
iniciativa do coronel Edwin L. Drake. Funda-se aí a primeira companhia petrolífera do mundo,
a Pennsylvania Rock Oil Company of New York (LUSTOSA, 2002). A indústria moderna do
petróleo teve início com o surgimento da Standard Oil Company, cujo principal fundador foi
John D. Rockefeller, em 1870 e, a partir disso, Rockefeller junto à Standard Oil, dominou o
mercado americano e mundial de petróleo, até aproximadamente 1909.
A partir da substituição do carvão como fonte energética pelos derivados do petróleo,
estabeleceu-se uma dependência na indústria mundial, nos transportes em geral, no uso desse
bem. Não apenas como fonte de energia, surge a partir dos anos 1930, a indústria petroquímica,
implicando no uso do petróleo não apenas como fonte de energia, mas, como insumo para
7
A patente do telégrafo foi realizada no ano de 1837, tornando-se o principal sistema de comunicação a longa
distância até o começo do século XX.
28
apresentada por Keynes8, como um dos pilares da sua proposta geral, durante a conferência de
Bretton Woods, em 1944. De acordo com Raffer e Singer (2001), a preocupação de Keynes
com a regulação do mercado internacional de commodities já aparecia em seu artigo "A política
de armazenamento governamental de alimentos e matérias-primas" de 1938. Em sua proposta
em Bretton Woods, Keynes propunha também uma organização internacional para estabilizar
os preços das commodities primárias de aproximadamente trinta commodities, incluindo ouro
e petróleo. O objetivo era impedir um possível colapso dos preços das commodities através do
controle dos seus preços.
Embora essa proposta de Keynes, na forma original, não tenha se concretizado, dado a
forte oposição do governo dos Estados Unidos na época, os acordos internacionais de
commodities (ICAs) foram estabelecidos, mesmo que não fidedignos à proposta original, e
resultaram em várias negociações que culminaram no Programa Integrado de Commodities
adotado na Resolução de Nairóbi da UNCTAD, em 1976 (NISSANKE, 2010). O objetivo desse
programa era fortalecer o setor de commodities das economias em desenvolvimento, a partir de
acordos para a estabilização de preços em uma série de commodities, evitando flutuações de
preços, com a justificativa de que os preços, do lado da oferta e da demanda, fossem equitativos.
Entretanto, no contexto de um movimento de desregulamentação dos mercados que passa
a caracterizar as economias a partir dos anos 1970, consubstanciado nas ideias neoliberais, os
ICAs passam por um processo de desestruturação/extinção (MAIZELS, 2003; CARNEIRO,
2012). Essa desregulamentação estava ancorado em um movimento maior de mudanças que se
encontravam em curso como orientação das políticas de Estado após os anos 1970: a adoção
dos pressupostos neoliberais em “todas” as esferas da economia. Assim como a fase de
implementação dos ICAs também era resultante de um movimento maior na condução das
políticas econômicas, nesse caso, as ideias keynesianas, a desregulamentação dos ICAs não será
algo isolado da dinâmica econômico-político mundial.
No entanto, a tentativa de regulamentação interestatal não se esgota completamente com
o fim dos ICAs, dado que, outras tentativas de negociações interestatais foram estabelecidas,
mas, em grande medida para tentar “solucionar” conflitos dados as práticas protecionistas que
foram intensificando-se nas economias desenvolvidas, em seus setores de produção de
commodities.
8
John Maynard Keynes (1883-1946), economista britânico, cuja a principal obra foi “A teoria geral do emprego,
do juro e da moeda”, publicada em 1936. Foi um dois principais economistas na construção do pensamento
econômico relacionado ao papel da intervenção do Estado na economia, com o objetivo de reduzir os ciclos de
instabilidade econômica.
31
Uma das instituições previstas a serem criadas a partir da Conferência de Bretton Woods,
seria a Organização Internacional do Comércio, com o objetivo de supervisionar um novo
regime multilateral de comércio mundial liberal, o que não aconteceu (TREBILCOCK e
HOWSE, 1999). Estabeleceu-se assim, em 1947, um acordo provisório entre os vinte e três
principais países comerciais do mundo o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT),
como uma tentativa de estabelecer os critérios para um comércio internacional sem práticas
protecionistas. No que diz respeito ao setor agrícola, somente na Rodada do Uruguai, rodada de
negociações que durou entre 1986 a 1993, levou-se em consideração o tratamento para esse
setor.
Também vale destacar a Rodada de Doha, a qual teve início em 2001 no Catar e tinha
como objetivo ampliar o acesso das economias em desenvolvimento, exportadoras de
commodities, aos mercados das economias desenvolvidas. Essa Rodada de negociações,
também chamada de Rodada do Desenvolvimento, tinha uma previsão de negociações para três
anos, mas, foi um fracasso em relação ao objetivo inicial. Os principais temas em negociação
envolviam agricultura; acesso a mercados para bens não-agrícolas (NAMA); regras sobre
aplicação de direitos antidumping, subsídios e medidas compensatórias; comércio e meio
ambiente; facilitação do comércio e alguns aspectos de propriedade intelectual; além de uma
discussão para pensar estratégias especiais e diferenciadas a favor de países em
desenvolvimento.
No entanto, as práticas protecionistas, impostas por economias desenvolvidas em seus
mercados importadores permanecem como um dos principais dilemas das negociações
internacionais de livre-comércio. No que diz respeito ao setor primário, as distorções se dão em
grande medida no setor agrícola, e, quando se contrapõe as commodities primárias e as
processadas, observa-se que as economias desenvolvidas impõe tarifas escalonadas de modo a
inibir as importações das commodities processadas em seus mercados.
No que tange à possibilidade de que essas negociações se concretizassem, para algumas
economias que apresentam algum tipo de dependência do comércio mundial das commodities,
seja pelo peso em suas receitas de exportações e/ou da produção interna, seria possível
pressupor alguns ganhos em um primeiro momento, mas, também é necessário pensar que essa
ampliação de acesso pode implicar em uma consolidação cada vez maior da dependência dessas
economias em relação a esse comércio.
A partir do PAC, em fins dos anos 1960, a Comunidade Européia podia se auto abastecer
na maioria dos produtos de consumo interno e aumentava o comércio de produtos dentro da
Comunidade, o que culminou em uma tensão entre EUA e Comunidade Econômica Europeia e
resultaria em impactos no mercado agroalimentar mundial (GOLDFARB, 2013). Conforme
aponta Balassa (1991):
trigo” (BALASSA, 1991, p. 154, tradução nossa). Esse arcabouço institucional protecionista
agrícola, nas economias desenvolvidas, ainda é hoje, objeto de discussão internacional, dado a
manutenção de grande parte dessa estrutura.
De acordo com Radetzki “em 2003-5, os subsídios agrícolas representaram 34% do valor
das receitas agrícolas totais na EU [União Europeia] e 58% no Japão [...]. Para alguns produtos,
os subsídios excedem 100%” (2008, p. 18, tradução nossa). Nas economias industrializadas
houve um processo de aprofundamento de políticas protecionistas (barreiras comerciais e
subsídios as exportações). Confirmando essas assertivas, para Anderson (2004 apud
RADETZKI, 2008, p. 48) “that almost two-thirds of the distortions (and hence of the potential
gains) arise from measures to protect agriculture, and that almost one-half of the global total is
due to agricultural protection by the rich world.”
De acordo com Radetzki (2008, p. 53, tradução nossa), acerca de um tipo de política
protecionista, amplamente aplicada a todas as mercadorias, “trata-se de uma escalada tarifária
ao longo da cadeia de processamento do material bruto para o produto acabado, e sua finalidade
precisa é garantir a localização do processamento de mercadorias no país que importa o material
bruto”. Para exemplificar o autor apresenta que “if processing increases the value of the product
from $80 to $100, and if the nominal tariff is 10% on the crude material but 20% on the
processed product, then the effective tariff imposed on the value added created at the processing
stage works out at a prohibitive 60% ($12 / $20)” (RADETZKI, 2008, p. 54). Assim, tarifas
diferenciadas para matérias-primas, produtos semiacabados e bens finais levam à chamada
escalada tarifária, que pode ter a virtude de tornar a taxa efetiva de proteção dos fatores de
produção, às vezes, superior à taxa nominal.
Prates (2007), ao tratar da relação entre as políticas protecionistas dos países, destaca que
essas políticas protecionistas tem dois pilares: “tarifas escalonadas, crescentes com o grau de
processamento dos bens, que desestimulam o processamento das commodities pelos países
periféricos; e subsídios agrícolas que, ao estimularem a manutenção ou aumento da produção,
deprimem os preços mundiais dos produtos” (p. 328).
De acordo com Trebilcock e Howse (1999) a escalada tarifária denota uma tendência dos
países desenvolvidos de impor tarifas muito baixas sobre as importações de matérias-primas e
tarifas muito mais altas sobre produtos processados ou acabados que são feitos a partir dessas
matérias-primas. Essa prática tornaria “muito mais fácil” para os países em desenvolvimento
exportarem matérias-primas em estado não processado e muito mais difícil exportar produtos
que tenham um componente significativo de valor agregado.
O efeito de escalonamento ocorre porque, enquanto os produtores dos produtos
processados ou acabados dos países desenvolvidos têm acesso às matérias-primas quase ao
mesmo preço que os produtores dos países em desenvolvimento (devido às baixas tarifas sobre
as matérias-primas), eles também têm um mercado protegido contra os produtores dos países
em desenvolvimento, em virtude da significativa tarifa imposta aos produtos processados ou
acabados em questão.
tratar minimamente esses ciclos, pois, de algum modo eles irão impactar no comportamento
desse mercado. Os principais ciclos de preços das commodities podem ser agrupados da
seguinte forma: 1) 1894-1932, com pico de preços em 1917; 2) 1932-1971, com pico de preços
em 1951; 3) 1971-1999, com pico de preços em 1973; 4) 2002-2012 (ERTEN e OCAMPO,
2012; RADETZKI, 2008; UNCTAD, 2013). Nos deteremos aqui ao período pós anos 1970.
