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PROJETO: ARQUEOLOGIA PREVENTIVA NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DIRETA DO AHE

DARDANELOS, MT
RELATÓRIO PARCIAL 1: RESULTADOS DA ETAPA DE PROSPECÇÕES
ARQUEOLÓGICAS

Processo IPHAN nº 01516.000060/2007-60


Portaria IPHAN nº 128, 11 de Abril de 2007

EXECUÇÃO:

Scientia Consultoria Científica


Rua Henrique Botticini, 150
05587-020 – São Paulo (SP)
Tel/Fax: (11) 3726-2389 / 3726-3006
Diretora: Solange Bezerra Caldarelli
E-mail: scientia@terra.com.br

EMPREENDEDOR:

ENERGÉTICA Águas da Pedra S/A:


Av. Miguel Sutil, 8.000 - 15º andar Sl. 1504
Jardim Mariana
78.040-400 – Cuiabá, MT.
Tel.: (65) 3027-6292
Diretor Presidente: José Piccolli Neto
E-mail: diretoria@aguasdapedra.com.br

APOIO INSTITUCIONAL:

Instituto Homem Brasileiro


Rua 08, nº 864 – Boa Esperança
78068-765 – Cuiabá (MT)
Tel/Fax: (65) 3664-2407
Coordenadora Científica: Valéria Cristina Ferreira e Silva
E-mail: valcfs@terra.com.br

São Paulo, dezembro de 2007


SUMÁRIO

1. Introdução 02

2. Síntese das atividades desenvolvidas e resultados 04

3. Documentação fotográfica 15

4. Considerações e recomendações finais 24

5. Referências bibliográficas 26

6. Equipe técnica

Arqueologia Preventiva na ÁID do AHE Dardanelos, MT: Relatório Parcial 1


1. INTRODUÇÃO

A pesquisa descrita no presente relatório está ligada ao processo de licenciamento


ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico Dardanelos (AHE), empreendido pela Águas
da Pedra, o qual visa a exploração energética do curso médio do Rio Aripuanã no Estado
do Mato Grosso.

O empreendimento se localiza na margem esquerda do rio Aripuanã, ao lado da sede


urbana do município de Aripuanã (Figura 1), situado, em linha reta, a 700 km da cidade
de Cuiabá no Mato Grosso, e a 510 km da cidade de Porto Velho em Rondônia.

Figura1. Localização do AHE Dardanelos no mapa do Brasil.

No diagnóstico do AHE Dardanelos, já se mostrava que o empreendimento situa-se em


área particularmente rica do ponto de vista arqueológico, na qual ocorrem elementos
culturais tanto relacionados a tradições Amazônicas quanto a tradições do Centro-Oeste
brasileiro.

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No EIA do AHE Dardanelos, descreve-se o levantamento arqueológico feito na AID do
empreendimento, o qual resultou na identificação de sete áreas de ocorrência
arqueológica, duas delas possivelmente associadas às ocupações de caçadores-
coletores e cinco às ocupações de horticultores ceramistas.

O trabalho de campo, assistemático, privilegiou observação de superfície, em acessos


pré-existentes e em áreas de boa visibilidade de solo. Apenas alguns cortes
experimentais foram executados; portanto, são escassas as informações sobre
profundidade e espessura dos refugos antrópicos dos sítios arqueológicos identificados
em campo.

As pesquisas da Scientia Consultoria nas áreas de intervenção do empreendimento


correspondem às etapas posteriores do processo de licenciamento, mencionadas na
Portaria IPHAN 230/2002 como etapas de prospecções arqueológicas intensivas e de
salvamento arqueológico.

No projeto encaminhado ao IPHAN, consta como objetivo geral incorporar à Memória


Nacional conhecimento efetivo sobre o processo de ocupação territorial pré-colonial na
área de Aripuanã - MT, a partir do estudo dos remanescentes materiais deixados pelos
antigos ocupantes da região, interpretados à luz de suas conexões entre si e com o
meio-ambiente com o qual interagiram.

