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CAPÍTULO IV
4.1 – Introdução
varia no tempo; uniforme significa que não varia com a localização no interior de
uma dada região. O contrário de estacionário é transitório.
Esta equação sugere que a massa de um sistema se altera quando se modifica a sua
energia. Contudo, na ausência de reacções nucleares a variação de massa que
acompanha uma variação de energia de um sistema é extremamente pequena de modo
que não poderia ser detectada nem com as balanças mais sensíveis. Por isso, no
âmbito das transformações que se estudam na termodinâmica clássica, consideram-se
constantes tanto a massa como a energia.
Quando se estudaram os sistemas fechados não era preciso mencionar o princípio da
conservação da massa pois já estava implícito uma vez que a massa de um sistema
fechado mantém-se constante, por definição. Contudo, para os sistemas abertos
(volumes de controlo) a massa atravessa a fronteira do sistema e teremos que ter em
atenção a massa que entra e a que sai durante uma transformação num sistema aberto.
O princípio da conservação da massa é traduzido por:
∑m − ∑m
i e = ∆ mVC (4.1)
onde o índice i de mi significa inlet (entrada), mi representa uma massa que entra, o
índice e de me significa exit (saída), me representa uma massa que sai, o índice VC
significa volume de controlo e ∆mVC a variação de massa dentro do volume de
controlo. Os somatórios têm que incluir todas as massas que entram e/ou saem do
volume de controlo. Esta equação aplica-se a qualquer volume de controlo e a
qualquer processo.
O caudal mássico através de toda a área duma secção transversal da conduta é obtido
pelo integral:
m& = ∫ ρ Vn dA (kg.s-1) (4.2)
A
Na maior parte das aplicações práticas pode considerar-se que o escoamento de um
fluido através duma conduta é unidimensional. Isto significa que se admite que as
propriedades do fluido têm valores uniformes numa secção transversal da conduta
perpendicular à direcção do escoamento, só podendo variar numa única direcção que é
a direcção do escoamento. Contudo estes valores podem não ser estacionários, isto é,
podem mudar no decurso do tempo.
A maior parte das propriedades do fluido, tais como a temperatura, a pressão e a
massa volúmica comportam-se, aproximadamente, desta maneira. Mas o mesmo não
se pode dizer relativamente à velocidade do fluido que varia desde zero, junto das
paredes da conduta, até um valor máximo, no centro, devido ao efeito do atrito (Fig.
4.4). No entanto, ao considerar-se o escoamento unidimensional admite-se, também,
que a velocidade do fluido tem a direcção e o sentido do escoamento e a sua
magnitude é constante e igual a um valor médio em todos os pontos de uma secção da
conduta perpendicular à direcção do escoamento (Fig.4.4). Então, pode calcular-se o
integral da equação 4.2 obtendo-se:
onde ρ (kg m-3) é a densidade do fluido, Vmédio (ms-1) o valor médio da velocidade e A
(m2) a área da secção da conduta normal à direcção do escoamento.
Ao volume de fluido que atravessa uma secção transversal da conduta na unidade de
tempo, chama-se caudal volumétrico V& (Fig.4.5) e é dado por:
V&
m& = ρ V& =
v
& =A C (m3.s-1)
V (4.4a)
Q–W=∆E
Contudo, para os sistemas abertos existe um mecanismo adicional que pode fazer
variar a energia do sistema: a massa que entra ou sai do volume de controlo. Quando
entra massa para o volume de controlo a energia deste aumenta, pois a massa que
entrou transportou consigo energia. Quando sai massa para fora do volume de
controlo transporta consigo energia, pelo que diminui a energia do volume de
controlo. Assim, a equação que traduz o balanço entre as diferentes formas de energia
em jogo numa transformação de um sistema aberto é:
Ein- as energias transportadas pelas massas que entram para o volume de controlo
Eout - as energias transportadas pelas massas que saiem do volume de controlo
∆EVC - a variação de energia dentro do volume de controlo
Q e W têm o significado habitual.
Um volume de controlo (sistema aberto) pode
realizar (ou receber) diferentes formas de
trabalho simultaneamente: trabalho eléctrico,
trabalho de forças aplicadas à fronteira móvel
do sistema, trabalho obtido (ou fornecido)
através de um veio de uma máquina, etc.
(Fig.4.6). A energia necessária para empurrar
o fluido para dentro e para fora do volume de
controlo é outro tipo de trabalho a que se
chama trabalho de fluxo, trabalho de
escoamento ou energia de fluxo.
F=PA
Esta expressão do trabalho é a mesma quer o fluido seja empurrado para dentro ou
para fora do sistema aberto.
É interessante reparar que, ao contrário do que acontecia com os outros trabalhos, o
trabalho de fluxo (escoamento) é expresso em função de duas propriedades do
sistema: o produto de P por v. Por essa razão há quem considere este trabalho uma
propriedade do sistema (como acontece com a entalpia h=u+Pv), e se lhe refira como
energia de fluxo em vez de trabalho de fluxo. Outros autores argumentam,
correctamente, que o produto Pv somente representa uma energia para fluidos em
escoamento e não representa qualquer forma de energia se se tratar de um sistema
fechado. Por isso deve ser considerado um trabalho. Como ambas as hipóteses
conduzem ao mesmo resultado para a equação de energia de um volume de controlo
iremos, como alguns autores, considerar este trabalho como uma parte da energia de
um fluido em escoamento. Desta maneira a dedução da equação de energia para
volumes de controlo fica muito simplificada.
