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Guia prático de

diagnóstico e
tratamento em

PEDIATRIA
Luciana Sabatini Doto Tannous Elias
Suéllen Strada Ferreira Nasorri
GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA
GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO
E TRATAMENTO EM PEDIATRIA

Luciana Sabatini Doto Tannous Elias

Médica graduada pelo Centro Universitário Padre Albino – Faculdade


de Medicina de Catanduva (FAMECA/UNIFIPA), 1995. Graduada em
Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 1998.
Graduada em Neonatologia/Terapia Intensiva Neonatal pela
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 2000. Mestrado em
ciências aplicadas a pediatria pela Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), 2003. Doutorado em ciências aplicadas a pediatria pela
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 2010. Docente da
disciplina de pediatria do Centro Universitário Padre Albino -
Faculdade de Medicina de Catanduva.

Suéllen Strada Ferreira Nasorri

Médica graduada pelo Centro Universitário Padre Albino – Faculdade


de Medicina de Catanduva (FAMECA/UNIFIPA), 2008. Graduada em
Pediatria pelo Centro Universitário Padre Albino - Faculdade de
Medicina de Catanduva (FAMECA/UNIFIPA), 2020. Graduada em
Neonatologia/Terapia intensiva neonatal pelo Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2022.

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


Sobre os autores
Amanda Beatriz De Andrade
Médica graduada pela Faculdade de Medicina Estácio - Ribeirão Preto,
2020.
Discente do 3° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Amanda Cristina Netto Guerra


Médica graduada pela Faculdade de Medicina em São José do Rio Preto
(Faceres), 2020.
Discente do 3° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Ana Laura Pallone Buzzini


Discente da turma 49ª Turma do curso de Medicina do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Beatrice David De Freitas


Discente da 52ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Beatriz Almeida De Arruda


Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Beatriz Camargo Castro


Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


Beatriz Colovati Saccardo
Discente da 49° Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Beatriz Gouveia Tripodi


Médica graduada pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE),
2021.
Discente do 2° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Bruna Basaglia
Médica graduada pela União das Faculdades dos Grandes Lagos
(UNILAGO), 2019.
Discente do 3° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Bruna Isepão Barboza Da Silva


Médica graduada pelo Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto,
2021.
Discente do 2° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Bruna Moreira da Silva


Médica graduada pela Universidade de Franca (Unifran), 2020.
Discente do 3º ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Carolina Baptista Rinaldi


Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


Carolina Michetti Otaviano
Médica graduada pela União das Faculdades dos Grandes Lagos
(UNILAGO), 2021.
Discente do 2° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Cibele Alexandra Ferro


Discente da 50ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Davi Doto Tannous


Discente da 51ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Gabriela Cristina De Paula Costa


Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Gabriela Honorato Dos Santos


Médica graduada pelo Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES),
2021.
Discente do 2° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Giovana Sales Longhini


Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


Giovanna Santos Valadares Diniz
Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Isabella Batista Da Rosa


Discente da 52ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

João Pedro Sousa Piantamar


Discente da turma 49ª Turma do curso de Medicina do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Laryssa Vivi Carniello Pivotto


Médica graduada pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos, 2015.
Pediatra graduada pelo Centro Universitário Padre Albino - Faculdade
de Medicina de Catanduva (FAMECA/UNIFIPA), 2022.

Laura Comarella
Discente da 50ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Layra Rayanne De Oliveira Ferraz Santos


Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Maria Eduarda Catharin


Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


Maria Isabel Braga Souza
Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Maria Luiza De Biasi Alves


Médica graduada pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE),
2019.
Discente do 2° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Natalia Tognon
Médica graduada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS-CPTL), 2020.
Discente do 3° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

Nathalia Wicher Sestito


Médica graduada pelo Centro Universitário Padre Albino - Faculdade de
Medicina de Catanduva (FAMECA/UNIFIPA), 2022.
Discente do 1° ano da especialidade de Pediatria da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP)

Sarah Gavião Ferreira


Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Thiago Melo Ignácio Dos Santos


Médico graduado pela União das Faculdades dos Grandes Lagos
(UNILAGO), 2020.
Discente do 3° ano da especialidade de Pediatria do Centro
Universitário Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA), 2023.

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


Thiago Salomão Munhoz
Discente da 49ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Vitória Ambrosio Fernandes


Discente da 50ª Turma do curso de Medicina do Centro Universitário
Padre Albino - Faculdade de Medicina de Catanduva
(FAMECA/UNIFIPA).

Yasmin Stein Peixe


Médica graduada pelo Centro Universitário Padre Albino - Faculdade de
Medicina de Catanduva (FAMECA/UNIFIPA), 2022.

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA
PREFÁCIO

É com grande honra e satisfação que apresentamos este


Guia Prático de Pediatria, fruto do dedicado trabalho dos
alunos, residentes e professoras da Faculdade de Medicina
de Catanduva (FAMECA). Esta obra aborda as principais
doenças e intercorrências comuns nas crianças, com o
intuito de facilitar e ajudar nos atendimentos. Que este
guia seja um grande auxílio para os médicos e futuros
médicos. Que a leitura destas páginas fortaleça o
compromisso de todos nós com o bem-estar das crianças
e inspire um cuidado pediátrico de excelência, sempre
com a compaixão e dedicação que caracterizam a equipe
da FAMECA.

Luciana Sabatini Doto Tannous Elias

Suéllen Strada Ferreira Nassori

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA
DEDICATÓRIA

Aos brilhantes alunos e residentes da FAMECA,

Dedicamos este livro a vocês, cuja busca incessante pelo


conhecimento e dedicação à arte da medicina são fontes
de inspiração para todos nós. Que este livro seja uma
ferramenta valiosa em sua jornada acadêmica e
profissional, auxiliando no desenvolvimento de habilidades
e no aprimoramento da compreensão sobre a medicina e
a importância de cuidar do próximo. Que cada página seja
um lembrete do potencial ilimitado que vocês possuem
para fazer a diferença no mundo da medicina.

Com carinho,

Prof. Dra Luciana Sabatini Doto Tannous Elias

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


SUMÁRIO

1. Acidentes por animais peçonhentos- aranhas ................ 14


2. Acidentes por animais peçonhentos- escorpião.............. 19
3. Acidentes por animais peçonhentos- serpentes ............. 24
4. Acidentes na infância- acidentes de trânsito .................. 31
5. Acidentes na infância- intoxicação ................................ 38
6. Acidentes na infância- queda ....................................... 45
7. Acidentes por submersão............................................. 54
8. Artrite séptica ............................................................. 62
9. Bronquiolite ................................................................ 69
10. Crise asmática ............................................................ 77
11. Diagnóstico precoce da sepse ...................................... 84
12. Diarreia ...................................................................... 91
13. Doença do refluxo gastroesofágico ............................... 100
14. Doenças exantemáticas ............................................... 104
15. Emergências convulsivas ............................................. 114
16. Icterícia neonatal ........................................................ 122
17. Infecção de vias aéreas superiores ............................... 132
18. Infecção do trato urinário- ITU..................................... 140
19. Obstrução das vias aéreas por corpo estranho .............. 144
20. Queimaduras em crianças ............................................ 151
21. Pneumonia ................................................................. 160
22. Vômitos: urgências e emergências ............................... 164

GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA


GUIA PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO EM PEDIATRIA
ACIDENTES POR
ANIMAIS
PEÇONHENTOS
- ARANHAS -

Beatriz Colovati Saccardo


Beatriz Gouveia Tripodi
Acidentes por animais
peçonhentos – aranhas

AGENTE ETIOLÓGICO

Os principais gêneros de interesse médico são:

- Phoneutria (armadeira).

- Loxosceles (aranha-marrom).

- Latrodectus (viúva-negra).

QUADRO CLÍNICO

Phoneutria: Dor local intensa, frequentemente irradiada, edema


discreto, eritema e sudorese local.

Loxosceles: Sinais e sintomas geralmente após 6-12 horas, cefaléia,


febre, equimose no local da picada com eritema e edema duro, que
pode evoluir com bolha e necrose local, deixando úlcera de
contornos nítidos.

15
Latrodectus: Dor local intensa, irradiando-se para os gânglios
regionais, contraturas musculares, fasciculação, opistótomo, rigidez
da parede abdominal, trisma, sudorese, hipertensão arterial,
taquicardia que evolui para bradicardia, priapismo.
Casos graves: choque.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do acidente por aranhas é dado com base na


anamnese e exame clínico característicos.

CLASSIFICAÇÃO

Phoneutria
Leve: Apenas manifestações locais – dor local ou irradiada, edema,
eritema, sudorese, parestesias.
Moderada: Quadro associado a manifestações sistêmicas discretas –
vômitos, sudorese, hipertensão arterial, taquicardia ou bradicardia e
agitação.
Grave: Além das manifestações acima, ocorrem: vários episódios de
vômitos, sudorese profusa, taquicardia ou bradicardia, hipertensão
ou hipotensão, taquipneia, priapismo, agitação alternada com
sonolência. Pode evoluir para choque e edema pulmonar, e mais
raramente, para convulsões e contraturas.

16
Loxosceles
Leve: lesão “não característica”. Sem comprometimento do estado
geral e sem sinal de hemólise.
Moderado: lesão provável ou “característica” (placa marmórea < 3
cm), com ou sem comprometimento do estado geral. Sem sinal de
hemólise.
Grave: lesão “característica” (placa marmórea > 3 cm), com ou sem
comprometimento do estado geral. Sem sinal de hemólise.
Forma cutâneo-hemolítica (grave): presença ou não de lesão local
significativa e dor. Hemólise confirmada por exames
complementares.

Lactrodectus
Leve: dor local, edema local discreto, sudorese, dor em membros
inferiores, parestesia em membros, tremores e contraturas.
Moderado: além dos acima referidos: dor abdominal, sudorese,
ansiedade, agitação, mialgia, cefaleia, tontura, hipertermia e
dificuldade de deambulação.
Grave: todos os acima referidos e taquicardia ou bradicardia,
hipertensão arterial, taquipneia ou dispneia, vômitos, priapismo,
retenção urinária e fáceis latrodectísmica.

TRATAMENTO

Phoneutria
Leve: observação clínica por 4-6 horas. Anestesia local e ou
analgesia via oral ou parenteral.

17
Moderado: Em crianças <10 anos: soro antiaracnídico 3 ampolas EV,
em 15-20 minutos. Em crianças > 10 anos e adultos: tratar primeiro
a dor; não havendo melhora em até 30 minutos, está indicada
soroterapia. Internação hospitalar por 24 horas. Anestesia local e/ou
analgesia via oral ou parenteral.
Grave: soro antiaracnídico 6 ampolas EV, em 15-20 minutos.
Medidas de suporte vital e cuidados intensivos. Anestesia local e/ou
analgesia via oral ou parenteral.

Loxosceles
Leve: sintomáticos. Observação por 48-72 horas após a picada.
Retorno diário a cada 12 horas.
Moderado: prednisona por 5 dias (0,5 a 1 mg/kg/dia – máximo 40
mg/dia).
Grave: soro antiaracnídico 5 ampolas EV. Prednisona por 7 dias
(mesma dose descrita acima). Sintomáticos (analgésico, anti-
histamínico, corticoide tópico).
Cutâneo-hemolítica (grave): soro antiaracnídico 10 ampolas EV.
Prednisona por 7 dias (mesmas doses descritas acima).
Sintomáticos. Hidratação adequada, visando manter boa perfusão
renal.

Lactrodectus
Leve: sintomáticos (analgésicos, gluconato de cálcio) e observação.
Moderado: sintomáticos (analgésicos, sedativos).
Soro antilatrodectus 1 ampola EV.
Grave: sintomáticos (analgésicos, sedativos).
Soro antilatrodectus 1 a 2 ampolas EV.

18
ACIDENTES POR
ANIMAIS
PEÇONHENTOS
- ESCORPIÃO -

Laura Comarella
Beatriz Gouveia Tripodi
Acidentes por animais
peçonhentos – escorpião
DEFINIÇÃO

Os acidentes escorpiônicos, atualmente, são considerados o de


maior prevalência no meio urbano, sendo potencialmente grave na
faixa etária pediátrica.

AGENTE ETIOLÓGICO

As principais espécies de interesse médico são:

- Tityus serrulatus (patas amarelas).

- T. bahiensis.

- T. stigmurus.

QUADRO CLÍNICO

Manifestações Locais: dor, parestesia, hiperemia e edema no local


da picada.

Manifestações Sistêmicas: náuseas, vômitos, sudorese, sialorreia,


agitação psicomotora, taquicardia, miose, prostração, convulsão,

20
coma, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema pulmonar agudo e
choque.

EXAMES LABORATORIAIS

Eletrocardiograma: taquicardia ou bradicardia sinusal, extrassístoles


ventriculares, distúrbios da repolarização ventricular como inversão
da onda T em várias derivações, presença de ondas U, ondas Q,
supra ou infradesnivelamento do segmento ST, além de bloqueios
da condução atrioventricular ou intraventricular (presença de zonas
eletricamente inativas).

Radiografia de Tórax: aumento da área cardíaca e sinais de edema


pulmonar agudo, eventualmente unilateral.

Ecocardiograma: nas formas graves, pode apresentar hipocinesia


transitória do septo interventricular e da parede posterior do
ventrículo esquerdo, às vezes associada à regurgitação mitral e
diminuição da fração de ejeção.

Glicemia: elevada nas formas moderadas e graves nas primeiras


horas após a picada.

Amilase: elevada em 50% dos casos moderados, e em cerca de


80% dos casos graves.

Hemograma: leucocitose com neutrofilia nas formas graves, e em


cerca de 50% das moderadas.

21
Sódio e Potássio: reduzidos.

Creatinofosfoquinase e fração MB: elevados nos casos graves.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de acidente escorpiônico é dado com base na


anamnese e exame clínico. Exames complementares podem auxiliar
na classificação do acidente.

CLASSIFICAÇÃO

1. Leve: dor e parestesia local.

2. Moderado: dor intensa associado a ≥ 1 manifestações sistêmicas,


como náuseas, vômitos, sudorese e agitação.

3. Grave: Presença de ≥ 1 fatores: de vômitos profusos e


incoercíveis, sudorese profusa, prostração, sialorreia intensa,
convulsão, coma, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema agudo
de pulmão e choque.

TRATAMENTO

Casos Leves:

22
- Analgésico via oral ou parenteral, a depender da intensidade da
dor.
- Infiltração local ou bloqueio anestésico sem vasoconstritor
(cloridrato de bupivacaína 0,5% ou lidocaína 2%), podendo ser
repetido por até 3 vezes com intervalo de 1 horas.

Casos Moderados: administração de 3 ampolas EV de SAEEs (soro


escorpiônico) ou SAAr (soro antiaracnídico) com infusão em 20
minutos sem necessidade de diluição.

- Casos Graves: administração de 6 ampolas EV de SAEEs ou SAAr


e internação em Unidade de Terapia Intensiva. Nesses casos, deve-
se atentar para um balanço hídrico rigoroso.

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ACIDENTES POR
ANIMAIS
PEÇONHENTOS
- SERPENTES -

Giovanna Santos Valadares Diniz


Beatriz Gouveia Tripodi
Acidentes com animais
peçonhentos: serpentes
DEFINIÇÃO

Acidentes ofídicos mais frequentes no Brasil são os botrópicos


(jararaca, jaracuçu, caiçara), seguido do crotálico (cascavel),
laquético (surucucu) e elapídico (coral).

QUADRO CLÍNICO

Botrópico: ações proteolíticas, coagulantes e hemorrágicas.


Manifestações como epistaxes, hematêmese, hemorragias,
hematúria, sudorese, vômitos, hipotensão, insuficiência renal e
choque. Além da dor e do edema local, são frequentes as
complicações locais como abscessos, necrose e síndrome
compartimental.

Crotálico: ações neurotóxicas, miotóxicas e coagulantes.


Manifestações como dor e edema discreto, parestesias e, horas
após, fácies miastênicas (ptose palpebral, oftalmoplegia, alteração
de pupilas), diplopia, paralisia de palatino, rabdomiólise, entre
outros.

Laquético: ações proteolíticas, coagulantes, hemorrágicas e


neurotóxicas. Manifestações locais semelhantes do botrópico e

25
manifestações sistêmicas como hipotensão, tontura, bradicardia,
cólica, visão escurecida e diarreia (síndrome vagal).

Elapídico: toxinas de baixo peso molecular com ação neurotóxica.


Manifestações como vômitos, astenia, ptose palpebral, sialorréia,
sonolência, fácies miastênicas, mialgia, paralisia de palato e de
musculatura respiratória (pode evoluir com insuficiência respiratória
aguda).

EXAMES LABORATORIAIS

Botrópico:

Hemograma com leucocitose, neutrofilia e desvio para esquerda,


pode haver plaquetopenia;

Tempo de coagulação: diagnóstico e seguimento;

Urina I: proteinúria, hematúria e leucocitúria;

Outros: ureia, creatinina, eletrólitos;

Imunodiagnóstico: Antígenos do veneno botrópico detectados no


sangue ou líquidos corporais por meio da técnica de ELISA.

Crotálico:

Hemograma com leucocitose, neutrofilia e desvio para esquerda;

26
Aumento de creatiniquinase (CPK), desidrogenade lática (DHL),
aspartase-amino-transferase (AST), aspartase-alanino-transferase
(ALT) e aldolase; Se insuficiência renal observa-se aumento de ureia,
creatinina, ácido úrico, fósforo, potássio e queda de cálcio sérico;

Tempo de coagulação (TC): frequentemente aumentado

Urina I: proteinúria, mioglobinúria;

Laquético:

Tempo de coagulação: diagnóstico e seguimento;

Hemograma, ureia, creatinina e eletrólitos a depender da evolução.

Elapídico: Não há exames específicos para o diagnóstico.

DIAGNÓSTICO

Anamnese + Exame Físico. Exames complementares podem auxiliar


no diagnóstico.

TRATAMENTO

Botrópico:

27
- Soro Antibotrópico (SAB) EV o mais rápido possível (ou soro
antibotrópico-crotálico (SABC) se SAB ausente) – de 2 a 12 ampolas
a depender da gravidade: Leve: 2 a 4 ampolas / Moderada: 4 a 8
ampolas / Grave: 12 ampolas - (classificação de gravidade vide
tabela abaixo)

- Refazer Tempo de Coagulação 24 horas após soroterapia e se


alterado, fazer dose adicional de SAB.

- Hidratação (diurese de 1 a 2 ml/kg/h)

- Analgésico simples: dipirona e paracetamol

- Antibioticoterapia se sinais de infecção (mais comum Morganella


morganii e Escherichia coli);
- Drenagem postural do segmento picado (estendido ou elevado);

Manifestações e Leve Moderada Grave


Tratamentos –
acidente botrópico
✔ Dor
✔ Edema Ausentes Evidentes Intensas
✔ Equimose
ou
discretas
✔ Hemorragia
grave Ausentes Ausentes Presentes
✔ Choque,
✔ Anúria

N° de ampolas: 2a4 4a8 12

Crotálico:

28
- Soro Anticrotálico (SAC) EV o mais rápido possível (ou soro
antibotrópico-crotálico (SABC) se SAC ausente): – de 5 a 20ampolas,
a depender da gravidade: Leve: 5 ampolas / Moderado: 10ampolas /
Grave: 20 ampolas; - (classificação de gravidade vide tabela abaixo)

- Hidratação para prevenção da IRA (diurese de 1 a 2 ml/kg/h);

- Manitol a 20%: 5ml/kg na criança, se oligúria;

- Furosemida EV: 1mg/kg/dose na criança, se mantiver oligúria;

- Analgésico simples, se dor;

Classificação: Manifestações clínicas N° de


acidente crotálico ampolas
- Fácies miastênicas e
visão turva tardias 5
Leve
- Mialgia discreta ou
ausentes
- Mioglobinúria ausente
- Fácies miastênicas e
visão turva discretas 10
Moderado
- Mialgia discreta
- Mioglobinúria pouco
evidente
- Fácies miastênicas e 20
visão turva evidentes
Grave - Mialgia intensa
- Mioglobinúria presente
- Oligúria presente

Laquético:

29
- Soro Antilaquético EV o mais rápido possível – de 10 a 20 ampolas,
a depender da gravidade (moderados e graves);

- Controle das manifestações vagais;

- Hidratação (diurese de 1 a 2 ml/kg/h)

- Analgésico simples

- Antibioticoterapia se sinais de infecção (mais comum Morganella


morganii e Escherichia coli);
- Drenagem postural do segmento picado (estendido ou elevado);

Elapídico:

- Soro Antielapídico (SAE) EV o mais rápido possível – 10 ampolas


(todos os casos de acidente por coral com manifestações
clínicas devem ser considerados potenciamente graves);

Anticolinesterásicos (neostigmina) 0,05mg/kg EV – melhora em 10


minutos;

- Se houver melhora: Manutenção de neostigmina 0,05 a 0,1 mg/kg


EV 4/4h precedido de atropina;

- Atropina EV – dose em crianças: 0,05 mg/kg

- Hidratação (diurese 1-2ml/kg/h);

- Analgésico simples, se dor;

- Observação monitorizada por pelo menos 48 horas, se presença de


insuficiência respiratória;

- Suporte ventilatório, se necessário;

30
ACIDENTES NA
INFÂNCIA
- ACIDENTES DE
TRÂNSITO -

Vitória Ambrosio Fernandes


Bruna Moreira da Silva
Acidentes na infância – acidentes
de trânsito

DEFINIÇÃO
Os acidentes de trânsito representam a principal causa de morte no
mundo todo entre 10 e 19 anos.
Além dos altos índices de mortalidade, os acidentes de trânsito
estão entre as principais causas de deficiência permanente na
infância, como traumatismos na cabeça e fraturas de membros e
lesões múltiplas.