O ciclo de expansão dos anos 1970 é marcado pelo crescimento dos preços das
commodities tanto petrolíferas, quanto não-petrolíferas, atingindo nível mais alto em 1974,
acompanhado do primeiro choque de preços do petróleo. De acordo com Cooper e Lawrence
(1975), mesmo deixando de lado o petróleo como um caso especial, os preços das commodities
primárias mais que dobraram entre meados de 1972 e meados de 1974, enquanto os preços de
algumas commodities individuais, como açúcar e ureia (fertilizantes nitrogenados), subiram
mais de cinco vezes. “A crise alimentar do início dos anos 70, combinada com crises
simultâneas de moeda e petróleo, iniciou um período de instabilidade [...]. A sensação de crise
no início dos anos 70 resultou da mudança repentina e inesperada do excedente para a escassez,
que elevou os preços dos grãos” (FRIEDMANN, 1995, p. 513, tradução nossa). No mesmo
sentido:
9
Considerando que a partir de 1979 os EUA empreenderam uma política estratégica para retomada de sua
hegemonia, através da retomada do controle financeiro internacional, via dólar forte, essa política resultará em
uma recessão generalizada até 1983. Resumidamente, dada a complexidade de elementos que estão
interconectados nessa estratégia, os EUA estabeleceram uma política de dólar forte, portanto, sobrevalorizado
entre 1979-85, acompanhado do aumento das taxas de juros. Entre 1985-89, empreendem uma desvalorização do
37
dólar, desregulam os principais mercados de capitais, e no período 1989-96, os juros são reduzidos enquanto a
política monetária foi mantida para desvalorização do dólar, frente ao marco e ao iene (TAVARES e MELIN,
1997). O contexto que antecede essa mudança estrutural do capitalismo mundial é marcado pelo período após II
Guerra Mundial até os anos 1970, quando as economias vivem os anos dourados do capitalismo. Nesse período
as economias em desenvolvimento, como as latino-americanas, passam por processos de desenvolvimento
industrial, baseados em projetos de investimentos orientados pelos Estados Nacionais e dada a baixa taxa de juros
registrada no período, esses projetos são em grande medida financiados por empréstimos com essas taxas. A década
de 1970 representou nos países desenvolvidos, uma transição na forma de acumulação do sistema capitalista, que
resultaram a partir da década de 1980, em um receituário para a periferia. Os principais pontos em que se
constituíram as propostas de ajuste dos anos 80 para a América Latina foram: políticas fiscais, com cortes radicais
nos gastos correntes e investimentos públicos; política monetária para conter a expansão dos meios de pagamentos,
redução do crédito e ampliação das taxas de juros; política salarial através da contenção dos reajustes; e, política
cambial e de comércio exterior pautada na desvalorização cambial, portanto, incentivando as exportações e
restringindo as importações (CANO, 2000).
39
maioria dos preços das commodities despencou quando o crescimento global desacelerou [...].
No entanto, desde então, todos os subgrupos de commodities se recuperaram fortemente: por
exemplo, em 2011 os preços médios de metais, matérias-primas agrícolas e bebidas
ultrapassaram as médias de 2008”.
Para Radetzki (2008), a recuperação dos preços do início dos anos 2000, das commodities
agrícolas, combustíveis e metais, é, em grande medida, resultante da expansão da demanda da
região asiática, em especial da China e da Índia, como grandes consumidoras de commodities.
Para esse autor, mesmo que tenha ocorrido um processo de desmaterialização, os processos
produtivos não podem prescindir do uso de matérias-primas em sua totalidade.
Para Erten e Ocampo (2012), o recente aumento dos preços das commodities do início do
século XXI tem sido comumente atribuído ao forte desempenho do crescimento global das
economias dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), particularmente da China,
pois seus processos produtivos são intensivos em metal e energia. Prates (2007) compreende
que seriam dois os principais determinantes comuns à alta dos preços das commodities, do pós-
2003, quais sejam: condições macroeconômicas globais e o efeito-China.
Como apresenta Unctad (2013), uma característica particular desse boom pós anos 2000,
em relação aos ciclos anteriores, é a crescente presença de investidores financeiros nos
mercados futuros de commodities, com investimentos em fundos fortemente concentrados no
lado da compra e, esse influxo substancial de capital seria responsável pela origem das bolhas
de preços futuros. Isso alteraria, por sua vez, os preços spot10, alterando, portanto, as
expectativas de aumento dos preços. Carneiro (2012) destaca que:
Para Radetzki (2008), a expansão dos preços das commodities primárias fez com que
gestores de fundos de hedge, fundos de pensão e outras carteiras de capital passassem a investir
10
Mercado spot é o tipo de mercado em que as transações com entrega imediata da mercadoria e o pagamento é
feito à vista. Esse mercado é distinto, portanto, dos mercados futuro e a termo, nos quais os pagamentos são
efetuados em prazos que podem variar, de acordo com os contratos de negociação.
40
Capítulo 2
Definição de commodities e metodologia para tratamento dos dados
11
Fally e Sayre (2018b).
12
Sistema Harmonizado (SH) - Harmonized System (HS) - da Organização Mundial das Alfândegas, que surgiu
através da cooperação internacional durante as décadas de 1970 e 1980 como uma medida de facilitação do
comércio. O SH especifica produtos usando seis dígitos, de 010110 (criação pura de cavalos vivos, asnos) a 970600
(obras de arte antigas que excedem 100 anos de idade). Ver UNSD (2018).
42
não ferrosos. Oyejide (1989) define commodities com base também na classificação SITC e
indica como agrupamento das commodities os produtos primários, agrícolas e minerais.
Unctad (2013) apresenta que historicamente vários termos teriam evoluído para fazer uma
distinção entre as diferentes commodities que são negociadas internacionalmente, como por
exemplo: commodities tradicionais e não-tradicionais; commodities tropicais e não-tropicais,
mas, indicam que uma distinção mais útil seria entre as commodities soft e hard (UNCTAD,
2013). As commodities leves (soft), seriam principalmente produtos agrícolas, como cereais,
bebidas tropicais, matérias-primas agrícolas, óleos vegetais e oleaginosas, e as commodities
duras (hard), seriam produtos derivados de mineração e outras indústrias extrativas similares,
como petróleo bruto, bauxita, diamantes, ouro e cobre.
Para Radetzki (2008), uma definição de commodities, a partir da ISIC (International
Standard Industrial Classification of All Economic Activities) poderia implicar em uma
classificação ambígua de setores definidos enquanto commodities e se tornaria inadequada para
as análises de commodities no comércio internacional. Para exemplificar, esse autor apresenta
que carne, pasta de papel e cobre refinado são importantes produtos primários no comércio
internacional, mas uma proporção significativa de seu valor foi adicionado pelo setor
manufatureiro através das atividades de matadouros, fábricas de celulose e fundições de cobre
e refinarias. Nesse sentido, “perder-se-ia” uma parte importante dos valores das commodities,
e portanto, prejudicaria uma análise mais ampla a partir do entendimento que também há uma
parcela de commodities que está no âmbito do processamento/industrialização. Se
considerarmos a divisão em geral apresentada pelas Contas Nacionais que aparecem com
elevado grau de agregação setorial em relação aos bens manufaturados, realmente o uso poderia
tornar-se inadequado. No entanto, como será exposto na Subseção 2.2, o uso da ISIC para
definição de setores enquanto setores produtores de commodities foi possível dado que a base
específica de dados da OECD.Stat (2018) disponibiliza informações estatísticas para um nível
de desagregação em trinta e quatro setores, e assim foi possível definir uma parte das
commodities processadas a partir dessa classificação.
produtos e setores13, e isso se torna mais complicado quando há necessidade de estabelecer uma
análise agregada de produtos e setores, como é o caso dessa pesquisa. Vale ressaltar que essa
construção constitui uma proposta metodológica de acordo com a base de dados utilizada na
pesquisa, e portanto, com a classificação adotada por essa base na apresentação dos dados.
O ponto de partida para classificação das commodities se deu pela identificação de uma
classificação formal da categoria commodities, a padronização internacional apresentada no
Quadro 1, a partir da Standard International Trade Classification (SITC) Revisão 314. A SITC
é uma das classificações para bens transacionados no mercado internacional, e a única no
âmbito internacional que apresenta uma classificação formal para um grupo de mercadorias
enquanto commodities. Assim as commodities são classificadas como commodities primárias,
mesmo no caso das commodities que passam por processos de industrialização/processamento.
Em geral, a SITC é a classificação usual adotada nos trabalhos que discutem o mercado
mundial das commodities, em especial porque as principais bases de dados desse âmbito
comercial são apresentadas por essa classificação, como é o caso da UNCTAD (United Nations
Conference on Trade and Development). No entanto, a classificação formal da SITC não é a
classificação principal adotada nesta pesquisa, uma vez que, o âmbito desse trabalho está tanto
na estrutura do comércio internacional, como da produção mundial, e, não foi possível encontrar
uma base de dados que ofertasse variáveis tanto da produção quanto do comércio, a partir da
classificação da SITC, mas, ela é ponto de partida para construção da nossa classificação.
Em um contexto de análise mundial, as variáveis precisam de certa uniformidade para se
estabelecer um padrão de análise entre as economias. Como destacado, em geral as bases
estatísticas que disponibilizam dados de acordo com a classificação da SITC não fornecem
todos os dados necessários ao objetivo desta pesquisa, mas, é através da classificação da SITC
que avançamos para uma classificação de commodities a partir de setores econômicos,
utilizando a International Standard Industrial Classification of All Economic Activities (ISIC)
Revisão 4 (UNSD, 2008). A utilização da ISIC se fez necessária, pois, a base estatística
principal dessa pesquisa é a da OECD (Organization for Economic Co-Operation and
Development).
13
Para ver mais sobre essas classificações: consultar UNSD (2018).
14
A versão mais recente da SITC corresponde a Revisão 4, no entanto, a Unctad até então disponibiliza os dados
de acordo com a Revisão 3, por isso a adoção dessa versão como referência.
44
A proposta para compatibilização entre SITC e ISIC, elaborada aqui, é realizada a partir
de uma sistematização disponibilizada pelo MDIC (2017) para diferentes classificações de
produtos e setores, das principais classificações no âmbito internacional e nacional. A
sistematização apresentada pelo MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços),
fornece uma desagregação, para ambas as classificações, da SITC e da ISIC, em termos de
agrupamentos que vão sendo desagregados em produtos com grau de
especificidade/detalhamento de até oito dígitos. A uniformidade dessa nomenclatura, a
Nomeclatura Comum do Mercosul, construída com o padrão internacional do Sistema
Harmonizado (SH), em ambas as classificações, auxiliou a construção da correspondência entre
SITC e ISIC, de acordo com o exposto no Quadro 2.
45
A partir da base de dados estatísticas da OECD optou-se pelo uso de três dos seus
principais bancos de dados: os das matrizes de insumo-produto (IOTs), os indicadores de
comércio em valor agregado (TIVA), e o banco de dados de comércio bilateral (BTDIxE).
Foram extraídas variáveis desses três bancos, mas, o peso maior recaí nas informações
estatísticas das matrizes de insumo-produto, sendo os outros dois bancos complementares. Os
dois principais softwares para organização/estruturação dos dados foram: o Microsoft Power
BI, e os recursos de tabelas dinâmicas do Excel.
