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ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS


SOBRE SOLOS MOLES

Maria do Carmo Gomes Cardoso

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri
Presidente: Prof. Jaime Alberto dos Santos

Orientado: Prof. Alexandre da Luz Pinto


Prof. Márcio de Souza Soares de Almeida

Vogais: Profª Laura Maria Mello Saraiva Caldeira


Profª Maria Cascão Ferreira de Almeida

Dezembro de 2013
Agradecimentos
Expresso o meu agradecimento a todos os que de alguma forma contribuíram para a elaboração do
presente trabalho, em especial:

- À minha Família que me apoiou e possibilitou a minha ida para o Rio de Janeiro estudar e
desenvolver este trabalho.

- À professora Maria Cascão e aos professores Márcio Almeida e Alexandre Pinto que me
orientaram no desenvolver deste trabalho e que confiaram nas minhas capacidades.

- A todos os meus colegas, em especial a minha colega e amiga Marta Bento, que ao longo de
todo o curso me motivaram a continuar a tentar ser melhor.

I
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
Resumo
Com a expansão dos centros urbanos, perto de zonas fluviais, tem levado á necessidade de construir
sobre solos compressíveis. Nesse sentido o trabalho desenvolvido nesta dissertação tem como
objectivo estudar o comportamento de aterros de aproximação a encontro de pontes sobre solos
argilosos com especial foco na respectiva fundação.

Para o estudo do comportamento de aproximação a aterros de encontro de pontes entendeu-se que o


melhor seria desenvolver várias soluções e posteriormente modela-las através do software Plaxis 2D
e assim analisar os resultados. Estipulou-se um conjunto de dados base iguais para todas as
soluções. Definiram-se os dados base iguais aos dados obtidos com o aterro AE1, de forma a
representar um problema real. O aterro AE1 é um dos três aterros experimentais, em escala real,
levados à rotura, desenvolvido no âmbito do trabalho de doutoramento de Henrique Magnani em
2006.

Projetaram-se quatro modelos que diferem de método construtivo indo do mais deformável - aterro
convencional com georeforço na base, fundação tratada com drenos verticais e construído em etapas
- ao mais rígido - aterro estaqueado - passando pelo intermédio - aterro sobre colunas granulares e
aterro sobre colunas granulares encamisadas.

Com a modelação constatou-se a altíssima compressibilidade da argila do Pirajubaé, obtendo-se


grandes deformações. Concluiu-se que o solo não confere confinamento suficiente às colunas
granulares e que a simples introdução do envolvimento em geossintético aumenta substancialmente
a eficácia do sistema solo-coluna drenante.

Palavras-chave: Solos moles, Aterro, Drenos verticais, Colunas de Solo Granular, Plaxis 2D.

III
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
Abstract
The expansion of urban centers near river areas has leading to the need to build on compressible
soils. In this sense, the objective of this work is to study the behavior of approach embankments
bridges over clayey soils with particular focus on behavior of its foundation.

The study of the performance of approach embankments concluded that the best procedure was to
develop several solutions and modeling them through software Plaxis 2d and thus analyze the results.
An equal data base was set for all projects. The data base from the embankment AE1 was set as
representative of the real problem. The embankment AE1 is one of three experimental embankments,
made in real scale, led to failure which has been constructed on the scope of the doctoral thesis of
Magnani in 2006.

Four models were developed which vary the constructive method: from the most deformable -
embankment conventional geo-reinforcement base foundation improved with wick drains and
constructed in stages - to the more rigid - staked embankment – including an intermediate stage -
embankment over stone columns and embankment over stone columns jacketed.

Through the modeling the very high compressibility of Pirajubaé clay was confirmed, obtaining large
deformations and it was concluded that the soil does not provide adequate confinement and that the
simple confinement with geosynthetic substantially increases the efficiency of the soil-drain column.

Keywords: Soft soil, Embankment, Wick drains, Stone Columns, Plaxis 2D.

V
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
Simbologia

largura da plataforma

c’ coesão efectiva

Cc coeficiente de compressibilidade

Cs coeficiente de expansibilidade

cv coeficiente de adensamento vertical

diâmetro do elemento estrutural


diâmetro de influencia de um dreno ou coluna granular
diâmetro equivalente do mandril
diâmetro da zona afetada pelo efeito smear

diâmetro equivalente do geodrenos com seção retangular


índice de vazios
índice de vazios para a tensão vertical efectiva inicial in situ

módulo de deformabilidade não drenada


módulo de resistência edométrico

módulo de resistência na descarga e recarga


módulo de resistência secante em estado triaxial

( ) função de densidade de drenos


espessura da camada de argila
espessura do colchão drenante

altura critica
índice de plasticidade

módulo de rigidez do geossintético

k* Índice
coeficiente de permeabilidade do colchão drenante
coeficiente de permeabilidade horizontal
coeficiente de permeabilidade horizontal em plane strain

coeficiente de permeabilidade vertical

coeficiente de permeabilidade horizontal com smear


coeficiente de permeabilidade horizontal em plane strain com smear
distancia entra drenos ou colunas granulares
descarga de um dreno em campo
velocidade de recalque

λ* índice de compressão modificado

VII
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

espaçamento ente eixos de estacas ou colunas


resistência ao cisalhamento não drenada (br) resistência ao corte não drenada (pt)
esforço de tração no reforço

fator de tempo para a drenagem horizontal


percentagem média de adensamento combinado

percentagem média de adensamento horizontal/radial

γ peso volúmico

peso volúmico do material do aterro


peso volúmico efectivo do material do aterro
ν' Coeficiente de poisson

recalques (br) /assentamentos (pt) por compressão secundaria


recalques (br) /assentamentos (pt) por adensamento primário final e compressão
secundaria
recalques (br) /assentamentos (pt) por adensamento primário final
variação da tensão vertical

∅’ angulo de atrito interno efectivo


deformação axial especifica permissível no reforço

limite de liquidez
tensão total
tensão efectiva
tensão vertical efectiva in situ

tensão vertical efectiva final

μ poro-pressão (br)/ pressão intersticial (pt)


fator de correção de Bjerrum
parâmetro adimensional

teor de umidade
angulo de dilatância
Índice

1 Introdução ...................................................................................................................................................... 1

1.1 Enquadramento geral ....................................................................................................................................... 1

1.2 Objectivos e Metodologia da dissertação ......................................................................................................... 1

1.3 Estrutura da dissertação ................................................................................................................................... 2

1.4 Revisão bibliográfica ......................................................................................................................................... 2

2 Apresentação do aterro de teste, AE1 ........................................................................................................... 5

2.1. Enquadramento Geral – local e histórico .................................................................................................... 5

2.1.2 Aterro AE1 ................................................................................................................................................. 6

2.1.2.1 Localização ......................................................................................................................................... 6

2.1.2.2 Perfil geotécnico ................................................................................................................................. 7

2.1.2.3 Projeto base ....................................................................................................................................... 9

2.1.2.4 Geometria .......................................................................................................................................... 9

2.1.2.5 Instrumentação ................................................................................................................................ 11

2.1.2.6 Características Geomecânicas .......................................................................................................... 12

3 Aterro de aproximação de encontre de ponte ............................................................................................. 15

3.1 Dado base ................................................................................................................................................... 15

3.1.1 Materiais ............................................................................................................................................. 17

3.1.2 Geometria ........................................................................................................................................... 18

3.2 Técnicas de reforços ................................................................................................................................... 18

3.2.1 Geossintético ....................................................................................................................................... 18

3.3 Técnicas de tratamento .............................................................................................................................. 19

3.3.1 Drenos verticais ................................................................................................................................... 19

3.3.2 Colunas granulares .............................................................................................................................. 21

3.3.3 Construção faseada ............................................................................................................................. 22

3.3.4 Sobrecarga ........................................................................................................................................... 23

4 Dimensionamento do aterro ........................................................................................................................ 25

4.1 Aterro convencional ................................................................................................................................... 25

4.1.1 Pré-dimensionamento ......................................................................................................................... 25

IX
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

4.1.1.1 Altura do Aterro ........................................................................................................................... 25

4.1.1.2 Sobrecarga ................................................................................................................................... 26

4.1.1.1 Drenos .......................................................................................................................................... 27

4.1.1.4 Geo-reforço .................................................................................................................................. 28

4.1.1.5 Etapas ........................................................................................................................................... 29

4.1.2 Dimensionamento – Plaxis 2D ............................................................................................................. 31

4.2 Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas .......................................................................................... 37

4.2.1 Pré-Dimensionamento ........................................................................................................................ 37

4.3.2 Dimensionamento – Plaxis 2D ............................................................................................................. 38

4.3 Aterro sobre Estacas ................................................................................................................................... 42

4.3.1 Pré-Dimensionamento ........................................................................................................................ 42

4.3.2 Dimensionamento – Plaxis 2D ............................................................................................................. 42

5 Modelação numérica.................................................................................................................................... 45

5.1 Modelos utilizados ...................................................................................................................................... 45

5.1.1 Linear elastic ........................................................................................................................................ 45

5.1.2 Mohr-Coulomb .................................................................................................................................... 45

5.1.3 Hardening Soil ..................................................................................................................................... 47

5.1.4 Soft Soil ................................................................................................................................................ 47

5.2 Opções Plaxis 2D ......................................................................................................................................... 48

6 Analise Económica ........................................................................................................................................ 51

7 Considerações Finais .................................................................................................................................... 55

7.1 Conclusão.................................................................................................................................................... 55

7.2 Sugestões Para Futuras Pesquisas .............................................................................................................. 56

Bibliografia ............................................................................................................................................................ 57

Apêndice A ............................................................................................................................................................ 59

Apêndice B ............................................................................................................................................................ 61

Apêndice C ............................................................................................................................................................ 63

Apêndice D ............................................................................................................................................................ 65

Apêndice E ............................................................................................................................................................ 67

Apêndice F............................................................................................................................................................. 69
Índice de figuras

Fig. 1.1 - Áreas de influência (Araújo, 2009) ........................................................................................... 4


Fig. 2.1 – Localização (Sonney, 2013) ...................................................................................................... 5
Fig. 2.2 – Localização dos Aterros Experimentais e da Via Expressa Sul ................................................. 7
Fig. 2.3 – Resultados dos ensaios de campo (piezocone e palheta) ....................................................... 8
Fig. 2.4 – Planta do Aterro Experimental AE1 (PROJETO) ..................................................................... 10
Fig. 2.5 – Secção transversal do Aterro Experimental AE1 ................................................................... 10
Fig. 2.6 – Planta topográfica do Aterro Esperimental AE1 .................................................................... 12
Fig. 2.7 – Curva granulométrica da areia do colchão drenante ............................................................ 13
Fig. 2.8 – Recalques x Data x Espessura do Aterro ................................................................................ 14
Fig. 3.1 – Esquema do Aterro de Aproximação do Encontro de Ponte ................................................. 15
Fig. 3.2 – Esquema das várias formas de instabilidade (Almeida & Marques, 2010) ........................... 16
Fig. 3.3 – Esquema da secção da estrutura rodoviária típica para uma velocidade de 80 a 100 km/h,
com as dimensões em metros............................................................................................................... 18
Fig. 3.4 – Plataforma de Transferência de Carga (Pinto & Tomásio, Soluções de Plataformas de
Transferência de Cargas com Recurso a Geossintéticos) ...................................................................... 19
Fig. 3.5 – Secção do geodrenos aplicado no aterro AE1 ....................................................................... 20
Fig. 3.6 – Sequência da colocação dos geodrenos (Colbond) ............................................................... 20
Fig. 3.7 – Esquema do caminho de drenagem na solução com a fundação tratada com geodrenos
(modificada de (Pinto, Tratamento de Fundação, 2012/2013)............................................................. 21
Fig. 3.8 – Sequência de execução de colunas granulares em solos moles (Almeida & Marques, 2010)
............................................................................................................................................................... 22
Fig. 3.9 – Esquema representativo do processo construtivo das colunas granular encamisadas
(Almeida & Marques, 2010) .................................................................................................................. 22
Fig. 4.1 – Construção da linha de fim do secundário (Almeida & Marques, 2010) ............................... 26
Fig. 4.2 – Aceleração de recalques com sobrecarga temporária (Almeida & Marques, 2010) ............. 26
Fig. 4.3 – Perfil transversal do Aterro Convencional: 1 – Aterro; 2 – Colchão Drenante; 3 – Aterro
Hidráulico; 4 – Estrato Argiloso; 5 – Estrato de Areia Densa ................................................................ 31
Fig. 4.4 – Transformação das permeabilidades (Indraratna, Rujikiatkamjorn, Sathananthan, Shahin, &
Khabbaz, 2005) ...................................................................................................................................... 34
Fig. 4.5 – Andamento dos recalques sentidos no topo do aterro e a altura construída de aterro em
relação ao tempo para o aterro sobre drenos verticais ........................................................................ 35
Fig. 4.6 – Deformação final da solução Aterro Convencional ............................................................... 35
Fig. 4.7 – Andamento da Poro-pressão no ponto a meia altura do estrado de argila entre drenos. ... 36

