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Estudo Comparativo Dos Efeitos Procineticos Neurolagicos Cardaacos He
Estudo Comparativo Dos Efeitos Procineticos Neurolagicos Cardaacos He
ESCOLA DE VETERINÁRIA
Belo Horizonte-MG
2019
1
Heloísa de Paula Pedroza
Belo Horizonte
Escola de Veterinária – UFMG
2019
2
Pedroza, Heloísa de Paula. 1988.
P372e Estudo comparativo dos efeitos procinéticos, neurológicos, cardíacos, hematológicos e bioquímicos
da bromoprida e da metoclopramida na espécie equina/ Heloísa de Paula Pedroza- 2019.
126p.: il.
CDD – 636.089
3
4
5
Dedicatória
6
AGRADECIMENTOS
À Deus, aquele que me permitiu tudo isso, ao longo de toda a minha vida, e não somente nestes
anos, é a Ele que dirijo minha maior gratidão.
Aos meus pais, Ricardo e Ivoneide, e irmão Ricardo Henrique, por acreditarem sempre em mim.
Pelo incentivo, apoio, carinho e amor que me oferecem até hoje. Amo todos vocês intensamente.
À Antônio Catunda, você foi fundamental nesta jornada. Obrigada por todo apoio e
companheirismo. Te amo!
À Marília Melo, Rafael Faleiros e Edvânia, obrigada por todo apoio e suporte emocional. Vocês
foram fundamentais para execução desse trabalho.
Aos mestres que contribuíram tanto para a execução deste trabalho, pessoas nas quais eu tenho
uma enorme admiração: Kelly Moura, Geraldo Eleno, Andressa Batista, Rafaela, Eloísa Simões
Anelise, Paulo Ricardo e Maíra.
Aos amigos que colaboraram na execução deste trabalho: Letícia Cota, Marco Túlio Gomes,
Isabella Winter, Jorge Tibúrcio, Lucas Antunes, Marina Cunha, Marina, Bruno Malacarne,
Mayara, Maíra, Marthin e Kay, sem vocês não teria êxito.
Aos amigos da UFMG, Raquel Cabala, Marina Guimaraes, Lilian de Paula, Filipe Mendonça,
Cahuê Paz, Sergio Rocha, Álvaro de Paula, Tati, Ana Flávia, Luísa Cangussu, Débora Ribeiro,
Rodrigo Ribeiro.
À seu João Chumbinho e todos os companheiros da casa: Marco Túlio, Letícia Cota, Laura
Marcela, Andrea, Daniel, Sidmar e Andrés, obrigada pela amizade e as experiências trocadas
durante o convívio.
À todos os funcionários.
Ao CNPq e a Capes.
7
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO GERAL ...................................................................................... 20
2. HIPÓTESE ............................................................................................................ 21
3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 21
3.1. OBJETIVOS GERAIS ........................................................................................ 21
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 21
4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 22
CAPÍTULO I - MOTILIDADE INTESTINAL DE EQUINOS – FISIOLOGIA,
MONITORAMENTO E ÍLEUS .................................................................................. 25
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 27
2. MOTILIDADE GASTROINTESTINAL............................................................ 27
3. AVALIAÇÃO DA MOTILIDADE INTESTINAL ............................................ 34
3.1. AUSCULTAÇÃO ............................................................................................... 34
3.2. ULTRASSONOGRAFIA ................................................................................... 35
3.3. ELETROINTESTINOGRAFIA .......................................................................... 36
3.4. MARCADORES DE TRÂNSITO INTESTINAL.............................................. 36
3.5. BIOSSENSORES DE VIGILÂNCIA GASTROINTESTINAL ACÚSTICA
NÃO INVASIVA ............................................................................................................ 38
4. ÍLEUS ..................................................................................................................... 39
4.1. DEFINIÇÕES DE ÍLEUS ................................................................................... 39
4.2. PATOFISIOLOGIA DO ÍLEUS ......................................................................... 41
4.3. SINAIS CLÍNICOS E CONSEQUÊNCIAS DO ÍLEUS.................................... 44
4.4. UMA VISÃO GERAL DA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE ÍLEUS ..... 45
4.5. O PAPEL DA METOCLOPRAMIDA E DA BROMOPRIDA NO
TRATAMENTO DE ÍLEUS........................................................................................... 47
4.6. SITUAÇÃO ATUAL DO ÍLEUS ....................................................................... 50
5. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 50
CAPÍTULO II - AVALIAÇÃO DOS EFEITOS NEUROLÓGICOS DA
BROMOPRIDA E DA METOCLOPRAMIDA EM EQUINOS .............................. 51
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 53
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 53
3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 54
8
3.1. COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS ............................................. 54
3.2. ANIMAIS ............................................................................................................ 54
3.3. AJUSTE DAS DOSES DE METOCLOPRAMIDA E BROMOPRIDA ........... 54
3.4. ADMINISTRAÇÃO DOS FÁRMACOS ........................................................... 54
3.5. AVALIAÇÃO DOS EFEITOS NEUROLÓGICOS ........................................... 55
3.5.1. Avaliação do comportamento....................................................................... 56
3.5.2. Avaliação do grau de sedação ...................................................................... 57
3.5.3. Avaliação da reação ao toque ....................................................................... 57
3.5.4. Avaliação do limiar nociceptivo ................................................................... 58
4. ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................... 58
5. RESULTADOS ...................................................................................................... 58
5.1. AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO ......................................................... 58
5.2. AVALIAÇÃO DO GRAU DE SEDAÇÃO ........................................................ 62
5.3. AVALIAÇÃO DA REAÇÃO AO TOQUE ....................................................... 62
5.4. AVALIAÇÃO DO LIMIAR NOCICEPTIVO ................................................... 62
6. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 63
7. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 66
CAPÍTULO III - AVALIAÇÃO DO EFEITO PROCINÉTICO DA
BROMOPRIDA E DA METOCLOPRAMIDA EM EQUINOS .............................. 67
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 69
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 70
3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 70
3.1. COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS ............................................. 70
3.2. ANIMAIS ............................................................................................................ 70
3.3. ADMINISTRAÇÃO DOS FÁRMACOS ........................................................... 70
3.4. ADMINISTRAÇÃO MARCADOR DE TRÂNSITO INTESTINAL (LIPE®). 71
3.5. AVALIAÇÃO DA MOTILIDADE POR AUSCULTAÇÃO............................. 71
3.6. AVALIAÇÃO DA MOTILIDADE POR ULTRASSONOGRAFIA ................. 71
3.7. COLETA E PROCESSAMENTO DAS FEZES ................................................ 73
4. ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................... 73
5. RESULTADOS ...................................................................................................... 73
5.1. AVALIAÇÃO DA MOTILIDADE INTESTINAL POR AUSCULTAÇÃO .... 73
9
5.2. AVALIAÇÃO DA MOTILIDADE POR ULTRASSONOGRAFIA ................. 75
5.3. AVALIAÇÃO DO TRÂNSITO INTESTINAL ................................................. 77
6. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 78
7. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 82
CAPÍTULO IV - AVALIAÇÃO DOS EFEITOS CARDÍACOS DA
BROMOPRIDA E DA METOCLOPRAMIDA EM EQUINOS .............................. 83
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 85
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 86
3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 86
3.1. COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS ............................................. 86
3.2. ANIMAIS ............................................................................................................ 86
3.3. ADMINISTRAÇÃO DOS FÁRMACOS ........................................................... 86
3.4. AVALIAÇÃO ELETROCARDIOGRÁFICA .................................................... 87
4. ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................... 87
5. RESULTADOS ...................................................................................................... 88
6. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 91
7. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 94
CAPÍTULO V - AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA BROMOPRIDA E DA
METOCLOPRAMIDA NOS PARÂMETROS FISIOLÓGICOS,
HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS DE EQUINOS ......................................... 95
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 97
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 98
3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 98
3.1. COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS ............................................. 98
3.2. ANIMAIS ............................................................................................................ 98
3.3. ADMINISTRAÇÃO DOS FÁRMACOS ........................................................... 98
3.4. AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA .............................................. 98
3.5. AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA ...................................... 99
3.6. AVALIAÇÃO DA TEMPERATURA RETAL .................................................. 99
3.7. COLHEITA DO SANGUE ................................................................................. 99
3.8. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS PARA AVALIAÇÃO
HEMATOLÓGICA......................................................................................................... 99
10
3.9. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS PARA AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA
99
4. ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................. 100
5. RESULTADOS .................................................................................................... 100
5.1. AVALIAÇÃO DA TEMPERATURA RETAL E DAS FREQUÊNCIAS
CARDÍACA E RESPIRATÓRIA ................................................................................. 100
5.2. AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA .................................................................. 102
5.3. AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA.......................................................................... 104
6. DISCUSSÃO ........................................................................................................ 106
6.1. PARÂMETROS FISIOLÓGICOS.................................................................... 106
6.2. PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS ............................................................ 107
6.3. PARÂMETROS BIOQUÍMICOS .................................................................... 108
7. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 110
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 112
11
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO III
Tabela 1 - Médias dos Tempos Médio de Retenção (TMR) e Taxa de Passagem (TxP) da fase
sólida da digesta em cada tratamento (controle, metoclopramida e bromoprida) em horas. ....... 78
CAPÍTULO IV
Tabela 1 - Alterações eletrocardiográficas e frequências cardíaca máxima, mínima e média de
equinos hígidos quando submetidos a três tipos de tratamento: controle, bromoprida (0.025
mg/kg) e metoclopramida (0.125 mg/kg). ................................................................................... 89
CAPÍTULO V
Tabela 1 - Médias e desvios padrão da temperatura retal (ºC), por tempo, conforme o tratamento
metoclopramida, bromoprida e controle. ................................................................................... 101
Tabela 2 - Médias e desvios padrão das frequências cardíaca (bpm), por tempo, conforme o
tratamento metoclopramida, bromoprida e controle.. ................................................................ 101
Tabela 3 - Médias e desvios padrão das frequências respiratória (mpm), por tempo, conforme o
tratamento metoclopramida, bromoprida e controle. ................................................................. 101
Tabela 4 - Média e desvio padrão dos índices hematológicos e hematimétricos de equinos,
conforme o tratamento controle (CONT), bromoprida (BRO) e metoclopramida (MET). ....... 102
Tabela 5 - Importância relativa de cada preditor (tratamento, animal e tempo) na variável resposta
dos valores hematológicos. ........................................................................................................ 103
Tabela 6 - Médias e desvios padrão do leucograma de equinos, conforme o tratamento controle,
bromoprida e metoclopramida. .................................................................................................. 103
Tabela 7 - Importância relativa de cada preditor (tratamento, animal e tempo) na variável resposta
dos valores hematológicos. ........................................................................................................ 104
Tabela 8 - Mediana, valor máximo e mínimo da bioquímica sérica de equinos, conforme o
tratamento controle (CONT), bromoprida (BRO) e metoclopramida (MET). .......................... 104
Tabela 9 - Importância relativa de cada preditor (tratamento, animal e tempo) na variável
resposta. ..................................................................................................................................... 106
12
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO II
Figura 1 - Representação esquemática das regiões de avaliação da reação ao toque de bastão
(nuca - azul, axila – rosa e virilha - amarelo) e das regiões de avaliação do limiar nociceptivo
(tuberosidade da escápula - verde e tuberosidade coxal - vermelho). ......................................... 57
Figura 2 – Cavalo apresentando efeito extrapiramidal (EEP) após a administração de
metoclopramida na dose de 0.125 mg/kg. O animal apresentou inquietação (A, B,C D, E e F),
busca desesperada por alimento (A), cavar (B), coices no ar (C) e rolar (D, E e F). Os efeitos se
iniciaram 10 minutos após a administração da metoclopramida e duraram em torno de 50 minutos.