A matriz ROW auxilia na construção dos dados agregados a nível mundial, como o valor
bruto de produção mundial de cada um dos setores das commodities. Mas, como a OECD
disponibiliza a matriz insumo-produto inter-países (Inter-Country Input-Output - IDIO15), e
nessas matrizes estão o agregado ROW, foi possível isolar e extrair a matriz insumo-produto
para o agregado resto do mundo. Esse exercício foi realizado somente para os setores:
mineração de produtos energéticos; e mineração de produtos não-energéticos; para possibilitar
a construção do VBP mundial dos mesmos, para o período 2005-2015. Para os demais setores
o VBP mundial foi construído com base apenas na série de 1995-2011, a IOTs ISIC Rev. 3.
Um segundo grupo de variáveis origina-se dos indicadores de comércio em valor
agregado (trade in value added – TIVA16), que são disponibilizados, assim como nas matrizes
IOTs, para dois períodos de acordo com as classificações ISIC Revisão 3 e ISIC Revisão 4. O
número de países contemplados é também sessenta e quatro, mas com informações estatísticas
para o grupo ROW nos dois períodos.
O terceiro grupo de variáveis é extraído do banco BTDIxE (Bilateral Trade in Goods by
Industry and End-use) ISIC Revisão 4. O BTDIxE auxilia na investigação sobre padrões de
comércio de bens intermediários entre países, em redes globais de produção e cadeias de
fornecimento. É um banco para as variáveis de comércio internacional: exportações,
importações, reexportação, reimportação. A opção pelo uso do banco BTDIxE se dá pela
disponibilidade de uma série histórica de dados que contempla cento e sessenta e três países,
para o período 1990-2017, desagregados por subsetores. Esse nível de desagregação, em termos
de disponibilidade de informações estatísticas, não se faz presente nos demais grupos de
variáveis da OECD.Stat. No entanto, dado a tentativa de manter o mais uniforme possível os
parâmetros dessa análise, desse banco extraiu-se somente as informações de dados de
exportações desagregadas de cada setor principal das commodities.
15
Essa base constitui o núcleo principal da construção do banco IOTs e TIVA, da OECD.
16
O banco de dados de comércio em valor agregado da OECD (trade in value added – TIVA/OECD) considera o
valor agregado de cada país na produção dos bens e serviços consumidos em todo o mundo. Os indicadores
incluem, por exemplo: discriminação das exportações brutas pela indústria em seus mercados interno e externo,
conteúdo estrangeiro, origem do valor adicionado na demanda final dos países, o conteúdo dos serviços das
exportações brutas pela indústria exportadora por origem estrangeira/doméstica), saldos comerciais bilaterais
baseados em fluxos de valor agregado consubstanciados na demanda final interna, intermediário importações
incorporadas nas exportações.
48
produto17, sendo a fonte dessas tabelas, no que diz respeito à essa pesquisa, o banco de dados
IOTs (Input-Output tables) da OECD. Nesse banco de dados são disponibilizadas tabelas18 de
insumo-produto simétricas19, setor por setor, da economia total (doméstica + importações)
(YAMANO e AHMAD, 2006).
O formato de apresentação da tabela de insumo-produto do banco IOTs/OECD, refere-se
a uma estrutura que pode ser caracterizada como “tabela de insumo-produto com exportações
líquidas, uma vez que as importações são tratadas como valores negativos [...] as importações
podem ser compensadas com exportações [...], ou mantidas em uma coluna separada com um
sinal negativo” (UNITED NATIONS, 2018, p. 335-346, tradução nossa). As importações, nesse
tipo de estrutura, são apresentadas como um vetor da demanda final, ou seja, as importações
são “alocadas aos setores que normalmente as produziriam e não aos setores que de fato as
consomem” (RIJCKEGHEM e CAMARGO, 1967, p. 8 apud CARVALHEIRO, 1998, p. 146).
Ainda, como aponta Leontief “em uma tabela de insumo-produto de um país ou região que
comercializa através de suas fronteiras, as exportações podem ser inseridas como positivas e as
importações como componentes negativos da demanda final” (LEONTIEF, 1986, p. 27).
Nessa pesquisa as tabelas de insumo-produto são utilizadas a partir de uma perspectiva
descritiva das principais variáveis que podem ser extraídas das mesmas. Sendo assim, à
apresentação dos aspectos metodológicos relacionados as tabelas de insumo-produto são
tratados parcialmente20. Como pode ser visto na Figura 2, o quadro básico de informações
disponíveis em uma tabela de insumo-produto permite extrair importantes variáveis, tais como:
17
Wassily Leontief (1906-1999), economista, professor da Universidade de Harvard, que a partir da publicação
“The Structure of the American Economy”, de 1941, apresentou a primeira versão da matriz insumo-produto, que
ficou conhecida como a Matriz de Leontief. Em 1973, Leontief recebeu o prêmio Nobel em Economia pelo
desenvolvimento desse modelo.
18
Para descrição da amostra de países para os quais estão disponíveis as tabelas de insumo-produto no banco
IOTs/OECD, bem como a delimitação temporal da série, ver Subseção 2.3.1.
19
De acordo com United Nations (2018) a compreensão do termo “simétrico” se deve no sentido de que as IOTs
são tabelas quadradas (permitindo, por exemplo, inversão de matrizes e geração de multiplicadores) e a forma
como as Tabelas Indústria por Indústria são apresentadas. No entanto, ressalta que “conceitualmente é incorreto
usar o termo ‘simétrico’, uma vez que em termos matemáticos as IOTs não são matrizes simétricas, isto é, o
elemento de tabela (i, j) não é igual ao elemento (j, i). Em outras palavras, o uso de aço pela indústria de fabricação
de metais básicos não é o mesmo que o uso de metais básicos pela indústria siderúrgica” (UNITED UNIONS,
2018, p. 324). Mantém-se o uso do termo “simétrico” aqui, em referência à como são apresentadas as tabelas no
banco IOTs/OECD (ver YAMANO E AHMAD, 2006, p. 17).
20
De acordo com Richardson (1978) a tabela de insumo-produto tem duas funções diferentes, sendo, em primeiro
lugar, uma estrutura descritiva que demostra a interdependência entre os setores de uma economia, através das
relação de produção e consumo. Em “segundo, dadas certas suposições econômicas sobre a natureza das funções
de produção, ela é um instrumento analítico para medir o impacto de perturbações autônomas sobre a produção e
a renda de uma economia” (RICHARDSON, 1978, p. 23). Nesse sentido que esse autor aponta que há uma
distinção entre contabilidade de insumo-produto e modelo operacional de insumo-produto. Em grande medida, a
tabela de insumo-produto é utilizada enquanto um modelo que é capaz de medir, por exemplo, os efeitos de
encadeamentos produtivos e de choques de demanda.
49
VBP x1 x1 ... xn
onde as importações representam importações de todos os tipos para uso pelo setor j. Portanto,
como já foi dito, quando as importações são apresentadas enquanto um vetor coluna, isso indica
que elas estão alocadas aos setores que normalmente as produziriam e não aos setores que de
fato as consomem. De modo ainda mais claro, as importações no vetor coluna representam uma
demanda que não é atendida pela produção doméstica, ou seja, essas importações tem o caráter
da produção do setor i. Quando as importações são apresentadas na horizontal da tabela de
insumo-produto, elas representam bens e serviços que o setor j consome em seu processo
produtivo. Para tabelas de insumo-produto da economia total (doméstica + importações), as
importações são subtraídas do VBPi, por isso aparecem em negativo, conforme Figura 2.
A equação 1 apresenta a composição do VBPi.
Dado que a DF, para fins dessa pesquisa, é dividida em duas principais variáveis: a
demanda final sem exportações (DFSE) e as exportações (EXP). A DFSE agrega: despesa de
consumo final das famílias, instituições sem fins lucrativos, consumo final do governo,
formação bruta de capital fixo, variação dos estoques, compras diretas por não residentes
(exportações). Assim,
Na IOTs os dados das importações estão disponíveis tanto para a DI, as importações
intermediárias (IMP_INT), como para a DF, as importações de bens finais (IMP_BF), portanto:
Assim:
refinado e produtos do petróleo depende da oferta do setor de minerais energéticos, dado que
esse último setor representa a base de produção para o primeiro.
Assim, em uma economia que não há oferta doméstica do setor de minerais energéticos,
suficiente para dar base de produção para o setor de coque refinado e produtos do petróleo, as
importações registrados na linha do setor de minerais energéticos, que portanto aparecem
enquanto total das importações de minerais energéticos no vetor coluna das importações, devem
compor a oferta desse setor e assim dar base de produção ao setor de coque refinado e produtos
do petróleo, uma vez que a base de produção desse setor origina-se da oferta do setor de
minerais energéticos.
Ainda no que diz respeito à análise das importações, é utilizado o indicador de
importações intermediárias incorporadas nas exportações, o IMGRINT_REII, o qual está
disponível no banco TIVA/OECD. Esse indicador mensura, a partir do total das importações
intermediárias, ou seja, importações destinadas a demanda intermediária, a participação dessas
no total das exportações por setor.
A distribuição do VBPi será tratada de duas formas principais. Primeiro apresenta-se essa
distribuição do ponto de vista do setor a nível mundial, apontando os principais setores para os
quais foram destinados a oferta setorial, bem como as participações entre DFSE e EXP. Essa
variável também é apresentada para economias selecionadas de acordo com cada setor
analisado, identificando, em especial, a participação da DI, das exportações, e o peso das
importações na DI. Ao analisar essa distribuição é possível identificar, por exemplo, no caso
dos setores primários, economias que são orientadas para as exportações em detrimento do
processamento primário doméstico, pois, grande parte da produção é exportada enquanto
produção primária ao invés de ser destinada a DI, onde seria adquirida pelos setores de
processamento. Ao mesmo tempo permite, também, identificar economias em que a DI do setor
primário é composta com base em importações.
52
Capítulo 3
Os mercados das commodities primárias e das processadas, 1995-2015
O Capítulo 3 representa uma parte central dessa pesquisa e por isso a apresentação desse
conteúdo pode se tornar exaustivo do ponto de vista do leitor, dado a necessidade do caráter
repetitivo do tratamento das principais variáveis da análise. No entanto, esse exercício é
necessário, pois ajuda na identificação dos principais elementos que darão base para os
principais resultados da pesquisa, os quais são apresentados no Capítulo 4. A sequência do
tratamento das variáveis de análise para cada setor apresenta-se conforme os apontamento a
seguir.
1. Exportações por subsetores: apresenta o peso das exportações dos principais
subsetores de cada setor em análise, com exceção de coque refinado e produtos do
petróleo, para o qual não há essa informação disponível. Esse caráter de desagregação é
apresentado para demonstrar os principais subsetores então, de cada setor, e isso é feito
a partir do banco de dados BTDIxE/OECD, pois, não há disponibilidade desses dados
desagregados no banco IOTs/OECD.
2. Distribuição do VBP mundial setorial: essa varável apresenta a distribuição do valor
bruto de produção (VBP) de cada setor analisado, entre demanda intermediária e
demanda final, destacando na demanda intermediária as principais demandas setoriais
em relação à oferta do setor em análise.