FATORES DE RISCO
O trauma na infância apresenta maior frequência de lesões
multissistêmicas, em relação aos adultos. Isso acontece porque a
massa corporal da criança é menor, ocorrendo maior absorção de
energia por unidade de área, além de possuir menos tecido
adiposo, tecido conjuntivo ser menos elástico e os órgãos serem
mais próximos.
O crânio não oferece a proteção adequada, fazendo com que os
traumatismos cranioencefálicos possam produzir lesões cerebrais
graves.
O tamanho da cabeça em relação ao tamanho do corpo torna a
criança mais suscetível à lesão cervical.
Os tecidos moles são relativamente maiores, o que facilita a
obstrução completa da via aérea pela queda posterior da língua.

As vias aéreas pediatrias são mais estreitas, principalmente no nível


da cartilagem cricóide, sendo facilmente obstruída por sangue,
muco ou objetos estranhos.
A capacidade de compensação da insuficiência respiratória é
limitada pelos seguintes fatores: maior consumo de oxigênio (2 a 3

32
vezes o do adulto); menor reserva funcional (que torna a criança
mais susceptível à hipóxia); menor complacência pulmonar; maior
complacência da parede torácica (que resulta em taquipnéia em
resposta à hipóxia).

QUADRO CLÍNICO
Primeiro pico: mortes imediatas (lacerações do cérebro, tronco
cerebral, medula espinal, coração e grandes vasos).
Segundo pico: mortes precoces (hemorragia intensa resultante das
lesões no sistema respiratório, órgãos abdominais e sistema
nervoso central).
Terceiro pico: mortes tardias (Em quase 80% dos casos, a morte e
causada por infecção ou falência de múltiplos órgãos).

DIAGNÓSTICO
Avaliação das funções cardiopulmonares
Rápido exame físico toraco-abdominal
Avaliação neurológica
Avaliação radiológica (básica; coluna cervical, tórax, pelve).
Avaliação da temperatura corpórea
Cuidadoso exame da cabeça aos pés
Perfusão sanguínea das extremidades (Avaliada pela coloração e
pulso)
Tomografia computadorizada de crânio
Tomografia computadorizada do abdome (realizada quando a
indícios de significante lesão intra-abdominal)
Dosagens de transaminases séricas e amilase (indícios de contusão
de fígado e baço)
Urina macroscopicamente hematúrica ou mais de 20 hemácias por
campo (pode indicar lesão renal)
Mecanismo do trauma e possíveis lesões (colisão
automóvel):

33
• Parabrisa quebrado: lesão fechada do crânio, fraturas de
face, crânio e coluna vertebral/ lesões do tórax por
desacelerações, inclusive contusão miocárdica, ruptura de
aorta, contusão pulmonar, fratura de esterno, tórax instável,
hemopneumotorax/ lesão do andar superior do abdome,
lesão hepática, esplênica, ruptura diafragmática, lesão
pancreático-duodenal.
• Joelhos contra o painel: deslocamento de bacia, fraturas de
bacia ou fêmur, fratura de acetábulo
• Cinto de segurança improprio: fraturas de coluna lombar,
perfuração de vísceras
• Restrição do cinto de três pontas: fraturas de costelas,
clavícula, esterno, contusão pulmonar
• Capotagem com parte do corpo presa sob o veículo: lesão
por esmagamento, fraturas severas em pelve e
extremidades inferiores, síndrome por compartimento
• Colisão na traseira do veículo: lesão por hiperextensão da
coluna cervical, inclusive fraturas e síndrome do cordão
central.

ABORDAGEM/TRATAMENTO
A atenção inicial deve ser dirigida para a manutenção da
permeabilidade das vias aéreas, ventilação e circulação, incluindo o
controle do sangramento, tratamento do choque circulatório e das
lesões torácicas com risco iminente de vida.
Exame primário: deve ser realizado seguindo a sequência de
identificação de controle de situações que ameaçam a vida com
maior rapidez, obedecendo a sequência "ABCDE", segundo rotina
do curso Suporte Avançado de Vida em Pediatria, da American
Heart Association.
A = "airway" = vias aéreas e estabilização da coluna
cervical
- Manter posicionamento adequado da cabeça (coxim sob o tronco)
- Identificar possível obstrução de via aérea por secreções, corpos
estranhos ou outros.

34
- A canula orofaríngea (cânula de Guedel) deve ser inserida apenas
se a criança estiver inconsciente.
- A via aérea definitiva preferencial da criança na sala de
emergência é a intubação orotraqueal (IOT). Indicações: obstrução
de via aérea não resolvida com manobras clínicas, apneia, lesão
por inalação, trauma de face, alteração do nível de consciência,
lesão cerebral grave, perda volêmica significativa com sensório
deprimido, insuficiência respiratória ou necessidade e intervenção
cirúrgica.
- Seguir um protocolo medicamentoso de seqüência rápida de
intubação: 1) pré-oxigenar e receber sulfato de atropina (0,02
mg/kg – dose mínima de 0,1 e máxima de 0,5 mg); 2) sedação:
tiopental (4 a 5 mg/Kg), se normovolemia OU midazolam (0,1
mg/Kg, com máximo de 5 mg), se hipovolemia; 3) bloqueadores
neuromusculares: succinilcolina (2 mg/Kg para menores de 10 Kg e
1 mg/Kg para maiores de 10 Kg).

B = "breathing" = respiração
- Garantir ventilação e oxigenação adequada, observando-se
expansibilidade simétrica e ausência de cianose.
- Ofertar oxigenio suplementar na maior concentração possível por
meio de máscara. Se a respiração não for eficaz, instituir ventilação
assistida com bolsa-máscara com reservatório para oferecer
oxigênio a 100%, seguida por intubação endotraqueal.
- Pneumotórax hipertensivo/aberto, hemotórax maciço exigem
terapêuticas imediatas: realizar drenagem pleural no 5o espaço
intercostal (na linha do mamilo) entre as linhas axilares média e
anterior.
- Realizar passagem de sonda nasogástrica para diminuir a
distensão gástrica.

Circulação e choque:
- Controlar sangramente aparentes com curativos compressivos e
alinhamento de fraturas.
- Observar sinais de choque: aumento da FC, diminuição da
perfusão tecidual periférica, pulsos fracos, extremidades frias,

35
rebaixamento do nível de consciência. (não pautar a avaliação pela
pressão arterial). A presença de hipotensão na criança é tardia e
indica choque descompensado e perda volêmica de ao menos 45%.
- Obter 2 acessos periféricos com cateteres curtos e calibrosos, se
possível. Se acesso periférico dificil, recorrer ao acesso intraósseo
tibial.
- Reposição volêmica: Solução cristaloide ou SF 0,9% 20 ml/kg, em
bolus. Se o paciente não apresentar resposta pode ser necessário
até três “bolus” de 20 ml/Kg. Se presença de sangramento
persistente, repor concentrado de hemácias 10 ml/kg. Após
estabilização hemodinâmica, a fluidoterapia de manutenção deve
obedecer à formula de Holliday.

Regra de Holiday & Segar (Taxa hídrica diária):


• Peso corporal de até 10 kg: 100 mL/kg;
• Peso corporal entre 10 e 20 kg: 1000 mL + 50mL por quilo
acima dos 10 kg;
• Peso corporal superior a 20 kg: 1500 mL + 20mL por quilo
que ultrapassar os 20 quilos.

Exame Neurológico: deve ser rápido e objetivo e deve conter


escala de coma de Glasgow e exame pupilar
Exposição com controle de temperatura: expor
completamente o corpo da criança, a fim de evitar que lesões
potencialmente fatais passem despercebidas. No entanto, manter a
sala de trauma aquecida, infundir soluções aquecidas e assim que
possível cobrir o corpo da criança com cobertores ou manta
aquecida são estratégias fundamentais para evitar a hipotermia e
sua consequente complicação, a hipotensão.

36
PREVENÇÃO
Orientação aos responsáveis e leis rígidas
Menores de 10 anos jamais devem encarar qualquer tipo de
situação de trânsito sem a supervisão direta de um adulto.
Reforçar aos responsáveis a importância de garantir que as
crianças usem capacetes, assentos adequados nos carros e cintos
de segurança, além de respeitar os protocolos estabelecidos para
zonas de segurança da escola.
Evitar excesso de velocidade, não dirigir sob o efeito de álcool, usar
adequadamente os cintos de segurança, capacetes de motociclistas
e assentos de segurança infantis.

37
ACIDENTES NA
INFÂNCIA
- INTOXICAÇÃO -

Maria Isabel Braga Souza


Amanda Beatriz de Andrade
Acidentes na infância -
intoxicação exógena

DEFINIÇÃO

Intoxicação é definida como um conjunto de sinais e sintomas


tóxicos ou bioquímicos provocados pela interação de um agente
químico com o sistema do indivíduo, gerando um desequilíbrio
biológico, que pode evoluir para uma patologia, e até ser fatal.
Depende da resposta de cada organismo (é variável com aidade do
paciente).

Principal faixa etária: 1 a 4 anos (mais acometida por acidentes


de intoxicação acidental).

Principais agentes: medicamentos, produtos de limpeza,


inseticidas, tintas, graxas, shampoo, plantas tóxicas, animais
peçonhentos, etc.

FATORES DE RISCO

Produtos tóxicos disponíveis no ambiente domiciliar, armazenados


de forma incorreta e de fácil acesso as crianças.

39
Embalagens pouco seguras ou inadequadas.

Uso incorreto dos produtos/ identificação inadequada.

Desinformação dos pais ou responsáveis sobre a prevenção desse


tipo de acidentes domésticos.

QUADRO CLÍNICO

Vômitos, salivação excessiva, dor abdominal.

Sonolência, desorientação, desmaio, convulsão.

Lesão, queimadura ou vermelhidão na pele, boca e lábios.

Dificuldade de respirar.

Cheiro característico de algum produto na pele ou roupa.

Alteração súbita do comportamento ou do estado de consciência:


SEMPRE pensar em intoxicação.

40
DIAGNÓSTICO

Percepção rápida de sinais e sintomas típicos da intoxicação – o


reconhecimento da síndrome tóxica agiliza a identificação do agente
causal e permite tratamento mais adequado

Anamnese detalhada: através dos acompanhantes da criança,


com enfoque em remédios ou produtos químicos disponíveis pela
casa, quais seus tipos, onde armazenados ou se a própria casa
passou por um processo recente do uso de veneno (combate de
infestação)
MUITO IMPORTANTE: saber a hora que aconteceu o acidente

Exame físico detalhado

Exames laboratoriais complementares: hemograma, urina, conteúdo


gástrico, eletrólitos, função renal, função hepática e fezes

TRATAMENTO

1) Se a criança estiver desmaiada, com convulsão ou sem respirar,


ligue imediatamente para o 192.

2) Descontaminação: diminuir a exposição do organismo ao


tóxico:

41
-Se ainda não foi feito pré-hospitalar, retirar roupa impregnada.

-Verificar se o tempo decorrido da contaminação permite um


esvaziamento gástrico eficiente. Em caso que há essa permissão
optar por induzir vômitos, lavagem gástrica ou ambos.

- Lavagem gástrica deve ser feita em tempo útil de 1-2 horas após
a intoxicação, respeitando as contraindicações, ou seja, não realizar
em pacientes com coma, convulsão e os que ingeriram derivados de
petróleo e cáusticos (soda cáustica, querosene, ácidos, alvejantes,
desinfetantes, removedores, gasolina). O uso rotineiro é
contraindicado pela alta chance de aspiração de conteúdo gástrico
para via respiratória

- Avaliar uso de carvão ativado (maior eficácia até uma hora da


ingestão)

- Dose: 1 g/Kg de peso, até o máximo de 50g, diluídos em água por


via oral ou se necessário, através de sonda nasogástrica.

2) Eliminação: aumentar a excreção do tóxico já absorvido

-Diurese forçada para produção de poliúria

-Diálise, em casos de deterioração clínica, coma prolongado, acidose


metabólica grave, insuficiência renal com complicações ou o tóxico
ao se metabolizar tornou-se uma substancia ainda mais perigosa

-Exsanguineotransfusão, onde há uma troca de 1,5 a 2 volemias.


Sua principal indicação seria a metemoglobinemia tóxica ehemólise
acentuada. Em casos muito graves.

42
3) Antídotos: verificar tabela dos principais antígenos e seus
antagonistas.

4) Tratamento com sintomáticos.

5) Também pode-se recorrer aos Centros de Informação e


Assistência Toxicológica (Ciats), que são unidades que orientam a
população sobre os procedimentos a serem seguidos nos casos de
intoxicação. Eles atendem pelo número 0800 722 6001.

No estado de São Paulo pode-se entrar em contato com o CEATOX


(Centro de Assistência Toxicológica) para relatar o caso e
complementar as condutas: atendimento 24h

CEATOX Botucatu: (0xx14) 3815-3048

CEATOX Campinas: (0xx19) 3521-6700 / 3521-7555

CEATOX Ribeirão Preto: (0xx16) 3602-1190 / 3602-1290

CEATOX São José do Rio Preto: (0xx17) 3201-5000 ramal 1560

*OBS: Crianças com risco iminente de vida por situações como


parada cardiorrespiratória, choque, hipotensão ou crises convulsivas
devem ter priorizadas o seu estado de saúde, em deferimento à
desintoxicação, propriamente dita. Sendo assim, a qualificação das
condições respiratórias, circulatórias e neurológicas, devem ser
priorizadas na conduta, baseadas nos protocolos a essas
emergências.

43
PREVENÇÃO

1) Manter medicamentos e substâncias tóxicas longe do alcance das


crianças;

2) Não usar medicamentos e produtos em geral vencidos;

3) Utilizar embalagens com tampas de segurança;

4) Não oferecer embalagens de produtos e medicamentos para as


crianças brincarem;

5) Nunca colocar remédios ou substâncias tóxicas em garrafas de


refrigerante ou em embalagens de outros produtos. Deixe-os sempre
em suas embalagens originais e, de preferência, longe do local onde
são guardados alimentos;

6) Procurar ter conhecimento da toxicidade das plantas da


residência;

44
ACIDENTES NA
INFÂNCIA
- QUEDAS -

Gabriela Cristina de Paula Costa


Amanda Beatriz de Andrade
Acidentes na infância - quedas
DEFINIÇÃO

Acidentes ou traumas não intencionais: situações em que a


criança sofre algum dano físico e/ou psíquico, por um trauma/ lesão
independente da ação direta de um outro.

Traumatismo crânio encefálico: qualquer lesão de etiologia


traumática que afete o parênquima cerebral ou suas estruturas
subjacentes.

Traumatismo de membros: lesões causadas por um evento


traumático externo ao corpo e que acontece de forma inesperada
em membros superiores ou inferiores.

FATORES DE RISCO

Idade pré-escolar (de 2 a 5 anos);

Férias escolares, nos fins de semana e no verão, sempre no final da


tarde e começo da noite;

Meninos, especialmente quando estão com seus pares;

Moradias em mau estado de conservação;

46
Situações que influenciam na rotina da criança, tais como: doenças
crônicas; perda de entes queridos; convívio em ambientes tensos e
estressantes;

Baixa escolaridade dos pais ou cuidadores;

Distrações a falta de familiaridade com o entorno e moradias


superlotadas;

Crises de raiva e de ciúmes e a agitação e vontade de chamar a


atenção.

QUADRO CLÍNICO

TCE LEVE:
- Confusão ou desorientação;
- Amnésia pós-traumática por <24 horas;
- Perda de consciência por ≤30 minutos;
- Anormalidades neurológicas transitórias, como convulsões e sinais
ou sintomas neurológicos focais; alterações visuais;
- ECG (Escala de Coma de Glasgow) de 13 a 15.

TCE MODERADO:
- Os sintomas podem variar de leves a graves;
- ECG (Escala de Coma de Glasgow) de 9 a 12.

TCE GRAVE:
- Perda prolongada de consciência e/ou estado mental anormal;
- Vômito persistente;

47
- Dor de cabeça severa;
- Progressão dos sintomas
- ECG (Escala de Coma de Glasgow) <9

FRATURAS: edema, eritema, intensa, aumento da temperatura na


região, incapacidade de movimentar, crepitação local.

DIAGNÓSTICO

TCE Leve: ECG 13 a 15;


TCE Moderado: ECG de 9 a 12;
TCE Grave: ECG <9;

TCE Leve baixo risco (regras de PECARN – Fluxograma


anexado):
- < 2 anos: estado mental normal; comportamento normal por
cuidador de rotina; sem perda de consciência; nenhum mecanismo
grave de lesão; sem hematoma em couro cabeludo; sem provas de
fratura no crânio (otorreia, rinorreia, sinal de Battle, olhos de
guaxinim).
- 2 a 18 anos: estado mental normal; sem perda de consciência;
nenhum mecanismo grave de lesão; sem vômitos; sem dor de
cabeça grave; não há sinais de fratura de crânio basilar.

TCE Leve não baixo risco: crianças que não apresentam baixo
risco de acordo com a regra PECARN.

48
49
CONDUTA

Analgesia: se dor - analgésicos comuns ou AINEs (dependendo da


idade)

Controle de hemorragias: se apresentar sangramentos


(compressa)

Observação com duração de quatro a seis horas após a lesão


+ Jejum: TCE Leve não baixo risco

Neuroimagem: ECG<14; estado mental alterado; fratura craniana


palpável; sinais de fratura de base do crânio; convulsão pós-
traumática; fontanela protuberante; suspeita de abuso físico;

Avaliação da neurocirurgia: se anormalidade na TC de crânio.

Manutenção da permeabilidade das vias aéreas, oxigenação,


ventilação, suporte cardiovascular e tratamento de lesões
com risco imediato de vida, de acordo com os princípios do
Suporte Avançado de Vida no Trauma: TCE grave ou
rebaixamento do nível de consciência.

Radiografias (costumam ser de duas ou três incidências e variam


de acordo com a região anatômica de interesse): se sinais e sintomas
de fraturas. (de crânio: não alteram o tratamento).

Critérios de alta:
- Nenhuma suspeita de lesão infligida;

50
- Facilmente despertado com toque leve com exame neurológico
normal;
- Tolerar a ingestão oral de líquidos;
- Sem lesões aparentes extracranianas que justifiquem internação;
- Cuidadores capacitados que possam observar a criança de forma
confiável e que possam retornar para receber cuidados, se indicado.
- Orientar a família observação durante o período de 24 horas após
o trauma e se necessário, procurar atendimento médico de imediato
se a criança apresentar sinais de alarme;

PREVENÇÃO

1.1 Gerais:
- Supervisão constante e atenta; estar cientes dos perigos e riscos;
conhecer as fases do desenvolvimento da criança;
- As janelas devem ser protegidas por grades ou telas. Se forem do
tipo basculante, a abertura deve estar limitada a 10 cm comcorrente;
- Nenhum móvel deve estar embaixo das janelas para desestimular
tentativas de escalada e evitar quedas;
- O andador não deve ser usado, nunca, em nenhuma idade.