..................................................................................................................................................... 61
CAPÍTULO III
Figura 1 - Imagem ultrassonográfica transcutânea abdominal de equino, com evidências parciais
do baço e colón ventral esquerdo (CVE) caracterizado pela presença de haustras. O transdutor
macroconvexo de 5 MHz foi posicionado na área ventral da fossa paralombar esquerda ao nível
da articulação femurotibiopatelar. As contrações do cólon ventral esquerdo foram avaliadas por
mudanças nas saculações maiores do que 2 cm.. ......................................................................... 72
Figura 2 – Imagem ultrassonográfica transcutânea abdominal de equino, com evidências parciais
do fígado, colón dorsal direito (CDD) e duodeno (D). O duodeno descendente foi localizado na
área compreendida entre a 8ª e a 18ª costela direitas ao longo da linha do olecrano e tuberosidade
coxal, local onde foi posicionado o transdutor macroconvexo de 5 MHz. Na imagem A, observa-
se o duodeno começando a contrair; na B, o duodeno contraído e na C, o duodeno dilatado. O
círculo amarelo mostra a área de posicionamento do transdutor para a realização do exame
ultrassonográfico da base do ceco................................................................................................ 72
CAPÍTULO IV
Figura 1 - Ilustração dos locais de colocação dos eletrodos (derivação base-ápice) para a
realização de eletrocardiograma nos equinos. Eletrodo preto – ponta da escápula (ponto preto);
eletrodo verde – ápice cardíaco (ponto verde); e eletrodo vermelho – sulco da jugular do lado
direito (ponto vermelho).. ............................................................................................................ 87
13
Figura 2 – Eletrocardiograma (ECG) do cavalo A, 60 minutos após a administração de 0.3 mg/kg
de metoclopramida. A –ECG e frequência cardíaca normal; B – taquicardia e alterações no traçado
do ECG.. ...................................................................................................................................... 88
Figura 3 - Eletrocardiograma (ECG) normal de um equino. O círculo azul mostra as ondas
PQRST... ...................................................................................................................................... 90
Figura 4 – Eletrocardiograma (ECG) de um equino apresentando bloqueio atrioventricular de
segundo grau (BAV2). O BAV2 é caracterizado por falha intermitente do impulso elétrico atrial
a ser conduzido através do nó AV até os ventrículos. O ECG é caracterizado por ondas P que
ocorrem regularmente, das quais algumas não são seguidas pelo complexo QRS-T (círculo azul).
..................................................................................................................................................... 90
Figura 5 - Eletrocardiograma (ECG) de um equino apresentando extrassístole supraventricular
isolada ou complexo atrial prematuro (círculo azul)... ................................................................ 90
Figura 6 – Eletrocardiograma (ECG) de um equino apresentando parada sinusal. O círculo azul
demonstra o local onde seria para estar presente as ondas PQRST.. ........................................... 90
14
LISTA DE GRÁFICOS
CAPÍTULO II
Gráfico 1 - Médias das somas dos escores de comportamento e seus respectivos intervalos de
95% de confiança para cada tratamento em cada tempo. As letras acima de cada grupo
representam as comparações múltiplas: a - diferença significativa entre BRO (bromoprida) e
CONT (controle); b – diferença significativa entre BRO (bromoprida) e MET (metoclopramida)
e c – diferença significativa entre MET (metoclopramida) e CONT (controle). ......................... 59
Gráfico 2 - Médias das somas dos escores de comportamento e seus respectivos intervalos de
95% de confiança para cada tratamento (BRO – bromoprida, CONT – controle e MET –
metoclopramida) em cada tempo. Os momentos destacados com o asterisco são
significativamente diferentes do tempo zero a 5% de significância.. .......................................... 59
Gráfico 3 - Médias da altura da cabeça (cm) e seus respectivos intervalos de 95% de confiança
para cada tratamento (BRO – bromoprida, CONT – controle e MET – metoclopramida) em cada
tempo. Os momentos destacados com o asterisco são significativamente diferentes do tempo zero
a 5% de significância.. ................................................................................................................. 62
Gráfico 4 - Médias das somas dos escores da avaliação da reação ao toque e seus respectivos
intervalos de 95% de confiança para cada tratamento em cada tempo. Os momentos destacados
com o asterisco são significativamente diferentes do tempo zero a 5% de significância.. .......... 62
Gráfico 5 - Médias das somas dos limiares nociceptivos (kg) e seus respectivos intervalos de 95%
de confiança para cada tratamento em cada tempo. Os momentos destacados com o asterisco são
significativamente diferentes do tempo zero a 5% de significância. ........................................... 63
CAPÍTULO III
Gráfico 1 - Diferenças das médias de escore de motilidade intestinal após avaliação por
auscultação, entre tempos em relação ao tempo zero, para cada tratamento (bromoprida - BRO,
metoclopramida - MET e controle - CONT) e para cada região (QID – quadrante inferior direito,
QIE – quadrante inferior esquerdo, QSD – quadrante superior direito, QSE – quadrante superior
esquerdo). ..................................................................................................................................... 74
Gráfico 2 - Diferenças das médias de escore de motilidade intestinal entre os tratamentos, em
cada região (QID – quadrante inferior direito; QIE – quadrante inferior esquerdo; QSD –
quadrante superior direito e QSE – quadrante superior esquerdo) e em cada momento avaliado
onde: a - diferença significativa entre bromoprida (BRO) e controle (CONT); b - diferença
significativa entre bromoprida (BRO) e metoclopramida (MET); c: diferença significativa entre
controle (CONT) e metoclopramida (MET). ............................................................................... 75
Gráfico 3 - Diferenças das médias do número de contrações intestinais avaliadas por
ultrassonografia entre tempos (15, 30, 60, 90, 120, 180, 240, 300, 480, 720 e 1440 min), em
relação ao tempo zero (0) para cada tratamento (BRO – bromoprida, CONT – controle e MET –
metoclopramida) para cada região (CEC – ceco, COL – cólon ventral esquerdo e DUO – duodeno,
após avaliação ultrassonográfica.................................................................................................. 74
Gráfico 4 - Diferenças das médias do número de contrações intestinais entre grupos (BRO –
bromoprida; MET - metoclopramida e CONT - controle) para cada região (CEC - ceco, COL –
cólon ventral esquerdo e DUO - duodeno) em cada tempo em relação ao tempo zero (linha cinza),
após avaliação ultrassonográfica. A média do número de contrações intestinais em cada tempo
foi considerada 0.. ........................................................................................................................ 75
15
LISTA DE QUADROS
CAPÍTULO I
Quadro 1 - Principais fatores de risco para o desenvolvimento de íleus pós-operatório (IPO) em
equinos segundo Cohen et al., (2004), Freeman et al., (2000) e Torfs et al., (2009)................... 42
CAPÍTULO II
Quadro 1 - Descrição do número de animais, doses, fármacos, número de animais expostos e o
número de animais que apresentaram efeito extrapiramidal (EEP).. ........................................... 54
Quadro 2 - Sequência da avaliação dos efeitos neurológicos. Primeiramente foi feito a avaliação
do comportamento do animal tanto na forma descritiva como na forma de escores. Em seguida,
foi avaliado o grau de sedação através da medição em centímetros da altura da cabeça do animal
em relação ao chão. Após essa avalição, foi colocado uma máscara no animal. Um avaliador com
o auxílio de um bastão de madeira de aproximadamente 1,5m de comprimento avaliou o grau de
reação ao toque (classificada em escores) para em seguida avaliar o limiar nociceptivo com a
ajuda de um dinamômetro de compressão portátil (avaliada em quilos). .................................... 55
Quadro 3 - Descrição dos dados e escores utilizados para avaliação visual do comportamento dos
animais. ........................................................................................................................................ 56
Quadro 4 - Escore de classificação da reação ao toque com bastão. .......................................... 55
Quadro 5 - Descrição do número de animais, doses, fármacos, início, duração e descrição dos
efeitos extrapiramidais (EEP), durante as fases de ajuste de dose (piloto) e experimental. ........ 60
CAPÍTULO III
Quadro 1 - Escore de avaliação da motilidade por auscultação.. ............................................... 71
16
