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O suave perfume
dos destilados
Com sabor amargo, doce, suave ou pesado
os coloridos e requintados destilados surgem
no mercado com uma variedade de componentes
para atrair os paladares mais diversos e delicados.
Um misto de elementos se incorporam ao líquido destilado
colocando por terra a visão de que essas bebidas são
para os homens mais velhos, apreciadores do conhecido "cowboy"
PRISCILA GORZONI
ão é de agora que o mercado dos destila- ter uma idéia, trinta garrafas dele são compradas a
dos se preocupa com a sua posição no cada segundo no mundo e a Escócia produz quatro
mercado. Fatores como o baixo poder milhões delas por dia. Os Estados Unidos conso-
aquisitivo, hábito e o crescente consumo mem 400 mil garrafas por dia, enquanto o seu país
da cerveja e cachaça rondam as empresas de origem 500 mil por semana. Para igualar o con-
desse setor. Entretanto, as pesquisas sumo ao de outros países, o setor de destilados bra-
mostram fidelidade dos consumidores sileiro vem procurando adaptar-se à concorrência in-
nessa área, tanto, que um dos destilados ternacional, principalmente através de estratégias de
mais consumidos e vendidos em mais de marketing, que envolvem a renovação de rótulos, a
190 países continua sendo o uísque. Os diferenciação de produtos para mercados de maior
blended scotch whisky são responsáveis poder aquisitivo e a internacionalização de alguns
por 90% das vendas mundiais. Para se destilados. Com relação à qualidade da produção
nacional, ela nada fica à dever aos produtos estrangei-
ros. Alguns produtos industriais feitos em grande
quantidade como as vodcas são similares aos impor-
tados. A diferença em favor dos importados apare-
ce naqueles destilados mais artesanais feitos em me-
nor escala, como os uísques, pois, os produtores in-
ternacionais ainda detém o conhecimento e tradição
nos métodos de produção. “O surgimento de um
público gastronomicamente mais informado vem
aumentando a procura por destilados de alta quali-
dade, como as grappas italianas, tequilas mexicanas
entre outros”, diz Siwla Helena Silva, docente da
Coordenação de Alimentos e Bebidas do Senac e
co-autora do livro Vinho e Uvas - Guia Internacio-
8 engarrafador
MODERNO
UM POUCO DA HISTÓRIA
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para definir um scotch feito com a mistura de diver-
sos uísques de cevada sem a adição dos menos no-
bres, feitos com outros cereais. Já o Grain Whisky é
elaborado com cereais, geralmente o milho, acresci-
do de centeio, cevada e trigo. Sua destilação ocorre
em um processo contínuo, uma única vez, obtendo-
se um produto mais barato, leve, neutro e envelhe-
cido de três a quatro anos. Os famosos Blended são
a maioria dos scotches bebidos no mundo, uma mis-
tura de uísques de puro malte e grãos. A proporção
das grandes marcas é de 20% a 35% de puro malte
e 65% a 70% de grain whisky. E o blended varia
quanto ao envelhecimento de seus maltes, os com 8
anos são do tipo standard e não trazem referência à
sua idade no rótulo e os blended de luxo possuem a
mesma preparação, a única diferença é quanto a sua
idade, entre 12 a 20 anos. “Quanto mais velho, mais
Os Estados Unidos consomem é apreciado pelos seus apreciadores e aumenta o seu
400 mil garrafas de uísque por dia valor de aquisição”, diz Patrícia.
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Destilados
conjunção da qualidade do solo, exposição ao sol,
escolha da variedade de vinhas, tipos de alambiques,
barris de envelhecimento entre outros. “Na realida-
de, o Cognac surgiu como uma forma dos produtores
da região melhorarem seu produto: o vinho branco.
