Você está na página 1de 107

Universidade Federal de São Carlos

Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia


Departamento de Matemática

Trabalho de Conclusão de Curso B

Tópicos de Topologia Algébrica


Gabriel Longatto Clemente
Fabio Ferrari Ruffino

São Carlos - SP, 2018.


“Was aus Liebe getan wird,
geschieht immer jenseits von Gut und Böse.”

Friedrich Wilhelm Nietzsche,


Jenseits von Gut und Böse - Vorspiel einer Philosophie der Zukunft.
Agradecimentos

Agradeço aos meus pais, Vanilda Cristina Longatto Clemente e Milton Aparecido
Clemente, e ao meu irmão, Milton Longatto Clemente, pelo apoio, confiança e amor
que, tão incondicionalmente, depositaram em mim.
Agradeço ao Profo Dr. Fabio Ferrari Ruffino que aceitou me instruir e que me
ajudou com a execução deste projeto de todas as maneiras possı́veis. A clareza em
suas explicações e a paciência que dedicou a mim durante todo este tempo de trabalho
ficarão guardadas em minhas lembranças.
Agradeço aos meus antigos orientadores, Profo Dr. Daniel Vendrúscolo e Profa
Dra. Liane Bordignon, que tanto contribuı́ram para a minha formação acadêmica e
profissional. Aos inúmeros professores que me ensinaram e que não mencionei aqui,
meu muito obrigado!
Por fim, agradeço Caio Henrique Silva de Souza que me ajudou muito nos cursos
que fizemos juntos e que colaborou comigo em diversos trabalhos. Enfim, agradeço aos
colegas que comigo caminharam nesta árdua estrada e que a fizeram muito divertida e
prazerosa para mim.
Resumo

Neste trabalho de conclusão de curso desenvolvemos um estudo sobre a teoria de


Homologia do ponto de vista categorial. Para fazermos isto estudamos na primeira
parte do projeto as noções categoriais mais propriamente ditas. Lá estabelecemos uma
definição de categoria a partir da teoria de conjuntos Neumann-Bernays-Gödel e apre-
sentamos uma quantidade substancial de exemplos e de comentários sobre todos os
conteúdos trabalhados. Na parte central do texto explicamos as noções iniciais de
Homologia fazendo uso do ferramental construı́do anteriormente. Em particular, deta-
lhamos o fato de o limite direto comutar com o funtor homologia singular e tratamos de
uma aplicação interessante do Método dos Modelos Acı́clicos que também foi estudado
cuidadosamente.

Palavras-chave: Categorias, Morfismos, Produtos, Coprodutos, Funtores, Isomorfis-


mos, Equivalências, Topologia, Álgebra, Homologia, Modelos Acı́clicos, Homotopia de
Cadeias, Axiomas de Eilenberg-Steenrod, Sequência de Mayer-Vietoris.
Prefácio

Este texto foi produzido como subproduto das atividades de estudo e discussão que
realizamos sobre a Teoria das Categorias, a Topologia Geral, a Topologia Algébrica e a
Álgebra Homológica. Portanto, o objetivo do mesmo é evidenciar o estudo que fizemos
sobre estes assuntos.
Não dispomos aqui todos os resultados e demonstrações estudados, especialmente
quando estes se encontravam completos nas bibliografias recomendadas. Em vez disso
apresentamos exercı́cios resolvidos e alguns complementos a fim de aprofundar ou tor-
nar mais claros os tópicos estudados. As palavras em negrito nesta composição são o
léxico geral da teoria estudada.
Uma vez que a definição de categoria que usamos depende da noção de classe,
não poderı́amos deixar de dizer as regras do jogo sobre estes objetos. Sendo assim,
escolhemos apresentar, na primeira seção do texto, a teoria de conjuntos Neumann-
Bernays-Gödel. Esta é uma extensão natural da teoria de conjuntos Zermelo-Fraenkel
mais Axioma da Escolha. É importante aqui a classe de todos os conjuntos que, equi-
pada com a devida estrutura, se torna uma das categorias mais notáveis de todo o
trabalho.
Em seguida, expomos nossa introdução à Teoria das Categorias. Aqui tratamos das
várias noções elementares: categorias, subcategorias, morfismos mônicos e épicos, pro-
dutos e coprodutos, funtores covariantes e contravariantes, isomorfismos e equivalências
de categorias, funtores representáveis, adjunções, limites diretos e inversos, et reliqua.
Esta parte é essencial em todo trabalho pois é a linguagem na qual este está escrito,
mas também contém assuntos que têm vida própria e que poderiam ser estudados per
si em suas generalidades.
Na terceira e quarta seções apresentamos alguns conceitos de Álgebra Homológica
e a Teoria de Homologia do ponto de vista categorial. Como dito no Resumo detalha-
mos o fato de o limite direto comutar com o funtor homologia singular e tratamos de
uma aplicação interessante do Método dos Modelos Acı́clicos que também foi estudado
cuidadosamente.
Sumário
1 Preliminares 1
1.1 Lógica elementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Teoria dos conjuntos Neumann-Bernays-Gödel . . . . . . . . . . . . . . 1

2 Introdução à Teoria das Categorias 7


2.1 Definição e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.1.1 Subcategorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.1.2 Isomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.1.3 Categorias concretas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1.4 Objetos universais e couniversais . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.1.5 Morfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 Produto e coproduto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.3 Produto e coproduto fibrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.4 Funtores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.4.1 Funtores covariantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.4.2 Funtores contravariantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.3 Composição de funtores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.4 Funtores: covariância e contravariância . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.5 Funtores de duas variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.5 Transformações naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.6 Isomorfismos, mergulhos e equivalências de categorias . . . . . . . . . . 40
2.7 Funtores representáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.8 Adjunção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.9 Limite direto e limite inverso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

3 Álgebra Homológica 58
3.1 Grupos de homologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.2 Grupos graduados diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.3 Complexos de cadeias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.4 Homotopia de cadeias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.5 Complexos contráteis e acı́clicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.6 Complexo cone . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

4 Homologia Singular 73
4.1 Funtor homologia orientada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2 Funtor homologia singular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.3 Homologia relativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.4 Axiomas de Eilenberg-Steenrod . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.5 Sequência de Mayer-Vietoris . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

A Uma categoria conveniente de espaços topológicos 80


A.1 Espaços compactamente gerados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
A.2 Espaços compactamente gerados associados . . . . . . . . . . . . . . . . 82
A.3 Espaços produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
A.4 Espaços de função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
1 Preliminares
Nesta seção inicial expomos a teoria dos conjuntos Neumann-Bernays-Gödel. Esta
embasa todos os tópicos seguintes do nosso estudo. Apesar disso não pretendemos for-
necer um tratamento ótimo desta teoria, mas sim apresentar um conjunto de axiomas
para a mesma, que até agora não se contradisse, e que nos permite rapidamente estabe-
lecer o necessário para a teoria do projeto. Usamos [DUGUNDJI] e [HUNGERFORD]
durante toda a seção.

1.1 Lógica elementar

Adotamos no texto as convenções lógicas usuais e consideramos somente afirmações


que tenham valor verdadeiro ou falso, mas não ambos. Se p e q são afirmações, então
a afirmação p ∧ q (lê-se “p e q”) é verdade se p e q são ambas verdadeiras e falsa caso
contrário. A afirmação p ∨ q (lê-se “p ou q”) é verdade sempre que ambas p e q não
são concomitantemente falsas. Uma implicação é uma afirmação da forma p ⇒ q (lê-se
“se p, então q”). Uma implicação é falsa se p é verdadeira e q é falsa; caso contrário
é verdadeira. Uma equivalência entre as afirmações p e q é uma afirmação da forma
p ⇒ q e q ⇒ p. Usualmente lemos “p se, e somente se, q” e denotamos simbolicamente
p ⇔ q. Uma equivalência é verdadeira se p e q são ambas verdadeiras ou falsas; caso
contrário é falsa.

1.2 Teoria dos conjuntos Neumann-Bernays-Gödel

A teoria dos conjuntos Neumann-Bernays-Gödel é uma teoria dos conjuntos axiomática


que estende conservativamente a teoria dos conjuntos Zermelo-Fraenkel mais Axioma
da Escolha. Aquela teoria introduz a noção de classe a qual é uma coleção de conjuntos
definida por fórmulas que quantificam somente estes.
Idealmente gostarı́amos que, para cada propriedade p, existisse um conjunto E(p)
cujos elementos fossem exatamente aqueles que gozam da propriedade p. Este pressu-
posto, porém, leva ao Paradoxo de Russel 1 . Um teorema chave na teoria dos conjuntos
Neumann-Bernays-Gödel é o Teorema de Formação de Classe, que estabelece que a
cada propriedade que quantifica somente conjuntos, existe uma classe consistindo so-
mente dos conjuntos que satisfazem esta propriedade. Atentamos para o fato de que
a hipótese de as propriedades quantificarem somente conjuntos é fundamental dado
que o mesmo argumento devido a Russel se aplica à teoria dos conjuntos Neumann-
Bernays-Gödel garantindo a inexistência da classe de todas as classes.
Historicamente, John von Neumann (1903-1957) introduziu a noção de classe a sua
teoria dos conjuntos em 1925. Posteriormente, Paul Bernays (1888-1977) reformulou
1
O Paradoxo de Russell é um paradoxo descoberto por Bertrand Russell (1872-1970) em 1901 que
revelou no livro de Friedrich Frege (1848-1925), Leis fundamentais da aritmética, uma contradição. O
paradoxo foi comunicado por Russel a Frege através de uma carta em 1902. Este publicou a descoberta
no segundo volume de seu livro, em 1903, num posfácio. O argumento de Russel consiste em considerar
o conjunto A de todos os conjuntos que não pertençam a si próprio. Assim, se A ∈ A tem-se que
A ∈ / A e, se A ∈ / A , tem-se que A ∈ A . Logo A não pode ser um conjunto e, portanto, a ideia
que a cada propriedade que quantifica conjuntos está associado um conjunto tornou-se insólita.

1
a teoria de von Neumann tomando classe e conjunto como conceitos primitivos. Por
fim, Kurt Gödel (1906-1978) simplificou a teoria de Bernays através de sua prova da
consistência relativa do Axioma da Escolha e da Hipótese de Contı́nuo Generalizada 2 .
Os termos primitivos para a teoria dos conjuntos Neumann-Bernays-Gödel são
classe e uma relação dicotômica ∈ entre estas. Todas as variáveis como A , A, x, dentre
outras, representam classes. Além disso, para cada duas classes quaisquer, a afirmação
A ∈ B é verdadeira ou falsa. Uma propriedade p significa uma fórmula construı́da
a partir da afirmação A ∈ B por negação, conjunção, disjunção ou quantificação de
variáveis de classe.

Definição 1.2.1. Sejam A e B classes. Dizemos que a classe A está contida na


classe B e denotamos A ⊂ B se, e somente se, (∀x : x ∈ A ⇒ x ∈ B). Neste caso,
dizemos que A é uma subclasse de B. Também dizemos que a classe A é igual à
classe B e denotamos A = B se, e somente se, (A ⊂ B) ∧ (B ⊂ A ). I

Axioma 1 (de Identidade). (x ∈ A ) ∧ (x = y) ⇒ (y ∈ A ). I

Definição 1.2.2. Dizemos que uma classe A é um conjunto se existe uma classe A
de sorte que A ∈ A . Caso A não seja um conjunto dizemos que A é uma classe
própria. I

Axioma 2 (de Formação de Classe). Para cada propriedade p em que somente


variáveis conjuntistas são quantificadas e em que a variável classe não aparece, existe
uma classe A cujos membros são exatamente os conjuntos tendo a propriedade p.
Simbolicamente, (x ∈ A ) ⇔ (x é um conjunto) ∧ p(x). I

Observação 1.2.1. Por conta do Axioma 1, uma classe A é unicamente determinada


pela propriedade p que a define; denotamos então A por {x : (x é um conjunto)∧p(x)}.
Com esta nomenclatura o Paradoxo de Russel nos faz concluir que a Classe de Russel
R := {x : (x é um conjunto) ∧ (x ∈/ x)} não é um conjunto. J

Sejam A e B classes. Graças ao Axioma 2 a união A ∪ B := {x : (x ∈ A ) ∨ (x ∈


B)} e a intersecção A ∩ B := {x : (x ∈ A ) ∧ (x ∈ B)}, bem como o produto
cartesiano A × B := {(x, y) : (x ∈ A ) ∧ (y ∈ B)}, são classes bem-definidas.
Duas classes bastante importantes são:

• A classe de todos os conjuntos U := {x : (x é um conjunto) ∧ (x = x)} que


chamamos de Classe Universal;
2
A Hipótese do Contı́nuo é uma conjectura proposta por Georg Cantor (1845-1918). Esta con-
jectura consiste, simplificadamente, no seguinte: não existe nenhum conjunto com número cardinal
maior do que o do conjunto dos números inteiros e menor do que o do conjunto dos números reais.
Usualmente a cardinalidade dos números inteiros é denotada por ℵ0 , a próxima cardinalidade é de-
notada por ℵ1 e assim por diante. Fazendo uso destes sı́mbolos, a Hipótese do Contı́nuo pode ser
reformulada como ℵ1 = 2ℵ0 . A Hipótese do Contı́nuo Generalizada, que não se deriva da Hipótese do
Contı́nuo, diz que para qualquer número ordinal α tem-se ℵα+1 = 2ℵα .

2
• A classe que não possui nenhuma outra subclasse que não ela mesma ∅ :=
{(x é um conjunto) ∧ (x 6= x)} que chamamos de Classe Vazia.

Definição 1.2.3. Dizemos que duas classes A e B são disjuntas se, e somente se,
A ∩ B = ∅. I

Uma relação de equivalência R em uma classe A é uma subclasse R ⊂ A × A


que possui as seguintes propriedades: (i) reflexividade: (a, a) ∈ R para todos a ∈ A ;
(ii) simetria: (a, b) ∈ R ⇒ (b, a) ∈ R e (iii) transitividade: (a, b) ∈ R e (b, c) ∈
R ⇒ (a, c) ∈ R. A subclasse de R que contém todos os elementos relacionados por
R com o elemento a ∈ A fixado é chamada de classe de equivalência do elemento
a e é usualmente denotada por [a]. Em outras palavras,

[a] := {b ∈ A : (a, b) ∈ R}.

Caso (a, b) ∈ R, denotamos, por simplicidade, a ∼ b quando a relação R estiver


subentendida. Notamos também que as classes de equivalência de uma relação de
equivalência particionam a classeSem questão. Isto é, cada duas classes de equivalência
ou coindicem ou são disjuntas e a ∈ A [a] = A .

Axioma 3 (do Conjunto Vazio). A Classe Vazia é um conjunto. I

Axioma 4 (do Par). Sejam A e B conjuntos distintos. Então

A = {x : (x = A) ∨ (x = B)}

é um conjunto que contém exatamente dois elementos. Denotamos A = {A, B}. I

Axioma 5 (de União). Seja {Aα }α ∈ A uma famı́lia de conjuntos. Então


[
Aα := {x : ∃α ∈ A , x ∈ Aα }
α∈A

é um conjunto. I

Axioma 6 (de Substituição). Sejam A uma classe, A um conjunto e f : A → A


uma função. Então f (A) é um conjunto. I

Axioma 7 (de Peneiração). Seja A um conjunto. Então, para toda classe A , A ∩ A


é um conjunto. I

Observação 1.2.2. É decorrente do Axioma 7 que se A é um conjunto e p é uma


propriedade em que somente variáveis conjuntistas são quantificadas, então {x : (x ∈
A) ∧ p(x)} é um conjunto. De fato, se A é uma classe determinada pela propriedade
p, então A ∩ A = {x : (x ∈ A) ∧ (x é um conjunto) ∧ p(x)} faz com que a restrição
(x é um conjunto) seja redundante. J

3
Uma vez que membros de classes são conjuntos, definimos a Classe das Partes
P(A ) de uma classe A como P(A ) = {B : (B é um conjunto) ∧ (B ⊂ A )}; deste
modo, mesmo que A não seja um conjunto, P(A ) tem como membros somente as
subclasses de A que são conhecidamente conjuntos.

Axioma 8 (das Partes). Seja A uma classe. Se A for um conjunto, então P(A)
também é um conjunto. I

Se {Aα }α ∈ A é uma famı́lia de conjuntos, então


\
Aα := {x : ∀α ∈ A , x ∈ Aα }
α∈A

é um conjunto. De fato, devido ao Axioma 5, S = {Aα : α ∈ A } é um con-


S
junto; tomando p(x) = [∀α ∈ A T : p(x)], na qual somente a variável conjuntista α é
quantificada, {x ∈ S : p(x)} = {Aα : α ∈ A } é um conjunto.

Observação 1.2.3. O produto cartesiano de dois conjuntos é um conjunto. Sejam A


e B conjuntos e, para cada a0 ∈ A, fa0 : B → A × B, b 7→ (a0 , b).SDe acordo com o
Axioma 6, fa0 (B) = {a0 } × B é um conjunto. Dado que A × B = a0 ∈ A {a0 } × B, o
Axioma 5 garante que A × B é um conjunto. J

Observação 1.2.4. Sejam A e B conjuntos. Então a classe de todas as funções de A


a B é um conjunto. De fato, tendo visto que A × B é um conjunto, pelo Axioma 8,
P(A × B) também o é. Uma vez que uma aplicação é uma subclasse de A × B
especificada por uma propriedade, cada aplicação é um membro de P(A×B). Portanto
o conjunto de todas as funções de A a B é um conjunto. J

Observação 1.2.5. A Classe Universal não é um conjunto. Denotamos por R a Classe


de Russel. Se a classe U fosse um conjunto, então terı́amos que U ∩ R também seria
um conjunto graças ao Axioma 7. Entretanto, U ∩ R = R não é um conjunto. J

Axioma 9 (de Base). Em cada conjunto não-vazio A existe u ∈ A tal que u ∩ A = ∅.


Ou seja, ∀x : x ∈ A ⇒ ¬(x ∈ u)). I

O Axioma 9 diz que: (i) nenhum conjunto não-vazio pode ser membro de si mesmo
e, (ii) se A e B são conjuntos não-vazios, então não é possı́vel que ao mesmo tempo se
tenha A ∈ B e B ∈ A. Provamos agora somente (i) porque a demonstração de (ii) é
análoga. Suponhamos que A seja um conjunto não-vazio tal que A ∈ A; sabemos que
nesta situação {A} também é um conjunto e, como seu único membro é A, {A} nega
o Axioma 9.

Axioma 10 (do Infinito). Existe um conjunto A com as seguintes propriedades:


(i) ∅ ∈ A, e (ii) se a ∈ A, então a ∪ {a} ∈ A. I

4
Observação 1.2.6. A classe dos números naturais é um conjunto. Enfaticamente,
seja A um conjunto que goza das duas propriedades enunciadas no Axioma 10. Seja
B ⊂ P(A) definida por

B = {B ∈ P(A) : B goza das duas propriedades do Axioma 10}.

Cada B é um conjunto e, pelo Axioma 8, B também o é. Daı́ segue que


\
N= B
B∈B

é um conjunto. Como cada B goza das propriedades do Axioma 8, é claro que N


também as goza. Lembrando dos Axiomas de Peano,3 e chamando x ∪ {x} ∈ N de o
sucessor de x ∈ N , segue que há uma bijeção entre o conjunto N e o conjunto N dos
números naturais. J

Axioma 11 (da Escolha). Dada uma famı́lia não-vazia {Aα }α ∈ A de conjuntos dois
a dois disjuntos, existe um conjunto S consistindo de exatamente um elemento de cada
Aα . I

Em 1938, Kurt Gödel demonstrou que se a teoria dos conjuntos baseada nos axi-
omas acima, com exceção do Axioma 11, é consistente, então a teoria dos conjuntos
fundamentada em todos os onze axiomas também o é. O resultado devido a Gödel
deixava aberta a possibilidade de que o Axioma da Escolha fosse derivável a partir dos
outro dez axiomas. Em 1963, Paul Cohen (1934-2007) demonstrou que este não era o
caso.

3
Alguns matemáticos do século XIX como Weierstrass, Dedekind e Cantor produziram construções
para os númers reais que reduziam todas as discussões matemáticas ou metamatemáticas para os
números naturais. Em 1889, Giuseppe Peano (1858-1932) apresentou os Axiomas de Peano que são
uma coleção de axiomas para o conjunto dos números naturais.

5
2 Introdução à Teoria das Categorias
A partir de 1943, Samuel Eilenberg (1913-1998) e Saunders Mac Lane (1909-2005)
colaboraram na área de Topologia Algébrica e, em especial, na área de Álgebra Ho-
mológica. Em 1945 estes matemáticos lançaram os fundamentos da Teoria das Ca-
tegorias com a publicação General Theory of Natural Equivalences. Rapidamente as
noções introduzidas neste trabalho se mostraram muito mais interessantes do que se
imaginava porque vários campos da Matemática puderam ser interpretados em seus
termos.
Nesta seção estudamos a Teoria das Categorias a fim de entender algumas rami-
ficações deste ponto de vista na Matemática. Apesar de estudarmos vários exemplos
e aplicações na área de Álgebra, nosso escopo é compreender as noções fundamentais
acerca da Topologia Algébrica através desta teoria. As referência usadas nesta parte
do texto foram [HUNGERFORD], [HILTON-STAMMBACH] e as notas de aula do
orientador.

2.1 Definição e exemplos

Definição 2.1.1 (Categoria). Seja C uma classe de objetos tal que


• para cada dois objetos A, B ∈ C tenha-se associado um conjunto HomC (A, B).
Os elementos de HomC (A, B) são ditos morfismos do domı́nio A ao contra-
domı́nio B;
• para cada três objetos A, B, C ∈ C haja uma lei de composição

◦ : HomC (A, B) × HomC (B, C) → HomC (A, C),

(f, g) 7→ g ◦ f.

Se tivermos também que


1. HomC (A, B) = HomC (A0 , B 0 ) ⇔ A = A0 e B = B 0 ;
2. para todos f ∈ HomC (A, B), g ∈ HomC (B, C) e h ∈ HomC (C, D),

h ◦ (g ◦ f ) = (h ◦ g) ◦ f ;

3. para cada A ∈ C existe um morfismo idA ∈ HomC (A, A) tal que para todas
f ∈ HomC (A, B) e g ∈ HomC (C, A),

f ◦ idA = f e idA ◦ g = g,

dizemos que C é uma categoria. I

Alertamos para o fato de que na Definição 2.1.1 abusamos um pouco da linguagem


chamando a classe de objetos C de categoria. Deve estar claro que uma categoria é
formada por três peças: (i) uma classe de objetos, (ii) para cada par de objetos um
conjunto de morfismos e (iii) para cada par de conjuntos de morfismos uma lei de
composição.

7
Observação 2.1.1. A condição 3 da Definição 2.1.1 determina unicamente o morfismo
identidade idA ∈ HomC (A, A) para todo A ∈ C . De fato, se idA , id0A ∈ HomC (A, A)
são morfismos identidade para o objeto A, então, em particular, idA = id0A ◦ idA =
idA ◦ id0A = id0A . J

Observação 2.1.2. A condição 1 da Definição 2.1.1 garante que todo morfismo tem
domı́nio e contradomı́nio bem-definidos. Se tal condição não se verificar, então pode-
mos impô-la por construção. Isto se faz da seguinte maneira: suponha que haja um
conjunto de morfismos HomC (A, B), A, B ∈ C , de modo que não valha (i); defini-
mos Hom0C (A, B) := HomC (A, B) × {A} × {B}. Assim temos que Hom0C (A, B) =
Hom0C (A0 , B 0 ) ⇔ A = A0 e B = B 0 . Considerando a função HomC (A, B) →
Hom0C (A, B), f 7→ (f, A, B), tem-se que há uma correspondência biunı́voca entre
estes dois conjuntos. Portanto podemos trocar HomC (A, B) por Hom0C (A, B) na ca-
tegoria C sem prejuı́zo algum. J

Listamos a seguir uma quantidade razoável de exemplos interessantes. Notamos


que os morfismos dos exemplos abaixo, com exceção do primeiro, preservam estruturas
adicionais.

1. Seja U a Categoria Universal cujos objetos são os conjuntos e cujos morfismos


são as funções.

2. Seja S a categoria dos semigrupos cujos morfismos são os homomorfismos de


semigrupos. Seja também Mo a categoria dos monóides cujos morfismos são os
homomorfismos de monóides. Lembramos que todo homomorfismo de monóides
é um homomorfismo de semigrupos que preserva os elementos identidade. Ou
seja, se M1 , M2 ∈ Mo e eM1 e eM2 são os elementos identidade, respectivamente,
dos monóides M1 e M2 , então f : M1 → M2 é um morfismo em Mo se f é um
homomorfismo de semigrupos e f (eM1 ) = eM2 .

3. Seja G a categoria dos grupos cujos morfismos são os homomorfismos de grupos.


Seja Gab a categoria dos grupos abelianos cujos morfismos são os homomorfismos
de grupos. Seja também Gf a categoria dos grupos finitos cujos morfismos são os
homomorfismos de grupos.

4. Seja R a categoria dos anéis cujos morfismos são os homomorfismos de anéis. Seja
também Ru a categoria dos anéis unitários cujos morfismos são os homomorfismos
de anéis unitários. Lembramos que todo homomorfismo de anéis unitários é um
homomorfismo de anéis que preserva as unidades.

5. Seja MlR a categoria dos R-módulos à esquerda cujos morfismos são homomor-
fismos de R-módulos.

6. Seja V K a categoria dos K-espaços vetorias cujos morfismos são as transformações


lineares. Seja também VfK a categoria dos K-espaços vetorias de dimensão finita
cujos morfismos são as transformações lineares.

7. Seja Top a categoria dos espaços topológicos cujos morfismos são as aplicações
contı́nuas. Seja Top+ a categoria dos espaços topológicos com ponto marcado
(X, x0 ) cujos morfismos f : (X, x0 ) → (Y, y0 ) são aplicações contı́nuas f : X → Y

8
de sorte que f (x0 ) = y0 . Seja também Topn a categoria das n-uplas de espaços
topológicos (X, A1 , · · · , An−1 ) tais que An−1 ⊂ · · · ⊂ A1 ⊂ X cujos morfismos
f : (X, A1 , · · · , An−1 ) → (Y, B1 , · · · , Bn−1 ) são aplicações contı́nuas f : X → Y
de modo que f (Aj ) ⊂ Bj para todo 1 ≤ j ≤ n − 1. Identificamos Top1 com
Top para que a definição de Topn faça sentido para todo n ∈ N∗ . Por fim,
seja Topn+ a categoria das n-uplas de espaços topológicos com ponto marcado
(X, A1 , . . . , An−1 , x0 ) tais que x0 ∈ An−1 ⊂ · · · ⊂ A1 ⊂ X cujos morfismos
f : (X, A1 , · · · , An−1 , x0 ) → (Y, B1 , · · · , Bn−1 , y0 ) são aplicações contı́nuas f :
X → Y de sorte que f (Aj ) ⊂ Bj para todo 1 ≤ j ≤ n − 1 e que f (x0 ) = y0 .
Identificamos Top1+ com Top+ para que a definição de Topn+ faça sentido para
todo n ∈ N∗ . J

Os próximos exemplos tratam sobre construções básicas com categorias quaisquer.


Eles são fundamentais na continuação do texto para o estudo de categorias de espaços
topológicos e para a parte de homologia.

Exemplo 2.1.1 (Categoria oposta). Seja C uma categoria. Consideramos a classe de


objetos C op como sendo a classe C . Além disso, para todos A, B ∈ C op , definimos o
conjunto de morfismos
HomC op (A, B) := HomC (B, A).
Um morfismo f ∈ HomC (A, B), quando pensado como morfismo em HomC op (B, A),
é denotado por nós como f op . Com esta notação, para todos A, B, C ∈ C op , definimos
a lei de composição
◦ : HomC op (A, B) × HomC op (B, C) → HomC op (A, C),
(f op , g op ) 7→ g op ◦ f op := (f ◦ g)op .
Com os objetos, morfismos e leis de composição definidos desta forma, C op é uma
categoria, que doravante chamamos de categoria oposta ou categoria dual a C .
Vale ressaltar que (C op )op = C . J

Exemplo 2.1.2 (Categoria produto). Sejam J um conjunto deQı́ndices e {Cj }j ∈ J


uma famı́lia de categorias. Consideramos a classe de objetos j ∈ J Cj . Para to-
dos (Aj )j ∈ J , (Bj )j ∈ J , (Cj )j ∈ J ∈ j ∈ J Cj , definimos o conjunto de morfismos entre
Q
(Aj )j ∈ J e (Bj )j ∈ J como
Y
HomQj ∈ J Cj ((Aj )j ∈ J , (Bj )j ∈ J ) := HomCj (Aj , Bj )
j ∈J

e definimos a lei de composição


HomQj ∈ J Cj ((Aj )j ∈ J , (Bj )j ∈ J ) × HomQj ∈ J Cj ((Bj )j ∈ J , (Cj )j ∈ J )

→ HomQj ∈ J Cj ((Aj )j ∈ J , (Cj )j ∈ J ),


((fj )j ∈ J , (gj )j ∈ J ) 7→ (gj )j ∈ J ◦ (fj )j ∈ J := (gj ◦ fj )j ∈ J .
Com os objetos, morfismos e leis de composição definidos desta forma, j ∈ J Cj é uma
Q
categoria, que doravante chamamos de categoria produto da famı́lia de categorias
{Cj }j ∈ J . J

9
Exemplo 2.1.3 (Categoria quociente). Seja C uma categoria na qual, para cada
dois objetos A, B ∈ C , está definida uma relação de equivalência ∼ no conjunto
HomC (A, B). Variando o par de objetos obtemos uma famı́lia de relações de equi-
valência em C . Dizemos que esta famı́lia é compatı́vel com a composição se, para
todos A, B, C ∈ C , f1 , f2 : A → B e g1 , g2 : B → C tais que f1 ∼ f2 e g1 ∼ g2 ,
tivermos que g1 ◦ f1 ∼ g2 ◦ f2 .
Se C é uma categoria com relações de equivalência compatı́veis com a composição,
então definimos a classe de objetos C∼ como sendo a classe C . Além disso, para
todos A, B, C ∈ C , definimos o conjunto de morfismos

HomC∼ (A, B) := HomC (A, B)∼

e a lei de composição

◦ : HomC∼ (A, B) × HomC∼ (B, C) → HomC∼ (A, C),

([f ], [g]) 7→ [g] ◦ [f ] := [g ◦ f ].


Com os objetos, morfismos e leis de composição definidos desta forma, C∼ é uma
categoria, que doravante chamamos de categoria quociente. J

Exemplo 2.1.4 (Categoria de morfismos). Seja C uma categoria. Consideramos a


classe de objetos G
Hom(C ) := HomC (A, B).
(A,B) ∈ C ×C

Dizemos que um morfismo entre os objetos f : X → Y e g : Z → W de Hom(C ) é um


par (h, k) : f → g, com h : X → Z e k : Y → W , de sorte que o Diagrama (2.1.1) é
comutativo.
f
X Y
h k (2.1.1)
Z g W
Além disso, definimos a lei de composição

◦ : HomHom(C ) (f1 , f2 ) × HomHom(C ) (f2 , f3 ) → HomHom(C ) (f1 , f3 ),

((h1 , k1 ), (h2 , k2 )) 7→ (h2 , k2 ) ◦ (h1 , k1 ) := (h2 ◦ h1 , k2 ◦ k1 ).


Com os objetos, morfismos e leis de composição definidos desta forma, Hom(C ) é uma
categoria, que doravante chamamos de categoria de morfismos de C . J

2.1.1 Subcategorias

Definição 2.1.2 (Subcategoria). Seja C uma categoria. Dizemos que C 0 ⊂ C é uma


subcategoria de C se

1. para todos A, B ∈ C 0 tivermos HomC 0 (A, B) ⊂ HomC (A, B);

10
2. para todos f ∈ HomC 0 (A, B) e g ∈ HomC 0 (B, C) a composição g ◦ f coincidir
com a composição em C , sendo A, B, C ∈ C 0 .
Se para todos A, B ∈ C 0 valer que HomC 0 (A, B) = HomC (A, B), dizemos que a
subcategoria C 0 é cheia. I

Exemplo 2.1.5 (Subcategorias de espaços topológicos). Consideramos


• a categoria TopHd cujos objetos são os espaços topológicos de Hausdorff e cujos
morfismos são as aplicações contı́nuas;
• a categoria TopLocCpt cujos objetos são os espaços topológicos localmente com-
pactos e cujos morfismos são as aplicações contı́nuas;
• a categoria TopLocCptP cujos objetos são os espaços topológicos localmente com-
pactos e cujos morfismos são as aplicações contı́nuas e próprias.
Em TopHd, TopLocCpt e TopLocCptP a composição de morfismos é a composição
ordinária de funções. Temos que TopHd e TopLocCpt são subcategorias cheias de
Top, ao passo que TopLocCptP é uma subcategoria não-cheia de Top dado que nem
toda aplicação contı́nua entre espaços topológicos é uma aplicação própria. Também,
TopLocCptP é uma subcategoria não-cheia de TopLocCpt. J

Exemplo 2.1.6 (Subcategorias algébricas). A categoria dos monóides Mo é uma sub-


categoria não-cheia da categoria S dos semigrupos. O fato de Mo não ser cheia em
S se deve a nem todo homomorfismo de semigrupos respeitar os elementos identidade.
Analogamente, a categoria dos anéis unitários Ru é uma subcategoria não-cheia da
categoria R dos anéis. Por outro lado, a categoria G dos grupos é cheia na categoria
dos semigrupos S e na categoria dos monóides Mo . Além disso, a categoria dos grupos
finitos Gf é uma subcategoria cheia de G . J

Exemplo 2.1.7 (Categorias C ↓ A e C ↑ A). Sejam C uma categoria e A ∈ C .


Consideramos as classes de objetos
G G
C ↓ A := HomC (X, A) e C ↑ A := HomC (A, X).
X ∈C X ∈C

Dizemos que um morfismo entre os objetos f : X → A e g : Y → A de C ↓ A é um


morfismo h : X → Y de sorte que o Diagrama (2.1.2) seja comutativo.
h
X Y
g (2.1.2)
f

A
Dizemos também que um morfismo entre os objetos f : A → X e g : A → Y de C ↑ A
é um morfismo h : X → Y de sorte que o Diagrama (2.1.3) seja comutativo.
A
g
f (2.1.3)

X h
Y

11
Definimos a lei de composição de morfismos de C ↓ A e de C ↑ A como a restrição
da lei de composição da categoria de morfismos (vide Exemplo 2.1.4). As categorias
C ↓ A e C ↑ A são subcategorias não-cheias de Hom(C ). De fato, as classes C ↓
A e C ↑ A são subclasses de Hom(C ), por definição. Ademais, temos a inclusão
HomC ↓A (f, g) ⊂ HomHom(C ) (f, g), h 7→ (idA , h), pois o Diagrama (2.1.2) é equivalente
ao Diagrama (2.1.4).
f
X A

h idA (2.1.4)

Y g A
Analogamente, temos a inclusão HomC ↑A (f, g) ⊂ HomHom(C ) (f, g), h 7→ (h, idA ).
Estas subcategorias não são cheias pois fica fixado idA como morfismo de A a A. J

2.1.2 Isomorfismos

Definição 2.1.3 (Isomorfismo). Sejam C uma categoria e A, B ∈ C . Um morfismo


f : A → B de C é dito um isomorfismo se existir um morfismo g : B → A na
categoria C , chamado inverso de f , tal que g ◦ f = idA e f ◦ g = idB . Se f é um
isomorfismo, dizemos que A e B são isomorfos e escrevemos A ' B. I

Se f : A → B é um isomorfismo na categoria C , então o inverso g : B → A é único.


