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1- COMPREENDER AS MANIFESTAÇÕES

CLÍNICAS E ETIOLOGIA (GENÉTICA) DA


CONVULSÃO E DA EPILEPSIA.

CONVULSÃO:
 Representa um evento único anormal da função
cerebral provocado por uma descarga elétrica de
neurônios no córtex, não controladas e paroxísticas.
 A convulsão é um evento clínico específico, com
sinais e sintomas associados, que variam de acordo CRISES EPILÉTICAS:
com o local da descarga neuronal no encéfalo. As
Classificação: A Classificação Internacional de Crises
manifestações de uma convulsão geralmente
Epilépticas determina o tipo de crise pelos sintomas
incluem fenômenos sensoriais, motores, autônomos
clínicos e pela atividade do EEG. Ela divide as
ou psíquicos.
convulsões em duas grandes categorias:
 Podem ocorrer como um sintoma reversível de
outra patologia ou como uma condição CRISES FOCAIS: sinais de manifestação localizada,
recorrente, chamada epilepsia. com início em um dos hemisférios cerebrais.
 ETIOLOGIA: Depois dos 20 anos, uma convulsão é
provocada na maioria das vezes por uma mudança CRISES GENERALIZADAS: início nos dois hemisférios
estrutural, traumatismo, tumores ou AVE. cerebrais simultaneamente.
Convulsões podem surgir no curso de quase todas
as doenças ou lesões graves que afetam o encéfalo, CRISES CONVULSIVAS FOCAIS:
como transtornos metabólicos, infecções, tumores,
 São diferenciadas em dois grupos principais:
uso abusivo de substâncias psicoativas, lesões
vasculares, deformidades congênitas e lesão Crises sem comprometimento da consciência ou da
encefálica. capacidade de resposta (parcial simples): Esse tipo
de convulsão geralmente envolve apenas um dos
hemisférios e não é acompanhado de perda de
consciência ou da capacidade de resposta. Essas crises
têm sido chamadas de convulsões parciais simples,
crises parciais elementares, crises parciais com sintomas
elementares. Os sinais e sintomas clínicos observados
dependem da área do encéfalo onde ocorre a descarga
neuronal anormal. Se a área motora do encéfalo está
envolvida, o primeiro sintoma é um movimento motor
correspondente ao local de início no lado contralateral
do corpo. O movimento motor pode permanecer
localizado ou pode se espalhar para outras áreas
corticais. Se a parte sensorial do encéfalo está envolvida,
pode não haver manifestações clínicas observáveis. Os
sintomas sensoriais correlacionados com a localização
da atividade convulsiva no lado contralateral do
encéfalo podem envolver uma perturbação somática
sensorial (p. ex., sensações de formigamento e arrepio)
ou um distúrbio sensorial especial (um fenômeno
visual, auditivo, gustativo ou olfatório). Quando a
EPILEPSIA: descarga cortical anormal estimula o sistema nervoso
autônomo, podem ser evidentes sinais de rubor,
É uma doença cerebral crônica causada por diversas
taquicardia, sudorese, hipotensão ou hipertensão ou
etiologias e caracterizada pela recorrência de crises
alterações pupilares. O termo pródromo ou aura
epilépticas não provocadas.
tradicionalmente significa um sinal de alerta
estereotipado de atividade convulsiva iminente
descrito pelo indivíduo afetado. A aura representa,
na verdade, uma crise parcial simples, refletindo apenas 1. Crises tônicoclônicas: anteriormente chamadas
uma pequena área de atividade elétrica anormal no de grande mal, são o tipo mais comum de
encéfalo. Crises parciais simples podem evoluir para convulsão motora. Frequentemente, o indivíduo
crises parciais complexas ou crises generalizadas tônico- tem um aviso vago (provavelmente uma convulsão
clônicas, que resultam em perda de consciência. A focal) e sente uma contração tônica acentuada
maioria dos indivíduos percebe a aura como um sinal de dos músculos, com extensão das extremidades
alerta de crises parciais complexas iminentes ou outras e perda imediata da consciência. É comum
crises generalizadas. apresentar incontinência vesical e intestinal. Pode
ocorrer cianose por contração das vias respiratórias
Crises com comprometimento da consciência ou da e dos músculos respiratórios. A fase tônica é