3. Maiores exportadores por setor: apresenta as economias que destacaram-se como
principais exportadoras por setor.
4. Distribuição do VBP setorial, para economias selecionadas: essa variável apresenta,
para um grupo de economias selecionadas por setor, a distribuição do VBP entre
demanda intermediária e demanda final. A seleção das economias se faz a partir
daquelas que estão entre as maiores exportadoras do setor, no entanto, como será
observado, quando apresentada para os setores das commodities primárias (agrícolas,
minerais energéticos, minerais não energéticos) destaca tanto as principais exportadoras
do setor, quanto aquelas que estão entre as maiores exportadoras das commodities
processadas respectivas a cada setor primário. Isso se faz necessário, como já apontado
na Subseção 2.3.2, pois, a variável importações, no que diz respeito ao seu papel em
relação as importações que dão base para a produção de commodities processadas, são
identificadas em grande medida a partir das importações do setor primário. Dado a
53
com o setor de alimentos (na demanda intermediária) e também com a demanda final, exceto
exportações (DFSE). De modo mais claro, o setor de alimentos representou uma demanda de
31,1% do valor bruto de produção (VBP) doméstico em 1995, e em 2011, 30,6%. A DFSE foi
responsável por 37,8% da demanda em 1995, e 35,8% em 2011 (Tabela 2). A relação
intersetorial indica que o principal setor de transformação das commodities primárias agrícolas
é o setor de alimentos. Em relação às exportações, essas correspondiam à 7,4% da demanda
pela produção desse setor em 1995, e em 2011 a participação foi de 8,1%.
Tabela 2 – Distribuição (%) do VBP mundial do setor agrícola: VBP doméstico e VBP
com importações, 1995/2011.
VBP doméstico21 VBP com importações
Distribuição do VBP
1995 2000 2005 2010 2011 1995 2000 2005 2010 2011
Demanda intermediária 54,8 55,6 55,2 55,6 56,1 59,6 60,0 59,5 60,2 61,1
Setor agrícola 11,6 12,0 11,9 11,3 11,3 12,4 12,8 12,6 12,1 12,2
Setor de alimentos 31,1 29,6 29,2 30,4 30,6 34,0 32,2 31,7 33,1 33,6
Demais setores de commodities 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1
Manufaturas, exceto setores de commodities
6,6 6,3 6,5 7,0 7,2 7,1 6,9 7,1 7,6 7,8
processadas
Setor de serviços 5,4 7,5 7,5 6,8 6,8 5,9 8,0 8,0 7,3 7,4
Demanda final 45,2 44,4 44,8 44,4 43,9 48,3 47,4 48,0 47,8 47,5
Demanda, exceto exportações 37,8 37,3 37,8 36,9 35,8 40,4 40,0 40,6 39,8 38,9
Exportações 7,4 7,0 7,0 7,5 8,1 7,9 7,4 7,4 8,0 8,7
Importações - - - - - -7,9 -7,4 -7,5 -8,1 -8,7
Importações - - - - - -7,9 -7,4 -7,5 -8,1 -8,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).
21
Para os casos de distribuição do VBP, quando apontado como VBP doméstico, refere-se somente as tabelas de
insumo-produto domésticas, e no caso com do VBP com importações, referem-se a economia total (doméstica +
importações).
55
(Tabela 3).
No caso das commodities primárias, como é o caso do setor agrícola, o acesso à matéria-
prima é fundamental para dar base às exportações. Duas são as principais formas para esse
acesso: a produção primária doméstica e/ou as importações. As exportações, de modo geral,
implicam na necessidade da produção interna e/ou de importações. Considerando o setor de
commodities agrícolas, estamos tratando da produção de bens que não apresentam, ainda, grau
de transformação. No entanto, do total produzido nesse setor, ele será distribuído entre a
demanda intermediária (o consumo intersetorial, que corresponde aos bens intermediários) e a
demanda final (os bens finais) e nesse sentido, são demandados internamente e externamente
para complementar o processo produtivo de diferentes setores, bem como, a demanda final. Em
grande medida, seja domesticamente ou internacionalmente, esse setor tem uma característica
geral de que o setor de alimentos e a DFSE, serão os principais destinos dessa produção.
A Tabela 4 auxilia, em parte, na compreensão da distribuição do VBP desse setor, nas
principais economias exportadoras. O peso das exportações no VBP das economias
selecionadas, dentre os maiores exportadores do setor, pode auxiliar na compreensão das
economias com maior/menor especialização da produção, voltada para as exportações.
No caso da Holanda, para complementar a demanda intermediária, ou seja, compor uma
parcela do VBP do setor, em 2005, a participação das importações na DI desse setor foi de
24,4%, e em 2015, de 30,9%. No ano de 2005 a Alemanha foi a economia que apresentou maior
peso nas importações na demanda intermediária, sendo 25,8%; seguido pela Holanda; Espanha,
56
decresceu para 1,0% e da Alemanha foi inferior a 1,0%. As economias, como do Brasil e da
Argentina, que são grandes produtoras do setor, apresentaram participação de 2,8% e 2,1%,
respectivamente, de importações na demanda intermediária do setor.
A economia brasileira saltou de décimo terceiro maior exportador do setor, em 1995, para
segundo maior exportador em 2015. Isso refletiu na ampliação da parcela do VBP, destinada
para DI e exportações. Em 2005, o Brasil era o quinto maior exportador, com participação de
4,4% das exportações, enquanto em 2015, a mesma foi de 8,6%. Na distribuição do VBP do
setor, em 2005, 63,5% era destinada a DI e 12,4% às exportações; em 2015, a parcela para DI
foi de 48,3% e para as exportações, 23,5%. Essa ampliação do peso das exportações no VBP
pode ajudar a compreender o avanço na participação do setor nas exportações totais dessa
economia, que ampliaram-se de 5,1% em 1995, para 15,1% em 2015 (Tabela 6). A participação
do setor no VA total dessa economia não apresenta grandes oscilações, sendo sua parcela de
5,6% em 1995 e, de 5,1%, em 2015.
Na economia argentina, ocorre uma redução da parcela destinada às exportações entre
2005 e 2015, de 22,1% para 12,0%, e uma ampliação na parcela destinada a DI, de 56,8% para
60,5%, e na DFSE, de 21,1% para 27,2%. Esses indicadores auxiliam na compreensão da
expansão do VA desse setor, de 4,8% para 9,7% no VA total.
A economia chinesa participava com 2,1% das exportações mundiais de commodities
agrícolas em 1995, em 2015, houve uma ampliação para 4,1%, tornando-se a quinta maior
exportadora. O incremento da participação dessa economia na produção mundial avançou de
12,3% em 1995 para mais de um quarto da produção mundial do setor, 27,5%, em 2015 (Tabela
5). O peso das importações na composição da demanda intermediária foi inferior a 5%, entre
2005/2015 e o peso das exportações no VBP, reduziram de 1,8% em 2005, para 0,9% em 2015.
Em 1995, as economias que apresentaram maiores parcelas desse setor no valor
adicionado doméstico foram: Índia, com 24,8%; Filipinas, 21,5%; China, 20%; Indonésia,
15,3%; e, Turquia, 11,8%, Nos Estados Unidos e na Alemanha, essa participação foi de 1,3%,
em cada; no Japão, de 1,8%. Na economia brasileira a participação era de 5,6% em 1995,
enquanto, em 2015 foi de 5,1%, A participação do setor no VA interno da economia chinesa
reduziu para 8,5% em 2015 (Tabela 6).
58
Tabela 6 – Participação (%) do valor adicionado do setor agrícola do país em seu valor
adicionado total, e participação (%) das exportações do setor agrícola do país no total das
suas exportações, para economias selecionadas, 1995/2015.
Valor adicionado Exportações
1995 2000 2005 2010 2011 2015 1995 2000 2005 2010 2011 2015
Argentina 4,8 4,2 9,2 9,6 9,7 9,7 Argentina 12,2 10,3 13,7 14,4 16,1 15,5
Austrália 3,8 3,9 2,9 2,4 2,4 2,6 Australia 5,4 5,9 4,1 3,4 4,2 4,8
Brasil 5,6 5,6 5,3 4,8 5,1 5,1 Brasil 5,1 5,4 7,0 9,0 10,3 15,1
Canadá 3,0 2,5 1,7 1,5 1,7 1,8 Canadá 3,2 2,0 4,1 3,9 4,0 4,5
China 20,0 15,1 11,2 9,3 9,0 8,5 China 2,2 1,4 0,9 0,8 0,7 0,8
Alemanha 1,3 1,3 0,8 0,8 0,8 0,6 Alemanha 0,7 0,7 0,5 0,5 0,6 0,6
Espanha 5,4 4,3 3,0 2,5 2,5 2,8 Espanha 4,0 3,4 3,3 3,3 3,1 3,8
França 3,3 2,8 1,9 1,8 1,8 1,8 França 3,1 2,4 2,2 2,5 2,8 2,6
Indonésia 15,3 15,5 12,0 14,1 13,6 13,7 Indonésia 4,5 2,7 1,9 3,9 4,2 2,8
Índia 24,8 21,8 19,0 18,4 18,1 17,1 Índia 4,2 2,4 1,2 1,6 1,6 1,3
Irlanda 7,2 3,2 1,3 1,2 1,6 1,0 Irlanda 1,5 0,7 0,9 1,0 1,2 1,9
Itália 3,3 2,7 2,2 2,0 2,1 2,2 Itália 1,1 0,9 0,9 1,1 1,0 1,1
Japão 1,8 1,6 1,1 1,1 1,1 1,1 Japão 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
México 5,3 4,1 3,2 3,3 3,2 3,4 México 3,7 1,9 1,8 2,0 2,1 2,4
Holanda 3,4 2,6 2,0 2,0 1,7 1,8 Holanda 6,1 4,8 4,7 4,5 4,0 3,8
Filipinas 21,5 14,1 12,5 14,0 14,1 14,0 Filipinas 1,6 1,7 2,4 1,7 2,1 1,2
Rússia 7,6 7,2 4,3 3,4 3,8 4,3 Rússia 3,8 2,1 2,2 1,5 1,8 2,1
Tailândia 9,1 8,5 8,8 10,5 10,7 10,4 Tailândia 1,8 0,9 1,2 2,1 3,5 2,0
Turquia 11,8 10,8 10,3 9,9 9,1 7,7 Turquia 3,0 2,6 2,9 3,2 3,0 3,0
Estados Unidos 1,3 1,0 1,2 1,2 1,4 1,1 Estados Unidos 3,5 1,9 2,3 3,1 3,3 2,5
Vietnã 27,2 24,5 14,5 15,0 14,9 14,6 Vietnã 5,5 6,4 5,2 4,7 5,5 4,1
Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).