LISTA DE ABREVIATURAS
% - Porcentagem fl - Fentolitro
o
C – Graus Celsius fc – Frequência cardíaca
5-HT - Serotonina fc máx – Frequência cardíaca máxima
ACE – Atividade de controle elétrico fc méd – Frequência cardíaca média
ACh - Acetilcolina fc min – Frequência cardíaca mínima
A:G – Albumina:globulina FR – Frequência respiratória
AGIS – Biossensores da vigilância g - grama
gastrointestinal acústica não invasiva g/dL – grama por decilitro
ALT – Alanina aminotransferase GGT – Gamaglutamiltransferase
ALP – Fosfatase alcalina GI – Gastrointestinal
ANOVA – Análise de variância HCM – Hemoglobina corpuscular média
AS – Arritmia sinusal IM – Intramuscular
AST – Aspartato aminotransferase IP - Intraperitoneal
ATP – Adenosina trifosfato IPO – Íleus pós-operatório
AV - Atrioventricular Kg – Quilograma
BAV2 – Bloqueio atrioventricular de LDH – Desidrogenase láctica
segundo grau LIPE – Lignina purificada e enriquecida
bpm – Batimentos por minuto LNM – Limiar nociceptivo mecânico
BRO – Bromoprida MET – Metoclopramida
CAP – Complexo atrial prematuro mg – Miligramas
CEUA – Comissão de Ética no Uso de mg/dL – Miligrama por decilitro
Animais min - Minuto
CHCM – Concentração de hemoglobina mL – Mililitros
corpuscular média mpm – Movimentos por minuto
CK – Creatina quinase NINANC – Neurônios inibidores não-
CMM – Complexo motor migrante adrenérgicos, não colinérgicos
CMMC – Complexi mioelétrico de NOR - Normal
migração colônica NPY – Neuropeptídeo Y
CONT – Controle ON – Óxido nítrico
CPM – Ciclos por minuto PEG - Polietilenoglicol
CYP – Citocromo P450 pg - Picogramas
CYP1A2 – Isoforma 1A2 do citocromo PIV – Peptídeo vasoativo intestinal
P450 PK – Constante de dissociação
CYP2D6 – Isoforma 2D6 do citocromo PS – Parada sinusal
P450 PT – Proteína total
CYP3A – Isoforma 3ª do citocromo P450 QID – Quadrante inferior direito
dL - Decilitro QIE – Quadrante inferior esquerdo
DPM – Desvio-padrão QSD – Quadrante superior direito
DPSV – Despolarização prematura QSE – Quadrante superior esquerdo
supraventricular RDW.CV – Amplitude de distribuição dos
ECG – Eletrocardiograma glóbulos vermelhos como coeficiente de
EDTA – Ácido etilenodiamino variação
EIG – Eletrointestinografia REB – Ritmo elétrico básico
EP – Erro padrão RL – Ringer com lactato
EV – Escola de Veterinária SC – Subcutânea
FC – Frequência cardíaca
17
SIRS – Síndrome da resposta inflamatória UFMG – Universidade Federal de Minas
sistêmica Gerais
SNC – Sistema Nervoso Central UI – Unidade internacional
SNE – Sistema nervoso entérico UI/L – Unidade internacional por litro
SNV – Sistema nervoso vegetativo US – Ultrassom
Ʃ – Somatória VCM – Volume corpuscular médio
TGI – Trato gastrointestinal VFC – Variabilidade da frequência cardíaca
Ti – Intervalo de tempo entre o VO – Via oral
fornecimento do indicador e o tempo de Α – Alpha
coleta fecal Β – Beta
TMR – Tempo médio de retenção Γ – Delta
TR – Temperatura retal Κ – Kappa
TT – Tempo de trânsito Λ – Lambda
TxP – Taxa de passagem μg – Microgramas
18
RESUMO
Íleus pós-operatório (IPO) é um distúrbio comum na espécie equina que afeta a motilidade
gastrointestinal elevando a mortalidade, principalmente após cirurgias envolvendo o intestino
delgado. Durante anos, diversos procinéticos vem sendo utilizados com o objetivo de reverter este
quadro. A metoclopramida é um dos mais utilizados, no entanto, tem como entrave, os efeitos
colaterais extrapiramidais. Na busca de um fármaco que proporcione efeito procinético associado
com segurança, objetivou-se, avaliar e comparar os efeitos procinéticos, neurológicos, cardíacos,
hematológicos e bioquímicos da metoclopramida e da bromoprida em cavalos hígidos. Foram
utilizados cinco equinos, machos, castrados, sem raça definida. Foi administrado 0.125 mg/kg de
metoclopramida e 0.025 mg/kg de bromoprida, ambos por via intramuscular, comparando os
efeitos com placebo (solução Ringer com Lactato). A bromoprida aumentou as contrações do
cólon ventral esquerdo e ceco, apresentou efeito sedativo, aumentou o limiar nociceptivo e não
influenciou nos ECG, parâmetros fisiológicos, hematológicos e bioquímicos. Por outro lado, a
dose de 0.125 mg/kg de metoclopramida não apresentou efeito procinético.
ABSTRACT
Postoperative ileus (IPO) is a common disorder in the equine species that affects gastrointestinal
motility, increasing mortality, especially after surgery involving the small intestine. For years,
several prokinetics have been used in order to reverse this situation. Metoclopramide is one of the
most used, however, it has as an obstacle, extrapyramidal side effects. In the search for a drug
that provides a prokinetic effect associated with safety, the objective was to evaluate and compare
the prokinetic, neurological, cardiac, hematological and biochemical effects of metoclopramide
and bromopride in healthy horses. Five male, castrated, mixed breed horses were used.
Metoclopramide at dose of 0.125 mg/kg and bromopride at dose of 0.025 mg/kg were
administered, both intramuscularly, comparing the effects with placebo (Lactate Ringer solution).
Bromopride increased contractions of the left ventral colon and cecum, had a sedative effect,
increased the nociceptive threshold and did not influence ECG, physiological, hematological and
biochemical parameters. On the other hand, metoclopramide at dose of 0.125 mg/kg did not show
prokinetics activity.
19
1. INTRODUÇÃO GERAL
Cólica é um problema comum encontrado em equinos que durante séculos vem sendo motivo de
grande consternação a proprietários e veterinários. Na década de 70, os primeiros cirurgiões que
se aventuraram nas cirurgias abdominais apresentavam taxas de sucesso decepcionantemente
baixas (Gerring, 1991). Uma década depois, as taxas de sobrevivência, pelo menos nos primeiros
um ou dois dias pós-operatório, esboçavam uma melhora. Entretanto, uma proporção de equinos
submetidos à cirurgia apresentava uma recuperação aparentemente satisfatória, apenas para
sucumbir, dois ou três dias após a cirurgia, de ruptura de estômago devido ao acúmulo persistente
de fluido proximal à válvula ileocecal. Estes animais apresentavam um abdômen quase silencioso.
Esse quadro foi chamado de íleus pós-operatório (IPO), que na época, representava a maior causa
de morte no período pós-operatório (Gerring, 1991; Hunt et al., 1986).
Apesar do desenvolvimento de íleus após cirurgia abdominal estar associado com um aumento
significativo na mortalidade, esta vem diminuindo com o passar dos anos (Freeman et al., 2000),
enfatizando assim a importância de providenciar efetivas opções de tratamento. Ao longo dos
anos, veterinários tentaram empregar vários medicamentos para promover a motilidade
gastrointestinal com o intuito de facilitar o movimento aboral da ingesta e tornar a função
digestiva normal (Wong et al., 2011). Esses agentes farmacológicos foram e têm sido utilizados
tanto no trans como no pós-operatório com o objetivo de prevenir e tratar íleus (Agass et al.,
2017).
Por possuir diferentes mecanismos, não se sabe ao certo qual o principal responsável pelo
reestabelecimento da motilidade gastrointestinal (Gerring, 1991). No entanto, acredita-se que o
antagonismo do receptor dopamina (D2), não atue somente no músculo liso intestinal e seja um
dos responsáveis pelos efeitos no sistema nervoso central (Kapur, 2000).
Apesar dos aparentes benefícios clínicos no tratamento de IPO, a metoclopramida tem como fator
limitante preocupações sobre os efeitos no sistema nervoso central. Dessa forma, atividade
locomotora descoordenada, transpiração, excitação transiente e anormalidades comportamentais
limitaram o uso da metoclopramida na espécie equina (Dowling, 1995).
20
centrais, pela metoclopramida, pode provocar um estado hipodopaminérgico central, atuando
como agente desencadeante da acatisia (Tomelin e Tonelli, 2012).
Com o passar dos anos, diversos estudos foram realizados e vários fármacos passaram a ser
utilizadas como agentes procinéticos. Muitos desses fármacos vieram da medicina humana e
chegaram a apresentar efeitos benéficos na motilidade GI de cavalos, contudo, vários fármacos
tiveram que ser retirados do mercado ou ter uso limitado devido aos graves efeitos colaterais
cardíacos (cisaprida, tegaserode, domperidona, etc) em humanos (Anvisa, 2001, 2007; EMA,
2014).
Quase 50 anos depois, o IPO ainda é um desafio para a gastroenterologia equina. Embora vários
estudos tenham sido realizados durante este período, ainda existem diversas lacunas a respeito da
metoclopramida. Muito disso, se deve ao fato de ainda não ter sido realizado estudos
farmacocinéticos e farmacodinâmicos na espécie equina. Assim, muitas das informações
disponíveis são extrapoladas de outras espécies, o que não necessariamente se aplica aos cavalos.
2. HIPÓTESE
3. OBJETIVOS
21
• Avaliar e comparar os efeitos neurológicos da bromoprida e da metoclopramida em equinos
hígidos ao exame físico.
• Avaliar e comparar os efeitos procinéticos da bromoprida e da metoclopramida na espécie
equina.
• Avaliar e comparar os efeitos cardíacos da bromoprida e da metoclopramida em equinos
hígidos ao exame físico.