Pois este é bastante ácido, pouco alcoólico, apesar
de aromático não encontrava bom mercado. Portan-
to, alguns produtores resolveram destilá-lo”, elucida
Siwla. O vinhedo de Cognac cobre 72.000 hectares
de terrenos calcários, plantados com as variedades
folle-blanche, colmbard ou saint-émilion. A produção
dos vinhos de Charente é geograficamente limitada
e submetida a variações climáticas, o que explica o
custo elevado do cognac. Charente fornece anual-
mente 4 milhões de hectolitros de vinho, de onde se
extraem 350.000 a 400.000 hectolitros de álcool
puro. Lá estão os melhores produtores de conha-
que, entre eles a Remy Martin, Martell, Henessy e
Courvoisier. A maior parte da produção é destina-
Os destilados são consumidos puros e também são da à exportação, sobretudo para a Grã-Bretanha, os
muito utilizados na elaboração de deliciosos coquetéis Estados Unidos e a Alemanha. Em 1970, as expor-
tações atingiram 647 milhões de francos fora da zona
franca e 5,6 milhões de francos em zona franca. Exis-
frutas e especiarias de cada região de sua fabrica- tem algumas particularidades com relação ao conha-
ção”, ressalta Patrícia. As principais marcas são a que, como por exemplo, as bebidas semelhantes ela-
sueca Absolut, a russa Stolichnaya, a polonesa Wy- boradas no Brasil e em outros países não podem
robowa, a finlandesa Finlandia e a Smirnoff do gru- ostentar no rótulo a palavra cognac, que é exclusivi-
po United Destillers & Vintners, líder do mercado dade da bebida produzida na região francesa. Além
doméstico. A Smirnoff, rótulo preto, importada da disso, todo conhaque é destilado duas vezes em
Rússia, é destilada três vezes de modo artesanal. alambiques do tipo pot e envelhecido por dois anos,
no mínimo, em tonéis de carvalho. “Quando o co-
O CONHAQUE
nhaque sai do alambique, ele não fica com o aroma
característico. Somente após a conservação por al-
O conhaque é um destilado especial, conhecido
guns anos em barris de carvalho é que adquire isso”,
popularmente como brandy, uma mistura de frutas
ensina Patrícia.
feito com vinho e duplamente destilado. Para mui-
tos gourmets, ele não pode faltar no final das refei-
ções e no preparo de tortas. “É o mais nobre. Tanto O DOCE LICOR
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MODERNO
tas, ervas e raízes eram secretamente pesquisadas
pelos monges para a cura de várias doenças. Vários
registros apontam Arnauld de Villeneuve, sábio
catalão nascido em 1240 como o inventor ‘das tin-
turas modernas nas quais as virtudes das ervas são
extraídas pelo álcool’. Ao álcool açucarado eram
misturados limão, rosa, flor-de-laranjeira e em al-
guns casos pepitas de ouro considerados remédios
para todos os males. Mas como nada era fácil para
os sábios da época, Villeneuve enfrentou problemas
com a Inquisição, mas ao salvar a vida do Papa com
uma poção de vinho, ervas e ouro livrou-se da mor-
Novas embalagens e designs ousados tornam
te. O boom dos licores aconteceu com a Peste Ne-
os destilados mais atrativos ao consumidor
gra no século XV, quando eles tornaram-se precio-
sos medicamentos. E antes do século XIX, os lico-
res eram usados nas cozinhas e confeitarias e logo melhores licores são aqueles em que todos os seus
foram substituídos pelos licores industrializados das elementos foram destilados, com exceção de algu-
primeiras destilarias. Com o passar do tempo e a mas frutas e ervas. É feito o inverso do processo de
popularização dos licores pelo mundo, as coloridas destilação do álcool puro, pois é importante conser-
bebidas ganharam receitas, componentes e toques var as substâncias que dão gosto à bebida: as várias
diferentes. Compostos por álcool, xarope de açú- frutas, folhas etc. As flores e raízes que são utiliza-
car, essência de menta e ingredientes saborosos, os das devem ficar embebidas em álcool durante um
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Destilados
pressivo, tanto nas vendas como no lançamento de
produtos. E não foram poucos os investimentos em
novos produtos, embalagens e inovadoras misturas.
As bebidas que antes possuíam o tradicional públi-
co de homens mais velhos, agora ganham novos
adeptos: jovens e mulheres, fãs dos destilados mais
suaves, coloridos, aromáticos e dinâmicos.