capacidade de resposta (parcial complexa): envolve seguida pela fase clônica, que envolve a contração
a perda da consciência e frequentemente surgem do e o relaxamento bilateral rítmico das
lobo temporal. A crise convulsiva começa em uma área extremidades. No final da fase clônica, o indivíduo
localizada do encéfalo, mas pode evoluir rapidamente permanece inconsciente até o sistema ativador
para envolver os dois hemisférios. Essas crises são, por reticular (SAR) começar a funcionar novamente.
vezes, denominadas convulsões psicomotoras, Essa é a chamada fase pós-ictal. As fases tônico-
refletindo suas manifestações típicas. Esse tipo de crises clônicas duram aproximadamente entre 60 e 90s.
costuma ser acompanhado por automatismos. Os
automatismos são atividades repetitivas e sem 2. Crises de ausência: são eventos epilépticos não
propósito, como estalar os lábios, fazer careta, bater os convulsivos generalizados e são expressos
pés ou friccionar as próprias roupas. principalmente como perturbações no nível de
consciência. Antes conhecidas como pequeno
 É comum o estado de confusão mental durante o
mal, as crises de ausência tipicamente se
estado pós-ictal (depois de uma crise). Existem
manifestam apenas em crianças e cessam na
relatos de alucinações e experiências ilusórias como
idade adulta ou evoluem para crises motoras
déjà vu ou jamais vu (falta de familiaridade com um
generalizadas. As crianças podem apresentar um
ambiente conhecido). O indivíduo pode manifestar
histórico de fracasso escolar que antecede o
medo avassalador, ideia fixa sem controle ou
primeiro sinal de episódios convulsivos. Embora as
uma enxurrada de ideias e sentimentos de
crises de ausência típicas tenham sido
distanciamento e despersonalização. O
caracterizadas como um olhar vazio, imobilidade e
indivíduo com esse tipo de distúrbio convulsivo,
apatia, o movimento ocorre em muitos casos de
por vezes, é diagnosticado erroneamente como
crises de ausência. Esse movimento tem a forma de
portador de um transtorno psiquiátrico. Essas crises
automatismos, como bater nos lábios, leves
têm manifestação focal, mas se tornam
movimentos clônicos (geralmente nas pálpebras) e
generalizadas à medida que a descarga
aumento ou diminuição do tônus postural. Muitas
neuronal ictal se espalha, envolvendo
vezes, acontece uma breve perda de contato com o
estruturas mais profundas do encéfalo, como o
meio ambiente. A convulsão dura apenas alguns
tálamo ou a formação reticular. As descargas se
segundos, e o indivíduo consegue retomar as
espalham para os dois hemisférios, resultando em
atividades normais imediatamente. As
progressão para uma atividade convulsiva tônico-
manifestações muitas vezes são tão sutis que podem
clônica.
passar despercebidas. Crises de ausência atípicas
são semelhantes a crises de ausência típicas, exceto
CRISES CONVULSIVAS GENERALIZADAS:
por maiores alterações no tônus muscular e início e
 São o tipo mais comum de convulsão. cessação menos abrupto. É importante distinguir
 São classificadas como generalizadas quando os entre crises focais com comprometimento da
sinais clínicos, sintomas e as alterações no EEG consciência ou da capacidade de resposta e
indicam envolvimento dos dois hemisférios na crises de ausência, porque os medicamentos de
manifestação. Os sintomas clínicos incluem a escolha para o tratamento são diferentes.
perda de consciência e envolvem diferentes Medicamentos efetivos para crises focais podem
graus de respostas motoras bilaterais aumentar a frequência das crises de ausência.
simétricas, sem sinais de localização em um dos 3. Crises mioclônicas: breves contrações
hemisférios. musculares involuntárias induzidas por
 São divididas em 6 categorias: tônicoclônicas, estímulos de origem cerebral. Uma crise mioclônica
ausência, mioclônicas, clônicas, tônicas e atônicas. envolve abalo muscular bilateral possível de ser
generalizado ou delimitado à face, ao tronco ou a acometida pela convulsão febril não preenche critérios
uma ou mais extremidades. diagnósticos para uma crise sintomática aguda.

