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Políticas de incentivo e a retomada nos anos


90-00
As políticas de incentivo por parte do governo federal proporcionaram recuperação da crise
cinematográfica que o Brasil atravessava desde a década de 80. Foi após a entrada de Itamar
Franco (1992), com a renúncia e o impeachment de Fernando Collor, que o país modificou o
cenário conturbado em todos os setores.  Em seu governo fez as seguintes modificações em
prol do cinema brasileiro: Criação da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (1992);
Promulgação da Lei do Audiovisual nº 8.685, de 20 de julho de 1993, que estabeleceu
abatimento fiscal sobre os lucros de empresas estrangeiras de distribuição de filmes em face
do investimento na produção cinematográfica brasileira, permitindo empresas e pessoas físicas
a participarem de financiamento de produção de audiovisual nacional com lucros fiscais.
Com essas medidas imediatas, houve a retomada de atividade cinematográfica e vários filmes
de longa-metragem foram lançados, o que até então era limitado apenas para curta-metragem.
A prefeitura do Rio de Janeiro, em 1992, criou a agência de distribuição de filmes, vídeos e
programas televisivos brasileiros Riofilme que também veio auxiliar em financiamentos e
coprodução de curtas e longas-metragens, além de possibilitar iniciativas culturais e
promocionais.

Entre 1993 e 1994, a implementação do Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro, no curso de três

seleções, contribuiu com a finalização de 90 projetos, dentre eles, 25 curtas, nove médias e 56

longas-metragens.

No ano de 1994, Fernando Henrique Cardoso assume a presidência do país na sucessão de

Itamar Franco e participa ativamente por dois mandatos consecutivos da promoção da cultura

e do desenvolvimento das atividades cinematográficas brasileiras. Em seu governo, colocou em

vigor a Lei do Audiovisual, marcando a retomada do cinema brasileiro em 1995, além de

possibilitar incentivos fiscais à produção cinematográfica de cultura voltada ao mercado do

cinema. Várias produções ocorreram com essa iniciativa, destacando-se a da atriz e cineasta

Carla Camurati, que teve seu filme parcialmente financiado pelo Prêmio Resgate. 

De 1996 a 1998, o cinema brasileiro passou por uma transformação por conta da modificação
provisória da Lei do Audiovisual, que garantiu às empresas novos financiamentos com elevação
do limite de abatimento dos impostos. Assim, novas produções foram surgindo,
sacramentando a estética de originalidade autoral, com respeito à narração e à pesquisa
linguística de ficção e documentário. Nesse período, o cinema brasileiro não parou mais de
crescer, pois vários filmes se tornaram excelentes obras, premiadas e reconhecidas
internacionalmente. O filme Baile perfumado (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, ao lado
de O que é isso, companheiro? (1997), de Bruno Barreto e Central do Brasil (1998), de Walter
Salles, foram divisores de água que marcaram a nova era de retomada brasileira do cinema. 
O ápice da retomada ocorreu no ano de 1998 com a desvalorização do real, momento em que

houve a redução de participação das empresas privadas no mercado cinematográfico; porém,

novas iniciativas de apoio surgem por parte da Petrobrás, Banespa e TV Cultura que auxiliaram

tanto na distribuição quanto na exibição de filmes nacionais. 

Em 2001, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) foi implementada, o que representou nova

fase para o desenvolvimento do cinema brasileiro com regulamentação de impostos pela

Condecine, reestruturando a produção e crescimento do cinema nacional. O formato

de cinema autoral se solidificou com variações de temáticas e diversidades brasileiras,

enaltecendo sucessos e premiações como Central do Brasil (1998), de Walter Salles.

CURIOSIDADE
A expressão “cinema de autor”, “cinema autoral” ou “cinematografia autoral” significa um filme
que utiliza estética inovadora e acaba se tornando obra histórica, reconhecida e premiada, pois o
cineasta marca esse formato pela reflexão sobre a forma de se ver o mundo.  
De 1998 a 2003, a criação da produtora Globo Filmes, por intervenção das Organizações Globo,
revalorizou o cinema brasileiro em conceitos de audiovisual com produções cinematográficas
premiadas e destacadas mundialmente.

A partir de 2002, na gestão do presidente Lula, o Ministério da Cultura esteve a cargo do

ministro e cantor Gilberto Gil, e a Secretaria do Audiovisual foi administrada pelo diretor e

crítico cinematográfico Orlando Senna. Em ambas as gestões, o cinema brasileiro e a cultura

nacional se desenvolveram e se destacaram perante o mercado internacional.