A partir das evidências arqueológicas registradas no EIA do AHE Dardanelos e no alto


potencial arqueológico da região, e em conformidade com o projeto aprovado pelo
IPHAN e com as prioridades do empreendedor, foram realizadas, na primeira etapa do
projeto, prospecções arqueológicas intensivas na área do empreendimento. São os
resultados dessa etapa que se apresentam aqui.

A geração de um conhecimento sobre a história das populações pretéritas e sobre o


comportamento destas populações se dá efetivamente através de um projeto de
pesquisa que objetivamente dê suporte teórico e metodológico para as atividades de
campo e laboratório. A significância dos vestígios arqueológicos só pode ser avaliada
dentro de um projeto de pesquisa bem delineado e baseado em pressupostos teóricos
claros.

O objetivo específico principal das atividades realizadas foi o de averiguar o potencial


arqueológico das áreas a serem diretamente afetadas pelo empreendimento, e nos
casos positivos, gerar dados para avaliação de significância arqueológica e propor
atividades mitigadoras.

Para a execução dos estudos de arqueologia, o Instituto do Homem Brasileiro, sediado


em Cuiabá, MT, participa como instituição de apoio e colaboradora na execução do
projeto.

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2. SÍNTESE DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E RESULTADOS

As prospecções arqueológicas foram direcionadas às áreas diretamente afetadas pelo


empreendimento, a saber:
(1) Canal de Fuga;
(2) Casa de Força;
(3) Subestação;
(4) Condutos Forçados;
(5) Tomada D’água dos Condutos Forçados e Câmara de Carga;
(6) Canal de Adução;
(7) Canal de Aproximação;
(8) Bota Fora 1;
(9) Canteiro 1 e Área de Empréstimo 2;
(10) Bota-Fora 2;
(11) Acessos.

A metodologia empregada foi a de caminhamento, sondagem teste de 1m2 e de 50cm2, e


shovel test em alinhamentos específicos. Todo o material escavado das sondagens foi
peneirado em peneiras com malha de 5mm.

As sondagens de 50cm2 foram realizadas nas áreas onde ocorreu material arqueológico,
e tinham como objetivo a delimitação da dispersão horizontal e vertical do material
arqueológico. No caso em que as sondagens de 50cm2 não apresentaram material
arqueológico, as mesmas foram expandidas para 1m2 para confirmar o resultado
negativo.

1. Canal de Fuga – O canal de fuga apresenta um traçado linear de aproximadamente


800m na direção oeste-leste, e 80m de largura. Parte do canal está localizada na
planície fluvial de inundação do rio Aripuanã e parte em um terraço fluvial aluvionar. O
sedimento da planície fluvial de inundação é composto por areia média/fina, branca nos
níveis superiores, e amarela nos níveis inferiores, com poucos clastos. O sedimento do
terraço fluvial aluvionar, mais heterogêneo que o da planície de inundação, é areno-
argiloso, marrom escuro, amarelo-avermelhado, vermelho-amarelado, bruno muito claro-
acinzentado, e apresenta clastos (tamanho grânulos, seixos, blocos e matacões)
angulares a subangulares.

Oito sondagens de 1m2 e trinta e dois shovel tests foram realizados na área do canal de
fuga (Figura 2). A profundidade das sondagens variou entre 1,6m (planície de inundação)
a 0,3m (terraço fluvial). Não foi evidenciado nenhum material arqueológico.

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Figura 2. Localização das sondagens (quadrados) e shovel tests (círculos) realizados.

2. Casa de Força – O local da casa de força é em uma vertente escalonada, com


declives médios, sedimento areno-argiloso, amarelo-brunado, amarelo-avermelhado,
com muitos clastos do tamanho: grânulos, seixos, e blocos; subangulares a
arredondados, e com grandes matacões de arenito.

Na localidade onde será instalada a casa de força realizamos duas sondagens de 1m2,
uma chegou a 1 metro de profundidade e outra somente a 0,3m. Também foram
realizados dez shovel tests (Figura 2). Não foi evidenciado nenhum material arqueológico
nesta área do empreendimento.