E foi pensando em ampliar cada vez mais o seu
público, sem perder os tradicionais degustadores do
Scotch, que a Allied Domecq, multinacional britâni-
ca, na segunda colocação no ranking das empresas
de bebidas finas do mundo (comercializa 50 milhões
de caixas com 9 litros cada por ano, possui um fatu-
ramento anual de US$ 4,2 bilhões e das 100 marcas
de bebidas mais vendidas 12 são de seu portfolio),
resolveu colocar no mercado o Domecq Limón, uma
mistura de conhaque e limão. A bebida foi lançada
diretamente para o público mais jovem e feminino,
que aprecia bebidas mais leves e refrescantes dire-
cionadas ao nosso clima. Para a linha de uísques a
empresa investiu em novas campanhas, como a Go
Play, lançada em maio para o Whisky Ballantine’s
Finest. A Allied aliou uma forte idéia, que une músi-
cas, internet e televisão direcionada a um público
consumidor acima de 23 anos, classes AB, com vida
social intensa. Neste setor, a Allied foi mais longe e
inovou estimulando em campanhas de supermerca-
do a mistura do brandy Domecq e uísques tradicio-
nais com refrigerantes e gelo. Para Bruno Zolotar,
Difundir o uísque entre os jovens
gerente de produto da Allied Domecq, responsável
é um dos objetivos principais dos produtores pela marca Domecq, o objetivo da empresa não é
acabar com a imagem consagrada das bebidas, mas
tempo e quando este estiver impregnado é agregar novos conceitos. “No México e Espanha há
redestilado. Depois é adoçado com o xarope de açú- muito tempo se consome brandy com refrigerante
car, resultando em um produto incolor, porém al- e gelo em copo longo. Fica muito mais saboroso do
guns podem ser verdes, vermelhos, amarelos ou que o rum, por exemplo. Estamos estimulando mais
âmbar e para assegurar a sua limpidez, são filtra- esta forma de consumo no Brasil, que é um país de
dos. Antes do engarrafamento, a bebida é conser- clima quente e onde este tipo de drinque cai muito
vada em cubas, os componentes que não podem ser bem”. Tão tradicional quanto o brandy, o uísque,
destilados, dependendo de sua situação passam por que viveu restrito durante muito tempo às versões
infusão em água. Há casos em que as substâncias “cowboy” pegou a febre das vodcas ice e aderiu às
são maceradas em álcool até fornecerem gosto e misturas. “Este folclore de que o uísque não pode
perfume para em seguida serem filtrados. ser misturado é uma particularidade do consumi-
dor brasileiro e não tem fundamento em mercados
DOCES MISTURAS maduros como a Espanha e o Reino Unido”, asse-
gura Paschoal Júnior, gerente de produto da Allied
Os fabricantes de destilados têm se movimenta- Domecq, responsável pela marca Ballantine’s.
do para atrair um público de bebedores cada vez
maior, competir com as empresas estrangeiras e DESIGN MODERNO: UM PRAZER VISUAL
aplacar as suas principais concorrentes: cerveja, ca-
chaça e a falta de dinheiro do brasileiro. De dois Seguindo o mesmo caminho da Allied, a Seagram
anos para cá, esse mercado teve um crescimento ex- resolveu investir no mesmo filão de consumidores
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para o seu Chivas Regal. Um grande destaque no
mercado de uísques, vodcas, conhaques e licores a
Seagram Company Ltd., surgiu em 1920 no Cana-
dá com Samuel Bronfman e seus irmãos. No Brasil,
a compra da destilaria Medelin em 1966, no Rio de
Janeiro, marcou o seu início no país. Daí para a frente
só cresceu e construiu mais quatro unidades (Rio
Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e a última
em Pernambuco). Para Pernambuco foram destina-
dos R$ 20 milhões e a responsabilidade pela fabrica-
ção e engarrafamento da linha de produtos Ron
Montilla, os uísques Natu Nobilis, Passport e a vod-
ka Orloff. Lançado no Brasil em 1969 Natu Nobilis
é líder de mercado na categoria de bebidas nacio-
nais, com 30% das vendas segundo dados Nielsen
deste ano. A linha Natu Nobilis cresceu com a che-
gada ao mercado da versão Natu Nobilis Celebrity,
o único blended whisky brasileiro a ter em sua com-
posição maltes escoceses envelhecidos 12 anos. Nos