EVOLUÇÃO ESTÉTICA DO CINEMA NO BRASIL


Nos anos 90, a união de novos cineastas e alguns vanguardistas que trabalharam na era do
Cinema Novo e Marginal (1960 a 1970) produziu uma estética de motivação nacionalista. Essa
fase marcou definitivamente uma nova etapa cultural, porém sem preocupação de efetuar
rupturas com ideais do passado; ao contrário, releituras de clássicos do cinema foram
retomadas para reflexão. Foram trazidos ao período temas de realidade brasileira, classes
sociais, cultura popular e movimentos religiosos, cujo diálogo permeava ternura, esperança e
coragem, sem cunho político ou ideológico.
Essa reconfiguração surgiu, de acordo com Giovanni Ottone (2007, p. 279), por temáticas de

“nova interpretação de clássicos: o sertão e a seca; os cangaceiros; a migração e a viagem; a

alma feminina; a tradicional oposição entre cidade e campo; o debate sobre a identidade

nacional e a representação alegórica do poder”. Ainda acrescenta o autor “problemáticas da

vida urbana, especialmente nas favelas, as escolhas religiosas e os aspectos da violência

(bandidos, narcotraficantes, polícia, justiça, prisões) são os temas”. 

As zonas de fronteira e o cenário de áreas de ruptura social são também escolhas nas produções e
situações de limite, pois o confronto com a violência existe, o cotidiano é imprevisível, comunidades
mostram disputas de território, gangues rivais em confronto, em um cenário sem solução imediata
na história. Esses conflitos uniram grandes produções de Amazonas, Brasília, Ceará, Pernambuco,
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. O resgate ao sertão e ao cangaço, retorno à região
agrária do Nordeste, é retratado pelo cineasta André Klotzel no filme Capitalismo
selvagem (1993) com um dos núcleos de cinema mais significativos dos anos 90 do eixo São
Paulo e Amazonas. Correspondendo ao diálogo estético cinemanovista, o filme trabalha com
a identidade nacional numa tentativa de retratar o objeto criticado e criticar, na mesma
intensidade.

EXPLICANDO
O diálogo estético cinemanovista tinha por objetivo a busca de identidade nacional

por meio de elementos característicos da realidade brasileira como pobreza, vida no

sertão, injustiça social, alienação econômica, política, cultura e arte, tratadas, de

acordo com Rocha (2004, p. 30), como “o nervo de sua própria sociedade”.

Outro filme premiado e que marcou o período foi Terra estrangeira (1995), de Walter Salles e
Daniela Thomas. Produzido em preto e branco, é um drama que inicia como filme policial e
utiliza simbolicamente metáfora inversa, pois sua estrutura ocorre da ficção à realidade. A
linguagem estética revela o problema político-social com contradições que prendem a atenção
do público.
O filme Corisco e Dadá (1996), de Rosemberg Cariri, retoma o tema do cangaço com uma
história de amor entre Corisco (Diabo louro) e Dadá, sua mulher, cujo objetivo estético foi de
ressignificar a relação do cangaceiro com Deus, confrontando a vida e a morte.

EXPLICANDO
O equipamento Super-8 foi lançado em 1965 pela empresa Eastman Kodak Company

como uma evolução da película 8mm. Seu uso era empregado tanto na produção de
filmes familiares quanto em reportagens, documentários e ficções. A sua capacidade

era de 3 minutos e 40 segundos por cartucho, o que facilitava e simplificava as

gravações com menor custo. O equipamento esteve presente em várias fases do

cinema brasileiro.

Fonte: Blog COMCIME, 2016.

A temática da favela também é explorada por essa década. Considerada território limite da
civilização moderna, habitam no mesmo núcleo o tráfico, a miséria e a violência, isto é, a
imagem marginalizada da sociedade. O filme Como nascem os anjos  (1997), de Murilo Salles,
retrata esse ambiente.
Outro filme na mesma temática sobre favela é Orfeu  (1999), de Carlos Diegues, com a
reconfiguração do trágico mito grego do Orfeu e Eurídice em que faz emergir situações de
pobreza, generosidade, porém crueldade mostrada nas comunidades.
A “identidade feminina” também é outra temática abordada pela década a partir da
demonstração de comportamentos e sentimentos atribuídos socialmente às mulheres. São
vários os trabalhos que evocam o que se constrói como figura feminina:
As meninas (1996), de Emiliano Ribeiro;

• Iremos a Beirute (1998), de Marcos Moura;

• Através da janela (1999), de Tata Amaral;

• Eu não conhecia Tururú (2000), de Florinda Bolkan;

• Amélia  (2000), de Ana Carolina;

• Eu, tu, eles (2000), de Andrucha Waddington.

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