• Avaliar e comparar os efeitos da bromoprida e da metoclopramida na temperatura retal, nas
frequências cardíaca e respiratória e nos parâmetros hematológicos e bioquímicos de equinos
hígidos ao exame físico.
4. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade
Federal de Minas Gerais, número 423/2018.
O experimento foi realizado no Hospital Veterinário da EV-UFMG. Foram utilizados, cinco
equinos machos, sem raça definida, castrados, com idade entre 4 e 12 anos, pesando entre 294 e
394kg, provenientes da EV-UFMG. Todos os equinos apresentavam-se hígidos ao exame físico
antes do início do experimento. A alimentação dos animais se baseava em feno Tifton (2 vezes
ao dia), 2kg de ração comercial (1 vez ao dia) e água ad libitum. Durante o período experimental
esses animais ficavam em piquetes, local no qual já estavam habituados.
O experimento foi delineado na forma de um cross-over randomizado, assim, todos os animais
foram submetidos a três tipos de tratamento por via intramuscular (músculo semitendinoso):
bromoprida (BRO), metoclopramida (MET) e controle (CONT), com intervalo mínimo de cinco
dias entre eles. Diante da ausência de estudos da bromoprida em cavalos e da disponibilidade de
inúmeras doses de metoclopramida em equinos, foi feito um ajuste da dose de ambos os fármacos
antes do início do experimento. A descrição desse estudo está disponível no Capítulo II.
No dia do experimento, todas essas avaliações foram feitas antes e após a administração dos
fármacos em tempos pré-determinados obedecendo sempre uma sequência para que uma variável
não interferisse em outra. Na figura 1, observa-se a ordem das avaliações de acordo com o tempo
após a administração dos tratamentos.
22
Figura 1 - Esquema demonstrando as avaliações e a sequência das mesmas de acordo com o tempo, em minutos, antes
e após a administração dos tratamentos (bromoprida, controle ou metoclopramida). Antes da administração dos
tratamentos (T0) foram feitos as avaliações neurológicas (círculo azul-marinho), parâmetros fisiológicos (círculo
verde), avaliação da motilidade (círculo laranja), eletrocardiograma – ECG (círculo azul) e coleta de sangue e fezes
(círculo vermelho). Após a avaliação inicial, o animal foi sondado para a colocação de uma cápsula contendo o
marcador de trânsito intestinal LIPE®, no estômago. Após a colocação do marcador foi feito a administração
intramuscular do tratamento (bromoprida, controle ou metoclopramida). Em seguida, foram feitas novas avaliações em
tempos pré-determinados: 15, 30, 45, 60, 90, 120, 180, 240, 300, 360, 480, 720 e 1440 minutos após administração dos
tratamentos. Avaliações diferentes que foram feitas dentro do mesmo tempo, seguiam uma sequência para que uma
avaliação não interferisse na outra. Os números dentro dos círculos coloridos informam a cronologia das avaliações.
23
Todas as avaliações foram feitas no tronco de contenção. Inicialmente, o animal era mantido duas
horas seguidas no tronco, sem água e alimento. Após esse período, o animal era solto no piquete
com disponibilidade de feno e água ad libitum. No dia do experimento, não foi fornecido ração.
Para as avaliações após duas horas, o animal era colocado no tronco de contenção apenas durante
a avaliação e em seguida era colocado no piquete.
Os detalhes das metodologias utilizadas em cada avaliação estão descritos nos capítulos II, III, IV
e V.
24
CAPÍTULO I - MOTILIDADE INTESTINAL DE EQUINOS – FISIOLOGIA,
MONITORAMENTO E ÍLEUS
RESUMO
A motilidade gastrointestinal equina é um evento altamente complexo que precisa ser desvendado.
Deve-se levar em consideração as particularidades da espécie equina antes de extrapolar
informações de outras espécies. Qualquer interferência no entrelace da motilidade GI, pode
culminar com hipomotilidade ou íleus. Diversos fatores podem estar envolvidos no
desenvolvimento de íleus na espécie equina. Apesar dos diversos avanços obtidos desde a
primeira cirurgia de cólica, vários pontos ainda têm que ser desvendados sobre a patofisiologia
do íleus. Um dos principais entraves na obtenção de uma progressão do entendimento do íleus é
a sua definição. Deve haver um consenso sobre quais parâmetros vão ser utilizados para
considerar se um cavalo está ou não com íleus. A prevenção e o tratamento de íleus são
multifatoriais, envolve desde o monitoramento antes da cirurgia até o tratamento suporte e o uso
de procinéticos. Mesmo com diversos procinéticos disponíveis no mercado, a metoclopramida se
destaca como fármaco de eleição, mesmo apresentando efeitos colaterais extrapiramidais em
cavalos e efeito sedativo, analgésico, renal e respiratório em humanos. A bromoprida surge com
potencial efeito procinético em equinos com menor efeito colateral, contudo, mais estudos devem
ser realizados.
25
EQUINE INTESTINAL MOTILITY - PATHOPHYSIOLOGY, MONITORING
AND ILEUS
ABSTRACT
26
1. INTRODUÇÃO
O trato gastrointestinal (TGI) e seus órgãos acessórios apresentam como funções suprir a digestão
e a absorção de nutrientes essenciais para a sobrevivência de um animal. Para mediar estas ações,
são necessários a realização de processos que necessitam de energia, como a atividade motora,
secreção de enzimas e sais biliares; mecanismos de transporte eletrolítico que controlam a
secreção e absorção de eletrólitos, de nutrientes e de água, além da função da barreira da mucosa
gastrointestinal (Argenzio, 2006).
Um fator que tem grande contribuição no desempenho das funções do TGI é a motilidade. A
motilidade gastrointestinal (GI) efetiva envolve uma complexa interação entre o sistema nervoso
entérico, parede muscular e conteúdo luminal. Fatores adicionais que influenciam na rede do
trânsito de ingesta incluem a gravidade, o volume e viscosidade do conteúdo, além da presença
de gradientes criado pela contração simultânea e relaxamento dos segmentos adjacentes do
intestino (Koenig e Cote, 2006). O enredamento é tanto, que o uso casual da motilidade intestinal
na medicina veterinária frequentemente subestima a complexidade do processo envolvido no
trânsito do conteúdo intestinal. Qualquer fator que intervenha direta ou indiretamente nestes
processos pode culminar com o empenho da motilidade gastrointestinal habitual, comprometendo
as funções relacionadas acima (Sanchez, 2018).
Se tratando do TGI da espécie equina, deve ser dado especial atenção as suas peculiaridades
anatômicas que, com o advento da domesticação, contribuem para a ocorrência de distúrbios GI.
Entre os distúrbios do TGI equino, o íleus chama atenção por sua complexidade. Sendo um dos
problemas que desafia a medicina equina desde os primórdios das cirurgias de cólica (Gerring,
1991).
2. MOTILIDADE GASTROINTESTINAL
27
A regulação da motilidade é baseada em uma interação complexa entre inervação central,
inervação autonômica e o sistema nervoso entérico, com várias substâncias humorais e
neuroquímicas sendo necessárias para interagir sem falhas permitindo a motilidade propulsora
(Koenig e Cote, 2006). A motilidade do TGI é altamente complexa, por este motivo, apresenta
vários fatores limitantes, como a habilidade de detectar, prevenir e tratar condições de
dismotilidade (Hudson e Merritt, 2008).
O nervo vago é o principal responsável pela modulação do volume gástrico, com ajuste pelo
sistema nervoso entérico (SNE). Diferentemente das outras espécies, o cavalo tem mais que o
dobro da percentagem de neurônios inibitórios motores no fundo. Isto pode refletir a capacidade
do reservatório do fundo ou sinalizar tendência para uma hipomotilidade gástrica e retenção
gástrica da digesta (Dechant e Winfield, 2015).
Abaixo da submucosa, estão localizadas as camadas musculares que são responsáveis pela
motilidade. A muscular externa é dividida em músculo circular interno e músculo longitudinal
externo, separadas pela fáscia do plexo mioentérico. As camadas mais externas da parede
intestinal são compostas por uma camada muscular longitudinal e a serosa (Argenzio, 2006). A
contração do músculo circular estreita o lúmen intestinal e ao mesmo tempo prolonga o segmento,
enquanto a contração do músculo longitudinal encurta o segmento intestinal e ao mesmo tempo
alarga o lúmen (Nieto e Rakestraw, 2017).
Para que ocorra a motilidade progressiva normal, é necessária uma coordenação temporal e
espacial das atividades de ambas as camadas musculares. A coordenação dos eventos contráteis
começa no nível da célula efetora, o miócito (Nieto e Rakestraw, 2017). Em cada camada
muscular, as células musculares lisas vizinhas são conectadas por meio de "junções gap" ou
“junções comunicantes”. A produção de correntes elétricas de uma célula muscular lisa para a
seguinte é facilitada por meio desses pontos de contato especializados, que permitem que a
camada muscular reaja como um grande sincício (Hudson et al., 1999).
28
No músculo liso, como em outros tecidos excitáveis, normalmente existe um potencial elétrico
em repouso de -50 mV (interior negativo em relação ao exterior) através das membranas das
células simples, flutuando duas formas principais: ondas lentas ou picos (Argenzio, 2006).
Oscilações contínuas no potencial de membrana são chamadas “ondas lentas”. Estas aparecem
em registros intracelulares como despolarizações rítmicas. Essas ondas lentas se desenvolvem
como resultado da abertura e fechamento de canais de cálcio e potássio, com mudanças rápidas
na composição do íon intracelular e extracelular. Durante a onda lenta, o potencial de membrana
torna-se menos negativo (despolariza), porem essa despolarização por si só não atinge o limiar de
um potencial de ação (Nieto e Rakestraw, 2017).
Os picos são despolarizações transitórias mais rápidas que podem ocorrer em ondas agudas e
repetitivas apenas no período de despolarização máxima da onda lenta. As despolarizações
envolvem correntes de cálcio e sódio para o interior. Assim, no pico de onda lenta, a célula está
em um estado de excitabilidade aumentada porque esta mais perto do limiar de um potencial de
ação. Neste tempo requer menos entrada excitatória para alcançar seu limite de ativação. Com
mais estimulação excitatória (despolarização), que pode ser neural ou química, a onda lenta sobe
acima de seu limiar de ativação com a abertura dos canais de cálcio (Argenzio, 2006).