XI
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 4.8 – Efeito dos drenos – definição dos diferentes coeficientes de permeabilidade e a dissipação
da poro-pressão .................................................................................................................................... 36
Fig. 4.9 – Esquema de transmissão das cargas (modificado (Pinto, Tratamento de Fundação,
2012/2013) ............................................................................................................................................ 37
Fig. 4.10 – Esquema das distâncias para a malha quadrangular ........................................................... 38
Fig. 4.11 – Célula unitária da Coluna Granular com, e sem, encamisamento e respetiva malha de
elementos finitos................................................................................................................................... 39
Fig. 4.12 – Andamento dos recalques sentidos no topo do aterro e a altura construída de aterro em
relação ao tempo para a Coluna Granular não encamisada ................................................................. 40
Fig. 4.13 – Andamento dos recalques com a altura construída de aterro em relação ao tempo para a
Coluna Granular encamisada ................................................................................................................ 41
Fig. 4.14 – Andamento da Poro-pressão a meia altura do estrado de argila com o tempo ................. 41
Fig. 4.15 – Célula unitária do aterro sobre estacas e respetiva malha de elementos finitos ............... 43
Fig. 4.16 – Detalhe construtivo dos capitéis (modificado de (Almeida & Marques, 2010)................... 43
Fig. 4.17 – Degrade dos deslocamentos do modelo de Aterro Estaqueado ......................................... 44
Fig. 4.18 – Deformação do georeforço do Aterro Estaqueado ............................................................. 44
Fig. 5.1 – Tensão deformação para o modelo elástico-plástico (Plaxis, 2010) ..................................... 46
Fig. 5.2 Superfície de rotura do modelo Mohr-Coulomb, com , (Plaxis, 2010) ........................... 46
Fig. 5.3 – Superfície de rotura do modelo Hardening Soil, definido em tenções principais (Plaxis, 2010)
............................................................................................................................................................... 47
Fig. 5.4 – Superfície de Rotura do modelo Soft Soil, definido em tensões principais (Plaxis, 2010) .... 48
Fig. 5.5 – Painel das etapas de cálculo do projeto do Aterro estaqueado ............................................ 49
Fig. 5.6 – Painel das etapas de cálculo do projeto do Aterro Convencional ......................................... 50
Fig. 5.7 – Painel das etapas de cálculo do projeto do Aterro Sobre Colunas Granulares ..................... 50
Fig. 6.1 – Secção tipo de cada solução: A – Aterro Convencional; B – Aterro sobre Colunas Granulares
Encamisadas; C – Aterro Estaqueado. ................................................................................................... 53
Fig. 7.1 – Comportamento esperado da solução Aterro Convencional e o comportamento verificado
do Aterro AE1. ....................................................................................................................................... 55
Fig. A.1 – Localização da Costeira do Pirajubaé .................................................................................... 59
Fig. B.1 – Granulometria da areia do colchão drenante do aterro AE1 (Magnani, Comportamento de
aterros reforçados sobre solos moles levados à ruptura, 2006)........................................................... 61
Fig. D.1 - Esquema da secção tipo do Aterro Convencional .................................................................. 65
Fig. E.1 - Esquema da secção tipo Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas .............................. 67
Fig. F.1 - Esquema da secção tipo do Aterro Estaqueado ..................................................................... 69
Índice de Quadros
Tabela 2.1 – Parâmetros geotécnicos da argila mole do Pirajubaé ........................................................ 7
Tabela 3.1 – Parâmetros da Areia Fina.................................................................................................. 17
Tabela 3.2 – Parâmetros da Argila Mole ............................................................................................... 17
Tabela 4.1 – Estimativa dos ganhos de devido á construção faseada............................................. 30
Tabela 4.2 – Parâmetros característicos da Areia do colchão drenante ............................................... 31
Tabela 4.3 – Parâmetros característicos da Areia de fundo ................................................................. 32
Tabela 4.4 – Permeabilidades da Argila Mole ....................................................................................... 34
Tabela 4.5 – Parâmetros característicos do material da coluna granular............................................. 39
Tabela 4.6 – Parâmetros característicos do Betão Armado .................................................................. 42
Tabela 6.1 – Proposta para Aterro Convencional (A) ............................................................................ 51
Tabela 6.2 – Proposta para Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas (B) ................................... 52
Tabela 6.3 – Proposta para Aterro Estaqueado (C) ............................................................................... 52
Tabela B.1 – Granulometria e Cálculos intermédios ............................................................................. 62

XIII
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
1 Introdução

1.1 Enquadramento geral

A dissertação insere-se no âmbito do projeto e construção de aterros sobre solos argilosos moles,
tendo sido desenvolvido em cooperação com o Instituto Superior Técnico e a Universidade Federal
do Rio de Janeiro.

A construção sobre solos argilosos moles constitui hoje em dia um problema real, dada a
necessidade de construir novas infra-estruturas urbanas e de transporte, devido ao grande
crescimento dos centros urbanos e sendo o assunto ainda alvo de estudo. Em especial os pontos de
ligação entre estruturas com rigidezes tão díspares, como é o caso dos aterros de encontros de
pontes e dos encontros de pontes integrais, caso de estudo da dissertação de Catarina Fartaria, em
2012.

Tanto em Portugal como no Brasil, ao longo dos tempos, a ocupação do terreno deu-se
essencialmente em zonas litorais devido à localização estratégica face à facilidade de comunicação e
de transporte, bem como do ponto de vista económico, i.e., propiciam atividades como a pesca, a
indústria, o comércio, o turismo, entre outras. Porém, estas zonas são zonas formadas
essencialmente por solos de sedimentação, erodidos e transportados pela água, bem como por
aluviões de argila mole.

O espaço, no interior dos centros urbanos, com terrenos com boas caraterísticas mecânicas para
fundar infra-estruturas começaram a escassear. Este fato levou à pesquisa de técnicas que permitam
a sua construção sobre o subsolo menos competente, como é o caso dos solos argilosos moles, até
então evitados devido as suas caraterísticas mecânicas pouco propícias para fundação.

Entenda-se por solos argilosos moles, solos que apresentam caraterísticas como baixa resistência ao
corte, com valores da resistência não-drenada inferiores a ; compressibilidade elevada e baixa
permeabilidade (coeficiente de permeabilidade inferior a ), o que “limita consideravelmente a
carga (altura do aterro) que é possível aplicar de forma rápida com segurança aceitável relativamente
à rotura global (deslizamento geral ou punçoamento)” e “fazem com que ocorram assentamentos de
elevada grandeza e que se processam lentamente, à medida que se realiza o escoamento da água
intersticial” (Borges, 1995).

1.2 Objetivos e Metodologia da dissertação

O presente trabalho é uma cooperação entre as universidades IST e UFRJ, através dos professores
Alexandre Pinto e Márcio Almeida, com a execução de um trabalho desenvolvido em intercâmbio. Por

1
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

ter sido um trabalho elaborado maioritariamente no Rio de Janeiro, optou-se por escrever de acordo
com o novo acordo ortográfico, recorrendo a expressões técnicas utilizadas no Brasil.

O trabalho desenvolvido tem por objectivo analisar o comportamento da fundação de um aterro de


aproximação a encontros de pontes sobre solos argilosos, utilizando os dados obtidos no trabalho de
doutoramento desenvolvido por Henrique Magnani, em 2006, i.e., desenvolver uma solução que
permita construir um aterro sobre o mesmo estrato, com condições de utilização exigentes, que atinja
a altura máxima conseguida pelo aterro experimental.

Para tal, desenvolveram-se diferentes projetos de intervenção para construir o aterro de forma a
atingir uma cota fixa. Os projetos são pré-dimensionados através de cálculo tradicional analítico e
posteriormente, modelados no Software Plaxis 2D, que recorre ao método de elementos finitos para
efectuar a modelação numérica e, por fim, é efetuada uma análise económica de cada processo
construtivo e dos volumes de materiais envolvidos em cada projeto

1.3 Estrutura da dissertação

No primeiro capítulo é feita a introdução ao tema, um enquadramento geral do tema, seguida de uma
descrição dos objetivos e metodologia proposta, concluindo com a descrição da estrutura da
dissertação e uma pequena revisão bibliográfica dos conceitos utilizados adiante.

No segundo capítulo é apresentado um pequeno resumo do trabalho de Henrique Magnani, que


posteriormente será a base para o desenvolvimento do trabalho aqui apresentado.

No terceiro capítulo são expostos os dados base e exibidas as técnicas construtivas que serão
combinadas mais à frente na execução dos projetos.

No quarto capítulo são elaboradas soluções, descritos os cálculos analíticos para o pré-
dimensionamento e os resultados obtidos com a modelação no software Plaxis 2D.

No quinto capítulo são descritas e justificadas as várias opções tomadas durante a modelação no
programa Plaxis 2D.

No sexto capítulo é feita uma análise económica das diferentes soluções.

No sétimo e último capítulo, apresentam-se as principais conclusões deste trabalho e referidas


algumas sugestões para futuras pesquisas neste âmbito.

1.4 Revisão bibliográfica


Na mecânica dos solos, o conceito de tensão total difere da definição aplicada na Mecânica dos
meios contínuos, assumindo uma tensão macroscópica, i.e. uma força distribuída por uma área
pequena mas não infinitesimal, uma vez que que se trata de um material formado por um esqueleto
solido – grãos sólidos – e vazios deixados entre as partículas – interstícios.

Sendo a definição de tensão efetiva, segundo os princípios de tensões propostos por Terzaghi, em
1936, em que diz: as tensões em qualquer ponto de uma massa de solo podem ser avaliadas a partir
das tensões totais, que atuam nesse ponto. Se os vazios de solo estiverem preenchidos com água
sob uma pressão μ, as tensões consistem de duas parcelas. Uma parcela de valor μ, que age na
água e na parte sólida, em todas as direções, com igual magnitude. Essa parcela é denominada por
poro-pressão. A parcela remanescente atua no esqueleto sólido. Esta parcela das tensões totais é
denominada por tensões efetivas. Definindo-se a Eq. [1.1], a equação fundamental do princípio das
tensões efetivas.

[1.1]

Levando a concluir que todas as variações de volume e/ou distorção são devidas exclusivamente a
variações do estado de tensões efetivas.

Terzaghi, em 1943, expôs o efeito de arqueamento nos solos através do modelo experimental
constituído por uma caixa com um alçapão no fundo. No momento em que o alçapão é aberto
verifica-se que o solo adjacente cede um pouco, mas não escoa totalmente pela abertura do alçapão.
Todos os deslocamentos são dependentes das dimensões envolvidas. O autor explica este efeito
através da transferência de tensões da massa de solo que cedeu para a massa de solo adjacente
estacionária, fazendo com que as tensões na parte que cedeu sejam reduzidas e a tensão sobre as
laterias seja aumentada e assim também as tensões de cisalhamento na zona entre as massas.

O adensamento primário, responsável pelos assentamentos primários, pode ser definido como o
processo de transferência gradual do excesso de poro-pressão, ao longo do tempo, de um solo
saturado, para o esqueleto sólido, através da expulsão de água. Sendo este fluxo de água nos solos
regido pela lei de Darcy.

Os assentamentos secundários, que demoram mais tempo a ocorrer, são devidos ao adensamento
secundário, que segundo a teoria de Taylor e Merchant (1940) são devidos à viscosidade estrutural
do solo e estão relacionado com a razão . Admitem ainda que o adensamento secundário
ocorre em simultâneo com o primário. Contudo ainda não existe consenso neste assunto e há muita
investigação a decorrer nesse âmbito (Martins, 1992).

Define-se o conceito de célula unitária, sendo esta uma região ao longo de um plano definido pela
metade da diagonal do quadrado formado por quatro elementos rígidos, sendo os lados do quadrado
as distâncias entre os eixos dos elementos, representando desta forma um elemento principal, tendo
como principal função a simplificação a analise, como mostra a figura seguinte.

