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Gravata Site: Dicas para narrar Chamado de Cthulhu em um cenário de Ficção Científica
Resumo Facebook: Cansado de jogar Cthulhu em cenários dos anos 20? Surpreenda seus
jogadores com cenários futuristas, onde nem a tecnologia poderá salvar os investigadores
dos horrores cósmicos.
Imagem de Capa: https://goo.gl/images/ErkE6U
Tema: Do Além, Hyperdrive
Categoria: Dicas
Tags: Chamado de Cthulhu, Ficção Científica, Chaosium, Mitos de Cthulhu, horror,
cenários, espaço, CthulhuTech, Gurps Cthulhupunk, Cthulhu Rising, New Horizon, Cthulhu
Through the Ages
Apresentamos algum tempo atrás um cenário alternativo para Chamado de Cthulhu, onde
os investigadores eram desafiados a enfrentar um apocalipse zumbi [link:
https://universorpg.com/do-alem/dicas/apocalipse-zumbi-no-mundo-de-cthulhu/]. A ideia
aqui hoje é trazermos dicas para outra ambientação pouco comum em Cthulhu, que são os
cenários de ficção científica, sobretudo aqueles que envolvem exploração espacial. Existem
diversas fontes de inspiração para terror espacial que os narradores podem aproveitar, tais
como os filmes Aliens, O Enigma do Horizonte, Sunshine, Pandorum, Viagem a Lua de
Júpiter, Spectral, Cloverfield Paradox e os jogos Dead Space, Doom 3 e Alien Isolation.
Outros sistemas também já combinaram ficção com Cthulhu, porém sem manter o mesmo
clima de terror característico de CdC: CthulhuTech (onde a humanidade está em guerra
contra criaturas dos Mitos e mechas são comuns) e GURPS Cthulhupunk (que possui uma
pegada mais voltada para o estilo Cyberpunk dos anos 90)
Mas e o que temos hoje, com a sétima edição? Infelizmente ainda não há nenhum grande
suplemento ou aventura atualizada. Com o lançamento dos novos livros básicos, foi lançado
também uma espécie de suplemento de atualização de regras, o Cthulhu Through the Ages,
que apresenta uma conversão para a sétima edição de suplementos clássicos como Dark
Ages, Gaslight e Invictus. Além disso, há uma pérola escondida nesse livro, que é um
mini-cenário de ficção científica, o The Icarus (não confundir com o cenário The Icarus
Project já citado). Embora curto, ele já ajuda um pouco ao apresentar algumas novas
ocupações e habilidades futuristas. Outra opção ainda é o clone de CdC conhecido como
New Horizon [link: https://gitlab.com/NHcthulhu/NewHorizon]. Ele apresenta uma extensa
lista de habilidades e ocupações, além de equipamentos, regras para psiquismo, andróides,
IAs e até mesmo um cenário introdutório (The Last Log).
Agora que já temos algumas referências para construir nossos investigadores, vamos às
dicas para criação de aventuras …
Mesmo que existam muitas pessoas a bordo (como numa nave de colonização), é
importante manter a noção de isolamento/impotência: pode ser que somente poucas
pessoas foram despertadas (por serem parte da tripulação e não passageiros), as outras
pessoas podem ter morrido por um defeito no sistema de animação suspensa, elas podem
estar infectadas por alguma doença ou pior, enlouqueceram por algum motivo desconhecido
e estão atacando umas às outras! O filme Passageiros (2016) apresenta ainda outro tipo de
solução, onde o isolamento é parte do dilema de quem despertou - faltam vários anos para
a missão chegar no objetivo e não é possível voltar para a hibernação, o que você faz?
Acorda outras pessoas ou tenta viver sozinho por vários anos? Certamente é um dilema
que pode conduzir para situações enlouquecedoras.