Enfaticamente, se g 0 : B → A é outro inverso para o morfismo f na categoria C , então
g 0 = g 0 ◦ idB = g 0 ◦ (f ◦ g) = (g 0 ◦ f ) ◦ g = idA ◦ g = g. Por este motivo denotamos o
inverso g em questão por f −1 .

Proposição 2.1.1. Sejam C uma categoria e A, B ∈ C . Dizemos que A está relaci-


onado com B se, e somente se, A ' B. Esta relação é uma relação de equivalência na
classe C .

Demonstração. É preciso verificar que a relação de isomorfismo seja reflexiva, simétrica


e transitiva para que seja uma relação de equivalência na classe C . Sejam A, B, C ∈
C.
(i) (Reflexividade) Considerando idA : A → A tem-se A ' A.
(ii) (Simetria) Se A ' B, então existe um isomorfismo f : A → B na categoria C .
Assim, f −1 : B → A é um isomorfismo que garante que B ' A.
(iii) (Transitividade) Se A ' B e B ' C, então existem isomorfismos f : A → B e
g : B → C na categoria C . Precisamos definir um isomorfismo h : A → C para
mostrar que A ' C.
f
A B

h (2.1.5)
g

C
Definimos h de modo que o Diagrama (2.1.5) seja comutativo, isto é, de modo
que h = g ◦ f . Veja que h é o isomorfismo cujo inverso é h−1 = f −1 ◦ g −1 . 

12
Proposição 2.1.2. Sejam C uma categoria e A, B, A0 , B 0 ∈ C . Se f : A → B e
g : A0 → B 0 são dois isomorfismos em C , então existe uma bijeção

Φf,g : HomC (A, A0 ) → HomC (B, B 0 )

que faz o Diagrama (2.1.6) comutativo para todo morfismo α ∈ HomC (A, A0 ).
α
A A0
f g (2.1.6)

B Φf,g (α)
B0

Demonstração. Defina Φf,g : HomC (A, A0 ) → HomC (B, B 0 ), α 7→ g ◦ α ◦ f −1 . É


imediato que esta aplicação torna o Diagrama (2.1.6) comutativo para todo morfismo
α ∈ HomC (A, A0 ). Lembramos que uma função k é bijetora se, e somente se, é
invertı́vel. Assim, considere Φ−1 0 0
f,g : HomC (A , B ) → HomC (A, B), β 7→ g
−1
◦ β ◦ f . É
−1 −1
imediato que Φf,g ◦ Φf,g = idHomC (A0 , B 0 ) e que Φf,g ◦ Φf,g = idHomC (A, B) . 

Exemplo 2.1.8. Tomamos C = U , a Categoria Universal, A = A0 = {1, 2} e B =


B 0 = {3, 4}. Um isomorfismo na categoria U é uma função bijetora entre conjuntos.
Existem dois isomorfismos f, g : A → B que são

f : 1 7→ 3, 2 7→ 4;

g : 1 7→ 4, 2 7→ 3.
Verifica-se diretamente que HomU (A, A) = {φi }4i=1 e HomU (B, B) = {ψi }4i=4 em
que

φ1 : 1 7→ 1, 2 7→ 2; ψ1 : 3 7→ 3, 4 7→ 4;
φ2 : 1 7→ 2, 2 7→ 1; ψ2 : 3 7→ 4, 4 7→ 3;
φ3 : 1 7→ 1, 2 7→ 1; ψ3 : 3 7→ 3, 4 7→ 3;
φ4 : 1 7→ 2, 2 7→ 2; ψ4 : 3 7→ 4, 4 7→ 4.
Para cada possibilidade de combinação entre f e g segue abaixo a especificação da
bijeção entre HomC (A, A) e HomC (B, B).

Φf,f : HomC (A, A) → HomC (B, B), Φg,g : HomC (A, A) → HomC (B, B),

φi 7→ ψi , para i = 1, 2, 3, 4; φi 7→ ψi , para i = 1, 2,
φ3 7→ ψ4 e φ4 7→ ψ3 ;
Φf,g : HomC (A, A) → HomC (B, B), Φg,f : HomC (A, A) → HomC (B, B),
φ1 7→ ψ2 , φ2 7→ ψ1 , φ1 7→ ψ2 , φ2 7→ ψ1 e
φ3 7→ ψ4 e φ4 7→ ψ3 ; φi 7→ ψi , para i = 3, 4.
Cada par (f, f ), (f, g), (g, f ) e (g, g) induz uma bijeção distinta das outras, como
demonstrado na Observação 2.1.4 a seguir. J

13
Observação 2.1.3. Com a notação da Proposição 2.1.2, se f = f 0 e g = g 0 , então
claramente Φf,g = Φf 0 ,g0 . A recı́proca desta afirmação não é necessariamente verda-
deira. Isto é, Φf,g = Φf 0 ,g0 não necessariamente implica f = f 0 e g = g 0 . Um exemplo
desta situação ocorre na categoria Gab dos grupos abelianos. Sejam p, q ∈ N∗ números
primos distintos; HomGab (Zp , Zq ) = {0}, em que 0 é o homomorfismo trivial. Desta
forma, quaisquer automorfismos f : Zp → Zp e g : Zq → Zq são tais que Φf,g aplica 0
em 0. J

Observação 2.1.4. Também com a notação da Proposição 2.1.2, se C é a Catego-


ria Universal e A0 possuir pelo menos dois elementos, então Φf,g = Φf 0 ,g0 ⇒ f =
f 0 e g = g 0 . De fato, suponhamos que Φf,g = Φf 0 ,g0 . Isso significa que, para toda
α ∈ HomU (A, A0 ), tem-se g◦α◦f −1 = g 0 ◦α◦(f 0 )−1 . Equivalentemente, se g̃ = (g 0 )−1 ◦g
e f˜ = f −1 ◦ f 0 , temos que

g̃ ◦ α ◦ f˜ = α para toda função α ∈ HomU (A, A0 ). (2.1.7)

Vamos demonstrar que g̃ = idA0 , logo g = g 0 . De fato, fixado a ∈ A0 , seja αa : A → A0


a função constante com imagem a. Aplicando a Equação (2.1.7) a αa , obtemos que
g̃(a) = a. Dado que isso vale para todo a ∈ A0 temos que g̃ = idA0 . Isso implica que a
Equação 2.1.7 se resume a

α ◦ f˜ = α para toda função α ∈ HomU (A, A0 ). (2.1.8)

Suponhamos que f˜ 6= idA . Isto é, suponhamos que exista a ∈ A tal que f˜(a) 6= a. Neste
caso, como A0 contém pelo menos dois elementos distintos, digamos a1 e a2 , existe
α : A → A0 de modo que α(a) = a1 e α(f˜(a1 )) = a2 . Isto contradiz a Equação 2.1.8.
Destarte f˜ = idA e, portanto, f = f 0 . Assim segue a afirmação. J

2.1.3 Categorias concretas

Exemplo 2.1.9 (Categoria cujos morfismos não são funções). Seja G um grupo,
que denotamos multiplicativamente. Dizemos que {G} é uma categoria unitária com
Hom{G} (G, G) = G; ou seja, os morfismos de G a G são os elementos do grupo. A
composição de dois morfismos a, b ∈ G é simplesmente ab ∈ G, a operação binária
do grupo. Desta forma todo morfismo em {G} é um isomorfismo nesta categoria.
Evidentemente, idG = e, em que e é o elemento neutro do grupo G. J

O Exemplo 2.1.9 mostra que não necessariamente os morfismos entre os objetos de


uma categoria são funções entre conjuntos. Este mesmo exemplo, além disso, fornece
uma situação em que todo morfismo de uma categoria é um isomorfismo. A seguir
especificamos uma terminologia, levando em conta o Exemplo 2.1.9, sobre quando uma
categoria C formada por conjuntos é tal que os seus morfismos são funções entre estes
conjuntos e as leis de composição de morfismos respeitam a composição ordinária de
funções.

Definição 2.1.4 (Categoria Concreta). Uma categoria C equipada com uma função σ
que associa a cada A ∈ C um conjunto σ(A) ∈ U , chamado conjunto subjacente
de A, de modo que

14
1. haja uma injeção do conjunto HomC (A, B) no conjunto HomU (σ(A), σ(B)) para
todos A, B ∈ C . Denotamos um morfismo f : A → B de C no conjunto
HomU (σ(A), σ(B)) por σ(f ) : σ(A) → σ(B);

2. σ(idA ) = idσ(A) para todo A ∈ C ;

3. σ(g) ◦ σ(f ) = σ(g ◦ f ) para todos morfismos f e g de C cuja composição g ◦ f


esteja definida,

é dita uma categoria concreta. I

Exemplos de categorias concretas são abundantes: a categoria S dos semigrupos,


a categoria G dos grupos, a categoria Gab dos grupos abelianos, a categoria Top dos
espaços topológicos, a categoria TopHd dos espaços topológicos de Hausdorff, dentre
outras.

Definição 2.1.5 (Objeto livre em um conjunto numa categoria). Sejam (C , σ) uma


categoria concreta, L ∈ C , X um conjunto não-vazio e i : X → σ(L) uma função.
Dizemos que L é livre em X na categoria C se para todo A ∈ C e toda aplicação
f : X → σ(A) existir um único morfismo g : σ(L) → σ(A) de modo que g ◦ i = f . I

Com a mesma notação da Definição 2.1.5, observamos que o que faz um objeto
livre L especial é o fato de que para definir um morfismo com domı́nio L é suficiente
especificar a imagem do subconjunto i(X).

Exemplo 2.1.10. Sejam G um grupo e g ∈ G. A aplicação h : Z → G, n 7→ g n , é


o único homomorfismo de Z em G tal que 1 7→ g. Consequentemente, se X = {1} e
i : X ,→ Z é a aplicação inclusão, então Z é livre em X na categoria G dos grupos.
Para determinar um único homomorfismo de Z a G precisamos somente especificar a
imagem de 1 ∈ Z. Ou seja, a imagem i(X) ⊂ G. J

Proposição 2.1.3. Seja (C , σ) uma categoria concreta. Sejam L, L0 ∈ C tais que L


é livre em um conjunto X na categoria C e L0 é livre em um conjunto X 0 na categoria
C . Se card(X) = card(X 0 ), então L é isomorfo a L0 .
Demonstração. Uma vez que L é livre em X na categoria C e que L0 é livre em X 0 na
categoria C , existem aplicações i : X → σ(L) e j : X 0 → σ(L0 ). Como por hipótese
card(X) = card(X 0 ), existe uma bijeção f : X → X 0 . Sendo L livre e considerando a
aplicação j ◦ f : X → σ(L0 ), temos que existe um morfismo ϕ : σ(L) → σ(L0 ) de modo
que o Diagrama (2.1.9) seja comutativo.
ϕ
σ(L) σ(L0 )

i j (2.1.9)

X f
X0

15
Da mesma maneira, como f é um bijeção existe sua inversa f −1 : X 0 → X e pelo
fato de L0 ser livre existe um morfismo ψ : σ(L0 ) → σ(L) tal que o Diagrama (2.1.10)
seja comutativo.
ψ
σ(L0 ) σ(L)

j i
(2.1.10)

X0 X
f −1

Combinando os Diagramas (2.1.9) e (2.1.10) obtemos os Diagramas (2.1.11).


ψ◦ϕ ϕ◦ψ
σ(L) σ(L) σ(L0 ) σ(L0 )

i i j j (2.1.11)

X X X0 X0
f −1 ◦f =idX f ◦f −1 =idX 0

Assim, (ψ ◦ ϕ) ◦ i = i ◦ idX = i e (ϕ ◦ ψ) ◦ j = j ◦ idX 0 = j. Mas também


idL ◦ i = i e idL0 ◦ j = j. Da propriedade de unicidade que gozam objetos livres temos
que ψ ◦ϕ = idL e ϕ◦ψ = idL0 . Desta forma L é isomorfo a L0 e terminamos a prova. 

2.1.4 Objetos universais e couniversais

Definição 2.1.6 (Objetos universais e couniversais). Seja C uma categoria. Um objeto


I ∈ C é dito universal (ou inicial) se para cada A ∈ C existe um único morfismo
f : I → A. Um objeto F ∈ C é dito couniversal (ou final) se para cada A ∈ C
existe um único morfismo f : A → F . I

Um exemplo bastante simples é o grupo trivial {e} que tanto é um objeto univer-
sal quanto um objeto couniversal na categoria G dos grupos. Além do grupo trivial
podemos considerar o Exemplo 2.1.11 que parte de uma categoria concreta arbitrária
e que relaciona objetos livres com objetos universais.

Exemplo 2.1.11. Seja (C , σ) uma categoria concreta. Seja L ∈ C um objeto livre em


um conjunto X não-vazio na categoria C . Definimos uma nova categoria D da seguinte
maneira: a classe D de objetos é formada pelas funções entre conjuntos f : X → σ(A),
em que A ∈ C . Um morfismo em D entre dois objetos f : X → σ(A) e g : X → σ(B)
é um morfismo σ(h) : σ(A) → σ(B) que faz o Diagrama (2.1.12) comutativo.
σ(h)
σ(A) σ(B)
f (2.1.12)
g

É imediato que σ(idA ) : σ(A) → σ(A) é o morfismo identidade para f : X → σ(A)


e que σ(h) : σ(A) → σ(B) é um isomorfismo em D se, e somente se, h o é em C .
Dado que L é livre em X, para cada aplicação f : X → σ(A) existe um único morfismo
σ(g) : σ(L) → σ(A) de modo que g ◦ i = f . Esta é precisamente a afirmação que
garante que i : X → σ(L) é um objeto universal na categoria D. J

16
Os objetos universais e couniversais de uma categoria C são totalmente caracteriza-
dos: quaisquer dois elementos universais (respectivamente, couniversais) são isomorfos.
Fazemos a prova desta afirmação somente para objetos universais, dado que a demons-
tração deste fato para objetos couniversais é análoga.
Demonstração. Sejam I, I 0 ∈ C objetos universais. Como I é um objeto universal,
existe um único morfismo f : I → I 0 . Da mesma forma, como I 0 é um objeto universal,
existe um único morfismo g : I 0 → I. Portanto, as composições g ◦ f : I → I e
f ◦ g : I 0 → I 0 são morfismo de C . Entretanto, idI : I → I e idI 0 : I 0 → I 0 também são
morfismos de C . Destarte, g ◦ f = idI e f ◦ g = idI 0 . Assim temos que I é isomorfo a
I 0 e terminamos a prova. 

2.1.5 Morfismos

Uma parte significante da teoria básica de categorias consiste em generalizar vários


conceitos presentes nas categorias usuais (U , G , MlR , et reliqua) para categorias
genéricas.
Lembramos que um morfismo f : A → B de uma categoria C é dito um isomorfismo
se existir um morfismo g : B → A em C de modo que g ◦ f = idA e que f ◦ g = idB
(vide Definição 2.1.3). Esta definição de isomorfismo é uma simples reflexão de que
um morfismo nas categorias acima citadas é um isomorfismo se, e somente se, possuir
um inverso tanto à esquerda quanto à direita. Inicialmente estendemos os conceitos de
monomorfismos e epimorfismos para categorias arbitrárias.

Definição 2.1.7 (Morfismos mônicos e épicos). Sejam C uma categoria e f : B → C


um morfismo de C . Dizemos que f é um morfismo mônico ou um monomorfismo
se, para todo A ∈ C e para todos g1 , g2 ∈ HomC (A, B), tivermos que

f ◦ g1 = f ◦ g2 ⇒ g1 = g2 .

Dizemos também que f é um morfismo épico ou um epimorfismo se tivermos que

h1 ◦ f = h2 ◦ f ⇒ h1 = h2

para todo D ∈ C e para todos h1 , h2 ∈ HomC (C, D). I

Sejam C uma categoria e f1 : B → C e f2 : C → D morfismos de C . A partir


da Definição 2.1.7 tem-se que (i) se f1 e f2 são morfismos mônicos, então f2 ◦ f1 é um
morfismo mônico; (ii) se f2 ◦f1 é um morfismo mônico, então f1 é um morfismo mônico;
(iii) se f1 e f2 são morfismos épicos, então f2 ◦ f1 é um morfismo épico; (iv) se f2 ◦ f1 é
um morfismo épico, então f2 é um morfismo épico, e (v) se f1 é um isomorfismo, então
é também um morfismo mônico e épico.

Proposição 2.1.4. Sejam MlR a categoria dos R-módulos à esquerda e f : B → C


um morfismo de MlR . Então f é mônico se, e somente se, é injetor.

17
Demonstração. (⇐) Sejam A ∈ MlR e g1 , g2 ∈ HomMlR (A, B). Se f é um morfismo
injetor e (f ◦ g1 )(a) = (f ◦ g2 )(a) para todo a ∈ A, então necessariamente g1 (a) = g2 (a)
para todo a ∈ A. Portanto g1 = g2 e, assim, f é um monomorfismo.
(⇒) Se f é um monomorfismo e b1 , b2 ∈ B são tais que f (b1 ) = f (b2 ), então
tomamos A = R e definimos g1 , g2 : A → B de modo que g1 (1R ) = b1 e que g2 (1R ) = b2 .
Então f ◦ g1 = f ◦ g2 e, portanto, g1 = g2 ⇒ g1 (1R ) = g2 (1R ) ⇒ b1 = b2 . 

Proposição 2.1.5. Sejam MlR a categoria dos R-módulos à esquerda e f : B → C


um morfismo de MlR . Então f é épico se, e somente se, é sobrejetor.
Demonstração. (⇐) Sejam D ∈ MlR e h1 , h2 ∈ HomMlR (C, D). Se f é um morfismo
sobrejetor e (h1 ◦ f )(b) = (h2 ◦ f )(b) para todo b ∈ B, então h1 (c) = h2 (c) para todo
c ∈ C. Portanto h1 = h2 e, assim, f é um epimorfismo.
(⇒) Consideramos as aplicações π : C → Cf (B) a projeção e 0 : C → Cf (B) a
aplicação nula. Se f é um epimorfismo, então 0 ◦ f = 0 = π ◦ f ⇒ 0 = π. Destarte
C
f (B) = 0 e, pois, C = f (B). 

Bem como nas Proposições 2.1.4 e 2.1.5 um morfismo na Categoria Universal é


mônico (respectivamente, épico) se, e somente se, é injetor (respectivamente, sobreje-
tor). Também, na categoria G dos grupos, um morfismo é mônico (respectivamente,
épico) se, e somente se, é injetor (respectivamente, sobrejetor). Em geral não vale a
equivalência entre morfismos mônicos (respectivamente, épicos) e morfismos injetores
(respectivamente, sobrejetores). Os Exemplos 2.1.12 e 2.1.13 garantem a veracidade
do conteúdo desta afirmação.

Exemplo 2.1.12 (Monomorfismo não-injetor). Dizemos que um grupo G é divisı́vel


se, para todo y ∈ G e para todo n ∈ Z∗ , existir x ∈ G de sorte que nx = y. Seja GD
a categoria dos grupos abelianos divisı́veis e dos homomorfismos de grupos. Afirmamos
que a projeção π : Q → QZ, que não é injetora, é um monomorfismo na categoria
GD . Sejam f, g : A → Q morfismos de grupos abelianos, sendo A ∈ GD e sendo
π ◦ f = π ◦ g. Para todo a ∈ A, temos que f (a) − g(a) = n ∈ N. Seja b ∈ A tal que
(n + 1)b = a e seja f (b) − g(b) = m ∈ Z. Temos que (n + 1)f (b) − (n + 1)g(b) = n, ou
seja, (n + 1)m = n. Se n 6= 0, então n + 1 divide n, absurdo, logo f (a) = g(a). Uma
vez que a ∈ A é genérico, f = g. J

Exemplo 2.1.13 (Epimorfismo não-sobrejetor). Na categoria R dos anéis tem-se que


todo morfismo sobrejetor é um epimorfismo. Afirmamos que a aplicação inclusão Z ,→
Q, que não é sobrejetora, é um epimorfismo na categoria R. Seja R ∈ R. Se f, g :
Q → R são homomorfismos de anéis tais que f |Z = g |Z , então, para todo m ∈ Z e
para todo n ∈ Z∗ , temos que f ( m n
) = f (m) · f ( n1 ) = g(m) · f ( n1 ) = g(n · mn
) · f ( n1 ) =
m 1 m 1 n n n
g(n) · g( n ) · f ( n ) = f (n) · g( n ) · f ( n ) = g( m ) · f (1) = g( m ) · g(1) = g( m ). Donde segue
a afirmação. J

Definição 2.1.8 (Objeto zero). Seja C uma categoria. Um objeto 0 ∈ C é dito objeto
zero caso ele seja, concomitantemente, um objeto universal e um objeto couniversal
(vide Definição 2.1.6). I

18
A Categoria Universal U não possui objetos zero. Já a categoria MlR dos R-
módulos à esquerda possui o R-módulo trivial como objeto zero. Também a categoria
G dos grupos e a categoria R dos anéis têm como objetos zero o grupo trivial e o anel
trivial, respectivamente.
Sejam C uma categoria e B ∈ C . Como demonstrado na Sub-subseção 2.1.4,
quaisquer dois objetos universais (respectivamente, couniversais) de C são isomorfos.
Portanto, em particular, quaisquer dois objetos zero são isomorfos. Assim, se 0 ∈ C é
um objeto zero, então o único morfismo 0 → B é um monomorfismo e o único morfismo
B → 0 é um epimorfismo.

Proposição 2.1.6. Seja C uma categoria. Se 0 ∈ C é um objeto zero, então existe,


para cada par de objetos C, D ∈ C , um único morfismo 0C,D : C → D, chamado de
morfismo zero, tal que

f ◦ 0C,D = 0C,E e que 0C,D ◦ g = 0B,D

para todo f ∈ HomC (D, E) e para todo g ∈ HomC (B, C).


Demonstração. (Unicidade) Se {00C,D } e {0C,D } são duas famı́lias de morfismos com as
propriedades estabelecidas, então, para cada par (C, D), temos que

0C,D = 00D,D ◦ 0C,D = 00C,D .

(Existência) Para cada objeto A ∈ C , tomamos ιA : 0 → A e πA : A → 0 os


únicos morfismos entre os objetos 0 e A. Para todo f ∈ HomC (D, E), segue que
f ◦ ιD : 0 → E coindice com ιE : 0 → E. Também, para todo g ∈ HomC (B, C),
segue que πC ◦ g : B → 0 coincide com πB : B → 0. Definimos 0C,D como sendo
a composição ιD ◦ πC : C → D. Então, para todo f ∈ HomC (D, E), temos que
f ◦ 0C,D = f ◦ ιD ◦ πC = ιE ◦ πC = 0C,E . Similarmente, para todo g ∈ HomC (B, C),
temos que 0C,D ◦ g = 0B,D . 

O último passo na extensão das propriedades de morfismos de categorias usuais para


morfismos de categorias arbitrárias consiste em desenvolver definições apropriadas de
núcleo e conúcleo.

Definição 2.1.9 (Equalizador e Coequalizador). Sejam C uma categoria e f, g : C →


D morfismos de C . Dizemos que um morfismo i : B → C de C é o equalizador do
par (f, g) se f ◦ i = g ◦ i e se, para todo morfismo h : A → C de C tal que f ◦ h = g ◦ h,
existir um único morfismo h̄ : A → B de modo que i ◦ h̄ = h. Dizemos também que
um morfismo j : D → E de C é o coequalizador do par (f, g) se j ◦ f = j ◦ g e se,
para todo morfismo k : D → F de C tal que k ◦ f = k ◦ g, existir um único morfismo
k̄ : E → F tal que k̄ ◦ j = k. I

Na Categoria Universal o equalizador das aplicações f, g : C → D é a inclusão


ι : B → C onde B = {c ∈ C : f (c) = g(c)}. A mesma construção mostra que todo par
de morfismos na categoria dos grupos, dos anéis e dos R-módulos à esquerda admite
equalizador. Sejam agora ϕ1 , ϕ2 ∈ HomG (G1 , G2 ) onde G é a categoria dos grupos.
Seja N o menor subgrupo normal de G2 que contém {ϕ1 (g)ϕ2 (g)−1 : g ∈ G1 }. O
epimorfismo π : G2 → G2N é o coequalizador do par (ϕ1 , ϕ2 ).

19
Proposição 2.1.7. Sejam C uma categoria e f, g : C → D morfismos de C . Se
i : B → C é um equalizador do par (f, g), então i é um morfismo mônico. Também,
se i : B → C e j : A → C são equalizadores do par (f, g), então existe um único
isomorfismo h : A → B de sorte que i ◦ h = j.
Demonstração. Sejam h, k : F → B morfismos de C tais que i ◦ h = i ◦ k. Então
f ◦ (i ◦ h) = (f ◦ i) ◦ h = (g ◦ i) ◦ h = g ◦ (i ◦ h). Como, por hipótese, i é um equalizador
do par (f, g), temos que existe um único morfismo t : F → B de modo que i ◦ t = i ◦ h.
Entretanto t = h e t = k satisfazem esta condição e, portanto, h = k. Destarte i é um
morfismo mônico.
Agora, por hipótese, existem únicos morfismos h : A → B e k : B → A tais que
i ◦ h = j e j ◦ k = i, respectivamente. Consequentemente i ◦ h ◦ k = j ◦ k = i = i ◦ idB
e j ◦ k ◦ h = i ◦ h = j = j ◦ idA . Como visto, i e j são monomorfismos e, portanto,
h ◦ k = idB e k ◦ h = idA . Logo h é um isomorfismo. 

Proposição 2.1.8. Sejam C uma categoria e f, g : C → D morfismos de C . Se


j : D → E é um equalizador do par (f, g), então j é um morfismo épico. Também,
se j : D → E e k : D → F são equalizadores do par (f, g), então existe um único
isomorfismo h : E → F de sorte que h ◦ j = k. 

Seja C uma categoria em que 0 é um seu objeto zero. Devido à Proposição 2.1.6,
C possui morfismos zero. Definimos o núcleo do morfismo f : C → D de C como
sendo o equalizador do par (f, 0C,D ). Usualmente denotamos o núcleo do morfismo f
por Ker(f ). A Definição 2.1.9 e as Proposições 2.1.6 e 2.1.7 mostram que k : K → C é
o núcleo de f : C → D se, e somente se, k for um monomorfismo tal que f ◦ k = 0C,D e,
para todo h : B → C de sorte que f ◦ h = oB,D , existir um único morfismo h̄ : B → K
de C de modo que k ◦ h̄ = h.
O conúcleo t : D → E de um morfismo f : C → D de C é o coequalizador do
par (f, 0C,D ). Usualmente denotamos o conúcleo do morfismo f por Coker(f ). Como
no parágrafo anterior, o conúcleo t é caracterizado por ser um epimorfismo tal que
t ◦ f = 0C,E e por, para todo g : D → F de sorte que g ◦ f = 0C,F , existir um único
morfismo ḡ : E → F de modo que ḡ ◦ t = g.
Nas categorias dos grupos, dos anéis e dos R-módulos à esquerda temos que o
núcleo de um morfismo f : C → D é a aplicação inclusão ι : Ker(f ) → C onde
Ker(f ) = {c ∈ C : f (c) = 0}. Na categoria dos R-módulos à esquerda o epimorfismo
π :→ D → DIm(f ) é o conúcleo de f .

2.2 Produto e coproduto

Geralmente consideramos o produto cartesiano de dois ou mais objetos como, por


exemplo, de conjuntos, de espaços topológicos, de grupos, dentre outros. Também con-
sideramos as noções de soma direita de grupos, uniões disjuntas de conjuntos, dentre
outras. As noções categoriais de produto e de coproduto tentam captar a essência de
todos esses casos.

20
Definição 2.2.1 (Produto de dois objetos). Sejam C uma categoria e A, B ∈ C . Se
existir um objeto A × B ∈ C e morfismos πA : A × B → A e πB : A × B → B de
modo que, para todo C ∈ C e para todos f : C → A e g : C → B, existe um único
morfismo hf, gi : C → A × B de forma que o Diagrama (2.2.1) é comutativo, dizemos
que (A × B, πA , πB ) é um produto para A e B em C .

C
f g

A hf, gi B (2.2.1)

πA πB

A×B

Exemplo 2.2.1 (Produto na categoria G ). Sejam G a categoria dos grupos e G1 , G2 ∈


G . Consideramos o grupo produto G1 × G2 com a operação binária clássica. Isto é,
para todos (g1 , g2 ), (g3 , g4 ) ∈ G1 × G2 , definimos

(g1 , g2 )(g3 , g4 ) := (g1 g3 , g2 g4 ).

Sejam π1 : G1 × G2 → G1 , (g1 , g2 ) 7→ g1 , e π2 : G1 × G2 → G2 , (g1 , g2 ) 7→ g2 . Afirma-


mos que a tripla (G1 × G2 , π1 , π2 ) é um produto na categoria G . Vejamos inicialmente
que π1 e π2 são morfismos na categoria G ; faremos a verificação disso somente para
uma delas, pois para a outra a prova é análoga. Se (g1 , g2 ), (g3 , g4 ) ∈ G1 × G2 , então
π1 ((g1 , g2 )(g3 , g4 )) = π1 ((g1 g3 , g2 g4 )) = g1 g3 = π1 ((g1 , g2 ))π1 ((g3 , g4 )).
(Existência) Dados G ∈ G e morfismos f : G → G1 e h : G → G2 , definimos
hf, hi : G → G1 × G2 , g 7→ (f (g), h(g)). Devemos mostrar que hf, hi é um morfismo
em G . De fato, se g1 , g2 ∈ G, temos

hf, hi(g1 g2 ) = (f (g1 g2 ), h(g1 g2 )) = (f (g1 )f (g2 ), h(g1 )h(g2 ))


= (f (g1 ), h(g1 ))(f (g2 ), h(g2 ))
= hf, hi(g1 ) hf, hi(g2 ).

É verdade que π1 ◦ ϕ : G → G1 é igual a f pois para todo g ∈ G temos que π1 ◦


hf, hi(g) = π1 (f (g), h(g)) = f (g); também π2 ◦ hf, hi : G → G2 é igual a h pois para
todo g ∈ G temos que π2 ◦ hf, hi(g) = π2 (f (g), h(g)) = h(g).
(Unicidade) A forma de hf, hi fica completamente estabelecida pela necessidade
de o Diagrama (2.2.1) ser comutativo. De fato, se existir hf, hi0 : G → G1 × G2 e
g ∈ G tais que hf, hi0 (g) 6= hf, hi(g) = (f (g), h(g)), então π1 ◦ hf, hi0 (g) 6= f (g) ou
π2 ◦ hf, hi0 (g) 6= h(g). Ou seja, hf, hi0 não pode fazer o Diagrama (2.2.1) comutativo.
Sendo assim, a aplicação hf, hi definida acima é única. J

Definição 2.2.2 (Coproduto de dois objetos). Sejam C uma


` categoria e A, B`∈ C .
Se existir um objeto A B ∈ C e morfismos iA : A → A B e iB : B → A B de
`
modo que, para todo C ∈ C e para todos f : A → C e g : B → C, existe um único

21
`
morfismo if, gh : A B → C de forma que o Diagrama (2.2.2) é comutativo, dizemos
que (A B, iA , iB ) é um coproduto para A e B em C .
`

C
f g

A ϕ B (2.2.2)

iA iB
`
A B

Exemplo 2.2.2 (Coproduto na categoria Gab ). Sejam Gab a categoria dos grupos abe-
lianos e G1 , G2 ∈ Gab . Consideramos o grupo abeliano soma direta G1 ⊕ G2 com a
operação binária clássica. Isto é, para todos (a1 , b1 ), (a2 , b2 ) ∈ G1 ⊕ G2 , definimos

(a1 , b1 ) ⊕ (a2 , b2 ) := (a1 + a2 , b1 + b2 ).

Sejam i1 : G1 → G1 ⊕ G2 , a 7→ (a, 0), e i2 : G2 → G1 ⊕ G2 , b 7→ (0, b). Afirmamos que


a tripla (G1 ⊕ G2 , i1 , i2 ) é um coproduto na categoria Gab . Vejamos inicialmente que
i1 e i2 são morfismos na categoria Gab ; faremos a verificação disso somente para uma
delas, pois para a outra a prova é análoga. Se a, b ∈ G1 , então i1 (a + b) = (a + b, 0) =
(a, 0) ⊕ (b, 0) = i1 (a) ⊕ i1 (b).
(Existência) Dados G ∈ Gab e morfismos f : G1 → G e g : G2 → G, definimos
if, gh : G1 ⊕G2 → G, (a, b) 7→ f (a)+g(b). Devemos mostrar que if, gh é um morfismo
em Gab . De fato, se (a1 , b1 ), (a2 , b2 ) ∈ G1 ⊕ G2 temos

if, gh ((a1 , b1 ) ⊕ (a2 , b2 )) = if, gh (a1 + a2 , b1 + b2 ) = f (a1 + a2 ) + g(b1 + b2 )


= (f (a1 ) + f (a2 )) + (g(b1 ) + g(b2 ))
= (f (a1 ) + g(b1 )) + (f (a2 ) + g(b2 ))
= if, gh (a1 , b1 )+if, gh (a2 , b2 ).

Lembramos aqui que, sendo f e g morfismos em Gab , tem-se f (0) = g(0) = 0. Logo
if, gh ◦ i1 : G1 → G é idêntico a f pois, para todo a ∈ G1 , temos que if, gh ◦ i1 (a) =
if, gh (a, 0) = f (a) + g(0) = f (a). Analogamente if, gh ◦ i2 : G2 → G é igual a g pois,
para todo b ∈ G2 , temos que if, gh ◦ i2 (b) = ϕ(0, b) = f (0) + g(b) = g(b).
(Unicidade) A exigência
 de que o Diagrama (2.2.2) seja comutativo faz if, gh ◦ i1 =
f, if, gh ◦ i2 = g ⇒ ∀a ∈ G1 , ∀b ∈ G2 , if, gh (a, 0) = f (a) e if, gh (0, b) =
g(b) . Sendo assim, a forma de if, gh fica completamente determinada pelo Dia-
grama (2.2.2) pois devemos ter if, gh (a, b) =if, gh (a, 0)+if, gh (0, b) = f (a) + g(b).
Logo, a aplicação if, gh definida acima é única. J

Observamos que a soma direta G1 ⊕ G2 do Exemplo 2.2.2 é um caso particular do


grupo produto G1 × G2 do Exemplo 2.2.1. Basta observar a prova de que G1 ⊕ G2 é
um coproduto na categoria Gab dos grupos abelianos para ver que, em geral, não é um
coproduto na categoria G dos grupos. Entretanto, G1 × G2 é tanto um produto na
categoria G quanto na categoria Gab .