3. Subestação – Localizada no terraço fluvial aluvionar, a subestação ocupará uma área


a norte do canal de fuga, próximo à base da vertente. Quatro sondagens de 1m2 e
dezesseis shovel tests foram realizados no local (Figura 2), sendo que as sondagens
variaram entre 0,8 e 1 metro de profundidade. Não foi evidenciado nenhum material
arqueológico nas escavações realizadas.

4. Condutos Forçados – Os condutos forçados estão localizados em uma área de


vertente escalonada, muito íngreme, passando pela área de ruptura de declive associada
ao afloramento de arenito. Uma sondagem (Figura 3), próximo à casa de força, foi
realizada nesta área, atingindo somente 0,4m de profundidade devido a grande
quantidade de matacões presentes em sub-superfície. Na área de ruptura de declive, na
localidade 21L 231392 8875987 (Figura 3), há um abrigo com uma pequena área
abrigada (8m2). O abrigo apresenta um piso inclinado, com muitos blocos e matacões
abatidos e sedimento areno-argiloso. Duas sondagens nas áreas mais planas e com
menos blocos e matacões abatidos foram realizadas. Uma sondagem atingiu a rocha em
35 cm, e a outra em 45 cm. O sedimento evidenciado é o mesmo da superfície, com
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alguns clastos (seixos, blocos e matacões) subangulares a arredondados. Não foi
evidenciado nenhum material arqueológico na abrigada. Fora da área abrigada, o talude
apresenta-se muito inclinado com muitos clastos, sem potencial arqueológico.

Figura 3. Localização das sondagens (quadrados), shovel tests (círculos) realizados, e do abrigo.

5. Tomada D’água dos Condutos Forçados e Câmara de Carga – Estas duas estruturas
estão localizadas em uma área de superfícies suavemente onduladas associado ao
compartimento geomorfológico da Chapa de Dardanelos. O sedimento desta área é
areno-argiloso, bruno, com clastos tamanho seixo, bloco, e matacão.

Quatro sondagens foram realizadas nesta região (Figura 3), três atingiram somente 0,5
metros de profundidade e uma chegou a 0,9 metros de profundidade; quando atingiram
rocha ou pacotes sedimentares com muitos clastos impossibilitando a continuação da
escavação.

Também foram realizados vinte shovel tests (Figura 3). Não foi evidenciado nenhum
material arqueológico nas sondagens ou shovel tests.

6. Canal de Adução – O canal de adução esta localizado na área da Chapada de


Dardanelos e tem um traçado linear de aproximadamente 600 metros de comprimento
por 80 de largura. Os primeiros 150 metros do canal, na direção de oeste para leste, é
um grande lajeado, e nenhuma sondagem foi feita nesta área.

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Figura 4. Localização das sondagens (quadrados) e shovel tests (círculos) realizados.
Unidades em vermelho indicam presença de material arqueológico. Área cinza indica
dispersão aproximada da “terra preta” associada ao sítio arqueológico.

Sete sondagens de 1m2 e vinte e quatro shovel tests foram realizados na área do Canal
de Adução (Figura 4). A escavação das sondagens não ultrapassou os 0,5m de
profundidade devido ao substrato rochoso impossibilitando a continuação da escavação
abaixo do nível 50cm. A sondagem SD034 e os shovel tests ST0134 e ST0147 deram
resultado positivo quanto à presença de material arqueológico (Tabela 1)

Tabela 1. Unidades e localização das unidades com resultado positivo.

UNIDADE UTM E N

SD034 21 L 230700 8875800

ST0134 21 L 230720 8875800

ST147 21 L 230680 8875800

7. Canal de Aproximação – Este canal é a Continuação do canal de Adução no sentido


de leste para oeste. O Canal de Aproximação está localizado em uma área onde já é
conhecida a existência de um sítio arqueológico de “terra preta” (Figura 4), com material
arqueológico (cerâmica e lítico) erodindo na superfície.