4. Crises clônicas: começam com a perda de ETIOLOGIA: pode ocorrer em uma criança acometida
consciência e hipotonia súbita. A isto se seguem por qualquer doença que leve a febre intensa, seja em
abalos musculares nos membros que podem ou não intensidade ou cronologicamente.
ser simétricos.
 Febre: a temperatura máxima da febre, em vez da
taxa de ascenção dessa, pode ser o principal
5. Crises tônicas: manifestação súbita de aumento do
determinante do risco de convulsão febril.
tônus, que é mantido nos músculos extensores. Está
 Infecções virais: Infecções virais associadas a
frequentemente associada a quedas.
febres altas, como o herpevírus humano e a gripe
por Influenzae parecem estar associados a maior
6. Crises atônicas: súbita perda do tônus muscular
risco de convulsão febril. Pode ocorrer em casos de
que dura uma fração de segundo, levando a
IVAS diversas, exantema súbito, etc.;
liberação da mandíbula, fraqueza dos membros ou
 Infecções bacterianas: Embora menos comum
quedas ao chão. Essas crises são também
que as infecções virais, as infecções bacterianas
conhecidas pelo termo em inglês drop attacks.
podem acometer em convulsões febris. A Faringite
ESTADO DE MAL EPILÉPTICO: Convulsão Estreptocócica e Otite Média Aguda (OMA) são
prolongada ou convulsões múltiplas sem fase de possíveis exemplos desse acometimento.
recuperação de consciência. O estado de mal epiléptico  Imunizações recentes: O risco de convulsão febril
deve ser considerado uma emergência neurológica, se aumenta após a administração de algumas vacinas,
não for tratado rapidamente, pode levar à insuficiência como a DTP e a Tríplice viral. Nesse caso, parece
respiratória e à morte. Considera-se uma crise haver uma susceptibilidade genética associada.
prolongada aquela que ultrapassa de 5 minutos,  Susceptibilidade genética: Sabe-se que há uma
podendo causar lesões irreversíveis. predisposição genética para a ocorrência de
convulsões febris, embora o modo exato de herança
CRISES NÃO CONVULSIVAS (CNC) não seja ainda conhecido.
 Tabagismo durante a gestação: Acredita-se haver
São comuns em indivíduos internados em unidade de uma relação entre o uso de nicotina pela gestante e
terapia intensiva (UTI). Em média, 8% das pessoas em a ocorrência de convulsão febril na infância.
coma em uma UTI geral apresentam CNC. A
prevalência de CNC é de aproximadamente 48% dos Existem dois fatores implicados na fisiopatologia da
indivíduos que permanecem em coma depois de uma convulsão febril:
crise generalizada. Ela ocorre em pelo menos 20% das
1. Imaturidade do SNC: crianças abaixo de 5 anos
pessoas com lesões encefálicas estruturais graves (lesão
possuem um cérebro “imaturo”, sem
traumática).
desenvolvimento completo, sendo mais susceptíveis
2-ENTENDER A RELAÇÃO DA FEBRE COM A por esse motivo para a ocorrência de convulsão
EPILEPSIA E A CONVULSÃO. durante episódios febris.
2. Hereditariedade: crianças com pais ou irmãos que
CRISES EPILÉTICAS FEBRIS: têm histórico médico de convulsão febril durante a
infância possuem 4 vezes mais chance de
A ILAE define crise epiléptica febril como “crises
desenvolvê-la. Entre as crianças que cursam com
associadas a alguma doença febril, sem infecção do SNC ou
distúrbio eletrolítico agudo, em crianças com mais de 1 mês convulsão febril, 10 a 20% dos pais e/ou irmãos
de vida, mas sem história pregressa de crises epilépticas também a tiveram ou terão. Acredita-se que tal
afebris”. risco se justifique por uma herança autossômica
dominante com baixa penetrância e expressão
CONVULSÃO FEBRIL: variável, ou seja, um paciente ter histórico familiar
de convulsão febril não significa, necessariamente,
A convulsão febril é uma crise convulsiva benigna que
que ele também irá apresentar.
ocorre em crianças com > 1 mês de idade, decorrente de
doença febril, cuja causa não é infecção do SNC ou
A convulsão febril possui dois modos de apresentação
alteração metabólica e a criança acometida não
clínica:
possui histórico de crises neonatais ou crises
1. Convulsão febril simples: crise convulsiva, em
convulsivas na ausência de febre. Ou seja, a criança
geral tônico-clônica generalizada, com duração de
menos de 15 minutos. Por ser uma crise rápida, a
criança normalmente chega ao PA no período pós- Os exames laboratoriais iniciais devem incluir:
ictal, apresentando-se com uma sonolência breve, coleta de sangue venoso para avaliar glicemia,
sem déficit neurológico focal associado. Em geral, a cálcio, eletrólitos, estudos de função hepática e
convulsão febril simples ocorre no começo da renal, hemograma completo, taxa de
doença febril aguda, não recorrendo durante a hemossedimentação e toxicologia. Sabemos que as
doença. células cerebrais dependem primordialmente de
2. Convulsão febril complexa ou atípica: crise glicose para manter suas atividades metabólicas
convulsiva focal, não generalizada. Pode ser funcionantes. Por isso, é sempre imprescindível
representada, por exemplo, por uma crise de solicitar a glicemia capilar do paciente. Em caso de
ausência. Além disso, usualmente se apresenta glicemia capilar < 60 mg/dl lembre-se de
como uma crise que dura mais de 15 minutos, e administrar Dextrose 50 mL em solução a 50%, por
possui um período pós-ictal prolongado, via intravenosa. Muitas vezes, o paciente chega ao
podendo até apresentar déficits focais. Por fim, pronto-socorro após o término da crise, podendo
pode-se apresentar como crises repetidas em um estar ainda confuso ou totalmente recuperado. No
período de 24 horas ou crises que recorrem entanto, se o paciente chega em crise, deve ser
durante a mesma doença febril. instituído tratamento de urgência.