22
Seja C uma categoria. Dados dois morfismos f : C → A e g : D → B de C , se
existirem os produtos (C × D, πC , πD ) e (A × B, πA , πB ), fica definido o único morfismo
f × g : C × D → A × B que verifica πA ◦ (f × g) = f ◦ πC e πB ◦ (f × g) = g ◦ πD .
De fato, basta aplicar a Definição 2.2.1 tomando os morfismos f ◦ πC : C × D → A e
g ◦ πD : C × D → B. Vide Diagrama (2.2.3).
πC πD
C C×D D

f f ×g g (2.2.3)

A πA A×B πB B
` `
Analogamente, se existirem
` `os coprodutos
` (C D, iC ,` iD ) e (A B, iA , iB ) fica
` definido
o único morfismo f g : C D → A B tal que (f g) ◦ iC = iA ◦ f e (f g) ◦ i` D =
iB ◦g. De fato, basta
` aplicar a Definição 2.2.2 tomando os morfismos iA ◦f : C → A B
e iB ◦ g : D → A B. Vide Diagrama (2.2.4).

iC ` iD
C C D D

f f
`
g g (2.2.4)
`
A iA
A B iB
B

Nem sempre existem o produto ou o coproduto entre dois objetos de uma catego-
ria C , mas se existirem são únicos a menos de um único isomorfismo. Fazemos esta
demonstração somente para o caso do produto, dado que a prova para o coproduto é
análoga. Mais formalmente, sejam A, B ∈ C e (A × B, πA , πB ) e (A ×0 B, πA0 , πB0 )
dois produtos para estes objetos em C . Os morfismos πA ×0 πB : A × B → A ×0 B e
πA0 × πB0 : A ×0 B → A × B são os únicos isomorfismos, inversos entre si, que comutam
com as projeções.

Demonstração. Conforme a notação da Definição 2.2.1 consideramos o objeto C = A×0


B e os morfismos f = πA0 e g = πB0 . Existe um único morfismo πA0 ×πB0 : A×0 B → A×B
tal que πA ◦ (πA0 × πB0 ) = πA0 e πB ◦ (πA0 × πB0 ) = πB0 (vide Diagrama (2.2.5)). Da mesma
forma, trocando o papel dos produtos, existe um único morfismo πA ×0 πB : A × B →
A ×0 B tal que πA0 ◦ (πA ×0 πB ) = πA e πB0 ◦ (πA ×0 πB ) = πB (vide Diagrama (2.2.6)).

A ×0 B
0
πA 0
πB

A 0 ×π 0
πA B B (2.2.5)

πA πB

A×B

23
A×B
πA πB

A πA ×0 πB B (2.2.6)

0
πA 0
πB
A ×0 B
Assim fica definido o morfismo (πA ×0 πB ) ◦ (πA0 × πB0 ) : A ×0 B → A ×0 B de modo
que πA0 ◦ (πA ×0 πB ) ◦ (πA0 × πB0 ) = πA ◦ (πA0 × πB0 ) = πA0 e πB0 ◦ (πA ×0 πB ) ◦ (πA0 × πB0 ) =
πB ◦ (πA0 × πB0 ) = πB0 (vide Diagrama (2.2.7)). Analogamente fica definida a composição
(πA0 × πB0 ) ◦ (πA ×0 πB ) : A × B → A × B de modo que πA ◦ (πA0 × πB0 ) ◦ (πA ×0 πB ) = πA
e πB ◦ (πA0 × πB0 ) ◦ (πA ×0 πB ) = πB (vide Diagrama (2.2.8)).

A ×0 B
0
πA 0
πB
0 ×π 0
πA B

πA πB (2.2.7)
A A×B B

0 πA ×0 πB 0
πA πB

A ×0 B

A×B
πA πB
πA ×0 πB

0
πA 0
πB
A A ×0 B B (2.2.8)

0 ×π 0
πA
πA B πB

A×B
Novamente usando a notação da Definição 2.2.1, consideramos C = A × B e os
morfismos f = πA e g = πB . Como mostrado anteriormente, o morfismo πA × πB :
A×B → A×B que torna o Diagrama (2.2.9) comutativo é único e, portanto, πA ×πB =
(πA0 × πB0 ) ◦ (πA ×0 πB ). Substituindo πA × πB por idA×B temos que o Diagrama (2.2.9)
continua sendo comutativo. Logo, (πA0 × πB0 ) ◦ (πA ×0 πB ) = idA×B .

A×B
πA πB

A πA ×πB B (2.2.9)

πA πB

A×B

Analogamente mostra-se que πA0 ×0 πB0 = (πA ×0 πB ) ◦ (πA0 × πB0 ) = idA×0 B . Desta
forma a afirmação está demonstrada. 

24
As noções de produto e coproduto em uma categoria C podem ser estendidas para
uma famı́lia qualquer de objetos como na Definição 2.2.3 e na Definição 2.2.4. Continua
valendo para famı́lias arbitrárias de objetos da categoria C que nem sempre existem
o produto ou o coproduto, mas que se existirem são únicos a menos de um único iso-
morfismo. A prova para este fato é análoga à prova dada acima para o produto de dois
objetos.

Definição 2.2.3 (Produto de uma famı́lia genérica). Sejam C uma categoria, J um


Q C . Um produto em C para a famı́lia {Aj }j ∈ J é
conjunto de ı́ndices e {Aj }j ∈ J ⊂
um objeto de C , denotado por j ∈ J Aj , junto com uma famı́lia de morfismos πj :
j ∈ J Aj → Aj tais que, para todo B ∈ C
Q
Q e para toda famı́lia de morfismos fj : B →
Aj , existe um único morfismo f : B → j ∈ J Aj de modo que πj ◦ f = fj para todo
j ∈ J. I

Exemplo 2.2.3 (Produto na Categoria Universal). Seja U a Categoria Universal, J


um conjunto de ı́ndices eQ{Aj }j ∈ J ⊂ U . Definimos o produto cartesiano da famı́lia
{A
S j }j ∈ J , denotado por j ∈ J Aj , como sendo o conjunto de todas as funções (a) : I →
j ∈ J Aj tal que (a)(j) ∈ Aj para todo j ∈ J. Um produto para a famı́lia {Aj }j ∈ J
na categoria U é j ∈ J Aj equipado com a famı́lia de morfismos πj : j ∈ J Aj → Aj ,
Q Q
(a) 7→ (a)(j). J

Definição 2.2.4 (Coproduto de uma famı́lia genérica). Sejam C uma categoria, J um


conjunto de ı́ndices e {Aj }j ∈ J`⊂ C . Um coproduto em C para a famı́lia {Aj }j ∈ J é
` objeto de C , denotado por j ∈ J Aj , junto com uma famı́lia de morfismos ij : Aj →
um
j ∈ J Aj tais que, para todo B ` ∈ C e para toda famı́lia de morfismos fj : Aj → B,
existe um único morfismo f : j ∈ J Aj → B de modo que f ◦ ij = fj para todo
j ∈ J. I

Exemplo 2.2.4 (Coproduto na Categoria Universal). Sejam U a Categoria Universal,


J um conjunto de ı́ndices e {Aj }j ∈ J ⊂ U . Afirmamos que o conjunto
G [
Aj := {(a, j) ∈ ( Aj ) × J : a ∈ Aj },
j ∈J j ∈J
F
junto com a famı́lia de morfismos ij : Aj → j ∈ J AjF , a 7→ (a, j), é um coproduto
para a famı́lia {Aj }j ∈ J na categoria U . O conjunto j ∈ J Aj é chamado de união
disjunta dos conjuntos Aj .
Seja B ∈ U e {fj : Aj → B}j ∈ J uma famı́lia deFmorfismos em U . Defina
F
f : j ∈ J Aj → B, (a, j) 7→ fj (a). Uma vez que (a, j) ∈ j ∈ J Aj implica que a ∈ Aj
temos que f está bem-definida e, portanto, que é um morfismo em U . É imediato que
para todo j ∈ J temos f ◦ ij = fj , pois para todo a ∈ Aj tem-se f ◦ ij (a) = f (a, j) =
fj (a). Com o mesmo argumento que usamos no Exemplo 2.2.1 garantimos que f é
única, pois está completamente determinada pelas equações f ◦ ij = fj , j ∈ J. J

Seja C uma categoria na qual quaisquer dois objetos admitam um produto. Dados
A, B, C ∈ C sabemos que os produtos A × B e (A × B) × C existem e que lhes estão

25
associadas as projeções πA : A×B → A , πB : A×B → B, πA×B : (A×B)×C → A×B
e πC : (A × B) × C → C. Afirmamos que A × B × C equipado com as projeções
πA ◦ πA×B : A × B × C → A, πB ◦ πA×B : A × B × C → B e πC : A × B × C → C é
um produto para A, B e C na categoria C .
Demonstração. Dados morfismos f1 : D → A, f2 : D → B e f3 : D → C definimos
unicamente hf1 , f2 i : D → A × B de modo que πA ◦ hf1 , f2 i = f1 e πB ◦ hf1 , f2 i = f2 .
Isto é sempre possı́vel graças à propriedade do produto A × B representada no lado
esquerdo do Diagrama (2.2.10).

A D
f1 πA hf1 , f2 i f3

D hf1 , f2 i A×B hhf1 , f2 i, f3 i C (2.2.10)

πB πA×B πC
f2
B (A × B) × C

Daı́ definimos hhf1 , f2 i, f3 i : D → (A × B) × C de sorte que πA×B ◦ hhf1 , f2 i, f3 i =


hf1 , f2 i e que πC ◦ hhf1 , f2 i, f3 i = f3 , usando a propriedade do produto (A × B) × C.
Temos então que πA ◦πA×B ◦hhf1 , f2 i, f3 i = πA ◦hf1 , f2 i = f1 , πB ◦πA×B ◦hhf1 , f2 i, f3 i =
πB ◦ hf1 , f2 i = f2 e que πC ◦ hhf1 , f2 i, f3 i = f3 .
Precisamos somente verificar a unicidade de hhf1 , f2 i, f3 i para terminar a demons-
tração. Suponhamos que exista hhf1 , f2 i, f3 i0 : D → A × B × C de forma que
πA ◦ πA×B ◦ hhf1 , f2 i, f3 i = πA ◦ πA×B ◦ hhf1 , f2 i, f3 i0 , πB ◦ πA×B ◦ hhf1 , f2 i, f3 i =
πB ◦ πA×B ◦ hhf1 , f2 i, f3 i0 e que πC ◦ hhf1 , f2 i, f3 i = πC ◦ hhf1 , f2 i, f3 i0 . As duas pri-
meiras equações garantem que os Diagramas (2.2.11) são comutativos e, portanto,
graças à propriedade de unicidade relativa ao produto A × B temos que πA×B ◦
hhf1 , f2 i, f3 i = hf1 , f2 i = πA×B ◦ hhf1 , f2 i, f3 i0 . Mas também vale πC ◦ hhf1 , f2 i, f3 i =
πC ◦ hhf1 , f2 i, f3 i0 e, pela propriedade de unicidade relativa ao produto (A × B) × C,
segue que hhf1 , f2 i, f3 i = hhf1 , f2 i, f3 i0 .

D D
f1 f2 f1 f2

A πA×B ◦hhf1 , f2 i, f3 i B A πA×B ◦hhf1 , f2 i, f3 i0 B (2.2.11)

πA πB πA πB

A×B A×B

Pelo fato de que (A × B) × C e A × (B × C) são produtos para A, B e C na


categoria C , existem únicos isomorfismos (A × B) × C ∼= A×B×C ∼ = A × (B × C).
Indutivamente, qualquer famı́lia finita de objetos da categoria C admite um produto.
As mesmas observações valem para o coproduto. Isto é, se C é uma categoria na qual
quaisquer dois objetos admitem um coproduto, então fica bem-definido o coproduto
em C de uma qualquer famı́lia finita de objetos.

26
2.3 Produto e coproduto fibrados

Definição 2.3.1 (Produto fibrado). Sejam C uma categoria, A, B, C ∈ C e g1 : A →


C e g2 : B → C. Se existir um objeto A ×C B ∈ C e morfismos πA : A ×C B → A
e πB : A ×C B → B de modo que, para todo D ∈ C e para todos f1 : D → A e
f2 : D → B tais que g1 ◦ f1 = g2 ◦ f2 , existe um único morfismo f1 ×C f2 : D → A ×C B
que torna o Diagrama (2.3.1) comutativo, dizemos que (A×C B, πA , πB ) é um produto
fibrado, ou pull-back, de g1 através de g2 em C .

D
f1 f2
f1 ×C f2

A A ×C B B (2.3.1)
πA πB

g1 g2

C
I

Exemplo 2.3.1 (Produto fibrado na categoria Top dos espaços topológicos). Sejam
X, Y, Z ∈ Top. Dadas aplicações contı́nuas g1 : X → Z e g2 : Y → Z, temos que o
produto fibrado X ×Z Y é o subespaço topológico de X × Y formado pelos pares (x, y)
tais que g1 (x) = g2 (y) com as projeções naturais πX : X ×Z Y → X, (x, y) 7→ x, e
πY : X ×Z Y → Y , (x, y) 7→ y. Enfaticamente, sendo W ∈ Top e f1 : W → X e
f2 : W → Y aplicações contı́nuas tais que g1 ◦ f1 = g2 ◦ f2 , segue que f1 ×Z f2 : W →
X ×Z Y , w 7→ (f1 (w), f2 (w)), é a única aplicação contı́nua de W a X ×Z Y que torna
o Diagrama 2.3.1 comutativo. J

Observação 2.3.1. Pode-se mostrar, a partir do Exemplo 2.3.1, que


• sendo (X, x0 ), (Y, y0 ), (Z, z0 ) ∈ Top+ e dadas duas aplicações contı́nuas g1 :
(X, x0 ) → (Z, z0 ) e g2 : (Y, y0 ) → (Z, z0 ), o produto fibrado (X, x0 ) ×(Z,z0 ) (Y, y0 )
coincide com (X ×Z Y, (x0 , y0 )) e as projeções naturais.

• sendo (X, A1 , · · · , An−1 ), (Y, B1 , · · · , Bn−1 ), (Z, C1 , · · · , Cn−1 ) ∈ Topn , o pro-


duto fibrado (X, A1 , · · · , An−1 )×(Z,C1 ,··· ,Cn−1 ) (Y, B1 , · · · , Bn−1 ) coincide com (X×Z
Y, A1 ×C1 B1 , · · · , An−1 ×Cn−1 Bn−1 ) e as projeções naturais.

• sendo (X, A1 , · · · , An−1 , x0 ), (Y, B1 , · · · , Bn−1 , y0 ), (Z, C1 , · · · , Cn−1 , z0 ) ∈ Topn+ ,


o produto fibrado (X, A1 , · · · , An−1 , x0 )×(Z,C1 ,··· ,Cn−1 ,z0 ) (Y, B1 , · · · , Bn−1 , y0 ) coin-
cide com (X ×Z Y, A1 ×C1 B1 , · · · , An−1 ×Cn−1 Bn−1 , (x0 , y0 )) e as projeções na-
turais. J

Definição 2.3.2 (Coproduto fibrado). Sejam C `


uma categoria, A, B, C ∈ C e g1 :
C`→ A e g2 : C → B.` Se existir um objeto A C B ∈ C e morfismos iA : A →
A C B e iB : B → A C B de modo que, para todo D ∈ C e para todos f1`: A →
D e f2 : B → D tais que f1 ◦ g1 = f2 ◦ g2 , existe um único morfismo f1 C f2 :

27
` `
A C B → D que torna o Diagrama (2.3.2) comutativo, dizemos que (A C B, iA , iB )
é um coproduto fibrado, ou push-forward, de g1 através de g2 em C .
D
f1 ` f2
f1 C f2

(2.3.2)
`
A iA
A C B iB
B

g1 g2

C
I

Exemplo 2.3.2 (Coproduto fibrado na categoria Top dos espaços topológicos). Sejam
X, Y, Z ∈ Top. Dadas ` aplicações contı́nuas g1 : Z → X e g2 : Z → Y , temos que
o coproduto fibrado X Z Y é o quociente topológico de X t Y pela relação
` ∼, sendo
g1 (z) ∼ g2 (z) para
` todo z ∈ Z, com as inclusões naturais iX : X → X Z Y , x 7→ [x],
e iY : Y → X Z Y , y 7→ [y]. Enfaticamente, sendo W ∈ Top e f1 : X`→ W
e f`2 : Y → W aplicações contı́nuas tais que f1 ◦ g1 = f2 ◦ g2 , segue que f1 ` Z f2 :
X Z Y → W , [x] 7→ f1 (x), [y] 7→ f2 (y), é a única aplicação contı́nua de X Z Y a
W que torna o Diagrama 2.3.2 comutativo. J

Observação 2.3.2. Pode-se mostrar, a partir do Exemplo 2.3.2, que


• sendo (X, x0 ), (Y, y0 ), (Z, z0 ) ∈ Top+ , dadas duas aplicações contı́nuas
` g1 :
(Z, z0 ) → (X, x0 ) e g2 : (Z, z0 ) → (Y, y0 ), o coproduto fibrado (X, x0 ) (Z,z0 ) (Y, y0 )
`
é dado por (X Z Y, [g1 (z0 )]), sendo [g1 (z0 )] = [g2 (z0 )], e as inclusões naturais.
• sendo (X, A1 , · · · , An−1 ), (Y, B1 , · · · , Bn−1 ), (Z, C1 , · · · , Cn−1 ) ∈ Topn , o copro-
duto fibrado (X, A1 , · · · , An−1 )t(Z,C1 ,··· ,Cn−1 ) (Y, B1 , · · · , Bn−1 ) coincide com (XtZ
Y, A1 tC1 B1 , · · · , An−1 tCn−1 Bn−1 ) e as inclusões naturais.
• sendo (X, A1 , · · · , An−1 , x0 ), (Y, B1 , · · · , Bn−1 , y0 ), (Z, C1 , · · · , Cn−1 , z0 ) ∈ Topn+ ,
dadas duas aplicações contı́nuas g1 : (Z, C1 , · · · , Cn−1 , z0 ) → (X, A1 , · · · , An−1 , x0 )
e g2 : (Z, C1 , · · · , Cn−1 , z0 ) → (Y, B1 , · · · , Bn−1 , y0 ), temos que o coproduto fi-
brado (X, A1 , · · · , An−1 , x0 ) t(Z,C1 ,··· ,Cn−1 ,z0 ) (Y, B1 , · · · , Bn−1 , y0 ) coincide com o
coproduto fibrado componente por componente (X tZ Y, A1 tC1 B1 , · · · , An−1 tCn−1
Bn−1 , [g1 (z0 )]), sendo [g1 (z0 )] = [g2 (z0 )], e as inclusões naturais. J
`
As notações A ×C B e A C B apresentadas, respectivamente, na Definição 2.3.1 e
na Definição 2.3.2, não são suficientemente precisas dado que o produto e o coproduto
fibrados dependem não só de C mas também dos morfismos g1 e g2 . No entanto, trata-
se da notação mais comumente usada e, por isso, a empregamos aqui. Nem sempre
existem o produto ou o coproduto fibrados entre dois objetos de uma categoria C ,
mas se existirem são únicos a menos de um único isomorfismo. Faz-se a prova para
esta afirmação essencialmente com os mesmos passos já vistos na prova da afirmação
análoga para produtos e coprodutos presente na Seção 2.2.

28
Exemplo 2.3.3 (Produto e coproduto fibrados na Categoria Universal U ). Sejam A,
B e C objetos na Categoria Universal. Temos que A ×C B = {(a, b) ∈ A × B : g1 (a) =
g2 (b)} com as projeções naturais e A C B = A t B∼ com as inclusões naturais,
`
sendo g1 (c) ∼ g2 (c) para todo c ∈ C. Observamos
` que se C = A ∩ B e se g1 : C → A
e g2 : C → B são as inclusões, então A C B = A ∪ B. Também, se C for um
conjunto
` unitário, temos que A ×C B = A × B e se C for o conjunto vazio, então
A C B = A t B. J

As noções de produto e coproduto fibrados se estendem a uma famı́lia qualquer


de objetos de uma categoria C . Podemos considerar, por exemplo, uma extensão
do conceito de produto fibrado para uma famı́lia {Aj }j ∈ J ⊂ C da seguinte maneira:
fixamos B ∈ C e uma famı́lia de morfismos gj : Q Aj → B; se existir um objeto
( B )j ∈ J Aj ∈ C e uma famı́lia de morfismos πj : ( B )j ∈ J Aj → Aj de modo que,
Q
para todo C ∈ C e para toda famı́lia de morfismos fj : C → Q Aj tal que gi ◦ fi = gj ◦ fj
para todos i, j ∈ J, existe um único morfismo
Q f : C → (  )j ∈ J Aj de forma que
B
πj ◦ f = fj para todo j ∈ J, dizemos que ( B )j ∈ J Aj , {πj }j ∈ J é um produto fibrado
para a famı́lia {Aj }j ∈ J em C .
De forma análoga à feita na parágrafo acima, podemos estender a noção de copro-
duto fibrado para uma famı́lia {Aj }j ∈ J ⊂ C . Entretanto, podemos estender de forma
mais geral estas ideias. A seguir vemos que é possı́vel considerar um objeto Bij ∈ C
para cada par de ı́ndices i, j ∈ J em vez de fixar um único objeto B.

Definição 2.3.3 (Tripla cartesiana). Sejam C uma categoria e J um conjunto de


ı́ndices. Dadas uma famı́lia {Aj }j ∈ J ⊂ C , uma famı́lia {Aij }i, j ∈ J ⊂ C de modo
que Aij = Aji para todos i, j ∈ J, e uma famı́lia de morfismos gij : Ai → Aij de
C , dizemos que ({Aj }, {Aij }, {gij }) é uma tripla cartesiana em C com ı́ndices em
J. I

A imposição na Definição 2.3.3 de que Aij = Aji para todos i, j ∈ J é feita a


fim de garantir que os morfismos gij e gji tenham o mesmo contradomı́nio para todos
i, j ∈ J. Podemos conceber uma tripla cartesiana como no Diagrama (2.3.3).

Aik
gik gki

··· Ai Aj Ak ··· (2.3.3)


gij gkj
gji gjk

Aij Ajk

Definição 2.3.4 (Produto fibrado de uma famı́lia genérica). Sejam C uma categoria,
J um conjunto de ı́ndices e Ω = ({Aj }, {Aij }, {gij }) uma tripla cartesiana em C com
Q em J. Um produto fibrado em C para a tripla
ı́ndices QΩ é um objeto de C , denotado
por Ω Aj , junto com uma famı́lia de morfismos πj : Ω Aj → Aj tais que, para todo
B ∈ C e toda famı́lia de morfismos fj : B → Aj Q de modo que gij ◦ fi = gji ◦ fj para
todo i, j ∈ J, existe um único morfismo f : B → Ω Aj de modo que πj ◦ f = fj para
todo j ∈ J. I

29
Exemplo 2.3.4 (Produto fibrado genérico na Categoria Universal). Sejam J um con-
({Aj }, {Aij }, {gij }) uma tripla cartesiana em U
junto de ı́ndices e Ω =Q Q com ı́ndices em
J. O produto fibrado Ω Aj é o subconjunto do produto cartesiano j ∈ J Aj formado
pelos elementos {aj } tais que gij (aj ) = gji (ai ) para todos i, j ∈ J. J

Definição 2.3.5 (Tripla cocartesiana). Sejam C uma categoria e J um conjunto de


ı́ndices. Dadas uma famı́lia {Aj }j ∈ J ⊂ C , uma famı́lia {Aij }i, j ∈ J ⊂ C de modo que
Aij = Aji para todos i, j ∈ J, e uma famı́lia de morfismos gij : Aij → Ai de C ,
dizemos que ({Aj }, {Aij }, {gij }) é uma tripla cocartesiana em C com ı́ndices em
J. I

A imposição na Definição 2.3.5 de que Aij = Aji para todos i, j ∈ J é feita a fim
de garantir que os morfismos gij e gji tenham o mesmo domı́nio para todos i, j ∈ J.
Podemos conceber uma tripla cocartesiana como no Diagrama (2.3.4).

Aik
gik gki

··· Ai Aj Ak ··· (2.3.4)


gij gkj
gji gjk

Aij Ajk

Definição 2.3.6 (Coproduto fibrado de uma famı́lia genérica). Sejam C uma catego-
ria, J um conjunto de ı́ndices e Ω = ({Aj }, {Aij }, {gij }) uma tripla cocartesiana em C
com ı́ndices em` J. Um coproduto fibrado em C para a tripla Ω é um ` objeto de C ,
denotado por Ω Aj , junto com uma famı́lia de morfismos ij : Aj → Ω Aj tais que,
para todo B ∈ C e toda famı́lia de morfismos fj : A `j → B de modo que fi ◦gij = fj ◦gji
para todo i, j ∈ J, existe um único morfismo f : Ω Aj → B de modo que f ◦ ij = fj
para todo j ∈ J. I

Exemplo 2.3.5 (Coproduto fibrado genérico na Categoria Universal). Sejam J um


conjunto de ı́ndices e Ω = ({Aj },`{Aij }, {gij }) uma tripla cocartesianaFem U com
ı́ndices em J. O coproduto fibrado Ω Aj é o quociente da união disjunta j ∈ J Aj pela
relação de equivalência gij (aij ) ∼ gji (aij ) para todo aij ∈ Aij e todos i, j ∈ J. J

Pode-se mostrar que se uma categoria C admite (co)produtos fibrados finitos para
quaisquer dois objetos seus, então C admite (co)produtos fibrados finitos quaisquer.
Não provamos aqui esta afirmação pois os passos necessários para a demonstração são
essencialmente os mesmos passos já vistos na prova da afirmação análoga para produ-
tos e coprodutos presente na Seção 2.2.

Proposição 2.3.1. Seja C uma categoria. Se C tem produtos fibrados finitos e objetos
finais, então C tem produtos finitos e equalizadores.

30
Demonstração. (Produtos finitos) Sejam F ∈ C um objeto final e A, B ∈ C . Existem
únicos morfismos fA : A → F e fB : B → F em C . Sendo assim, definimos o produto
de A e B em C como sendo o produto fibrado de fA através de fB em C . Ou seja, um
produto para A e B em C é a tripla (A ×F B, πA , πB ). Lembramos que uma categoria
tem produtos binários se, e somente se, tem produtos finitos quaisquer.
(Equalizadores) Sejam f, g : A → B morfismos de C . Como há produtos finitos em
C , existem únicos morfismos hidA , f i e hidA , gi de C de sorte que os Diagramas (2.3.5)
são comutativos. Ou seja, existem únicos morfismos de modo que πA ◦ hidA , f i = idA ,
πB ◦ hidA , f i = f , πA ◦ hidA , gi = idA e que πB ◦ hidA , gi = g.

A A
idA f idA g

A hidA , f i B A hidA , gi B (2.3.5)

πA πB πA πB

A×B A×B

Seja (A ×A×B A, π1 , π2 ) o produto fibrado de hidA , f i através de hidA , gi. Uma vez
que o Diagrama (2.3.6) é comutativo porque πA ◦ hidA , f i = idA e πA ◦ hidA , gi = idA ,
temos que π1 = idA ◦ π1 = idA ◦ π2 = π2 .

A ×A×B A
π1 π2

A hidA , f i A×B hidA , gi A (2.3.6)

πA
idA idA

Sejam E := A×A×B A e π := π1 = π2 . Afirmamos que π : E → A é o equalizador do


par (f, g). Precisamos verificar que, para todo C ∈ C e para todo morfismo h : C → A
de C tal que f ◦ h = g ◦ h, existe um único morfismo k : C → E de sorte que π ◦ k = h.

E
π π

A hidA , f i A×B hidA , gi A (2.3.7)

πB
f g

Uma vez que o Diagrama (2.3.7) é comutativo porque πB ◦ hidA , f i = f e πB ◦


hidA , gi = g, temos que f ◦ π = g ◦ π. Daı́ temos que hidA , f i ◦ h = hh, f ◦ hi =
hh, g ◦ hi = hidA , gi ◦ h. Portanto, devido à definição de produto fibrado, existe um
único morfismo h ×A×B h : C → E de C de modo que o Diagrama (2.3.8) é comutativo.

31
Logo, π ◦ (h ×A×B h) = h. Escrevendo k = h ×A×B h terminamos a prova.

C
h h×A×B h h

A π E π A (2.3.8)

hidA , f i hidA , gi

A×B

Observação 2.3.3 (Uma categoria com produtos finitos e equalizadores mas sem ob-
jetos finais). Seja Ru∗ a categoria dos anéis unitários, com exceção do anel trivial, cujos
morfismos são os homomorfismos de anéis unitários. Esta categoria possui produtos
quaisquer e, portanto, em particular, possui todos os produtos finitos. Além disso, da-
dos dois morfismos f, g : B → C de Ru∗ , a aplicação inclusão ι : A → B, em que
A = {b ∈ B : f (b) = g(b)}, é o equalizador do par (f, g). Uma vez que todo homomor-
fismo de anéis unitários fixa o elemento neutro da soma e a identidade multiplicativa
do anel, segue que A ∈ Ru∗ . Entretanto Ru∗ não possui objetos finais dado que o único
candidato, a menos de isomorfismo, seria o anel trivial. J

Proposição 2.3.2. Seja C uma categoria. Se C tem produtos finitos e equalizadores,


então C tem produtos fibrados finitos.
Demonstração. Sejam A, B e C objetos de C e g1 : A → C e g2 : B → C morfismos
de C . Seja (A × B, πA , πB ) um produto para A e B em C . Existe e : E → A × B o
equalizador do par (g1 ◦ πA , g2 ◦ πB ), sendo E ∈ C . Afirmamos que (E, πA ◦ e, πB ◦ e)
é um produto fibrado de g1 através de g2 em C .
f1 ×C f2

D E
πA ◦e f2
f1 πB ◦e
hf1 ,f2 i e

A πA A×B πB B (2.3.9)

g1 g2

Precisamos mostrar que, para todo D ∈ C e para todos f1 : D → A e f2 : D → B


tais que g1 ◦ f1 = g2 ◦ f2 , existe um único morfismo f1 ×C f2 : D → E que torna o
Diagrama (2.3.9) comutativo.
(Existência) Sendo (A × B, πA , πB ) um produto para A e B em C , existe um único
morfismo hf1 , f2 i : D → A × B de sorte que (g1 ◦ πA ) ◦ hf1 , f2 i = (g2 ◦ πB ) ◦ hf1 , f2 i.
Mas então, como e : E → A × B é o equalizador do par (g1 ◦ πA , g2 ◦ πB ), existe

32
f1 ×C f2 : D → E tal que e ◦ (f1 ×C f2 ) = hf1 , f2 i. Temos que (πA ◦ e) ◦ (f1 ×C f2 ) =
πA ◦ hf1 , f2 i = f1 e que (πB ◦ e) ◦ (f1 ×C f2 ) = πB ◦ hf1 , f2 i = f2 .
(Unicidade) Se (f1 ×C f2 )0 : D → E é tal que πA ◦ (f1 ×C f2 )0 = f1 e que πB ◦
(f1 ×C f2 )0 = f2 , então e ◦ (f1 ×C f2 )0 = hf1 , f2 i = e ◦ (f1 ×C f2 ). Uma vez que todo
equalizador é um morfismo mônico, (f1 ×C f2 )0 = (f1 ×C f2 ). 

Nas Proposições 2.3.1 e 2.3.2 assumimos sempre, como em todo texto, que os pro-
dutos e produtos fibrados não se dão sobre famı́lias vazias. No caso em que esta
possibilidade é aceita temos que uma categoria C tem produtos finitos e equalizadores
se, e somente se, C tem produtos fibrados finitos e objetos finais.

2.4 Funtores

Funtores generalizam para categorias a noção de aplicações. Os funtores podem ser


pensados como uma “flecha” de uma categoria a outra bem como um morfismo é uma
“flecha” de um objeto a outro dentro de uma categoria fixada. Muitas vezes os funtores
preservam estruturas adicionais das categorias em questão.

2.4.1 Funtores covariantes

Definição 2.4.1 (Funtor covariante). Sejam C e D categorias. Dizemos que um fun-


tor covariante T : C → D é um par de funções, ambas denotadas por T , sendo uma
função entre objetos que associa a cada A ∈ C um objeto T (A) ∈ D e uma função en-
tre morfismos que associa a cada f : B → C de C um morfismo T (f ) : T (B) → T (C)
de D de modo que T (idA ) = idT (A) para todo A ∈ C e que T (g ◦ f ) = T (g) ◦ T (f ) para
todos morfismos f, g ∈ C cuja composição esteja definida. I

Observação 2.4.1. Sejam C e D categorias. Um funtor covariante T : C → D


aplica cada isomorfismo (vide Definição 2.1.3) de C em um isomorfismo de D. De
fato, se f : A → B é um isomorfismo em C , então existe f −1 : B → A de sorte que
f −1 ◦f = idA e f ◦f −1 = idB . Mas então T (f −1 )◦T (f ) = T (f −1 ◦f ) = T (idA ) = idT (A)
e T (f ) ◦ T (f −1 ) = T (f ◦ f −1 ) = T (idB ) = idT (B) . Notamos que T (f −1 ) = T (f )−1 ,
consequentemente. J

Sejam C e D categorias e T : C → D um funtor covariante. Dizemos que a


imagem do funtor T , que denotamos por Im(T ), consiste dos objetos T (A), A ∈ C ,
e dos morfismos T (f ), f morfismo de C .

Observação 2.4.2 (Im(T ) não é necessariamente uma subcategoria). Sejam C e D


categorias e T : C → D um funtor covariante. Nem sempre Im(T ) é uma subcategoria
de D. Consideramos C uma categoria com quatro objetos distintos (A1 , A2 , A3 e A4 ),
D uma categoria com três objetos distintos (B1 , B2 e B3 ) e, para além dos morfismos
identidade, consideramos f1 : A1 → A2 e f2 : A3 → A4 os únicos morfismos de C e
g1 : B1 → B2 , g2 : B2 → B3 e g3 : B1 → B3 os únicos morfismos de D. Definimos um
funtor covariante T : C → D de modo que

T (A1 ) = B1 , T (A2 ) = T (A3 ) = B2 e T (A4 ) = B3 .

33
Aqui Im(T ) não é uma categoria porque a composição T (f2 ) ◦ T (f1 ) não está definida.
De fato, sendo T (f1 ) = g1 e T (f2 ) = g2 , deverı́amos ter T (f2 ) ◦ T (f1 ) = g3 . Entretanto
g3 não pertence a Im(T ). J

Proposição 2.4.1. Sejam C e D categorias. Se T : C → D é um funtor covariante


cuja função entre objetos é injetora, então Im(T ) é necessariamente uma subcategoria
de D.
Demonstração. Devido à Definição 2.1.2, precisamos verificar que Im(T ) é fechada
ante a composição de seus morfismos e que HomIm(T ) (A, B) ⊂ HomD (A, B) para
todos A, B ∈ Im(T ). Notamos que este último fato decorre diretamente da definição
de Im(T ). Sejam T (f ) : T (A) → T (B) e T (g) : T (B) → T (C) morfismos em Im(T ).
Como a função entre objetos T : C → D é injetora, necessariamente temos que o
contradomı́nio de f coincide com o domı́nio de g. Logo, existe a composição g ◦ f :
A → C em C . Destarte, sendo T um funtor covariante, T (g) ◦ T (f ) = T (g ◦ f ). Isto
prova que a composição T (g) ◦ T (f ) está definida em Im(T ). Portanto Im(T ) é uma
subcategoria de D. 

