Você está na página 1de 9

Destilados

O suave perfume
dos destilados
Com sabor amargo, doce, suave ou pesado
os coloridos e requintados destilados surgem
no mercado com uma variedade de componentes
para atrair os paladares mais diversos e delicados.
Um misto de elementos se incorporam ao líquido destilado
colocando por terra a visão de que essas bebidas são
para os homens mais velhos, apreciadores do conhecido "cowboy"

PRISCILA GORZONI

ão é de agora que o mercado dos destila- ter uma idéia, trinta garrafas dele são compradas a
dos se preocupa com a sua posição no cada segundo no mundo e a Escócia produz quatro
mercado. Fatores como o baixo poder milhões delas por dia. Os Estados Unidos conso-
aquisitivo, hábito e o crescente consumo mem 400 mil garrafas por dia, enquanto o seu país
da cerveja e cachaça rondam as empresas de origem 500 mil por semana. Para igualar o con-
desse setor. Entretanto, as pesquisas sumo ao de outros países, o setor de destilados bra-
mostram fidelidade dos consumidores sileiro vem procurando adaptar-se à concorrência in-
nessa área, tanto, que um dos destilados ternacional, principalmente através de estratégias de
mais consumidos e vendidos em mais de marketing, que envolvem a renovação de rótulos, a
190 países continua sendo o uísque. Os diferenciação de produtos para mercados de maior
blended scotch whisky são responsáveis poder aquisitivo e a internacionalização de alguns
por 90% das vendas mundiais. Para se destilados. Com relação à qualidade da produção
nacional, ela nada fica à dever aos produtos estrangei-
ros. Alguns produtos industriais feitos em grande
quantidade como as vodcas são similares aos impor-
tados. A diferença em favor dos importados apare-
ce naqueles destilados mais artesanais feitos em me-
nor escala, como os uísques, pois, os produtores in-
ternacionais ainda detém o conhecimento e tradição
nos métodos de produção. “O surgimento de um
público gastronomicamente mais informado vem
aumentando a procura por destilados de alta quali-
dade, como as grappas italianas, tequilas mexicanas
entre outros”, diz Siwla Helena Silva, docente da
Coordenação de Alimentos e Bebidas do Senac e
co-autora do livro Vinho e Uvas - Guia Internacio-