3- ENTENDER QUAL A CONDUTA EM CASOS CONDUTA:


DE CONVULSÃO.  Estabilização: evitar lesão cerebral
 Pesquisa de etiologia: tratar a causa
A abordagem inicial do paciente deve seguir uma ordem
 Medicação: cessar as crises
de atendimento clínico, baseada no “ABC” da
emergência.
1ª Linha -> BENZODIAZEPÍNICOS
A: O atendimento inicial é focado nas vias aéreas Os medicamentos anticonvulsivantes atuam pela
(Airways). Inicialmente, a assistência ao paciente que potenciação inibitória (GABAérgica) ou pela
apresenta-se com convulsões consiste em assegurar inibição excitatória (glutamatérgica) da transmissão
imediatamente que a via aérea do paciente esteja sináptica no cérebro, em uma tentativa de frear a
permeável. Na presença de qualquer sinal de alteração ativação dos neurônios. Os benzodiazepínicos
de vias aéreas, deve-se estabelecer uma via aérea atuam principalmente estimulando a ação inibitória
artificial, que pode ser temporária ou definitiva. O do GABA, aumentando o limiar convulsivo dos
paciente deve ser posicionado em decúbito lateral para pacientes
evitar a aspiração do conteúdo gástrico.

B: observar se a oxigenação está efetiva (Breathing). Isso


pode ser observado por meio do padrão respiratório,
por isso é importante realizar inspeção, percussão,
palpação e ausculta, além da oximetria. É interessante
disponibilizar máscara de oxigênio ou cateter nasal para
melhorar a oxigenação do paciente e aspirar vias aéreas
se muito secretivas.

C: Pacientes com história de crise convulsiva sempre


devem ter seu sistema circulatório avaliado. Para essa
avaliação, é necessário instalar um monitor cardíaco, de
preferência incluindo um ECG, aferir pressão arterial,
avaliar glicemia capilar, coletar exames laboratoriais
iniciais e obter acesso venoso periférico.

Os sinais vitais do paciente devem sempre ser avaliados,


podendo indicar a etiologia da convulsão:

 Pressão arterial: exclui encefalopatia e choque


 Temperatura: exclui hipertermia
 Pulso: exclui arritmia cardíaca com risco à vida.

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