Nas coordenadas UTM 8875800/229800, foi realizada uma sondagem (SD023) de 1m2
para averiguar o pacote arqueológico e estratigrafia. A partir da sondagem SD023

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realizamos sondagens de 50cm2 em uma malha de 300 metros para delimitar o sítio de
forma expedita, sem comprometer a integridade do mesmo. A sondagem SD025
(8875800/230400) estava localizada no lajeado, portando fizemos a sondagem SD025 a
500 metros a leste da sondagem 3D025 ao invés de 600 metros. Outras oito sondagens,
totalizando dez, e vinte e seis shovel tests foram realizadas na área do Canal de
Aproximação (Figura 4), com resultado positivo para presença de material arqueológico
em quinze unidades (Tabela 2, Figura 4).

Tabela 2. Unidades e localização das unidades com resultado positivo.

UNIDADE UTM E N

SD023 21 L 229800 8875800

SD024 21 L 230100 8875800

SD026 21 L 230200 8875800

SD027 21 L 229800 887600

SD028 21 L 230100 8876000

SD030 21 L 229600 8875900

SD031 21 L 229700 8875900

SD032 21 L 229700 8875800

SD034 21 L 230700 8875800

ST0105 21 L 230280 8875800

ST0106 21 L 230260 8875800

ST0118 21 L 230100 8875860

ST0119 21 L 230100 8875840

ST0120 21 L 230100 8875820

ST0126 21 L 230300 8875900

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A sondagem SD023 produziu muito material arqueológico, mais de 2000 fragmentos de
cerâmica, e material lítico lascado. Há dois pacotes arqueológicos distintos, um que vai
da superfície até o nível 70-80 cm, associado a um sedimento preto, orgânico, conhecido
como “terra preta”, e um segundo pacote entre os níveis 120-130 e 140-150 cm
associado a um sedimento bruno, com potencial de grande antigüidade.

8. Bota Fora 1 – Esta estrutura está localizada em uma área de baixa vertente, próxima a
um pequeno rio perene, em uma área de pasto com branqueara alta que dificulta a
visibilidade do chão. O sedimento é areno-argiloso, bruno, muito duro devido ao
pisoteamento do gado e exposição ao sol. Nesta região optamos por realizar shovel tests
a cada 20 metros, em alinhamentos espaçados em 40 metros (Figura 5). Um total de 710
unidades foi realizado, com quatro resultados positivos para presença de material
arqueológico (Tabela 3, Figura 5). Como o intuito de melhor caracterizar e delimitar a
extensão da distribuição espacial do material arqueológico, outras vinte e uma unidades
foram realizadas (Figura 6).

Também foi realizada uma sondagem de 1m2 por 1 metro de profundidade para
averiguar a camada arqueológica e o perfil sedimentológico. O material arqueológico
ocorre até 50 cm de profundidade, com alta densidade até 40 cm. Abaixo do nível 6 (50-
60cm) ocorre um sedimento amarelo, arqueologicamente estéril.

Figura 5. Bota Fora 1 (linha vermelha), shovel test (círculos pretos) e área aproximada do
sítio arqueológico (círculo verde).

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Figura 6. Shovel test com resultado positivo para presença de material arqueológico
(círculos vermelhos) e área aproximada do sítio arqueológico (círculo verde). Linha
vermelha indica limite sul do Bota Fora 1.

Tabela 3. Unidades e localização das unidades com resultado positivo.

UNIDADE UTM E N

PT187 21 L 227640 8876540

PT188 21 L 227640 8876520

PT219 21 L 227600 8876560

PT220
21 L 227600 8876540
SD023

PT419 21 L 227620 8876540

PT416 21 L 227620 8876500

PT417 21 L 227620 8876480

PT365 21 L 227580 8876560

PT367 21 L 227580 8876520

PT369 21 L 227580 8876480

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9. Canteiro 1 e Área de Empréstimo 2 – O Canteiro 1 apresenta uma área de 75 hectares
e a Área de Empréstimo 2, adjacente ao canteiro (Figura 7), apresenta uma área de 15
hectares. Ambas as estruturas estão localizadas na vertente oposta ao Bota-Fora 1, em
uma área de baixa vertente, próxima a um pequeno rio perene, em uma área de pasto
com braquiara alta que dificulta a visibilidade do chão. O sedimento é areno-argiloso,
bruno (7.5YR4/3), muito duro devido ao pisoteamento do gado e exposição ao sol. Nesta
região optamos por realizar shovel tests a cada 20 metros, em alinhamentos espaçados
em 40 metros (Figura 7). Um total de 1580 unidades foi realizado, com nenhum resultado
positivo para presença de material arqueológico.