59
Tabela 8 – Distribuição (%) do VBP mundial do setor de alimentos: VBP doméstico e VBP
com importações, 1995/2011.
VBP doméstico VBP com importações
Distribuição do VBP
1995 2000 2005 2010 2011 1995 2000 2005 2010 2011
Demanda intermediária 29,2 30,1 31,3 34,7 34,9 32,6 33,6 35,6 39,0 39,4
Setor agrícola 3,6 3,5 3,6 4,7 4,8 4,0 3,9 4,0 5,2 5,3
Setor de alimentos 11,1 11,2 12,3 14,1 14,2 12,4 12,6 14,0 15,8 16,0
Demais setores de commodities 0,1 0,1 0,2 0,3 0,3 0,1 0,1 0,2 0,3 0,3
Manufaturas, exceto setores de
1,5 1,4 1,6 2,2 2,3 1,8 1,6 1,9 2,5 2,6
commodities processadas
Setor de serviços 12,8 13,8 13,5 13,4 13,2 14,3 15,3 15,4 15,2 15,1
Demanda final 70,8 69,9 68,7 65,3 65,1 78,5 77,4 77,4 73,6 73,7
Demanda final sem exportações 60,9 60,0 57,1 54,0 53,4 68,0 67,1 65,2 61,6 61,2
Exportações 10,0 9,9 11,6 11,3 11,8 10,5 10,3 12,1 12,0 12,5
Importações 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 -11,2 -11,1 -12,9 -12,6 -13,1
Importações 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 -11,2 -11,1 -12,9 -12,6 -13,1
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).
32,9%; Tailândia, 24,4%; e Canadá, 22,1%. Em 2015, essas participações foram de 53,7% na
economia irlandesa, 44,8% na economia belga, 42,5% na economia holandesa (Tabela 10).
A indústria de alimentos é, tipicamente, altamente concentrada – não exclusiva – nos
países desenvolvidos, tanto no varejo quanto nas etapas de processamento (MCCORRISTON,
SEXTON e SHELDONC, 2005). No entanto, importante destacar que na produção mundial
apresentaram redução da participação nessa produção, entre 1995-2015: Japão, Estados Unidos,
Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha, mesmo que ainda estão permaneçam dentre
as quinze maiores produções do setor (Tabela 11).
A economia chinesa que em 1995 tinha uma parcela de 5,6% na produção mundial, é
responsável por 22,2% em 2015, e isso ajuda na compreensão do avanço dessa economia na
participação das exportações mundiais do setor, apesar de que, em termos de distribuição do
VBP, a parcela destinada às exportações dessa economia reduz de 6,4% em 2005, para 3,4%
62
em 2015. O peso das importações na DI desse setor é estável em 4,1%, considerando esses dois
anos.
3.3 Setor de minerais energéticos (carvão mineral, petróleo bruto e gás natural)
Esse setor divide-se em dois subsetores, quais sejam, o de extração de carvão e linhite22
e de extração de petróleo bruto e gás natural, sendo esse último, responsável pela maior parcela
da composição das exportações do setor (Tabela 13). O peso do subsetor de extração de petróleo
em bruto e gás, foi de 83,8% das exportações do setor.
22
É considerado uma forma menor de carvão devido a seu baixo poder calórico.
64
A Arábia Saudita respondia por 15,4% das exportações mundiais do setor em 2005 e
12,3% em 2015 (Tabela 15), e somente esse setor era responsável por 78,3% das receitas de
exportações desse país em 2005 e por 66,1%, em 2015 (Tabela 18). No ano de 2015 os maiores
exportadores de minerais energéticos foram Arábia Saudita; Rússia, com participação de 9,7%;
Canadá, com participação de 7,3%; Noruega, 4,8%; e, Austrália, 3,3%.
23
Ver Subseção 2.3.1.
65
A principal característica do VBP desse setor na Arábia Saudita é o peso das exportações
que em 2005 representavam 88,4% desse VBP e em 2015, 80,1%. Outras economias que
apresentaram esse mesmo padrão no período analisado, ou seja, com peso das exportações
indicando produção orientada para o mercado externo, foram Noruega, 84,2% em 2005 e,
também em 2015; Cazaquistão, 79,9% em 2005, e 75,4% em 2015 (Tabela 16).
Em termos de valor adicionado no âmbito doméstico, o peso desse setor diminui na China,
de uma participação de 3,8% em 2005 para 2,3% em 2015 (Tabela 18). A Arábia Saudita é a
economia com maior peso desse setor no valor adicionado doméstico, relativo às demais
economias selecionadas, sendo que em 2005 o setor representava 47,5% do VA total dessa
economia, e em 2015, 26,1% (Tabela 18).
totais de 51,0% em 2005 e de 40,8%, em 2015, sendo que em termos de participação do setor
no VA total da economia, essas participações eram de 23,6% e 16,1%, nos referidos anos. A
parcela desse setor em 2015, nas receitas das exportações do Canadá, foi de aproximadamente
18,5%; da Rússia, 29,4%; da Austrália, 15,8%; da Colômbia, 46,2%; e do Cazaquistão, essa
participação era de 42,8% (Tabela 18).
Vale destacar que no setor de minerais energéticos podemos destacar como economias
produtoras naturais: China, Estados Unidos, Arábia Saudita, Rússia, Canadá, Noruega,
Indonésia, Malásia, Austrália, México, Índia, Reino Unido, Brasil, Argentina; e como principais
economias produtoras-importadoras: Alemanha, Bélgica, Coréia, Espanha, Holanda e Japão.
O peso das exportações no VBP doméstico, desse setor, ampliou-se de 13,5% em 1995,
para 21,8% em 2011. A maior parcela da distribuição desse VBP corresponde ao agregado dos
setores de serviços, o qual foi responsável por 33,3% da demanda desse setor em 2011 (Tabela
19).
Destacam-se entre os maiores exportadores desse setor em 1995: Estados Unidos, com
participação de 8,0%; Holanda, 6,0%; Cingapura, 5,7%; Arábia Saudita, 4,8%; e, Reino Unido,
4,5%. Nesse ano, a Rússia era a sexta maior economia exportadora, com parcela de 4,1%; a
Coréia, o décimo maior no ranking, com participação de 3,0%. Em 2015 a economia americana
ampliou sua participação para 17,8% dessas exportações; a Rússia era o segundo maior
exportador, 11,8%; e a Coréia, terceiro maior, com participação de 6,1% (Tabela 20).
69
do respectivo setor nessa economia, pois, de acordo com a sua distribuição, em 2005, 95,6%
foi destinado a DI, e em 2015, 98,3% (Tabela 27).
O Peru, dentre os maiores exportadores também exibe uma grande participação desse
setor para suas receitas de exportação, porquanto, em 2005 essa parcela foi de 36,7%; em 2010,
de 42,6%; e em 2015, de 32,6%. Na economia australiana o peso desse setor avançou de 9,9%
em 2005, para 18,5% das exportações totais, com destaque para o ano de 2010, em que esse
setor representou 20,7% das receitas de exportação desse país.
Os principais produtos desse setor são os resíduos de metais de base não ferrosos e de
sucata; minérios e concentrados de cobre; minérios e concentrados de níquel; prata, platina;
ferro-gusa, spiegel, ferro-esponja, grânulos e pó de ferro ou aço e ferro-ligas; lingotes e outras
formas primárias, de ferro ou aço; produtos semi-acabados de ferro ou aço; fios de ferro ou aço;
produtos; trilhos ou elementos de vias férreas, de ferro ou aço; alumínio; chumbo; zinco;
estanho; metais não-ferrosos diversos empregados na metalurgia; jóias, artigos de matérias
preciosas ou semipreciosas; ouro, não monetário (excluindo minérios de ouro e seus
concentrados).
O setor de metais básicos divide-se em dois subsetores principais: ferro e aço; e metais
não-ferrosos. O peso do subsetor de metais não-ferrosos nas exportações mundiais do setor, era
superior ao de ferro e aço entre 1990-2005, apresentando uma participação de 43,8% em 1990,
78
mas, em 2010 esse peso altera-se para 53,9%, e em 2017 para 60,8% (Tabela 30).
Tabela 31 – Distribuição (%) do VBP mundial do setor de metais básicos: VBP doméstico
e VBP com importações, 1995/2015.
VBP doméstico VBP com importações
Distribuição do VBP
1995 2000 2005 2010 2011 1995 2000 2005 2010 2011
Demanda intermediária 76,5 74,4 71,3 74,2 73,3 97,7 98,1 97,2 96,7 96,5
Metais básicos 27,7 25,3 25,4 28,1 28,2 34,0 31,7 32,6 34,7 35,1
Demais setores de commodities 0,9 1,1 1,2 1,3 1,4 1,2 1,5 1,8 2,0 2,1
Manufaturas, exceto setores de
38,7 39,1 35,2 33,8 32,9 50,2 52,8 49,3 45,1 44,6
commodities processadas
Setor de serviços 9,1 9,0 9,6 10,9 10,7 12,3 12,1 13,5 14,9 14,6
Demanda final 23,5 25,6 28,7 25,8 26,7 26,6 28,6 32,5 29,7 31,1
Demanda final, exceto exportações 1,6 1,3 2,0 2,4 2,5 2,3 1,9 2,8 3,3 3,5
Exportações 21,9 24,3 26,6 23,4 24,2 24,3 26,7 29,7 26,3 27,6
Importações 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 -24,3 -26,7 -29,7 -26,3 -27,6
Importações 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 -24,3 -26,7 -29,7 -26,3 -27,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).
Das exportações totais mundiais, em 1995, esse setor representou 4,4% dessas
exportações; em 2005, 4,5%; em 2008 alcança um pico de 5,6%, uma expansão em consonância
com o aumento da participação das commodities nas exportações mundiais, pois, entre 1995 e
2008, o ano de 2008 representa a maior participação das commodities nas exportações, 26,7%.
Entre 1995-2015 o ano de 2008 é no qual o setor apresenta a maior parcela nas exportações
mundiais. Em 2015 ela foi de 4,0% (Subseção 4.1: Tabela 36).
A Alemanha era a maior exportadora do setor em 1995, com participação de 10,7%,
seguida pela economia japonesa, com parcela de 8,1%; Estados Unidos, 7,8%; Rússia, 5,6%; e
79
Em 2010 a China destaca-se como maior exportadora desse setor, com participação de
8,9%; a Alemanha, como segunda maior exportadora, 8,1%; seguida por Estados Unidos e
Japão, com parcela, cada um, de 7,5%; e a Rússia com 6,0%. A China em 1995 representava
2,3% das exportações desse setor e era décimo segundo nesse ranking, contudo, em 2000, sua
posição foi de décima maior exportadora, com 2,8%; em 2005 se posicionou como quarta maior
economia exportadora do setor, com participação de 6,8%. A partir de 2010 a Alemanha torna-
se a segunda maior exportadora desse setor enquanto a China torna-se a líder.
