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A TEORIA DOS LEILÕES E O MERCADO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

Wilson Oliveira de Souza Neto

Resumo
O objetivo do trabalho é analisar a relação entre a chamada teoria dos leilões e a abertura do
setor de energia elétrica brasileiro a privatizações. O setor elétrico, que antes era basicamente
governamental e monopolista, passou a ser extremamente competitivo e concorrencial, onde
as empresas, para sobreviverem neste mercado devem ter eficiência de gestão e custos baixos,
para assim poderem vencer os leilões de energia elétrica e continuarem atuando neste ramo.
Os Leilões são mecanismos econômico de negociação, utilizados na comercialização de bens
em mercados complexos, principalmente, quando não existe uma referência de preço estável.
Os leilões podem ser definidos como um método formal para alocar recurso baseado na
competição, onde vendedor e comprador buscam o maior benefício possível. Neste trabalho
são apresentados os principais tipos de leilões, suas formulações, formas de aplicação no setor
elétrico e algumas das estratégias, tanto para o leiloeiro como para os agentes participantes, de
atuação que podem ser formatadas utilizando essa teoria. No setor elétrico podemos
identificar vários ambientes de aplicação de leilões. São eles: leilões de empreendimentos,
mercado de contratos bilaterais, e o antigo mercado de cotas. O mecanismo de leilão é
utilizado para que os agentes do setor elétrico possam ter uma ideia do preço da energia
elétrica, no caso de sua aplicação em mercados, ou do preço de concessões, no caso dos
leilões de empreendimentos, sendo um mecanismo justo e eficiente de fixação de preços.

Palavras-chave: Privatizações, setor de energia elétrica, Teoria dos leilões.

1 Introdução

Muitas transações econômicas são realizadas através de leilão. O governo utiliza-os


para vender títulos do tesouro, direitos minerais, incluindo campos de petróleo, e em
privatizações de empresas e concessões de serviço de telefonia, comunicação e eletricidade. A
abertura do setor de energia elétrica, que teve início na década de 1990, tem obtido cada vez
mais destaque, observada a viabilidade da aplicação da teoria dos leilões para outros setores
regulados, incentivando, sobre estes, a atuação de entes privados sobre segmentos que, até
então, tiveram predomínio de atividade por instituições públicas, como é o caso do setor de
saneamento básico, com o novo marco regulatório, Lei N.º 14.026/2020.
A ligação entre a teoria dos leilões e a teoria econômica padrão é ampla, e seu
entendimento é útil para a elaboração de estratégias na análise de diversos fatores
econômicos. Por ser um ambiente econômico simples e bem definido, o leilão fornece uma
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valiosa base de teste para a teoria econômica, especialmente para a teoria dos jogos com
informação incompleta. A teoria dos leilões tem sido importante no entendimento de outros
métodos de formação de preço, em sua maioria com preços fixados e negociações nas quais o
comprador e o vendedor estão envolvidos na determinação do preço. Existe uma estreita
ligação entre leilões e mercados competitivos.
Vale destacar que os leilões são entendidos como instrumentos dinâmicos e eficientes,
utilizados na comercialização de bens em mercados complexos, principalmente, quando não
existe uma referência de preço estável.
O problema de pesquisa que se coloca é: Os leilões de energia são essenciais na
reformulação do sistema elétrico brasileiro? Sem a existência dos leilões de energia seria
possível equilibrar a oferta e a demanda de consumo de energia sem afetar diretamente o
preço final? Quais os principais mecanismos da teoria dos leilões aplicados ao setor elétrico?
Como objetivo geral tem-se então: analisar a relação entre a chamada teoria dos leilões
e a abertura do setor elétrico brasileiro a privatizações a partir do novo marco regulatório
setorial. Os específicos são: (i) Identificar as metodologias da teoria dos jogos aplicados em
leilões de energia elétrica; (ii) Analisar os vários tipos de leilões usando uma abordagem de
teoria dos jogos (iii), estudar a importância da utilização dos leilões de energia para expansão
de geração elétrica.
O trabalho se justifica, pois, parte de uma análise de um setor de grande relevância
para sociedade brasileira, assim como um estudo sobre como a teoria dos leilões que
atualmente é a principal forma de contratação de energia no Brasil garante a expansão do
setor ao menor custo possível.