1.2 Do nascimento a 4 meses de vida:


- Nunca deixar o bebê sob os cuidados de outra criança. Caso o
irmãozinho ou outra criança queira pegar o bebê no colo, oriente,
ensine, proteja, supervisione para que isso aconteça apenas com um
adulto segurando também;
- Sempre que o lactente estiver no bebê conforto ou cadeirinhas,
deve estar com o cinto de segurança e com a alça travada;

51
- Se estiver carregando o bebê no colo, nas escadas e degraus,
apoie-se sempre no corrimão. Evite pisos lisos, molhados ou
escorregadios.

1.3 De 5 a 12 meses de idade:


- Nunca deixe o bebê sozinho no trocador ou em locais altos, como
na cama. Para estimular o desenvolvimento, o chão protegido com
algum colchonete fino é o melhor lugar;
- O berço deve estar em local ventilado, com altura das grades
superior ao tamanho do bebê em pé até as axilas. As grades devem
ter uma distância máxima de 7cm, para evitar que a cabecinha do
bebê ou outra parte de seu corpo passe por ela e fique presa;
- Quando o bebê começar a engatinhar, as escadas devem ser
protegidas com barreiras fixas, como portões e grades, nas duas
extremidades.

1.4 Crianças maiores de um ano até 4 anos de idade:


- Cuidado com superfícies molhadas e escorregadias que provocam
o desequilíbrio e as quedas. O banheiro, pisos em geral e calçadas
em volta de piscinas que estejam molhados devem ser proibidos
para brincadeiras;
- Escolha bem os brinquedos de locomoção, como triciclos, patinetes
e skates, que tenham uma base segura e não tombem com
facilidade, e que suportem o peso da criança. Devem ser utilizados
em locais apropriados, nunca em via pública, e, sempre com os
equipamentos de segurança, como capacete, joelheiras,
tornozeleiras e cotoveleiras;
- Para andar a pé com a criança em vias públicas, leve-a no colo, ou
no carrinho adequado à idade, com cinto de segurança, ou ainda, se
maiores, bem seguras pela mão.

52
1.5 Crianças de 5 a 11 anos:
- A exploração de lugares além da casa pode se tornar intensa e as
quedas de muros, lajes, árvores e brinquedos em parques é comum.
A orientação e supervisão dos responsáveis é fundamental;
- Os brinquedos de locomoção e os equipamentos de segurança
devem ser condição de uso do brinquedo, independentemente do
local, trecho ou tempo de uso;
- O uso do celular ou outras telas do mundo virtual não pode ser
permitido quando em vias públicas, ou quando a criança está em
movimento, pelo desvio de atenção que desencadeia.

53
ACIDENTES POR
SUBMERSÃO

Ana Laura Pallone Buzzini


Thiago Melo Ignácio dos Santos
Acidentes por submersão

DEFINIÇÃO

O afogamento caracteriza-se pela aspiração de líquido não corpóreo


que ocorre por submersão ou imersão, ocasionando desde leves
graus de hipóxia até a morte do indivíduo;

Resgate é considerado como a retirada do indivíduo da água, sem


sinais de aspiração de líquido; portanto, não há evidência de
insuficiência respiratória.

EPIDEMIOLOGIA

A cada ano, mais de 500.000 pessoas morrem em decorrência de


afogamento em todo o mundo. Sendo que, no Brasil, o afogamento
é a 2ª causa de morte na faixa etária entre 5 e 14 anos e a 3ª causa
de morte externa para todas as idades;

Predomínio no sexo masculino, em uma relação masculino-feminino


de 3:1 entre crianças e de 6:1 em adolescentes;

A causa intencional de submersão sempre deve ser considerada.

FATORES DE RISCO

Sexo masculino

55
Idade menor de 14 anos

Falta de supervisão

Comportamento de risco

Superestimação das capacidades de natação

Hipotermia, que pode causar exaustão rápida ou arritmias cardíacas

Transtorno convulsivo ou transtornos de desenvolvimento/


comportamento em crianças

Arritmia cardíaca primária não detectada

Baixa renda

Baixa educação

QUADRO CLÍNICO

Os sinais e sintomas inicialmente são: tosse, dispneia, sibilos,


hipotermia, vômitos, diarreia, laringoespasmo, estertores bolhosos
na ausculta, torpor e alteração do nível de consciência.

Como consequência da hipóxia: cianose, apneia, taquicardia ou


bradicardia, acidose, diminuição do débito cardíaco, hipotensão
arterial, hipertensão pulmonar, vasoconstrição periférica, arritmias,
edema pulmonar não cardiogênico, insuficiência respiratória aguda,
parada cardiorrespiratória, edema cerebral e morte.

56
DIAGNÓSTICO

O diagnóstico dos acidentes por submersão está intimamente


interligado à história de afogamento, sendo, portanto, independente
de exames complementares para sua confirmação.

Exames complementares: hemograma, enzimas hepáticas e


cardíacas em casos graves, glicemia, ureia, creatinina, eletrólitos,
gasometria arterial, radiografia do tórax, crânio e coluna cervical em
casos de trauma ou negligência.

TRATAMENTO PRÉ HOSPITALAR

Nos casos de afogamento, a causa de parada cardiorrespiratória


(PCR) é a hipóxia, sendo assim, todo atendimento deve-se seguir a
sequência A-B-C (via aérea – respiração – cardíaca).

Reconhecer o afogamento, ligar 193 e 192 para que o Suporte


Avançado de Vida vá até o local.

Retirada da vítima da água é prioritária, após deve-se colocá-la em


decúbito dorsal.
No caso de a vítima não apresentar respiração espontânea, deve-
se iniciar o atendimento com cinco respirações de resgate em
razão da maior dificuldade do ar de chegar ao pulmão.

Após realizada a respiração de resgate inicial, checar o pulso.

Se não houver pulso pedir para uma outra pessoa pegar um


desfibrilador elétrico automático (DEA) e iniciar a compressão
torácica. Seguindo o algoritmo de PCR, conforme preconizado pelo

57
BLS.
Se houver pulso, mas a vítima não apresentar respiração
espontânea, deve-se continuar com as respirações de resgate até a
recuperação da respiração espontânea ou o paciente evoluir com
PCR.

Deve ser aplicada a Escala de Coma de Glasgow durante o


atendimento, avaliando necessidade de via aérea avançada, assim
como encaminhamento para leito de urgência.

Deve-se utilizar oxigenoterapia de alto fluxo no transporte até o


local.

A prevenção da hipotermia deve ser realizada com uso de manta


térmica e secando o paciente.

CLASSIFICAÇÃO DO AFOGAMENTO

Pode ser classificado quanto ao tipo de água (doce, salgada, lama,


óleo); quanto à causa primária (quando não identificada) ou
secundária (uso de drogas, convulsão, trauma) e quanto a gravidade
de acordo com o algoritmo proposto por Szpilman et al., conforme
demonstrado na Figura 1.

TRATAMENTO NO PRONTO SOCORRO

Deve ser levada para a sala de emergência, monitorada.

58
Garantir que a via aérea da vítima está segura e com oferta de
oxigênio adequada e, se houver necessidade, deve-se realizar a
intubação orotraqueal (IOT).
Paciente pode apresentar instabilidade hemodinâmica com
necessidade de volume e droga vasoativa, devendo ser avaliado
constantemente.

TRATAMENTO INTRA-HOSPITALAR

Suporte ventilatório: pacientes classificados como grau 3, em cerca


de 72,4% necessitarão de intubação orotraqueal (IOT), não devendo
ser postergada, pois o edema pulmonar que se segue nas próximas
horas pode agravar rapidamente o quadro clínico. Indica-
se manter o paciente sob ventilação mecânica invasiva (VMI)mesmo
que haja recuperação neurológica, por no mínimo 48 a 72 horas,
para que haja tempo para a resolução do edema pulmonar.

Suporte hemodinâmico:
A ressuscitação hemodinâmica deve ser realizada com cristaloides.
Sugere-se o uso de monitorização multimodal, atentando para os
mais frequentes achados hemodinâmicos: baixo débito, altas
pressões de oclusão da artéria pulmonar, altas pressões venosas
centrais que são pouco responsivas a diuréticos.

Suporte neurológico:
Hipotermia terapêutica 32 a 34°C por cerca 12 a 72 horas, e com
reaquecimento lento, de 0,5 °C/h (sendo controversa e de alta
complexidade)

59
Sedação profunda com barbitúricos e lidocaína quando da aspiração
de vias aéreas (ambas sem grande força de recomendação)

Pacientes com alteração no nível de consciência, introduzir


imediatamente uma sonda nasogástrica para prevenir possível
aspiração pulmonar, descompressão gástrica e posterior
alimentação.

INTERVENÇÃO DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO

60
PREVENÇÃO DE ACIDENTE

Manter cuidados e atenção em arredores de piscinas, tanques,


baldes, banheiras, rios e mares.

Não deixar crianças sem supervisão de adultos em locais de risco

Uso de equipamentos de segurança compatíveis com a idade

Respeitar os sinais e placas de avisos perto de ambientes com água

Nunca nadar após consumir álcool

Nadar em locais com salva-vidas presentes

Evitar nadar sozinho, principalmente se tiver uma comorbidade que


possa causar incapacitação, como epilepsia

Estimular as pessoas a realizar cursos de primeiros-socorros e o


BLS.

61
ARTRITE SÉPTICA

Davi Doto Tannous


Beatriz Go uveia Tripodi
Artrite Séptica

DEFINIÇÃO

Infecção da membrana sinovial e do espaço articular por bactérias.


Também pode ser chamada de Artrite Bacteriana.

FATORES DE RISCO

Imunossuprimidos

Úlceras ou infecções cutâneas

Artrocentese ou artroscopia prévia

Presença de acesso venoso

Osteomielite

QUADRO CLÍNICO

Monoartrite aguda, geralmente na articulação do joelho ou quadril.


(Poliartrite em 10% dos casos em recém-nascidos)

Bloqueio Articular

63
Proteção do membro durante a marcha

Presença de sinais flogísticos

Febre ou calafrios (50% dos casos)

Sintomas de sepse em pacientes com até 3 meses

DIAGNÓSTICO

Artrocentese e análise do líquido sinovial (sinoviograma)

Sinoviograma: Celularidade total/diferencial; pesquisa de cristais;


gram; cultura.

Líquido sinovial límpido não descarta Artrite Séptica

Hemocultura possui baixa sensibilidade (<50% S. aureus)

Radiografia (excluir diagnósticos diferenciais e comparação futura)

PCR e VHS aumentados

Leucocitose

TRATAMENTO

64
Desbridamento cirúrgico de urgência (+ coleta de culturas)

Antibioticoterapia empírica

Idade < 3 meses:


Se estável: Vancomicina/ Nafcilina/ Oxacilina + Cefotaxima/
Ceftriaxona/ Ceftazidima ou monoterapia com Cefepime
Se sinais de sepse <3 meses: Vancomicina + Cefepime ou
Vancomicina + Naficilina/ Oxacilina + Ceftriaxona/ Cefotaxima/
Ceftadizima

Idade > 3 meses:


Se estável: Cefazolina/ Nafcilina/ Oxacilina + Cefotaxima/
Ceftriaxona/ Cefuroxima
Se sinais de sepse: Vancomicina + Cefepime ou Vancomicina +
Ceftriaxona + Cefazolina/ Nafcilina/ Oxacilina

Rever conduta após resultado da análise do Líquido Sinovial

DOSES

ATB Endovenoso Idade de 8 a 28 dias Idade > 28 dias

Vancomicina Dose de ataque 20 60 mg/kg/dia


mg/kg; dose de dividios em 4 doses
manutenção 15
mg/kg a cada 12h;
reavaliar após
dosagem de

65
creatinina e ajustar
dose se necessário.

Nafcilina 100 mg/kg/dia 150 a 200 mg/kg/dia


divididos em 4 doses divididos em 4
doses; máximo de 12
g/dia

Oxacilina 100 mg/kg/dia 150 a 200 mg/kg/dia


divididos em 4 doses divididos em 4 a 6
doses; máximo de 12
g/dia

Cefotaxima 150 a 200 mg/kg/dia 150 a 200 mg/kg/dia


divididos em 3 doses divididos em 3 ou 4
doses; máximo de
8g/ dia

Ceftriaxona 50 a 75 mg/kg/dia 75 a 100 mg/kg/dia


em 1 dose divididos em 1 ou 2
doses; máximo de
4g/dia

Ceftazidima 150 mg/kg/dia 125 a 150 mg/kg/dia


divididos em 3 doses divididos em 3
doses; máximo de
6g/dia

Cefepime 60 to 100 mg/kg/dia 100 a 150 mg/kg/


divididos em 2 doses dia divididos em 3

66
doses; máximo de
6g/dia

Cefazolina 100 a 150 mg/kg/dia 100 a 150 mg/kg/dia


divididos em 3 doses divididos em 3
doses; máximo de
6g/dia

ETIOLOGIA

<2 meses: S. aureus ; Streptococo agalacteae; gram neg. entérico

2 meses a 5 anos: Kingela kingae (gram negativo)

>5 anos: S. aureus

Pneumococo: comum acima de 3 anos de idade

67
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Sinovite transitória

Osteomielite Hematogênica Aguda

Artrite viral

Febre Reumática

Doença de Perthes

Artrite Reumatóide juvenil

Epifisiólise

Trauma

68
BRONQUIOLITE

Sarah Gavião Ferreira


Bruna Basaglia
Bronquiolite

DEFINIÇÃO
A bronquiolite é definida como uma síndrome clínica de desconforto
respiratório que ocorre em crianças menores que 2 anos e é
caracterizada por sintomas respiratórios superiores, como rinorreia,
seguidos por infecção respiratória inferior com inflamação, que
resulta em sibilos e/ou estertores.
Geralmente ocorre com infecção primária ou reinfecção por um
patógeno viral. Em crianças pequenas, o diagnóstico clínico de
bronquiolite pode se sobrepor a sibilância recorrente induzida por
vírus e à asma aguda desencadeada por vírus.
Para pesquisas clínicas, a bronquiolite é normalmente definida como
o primeiro episódio de sibilância em uma criança com menos de 12
a 24 meses que apresenta achados físicos de uma infecção viral do
trato respiratório inferior e nenhuma outra explicação para a
sibilância.

ETIOLOGIA
É predominantemente uma infecção viral, sendo o vírus sincicial
respiratório (VSR) o agente etiológico mais frequente, seguido do
rinovírus. Outros agentes etiológicos menos frequentes incluem:
vírus parainfluenza, adenovírus, metapneumovírus humano, vírus
influenza, coronavírus e bocavírus. A taxa de coinfecção (presença
de mais do que um vírus) varia entre 10 e 30%, sendo controverso
se a coinfecção aumenta a gravidade.

70
FATORES DE RISCO PARA GRAVIDADE
Prematuridade (idade gestacional <36 semanas)
Baixo peso ao nascer
Idade inferior a 12 semanas
Doença pulmonar crônica
Defeitos anatômicos das vias aéreas
Doença cardíaca congênita hemodinamicamente significativa
Imunodeficiência
Doenças neurológicas

QUADRO CLÍNICO
Sintomas de infecção de vias respiratórias superiores (IVAS) com
coriza, tosse e febre baixa ou ausente.
Os sintomas e sinais respiratórios inferiores desenvolvem-se nos dias
2 a 3, atingem o pico nos dias 3 a 5 e depois desaparecem
gradualmente ao longo de 2 a 3 semanas;
Bebês menores (< 2 meses de idade) e pré-termos podem
apresentar episódios recorrentes de apnéia, seguidos de sinais e
sintomas mais típicos de bronquiolite em 24 a 48h.
Exame físico: incluem taquipneia, retrações intercostais e
subcostais, sibilos expiratórios e tosse.
- Ausculta pumonar: fase expiratória prolongada e estertores
grosseiros ou finos
- Tórax: pode parecer hiperexpandido com diâmetro anteroposterior
aumentado e pode ser hiperressonante à percussão
- Hipoxemia: saturação de oxigênio <95% é comumente detectada
- Outros achados: conjuntivite, faringite e otite média aguda
- Pacientes gravemente afetados podem evoluir para insuficiência
respiratória
Geralmente é uma doença autolimitada. A maioria das crianças que
não necessitam de hospitalização se recupera em 28 dias. O estado

71
respiratório normalmente melhora ao longo de dois a cinco dias. No
entanto, a sibilância persiste em alguns bebês por uma semana ou
mais.

COMPLICAÇÕES
- Desidratação
- Pneumonia por aspiração
- Apneia
- Insuficiência respiratória
- Infecção bacteriana secundária

DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é clinico - pródromos respiratórios de infecção de vias
aéreas superiores seguido de aumento do esforço respiratório e
sibilos e/ou estertores em crianças menores de dois anos de idade.
Exame de imagem: radiografia de tórax – somente quando há
dúvida diagnóstica, quando a evolução clínica não segue o padrão
habitual e para pacientes admitidos na UTI. Revelar sinais de
hiperinsuflação pulmonar, atelectasias com opacidade linear ou
triangular e congestão peribrônquica.
Virologia: somente se for mudar o manejo do paciente ou dos
contatos do paciente, em pacientes imunocomprometidos e nas
formas de apresentação grave da doença.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Sibilância ou asma desencadeadas por vírus recorrentes, pneumonia
bacteriana, coqueluche, doença pulmonar crônica, aspiração de
corpo estranho, pneumonia por aspiração, doença cardíaca
congênita, insuficiência cardíaca e anel vascular.

72
TRATAMENTO
Não há terapêutica específica disponível que abrevie o curso e a
resolução dos sintomas. O tratamento, portanto, é de suporte e
geralmente os pacientes apresentam boa evolução.
Tratamento domiciliar:
• Fazer higiene das mãos com água e sabão e ou álcool a
70%.
• Evitar tabagismo passivo.
• Manter alimentação normal para a idade da criança.
• Fazer higiene da cavidade nasal com solução salina
• Uso de antitérmicos se for necessário.
• Reavaliação médica se houver dúvidas ou se sinais de alerta
presentes.
• Orientar os cuidadores sobre os sinais e sintomas de
“alerta”
Quando hospitalizar?
• Episódios de Apnéia
• Criança com piora do estado geral (hipoativa, prostrada,
acorda apenas com estímulos prolongados)
• Desconforto respiratório (gemência, retração torácica, FR
>60, cianose central, saturação <92% persistente)
• Sinais de desidratação
• Recusa alimentar, ingestão reduzida e/ou sem diurese por
12 horas
• Presença de comorbidade: displasia, cardiopatia,
imunodeficiência, doença neuromuscular
• Idade: < 3 meses
• Prematuridade, especialmente < 32 semanas
• Condição social ruim

73
• Dificuldade de acesso ao serviço de saúde se houver piora
clínica
• Incapacidade, falta de confiança para identificar sinais de
“alerta”
Tratamento hospitalar: nas bronquiolites graves. Os cuidados de
suporte incluem a manutenção de hidratação adequada, suporte
respiratório e monitoramento da progressão da doença.

- Manejo de líquidos: recomenda-se administração de líquidos por


sonda ou EV para manter a hidratação. Se houver necessidade de
administração por via EV, os fluidos isotônicos são recomendados
com a finalidade de evitar hiponatremia.

- Oxigênio: recomendam uso de oxigênio complementar se


Saturação < 90%. Lactentes que estão em risco de progressão para
insuficiência respiratória geralmente recebem uma tentativa de
terapia com cânula nasal de alto fluxo umidificada e aquecida (CNAF)
e/ou pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) antes da
intubação endotraqueal.

Intervenção Recomendação
Solução salina Considerar.
hipertônica 3% Pode melhorar principalmente em pacientes
internados por > 3 dias.
Oxigênio Considerar.
Não recomendado se Sat > 90% sem
acidose. Sat 90-92%, presença de esforço
respiratorio e < 3 meses.
CNAF Considerar
Oximetria Considerar.
Uso intermitente na fase aguda em crianças
hospitalizadas.

74
Nutrição e Considerar.
hidratação Para crianças que não conseguem manter
hidratação via oral. Recomenda-se solução
isotônica. Nos casos mais graves, considerar
secreção inapropriada de ADH.
Broncodilatadores Não recomendado.
Estudam não demonstram efetividade em
melhora dos sintomas, taxa de
hospitalização e tempo de internação.
Adrenalina Não recomendado.
Sem evidência de melhora em pacientes
ambulatoriais ou internados.
Corticoides Não recomendado.
Sem evidência de resultados.
Fisioterapia Não recomendado.
respiratória Recomendado apenas se comorbidades.
Solução salina Não recomendado.
Se for realizar, fazer mais superficial, lavar
com salina.
Antimicrobianos Não recomendado.
Não devem ser usados de rotina
Névoa, antivirais Não recomendado.