3
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 1.1 - Áreas de influência (Araújo, 2009)

Na modelação da solução com drenos verticais, de forma a aproximar o mais possivel da situação
real considera-se o efeito smear, ou amolgamento da argila, que consiste no efeito de adensamento
no solo envolvente do dreno, provocado pela sua cravação.
2 Apresentação do aterro experimental, AE1

2.1. Enquadramento Geral – local e histórico

A descrição que se segue resume informações apresentadas na tese de doutoramento de (Magnani,


Comportamento de aterros reforçados sobre solos moles levados à rutura, 2006) e respetivos artigos,
assim sendo, essas referências não serão mais repetidas adiante.

O aterro experimental AE1 foi executado em Outubro de 2002, juntamente com mais outros dois, AE2
e AE3, sobre um depósito de argila mole, localizado no interior da Baía Sul da Ilha de Santa Catarina,
mais precisamente junto à Costeira do Pirajubaé e nas proximidades da Foz do Rio Tavares, no
município de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, localizado no sul do Brasil, assinalado nos
mapas da Fig.2.1 e apresentado no Apêndice A com maior detalhe.

Fig. 2.1 – Localização (Sonney, 2013)

Estes aterros foram construídos no âmbito do projeto da tese de doutoramento de Henrique Magnani
de Oliveira que tinha como objetivo principal estudar o comportamento de aterros reforçados
executados sobre um depósito argila muito mole em regime de construção rápida.

Este depósito de argila muito mole e compressível situa-se nas águas rasas e de pouca energia dos
bairros do Saco dos Limões, Costeira do Pirajubaé e Porto do Rio Tavares, dentro da cidade de
Florianópolis, e limita-se à leste com o Morro da Cruz, junto ao Saco dos Limões, e com a Costeira do
Pirajubaé ao sul, com o Manguezal do Rio Tavares, como mostra a Fig.2.1, atingindo espessuras
desde até .

Em 1979 foi elaborado um projeto para fazer a ligação do centro da capital à parte sul da ilha de
Santa Catarina, Projeto da Via Expressa Sul, onde estava prevista a construção de um aterro de

5
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

grandes dimensões ( , aterro hidráulico) sobre as águas da Baía sul, junto ao Saco dos
Limões e a Costeira do Pirajubaé.

Só em 1996 foi construído o aterro hidráulico com um volume de , executado em pouco


mais de 6 meses, com recurso a uma draga de grande produção. Este aterro foi construído com
taludes com uma inclinação da ordem de 1:80 (vertical:horizontal), de modo a evitar a rotura da
fundação. A espessura do aterro na zona central era da ordem dos 6 m.

Em 1999, o projeto, que até então não fora construído, sofre uma revisão com a intenção de o
melhorar e solucionar detalhes não contemplados. Para tal foi realizada uma extensa campanha de
prospeção geotécnica, que veio confirmar a baixíssima resistência e elevada compressibilidade das
argilas orgânicas do depósito.

Em 2001, os consultores e o proprietário da obra concordaram com a execução de um aterro


experimental, dado os resultados obtidos relativamente ao desempenho do aterro hidráulico e suas
roturas. Foi, então, prevista a construção de um aterro experimental levado à rotura. No entanto, com
a junção de esforços da empresa responsável pelo projeto e fiscalização, dos construtores e de
prestadores de serviços geotécnicos especializados e ainda do dono da obra, foi viabilizada a
construção de três aterros experimentais em verdadeira grandeza instrumentados e localizados ao
lado da futura obra.

2.1.2 Aterro AE1

Aterro construído com reforço sintético na base e com a fundação tratada com drenos verticais, visto
tratar-se de um cenário muito comum nas soluções das obras atuais e a intenção de investigar a
influência dos drenos a curto prazo no comportamento de aterros reforçados, ou seja, num regime de
construção rápida.

As funções principais dos reforços e dos drenos são de melhorar a estabilidade e reduzir os
recalques pós-construtivos, respetivamente.

2.1.2.1 Localização

A localização dos aterros experimentais foi determinada de modo a obter a menor espessura de
aterro hidráulico, de forma a simular a situação mais crítica, i.e., construção sobre as camadas de
argila mole superficial, procurando a área de maior homogeneidade possível, tanto a nível geométrico
como a nível geotécnico, de forma a facilitar a interpretação dos dados observados e, por fim, o mais
próximo possível do trecho a ser construído no final, para ter uma maior representatividade e menor
distância de transporte dos materiais, que seriam reempregados.
Desta forma, foi previsto que estes fossem construídos lado a lado, junto ao limite do aterro hidráulico
onde as espessuras de areia fina são menores, e paralelamente ao eixo deste, de forma a terem o
mesmo declive do terreno natural, como se vê na Fig.2.2, e a uma distância do canal de
macrodrenagem suficiente, de forma que as roturas não o pudessem alcançar.

Fig. 2.2 – Localização dos Aterros Experimentais e da Via Expressa Sul

2.1.2.2 Perfil geotécnico

Após as campanhas de ensaios de campo e de laboratório dos projetos de 1979 e de 1999, foi
possível caraterizar o depósito de argila mole. Ambas as campanhas de prospeção confirmaram ser
um estrato com caraterísticas geotécnicas muito homogéneas, tendo-se caraterizado o depósito de
argila com os valores apresentados na tabela 2.1.

Tabela 2.1 – Parâmetros geotécnicos da argila mole do Pirajubaé


Parâmetro Valor
3
Peso volúmico γ [kN/m ] 13,2 a 14,2
Índice de vazios e0 2,9 a 4,5
Teor de humidade [%] 110 a 170
Coeficiente de compressibilidade, Cc 1,1 a 2,0
Coeficiente de expansão, Cs 0,12 a 0,25
( ) 0,26 a 0,45

0,08 a 0,14
Limite de liquidez [%] 105 a 165
Índice de plasticidade IP [%] 60 a 100
Resistência não drenada Su [kPa] 5 a 28
Ângulo de atrito interno ∅’[º] 26

7
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

2 -8 -8
Coeficiente de adensamento vertical cv [m /s] 1x10 a 1,5x10
Teor de matéria orgânica, em percentagem de peso [%] 3,4 a 4,0

Em 2002, com o início da construção dos aterros experimentais foi executada mais uma campanha
de prospeção, nos locais onde estes viriam a ser construídos, de forma a obter uma caracterização
mais precisa, visto que, até então, os ensaios tinham como objetivo a obra como um todo. O local
escolhido para o aterro experimental AE1 apresentava, em valor médio, uma camada de aterro
hidráulico de e de espessura de argila mole, assente sobre uma camada de uma areia
profunda, com razão de sobre-adensamento, OCR, igual a 1, e parâmetros geotécnicos apresentados
na Tab. 4.2.

Obtiveram-se os valores de resistência ao cisalhamento não drenada, , em função da profundidade


apresentados na Fig.2.3, onde se verifica o aumento de resistência junto às duas fronteiras
drenantes.

Fig. 2.3 – Resultados dos ensaios de campo (piezocone e palheta)

Para efeitos de projeto aplica-se o fator de correção de Bjerrum (1973), fator este que depende do
índice de plasticidade da argila, onde está incorporada a influência da anisotropia existente na argila
e a diferença entre a velocidade de carregamento da obra e a velocidade do ensaio de palheta,
tendo-se obtido um para um , assumindo um , vem
.

Com os dados obtidos através do ensaio de dissipação de piezocone, foi também possível obter o
valor do coeficiente de adensamento horizontal com a aplicação da formulação de Houlsby e Teh
(1988), tendo-se obtido os valores de e , respetivamente.
O aterro hidráulico foi construído com uma areia fina, material granular proveniente da decomposição
de granito de Formação Palmeira do Meio. Trata-se de uma areia silicosa de coloração branca,
extremamente fina e selecionada, apresentando percentagens de massa não retida no peneiro n. 40
maior que 95% e no peneiro n. 200 menor que 5%.

O terreno natural apresentava um declive transversal de 3% e de 1% longitudinalmente e nível de


água no solo perto do nível do terreno natural.

2.1.2.3 Projeto base

O aterro experimental AE1 foi projetado com um reforço sintético e drenos verticais, tendo como
objectivo estudar o comportamento de aterros reforçados sobre solos moles. Para tal, dimensionou-
-se o aterro para que o reforço não se rompesse, mesmo para as condições últimas de campo, e que
a fundação em argila mole é que plastificaria, gerando grandes deformações no topo do aterro.

Foram também projetadas bermas laterais, com o objetivo de reduzir os efeitos tridimensionais dos
aterros devido ao seu comprimento finito e para minimizar os deslocamentos e potenciais roturas na
direção longitudinal às secções, e assim, também evitar que a rotura de um aterro pudesse influenciar
as condições de estabilidade do outro, dado as construções dos aterros AE1 e AE2 serem próximas.

As bermas foram projetadas para ter uma extensão de de comprimento, largura idêntica à dos
aterros, de altura e a mesma inclinação de taludes.

Foram colocados drenos verticais pré-fabricados, com recurso à cravação de um mandril de


de diâmetro, com um espaçamento horizontal entre drenos de em padrão triangular e com
comprimento de forma a atravessar toda a camada de argila.

A altura máxima prevista para que o aterro experimental atingisse a rotura, através das análises de
estabilidade pelos métodos de equilíbrio limite, era de . Sendo que o aterro só parou de crescer,
em altura, quando este atingiu a rotura, que ocorreu aos .

2.1.2.4 Geometria

A largura da secção transversal do aterro foi projectada com , e os taludes com a inclinação de
na horizontal para na vertical, com um comprimento de , mais as bermas, como está
representado na Fig.2.4 e na Fig.2.5, com instrumentação no eixo de simetria.

9
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 2.4 – Planta do Aterro Experimental AE1 (PROJETO)

Fig. 2.5 – Secção transversal do Aterro Experimental AE1


2.1.2.5 Instrumentação

O aterro foi intensamente instrumentado para posterior análise exaustiva dos correspondentes dados.
A instrumentação geotécnica era composta por aparelhos de medição de deslocamentos, de medição
de esforços no reforço e de medição de poro-pressões.

Os instrumentos de medição de deslocamentos foram inclinometros, para medição de deslocamentos


horizontais em profundidade, extensómetros magnéticos verticais para medição de deslocamentos
verticais em profundidade, as placas de recalque para medições de deslocamentos verticais em
superfície e os marcos superficiais para medições de deslocamentos verticais e horizontais à
superfície, tendo como objectivo analisar a resposta da fundação e a determinação dos mecanismos
de rotura e quantificação dos deslocamentos e deformações associados a ele, para possibilitar a
identificação das diferenças de comportamento entre os 3 aterros experimentais.

Foram colocadas células de carga, desenvolvidas especialmente para estes aterros experimentais
reforçados, para medir o esforços de tração atuantes no reforço, tendo sido projectadas para suportar
os esforços construtivos devidos aos equipamentos de terraplenagem e superar os efeitos de
relaxação que ocorrem em reforços sintéticos.

Apesar do estudo incidir sobre as condições relativas à construção rápida de aterros sobre solos
moles, e, portanto, baseado em análises de tensões totais, foram colocados instrumentos para a
medição de poro-pressões na camada de argila mole e nas camadas de areia tendo como objectivo
principal identificar as diferenças de comportamento entre os aterros com e sem tratamento de
fundações com drenos verticais. Foram colocados piezómetros elétricos de corda vibrante no interior
da camada de argila mole e Piezômetros tipo Casagrande (de tubo aberto). Foram ainda empregados
medidores do nível freático de água no sub-solo, de forma a contrular a eficacia dos drenos.

O objetivo da utilização dos instrumentos para a medição dos esforços no reforço era obter os valores
de tração mobilizados nos reforços ao longo de toda a construção dos aterros, até a sua rotura, para
caraterizar os mecanismos de interacção aterro-reforço-fundação em argila mole e comparar com as
demais grandezas medidas pela instrumentação geotécnica.

A Fig.2.6 mostra uma planta do aterro AE1 e a respetiva localização da instrumentação, bem como a
Fig.2.5 apresenta o perfil do aterro AE1 e a respectiva localização da instrumentação.