Dessa maneira, a atividade elétrica em uma célula se espalha pelas células adjacentes, permitindo
que elas sejam excitadas ou inibidas como uma unidade. Por causa do acoplamento elétrico entre
as células nas camadas musculares, as ondas lentas são arrastadas (isto é, as ondas lentas oral que
são geradas na maior frequência se espalham distalmente e, assim, estimula as ondas lentas
aboral). Uma vez que existe uma fase curta de latência entre o início da onda lenta proximal e a
estimulação da onda lenta distal, as ondas lentas parecem se propagar distalmente. Além disso,
devido ao acoplamento elétrico, ocorrem ondas lentas quase simultaneamente em torno da
circunferência do segmento intestinal. Com excitação suficiente para causar potencial de ação,
um anel de contração luminal força o conteúdo distalmente (Nieto e Rakestraw, 2017).
Como os potenciais de ação e a consequente atividade do impacto contrátil são sobrepostas nos
picos de ondas lentas, as ondas lentas determinam a frequência máxima de contrações. Embora
as contrações não possam ocorrer frequentemente como as oscilações de ondas lentas, se a
estimulação excitatória não for suficiente para despolarizar a célula até o limiar de contração, as
contrações não podem ocorrer com mais frequência do que a frequência da onda lenta (Argenzio,
2006; Nieto e Rakestraw, 2017). Se a onda de despolarização atinge ou não este limiar, dependerá
do tônus neuroendócrino. Por exemplo, o estímulo parassimpático aumenta o tamanho da onda
lenta, e a estimulação simpática diminui (Argenzio, 2006).
Por essa razão, as ondas lentas também são chamadas de “potenciais de marcapasso”, “ritmo
elétrico básico” (REB) ou atividade de controle elétrico (ACE). Ondas lentas também determinam
a direção e a velocidade de propagação das contrações (Argenzio, 2006; Nieto e Rakestraw,
2017). As ondas lentas são geradas com frequência constante em determinados locais; entretanto,
a frequência de tais marcapassos varia nas diferentes regiões do intestino (Argenzio, 2006). A
frequência das ondas lentas é maior nas porções mais proximais de cada região do trato GI e
diminui na frequência em movimento distal (Nieto e Rakestraw, 2017).
29
disseminar-se pelas camadas musculares devido ao acoplamento elétrico entre as células
musculares lisas. Por isso, as células mais profundas nas camadas musculares podem responder
ao impulso nervoso sem contatar diretamente os neurônios (Ward et al., 2000; Hudson et al.,
1999).
CICs são células altamente ramificadas localizadas nos plexos mioentérico e submucoso do
sistema nervoso entérico (Wang et al., 2003; Ward et al., 2000). Os CICs da submucosa e as
bordas mioentéricas cercam as células adjacentes da camada muscular circular. As células
marcapasso - CICs geram ondas lentas. As CICs estão em comunicação elétrica com as células
do músculo liso através de junções comunicantes, permitindo a atividade elétrica se espalhar
passivamente para as células musculares lisas (Ward et al., 2000). As CICs amplificam os sinais
inibitórios nitrérgicos e colinérgicos excitatórios dos neurônios para os miócitos (Wang et al..,
2003; Ward et al., 2000).
As CIC são encontradas ao longo de todo o comprimento do TGI do cavalo. Nas junções
gastroduodenal, ceco-cólica e flexura pélvica, as densidades dessas CIC são mais pronunciadas,
uma espécie de nós de marcapasso intestinal, que criam acoplamento mioelétrico entre diferentes
partes do TGI (Hudson et al., 1999). As CIC cooperam para atingir a atividade motora regular,
no nível estômago e no ID (Hirst e Edwards, 2004). Essas ondas lentas alteram o potencial de
membrana das células do músculo liso intestinal a tal ponto de tornar sensível a estimulação por
neurotransmissores como a acetilcolina (ACh) (Ward e Sanders, 2000).
A ACh liberada, estimula os receptores muscarínicos do músculo liso durante a deflexão positiva
para cima do potencial da membrana em repouso desencadeada pela passagem da onda lenta. O
potencial de limiar de contração será cruzado e isso desencadeará o aparecimento dos canais e
uma despolarização concomitante, conhecido como potencial de ação ou pico. Ocorrendo a
contração (Scratcherd e Grundy, 1984).
As ondas lentas determinam o tempo e a direção, mas também as contrações do músculo liso
espalhadas pelo intestino. Assim, as ondas lentas são pré-requisitos para que ocorram as
contrações fasicas. Além disso, a liberação de neurotransmissores excitatórios durante a fase de
platô das ondas lentas é necessária para gerar atividade e contração simultâneas.
O CMM é cíclico com 3 fases: a fase 1 é um período sem atividade de pico; na fase 2, há
atividade intermitente de pico; e na fase 3 ocorre atividade de pico regular, que é representada
30
por inúmeras contrações rítmicas propulsivas claramente definidas, com frequência e amplitude
máximas. Alguns autores descrevem uma atividade de fase 4, que consiste em uma fase irregular
de pico que separa a fase 3 da fase 1 (Ruckebusch 1973; Merritt et al., 1989). Contrações
musculares lisas estão correlacionadas com as fases 2 e 3. Em pôneis em jejum, o estômago
contraiu 2 a 3 vezes por minuto durante a fase 3. Quando o estômago estava inativo (fase 1),
duodeno e jejuno estava na fase 3. Quando o íleo entrou na fase 3, suas contrações tornaram-se
mais longas (média, 45 min) do que as do jejuno (média de 8 min). Isto é único em cavalos e
propositalmente auxilia na manutenção da homeostase e na transferência da ingesta o mais
rápido possível para o ceco e cólon (Koenig e Cote, 2006).
A intensa atividade de pico de fase 3 no íleo, por vezes referido como o potencial de ação
complexo migração (MAPC), precede imediatamente a atividade mioelétrica cecal em 72% do
tempo. Este acoplamento mioelétrico do íleo e do ceco é suspeito de facilitar o trânsito rápido de
ingesta (Ross et al., 1989). Quase toda a atividade da fase 3 se propagará desde o duodeno
proximal até o íleo terminal. A longa duração da fase 3 e o fato dessa duração aumentar do jejuno
até o íleo, é uma característica típica do cavalo (Sasaki e Yoshihara, 1999). A fase 3 tem uma
velocidade média alta de 32 cm/min e não é propagada pelo estômago do cavalo (Davies e
Gerring, 1983a). Os padrões mioelétricos na forma de CMM no estômago e no ID do cavalo são
semelhantes a outras espécies de mamíferos (Merrit et al., 1989).
Através do SNE, o TGI é capaz de regular suas próprias funções, por este motivo o SNE também
é chamado “cérebro intestinal”, permitindo atividade contrátil, mesmo sem estímulos externos. O
SNE intrínseco apresenta dois componentes principais: o plexo neural de Meissner (na
submucosa) e o plexo de Auerbach (localizado entre as camadas musculares longitudinal e
circular) (Gonçalves et al., 2002).
Com o intuito de integrar as funções intestinais com o quadro geral da fisiologia do corpo, o SNV
entra para desempenhar um papel modulador. Assim, para orquestrar a comunicação necessária
para alcançar a atividade motora a nível do intestino, são importantes tanto os mensageiros
(neurotransmissores, hormônios) quanto os receptores. Após a ativação elétrica, os neurônios
liberam diferentes tipos de neurotransmissores em suas terminações, podendo facilitar ou inibir a
atividade motora (Goyal e Hirano, 1996).
31
somatostatina e o neuropeptídeo Y (NPY), os quais agem em receptores somatostatina e nos
receptores NPY. O neurônio aferente sensorial simpático, recebendo informações do intestino,
possui o seu corpo celular no gânglio da raiz dorsal e faz sinapse na medula espinhal. Por este
motivo, as informações do intestino podem ser transportadas para os centros superiores ou entrar
em um ramo reflexo simples de volta ao intestino, a partir da medula pelos gânglios paravertebrais
(Argenzio, 2006).
Os neurônios motores do SNE que contem ACh geralmente eliciam ações excitatórias. Na
musculatura lisa, o músculo longitudinal fica primariamente sob controle excitatório e a ACh
causa contração (encurtamento) das suas fibras. A excitação do epitélio pela ACh resulta em
secreção. Os neurônios motores do SNE também contem substâncias inibidoras e foram
denominados neurônios inibidores não-adrenérgicos, não-colinérgicos (NINANC). As duas
substâncias geralmente associadas a tal ação são o PIV (peptídeo vasoativo intestinal) e o óxido
nítrico (ON) (Argenzio, 2006). A liberação de ON, PIV ou ATP causará relaxamento das células
do músculo liso entérico. Enquanto a substância P, facilitará a contração (Domeneghine et al.,
2004).
32
Nos gânglios paravertebrais ocorrem modificações rápidas de informação entre diferentes
segmentos do intestino. Por exemplo, a transmissão do sinal no SNE raramente viaja mais de
alguns centímetros, antes de encontrar uma sinapse. As vias de passagem secundária pelos
gânglios paravertebrais superam tal problema para transmissão por longas distâncias. Esses três
gânglios – o celíaco bem como os gânglios mesentéricos cranial e caudal – estão interligados,
permitindo, assim, a passagem de informação de uma extremidade do intestino para a outra. Uma
função dessas vias é a transmissão de reflexos inibidores de uma região distal do intestino para
uma região proximal, inibindo, assim, a motilidade e o trânsito do conteúdo intestinal para dentro
do segmento distal (Argenzio, 2006).