Observação 2.4.3. Sejam C e D categorias. Vejamos que a recı́proca da afirmação


presente na Proposição 2.4.1 não é necessariamente verdadeira. Isto é, existem funtores
covariantes entre C e D cuja imagem de C por eles é uma subcategoria de D e tais
que a sua função entre objetos não é injetora. Seja C uma categoria com pelo menos
dois objetos distintos e seja D uma categoria não-vazia. Para cada D ∈ D, definimos
o funtor covariante TD : C → D que aplica cada C ∈ C em D e que aplica cada
morfismo de C no morfismo identidade idD . Claramente Im(TD ) é uma subcategoria
de D e a função entre objetos de T não é injetora. J

Exemplo 2.4.1 (Funtor covariante identidade). Seja C uma categoria. Dizemos que
IdC : C → C , que a cada objeto A ∈ C fornece IdC (A) = A e que a cada morfismo
f ∈ C fornece IdC (f ) = f , é o funtor covariante identidade da categoria C em
si mesma. Temos que, para todo A ∈ C , IdC (idA ) = idA = idIdC (A) . Além disso,
para todos morfismos f, g ∈ C cuja composição esteja definida, T (g ◦ f ) = g ◦ f =
T (g) ◦ T (f ). J

Exemplo 2.4.2 (Funtor covariante entre MlR e Gab ). Sejam R um anel e A ∈ MlR
fixado. Lembramos que na Subseção 2.1 encontram-se definidas as categorias MlR dos
R-módulos à esquerda e Gab dos grupos abelianos. Se f : B → C é um morfismo
em MlR , então a aplicação hf : HomMlR (A, B) → HomMlR (A, C), ϕ 7→ f ◦ ϕ, é
um morfismo de Gab . Enfaticamente, para todos ϕ1 , ϕ2 ∈ HomMlR (A, B) e para todo
a ∈ A, temos que

hf (ϕ1 + ϕ2 )(a) = (f ◦ (ϕ1 + ϕ2 ))(a) = f (ϕ1 (a) + ϕ2 (a)) = f (ϕ1 (a)) + f (ϕ2 (a))
= (f ◦ ϕ1 )(a) + (f ◦ ϕ2 )(a) = hf (ϕ1 )(a) + hf (ϕ2 )(a)
= (hf (ϕ1 ) + hf (ϕ2 ))(a).

Assim a igualdade hf (ϕ1 + ϕ2 ) = hf (ϕ1 ) + hf (ϕ2 ) garante que hf é um homomorfismo


de grupos abelianos e, pois, que é um morfismo de Gab .

34
Definimos então o funtor covariante T : MlR → Gab , B 7→ HomMlR (A, B), f 7→ hf ,
entre as categorias MlR e Gab . Vejamos que T é realmente um funtor covariante entre
estas duas categorias. Temos que, para todo B ∈ MlR , T (idB ) : HomMlR (A, B) →
HomMlR (A, B), ϕ 7→ idB ◦ ϕ = ϕ, e, pois, T (idB ) = idHomM R (A,B) = idT (B) . Além
l
disso, dados f : B → C e g : C → D morfismos em MlR , temos por definição
que T (g ◦ f ) : HomMlR (A, B) → HomMlR (A, D), ϕ 7→ (g ◦ f ) ◦ ϕ. Uma vez que
(g◦f )◦ϕ = g◦(f ◦ϕ) para todo ϕ ∈ HomMlR (A, B), segue-se T (g◦f ) = T (g)◦T (f ). J

Exemplo 2.4.3 (Funtor covariante homA ). Sejam C uma categoria e A ∈ C fixado.


Lembramos que também na Subseção 2.1 encontra-se definida a Categoria Universal
U dos conjuntos. Se f : B → C é um morfismo em C , então a aplicação hf :
HomC (A, B) → HomC (A, C), ϕ 7→ f ◦ ϕ, é um morfismo na Categoria Universal.
Esta afirmação é imediata dado que não há necessidade, como no Exemplo 2.4.2, de
que hf preserve alguma estrutura adicional.
Definimos então o funtor covariante homA : C → U , B 7→ HomC (A, B), f 7→ hf ,
entre as categorias C e U . Vejamos que homA é realmente um funtor covariante entre
estas duas categorias. Temos que, para todo B ∈ C , homA (idB ) : HomC (A, B) →
HomC (A, B), ϕ 7→ idB ◦ ϕ = ϕ, e, pois, homA (idB ) = idHomC (A,B) = idhomA (B) . Além
disso, dados f : B → C e g : C → D morfismos em C , temos por definição que
homA (g ◦ f ) : HomC (A, B) → HomC (A, D), ϕ 7→ (g ◦ f ) ◦ ϕ. Uma vez que (g ◦ f ) ◦ ϕ =
g ◦(f ◦ϕ) para todo ϕ ∈ HomC (A, B), segue-se homA (g ◦f ) = homA (g)◦homA (f ). J

Exemplo 2.4.4 (Funtor covariante compactificação a um ponto). Lembramos, do


Exemplo 2.1.5, que

• TopHd é a categoria cujos objetos são os espaços topológicos de Hausdorff e cujos


morfismos são as aplicações contı́nuas;

• TopLocCptP é a categoria cujos objetos são os espaços topológicos localmente


compactos e cujos morfismos são as aplicações contı́nuas e próprias.

Definimos T : TopLocCptP → TopHd como sendo o funtor covariante compacti-


ficação a um ponto que associa a cada X ∈ TopLocCptP sua compactificação a um
ponto X + := X t {∞} ∈ TopHd e que a cada morfismo f : Y → Z de TopLocCptP
associa o morfismo f + : Y + → Z + , y 7→ f (y), ∞ 7→ ∞, de TopHd. Este funtor é
bem-definido pois f + é uma aplicação contı́nua se, e somente se, f é uma aplicação
contı́nua e própria. J

Exemplo 2.4.5 (Funtor covariante esquecedor). Seja (C , σ) uma categoria concreta


(vide Definição 2.1.4). O funtor covariante esquecedor T entre C e a Categoria
Universal U é aquele que associa a cada objeto A ∈ C seu conjunto subjacente σ(A)
e a cada morfismo f : A → B em C o morfismo σ(f ) em U . Vejamos que T é
realmente um funtor covariante. Temos que, para todo A ∈ C , T (idA ) = σ(idA ) =
idσ(A) = idT (A) . Além disso, para todos f, g ∈ C cuja composição esteja definida,
T (g) ◦ T (f ) = σ(g) ◦ σ(f ) = σ(g ◦ f ) = T (g ◦ f ). J

35
O funtor covariante esquecedor do Exemplo 2.4.5 “esquece” toda e qualquer estru-
tura que a categoria concreta (C , σ) possa ter. Podemos, entretanto, definir outros
funtores esquecedores que “se lembram” de algumas propriedades mas não de outras.
Por exemplo, podemos definir o funtor covariante T : MlR → Gab que associa a cada
R-módulo à esquerda seu grupo abeliano subjacente e que a cada homomorfismo de R-
módulos associa o mesmo morfismo pensado como homomorfismo de grupos abelianos.
Este funtor “se lembra” somente da estrutura aditiva de grupos mas não da estrutura
de multiplicação externa de R-módulo.

2.4.2 Funtores contravariantes

Definição 2.4.2 (Funtor contravariante). Sejam C e D categorias. Dizemos que um


funtor contravariante S : C → D é um par de funções, ambas denotadas por S,
sendo uma função entre objetos que associa a cada A ∈ C um objeto S(A) ∈ D
e uma função entre morfismos que associa a cada f : B → C de C um morfismo
S(f ) : S(B) → S(C) de D de modo que S(idA ) = idS(A) para todo A ∈ C e que S(g ◦
f ) = S(f ) ◦ S(g) para todos morfismos f, g ∈ C cuja composição esteja definida. I

Exemplo 2.4.6 (Funtor contravariante entre MlR e Gab ). Sejam R um anel e A ∈ MlR
fixado. Se f : B → C é um morfismo em MlR , então a aplicação hf : HomMlR (C, A) →
HomMlR (B, A), ϕ 7→ ϕ ◦ f , é um morfismo de Gab . Enfaticamente, para todos ϕ1 , ϕ2 ∈
HomMlR (C, A) e para todo b ∈ B, temos que

hf (ϕ1 + ϕ2 )(b) = ((ϕ1 + ϕ2 ) ◦ f )(b) = (ϕ1 + ϕ2 )(f (b))


= ϕ1 (f (b)) + ϕ2 (f (b)) = hf (ϕ1 )(b) + hf (ϕ2 )(b)
= (hf (ϕ1 ) + hf (ϕ2 ))(b).

Assim a igualdade hf (ϕ1 + ϕ2 ) = hf (ϕ1 ) + hf (ϕ2 ) garante que hf é um homomorfismo


de grupos abelianos e, pois, que é um morfismo de Gab .
Definimos então o funtor covariante S : MlR → Gab , B 7→ HomMlR (B, A), f 7→ hf ,
entre as categorias MlR e Gab . Vejamos que S é realmente um funtor contravariante en-
tre estas duas categorias. Temos que, para todo B ∈ MlR , S(idB ) : HomMlR (B, A) →
HomMlR (B, A), ϕ 7→ ϕ ◦ idB = ϕ, e, pois, S(idB ) = idHomM R (B,A) = idS(B) . Além
l
disso, dados f : B → C e g : C → D morfismos em MlR , temos por definição
que T (g ◦ f ) : HomMlR (D, A) → HomMlR (B, A), ϕ 7→ ϕ ◦ (g ◦ f ). Uma vez que
ϕ◦(g◦f ) = (ϕ◦g)◦f para todo ϕ ∈ HomMlR (B, A), segue-se S(g◦f ) = S(f )◦S(g). J

Exemplo 2.4.7 (Funtor contravariante homA ). Sejam C uma categoria e A ∈ C


fixado. Se f : B → C é um morfismo em C , então a aplicação hf : HomC (C, A) →
HomC (B, A), ϕ 7→ ϕ ◦ f , é um morfismo na Categoria Universal. Esta afirmação é
imediata dado que não há necessidade, como no Exemplo 2.4.6, de que hf preserve
alguma estrutura adicional.
Definimos então o funtor contravariante homA : C → U , B 7→ HomC (B, A),
f 7→ hf , entre as categorias C e U . Vejamos que homA é realmente um funtor
contravariante entre estas duas categorias. Temos que, para todo B ∈ C , homA (idB ) :

36
HomC (B, A) → HomC (B, A), ϕ 7→ ϕ ◦ idB = ϕ, e, pois, homA (idB ) = idHomC (B,A) =
idhomA (B) . Além disso, dados f : B → C e g : C → D morfismos em C , temos por
definição que homA (g ◦ f ) : HomC (D, A) → HomC (B, A), ϕ 7→ ϕ ◦ (g ◦ f ). Uma vez
que ϕ ◦ (g ◦ f ) = (ϕ ◦ g) ◦ f para todo ϕ ∈ HomC (B, A), segue-se homA (g ◦ f ) =
homA (f ) ◦ homA (g). J

2.4.3 Composição de funtores

Definição 2.4.3 (Composição de funtores). Sejam C , D e E categorias e T1 : C → D e


T2 : D → E funtores. Definimos a composição de T1 e T2 como sendo T2 ◦T1 : C → E ,
A 7→ T2 (T1 (A)), f 7→ T2 (T1 (f )). I

A composição de T1 e T2 definida assim gera um novo funtor que é covariante se estes


funtores são ambos covariantes ou contravariantes e contravariante caso contrário. De
fato, vejamos inicialmente que (T2 ◦ T1 )(idA ) = id(T2 ◦T1 )(A) para todo A ∈ C . De fato,
(T2 ◦ T1 )(idA ) = T2 (T1 (idA )) = T2 (idT1 (A) ) = idT2 (T1 (A)) = id(T2 ◦T1 )(A) . Para verificar
a segunda condição que exigimos sobre um funtor consideramos os casos (i) T1 e T2
covariantes, (ii) T1 e T2 contravariantes e (iii) T1 covariante e T2 contravariante. O
caso T1 contravariante e T2 covariante é tratado de forma análoga ao caso (iii).
Sejam f, g ∈ C morfismos cuja composição g ◦ f esteja definida. Então (i) (T2 ◦
T1 )(g◦f ) = T2 (T1 (g◦f )) = T2 (T1 (g)◦T1 (f )) = T2 (T1 (g))◦T2 (T1 (f )) = (T2 ◦T1 )(g)◦(T2 ◦
T1 )(f ), (ii) (T2 ◦T1 )(g ◦f ) = T2 (T1 (g ◦f )) = T2 (T1 (f )◦T1 (g)) = T2 (T1 (g))◦T2 (T1 (f )) =
(T2 ◦ T1 )(g) ◦ (T2 ◦ T1 )(f ) e (iii) (T2 ◦ T1 )(g ◦ f ) = T2 (T1 (g ◦ f )) = T2 (T1 (g) ◦ T1 (f )) =
T2 (T1 (f )) ◦ T2 (T1 (g)) = (T2 ◦ T1 )(f ) ◦ (T2 ◦ T1 )(g).

2.4.4 Funtores: covariância e contravariância

Sejam C e D categorias. Vamos verificar agora que a todo funtor contravariante


S : C → D está associado um funtor covariante TS : C op → D e vice-versa. Lembramos
que a noção de categoria oposta foi introduzida no Exemplo 2.1.1 e que aqui denotamos
por f op um morfismo f ∈ HomC (A, B) quando pensado como morfismo pertencente
ao conjunto HomC op (B, A).
A partir de um funtor contravariante S definimos unicamente o funtor covariante
TS do seguinte modo: A ∈ C op 7→ S(A) ∈ D e f op ∈ C op 7→ S(f ) ∈ D. Vejamos
que TS é realmente um funtor covariante entre as categorias C op e D. Temos que, para
todo A ∈ C op , TS (idA ) = S(idA ) = idS(A) = idTS (A) . Além disso, para todos f, g ∈ C
cuja composição g ◦ f esteja definida, TS (f op ◦ g op ) = TS ((g ◦ f )op ) = S(g ◦ f ) =
S(f ) ◦ S(g) = TS (f op ) ◦ TS (g op ). Analogamente verifica-se que a cada funtor covariante
T : C op → D está associado um funtor contravariante ST : C → D.
Muitas vezes em afirmações envolvendo objetos e morfismos de uma categoria ob-
temos resultados duais invertendo a ordem das setas nos morfismos, nos diagramas, et
reliqua. Desta forma, uma afirmação é verdadeira em uma categoria C se, e somente
se, sua assertiva dual for verdadeira em C op . Por esta razão e pelo que discutimos nos
dois parágrafos precedentes, a maioria dos resultados que enunciamos e demonstramos
a seguir é feita considerando somente funtores covariantes.

37
2.4.5 Funtores de duas variáveis

Definição 2.4.4 (Funtor de duas variáveis). Sejam C , D e E categorias. Dizemos que


um funtor de duas variáveis T : C ×D → E é um par de funções, ambas denotadas
por T , sendo uma função entre objetos que associa a cada (A1 , A2 ) ∈ C × D um objeto
T (A1 , A2 ) ∈ E e uma função entre morfismos que associa a cada (f1 , f2 ) : (B1 , B2 ) →
(C1 , C2 ) de C × D um morfismo T (f1 , f2 ) : T (B1 , B2 ) → T (C1 , C2 ) de D de modo
que T (idA1 , idA2 ) = idT (A1 ,A2 ) para todo (A1 , A2 ) ∈ C × D e que T (f2 ◦ f1 , g2 ◦ g1 ) =
T (f1 , g2 ) ◦ T (f2 , g1 ) para todos morfismos (f1 , g1 ), (f2 , g2 ) ∈ C × D cuja composição
esteja definida. I

Observação 2.4.4. A condição T (f2 ◦ f1 , g2 ◦ g1 ) = T (f1 , g2 ) ◦ T (f2 , g1 ) diz que, para


todo A ∈ C fixado, o par (T (A, −), T (idA , −)) é um funtor covariante T : D →
E . Analogamente, para todo B ∈ D fixado, o par (T (−, B), T (−, idB )) é um funtor
contravariante T : C → E . J

Exemplo 2.4.8 (Funtor entre MlR × MlR e Gab ). Seja R um anel. Se f : A → B


e g : C → D são morfismos na categoria MlR dos R-módulos à esquerda, então a
aplicação hfg : HomMlR (B, C) → HomMlR (A, D), ϕ 7→ g ◦ ϕ ◦ f , é um morfismo de Gab .
Enfaticamente, para todos ϕ1 , ϕ2 ∈ HomMlR (C1 , B2 ) e para todo a ∈ A, temos que

hfg (ϕ1 + ϕ2 )(a) = (g ◦ (ϕ1 + ϕ2 ) ◦ f )(a) = (g ◦ (ϕ1 + ϕ2 ))(f (a))


= g(ϕ1 (f (a)) + ϕ2 (f (a))) = g(ϕ1 (f (a))) + g(ϕ2 (f (a)))
= hfg (ϕ1 )(a) + hfg (ϕ2 )(a) = (hfg (ϕ1 ) + hfg (ϕ2 ))(a).

Assim a igualdade hfg (ϕ1 + ϕ2 ) = hfg (ϕ1 ) + hfg (ϕ2 ) garante que hfg é um homomorfismo
de grupos abelianos e, pois, que é um morfismo de Gab . Definimos então o funtor de
duas variáveis T : MlR × MlR → Gab , (A, B) 7→ HomMlR (A, B), (f, g) 7→ hfg . Graças
aos Exemplos 2.4.2 e 2.4.6 vemos que T é realmente um funtor de duas variáveis e que
é contravariante na primeira variável e covariante na segunda variável. J

Exemplo 2.4.9 (Funtor homC ). Seja C uma categoria. Se f : A → B e g : C → D


são morfismos na categoria C , então a aplicação hfg : HomC (B, C) → HomC (A, D),
ϕ 7→ g◦ϕ◦f , é um morfismo na categoria C . Definimos então o funtor de duas variáveis
homC : C × C → U , (A, B) 7→ HomC (A, B), (f, g) 7→ hfg . Graças aos Exemplos 2.4.3
e 2.4.7 vemos que homC é um funtor contravariante na primeira variável e covariante
na segunda variável. J

2.5 Transformações naturais

Bem como os funtores ligam duas categorias, podemos ligar dois funtores entre duas
categorias fixadas graças à noção de transformação natural. Uma transformação natu-
ral pode ser considerada um ”morfismo de funtores”.

38
Definição 2.5.1 (Transformações naturais). Sejam C e D categorias e T1 , T2 : C → D
funtores covariantes.
αB
T1 (B) T2 (B)
T1 (f ) T2 (f ) (2.5.1)

T1 (C) αC T2 (C)
Uma transformação natural ou morfismo canônico α : T1 → T2 é uma função
que associa a cada objeto A ∈ C um morfismo αA : T1 (A) → T2 (A) de D de modo
que, para todo morfismo f : B → C de C , o Diagrama (2.5.1) seja comutativo. I

Definimos uma transformação natural β : S1 → S2 entre os funtores contravariantes


S1 , S2 : C → D como na Definição 2.5.1, porém, trocando o Diagrama (2.5.1) pelo
Diagrama (2.5.2).
βB
S1 (B) S2 (B)
S1 (f ) S2 (f ) (2.5.2)
S1 (C) βC
S2 (C)

Exemplo 2.5.1 (Transformação natural identidade). Sejam C uma categoria e T :


C → C um funtor. Afirmamos que a aplicação que associa a cada A ∈ C o morfismo
identidade idT (A) é uma transformação natural de T a si mesmo. Esta transformação
natural, denotada por IdT : T → T , é chamada de transformação natural identi-
dade.
idB
T (B) T (B)
T (f ) T (f ) (2.5.3)

T (C) idC
T (C)

Para todo morfismo f : B → C em C , temos que idC ◦ T (f ) = T (f ) ◦ idB . Ou seja, o


Diagrama (2.5.3) é comutativo. Destarte IdT é realmente uma transformação natural
de T a si mesmo. J

Definição 2.5.2 (Composição de transformações naturais). Sejam C , D e E catego-


rias, T1 , T2 , T3 : C → D funtores covariantes e α1 : T1 → T2 e α2 : T2 → T3 trans-
formações naturais. Definimos a composição de α1 e α2 por (α2 ◦α1 )A := (α2 )A ◦(α1 )A
para todo A ∈ C . I

Por causa da Definição 2.5.2, os funtores entre duas categorias fixadas são eles mes-
mos objetos de uma categoria. Os morfismos desta nova categoria são as transformações
naturais entre os funtores que são seus objetos. Assim, em particular, dois funtores
T1 , T2 : C → D são isomorfos se existirem duas transformações naturais α1 : T1 → T2
e α2 : T2 → T1 de forma que α1 ◦ α2 = IdT2 e que α2 ◦ α1 = IdT1 (vide Exemplo 2.5.2).
Neste caso dizemos que α1 e α2 são isomorfismos naturais entre T1 e T2 , dizemos
que T1 é naturalmente isomorfo a T2 e escrevemos T1 ' T2 .

Proposição 2.5.1. Sejam C e D categorias e T1 , T2 : C → D funtores covariantes.


Uma transformação natural α : T1 → T2 é um isomorfismo natural se, e somente se,
αA : T1 (A) → T2 (A) é um isomorfismo em D para todo A ∈ C .

39
Demonstração. (⇒) Se a transformação natural α : T1 → T2 é um isomorfismo natural,
−1
então seu inverso α−1 : T2 → T1 e a Definição 2.5.2 garantem que αA ◦ αA = idT1 (A)
e que αA ◦ αA = idT2 (A) para todo A ∈ C . Desta forma, αA é um isomorfismo em
−1

D cujo inverso é αA−1


para todo A ∈ C . (⇐) Precisamos verificar que, para todo
morfismo f : B → C de C , o Diagrama (2.5.4) seja comutativo.
−1
αB
T2 (B) T1 (B)
T2 (f ) T1 (f ) (2.5.4)
T2 (C) −1
T1 (C)
αC

Sendo α uma transformação natural, o Diagrama (2.5.1) é comutativo. Ou seja, αC ◦


T1 (f ) = T2 (f ) ◦ αB . Compondo ambos os lados desta igualdade, à esquerda com
αC−1 e à direta com αB −1
, obtemos que αC−1 ◦ T2 (f ) = T1 (f ) ◦ αB
−1
. Isto prova que o
Diagrama (2.5.4) é comutativo para todo A ∈ C . Destarte α é invertı́vel e, portanto,
é um isomorfismo natural entre T1 e T2 . 

Exemplo 2.5.2 (Isomorfismo natural identidade). Sejam C uma categoria, T : C →


C um funtor e IdT : T → T a transformação natural identidade do Exemplo 2.5.2 que
associa a cada A ∈ C o morfismo identidade idT (A) . Graças à Proposição 2.5.1, IdT
é um isomorfismo natural de T a si mesmo. Este isomorfismo natural é chamado de
isomorfismo natural identidade. J

2.6 Isomorfismos, mergulhos e equivalências de categorias

Definição 2.6.1 (Isomorfismo de categorias). Sejam C e D categorias. Dizemos que C


e D são categorias isomorfas se existirem dois funtores T1 : C → D e T2 : D → C
de modo que T2 ◦T1 = IdC e que T1 ◦T2 = IdD . Caso C e D sejam categorias isomorfas
escrevemos C ' D e dizemos que T1 e T2 são isomorfismos de categorias inversos
entre si. I

Exemplo 2.6.1 (TopD ' U ). Sejam TopD a categoria dos espaços topológicos mu-
nidos da topologia discreta. Definimos o funtor T : U → TopD que associa a cada
conjunto X o espaço topológico (X, P(X)) e que a cada função f : X → Y em U
associa a mesma função em TopD pensada como aplicação contı́nua entre os espaços
(X, P(X)) e (Y, P(Y )). As categorias TopD e U são isomorfas pois o funtor cova-
riante esquecedor T −1 : TopD → U é o inverso do funtor T . J

Existe uma dicotomia que diferencia as categorias cuja classe de objetos são con-
juntos daquelas cuja classe de objetos são classes próprias. As primeiras são chamadas
de categorias pequenas e, as segundas, de categorias grandes.
Não podemos pensar em uma categoria cujos objetos sejam as categorias grandes
e cujos morfismos sejam os funtores entre elas pois a coleção de todas as categorias
grandes não é uma classe. Desta forma, com mais razão, não podemos falar na categoria
de todas as categorias. Entretanto, podemos tratar sobre a categoria de todas as

40
categorias pequenas. Ou seja, podemos considerar a categoria UC cujos objetos são as
categorias pequenas, cujos morfismos são os funtores entre estas e cuja lei de composição
de morfismos é a lei de composição de funtores previamente definida.

Proposição 2.6.1. Sejam UC a categoria das categorias pequenas e C , D ∈ UC .


Dizemos que C está relacionada com D se, e somente se, C ' D. Esta relação é uma
relação de equivalência na classe UC .

Demonstração. Precisamos verificar que a relação de isomorfismo de categorias peque-


nas seja reflexiva, simétrica e transitiva para que seja uma relação de equivalência na
classe UC . Sejam C , D, E ∈ UC .
(i) (Reflexividade) Considerando o funtor identidade IdC : C → C tem-se C ' C .

(ii) (Simetria) Se C ' D, então, por definição, existem funtores T1 : C → D e


T2 : D → C em UC de modo que T2 ◦ T1 = IdC e que T1 ◦ T2 = IdD . Novamente,
por definição, D ' C .

(iii) (Transitividade) Se C ' D e D ' E , então existem funtores T1 : C → D e


T2 : D → C tais que T2 ◦ T1 = IdC e que T1 ◦ T2 = IdD e funtores T3 : D → E
e T4 : E → D de sorte que T4 ◦ T3 = IdD e que T3 ◦ T4 = IdE . Os funtores
T3 ◦ T1 : C → E e T2 ◦ T4 : E → C são tais que

(T2 ◦ T4 ) ◦ (T3 ◦ T1 ) = T2 ◦ (T4 ◦ T3 ) ◦ T1 = T2 ◦ IdD ◦ T1


= T2 ◦ T1 = IdC .

e que

(T3 ◦ T1 ) ◦ (T2 ◦ T4 ) = T3 ◦ (T1 ◦ T2 ) ◦ T4 = T3 ◦ IdD ◦ T4


= T3 ◦ T4 = IdE .

Desta forma temos que C ' E . 

Definição 2.6.2 (Mergulho de categorias). Sejam C e D categorias e T : C → D um


funtor covariante. Dizemos que T é um mergulho de categorias se a função entre
objetos T : C → D for injetora e se a função entre morfismos T : HomC (A, B) →
HomD (T (A), T (B)) for injetora para todos A, B ∈ C . Ainda, se T : HomC (A, B) →
HomD (T (A), T (B)) for sobrejetora para todos A, B ∈ C , dizemos que T é um mer-
gulho cheio. Caso exista um mergulho de C em D escrevemos C ,→ D. I

Exemplo 2.6.2 (Gab ,→ Ml ). Consideramos a categoria Ml dos módulos à esquerda


definida da seguinte maneira:
• sendo R um anel comutativo e M um R-módulo à esquerda, os objetos de Ml
são os pares (M, R);

• sendo f : M1 → M2 um morfismo de grupos abelianos, ϕ : R1 → R2 um morfismo


de anéis e (M1 , R1 ), (M2 , R2 ) ∈ Ml , os morfismos de Ml são pares (f, ϕ) tais
que f (rm) = ϕ(r)f (m) para todo r ∈ R1 e para todo m ∈ M1 ;

41
• sendo (M1 , R1 ), (M2 , R2 ), (M3 , R3 ) ∈ Ml , a lei de composição de morfismos em
Ml é definida por

◦ : HomMl ((M1 , R1 ), (M2 , R2 )) × HomMl ((M2 , R2 ), (M3 , R3 ))

→ HomMl ((M1 , R1 ), (M3 , R3 )),


((f1 , ϕ1 ), (f2 , ϕ2 )) 7→ (f2 ◦ f1 , ϕ2 ◦ ϕ1 ).

Definimos então o funtor covariante T : Gab → Ml , G 7→ (G, Z), f 7→ (f, idZ ).


Este funtor é um mergulho cheio de categorias. De fato, é imediato que a função
entre objetos T : Gab → Ml é injetora e que, para todos A, B ∈ Gab , a função entre
morfismos T : HomGab (A, B) → HomMl (T (A), T (B)) é também injetora. Além disso,
como o único automorfismo de Z é a aplicação identidade idZ : Z → Z, a aplicação
T : HomGab (A, B) → HomMl (T (A), T (B)) é sobrejetora para todos A, B ∈ Gab . J

Exemplo 2.6.3 (Topn+ ,→ Topn+1 ). Definimos um funtor entre Topn+ e Topn+1 da


seguinte forma: o funtor age sobre os objetos considerando o ponto marcado como um
subespaço e age sobre os morfismos como a identidade. Isto é, o funtor é tal que

(X, A1 , · · · , An−1 , x0 ) 7→ (X, A1 , · · · , An−1 , {x0 })

e que o morfismo f : (X, A1 , · · · , An−1 , x0 ) → (Y, B1 , · · · , Bn−1 , y0 ) de Topn+ é aplicado


no morfismo f : (X, A1 , · · · , An−1 , {x0 }) → (Y, B1 , · · · , Bn−1 , {y0 }) de Topn+1 . O fato
de que este funtor seja injetor entre os objetos e entre os morfismos é imediato a partir
de sua definição. Já o fato de que seja sobrejetor sobre os morfismos dá-se porque a
condição f ({x0 }) ⊂ {y0 } ocorre se, e somente se, f (x0 ) = y0 . Portanto o funtor assim
definido é de fato um mergulho cheio entre as categorias Topn+ e Topn+1 . J

Exemplo 2.6.4 (Topn ,→ Topn+ ). Sendo X um espaço topológico, consideramos o


espaço topológico união disjunta X+ := X t {∞}, em que ∞ trata-se de uma com-
ponente conexa aberta e fechada em X. Definimos um funtor entre Topn e Topn+ da
seguinte forma: o funtor age sobre os objetos aplicando (X, A1 , · · · , An−1 ) ∈ Topn
em (X+ , (A1 )+ , · · · , (An−1 )+ , ∞) ∈ Topn+ e age sobre os morfismos aplicando f :
(X, A1 , · · · , An−1 ) → (Y, B1 , · · · , Bn−1 ) a sua extensão

f : (X+ , (A1 )+ , · · · , (An−1 )+ , ∞) → (Y+ , (B1 )+ , · · · , (Bn−1 )+ , ∞)

tal que f (∞) = ∞. O fato de que este funtor seja injetor entre os objetos e entre os
morfismos é imediato a partir de sua definição. Já o fato de que seja sobrejetor sobre
os morfismos dá-se porque a condição f (∞) = ∞ pode tanto ser acrescentada quanto
retirada de f sem que haja prejuı́zo à continuidade e às inclusões que este morfismo
deve verificar. Portanto o funtor assim definido é de fato um mergulho cheio entre as
categorias Topn e Topn+ . J

Observação 2.6.1. Através da composição dos mergulhos cheios dos Exemplos 2.6.3
e 2.6.4 fica definido um mergulho não-cheio Topn ,→ Topn+1 . Também existem ou-
tros mergulhos como Topn ,→ Topn+1 , (X, A1 , · · · , An−1 ) 7→ (X, A1 , · · · , An−1 , ∅) e
Topn+ ,→ Top(n+1)+ , (X, A1 , · · · , An−1 , x0 ) 7→ (X, A1 , · · · , An−1 , {x0 }, x0 ), que agem
como a identidade sobre os morfismos. J

42
Exemplo 2.6.5 (Top2 ,→ Hom(Top)). Seja ι : Top2 ,→ Hom(Top) o funtor covariante
que associa ao objeto (X, A) o objeto i : A ,→ X, sendo i a aplicação inclusão, e
que associa ao morfismo f : (X, A) → (Y, B) o morfismo (f, f |A ). Este funtor é
um mergulho cheio pois, se i : A ,→ X e j : B ,→ Y são inclusões, então, dado um
morfismo (f, g) : i → j, temos que g(a) = g ◦ i(a) = j ◦ f (a) = f (a) para todo a ∈ A.
Portanto g = f |A .
Mais geralmente temos o mergulho cheio ι : Topn ,→ Homn (Top) que associa ao
objeto (X, A1 , · · · , An−1 ) a sequência de inclusões An−1 ,→ · · · ,→ A1 ,→ X e que
associa ao morfismo f : (X, A1 , · · · , An−1 ) → (Y, B1 , · · · , Bn−1 ) o morfismo (f, f |A1
, · · · , f |An−1 ). J

Se C 0 é uma subcategoria de uma categoria C , então o funtor inclusão C 0 ,→ C


é um mergulho de categorias, o qual é cheio se, e somente se, C 0 é uma subcategoria
cheia de C .
Sejam C e D categorias e T : C → D um mergulho de categorias. Alguns fatos
imediatos são: (i) a imagem T (C ) do mergulho T é uma subcategoria de D isomorfa
a C , a qual é cheia se, e somente se, T é um mergulho cheio de categorias e (ii) um
funtor T é um isomorfismo de categorias se, e somente, for um mergulho cheio e a
função T : C → D entre objetos for também sobrejetora.

Definição 2.6.3 (Equivalência de categorias). Sejam C e D categorias. Dizemos


que C e D são categorias equivalentes se existirem dois funtores T1 : C → D e
T2 : D → C de modo que T2 ◦ T1 ' IdC e que T1 ◦ T2 ' IdD . Caso C e D sejam
categorias equivalentes escrevemos C ∼
= D e dizemos que T1 e T2 são equivalências
de categorias inversas entre si. I

Proposição 2.6.2. Sejam UC a categoria das categorias pequenas e C , D ∈ UC .


Dizemos que C está relacionada com D se, e somente se, C ∼
= D. Esta relação é uma
relação de equivalência na classe UC . 

Se duas categorias são isomorfas, então elas são equivalentes. De fato, se C e D


são categorias isomorfas, então existem dois funtores T1 : C → D e T2 : D → C de
modo que T2 ◦ T1 = IdC ' IdC e que T1 ◦ T2 = IdD ' IdD . A noção de equivalência
de categorias, entretanto, é bem mais útil do que a de isomorfismo de categorias pois
é bem mais comum a composição de dois funtores ser isomorfa à identidade do que
coincidir com esta.

Definição 2.6.4 (Funtores fiéis e cheios). Sejam C e D categorias e T : C → D


um funtor covariante. Dizemos que T é um funtor fiel se, para todos A, B ∈ C , a
função entre morfismos T : HomC (A, B) → HomD (T (A), T (B)) for injetora. Dize-
mos, também, que T é um funtor cheio se, para todos A, B ∈ C , a função entre
morfismos T : HomC (A, B) → HomD (T (A), T (B)) for sobrejetora. I

Um mergulho de categorias é um funtor fiel, por definição. Todavia um funtor ser


fiel ou cheio independe do fato de ser injetor ou sobrejetor entre os objetos.