11
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 2.6 – Planta topográfica do Aterro Esperimental AE1

2.1.2.6 Caraterísticas Geomecânicas

A caraterização geotécnica dos materiais de aterro, não foi a preocupação principal neste tipo de
obras, visto que o comportamento mecânico global deste tipo de estruturas é principalmente
condicionado pelas caraterísticas mecânicas e hidráulicas da fundação, que são, em geral, solos
muito menos resistentes.

Contudo é importante saber o peso volúmico, visto que o peso do aterro é das principais ações a que
é sujeita a fundação, os parâmetros de resistência, para avaliação da segurança à rotura global, o
coeficiente de permeabilidade, visto que deles depende a decisão de utilização, ou não, da camada
drenante na base do aterro, sendo que, neste caso, com a aplicação de drenos verticais é essencial a
camada drenante, dado a dimensão das particolas areia do corpo do aterro e volume de agua a
vasar.

Os materiais granulares envolvidos na construção do aterro experimental AE1 foram a areia grossa
do colchão drenante e a mesma areia fina utilizada para a execução do aterro hidráulico, para
construir o corpo do aterro.

A areia empregada para a construção da camada drenante é uma areia média a grossa, fluvial, que
apresentou a curva granulométrica presente na Fig.2.7.
Fig. 2.7 – Curva granulométrica da areia do colchão drenante

A areia utilizada para a construção do corpo do aterro, devido aos processos construtivos
empregados, apresentava um peso volúmico médio de , com teores de humidade médios
de o que corresponde a um índice de vazios de e grau de saturação de . A areia fina
também foi submetida a ensaios de cisalhamento direto, tendo-se verificado um ângulo de atrito
interno de .

O aterro AE1 atingiu a rotura para uma altura de , sem que o reforço tenha rompido, sendo que o
estado limite de utilização foi atingido muito antes, com a abertura de trincas e com o aparecimento
de grandes deslocamentos para uma altura de aproximadamente . A Fig.2.8 mostra o andamento
dos deslocamentos com o tempo e a respetiva altura do aterro.

O projeto do aterro experimental foi considerado bem sucedido, com a superfície de rotura ocorrida
na posição esperada, foi também possível ver uma drenagem imediata no colchão drenante mal o
início da aplicação de cargas sobre este, e maiores deformações verticais, quando comparado com o
aterro experimental AE2, sem drenos verticais.

É de referir que após a rotura do aterro, a sua integridade possibilitava a execução de operações com
equipamentos de terraplenagem, que, caso fosse preciso, permitiam a recuperação da estabilidade.

13
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 2.8 – Recalques x Data x Espessura do Aterro


(5/12 primeiros sinais de ruptura com o aparecimento de pequenas fissuras na berma entre os aterros;
10/12 aparecimento de trincas em toda a extensão da superfície do aterro)
3 Aterro de aproximação do encontro de um ponte

O aterro de aproximação do encontro de um ponte é o elemento que faz a ligação da ponte com o
terreno, como esquematizado na Fig.3.1. O aterro de aproximação de encontre de ponte tem como
principal objectivo alcançar a cota necessária para executar esta ligação em condições de segurança
e conforto do utilizador e a obtenção das caraterísticas mecânicas que satisfaçam essas
necessidades.

Fig. 3.1 – Esquema do Aterro de Aproximação do Encontro de Ponte

Na ligação entre este tipo de estruturas é natural que ocorram assentamentos diferenciais, devido a
grande diferença de rigidezes entre elas.

No entanto, os assentamentos diferenciais têm que ser minorados e atenuados, pois a ocorrência
destes assentamentos nestas infra-estruturas, em fase de utilização, podem não representar por si só
riscos de atingir o Estado Limite Último da superestrutura ou do aterro, mas no entanto levam a
grandes custos de manutenção para que seja garantido a segurança e conforto do utilizador, i.e.,
garantir o Estado Limite de Utilização muito exigente .

Os grandes custos de manutenção advêm do elevado número de intervenções necessárias, dado que
os deslocamentos admissíveis junto a pontos de cota fixa são, por regra, muito reduzidos.

Tendo a analise do presente trabalho sido focada na resposta da fundação as diferentes soluções
elaboradas.

3.1 Dado base

A escolha do método construtivo mais adequado é condicionada por vários fatores como as
caraterísticas geotécnicas do depósito, do nível de água, a utilização da área e sua vizinhança,
prazos construtivos e custos envolvidos.

15
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Os coeficientes globais de segurança, para este tipo de projetos, são definidos tendo em
consideração fatores como as consequências de uma rotura efectiva da infra-estrutura e a qualidade
e extensão dos estudos de caraterização geotécnica.

O valor do coeficiente de segurança comum mais baixo é da ordem de 1,3 para condições
temporárias e de 1,5 para a estabilidade a longo prazo.

Na escolha do método construtivo está a intenção de assegurar, primeiramente, a estabilidade global,


isto é, assegurar que não ocorre rotura por punçoamento, esquema B da Fig.3.2, rotura vulgar
quando a largura do aterro, B, é pequena em relação a espessura da fundação, H, ou rotura por
deslizamento geral, esquema C da Fig.3.2, mais vulgar para situações em que a razão H/B é menor e
as camadas mais superficiais da fundação não são muito resistentes. A rotura do aterro através de
instabilidade interna, esquema A da Fig.3.2 não é aqui considerada como um problema, dado que o
aterro é construído com um material selecionado e colocado de forma controlada.

Fig. 3.2 – Esquema das várias formas de instabilidade (Almeida & Marques, 2010)

Como já foi referido anteriormente, relativamente aos deslocamentos que ocorrem após a entrada em
serviço da infra-estrutura, estes prejudicam o bom funcionamento e representam elevados custos de
manutenção, o que vai contra a economia e, por isso, condiciona o método construtivo do aterro.

Os condicionamentos de ordem económica são levados em consideração quando analisadas as


despesas relativas à técnica de construção adotada, durabilidade, custos de manutenção, etc. Será
feita uma analise económica, no Capitulo 6, sobre as hipóteses estudadas em seguida.

O problema em questão não tem grandes restrições quanto ao espaço disponível, bem quanto a
problemas com a vizinhança, dado que se considera que toda a área do aterro hidráulico está
disponível e que não existem infra-estruturas próximas.
Em relação ao prazo de construção foi estipulado um limite máximo de tempo de 18 meses (um ano e
meio), prazo real para a execução deste tipo de estruturas.

O objectivo deste aterro é atingir uma altura de 5 m acima do nível do terreno já existente, isto é, a
cota +6,30 m, considerando que o nível de água médio se encontra na cota 0,00 m.

3.1.1 Materiais

Os dados aqui apresentados são retirados da dissertação de mestrado de Raphaël Sonney, (2013).

Como no caso do aterro experimental, considera-se que o corpo do aterro é executado com a mesma
areia do aterro hidráulico, com os parâmetros apresentados na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Parâmetros da Areia Fina


Parâmetro Valor
Parâmetros geotécnicos
3
Peso volúmico γ [kN/m ] 17,5
Índice de vazios e0 0,6
OCR 1
-4
Coeficiente de permeabilidade vertical 10
-4
Coeficiente de permeabilidade horizontal 10
Parâmetros constitutivos
Angulo de atrito interno efetivo ∅’ [º] 33,8
Angulo de dilatancia [º] 3,8
(*)
Coesão efetiva c’ [kPa] 0
2
Módulo de resistência [kN/m ] 18 000

Módulo de resistência 52 000


(*) Na modelação do aterro não saturado foi adotado c = 1 kPa.

Os parâmetros utilizados para modelar a argila mole estão apresentados na tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Parâmetros da Argila Mole


Parâmetro Valor
Parâmetros geotécnicos
3
Peso volúmico γ [kN/m ] 13,7
OCR 1
-9
Coeficiente de permeabilidade vertical 10
-9
Coeficiente de permeabilidade horizontal 10
Parâmetros constitutivos
Índice de vazios e0 3,5

17
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Angulo de atrito interno efetivo ∅’ [º] 30


Angulo de dilatância [º] 0
Coesão efectiva c’ [kPa] 5
Índice de compressão modificado λ* 0,1565
Índice k* 0,03440

3.1.2 Geometria

A geometria em planta não foi considerada, visto se tratar de um problema de grande


desenvolvimento longitudinal e ser um projeto fictício de âmbito académico, onde não foi imposto
qualquer tipo de condicionantes a esse nível.

No perfil transversal é imposto que o aterro, no final, atinja a cota , acima da conta do
terreno. O topo do aterro tem que ter de largura, para posterior construção da via de
comunicação de duas faixas de dois sentidos e suas respetivas bermas, com os dois taludes de igual
inclinação, como mostra a Fig.3.3, dimensões regulamentares retiradas dos apontamentos da cadeira
de Vias de Comunicação (Santos), s.d.).

Fig. 3.3 – Esquema da secção da estrutura rodoviária típica para uma velocidade de 80 a 100 km/h, com as
dimensões em metros

Optou-se por modificar a inclinação dos taludes, de 1:1,5 para 1:2, por questões de segurança.

3.2 Técnicas de reforços

Entendem-se por técnicas de reforço todas as técnicas que através da introdução de elementos
resistentes aumentem a capacidade resistente e diminuiem as deformações através do
encaminhamento de esforços para estes elementos, o que, no final, se traduz num melhoramento do
comportamento global. Estes reforços podem ser divididos consoante a sua localização, no próprio
aterro ou no solo de fundação.

3.2.1 Geossintético

O geossintético é um material sintético com um leque de aplicações, em obras de carater geotécnico,


muito vasto. Como por exemplo, a desempenhar funções de drenagem, filtragem, separação,
proteção, reforço e ainda combinação destes.

Os geossintéticos são por norma feitos com recurso a materiais recicláveis, fazendo com que o seu
impacte ambiental seja reduzido. Permitem ser combinados com outros materiais, dado as suas
propriedades físicas e químicas. Os problemas mais frequentes com a utilização de geossintéticos
estão relacionado com a sua instalação incorreta ou pouco cuidada.

Neste trabalho projeta-se a utilização de geossintéticos com a função de reforço aplicado na base do
aterro, suportando tensões de tração, e aplicados nas plataformas de transferência de cargas, LTP,
como mostra a Fig.3.4.

Fig. 3.4 – Plataforma de Transferência de Carga (Pinto & Tomásio,s.d)


Soluções de Plataformas de Transferência de
Cargas com Recurso a Geossintéticos)

Será, também, aplicado geossintético com a função de encamisamento das colunas granulares que
lhe vão conferir maior confinamento e maior eficácia de drenagem devido ao efeito de filtro. Este
assunto será desenvolvido no Capítulo 4.

3.3 Técnicas de tratamento

Entende-se por técnicas de tratamento as técnicas que, quando implementadas, geram melhorias nas
caraterísticas do solo, tornando-o mais competente.

3.3.1 Drenos verticais

Os drenos verticais são elementos que são colocados na vertical atravessando a massa de solo
compressível, fazendo com que a distância das fronteiras drenantes diminua para cerca de metade
da distância horizontal entre drenos, passando o fluxo a ser maioritariamente radial e, assim,
promovendo a aceleração da dissipação do excesso de poro-pressões e consequentemente dos
recalques.

Os geodrenos são, atualmente predominantemente, drenos pré-fabricados, constituídos por um


núcleo de PEAD e revestido por filtro de geotêxtil, como mostra a Fig.3.5. Os geodrenos vieram
substituir os drenos verticais de areia.

19
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 3.5 – Secção do geodrenos aplicado no aterro AE1

Os geodrenos são instalados por aparelhos de cravação de pequeno porte, i.e. leves, com a
sequência apresentada na Fig.3.6, que permitem a colocação dos drenos em depósitos de fraca
capacidade, sem que antes necessitem de grandes tratamentos/reforços.

Fig. 3.6 – Sequência da colocação dos geodrenos (Colbond)

Os geodrenos, em relação aos drenos verticais de areia, permitem além do ganho de tempo e
facilidade na instalação, uma maior eficácia, dado que o seu núcleo apresenta resistência mecânica
suficiente para resistir ao processo da sua cravação, bem como aos esforços provenientes das
deformações da massa de solo em adensamento, garantido, deste modo, que este não vai ficar
inutilizado por rotura.