A propulsão de alimentos é realizada por contrações da camada muscular circular no polo oral do
bolo alimentar e pelo relaxamento simultâneo dessa mesma camada muscular no polo aboral. Ao
mesmo tempo, a camada muscular longitudinal se contrai no pólo oral e no pólo aboral. Isso
resulta no movimento ativo da comida em bolus na direção do aboral, que é chamada de propulsão
(Anestidou, 2004).
As contrações do cólon são complexas. O primeiro tipo é uma contração rítmica que se move na
direção aboral. O segundo tipo também é rítmico, mas se propaga oralmente. O terceiro tipo de
contração é isolado e não se propaga em nenhuma direção. Eles são menos intensos que os outros
dois, mas representam 90-95% da motilidade do intestino grosso. A frequência dessas contrações
pode ser influenciada autonomamente. Nisso, o intestino grosso difere do estômago e intestino
delgado, que está sob controle neural. A estimulação do nervo vago aumenta o tônus e a ação
peristáltica, enquanto a estimulação do nervo esplênico tem um efeito inibitório (Sellers e Lowe,
1986).
O cólon pode expressar um padrão elétrico interdigestivo semelhante ao CMM, mas conhecido
como "Complexo Mioelétrico de Migração Colônica" (CMMC). É geralmente aceito que
potenciais de pico e não ondas lentas são responsáveis pela atividade contrátil no intestino grosso
(Adams et al., 1984). Diferentemente do intestino delgado o cólon dispõe de seu próprio padrão
e movimento mioelétrico digestivo e inter-digestivo, no qual a atividade do íleo está intimamente
associada (Roger et al., 1985; Ross et al., 1989; 1990; Rutkowski et al., 1989, Lester et al., 1992
e 1998a, b, Merritt et al., 1995). A coordenação do acoplamento mioelétrico entre diferentes
regiões do intestino grosso, é provavelmente orquestrada por marcapassos, que estão localizados
na parede intestinal do ceco e nas bandas das tênias do cólon (Burns et al., 1992).
Se a atividade motora do cólon equino é realmente controlada por esse sistema marcapasso nunca
foi confirmado funcionalmente ou mioeletricamente (Merrit et al., 1995). A atividade mioelétrica
cecal mostra rajadas de picos, propagadas da base ao ápice e vice-versa, como seria de se esperar
em um órgão de fundo cego (Rutkowski et al., 1989).
33
A atividade mioeletrica que pode ser registrada a nível da flexura pélvica consiste de (a) onda de
pico longa que são propagada em ambos as direções oral e aboral e ajuda com a mistura do quimo;
(b) agrupamento de rajadas de espigão curto e rajadas de espigão longo lentamente (0.5-1.0
cm/min) ocorrendo a cada 10 a 15 min; e (c) uma série de repetidas rajadas de pico longo que
ocorrem esporadicamente e duram de 3 a 6 min. Essas ondas elétricas, que se propagam em alta
velocidade (3 cm/s) na direção aboral, são mais conhecidas como "Complexo Mioelétrico de
Migração Colônica" ou "CMMC". As condições das ondas colônicas contráteis causam um
movimento pronunciado para trás e para frente da flexura pélvica entre o diafragma e a pelve. Por
este motivo, a importância da mobilidade livre do cólon e os efeitos clínicos das aderências na
digestão colônica normal. É possível que os deslocamentos do cólon, como o aprisionamento
nefroesplênico, sejam precedidos pela expressão excessiva de tais movimentos para trás e para
frente (Roberts e Seawright, 1983. Sellers et al., 1982).
Em animais, a motilidade GI pode ser avaliada por auscultação (Ehrhardt e Lowe, 1990; Ragle et
al., 1989), ultrassonografia (Freeman e England, 2010; Mitchell et al., 2005; Williams et al.,
2011), marcadores de trânsito intestinal (Gerring e Hunt, 1986), eletrointestinografia (Mitchell et
al., 2005; Gerring e Hunt, 1986; Koenig et al., 2008; Sasaki et al., 2008; Sasaki et al., 2005) e
mais recentemente, biossensores de vigilância gastrointestinal acústica não invasiva
(VanderBroek et al., 2019).
Cada método apresenta suas vantagens e desvantagens. O método ideal para avaliação da
motilidade gastrintestinal seria não invasivo, quantitativo e proporcionaria monitoramento
contínuo ao longo do tempo (VanderBroek et al., 2019).
3.1. AUSCULTAÇÃO
A auscultação abdominal é o método mais fácil e menos invasivo para avaliar a motilidade
intestinal. Todavia, pode ser bastante subjetivo, com diferenças significativas entre examinadores
(Cohen et al., 2004; VanderBroek et al., 2019). Apesar de ser o método mais aplicado na rotina
clínica, tem uso limitado na pesquisa devido a sua variabilidade (Hudson e Merritt, 2008).
Alguns estudos relataram análise bem-sucedida usando pontuação subjetiva (Ehrhardt e Lowe,
1990; Sasaki et al., 2008) e análise computadorizada (Naylor et al., 2006) de sons abdominais.
34
A auscultação é feita com o auxílio de um estetoscópio (Koenig e Cote, 2006) colocado na fossa
paralombar direita e esquerda, no qual se classifica o ruído auscultado na forma de escores. A
classificação em escores pode variar de acordo com a metodologia utilizada. De acordo com
Sasaki et al. (2008) a auscultação realizada com estetoscópio durante 3 minutos na fossa
paralombar direita pode ser classificada em: Escore 0 – ausência de borborigmos, escore 1 –
período de ausência de borborigmos maior que o período de ruído peristáltico, o escore 2 – indicou
que o período do som peristáltico foi maior que o período sem borborigmo e escore 3 – ruído
peristáltico constante (atividade normal). Boscan et al. (2006) classificaram os escores de
auscultação em: I - Sons crepitantes de baixa frequência com uma frequência de <1/minuto; II -
Sons crepitantes de baixa frequência de <1/minuto; III - Sons longos e alto de borborigmos com
uma frequência de 1/minuto; IV - Sons longos e alto de borborigmos com uma frequência de 2 a
4/minuto e V - Sons longos e alto de borborigmo com uma frequência de >4/minuto.
3.2. ULTRASSONOGRAFIA
A ultrassonografia abdominal é uma ferramenta útil que pode ser utilizada para diagnóstico,
avaliação clínica nos casos de cavalos com cólica e para ajudar a diferenciar os casos clínicos e
cirúrgicos (Mitchell et al., 2005). Diversos estudos relatam a avaliação da motilidade
gastrointestinal de equinos com o uso da ecografia (Freeman e England, 2010; Mitchell et al.,
2005; Sasaki et al., 2008; Williams et al., 2011).
Apesar das distintas vantagens, existem algumas limitações da ultrassonografia quando usada
em cavalos. Algumas regiões do TGI não podem ser visualizadas, enquanto outras são altamente
móveis, o que dificulta na hora de repetir a imagem (Williams et al., 2011).
A motilidade do intestino delgado, ceco e cólon ventral esquerdo foi caracterizada através da
associação da palpação e ultrassonografia transretal. Essa técnica deu suporte para monitorar
mudanças no tipo e frequência da motilidade intestinal de cavalos (Freeman e England, 2010).
35
Na avaliação ultrassonográfica se detecta as contrações intestinais. Entretanto, a verdadeira
atividade peristáltica não pode ser facilmente ou amplamente determinada, devido
impossibilidade de avaliar a diferença da atividade oscilatória, usando ecografia no modo B
(Mitchell et al., 2005). Uma alternativa para este entrave foi o desenvolvimento da técnica de
ecografia modo Doppler. Em humanos, o US Doppler é usado para avaliar o peristaltismo
intestinal e o fluxo sanguíneo cardíaco. Em cavalos, o Doppler foi usado para avaliar atividade
peristáltica do jejuno, apresentando potencial para avaliação de outras porções do intestino.
Porem, apresenta como limitação a dificuldade em manter o Doppler focado no intestino (Mitchell
et al., 2005).
3.3. ELETROINTESTINOGRAFIA
A eletrointestinografia (EIG) pode ser utilizada para avaliar de forma não invasiva a função GI,
definindo o valor de corte da faixa de frequência para 1,8-12,0 cpm para uma parte do trato
digestivo que está em uma posição comparativamente fixa (Sasaki et al., 2004). A
eletrointestinografia (EIG) apresenta como vantagens a monitoração da motilidade de forma
constante (Smout et al., 1980). Ela é utilizada para avaliar a motilidade no intestino delgado, ceco,
cólon ventral e dorsal direito (Sasaki et al., 1998; 2004; 2005; 2008).
Múltiplos eletrodos devem ser utilizados para cobrir uma área maior do intestino, e é necessária
a concordância entre múltiplos canais para tornar a análise significativa (Koenig et al., 2008). A
análise espectral em execução pode ser usada para interpretar visualmente a mudança na potência
do EIG. Como 3 cpm da energia total podem ser influenciados por artefatos, recomenda-se uma
análise a 6 cpm, quando se supõe que a energia total seja um indicador (Sasaki et al., 2004).
36
Para que uma substância seja escolhida como marcador, é necessário que não seja absorvida nem
digerida no aparelho digestivo, não modifique o comportamento normal dos demais nutrientes,
não provoque efeitos tóxicos para o animal, atravesse o trato digestório de maneira uniforme e
seja facilmente analisada, além de permanecer ligada a parte da digesta que será estudada (Kotb
e Lukey (1972).
Indicadores do metabolismo são usados para monitorar aspectos químicos e físicos da digestão,
promovendo estimativas qualitativas ou quantitativas da fisiologia animal (Owens e Hanson,
1992). A estimativa do fluxo de digesta, digestibilidade e a produção fecal de diversas espécies
são feitas através do uso de substâncias indicadoras. A indigestibilidade e a fácil determinação
são características fundamentais para os indicadores. Estes, devem ser administrados com o
alimento ou diretamente em algum segmento do aparelho digestório (Saliba e Cavalcanti, 2013).