A China ampliou sua fatia nessas exportações, de 2,3% em 1995, para 15,4% em 2015.
O Canadá participava com 4,3% em 1995, e em 2015 essa participação foi de 5,1%; a economia
coreana avança de uma participação de 2,2% em 1995 para 5,0% em 2015; e a economia
brasileira de 1,5% para 2,4%, nos respectivos anos (Tabela 32).
Tendo as economias exportadoras desse setor como referência, observa-se que o Canadá
é a economia com maior parcela, na distribuição do VBP setorial, destinada às exportações,
sendo 67,9% em 2005, e de 73,6%, em 2015. A economia chinesa destinava 11,0% do VBP
desse setor para as exportações em 2005, e 6,7%, em 2015 (Tabela 33).
80
Tabela 34 – Valor adicionado mundial de metais básicos: participação (%) dos maiores
produtores, 1995/2015.
1995 2000 2005 2010 2011 2015
País Part. País Part. País Part. País Part. País Part. País Part.
Japão 25,7 Japão 23,4 Japão 15,7 China 29,7 China 31,6 China 41,4
Est. Unidos 13,8 Est. Unidos 15,5 China 15,5 Japão 15,7 Japão 12,4 Japão 9,8
China 7,5 China 9,1 Est. Unidos 12,0 Est. Unidos 7,0 Est. Unidos 7,2 Est. Unidos 7,1
Alemanha 6,9 Alemanha 5,5 Rússia 6,3 Rússia 5,3 Rússia 5,5 Rússia 4,2
Coréia 3,9 Coréia 3,9 Alemanha 6,1 Coréia 4,2 Índia 4,6 Coréia 3,6
Itália 3,6 Rússia 3,1 Coréia 4,8 Alemanha 3,8 Coréia 4,1 Alemanha 3,4
França 3,0 Índia 3,1 Itália 2,8 Índia 3,3 Alemanha 4,0 Índia 3,1
Rússia 2,9 México 2,8 Índia 2,6 Brasil 2,4 Brasil 2,4 Argentina 1,5
Índia 2,7 Canadá 2,8 Canadá 2,5 México 1,8 México 1,8 Brasil 1,5
Rei. Unido 2,7 França 2,7 Austrália 2,4 Itália 1,8 Itália 1,7 Turquia 1,5
Espanha 2,2 Itália 2,7 México 2,2 Canadá 1,5 Turquia 1,7 México 1,5
Canadá 2,1 Brasil 2,1 França 2,0 Espanha 1,4 Canadá 1,6 Itália 1,3
Brasil 1,9 Espanha 2,1 Brasil 2,0 Turquia 1,4 França 1,4 Espanha 1,2
Austrália 1,8 Rei. Unido 2,0 Espanha 2,0 França 1,4 Espanha 1,3 Canadá 1,2
México 1,6 Taiwan 1,7 Rei. Unido 1,4 Austrália 1,3 Cazaquistão 1,2 França 1,0
Total 82,2 Total 82,5 Total 80,3 Total 82,0 Total 82,3 Total 83,2
Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).
Na pauta exportadora, o peso dessas exportações para China era de 4,0% em 1995 e de
5,1% em 2015; no VA, a participação era de 3,3% e 3,2%, respectivamente. Em termos de VA,
na economia brasileira esse setor contribuiu na faixa de 0,9% em 1995, e 0,7% em 2015; na
pauta exportadora, essa estatística foi de 6,9% em 1995 e 7,7% em 2015. Austrália (9,1%),
Turquia (8,9%), Canadá (8,2%), Rússia (8,1%), e Brasil (7,7%), são as economias que
apresentaram maiores participações do setor em suas exportações, em 2015 (Tabela 35).
Dentre os maiores exportadores desse setor em 2015: China, Alemanha, Japão, Estados
Unidos, Canadá, que representavam 38,4% das exportações mundiais, e 62,9% do VA mundial
desse setor. Em relação as exportações de metais básicos, o peso desse nas exportações totais
de economias selecionadas variou de uma participação de 2,2% nas exportações dos Estados
Unidos, a uma participação de 8,3% nas exportações do Canadá; e em termos de VA do setor
no VA doméstico total de economias selecionadas, variou de uma participação de 0,3% na
economia americana, até 3,2% na economia chinesa, no ano de 2015.
83
Capítulo 4
A dinâmica do “mundo das commodities”, 1995-2015
que alcança maior relevância nas exportações totais mundiais durante o período 1995-2015,
com pico de participação nos anos de 2008 e 2013, quando participou com 11,7% em cada um
desses anos. Do setor de extração, os percentuais mais elevados se devem, como pode ser visto
a partir de 2005, ao setor de minerais energéticos. O segundo setor, com pico de participação
nas exportações totais mundiais foi o de metais básicos, que em 2005 a em 2008 alcança uma
parcela de 5,6%.
As commodities primárias (agrícolas e extração de minerais) representavam 6,8% das
exportações mundiais, e as commodities processadas, 10,9%, em 1995; no ano da série, em que
apresenta pico de participação das commodities nas exportações mundiais (em 2011, de 27,8%),
as commodities primárias foram responsáveis por 14,7% da participação.
Radetzki (2008, p. 27) argumenta sobre a perda de importância das commodities no
comércio global, ao afirmar que “I established a very clear trend of declining commodity
importance in the macroeconomy, as nations develop [and] confirms this tendency looking at
global trade patterns over an extended period during which the global economy experienced
considerable expansion”. De acordo com esse autor, em 1965, as commodities representavam
quase 50% do comércio global de bens, mas em 2005 indicador se reduziu para menos de 30%,
mesmo em face do boom dos preços das commodities, que iniciara em 2002, com uma expansão
desses preços superior ao registrado no pós II Guerra Mundial.
Em 1995, a participação total do valor adicionado das commodities no valor adicionado
total mundial foi de 10,6% e, em 2015, de 13,1%, sendo que nesse período, 2012, foi o ano com
maior indicador, 14,3% (Tabela 37). Em 1995, o setor com maior destaque no VA mundial,
dentre os setores de commodities foi o agrícola, com 4,2%. Em 2005, o setor de extração
mineral-metais tem maior importância enquanto agregado: 3,6%, sendo o ano de 2012 com
maior relevância desse setor, 5,2%. Os dados desagregados desse setor indicam que essa
participação é resultante do desempenho do setor de extração e mineração de produtos
energéticos, onde encontra-se a extração do petróleo em bruto, sendo os anos entre 2011 e 2013
(considerando 2005-2015), o período com maiores participações desse setor no VA mundial,
3,8%.
85
Do total de VBP dos setores de commodities, em 1995, 60,8% foi destinado para a
demanda intermediária; 14,6%, para as exportações; e, DFSE, 39,5% (Tabela 38). O perfil dos
bens denominados como commodities, em geral é o uso enquanto insumo de outros setores
econômicos, com exceção do setor de alimentos e de produtos de petróleo, os quais produzem
em grande medida para consumo final.
Fally e Sayre (2018a) apontam24 que a principal indústria compradora do setor de
commodities respondia por 35% da demanda por uma commodity primária, em média; três
setores de compras equivaliam a 60% do total de compras por commodity (em média entre
commodities). Quando esses autores analisam os dados do Global Trade Analysis Project25
(GTAP), identificaram que uma média de 50% de cada produção de commodities é usada por
um único setor a jusante.
24
A partir das tabelas de insumo-produto dos EUA de 2007, definidas em categorias de commodities e indústria,
NAICS (North American Industry Classification System) de seis dígitos, que corresponde à aproximadamente
quatrocentos e trinta setores.
25
O GTAP é uma rede global de pesquisadores que conduzem análises quantitativas de questões de política
internacional.
86
26
Foi formulado em 1989 como um documento consensual de economistas de instituições como o FMI (Fundo
Monetário Internacional), o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, com o objetivo de
indicar medidas de ajustamento macroeconômico a serem adotadas, em especial, pelos países periféricos que
passavam por crises econômicas naquele momento. Ao passo que essas economias precisaram recorrer a
empréstimos do FMI no contexto da crise da dívida externa, esse receituário tornou-se um movimento concreto
de imposição dessa instituição das medidas entendidas como necessárias à esse ajustamento.
89
27
Interpretação formulada pelo estatístico alemão Ernst Engel (1821-1896). Esse autor indica que quanto menor o
rendimento de uma família, maior será a proporção da renda empregada no consumo com alimentação, mas, ao
passo que a renda aumenta, o gasto proporcional com alimentos diminui.
90
exemplo, a economia australiana ampliou sua participação nas exportações mundiais de 11,5%,
em 2005, para 19,9% em 2015, no setor das commodities minerais não-energéticas (Tabela 26).
No âmbito das suas receitas de exportação, o setor ampliou participação no período, 2005-2015,
de 9,9% para 18,5% (Tabela 29). No caso da Noruega, no setor de minerais energéticos, mesmo
em face de uma redução de 6,8% para 4,5% na participação nas exportações mundiais desse
setor (Tabela 15), e redução do setor nas receitas de exportação, que reduziram de 51,4% para
40,8%, (Tabela 18) o peso do setor ainda é significativo na pauta exportadora dessa economia.
Como a produção primária das commodities tem uma forte relação com as condições de
disponibilidade de recursos naturais, isso limita parcialmente o acesso de algumas economias
enquanto exportadoras nesse mercado, mas, não necessariamente ao âmbito do mercado das
95
grupo dos quinze maiores em 2015 e suas participações nessas exportações são inferiores a
1,2% (Tabela 41). Em 2015, algumas economias que não estavam dentre os quinze maiores
exportadores de commodities primárias em 1995 e que apresentavam participação inferior a
1,5% nessas exportações, despontam no agrupamento dos quinze maiores exportadores de
commodities primárias em 2015, sendo elas: Brasil (participação de 3,7%), Indonésia
(participação de 2,4%), Chile (2,0%). Dos países citados do grupo dos quinze maiores em 1995,
apresentaram expansão na participação das exportações mundiais das commodities primárias:
Canadá, de 5,4% em 1995 para 6,7%, em 2015; Austrália, de 3,8% para 5,2%; Rússia, de 4,6%
para 7,1%. Os quinze maiores exportadores de commodities primárias em 1995 eram
responsáveis por aproximadamente 57,5% das exportações do setor e, em 2015, essa
participação era de 51,4%.
Em 1995 destacaram-se como principais exportadores de commodities processadas:
Estados Unidos, Alemanha, França, Holanda, Reino Unido, Japão, Bélgica, Itália, Rússia,
Canadá e Austrália, Espanha, China, Brasil e Coréia, e em 2015: Estados Unidos (10,0%),
China (8,7%), Alemanha (5,7%), Rússia (4,7%), Coréia (3,6%), Canadá (3,5%), França, Índia,
Japão, Itália, Brasil, Holanda, Espanha, Bélgica e Reino Unido (Tabela 41).