A água coletada pelos drenos é conduzida para o exterior do estrato através das fronteiras drenantes,
devido ao excesso de pressão existente no solo, tendo o terreno a necessidade de ter um colchão
drenante para dar vasão a água para o exterior do aterro, como esquematizado na Fig.3.7.
Fig. 3.7 – Esquema do caminho de drenagem na solução com a fundação tratada com geodrenos (modificada de (Pinto,
Tratamento de Fundação, 2012/2013)

3.3.2 Colunas granulares

As colunas granulares são colunas de areia ou brita, instaladas na camada de argila, que tal como os
drenos verticais, promovem a dissipação de poro-pressões por drenagem radial, aumentando a
resistência da argila e acelerando os recalques, e também promovem um aumento da resistência ao
cisalhamento do conjunto solo-coluna, permitindo a construção de aterros mais altos com maiores
fatores de segurança. (Almeida & Marques, 2010)

Esta solução, mais rígida do que a dos geodrenos, leva a que a distribuição dos recalques seja mais
uniforme, fazendo com que os riscos de aparecimento de trincas à superfície diminuam.

As colunas podem ser construídas com, ou sem, encamisamento, caso o solo confira confinamento
suficiente às colunas.

As colunas granulares não encamisadas são construídas desde meados do século XX, e executadas
em solos moles com recurso a técnica de vibrosubstituição, processo representado na Fig.3.8.

A técnica de vibrosubstituição consiste em fazer um furo no solo com recurso ao vibrados, através de
jateamento, até atingir a profundidade e diâmetro desejados – Fig.3.8 imagem C – em seguida dá-se
o início do preenchimento com o material granular – Fig.3.8 imagem D – finalizando quando este
atingir a cota prevista – Fig.3.8 imagem E.

21
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 3.8 – Sequência de execução de colunas granulares em solos moles (Almeida & Marques, 2010)

As colunas granulares encamisadas são uma alternativa às colunas granulares tradicionais, nos casos
em que os solos moles não conferem confinamento suficiente.

O processo de execução das colunas é apresentado na Fig.3.9 e consiste em cravar por vibração um
tubo oco de ponta fechada e articulada - imagem A e B . Uma vez atingida a profundidade pretendida
instala-se o encamisamento de geotêxtil e o seu preenchimento – imagem D e E. Uma vez finalizado
o processo de enchimento é retirado o tubo – imagem F e G.

Fig. 3.9 – Esquema representativo do processo construtivo das colunas granular encamisadas (Almeida & Marques, 2010)

3.3.3 Construção faseada

A construção faseada é aplicada, por norma, quando há necessidade de construir um aterro com uma
altura superior à que a fundação consegue suportar se construído numa só etapa. O processo
consiste em construir o aterro em diferentes fases. Geralmente são utilizadas duas ou três etapas,
espaçadas no tempo, de forma a aproveitar os ganhos de capacidade da argila, devido ao
adensamento provocado pelas etapas anteriormente construídas.

3.3.4 Sobrecarga

A sobrecarga também acelera os recalques relativos ao adensamento primário e reduz os recalques


pós-construtivos devido a compensação dos recalques secundários.

23
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
4 Dimensionamento do aterro

O dimensionamento e construção de um aterro sobre solos argilosos moles apresentam sempre


múltiplas incertezas quanto ao seu comportamento. Estas incertezas devem-se as várias limitações e
simplificações aplicadas nos modelos utilizados durante o seu dimensionamento e todas as
imprecisões na determinação dos parâmetros caraterísticos e das heterogeneidades no terreno.

4.1 Aterro convencional

Estipulou-se, à partida, que, nesta solução, se iria considerar a aplicação de um talude de inclinação
de 1:2 (V:H), geotêxtil como reforço na base do aterro, colocação de drenos verticais e sobrecarga,
numa construção faseada.

4.1.1 Pré-dimensionamento

4.1.1.1 Altura do Aterro

Numa primeira fase fez-se uma previsão dos assentamentos primários que se obteriam para a
situação mais simples, isto é, não considerando a melhoria das propriedades da fundação devido a
construção faseada do aterro de modo a estimar a altura de aterro que seria necessário construir,
para no final atingir a cota desejada.

Para tal aplicou-se a equação de recalques para uma cota fixa de aterro considerando a submersão
da camada (Almeida & Marques, 2010), conforme a Eq. [4.1].

( ) [4.1]

Visto que na Eq. [4.1] o termo incógnita, , aparece em ambos os lados, este problema foi resolvido
com recurso a uma folha de Excel, através da função INTERCEPTAR, que devolve o ponto onde a
linha interceptará o eixo yy, utilizando a melhor linha de regressão desenhada com os valores
conhecidos de e , i.e., devolve que faz com que ( ) ( ) , tendo-se obtido uma
estimativa de para um aterro de altura .

No cálculo dos recalques secundários aplicou-se a metodologia proposta por Martins (2005) exposta
em (Almeida & Marques, 2010), onde propõe que o recalque máximo por adensamento secundário é
aquele correspondente à variação de deformação vertical da condição de fim do primário (OCR=1)
para a reta de OCR=1,5, para uma dada tensão vertical efectiva ( ) atuante na argila mole, como
explica a Fig. 4.1.

25
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 4.1 – Construção da linha de fim do secundário (Almeida & Marques, 2010)

Apresenta-se a Eq. [4.2] para o cálculo do recalque secundário, tendo-se estimado um valor de
.

( ) ( ) [4.2]

A conclusão que se obteve é que seria necessário construir um aterro de altura


para no final compensar todos os recalques, isto é .

4.1.1.2 Sobrecarga

De forma a antecipar os recalques secundários, calculou-se uma sobrecarga temporária, de forma a


que a altura do aterro mais a sobrecarga provocasse um recalque primário igual ou superior ao
recalque total anteriormente estimado, como explica o esquema apresentado na Fig.4.2.

Fig. 4.2 – Aceleração de recalques com sobrecarga temporária (Almeida & Marques, 2010)

Este cálculo é feito por processo iterativo, com recurso ao software Excel, aplicando a equação do
cálculo do recalque por adensamento primário, Eq. 4.3, fazendo aumentar a altura do aterro, isto é
, até achar um altura de aterro que provoque um .

[ ( ) ( )] [4.3]
A sobrecarga é retirada no instante em que o aterro atinge um , que pode ser calculado

a partir do cálculo do tempo necessário para obter um grau de adensamento de .

Neste caso optou-se por construir um aterro com uma altura de , que provoca com um
e a ser retirada no fim do adensamento primário, ou, por outras palavras, no
início da construção da laje de transição na cota prevista.

4.1.1.1 Drenos

Optou-se por utilizar a mesma malha de drenos que foi utilizada no aterro AE1. Como atrás referido,
define-se uma malha triangular com drenos espaçados de .

Utilizou-se um colchão drenante, executado com uma areia com caraterísticas idênticas às da areia
grossa do aterro AE1, de espessura média de , com a verificação da capacidade de drenar
apresentada mais adiante.

Os drenos utilizados são o modelo Colbonddrain®CX1000, comercializados pela empresa


COLBOND, compostos por um núcleo drenante de filamentos num arranjo tridimensional, soldados
termicamente, revestidos por geotêxteis não-tecidos de poliéster de abertura de filtração , de
dimensões de de espessura e de largura e fornecidos em rolos de de
comprimento (Colbond).

O dimensionamento do colchão drenante é feito de acordo com a metodologia de Cedergren (1967)


apresentada em (Almeida & Marques, 2010):

Dados a altura e o espaçamento dos drenos, verifica-se que é necessário a colocação de drenos
horizontais, na camada drenante.

Calculando a vazão de cada dreno, , que pode ser estimado com o valor igual à velocidade de

recalque, ⁄ ,multiplicado pelo quadrado da distância de influência, ,que neste caso é .

Com o valor de estimado, para as primeiras semanas, de , logo vem:

[4.4]

Considerando a distância da linha do eixo do aterro até ao ponto de interesse, isto é, até ao ponto
com necessidade de dreno horizontal, devido às perdas de carga a água não tem capacidade de
evacuar, calculado a partir da Eq. [4.5].

√ [4.5]

27
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Com e , valor estimado a partir da curva granulométrica


e com os cálculos apresentado no Apêndice B. Vem que , o que significa que necessita de
sete drenos horizontais espaçados de .

No entanto, este cálculo não tem em conta a existência do declive natural do terreno e que, no aterro
AE1, foi suficiente para efetuar esta drenagem de modo eficiente.

4.1.1.4 Geo-reforço

De forma idêntica ao aterro AE1, propõe-se a aplicação do mesmo geossintético, i.e., aplicar o
reforço tecido de poliéster, modelo Stabilenka, com de resistência nominal à rotura,
comercializado pela empresa Huesker.

O modelo Stabilenka apresenta um módulo de rigidez à tração na direção principal, para 5% de


deformação (J5% ), de aproximadamente . Este valor tão alto é conseguido através de
fibras de poliéster tecidas com as fibras principais retilíneas, o que exibe elevada rigidez, ou por
outras palavras, baixa deformabilidade sob ação das cargas. As fibras da direção secundária, são de
poliamida, que apresentam módulos de deformação menores, logo mais flexíveis. (HUESKER)

O reforço com o geossintético atua como um reforço passivo, isto é, o reforço vai ser mobilizado
consoante as deformações, restringido os deslocamentos.

Estima-se o esforço de tração atuante no reforço através da metodologia proposta em 1985, por
Rowe e Sodermenn, descrita em (Almeida & Marques, 2010), que foi desenvolvida com a intenção de
avaliar as forças de tração mobilizadas no reforço, Eq. [4.6], a partir do valor de deformação
previsível, , em função de um parâmetro adimensional, Ω, calculado a partir da Eq.[4.7], que se
relacionam a partir de um ábaco.

[4.6]

( ) [4.7]

Onde

– esforço normal de tração


– módulo de rigidez à tração
– deformação axial
– peso volúmico do material do aterro
– altura crítica, definida pela Eq. [4.8]
– espessura da camada de argila

– módulo de deformabilidade não drenado


– resistência não drenada
– largura da plataforma

[4.8]

Através da análise do gráfico obtém-se uma deformação de , uma vez que se obteve um

( ) , com , e se trata de taludes 2H:1V. Assim,

Logo, a tração máxima mobilizável no reforço é da ordem de grandeza de , muito inferior ao


.

4.1.1.5 Etapas

Numa primeira etapa, fez-se a previsão de quanto tempo seria necessário para que ocorresse o
adensamento primário devido a construção do aterro, considerando adensamento com drenagem
puramente radial, , devido ao efeito dos drenos verticais. Não foi considerado o efeito de
smear de forma a simplificar e a compensar a não consideração da componente da drenagem vertical
nem as alterações dos valores dos coeficientes de permeabilidade devido a construção faseada.

Definindo pela Eq.[4.9], que é a resolução do problema diferencial, efectuada por Barron em 1948,
considerando drenos de secção circular e volume de solo afetado cilíndrico, para condição de
deformações verticais iguais (Almeida & Marques, 2010).

( ) [4.9]

Em que é o fator de tempo para a drenagem horizontal, definido pela Eq. [4.10] e ( ) é uma
função da densidade de drenos que depende de , definidos pelas Eq.[4.11] e Eq.[4.12]
respetivamente.

[4.10]

( ) ( ) [4.11]

[4.12]

Onde representa o diâmetro de influência de um dreno, para malhas triangulares, e o diâmetro


equivalente do geodreno, definidos pelas Eq.[4.13] e Eq.[4.14] respetivamente, o coeficiente de

adensamento horizontal e o tempo.

29
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

[4.13]

( )
[4.14]

Onde ( ) é o perímetro real do dreno retangular e com as condições até ao momento


definidas, obtém-se os seguintes valores:

( )

Assumindo o grau de adensamento médio da camada no fim do adensamento primário, por questões
matemáticas, de 99%, onde se estima , o que representa 18 meses.

Dado o valor da altura crítica sem reforço, calculado anteriormente, e a altura final do aterro, estipula-
-se que este deve ser dividido em três fases de carregamento, i.e., três etapas construtivas de igual
espessura ou se possível com espessuras decrescentes, garantido sempre que o FS não é inferior a
1,2. Considerou-se que cada fase levaria 30 dias de construção, com uma taxa média de crescimento
de por dia, mais 5 meses de adensamento.

O cálculo das dimensões de cada camada foi feito por um processo iterativo, através da análise de
dados obtidos com o software PLAXIS 2D.