8 engarrafador
MODERNO
UM POUCO DA HISTÓRIA

Os destilados têm a sua origem nos experimen-


tos e conhecimentos de outras culturas, provavel-
mente para outras finalidades, no entanto, poucos
documentos e provas atestam com certeza o início
da sua elaboração. Alguns fatos apontam o seu come-
ço no Egito, pois os destilados possuem uma elabo-
ração muito semelhante à forma como os egípcios
elaboravam os seus perfumes em 3.000 a.C. No en-
tanto, a maioria dos relatos contam a sua origem de
um sistema importado para a Europa Medieval pe-
los irlandeses, que trouxeram de lá o conhecimento
de destilar frutas, grãos e flores com fins medici-
nais. “Na antigüidade só existiam bebidas fermenta-
das. Os destilados são bebidas relativamente recen-
tes, surgiram na Idade Média, a partir de pesquisas
dos alquimistas. Porém, sua produção em larga esca-
la só se deu com as inovações técnicas da revolução
industrial”, exemplifica Siwla. Hoje, com a evolu-
ção da química e de suas pesquisas descobriu-se no
processo de destilação uma maneira de separar suas
substâncias através das diferenças entre os seus pon-
tos de ebulição. Isso acontece de uma maneira mui-
to simples: o corpo, inicialmente em estado líquido,
é aquecido, transformado em vapor e novamente
resfriado até que toda a massa volte ao estado líqui-
Os alcopops são uma alternativa dos destilados do. A primeira etapa da destilação é utilizar uma
para atingir um público mais jovem
matéria-prima, que contenha açúcar ou amido, como
por exemplo os cereais, frutas, raízes e esmagá-las,
nal com mais de 2000 citações. às vezes com um pouco de água. Nela são acrescen-
Há dois anos as grandes empresas de destilados, tadas as leveduras, microrganismos que se alimen-
como as nacionais Allied Domecq, romperam com a tam dessas matérias-primas. Após a fermentação
antiga visão da bebida seca e forte direcionada a um os resultados são gás carbônico e álcool. Através dela
público mais velho e masculino e passaram a investir é controlada a porcentagem de álcool dos corpos
em novos sabores e misturas que suavizassem o pa- formados pelas misturas. O aparelho que processa
ladar seco do destilado. Passaram a usar novos ele- a destilação recebe o nome de alambique e é consti-
mentos para criar bebidas alternativas e difundiram tuído por: ebulidor, caldeira, onde se coloca o líqui-
os coloridíssimos coquetéis: uma mistura de alguns do no início da operação. Elevada a temperatura, o
destilados com frutas, ervas e aromas. A mesma ati- álcool e as substâncias que dão aroma e sabor agra-
tude tem sido tomada com relação aos outros desti- dável se desprendem e evaporam, mas não o sufici-
lados, como os licores, a vodca e o conhaque. “As ente para evaporar a água. Em seguida, o vapor é
últimas novidades são as vodcas aromatizadas e em recolhido, resfriado e transformado em líquido no-
alguns casos misturadas a sucos e outros produtos vamente, resultando em uma bebida destilada com
destinadas ao público mais jovem”, indica Siwla He- alto teor alcoólico. De acordo com a matéria-prima
lena. Uma miscigenação de atraentes componentes inicial, as particularidades do processo de destilação
passaram a fazer dessas bebidas a presença essencial e envelhecimento dão origem a diferentes bebidas:
em determinados rituais sociais. “Estão sempre pre- uísque (cevada e envelhecido em tonéis de carvalho);
sentes numa boa refeição, como aperitivo para esti- conhaque (uvas, envelhecido em tonéis de carvalho)
mular o apetite, acompanhamentos de pratos princi- e a vodka (cereais diversos, não envelhecida). En-
pais, bebidas digestivas ou como ingredientes culiná- tretanto, nem sempre foi assim, no início dos tem-
rios”, associa Patrícia Cruz, nutricionista da Univer- pos a produção dos destilados era bem artesanal,
sidade São Camilo, em São Paulo. tanto que era comum as pessoas elaborarem seus
Agosto/02 9
Destilados
uísques nos quintais de suas casas e terem os seus do o mundo e os paladares mais exigentes, paralela-
produtos como concorrentes diretos do mercado mente seu nome mudou para: uisge-beatha (gaéli-
local. co), usquebaugh (celta), usky (inglês) e finalmente
em 1746 whisky. É uma bebida destilada de cereais,
UÍSQUE: O VELHO "COWBOY" que tem uma boa porcentagem de cevada fermenta-
da e após sua destilação conserva o sabor de suas
O uísque só ficou conhecido em 1494 quando foi matérias-primas. “Existem vários tipos, e eles se di-
produzido em escala na Escócia, uma simples mistu- ferenciam pela matéria prima e métodos de envelhe-
ra de malt whisky, grain whisky e água, embora mui- cimento”, explica Siwla. Como por exemplo, o esco-
tas pesquisas recentes indiquem a sua origem na Ir- cês, que usa principalmente a cevada maltada, enve-
landa. No entanto, sua produção foi aprimorada nos lhecida em barril de carvalho e defumada com a tur-
séculos XVI e XVII como uma bebida medicinal, fa, um combustível fóssil com um aroma inconfundí-
estimulante e reanimadora para os fortes invernos vel para os seus apreciadores. Já o irlandês usa a
escoceses. Consta no livro de anotações do tesourei- cevada, centeio e não defuma a matéria-prima, resul-
ro do Rei James IV, que naquele ano, a ordem do tando em um sabor mais leve. “Outros países como
Rei John Cor foi chamada para abastecer o Reino os Estados Unidos preparam os seus com o milho”,
com malte, cujo destino era o próprio Rei James IV conta Asdrubal Senra, Chef e Professor da Faculda-
que era apreciador da bebida, conhecida na época de de Gastonomia de São Paulo e Univale. Já o uís-
como “aqua vitae”, uma designação em latim espe- que americano e canadense utiliza cereais diversos,
cialmente dada pelos mosteiros, um dos maiores pro- com a presença acentuada de milho. “Em geral são
dutores da época. Com o tempo a bebida foi ganhan- compostos de 60% de uísque de cereais diversos e