Esses marcadores podem ser administrados aos cavalos por ingestão voluntária (Pagan et al.,
1998), em dose única por tubo estomacal (Orton et al., 1985), por seringa na cavidade oral
(Pearson e Merrit, 1991), misturados em um pellet (Todd et al., 1995) ou dados como fibra de
feno mordentada por cromo (Oliveira et al., 2007).
O óxido crômico é utilizado como um indicador externo, porem possui algumas limitações, pois
resultados podem ser superestimados pelas perdas no seu fornecimento e falhas na taxa de
recuperação nas fezes (Saliba, 2005b; Lanzetta et al., 2009).
Esferas radiopacas podem ser utilizadas para avaliar a motilidade, através da administração oral
e recuperação nas fezes. Estas podem ou não ser impregnadas com bário para exames
radiográficos subsequentes (Boscan et al., 2006). Este método, requer a coleta completa das fezes
durante vários dias após a alimentação, e a taxa de passagem das partículas é altamente
dependente do seu tamanho (Argenzio et al., 1974). Além disso, a contagem é realizada após a
37
realização de radiografias, podendo ocorrer sobreposição delas, o que prejudica a precisão dos
resultados (Sano et al., 2011).
Lanzetta et al. (2009) avaliaram a eficácia do LIPE® para estimar a digestibilidade dos nutrientes
de dietas em equinos em comparação aos métodos de coleta total de fezes e do indicador de óxido
crômico. Os resultados do LIPE® foram similares aos determinados por coleta total. O método
demonstrou ser eficaz, economicamente viável, de fácil manuseio e determinação. A técnica
analítica utilizada para dosagem do indicador nas fezes é a espectroscopia no infravermelho
próximo, que é rápida, sensível e não destrutiva à amostra (Saliba e Cavalcanti, 2013). Na
validação desse método para equinos, a recuperação fecal do marcador foi semelhante ao obtido
com a coleta total de fezes, apresentando uma taxa de recuperação fecal de 95,94%, quando
comparado com a recuperação fecal do óxido crômico que foi de 83,73% (Bertonha et al., 2018;
Lanzetta et al., 2009; Lima et al., 2008; Machado et al., 2011).
Uma limitação na determinação do trânsito intestinal é a amostragem da digesta, pois ocorre
divisão nas fases líquida e sólida, por isso uma amostragem não representativa da digesta pode
acontecer quando se usa um único indicador, sendo o Lipe® um marcador exclusivo de fase
líquida. Para minimizar a possibilidade da digesta em se separar durante a coleta, recomenda-se
que sejam utilizados indicadores com afinidade pelas diferentes fases da digesta (líquida e sólida)
ou, então, que os indicadores estejam distribuídos uniformemente entre as fases (Faichney, 1980).
Já foi visto que tanto fatores relacionados ao animal (idade, peso corporal, exercício) quanto a
alimentação (proporção fluido:partícula, forragem:concentrado) podem influenciar no TMR,
consequentemente, pode-se obter conclusões contraditórias (Van Weyenberg et al., 2006).
Recentemente, foram testados em cavalos, nos quais foram aplicados quatro biossensores AGIS
em locais padronizados (duodeno, ceco, linha média ventral, cólon dorsal direito). O AGIS foi
38
capaz de discriminar equinos que receberam xilazina daqueles que receberam NaCl a 0,9% com
precisão comparável à auscultação e ultrassonografia (VanderBroek et al., 2019).
4. ÍLEUS
A palavra íleus, pode ser facilmente confundida com ílio e íleo. Apesar de semelhantes, essas
palavras possuem significados diferentes. Ílio procede da palavra latina ilium, que é usada para
designar o osso da pelve. Em português, o termo íleo apresenta duplo significado, podendo se
referir tanto ao segmento distal do intestino delgado, como à síndrome de oclusão intestinal.
Trata-se de uma forma convergente, resultante da tradução das palavras latinas, ileum e ileus.
Ambas em latim provêm do grego ó ou eileós, que significa enrolar, torcer, dar voltas. Enquanto
que o termo íleus é um termo bem antigo, que se refere a síndrome de oclusão intestinal, que pode
ser aplicado a várias condições (Rezende et al., 2002).
No século XIX, o íleus foi classificado de acordo com a sua etiologia. O termo passou a ser
empregado de preferência para íleus paralítico ou adinâmico, por atonia intestinal, e vólvulos para
a torção de uma alça (Rezende et al., 2002). Recentemente, o termo íleus foi restrito a um estado
de peristaltismo reduzido ou ausente, como resultado de uma resposta patológica não mecânica
do TGI (Lisowski et al., 2018).
Como palavras homógrafas com significados diferentes devem ser evitadas na linguagem
científica, no presente trabalho, o termo íleus será usado para designar uma síndrome de inibição
funcional da motilidade propulsora e o termo íleo para o segmento distal do intestino delgado.
O termo íleus pós-operatório (IPO) pode ser descrito como a cessação ou redução do trânsito
gastrointestinal (GI) após estresse cirúrgico. Tanto na medicina humana como na medicina
veterinária, esforços têm sido feitos para estabelecer uma padronização na definição de íleus
(Lisowski et al., 2018). Freeman (2018) chama atenção para o fato de que apesar de ser definido
39
como um distúrbio funcional, o uso generalizado do termo IPO para todos os cavalos com
refluxo pós-operatório implica que o refluxo e o IPO são sinônimos. No entanto, eles não são.
Na medicina equina, como descrito anteriormente, o termo íleus se refere a inibição da atividade
propulsiva do intestino. O íleus é comumente descrito como uma condição que ocorre após a
laparotomia podendo ser denominado íleus pós-operatório simples ou descomplicado. Sendo o
termo íleus complicado ou paralítico descrito como um distúrbio da motilidade intestinal por
um longo período após a cirurgia (Sanchez, 2018).
O termo íleus adinâmico também é utilizado na medicina equina, sendo definido como uma
obstrução funcional do trânsito aboral do conteúdo GI. A interrupção de qualquer um dos fatores
que contribuem para a função GI normal, incluindo eventos neurais, hormonais, químicos e
anatômicos, pode levar ao íleus adinâmico. O íleus adinâmico é uma complicação grave e
comum em cavalos após cirurgia GI, sendo responsável por 40% das mortes no pós-operatório
em equinos com crise abdominal (Holcombe, 2003).
Os termos “íleus paralítico” e “íleus adinâmico” foram popularizados devido ao fato de muitos
autores e clínicos presumirem que todo o TGI está paralisado no pós-operatório (Wells et al.,
2019). No entanto, alguns trabalhos têm demonstrado que na verdade não ocorre bem assim
(Patak et al., 2007; Huge et al., 2000).
Apesar do IPO ser uma complicação bem reconhecida da cirurgia GI em cavalos, e de haver
inúmeros estudos retrospectivos sobre o tema, é difícil determinar a prevalência atual de IPO. Isso
ocorre por inúmeras razões, entre elas as diferenças metodológicas e inconsistências na definição.
No Brasil, os dados são mais escassos ainda devido à carência de registros detalhados a curto e
longo prazo, além da ausência de divulgação dos mesmos, por parte dos hospitais veterinários.
Na espécie equina, há diferentes critérios para a definição de IPO. Geralmente esses critérios são
baseados de acordo com a experiência clínica dos médicos veterinários envolvidos. O IPO pode
ser definido como um volume de refluxo gástrico >20L durante um período de 24 horas após a
cirurgia ou um volume >8L em qualquer momento de amostragem após a cirurgia (Cohen et al.,
2004; Roussel et al., 2001).
Atenção deve ser dada, ao fato de que apesar de todos os cavalos apresentarem algum grau de
IPO após cirurgia abdominal, nem todos apresentam refluxo e aqueles que tem refluxo, o IPO não
é a única causa. Assim, ao estudar os trabalhos relacionados a IPO, deve-se diferenciar a definição
de IPO e refluxo pós-operatório (RPO) (Freeman, 2018). O RPO, assim como o IPO tem origem
multifatorial. Dessa forma, o IPO pode ser um dos muitos fatores relacionados ao RPO após a
cirurgia do ID, com a maioria relacionado aos aspectos técnicos da cirurgia (Freeman et al., 2000).
40
4.2. PATOFISIOLOGIA DO ÍLEUS
Padrões normais de motilidade gastrointestinal (GI) são necessários para manter o trânsito da
ingesta e facilitar a digestão e absorção de nutrientes. Distúrbios do trato GI equino são
frequentemente encontrados e são frequentemente associados a uma interrupção nos padrões
normais de motilidade intestinal, complicando assim o tratamento da doença primária (Wong et
al, 2011).
Adams (1988) observou níveis circulantes elevados de adrenalina, noradrenalina e dopamina após
cirurgia intestinal em humanos que apresentavam supressão intestinal. Em um modelo de IPO em
cavalos para avaliar o bloqueio adrenérgico específico, estimulação parassimpática e antagonismo
dopaminérgico, foram utilizados propranolol, ioimbina, betanecol e metoclopramida. Neste
estudo, a ioimbina sozinha e a associação com betanecol, exibiu melhora moderada, enquanto o
propranolol não obteve êxito. A metoclopramida apresentou os melhores resultados,
demonstrando o envolvimento dopaminérgico (Gerring e Hunt, 1986).
Na medicina humana, o IPO persistente é considerado pela maioria dos autores como uma
continuação do IPO obrigatório. Alguns estudos demonstraram que essas condições apresentam
mecanismos e fisiopatologia diferentes e também podem resultar de disfunção em diferentes
partes do intestino (Wells et al., 2019).
41
motilidade no estômago, cólon dorsal esquerdo e cólon menor, sem a presença de refluxo
nasogástrico (Doherty et al., 1999).