Estima-se os ganhos de resistência não drenada do estrato argiloso devido a construção por etapas,
através da Eq.[4.15] proposta por vários autores:

[4.15]

Com
[4.16]

De forma conservativa, assumiu-se um grau de consolidação antes da colocação da próxima camada


de e a altura de aterro em cada etapa, que depois mais a frente se verifica ser a mais eficaz.
Desta forma, obteve-se os resultados apresentados na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Estimativa dos ganhos de devido á construção faseada

Etapas

Inicio 0,00 0,00 0,00 5,00


1º 3,50 61,25 36,75 9,19 14,19
2º 3,00 52,50 31,50 7,88 22,06
3º 2,50 43,75 26,25 6,56 28,63

4.1.2 Dimensionamento – Plaxis 2D

Optou-se por fazer uma modelação em estado plano de deformação, Plane strain, tendo-se iniciado
por modelar as condições geométricas do terreno e em seguida as do aterro, já estimadas
anteriormente, e respetivos materiais, resultante na Fig.4.3.

Fig. 4.3 – Perfil transversal do Aterro Convencional: 1 – Aterro; 2 – Colchão Drenante; 3 – Aterro Hidráulico; 4 – Estrato
Argiloso; 5 – Estrato de Areia Densa

Os materiais do corpo do aterro e do aterro hidráulico, presentes na Fig.4.2, são modelados com o
modelo de material Hardening Soil , com as caraterísticas apresentadas na Tabela 3.1 para a Areia
Fina.

A areia do colchão drenante é também modelada com o modelo de material Hardening Soil, com as
caraterísticas apresentadas na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 – Parâmetros característicos da Areia do colchão drenante


Parâmetro Valor
Parâmetros geotécnicos

Peso volúmico, γ [kN/m3] 17,4


Índice de vazios, e0 0,5
-4
Coeficiente de permeabilidade vertical, 10
-4
Coeficiente de permeabilidade horizontal, 10
Parâmetros constitutivos

Angulo de atrito interno efectivo, ∅’[graus] 33,8


Angulo de dilatância, [graus] 3,8

31
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Coesão efectiva, c’ [kPa] 0


2
Módulo de resistência, [kN/m ] 100 000
Coeficiente de poisson, ν’ 0,30

A areia da camada mais funda é modelada com o modelo de material Morh-Coulomb e com as
caraterísticas apresentadas na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 – Parâmetros característicos da Areia de fundo


Parâmetro Valor
Parâmetros geotécnicos

Peso volúmico γ 17,5


Índice de vazios e0 0,5
-4
Coeficiente de permeabilidade vertical 10
-4
Coeficiente de permeabilidade horizontal 10
Parâmetros constitutivos

Angulo de atrito interno efetivo ∅’[graus] 33,8


Angulo de dilatância [graus] 3,8
Coesão efectiva c’ 0

Módulo de resistência 100 000

Coeficiente de poisson, ν’ 0,30

A argila é modelada com o modelo de material de Soft soil, com os parâmetros apresentados na
Tabela 3.2. No entanto, para modelar em Plane strain e para representar o efeito smear, fez-se a
transformação do problema 3D em 2D e alterou-se a permeabilidade junto dos drenos
respetivamente, como mostra a Fig.4.4, aplicando-se a metodologia sugerida Indraratna et al.
apresentada no artigo (Almeida, Magnani, Dias, & Deotti, 2011) onde recomenda a aplicação das
seguintes equações:

( )
[ ]
[4.17]
[ ( ) ⁄ ]

Onde:

– Permeabilidade horizontal em Plane Strain

– Permeabilidade horizontal que toma o valor apresentado na tabela 3.2

– diâmetro da célula unitária para a malha triangular espaçada de


( )
– diâmetro equivalente do dreno retangular de dimensões
Que tomam os seguintes valores:

( )

Logo vem:
( )
[ ]
[ ( ) ⁄ ]

De seguida, obtém-se a permeabilidade horizontal em Plane Strain com smear, , com a


Eq.[4.18] e assumindo que a permeabilidade horizontal com smear é um terço da permeabilidade

horizontal, i.e., .

[4.18]
[ ( ) ( ) ]

Com :
( )
[4.19]
( )

[ ( ) ( )] [4.20]
( )

[4.21]

Onde se assume que o diâmetro da área afetada pelo efeito smear é , sendo o
diâmetro equivalente do malandrim, que neste caso toma o valor de . Desta forma obtém-se os
seguintes valores:

( )
( )

[ ( ) ( )]
( )

[ ( ) ( ) ]

Desta forma, resume-se na Tabela 4.4 os valores das permeabilidades obtidas.

33
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Tabela 4.4 – Permeabilidades da Argila Mole


Parâmetro Valor
Permeabilidade vertical

Permeabilidade horizontal
Permeabilidade horizontal com Smear
Permeabilidade horizontal em Plane Strain
Permeabilidade horizontal em Plane Strain com Smear

Fig. 4.4 – Transformação das permeabilidades (Indraratna, Rujikiatkamjorn, Sathananthan, Shahin, & Khabbaz, 2005)

Desta forma, após correr o modelo no software Plaxis 2D, foi possível obter os deslocamentos no
topo do aterro, que se apresentam em forma de gráfico na Fig.4.5.
Fig. 4.5 – Andamento dos recalques sentidos no topo do aterro e a altura construída de aterro em relação ao tempo para
o aterro sobre drenos verticais

O breve levantamento do solo com a retirada da sobrecarga é da ordem dos , o que em obra
pode ser quase impercetível ou com o início do trabalhos de pavimentação nem ocorrer.

Obtém-se a deformada final que se apresenta na Fig.4.6, que era a esperada.

Fig. 4.6 – Deformação final da solução Aterro Convencional

Verificou-se que o georeforço teria um esforço axial máximo de T=12,2 kN (valor verificado no
programa Plaxis 2D) e a deformada idêntica à das camadas de aterro que o confinam, visível na
Fig.4.6.

35
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Na Fig.4.7 apresenta-se o andamento das poro-pressões a meia altura do estrado de argila entre
drenos ao longo do tempo, onde é claramente visível a sua dissipação com o tempo. Através das
opção de out put é possível visualizar as poro-pressões em forma de degradé, como mostra a Fig.4.8,
onde é visível o efeito dos drenos.

Fig. 4.7 – Andamento da Poro-pressão no ponto a meia altura do estrado de argila entre drenos.

Fig. 4.8 – Efeito dos drenos – definição dos diferentes coeficientes de permeabilidade e a dissipação da poro-pressão

Pode-se verificar que com a construção em etapas a camada de argila obteve melhorias
consideráveis, fazendo com que se obtivesse assentamentos menores do que os estimados
analiticamente e que necessita de mais tempo para estabilizar.

Como medida de intervenção, foi previsto a colocação de bermas de equilíbrio, caso se verificasse
que o fator de segurança não atingia um valor aceitável. A colocação de bermas é uma solução
utilizada quando o solo de fundação não tem resistência suficiente para suportar a construção rápida
do aterro, fazendo com que a superfície de rotura tenha um maior raio e por consequência uma maior
superfície de atrito, onde o peso das bermas funcionam como contrapeso (problema de estabilidade
global). Contudo, apresenta custos adicionais devido aos volumes de material de aterro a colocar em
obra e ao aumento da área total ocupada.
De forma a suavizar algum assentamento relativo junto do encontro, propõe-se a instalação de uma
laje de transição.

4.2 Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas

Entende-se por aterro estruturado um aterro sobre uma estrutura resistente que faça a transmissão
da maior parte das cargas para o estrato competente, como mostra a Fig.4.9. No caso presente,
esses elementos são as colunas granulares encamisadas e mais a frente estacas.

Fig. 4.9 – Esquema de transmissão das cargas (modificado(Pinto, Tratamento de Fundação, 2012/2013)

Este tipo de aterros tem como vantagem, face aos convencionais, um menor prazo construtivo e
maior controle sobre os recalques. Contudo, como foi referido anteriormente, o método de construção
de colunas granulares é também considerado como uma técnica de tratamento, uma vez que produz
um aumento de resistência na argila e drenagem do estrato.

4.2.1 Pré-Dimensionamento

Estipulou-se que o aterro teria na base o mesmo georeforço que o aterro convencional e que as
colunas teriam um comprimento tal de modo a ficarem encastradas no estrato competente, diâmetro
, dimensão comum para este tipo de estruturas, formando uma malha quadrada com um
espaçamento , de modo a que ficasse assegurada a não existência de assentamentos diferenciais
no topo do aterro. Para tal, aplicam-se os critérios proposto por (Filz, 2012) onde apresenta a
Eq.[4.22].

[4.22]

Onde é o diâmetro do topo da coluna e é a metade da maior distância horizontal de solo contido
entre colunas, como mostra o esquema apresentado na Fig.4.10.

37
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 4.10 – Esquema das distâncias para a malha quadrangular

Esta metodologia foi desenvolvida para estacas. No entanto, também é valida para estes casos e
com uma abordagem conservativa, visto que estes elementos apresentam maior compressibilidade, o
que provoca que as colunas granulares tenham um deslocamento do topo da coluna maior do que no
topo da estaca, ou, por outras palavras, os deslocamentos da coluna acompanham mais os
deslocamentos do terreno que o das estacas, o que faz com que haja menos assentamentos
diferenciais no topo do aterro.

Impondo a altura, , com o diâmetro obtemos o valor de , aplicando-


-se a Eq.[4.22]. Por consequente, obtemos o maior valor de que garante a não existência
de assentamentos diferencias no topo. Optou-se por estipular , valor comum neste tipo de
obras, por questões de drenagem.

O material granular utilizado tem as propriedades típicas de uma areia comum, com os parâmetros
caraterísticos apresentados na Tabela 4.5.

4.2.2 Dimensionamento – Plaxis 2D

No processo de modelar utilizou-se o conceito de célula unitária, com diâmetro equivalente


, como a Fig.1.1 mostra, para o caso das malhas quadradas, utilizando a opção de
simetria axial, Axisymmetry, nos modelos apresentados na Fig.4.11.
Fig. 4.11 – Célula unitária da Coluna Granular com, e sem, encamisamento e respetiva malha de elementos finitos

Em que os materiais da coluna granular são modelados com o modelo de material Morh-Coulomb
com as caraterísticas apresentadas na tabela seguinte. Todos os outros materiais tiveram suas
propriedades e modelos inalterados.

Tabela 4.5 – Parâmetros característicos do material da coluna granular


Parâmetro Valor
Parâmetros geotécnicos

Peso volúmico húmido γh [kN/m3] 18


Peso volúmico saturado γsat [kN/m3] 20
-4
Coeficiente de permeabilidade vertical 1,16x10
-4
Coeficiente de permeabilidade horizontal 1,16x10
Parâmetros constitutivos

39
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Índice de vazios e0 0,5


Angulo de atrito interno efectivo ∅’ [graus] 38
Angulo de dilatância [graus] 12
Coesão efectiva c’ [kPa] 5
3
Modulo de Deformabilidade E’[kN/m2] 25x10
Índice n’ 0,30

Estipulou-se que cada fase de construção levaria 5 dias de construção e 15 dias de intervalo, sendo
que, na ultima etapa, impôs-se a condição de paragem quando atingir a
para verificar o comportamento a longo prazo. Não foi considerado o período de construção
das colunas.

Iniciou-se por modelar o caso de uma célula unitária da coluna granular sem o encamisamento e
verificar que este produz grandes assentamentos, visto que a argila não concede o confinamento
lateral necessário, obtendo a curva de ,
apresentada no Fig.4.13.

Fig. 4.12 – Andamento dos recalques sentidos no topo do aterro e a altura construída de aterro em relação ao tempo
para a Coluna Granular não encamisada

Na Fig.4.14 está representada a curva para o caso com encamisamento.


Na Fig.4.15 estão representadas as curvas da poro-pressão entre colunas a meia altura do estrado
de argila ao longo do tempo, onde é explícito e se pode comparar e ver o contributo do
encamisamento/confinamento com geossintético.

Fig. 4.13 – Andamento dos recalques com a altura construída de aterro em relação ao tempo para a Coluna Granular
encamisada

Fig. 4.14 – Andamento da Poro-pressão a meia altura do estrado de argila com o tempo

41
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

4.3 Aterro sobre Estacas

Estipulou-se que, nesta solução, se iria considerar o aterro sobre estacas de betão armado, com
capitéis e com plataforma de georeforço na base. Propondo a colocação de estaca cravada, dadas as
suas vantagens, maior mobilização da capacidade de ponta e atrito lateral devido ao método
construtivo, o tipo de solo ser favorável, homogéneo, e sem possibilidade de vibrações provenientes
do processo de cravação perturbar outras infra-estruturas vizinhas, dado a hipótese inicial de que não
existem num raio considerável.