10 engarrafador
MODERNO
para definir um scotch feito com a mistura de diver-
sos uísques de cevada sem a adição dos menos no-
bres, feitos com outros cereais. Já o Grain Whisky é
elaborado com cereais, geralmente o milho, acresci-
do de centeio, cevada e trigo. Sua destilação ocorre
em um processo contínuo, uma única vez, obtendo-
se um produto mais barato, leve, neutro e envelhe-
cido de três a quatro anos. Os famosos Blended são
a maioria dos scotches bebidos no mundo, uma mis-
tura de uísques de puro malte e grãos. A proporção
das grandes marcas é de 20% a 35% de puro malte
e 65% a 70% de grain whisky. E o blended varia
quanto ao envelhecimento de seus maltes, os com 8
anos são do tipo standard e não trazem referência à
sua idade no rótulo e os blended de luxo possuem a
mesma preparação, a única diferença é quanto a sua
idade, entre 12 a 20 anos. “Quanto mais velho, mais
Os Estados Unidos consomem é apreciado pelos seus apreciadores e aumenta o seu
400 mil garrafas de uísque por dia valor de aquisição”, diz Patrícia.

40% de uísque de cevada”, indica Patrícia Cruz. O A PURÍSSIMA VODCA


processo de produção do uísque mais tradicional é
simples e respeita religiosamente o procedimento A vodca, um dos destilados mais conhecidos do
mais clássico. A primeira coisa é a maltagem, quan- mercado, é composta por cereais, como centeio, tri-
do a cevada é embebida em água, espalhada no solo go, aveia, cevada, trigo-sarraceno; água purificada e
para germinar e colocada para secar na fumaça da filtrada; malte feito de centeio; levedo e substâncias
queima da turfa. A finalidade dessa etapa é a ativação aromáticas. “A batata e a água eram fermentadas e
enzimática e parcial transformação do amido em depois levadas para a destilação”, conta Asdrubal.
açúcares. Depois o malte é moído para ser mistura- Curiosamente, ela requer uma destilação bem apura-
do a água quente. Então o amido se converte em da para evitar o congelamento do líquido. “O álcool
açúcar sob a forma de um líquido quente e doce. congela a uma temperatura bem mais baixa do que
Depois é retirado e resfriado antes da fermentação. a da água”, aconselha a nutricionista. Como os de-
O terceiro passo é a fermentação, que dura aproxi- mais destilados, a história de sua origem é confusa
madamente 48 horas, quando o fermento é adiciona- e parte das várias discussões entre os povos russos e
do ao açúcar, que é transformado em álcool. No mo- poloneses. Uma corrente de estudiosos afirma que
mento seguinte acontece a destilação, na qual o líqui- a bebida nasceu no século XVI na Rússia e daí popu-
do é aquecido nos alambiques de cobre e o álcool larizou-se. “O objetivo inicial era esquentar os lon-
evapora. Esse líquido é destilado duas vezes, a fim gos invernos daquelas regiões”, relembra Siwla. O
de obter o puro malte. Depois disso é feito o enve- que se sabe sobre essa conhecida bebida é que a pala-
lhecimento, quando o liquido incolor, resultado da vra vodca se originou do russo voda e do polonês
destilação, passa a ser envelhecido em barris de carva- zhiznennia voca representando a água da vida. Nos
lho por pelo menos três anos. Neste tempo, ele ad- países eslavos vodka é um termo tão usado e genéri-
quire sua cor dourada e ocorre a troca de gases com co, que designa qualquer bebida destilada. Porém,
o ambiente. Existem alguns tipos de uísque e cada foi na passagem do período feudal para a economia
um apresenta formas diferentes de serem feitos, da moeda corrente, que a Rússia teve uma nova vi-
além de componentes distintos. Um deles é o puro são comercial da bebida. No início do século 17 foi
malte, também conhecido como Straight Whisky, apreciada pela alta sociedade, quando servida nos
feito somente com malte de cevada e destilado duas banquetes imperiais russos pelo seu alto grau de pu-
vezes por processo não contínuo. Nesse caso o mal- reza. A partir dos anos 20, principalmente nos Es-
te deve ser de uma única destilaria e passar por um tados Unidos, a vodca passou a compor os mais va-
envelhecimento em barris de carvalho por pelo me- riados coquetéis por sua neutralidade. “Uma das no-
nos oito anos. O Vatted é o termo usado na Escócia vidades nesse setor são as vodcas aromatizadas com