43
Exemplo 2.6.6 (Funtor não-injetor fiel). Definimos o funtor covariante esquecedor
T : G → U em que G é a categoria dos grupos. Este funtor não é injetor entre os
objetos pois um mesmo conjunto pode admitir várias estruturas de grupo. Entretanto
T é um funtor fiel pois um morfismo de grupos é, em particular, uma função entre
conjuntos. J

Exemplo 2.6.7 (Funtor não-sobrejetor cheio). Seja V a categoria dos espaços vetorias
cujos objetos são os pares (V, K), onde K é um corpo e V é um K-espaço vetorial, e
cujos morfismos entre (V, K) e (V 0 , K0 ) são os pares (f, ϕ) em que ϕ : K → K0 é um
homomorfismo de corpos e f : V → V 0 é uma aplicação tal que f (λ1 v1 + λ2 v2 ) =
ϕ(λ1 )f (v1 ) + ϕ(λ2 )f (v2 ) para todos λ1 , λ2 ∈ K e para todos v1 , v2 ∈ V . Definimos
a composição dos pares (f1 , ϕ1 ) : (V1 , K1 ) → (V2 , K2 ) e (f2 , ϕ2 ) : (V2 , K2 ) → (V3 , K3 )
como sendo (f2 , ϕ2 ) ◦ (f1 , ϕ1 ) := (f2 ◦ f1 , ϕ2 ◦ ϕ1 ). Lembramos que Ru é a categoria
dos anéis unitários cujos morfismos são os homomorfismos de anéis que preservam as
unidades.
Definimos então o funtor covariante T : V → Ru que associa a cada par (V, K) o
anel unitário K e que a cada par (f, ϕ) associa o morfismo ϕ pensado como homomor-
fismo de anéis unitários. Este funtor é cheio pois, para todos (V, K), (V 0 , K0 ) ∈ V ,
todo morfismo ϕ : K → K0 de Ru é a imagem do morfismo ({0}, ϕ) de V . Entretanto
este funtor não é sobrejetor entre os objetos. J

Teorema 2.6.1. Sejam C e D categorias e T : C → D um funtor. Então T é uma


equivalência de categorias se, e somente se, T for um funtor fiel e cheio e, para todo
B ∈ D, existir A ∈ C de modo que B ' T (A).
Demonstração. (⇒) Sejam S : D → C uma equivalência de categorias inversa a T
e α : S ◦ T → IdC um isomorfismo de funtores. Temos que o Diagrama (2.6.1) é
comutativo para todos A, B ∈ C . Isto mostra que (S ◦ T )(f ) = αB
−1
◦ f ◦ αA . Portanto

S ◦ T : HomC (A, B) → HomC ((S ◦ T )(A), (S ◦ T )(B)),


−1
f 7→ αB ◦ f ◦ αA
é uma aplicação bijetora uma vez que αA e αB são isomorfismos. Destarte T :
HomC (A, B) → HomD (T (A), T (B)) é injetora e, pois, T é um funtor fiel.
αA

A T (A) (S ◦ T )(A)
f T (f ) (S◦T )(f ) (2.6.1)

B T (B) (S ◦ T )(B)

αB

Seja β : T ◦ S → IdD um isomorfismo de funtores. Temos analogamente que o Di-


agrama (2.6.2) é comutativo para todos A, B ∈ C . Isto mostra que (T ◦ S)(g) =
βT−1(B) ◦ g ◦ βT (A) . Portanto

T ◦ S : HomD (T (A), T (B)) → HomD ((T ◦ S ◦ T )(A), (T ◦ S ◦ T )(B)),

44
g 7→ βT−1(B) ◦ g ◦ βT (A)
é uma aplicação bijetora uma vez que βT (A) e βT (B) são isomorfismos. Destarte T :
HomC ((S ◦ T )(A), (S ◦ T )(B)) → HomD ((T ◦ S ◦ T )(A), (T ◦ S ◦ T )(B)) é sobre-
jetora. Graças à Proposição 2.1.2, os isomorfismos αA e αB induzem uma bijeção
entre HomC ((S ◦ T )(A), (S ◦ T )(B)) e HomC (A, B). Analogamente, os isomorfismos
βT (A) e βT (B) induzem uma bijeção entre HomD ((T ◦ S ◦ T )(A), (T ◦ S ◦ T )(B)) e
HomD (T (A), T (B)). Portanto T : HomC (A, B) → HomD (T (A), T (B)) é sobrejetora
e, pois, T é um funtor cheio.
βT (A)

T (A) (S ◦ T )(A) (T ◦ S ◦ T )(A)


g S(g) (T ◦S)(g) (2.6.2)

T (B) (S ◦ T )(B) (T ◦ S ◦ T )(B)

βT (B)

Enfim, para todo objeto B ∈ D fixado, definimos A := S(B). Destarte fica definido o
isomorfismo βB entre T (A) e B.
(⇐) Vamos mostrar que existe um funtor S : D → C de sorte que S ◦T ' IdC e que
T ◦ S ' IdD . Para cada B ∈ D, fixamos A ∈ C de modo que B ' T (A) e definimos
S(Y ) := A, fixando um isomorfismo ηA,B : T (A) → B. Dado um morfismo f : B → B 0
em D, sejam A = S(B) e A0 = S(B 0 ). Definimos ϕ := ηA−10 ,B 0 ◦ f ◦ ηA,B : T (A) → T (A0 ).
Dado que T é um funtor fiel e cheio, existe um único morfismo ξ : A → A0 tal que
T (ξ) = ϕ. Definimos então S(f ) := ξ. 

Sejam C e D categorias e T : C → D um funtor fiel e cheio. Se D 0 é a subcategoria


cheia de D formada pelos objetos B tais que existe A ∈ C de modo que B ' T (A),
então o Teorema 2.6.1 garante que T é uma equivalência entre as categorias C e D 0 .
Desta forma podemos dizer que um funtor fiel e cheio é um “mergulho a menos de
equivalência”.

Exemplo 2.6.8 (Equivalência que não é um isomorfismo entre categorias). Seja V¯fK
a subcategoria cheia de VfK cujos objetos são somente os espaços vetoriais Kn , para
todo n ∈ N. Segue imediatamente do Teorema 2.6.1 que o mergulho de V¯fK em VfK é
uma equivalência de categorias. Obviamente este mergulho não é um isomorfismo de
categorias dado que não é sobrejetor entre os objetos. J

2.7 Funtores representáveis

Definição 2.7.1 (Funtores covariantes e contravariantes representáveis). Sejam C uma


categoria, U a Categoria Universal, T : C → U um funtor covariante e S : C → U
um funtor contravariante. Dizemos que T é um funtor representável se existir
A ∈ C de modo que haja um isomorfismo natural α entre o funtor covariante homA

45
(vide Exemplo 2.4.3) e o funtor T . Dizemos também que S é um funtor repre-
sentável se existir B ∈ C de modo que haja um isomorfismo natural β entre o funtor
contravariante homB (vide Exemplo 2.4.7) e o funtor S. Os pares (A, α) e (B, β) são
ditos representações de T e de S, respectivamente. Além disso, T é dito representado
pelo objeto A e S é dito representado pelo objeto B. I

Exemplo 2.7.1 (Funtor contravariante representável). Sejam U a Categoria Univer-


sal e S : U → U o funtor contravariante que associa a cada conjunto X seu conjunto
das partes P(X) e que a cada função f : X → Y associa a função S(f ) : S(Y ) →
S(X), A 7→ f −1 (A). Seja B := {0, 1}. Afirmamos que a aplicação β que associa a
cada conjunto X a função βX : HomC (X, B) → S(X), g 7→ g −1 (1), é um isomorfismo
natural entre os funtores homB e S. Vejamos inicialmente que β é uma transformação
natural. Ou seja, vejamos que, para toda função f : X → Y , o Diagrama (2.7.1) é
comutativo.
βX
homB (X) S(X)
hf S(f ) (2.7.1)

homB (Y ) βY
S(Y )
De fato, para toda função f : X → Y , temos que
(S(f ) ◦ βY )(g) = S(f )(g −1 (1)) = f −1 (g −1 (1))
= (g ◦ f )−1 (1) = βX (g ◦ f )
= (βX ◦ hf )(g).
Uma vez que, para todo X ∈ U , βX é um isomorfismo em U , a Proposição 2.5.1
diz que β se trata de um isomorfismo natural. Destarte S é um funtor contravariante
representável e (B, β) é uma sua representação. J

Como na Definição 2.7.1, seja (A, α) uma representação de um funtor covariante


T : C → U . Denotamos por CT a categoria cujos objetos são os pares (C, s), em que
C é um objeto de C e s ∈ T (C). Um morfismo entre dois objetos (C1 , s1 ) e (C2 , s2 )
de CT é um morfismo f : C1 → C2 de C tal que T (f )(s1 ) = s2 . É imediato que f
é um isomorfismo em CT se, e somente se, f é um isomorfismo em C . Chamamos
de elemento universal do funtor T a um objeto universal (vide Definição 2.1.6) na
categoria CT .

Lema 2.7.1. Sejam C uma categoria, A ∈ C fixado e T : C → U um funtor


covariante. Se α : homA → T é uma transformação natural, então
αC (g) = T (g)(αA (idA ))
para todo C ∈ C e para todo g ∈ HomC (A, C).
Demonstração. Como α é uma transformação natural, temos que o Diagrama (2.7.2)
é comutativo para todo C ∈ C e todo g ∈ HomC (A, C).
αA
homA (A) T (A)

homA (g) T (g) (2.7.2)

homA (C) αC T (C)

46
Consequentemente,

αC (g) = αC (homA (g)(idA ))


= (αC ◦ homA (g))(idA ) = (T (g) ◦ αA )(idA )
= T (g)(αA (idA ))

para todo C ∈ C e todo g ∈ HomC (A, C). 

Lema 2.7.2. Sejam C uma categoria, A ∈ C fixado e T : C → U um funtor


covariante. Se u ∈ T (A) e, para todo C ∈ C , βC : HomC (A, C) → T (C), g 7→
T (g)(u), então β : homA → T é uma transformação natural tal que βA (idA ) = u.
Demonstração. Precisamos mostrar que, para todo morfismo h : B → C de C , o
Diagrama (2.7.3) é comutativo.

βB
homA (B) T (B)

homA (h) T (h) (2.7.3)

homA (C) βC
T (C)

Dado que para todo f ∈ HomC (A, B) temos que

(βC ◦ homA (h))(f ) = βC (h ◦ f ) = T (h ◦ f )(u) = (T (h) ◦ T (f ))(u)


= T (h)(T (f )(u)) = T (h)(βB (f ))
= (T (h) ◦ βB )(f ).

Desta forma, β é realmente uma transformação natural. Além disso

βA (idA ) = T (idA )(u) = idT (A) (u) = u,

como afirmado. 

Teorema 2.7.1. Sejam C uma categoria e T : C → U um funtor covariante. Existe


uma correspondência biunı́voca entre a classe de representações de T e a classe de
elementos universais de T .
Demonstração. Sejam Rep(T ) a classe das representações de T e E(T ) a classe dos
elementos universais de T . Temos que, para todo A ∈ C , αA (idA ) é um elemento de
T (A). Afirmamos que a aplicação ΦT : Rep(T ) → E(T ), (A, α) 7→ (A, αA (idA )), é uma
bijeção entre as classes Rep(T ) e E(T ).
Seja (A, α) ∈ Rep(T ). Suponhamos que (B, s) ∈ CT . Como αB : homA (B) →
T (B) é uma bijeção, s = αB (f ) para um único morfismo f : A → B de C . Graças
ao Lema 2.7.1, sabemos que T (f )(αA (idA )) = αB (f ) = s. Portanto, f é um mor-
fismo em CT entre (A, αA (idA )) e (B, s). Caso g seja outro morfismo entre estes dois
objetos de CT temos que g ∈ HomC (A, B) e que T (g)(αA (idA )) = s. Destarte,
novamente pelo Lema 2.7.1, αB (g) = T (g)(αA (idA )) = s = αB (f ). Sendo αB uma
bijeção, necessariamente f = g. Desta forma, f é o único morfismo de CT entre

47
(A, αA (idA )) e (B, s) e, pois, (A, αA (idA )) é um objeto universal em CT . Equivalente-
mente, (A, αA (idA )) ∈ E(T ).
Sejam (A, u) ∈ E(T ) e β : homA → T a transformação natural do Lema 2.7.2
que é tal que βC : HomC (A, C) → T (C), f 7→ T (f )(u), para todo C ∈ C . Se
s ∈ T (C), então (C, s) ∈ CT . Uma vez que (A, u) é um objeto universal em CT , existe
f ∈ HomC (A, C) de sorte que s = T (f )(u) = βC (f ). Portanto, βC é sobrejetiva. Se
βC (f1 ) = βC (f2 ), então T (f1 )(u) = βC (f1 ) = βC (f2 ) = T (f2 )(u). Ou seja, f1 e f2
são ambos morfismos em CT entre (A, u) e (C, T (f1 )(u)) = (C, T (f2 )(u)). Assim,
como (A, u) é um objeto universal em CT , necessariamente f1 = f2 . Destarte βC é
também injetiva e, pois, um isomorfismo na Categoria Universal. Desta forma β é um
isomorfismo natural e, portanto, (A, β) ∈ Rep(T ).
Definimos ΨT : E(T ) → Rep(T ), (A, u) 7→ (A, β), em que β é o isomorfismo natural
do parágrafo precedente. Para terminar a demonstração, basta ver que ΦT ◦ΨT = idE(T )
e que ΨT ◦ ΦT = idRep(T ) . Enfaticamente, sendo (A, u) ∈ E(T ), temos que
ΦT ◦ ΨT (A, u) = ΦT (A, β) = (A, βA (idA )).
Mas, pelo Lema 2.7.2, βA (idA ) = u. Também, sendo (B, α) ∈ Rep(T ), temos que
ΨT ◦ ΦT (B, α) = ΨT (B, αB (idB )) = (B, β),
em que β : homB → T é tal que, para todo C ∈ C , βC : HomC (A, C) → T (C),
f 7→ T (f )(αB (idB )). Mas, pelo Lema 2.7.1, T (f )(αB (idB )) = αC (f ). Logo βC = αC
para todo C ∈ C e, pois, α = β. 

Lembramos que se f : A1 → A2 é um morfismo numa categoria C , então a aplicação


hfidC : HomC (A2 , C) → HomC (A1 , C), ϕ 7→ idC ◦ ϕ ◦ f , foi definida e estudada em
detalhes no Exemplo 2.4.9.

Corolário 2.7.1. Sejam C uma categoria e T : C → U um funtor covariante. Se


(A, α) e (B, β) são representações de T , então existe um único isomorfismo f : A → B
em C de sorte que, para todo C ∈ C , seja comutativo o Diagrama (2.7.4).
βC
T (C) HomC (B, C)
αC (2.7.4)
f
hid
C
HomC (A, C)

Demonstração. Seja u := αA (idA ) e v := βB (idB ). Graças ao Teorema 2.7.1, temos que


(A, u) e (B, v) são elementos universais de T e, portanto, existe um único isomorfismo
f : A → B em C de modo que T (f )(u) = v. O Lema 2.7.1 implica que se C ∈ C e se
g ∈ HomC (B, C), então
(αC ◦ hfidC )(g) = αC (g ◦ f ) = T (g ◦ f )(u)
= (T (g) ◦ T (f ))(u) = T (g)(T (f )(u)) = T (g)(v)
= βC (g).
Portanto, o Diagrama (2.7.4) é comutativo para todo C ∈ C e para todo g ∈
HomC (B, C). Além disso, se f 0 : A → B é outro isomorfismo que torna o Dia-
grama (2.7.4) comutativo, então tomando C = B e g = idB temos que
0
T (f 0 )(u) = αB (f 0 ) = (αB ◦ hfidB )(idB ) = βB (idB ) = v.

48
Como f é o único isomorfismo entre A e B em C tal que T (f )(u) = v, segue que
f = f 0. 

Corolário 2.7.2 (Lema de Yoneda). Sejam C uma categoria, T : C → U um funtor


covariante e A ∈ C fixado. Existe uma correspondência biunı́voca entre o conjunto
T (A) e o conjunto N at(homA , T ) das transformações naturais do funtor covariante
homA ao funtor T . Esta bijeção é natural em A e em T .
Demonstração. Definimos ΦA : N at(homA , T ) → T (A), α 7→ αA (idA ) e ΨA : T (A) →
N at(homA , T ), u 7→ β, em que β : homA → T é a transformação natural do Lema 2.7.2
que é tal que βC : HomC (A, C) → T (C), f 7→ T (f )(u), para todo C ∈ C . Da mesma
forma que fizemos na demonstração do Teorema 2.7.1, verifica-se que ΦA ◦ ΨA = idT (A)
e que ΨA ◦ ΦA = idN at(homA ,T ) . Logo ΦA é uma bijeção entre o conjunto N at(homA , T )
e o conjunto T (A).
ΦA ΦA
N at(homA , T1 ) T1 (A) N at(homA , T1 ) T1 (A)
N ∗ (f ) T1 (f ) N∗ (α) αA (2.7.5)

N at(homB , T1 ) ΦB
T1 (B) N at(homA , T2 ) ΦA
T2 (A)

A afirmação sobre a naturalidade da bijeção ΦA significa que os Diagramas (2.7.5)


são comutativos. Aqui f : A → B é um morfismo de C , α : T1 → T2 é uma trans-
formação natural de funtores e N ∗ (f ) e N∗ (f ) são definidas a seguir. Para todo C ∈ C
e para todo β ∈ N at(homA , T1 ), N ∗ (f )(β)C : homB (C) = HomC (B, C) → T1 (C),
g 7→ βC (g ◦ f ), e N∗ (α) : N at(homA , T1 ) → N at(homA , T2 ), β 7→ α ◦ β. 

Sejam C e D categorias. Um funtor representável é um funtor T : C → U de uma


variável que, para algum A ∈ C , é naturalmente isomorfo ao funtor covariante homA
ou ao funtor contravariante homA . O Teorema 2.7.2 estabelece condições para que um
funtor T : C × D → U de duas variáveis seja naturalmente isomorfo ao funtor homD
(vide Exemplo 2.4.9).

Teorema 2.7.2. Sejam C e D categorias e T : C ×D → U um funtor, contravariante


na primeira variável e covariante na segunda, tal que, para todo C ∈ C , o funtor
covariante T (C, −) : D → U tenha uma representação (AC , αC ). Então existe um
único funtor covariante S : C → D de sorte que S(C) = AC e existe um isomorfismo
C
natural entre homD (S(−), −) e T dado por αD : homD (S(C), D) → T (C, D).
Demonstração. A função entre objetos S : C → D é definida como S(C) = AC
para todo C ∈ C . Já a função entre morfismos do funtor S é definida como a
seguir. Para cada C ∈ C , temos que αA C
C
: homD (AC , AC ) → T (C, AC ) e que
C
uC := αAC (idAC ) ∈ T (C, AC ). Graças ao Teorema 2.7.1, (AC , uC ) é um elemento
universal do funtor T (C, −). Se f : C → C 0 é um morfismo de C , tomamos v :=
T (f, idAC 0 )(uC 0 ) ∈ T (C, AC 0 ). Pela universalidade de (AC , uC ) em D, existe um único
morfismo f¯ : AC → AC 0 em D de sorte que

T (idC , f¯)(uC ) = v = T (f, idAC 0 )(uC 0 ).

Definimos S(f ) como sendo o morfismo f¯.

49
f g
Claramente S(idC ) = idAC = idS(C) . Se C → C 0 → C 00 são morfismos de C ,
então por definição S(g) é o único morfismo ḡ : AC 0 → AC 00 tal que T (idC 0 , ḡ)(uC 0 ) =
T (g, idAC 00 (uC 00 ). Similarmente, S(g ◦ f ) é o único morfismo h̄ : AC → AC 00 tal que
T (idC , h̄)(uC ) = T (g ◦ f, idAC 00 )(uC 00 ). Consequentemente S(g) ◦ S(f ) = ḡ ◦ f¯ é um
morfismo AC → AC 00 tal que

T (idC , ḡ ◦ f¯)(uC ) = (T (idC , ḡ) ◦ T (idC , f¯))(uC ) = T (idC , ḡ)T (idC , f¯)(uC )
= T (idC , ḡ)T (f, idAC 0 )(uC 0 ) = T (f, ḡ)(uC 0 )
= (T (f, idAC 00 ) ◦ T (idC 0 , ḡ))(uC 0 ) = T (f, idAC 00 )T (idC 0 , ḡ)(uC 0 )
= T (f, idAC 00 )T (g, idAC 00 )(uC 00 ) = T (g ◦ f, idAC 00 )(uC 00 )
= T (idC , h̄)(uC ).

Desta forma, pela universalidade de objetos universais em DT (C,−) , devemos ter

S(g) ◦ S(f ) = ḡ ◦ f¯ = h̄ = S(g ◦ f )

e, portanto, S : C → D é um funtor covariante.


A fim de mostrar que α : homD (S(−), −) → T é um isomorfismo natural, precisa-
mos verificar somente que, para todo morfismo f : C → C 0 de C e para todo morfismo
g : D → D0 de D, o Diagrama (2.7.6) é comutativo.
0
αC
homD (AC 0 , D) D
T (C 0 , D)
S(f )
hid T (f,idD )
D

homD (AC , D) T (C, D) (2.7.6)


αC
D
idA
hg C T (idC ,g)

homD (AC , D 0 ) T (C, D 0 )


αC
D0

O quadrado inferior do Diagrama (2.7.6) é comutativo porque, para cada C fi-


xado, por hipótese, αC : homD (AC , −) → T (C, −) é um isomorfismo natural. Ve-
jamos então a comutatividade do quadrado superior do Diagrama (2.7.6). Sendo
k ∈ homD (AC 0 , D), temos que
C 0
T (f, idD )αD (k) = T (f, idD )T (idC 0 , k)(uC 0 ) = T (f, k)(uC 0 )
= T (idC , k)T (f, idAC 0 )(uC 0 ) = T (idC , k)T (idC , f¯)(uC )
= T (idC , k ◦ f¯)(uC ) = T (idC , k ◦ S(f ))(uC )
C C S(f )
= αD 0 (k ◦ S(f )) = αD 0 hid (k),
D

graças ao Lema 2.7.1. 

2.8 Adjunção

Sejam C uma categoria e U a Categoria Universal. Lembramos aqui do Exem-


plo 2.4.9 onde definimos hfg : HomC (B, C) → HomC (A, D), ϕ 7→ g ◦ ϕ ◦ f , sendo
f : A → B e g : C → D morfismos de C , e onde definimos o funtor homC : C ×C → U ,

50
(A, B) 7→ HomC (A, B), (f, g) 7→ hfg . Este funtor é contravariante na primeira variável
e covariante na segunda.

Definição 2.8.1 (Funtores adjuntos). Sejam C e D categorias e S : C → D e T :


D → C funtores covariantes. Dizemos que S é adjunto à esquerda a T , ou ainda
que T é adjunto à direita a S, se existir um isomorfismo natural entre os funtores
homD (S(−), −) e homC (−, T (−)). Caso S seja adjunto à esquerda a T dizemos que
(S, T ) é um par adjunto. I

Com a notação da Definição 2.8.1, esclarecemos que o funtor de duas variáveis


homD (S(−), −) : C × D → U associa a cada (A, B) o conjunto homD (S(A), B) =
HomD (S(A), B) e que associa cada par de morfismos (f, g) à função homD (S(f ), g) =
S(f )
hg . Da mesma forma, homC (−, T (−)) : C × D → U , (A, B) 7→ homC (A, T (B)) =
HomC (A, T (B)), (f, g) 7→ homC (f, T (g)) = hfT (g) . Observamos, também, que ambos
homD (S(−), −) e homC (−, T (−)) são funtores contravariantes na primeira variável e
covariantes na segunda. Por fim, graças à Proposição 2.5.1, S é adjunto à esquerda
a T se, e somente se, para todo A ∈ C e para todo B ∈ D, existe uma bijeção
αA,B : HomD (S(A), B) → HomC (A, T (B)) que é natural em A e em B. Lembramos
aqui que esta bijeção ser natural em A e em B significa que o Diagrama (2.8.1) é
comutativo para todo morfismo (f, g) : (A, B) → (A0 , B 0 ).
αA,B
HomD (S(A), B) HomC (A, T (B))
S(f )
hg
f
hT (g) (2.8.1)

HomD (S(A0 ), B 0 ) αA0 ,B 0 HomC (A0 , T (B 0 ))

Exemplo 2.8.1 (O produto e o coproduto definem adjunções). Seja C uma categoria


com produto. Consideramos o funtor covariante S : C → C × C que associa a cada
objeto A ∈ C o par (A, A) ∈ C × C e que a cada morfismo f de C associa o
par de morfismos (f, f ). Temos que S é adjunto à esquerda ao funtor covariante
T : C × C → C que associa a cada objeto (A, B) ∈ C × C o objeto A × B ∈ C e que
a cada morfismo (f, g) : (A, B) → (A0 , B 0 ) associa o morfismo f × g : A × B → A0 × B 0 ,
definido na Subseção 2.2. Isto se dá porque um morfismo em C ×C com domı́nio A×A
e contradomı́nio B × C é equivalente a um par de morfismos f : A → B e g : A → C.
Portanto temos uma bijeção entre HomC ×C (S(A), (B, C)) e HomC (A, T (B, C)) que é
natural em A e em (B, C) para todo A ∈ C e para todo (B, C) ∈ C × C . Destarte
(S, T ) é um par adjunto.
Analogamente, sendo C uma categoria com coproduto, consideramos ` o funtor T 0 :
C × C → C que associa a cada objeto (A, B) ∈ C × C o objeto`A B ` ∈ C e
0 0
a cada morfismo (f, g) : (A, B) → (A , B ) associa o morfismo f g : A B →
0
` 0
A B , também definido na Subseção 2.2. Da mesma forma, S é adjunto à direita a
T porque, para todo (A, B) ∈ C × C e para todo C ∈ C , temos uma bijeção entre
0

HomC (T 0 (A, B), C) e HomC ×C ((A, B), S(C)) que é natural em (A, B) e em C. Por
conseguinte (T 0 , S) é um par adjunto. J

Exemplo 2.8.2 (Funtores adjuntos preservam (co)produto). Sejam C e D categorias


e sejam T : C → D e S : D → C funtores covariantes. Alegamos que se (S, T )

51
é um parQadjunto e se {Aj }j ∈ J ⊂ C , sendo J um conjunto Q de ı́ndices, é tal que o
produto ( j ∈ J Aj , {πj }j ∈ J ) está definido em C , então (T ( j ∈ J Aj ), {T (πjQ )}j ∈ J ) é um
produto
Q para a famı́lia {T (A )}
j j ∈J em D. Deste modo podemos escrever T ( j ∈ J Aj ) =
j ∈ J T (Aj ).
Precisamos mostrar que, para todo B ∈ D e para toda famı́lia de morfismos fj :
B → T (Aj ) de D, existe um único morfismo f : B → T ( j ∈ J Aj ) de sorte que
Q
T (πj ) ◦ f = fj para todo j ∈ J. Sendo que HomD (B, T (Aj )) é naturalmente bijetivo
a HomD (S(B), Aj ) para todo j ∈ J, temos que à famı́lia {fj }j ∈ J está associada
uma única famı́liaQfj0 : S(B) → Aj de C . Assim, fica definido um único morfismo
(fj0 )j ∈ J : S(B) → j ∈ J Aj de modo que Q πj ◦ (fj0 )j ∈ J = fj0 para todo j ∈ J. Logo existe
uma única aplicação (fj )j ∈ J : B → T ( j ∈ J Aj ) de forma que T (πj ) ◦ (fj0 )0j ∈ J = fj
0 0

para todo j ∈ J.
Analogamente, se (S, T ) é um par adjunto e se {Aj }j ∈ J ⊂ C , sendo J um con-
j , {ij }j ∈ J ) está definido em C , então
`
junto de ı́ndices, é tal que o coproduto ( j ∈J A
` para a famı́lia {T (Aj )}j ∈ J em D. Deste
`
(T ( j ∈ J Aj ), {T (ij )}j ∈ J ) ` é um coproduto
modo podemos escrever T ( j ∈ J Aj ) = j ∈ J T (Aj ). J

Observação 2.8.1. No Exemplo 2.8.2 a existência de um par adjunto (S, T ) entre


duas categorias C e D não assegura que estas admitam o mesmo tipo de produto e de
coproduto. Isto significa que uma das categorias pode ter mais produtos ou coprodutos
do que a outra. De fato, consideramos C = Gf a subcategoria cheia de G cujos objetos
são os grupos finitos e D = G a categoria dos grupos. Sejam T : C → D e S : D → C
os funtores que associam cada C ∈ C e cada D ∈ D ao grupo trivial e que associam
a cada f ∈ C e a cada g ∈ D o único morfismo do grupo trivial em si mesmo. É
fácil ver que (S, T ) é um par adjunto. Todavia Gf só admite produtos de quantidades
finitas de objetos ao passo que G admite produtos arbitrários. J

Proposição 2.8.1. Sejam C e D categorias e T : D → C um funtor covariante. Existe


um funtor adjunto à esquerda a T se, e somente se, o funtor homC (A, T (−)) : D → U
for representável para todo A ∈ C .
Demonstração. (⇒) Se S : C → D é um funtor covariante adjunto à esquerda
a T , então existe, para todo A ∈ C e para todo B ∈ D, uma bijeção αA,B :
homD (S(A), B) → homC (A, T (B)) que é natural em A e em B. Destarte, para cada
A ∈ C fixado, (S(A), αA,− ) é uma representação do funtor homC (A, T (−)).
(⇐) Reciprocamente, suponhamos que, para todo C ∈ C , o funtor homC (C, T (−))
seja representado pelo objeto AC ∈ D. Então pelo Teorema 2.7.2 temos que existe
um funtor covariante S : C → D tal que S(C) = AC e que existe um isomorfismo
natural entre os funtores homD (S(−), −) e homC (−, T (−)). Portanto (S, T ) é um par
adjunto. 

Teorema 2.8.1. Sejam C e D categorias e T : D → C um funtor covariante. Se


(S1 , T ) e (S2 , T ) são pares adjuntos, então os funtores covariantes S1 , S2 : C → D são
naturalmente isomorfos.
Demonstração. Se S1 : C → D e S2 : C → D são funtores adjuntos à esquerda
a T , então existem isomorfismos naturais α : homD (S1 (−), −) → homC (−, T (−)) e

52
β : homD (S2 (−), −) → homC (−, T (−)). Graças à Proposição 2.8.1, para todo objeto
C ∈ C , os objetos S1 (C) e S2 (C) de D representam o funtor homC (C, T (−)). Con-
sequentemente, para todo objeto C ∈ C , o Corolário 2.7.1 garante a existência de
um isomorfismo fC : S1 (C) → S2 (C). Então, precisamos somente verificar que fC é
natural em C; ou seja, para todo morfismo g : C → C 0 de C , precisamos mostrar que
o Diagrama (2.8.2) é comutativo.
fC
S1 (C) S2 (C)
S1 (g) S2 (g) (2.8.2)

S1 (C 0 ) fC 0
S2 (C 0 )

Para tanto é suficiente verificar que o Diagrama (2.8.3) é comutativo.


f 0
hidC
S2 (C 0 )
0 0
homD (S1 (C ), S2 (C )) homD (S2 (C 0 ), S2 (C 0 ))
S (g)
hid1
S (g)
hid2 (2.8.3)
S2 (C 0 ) S2 (C 0 )

homD (S1 (C), S2 (C 0 )) f


homD (S2 (C), S2 (C 0 ))
hidC
S2 (C 0 )

Isto se dá porque a imagem de idS2 (C 0 ) pelas composições do Diagrama (2.8.3) são
S2 (g) ◦ fC e fC 0 ◦ S1 (g). Enfaticamente, temos que
S (g)
(hfidCS 0
◦ hid2S 0
)(idS2 (C 0 ) ) = hfidCS 0
(idS2 (C 0 ) ◦ idS2 (C 0 ) ◦ S2 (g))
2 (C ) 2 (C ) 2 (C )

= hfidCS 0
(S2 (g)) = idS2 (C 0 ) ◦ S2 (g) ◦ fC
2 (C )

= S2 (g) ◦ fC

e que
S (g) f S (g)
(hid1S 0
◦ hidCS0 0
)(idS2 (C 0 ) ) = hid1S 0
(idS2 (C 0 ) ◦ idS2 (C 0 ) ◦ fC 0 )
2 (C ) 2 (C ) 2 (C )
S (g)
= hid1S 0
(fC 0 ) = idS2 (C 0 ) ◦ fC 0 ◦ S1 (g)
2 (C )

= fC 0 ◦ S1 (g).

Vejamos que o Diagrama 2.8.3 é o quadrado à esquerda do diagrama abaixo. Des-


tarte mostrando que este é um diagrama comutativo teremos mostrado que o Dia-
grama 2.8.3 também o é.
Os triângulos superior e inferior do diagrama acima são comutativos pelo Co-
rolário 2.7.1 e os quadrados à direita e à frente do mesmo também o são pois β e
α, respectivamente, são isomorfismos naturais. Desta forma precisamos somente veri-
ficar que o quadrado à esquerda é comutativo a fim de que este diagrama também o
seja. Temos que
S (g) f f
αC ◦ hid1S 0
◦ hidCS0 0
= hgidS 0
◦ αC 0 ◦ hidCS0 0
2 (C ) 2 (C ) 2 (C ) 2 (C )
S (g)
= hgidS 0
◦ βC 0 = βC ◦ hid2S 0
2 (C ) 2 (C )
S (g)
= αC ◦ hfidCS 0
◦ hid2S (C 0 ) .
2 (C ) 2

53
αC 0

f 0
hidC
S2 (C 0 ) βC 0
0 0
homD (S1 (C ), S2 (C )) homD (S2 (C 0 ), S2 (C 0 )) homC (C 0 , T S2 (C 0 ))

S (g) S (g) g
hid1 hid2 hid
S2 (C 0 ) S2 (C 0 ) S2 (C 0 )

homD (S1 (C), S2 (C 0 ))fC homD (S2 (C), S2 (C 0 )) βC


homC (C, T S2 (C 0 ))
hid
S2 (C 0 )

αC

S (g) f
Mas como αC = αC,S2 (C 0 ) é, por hipótese, injetor, segue que hid1S 0
◦ hidCS0 0
=
2 (C ) 2 (C )
S (g)
hfidCS 0
◦ hid2S 0
. Assim terminamos a prova. 
2 (C ) 2 (C )

2.9 Limite direto e limite inverso


Seja O a categoria dos conjuntos parcialmente ordenados cujos morfismos são as
aplicações entre conjuntos que respeitam a ordem. Isto é, se (A, ≤A ) e (B, ≤B ) são
conjuntos parcialmente ordenados, então uma aplicação f : A → B é um morfismo em
O se, e somente se, α ≤A β ⇒ f (α) ≤B f (β), α, β ∈ A.

Definição 2.9.1 (Conjunto direto). Seja (Λ, ≤) ∈ O. Dizemos que (Λ, ≤) é um


conjunto direto se, para todos α, β ∈ Λ, existir γ ∈ Λ de modo que α ≤ γ e que
β ≤ γ. I

Seja (A, ≤) ∈ O. Dizemos que α ∈ A é um elemento isolado em A se ele só


for comparável consigo mesmo. Todo conjunto unitário, equipado com a única ordem
que lhe é possı́vel, tem um elemento isolado e é um conjunto direto. Além disso, todo
conjunto totalmente ordenado com pelo menos dois elementos não possui elemento iso-
lado e é um conjunto direto. Pode-se mostrar que se A é um conjunto direto, então
não existe nenhum seu elemento isolado. A recı́proca desta afirmação não é necessari-
amente verdadeira.