Figura 7. Localização das unidades (shovel tests - círculos) realizadas.

10. Bota Fora 2 – A Área do Bota Fora 2 compreende 25 hectares, e está situada na
margem esquerda do Rio Aripuanã, a cerca de 100 metros do rio. O Bota-Fora 2 esta
situado em uma região de meia encosta pouco inclinada e com pontos de alagamento
periódicos. A vegetação do local apresenta capoeira baixa com capim na porção sul,
remanescentes de floresta a NW e N, e capoeira suja a NE. Foi encontrada grande
dificuldade de transposição da vegetação principalmente nas áreas sul, norte e NW. Em
função da dificuldade de deslocamento e visibilidade do chão decidimos realizar shovel
tests de 40 em 40 metros em alinhamentos paralelos espaçados em 100 metros (Figura
8) Ao todo foram realizadas 137 unidades.

O sedimento areno-argiloso a arenoso, macio a ligeiramente duro, predominantemente


bruno-amarelado, com locais de alagamento apresentando sedimento ligeiramente
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escurecido. Na porção sul próximo a uma antiga escola o sedimento é bastante escuro.
Associado a este sedimento escuro, as unidades de prospecção realizadas (Figura 8)
evidenciaram material arqueológico (cerâmica e lítico). Com o intuito de observa a
distribuição vertical do material arqueológico assim como do sedimento escuro
realizamos uma sondagem de 1m² (SD039) no local onde se encontrou maior densidade
de material arqueológico. A escavação da sondagem SD039 evidenciou uma grande
quantidade de fragmentos de cerâmica (mais de 1000) e de material lítico (mais de 200)
lascado e polido. O pacote arqueológico atinge cerca de 1m de profundidade. A cor do
sedimento da sondagem escavada variou de bruno muito escuro (7.5YR 2.5/2) a amarelo
avermelhado (7.5YR 6/4), este último arqueologicamente estéril. Quanto à textura do
sedimento ela é areno-argilosa ao longo de todo o perfil.

Com o objetivo de delimitar melhor a dispersão do material arqueológico foram feitos


shovel testes, de 20 em 20 metros, nas direções norte, sul, leste e oeste, a partir da
sondagem SD039 (Figura 8). Do total de 128 unidades de prospecção de sub-superfície
realizadas obtivemos resultado positivo quanto à presença de material arqueológico em
23 unidades (Figura 8, Tabela 4). Ao norte e a sul a presença de cerâmica se estende
por mais 100 metros, a oeste avança por mais 80 metros e a leste por mais 100 metros.

A prospecção na área do Bota-Fora 2 resultou na detecção de um sítio arqueológico,


Dardanelos 3, com alta relevância arqueológica devido à densidade do material
arqueológico, tanto cerâmica com lítico, presença de terra preta, e boa integridade do
contexto arqueológico.

Figura 8. Bota Fora 2, shovel test (círculos pequenos), sondagem (quadrado) e área
aproximada do sítio arqueológico (círculo verde).
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Tabela 4. Unidades e localização das unidades com resultado positivo.
UNIDADE UTM E N
PT 269 21 L 233200 8877900
PT 271 21 L 233300 8877900
PT 308 21 L 233300 8877860
PT 309 21 L 233200 8877840
PT 310 21 L 233280 8877880
PT 312 21 L 233180 8877900
PT 313 21 L 233160 8877900
PT 314 21 L 233140 8877900
PT 317 21 L 233240 8877900
PT 318 21 L 233260 8877900
PT 319 21 L 233280 8877900
PT 320 21 L 233320 8877900
PT 323 21 L 233220 8877920
PT 324 21 L 233220 8877940
PT 325 21 L 233220 8877960
PT 327 21 L 233220 8878000
PT 331 21 L 233220 8877880
PT 332 21 L 233220 8877860
PT 333 21 L 233220 8877840
PT 334 21 L 233220 8877820
PT 335 21 L 233220 8877800
PT 531 21 L 233240 8878000
SD039 21 L 233220 8877900