4.3.1 Pré-Dimensionamento

Com e ∅ , capitel circular de , com uma malha quadrangular de lado


de forma a respeitar os critérios propostos por Kempfert em 2004, e para controlar as tensões
no reforço, descritas em (Almeida & Marques, 2010) e os deslocamentos diferenciais no topo do
aterro, tal como foi feito para o caso das colunas granulares, (Filz, 2012), os cálculos estão em anexo
no Apêndice B.

Dada a falta de informações sobre o estrato arenoso de fundo, o dimensionamento do comprimento


de ficha foi estimado de forma expedita, com , valor que se mostrou ser razoável com os
resultados obtidos mais a frente.

4.3.2 Dimensionamento – Plaxis 2D

Tal como no caso do aterro sobre colunas granulares, a modelação do aterro sobre estacas recorre a
uma célula unitária, com o modelo presente na Fig.4.16.

Na verificação dos deslocamentos que ocorriam e os esforços introduzidos, modelou-se a estaca de


betão armado com um comportamento linear elástico, com as propriedades apresentadas na tabela
seguinte. Todos os outros materiais tiveram suas propriedades e modelos inalterados.

Tabela 4.6 – Parâmetros característicos do Betão Armado


Parâmetro Valor
Peso volúmico, γ [kN/m3] 25,0
2 6
Módulo de resistência, [kN/m ] 30x10

Coeficiente de poisson, ν’ 0,00


-4
Coeficiente de permeabilidade vertical, 10
-4
Coeficiente de permeabilidade horizontal, 10
Fig. 4.15 – Célula unitária do aterro sobre estacas e respetiva malha de elementos finitos

Verificou-se que a estaca tem um deslocamento vertical de e que não existem assentamentos
diferenciais no topo, os deslocamentos obtidos no final da construção estão presentes na Fig.4.18.

Contudo, a modelação axissimétrica não considera a anisotropia do georeforço, nem permite verificar
a concentração de tensões nos cantos dos capitéis. De forma a solucionar esta limitação, no
dimensionamento foi previsto a construção de capitéis circulares e sem arestas vivas, como mostra a
Fig.4.17.

Fig. 4.16 – Detalhe construtivo dos capitéis (modificado de (Almeida & Marques, 2010)

43
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 4.17 – Degrade dos deslocamentos do modelo de Aterro Estaqueado

Verificou-se que o reforço tem uma deformação pequena, apresentada na Fig.4.19 e que o esforço
axial máximo foi de .

Fig. 4.18 – Deformação do georeforço do Aterro Estaqueado


5 Modelação numérica

Os modelos numéricos tentam, através de relações matemáticas, representar o comportamento real


do solo da forma mais simples possível.

No entanto, têm sempre limitações e por isso a necessidade de conhecer o modelo que melhor se
adequa a cada elemento que se pretende modelar e o objetivo final da modelação, i.e., que
resultados que se pretendem avaliar.

Os modelos de solo podem ser considerados como uma representação qualitativa do comportamento
do solo enquanto os parâmetros do modelo são usados para quantificar as características do solo.

O software Plaxis 2D tem desenvolvido o seu código e seus modelos de solos com o objectivo de
comercializar uma ferramenta simples e fiável de simulação geotécnica capaz de resolver problemas
geotécnicos reais. Sendo que a precisão depende muito da selecção dos parâmetros do modelo bem
como da experiência do usuário e capacidade de julgar a confiabilidade dos resultados
computacionais.

Os modelos, em seguida apresentados são, só os utilizados na modelação com recurso ao software


Plaxis 2D, referidos anteriormente.

5.1 Modelos utilizados

Os dados apresentados, em seguida são retirados do Manual do software Plaxis 2D.

5.1.1 Linear Elástico

O modelo Linear Elastic baseia-se nas leis de elasticidade isotrópica de Hooke, utilizando apenas
dois parâmetros básicos da teoria da elasticidade, o modulo de elasticidade E e o coeficiente de
Poisson ν.

O modelo é recomendado para modelar elementos estruturais fortes, i.e. maciças, nas camadas de
solo, como paredes de betão, ou formações rochosas intactas ou mesmo volumes de solos de muita
elevada rigidez.

O modelo não é recomendado para modelar solos devido ao seu comportamento altamente não
linear e irreversível, i.e., insuficiente para capturar as características essenciais do solo. Por outro
lado a utilização deste modelo necessita de um cuidado redobrado na analise de dados uma vez que
os estados de tensão não estão limitados, não têm condição de cedência, o que significa que o
modelo apresenta resistência infinita.

5.1.2 Mohr-Coulomb

O modelo Mohr-Coulomb, modelo elástico linear perfeitamente plástico, Fig.5.1, relaciona cinco
parâmetros, o módulo de elasticidade E e o coeficiente de Poisson ν para quantificar as caraterísticas

45
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

elásticas do solo e o ângulo de atrito interno ∅ e a coesão c para as de plasticidade e ainda o ângulo
de dilatância ψ.

Fig. 5.1 – Tensão deformação para o modelo elástico-plástico (Plaxis, 2010)

O modelo é recomendado para uma primeira análise de problemas, em que os estratos de solo
apresentem uma rigidez média constante ou uma rigidez que aumente linearmente com
profundidade. Permitindo uma primeira estimativa das deformações de forma relativamente rápida.
Com o uso do critério de rotura de Mohr-Coulomb, aplicando os parâmetros efetivos, i.e., ∅’e c’, o
estado de tensão efetivo na rotura fica muito bem definido, Fig.5.2.

Fig. 5.2 Superfície de rotura do modelo Mohr-Coulomb, com , (Plaxis, 2010)

O modelo pode ser aplicado a material não drenado, aplicando o ângulo de atrito ∅ e a coesão
, de forma a controlar directamente a resistência não drenada. Neste caso, note que o modelo
não incluirá automaticamente o aumento da resistência ao cisalhamento devido à consolidação.
No entanto, embora o modelo consiga contabilizar o aumento da rigidez com a profundidade, não tem
em consideração as trajetórias de tensão ou os estados de tensão anteriores e a anisotropia dos
solos.

5.1.3 Hardening Soil

O modelo de Hardening Soil é um modelo avançado para simular o comportamento do solo que tem
em conta o endurecimento isotrópico, que tal como o modelo de Mohr-Coulomb, tem os estados
limites de tensão, Fig.5.3, descritos pelos parâmetros angulo de atrito, coesão e angulo de dilatância.
No entanto, a rigidez do solo é descrita com mais precisão, usando três parâmetros, módulo de
rigidez triáxial de carga, E50, módulo de rigidez triáxial de descarga, Eur, e o módulo de rigidez
oedométrico, Eoed. Permitindo ainda ter em conta o estado de tensão inicial.

Fig. 5.3 – Superfície de rotura do modelo Hardening Soil, definido em tenções principais (Plaxis, 2010)

No entanto, embora o modelo de endurecimento do solo pode ser considerado como um modelo
avançado de solo, há um certo número de caraterísticas do comportamento real do solo que este
modelo não inclui. Tais como o amolecimento devido à dilatância do solo e os efeitos de fronteira.

5.1.4 Soft Soil

O modelo Soft Soil mole é um tipo de modelo Cam-Clay especialmente destinado para compressão
primária de solos argilosos normalmente consolidados. Semelhante ao modelo Hardening Soil, que
parece como opção por uma questão de familiaridade dos usuários, com a superfície de Rotura

definida na Fig.5.4.

47
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 5.4 – Superfície de Rotura do modelo Soft Soil, definido em tensões principais (Plaxis, 2010)

Apresenta as mesmas limitações (incluindo aqueles para o modelo suave deslizamento do solo)
detêm no modelo de solo mole. A utilização do modelo de solo mole deve ser limitado às situações
que são dominadas por compressão. Certamente, não é recomendado para uso em problemas de
escavação.

5.2 Opções Plaxis 2D

No início de cada projeto optou-se pelo Classic Mode como modo de cálculo. Classic Mode é
apresentado como modo de cálculo padrão, em que utiliza a definição de tensão de Terzaghi,
. Neste modo de cálculo, as poro-pressões são divididas em pressões intersticiais
estacionárias e excesso de poro-pressões. As poro-pressões estacionárias são dados de input,
geradas com base em níveis freáticos ou fluxo de águas subterrâneas. Os excessos de poro-pressão
são gerados em materiais não drenados durante os cálculos.

Após a definição da geometria e respetivos materiais definiu-se as etapas de cálculo.

Em todos os projetos, a primeira etapa de cálculo foi definida com a função de gerar as tensões
iniciais. Para tal optou-se por usar o tipo de análise k0, uma vez que o problema apresenta uma
estratificação com orientação horizontal.

K0 é um método de cálculo volúmico para definir as tensões iniciais para o modelo, tendo em conta o
historial de carga do solo, i.e., as tensões iniciais de um corpo de solo são influenciadas pelo peso do
material e da história da sua formação. O estado de tensão inicial é geralmente caracterizada por
uma tensão vertical efetiva inicial e por uma a tensão efectiva horizontal inicial, que está relacionada
com a tensão vertical inicial efetiva pelo coeficiente de impulso em repouso, K0.
Nas etapas seguintes, em que a configuração do carregamento se altera num curto espaço de tempo,
optou-se por aplicar um método de cálculo plástico.

O cálculo Plastic é usado para realizar uma análise de deformações elásto-plásticas de acordo com a
teoria das pequenas deformações, i.e., a matriz de rigidez num cálculo de plástico é baseado na
geometria original não deformada.

Este tipo de cálculo é apropriado em aplicações geotécnicas mais práticas, uma vez que o cálculo de
plástico não toma em conta os efeitos do tempo, excepto quando o modelo Soft Soil Creep é
utilizado.

Este modelo foi aplicado nas fases de construção para o projeto do aterro estaqueado, uma vez que
se considerou um carregamento rápido, i.e., em ou de forma equivalente ,
como mostra a Fig.5.5.

Fig. 5.5 – Painel das etapas de cálculo do projeto do Aterro estaqueado

Nas etapas entre carregamentos, etapas de espera, opta-se pelo método de cálculo de consolidação,
como mostra a Fig.5.5.

O método de cálculo Consolidation (EPP) é geralmente conduzido em modo clássico, quando é


necessária uma análise do desenvolvimento e dissipação do excesso de poro-pressão em função do
tempo de um solo argiloso. Permitindo uma análise de consolidação elasto-plastica.

Para os projetos do aterro convencional e sobre colunas granulares, de forma a simplificar o modelo e
diminuir o número de etapas de cálculo, optou-se por aplicar o método de cálculo Consolidations
(EPP) nas fases de carregamento, i.e., substitui-se trinta etapas de cálculo plástico, onde se fazia o
crescimento de em , por uma etapa de cálculo de consolidação com uma duração de
e um crescimento de , como mostra a Fig.5.6 e Fig.5.7.

Desta forma, verificam-se assentamentos durante a construção das várias camadas de aterro, visível
nos gráficos Andamento dos recalques sentido no topo do aterro e a altura construída de aterro em

relação ao tempo apresentados no tópico anterior, semelhante ao ocorre nos casos de obras reais.

49
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Fig. 5.6 – Painel das etapas de cálculo do projeto do Aterro Convencional

Fig. 5.7 – Painel das etapas de cálculo do projeto do Aterro Sobre Colunas Granulares

Em todos os projetos é acrescentada uma última etapa de cálculo para verificar quanto tempo leva o
modelo a estabilizar as deformações. Nos modelos em que está associada a drenagem radial, os
drenos e as colunas granulares, optou-se por impor como condição de paragem desta última etapa
de cálculo o excesso de poro-pressão mínima igual a . No modelo do Aterro Estaqueado
optou-se pelo cálculo equivalente, mas com a condição de paragem de .

Em toda a modelagem foi acionada a opção de atualização da malha de elementos finitos e do nível
de água, uma vez que se verificavam grandes deformações.
6 Análise Económica
Este tópico tem como objetivo apresentar a análise comparativa, a nível de custos de execução das
três soluções.

O Aterro sobre Colunas Granulares não foi aqui analisado, uma vez que é muito semelhante ao
projeto do Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas e apresentou menor eficácia.

Nas Tabelas 6.1 a 6.3 estão descritas as atividades, quantidades e respetivos preços para cada
opção de projeto e na Fig.6.1 a secção tipo de cada solução, com a respetiva imagem ampliada em
anexo. As quantidades apresentadas estão contabilizadas por metro longitudinal de aterro e como
consequência, também os preço finais se referem a €/(metro longitudinal de aterro).