Agosto/02 11
Destilados
conjunção da qualidade do solo, exposição ao sol,
escolha da variedade de vinhas, tipos de alambiques,
barris de envelhecimento entre outros. “Na realida-
de, o Cognac surgiu como uma forma dos produtores
da região melhorarem seu produto: o vinho branco.
Pois este é bastante ácido, pouco alcoólico, apesar
de aromático não encontrava bom mercado. Portan-
to, alguns produtores resolveram destilá-lo”, elucida
Siwla. O vinhedo de Cognac cobre 72.000 hectares
de terrenos calcários, plantados com as variedades
folle-blanche, colmbard ou saint-émilion. A produção
dos vinhos de Charente é geograficamente limitada
e submetida a variações climáticas, o que explica o
custo elevado do cognac. Charente fornece anual-
mente 4 milhões de hectolitros de vinho, de onde se
extraem 350.000 a 400.000 hectolitros de álcool
puro. Lá estão os melhores produtores de conha-
que, entre eles a Remy Martin, Martell, Henessy e
Courvoisier. A maior parte da produção é destina-
Os destilados são consumidos puros e também são da à exportação, sobretudo para a Grã-Bretanha, os
muito utilizados na elaboração de deliciosos coquetéis Estados Unidos e a Alemanha. Em 1970, as expor-
tações atingiram 647 milhões de francos fora da zona
franca e 5,6 milhões de francos em zona franca. Exis-
frutas e especiarias de cada região de sua fabrica- tem algumas particularidades com relação ao conha-
ção”, ressalta Patrícia. As principais marcas são a que, como por exemplo, as bebidas semelhantes ela-
sueca Absolut, a russa Stolichnaya, a polonesa Wy- boradas no Brasil e em outros países não podem
robowa, a finlandesa Finlandia e a Smirnoff do gru- ostentar no rótulo a palavra cognac, que é exclusivi-
po United Destillers & Vintners, líder do mercado dade da bebida produzida na região francesa. Além
doméstico. A Smirnoff, rótulo preto, importada da disso, todo conhaque é destilado duas vezes em
Rússia, é destilada três vezes de modo artesanal. alambiques do tipo pot e envelhecido por dois anos,
no mínimo, em tonéis de carvalho. “Quando o co-
O CONHAQUE
nhaque sai do alambique, ele não fica com o aroma
característico. Somente após a conservação por al-
O conhaque é um destilado especial, conhecido
guns anos em barris de carvalho é que adquire isso”,
popularmente como brandy, uma mistura de frutas
ensina Patrícia.
feito com vinho e duplamente destilado. Para mui-
tos gourmets, ele não pode faltar no final das refei-
ções e no preparo de tortas. “É o mais nobre. Tanto O DOCE LICOR