PREVENÇÃO
Higienização das mãos: com água e sabão ou preparação alcoólica,
sempre antes e depois de assistir ao paciente
Luvas: durante o cuidado do paciente
Avental: Sempre que contato direto com pacientes ou secreções
Máscara e proteção ocular: Sempre que contato direto com pacientes
ou secreções
Quarto privativo: Privativo sempre que possível, caso contrário,
alocar os pacientes com VSR no mesmo quarto com >1metro de
distância entre os leitos.

75
Profissionais da saúde: Sempre que possível, profissionais que
assistam pacientes com VSR não assistem outros pacientes, ou pelo
menos, não assistam pacientes com risco de doença grave pelo VSR
(imunodeprimidos, prematuros, cardiopatas, pneumopatas).
Restrição de visitas: Restringir as visitas no hospital durante estação
do VSR, e proibir a visita de crianças e de indivíduos com quadro
respiratório agudo
Avaliação da saúde dos visitantes: Avaliação por pessoal treinado ou
utilizar cartilha de orientação para evitar entrada de visitantes
doentes no hospital

PROFILAXIA PARA VSR


Não há vacinas disponíveis contra o VSR
Palivizumabe é um anticorpo monoclonal, apresenta atividade
neutralizante e inibitória da fusão do VSR no epitélio respiratório da
criança.
MS disponibiliza para bebês:
- Prematuros até 28 semanas e 6 dias de idade gestacional, menores
de um ano de idade
- Crianças portadoras de cardiopatia congênita com repercussão
hemodinâmica demonstrada até o segundo ano de vida.
- Crianças portadoras de doença pulmonar crônica da
prematuridade, independentemente da idade gestacional, até o
segundo ano de vida.
Administrado na posologia de 15 mg/kg IM, de preferência na face
anterolateral da coxa, uma vez por mês, durante o período de
sazonalidade do VSR previsto na comunidade (fevereiro a julho), no
máximo de 5 doses.

76
CRISE ASMÁTICA

Beatrice David de Freitas


Laryssa Vivi Carniello Pivotto
Asma no Pronto Socorro
DEFINIÇÃO
Asma: A asma é uma condição respiratória heterogênea
caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas. Seus
sintomas, como sibilos, falta de ar, aperto no peito e tosse, variam
em intensidade ao longo do tempo.
Crise Asmática: São episódios agudos caracterizados pelo
estreitamento súbito das vias aéreas, resultando em dificuldade
respiratória, chiado no peito, tosse e, em casos mais graves, uma
sensação de aperto no peito.

ETIOLOGIA
Asma: A doença está associada a hiper responsividade e
inflamação das vias aéreas, mas esses elementos não são
necessários nem suficientes para diagnosticá-la.
Crise Asmática: varia entre indivíduos e pode envolver fatores
desencadeantes, como alérgenos, irritantes respiratórios, infecções,
exercícios físicos, condições meteorológicas, e fatores agravantes
como não adesão ao tratamento, exposição ocupacional, estresse,
ansiedade e predisposição genética.

QUADRO CLÍNICO
• Falta de ar
• Sibilos
• Tosse
• Aperto no peito
• Respiração rápida e superficial
• Dificuldade para fala

78
DIAGNÓSTICO
1. História Clínica:
• Relato dos sintomas, sua frequência e intensidade.
• Identificação de fatores desencadeantes.
2. Exame Físico:
• Ausculta pulmonar para detectar sibilos.
• Avaliação da frequência respiratória.
• Observação de sinais de esforço respiratório.
3. Testes de Função Pulmonar:
• Espirometria
• Testes de pico de fluxo
4. Avaliação da Resposta ao Tratamento:
• A melhora dos sintomas após o uso de
broncodilatadores é indicativa de asma.
5. Exames Complementares (Opcionais):
• Radiografias torácicas ou testes de alergia.
Diagnóstico Diferencial para Crises:
• Bronquiolite obliterante
• Fibrose cística
• Aspiração de corpos estranhos
• Discinesia ciliar primária
• Deficiência de alfa 1 antitripsina
• Doenças cardíacas congênitas,
• Tuberculose
• Obstruções de vias aéreas altas
• Síndrome de pânico
• Bronquiectasias

Manejo Clínico
Classificação da gravidade: tabela 1

Critérios de Internação
• Crise asmática grave

79
• Crise asmática moderada com resposta insuficiente ao
tratamento inicial
• Uso intenso de musculatura acessória
• Comprometimento significativo do parênquima
pulmonar (pneumonia)
• SpO2 < 93% em ar ambiente após abordagem
terapêutica inicial
• Ingestão hídrica baixa com risco de desidratação
• Pais não confiáveis ou residência de difícil acesso a
serviços de emergência médica
• Má resposta terapêutica prévia
Critérios de alta
• Sintomas leves
• Se crise moderada: tempo mínimo de observação
hospitalar de 2 h
• Se crise grave: tempo mínimo de observação hospitalar
de 12 h

TRATAMENTO
Crise Asmática Leve ou moderada
• Manter Saturação entre 94 e 58%
Tratamento:
• 2 puffs de Salbutamol a cada 20 minutos, 3 vezes. (Se não
houver melhora, fazer Salbutamol + Corticóide)
• Corticoide sistêmico via oral (introduzir precocemente)
• Considerar ipratrópio
Boa Resposta:
• Alta com salbutamol e corticoide por 3 a 5 dias
Resposta Parcial:
• Repetir dose do beta agonista
• Considerar ipratrópio

80
• Considerar internação caso não tenha resposta ou
piore após segundo ciclo de beta agonista
Crise Grave
Manter Saturação entre 94-98%
Monitorização:
• Monitorização cardíaca, pressão não invasiva e saturação
Tratamento em Sala de Emergência:
• Salbutamol + Corticóide: na primeira vez e brometo de
ipratrópio
• Corticoide sistêmico via oral, EV ou IM (introduzir
precocemente)
• Ipratrópio
• Considerar sulfato de magnésio
Boa Resposta:
• Internação em enfermaria com beta-2 de horário e
corticoide sistêmico
Resposta Parcial ou Piora:
• Internação em UTI
• Sulfato de magnésio (se ainda não realizado)
• Considerar beta-agonista sistêmico
• Considerar ventilação não invasiva
Iminência de Parada Respiratória
Pré-Oxigenação:
• Máscara não reinalante
• Considerar dispositivo bolsa-válvula-máscara caso não haja
drive respiratório

Tratamento:
• Beta agonista inalatório contínuo
• Considerar beta-agonista endovenoso
• Brometo de ipratrópio
• Corticoide endovenoso

81
• Sulfato de magnésio
Escalonar suporte ventilatório
• Ventilação não invasiva
Intubação quando houver as indicações:
• Indicação de intubação
• Hipoxemia refratária
• Piora da condição clínica
• Falência cardíaca

Doses de medicações
Beta-2-agonista
• Sulfato de salbutamol aerossol com espaçador (100
microgramas/jato): 1 puff a cada 5 minutos
Corticoides sistêmicos
• Dexametasona 0,3 a 0,6 mg/kg (máximo 12 a 16 mg/dia)
VO, IM ou IV
• Prednisona ou prednisolona 1 a 2 mg/kg (máximo 40
mg/dia) via oral: Geralmente 3 a 5 dias de uso
• Metilprednisolona 1 a 2 mg/kg (máximo 40 mg/dia), IV
• Hidrocortisona 10 mg/kg (máximo 200 mg/dia) – dose de
ataque e após, manter 5mg/kg de 6/6h
Brometo de ipratrópio
• Brometo de ipratrópio aerossol com espaçador (18
microgramas/jato): 4 a 8 jatos a cada 20 minutos, geralmente na
primeira hora de tratamento, intermitente ao salbutamol
• Brometo de ipratrópio, solução para nebulização (250
microgramas/ml)
< 20 kg – 250 mcg/dose (20 gotas)
≥ 20 kg – 500 mcg/dose (40 gotas)
A cada 20 minutos, geralmente na primeira hora de
tratamento, intermitente ao salbutamol

82
Sulfato de magnésio
• Sulfato de magnésio Dose padrão 50 mg/kg, IV, com
margem de 25 a 75 mg/kg, IV, correr em 20 a 40 minutos
Paciente monitorizado

Classificação Leve a Grave Muito grave


moderada (insuficiência
respiratória)
Impressão Sem Sem alterações Cianose, sudorese,
clínica alterações exaustão
geral
Estado mental Normal Normal ou Agitação, confusão
agitação sonolência
Dispneia Ausente ou Moderada Intensa
leve
Fala Frases Frases Frases curtas ou
completas incompletas No monossilábicas No
lactente: choro lactente:
curto, dificuldade alimentar
dificuldade
alimentar
Musculatura Retrações Retrações Retrações
acessória leves/ausent acentuadas acentuadas
es
Sibilância Ausentes Localizados ou Ausentes com MV
com MV difusos mínimo
normal,
localizado
ou
difuso
FR Normal ou Aumentada Aumentada
(ciclos/minuto) aumentada
**
FC (bpm) ≤ 110 > 110 > 140 ou bradicardi
PFE (% do > 50 30 a 50 < 30
previsto)
SpO2 (%) > 95 91 a 95 ≤ 90
PaO2 (mmHg) Normal Ao redor de 60 < 60
PaCO2 (mmHg) < 40 < 45 ≥ 45

83
DIAGNÓSTICO
PRECOCE DE SEPSE

Beatriz Camargo Castro


Bruna Isepão Barboza da Silva
Diagnóstico Precoce da Sepse

DEFINIÇÃO

Sepse é uma síndrome clínica caracterizada por grave disfunção


orgânica decorrente de uma resposta deletéria do hospedeiro a um
foco infeccioso. A evolução e a progressão de uma infecção por
sepse decorrem de uma desregulação da resposta inflamatória, em
que tanto mediadores pró-inflamatórios quanto anti-inflamatórios
estão aumentados, culminando com uma cascata de eventos que
leva à injúria de tecidos diversos, mesmo em localização distante do
foco infeccioso inicial.
É definida como a presença de dois ou mais sinais de SIRS (Síndrome
da Resposta Inflamatória Sistêmica), sendo um deles
hipertermia/hipotermia e/ou alteração de leucócitos, concomitante à
presença de quadro infeccioso confirmado ou suspeito.
A SIRS é definida como a presença de pelo menos um dos seguintes
critérios:
● Alteração de temperatura corpórea (> 38,5ºC ou <36ºC);
● Taquicardia: frequência cardíaca acima de dois desvios
padrão (2 DP) para a idade ou para crianças menores de
um ano de idade, bradicardia definida como uma frequência
média < 10% percentil para a idade;
● Taquipneia: frequência respiratória média mais de dois
desvios padrão acima do normal para a idade ou
necessidade de ventilação mecânica por causa pulmonar
aguda;

85
● Alteração de leucócitos: leucocitose/leucopenia oupresença
de formas jovens de neutrófilos no sangue periférico
(>10% de neutrófilos imaturos).

QUADRO CLÍNICO

Hipotermia ou hipertermia, taquicardia ou bradicardia, taquipneia,


leucocitose ou leucopenia, associado a um foco suspeito de infecção.

Condições de Risco Elevado para Sepse

● Lactentes jovens (< 1 ano) e recém-nascidos,


principalmente prematuros de muito baixo peso;
● Doenças oncológicas;
● Asplenia;
● Transplante de medula óssea e órgãos sólidos;
● Presença de cateter venoso central;
● Imunodeficiência/imunossupressão/imunocomprometidos;
● Lesões graves, como trauma grave, queimaduras ou feridas
penetrantes;
● Grandes incisões cirúrgicas;
● Anormalidades do trato urinário com infecções frequentes.

86
DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da sepse deve ser rápido através do exame clínico e


reavaliações seriadas. Alguns dos principais sinais de alerta para
sepse são:
● Taquicardia ou bradicardia em menores de 1 ano;
● Taquipneia;
● Febre ou hipotermia;
● Perfusão periférica lentificada (TEC > 2 segundos) ou muito
rápida (em flush);
● Alteração do estado mental manifestada por irritabilidade,
agitação, choro, interação reduzida com familiares,
sonolência ou coma;
● Extremidades frias ou livedo reticular;
● Diurese diminuída (< 1,0 ml/Kg/h);
● Hipotensão;
● Púrpura em qualquer parte do corpo ou petéquias abaixo da
linha do mamilo;
● Eritema macular e alterações de mucosa sugestivo de
síndrome do choque tóxico.

TRATAMENTO

Primeira hora:
● Monitorização: oximetria de pulso contínua, monitorização
cardíaca, da glicemia e do cálcio ionizado, controle de PA,
aferição de temperatura, avaliação de débito urinário e
ecocardiograma funcional.

87
● Oxigenação: tem como objetivo manter a saturação de
oxigênio entre 92 e 97% através de máscara não reinalante,
pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), ventilação
com pressão positiva em dois níveis (BIPAP), cânula nasal
de alto fluxo de oxigênio, intubação orotraqueal.
● Acesso venoso: dois acessos venosos periféricos calibrosos
e/ou acesso intraósseo.
● Coleta de exames: glicemia capilar, gasometria arterial ou
venosa, hemograma, lactato, eletrólitos, cálcio iônico,
bilirrubina total e frações, alanina aminotransferase,
coagulograma, fibrinogênio, D-dímero, hemocultura
(preferencialmente antes do início do antibiótico),
urocultura, proteína C-reativa, outras culturas e exames de
imagem a depender do contexto.
● Fluidoterapia: em pacientes sem sinais de congestão, dá-se
início à infusão de fluidos com bolus de 10 a 20 mL/Kg se
solução isotônica, titulados de modo a atingir a normalização
dos parâmetros hemodinâmicos. Classicamente, são
necessários 40 a 60 mL/Kg de volume na primeira hora.
● Antibioticoterapia: a administração deve ser precoce, sendo
os atrasos correlacionados com mortalidade, gravidade da
doença e disfunção orgânica. Nos casos em que há suspeita
etiológica, a escolha do antibiótico pode ser direcionada para
aquele com melhor penetração e atuação. Para etiologias
desconhecidas, um antibiótico empírico de amplo espectro
deve ser usado, sendo a cefalosporina de terceira geração
(ex: Ceftriaxona) a mais recomendada para pacientes com
sepse adquirida na comunidade.
● Controle do foco: em casos que há necessidade de
intervenções físicas, como em abscessos cutâneos ou

88
profundos, fasceíte necrotizante e infecções abdominais
cirúrgicas.
● Drogas vasoativas: indicada para pacientes que mantêm
sinais de hipoperfusão apesar de 40 a 60 mL/Kg de
ressuscitação volêmica na primeira hora. As drogas de
escolha são epinefrina e noradrenalina, que podem ser
iniciadas em acesso venoso periférico ou intraósseo até que
um acesso central seja obtido. Deve-se respeitar a diluição
da epinefrina/norepinefrina para acesso periférico, cuja
concentração máxima é de 16 mcg/mL. Na dose entre 0,05
a 0,3 mcg/kg/mim, a epinefrina é um inotrópico e
cronotrópico potente.
● Hipoglicemia: comum em pacientes críticos. Os alvos não
foram bem estabelecidos. Com o consenso de especialistas
do Sepsis Surviving Campaing, sugere que ela seja mantida
entre 140 e 180 mg/dL. Se glicemia < 60 mg/dL, administrar
glicose endovenosa na dose de 0,5 a 1 g/Kg de soro
glicosado 25% 1 a 4 mL/Kg ou soro glicosado 10% de 5 a
10mL/Kg. Se glicemia se mantiver acima de 180 mg/dL por
12h, considerar insulinoterapia.
● Hidrocortisona é recomendada em pacientes com risco de
produção insuficiente de cortisol: 1 a 2 mg/kg em bolus.
● Hipocalcemia: se cálcio ionizado <1,1 mmol/L, realizar
infusão endovenosa ou intraóssea de Gluconato de Cálcio
10% na dose de 50mg/Kg (0,5 mL/Kg), na dose máxima de
2g (20 mL) por infusão lenta em cinco minutos.
● Hemocomponentes: não há indicação de transfusão de
concentrado de hemácias quando a concentração de
hemoglobina é superior a 7g/dL. Após a primeira hora:
● Monitorização da pressão arterial invasiva através da
cateterização arterial.

89
● Ecocardiograma funcional: avaliação do débito cardíaco e
complacência da veia cava inferior.
● Monitorização da pressão de perfusão.
● Iniciar a nutrição enteral precocemente (48h da admissão),
quando não houver contraindicações.
● Se a nutrição parenteral for necessária, deve-se suspender
nos primeiros 7 dias de admissão.
● A hemodiálise deve ser instituída para evitar ou tratar a
sobrecarga de fluidos em crianças com choque séptico ou
sepse que não respondem à restrição de fluidos e terapia
diurética.

OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS NA TERAPÊTICA

● Perfusão capilar ≤ 2 segundos;


● Pulsos normais, sem diferencial entre os pulsos centrais e
periféricos;
● Débito urinário > 1 ml / Kg / h;
● 3,3 > IC < 6,0 L/min/m2, com PP = PAM – PVC normal para
idade, Svc02 > 70% (* IC: índice cardíaco)
● FC dentro dos limites;
● Extremidades quentes;
● Nível de consciência normal;
● Maximizar a pré-carga para maximizar o IC e PP Hb >
10g/dl;
● Glicose normal;
● Cálcio normal.

90
DIARREIA

Maria Eduarda Catharin


Natalia Tognon
Diarreia Aguda

DEFINIÇÃO
Diarreia: diminuição da consistência das fezes (líquidas ou
amolecidas), geralmente associada a um aumento da frequência das
evacuações - três ou mais evacuações nas últimas 24 horas.
Aguda: duração de até 2 semanas.

CAUSAS
Não infecciosas: são eventuais, como alergia a proteína do leite de
vaca, deficiência de lactase, apendicite aguda, uso de laxantes e
antibióticos e intoxicação por metais pesados.
Infecciosas: a etiologia viral é a principal causa de diarreia aguda,
especialmente em crianças menores de 5 anos.

PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS


Vírus: Rotavírus, coronavírus, adenovírus, norovírus, astrovírus
Bactérias: E. coli, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Vibrio
Cholera, Yersinia enterocolítica
Parasitas: Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Strongyloides,
Cryptosporidium parvum, Isospora belli, Balantidium coli
Fungos: Candida albicans

92
QUADRO CLÍNICO
No mínimo três episódios de diarreia aguda no período de 24 horas,
podendo ser acompanhada de:
• Cólicas abdominais
• Dor abdominal
• Febre
• Sangue ou muco nas fezes
• Náusea
• Vômitos

DIAGNÓSTICO
O diagnóstico completo, a classificação da gravidade do quadro e a
determinação do tratamento adequado dependem do exame físico
completo que incluem: avaliar a presença de sinais sugestivos de
desidratação, o estado nutricional, o estado de alerta (ativo, irritável,
letárgico), a capacidade de hidratação oral e a presença de diurese.
Atenção aos pacientes com maior risco de complicações, como:
menores de 1 ano, particularmente os menores de 6 meses de idade;
comorbidade grave; presença de vômitos persistentes (> 4 episódios
em 1 hora); crianças que pararam de aceitar o leite materno durante
a doença; perdas diarreicas volumosas e frequentes (> 8 episódios

93
diários) e cuidadores relatando possíveis sinais de desidratação
(exemplo: oligúria).

AVALIAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO DO PACIENTE

ETAPAS A B C

OBSERVAR Estado Bem alerta Irritado Comatoso


Geral
Olhos Normais Fundos Muito fundos
e secos
Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes

Boca e Úmidas Secas Muito secas


língua
Sede Sem sede Sedento, Não é capaz
bebe rápido, de beber
avidamente
EXPLORAR Sinal da Desaparece Desaparece Desaparece
Prega Imediatamente lentamente muito
lentamente
(>2s)
Pulso Cheio Rápido e Fraco/
fraco ausente
Perda de Sem perda < ou = 10% >10%
peso
Tempo de Normal (até 3s) Prejudicado Muito
enchimento (3 a 5s) prejudicado
capilar (>5s)
DECIDIR Sem 2 ou +: com 2 ou +: com
desidratação desidratação desidratação
Diarreia não grave
complicada
TRATAR PLANO A PLANO B PLANO C

94
TRATAMENTO
Após o diagnóstico e a definição do estado de hidratação, há três
planos de tratamento clássicos (A, B ou C) determinados segundo a
presença (ou não) e o grau de desidratação.