A causa dos problemas é a oportunidade perfeita para inserir um elemento dos Mitos. A
nave pode ter sido abordada por Mi-go, Vampiros Estelares, Insetos de Shaggai ou Uma
Cor Vinda do Espaço. Essas criaturas podem ter sido atraídas por um artefato que se
encontra na nave, elas podiam estar num cometa que passou por perto, atravessaram o
portal que permite as viagens MRL ou ainda podem ter infectado um dos tripulantes durante
uma missão fora da nave. Outra possibilidade é que a entidade alienígena não está na nave
mas consegue exercer algum efeito à distância, tamanho é seu poder. Azathoth, Hastur,
Nyarlathotep, Cthugha e Yog-Sothoth são alguns exemplos de entidades suficientemente
poderosas para interferir nos dispositivos de uma nave ou mesmo afetar a mente dos
investigadores, mesmo estando a milhões de quilômetros de distância.
Uma outra ideia interessante é a IA que controla a nave ter enlouquecido. HAL-9000 é o
exemplo mais óbvio, porém a IA Apollo de Alien Isolation é ainda mais assustadora, pois ela
possui o controle sobre andróides de manutenção (os Joes trabalhadores) que se tornam
armas mortais, dado sua força e resistência sobre-humanas. Pode ser que a IA esteja
simplesmente tentando se livrar de um organismo alienígena na nave, executado
indiscriminadamente rotinas de quarentena e “esterilização”. Ou ela pode realmente estar
agindo de forma errática em função de algum erro na sua programação. Na monografia
Cthulhu Once Men é considerada a possibilidade das IAs, robôs e andróides
enlouquecerem como os investigadores, devido à exposição a uma criatura dos Mitos.
Teoricamente entidades extremamente caóticas estariam além da possibilidade de
processamento e compreensão de uma IA, fazendo com que o seu código seja corrompido
e ela comece a se comportar como uma pessoa que perdeu sua sanidade. Nesse
suplemento inclusive existem regras para “sanidade” das máquinas, que são medidas
através de pontos de “estabilidade”ou “integridade”.
Até agora só falamos de naves, porém todas as ideias discutidas até aqui se aplicam com
poucos ajustes em situações equivalentes onde os investigadores estão numa estação
espacial ou numa colônia em um planeta/asteróide distante (que pode até mesmo ser
Marte, dependendo do nível tecnológico do cenário). Nesse caso a fonte de caos pode estar
escondida no planeta, ter caído com um meteoro ou ainda ter sido trazida em uma nave.
A missão dos investigadores pode ter sido passada através de um “briefing” na Terra, caso
em que eles poderão se preparar com antecedência. Mas pode ser que eles estejam em
alguma missão de rotina (transporte de suprimentos, por exemplo) e recebem um sinal de
socorro ou um sinal estranho e se vêem obrigados a investigar esse sinal, seja por conta de
um código de ética de exploradores espaciais ou por determinação contratual da companhia
para a qual eles trabalham.
Mas qual o objetivo da missão afinal? Alguns exemplos: uma nave desaparecida a vários
anos reapareceu misteriosamente; fazem vários meses que perdeu-se o contato com uma
colônia distante; foi recebido um pedido de socorro de uma nave à deriva / estação
espacial; o objetivo é explorar um novo mundo recém descoberto; foram descobertas
misteriosas ruínas de uma civilização ancestral.
Qualquer que seja o objetivo, nesse tipo de cenário é importante construir um clima de
tensão gradativo, onde os investigadores vão percebendo indícios perturbadores de que
alguma coisa está errada. Tripulações completamente desaparecidas, marcas estranhas
nas paredes, memória dos computadores apagada e barricadas nas portas são exemplos
de coisas que vão mexer com os nervos dos jogadores sem revelar nada óbvio. Essa
construção pode culminar com algum grande confronto com um terror dos Mitos ou pode
simplesmente conduzir para uma espiral de loucura, pelo acúmulo de vários pequenos
incidentes inexplicáveis.
No final, os investigadores poderão ter a possibilidade de fugir ou ter de confrontar a fonte
de horror, caso seu meio de fuga tenha sido destruído / incapacitado. Se você planeja uma
aventura “one-shot”, pode ser interessante dar como única saída um final heróico clássico,
onde os investigadores se sacrificam com a explosão de um reator / colisão com uma
estrela para evitar que um mal maior alcance a humanidade. A história “Nas Montanhas da
Loucura”, embora se passe na Antártida, representa bem a estrutura desse tipo de cenário.