Definição 2.9.2 (Sistema direto). Seja C uma categoria. Dizemos que uma tripla

(Λ, ≤), {Aα }, {ιαβ }
é um sistema direto em C , sendo (Λ, ≤) ∈ O um conjunto direto, {Aα }α ∈ Λ ⊂ C
uma coleção de objetos e {ιαβ } uma coleção de morfismos ιαβ : Aα → Aβ , com α, β ∈
Λ e α ≤ β, de sorte que ιαα = idAα para todo α ∈ Λ, e que ιαγ = ιβγ ◦ ιαβ para todos
α, β, γ ∈ Λ com α ≤ β ≤ γ. I

Definição 2.9.3 (Limite direto). Sejam C uma categoria e (Λ, ≤), {Aα }, {ιαβ } um


sistema direto em C . Dizemos que um objeto limAα ∈ C é um limite direto deste


−→
sistema se existir uma famı́lia de morfismos {ια : Aα → limAα }α ∈ Λ tal que
−→

54
1. para todos α, β ∈ Λ com α ≤ β, o Diagrama (2.9.1) é comutativo;


ια
ιαβ (2.9.1)

Aβ ιβ limAα
−→

2. para todo Y ∈ C e para toda famı́lia de morfismos {ϕα : Aα → Y }α ∈ Λ de sorte


que o Diagrama (2.9.2) é comutativo para α, β ∈ Λ com α ≤ β, existe um único
morfismo ϕ : limAα → Y em C tal que o Diagrama (2.9.3) é comutativo para
−→
todo α ∈ Λ.

ϕα
ιαβ (2.9.2)

Aβ ϕβ Y

ια
Aα limAα
−→

ϕ
(2.9.3)
ϕα

Y
I

Pode-se mostrar que limites diretos são únicos a menos de um único isomorfismo.
Por termos feito demonstrações neste sentido antes, não a fazemos aqui. Por conta
disso, falamos doravante sobre o limite direto de um sistema direto.

Teorema 2.9.1. Sejam U a Categoria Universal e (Λ, ≤), {Aα }, {ιαβ } um sistema


direto em U . Sendo α, β ∈ Λ, x ∈ Aα e y ∈ Aβ , dizemos que x ∼ y se, e somente se,


existeGγ ∈ Λ de modo que ιαγ (x) = ιβγ (y).G
Esta relação é uma relação de equivalência
em Aα . Além disso, o quociente de Aα por esta relação de equivalência é o
α∈A α∈A
limite direto para o sistema direto inicial. 

Definição 2.9.4 (Sistema inverso). Seja C uma categoria. Dizemos que uma tripla

(Λ, ≤), {Aα }, {πβα }

é um sistema inverso em C , sendo (Λ, ≤) ∈ O um conjunto direto, {Aα }α ∈ Λ ⊂ C


uma coleção de objetos e {πβα } uma coleção de morfismos πβα : Aβ → Aα , com
α, β ∈ Λ e α ≤ β, de sorte que παα = idAα para todo α ∈ Λ, e que πγα = πβα ◦ πγβ
para todos α, β, γ ∈ Λ com α ≤ β ≤ γ. I

55
Definição 2.9.5 (Limite inverso). Sejam C uma categoria e (Λ, ≤), {Aα }, {πβα }


um sistema inverso em C . Dizemos que um objeto limAα ∈ C é um limite inverso


←−
deste sistema se existir uma famı́lia de morfismos {πα : limAα → Aα }α ∈ Λ tal que
←−

1. para todos α, β ∈ Λ com α ≤ β, o Diagrama (2.9.4) é comutativo;

limAα
←−

πβα
πα (2.9.4)

Aβ πβ Aα

2. para todo Y ∈ C e para toda famı́lia de morfismos {ϕα : Y → Aα }α ∈ Λ de sorte


que o Diagrama (2.9.5) é comutativo para α, β ∈ Λ com α ≤ β, existe um único
morfismo ϕ : Y → limAα em C tal que o Diagrama (2.9.6) é comutativo para
←−
todo α ∈ Λ.
Y
ϕα
ϕβ (2.9.5)

Aβ πβα Aα

ϕ
Y limAα
←−

ϕα πα
(2.9.6)

Como antes, pode-se mostrar também que limites inversos são únicos a menos de
um único isomorfismo. Por conta disso, falamos doravante sobre o limite inverso de
um sistema inverso.

Teorema 2.9.2. Sejam U a Categoria Universal e (Λ, ≤), {Aα }, {πβα } um sistema

Y
inverso em U . Então limAα é o conjunto dos (xα )α ∈ Λ ∈ Aα tais que πβα (xβ ) =
←−
α∈Λ
xα para todos α, β ∈ Λ com α ≤ β. 

56
3 Álgebra Homológica

Antes de estudar a Homologia Singular, vamos introduzir as ferramentas de Álgebra


Homológica das quais precisaremos. Apresentamos esses tópicos de maneira puramente
algébrica para que possamos discutir, no próximo capı́tulo, as noções de Homologia
Singular nos concentrando apenas em seus significados topológicos. Fazemos uso aqui e
no próximo capı́tulo da linguagem categorial apresentada anteriormente. As referências
usadas para este estudo são as notas de aula do orientador e [SPANIER].

3.1 Grupos de homologia

Definição 3.1.1 (Grupo diferencial). Sejam C um grupo abeliano e ∂C um seu endo-


morfismo tal que ∂C ◦ ∂C = 0. Dizemos que o par (C, ∂C ) é um grupo diferencial.
O endomorfismo ∂C é chamado de diferencial ou operador bordo. I

Quando o operador bordo de um grupo diferencial (C, ∂C ) estiver subentendido


dizemos simplesmente que C é um grupo diferencial.
Definimos G∂ como sendo a categoria dos grupos diferenciais cujos morfismos são
homomorfismos de grupos abelianos que comutam com os operadores bordo. Mais
formalmente, um homomorfismo de grupos abelianos ϕ : C1 → C2 é um morfismo de
G∂ entre os grupos diferenciais (C1 , ∂C1 ) e (C2 , ∂C2 ) se o Diagrama (3.1.1) é comutativo.

∂C1
C1 C1
ϕ ϕ (3.1.1)

C2 ∂C2
C2

Definição 3.1.2 (Ciclos e bordos). Seja (C, ∂C ) ∈ G∂ . Dizemos que Z(C) := Ker(∂C )
é o subgrupo dos ciclos de C e que B(C) := Im(∂C ) é o subgrupo dos bordos de
C. I

Observação 3.1.1. Se (C, ∂C ) ∈ G∂ , então B(C) ⊂ Z(C). De fato, se b ∈ B(C),


então existe c ∈ C de modo que ∂C (c) = b. Daı́, ∂C (b) = ∂C (∂C (c)) = (∂C ◦∂C )(c) = 0.
Destarte b ∈ Z(C) e, pois, B(C) ⊂ Z(C). J

Definição 3.1.3 (Grupo de homologia). Seja (C, ∂C ) ∈ G∂ . Definimos o grupo de


homologia H(C) como sendo

H(C) := Z(C)B(C).

Os elementos de H(C) são chamados de classes de homologia. Denotamos a classe


de homologia de z ∈ Z(C) por [z]. Dizemos que z1 , z2 ∈ Z(C) são ciclos homólogos
se [z1 ] = [z2 ], isto é, se z1 − z2 ∈ B(C). I

58
Exemplo 3.1.1 (Grupos de homologia). Seja C um grupo abeliano.

• O endomorfismo nulo faz com que C seja um grupo diferencial. Neste caso,
Z(C) = C e B(C) = {0}. Portanto H(C) ∼
= C.
• Se A é um subgrupo de C e f : A → C é um homomorfismo de grupos abelianos,
então
f
∂A⊕C : A ⊕ C → A ⊕ C,
(a, c) 7→ (0, f (a)),
f
faz com que (A ⊕ C, ∂A⊕C ) seja um grupo diferencial. Neste caso, Z(A ⊕ C) =
Ker(f ) ⊕ C e B(A ⊕ C) = {0} ⊕ Im(f ). Portanto H(A ⊕ C) ∼ = Ker(f ) ⊕
Coker(f ). J

Observação 3.1.2. Sejam C1 , C2 ∈ G∂ e ϕ ∈ HomG∂ (C1 , C2 ). Então

• ϕ(Z(C1 )) ⊂ Z(C2 ). De fato, se z ∈ Z(C1 ), então ∂C2 (ϕ(z)) = (∂C2 ◦ ϕ)(z) =


(ϕ ◦ ∂C1 )(z) = ϕ(∂C1 (z)) = ϕ(0) = 0. Daı́ ϕ(z) ∈ Z(C2 );

• ϕ(B(C1 )) ⊂ B(C2 ). De fato, se b ∈ B(C1 ), então existe c ∈ C1 de modo que


∂C1 (c) = b e, portanto, ϕ(b) = ϕ(∂C1 (c)) = (ϕ◦∂C1 )(c) = (∂C2 ◦ϕ)(c) = ∂C2 (ϕ(c)).
Daı́ ϕ(b) ∈ B(C2 ).

Ou seja, um morfismo de grupos diferenciais ϕ : C1 → C2 aplica ciclos de C1 em ciclos


de C2 e aplica bordos de C1 em bordos de C2 . J

Definição 3.1.4 (Homomorfismo induzido em homologia). Sejam C1 , C2 ∈ G∂ e ϕ ∈


HomG∂ (C1 , C2 ). Dizemos que ϕ∗ : H(C1 ) → H(C2 ), [z] 7→ [ϕ(z)], é o homomorfismo
induzido por ϕ em homologia. I

O conteúdo da Observação 3.1.2 garante que o homomorfismo induzido em homo-


logia da Definição 3.1.4 está sempre bem definido.

Observação 3.1.3. Sejam C1 , C2 e C3 grupos diferenciais, ϕ1 ∈ HomG∂ (C1 , C2 ) e


ϕ2 ∈ HomG∂ (C2 , C3 ). Então (ϕ2 ◦ϕ1 )∗ = (ϕ2 )∗ ◦(ϕ1 )∗ . De fato, para todo [z] ∈ H(C1 ),
(ϕ2 ◦ ϕ1 )∗ ([z]) = [(ϕ2 ◦ ϕ1 )([z])] = [ϕ2 (ϕ1 ([z]))] = (ϕ2 )∗ ([ϕ1 ([z])]) = (ϕ2 )∗ ((ϕ1 )∗ ([z])) =
((ϕ2 )∗ ◦ (ϕ1 )∗ )([z]). J

Devido à Observação 3.1.3 o funtor covariante homologia H : G∂ → Gab que associa


a cada grupo diferencial seu grupo de homologia e que associa a cada morfismo de
grupos diferenciais seu homomorfismo induzido em homologia fica bem definido.

59
3.2 Grupos graduados diferenciais
Definição 3.2.1 (Grupo graduado). Dizemos que C = {Cj }j ∈ Z ⊂ Gab é um grupo
graduado. Dizemos que os elementos de Cj têm grau j. Sejam C e C 0 grupos
graduados e r ∈ Z; um homomorfismo de grau r entre C e C 0 consiste de uma
0
coleção ϕ = {ϕj : Cj → Cj+r }j ∈ Z de homomorfismos de Gab . I

Definimos GZ como sendo a categoria dos grupos graduados cujos morfismos são os
homomorfismos de grupos graduados de graus quaisquer. A composição de morfismos
é definida como ◦ : HomGZ (C, C 0 ) × HomGZ (C 0 , C 00 ) → HomGZ (C, C 00 ), ({ϕj : Cj →
0
Cj+r }
1 j ∈Z
00
, {ψj : Cj0 → Cj+r }
2 j ∈Z
00
) 7→ {ψj+r1 ◦ ϕj : Cj → Cj+r }
1 +r2 j ∈ Z
, para todos
C, C 0 , C 00 ∈ GZ . Além disso, a soma em HomGZ (C, C 0 ) torna este conjunto de mor-
fismos um grupo abeliano para todos C, C 0 ∈ GZ . O fato de o grau da composição
ser a soma dos graus das componentes garante que a subcategoria não-cheia GZ0 de GZ
cujos objetos são os mesmos de GZ e cujos morfismos são os homomorfismos de grupos
graduados de grau zero está bem definida.

Definição 3.2.2 (Grupo graduado diferencial). Sejam C = {Cj }j ∈ Z um grupo gra-


duado, r ∈ Z e ∂C : C → C um homomorfismo de grau r tal que ∂C ◦ ∂C = 0.
Dizemos que (C, ∂C ) é um grupo graduado diferencial. Dizemos também que ∂C
é um operador bordo de grau r. I

Escrevendo ∂C = {∂j : Cj → Cj+r }j ∈ Z , podemos entender o operador bordo de


grau r como no esquema a seguir. Vemos que a condição ∂C ◦ ∂C = 0 equivale a
∂j+r ◦ ∂j = 0 para todo j ∈ Z.

∂j−r−1 ∂j−r ∂j−r+1 ∂j+r−1 ∂j+r ∂j+r+1

··· Cj−1 Cj Cj+1 ··· Cj+r−1 Cj+r Cj+r+1 ···

∂j−1 ∂j ∂j+1

Acima descrevemos um grupo graduado diferencial a partir de um grupo diferencial.


Podemos também fazer o contrário. Ou seja, sendo C = {Cj }j ∈ Z um
Mgrupo graduado,
r ∈ Z e ∂C : C → C um operador bordo de grau r, temos que Cj é um grupo
j ∈Z
diferencial. O operador bordo nesta soma direta age como no diagrama acima e, por
isso, a composição dele consigo mesmo é nula.

3.3 Complexos de cadeias


Definição 3.3.1 (Complexo de cadeias). Um grupo graduado diferencial (C, ∂C ) cujo
operador bordo tem grau −1 é dito um complexo de cadeias. Seja C = {Cj }j ∈ Z .
Chamamos os elementos de Cj de j-cadeias do complexo. Dizemos que (C, ∂C ) é
um complexo não-negativo se Cj = {0} para todo j < 0. Dizemos também que
(C, ∂C ) é um complexo de cadeias livre se Cj é um grupo abeliano livre para todo
j ∈ Z. I

60
Sendo (C, ∂C ) um complexo de cadeias e escrevendo ∂C = {∂j : Cj → Cj−1 }j ∈ Z ,
podemos entender o operador bordo de um complexo de cadeias como no esquema a
seguir. Insistimos aqui que a condição ∂C ◦ ∂C = 0 equivale a ∂j−1 ◦ ∂j = 0 para todo
j ∈ Z.
··· ∂j−1
Cj−1 ∂j
Cj ∂j+1
Cj+1 ∂j+2
···

Seja (C, ∂C ) um complexo de cadeias. O subgrupo de ciclos Z(C) do complexo é o


grupo graduado {Zj (C) = Ker(∂j )}j ∈ Z e o subgrupo dos bordos B(C) do complexo é
o grupo graduado {Bj (C) = Im(∂j+1 )}j ∈ Z . Além disso, o grupo de homologia H(C)
é o grupo graduado {Hj (C) = Zj (C)B (C)}j ∈ Z .
j

Definição 3.3.2 (Transformações de cadeias). Sejam (C, ∂C ) e (C 0 , ∂C 0 ) complexos


de cadeias e ϕ : C → C 0 um homomorfismo de grau zero. Dizemos que ϕ é uma
transformação de cadeias ou morfismo de cadeias se o Diagrama (3.3.1) é
comutativo.
∂j−1 ∂j ∂j+1 ∂j+2
··· Cj−1 Cj Cj+1 ···

ϕj−1 ϕj ϕj+1 (3.3.1)

0
··· 0
Cj−1 Cj0 0
Cj+1 ···
∂j−1 ∂j0 0
∂j+1 0
∂j+2

Definição 3.3.3 (Subcomplexo, complexo quociente e transformação projeção). Seja


(C, ∂C ) um complexo de cadeias. Dizemos que (C 0 , ∂C 0 ) é um subcomplexo de (C, ∂C ),
e denotamos (C 0 , ∂C 0 ) ⊂ (C, ∂C ), se Cj0 ⊂ Cj e ∂j0 = ∂j |Cj0 para todo j ∈ Z. Sejam
C 0 := {Cj 0 }j ∈ Z e ∂C := {∂˜j : CjC 0 → Cj−1C 0 }j ∈ Z , em que cada ∂˜j é o
C Cj C 0 j j−1
operador bordo obtido pela passagem de ∂j ao quociente. Dizemos que (CC 0 , ∂C 0 ) é
C
C
um complexo de cadeias quociente. A coleção de projeções {πj : Cj → C 0 }j ∈ Z
j
j
é a transformação projeção π : C → C 0 .C I

Como a composição de duas transformações de cadeias é também uma trans-


formação de cadeias, fica bem definida a categoria AbC cujos objetos são os complexos
de cadeias e cujos morfismos são as transformações de cadeias. Esta categoria dos
complexos de cadeia admite produtos e coprodutos de coleções arbitrárias de objetos.
Sejam KQ um conjunto de ı́ndices `e {C k }k ∈ K uma famı́lia de complexos de cadeias. O
produto k ∈ K C k e o coproduto k ∈ K C k são tais que
! !
Y Y a M
Ck = Cjk e que Ck = Cjk
k∈K j k∈K k∈K j k∈K

para todo j ∈ Z. Portanto, para todo j ∈ Z, temos que


! !
Y Y a M
Zj Ck = Zj (C k ), Zj Ck = Zj (C k ),
k∈K k∈K k∈K k∈K

61
! !
Y Y a M
Bj Ck = Bj (C k ) e Bj Ck = Bj (C k ).
k∈K k∈K k∈K k∈K
Destarte, temos que
! !
Y Y a M
H Ck = H(C k ) e H Ck = H(C k ).
k∈K k∈K k∈K k∈K

Seja agora ϕ : C → C 0 uma transformação de cadeias entre os complexos de cadeia


C e C 0 . O homomorfismo induzido por ϕ em homologia, ϕ∗ : H(C) → H(C 0 ), é o
homomorfismo de grau zero tal que
(ϕ∗ )j ([z]) = [ϕj (z)]
para todo z ∈ Zj (C) e para todo j ∈ Z. Portanto, o funtor covariante homologia
H : AbC → GZ0 que associa a cada complexo de cadeias seu grupo de homologia e que
associa a cada morfismo de cadeias seu homomorfismo induzido em homologia fica bem
definido.
No Teorema 3.3.1 vemos que o funtor homologia H : AbC → GZ0 comuta com limites
diretos. Esta afirmação não é verdadeira se considerarmos limites inversos. Lembramos
que sistemas e limites diretos, bem como sistemas e limites inversos, foram definidos
na Seção 2.9.

Teorema 3.3.1. Seja ((Λ, ≤), {Aα }, {ιαβ }) um sistema direto em AbC cujo limite
direto é limAα . Se H : AbC → GZ0 é o funtor covariante homologia, então temos que
−→
((Λ, ≤), H(Aα ), {(ιαβ )∗ }) é um sistema direto em GZ0 e que H limAα = lim H(Aα ).

−→ −→

Demonstração. Para todos α ∈ Λ, j ∈ Z e z ∈ Zj (Aα ), temos que



(ιαα )∗ j ([z]) = [(ιαα )j (z)] = [(idAα )j (z)] = [z].
Ou seja, (ιαα )∗ = idH(Aα ) para todo α ∈ Λ. Além disso, para todos α, β, γ ∈ Λ com
α ≤ β ≤ γ e para todos j ∈ Z e z ∈ Zj (Aα ), temos que

(ιαγ )∗ j ([z]) = [(ιαγ )j (z)] = [(ιβγ ◦ ιαβ )j (z)]
   
= (ιβγ )∗ j ([(ιαβ )j (z)]) = (ιβγ )∗ j (ιαβ )∗ j ([z])

= (ιβγ )∗ ◦ (ιαβ )∗ j ([z]).
Ou seja, (ιαγ )∗ = (ιβγ )∗ ◦ (ιαβ )∗ para todos α, β, γ ∈ Λ com α ≤ β ≤ γ. Logo, a
tripla ((Λ, ≤), H(Aα ), {(ιαβ )∗ })é realmente um sistema direto em GZ0 . É suficiente
então verificarmos que H limAα é um limite direto para este sistema direto. De fato,
−→
como limAα é um limite direto para o sistema direto ((Λ, ≤), {Aα }, {ιαβ }), existe uma
−→
famı́lia de morfismos {ια : Aα → limAα }α ∈ Λ de AbC tal que, para todos α, β ∈ Λ com
−→
α ≤ β, o Diagrama (3.3.2) é comutativo.

ια
ιαβ (3.3.2)

Aβ ιβ limAα
−→

62
Considerando agora a famı́lia de morfismos {(ια )∗ : H(Aα ) → H(limAα )}α ∈ Λ de GZ0 , é
−→
imediato verificar que o Diagrama (3.3.3) é comutativo.

H(Aα )
(ια )∗
(ιαβ )∗ (3.3.3)

H(Aβ ) (ιβ )∗
H(limAα )
−→

Vê-se então que, para todo Y ∈ GZ0 e para toda famı́lia de morfismos {ϕα : H(Aα ) →
Y }α ∈ Λ de GZ0 tal que o Diagrama (3.3.4) é comutativo para α, β ∈ Λ com α ≤ β,
existe um único morfismo ϕ : H(limAα ) → Y em GZ0 de sorte que o Diagrama (3.3.5)
−→
é comutativo para todo α ∈ Λ.

H(Aα )
ϕα (3.3.4)
(ιαβ )∗

H(Aβ ) ϕβ Y

(ια )∗
H(Aα ) H(limAα )
−→

ϕ
(3.3.5)
ϕα

Y


3.4 Homotopia de cadeias


Definição 3.4.1 (Homotopia de cadeias). Sejam (C, ∂C ) e (C 0 , ∂C 0 ) complexos de ca-
deias e ϕ, ϕ0 : C → C 0 transformações de cadeias. Dizemos que um homomorfismo
0
D = {Dj : Cj → Cj+1 }j ∈ Z tal que, para todo j ∈ Z,
0
∂j+1 ◦ Dj + Dj−1 ◦ ∂j = ϕj − ϕ0j ,
é uma homotopia de cadeias entre ϕ e ϕ0 . Dizemos que ϕ é homotópica a ϕ0 , e
escrevemos ϕ ' ϕ0 , se existir uma homotopia de cadeias entre duas transformações de
cadeias. I

Teorema 3.4.1 (Invariância por homotopia). Sejam (C, ∂C ) e (C 0 , ∂C 0 ) complexos de


cadeias. Se ϕ, ϕ0 : C → C 0 são transformações de cadeias homotópicas, então ϕ∗ =
ϕ0∗ : H(C) → H(C 0 ).
Demonstração. Seja D uma homotopia de cadeias entre as transformações de cadeias ϕ
e ϕ0 . Para todo j ∈ Z e para todo z ∈ Zj (C), temos que ∂j+1
0 0
(Dj (z)) = ∂j+1 (Dj (z)) +
0 0 0
0 = ∂j+1 (Dj (z)) + Dj−1 (∂j (z)) = (∂j+1 ◦ Dj + Dj−1 ◦ ∂j )(z) = ϕj (z) − ϕj (z). Logo
ϕj (z) − ϕ0j (z) ∈ Bj (C 0 ) para todo j ∈ Z e para todo z ∈ Zj (C). Portanto, ϕ∗ [z] =
ϕ0∗ [z] para todo z ∈ H(C). 

63
Proposição 3.4.1. Sejam (C, ∂C ) e (C 0 , ∂C 0 ) complexos de cadeias. Dizemos que duas
transformações de cadeias ϕ, ϕ0 : C → C 0 estão relacionadas se, e somente se, ϕ ' ϕ0 .
Esta relação é uma relação de equivalência no conjunto HomAbC (C, C 0 ). Denotamos a
classe de equivalência de uma transformação de cadeias ϕ : C → C 0 por [ϕ].

Demonstração. É preciso verificar que a relação de homotopia de cadeias seja refle-


xiva, simétrica e transitiva para que seja uma relação de equivalência no conjunto
HomAbC (C, C 0 ).

(i) (Reflexividade) Seja ϕ : C → C 0 uma transformação de cadeias. Definindo


0
Dj : Cj → Cj+1 como sendo o homomorfismo trivial para todo j ∈ Z, temos que
0
∂j+1 ◦ Dj + Dj−1 ◦ ∂j = 0 = ϕj − ϕj .

(ii) (Simetria) Sejam ϕ, ϕ0 : C → C 0 transformações de cadeias homotópicas. Seja


D uma homotopia de cadeias entre ϕ e ϕ0 . Temos que −D é uma homotopia de
cadeias entre ϕ0 e ϕ. De fato, ∂j+1
0
◦ (−D)j + (−D)j−1 ◦ ∂j = ∂j+1 0
◦ (−Dj ) +
0 0 0
(−Dj−1 ) ◦ ∂j = −(∂j+1 ◦ Dj + Dj−1 ◦ ∂j ) = −(ϕj − ϕj ) = ϕj − ϕj .

(iii) (Transitividade) Sejam ϕ, ϕ0 , ϕ00 : C → C 0 transformações de cadeias tais que


ϕ ' ϕ0 e que ϕ0 ' ϕ00 . Seja D uma homotopia de cadeias entre ϕ e ϕ0 , e
seja D0 uma homotopia de cadeias entre ϕ0 e ϕ00 . Temos que D + D0 é uma
homotopia de cadeias entre ϕ e ϕ00 . De fato, ∂j+1
0
◦ (D + D0 )j + (D + D0 )j−1 ◦ ∂j =
0 0 0 0 0
∂j+1 ◦(Dj +Dj )+(Dj−1 +Dj−1 )◦∂j = (∂j+1 ◦Dj +Dj−1 ◦∂j )+(∂j+1 ◦Dj0 +Dj−1
0
◦∂j ) =
(ϕ0j − ϕj ) + (ϕ00j − ϕ0j ) = ϕ00j − ϕ0j . 

Proposição 3.4.2. Sejam (C, ∂C ), (C 0 , ∂C 0 ) e (C 00 , ∂C 00 ) complexos de cadeias. Se


ϕ, ϕ0 : C → C 0 e ϕ̃, ϕ̃0 : C 0 → C 00 são transformações de cadeias tais que ϕ ' ϕ0 e que
ϕ̃ ' ϕ̃0 , então ϕ̃ ◦ ϕ ' ϕ̃0 ◦ ϕ0 .
Demonstração. Sendo D uma homotopia de cadeias entre ϕ e ϕ0 e sendo D̃ uma ho-
motopia de cadeias entre ϕ̃ e ϕ̃0 , temos que ϕ̃ ◦ D + D̃ ◦ ϕ0 é uma homotopia de cadeias
entre ϕ̃ ◦ ϕ e ϕ̃0 ◦ ϕ0 . Vide Diagrama (3.4.2).
∂j ∂j+1
Cj−1 Cj Cj+1

ϕj−1 ϕ0j−1 Dj−1 ϕj ϕ0j Dj ϕj+1 ϕ0j+1

0
Cj−1 ∂j0 Cj0 0
∂j+1 0
Cj+1

ϕ̃j−1 ϕ̃0j−1 D̃j−1 ϕ̃j ϕ̃0j D̃j ϕ̃j+1 ϕ̃0j+1

00
Cj−1 Cj00 00
Cj+1
∂j00 00
∂j+1

64
De fato, para todo j ∈ Z, temos que
00
∂j+1 ◦ (ϕ̃ ◦ D + D̃ ◦ ϕ0 )j + (ϕ̃ ◦ D + D̃ ◦ ϕ0 )j−1 ◦ ∂j
00
= ∂j+1 ◦ (ϕ̃j+1 ◦ Dj + D̃j ◦ ϕ0j ) + (ϕ̃j ◦ Dj−1 + D̃j−1 ◦ ϕ0j−1 ) ◦ ∂j
00 00
= ∂j+1 ◦ ϕ̃j+1 ◦ Dj + ∂j+1 ◦ D̃j ◦ ϕ0j + ϕ̃j ◦ Dj−1 ◦ ∂j + D̃j−1 ◦ ϕ0j−1 ◦ ∂j
0 00
= ϕ̃j ◦ ∂j+1 ◦ Dj + ∂j+1 ◦ D̃j ◦ ϕ0j + ϕ̃j ◦ Dj−1 ◦ ∂j + D̃j−1 ◦ ∂j0 ◦ ϕ0j
0 00
= ϕ̃j ◦ (∂j+1 ◦ Dj + Dj−1 ◦ ∂j ) + (∂j+1 ◦ D̃j + D̃j−1 ◦ ∂j0 ) ◦ ϕ0j
= ϕ̃j ◦ (ϕj − ϕ0j ) + (ϕ̃j − ϕ̃0j ) ◦ ϕ0j
= ϕ̃j ◦ ϕj − ϕ̃j ◦ ϕ0j + ϕ̃j ◦ ϕ0j − ϕ̃0j ◦ ϕ0j
= ϕ̃j ◦ ϕj − ϕ̃0j ◦ ϕ0j .

A Proposição 3.4.2 diz que relação de homotopia de cadeias é compatı́vel com a


composição. Portanto fica bem-definida a categoria quociente AbC' cujos objetos
são os complexos de cadeias e cujos morfismos são as classes de homotopia de cadeias.
Dizemos que uma transformação de cadeias ϕ : C → C 0 é um isomorfismo de cadeias
se [ϕ] é um isomorfismo na categoria quociente AbC'.

3.5 Complexos contráteis e acı́clicos

Definição 3.5.1 (Complexo contrátil e acı́clico). Uma contração de cadeias de


um complexo de cadeias (C, ∂C ) é uma homotopia de cadeias entre a transformação
de cadeias identidade idC : C → C e a transformação de cadeias nula 0C : C → C.
Se existir uma contração de cadeias de C, então dizemos que C é um complexo de
cadeias contrátil ou, simplesmente, que C é contrátil. O complexo de cadeias C é
dito um complexo de cadeias acı́clico ou, simplesmente, acı́clico, se Hj (C) = {0}
para todo j ∈ Z. I

Corolário 3.5.1. Se C é um complexo de cadeias contrátil, então C é um complexo


de cadeias acı́clico.
Demonstração. Se C é um complexo de cadeias contrátil, então idC ' 0C . O Teo-
rema 3.4.1 garante então que (idC )∗ = (0C )∗ . Entretanto, (idC )∗ = idH(C) e (0C )∗ =
0H(C) . Ou seja, idH(C) = 0H(C) . Portanto H(C) = 0. 

Exemplo 3.5.1 (Um complexo acı́clico não-contrátil). Seja C o grupo graduado em


que todos os grupos que o compõe são triviais com exceção de C0 , C1 e C2 que são,
respectivamente, Z2 , Z e Z. O homomorfismo ∂C : C → C de grau −1 em que todos
os seus homomorfismos são triviais exceto ∂1 : Z → Z2 , 2n 7→ 0 e 2n + 1 7→ 1, e
∂2 : Z → Z, n 7→ 2n, torna (C, ∂C ) um complexo de cadeias.

··· {0} ∂0
Z2 ∂1
Z ∂2
Z ∂3
{0} ···

Temos que (C, ∂C ) é um complexo de cadeias acı́clico. Entretanto, (C, ∂C ) não é um


complexo de cadeias contrátil. De fato, se D é uma contração de cadeias entre idC

65
e 0C , então ∂1 ◦ D0 = idZ2 . Ou seja, o homomorfismo ∂1 : Z → Z2 tem como um
seu inverso à direita D0 . Contudo, todo homomorfismo de Z2 em Z é necessariamente
trivial. J

Teorema 3.5.1. Seja (C, ∂C ) um complexo de cadeias livre. Então C é acı́clico se, e
somente se, C é contrátil.
Demonstração. É suficiente verificar que se C é um complexo de cadeias acı́cilo, então C
é um complexo de cadeias contrátil. Para todo j ∈ Z, a aplicação ∂j é um epimorfismo
de Cj a Bj−1 (C) = Zj−1 (C).
Uma vez que Cj−1 é um grupo livre, temos que Zj−1 (C) também o é. Além disso,
existe um homomorfismo sj−1 : Zj−1 (C) → Cj que é um inverso à direita de ∂j . Então
idCj − sj−1 ◦ ∂j aplica Cj a Zj (C). De fato, para todo j ∈ Z e para todo c ∈ Zj , temos
que [∂j ◦ (idCj − sj−1 ◦ ∂j )](c) = ∂j (c) − (∂j ◦ sj−1 ◦ ∂j )(c) = ∂j (c) − (idCj ◦ ∂j )(c) = 0.
Definimos agora {Dj }j ∈ Z como sendo o homomorfismo de grau um tal que Dj =
sj ◦ (idCj − sj−1 ◦ ∂j ) : Cj → Cj+1 para todo j ∈ Z. Temos que ∂j+1 ◦ Dj + Dj−1 ◦ ∂j =
∂j+1 ◦ sj ◦ (idCj − sj−1 ◦ ∂j ) + sj−1 ◦ (idCj−1 − sj−2 ◦ ∂j−1 ) ◦ ∂j = idCj para todo j ∈ Z.
Destarte {Dj }j ∈ Z é uma contração de cadeias de C. 

O método empregado na prova do Teorema 3.5.1 é usado para construir trans-


formações de cadeias e homotopias de um complexo de cadeias livre a um complexo de
cadeias acı́clico. Vamos agora estender este procedimento para um método geral de ob-
tenção de transformações de cadeias e de homotopias de cadeias chamado de método
dos modelos acı́clicos.

Definição 3.5.2 (Categoria com modelos e base para um funtor covariante). Sejam
C uma categoria e M = {Mj }j ∈ J um conjunto de objetos de C , em que J é um
conjunto de ı́ndices. Dizemos que (C , M ) é uma categoria com modelos. Seja
T : C → Gab um funtor covariante. Dizemos que uma famı́lia {gj ∈ T (Mj )}j ∈ J é
uma base para T , onde Mj ∈ M para todo j ∈ J, se, para todo A ∈ C , a famı́lia
{T (f )(gj )}j ∈ J; f ∈ HomC (Mj ,A) é uma base para T (A). I

Para cada j ∈ Z, seja πj : AbC → Gab o funtor covariante que associa a cada
complexo de cadeias C o grupo abeliano Cj e que associa a cada transformação de
cadeias ϕ : C → C 0 o homomorfismo ϕj : Cj → Cj0 . Além disso, para todo j ∈ Z,
sendo T : C → AbC um funtor covariante, denotamos por Tj o funtor covariante
πj ◦ T : C → Gab .