11. Acessos – A maioria dos acessos tem o traçado próximo ou dentro das áreas
prospectadas, como, por exemplo, Canal de Aproximação, Canal de Adução e Canteiro;
portanto já foram averiguados. O único acesso não prospectado é o acesso ao Bota-Fora
2 (Figura 9). Realizamos uma caminhada de reconhecimento, próxima ao traçado deste
acesso, mas, devido grande dificuldade em caminhar na vegetação muito fechada, com
muitos troncos caídos, muitos cipós, mata muito “suja”, não foi possível caminhar
exatamente no traçado do acesso. Uma prospecção arqueológica ao longo do acesso ao

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Bota-Fora 2 é inviável, e sugerimos ao empreendedor um acompanhamento das obras
de supressão da mata, e construção das vias de acesso.

Figura 9. Caminhamento (linha verde) ao longo do acesso (linha vermelha) ao Bota-Fora 2.

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3. DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA

Foto 1. Perfil norte da sondagem SD002 localizada na planície fluvial inundável na região
do canal de fuga.

Foto 2. Perfil norte da sondagem SD007 localizada no terraço fluvial aluvionar na região do
canal de fuga.

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Foto 3. Perfil norte da sondagem SD009 localizada na vertente escalonada na região da casa de força.

Foto 4. Perfil norte da sondagem SD018 localizada no compartimento geomorfológico Chapa


de Dardanelos. Observar piso da sondagem na rocha (arenito) na região da câmara de carga.

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Foto 5. Abertura de sondagem e peneiramento.

Foto 6. Perfil norte da sondagem SD023 na região do canal de aproximação. Sedimento


escuro é “terra preta”.
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Foto 7. Detalhe do perfil norte da sondagem SD023 com fragmentos de cerâmica.

Foto 8. Tembetá em quartzo leitoso branco encontrado no nível 1 da sondagem SD023.

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Foto 9. Fragmentos de cerâmicas evidenciados na sondagem SD023.

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Foto 10. Área do Canteiro 1 com erosão e braquiara.

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Foto 11. Unidades de amostragem na área do Canteiro 1.

Foto 12. Perfil norte da sondagem SD039 localizada na área do Bota-Fora 2. Notar camada
de sedimento escuro associado à terra preta.

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Foto 13. Fragmento de cerâmica evidenciado na sondagem SD039 na área do Bota Fora 2.

Foto 15. Sondagem realizada no abrigo existente na área dos Condutos Forçados.

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Foto 15. Área próxima ao Acesso ao Bota-Fora 2, com cobertura fechada, prejudicando os
caminhamentos.

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4. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS

A prospecção arqueológica na ADA do AHE Dardanelos revelou a existência de três


sítios arqueológicos de alta relevância, a saber:

► Sítio Dardanelos 1 - sítio a céu aberto de grande extensão na região que vai do
canal de aproximação até o canal de adução;
► Sítio Dardanelos 2 – sítio a céu aberto não muito extenso, na área do Bota Fora 1;

► Sítio Dardanelos 3 – sítio a céu aberto não muito extenso na área do Bota Fora 2.

Não foi confirmada a existência de sítio no abrigo.

Os vestígios arqueológicos evidenciados nos sítios a céu aberto sugerem a presença de


grandes aldeias formadas por populações sedentárias (sítios habitação), praticantes de
agricultura e produtoras de inúmeros vasilhames cerâmicos, artefatos líticos, cuja
densidade e intensidade ocupacional ocasionaram a formação da terra preta.

A região do AHE Dardanelos está localizada em uma área estratégica, entre duas
grandes áreas culturais, o Brasil Central e a Amazônia. Portanto, a pesquisa
arqueológica associada ao empreendimento já detectou o alto potencial regional de gerar
importantes dados para testar e refinar várias questões e modelos discutidos no projeto
apresentado ao IPHAN, assim como contribuir significantemente para a história dos
povos indígenas do Brasil.