Planos de tratamento segundo o Ministério da Saúde, 2023:


PLANO A
PARA PREVENIR A DESIDRATAÇÃO NO DOMICÍLIO
Explique ao paciente ou acompanhante para fazer no domicílio:
1) OFERECER OU INGERIR MAIS LÍQUIDO QUE O HABITUAL PARA
PREVENIR A DESIDRATAÇÃO:
• O paciente deve tomar líquidos caseiros (água de arroz, soro caseiro, chá, suco e
sopas) ou Solução de Reidratação Oral (SRO) após cada evacuação diarreica.
• Não utilizar refrigerantes e não adoçar o chá ou suco.
• Quantidade de líquidos que devem ser ingeridos após cada episódio de diarreia:
▪ Menores de 1 ano: 50 a 100ml
▪ De 1 a 10 anos: 100 a 200ml
▪ Maiores de 10 anos: a quantidade que o paciente aceitar
2) MANTER A ALIMENTAÇÃO HABITUAL PARA PREVENIR A DESNUTRIÇÃO:
• Continuar o aleitamento materno.
• Manter a alimentação habitual para as crianças e os adultos.
3) SE O PACIENTE NÃO MELHORAR EM DOIS DIAS OU SE APRESENTAR
QUALQUER UM DOS SINAIS DE PERIGO ABAIXO, LEVÁ-LOIMEDIATAMENTE
AO SERVIÇO DE SAÚDE:
• Piora na diarreia • Recusa de alimentos
• Vômitos repetidos • Sangue nas fezes
• Muita sede • Diminuição da diurese
4) ORIENTAR O PACIENTE OU ACOMPANHANTE PARA:

95
• Reconhecer os sinais de desidratação.
• Preparar e administrar a Solução de Reidratação Oral.
• Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos,
tratamento da água e higienização dos alimentos).
5) ADMINISTRAR ZINCO UMA VEZ AO DIA, DURANTE 10 A 14 DIAS:
• Até seis (6) meses de idade: 10mg/dia.
• Maiores de seis (6) meses de idade: 20mg/dia.
PLANO B
PARA TRATAR A DESIDRATAÇÃO POR VIA ORAL NA UNIDADE DE SAÚDE
1) ADMINISTRAR SOLUÇÃO DE REIDRATAÇÃO ORAL:
• A quantidade de solução ingerida dependerá da sede do paciente.
• A SRO deverá ser administrada continuamente, até que desapareçam os sinais de
desidratação.
• Apenas como orientação inicial, o paciente deverá receber de 50 a 100ml/kg para
ser administrado no período de 4-6 horas.
2) DURANTE A REIDRATAÇÃO, REAVALIAR O PACIENTE
• Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilize o PLANO A.
• Se continuar desidratado, indicar a sonda nasogástrica (gastróclise).
• Se o paciente evoluir para desidratação grave, seguir o PLANO C.
3) DURANTE A PERMANÊNCIA DO PACIENTE OU ACOMPANHANTE NO
SERVIÇO DE SAÚDE ORIENTAR A:
• Reconhecer os sinais de desidratação.
• Preparar e administrar a Solução de Reidratação Oral.
• Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos,
tratamento da água e higienização dos alimentos).
OS PACIENTES DEVEM PERMANECER NA UNIDADE
DE SAÚDE ATÉ A REIDRATAÇÃO COMPLETA.

96
PLANO C
PARA TRATAR DESIDRATAÇÃO GRAVE NA UNIDADE HOSPITALAR
O PLANO C CONTEMPLA DUAS FASES PARA TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS: A FASE
RÁPIDA (EXPANSÃO) E A FASE DE MANUTENÇÃO E REPOSIÇÃO.
AVALIAR O PACIENTE CONTINUAMENTE DURANTE CADA FASE.
FASE RÁPIDA (FASE DE EXPANSÃO)
MENORES DE 5 ANOS
SOLUÇÃO VOLUME ADMINISTRAÇÃO
Soro fisiológico a Iniciar com 20ml/kg – repetir até Em 30 minutos
0,9% que a criança esteja hidratada,
reavaliando após cada fase.
* Para recém-nascidos e
cardiopatas graves, começar com
10ml/kg.
MAIORES DE 5 ANOS
Soro fisiológico a 30ml/kg Em 30 minutos
0,9%
Ringer Lactato ou 70ml/kg Em 2 horas e 30
Solução minutos
Polieletrolítica
FASE DE MANUTENÇÃO E REPOSIÇÃO PARA TODAS AS IDADES
SOLUÇÃO VOLUME EM 24 HORAS
Soro glicosado a 5% + Até 10kg 100ml/kg
Soro fisiológico 0,9% na 10 a 20kg 1000ml + 50ml/kg de peso que exceder
proporção de 4:1 10kg
(manutenção) > 20kg 1500ml + 20ml/kg de peso que exceder
20kg
Soro glicosado a 5% + Iniciar com 50ml/kg/dia.
Soro fisiológico 0,9% na Reavaliar de acordo com as perdas do paciente.

97
proporção de 1:1
(reposição)
KCl a 10% 2ml para cada 100ml de solução da fase de
manutenção.

AVALIAR O PACIENTE CONTINUAMENTE. SE NÃO HOUVER MELHORA DA


DESIDRATAÇÃO, AUMENTAR A VELOCIDADE DE INFUSÃO.
• Quando o paciente puder beber, geralmente 2 a 3 horas após o início da reidratação
venosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a reidratação
endovenosa.
• Interromper a reidratação por via endovenosa somente quando o paciente puder
ingerir SRO em quantidade sufi ciente para se manter hidratado. A quantidade de SRO
necessária varia de um paciente para outro, dependendo do volume das evacuações.
• Lembrar que a quantidade de SRO a ser ingerida deve ser maior nas primeiras 24
horas de tratamento.
• Observar o paciente por pelo menos 6 horas.
OS PACIENTES QUE ESTIVEREM SENDO REIDRATADOS POR VIA ENDOVENOSA
DEVEM PERMANECER NA UNIDADE DE SAÚDE ATÉ QUE ESTEJAM HIDRATADOS E
CONSEGUINDO MANTER A HIDRATAÇÃO POR VIA ORAL

CONDUTAS COMPLEMENTARES
Em caso de Disenteria (diarreia com sangue), a antibioticoterapia
está indicada, principalmente se o paciente apresentar febre e
comprometimento do estado geral.
1. Ciprofloxacino (1° escolha): 15mg/kg, 2X/dia por 3 dias; OU

98
2. Ceftriaxona: 50-100mg/kg EV por dia por 3 a 5 dias nos casos
graves que requerem hospitalização. Outra opção é a cefotaxima,
100mg/kg dividida em quatro doses.
3. Zinco: 10 mg – crianças < de 6m e 20 mg – crianças maiores de
6m de vida, durante 10-14 dias. (diminue a duração e a gravidade
da diarréia).
4. Probióticos – fazem pouca ou nenhuma diferença no tratamento
da diarréia aguda. Dose Saccharomuces boulardii : 250-750mg/dia de
5 a 7 dias.
5. Rocecadodrila (antissecretório) – pode reduzir o risco de falha da
reidratação oral. Dose: 1,5mg/Kg, 3 vezes por dia, enquanto houver
diarréia.
Se o quadro tiver mais de 14 dias de evolução, após estabilização
inicial, encaminhar o paciente para investigação e tratamento com o
especialista. Importante considerar diagnósticos diferenciais como
diarreia persistente infecciosa, doença inflamatória intestinal, doença
celíaca e outras síndromes disabsortivas.
Sinais de alarme para internação: perda de peso; crescimento
inadequado; palidez/anemia; adinamia; sinais de desnutrição grave;
hemotoquezia/enterorragia; edema/ascite; sintomas sistêmicos
(exantema, artrite, aftas); história familiar de doença inflamatória
intestinal e doenças autoimunes.

99
DOENÇA DO REFLUXO
GASTROESOFÁGICO

Giovana Sales Longhini


Amanda Cristina Netto Guerra
Doença do Refluxo
Gastroesofágico

DEFINIÇÃO
Caracteriza-se pela passagem retrógrada do conteúdo gástrico para
o esôfago através do esfíncter esofagiano inferior (EEI) com ou sem
regurgitação e/ou vômito. A doença do refluxo gastroesofágico é
quando a criança apresenta sintomas com complicações, diferente
do refluxo fisiológico do lactente, quando não há repercussões
clínicas.

CAUSAS E FATORES PREDISPONENTES


Disfunção da junção esofagogástrica idiopática
Estenose congênita do esôfago / Estenose hipertrófica de piloro
Fístula traqueoesofágica
Atresia de esôfago
Úlcera gástrica ou duodenal
Parasitoses intestinais
Alterações do sistema nervoso central
Alergia alimentar (principalmente associada à proteína do leite da
vaca)

QUADRO CLÍNICO
Variam de acordo com a faixa etária e possuem gravidade
heterogênea
A doença do refluxo gastroesofágico pode cursar com:
- Sintomas gerais: desconforto, choro excessivo, irritabilidade, sono
agitado, recusa alimentar, erosões dentais, halitose, Síndrome de
Sandifer e perda ponderal

101
- Sintomas gastrointestinais: regurgitações, azia, pirose, dor
retroesternal, epigastralgia, odinogfagia
- Sintomas respiratórios/via aérea: rouquidão, estridor, sibilos, tosse,
apneias/cianose, otites de repetição
- Condições associadas à DRGE de difícil controle: hérnia hiatal ou
diafragmática, pneumopatias (fibrose cística), doenças neurológicas,
obesidade, história familiar, prematuridade, quimioterapia

DIAGNÓSTICO
Varia de acordo com a idade:
- Lactentes: história clínica
- Crianças maiores e adolescentes: história clínica + exame físico
Avaliações complementares para diagnóstico de RGE, complicações
e outros diagnósticos diferenciais: radiografia contrastada de
esôfago, estômago e duodeno, endoscopia digestiva alta com
biópsia, pHmetria esofágica, ultrassonografia esofagofástrica,
cintilografia para pesquisa de refluxo gastroesofágico e aspiração
pulmonar, impedânciometria esofágica intraluminal, teste
terapêutico empírico com supressão ácida.

COMPLICAÇÕES:
- Esôfago de Barret, estenose de esôfago, esofagite, hematêmese,
melena, laringite crônica, exacerbações frequentes de asma,
pneumonias aspirativas

TRATAMENTO
Objetivos do tratamento da DRGE são a promoção do crescimento e
do ganho de peso adequados, alívio dos sintomas, cicatrização das
lesões teciduais, prevenção da recorrência destas e das complicações
associadas à DRGE.
1ª linha:

102
- Medidas não farmacológicas para lactentes: aumentar a frequência
das mamadas com menor volume de leite, manter a criança ereta no
período pós prandial, uso de fórmulas anti-refluxo, posição supina
para dormir, evitar roupas apertadas, troca da fralda antes das
mamadas, evitar fármacos que exacerbam sintomas de RGE assim
com tabagismo passivo
- Orientações dietéticas para crianças maiores e adolescentes: evitar
refeições volumosas e muito calóricas, ingestão de alimentos antes
de deitar, chocolates, refrigerantes, chá e café; dormir em decúbito
lateral esquerdo e com cabeceira elevada além de redução de peso
nos obesos.
Terapia medicamentosa não há um consenso, tem como opções:
- Sucralfato: lactentes a menores 6 anos: 2,5mL, 4x/d / crianças
maiores 6 anos: comprimidos mastigáveis 1g, 4x/d
- Antiácido com magnésio ou alumínio: < 5 kg: 2,5 mL, 3x ao dia /
> 5 Kg: 5,0 mL, 3x ao dia
- Alginato: Crianças > 12 anos Líquido: sachês de 10 mL até 4x/d
após as principais refeições.
- Omeprazol: 0,7 a 3,5 mg/kg/dia – dose máxima = 80 mg
Casos refratários com história de alergia alimentar positiva:
modificação da dieta materna (se em aleitamento materno) ou da
criança, com restrição dos alimentos que essa criança,
comprovadamente apresente alergia.
Casos graves e refratários: cirurgia antirrefluxo e/ou correção de
causas anatômicas

103
DOENÇAS
EXANTEMÁTICAS

Yasmin Stein Peixe


Amanda Cristina Netto Guerra
Doenças Exantemáticas

DEFINIÇÃO
Doenças exantemáticas são desordens, de causa infecciosa (viral,
bacteriana, fúngica ou por protozoários), medicamentosa, auto-
imune ou neoplásica, caracterizadas pelo surgimento agudo de
erupções cutâneas disseminadas pelo corpo. O exantema é uma
erupção cutânea ao longo da superfície do corpo composta por
máculas ou pápulas que podem apresentar aspecto irregular e
edemaciado, estando ou não em associação com prurido,
descamação, lesões bolhosas e crostas, acometendo uma região
específica ou espalhando-se por todo o corpo. O exantema pode ser
do tipo morbiliforme - entremeado por pela sã; escarlatiniforme -
difuso, puntiforme e áspero; rubeoliforne – róseo, com pápulas
pequenas; urticariforme - com pápula eritematosa e contornos –
irregulares; papulovesicular – com pápulas e lesões contendo
líquidos (vesículas); petequial ou purpúrico – quando há associação
de alterações vasculares (não desaparecem a dígito-pressão).

QUADRO CLÍNICO
Sarampo: causada por vírus da família Paramyxoviridae, do gênero
Morbillivirus. A via de transmissão é por aerossol ao contato com
mucosas respiratórias e conjuntival. O período de incubação é de 7-
12 dias, com 3-5 dias de sintomas prodrômicos, que são: febre,
coriza, tosse e conjuntivite. O exantema é do tipo morbiliforme de
distribuição cefalocaudal e centrífugo, tornando-se generalizado no
3º dia de doença. No período prodrômico pode ser encontrado o
enantema patognomônico – manchas de Koplik – máculas brancas
com halo eritematoso difuso, que aparecem na mucosa oral, próximo

105
aos molares, antecedendo o exantema. Na fase de convalescença há
descamação furfúracea.
Rubéola: causada por vírus da família Togaviridae, do gênero
Rubivírus. É transmitida através do contato direto ou de gotículas de
secreções nasofaríngeas. O período de incubação é de 14 a 21 dias
de período de incubação e os sintomas pródromos são inespecíficos.
O exantema geralmente se inicia no rosto, é róseo, entremeado por
pele sã de distribuição craniocaudal e centrífugo que dura em média
3 dias e desaparece sem descamar. Associado ao exantema tem
linfonodomegalia suboccipital, cervical posterior e retroauricular.
Pode aparecer as manchas de Forchheimer que são petéquias no
palato mole, além de conjuntivite.
Eritema infeccioso: causada pelo Parvovírus B19 da família
Parvoviridae, do gênero Erythrovirus, que é transmitido por gotículas
da orofaringe. O período de incubação é de 7 a 14 dias e tem como
a fase exantemática 15 dias após o contato, caracterizada por rash
malar (“bochecha esbofeteada”), exantema reticular simétrico em
tronco e extremidades, frequentemente pruriginoso. O exantema
pode recidivar em 1 a 3 semanas após exposição ao calor, exercício
estresse.
Exantema súbito: causada pelo herpers-virus humano 6 ou 7 (HHV-
6 e HHV-7), da família Herpesviridae e transmitido por gotículas
contendo partículas virais em contato com mucosa respiratória ou
conjuntival. Tem como período de incubação em média 10 dias e
fase prodrômica de 3 a 4 dias com irritação faríngea e conjuntival. A
febre geralmente é alta (39,5°C) e persistente por,
aproximadamente, 3 dias. O aparecimento do exantema
rubeoliforme coincide com a resolução da febre, tem evolução
centrípeta, fugaz e duração de 72h.
Síndrome de mão-pé-boca: causada por enterovírus e vírus
Coxsackie A, transmitida por via respiratória ou fecal-oral. Apresenta
tempo de incubação de 4 a 6 dias, fase prodrômica com anorexia e

106
odinofagia, fase exantemática com febre baixa, surgimento de
vesículas em toda a orofaringe, rash maculopapular, vesicular ou
pústula em mãos, pés e nádegas.
Varicela: causada pelo vírus Varicela-Zoster da família Herpesviridae,
transmitida por aerossóis ou contato direto com o conteúdo das
vesículas. A infecção ocorre dois dias antes do surgimento do rash
até a última lesão em vesícula e, geralmente, não apresenta
pródromos. É uma síndrome febril associada a um exantema máculo-
vésico-pústulo-crostoso com característica marcante de
pleomorfismo regional e distribuição centrípeta.
Mononucleose: é causada pelo vírus Epstein-Barr, da família
Herpesviridae, transmitida por saliva e intercurso sexual (beijo é um
facilidador). Tem incubação prolongada de 30 a 50 dias e a fase
clínica de 2 a 4 semanas, se apresentando com sintomas
constitucionais, linfonodomegalia generalizada, faringoamigdalite,
hepatoesplenomegalia e edema palpebral. O rash máculo-papular
comumente está associada ao uso de antibióticos – penicilinas,
cefalosporinas e seus derivados.
Escarlatina: causada por bactérias Streptococcus pyogenes ou
Streptococcus beta-hemolítico do grupo A (SGA) de Lancefield.
Transmitida através de gotículas de secreção respiratória. Apresenta
período de incubação de 2 a 5 dias e tem como pródromos febre e
infecção orofaringe por 24-48h. A clínica apresenta-se com hiperemia
faringotonsilar, adenopatia, rash de progressão centrífuga, pápulas
eritematosas puntiformes com aspecto de lixa. Tem como sinais
patognomônicos o Sinal de Filatov – rubor facial com palidez perioral,
Sinal de Pastia – exantema intensificado nas superfícies flexoras dos
membros e língua em framboesa – enantemacom proeminência das
papilas da língua. A convalescência
caracteriza-se pela descamação lamelar das mãos e pés.
Doença de Kawasaki: tem etiologia desconhecida, com 80% dos
casos em menores de 5 anos. A fase aguda dura em média 2

107
semanas com febre alta, hiperemia conjuntival bilateral, alteração de
mucosa oral com hiperemia, edema e ressecamento dos lábios com
fissura, edema duro de dedos das mãos e dos pés, com hiperemia
palmoplantar. O exantema é polimórfico, escarlatiniforme ou
purpúrico, com início no tronco e descamações lamelares. Pode ainda
aparecer linfadenite cervical, descamação perineal e miocardite. Fase
subaguda dura em média 4 semanas e a febre e demais sintomas
diminuem. Pode apresentar trombocitose e aneurismas
coronarianos. A fase de convalescença dura em média 4
a 8 semanas com desaparecimento dos sinais da doença.
Dengue: causada por vírus da família Flaviviridae, do gênero
Flavivirus. São conhecidos 4 sorotipos do vírus da dengue: DENV-1,
2, 3 e 4. A transmissão se dá pela picada do mosquito Aedes aegypti.
O tempo de incubação é de 4 a 7 dias. As manifestações clínicas são
variadas, desde assintomáticas até graves, sendo as mais comuns:
febre alta de início abrupto, cefaléia, odinofagia, mialgia, artralgia,
dor retro-orbital anorexia, hiperemia conjuntival, rash
maculopapular, hemorragia de mucosas e petéquias.
Chikungunya: causada por vírus da família Togaviridae, do gênero
Alphavirus. A transmissão ocorre através da picada do mosquito
fêmea Aedes aegypti e Aedes Albopictus. Durante a fase aguda o
paciente apresenta febre alta, artralgia intensa (predominante nas
grandes articulações e extremidades), cefaléia e mialgia. Metade dos
pacientes pode apresentar o exantema do tipo maculopapular entre
o 2º e o 5º dia. O quadro pode durar 15 dias e cessar
espontaneamente.
Zika: causada por vírus do gênero Flavivírus. A transmissão ocorre
via vetor, sendo, o principal, a fêmea do mosquito Aedes aegypti.
Menos comumente pode ocorrer transmissão via sexual e vertical. O
paciente apresenta febre baixa ou ausência dela. O exantema é do
tipo maculopapular pruriginoso (“vermelhão”), surgindo no 10º dia,
hiperemia conjuntival causado pelo aumento da vascularização (não

108
há prurido e nem pus). Podem apresentar também artralgia, mialgia
e cefaléia. Apesar desses sintomas, estudos dizem que mais de 80%
das pessoas infectadas não apresentam sintomatologia.