Os principais produtores (em termos de valor adicionado – VA) das commodities
primárias em 1995 foram a China, com 10,3% da produção mundial; Estados Unidos, 9,1%;
Japão 5,9%; Índia, 5,6%; e Arábia Saudita com 3,1%. Em 2015 a China era responsável por
20,8% da produção mundial dessas commodities; Estados Unidos, 8,6%; Índia, 6,5%; Arábia
Saudita, 3,1%; Indonésia, 3,0%; Rússia, 3,0%; Canadá, 2,4%; Brasil, 2,0%; Austrália, 1,8%;
Argentina, 1,5%; e nesse ano a economia japonesa apresentou uma redução na sua participação
para menos de 1,0% (Tabela 41).
Na produção das commodities processadas, em 1995, vale destacar como alguns dos
principais produtores mundiais: Japão, com participação de 21,6%; Estados Unidos, 15,7%;
China, 5,8%; Alemanha, 5,7%; e França com 3,8%. Em 2015 os principais produtores foram:
China, 25,8%; Estados Unidos, 14,3%; Japão, 6,5%; Rússia, 3,1%; e a Índia, com participação
de 3,0%; Alemanha, 2,9%; Indonésia, 2,6%; México, 2,2%; Brasil, 2,1%; e França, 1,9%.
Destacam-se dentre os principais mercados importadores das commodities primárias em
1995: Japão, 15,1%; Estados Unidos, 15,0%; Alemanha, 8,3%; Itália, 5,2%; França, 4,9%;
Coréia, 4,7%; Reino Unido, 3,9%; Holanda, 3,5%; e a Espanha, com 3,4%. Em 2015 esse
cenário era composto por China, 19,3%; Estados Unidos, 11,8%; Japão, 7,5%; Índia, 6,3%;
Coréia, 5,5%; Alemanha, 5,3%; Itália, 3,6%; e Taiwan, 3,1%. Os principais importadores das
commodities processadas foram, em 1995: Estados Unidos, 10,1%; Alemanha, 9,4%; Japão,
97
8,9%; França, 6,4%; Itália, 5,8%. Em 2015 destacaram-se: Estados Unidos, 11,0%; China,
8,5%; Alemanha, 5,8%; Índia, 4,2%; Japão, 3,9%.
base para produção de commodities processadas, e dado que nos demais mercados, conforme
avança-se em intensidade tecnológica, o espaço de concorrência para essas economias, com
exceções como no caso dos Tigres Asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan)
e da China, é reduzido frente aos países desenvolvidos. Mas, a organização da dinâmica
econômica não se dá com base no pressuposto de uma coordenação da produção e
consequentemente da concorrência. É nesse sentido que essa análise coloca que algumas
economias líderes no mercado das commodities não necessariamente o são com base no peso
da produção primária doméstica, mas, sim o são, com base nas importações do insumo básico.
A ampliação das importações de commodities primárias em função da expansão do setor
de processamento nas economias importadoras pode resultar em estímulo à expansão da
produção primária nas economias produtoras-naturais e concorrência entre essas economias e
as produtoras-importadoras nos mercados das commodities processadas. O problema reside
que, considerando que algumas dessas economias produtoras-importadoras seriam os principais
mercados de destino das exportações das produtoras-naturais, e assim, a região de consumo
condiciona parte dessa dinâmica, em especial a partir de práticas protecionistas. Nesse sentido,
as economias desenvolvidas tem implementado estratégias de modo a reduzir sua dependência
das commodities importadas ou criar autonomia frente à essa dependência, como está posto nas
barreiras tarifárias e não-tarifárias.
No que diz respeito as commodities, duas são as principais práticas protecionistas: os
subsídios, e as tarifas as importações de commodities processadas (ver Subseção 1.2). Os
subsídios à produção primária em grande medida são voltados para área agrícola, portanto não
se estendem a toda produção primária, como os setores de extração e mineração. Em geral esse
tipo de barreira é adotada nas economias desenvolvidas como forma de “igualar” a concorrência
da produção interna com a do mercado externo. Em geral os Estados Unidos e a União Européia,
são pioneiros no uso dessas barreiras. As práticas de subsídios não são explícitos nos setores de
extração e mineração, nas economias desenvolvidas dado a dependência das importações
primárias desse setor.
A imposição de tarifas superiores nas importações de commodities processadas relativas
às tarifas das commodities primárias, indica que em geral a demanda dos países desenvolvidos
é norteada para commodities primárias, resultando no entendimento de que esses mercados
consumidores demandam commodities processadas, mas, criam mecanismos para que esse
processamento seja realizado domesticamente. Isso é extremamente importante de
compreender, pois, estabelece a base para análise de que a decisão de processar a commodity,
ou seja, incluir mais um passo na etapa produtiva na dimensão das economias produtoras-
100
naturais, da produção destinada ao mercado internacional, não é uma simples decisão a ser
tomada no âmbito nacional, pois, depende também das condições da demanda externa.
As importações de commodities primárias contribuem para a participação de economias
que não são produtoras-naturais a participarem do mercado mundial das commodities, em
grande medida no âmbito das exportações das commodities processadas. O entendimento para
essa inter-relação é brevemente apontada ao analisarmos a distribuição das demandas pelo setor
primário respectivo. Ou seja, na distribuição das demandas pela oferta do setor agrícola, na
demanda intermediária, a principal demanda origina-se do setor de alimentos. Dado o caráter
dos setores em análise, ou seja, de insumo básico de produção, isso indica que o principal setor
de demanda, representa o principal setor de transformação/processamento dessa commodity
primária, dado que, está levando-se em consideração o caráter da demanda intermediária. Para
o setor de alimentos de um determinado país, apresentar produção e exportações do setor, ele
necessita da produção do setor primário. Caso não haja capacidade de produção doméstica para
atender essa demanda, importações pelo setor agrícola podem ser realizadas. A partir desse
movimento, é criado base para produção do setor de alimentos.
As importações são analisadas aqui, de duas formas principais: uma delas é olhar o peso
das importações no valor da DI do setor primário, e a segunda forma é através do uso do
indicador28 da parcela das importações intermediárias que são exportadas (IMGRINT_REII),
portanto, do total das importações intermediárias, a parcela incorporada nas exportações29. A
partir disso é possível, em primeiro lugar, identificar as economias que tem base da produção
primária, em termos de DI, formada em grande medida por importações. Considerando que o
caráter da variável das importações intermediárias, qual seja, o de importações para atender a
demanda dos diferentes setores para o setor em questão, isso permite compreender que essas
importações intermediárias contribuem para compor essas exportações.
Como já apontado, não necessariamente as maiores economias produtoras-naturais são
também as maiores economias exportadoras das commodities processadas. Os mercados das
commodities processadas tem casos de economias que não apresentam base de produção
primária suficiente para subsidiar a produção de commodities processadas para consumo
interno e exportações, mas, estão como as maiores exportadoras do setor. Essa situação só pode
ser entendida a partir do peso das importações. Assim, essas importações podem aparecer tanto
28
Refere-se as importações intermediárias reexportadas pelo setor exportador como parte das importações
intermediárias mostram quanto das importações são exportadas. Indicador – IMGRINT_REII - extraído do banco
TIVA/OECD (OECD.Stat, 2018).
29
Importante ressaltar que esse indicador não diz respeito a uma parcelas das exportações, e sim, uma parcela das
importações intermediárias que está incorporada nas exportações.
101
pelo setor primário, quanto pelas próprias importações do setor das commodities processadas,
enquanto reexportações.
Os maiores produtores de commodities agrícolas em 2015 foram: China, Índia, Estados
Unidos, Indonésia, Brasil, Turquia, Argentina, Rússia, Japão, França, Tailândia, Filipinas,
Itália, México e Espanha e no setor de alimentos: China, Estados Unidos, Japão, Alemanha,
Indonésia, México, França, Reino Unido, Brasil, Canadá, Espanha, Índia, Itália, Argentina,
Filipinas. Observa-se assim que Alemanha, Reino Unido, Canadá e Filipinas são grandes
produtoras de alimentos, mas não necessariamente estão como as principais produtoras do setor
agrícola em 2015.
Destacam-se como maiores exportadores de alimentos, em 2015: Estados Unidos, China,
Alemanha, França, Holanda, Brasil, Indonésia, Irlanda, Espanha, Tailândia, Itália, Vietnã,
Bélgica, Rei. Unido, Canadá (Tabela 9). No entanto, Alemanha, Reino Unido e Canadá não
estão entre os maiores produtores agrícolas (Tabela 5). A participação das importações na DI
do setor agrícola em 2005 na Alemanha era de 25,8%; no Canadá, 10,4%; no Reino Unido, de
24,5%. Em 2015 essas participações foram de: Alemanha, 33,6%; Canadá, 11,4%; Reino
Unido, de 22,2% (Tabela 4). No setor de alimentos, em 2005, a parcela das importações
intermediárias contida nas exportações de alimentos eram de 25,0% na Alemanha; no Canadá,
de 32,3%; no Reino Unido, de 16,1%; e, em 2015, essas participações foram de: Alemanha,
32,1%; Canadá, 30,2%; e, Reino Unido, 20,9% (Tabela 42). Observa-se que na inter-relação do
setor agrícola-alimentos, não há grande dependência das importações intermediárias como
determinante da participação de algumas economias enquanto grandes exportadoras do setor de
alimentos. Nesse sentido, podemos destacar a partir de Radetzki (2008) que:
Índia (1,5%), Reino Unido (1,3%), Brasil (1,1%), Argentina (1,0%), Cazaquistão (0,9%) e
Colômbia (0,8%).
Os maiores exportadores de coque refinado e produtos do petróleo em 2015 foram:
Estados Unidos, Rússia, Coréia, Cingapura, Índia, Alemanha, China, Arábia Saudita, Canadá,
Bélgica, Holanda, Japão, Espanha, Malásia, Tailândia. Nesse ano, a participação das
importações na demanda intermediária do setor de commodities minerais energéticas dessas
economias foi de: 38,1% nos Estados Unidos; na Rússia, 7,0%; Coréia, 98,3%; Índia, 64,1%;
Alemanha, 92,9%; China, 25,2%; Arábia Saudita, 0,2%; Canadá, 36,7%; Bélgica, 99,8%;
Holanda, 80,9%; Japão, 98,8%; Espanha, 98,3%; Malásia, 9,6%; Tailândia, 56,3%.
Portanto, das principais economias exportadoras de coque refinado e produtos do petróleo
em 2015, Coréia, Alemanha, Bélgica, Holanda, Japão e Espanha, apresentavam uma
participação das importações acima de 70% no valor da demanda intermediária do setor base
de produção para coque refinado e produtos do petróleo, qual seja, setor de minerais energéticos
(Tabela 16).
