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O DESAFIO DO CONHECIMENTO

Relator – José Eduardo Rocha Mendes

“A moderna economia de empresa comporta aspectos positivos, cuja raiz é a liberdade da


pessoa, que se exprime no campo econômico e em muitos outros campos. A economia, de
fato, é apenas um setor da multiforme atividade humana, e nela, como em qualquer outro
campo, vale o direito à liberdade, da mesma forma que o dever de a usar responsavelmente.
Mas é importante notar a existência de diferenças específicas entre essas tendências da
sociedade atual, e as do passado, mesmo se recente. Se outrora o fator decisivo da produção
era a terra e mais tarde o capital, visto como o conjunto de maquinaria e de bens
instrumentais, hoje o fator decisivo é cada vez mais o próprio homem, isto é, a sua capacidade
de conhecimento que se revela no saber científico, a sua capacidade de organização solidária,
a sua capacidade de intuir e satisfazer a necessidade do outro” – Papa João Paulo II – Encíclica
Centesimus Annus – 1991.

Sábias palavras do Papa João Paulo II, que traçou neste parágrafo de sua Encíclica Centesimus
Anus, comemorativa do centenário da Encíclica Rerum Novarum (Papa Leão XIII), uma correta
apreciação sobre a evolução das formas de trabalho do homem e suas implicações na evolução
das empresas.

Ao longo de sua existência, o homem sempre utilizou sua capacidade intelectual para a sua
sobrevivência e evolução. Técnicas de conservação de alimentos sempre foram problemas
para a humanidade. O homem primitivo comia o que caçava e pescava, e o que colhia
diretamente da natureza (frutos, folhas, raízes, etc.).

Com o tempo, este homem foi descobrindo como obter e conservar estes alimentos, para
ultrapassar períodos de não obtenção na natureza (invernos, secas, doenças, etc.). Surgiram a
agricultura e a utilização de especiarias para conservação destes alimentos (dizem que estas
especiarias mais disfarçavam o mau cheiro resultante da decomposição dos alimentos do que
os conservava...). Nestes casos, apesar de evidentes primarismos nas idéias e conhecimentos
obtidos e utilizados (para nossa época, bem entendido), nota-se a utilização do conhecimento
e a difusão para outras pessoas e outros povos destes conhecimentos obtidos. Grandes
movimentos de povos foram estratégicos para sua sobrevivência, mesmo a custa de guerras e
dominações. Não podemos nos esquecer das expedições para as Índias (comércio de
especiarias), lutas por terras, entre outras razões para obtenção de alimentos ou de facilidades
para sua cultura: solos melhores e abundância de água, além do clima.
Esta divagação demonstra que, desde os primórdios da civilização, o conhecimento era arma
importante para a sobrevivência do homem.

E hoje, a obtenção do Conhecimento, sua aplicação, sua difusão, e seu gerenciamento, são
fundamentais para a sobrevivência das Organizações em seus diversos ramos de atuação.

Como vimos, o homem, através de experiências, foi construindo o Conhecimento, foi


utilizando o mesmo para sobreviver, e a sua difusão (ou obtenção através de “guerras”) foi
fundamental para alavancar o progresso da humanidade, de acordo com os conhecimentos
disponíveis em cada época.

Ou seja, o homem, de acordo com suas possibilidades, foi aprendendo a aprender. E foi, a seu
modo, aprendendo a gerenciar estes Conhecimentos, elementos de sobrevivência e
dominação.

Os últimos movimentos da civilização, na história recente, mostra o homem no campo,


plantando para viver, algumas pequenas indústrias artesanais (para nossos padrões de
tamanho) que produziam armas, embarcações, construções de casas e cidades (e fortes). Lutas
com índios para obtenção de terras mais férteis, utilização de mão de obra escrava na
agricultura, conquista de novos territórios para obtenção de madeira adequada aos propósitos
dos colonizadores, foram fatores preponderantes para a colonização americana e a evolução
de seu povo, composto por imigrantes de diversas regiões da Europa, trazendo conhecimento
variado e útil ao desenvolvimento e sobrevivência (“An Outline of American History” – diversos
autores – atualizado pelo Prof. Keith W. Olson, Prof. of American History, Un. of Maryland)

Mais recente, ainda num período não desenvolvido industrialmente, a obtenção e a difusão
dos conhecimentos vieram permitir uma evolução constante e crescente da América,
desaguando na criação do estado americano.

Em pouco tempo tivemos o início da implantação de indústrias, ainda com mão de obra
intensiva, a vinda do homem do campo para as cidades, a necessidade de trabalho,
alimentação e moradia para esta população que crescia rapidamente, fazendo com que as
pessoas passassem a utilizar o cérebro para encontrar soluções e caminhos – capacidade do
cérebro de criação e inovação.
O grande resultado disto foi a percepção da capacidade de aprender a aprender. E a correta
utilização deste aprendizado = conhecimento.

E veio a “Revolução Industrial” que já bem conhecemos e a “Revolução do Conhecimento”. A


economia e as organizações mudaram para se adaptar a esta “nova era”. Trato desta forma
(“nova era”) pois como mostrado anteriormente o conhecimento e sua utilização está
presente desde o início da civilização.

