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DOI:10.34117/bjdv6n6-131
Rômulo Bock
Mestrando em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Santa Maria
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria
Endereço: Avenida Roraima, 1000 - Camobi, Santa Maria – RS, Brasil
E-mail: romulobock1994@gmail.com
Gessieli Possebom
Doutoranda em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Santa Maria
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria
Endereço: Avenida Roraima, 1000 - Camobi, Santa Maria – RS, Brasil
E-mail: gessielip@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
A soja é considerada uma das principais culturas do Brasil. Na safra 2019/20 foi cultivada
uma área de 36,7 milhões de hectares, elevando a produção para 123,2 milhões de toneladas
(CONAB, 2020). O aumento da produção agrícola passou a exigir maior qualidade e rapidez na
colheita, porém a necessidade de agilidade e a instabilidade meteorológica aliada especialmente à
desinformação dos operadores quanto à manutenção e regulagem de colhedoras para condições ideais
de funcionamento, são fatores capazes de acarretar em perdas que reduzem a produtividade e o lucro
dos agricultores (FERREIRA et al., 2007; SCHANOSKI et al., 2011; HOLTZ E REIS, 2013). As
perdas que ocorrem durante a colheita mecanizada da soja implicam grandes prejuízos,
frequentemente superiores a 120 kg ha-1 (EMBRAPA, 2013), impactando na receita de famílias e
Fonte: Autoral.
2.2 COLHEDORA
Foi utilizada uma colhedora combinada autopropelida Massey Ferguson ® 3640, ano 1987,
com aproximadamente 3500 horas-máquina de uso, equipada com plataforma de corte rígida. (Figura
2). Seu motor é Perkins A6-358, com seis cilindros e 80,85 kW (110 cv) de potência nominal a 2200
RPM. A tração traseira auxiliar foi instalada pós fabricação, sendo esta da marca Bertoldo1. Os
rodados da colhedora são compostos por pneus de tração extra R2 (arrozeiros), sendo os pneus
dianteiros nas medidas 23.1 26” e os traseiros 14.9 24”. O sistema de trilha é classificado como
tangencial (convencional), por cilindro e côncavo de dentes com área de trilha igual a 5,78 m², com
1
A citação de marca e modelo não implica em recomendação por parte dos autores
Fonte: Autoral.
Fonte: Autoral.
As perdas nos mecanismos internos foram determinadas de forma indireta (Equação 1):
Pmi = Pt − Pplat − Ppré [1]
Onde:
Pmi = Perdas nos mecanismos internos
Pt= Perdas totais
Pplat= Perdas na plataforma de corte
Ppré = Perdas na pré colheita
O experimento foi composto pela interação de dois distintos fatores, sendo: velocidade de
deslocamento (Fator 1, com quatro níveis) e índices de molinete (Fator 2, com dois níveis), conforme
a Tabela 2.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 PRODUTIVIDADE E PERDAS NA PRÉ-COLHEITA
A umidade média do grão nas condições estudadas foi de 13,7%, considerado satisfatório
segundo Heiffing e Câmara (2006), Loureiro Jr. et al. (2014) e Mendes (2014), que recomendam a
colheita da soja com umidade entre 12% e 15% a fim de minimizar os problemas de danos mecânicos
e perdas na colheita.
Esse resultado corrobora o evidenciado por Wright et al. (2011), onde ao avaliar as perdas e
danos às sementes durante a colheita mecanizada de soja sob diferentes teores de umidade,
concluíram que a condição ideal se situou entre 13 e 15%, com situação crítica abaixo de 10%. Ainda
de acordo com os mesmos autores, a análise desse parâmetro é fundamental, pois a colheita de soja
com umidade adequada demanda menor potência para a trilha e consequentemente, menor perda.
A produtividade média da cultivar utilizada no experimento foi de 2.488,5 kg ha-1,
encontrando-se abaixo da média do estado (3.321 kg ha-1) e do Brasil (3.206 kg ha-1) na mesma safra
(2018/19), segundo dados da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento (2020). Apesar
disso, os valores obtidos representam são comumente observados na propriedade, permitindo assim
inferir sobre a realidade de modo mais assertivo.
A estimativa das perdas pré-colheita apresentou em média 0,7 kg ha-1, o que representa 0,03%
da produtividade e 0,6% da média das perdas totais (dados posteriores). Esses valores situaram-se
abaixo dos 3,0% estabelecidos pela EMBRAPA (2013) como aceitáveis, o que ressalta o potencial
da cultivar para essa região.
Variáveis
Fatores Pp Pmi Pt
(kg hc-1) (kg hc-1) (kg hc-1)
Velocidade (m s-1)
0,83 44,53 39,02 83,56
1,39 45,68 39,65 85,33
1,94 59,01 43,9 102,91
2,50 84,23 42,97 127,21
Índice de molinete
1 54,87 40,99 94,86
1,2 62,86 41,79 104,65
MG e CV
Média geral (MG) 58,37 41,38 99,75
CV (%) 5,43 4,46 2,85
ANOVA (p-valor)
Velocidade (F1) 0,0000* 0,0000* 0,0000*
Índice de molinete (F2) 0,0000* 0,2326 ns 0,0000*
F1 x F2 0,0000* 0,0004* 0,0002*
*: Significativo ao nível de 5% de probabilidade (p<0,05); ns: Não significativo (p>=0,05); Pp:
Perdas na plataforma; Pt: Perdas totais; Pmi: Perdas nos mecanismos internos.
Fonte: Autoral.
Fonte: Autoral.
Fonte: Autoral.
Onde:
z = Perdas na plataforma de corte (kg há-1)
x = Velocidade (m s-1)
y = Índice de molinete
Fonte: Autoral.
Onde:
z = Perdas na plataforma de corte (kg ha-1)
x = Velocidade (m s-1)
y = Índice de molinete
A média das perdas totais foram de 99,81 kg ha-1, que é bem superior as perdas toleráveis, as
mesmas devem ser no máximo de 1,0 saca por hectare (60 kg ha-1) conforme recomendações de
Portella (2000); Pinheiro Neto (2003) e Embrapa (2013). Apesar disso, na melhor condição avaliada
(0,83 m s-1 e índice de molinete de 1,0), as perdas totais somaram 81,36 kg ha-1.
Esse valor ainda pode ser considerado elevado e pode ter sido resultado não somente da
variação da velocidade, mas sim, do excesso de chuvas no ano agrícola e consequentemente maior
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A velocidade de deslocamento e o índice de molinete proporcionaram alteração nas perdas de
soja na colheita mecanizada, de forma que a redução de ambos os fatores, de modo geral, também
promoveu redução das perdas na plataforma de corte, nos mecanismos internos e perdas totais.
As perdas na plataforma de corte foram as mais influenciadas pela velocidade de
deslocamento e representativas, atingindo 60% das perdas totais na colheita, na maior velocidade de
deslocamento.
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