1 2
e = u + ec + ep = u +
C + gZ (J.kg-1)
2
O fluido que entra ou sai de um sistema aberto possui ainda uma forma de energia
adicional a energia de fluxo pv, como já se viu. Por isso, a energia total da unidade de
massa de um fluido em escoamento é:
etotal = pv + e = (pv + u) + ec + ep
mas como h=u+pv
1
etotal = h + ec + ep = h + C2 + gZ (4.8)
2
Conservação da massa
Fig.4.12 – Conservação da massa para onde o índice i de m& i significa inlet (entrada) e
um sistema com duas entradas e uma o índice e de m& e significa exit (saída).
saída.
C1 A1 C 2 A2
ou ainda = (4.12)
v1 v2
onde:
ρ =1/v = massa volúmica do fluido (kg.m-3)
C = velocidade média na direcção do escoamento (m.s-1)
A = área da secção transversal do tubo normal à direcção do escoamento (m2)
Conservação da energia
1 1
Q& - W& = ∑ m& (h e e + Ce 2 + gZe) -
2
∑ m& (h + 2C
i i i
2
+ gZi ) (4.14)
Para sistemas com uma única corrente de fluido (uma entrada e uma saída) os
somatórios da equação anterior reduzem-se a uma única parcela. Representando com
o índice 1 e com o índice 2, respectivamente, as propriedades do fluido à entrada e à
saída:
1 1
Q& − W& = m& 2 (h2 + C 22 + gZ 2 ) − m& 1 (h1 + C12 + gZ 1 )
2 2
Além disso, como atrás se viu, m& 1 = m& 2 = m& é o caudal de fluido que entra e sai do
volume de controlo. Assim, a equação da conservação da energia para processos de
escoamento estacionário e para dispositivos com uma única entrada e saída de fluido
é:
C 2 − C12 (4.15)
ou Q& − W& = m& h 2 − h1 + 2 + g (Z 2 − Z 1)
2
79 Termodinâmica I – cap. 4
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(4.16)
Q& − W& = m& (∆h + ∆ec + ∆ep )
Dividindo os dois membros da equação 4.15 por m& obtemos uma equação para a
unidade de massa do fluido:
C 22 − C12
q − w = h 2 − h1 + + g ( Z 2 − Z 1) (4.17)
2
Q&
onde q = representa a quantidade de calor trocada com a unidade de massa do
m&
W&
fluido e w = o trabalho realizado pela unidade de massa do fluido em escoamento.
m&
Tubeiras e difusores
½ (C22 – C12 ) = h1 - h2
Turbinas
w = (h1 – h2)
Compressores e bombas
Permutadores de calor
Os dispositivos que possibilitam as transferências de energia entre fluidos a
temperaturas diferentes são designados permutadores de calor. Um tipo vulgar de
permutador de calor é constituído por um reservatório onde se misturam correntes
frias e quentes de um mesmo fluido. Noutros permutadores, um gás ou um líquido
estão separados de outro gás ou líquido por uma parede através da qual podem dar –
se trocas de energia. Por exemplo, são constituídos por dois tubos coaxiais onde
circulam os dois fluidos, no mesmo sentido ou em sentidos opostos (contra-corrente).
Válvulas de laminagem
Aos dispositivos de qualquer tipo que restringem o escoamento e causam, por isso,
uma queda de pressão significativa no fluido, dá-se o nome de válvulas de laminagem.
Alguns exemplos mais familiares são as vulgares válvulas reguláveis, os tubos
capilares, e um tampão poroso. Ao contrário do que acontecia com as turbinas as
válvulas produzem uma queda de pressão sem, no entanto, fornecerem trabalho. A
queda de pressão é muitas vezes acompanhada de um grande abaixamento de
temperatura e, por isso, utilizam-se vulgarmente válvulas de expansão nos frigoríficos
e aparelhos de ar condicionado.
Estes dispositivos são normalmente de pequenas dimensões e o escoamento através
deles pode ser considerado adiabático (q=0) pois não há, nem tempo, nem área
suficiente para que se dêem trocas de calor significativas. Também não há trabalho
feito (w=0), e a variação de energia potencial, se existir, é muito pequena (∆ep=0).
Apesar de, por vezes, ser muito maior que à entrada a velocidade de saída do fluido, o
aumento da energia cinética é insignificante (∆ec≅0). Então, a equação da conservação
da energia para estes dispositivos reduz-se a
h2 = h1
Isto é, os valores da entalpia do fluido, à entrada e saída de uma válvula de
laminagem, são os mesmos. Por isso estes processos chamam-se isentálpicos. Se o
fluido se comportar como um gás ideal h=h(T), e por isso a sua temperatura tem que
permanecer constante durante um processo de expansão através de uma válvula.