2 Referencial Teórico
Este capítulo visa apresentar o panorama da estrutura do setor elétrico brasileiro com
foco nos modelos de comercialização de energia elétrica e expor os principais tópicos da teria
dos leilões, quais seja: teoria, tipos de leilões, estratégias e aplicações do leilão no setor
elétrico.

2.1 Panorama do Setor Elétrico Brasileiro


A primeira ação de reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro começou em 1993 com
a Lei nº 8.631, que acabou com a equalização tarifária vigente e criou os contratos de
suprimento entre geradores e distribuidores, e foi marcada pela promulgação da Lei nº 9.074
de 1995, que criou o produtor independente de energia e o conceito de consumidor livre.
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Em 1995 com a publicação da Lei 8.987, a Lei Geral de Concessões estabeleceu-se as


regras para licitação de concessões em diversos setores envolvidos com infraestrutura,
inclusive no setor elétrico. A partir deste momento, as áreas de geração e comercialização
foram privatizadas com o objetivo de inserir competição no mercado enquanto os setores de
transmissão e distribuição permaneceram, a princípio, sob controle do governo. O governo
seria responsável pela regulação do setor como um todo.
Durante esse primeiro processo de reforma e reestruturação, três órgãos importantes
foram criados: ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica com a finalidade de regular e
fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, de
acordo com a legislação e em conformidade com as diretrizes e as políticas do governo
federal, em um cenário de livre concorrência nos segmentos de geração e comercialização de
energia. (PRADO, 2006, p. 632-633). ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico tendo
como objetivo executar as atividades de coordenação e controle da operação e da transmissão
de energia elétrica e garantindo livre acesso à rede básica; MAE – Mercado Atacadista de
Energia Elétrica era o ambiente onde ocorriam a compra e a venda de energia elétrica, por
meio de contratos bilaterais e negociações de curto prazo.
O setor elétrico encarou uma grave crise de abastecimento em 2001, o que determinou
um plano de racionamento de energia elétrica. Em 2002 o Comitê de Revitalização do Modelo
do Setor Elétrico propôs um conjunto de alterações no setor elétrico brasileiro.
Uma nova reforma para o setor elétrico foi proposta a partir do ano de 2003. O
Governo Federal amparado pelas Leis nº 10.847 e 10.848, de 15 de março de 2004; e pelo
Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004 instituiu as bases de um novo modelo para o Setor
Elétrico Brasileiro.
O novo modelo institucional observou-se um papel mais participativo por parte do
Estado, em especial no que se refere ao planejamento e ao monitoramento da expansão.
Foram desenvolvidas a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Comitê de Monitoramento
do Setor Elétrico (CMSE). (DA COSTA; MIANO, 2020, p. 209).
A segunda reforma englobava três grandes objetivos: (i) assegurar segurança de
suprimento de energia elétrica; (ii) promover a modicidade tarifária, por meio de contratação
eficiente de energia para os consumidores regulados e (iii) a inclusão social por meio de
programas de universalização. (DA COSTA; MIANO, 2020, p. 206).
O governo brasileiro estabeleceu em 2004 um novo marco regulatório para o setor
elétrico, objetivando garantir estabilidade, transparência e tranquilidade para o mercado de
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energia no país, pré-requisitos para a viabilização de investimentos, indispensáveis ao