que mesmo os que não o apreciam, dificilmente re-


sistem ao seu perfume”, descreve Senra. E pelas de- Diferente dos demais destilados, os licores são
nominações mais correntes, suas três estrelas signifi- um caso à parte e para muitos profissionais da área
cam boa qualidade de base e V.S.O.P. (Very Superi- de alimentos, eles não entram dentro desta classifica-
or Old Pale). A qualidade da bebida é definida de ção. “São bebidas compostas ou feitas por infusão,
forma internacional pelas estrelas no rótulo: uma pois partem de uma base, como por exemplo a vod-
significa três anos de tonel, duas os quatro anos, ca, pinga ou uísque, aos quais são adicionados água
três estrelas os cinco anos e daí por diante. “Cognac e elementos, que dão cor, sabor e texturas diferencia-
é uma designação, que deveria ser utilizada apenas das”, diz Siwla. A destilação da água com os líqui-
para os destilados de uvas produzidos com a apro- dos aromáticos é conhecida desde a antigüidade. Po-
vação do governo francês, na região de mesmo no- rém, em 900 a.C., os árabes inventaram a mistura
me”, relata Siwla. Essa bebida de tonalidade âmbar do álcool através da fermentação. “Provavelmente
nasceu em Charente-Maritime, na França, e segundo foi inventado nos conventos entre os séculos 6 e 7”,
alguns relatos foi criada pelo cavaleiro da Croix- relembra Asdrubal. Na Idade Média, o vinho era
Marrom no século XVII como o resultado de uma usado como o principal anti-séptico, porém as plan-

12 engarrafador
MODERNO
tas, ervas e raízes eram secretamente pesquisadas
pelos monges para a cura de várias doenças. Vários
registros apontam Arnauld de Villeneuve, sábio
catalão nascido em 1240 como o inventor ‘das tin-
turas modernas nas quais as virtudes das ervas são
extraídas pelo álcool’. Ao álcool açucarado eram
misturados limão, rosa, flor-de-laranjeira e em al-
guns casos pepitas de ouro considerados remédios
para todos os males. Mas como nada era fácil para
os sábios da época, Villeneuve enfrentou problemas
com a Inquisição, mas ao salvar a vida do Papa com
uma poção de vinho, ervas e ouro livrou-se da mor-
Novas embalagens e designs ousados tornam
te. O boom dos licores aconteceu com a Peste Ne-
os destilados mais atrativos ao consumidor
gra no século XV, quando eles tornaram-se precio-
sos medicamentos. E antes do século XIX, os lico-
res eram usados nas cozinhas e confeitarias e logo melhores licores são aqueles em que todos os seus
foram substituídos pelos licores industrializados das elementos foram destilados, com exceção de algu-
primeiras destilarias. Com o passar do tempo e a mas frutas e ervas. É feito o inverso do processo de
popularização dos licores pelo mundo, as coloridas destilação do álcool puro, pois é importante conser-
bebidas ganharam receitas, componentes e toques var as substâncias que dão gosto à bebida: as várias
diferentes. Compostos por álcool, xarope de açú- frutas, folhas etc. As flores e raízes que são utiliza-
car, essência de menta e ingredientes saborosos, os das devem ficar embebidas em álcool durante um