A ausência de informação sobre a arqueologia da região de noroeste do Mato Grosso,


juntamente com a presença de um grande sítio a céu aberto associado à “terra preta”
com uma alta densidade de vestígios da cultura material (lítico e cerâmico), indica a
grande importância desse patrimônio, e, portanto, a necessidade de realizar pesquisas e
resgate arqueológico antes da construção do empreendimento nas áreas onde ocorre
material arqueológico; ou seja, nos sítios a serem impactados.

Considerando os dados apresentados acima, foram recomendados ao empreendedor os


seguintes procedimentos técnicos a serem implementados na etapa de salvamento
arqueológico.

1. Resgate do sítio arqueológico a céu aberto Dardanelos 1, na área do Canal de


Aproximação e Canal de Adução, com área aproximada de 600.000m2, e material
arqueológico ocorrendo até 1,5 metros de profundidade.

2. Resgate do sítio arqueológico a céu aberto Dardanelos 2, na área do Bota Fora


1, com área aproximada de 10.000m2, e com material arqueológico até 50 cm de
profundidade.

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3. Mudança do local do Bota-Fora 2, a fim de evitar o impacto direto ao sítio
arqueológico Dardanelos 3, com área aproximada de 40.000m2, e material
arqueológico ocorrendo até 1,0 metro de profundidade; na impossibilidade,
proceder ao resgate do sítio arqueológico.

4. Acompanhamento das obras de supressão da mata, construção das vias de


acesso, e escavação. Este acompanhamento é justificável, pois há o potencial de
sítios muito enterrados, e a escavação na área do empreendimento irá atingir até
três metros de profundidade em alguns locais.

As recomendações acima foram totalmente acatadas e respeitadas pelo empreendedor.


Assim sendo, foi resgatado o Sítio Dardanelos 2 e o resgate do Sítio Dardanelos 1 se
encontra em andamento.

Quanto ao sítio Dardanelos 3, o empreendedor optou pela mudança do Bota Fora 2 do


local do sítio arqueológico. Esta alternativa foi fortemente recomendada pela
coordenação do projeto de arqueologia preventiva, que defende a importância de sempre
optar pela preservação dos sítios arqueológicos, só promovendo seu resgate na
impossibilidade de preservá-los (King, ; Caldarelli, 2007).

Todos os sítios arqueológicos foram devidamente sinalizados (vide figura 10), para evitar
riscos à sua integridade (ver, a respeito, Jameson & Kodak, 1991) pelas atividades de
implantação do empreendimento.

Figura 10 – Modelo das placas usadas na sinalização dos sítios arqueológicos.

A nova área do bota fora foi prospectada previamente pela equipe de arqueologia e não
revelou nenhum bem arqueológico no local.

Ressalta-se, aqui, que os resgates acima mencionados serão objeto de um próximo


relatório ao IPHAN.

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5. EQUIPE TÉCNICA

Coordenação Dr. Renato Kipnis

Dra. Solange Bezerra Caldarelli

Equipe de campo Dr. Renato Kipnis

Ataliba Henrique Fraga Coelho

José Geraldo de Freitas

Nelson Rodrigues

Elaboração do relatório Dr. Renato Kipnis

Dra. Solange Bezerra Caldarelli

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALDARELLI, Solange B. Pesquisa arqueológica em projetos de infra-estrutura: a opção


pela preservação. Revista do Patrimônio, nº 33: 153-174. IPHAN-Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, número especial sobre Arqueologia e
Preservação.

JAMESON Jr., John H. e Marc KODACK. Signing as a Means of Protecting Archaeological


Sites. In: SMITH, George S. e John E. EHRENHARD, Protecting the Past. Tallahassee,
CRC Press, 1991.

KING, Thomas F. It’s an Adverse Effect to Destroy an Archaeological Site! SAA Bulletin,
1 (January); 2 (March) e 4 (May), 2000.

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