Complicações:
Sarampo: broncopneumonia, laringotraqueobronquite (crupe), otite
média aguda, encefalite aguda e pan-encefalite esclerosante
subaguda (SSPE).
Rubéola: raras, mas são trombocitopenia, artrite e encefalite.
Eritema infeccioso: artrite, artralgia e crise aplásica transitória em
portadores de doença hemolítica crônica.
Exantema súbito: doença autolimitada e de curso benigno.
Síndrome de mão-pé-boca: acometimento do SNC, onicomadese.
Varicela: infecções cutâneas, ataxia cerebelar, pneumonia,
meningite viral, trombocitopenia e Síndrome de Reye.
Mononucleose: sintomas neurológicos, obstrução de via aérea
superior, anemia hemolítica e ruptura de baço.
Escarlatina: relacionadas à infecção por SGA como febre reumática
e GNDA, infecção local de tecidos moles (miosite, celulite), pioartrose
e endocardite.
Doença de Kawasaki: alterações cardiovasculares, principalmente
aneurisma de artéria coronariana.
Dengue: infecção bacteriana, como pneumonia ou sepse,
desconforto respiratório grave, sangramento grave, derrame pleural,
ascite, disfunção orgânica.
Chikungunya: dores articulares crônicas (por meses), pode evoluir
para a Síndrome de Guillain-Barré, encefalite e outras complicações
neurológicas.
Zika: em geral não evolui com complicações graves, porém, a
artralgia pode permanecer por um mês.

109
DIAGNÓSTICO
Sarampo: febre + exantema maculopapular + 1 sintoma: tosse,
coriza e conjuntivite. Para confirmação faz-se a sorologia (IgM) e
PCR, associado ao vínculo epidemiológico. Doença de notificação
compulsória imediata.
Rubéola: febre + exantema maculopapular + linfonodopatia típica.
Sorologia IgM reagente (fase aguda) e aumento seriado dos títulos
de IgG, associado ao vínculo epidemiológico.
Eritema infeccioso: febre + exantema característico. Sorologia IgM
no 3° dia do exantema.
Exantema súbito: febre + exantema rubeoliforme após cessar febre.
Síndrome de mão-pé-boca: febre + lesões maculovesiculares +
epidemiologia
Varicela: pleomorfismo regional. Para confirmação há possibilidade
de: sorologias e citologia de Tzanck.
Mononucleose: febre + faringoamigdalite + rash cutâneo após uso
de antibiótico. O hemograma geralmente apresenta-se com
leucocitose, com atipias linfocitárias e plaquetopenia leve. Para
confirmação há possibilidade de sorologias – IgM anti-cápside viral
(anti-VCA) e IgG anti-antígeno nuclear (anti-EBNA).
Escarlatina: febre + faringoamigdalite + exantema eritematoso
papular puntiformes com aspecto de lixa. Se dúvida diagnóstica:
cultura de swab de orofaringe. Aumento dos anticorpos ASLO e anti-
DNAse B.
Doença de Kawasaki: no mínimo 5 dias de febre alta + 4 dos
seguintes critérios: alteração de extremidades, exantema polimorfo,
conjuntivite bilateral, alteração de cavidade oral, linfadenopatia
cervical. Laboratorial: anemia normo/normo, leucocitose discreta e
plaquetose; aumento de PCR e VHS (PCR maior ou igual a 3mg/dl e
VHS maior ou igual a 40 mm/h); enzimas hepáticas levemente
elevadas. Ecocardiograma para detecção dos aneurismas
coronarianos de 2 a 3 semanas após a fase aguda.

110
Dengue: febre por 2 a 7 dias + pelo menos 2 das seguintes
manifestações: náusea, vômitos, exantema, mialgia, artralgia,
cefaleia, dor retro-orbital, petéquias, prova do laço positiva ou
leucopenia + epidemiologia. Para confirmação: durante a fase febril
(até 3 dias dos sintomas) pode ser feita a detecção do anticorpo (NS-
1) e sorologia IgM do início da fase febril até 7-10 dias do início da
doença.
Chikungunya: febre alta + artralgia intensa (predominante nas
grandes articulações e extremidades) + cefaléia + mialgia +
exantema do tipo maculopapular entre o 2º e o 5º dia. O quadro
pode durar 15 dias e cessar espontaneamente. A detecção de
antígenos virais IgM ocorre até o 5º dia de doença. O IgG começa
aumentar a partir do 6° dia, com aumento gradativo para, até 4
vezes mais.
Zika: febre baixa ou ausência dela + exantema maculopapular
pruriginoso + hiperemia conjuntival, sem prurido ou pus. Pode
apresentar também artralgia, mialgia e cefaléia. O diagnóstico
laboratorial pode ser feito pelo teste rápido para triagem do IgM e
IgG, a partir do 5° dia da doença, ou pelo PCR.

TRATAMENTO
Sarampo: suporte com hidratação e antipiréticos. Vitamina A reduz a
morbimortalidade.
Rubéola: suporte com hidratação e antipiréticos.
Eritema infeccioso: suporte com hidratação e antipiréticos.
Exantema súbito: suporte com hidratação e antipiréticos.
Síndrome de mão-pé-boca: suporte com hidratação e antipiréticos.
Varicela: iniciar em até 72h após o início do rash. Aciclovir via oral
(VO): adolescentes >12 anos, > 1 ano com pneumopatia ou
dermopatia, AAS de uso crônico, corticoide sem imunossupressão,

111
segundo caso do domicílio. Aciclovir endovenoso (EV): varicela
grave, gestante, imunossuprimidos e neonatais.
Mononucleose: suporte com hidratação, repouso e antipiréticos.
Escarlatina: Penicilina Benzatina IM 600.000 – 1.200.000UI. Se
alérgico a penicilinas: eritromicina por 10 dias
Doença de Kawasaki: Fase aguda: imunoglobulina (2g/kg, EV, em
12h, podendo repetir dose se refratariedade), AAS em dose anti-
inflamatória (30-80mg/kg/dia por 14 dias). Fase convalescença: AAS
em dose antiagregante plaquetário (3-5mg/kg/dia por 6 a 8
semanas). Trombose coronariana aguda: terapia fibrinolítica.
Dengue: grupo A – suporte com soro de reidratação oral (menores
de 2 anos oferecer 50-100ml, maiores de 2 anos oferecer 100-200ml
e adolescentes oferecer 60-80ml/kg/dia) e sintomáticos domiciliares
(exceto AAS e AINEs como o ibuprofeno). Grupo B – suporte com
hidratação oral supervisionada em unidade de saúde e sintomáticos
domiciliares, se alterações hematimétricas, hidratação IV. Grupo C e
D: expansão volêmica (20ml/kg em duas horas, podendo ser repetida
três vezes) e manutenção da hidratação IV e reposição de perdas
(podendo utilizar a fórmula de Holliday-Segar). Encaminhar para
atenção terciária da saúde.
Chikungunya: uso de sintomáticos como suporte. Recomenda-se
ingestão de líquido abundante e repouso absoluto. Não utilizar
AINEs, corticosteróides e AAS.
Zika: o tratamento é de suporte com sintomáticos – uso de
analgésicos e antitérmicos como paracetamol e dipirona, além de
anti-histamínicos em caso de prurido.

DOSES DOS ANTIPIRÉTICOS


DIPIRONA: 10-12 MG/KG/DOSE. Apresentação gotas do produto
referencia – 1 gota contém 25mg, portanto, 1 gota/Kg de peso a
cada 4-6 horas.

112
PARACETAMOL: 10-15MG/KG/DOSE, no máximo 75MG/KG/DIA. A
cada 6 horas.
IBUPROFENO: 5-10MG/KG/DOSE. Efeito anti-inflamatória: 15-
20MG/KG/DOSE, a cada 6 horas.

PROFILAXIA PÓS EXPOSIÇÃO


Sarampo: se menor de 3 dias do contato, faz-se vacina nos maiores
de 6 meses de vida sem doença e contraindicação. Se menor de 6
dias de exposição em menores de 6 meses de vida, gestante e
imunodeprimidos, se faz imunoglobulina.
Rubéola: grupos de alto risco – vacina tríplice viral em até 72h após
exposição.
Eritema infeccioso: não há.
Exantema súbito: não há.
Síndrome de mão-pé-boca: não há.
Varicela: vacina de bloqueio < 5 dias da exposição nos suscetíveis,
controle de surtos, > 9 meses e sem contraindicação.
Imunoglobulina hiperimune antivírus varicela zoster (IGHAVZ) até 4
dias de exposição para imunodeprimidos, gestantes, RNPT (mãe sem
história de varicela e/ou < 28 semanas ou < 1.000g), RN cuja mãe
apresentou varicela entre 5 dias antes e 2 dias após o parto.
Mononucleose: não há.
Escarlatina: não há.
Doença de Kawasaki: não há.
Dengue: não há.
Chikungunya: não há.
Zika: não há.

113
EMERGÊNCIAS
CONVULSIVAS

Isabella Batista da Rosa

Natalia Tognon
Emergências Convulsivas

INTRODUÇÃO

A crise epiléptica é a emergência neurológica mais frequente na


pediatria. Até os 16 anos, de 4 a 10% da população apresentarão
pelo menos um episódio, e de 2 a 5% das crianças até 5 anos
apresentarão crises febris. Além disso, quanto maior o tempo de
crise, maior a sua morbimortalidade. Portanto, a importância
de saber reconhecer e prover o tratamento adequado
rapidamente.

DEFINIÇÕES

Crises epilépticas: evento neurofisiológico, provocado por


descargas neuronaisg excessivas, anormais e síncronas. Podem
ocorrer de modo espontâneo ou secundário a eventos exógenos.
A manifestação clínica está relacionada à área cortical acometida,
podendo ser motora, sensitiva, autonômica ou psicomotora.
Convulsões: são as crises epilépticas com manifestações
motoras
Estado de Mal Epiléptico (EME): atividade convulsiva contínua
com duração superior a 30 minutos ou quando há duas ou mais
crises epilépticas sequenciais sem total recuperação do nível de
consciência entre elas.
PRINCIPAIS CAUSAS

Crises febris;

115
Epilepsia;
Infecções do sistema nervoso central;
Asfixia perinatal e encefalopatia hipóxico-isquêmica não
progressiva;
Hipoglicemia;

Distúrbios eletrolíticos
(principalmente hipocalcemia, hipomagnesemia, hipernatremia);

Deficiência de piridoxina;
Erros inatos do metabolismo;
Traumatismo cranioencefálico;
Hemorragia intracraniana;
Acidente vascular cerebral;
Intoxicações exógenas ou abstinência a álcool ou
drogasantiepilépticas;
Tumores do sistema nervoso central;
Hiperviscosidade sanguínea.

116
QUADRO CLÍNICO

Movimentos tônicos, clônicos ou tônico-clônicos;


Perda de consciência;
Perda do controle esfincteriano;
Movimento anômalo dos olhos;
Presença de aura;
Após a crise, pode ocorrer o período pós-ictal com confusão
mental, irritação e sensação de cansaço.

DIAGNÓSTICO

Deve-se investigar possíveis fatores desencadeantes nas crises


sintomáticas agudas, como:
Doença sistêmica atual (febre ou infecção)
Sintomas neurológicos (convulsões prévias)
Trauma
Ingestão de medicamentos
Doenças crônicas

117
EXAMES COMPLEMENTARES

São guiados de acordo com a história clínica e o exame físico


realizado.
Glicemia capilar (imediatamente na admissão)
Eletrólitos e gasometria atrial
Hemograma e hemocultura (pesquisa de foco infeccioso)
Triagem toxicológica (quando não há causa aparente)
São guiados de acordo com a história clínica e o exame físico
realizado.
● Exame de urina
● Ureia e creatinina sérica
● Nível sérico de medicação antiepiléptica
● Amônia sérica e pesquisa de erros inatos do metabolismo (em
casos com sinais de doença sistêmica sem causa identificada)
● Líquor (se presença de sinais de irritação meníngea, ou toxemia,
período pós-ictal prolongado ou alteração mantida da
consciência, ou crises no período pós-ictal prolongado
ou alteração mantida da consciência, ou crises no
período neonatal; Contraindicada se houver suspeita de
hipertensão craniana)

118
Indicações de exame de neuroimagem:

História ou sinal de trauma


Sinais de hipertensão intracraniana
Crises focais
Déficits neurológicos focais
Período pós-ictal prolongado
Estados de imunossupressão
Estados hipercoaguláveis
Doenças hemorrágicas

Indicações de exame de neuroimagem:

Prioridades no cenário de emergência: interrupção da crise (evitar o


estado de mal epiléptico); prevenção de complicações e sequelas;
investigação da etiologia e tratamento das causas agudas.

Medidas iniciais gerais:


1. Suporte de vida (ABCDE)
2. Monitorizar
3. Ofertar oxigênio adicional
4. Estabelecer acesso venoso
5. Dosar glicemia
6. Checar temperatura corporal
Medicações: devem seguir a sequência, conforme a tabela abaixo,
até a interrupção da crise.

119
TEMPO MEDICAÇÃ
O

Entre 0 a 5 min 1ª dose de benzodiazepínico:


Diazepam - 0,2 a 0,5 mg/kg/dose EV ou retal

OU
Midazolam - 0,1 a 0,4 mg/kg/dose EV, IM ou IN

* O Fenobarbital é a primeira opção em recém-nascidos.

Entre 5 a 10 min 2ª dose de benzodiazepínico:

- Diazepam ou Midazolam

*Considerar 3ª dose de benzodiazepínico, se a 1ª foi


administrada por via alternativa

Entre 10 a 30 min 1ª dose de Fenitoína:

• Fenitoína - 20 mg/kg/dose EV, dose máxima750mg,


infundir em 20 min (1mg/kg/min)

A partir de 30 min Completar a dose da Fenitoína:

• Fenitoína – 5 a 10 mg/kg/dose EV, pode serrepetida até


30 mg/kg de dose total

A partir de 40 min 1ª dose da Fenobarbital:

• Fenobarbital – 10 mg/kg EV, pode ser repetido até de 40


mg/kg, com intervalo de 15 minutos entre as doses

*Solicite vaga de UTI, considere IOT e suporte


hemodinâmico

A partir de 60 min EME Considerar as opções:


refratário - 120
Midazolam EV contínuo (1 a 30 mcg/kg/min)

- Tiopental EV 1 a 3 mg/kg/hora
750mg, infundir em 20 min (1mg/kg/min)

A partir de 30 min Completar a dose da Fenitoína:


● Fenitoína – 5 a 10 mg/kg/dose EV, pode ser
repetida até 30 mg/kg de dose total

A partir de 40 min 1ª dose da Fenobarbital:


● Fenobarbital – 10 mg/kg EV, pode ser repetido
até de 40 mg/kg, com intervalo de 15 minutos
entre as doses

*Solicite vaga de UTI, considere IOT e suporte


hemodinâmico

A partir de 60 min Considerar as opções:


EME refratário ● Midazolam EV contínuo (1 a 30 mcg/kg/min)
● Tiopental EV 1 a 3 mg/kg/hora
● Propofol EV 5 mg/kg/hora
● Tratamento específico de distúrbios orgânicos
- EEG contínuo
- Neuroimagem quando oportuno

- Interconsulta com especialista

121
ICTERÍCIA
NEONATAL

Nathalia Wicher Sestito


Beatriz Almeida de Arruda
Bruna Basaglia
Icterícia Neonatal

DEFINIÇÃO

A icterícia é um dos sinais mais frequentes no período neonatal e


apresenta-se como a coloração amarelada da pele, esclera e
membranas mucosas, indicando aumento da bilirrubina sérica com
acúmulo de bilirrubina nos tecidos.
Trata-se da expressão clínica da hiperbilirrubinemia, que é definida
como a concentração sérica da bilirrubina indireta (BI) maior que 1,3 a
1,5 mg/dl ou de bilirrubina direta (BD) superior a 1,5 mg/dl, desde que
esta represente mais do que 10% do valor da bilirribina total (BT).
No recém-nascido, na maioria das vezes, a icterícia decorre do aumento
da fração indireta da bilirrubina e reflete uma adaptação, considerada
fisiológica, do metabolismo desta bilirrubina no período de transição
fetal para a vida neonatal e apresenta evolução benigna, entretanto,
algumas vezes, decorre de um processo patológico, podendo alcançar
concentrações com níveis críticos elevados de BI, instalando-se o quadro
de encefalopatia bilirrubínica, o que ao exame anátomo- patológico
caracteriza-se pela coloração amarelada dos núcleos da base,
denominado kernicterus.

FATORES DE RISCO PARA HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA

Dificuldade no aleitamento materno;

Incompatibilidade materno-fetal Rh (antígeno D), ABO ou antígenos


irregulares;

123
Diabetes Materno;

Prematuridade;

Perda de peso > 7% em relação ao peso de nascimento;

Clampeamento do cordão umbilical > 60 segundos após o nascimento;

Descendência Asiática;

Sexo Masculino

Cefalohematomas ou equimoses

Irmão com icterícia neonatal tratado com fototerapia

QUADRO CLÍNICO

Coloração amarelada da pele, esclera ou mucosas do RN;

Pode ser realizada manobra de digito pressão na pele para facilitar a


visualização;

Progressão céfalo-caudal;

124
Classificada nas Zonas de Kramer:

TRIAGEM INICIAL

- Icterícia nas primeiras 24-36 horas de vida: alerta para doenças


hemolíticas por incompatibilidade sanguínea materno-fetal ao antígeno
D do sistema Rh, aos antígenos A ou B do sistema ABO ou aos antígenos
eritrocitários irregulares;
Icterícia Prolongada: importante diferenciar se a icterícia é por aumento
de bilirrubina direta ou indireta. Ressalta-se que a icterícia colestática é
sempre patológica e indica disfunção hepatobiliar.

125
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: EXAMES DE TRIAGEM

- Dosagem sérica da bilirrubina: Bilirrubinas total e frações (BTF) -


bilirrubina direta (BD) e indireta (BI);

- Tipagem sanguínea da mãe e do RN quanto aos sistemas ABO e


Rh (antígeno D)
- Pesquisa de anticorpos maternos anti –D (Coombs indireto) se mãe
Rh negativo
- Coombs Direto do RN
- Hemograma completo (evidenciar infecção, anemia e policitemia)
- Pesquisa de anticorpos anti-A ou anti-B = teste do Eluato no RN,
se mãe tipo O com RN tipo A ou B.
- Pesquisa de anticorpos maternos para antígenos irregulares
(anti- c, anti-E, anti-Kell) se RN com Coombs Direto positivo.
- Contagem de reticulócitos,
- Dosagem sanguínea quantitativa de G6PD (glicose-6-fosfato
desidrogenase),
- Dosagem sanguínea de TSH
- Morfologia das hemácias, retículócitos e esferócitos;

TRATAMENTO

≥ 35 semanas: Fototerapia
- Considera dosagem periódica da BT, a idade gestacional, as horas de
vida e presença de sintomas neurológicos;
- Diminuir em 2 mg/dl o nível de indicação de fototerapia se: doença
hemolítica (Rh, ABO ou outros antígenos), deficiência G6PD, asfixia,
letargia, instabilidade na temperatura, sepse, hipoglicemia, acidose ou
albuminemia < 3g/dl.