Agosto/02 13
Destilados
pressivo, tanto nas vendas como no lançamento de
produtos. E não foram poucos os investimentos em
novos produtos, embalagens e inovadoras misturas.
As bebidas que antes possuíam o tradicional públi-
co de homens mais velhos, agora ganham novos
adeptos: jovens e mulheres, fãs dos destilados mais
suaves, coloridos, aromáticos e dinâmicos.
E foi pensando em ampliar cada vez mais o seu
público, sem perder os tradicionais degustadores do
Scotch, que a Allied Domecq, multinacional britâni-
ca, na segunda colocação no ranking das empresas
de bebidas finas do mundo (comercializa 50 milhões
de caixas com 9 litros cada por ano, possui um fatu-
ramento anual de US$ 4,2 bilhões e das 100 marcas
de bebidas mais vendidas 12 são de seu portfolio),
resolveu colocar no mercado o Domecq Limón, uma
mistura de conhaque e limão. A bebida foi lançada
diretamente para o público mais jovem e feminino,
que aprecia bebidas mais leves e refrescantes dire-
cionadas ao nosso clima. Para a linha de uísques a
empresa investiu em novas campanhas, como a Go
Play, lançada em maio para o Whisky Ballantine’s
Finest. A Allied aliou uma forte idéia, que une músi-
cas, internet e televisão direcionada a um público
consumidor acima de 23 anos, classes AB, com vida
social intensa. Neste setor, a Allied foi mais longe e
inovou estimulando em campanhas de supermerca-
do a mistura do brandy Domecq e uísques tradicio-
nais com refrigerantes e gelo. Para Bruno Zolotar,
Difundir o uísque entre os jovens
gerente de produto da Allied Domecq, responsável
é um dos objetivos principais dos produtores pela marca Domecq, o objetivo da empresa não é
acabar com a imagem consagrada das bebidas, mas
tempo e quando este estiver impregnado é agregar novos conceitos. “No México e Espanha há
redestilado. Depois é adoçado com o xarope de açú- muito tempo se consome brandy com refrigerante
car, resultando em um produto incolor, porém al- e gelo em copo longo. Fica muito mais saboroso do
guns podem ser verdes, vermelhos, amarelos ou que o rum, por exemplo. Estamos estimulando mais
âmbar e para assegurar a sua limpidez, são filtra- esta forma de consumo no Brasil, que é um país de
dos. Antes do engarrafamento, a bebida é conser- clima quente e onde este tipo de drinque cai muito
vada em cubas, os componentes que não podem ser bem”. Tão tradicional quanto o brandy, o uísque,
destilados, dependendo de sua situação passam por que viveu restrito durante muito tempo às versões
infusão em água. Há casos em que as substâncias “cowboy” pegou a febre das vodcas ice e aderiu às
são maceradas em álcool até fornecerem gosto e misturas. “Este folclore de que o uísque não pode
perfume para em seguida serem filtrados. ser misturado é uma particularidade do consumi-
dor brasileiro e não tem fundamento em mercados
DOCES MISTURAS maduros como a Espanha e o Reino Unido”, asse-
gura Paschoal Júnior, gerente de produto da Allied
Os fabricantes de destilados têm se movimenta- Domecq, responsável pela marca Ballantine’s.
do para atrair um público de bebedores cada vez
maior, competir com as empresas estrangeiras e DESIGN MODERNO: UM PRAZER VISUAL
aplacar as suas principais concorrentes: cerveja, ca-
chaça e a falta de dinheiro do brasileiro. De dois Seguindo o mesmo caminho da Allied, a Seagram
anos para cá, esse mercado teve um crescimento ex- resolveu investir no mesmo filão de consumidores

14 engarrafador
MODERNO
para o seu Chivas Regal. Um grande destaque no
mercado de uísques, vodcas, conhaques e licores a
Seagram Company Ltd., surgiu em 1920 no Cana-
dá com Samuel Bronfman e seus irmãos. No Brasil,
a compra da destilaria Medelin em 1966, no Rio de
Janeiro, marcou o seu início no país. Daí para a frente
só cresceu e construiu mais quatro unidades (Rio
Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e a última
em Pernambuco). Para Pernambuco foram destina-
dos R$ 20 milhões e a responsabilidade pela fabrica-
ção e engarrafamento da linha de produtos Ron
Montilla, os uísques Natu Nobilis, Passport e a vod-
ka Orloff. Lançado no Brasil em 1969 Natu Nobilis
é líder de mercado na categoria de bebidas nacio-
nais, com 30% das vendas segundo dados Nielsen
deste ano. A linha Natu Nobilis cresceu com a che-
gada ao mercado da versão Natu Nobilis Celebrity,
o único blended whisky brasileiro a ter em sua com-
posição maltes escoceses envelhecidos 12 anos. Nos
últimos anos a empresa investiu R$ 2 milhões mu-
dando o seu formato para quadrado com um bra-
são em alto relevo no corpo do frasco. “A mudança
da embalagem vinha sendo estudada pela empresa
há quatro anos, sempre com cuidado para que não
perdesse a identidade. O principal objetivo foi desen-
volver uma embalagem mais moderna em linha com
o posicionamento Nobilis”, afirma Gustavo Zerbini,
gerente de produto da marca Natu Nobilis. Na li-
nha de vodcas, a Orloff é produzida desde a década
de 60, possui um volume de 450 mil caixas de 9
litros comercializadas anualmente e com participa-
ção no mercado de 14 %, ocupando o segundo lu-
gar nessa categoria. Com o crescimento do segmento
Ice no Brasil, a Seagram pegou uma carona e lan-
çou a sua versão Orloff Ice. E após quatros meses a
bebida passou a ocupar a segunda posição no mer-
cado com 11% de participação. Outra empresa do
setor, a Dubar, também apresentou crescimento de
10% nas vendas após reformular suas embalagens
e rótulos. A Dubar nasceu em 1913, mas desde 98
foi comprada do grupo Antarctica. “Produzir um
destilado é uma arte, que envolve a harmonia das
matérias-primas, tecnologia, tempo, forma e quanti-
dade”, sentencia Rui Galvani, diretor industrial e
um dos sócios da empresa. Também líder de merca-
do neste setor está a vodca Smirnoff da Diageo,
uma das maiores companhias mundiais de bebidas
alcoólicas. Fabricante de licor, segunda maior impor-
tadora de vinhos do país e dona de 50 produtos,
entre eles os líderes de mercado: Johnnie Walker,
gin Tanqueray, o licor Baileys, cerveja Guinness, além
de J&B. Com uma venda global de 18,4 milhões de