Os valores do preço unitário para cada tarefa são representativos dos valores médios de mercado
português.

Tabela 6.1 – Proposta para Aterro Convencional (A)


Aterro Convencional
Designação
Quant. Un. Preço unit. Valor total

1. Cravação dos drenos incluindo no preço


a matéria prima e todos os trabalhos
necessários para a sua correcta aplicação. 392,0 m 1,50 €/m 588,00 €

2. Instalação do georeforço incluindo no


preço a matéria prima e todos os trabalhos
2 2
necessários para a sua correcta aplicação. 48,0 m 3,00 €/m 144,00 €

3. Construção do aterro, incluindo no preço


a matéria prima, todos os trabalhos
necessários pra a compactação, ensaios,
3 3
quantidade de agua e respectivo transporte 270,0 m 8,00 €/m 2.160,00 €

4.Escavação da sobre-carga, incluindo no


3 3
preço respectivo transporte para vazadoro 33,8 m 5,00 €/m 169,00 €
Total 3.061,00 €

51
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Tabela 6.2 – Proposta para Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas (B)
Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas
Designação
Quant. Un. Preço unit. Valor total

1. Construção das colunas granulares


encamisadas de ∅=800 mm, incluindo no
preço a matéria prima e todos os trabalhos
necessários para a sua correcta aplicação. 120,0 m 35,00 €/m 4.200,00 €

2. Instalação do georeforço incluindo no


preço a matéria prima e todos os trabalhos
2 2
necessários para a sua correcta aplicação. 42,0 m 3,00 €/m 126,00 €

3. Construção do aterro, incluindo no preço


a matéria prima, todos os trabalhos
necessários para a compactação, ensaios,
3 3
quantidade de agua e respectivo transporte 170,5 m 8,00 €/m 1.364,00 €
Total 5.690,00 €

Tabela 6.3 – Proposta para Aterro Estaqueado (C)


Aterro Estaqueado
Designação
Quant. Un. Preço unit. Valor total
1. Cravação das estacas pré-moldadas de
∅=300 mm e construção do respectivo capitel,
incluindo no preço a matéria prima e todos os
trabalhos necessários para a sua correcta
aplicação. 52,0 m 55,00 €/m 2.860,00 €

2. Instalação do georeforço incluindo no


preço a matéria prima e todos os trabalhos
necessários para a sua correcta aplicação. 41,0 m2 3,00 €/m
2
123,00 €

3. Construção do aterro, incluindo no preço


a matéria prima, todos os trabalhos
necessários para a compactação, ensaios,
quantidade de agua e respectivo transporte 154,0 m3 8,00 €/m
3
1.232,00 €
Total 4.215,00 €

Na proposta apresentada para o Aterro convencional não foi introduzido o preço da construção da
laje de transição, uma vez que essa contabilização não era viável por metro longitudinal de aterro.

Com os valores obtidos para cada proposta apresentada é possível concluir que a solução mais
flexível – Aterro Convencional – é a mais barata, com um custo de 3.061,00 € por metro longitudinal
de aterro. No entanto, é também a solução que necessita de maior espaço de tempo – 18 meses –
para obter a estabilização do estrato compressível.

O fator tempo deve ser analisado em conjuntos com outros fatores como por exemplo, o tempo de
construção das outras infra-estruturas ou as outras intervenções que aquela área vai sofrer. Pode
suceder que o tempo de espera entre etapas de construção seja utilizado, na íntegra, para a
construção das outras infra-estruturas.

A solução mais cara é a proposta de Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas, com um custo de
5.690,00 € por metro longitudinal de aterro, não apresentando nenhuma vantagem para a solução
do Aterro Estaqueado.

A proposta de Aterro Estaqueado é a solução mais rígida e com maior fiabilidade.

Nos vários projetos não se alterou a inclinação dos taludes, 1:2 (vertical:horizontal) por ter sido uma
condicionante inicial. No entanto, é plausível que nas soluções mais rígidas se possam executar
taludes com inclinações mais próximas da vertical, o que se iria traduzir em menores volumes de
terra que se iria refletir de forma significativa no custo final.

Fig. 6.1 – Secção tipo de cada solução: A – Aterro Convencional; B – Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas;
C – Aterro Estaqueado.

53
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
7 Considerações Finais

7.1 Conclusão

Os aterros sobre solos moles podem ser construídos com sucesso, caso a solução tenha
contabilizado o complexo comportamento dos solos argilosos.

A análise da solução mais adequada, para além de garantir a segurança e a funcionalidade, também
deve ter em consideração a existência, ou não, de mão-de-obra especializada e competências para
executar o projecto, assim como todas as questões ambientais e o contexto sóciocultural em que se
insere.

Através da modelação de todas as soluções verificou-se a altíssima compressibilidade da argila do


Pirajubaé, obtendo grandes deformações como era expetável.

Tal como no aterro experimental AE1, a solução do Aterro Convencional explora ao máximo o
benefício do adensamento acelerado através da combinação dos drenos e da sobrecarga. Os aterros
revelaram o comportamento que é apresentado na figura seguinte:

Fig. 7.1 – Comportamento esperado da solução Aterro Convencional e o comportamento verificado do Aterro AE1.

Verifica-se que os primeiros assentamentos ocorrem de forma idêntica, i.e., a curva dos
assentamentos no início do carregamento apresentam valores e andamentos semelhantes. Contudo,
verificou-se que o andamento do aterro experimental AE1 face ao aterro convencional modelado
apresentou níveis de poro-pressão inferiores devido ao espaçamento temporal, permitindo a sua
dissipação e consequentemente manter a estabilidade da fundação. A tensão medida no georeforço
antes da rotura foi , enquanto que no modelo o esforço axial máximo medido foi de
.

55
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Com a modelação verificou-se que, através da construção faseada, a camada de argila obteve
melhorias consideráveis, resultando em assentamentos menores e consequentemente ha diminuição
do coeficiente de permeabilidade, o que provoca a necessidade de mais tempo para a dissipação das
poro-pressões, i.e., mais tempo para estabilizar.

Através da modelação da solução do Aterro sobre Colunas Granularas concluiu-se que o solo não
confere confinamento suficiente às colunas granulares e que a simples introdução do envolvimento
em geossintético aumenta substancialmente a eficácia do sistema solo-coluna drenante.

A análise económica foi realizada com a intenção de comparar o custo de cada solução, tendo sido
aplicados valores médios relativos ao mercado português. Contudo os valores apresentam preços de
mão-de-obra superiores aos aplicados na América do Sul, o que na contabilização do fator tempo
requer especial atenção, como já referido anteriormente.

A importância de uma boa caraterização geológica e geotécnica é o fator essencial para a execução
de um bom projeto. A interpretação das particularidades a ultrapassar em cada solução é um fator
crítico, ou seja, por cuidadoso que seja o projeto caso a prospecção geotécnica não permita a
adequada caraterização, o resultado final não irá ser satisfatório.

7.2 Sugestões Para Futuras Pesquisas

- No presente caso prático seria possível desenvolver outras soluções baseadas em diferentes
técnicas construtivas, como por exemplo, construir o aterro com recurso a materiais leves ou testar
outras técnicas de melhoramento e aceleração dos recalques, como por exempro o adensamento
com aplicação de vácuo ou eletrosmose, técnicas recentes.

- Neste trabalho não se contabilizou os deslocamentos horizontais no estrato compressível, mas


caso a superestrutura já tiver sido construída à data da intervenção, os deslocamentos podem
traduzir-se em esforços de corte significativos nos elementos estruturais enterrados, não previstos
em projeto.

- A análise do comportamento da fundação de um aterro pode ser melhorada. Por um lado, na


modelação, aplicando o modelo de cálculo Soft Soil Creep, em vez de Soft Soil, contabilizando a
fluência diretamente, por outro fazendo a contabilização das acções dinâmicas, que no Brasil não
constitui uma questão preocupante, mas que em Portugal é um fator de risco.
Bibliografia

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Encamisadas com Geosintético. Tese de Douturamento - Faculdade de Tecnologia. Brasilia.

Borges, J. M. (1995). Aterros Sobre Solos Moles Reforçados Com Geossintéticos, Análise e
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Mestrado – IST – UTL .

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Martins, I. S. (Novembro de 1992). Fundamentos de um Modelo de Comportamento de Solos


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57
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

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Sonney, R. (2013). Numerical analysis of 3 test embankments on soft ground: effect of basal
reinforcement and prefabricated vertical drains. Tese de Mestrado – COPPE - UFRJ. Rio de
Janeiro, Brasil.
Apêndice A

Imagens retirada a partir do Google Maps, com a localização da Costeira do Prajubaé.

Fig. A.1 – Localização da Costeira do Pirajubaé

59
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
Apêndice B
Cálculo aproximado da permeabilidade da areia grossa do colchão drenante com base na curva
granulométrica, presente na Fig.A.1, através da expressão de Kozeny, Eq.[A.1], que é valida para
solos com menos de 5% de partículas que passam no peneiro nº200 (d=0,074) (Cardoso, 2012/2013)

[A.1]
( )

Onde

– porosidade
– parâmetro que depende da Distribuição granulométrica, definido pela Eq. [A.2]
– percentagem em peso do material com dimensões entre e .
– diâmetro do peneiro.
– fator de forma, geralmente assume o valor de 1,1

∑ [A.2]

Fig. B.1 – Granulometria da areia do colchão drenante do aterro AE1 (Magnani, Comportamento de aterros reforçados
sobre solos moles levados à ruptura, 2006)

Com recurso ao software Excel, supondo um , valor admissível neste tipo de areias, estimou-
se um valor de coeficiente de permeabilidade de .

Os cálculos intermédios são apresentados na tabela A.1.

61
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES

Tabela B.1 – Granulometria e Cálculos intermédios


Colchão Drenante
Peneiro D [mm]
% que passa ( )
ASTM √
3" 76,2 100% 0,00 0,10 0,00
2" 50,8 100% 0,00 0,14 0,00
1 1/2" 38,1 100% 0,00 0,19 0,00
1" 25,4 100% 0,00 0,27 0,00
3/4" 19,1 100% 6,00 0,39 2,33
1/2" 12,5 94% 4,00 0,55 2,20
1/4" 9,5 90% 11,00 0,89 9,83
#4 4,75 79% 19,00 1,95 36,99
#10 2 60% 21,00 3,91 82,02
#16 1,18 39% 17,00 8,47 144,03
#40 0,425 22% 10,00 19,94 199,42
#80 0,213 12% 10,00 47,47 474,71
#200 0,075 2%
Total 98,00 84,27 951,53
1046,68
Apêndice C
Cálculo do espaçamento :

Segundo os critérios de Kempfert que recomenda que (a) , para o caso de cargas

móveis e que (b) .

No caso presente, para os valores extipulados obtemos os valores apresentados em seguida:

(a)

(b) ( )

Segundo o critério do esforço de tração actuante no geossintético a partir das tenções verticais,
calculadas pelo método proposto por Kempfert et al., em 2004:

Onde primeiro, através do abaco proposto por Kempfer et al., em 2004, com entrada de ,

na curva respectiva de ( ) , se retira que . O abaco foi desenvolvido para

um , o que não é o nosso caso, no entanto, dado que o em questão é superior


e não muito diferente, assumiu-se os valores aproximados e valido.

Obtendo assim uma tenção de tração, , atreves do método da parábola, isto é admitindo que a
deformação do geossintético entre os capiteis toma a forma parabólica, aplicado a Eq. [B.1]

̂ ̂ [B.1]

( ) ( )
Em que ̂ toma o seguinte valor ̂ e . Valor da

ordem de grandeza comum neste tipo de estruturas. Propõe-se a colocação do geotêxtil do modelo
Stabilenka, com 300 x 45 kN/m de resistência (FS=2).

E por fim, o critério que garante a não existência de assentamentos diferencias no topo do aterro, já
aplicado no tópico 4.3.1., logo vem que:

( ) ( )

63
ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
Apêndice D

Fig. D.1 - Esquema da secção tipo do Aterro Convencional

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ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
Apêndice E

Fig. E.1 - Esquema da secção tipo Aterro sobre Colunas Granulares Encamisadas

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ANÁLISE DE SOLUÇÕES DE PROJETO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES
Apêndice F

Fig. F.1 - Esquema da secção tipo do Aterro Estaqueado

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