desenvolvimento econômico e social.
Fruto dessa regulamentação, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
(CCEE) começou a operar em 10 de novembro de 2004 - regulamentada pelo Decreto nº
5.177, de 12 de agosto de 2004, sucedendo ao Mercado Atacadista de Energia (MAE).
Associação civil integrada pelos agentes das categorias de Geração, de Distribuição e de
Comercialização, a instituição desempenha papel estratégico para viabilizar as operações de
compra e venda de energia elétrica, registrando e administrando contratos firmados entre
geradores, comercializadores, distribuidores e consumidores livres.
A CCEE tem por finalidade viabilizar a comercialização de energia elétrica no Sistema
Interligado Nacional nos Ambientes de Contratação Regulada e Contratação Livre, além de
efetuar a contabilização e a liquidação financeira das operações realizadas no mercado de
curto prazo, as quais são auditadas externamente, nos termos da Resolução Normativa
ANEEL nº 109, de 26 de outubro de 2004 (Convenção de Comercialização de Energia
Elétrica). As Regras e os Procedimentos de Comercialização que regulam as atividades
realizadas na CCEE são aprovados pela ANEEL.
Os leilões são a principal forma de contratação de energia no país. Para se definir
quem é o vencedor do leilão é utilizado o critério da menor tarifa: os vencedores são aqueles
que ofertarem o menor lance, nesse caso a energia elétrica pelo menor preço por MWh para
atendimento da demanda prevista pelas Distribuidoras. Os Contratos de Comercialização de
Energia Elétrica em Ambiente Regulado (CCEAR) serão então celebrados entre os
vencedores e as distribuidoras que declararam necessidade de compra para o ano de início de
suprimento da energia contratada no leilão.

2.2 Teoria dos Leilões

Um dos métodos mais relevantes para a análise econômica das privatizações no


contexto do setor de energia elétrica é a chamada teoria dos leilões, uma ferramenta que se
vale de técnicas matemáticas e de teoria dos jogos para avaliar as chamadas estratégias ótimas
a serem adotadas pelo leiloeiro, no desenho do certame, ou, até mesmo, pelos seus próprios
ofertantes. (MATOSO, 2010). Ainda que o uso de mecanismos de leilões para a venda de
todo tipo de objeto (e de seres vivos, inclusive humanos) remonte à aurora das civilizações,
considera-se que William Vickrey (1961), ganhador do prêmio Nobel em Economia no ano de
1996, em obra seminal sobre o tema, intitulada Counterspeculation, Auctions, and
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Competitive Sealed Tenders, quem desenvolveu caracteres de teoria dos jogos na dinâmica da
teoria dos leilões. Esta, apresenta sua atualidade, tendo sido, novamente, colocada em pauta
com a premiação de Paul Milgrom (1987) e Robert Wilson (1987) com o prêmio Nobel em
Economia em 2020. Por mais que não seja uma ferramenta recente, uma grande variedade e
quantidade de bens, serviços e instrumentos financeiros são comercializados por meio de
leilões. (KLEMPERER, 2004, p. 15).
Sob a ótica da teoria econômica, os leilões podem ser entendidos por um jogo de
assimetria de informações, no qual os participantes não sabem exatamente, qual foi a
avaliação feita pelos demais sobre ao objeto leiloado, não conhecendo, a quantidade de
recursos que cada um está disposto a ofertar, ou arrecadar, dependendo do posicionamento,
para se sair vitorioso da disputa. (FIANI, 2015, p. 296).
Na visão das ciências econômicas, uma licitação, utilizada para a escolha de uma
instituição, junto à qual, o Estado celebra uma concessão, nada mais seria do que uma espécie
de leilão reverso. No caso, trata-se de um processo em que o Estado estabelece o objeto que
demanda e, após determinar as regras do leilão, recebe ofertas de entidades privadas para o
fornecimento de tal objeto, devendo escolher a proposta que mais lhe agrade. (FIUZA;
MEDEIROS, 2015, p. 31).
Diferente do leilão tradicional, aquele que promove o leilão reverso, no caso, o Estado
na figura da Administração Pública, não está oferecendo um bem ao mercado, mas, em
sentido oposto, se propõe a receber propostas deste para que tenha o objeto demandado
fornecido por outros agentes econômicos. As conclusões próprias da teoria dos leilões devem
ser interpretadas com a inversão da regra de preços (SILVA, 2017, p. 11). Ou seja, os
resultados de maior receita (ou de maior preço) na teoria dos leilões equivalem ao menor
custo (ou menor preço) nas licitações.
Quando aplicado aos processos licitatórios, um dos mais relevantes e fundamentais
resultados da teoria dos leilões, é o chamado teorema da equivalência das receitas.
Observadas as condições ideais, o leiloeiro tende a obter o mesmo retorno por meio da
utilização de diferentes tipos de leilões. Por meio dessa teoria, tem-se que, em determinadas
circunstâncias, um modelo de leilão traz resultados melhores do que outros. (WEISHAAR,
2013, p. 42).