Definição 3.5.3 (Funtor covariante livre). Sejam (C , M ) uma categoria com modelos
e T : C → Gab um funtor covariante. Dizemos que T é um funtor livre em C com
modelos em M se ele possuir uma base. Seja T : C → AbC um funtor covariante.
Dizemos que T é um funtor livre em C com modelos em M se Tj : C → Gab é um
funtor livre para todo j ∈ Z. I

Exemplo 3.5.2 (∆ é livre em Top com modelos em {∆j }j ∈ N ). Sejam C = Top


a categoria dos espaços topológicos e M := {∆j }j ∈ N . Seja ∆ : C → AbC o fun-
tor homologia singular que associa a cada X ∈ Top o complexo de cadeias singular

66
(∆(X), ∂∆(X) ). Então ∆ é um funtor livre em C com modelos em M . De fato, se
ξj : ∆j → ∆j é a aplicação identidade, então o conjunto unitário {ξj ∈ ∆j (∆j )} é
uma base para ∆j . Isto se dá porque, para todo X ∈ C e para todo j ∈ Z, a famı́lia
{∆(f )(ξj )}f ∈ HomC (∆j , X) = HomC (∆j , X) é, por definição, uma base para ∆j . Por-
tanto, uma vez que ∆j = πj ◦ ∆ : C → Gab é um funtor livre em C com modelos em
M para todo j ∈ Z, temos que ∆ : C → AbC é um funtor livre em C com modelos
em M . J

Sejam C uma categoria e T : C → AbC um funtor covariante. Para todo j ∈ Z,


existem funtores covariantes Hj (T ) que partem de C e que chegam na categoria dos
grupos abelianos Gab que associam a cada A ∈ C o grupo Hj (T (A)). Sendo M um
conjunto de modelos para C , dizemos que um funtor covariante T que parte de C e que
chega em AbC é acı́clico em dimensões positivas se Hj (T (M )) = {0} para todos
j ∈ N∗ e M ∈ M .

Teorema 3.5.2. Sejam (C , M ) uma categoria com modelos e T, T 0 : C → AbC funto-


res covariantes tais que T é livre e não-negativo e que T 0 é acı́clico em dimensões po-
sitivas. Então toda transformação natural H0 (T ) → H0 (T 0 ) é induzida por uma trans-
formação de cadeias natural α : T → T 0 . Além disso, duas transformações de cadeias
naturais α, α0 : T → T 0 que induzem a mesma transformação natural H0 (T ) → H0 (T 0 )
são naturalmente homotópicas.
Demonstração. Para todo objeto A ∈ C precisamos definir uma transformação de
cadeias αA : T (A) → T 0 (A) de modo que, para todo h ∈ HomC (A, B), tenha-se
αB ◦ T (h) = T 0 (h) ◦ αA . Analogamente, para todo objeto A ∈ C , precisamos definir
0
uma homotopia de cadeias D entre αA e αA de sorte que, para todo h ∈ HomC (A, B),
0
DB ◦ T (h) = T (h) ◦ DA .
Para todo j ∈ N, uma vez que T : C → AbC é funtor livre, existe uma base
para Tj dada por {gij ∈ Tj (Mi )}i ∈ Ij , em que Mi ∈ M para todo i ∈ Ij . Sendo
assim, {Tj (f )(gij )}i ∈ Ij ; f ∈ HomC (Mi ,A) é uma base para Tj (A). Daı́ temos que (αj )A é
determinada pela coleção {(αj )Mi (gij )}i ∈ Ij e pela Equação (3.5.1). Da mesma forma,
(Dj )A é determinada pela coleção {(Dj )Mi (gij )}i ∈ Ij e pela Equação (3.5.2).

 
X X
nij Tj0 (f ) (αj )Mi (gij )
  
(αj )A 
 nij Tj (f )(gij )
= (3.5.1)
f ∈ HomC (Mi ,A) f ∈ HomC (Mi ,A)
i ∈ Ij i ∈ Ij

 
X X
nij Tj0 (f ) (Dj )Mi (gij )
  
(Dj )A 
 nij Tj (f )(gij )
= (3.5.2)
f ∈ HomC (Mi ,A) f ∈ HomC (Mi ,A)
i ∈ Ij i ∈ Ij

Inicialmente vamos definir por indução em j a transformação de cadeias (αj )A de


modo que valha a Equação (3.5.3). Vamos também definir a homotopia de cadeias
(Dj )A por indução em j de modo que valha a Equação (3.5.4).

∂j ◦ (αj )A = (αj−1 )A ◦ ∂j (3.5.3)

67
∂j+1 ◦ (Dj )A = (αj )A − (αj0 )A − (Dj−1 )A ◦ ∂j (3.5.4)
Tendo definido αk (ou Dk ) para k < j, com j ∈ N∗ , é suficiente definir (αj )Mi (gij )
para i ∈ Ij de modo que valha a Equação (3.5.5) e é suficiente definir (Dj )Mi (gij )
para i ∈ Ij de sorte que valha a Equação (3.5.6). De fato, (αj )A e (Dj )A podem
então ser determinados pela Equação (3.5.1) e pela Equação (3.5.2), respectivamente.
É claro então que (αj )A e que (Dj )A serão naturais e que satisfarão às Equações (3.5.3)
e (3.5.4).  
∂j (αj )Mi (gi ) = (αj−1 )Mi ∂j (gi ) (3.5.5)
∂j+1 (Dj )Mi (gi ) = (αj )Mi (gi ) − (αj0 )Mi − (Dj−1 )Mi (∂j (gi )
 
(3.5.6)
Dada uma transformação natural ϕ : H0 (T ) → H0 (T 0 ), a definição indutiva de α
se dá como a seguir. Para j = 0 definimos (α0 )Mi (gij ) para i ∈ I0 como sendo algum
elemento de T00 (Mi ) tal que [(α0 )Mi (gij )] = ϕ(Mi )[gij ]. Usamos então a Equação (3.5.1)
para definir (α0 )A para todo A ∈ C . Então, para todo g ∈ T0 (A), [(α0 )A (g)] =
ϕ(A)[g]. Em particular, para todo i ∈ J1 , (α0 )Mi ∂j (gi ) é um bordo em T00 (M  i ).
0
Portanto, podemos definir (α1 )Mi (gij ) ∈ T1 (Mi ) de modo que ∂j (α1 )Mi (gij ) =
(α0 )Mi ∂j (gij ) . Usamos então a Equação (3.5.1) para definir (α1 )A para todo A ∈
C . Assumindo que tenhamos definido αk para k < j, com j > 1, de modo que a
Equação (3.5.3) seja satisfeita, observamos que o lado direito da Equação (3.5.5) é
um ciclo de Tj−1 (Mi ). Como j > 1 e o funtor T 0 : C → AbC é acı́clico em di-
mensões positivas, temos que Hj−1 (T 0 (Mi )) = {0}, e definimos (αj )Mi (gij ) para satis-
fazer a Equação (3.5.5). Então definimos (αj )A para todo A ∈ C a fim de satisfazer a
Equação (3.5.1). Isto termina a definição de α.
Dadas transformações de cadeias naturais α, α0 : T → T 0 que induzem a mesma
transformação natural H0 (T ) → H0 (T 0 ), definimos (D0 )Mi (gij ), para todo i ∈ I0 , como
sendo um elemento de T10 (Mi ) cujo bordo coincida com (α0 )Mi (gij )−(α00 )Mi (gij ). Então
(D0 )A é definido para todo A ∈ C pela Equação (3.5.2). Assumindo que tenhamos
definido Dk para k < j, com j > 0, de modo que a Equação (3.5.4) seja satisfeita,
observamos que o lado direito da Equação (3.5.6) é um ciclo de Tj0 (Mi ). Porque j > 0 e
o funtor T 0 : C → AbC é acı́clico em dimensões positivas, temos que Hj (T 0 (Mi )) = {0},
0
e este ciclo é um bordo. Definimos então (Dj )Mi (gij ) ∈ Tj+1 (Mi ) para satisfazer à
Equação (3.5.6) e usamos a Equação (3.5.2) para definir (Dj )A para todo A ∈ C .
Assim terminamos a definição de D. 

Na Seção 4.2 definimos o complexo de cadeias singular (∆(X), ∂∆(X) ) de um espaço


topológico X. Podemos definir também, considerando X somente como uma variedade
suave, o complexo de cadeias singular suave (∆s (X), ∂∆s (X) ) de X a partir somente de
j-simplexos singulares σ : ∆j → X infinitamente diferenciáveis. Sendo assim obtemos
o Corolário 3.5.2 a seguir que diz que é suficiente considerar o complexo suave para
obter todas as informações homológicas sobre uma variedade suave.

Corolário 3.5.2. Sejam M uma variedade suave, (∆(M ), ∂∆(M ) ) o complexo de ca-
deias singular de M e (∆s (M ), ∂∆s (M ) ) o complexo de cadeias singular suave de M .
Então a aplicação inclusão ι : ∆s (M ) → ∆(M ) é um isomorfismo natural. Em parti-
cular, o push-forward em homologia ι∗ : H s (M ) → H(M ) é um isomorfismo de grupos
natural. 

68
3.6 Complexo cone

Definição 3.6.1. Sejam (C, ∂C ) e (C 0 , ∂C 0 ) complexos de cadeias e ϕ : C → C 0 uma


transformação de cadeias. Seja

C̃j := Cj−1 ⊕ Cj0

e seja
∂˜j (c, c0 ) := (−∂j−1 (c), ϕj−1 (c) + ∂j0 (c0 ))
com c ∈ Cj−1 e c0 ∈ Cj0 , para todo j ∈ Z. Definimos assim C̃ := {C̃j }j ∈ Z e
∂C̃ := {∂˜j }j ∈ Z . Então (C̃, ∂C̃ ) é um complexo de cadeias, chamado de complexo
cone de ϕ. I

Vejamos que o complexo cone da Definição 3.6.1 é realmente um complexo de ca-


deias. Para isso, é suficiente verificar que ∂˜j−1 ◦ ∂˜j = 0 para todo j ∈ Z. De fato, para
todo j ∈ Z e para todos c ∈ Cj−1 e c0 ∈ Cj0 , temos que

∂˜j−1 ◦ ∂˜j (c, c0 ) = ∂˜j−1 (−∂j−1 (c), ϕj−1 (c) + ∂j0 (c0 ))
0
[ϕj−1 (c) + ∂j0 (c0 )]

= − ∂j−2 (−∂j−1 (c)), ϕj−2 (−∂j−1 (c)) + ∂j−1
0 0
◦ ∂j0 )(c0 )

= (∂j−2 ◦ ∂j−1 )(c), −(ϕj−2 ◦ ∂j−1 )(c) + (∂j−1 ◦ ϕj−1 )(c) + (∂j−1
0
◦ ∂j0 )(c0 )

= (∂j−2 ◦ ∂j−1 )(c), −(ϕj−2 ◦ ∂j−1 )(c) + (ϕj−2 ◦ ∂j−1 )(c) + (∂j−1
= (0, 0).

Observação 3.6.1. Sejam I := [0, 1] ⊂ R, X um espaço topológico e A ⊂ X um


subespaço topológico de X. Definimos o cone de X por C(X) := X × IX × {1}.
Definimos também o cone do par (X, A) por C(X, A) := X t C(A)∼, em que
(a, 0) ∈ C(A) ∼ a ∈ A ⊂ X para todo a ∈ A. Analogamente, definimos o
cone de uma aplicação contı́nua ϕ : A → X por C(ϕ) := X t C(A)∼, em
que (a, 0) ∈ C(A) ∼ ϕ(a) ∈ A ⊂ X para todo a ∈ A.

A A
X ϕ(A) X
A

Figura 3.6.1: Cone do par (X, A). Figura 3.6.2: Cone de ϕ.


Figura 3.6.3: As setas indicam o processo de colagem da base do cone de A com os
respectivos subespaços de X. Nota-se que o cone da inclusão ι : A → X coincide com
o cone do par (X, A).

69
É natural definir-se Cj (X, A) := Cj−1 (A) ⊕ Cj (X) para todo j ∈ Z. Pode-se ver
na Figura 3.6.4 para o caso j = 2 que uma 2-cadeia do cone do par (X, A) pode tanto
ser uma 1-cadeia α de A, pois quando fazemos seu cone elevamos sua dimensão em
um, quanto uma 2-cadeia β de X. Em geral, estamos dizendo que as j-cadeias do par
(X, A) consistem nas (j − 1)-cadeias de A e nas j-cadeias de X. Para todo j ∈ Z,
seja ιj : Cj−1 (A) → Cj (X) a inclusão. É também natural, para todo j ∈ Z, dizermos
que ∂˜j (α, 0) = ∂j−1 (α), ιj (α) para todo α ∈ Cj−1 (A) e que ∂˜j (0, β) = 0, ∂j (β) para


todo β ∈ Cj (X). Daı́, para todo j ∈ Z, temos que ∂˜j (α, β) = ∂j−1 (α), ιj (α) + ∂j (β)


para todo α ∈ Cj−1 (A) e para todo β ∈ Cj (X).

X
α β
A

Figura 3.6.4: Na figura α é uma (j − 1)-cadeia de A e β é uma j-cadeia de X.

Seja ϕ : A → X uma aplicação contı́nua e seja ϕj : Cj−1 (A) → Cj (X), α 7→


ϕ(α), para todo j ∈ Z. Definimos então Cj (ϕ) := Cj−1 (ϕ(A)) ⊕ Cj (X) e ∂˜j (α, β) =
∂j−1 (α), ϕj (α) + ∂j (β) , para todo j ∈ Z. J

Teorema 3.6.1. Sejam (C, ∂C ) e (C 0 , ∂C 0 ) complexos de cadeias e ϕ : C → C 0 uma


transformação de cadeias. Então ϕ é um isomorfismo de cadeias se, e somente se, a
transformação cone de ϕ é contrátil.
Demonstração. (⇒) Se ϕ : C → C 0 é um isomorfismo de cadeias, então existem uma
transformação de cadeias ϕ0 : C 0 → C, uma homotopia de cadeias D : C → C entre
ϕ0 ◦ ϕ e idC , e uma homotopia de cadeias D0 : C 0 → C 0 entre ϕ ◦ ϕ0 e idC 0 . Sejam

c1 (c, c0 ) = D(c) + (ϕ0 ◦ D0 ◦ ϕ)(c) − (ϕ0 ◦ ϕ ◦ D)(c) + ϕ0 (c0 )

e
c2 (c, c0 ) = (D0 ◦ ϕ ◦ D)(c) − (D0 ◦ D0 ◦ ϕ)(c) − D0 (c0 ),
com c ∈ C e c0 ∈ C 0 . Definimos D̃(c, c0 ) = (c1 (c, c0 ), c2 (c, c0 )) para todos c ∈ C e
c0 ∈ C 0 . Temos que D̃ é uma contração de cadeias de C̃. Faz-se esta verificação com
um cálculo direto.
(1)
(⇐) Seja D̃ : C̃ → C̃ uma contração de cadeias. Sejam πj : Cj−1 ⊕ Cj0 → Cj−1 ,
(2)
(c, c0 ) 7→ c, e πj : Cj−1 ⊕ Cj0 → Cj0 , (c, c0 ) 7→ c0 , para todo j ∈ Z. Definimos
(1)
ϕ0j : Cj0 → Cj , c0 7→ (πj+1 ◦ D̃j )(0, c0 ), para todo j ∈ Z. Definimos também Dj : Cj →
(1)
Cj+1 , c 7→ (πj+2 ◦ D̃j+1 )(c, 0), para todo j ∈ Z. Por fim, definimos Dj0 : Cj0 → Cj+1 0
,
0 (2) 0
c 7→ −(πj+1 ◦ D̃j )(0, c ), para todo j ∈ Z. Temos que

70
• (ϕ0 := {ϕ0j }j ∈ Z é uma transformação de cadeias). Precisamos mostrar que, para
todo j ∈ Z, o Diagrama (3.6.1) é comutativo.
∂j0
0
Cj−1 Cj0

ϕ0j−1 ϕ0j (3.6.1)

Cj−1 ∂j
Cj

Como D̃ é uma contração de cadeias, para todo j ∈ Z e para todo c0 ∈ Cj0 ,


temos que
(∂˜j+1 ◦ D̃j )(0, c0 ) + (D̃j−1 ◦ ∂˜j )(0, c0 ) = (0, c0 ).
Além disso, temos que
(∂˜j+1 ◦ D̃j )(0, c0 ) = ∂˜j+1 (ϕ0j (c0 ), ·) = − (∂j ◦ ϕ0j )(c0 ), ·


e que
(D̃j−1 ◦ ∂˜j )(0, c0 ) = D̃j−1 0, ∂j−1
0
(c0 ) = (ϕ0j−1 ◦ ∂j−1
0
)(c0 ), · ,
 

para todo j ∈ Z e para todo c0 ∈ Cj0 . Destarte,


(∂j ◦ ϕ0j )(c0 ) = (ϕ0j−1 ◦ ∂j−1
0
)(c0 )
para todo j ∈ Z e para todo c0 ∈ Cj0 . Ou seja,
∂j ◦ ϕ0j = ϕ0j−1 ◦ ∂j−1
0

para todo j ∈ Z.

• (D := {Dj }j ∈ Z é uma homotopia de cadeias entre ϕ0 ◦ ϕ e idC ). Mostra-se, como


acima, que
∂j+1 ◦ Dj + Dj−1 ◦ ∂j = ϕ0j ◦ ϕj − idCj
para todo j ∈ Z.

• (D0 := {Dj0 }j ∈ Z é uma homotopia de cadeias entre ϕ ◦ ϕ0 e idC 0 ). Também,


mostra-se que
0
∂j+1 0
◦ Dj0 + Dj−1 ◦ ∂j0 = ϕj ◦ ϕ0j − idCj0
para todo j ∈ Z.
Destarte ϕ é um isomorfismo de cadeias. 

Combinando os Teoremas 3.5.1 e 3.6.1 com o fato de que o complexo cone entre
complexos de cadeias livres são também complexos de cadeias livres, temos o Co-
rolário 3.6.1 a seguir.

Corolário 3.6.1. Sejam C e C 0 complexos de cadeias livres e ϕ : C → C 0 uma


transformação de cadeias. Então ϕ é um isomorfismo de cadeias se, e somente se, a
transformação cone de ϕ é acı́clica. 

71
4 Homologia Singular

O grupo fundamental pode ser calculado para espaços não elementares graças ao
Teorema de Seifert-Van Kampen. Entretanto, sendo o grupo fundamental, em geral,
não-abeliano, sua estrutura pode ser bastante complicada. Já os grupos de homotopia
de ordem superior são abelianos, mas geralmente é bem difı́cil calculá-los, pois não
temos uma ferramenta parecida com o Teorema de Seifert-Van Kampen, ou seja, uma
ferramenta que nos permita calcular os grupos de homotopia de espaços complicados
a partir de uma cobertura adequada. Por estas razões a Teoria de Homotopia não é
suficientemente manejável para ser usada como ferramenta básica no estudo dos espaços
topológicos.
Nesta seção apresentamos os fundamentos da Teoria de Homologia. Esta resolve ao
mesmo tempo os dois problemas destacados no parágrafo anterior. Para isso fazemos
uso da linguagem categorial apresentada anteriormente. As referências usadas para
este estudo são as notas de aula do orientador e [SPANIER].

4.1 Funtor homologia orientada

Dizemos que um j-simplexo orientado de um complexo simplicial K é um j-


simplexo de K equipado com uma classe de equivalência de ordens totais dos seus
vértices, sendo que duas ordens são equivalentes se elas diferem por uma permutação
par dos vértices. Se {v0 , v1 , · · · , vj } é o conjunto de vértices de um j-simplexo de um
complexo simplicial K, então [v0 , v1 , · · · , vj ] denota o j-simplexo orientado de K que
consiste do j-simplexo munido da classe de equivalência da ordem v0 < v1 < · · · < vj
dos vértices. Não existe nenhum j-simplexo orientado para j < 0. Para todo vértice
v de K existe um único 0-simplexo orientado [v] e, para todo j ∈ N∗ , existem dois
j-simplexos orientados distintos.
Seja Cj (K) o grupo abeliano gerado pelos j-simplexos orientados σ j com as relações
σ1j+ σ2j = 0 se σ1j e σ2j são j-simplexos orientados distintos correspondentes ao mesmo
j-simplexo de K. Então Cj = {0} para j < 0 e, para todo j ∈ N, Cj (K) é um grupo
abeliano livre com posto igual ao número de j-simplexos de K. Se K é vazio, então
Cj (K) = {0} para todo j ∈ Z.
Para todo j ∈ N∗ definimos o homomorfismo ∂j : Cj (K) → Cj−1 (K) definindo-o
nos geradores de Cj (K) como
j
X
∂j [v0 , v1 , · · · , vj ] = (−1)i [v0 , v1 , · · · , v̂i , · · · , vj ], (4.1.1)
i=0

em que [v0 , v1 , · · · , v̂i , · · · , vj ] denota o (j − 1)-simplexo orientado obtido deletando-se


o vértice vi do j-simplexo orientado [v0 , v1 , · · · , vj ]. Sejam C(K) := {Cj (K)}j ∈ Z e
∂C(K) := {∂j : Cj (K) → Cj−1 (K)}j ∈ Z . Uma vez que, para todo j ∈ N∗ ,

73
j
X
∂j−1 ◦ ∂j [v0 , · · · , vj ] = (−1)i ∂j−1 [v0 , · · · , v̂i , · · · , vj ]
i=0
j i−1
X X
= (−1)i+k [v0 , · · · , v̂k , · · · , v̂i , · · · , vj ]
i=0 k=0
j j
X X
+ (−1)i+k−1 [v0 , · · · , v̂i , · · · , v̂k , · · · , vj ]
i=0 k=i+1
X
= (−1)i+k [v0 , · · · , v̂k , · · · , v̂i , · · · , vj ]
i<k
X
+ (−1)i+k−1 [v0 , · · · , v̂i , · · · , v̂k , · · · , vj ]
i>k
= 0,

temos que (C(K), ∂C(K) ) é um complexo de cadeias livre não-negativo que chamamos de
complexo de cadeias orientado de K. O grupo de homologia de C(K), denotado
por H(K), é o grupo graduado {Hj (K) := Hj (C(K))}j ∈ Z , que denominamos por
grupo de homologia orientada de K. O grupo Hj (K) é dito o j-ésimo grupo de
homologia orientada de K.
Se v0 , v1 , · · · , vj são vértices de algum simplexo de um complexo simplicial K, então
definimos [v0 , v1 , · · · , vj ] ∈ Cj (K) como sendo nulo se os vértices não são todos distin-
tos ou o definimos como sendo o j-simplexo orientado caso contrário. Observamos que
a Equação (4.1.1) se anula em ambos os lados no caso em que os vértices v0 , v1 , · · · , vj
não são todos distintos e, por isso, ela é coerente com a extensão de significado apre-
sentada para [v0 , v1 , · · · , vj ] ∈ Cj (K) neste parágrafo. Existe uma transformação de
cadeias C(ϕ) : C(K1 ) → C(K2 ) associada a uma aplicação simplicial ϕ : K1 → K2
definida por
C(ϕ)[v0 , v1 , · · · , vj ] = [ϕ(v0 ), ϕ(v1 ), · · · , ϕ(vj )]. (4.1.2)
Observamos que se v0 , v1 , · · · , vj são vértices distintos de algum simplexo de K1 , não
necessariamente os vértices ϕ(v0 ), ϕ(v1 ), · · · , ϕ(vj ) de algum simplexo de K2 são distin-
tos. O lado direito da Equação (4.1.2) só está definido, portanto, por causa da extensão
feita para que [v0 , v1 , · · · , vj ] fosse um elemento de Cj (K) mesmo quando os vértives
v0 , v1 , · · · , vj não fossem todos distintos.

Teorema 4.1.1. Existe um funtor covariante C que parte da categoria dos complexos
simpliciais e que chega na categoria dos complexos de cadeia que associa a cada K
seu complexo de cadeias C(K) e que associa a cada aplicação simplicial ϕ sua trans-
formação de cadeias C(ϕ). 

A composição do funtor covariante C com o funtor covariante homologia H é um


funtor covariante, chamado de funtor homologia orientada, partindo da categoria
dos complexos simpliciais e chegando na categoria dos grupos graduados e homomorfis-
mos de grau zero. Este funtor associa a cada complexo simplicial K o grupo graduado
H(K) = {Hj (K)}j ∈ Z e associa a cada aplicação simplicial ϕ : K1 → K2 o homomor-
fismo de grau zero C(ϕ) : C(K1 ) → C(K2 ).

74
4.2 Funtor homologia singular

Seja {pj }j ∈ N uma famı́lia de objetos dois a dois distintos. Seja ∆j o complexo
simplicial consistindo de todos os subconjuntos não-vazios de {p0 , p1 , · · · , pj }, com
j ∈ N. Ou seja, ∆j é o simplexo fechado [p0 , p1 , · · · , pj ]. Para todo j ∈ N e todo
0 ≤ i ≤ j + 1, tomamos eij+1 : ∆j → ∆j+1 sendo a aplicação linear definida nos vértices
como (
pr , se r ≤ i − 1;
eij+1 (pr ) :=
pr+1 , se r ≥ i.
Então eij+1 (∆j ) é o simplexo fechado [p0 , p1 , · · · , pi−1 , pi+1 , · · · , pj+1 ] de ∆j+1 . Além
i−1
disso, se j > 1 e se 0 ≤ k ≤ i − 1 ≤ j, então eij+2 ◦ ekj+1 = ekj+2 ◦ ej+1 .
Seja X um espaço topológico. Para todo j ∈ N, dizemos que uma aplicação
contı́nua σ : ∆j → X é um j-simplexo singular de X. Para j > 0 e 0 ≤ i ≤ j,
dizemos que o (j − 1)-simplexo singular de X dado por σ ◦ eij : ∆j−1 → X, denotado
por σ (i) , é a i-face do j-simplexo singular σ : ∆j → X. A partir da última afirmação
do parágrafo anterior temos que, se j > 1 e 0 ≤ k < i ≤ j, então

(σ (i) )(k) = (σ ◦ eij ) ◦ ekj−1 = σ ◦ (eij ◦ ekj−1 )


= σ ◦ (ekj ◦ ei−1 k i−1
j−1 ) = (σ ◦ ej ) ◦ ej−1

= (σ (k) )(i−1) .

Para todo j ∈ N, seja ∆j (X) o grupo abeliano livre gerado pelos j-simplexos
singulares de X, isto é, M
∆j (X) := Z.
σ:∆j →X

Para todo j < 0 inteiro, seja ∆j (X) o grupo trivial. Definimos então o grupo graduado
∆(X) := {∆j (X)}j ∈ Z . Seja agora, para j ∈ N∗ ,

∂j : ∆j (X) → ∆j−1 (X),


j
X
σ 7→ (−1)i σ (i) .
i=0

Para todo j ≤ 0 inteiro, seja ∂j : ∆j (X) → ∆j−1 (X) o homomorfismo nulo. Defini-
mos ∂∆(X) := {∂j : ∆j (X) → ∆j−1 (X)}j ∈ Z . Como ∂j−1 ◦ ∂j = 0 para todo j ∈ Z,
temos que (∆(X), ∂∆(X) ) é um complexo de cadeias, que chamamos de complexo de
cadeias singular de X. Existe uma transformação de cadeias ∆(f ) : ∆(X) → ∆(Y )
associada a uma aplicação contı́nua f : X → Y definida por ∆(f )(σ) = f ◦ σ para todo
j-simplexo σ : ∆j → X.

Teorema 4.2.1. Existe um funtor covariante ∆ que parte da categoria dos espaços
topológicos e que chega na categoria dos complexos de cadeia que associa a cada X
seu complexo de cadeias singular ∆(X) e que a cada a aplicação contı́nua f associa a
transformação de cadeias ∆(f ). 

A composição do funtor covariante ∆ com o funtor covariante homologia H é um


funtor covariante, chamado de funtor homologia singular, partindo da categoria

75
dos espaços topológicos e chegando na categoria dos grupos graduados e homomorfis-
mos de grau zero. Este funtor associa a cada espaço topológico X o grupo graduado
H(X) = {Hj (X) := Hj (∆(X))}j ∈ Z e associa a cada aplicação contı́nua f : X → Y
o homomorfismo de grau zero f∗ : H(X) → H(Y ) induzido pela transformação de
cadeias ∆(f ) : ∆(X) → ∆(Y ). O grupo Hj (X) é chamado de j-ésimo grupo de
homologia singular de X.

4.3 Homologia relativa

Podemos agora estender a definição de Homologia Singular ao caso relativo. Dado


um par (X, A) ∈ Top2 , construı́mos o complexo de cadeias

∆j (X, A) := ∆j (X)∆ (A).


j

Um elemento de ∆j (X, A) é uma classe [α], tal que α ∈ ∆j (X). Isso não deve ser
confundido com a classe de homologia de um ciclo. Observamos que ∆j (X, A) é ca-
nonicamente isomorfo à soma direta de uma cópia de Z para cada j-simplexo singular
σ : ∆j → X cuja imagem não está inteiramente contida em A. Ou seja,
M
∆j (X, A) ' Z.
σ : ∆n →X
σ(∆n )6⊂A

O bordo ∂j de ∆j (X, A) fica bem definido passando ao quociente o bordo do complexo


de cadeias singular de X (vide Definição 3.3.3). Indicamos por ∂j : ∆j (X, A) →
∆j−1 (X, A) o bordo relativo, usando o mesmo sı́mbolo que usamos no caso absoluto.
Logo,
∂j [α] := [∂j α],
sendo α ∈ ∆j (X).
Dado um morfismo f : (X, A) → (Y, B) de Top2 , fica bem definido o morfismo de
complexos de cadeias f# : ∆j (X, A) → ∆j (Y, B), [σ] 7→ [f ◦ σ]. Portanto obtemos o
funtor ∆ : Top2 → AbC .
Logo podemos definir os grupos de homologia singular relativa Hj (X, A)
como sendo os grupos de homologia do complexo (∆(X, A), ∂∆(X,A) ). Um elemento
de Hj (X, A) é uma classe [[α]], sendo α ∈ ∆j (X), [α] ∈ Zj (X, A) e [[α]] ∈ Hj (X, A).
O morfismo f∗ : Hj (X, A) → Hj (Y, B) fica definido por f∗ [[α]] = [f# [α]].

4.4 Axiomas de Eilenberg-Steenrod

O funtor homologia singular é caracterizado por cinco propriedades fundamentais,


que são as seguintes.

1. Invariância por homotopia. Se f, g : (X, A) → (Y, B) são morfismos ho-


motópicos em Top2 , então f∗ = g∗ : Hj (X, A) → Hj (Y, B). Isso implica que dois
pares (em particular, dois espaços topológicos) com o mesmo tipo de homotopia
têm grupos de homologia isomorfos.

76
2. Sequência exata longa associada a um par de espaços. A cada par de
espaços (X, A) a seguinte sequência exata longa em homologia fica associada:
i∗,j π∗,j βj i∗,j−1 π∗,j−1
··· Hj (X) Hj (X, A) Hj−1 (A) Hj−1 (X) ···

sendo i∗ o push-forward induzido pelo mergulho i : A → X, π∗ o induzido pelo


morfismo de pares π : (X, ∅) → (X, A) e βj um morfismo de funtores apropriado.
3. Excisão. Seja Z ⊂ A um subespaço topológico. Se o fecho de Z estiver contido
no interior de A, então o mergulho de pares ι : (X \ Z, A \ Z) → (X, A) induz o
isomorfismo ι∗ : Hj (X \ Z, A \ Z) → Hj (X, A) para todo j ∈ Z.
Esta propriedade é a que realmente distingue os grupos de homologia dos de
homotopia. De fato, também os grupos de homotopia são invariantes por homo-
topia dos morfismos e associam uma sequência exata longa a um par de espaços,
mas não vale a excisão. Veremos que, precisamente por causa da excisão, ficará
definida a sequência de Mayer-Vietoris, que, como antecipamos na introdução,
torna mais fácil o cálculo explı́cito dos grupos de homologia.
F
4. Aditividade. Seja X = α∈I Xα uma união disjunta de espaços L topológicos
(logo cada Xα é aberto e fechado em X). Temos que Hj (X) ' α∈I Hj (Xα ),
sendo o isomorfismo induzido pelos mergulhos das componentes Xα em X. Ana-
logamente,
L no caso relativo, se A ⊂ X e Aα := Xα ∩ A, então Hj (X, A) '
α∈I H• (Xα , Aα ).

Esta propriedade pode ser deduzida a partir das precedentes quando I for finito,
mas, em geral, é uma propriedade independente.
5. Axioma da dimensão. A homologia de um espaço X formado somente por um
ponto é trivial em todos os graus não nulos. Conforme este enunciado, H0 (X)
pode ser um grupo abeliano qualquer. A partir da definição que demos de homo-
logia singular, temos que H0 (X) ' Z.

Estas propriedades são chamadas de Axiomas de Eilenberg-Steenrod. Na ver-


dade, para nós, todos são teoremas, não axiomas, pois já definimos a homologia sin-
gular. Todavia, é possı́vel tratar estas propriedades de modo axiomático. Se tirarmos
o axioma da dimensão, podemos achar vários funtores que satisfazem os primeiros
quatro axiomas não equivalentes entre si. Estes funtores são chamados de teorias ho-
mológicas generalizadas e são muito importantes em várias áreas da Matemática.

4.5 Sequência de Mayer-Vietoris

Há outras propriedades importantes da Homologia Singular, as quais podem ser pro-
vadas diretamente a partir da definição. Em particular, temos as duas seguintes:

• Sequência de Mayer-Vietoris. Sejam A, B ⊂ X subespaços topológicos tais que


X é a união entre do interior de A com o interior de B. Fica definida a seguinte
sequência exata longa:
βj−1 ϕ∗,j ψ∗,j βj ϕ∗,j−1
··· Hj (A ∩ B) Hj (A) ⊕ Hj (B) Hj (X) Hj−1 (A ∩ B) ···

77
Frequentemente essa sequência nos permitirá calcular os grupos de homologia de
X a partir dos de A e B, portanto poderemos decompor um espaço complicado em
espaços mais simples.

• Sequência exata longa associada a uma tripla de espaços. A cada tripla de


espaços (X, A, B) ∈ Top3 fica definida a sequência:

ij,∗ πj,∗ βj ij−1,∗ πj−1,∗


··· Hj (X, B) Hj (X, A) Hj−1 (A, B) Hj−1 (X, B) ···

sendo i∗ o push-forward induzido pelo morfismo de pares i : (A, B) ,→ (X, B), π∗


induzido pelo morfismo de pares π : (X, B) → (X, A) e βj um morfismo de funtores
apropriado.

78
A Uma categoria conveniente de espaços
topológicos
Nesta seção expomos o estudo que fizemos sobre parte de [STEENROD], o artigo
A Convenient Category of Topological Spaces do matemático norte-americano Norman
Earl Steenrod (1910-1971). No trabalho citado o autor se preocupou em estabelecer
uma categoria de espaços topológicos na qual as operações elementares se comportassem
bem. Sendo assim, a expressão “categoria conveniente” é entendida essencialmente do
ponto de vista operacional. A fim de esclarecer esta última afirmação, fornecemos uma
tradução livre de um trecho de [STEENROD] no qual o autor explica que

“As demandas que uma categoria conveniente deve satisfazer são, primeiro,
que seja suficientemente grande para conter todos os espaços particulares que
aparecem na prática. Segundo, que seja fechada ante as operações padrão; es-
tas são a formação de subespaços, espaços produtos X × Y , espaços de função
Y X , espaços de decomposição, uniões de sequências expansoras de espaços e com-
posições destas operações. Terceiro, a categoria deve ser suficientemente pequena
para que algumas proposições razoáveis sobre as operações padrão sejam verda-
deiras. Isto significa que a ordem de realizar duas operações pode ser trocada.”