O sucesso de uma economia baseada no conhecimento depende de novas habilidades e novos


tipos de organizações e gerenciamentos.

O conhecimento tornou-se o principal ingrediente do que produzimos, fazemos, compramos e


vendemos. Resultado: administrá-lo - encontrar e estimular o capital intelectual, armazená-lo,
vendê-lo e compartilhá-lo – tornou-se a tarefa econômica mais importante dos indivíduos, das
empresas e dos países.

Essa constatação traz uma conseqüência fundamental para as Organizações: a necessidade da


revalorização do capital humano, uma vez que o homem (e seu cérebro = “conhecimento”) é o
fator preponderante de vantagem competitiva. A capacidade que o homem tem de aprender a
aprender, é transposta para a Organização, em sua necessidade de progresso e sobrevivência
no mercado.

A Organização teve que se adequar, pensar como um cérebro, inovar, processar informações,
questionar e transformar seus próprios padrões de aprendizagem – CRIAR.

E resta para a Organização uma grande e importante questão: como fomentar a criação do
conhecimento, como guardar, como difundir internamente e externamente, como reaprender
com os resultados (feedback), como utilizar de maneira proveitosa este conhecimento
adquirido?

“Numa economia onde a única certeza é a incerteza, apenas o conhecimento é fonte segura
de vantagem competitiva” - (I. Nonaka).

As empresas de sucesso são aquelas que, de forma consistente, criam novos conhecimentos,
disseminam-nos profusamente em toda a organização e rapidamente os incorporam em novas
tecnologias e produtos. Estas atividades caracterizam a empresa “criadora de conhecimento”,
cujo negócio exclusivo é a inovação contínua.

A Espiral de Conhecimentos

A criação de novos conhecimentos envolve tanto ideais quanto idéias.

A ascensão dos setores de produtos eletrônicos e de automóveis japoneses – que teve grande
ajuda da inteligente apropriação da tecnologia e das pesquisas norte-americanas por parte das
empresas japonesas. A Era Industrial estava morrendo... A Era do Conhecimento estava
iniciando...

O segredo do sucesso dessas Organizações é a abordagem ímpar no gerenciamento da criação


de novos conhecimentos. O elemento crítico do processo de criação de novos conhecimentos
é o comprometimento pessoal, o senso de identidade dos empregados com a empresa e sua
missão.

A distinção entre conhecimento tácito e explícito sugere quatro padrões básicos de criação de
conhecimento em qualquer Organização. A articulação (conversão do conhecimento tácito em
conhecimento explícito) e a internalização (utilização do conhecimento explícito para a
ampliação da própria base de conhecimentos tácitos) são as fases criticas da espiral do
conhecimento. Ambas exigem o envolvimento ativo do eu – ou seja – o comprometimento
pessoal.

Os gerentes devem desafiar os empregados a reexaminar seus pressupostos. Nas empresas


japonesas a linguagem metafórica é utilizada com especial proeminência no desenvolvimento
de produtos

A metáfora é um método próprio de percepção. É o meio pelo qual indivíduos situados em


contextos diferentes e com experiências diversas compreendem algo de maneira intuitiva,
mediante o uso da imaginação e de símbolos, sem a necessidade de análises ou
generalizações.

O princípio fundamental do desenho organizacional das empresas japonesas é a redundância –


a superposição consciente de informações, atividades e responsabilidades gerenciais.
Nenhum departamento ou grupo de especialistas tem responsabilidade exclusiva pela criação
de novos conhecimentos na empresa criadora de conhecimentos.

Outro meio pelo qual a gerência proporciona aos empregados o senso de direção é a definição
de padrões para justificar o valor do conhecimento em constante desenvolvimento pelos
membros da organização. A decisão sobre as iniciativas a serem apoiadas e promovidas é
tarefa de alta estratégia.

A Gestão do Conhecimento

Métodos de Gestão do Conhecimento são analisados e apresentados em diversos estudos.

Antes de qualquer coisa, a empresa que se propõe a gerir seus conhecimentos, deve ser a
Organização que aprende, como já vimos anteriormente.

A Organização aprende do seu trabalho – os empregados aprendem com o que fazem e


difundem este aprendizado; a Organização seleciona e guarda estes aprendizados a fim de
mantê-los disponíveis como Conhecimento. Além disto, os empregados devem ser motivados
a criar e desenvolver conhecimentos, atualizar e aplicar conhecimentos, compartilhar interna e
externamente, adquirir externamente.

Por outro lado a Organização deve prover facilidades para esta aquisição e difusão de
conhecimentos, através de redes de informação, Sistemas Integrados, CRM, banco de
competências, programas de incentivo a inovação, remuneração por habilidades e por
competências, entre muitas outras iniciativas.

Conclusão

A mais importante das iniciativas é o reconhecimento da importância do homem no papel de


criador do Conhecimento, através de práticas bem definidas e favorecidas ao homem –
funcionário – recurso estratégico e fundamental da Organização.
Gerenciar o Recurso Humano é tão importante quanto gerenciar o Conhecimento. O homem é
o conhecimento, a Organização é uma facilitadora e acumuladora deste Conhecimento.

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