2.2.1 Tipos de leilões


Um leilão é caracterizado a partir de sua natureza (oferta, demanda ou duplo), pela
forma como os lances são oferecidos (aberto ou fechado) e pela determinação do preço de
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fechamento (primeiro ou segundo preço). Destaca-se que é usual que regras sejam inseridas,
como preço de reserva, tempo máximo para realização do lance e taxa de participação.
(CORREIA; LANZOTTI; SILVA, 2003, p. 711).
2.2.1.1 Natureza
São três os tipos de leilões baseados na posição dos participantes: (i) o leilão duplo;
(ii) o leilão de oferta; e (iii) o leilão de demanda (CORREIA; LANZOTTI; SILVA, 2003, p.
711-712).
No leilão duplo os vendedores fazem lances de ofertas e os compradores fazem lances
de demanda paralelamente. O preço de liquidação é definido no intervalo entre os lances de
oferta e demanda, quando o lance de oferta for inferior ao lance de demanda
(DEKRAJANGPETCH e SHEBLÉ 2000).
No leilão de oferta os vendedores ofertam um bem que o leiloeiro pretende adquirir
pelo menor preço. Neste tipo, o leiloeiro pode fixar um preço de reserva acima do qual o bem
ou serviço não é adquirido e vence o participante que fizer o melhor lance de oferta, no caso,
o menor. (CORREIA; LANZOTTI; SILVA, 2003, p. 712).
Já no leilão de demanda, os compradores podem efetuar lances, demandando por um
bem ou serviço que o leiloeiro pretende vender. O leiloeiro pode fixar um preço de reserva
abaixo do qual o bem ou serviço não é vendido, vence o participante que fizer o lance mais
alto, desde que seu lance seja maior do que o preço de reserva. (CORREIA; LANZOTTI;
SILVA, 2003, p. 712).
Forma
São dois os tipos de leilões baseados na revelação de preços: (i) o leilão aberto (ou
inglês); e o (ii) leilão fechado (holandês). (KLEMPERER, 2004, p. 11).
O leilão aberto (ou inglês), caracteriza-se por lances sucessivos, nos quais os agentes
fazem lances com valores crescentes, até o lance mais alto, que é o lance comprador, desde
que o preço de reserva tenha sido atendido. Este leilão permite que o valor de oportunidade de
cada participante seja confrontado com os demais. Já no leilão fechado (holandês), os lances
são apresentados simultaneamente ao leiloeiro em envelopes fechados. Sai vitorioso o agente
que fizer o melhor lance, com a condição de que o preço de reserva tenha sido alcançado.
Exige-se que cada participante faça um lance, considerando exclusivamente, seu valor de
oportunidade, pois ele só terá conhecimento dos demais lances quando o leilão estiver
finalizado. (CORREIA; LANZOTTI; SILVA, 2003, p. 713).