126
Qualquer ictericia 24-36h de vida:
- Se BT > percentil 95 (zona alto
risco): Iniciar fototerapia

Icterícia > 36H de vida e ≥ zona 2:


- Se BT entre percentil 75 e 95 (zona
risco intermediário alto): considerar
fototerapia conforme IG

Ictericia até zona 1 até 48h vida:


- Reavaliar fatores de risco

Idade Bilirrubina total (mg/dl)

35 0/7 – 37 6/7 ≥ 38 semanas


semanas

127
24 horas 8 10

36 horas 9,5 11,5

48 horas 11 13

72 horas 13 15

96 horas 14 16

5 a 7 dias 15 17

≥ 35 semanas: Exsanguinotransfusão
- Redução rápida dos níveis sanguíneos de bilirrubina; retirada de
hemácias que sofrerão hemólise e repõe as hemácias removidas por
outras livres. Pouco utilizada na prática;
- Se houver indicação de EST, iniciar imediatamente a fototerapia de
alta intensidade, repetir a dosagem de BT em 2-3 horas e reavaliar a
indicação de EST.
- A EST deve ser realizada imediatamente se houver sinais de
encefalopatia bilirrubínica ou se BT 5 mg/dL acima dos níveis referidos;

128
Idade Bilirrubina total (mg/dl)

35 0/7 – 37 6/7 ≥ 38 semanas


semanas

24 horas 15 18

36 horas 16 20

48 horas 17 21

72 horas 18 22

96 horas 20 23

5 a 7 dias 21 24

< 35 semanas: Fototerapia e exsanguinotransfusão de acordo


com IG corrigida

129
- Aplicar os valores inferiores referidos para RN pré-termos nas
seguintes condições: doença hemolítica (Rh, ABO, outros antígenos);
deficiência de G-6-PD; albumina sérica <2,5 g/dL; rápido aumento da
BT; instabilidade clínica com ≥ 1 critério: pH <7,15; ventilação
mecânica; sepse/meningite ou apneia/bradicardia com necessidade de
ventilação ou drogas vasoativas nas últimas 24h antes do início da
fototerapia ou EST.
- RN ≤1000g ou IG ≤26 semanas: indicar fototerapia profilática até 12
horas após o nascimento com irradiância espectral padrão de 8-10
mW/cm2/nm

IG corrigida Bilirrubina total (mg/dl)


(sem)

Fototerapia Exsanguineotransfusão

< 28 5-6 11 – 14

28 0/7 – 29 6/7 6–8 12 – 14

30 0/7 – 31 6/7 8 – 10 13 – 16

32 0/7 – 33 6/7 10 – 12 15 – 18

130
34 0/7 – 34 6/7 10 – 12 17 – 19

< 35 semanas: Fototerapia e Exsanguinotransfusão para RN


baixo peso

Peso Bilirrubina total (mg/dl)

Fototerapia Exsanguineotransfusão

500 – 750 g 5–8 12 – 15

750 – 1000g 6 – 10 >15

1000 – 1250g 8 – 10 15 – 18

1250 – 1500g 10 – 12 17 – 20

1500 - 2500g >12 17 – 25

131
INFECÇÃO DE VIAS
AÉREAS
SUPERIORES
- IVAS -

Carolina Baptista Rinaldi


Carolina Michetti Otaviano
Infecções de
Vias Aéreas
Superiores

DEFINIÇÃO
As Infecções de Vias Aéreas Superiores (IVAS) são uma das
causas mais comuns de
atendimento médico pediátrico, tendo uma morbidade
elevada quando em comparação àsIVAS em adultos
devido a fatores como: baixa imunidade e devido ao
tamanho das vias
aéreas, que pode levar ao desconforto ou insuficiência
respiratória com maior frequência.
Doenças mais comuns: Otite Média Aguda (OMA);
Faringite e Tonsilite Agudas;
Rinossinusites Bacterianas; Crupe Viral; Supraglotite;
Traqueíte Bacteriana.

FATORES DE RISCO
OMA: frequentar creche, predisposição familiar, tabagismo
passivo, desmame precoce, baixo
nível socioeconômico, < 2 anos, sexo masculino, alterações
anatômicas e uso de chupeta.
FARINGITE E TONSILITE AGUDAS: contato direto com
doente por secreção respiratória,
5-11 anos de idade.
RINOSSINUSITES BACTERIANAS: frequentar creche,
tabagismo passivo, antecedente
pessoal de rinite alérgica, e infeção viral de vias aéreas
superiores prévia.
CUPRE VIRAL: lactentes e pré-escolares.

133
SUPRAGLOTITE: crianças imunocomprometidas e maiores que
7 anos.
TRAQUEÍTE BACTERIANA: traqueostomia, sexo masculino.

QUADRO CLÍNICO
OMA: otalgia, irritabilidade, manipulação excessiva da orelha
em lactentes, choro excessivo,diminuição do apetite, vômito,
diarreia e febre em ¼ dos casos. Na otoscopia -> opacidade
de membrana timpânica, abaulamento, hiperemia e aumento da
vascularização.
FARINGITE E TONSILITE AGUDAS: odinofagia, disfagia,
febre, cefaleia, dor abdominal, náusea e vômito, eritema e
exsudato amigdaliano, hiperemia e edema de faringe e úvula,
além de petéquias em palato e linfadenite cervical anterior em
alguns casos.
RINOSSINUSITES BACTERIANAS: sintomas persistentes de
febre, cefaleia, mialgia,
tosse, coriza e congestão nasal.
CUPRE VIRAL: início súbito de tosse ladrante, estridor
inspiratório, rouquidão e desconforto
respiratório, com início no período noturno. Duração de 3-7 dias.
SUPRAGLOTITE: início abrupto dos sintomas com duração <
24h e toxemia precoce. Desconforto respiratório progressivo
com fadiga, estridor inspiratório, voz abafada, além desensação
de engasgo, salivação profusa, irritabilidade, agitação e
ansiedade. Pode ocorrer
temperaturas até 40°C e sepse.
TRAQUEÍTE BACTERIANA: pródromo viral seguido de tosse
ladrante, rouquidão, estridor
inspiratório, insuficiência respiratória, associado a febre alta e
toxemia.

134
DIAGNÓSTICO
OMA: Um dos critérios - abaulamento moderado ou grave de
membrana timpânica (MT);
otorreia recente não atribuível a otite externa; abaulamento
leve de MT com otalgia recente(<48h) ou hiperemia
importante de MT.

FARINGITE E TONSILITE AGUDAS: Viral - Diagnóstico


Clínico (conjuntivite, coriza, tosse, diarreia, rouquidão, úlceras
orais, exantema viral). * Em caso de dúvidas, realizar teste
rápido para Streptococcus beta-hemolítico do grupo A
(SBHGA).
Estreptocócica - Realizar Teste rápido para SBHGA sempre que
tiver disponível. * Em caso de
teste rápido negativo com clínica muito sugestiva para
SBHGA, confirmar por cultura deorofaringe.
RINOSSINUSITES BACTERIANAS: Um dos três -
Sintomas persistentes (>10 dias sem melhora de tosse
diurna e/ou secreção nasal de qualquer característica); piora
da evolução(nova secreção nasal ou tosse diurna ou febre);
sintomas graves (3 ou mais dias consecutivos de febre maior
ou igual a 39°C e secreção nasal purulenta).
*Realizar exames de imagem em caso de suspeita de
complicação orbitária ou de sistema
nervoso central.
CUPRE VIRAL: Diagnóstico clínico. Sem indicação de realizar
exame de imagem, reservado
apenas para investigação de outra etiologia para sintomas de
crupe.
SUPRAGLOTITE: suspeita clínica com diagnóstico confirmado
por visualização indireta da
epiglote (epiglote em cereja) com laringoscópio flexível.
TRAQUEÍTE BACTERIANA: Diagnóstico inicial é clínico, e
diagnóstico definitivo é por meio
da visualização da traqueia, via broncoscopia rígida.
135
TRATAMENTO
OMA:
Amoxicilina 50 mg/kg dia de 12/12h por 10 dias; se falha
terapêutica ou uso de amoxicilinanos últimos 30 dias:
Amoxicilina 90 mg/kg/dia de 12/12h por 10 dias OU
Amoxicilina + clavulanato 50-80mg/Kg/dia em 2-3 tomadas.
*Em casos de falha terapêutica ou impossibilidade
de tratamento via oral:ceftriaxona 50mg/kg 1x/dia
IM por 03 dias
CONDUTA QUADRO CLÍNICO
Se < 6 meses com
otalgia
Antibiótico e sintomáticos moderada/grave ou
>48h, ou febre maior
ou igual 39°C. Uni ou
Bilateral.
OU
Se 6
meses-2
anos com
otalgia
leve <48h
e febre
<39°C.
Bilateral

Antibiótico OU Observação Se 6
48-72h se piora de febre ou meses-2
se anos com
otalgia, e nova otoscopia otalgia
para considerar antibiótico leve <48h
e febre
<39°C.
Unilateral.
OU

136
Se > 2
anos com
otalgia
leve <48h
e febre
<39°C.
Uni ou
Bilateral.

FARINGITE E TONSILITE AGUDAS:


Sintomáticos + Antibioticoterapia se etiologia estreptocócica
confirmada.
SEM história de alergia à COM história de alergia à
Penicilina Penicilina

137
Cefalexina VO
20 mg/Kg de
12/12h por 10
dias
Penicilina VO 250 mg 8/8h OU
por 10 dias OU Cefadroxila VO
Amoxicilina 50 mg/Kg 30 mg/Kg
1x/dia por 10 dias OU 1x/dia por 10
Penicilina G benzatina dias
IM 600.000 U se <27 OU
Kg, 1.200.000 U se >27 Clindamicina VO
Kg 7 mg/Kg de
8/8h por 10 dias
OU
Azitromicina VO
12 mg/Kg
1x/dia por 5 dias
OU
Claritromicina
VO 7,5 mg/Kg
de 12/12h por
10 dias
RINOSSINUSITES BACTERIANAS:
*Amoxicilina 50 mg/Kg/dia VO 12/12h
*Amoxicilina + Clavulanato 50-80mg/kg/dia, divididos
de 12/12h se paciente frequentacreche ou uso de
amoxicilina nos últimos 30 dias ou <2 anos
*Ceftriaxone 50 mg/Kg IM ou IV se não aceitação de
medicação VO
*Cefuroxima 30 mg/Kg/dia VO 12/12h se alergia à amoxicilina
*Claritromicina 15 mg/Kg/dia VO 12/12h ou
azitromicina VO 10 mg/Kg/dia no 1° dia e 5 mg/Kg/dia
nos 4 dias subsequentes se reação de
hipersensibilidade tipo I à amoxicilina

138
CUPRE VIRAL:
Cuidados gerais - nebulização com SF 0,9% apenas se não
causar mais agitação na criança.Corticosteroides -
dexametasona IM dose única de 0,15-0,6 mg/Kg para
todas as crianças com sintomas de leves a graves.
Epinefrina inalatória - Em caso de sintomas moderados
ou graves. 3-5 ml da formulação1:1.000 independente
de idade e peso, podendo repetir dose se necessário a
cada 4h.
Intubação - Em ambiente bem controlado em caso de
paciente com obstrução de via aérea
iminente.
SUPRAGLOTITE:
Intubação - em ambiente controlado com cânula
traqueal 0,5-1 mm menor que a preditapara a idade.
*Cefuroxime, ceftriaxona ou cefotaxime para cobertura do
Hib
*Penicilina para cobertura de S. pyogenes.
*Oxacilina ou cefalotina para cobertura de S. aureus.
TRAQUEÍTE BACTERIANA:
Intubação - em ambiente controlado quando necessário.
Antibioticoterapia - Oxacilina e cefalosporina de
terceira geração IV em casos graves. Vancomicina se
suspeita de bactéria resistente.

139
INFECÇÃO DO
TRATO URINÁRIO
- ITU -

Cibele Alexandra Ferro


Maria Luiza de Biasi Alves
Infecção do Trato Urinário
DEFINIÇÃO
Infecção proveniente da proliferação de agente infeccioso dentro do
trato urinário.
➢ Infecção na bexiga: cistite
➢ Infecção dos rins e pelve renal: pielonefrite

FATORES DE RISCO
Idade inferior a 1 ano (principalmente menores de 3m)
Raça branca
Sexo feminino
Obstrução urinária
Disfunção vesico-intestinal
Constipação
Refluxo vesicoureteral
Presença de prepúcio não retrátil (fimose)

ETIOLOGIA
Enterobactérias (principal é a Escherichia coli)
Klebsiella pneumoniae
Streptococcus faecalis
Proteus mirabilis: cálculo de estruvita
Pseudomonas: imunossuprimidos e manipulação do trato urinário
Staphylococcus saprophyticus : adolescentes do sexo feminino

CLÍNICA CISTITE
Recém-nascidos e lactentes (CISTITE E PIELONEFRITE): sintomas
inespecíficos: deficiencia do ganho ponderal, irritabilidade ou letergia,
anorexia, diarréia, distensão abdominal, vômitos, febre elevada
(superiro a 39°C)
Pré-escolares e escolares (CISTITE): disúria, polaciúria, urgência

141
miccional, incontinência urinária, desconforto supra-púbico e febre
baixa (menor ou igual a 38°C)
Pré-escolares e escolares (PIELONEFRITE): comprometimento do
estado geral, prostração, inapetência, dor lombar referida ou notada
pelo sinal de Giordano (leve percussão no ângulo costovertebral com
o punho fechado), calafrios, vômitos e febre alta (maior que 38,5°C).

DIAGNÓSTICO
Urina 1 / EAS / Sumário de urina: sinais de inflamação e marcador da
presença de bactéria
Cultura quantitativa da urina: exame obrigatório para dar o
diagnóstico de ITU - *Crescimento de 100.000 UFC/ml ou mais indica
infecção de urina
Exames complementares: hemograma, proteína C reativa (para
avaliação de pielonefrite)

TRATAMENTO
Sempre colher urocultura antes
Cistite: 7-10 dias.
➢ Ambulatorial:
- Sulfametoxazol-trimetoprim (200 mg+ 40 mg/5 ml): 8-12 mg/kg/dia
de TRIMETOPRIMA, VO, dividido de 12/12 horas
- Nitrofurantoina (100 mg/cp): 5-7 mg/kg/dia, VO, dividido de 6/6
horas
- Cefalexina (250 mg/5 ml): 50-100 mg/kg/dia, VO, dividido de 6/6
horas
- Amoxicilina (250 ou 400mg/5ml): 50-100mg/kg/dia, em 2-3 doses;
- Amoxicilina-clavulanato (250 ou 400 mg/5ml): 40-50mg/kg/dia, em
3 doses
- Cefuroxima (250mg/5ml): 30mg/kg/dia em 2 doses

142
Pielonefrite: 7-14 dias.
➢ Ambulatorial (não realizar nitrofurantoina):
-

Cefuroxima (250 mg/5 ml): 30 mg/kg/dia, VO, dividido de 12/12


horas
- Cefaclor (250 mg/5 ml): 40 mg/kg/dia, VO, dividido de 8/8 horas
➢ Hospitalar: para quadros graves e menores de 3 meses:
- Ceftriaxona (1g/ml): 70 – 100mg/kg/dia IV ou IM, em 1-2 doses
- Amicacina: 15mg/kg/dia, IV ou IM, em 1-3 doses
- Gentamicina: 7,5mg/kg/dia, IV ou IM, em 1-3 doses
- Cefazolina: 25-50mg/kg/dia, IV, em 3 doses
- Cefotaxima: 50-150mg/kg/dia, IV, em 3-4 doses

QUANDO INDICAR EXAMES DE IMAGEM:


Ultrassonografia de rins e vias urinárias (USG) em pronto socorro:
com evolução desfavorável nos 2 primeiros dias de
antibióticoterapia. ITU com quadro sistêmico grave ou sepse, doença
renal prévia, história de litíase ou crurgia do aparelho
urinário, massas abdominas e vesicais
1ª pielonefrite 2-24 meses: USG do aparelho urinário
Após 2ª pielonefrite: Uretrocistografia Miccional

143
OBSTRUÇÃO DAS
VIAS AÉREAS POR
CORPO ESTRANHO
- OVACE -

João Pedro Sousa Piantamar


Gabriela Honorato dos Santos
Obstrução de Vias Aéreas por
Corpo Estranho (OVACE)

DEFINIÇÃO

A obstrução de vias aéreas por corpo estranho (OVACE) é um evento


grave, súbito e comum na faixa pediátrica, consistindo em uma das
principais causas de acidentes seguidos por morte em lactentes e
crianças no Brasil.
A OVACE pode ser classificada em leve (parcial), quando ainda há
alguma passagem de ar, ou grave (total), se obstrução completa das
vias aéreas. O quadro pode evoluir com dificuldade respiratória e,
progressivamente, parada cardiorrespiratória (PCR) se não houver
intervenção adequada.
Assim, o diagnóstico precoce da OVACE é determinante, pois o
retardo no seu reconhecimento e tratamento pode causar sequelas
irreversíveis ou até mesmo levar a vítima a óbito.

CAUSAS

Em bebês, as causas mais frequentes de obstrução de vias aéreas


são: alimentos como pipoca, nozes, amendoim, milho e, sobretudo,
líquidos, como leite e material vomitado.

Nas crianças maiores, as principais causas são: balões, bexigas,


alimentos e pequenos objetos domésticos.

145
QUADRO CLÍNICO

A obstrução das vias aéreas pode ser parcial ou total.

Os casos de obstrução parcial da via aérea são menos graves, já que


o bebê pode ser capaz de manter trocas gasosas. Os sinais clínicos
são: desconforto respiratório de leve a moderado; respiração
ruidosa; tosse com sibilos e estridores. Ainda é possível emitir sons,
chorar ou tossir.

Já nas obstruções totais, a gravidade é consideravelmente maior,


tendo em vista que as trocas gasosas são insuficientes, podendo
evoluir para um quadro de parada cardiorrespiratória em pouco
tempo. A vítima, nesse caso, apresenta: início súbito de dificuldade
respiratória acentuada; agitação; choro silencioso ou fraco; tosse
silenciosa ou inefetiva; ruídos respiratórios estridentes ou gementes;
cianose; inconsciência; e pode não haver movimentos respiratórios.

DIAGNÓSTICO

Deve-se atentar para a história e o quadro clínico apresentado. Um


relato consistente de aspiração de corpo estranho é considerado
diagnóstico, sendo que qualquer criança dentro do contexto
apropriado, com início súbito de engasgo, estridor ou sibilos, tem
aspiração de corpo estranho até que se prove o contrário.

146
EXAMES COMPLEMENTARES

● Radiografia Tórax: em pacientes estáveis. Pode haver


hiperinsuflação, atelectasias, consolidação pulmonar e
barotrauma.
● Fluoroscopia
● Tomografia Computadorizada
● Broncoscopia

TRATAMENTO

OVACE leve (parcial):


● Permita que a criança limpe a via aérea através da tosse;
● Fornecer o suporte necessário;
● Observar por sinais de obstrução grave (total).

OVACE grave (total):


● Se consciente, execute manobras (listadas a seguir) até que
o corpo estranho seja expelido ou que a criança se torne
inconsciente.

Crianças < de 1 ano responsivas e com obstrução grave:


● Apoiar a vítima deitada com a cabeça levemente mais baixa
do que o tórax em seu antebraço, apoiando a cabeça e a
mandíbula da mesma com a mão.
● Realizar ciclos repetidos de 5 golpes entre as escápulas com
a região hipotênar da mão

147
● Virar o bebê e realizar 5 compressões torácicas logo abaixo
da linha intermamilar, até que o objeto seja expelido ou a
vítima se torne não responsiva (Fig. 1).
● A cada ciclo de golpes nas costas e compressões torácicas,
deve-se inspecionar visualmente as vias aéreas quanto à
presença de corpo estranho e retirá-lo somente se estiver ao
alcance dos dedos. Não se deve tentar retirar objetos às
cegas.
● Não se recomenda a realização de impulsos abdominais em
bebês por risco de danos ao fígado.

Crianças ≥ 1 ano, responsivas e com obstrução grave:


● Realizar manobras de compressão abdominal – manobra de
Heimlich: posicionar-se atrás da criança, ajoelhar-se e
enlaçar com os braços ao redor do abdome (Fig. 2).
● Realizar as compressões até que a obstrução seja resolvida
ou que a criança se apresente inconsciente.

Bebê/criança não responsiva e não respira (ou Gasping):


● Solicitar ajuda para acionar o sistema médico de
emergência;
● Iniciar as manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP):
● Começar pelas compressões torácicas (não checar pulso).
● Após 2 minutos de RCP, acionar o serviço de emergência se
alguém ainda não o tiver feito.
● Retirar corpo estranho que esteja visível e alcançável
quando a via aérea for aberta para realizar as ventilações.

148
● Se o objeto for expelido ou ocorra passagem do ar
(expansão torácica) e respiração espontânea, oferecer
oxigênio por máscara.
● Em caso de piora, a vítima pode precisar ser intubada ou, se
sem sucesso, passar por traqueostomia de emergência.

149
150
QUEIMADURAS EM
CRIANÇAS

Layra Rayanne de Oliveira Ferraz Santos


Maria Luiza de Biasi Alves
Emil Tannous Elias
Queimaduras em crianças
DEFINIÇÃO
Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, a queimadura
é uma lesão que possui diversos agentes como causa, capaz de
provocar danos desde a pele até tecidos mais profundos. Esta injúria
tecidual desencadeia sofrimento responsável pela sensação
dolorosa, sintoma presente durante todas as fases do trauma.