A.1 Espaços compactamente gerados

Definição A.1.1 (Espaço compactamente gerado). Seja X um espaço topológico de


Hausdorff. Dizemos que X é um espaço compactamente gerado se para todo
A ⊂ X com A ∩ K fechado, para todo K ⊂ X compacto, tenhamos que A seja fechado
em X. I

(Categoria TopCG) Definimos a categoria TopCG dos espaços topológicos com-


pactamente gerados da seguinte maneira: seus objetos são os espaços topológicos com-
pactamente gerados, seus morfismos são as aplicações contı́nuas entre estes espaços to-
pológicos e a composição dos morfismos é a lei de composição ordinária entre funções.
Observamos que TopCG também é uma categoria concreta.
Definimos também TopCG+ , TopCGn e TopCGn+ como sendo os análogos naturais
de Top+ , Topn e Topn+ , respectivamente.

Proposição A.1.1. Seja X um espaço topológico de Hausdorff. Se para todo A ⊂ X


e para todo x ∈ X ponto de acumulação de A existir um conjunto compacto K ⊂ X
de modo que x seja um ponto de acumulação de A ∩ K, então X ∈ TopCG.
Demonstração. Sejam A ⊂ X tal que A ∩ K é fechado, para todo K ⊂ X compacto
em X, e x um ponto de acumulação de A. Por hipótese, existe um conjunto compacto
K ⊂ X de modo que x é um ponto de acumulação de A ∩ K. Uma vez que A ∩ K é
fechado, temos que x ∈ A ∩ K e, portanto, temos que x ∈ A. Destarte A é fechado e
assim segue que X ∈ TopCG. 

80
Todos os espaços de Hausdorff localmente compactos e todos os espaços de Haus-
dorff que satisfazem o primeiro axioma de enumerabilidade pertencem à categoria
TopCG. De fato, é imediato a partir da Proposição A.1.1 que todo espaço de Haus-
dorff localmente compacto pertence à categoria TopCG. Portanto, verificamos agora
a outra afirmação. Sejam X um espaço de Hausdorff que satisfaz o primeiro axioma
de enumerabilidade e A ⊂ X tal que A ∩ K é fechado para todo K ⊂ X compacto.
Mostramos então que Ā ⊂ A e, portanto, que A é fechado. Seja x ∈ Ā; como X
satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade, existe uma sequência (an )n ∈ N ⊂ A de
forma que an → x e (an )n ∈ N ∪ {x} é compacto. Deste modo, A ∩ ((an )n ∈ N ∪ {x})
é fechado. Mas como esta intersecção é infinita, devemos ter que x ∈ A. Portanto
Ā ⊂ A.

Proposição A.1.2. Seja (X, Ω) um espaço topológico de Hausdorff. X é compacta-


mente gerado se, e somente se, sendo {Kj }j ∈ J , em que J é um conjunto de ı́ndices, a
famı́lia de todos os subconjuntos compactos de X, Ω é a topologia fraca em X induzida
por {Kj }j ∈ J . 

Proposição A.1.3. Sejam X ∈ TopCG e A ⊂ X um subespaço. Se A é fechado


em X, então A ∈ TopCG. Além disso, se U é um aberto regular em X, isto é, se
para todo x ∈ U existe uma vizinhança V de x em X de modo que V̄ ⊂ U , então
U ∈ TopCG.
Demonstração. Sejam A ⊂ X um subespaço fechado e B ⊂ A tal que, para todo K ⊂ A
compacto em A, B∩K é um conjunto fechado em A. Seja K ⊂ X um compacto. Temos
que A ∩ K é um conjunto compacto de A e, portanto, B ∩ (A ∩ K) = B ∩ K é um
conjunto fechado em A. Uma vez que A é fechado, B ∩ K é fechado em X. Dado que
X ∈ TopCG, B é fechado em X e, pois, em A. Logo A ∈ TopCG.
Sejam U ⊂ X um subespaço aberto, B ⊂ U tal que, para todo K ⊂ U compacto,
B ∩ K é um conjunto fechado em U e x ∈ U um ponto de acumulação para B. Por
hipótese, existe uma vizinhança V de x em X de modo que V̄ ⊂ U . Se K ⊂ X é
compacto, então V̄ ∩ K é um conjunto compacto em U . Sendo assim B ∩ (V̄ ∩ K)
é fechado em U , em V̄ ∩ K e, finalmente, em X. Como X ∈ TopCG, B ∩ V̄ é um
conjunto fechado em X. Dado que x é um ponto de acumulação de B ∩ V̄ , temos que
x ∈ B ∩ V̄ . Portanto x ∈ B e, assim, B é fechado em U . 

Definição A.1.2 (Proclusão). Sejam X e Y espaços topológicos e f : X → Y uma


aplicação. Dizemos que f é uma proclusão se for uma aplicação sobrejetora e se
U ⊂ Y é aberto em Y sempre que f −1 (U ) ⊂ X é aberto em X. I

Com a notação da Definição A.1.2, quando f é uma proclusão, Y é equivalente


ao espaço de decomposição de X pela famı́lia de imagens inversas dos pontos de Y .
Também, se X está decomposto em uma famı́lia Y de conjuntos fechados disjuntos,
então a topologia do espaço de decomposição Y é definida de modo que a aplicação
natural X → Y seja contı́nua e proclusiva.

Lema A.1.1. Sejam X e Y espaços topológicos e f : X → Y uma aplicação. Se X


e Y são espaços de Hausdorff, X é compacto e f é contı́nua e sobrejetora, então f é
uma proclusão. 

81
Proposição A.1.4. Sejam X ∈ TopCG, Y um espaço topológico de Hausdorff e
f : X → Y uma aplicação. Se f é uma proclusão, então Y ∈ TopCG.
Demonstração. Seja B ⊂ Y tal que, para todo K ⊂ Y compacto em Y , B ∩ K é um
conjunto fechado em Y . Se L é um conjunto compacto em X, então f (L) é um conjunto
compacto em Y . Desta forma B ∩ f (L) é fechado e, portanto, f −1 (B ∩ f (L)) é fechado.
Assim f −1 (B ∩ f (L)) ∩ L é um conjunto fechado. Uma vez que f −1 (B ∩ f (L)) ∩ L =
f −1 (B) ∩ L, segue que a intersecção de f −1 (B) com qualquer conjunto compacto de X
é uma conjunto fechado. Dado que X ∈ TopCG, f −1 (B) é fechado. Como f é uma
proclusão, B é fechado em Y e, pois, Y ∈ TopCG. 

Proposição A.1.5. Sejam X ∈ TopCG, Y um espaço topológico de Hausdorff e


f : X → Y uma aplicação. Se f |K : K → Y é contı́nua para todo K ⊂ X compacto,
então f é contı́nua.
Demonstração. Sejam A ⊂ Y fechado e K ⊂ X compacto. Como Y é um espaço
de Hausdorff e f |K é contı́nua, temos que f (K) é compacto e, portanto, que f (K) é
fechado em Y . Desta forma A∩f (K) é fechado. Como (f |K )−1 (A∩f (K)) = f −1 (A)∩K
e X ∈ TopCG, temos que f −1 (A) é fechado em X. Destarte f é uma aplicação
contı́nua. 

A.2 Espaços compactamente gerados associados

Definição A.2.1 (Espaço compactamente gerado associado). Seja X um espaço to-


pológico de Hausdorff. Dizemos que o espaço compactamente gerado associado a
X, que denotamos por k(X), é o conjunto X munido da seguinte topologia: A ⊂ k(X)
é fechado em k(X) se, para todo K ⊂ X compacto em X, A∩K é um conjunto fechado
em X. Sendo X e Y espaços de Hausdorff e f : X → Y uma aplicação, denotamos
por k(f ) a mesma função k(X) → k(Y ). I

Teorema A.2.1. Sejam X e Y espaços topológicos de Hausdorff e f : X → Y uma


aplicação. Então

1. a aplicação identidade k(X) → X é contı́nua;

2. k(X) é um espaço topológico de Hausdorff;

3. k(X) e X têm os mesmos conjuntos compactos;

4. k(X) é compactamente gerado;

5. Se X ∈ TopCG, então k(X) = X;

6. Se f |K : K → Y é contı́nua para todo K ⊂ X compacto em X, então k(f ) é uma


aplicação contı́nua.

Demonstração.

82
1. Seja A ⊂ X fechado em X. Se K ⊂ X é compacto em X, então K é fechado em
X. Logo A ∩ K é fechado em X. Portanto A é fechado em k(X).

2. Uma vez que X é um espaço de Hausdorff, o item anterior garante que k(X)
também é um espaço de Hausdorff.

3. Se K ⊂ X é um conjunto compacto em k(X), então o Item 1 garante que K


é compacto em X. Reciprocamente, seja K ⊂ X um conjunto compacto em
X; denotamos por K 0 o mesmo conjunto com a topologia induzida de k(X).
Pelo Item 1 a aplicação identidade K 0 → K é contı́nua e, portanto, é suficiente
demonstrar a continuidade de sua inversa para ver que K é compacto em k(X)
também. Seja A ⊂ K 0 um conjunto fechado em K 0 . Por definição, a intersecção
de A com qualquer conjunto compacto em X é um conjunto fechado em X; em
particular, A ∩ K = A é fechado em K. Isto mostra que a aplicação identidade
K → K 0 é contı́nua.

4. Se a intersecção de um conjunto A com qualquer conjunto compacto em k(X) é


um conjunto fechado em k(X), então, pelo item anterior, a intersecção de A com
qualquer conjunto compacto em X é um conjunto compacto e, pois, fechado em
X. Destarte A é fechado em k(X).

5. Segue do Item 4.

6. Graças à Proposição A.1.5, precisamos somente mostrar que k(f ) é contı́nua


em cada conjunto compacto em k(X). Seja K 0 ⊂ X um conjunto compacto em
k(X). Pelo Item 3, este mesmo conjunto, agora denotado por K, com a topologia
induzida de X, é um conjunto compacto e, além disso, a aplicação identidade
K 0 → K é um homeomorfismo entre K 0 e K. Uma vez que f |K é contı́nua,
temos que f (K) é um conjunto compacto e, pelo Item 3, também é compacto o
conjunto f (K 0 ) com a topologia induzida de k(Y ). Como k(f ) |K 0 : K 0 → f (K 0 )
é a composição das aplicações K 0 → K → f (K) → f (K 0 ), k(f ) |K 0 é contı́nua
em K 0 . Destarte segue a afirmação. 

A.3 Espaços produto

Uma categoria conveniente de espaços deve ser fechada ante as operações padrão,
ou seja, uma construção aplicada a um ou mais espaços da categoria deve resultar em
um espaço na categoria. A categoria TopCG é quase ideal neste sentido: o espaço
produto entre espaços de TopCG, em geral, fornece um espaço de Hausdorff não ne-
cessariamente pertencente à categoria TopCG. Este fato é tratado considerando-se o
espaço compactamente gerado associado.

Definição A.3.1 (Produto em TopCG). Sejam X, Y ∈ TopCG. Dizemos que X ×


Y := k(X ×0 Y ), em que ×0 denota o espaço produto, é o produto de X e Y em
TopCG. I

Vejamos que o produto, como na Definição A.3.1, é de fato um produto na categoria


TopCG (vide Definição 2.2.1). Pelo Teorema A.2.1, a aplicação identidade X × Y →

83
X ×0 Y é contı́nua. Além disso, como as projeções X ×0 Y → X e X ×0 Y → Y são
contı́nuas, temos que suas composições com a identidade X × Y → X e X × Y → Y
são projeções contı́nuas que pertencem a TopCG. Dados Z ∈ TopCG e f : Z → X
e g : Z → Y aplicações contı́nuas, temos que f e g são componentes de uma única
aplicação contı́nua ϕ : Z → X ×0 Y . Considerando o espaço compactamente gerado
associado e notando que k(Z) = Z e que k(X ×0 Y ) = X × Y , temos que existe uma
única aplicação contı́nua k(ϕ) : Z → X × Y que, quando composta com as projeções,
fornece f e g.

Teorema A.3.1. Sejam X um espaço topológico localmente compacto e Y ∈ TopCG.


Então X ×0 Y ∈ TopCG. Ou seja, X ×0 Y = X × Y .
Demonstração. Seja A ⊂ X ×0 Y um conjunto cuja intersecção com qualquer conjunto
compacto de X ×0 Y é um conjunto fechado e seja (x0 , y0 ) ∈ (X ×0 Y ) \ A. Graças à
hipótese de compacidade local, x0 possui uma vizinhança V cujo fecho é um conjunto
compacto. Uma vez que V̄ ×0 {y0 } também é um conjunto compacto, A ∩ (V̄ ×0 {y0 })
é fechado. Assim, x0 possui uma vizinhança U de modo que (Ū ×0 {y0 }) ∩ A = ∅.
Seja B ⊂ Y a projeção do conjunto A ∩ (Ū ×0 Y ). Se K é um conjunto compacto em
Y , então A ∩ (Ū ×0 K) é um conjunto compacto e, portanto, B ∩ K é um conjunto
fechado em Y . Dado que Y ∈ TopCG, B é fechado em Y . Sendo que y0 ∈ / B, temos
que U ×0 (Y \ B) é uma vizinhança de (x0 , y0 ) totalmente contida em (X ×0 Y ) \ A.
Destarte A é fechado e, pois, X ×0 Y ∈ TopCG. 

Teorema A.3.2. Sejam X1 , X2 , Y1 , Y2 ∈ TopCG e f : X1 → X2 e g : Y1 → Y2


morfismos em TopCG que são proclusões. Então f × g : X1 × Y1 → X2 × Y2 , (x, y) 7→
(f (x), g(y)), é um morfismo em TopCG que é uma proclusão.
Demonstração. Graças à Subseção 2.2, f × g é um morfismo em TopCG. Logo, pre-
cisamos verificar somente que se trata de uma proclusão entre X1 × X2 e Y1 × Y2 .
Vejamos inicialmente que f × g = (f × idY2 ) ◦ (idX1 × g) = (idX2 × g) ◦ (f × idY1 ) (vide
Diagramas (A.3.1)).
idX1 ×g f ×idY1
X 1 × Y1 X1 × Y2 X 1 × Y1 X2 × Y1

f ×idY2 idX2 ×g (A.3.1)


f ×g f ×g

X2 × Y2 X2 × Y2

De fato, se (x, y) ∈ X1 × Y1 , então

[(f × idY2 ) ◦ (idX1 × g)](x, y) = (f × idY2 )(x, g(y)) = (f (x), g(y))


= (f × g)(x, y)

e também, analogamente, [(idX2 × g) ◦ (f × idY1 )](x, y) = (f × g)(x, y). Como estas


igualdades se dão para qualquer par (x, y) ∈ X1 × Y1 temos que as aplicações em
questão coincidem.
Dessa forma, como a composição de duas proclusões é também uma proclusão, é
suficiente verificar a afirmação do enunciado para o caso em que Y1 = Y2 e em que
g é a aplicação identidade (da mesma forma, seria suficiente considerar o caso em

84
que X1 = X2 e em que f é a aplicação identidade). Como f × idY1 é evidentemente
sobrejetora, pois por hipótese f é sobrejetora, resta mostrar que U é aberto em X2 × Y1
sempre que f −1 (U ) for aberto em X1 × Y1 . Equivalentemente, precisamos mostrar que
U é fechado em X2 × Y1 sempre que f −1 (U ) for fechado em X1 × Y1 .
Seja A ⊂ X1 × Y1 tal que (f × idY1 )−1 (A) é um conjunto fechado em X1 × Y1 . Sejam
K um conjunto compacto em X2 × Y1 e B e C as projeções de K em X2 e em Y1 ,
respectivamente. Logo, B × C é compacto em X2 × Y1 . Se mostramos que A ∩ (B × C)
é fechado em X2 × Y1 , então A ∩ K é fechado em X2 × Y1 e, como X2 × Y1 ∈ TopCG,
A é fechado em X2 × Y1 . Assim a afirmação estará provada.
Uma vez que (f × idY1 )−1 (B × C) = f −1 (B) × C é fechado em X1 × Y1 , temos que
(f × idY1 )−1 (A ∩ (B × C)) é fechado em f −1 (B) × C. Substituindo X1 , X2 e Y1 por,
respectivamente, f −1 (B), B e C, reduzimos a prova deste caso a considerar X1 e Y1
como espaços compactos. Desta forma, devido ao Teorema A.3.1, X2 × Y1 = X2 ×0 Y1
e X1 × Y1 = X1 ×0 Y1 .
Seja W ⊂ X2 × Y1 tal que (f × idY1 )−1 (W ) é aberto em X1 × Y1 e seja (x00 , y0 ) ∈ W .
Uma vez que f é uma proclusão, em particular, é uma aplicação sobrejetora; assim,
existe x0 ∈ X1 de forma que f (x0 ) = x00 . Sendo que (x0 , y0 ) ∈ (f × idY1 )−1 (W ) e que
Y1 é compacto, existe uma vizinhança V de y0 tal que {x0 } × V̄ ⊂ (f × idY1 )−1 (W ).
Seja U := {x ∈ X1 : {f (x)} × V̄ ⊂ W }. Vejamos que U é aberto em X1 ; seja
x1 ∈ U . Consideramos uma cobertura de {x1 } × V̄ por produtos de conjuntos abertos
de (f ×idY1 )−1 (W ) e tomamos uma subcoleção finita desta que é também uma cobertura
de {x1 } × V̄ ; então, a intersecção das projeções em X1 destes fatores é uma vizinhança
N de x1 tal que N × V̄ ⊂ (f × idY1 )−1 (W ). Assim, U é um conjunto aberto. Pela
forma como U foi definido, U = f −1 (f (U )). Desta forma f (U ) é aberto em X2 porque
f é uma proclusão. Dado que (x00 , y0 ) ∈ f (U ) × V e que f (U ) × V ⊂ W é aberto,
temos que W é aberto. 

Teorema A.3.3. Sejam X1 , X2 , Y1 , Y2 ∈ TopCG e f : X1 → X2 e g : Y1 → Y2


morfismos em TopCG que são mergulhos. Então f × g : X1 × Y1 → X2 × Y2 , (x, y) 7→
(f (x), g(y)), é um morfismo em TopCG que é um mergulho. 

Proposição A.3.1. Sejam X e Y espaços topológicos de Hausdorff. Então a topologia


produto de k(X) × k(Y ) coincide com a topologia de k(X ×0 Y ).
Demonstração. As aplicações identidade k(X) → X e k(Y ) → Y são contı́nuas (Te-
orema A.2.1) e, pois, a aplicação identidade g : k(X) ×0 k(Y ) → X ×0 Y também é
contı́nua. Destarte cada conjunto compacto de k(X) ×0 k(Y ) é um conjunto compacto
em X ×0 Y . Seja A um conjunto compacto em X ×0 Y . Sejam B e C as projeções,
respectivamente, em X e em Y , de A. Uma vez que B e C são conjuntos compactos,
temos que também são compactos em k(X) e em k(Y ), respectivamente. Deste modo
B ×0 C é um conjunto compacto em k(X) ×0 k(Y ); portanto g |B×0 C é contı́nua em cada
coordenada. Sendo que A ⊂ B ×0 C, temos que A é compacto em k(X)×0 k(Y ). Porque
k(X) ×0 k(Y ) e X ×0 Y têm os mesmos conjuntos compactos, segue da Definição A.2.1
que as topologias em questão coincidem. 

85
A.4 Espaços de função

Sendo X e Y espaços topológicos de Hausdorff, denotamos o conjunto das aplicações


contı́nuas de X a Y por C(X, Y ). Também, dados dois conjuntos Z ⊂ X e W ⊂ Y ,
denotamos por UZ,W o conjunto {f ∈ C(X, Y ) : f (Z) ⊂ W }.

Definição A.4.1 (Topologia compacto-aberto). Sejam X e Y espaços topológicos. A


famı́lia
{UK,A : K ⊂ X compacto A ⊂ Y aberto} ⊂ P(C(X, Y ))
é uma pré-base para uma topologia em C(X, Y ). Esta topologia é chamada de topolo-
gia compacto-aberto. I

A escolha da topologia compacto-aberto é natural pois um compacto no domı́nio


e um aberto no contradomı́nio são tais que a imagem de um compacto é compacta e
a imagem inversa de um aberto é aberta. O problema desta topologia está no fato de
que, sem acrescentar algumas hipóteses em relação aos espaços envolvidos, seu com-
portamento não é razoável quanto à composição, ao produto cartesiano e à evaluação.
O fato de que seja necessário introduzir hipóteses adicionais em relação às operações
básicas do parágrafo anterior justifica a necessidade de se procurar uma famı́lia de
espaços em que o comportamento da topologia compacto-aberto seja mais natural.
Vemos a seguir que se os espaços pertencerem à categoria TopCG todos os problemas
desaparecem.
Mesmo que tenhamos X e Y objetos da categoria TopCG, não necessariamente
obtemos que C(X, Y ) ∈ TopCG. Por isso, como anteriormente, devemos considerar o
espaço compactamente gerado associado. Assim sendo, para X e Y espaços topológicos
de Hausdorff, definimos Y X := k(C(X, Y )).

Proposição A.4.1. Sejam X e Y espaços topológicos de Hausdorff e e : C(X, Y ) ×0


X → Y , (f, x) 7→ f (x). Então e é contı́nua em conjuntos compactos. Além disso, se
X, Y ∈ TopCG, então e é contı́nua como aplicação Y X × X → Y .
Demonstração. Uma vez que todo conjunto compacto em C(X, Y ) ×0 X está contido
no produto de suas projeções, é suficiente verificar que e é contı́nua em conjuntos da
forma F × A, em que F é um conjunto compacto em C(X, Y ) e A é um conjunto
compacto em X. Sejam (f0 , x0 ) ∈ F × A e U um conjunto aberto em Y que contenha
f0 (x0 ). Sendo que f0 é contı́nua, existe uma vizinhança N ⊂ A de x0 cujo fecho é
tal que f0 (N̄ ) ⊂ U . Deste modo (UN̄ ,U ∩ F ) × N é um conjunto aberto em F × A,
que contém (f0 , x0 ), e que é aplicado por e em U . Isto mostra que e é contı́nua em
conjuntos compactos.
Graças ao Teorema A.2.1, a aplicação k(e) : k(C(X, Y ) ×0 X) → k(Y ) é contı́nua.
Caso X ∈ TopCG, pela Proposição A.3.1, temos que

k(C(X, Y ) ×0 X) = k(C(X, Y )) × k(X)


= YX ×X

e, se Y ∈ TopCG, k(Y ) = Y . Destarte k(e) : Y X × X → Y é uma aplicação


contı́nua. 

86
Proposição A.4.2. Sejam X ∈ TopCG e Y um espaço topológico de Hausdorff.
Então C(X, Y ) e C(X, k(Y )) são iguais como conjuntos e suas topologias têm os mes-
mos conjuntos compactos. Desta forma, k(C(X, k(Y ))) = k(C(X, Y )).
Demonstração. Se f : X → k(Y ) é uma aplicação contı́nua, então sua composição com
a aplicação identidade k(Y ) → Y também é contı́nua e, portanto, f ∈ C(X, k(Y )) ⇒
f ∈ C(X, Y ). Reciprocamente, se f : X → Y é uma aplicação contı́nua, então em
particular é uma aplicação contı́nua em compactos e, pelo Teorema A.2.1, segue que
a aplicação k(f ) : k(X) → k(Y ) é também contı́nua. Logo, f ∈ C(X, Y ) ⇒ f ∈
C(X, k(Y )). Portanto, como conjuntos, C(X, k(Y )) = C(X, Y ).
Uma vez que a aplicação identidade id : k(Y ) → Y é uma aplicação contı́nua, a
aplicação identidade C(X, k(Y )) → C(X, Y ), f 7→ id ◦ f , é contı́nua. Portanto, cada
conjunto compacto em C(X, k(Y )) é um conjunto compacto em C(X, Y ).
Seja F ⊂ C(X, Y ) um conjunto compacto em sua topologia induzida de C(X, Y ).
Denotamos por F 0 o conjunto F dotado de sua topologia induzida de C(X, k(Y )).
Vamos provar que F 0 é compacto. Para isso, é suficiente verificar que a intersecção
de F 0 com qualquer conjunto U aberto em C(X, k(Y )) é um conjunto aberto em F ,
pois isso implica que a aplicação identidade F → F 0 é contı́nua e, pois, segue que F 0
é compacto. É também suficiente provar a afirmação quando U é um conjunto aberto
pré-básico UK,A , em que K é um conjunto compacto em X e A é um conjunto aberto em
k(Y ). Seja f0 ∈ UK,A ∩ F . Sendo que F × K é compacto, a Proposição A.4.1 garante
que a evaluação e : F × K → Y é uma aplicação contı́nua e, portanto, o Teorema A.2.1
diz que esta aplicação é contı́nua como função F × K → k(Y ). Desta forma, e−1 (A) é
um conjunto aberto em F ×K. Como K é um conjunto compacto e {f0 }×K ⊂ e−1 (A),
existe um conjunto aberto V em F contendo f0 de sorte que V × K ⊂ e−1 (A). Assim
segue que f0 ∈ V ⊂ UK,A . Destarte UK,A ∩ F é um conjunto aberto em F . Isso encerra
a prova de que F 0 é compacto e mostra que as topologias dos conjuntos C(X, Y ) e
C(X, k(Y )) têm os mesmos conjuntos compactos. Por fim, ressaltamos somente que a
Definição A.2.1 implica imediatamente que k(C(X, k(Y ))) = k(C(X, Y )). 

Teorema A.4.1. Sejam X, Y, Z ∈ TopCG. Então (Y × Z)X = Y X × Z X .


Demonstração. A cada f : X → Y × Z está associado o par (πY ◦ f, πZ ◦ f ), em
que πY : Y × Z → Y e πZ : Y × Z → Z são as projeções de Y × Z em Y e em
Z, respectivamente. Como f, πY e πZ são aplicações contı́nuas, temos que πY ◦ f e
πZ ◦ f também o são. Reciprocamente, se πY ◦ f e πZ ◦ f são aplicações contı́nuas,
então f : X → Y ×0 Z é uma aplicação contı́nua. Graças ao Teorema A.2.1 segue que
k(f ) = f é uma aplicação contı́nua de k(X) = X a k(Y ×0 Z) = Y × Z.
Inicialmente mostramos que há uma igualdade entre as topologias compacto-aberto
de C(X, Y ×0 Z) e de C(X, Y )×0 C(X, Z). Consideramos um conjunto aberto pré-básico
de C(X, Y ×0 Z) da forma UK,V ×0 UL,W , em que K e L são conjuntos compactos em X e
V e W são conjuntos abertos em Y e Z, respectivamente. Este aberto pré-básico corres-
ponde ao conjunto aberto UK,V ×0 Z ∩ UL,Y ×0 W de C(X, Y ) ×0 C(X, Z). Reciprocamente,
um conjunto aberto pré-básico de C(X, Y ) ×0 C(X, Z) da forma UK,V ×W corresponde
ao conjunto aberto UK,V ×0 UK,W . No caso de um conjunto aberto pré-básico qualquer
UK,S de C(X, Y ×0 Z), escolhemos um ponto f0 ∈ UK,S e procedemos da seguinte ma-
neira: uma vez que f0 (K) ⊂ S ⊂ Y ×0 Z é um conjunto compacto, existem uma coleção
{Kj }nj=1 de subconjuntos compactos de K e uma coleção {Vj × Wj }nj=1 de conjuntos

87
abertos de Y ×0 Z de sorte que K = nj=1 Kj e que f0 (Kj ) ⊂ Vj × Wj ⊂ S para todo
S
1 ≤ j ≤ n. Destarte
\n
f0 ∈ UKj ,Vj ×Wj ⊂ UK,S .
j=1
0
Tn que UKj ,Vj ×Wj é aberto, para todo 1 ≤ j ≤ n, em C(X, Y ) × C(X, Z), temos que
Dado
j=1 UKj ,Vj ×Wj é também um conjunto aberto neste espaço. Portanto UK,S é aberto
em C(X, Y ) ×0 C(X, Z).
Para terminar a prova consideramos os espaços compactamente gerados associados.
Aplicando a Proposição A.4.2 a C(X, Y ×0 Z) obtemos

k(C(X, Y ×0 Z)) = k(C(X, k(Y ×0 Z)))


= (Y × Z)X

e, aplicando a Proposição A.3.1 a C(X, Y ) ×0 C(X, Z), obtemos

k(C(X, Y ) ×0 C(X, Z)) = k(C(X, Y )) × k(C(X, Z))


= Y X × ZX .

Teorema A.4.2. Sejam X, Y, Z ∈ TopCG. Então Z Y ×X = (Z Y )X .


Demonstração. Mostramos inicialmente que µ : C(Y × X, Z) → C(X, C(Y, Z)), que
a cada f ∈ C(Y × X, Z) associa µ(f ) : X → C(Y, Z), µ(f )(x)(y) = f (y, x), é um
homeomorfismo entre os espaços em questão. De fato, para ver que µ(f )(x) é uma
aplicação contı́nua de Y a Z, para todo x ∈ X, suponhamos que µ(f )(x)(y0 ) ∈ U ,
em que U é um conjunto aberto em Z. Então f (y0 , x) ∈ U e, pela continuidade de f ,
existe um conjunto V aberto em Y de modo que y0 ∈ V e que f (V × {x}) ⊂ U ; desta
forma, µ(f )(x) aplica V em U .
Devemos mostrar agora que se f ∈ C(Y × X, Z), então µ(f ) : X → C(Y, Z) é uma
aplicação contı́nua. Seja UK,W um conjunto aberto pré-básico de C(Y, Z) e suponhamos
que µ(f )(x0 ) ∈ UK,W . Então f (K × {x0 }) ⊂ W . Uma vez que W é aberto e K é
compacto, existe uma vizinhança N de x0 tal que f (K × N ) ⊂ W . Isto implica que
µ(f )(N ) ⊂ UK,W e, portanto, segue a afirmação.
Para provar a continuidade de µ, começamos com a continuidade da evaluação

e : Y × X × C(Y × X, Z) → Z.

Sabemos que
µ(e) : X × C(Y × X, Z) → C(Y, Z)
é contı́nua. Portanto, temos que

µ(µ(e)) : C(Y × X, Z) → C(X, C(Y, Z))

é contı́nua. É fato simples ver que µ(µ(e)) = µ.


A fim de mostrar que µ possui uma inversa contı́nua, consideramos

e : X × C(X, C(Y, Z)) → C(Y, Z) e e0 : Y × C(Y, Z) → Z,

88
as evaluações. Pela Proposição A.4.1 temos que a composição

e0 ◦ (idY × e) : Y × X × C(X, C(Y, Z)) → Z

é contı́nua. Desta forma, é também contı́nua a aplicação

µ(e0 ◦ (idY × e)) : C(X, C(Y, Z)) → C(Y × X, Z).

Mais uma vez, é fato simples ver que µ(e0 ◦ (1 × e)) é a aplicação inversa de µ.
Por fim, consideramos os espaços compactamente gerados associados. Graças à
Proposição A.4.2 temos que

k(C(X, C(Y, Z))) = k(C(X, k(C(Y, Z))))


= (Z Y )X .

Por outro lado, obtemos k(C(Y × X, Z)) = Z Y ×X . 

89
Referências
[DUGUNDJI] DUGUNDJI, James; Topology. Allyn and Bacon Series in Advanced
Mathematics.

[HILTON-STAMMBACH] HILTON, P. J. and STAMMBACH, U.; A course in homo-


logical algebra. Graduate Texts in Mathematics 4. Springer-Verlag, 1971.

[HUNGERFORD] HUNGERFORD, Thomas W.; Algebra. Graduate Texts in Mathe-


matics 73. Springer-Verlag New York, 1980.

[MUNKRES] MUNKRES, James R.; Topology. Prentice Hall, Upper Saddle River, NJ
07459.

[SPANIER] SPANIER, Edward H.; Algebraic Topology. McGraw-Hill. Springer-Verlag,


1966.

[STEENROD] STEENROD, N. E.; A Convenient Category of Topological Spaces. Mi-


chigan Math. J. Volume 14, Issue 2 (1967), 133-152.

90
Índice Remissivo
i-face, 73 conjunto subjacente, 14
j-cadeias, 59 contração de cadeias, 64
contradomı́nio, 7
acı́clico em dimensões positivas, 66 coproduto, 22
adjunto à direita, 51 coproduto fibrado, 28
adjunto à esquerda, 51 couniversal, 16
base, 65 diferencial, 57
categoria, 7 divisı́vel, 18
categoria com modelos, 65 domı́nio, 7
categoria concreta, 15 elemento isolado, 54
categoria de morfismos, 10 elemento universal, 46
categoria dual, 9 equalizador, 19
categoria oposta, 9 equivalência, 1
categoria produto, 9 equivalência de categorias, 43
categoria quociente, 10 espaço compactamente gerado, 77
categorias equivalentes, 43 espaço compactamente gerado associado,
categorias grandes, 40 79
categorias isomorfas, 40 espaço topológico com ponto marcado, 8
categorias pequenas, 40
cheia, 11 funtor cheio, 43
ciclos homólogos, 57 funtor contravariante, 36
classe, 1 funtor covariante, 33
Classe das Partes, 4 funtor covariante esquecedor, 35
classe de equivalência, 3 funtor covariante identidade, 34
Classe de Russel, 2 funtor de duas variáveis, 38
classe própria, 2 funtor fiel, 43
Classe Universal, 2 funtor homologia orientada, 72
Classe Vazia, 3 funtor homologia singular, 73
classes de homologia, 57 funtor livre em C com modelos em M , 65
coequalizador, 19 funtor representável, 45
compatı́vel com a composição, 10
complexo cone, 68 grau, 59
complexo de cadeias, 59 grupo de homologia, 57
complexo de cadeias acı́clico, 64 grupo de homologia orientada, 72
complexo de cadeias contrátil, 64 grupo de homologia singular, 74
complexo de cadeias livre, 59 grupo diferencial, 57
complexo de cadeias orientado, 72 grupo graduado, 59
complexo de cadeias quociente, 60 grupo graduado diferencial, 59
complexo de cadeias singular, 73 grupos de homologia singular relativa, 74
complexo não-negativo, 59 homomorfismo de grau r, 59
composição, 7 homomorfismo induzido em homologia, 58
cone, 68 homotopia de cadeias, 62
conjunto, 2
conjunto direto, 54 implicação, 1

92
isomorfismo, 12 união disjunta, 25
isomorfismo de cadeias, 64 universal, 16
isomorfismo natural identidade, 40

limite direto, 54
limite inverso, 56
livre, 15

método dos modelos acı́clicos, 65


mergulho cheio, 41
mergulho de categorias, 41
morfismo, 7
morfismo épico, 17
morfismo canônico, 39
morfismo de cadeias, 60
morfismo mônico, 17
morfismo zero, 19

objeto zero, 18
operador bordo, 57

par adjunto, 51
proclusão, 78
produto, 21
produto cartesiano, 25
produto fibrado, 27
pull-back, 27
push-forward, 28

reflexividade, 3
relação de equivalência, 3

simetria, 3
simplexo orientado, 71
simplexo singular, 73
sistema direto, 54
sistema inverso, 55
subcategoria, 10
subclasse, 2
subcomplexo, 60
subgrupo dos bordos, 57
subgrupo dos ciclos, 57

topologia compacto-aberto, 83
transformação de cadeias, 60
transformação natural, 39
transformação natural identidade, 39
transformação projeção, 60
transitividade, 3
tripla cartesiana, 29
tripla cocartesiana, 30

93

Você também pode gostar