Preço de liquidação (ou fechamento)


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Os leilões baseados no preço de liquidação (ou fechamento) podem ser classificados


como: (i) uniformes; ou (ii) discriminatórios. No primeiro caso, todos os participantes pagam
o mesmo preço, independentemente do valor de seus lances; no segundo, cada agente faz o
pagamento de acordo com as ofertas. (CORREIA; LANZOTTI; SILVA, 2003).
Os leilões uniformes podem ser de: (i) de primeiro ou (ii) de segundo preço. No leilão
de primeiro preço, ganha o participante que fizer o melhor lance, correspondendo, o preço de
liquidação, ao lance ganhador. No leilão de segundo preço, também conhecido como leilão de
Vickrey, vence o participante que fizer o melhor lance, mas o preço de fechamento
corresponde ao segundo maior lance (lance perdedor). (CORREIA; LANZOTTI; SILVA,
2003, p. 713). O leilão de fechamento de preços do tipo discriminatório é o ideal para o
leiloeiro que pretende atuar como corretor, pois neste se realiza a compra do bem ao menor
preço possível e se vende ao maior preço que conseguir. (CORREIA; LANZOTTI; SILVA,
2003, p. 713).

2.2.2 Estratégias
As estratégias adotadas em um leilão baseiam-se no comportamento racional de cada
agente na escolha de seu lance, considerando sua expectativa acerca dos demais lances.
(CORREIA; LANZOTTI; SILVA, 2003, p. 713).
O lance ótimo é composto do custo marginal somado ao markup, que depende do
custo marginal e da probabilidade de ganhar o leilão com um lance acima do custo marginal e
do número de participantes. (CORREIA; LANZOTTI; SILVA, 2003, p. 714).

Estratégia do leiloeiro
A ordem de eficiência dos leilões pode ser organizada da seguinte forma: Leilão Inglês
ascendente, de segundo-preço (Vickrey), Holandês descendente e fechado de primeiro-preço.
Essa ordem reforça a melhor estratégia, que é revelar todas as informações sobre o bem, uma
vez que assimetria entre os agentes pode gerar lances menos agressivos (REYNOLDS, 2001).

Estratégia do agente
A estratégias dos agentes envolvidos depende do tipo de leilão que está sendo
realizado. No leilão inglês ascendente a estratégia é dar lances pouco maior ao valor mais alto
e parar quando os lances tiverem alcançado seu valor de oportunidade. Esta estratégia é ótima,
pois o agente sempre negociará o bem enquanto seu preço for menor que o seu valor
estimado. A vantagem do leilão inglês é que o agente adquire informações a cada lance,
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permitindo que o mesmo avalie o valor de oportunidade e a estratégia dos outros participantes
durante o leilão.
No leilão Vickrey a estratégia dominante é dar um lance igual ao valor de
oportunidade, já que o agente pode perder o leilão dando um lance inferior. Dando um lance
superior ao seu valor de oportunidade, o agente pode sofrer a maldição do ganhador. Já no no
leilão Holandês descendente e no leilão fechado de primeiro-preço a estratégia é dar um lance
igual ao valor de oportunidade do bem, uma vez que o agente não possui informação dos
lances e consequentemente das estratégias de seus concorrentes.

2.2.4 Aplicação dos leilões no setor elétrico


A reestruturação do setor elétrico criou vários ambientes para comercialização de
energia e todos estão explicitamente associados a mecanismo de leilão, como as concessões
para exploração de empreendimentos de geração e transmissão de energia, passando pela
compra e venda de energia a partir de contratos bilaterais de curto e longo prazos, até
contratação de serviços ancilares e compra e venda de cotas de consumo de eletricidade.
(NAMETALA; DE FARIA; JUNIOR, 2020).
Pelo leilão de empreendimento, as concessões para construção de instalações e
exploração das atividades de geração e transmissão, são licitadas pela ANEEL como um item
indivisível, por meio de um leilão de demanda para a geração e de oferta para a transmissão.
No primeiro caso, os participantes compram a concessão, enquanto, no segundo, vendem o
serviço de transmissão. Nos dois leilões, o vitorioso recebe direito sobre a construção da
instalação e a exploração da concessão em sua integralidade. (DA SILVA FERREIRA et. al.,
2020).
Enquanto, o processo licitatório da geração se dá por meio de um leilão de demanda
aberto, com o valor do lance inicial definido pelo leiloeiro através de consultoria para
avaliação de ativos, as linhas de transmissão são licitadas em um leilão de oferta com duas
rodadas e preço de reserva. A primeira rodada corresponde a um leilão fechado de primeiro
preço, definida uma faixa de competição de até 5% do preço de liquidação, que qualifica os
participantes para a segunda rodada. (MULLER; DE MORAES, 2020).
No mercado bilateral, o comercializador pode organizar seu próprio leilão, com regras
definidas por ele, buscando atrair participantes. Ao mesmo tempo, ele também pode participar
de leilões organizados por outros. Esse mercado pode se dar em bolsas de energia ou no
balcão de concessionária de energia. Enquanto a grande vantagem da bolsa é agilizar a
negociação na medida em que padroniza contratos e viabiliza um centro de liquidez, o
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mercado de balcão é responsável pela comercialização de grande parte da demanda de energia