Além das importações pelo setor primário, as economias também podem realizar as
importações pelo setor de processamento. Para medir esse elemento, podem utilizar a variável
da participação das importações intermediárias que estão nas exportações. Dentre os principais
exportadores de coque refinado e produtos do petróleo, vale destacar que em 2015 a economia
coreana apresentava como parcela das importações intermediárias de 44,1% nas exportações, a
economia alemã, de 41,3%, e a economia tailandesa, participação de 53,6% (Tabela 42).
Os maiores exportadores de metais básicos, em 2015 foram: China, Alemanha, Japão,
Estados Unidos, Canadá, Coréia, Rússia, Austrália, França, Itália, Índia, Turquia, Brasil,
Bélgica, Espanha (Tabela 32). Em 2015, o peso das importações na DI do setor de minerais
não-energéticos era de: 25,9% na China; 54,2% na Alemanha; 83,0%, no Japão; 13,3% nos
Estados Unidos; 34,8% no Canadá; 82,4% na Coréia; 7,8% na Rússia; 3,5% na Austrália; 34,7%
na França; 87,4% na Itália; 53,9% na Índia; 16,2% na Turquia; 18,1% no Brasil; 96,7% na
Bélgica; e 48,6% na Espanha (Tabela 27). Ainda dentre os maiores exportadores de metais
básicos, destacam-se Bélgica, Alemanha, Canadá, Itália, Coréia e França, como participação
acima de 50% das importações intermediárias do respectivo setor, que são reexportados. Assim,
observa-se que nesse setor, as importações, tanto do setor primário como no próprio setor, são
elementos importantes para dar base para produção e participação de algumas economias no
mercado internacional das commodities.
103
Tabela 42 – Participação (%) das importações intermediárias nas exportações dos setores
de commodities processadas, para os principais exportadores, 1995/2015.
Alimentos Coque refinado e produtos do petróleo Metais básicos
País 1995 2005 2011 2015 País 1995 2005 2011 2015 País 1995 2005 2011 2015
Irlanda 62,9 58,4 67,8 74,0 Cingapura 57,4 74,4 75,3 76,2 Bélgica 71,5 68,6 66,4 63,3
Bélgica 39,6 41,2 45,7 49,0 Bélgica 52,0 53,5 65,1 56,6 Alemanha 48,7 55,0 59,3 60,7
Holanda 44,9 41,8 46,8 49,5 Tailândia 36,9 49,0 52,2 53,6 Canadá 65,4 47,1 64,5 48,5
Vietnã 24,0 39,8 41,6 41,8 Holanda 55,3 49,2 51,0 51,4 Itália 43,8 40,7 47,9 52,1
Tailândia 33,4 35,7 41,3 41,8 Malásia 47,3 60,4 58,9 50,5 Coréia 32,9 45,3 58,4 56,6
Alemanha 15,2 25,0 30,3 32,1 Alemanha 27,9 37,9 42,0 41,3 França 47,2 46,3 49,3 51,6
Canadá 27,4 32,3 25,8 30,2 Coréia 32,9 37,0 47,4 44,1 Rei. Unido 49,8 38,0 49,1 44,3
Espanha 20,2 21,5 25,2 28,9 Espanha 28,9 32,8 38,9 38,3 Turquia 18,8 26,5 31,1 34,0
França 21,3 25,9 26,9 28,5 Canadá 26,7 39,9 31,7 32,0 Japão 21,2 29,6 33,4 34,3
Itália 25,3 21,5 22,7 24,6 Rússia 45,7 38,0 37,8 34,6 Rússia 55,0 47,6 36,1 34,9
Rei. Unido 17,7 16,1 20,6 19,5 A. Saudita 31,7 50,7 34,8 22,5 China 64,8 34,7 32,1 29,4
Indonésia 12,8 17,7 17,0 16,8 Índia 11,8 22,5 24,2 22,0 Índia 10,7 21,3 24,6 24,4
Brasil 8,1 20,4 12,5 15,2 China 22,1 30,4 26,4 22,6 Est. Unidos 26,9 20,7 29,7 24,5
China 54,8 19,0 14,5 12,9 Japão 9,2 16,8 18,0 19,7 Brasil 22,7 28,9 17,3 24,6
Est. Unidos 9,2 7,7 10,5 10,1 Est. Unidos 13,3 9,5 12,6 13,4 Austrália 36,8 14,4 21,5 18,8
Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).
Considerações Finais
são apresentados nas referidas Tabelas para economias que destacam-se como principais
exportadoras do setor primário, bem como do setor de processamento imediato. Ou seja, na
Tabela 4 o VBP setorial agrícola foi apresentado para os maiores exportadores desse setor, bem
como para os maiores exportadores de alimentos, e o mesmo é realizado com os demais setores.
Isso foi feito com o objetivo de apresentar tanto a distribuição da oferta setorial (o VBP setorial)
entre a demanda intermediária e a demanda final, como a participação das importações na
composição dessa oferta. Essa análise resultou na apresentação de economias que destacam-se
como grandes exportadoras, em especial das commodities processadas, mas, com base de
produção que encontra relação significativa com as importações.
Na inter-relação agrícola-alimentos, o peso das importações primárias não aparece como
um dos principais elementos das relações de concorrência entre os exportadores dessas
commodities, dado que os maiores exportadores, em geral, são também grandes produtores
primários. No entanto, há uma distorção nesse cenário que é criada em especial por economias
desenvolvidas produtoras agrícolas, como é o caso das economias europeias. Para essas
economias há um elemento fundamental que além de criar barreiras para as importações, e
portanto, redução do acesso a esses mercados, também impulsiona as exportações agrícolas e
de alimentos desses países, que é a Política Agrícola Comum (PAC) da Europa. Essa política
estabelece um pacote ações, como subsídios agrícolas, subsídios às exportações dessas
commodities, além do comportamento das tarifas para importações desses dois setores. Assim,
há um caráter de distorção que garante capacidade de concorrência das economias europeias
com economias em desenvolvimento exportadoras de commodities agrícolas-alimentícias, mas,
em grande medida não tem relação direta com o peso das importações primárias como será o
caso dos setores de extração e mineração.
No período da análise o mercado mundial das commodities encontra uma fase de
significativa expansão, dado o avanço da demanda por commodities na Ásia, em especial na
China, que representa um dos principais elementos para compreensão do Ciclo das
Commodities entre 2002-2012. Isso contribui para o entendimento do avanço da China no
mercado mundial das commodities em termos de demanda (expansão de uma participação de
1,8% das importações mundiais de commodities em 1995, para uma participação de 19,3%, em
2015) mas, também, em termos de oferta, dado que avançou na participação de 10,3% no valor
adicionado mundial de commodities primárias em 1995, para uma participação de 20,8% em
2015 (Tabela 43). Essa economia tornou-se uma das “gigantes” nas diferentes esferas do
mercado mundial das commodities, com exceção das exportações de commodities primárias.
A discussão sobre as commodities em geral suscita o debate sobre questões de
108
Bibliografia
ARRIGHI, G. (1996). O longo século XX: dinheiro, poder e as origens do nosso tempo.
Rio de Janeiro: Contraponto; São Paulo: Editora Unesp, 1996.
FALLY, T.; SAYRE, J. (2018a). Commodity Trade Matters. NBER Working Papers
24965, National Bureau of Economic Research, Inc. 2018a. Disponível em:
<https://ideas.repec.org/p/red/sed018/172.html>. Acesso em: 28 nov. 2018.
111
______________. (2018). A era das revoluções (1789-1848). 40º ed. Rio de Janeiro;
São Paulo: Paz & Terra, 2018.
1983.
OECD. (2017). Industry breakdown for the 2016 Trade in Value Added (TiVA)
indicators. OECD, 2017. Disponível em:
<http://stats.oecd.org/FileView2.aspx?IDFile=cfbf9aa4-6c5a-4b49-af29-23e8270d7d5c>.
Acesso em: 11 dez. 2017.
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
31572007000300001&script=sci_abstract&tlng=>. Acesso em: 11 out. 2014.
with Extensions and Applications. Nova York: United Nations, 2018. Disponível em:
<https://unstats.un.org/unsd/nationalaccount/docs/SUT_IOT_HB_wc.pdf>. Acesso em: 15
jan. 2019.
Anexos
MYS Malásia
MLI Mali
MRT Mauritânia
MUS Mauritius
MEX México
MDA Moldova
MNE Montenegro
MOZ Moçambique
MMR Myanmar
NAM Namíbia
NPL Nepal
NLD Holanda
NZL Nova Zelândia
NIC Nicarágua
NGA Nigéria
NOR Noruega
OMN Omã
PAK Paquistão
PRY Paraguai
PER Peru
PHL Filipinas
POL Polônia
PRT Portugal
ROU Romênia
RUS Rússia
KNA São Cristóvão e Névis
VCT Saint Vin. and the Grenadines
STP São Tomé e Príncipe
SEN Senegal
SRB Sérvia
SYC Seychelles
SLE Serra Leoa
SGP Cingapura
SVK República Eslovaca
SVN Eslovênia
ZAF África do Sul
ESP Espanha
LKA Sri Lanka
SDN Sudão
SUR Suriname
SWE Suécia
CHE Suíça
TZA Tanzânia
TGO Togo
TUN Tunísia
TUR Turquia
UGA Uganda
GBR Reino Unido
USA Estados Unidos
URY Uruguai
ZMB Zâmbia
Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).
119
Ilhas Marshall
Mauritius
México
Micronésia
Mongólia
Montserrat
Marrocos
Namíbia
Nauru
Holanda
Nova Caledônia
Nicarágua
Nigéria
Niue
Ilhas Marianas do Norte
Omã
Ilhas do Pacífico, Território da Confiança
Paquistão
Palau
Panamá
Papua Nova Guiné
Paraguai
Peru
Filipinas
Qatar
Saint Helena
São Cristóvão e Névis
Santa Lúcia
São Vicente e Granadinas
Samoa
Arábia Saudita
Seychelles
Cingapura
Sint Maarten (parte holandesa)
África do Sul
Sri Lanka
Estado da Palestina
Suriname
República Árabe da Síria
Tailândia
Tokelau
Tonga
Trinidad e Tobago
Tunísia
Turquia
Ilhas Turks e Caicos
Emirados Árabes
Uruguai
Venezuela
Vietnã
Ilhas Wallis e Futuna
Saara Ocidental
Zimbábue
Fonte: Elaborado a partir de UnctadStat (2018c)
1 Classificação geral apresentada em UnctadStat (2018c), a qual divide as economias nos seguintes grupos: economias
desenvolvidas (Developed economies), economias em desenvolvimento (Developing economies), países menos desenvolvidos
(LDCs - Least developed countries), economias em transição.
2 Para fins dessa análise, a referência à economias em desenvolvimento refere-se às economias classificada pela UnctadStat