últimos anos a empresa investiu R$ 2 milhões mu-
dando o seu formato para quadrado com um bra-
são em alto relevo no corpo do frasco. “A mudança
da embalagem vinha sendo estudada pela empresa
há quatro anos, sempre com cuidado para que não
perdesse a identidade. O principal objetivo foi desen-
volver uma embalagem mais moderna em linha com
o posicionamento Nobilis”, afirma Gustavo Zerbini,
gerente de produto da marca Natu Nobilis. Na li-
nha de vodcas, a Orloff é produzida desde a década
de 60, possui um volume de 450 mil caixas de 9
litros comercializadas anualmente e com participa-
ção no mercado de 14 %, ocupando o segundo lu-
gar nessa categoria. Com o crescimento do segmento
Ice no Brasil, a Seagram pegou uma carona e lan-
çou a sua versão Orloff Ice. E após quatros meses a
bebida passou a ocupar a segunda posição no mer-
cado com 11% de participação. Outra empresa do
setor, a Dubar, também apresentou crescimento de
10% nas vendas após reformular suas embalagens
e rótulos. A Dubar nasceu em 1913, mas desde 98
foi comprada do grupo Antarctica. “Produzir um
destilado é uma arte, que envolve a harmonia das
matérias-primas, tecnologia, tempo, forma e quanti-
dade”, sentencia Rui Galvani, diretor industrial e
um dos sócios da empresa. Também líder de merca-
do neste setor está a vodca Smirnoff da Diageo,
uma das maiores companhias mundiais de bebidas
alcoólicas. Fabricante de licor, segunda maior impor-
tadora de vinhos do país e dona de 50 produtos,
entre eles os líderes de mercado: Johnnie Walker,
gin Tanqueray, o licor Baileys, cerveja Guinness, além
de J&B. Com uma venda global de 18,4 milhões de
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Destilados
caixas, Smirnoff está presente em 150 países e repre- cional e famoso Johnnie Walker tem uma de suas
senta mais de 21% do mercado nacional. Desde doses consumidas a cada seis segundos no mundo.
1999, ela vem sofrendo várias mo- A linha, composta por seis produtos, é encabeçada
dificações em sua embalagem, design pelo Johnnie Walker Red Label, apontado como o
e sabor. Ganhou também uma nova whisky mais vendido e Johnnie Walker Black Label,
versão: uma garrafa de bolso de 350 uma seleção de 42 uísques de malte, grãos envelheci-
ml. Em fevereiro, a marca inaugurou dos por no mínimo 12 anos em barris de carvalho.
a categoria de bebidas prontas para Preocupada com a imagem do uísque no Brasil, a
beber, com o Smirnoff Ice: um pro- dona do whisky Jack Daniel’s, mais vendido no Bra-
duto refrescante, com graduação al- sil, a multinacional Brown-Forman, resolveu desen-
coólica de 5,5 graus, elaborada à ba- volver uma embalagem especial que pudesse servir
se de vodca smirnoff, água de presente aos seus consumidores. Jack Daniel’s
gaseificada e sabor limão. Em está entre as três marcas com crescimento superior
termos de licores, a empresa a 50% de destilados nos últimos 10 anos. Do mes-
conta com o conhecido Baileys, mo grupo, a Vodka Finlandia é a segunda premium
elevado a 14 a posição no importada mais consumida no mundo, com cresci-
ranking das Top 100 Premium mento de 6% em suas vendas no último ano, atin-
Spirit Brands mais vendidas no gindo um volume de 1,6 milhão de caixas/ano em
globo em 2001, de acordo com 2001 segundo dados da Drinks International. Foi
o Impact Databank. Com ape- pensando principalmente em agradar a todos os gos-
nas 25 anos, presente em 130 tos, paladares e intenções, que o mercado dos desti-
países, Baileys ocupa lugar de lados se ampliou e buscou na individualidade das
destaque ao lado de marcas faixas etárias, sexo, formas de vida e atração visual
com mais de dois séculos de o seu público ideal. E como diria Asdrubal Senra:
existência, como o Johnnie “O gosto e a degustação de um destilado parte da
Walker e J&B. Aliás, o tradi- percepção de cada um. É subjetivo mensurar a
qualidade de uma bebida ou de outra. Cada um pre-
fere uma”.
Domecq limón pretende conquistar
o público jovem e o feminino
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