das empresas distribuidoras e varejistas. O mecanismo de leilão fornecerá um sinal de preço
que auxiliará na comercialização de energia ou contratos em balcão. (NAMETALA; DE
FARIA; JUNIOR, 2020).
Por seu turno, o mercado de cotas de consumo emergiu em função do racionamento de
energia no início dos anos 2000, permitindo uma acomodação das metas de consumo
estabelecidas compulsoriamente para os consumidores. Esse mercado foi implementado como
leilão fechado duplo, o que pode incentivar a inclusão dos lances de demanda no MAE. (DA
SILVA FERREIRA et. al., 2020).

3 Metodologia
Para o desenvolvimento da presente pesquisa, foi conduzida uma revisão da literatura
acerca do domínio do problema vigente, ou seja, sobre o tema Teoria dos leilões e o mercado
de energia elétrica no Brasil, traça-se a trajetória do mercado de energia elétrica no Brasil, a
partir de 1990, com a abertura a privatizações e criação da Agência Nacional de Energia
Elétrica, até a escassez observada no início dos anos 2000. A partir de 2003, tem-se aprovação
de um modelo regulatório híbrido, que se pretende um meio termo entre a atuação privada e
estatal sobre o setor.
Logo após, é abordado a teoria dos leilões, um método utilizado para alocação de
recursos a partir da competição entre os agentes econômicos, por meio da qual vendedores e
compradores buscam obter o maior benefício possível. A partir daí, descreve-se seus tipos e
estratégias por meio de revisão da literatura econômica.
Finalmente, o ponto principal das atividades de pesquisa, a análise da aplicação da
metodologia da teoria dos leilões ao modelo de privatizações sobre o setor de energia elétrica,
observado o cenário do mercado de energia elétrica no Brasil.
Como parte das atividades de pesquisa serão apresentados, neste trabalho, a conclusão,
cuida-se ao máximo das remissões às seções anteriores para finalização deste trabalho a partir
da retomada dos pontos discutidos, com a exposição dos resultados obtidos, bem como com a
resolução do objetivo principal a ser perseguido.

4 Conclusão

O setor de eletricidade brasileiro é um dos maiores sistemas integrados de energia


elétrica do mundo, a reestruturação do setor elétrico que começou em 1990 criou vários
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ambientes de comercialização que enfatizam o uso de leilões. De acordo com os estudos, os


leilões têm promovido o ingresso de novos agentes no setor, a introdução de novas
tecnologias e a presença de pequenos empreendimentos de geração.
Através da utilização da teoria de leilão é possível obter informações a partir de sinais
de preços e obter um histórico de estratégias de participantes em um mercado competitivo,
como o que vem sendo implantado no setor elétrico no país. Produzir informações relativas a
estratégias tomadas por concorrentes no passado pode subsidiar bons lances em disputas
futuras. Por fim, os leilões podem ser formatados de acordo com a necessidade e a estratégia
de comercialização da empresa de energia, podem ser usados para firmar vários tipos de
contratos além da venda de energia em si.

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