Agosto/02 15
Destilados
caixas, Smirnoff está presente em 150 países e repre- cional e famoso Johnnie Walker tem uma de suas
senta mais de 21% do mercado nacional. Desde doses consumidas a cada seis segundos no mundo.
1999, ela vem sofrendo várias mo- A linha, composta por seis produtos, é encabeçada
dificações em sua embalagem, design pelo Johnnie Walker Red Label, apontado como o
e sabor. Ganhou também uma nova whisky mais vendido e Johnnie Walker Black Label,
versão: uma garrafa de bolso de 350 uma seleção de 42 uísques de malte, grãos envelheci-
ml. Em fevereiro, a marca inaugurou dos por no mínimo 12 anos em barris de carvalho.
a categoria de bebidas prontas para Preocupada com a imagem do uísque no Brasil, a
beber, com o Smirnoff Ice: um pro- dona do whisky Jack Daniel’s, mais vendido no Bra-
duto refrescante, com graduação al- sil, a multinacional Brown-Forman, resolveu desen-
coólica de 5,5 graus, elaborada à ba- volver uma embalagem especial que pudesse servir
se de vodca smirnoff, água de presente aos seus consumidores. Jack Daniel’s
gaseificada e sabor limão. Em está entre as três marcas com crescimento superior
termos de licores, a empresa a 50% de destilados nos últimos 10 anos. Do mes-
conta com o conhecido Baileys, mo grupo, a Vodka Finlandia é a segunda premium
elevado a 14 a posição no importada mais consumida no mundo, com cresci-
ranking das Top 100 Premium mento de 6% em suas vendas no último ano, atin-
Spirit Brands mais vendidas no gindo um volume de 1,6 milhão de caixas/ano em
globo em 2001, de acordo com 2001 segundo dados da Drinks International. Foi
o Impact Databank. Com ape- pensando principalmente em agradar a todos os gos-
nas 25 anos, presente em 130 tos, paladares e intenções, que o mercado dos desti-
países, Baileys ocupa lugar de lados se ampliou e buscou na individualidade das
destaque ao lado de marcas faixas etárias, sexo, formas de vida e atração visual
com mais de dois séculos de o seu público ideal. E como diria Asdrubal Senra:
existência, como o Johnnie “O gosto e a degustação de um destilado parte da
Walker e J&B. Aliás, o tradi- percepção de cada um. É subjetivo mensurar a
qualidade de uma bebida ou de outra. Cada um pre-
fere uma”.
Domecq limón pretende conquistar
o público jovem e o feminino
PRISCILA GORZONI

16 engarrafador
MODERNO

Você também pode gostar