EPIDEMIOLOGIA
As queimaduras são a segunda causa mais frequente de acidentes
na infância, além de serem as maiores causas de morbimortalidade
nos acidentes por trauma, com a maioria dos casos ocorrendo na
faixa etária de 0 a 4 anos. A elevada incidência de queimaduras em
menores de idade está relacionada à própria fase de
desenvolvimento neuropsicomotor da criança, fatores
socioeconômicos e à vigilância incongruente dos pais ou
responsáveis, em que uma pequena desatenção dos adultos acaba
por torná-las expostas aos riscos das queimaduras.
Estima-se que no Brasil ocorrem um milhão de casos de queimaduras
a cada ano, sendo 30% em crianças. Aproximadamente 100 mil
vítimas necessitam de atendimento hospitalar e 2,5 mil vão a óbito,
e por isso figuram entre as principais causas externas de morte.

CAUSAS
● Escaldadura (queimadura por líquidos quentes) – é a principal
causa em menores de 5 anos.
● Contato com fogo e objetos quentes – as queimaduras por
chamas são mais graves, atingem maior extensão e

152
profundidade da pele. O álcool é um importante agente
causador.
● Queimadura provocada por substâncias químicas – a ingestão
de soda cáustica continua sendo a maior fonte de queimaduras
químicas em crianças. As pequenas pilhas, as baterias de
relógios e de aparelhos eletrônicos representam perigo por
possuir conteúdo corrosivo.
● Queimadura por exposição à eletricidade – os acidentes por fios
e aparelhos elétricos acometem mais as crianças menores de 5
anos. Também são vítimas os adolescentes que ao empinar ou
retirar pipas da rede elétrica têm contato com fios de alta
tensão.
● Exposição excessiva ao sol.

QUADRO CLÍNICO

Além dos eventuais politraumas e lesões inalatórias, o quadro


principal da queimadura é o comprometimento funcional da pele,
responsável pela homeostase hidroeletrolítica, controle da
temperatura interna, flexibilidade e lubrificação da superfície
corporal. A magnitude do comprometimento dessas funções
depende da extensão e profundidade da queimadura, devendo ser
classificada para determinar o tratamento de acordo com a
gravidade.

CLASSIFICAÇÃO
As queimaduras são classificadas de acordo com a área total do
corpo afetada e a profundidade. O tratamento, prognóstico e
encaminhamento são determinados pelo tamanho e localização das
mesmas.

153
1. Segundo a extensão:
◆ O diagrama de Lund-Browder (Figura 1) é o mais utilizado para
avaliar a extensão da queimadura em crianças, porque leva em
consideração as mudanças nas proporções corporais com a
idade.
◆ Regra da mão espalmada A superfície da mão da criança pode
ser utilizada para calcular a extensão de queimaduras
irregulares ou não confluentes, considerando-se que a área da
mão (incluindo os dedos) equivale a 1% da superfície corporal.
◆ Independentemente do método usado para calcular a extensão,
só áreas com queimaduras parciais e profundas devem ser
envolvidas nos cálculos.
IDADE
Parte do corpo 0 ano / 1 ano / 5 anos / 10 anos / 15 anos
a = ½ cabeça 9½ 8½ 6½ 5½ 4½
b = ½ coxa 2¾ 3¼ 4 4¼ 4½
c = 1/2 perna inferior 2 ½ 2½ 2¾ 3 3 ¼

(Figura 1 - Site: Manual MSD (Diagrama de Lund-Browder (para niños) para estimar
el alcance de las quemaduras); Visualizada em 08/10/2023)

154
2. Segundo a profundidade:

◆ Em relação à profundidade, as queimaduras podem ser


classificadas como superficiais ou primeiro grau, segundo grau
superficial de espessura parcial, segundo grau profunda de
espessura parcial, profunda de espessura total (terceiro grau) e
quarto grau.

⮚ Primeiro grau (espessura superficial):


✔ Atinge a camada superficial da pele (epiderme);
✔ Apresenta rubor, calor e dolor, mas não forma bolhas (Exemplo:
exposição ao sol por períodos prolongados);
✔ A cura espontânea ocorre em 3 a 6 dias, sem deixar cicatrizes.

⮚ Segundo grau (espessura parcial-superficial e profunda):


✔ Atinge mais profundamente a pele (epiderme e derme);
✔ Apresenta dor, rubor e forma bolhas. O edema (inchaço) e a dor
são importantes (Exemplo: queimaduras por líquidos quentes);
✔ A evolução depende da gravidade das lesões:
- Superficial: a base da bolha é rósea, úmida e dolorosa;
- Profunda: a base da bolha é branca, seca e com pouca dor/indolor;
- A restauração das lesões ocorre entre 7 e 21 dias.

⮚ Terceiro grau (espessura total):


✔ Atinge todas as camadas da pele (epiderme, derme, tecido
subcutâneo, tendões, ligamentos, músculos e até ossos).
✔ A ferida é seca, de coloração branca ou marrom, com dor menos
intensa/indolor (devido aos danos nos nervos - Exemplo:
queimaduras por chama, químicas e elétricas);
✔ O tratamento é complexo, exigindo cirurgia plástica reparadora
com enxerto de pele.

155
TRATAMENTO
Quando o processo de queimadura é interrompido, inicia-se o
tratamento dentro da sala de emergência. Para isso, inicia-se os
passos do trauma com o ABCDE, de acordo com as etapas abaixo:
A) Avaliação das vias aéreas e da coluna cervical:
- Proteção da coluna cervical com o colar cervical e uma prancha
rígida;
- Voz alterada, estridor, roncos e esforço respiratório são sinais de
obstrução de vias aéreas, verifique e retire qualquer tipo de bloqueio;
- Quando não efetiva a desobstrução das vias, as alternativas são a
intubação endotraqueal, a cricotireoidostomia ou a traqueostomia.

B) Respiração:
- Administrar oxigênio a 100% e, na suspeita de intoxicação por
monóxido de carbono, manter a oxigenação por três horas;
- Analisar frequência respiratória, inspeção dos movimentos
torácicos, cianose, desvio de traquéia e observação da musculatura
acessória;
- Se acidente em ambiente fechado, apresentando acometimento da
face, presença de rouquidão, estridor, escarro carbonáceo, dispneia,
queimadura das vibrissas e insuficiência respiratória: suspeitar de
lesão inalatória.
- Independente do caso, manter a cabeceira elevada (30°).
- A intubação orotraqueal (IOT) é indicada quando: a escala de coma
de Glasgow for menor do que 8, a PaO2 for menor do que 60, a
PaCO2 for maior do que 55 na gasometria, a dessaturação for menor
do que 90% na oximetria, houver edema importante de face e
orofaringe.

156
C) Circulação:
- Busca por hemorragia (a maioria é estancada pela compressão
direta do foco, quando essa medida não é suficiente, o torniquete é
uma opção);
- Verificar a perfusão distal e o aspecto circulatório. Mudanças na
coloração da pele, sudorese e diminuição do estado de consciência
podem sugerir perfusão comprometida;

D) Consciência:
- Analisar o nível de consciência, pela escala de coma de Glasgow
(Vítimas com escore entre 3 a 8 precisam ser intubadas);

E) Exposição:
- Exponha a área queimada em um ambiente com temperatura
adequada;
- Aferir a temperatura para prevenir a hipotermia.
Cuidados específicos após o ABCDE:
- Obtenção de um acesso venoso (preferencialmente periférico,
superficial com cateter de polietileno agulhado e calibroso).
- Instalação de uma sonda vesical de demora em crianças com mais
de 10% do corpo queimado.
Tendo feito o ABCDE, o tratamento emergencial continua de acordo
com a gravidade do paciente, uma vez calculada a profundidade e
extensão.
- Primeiro grau: abordagem médica ambulatorial, com controle da
dor e cuidados locais das áreas queimadas com compressas de agua
fria que ajudam na analgesia. Em caso de inflamação, pode usar
corticosteroide tópico.

157
- Segundo e Terceiro grau: a abordagem médica passa por outra
classificação e cabe ao médico determinar se o caso é benigno ou
grave.
Em casos benignos, quando a SCQ é inferior a 10% na criança acima
de 3 anos e ela não possui risco de insuficiência respiratória nem
doenças associadas (diabete, insuficiência cardíaca e insuficiência
renal, entre outras), o atendimento também se torna ambulatorial e
consiste em analgesia imediata, por via endovenosa. Controlada a
dor, procede-se com excisão das bolhas grandes e desbridamento
dos tecidos desvitalizados, realizando uma limpeza profunda da
ferida com clorexidina desgermante a 2% e com administração de
toxoide tetânico para profilaxia/ reforço antitétano. Em seguida faz-
se o curativo, aplicando de preferência gaze vaselinada estéril,
cobrindo com ataduras de gaze e enfaixando-se com bandagem de
crepom sem compressão excessiva.
Nos casos de queimadura grave, a criança apresenta uma ou mais
das condições listadas: mais de 10% da superfície corpórea
queimada, desenvolve um quadro de insuficiência respiratória,
sofreu uma queimadura química ou elétrica, possui politrauma e
doenças prévias associadas, ou possui menos de 3 anos. Diante
desse quadro, todas as medicações devem ser administradas por via
endovenosa, exceto o toxoide tetânico (via intramuscular), por um
acesso venoso superficial e periférico se possível. O atendimento
deve ser realizado em ambiente hospitalar na seguinte ordem:
1. controle da função respiratória (permeabilidade das vias aéreas);
2. reidratação parenteral e vigilância do estado hemodinâmico;
3. tratamento analgésico;
4. acondicionamento do queimado (colocação da sonda gástrica,
proteção da ferida com campo estéril e proteção térmica) para o
transporte à Unidade de Queimados.
Para a hidratação em estado grave, a Fórmula de Parkland é a
ideal, com ela a criança recebe 3ml x % SCQ x peso (Kg) de solução

158
cristaloide, sendo 50% do volume infundido nas primeiras 8hrs e
50% nas 16 horas seguintes (considerando a partir da hora da
queimadura). Evitar o uso de coloide, diurético e drogas vasoativas,
visto que a diurese deve ser mantida entre 0,5 e 1ml/Kg/h.
No tratamento da dor, em todos os níveis, as crianças devem receber
dipirona de 15 a 25 mg/Kg em injeção endovenosa ou 10 mg de
morfina diluída em 9 ml de SF a 0,9%, para administrar 0,5 a 1ml a
cada 10kg do paciente.

PREVENÇÃO
A prevenção das queimaduras em crianças é responsabilidade dos
adultos, sejam seus pais ou aqueles responsáveis pelo cuidado delas,
e deve ser feita principalmente em casa (evitar que a criança fique
exposta a líquidos e metal quente e longe dos materiais inflamáveis),
na via pública (não expor a criança por muito tempo ao Sol ou à
chuva quando há tempestades, que podem provocar choque
elétrico) e na escola (verificar mochilas, pastas ou sacos de crianças,
não levar fósforos ou outros meios de atear fogo).

159
PNEUMONIA EM
CRIANÇAS

Cibele Alexandra Ferro


Maria Luiza de Biasi Alves
Pneumonia Bacteriana
DEFINIÇÃO
Trata-se de doença do trato respiratório inferior, geralmente
causada por um agente infeccioso, e que resulta em inflamação dos
tecidos de um ou de ambos os pulmões, e que traduz uma resposta
do hospedeiro ao agente agressor.

ETIOLOGIA
< 1 - 2 meses: S. agalactiae (grupo B), gram negativos entéricos
A partir 1-2 meses até final de vida: S. pneumoniae e
Staphylococcus aureus (mais comum no primeiro ano de vida,
grave e mais complicações, como derrame pleural e pneumatocele)

CLÍNICA
Pródromos catarrais
Febre alta e tosse
Estertores, aumento do frêmito tóraco-vocal
Percussão macicez
Broncofonia
Pectoriloquia afônica
Taquipneia
Sinais de gravidade: tiragem subcostal, batimento de asas
nasais e gemência.

AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR
Radiografia de tórax: não é obrigatória, indicar nas hospitalizações.
Pode evidenciar consolidações, broncogramaéreo, derrame pleural.
Outros exames: hemograma, hemocultura, marcadores
inflamatórios (VHS, PCR e procalcitonina).

161
INDICAÇÕES DE HOSPITALIZAÇÃO
Idade < 2 meses
Comprometimento respiratório: tiragem subcostal, saturação <92%
Comprometimento do estado geral: incapaz de beber líquido,
vômitos pós-prandial
Doença de base: cardiopatia
Complicações radiológicas: derrame pleural

TRATAMENTO AMBULATORIAL
Maior de 2 meses (por 7-10 dias):
➢ Amoxicilina 250 mg/5 ml – 50 mg/kg/dia, VO, de 8/8 horas
➢ Amoxicilina + Clavulanato (400 mg+ 57 mg/5 ml): 45-90
mg/kg/dia, VO, dividido de 12/12 horas;
*Para crianças que não aceitam medicamentos via oral, uma
alternativa é penicilina procaína IM (50.000 UI/kg/dia, IM, dividido de
12/12 horas ou 24/24 horas; Dose máxima: 1,2 milhões de
unidades/dia)
Reavaliação em 48 horas
Maior de 2 meses E com ALERGIA à Penicilina (por 7-10 dias):
➢ Eritromicina 50 mg/ml – 50 mg/kg/dia, VO, dividido de 6/6
horas;
➢ Claritromicina 50 mg/ml (> 6 meses) – 15 mg/kg/dia, VO,
dividido de 12/12 horas.
Na suspeita de pneumonia atípica:
➢ Azitromicina - 10mg/kg/dia, VO, dose única, por 5 dias;
➢ Claritromicina 50 mg/ml - 7,5 mg/kg/dose, de 12 em 12
horas, por 10 dias.
Nos menores de dois meses, a presença de conjuntivite pode sugerir a
etiologia de C. Trachomatis, e a eritromicina é o antibiótico de
escolha.

162
FALHA APÓS 48-72H
Radiografia para ver se tem complicação;
Se presença de derrame: diferenciar se é exsudato inflamatório ou
empiema.
Realizar toracocentese para avaliar necessidade de drenagem.
Critérios de drenagem a partir de toracocentese: aspecto
purulento; PH < 7,2; glicose < 40 mg/dl; bactérias
TRATAMENTO HOSPITALAR
Se não tiver derrame-> resistencia bacteriana= escalonar esquema
de antibiotico
Menor de 2 meses: ampicilina e gentamicina
Maior de 2 meses: penicilina cristalina IV

163
VÔMITOS:
URGÊNCIAS E
EMERGÊNCIAS

Thiago Salomão Munhoz


Maria Luiza de Biasi Alves
Vômitos
DEFINIÇÃO
É uma resposta reflexa a vários estímulos coordenados pelo sistema
nervoso central que causa a expulsão violenta e forçada do conteúdo
gástrico. Esse processo é acompanhado pela contração do diafragma
e dos músculos abdominais, ao mesmo tempo em que ocorre o
relaxamento da cárdia e a contração do piloro. Pode ser precedido
e/ou acompanhado por náuseas, palidez, sudorese e sialorréia.

CAUSAS
As causas do estímulo para vômito variam de acordo com a idade, e
oscilam entre relativamente benignos até potencialmente fatais.
Pode-se listar:
● Período neonatal imediato: irritação gástrica causada por
material deglutido durante o trabalho de parto, alterações
congênitas do trato digestivo e lesões intracranianas;
● Lactentes: gastrenterite viral aguda, doença de refluxo
gastroesofágico, estenose hipertrófica do piloro, obstrução
intestinal, intussuscepção. Entre as causas menos comuns estão
a sepse, a intolerância alimentar e as disfunções metabólicas;
● Pré-escolar e escolar: síndromes obstrutivas, doenças
gastrointestinais, doenças infecciosas e síndrome dos vômitos
cíclicos.

AVALIAÇÃO CLÍNICA

Na avaliação clínica, é fundamental a realização de anamnese e


exame físico completos, para contribuir com a determinação da
origem e circunstâncias do quadro.

165
Deve-se considerar os seguintes aspectos:
• Idade;
• Fatores de risco;
• História médica (dados recentes);
• Duração (horas ou dias) desde o início dos episódios. Evolução
aguda ou crônica;
• Número de episódios de diarreia ou vômitos e o valor aproximado
de fluidos perdidos;
• Capacidade para ingestão de líquidos;
• Eliminação de urina e estado de hidratação;
• Condição neurológica;
• Horário de ocorrência dos vômitos, e se existe relação com as
refeições;
• Caracterização dos vômitos quanto ao volume e conteúdo (por
exemplo, se tem ou não alimentos);
• Presença de sangue ou bílis nos vômitos;
• Sintomas persistentes ou transitórios? Avaliar tempo entre
sintomas;
• Sintomas associados (febre, perturbações do trato gastrintestinal,
dor abdominal);
• Consumo de alimentos nas últimas 24 ou 48 horas e mudanças no
hábito alimentar;
• Uso de medicamentos e alergias conhecidas;
• História de doença ou cirurgia prévia.

Atentando-se às comorbidades, para melhor elucidação diagnóstica,


deve-se realizar uma revisão dos sistemas buscando:
• Sintomas que causem disfunções, incluindo fraqueza, sucção fraca
e dificuldade para ganhar peso (disfunções metabólicas);
• Atraso na eliminação do mecônio, distensão abdominal, letargia,
cefaleia, rigidez de nuca e distúrbios visuais;

166
• Alimentação excessiva ou sinais de distorção da imagem corpórea
(distúrbios alimentares);
• Exantemas (eczema ou urticária nas alergias alimentares);
• Dores de ouvido e garganta (infecção focal não-gastrointestinal).

TRATAMENTO
O tratamento específico das doenças causadoras das náuseas e
vômitos é o princípio fundamental para o controle das manifestações
gastrointestinais e recuperação clínica do paciente.

O vômito é uma manifestação comum na diarreia aguda


(gastroenterite aguda) em Pediatria. É a principal causa de falha na
terapia de reidratação oral, sendo esse o tratamento mais indicado
para crianças com desidratação leve a moderada devido à diarreia
aguda. Entretanto, se os vômitos persistirem e não houver tolerância
à terapia de reidratação oral, pode ser necessária a reidratação
parenteral para repor as perdas hidroeletrolíticas. Considerar que no
tratamento da gastroenterite aguda é importante, se possível, utilizar
soluções de reidratação oral com baixa osmolaridade, que têm maior
eficácia, proporcionando redução das perdas fecais, diminuição dos
episódios de vômitos e da necessidade de terapia de reidratação
endovenosa. Portanto, deve ser usada como terapia de primeira linha
para o tratamento de crianças com diarreia aguda.

A terapêutica medicamentosa raramente está indicada no controle


dos episódios agudos de vômitos, devido a seus efeitos colaterais e
pela possibilidade de mascarar a causa básica, atrasando o
tratamento definitivo. Nos casos graves e persistentes, contudo, o
emprego de drogas antieméticas pode ser útil, sendo as drogas mais

167
usadas atualmente a ondansetrona, a metoclopramida, a
clorpromazina, o dimenidrato, a domperidona e a bromoprida.
Ademais, vale ressaltar que estudos recentes apontam indicação
estatisticamente significativa apenas de ondansetrona e dimenidrato
para controle de náuseas e vômitos em infantes, sendo os outros
não indicados, sobretudo em virtude de menor eficácia e maior risco
de efeitos colaterais, quando prescritos em suas doses pediátricas
respectivas.

ONDANSENTRONA:
• Via oral:
1. Crianças de 2-11 anos: 4mg 3x por dia
2. Crianças maiores que 11 anos: 8 mg/KG 3x por dia
• Via intravenosa ou intramuscular (crianças de 6m-17anos):
- 0,1 – 0,15mg/kg de 4/4h

DIMENIDRINATO:
• Via oral:
- ≥ 2 a 6 anos: 12,5-25 mg, a cada 6 a 8 horas
- ≥ 6 a 12 anos: 25-50 mg a cada 6 a 8 horas
- ≥ 12 anos: 50-100 mg a cada 4 a 6 horas
Dose máxima: 1-1.5 mg/kg/dose, a cada 6 horas.
• Via intravenosa:
- ≥ 6 a 7 anos: 15-25 mg, 2 a 3 vezes/dia
- ≥ 8 a 12 anos: 25-50 mg, 2 a 3 vezes/dia
- ≥12 anos: 50 mg, 2 a 3 vezes/dia
Dose máxima: 0,5 mg/kg/dose, a cada 6 horas.
• Via intramuscular:
- 1.25 mg/kg/dose, 4 vezes por dia; dose
máxima: 300 mg/dia.

BROMOPRIDA:

168
• Via intravenosa ou intramuscular:
- 0,5-1mg/kg/dia diluídos em 15 ml de SF 0,9% ou SG 5%

• Via oral:
- 0,5-1 mg/Kg/dia divididos 3x por dia
- Gotas: 1-2 gotas/kg 3x/dia.

169

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