Na espécie equina, foi realizado um estudo avaliando a motilidade cecal por auscultação,
ultrassonografia e eletrointestinografia após jejunocecostomia. Neste estudo, foram identificados
três períodos pós-operatórios específicos: o período de redução da motilidade intestinal (dia 1 e 2
de pós-operatório), no qual havia uma diminuição da motilidade intestinal; o período instável de
recuperação parcial da motilidade intestinal (dia 3 e 7 de pós-operatório) e o período de completa
recuperação da motilidade intestinal (entre o dia 8 e 31 de pós-operatório), no qual a motilidade
intestinal retornava para padrão encontrado no pré-operatório. O restabelecimento completo da
motilidade cecal após jejunocecostomia leva em torno de um mês. Esse período é necessário para
a reconstrução da rede nervosa e suprimento sanguíneo e restabelecimento das funções
cooperativas da motilidade intestinal na área de anastomose (Sasaki et al., 2008).
Diversos fatores podem estar relacionados com o desenvolvimento de IPO, entretanto, poucos
estudos foram conduzidos para identificar os fatores predisponentes na espécie equina. Um fator
limitante para enumerar esses dados é que os estudos ou foram realizados em uma única
instituição ou utilizaram uma definição diferente de IPO. Assim, ao analisar esses fatores, deve-
se levar em consideração a definição de IPO utilizada, a população em estudo, as práticas
cirúrgicas e o manejo peri e pós-operatório (Cohen et al., 2004). No quadro 1, é possível
observar os principais fatores de risco para o desenvolvimento de IPO em equinos.
Quadro 1 - Principais fatores de risco para o desenvolvimento de íleus pós-operatório (IPO) em equinos segundo
Cohen et al., (2004), Freeman et al., (2000) e Torfs et al., (2009).
FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE IPO
Cavalos acima de 10 anos de idade Cirurgia >2 horas
Hematócrito >45% Presença de pulso elevado
Frequência cardíaca elevada Ressecção e anastomose do intestino delgado
Elevada concentração sérica de proteína Lesão estrangulativa do intestino delgado
Elevada concentração sérica de albumina Lesão estrangulativa do cólon ascendente
Elevada concentração sérica de glicose Comprimento da ressecção do intestino delgado
Presença de refluxo >8L Obstrução do intestino delgado
Anestesia >2,5 horas Isquemia do intestino delgado
42
O IPO está relacionado principalmente a cirurgias do ID, envolvendo ressecção e anastomose.
Desordens da motilidade cecal e região cecocólica ocorre de forma esporádica (Sanchez, 2018).
Em relação ao local da lesão, observou-se que a prevalência geral de IPO em cavalos com cólica
varia de 10 a 19%, aumentando para 50% quando apenas os cavalos com cólica do ID são levados
em consideração (Freeman et al., 2000; Mair et al., 2005). Lesões no intestino delgado aumenta
o risco de IPO quando comparada com lesões no intestino grosso (Cohen et al., 2004; Roussel et
al., 2001; Holcombe et al., 2009; Lefebvre et al., 2015a,b). Além disso a performance da
ressecção do ID e recuperação com intestino delgado isquêmico no abdômen pode aumentar o
risco de IPO (Mair e Smith, 2005). No entanto, a remoção do conteúdo via área da ressecção ou
por cecotomia não apresentou influência significativa na prevalência de IPO (Torfs et al., 2009).
Em outros animais, o IPO pode ocorrer após procedimentos cirúrgicos extraintestinais (Lisowski
et al., 2018; Little et al., 2001). O IPO em equinos, pode ocorrer com doença primária do cólon
maior, especialmente com a correção do vólvulo de cólon maior (Morton e Blikslager, 2002).
Entre animais, submetidos a cirurgia intestinal, o íleus de porções do trato intestinal distante do
local da lesão intestinal pode se desenvolver devido à mecanismos inflamatórios, neurais e pós-
operatórios. A hipomotilidade pode afetar todas as porções do trato intestinal, independente do
local da lesão intestinal (ou lesão não intestinal) (Fogle, 2019).
Maior hematócrito está associado à hipovolemia com ou sem choque concomitante. O aumento
da concentração sérica de proteína total foi consistente com hipovolemia e também foram
significativamente associados ao aumento da chance de IPO. Não esta claro se a hipovolemia
contribuiu diretamente para o desenvolvimento de IPO ou se é apenas um marcador para a
gravidade da condição clínica ou lesão anatômica. A determinação do hematócrito parece um
importante preditor de risco de IPO. Assim, quanto maior o hematócrito maior a chance de
desenvolvimento de IPO (Holcombe, 2003; Torfs et al., 2009).
A anestesia pode influenciar a motilidade intestinal em equinos, como refletido pela sua atividade
mioelétrica. Todavia, esses efeitos foram curtos e finalizaram 9 horas após o término da anestesia
(Freeman et al., 2000). A duração dos procedimentos cirúrgicos e a manipulação aumentam a
probabilidade de IPO, possivelmente como resultado da inflamação intestinal induzida. Lesões
mais graves podem exigir uma duração maior da cirurgia e que o risco de IPO pode estar
relacionado a gravidade da lesão e não a duração da cirurgia (ou anestesia) (Freeman, 2018).
Há evidências crescentes de que a IPO está associada à inflamação intestinal. O achado de que a
contagem de leucócitos, a contagem de neutrófilos, a proporção de alterações tóxicas observadas
nos neutrófilos, a contagem de leucócitos no líquido peritoneal e a concentração de proteína total
no líquido peritoneal foram aumentados entre cavalos com IPO em relação a cavalos sem IPO é
consistente com a hipótese de que a inflamação contribui para o desenvolvimento de IPO.
No entanto, esses achados também poderiam estar relacionados às diferenças entre os grupos IPO
e não IPO nas severidades e tipos de lesões intestinais que eles desenvolveram. Uma explicação
alternativa para a associação de IPO com contagem relativamente alta de leucócitos e neutrófilos
é a estimulação de vias associadas a uma resposta ao estresse. Existem evidências de que as vias
de sinalização do fator liberador de corticotrofina na resposta ao estresse modulam o
esvaziamento gástrico, incluindo o retardo do esvaziamento gástrico associado ao IPO (Freeman,
2018).
43
Em seres humanos, o íleus prolongado a partir do três ou cinco dias pós-operatório, corresponde
ao tempo relatado de recuperação da motilidade colônica normal após a cirurgia. O intervalo
para recuperar dentro deste período de tempo pode resultar na ocorrência de IPO persistente, ou
um estado inflamatório exagerado pode intervir para promover o IPO persistente. No pós-
operatório, o trânsito é prejudicado devido a motilidade anormal, porem o TGI não é
rotineiramente quiescente após uma cirurgia abdominal de grande porte (Wells et al., 2019).
Em cavalos, o IPO é mais comum após a cirurgia do intestino delgado do que do cólon (Proudman
et al. 2002) e os sinais clínicos predominantes parecem estar relacionados à disfunção do intestino
delgado. Essa diferença levou à conclusão de que o IPO em cavalos parece afetar amplamente o
intestino delgado (Roussel et al. 2001; Cohen et al. 2004), embora seja uma doença colônica em
pacientes humanos (Story e Chamberlain 2009).
De forma similar, resultados indicam que o IPO tem impacto clínico nos cavalos afetados,
culminando com impacto financeiro. Os custos totais para cavalos com IPO são quase o dobro do
que para cavalos sem IPO. Cavalos com IPO passam mais tempo hospitalizados, assim, os custos
estão relacionados ao tipo de lesão (o tratamento de lesões no intestino delgado é maior do que
para lesões em outros locais), com a demora para serem alimentados no pós-operatório, com
fluidos cristaloides administrados IV, entre outros. Além disso, o IPO pode estar acompanhado
de outras alterações, o que é especialmente desafiador para os médicos. Embora possam estar
relacionados mais com o tipo e a gravidade das lesões, achados como laminite e drenagem
incisional são mais comuns entre equinos com IPO e são exemplos de complicações (Cohen et
al., 2004).
44
Na espécie equina, o IPO diminui consideravelmente a taxa de sobrevivência após a cirurgia
(Cohen et al., 2004). O declínio na motilidade intestinal causa distensão intestinal e desidratação
(Van Hoogmoed et al., 2004), culminando com o comprometimento do sistema circulatório
podendo levar a óbito. A taxa de letalidade do IPO na espécie equina varia de 14 a 52% (Freeman
et al., 2000; Cohen et al., 2004; Mair et al., 2005; Morton e Blikslager, 2002), enquanto que, nos
humanos, raramente é fatal (Senagore, 2007).
O IPO na medicina humana também tem sido relatado após cirurgias não GI, incluindo cirurgias
ortopédicas, procedimentos ginecológicos, entre outros. Na espécie equina, o IPO é quase que
exclusivamente associado a cirurgia GI (Lisowski et al., 2018). No entanto, uma condição que
ocorre mais comumente após anestesia geral e cirurgia extra-abdominal, particularmente após
procedimentos ortopédicos e do aparelho respiratório superior, foi considerada uma forma de IPO
na espécie equina. Foram descritos também outros casos que podem ocorrer espontaneamente em
animais com condição primária de dor, tais como uveíte ou tenossinovite séptica. Sinais de falha
no esvaziamento cecal podem aparecer de 3 a 5 dias após o procedimento (Sanchez, 2018).
De uma maneira geral, cavalos com íleus apresentam cólica, taquicardia, desidratação,
diminuição dos borborigmos e produção fecal, além de sequestro de fluido para o estômago. A
palpação retal e o exame ultrassonográfico podem revelar distensão do ID com raro ou ausência
de movimento da parede. A gravidade e a duração da estase intestinal variam de minutos a dias
(Sanchez, 2009).
Parâmetros do exame físico anormal sugestivos de íleus incluem depressão, anorexia, dor
abdominal, borborigmos diminuídos ou ausentes, distensão abdominal, taquicardia, membranas
mucosas congestas e tempo de preenchimento capilar prolongado (> 2 segundos). Ocorre
hemoconcentração e diminuição do volume circulante devido a falta de absorção adequada de
água e eletrólitos. Os principais desvios de fluidos ocorrem devido a hipersecreção no lúmen
intestinal e na cavidade peritoneal ou devido aos efeitos da endotoxemia. O líquido que se
acumula no lúmen do cólon, intestino delgado ou cavidade peritoneal é rico em sódio. As
endotoxinas têm efeitos intenso na distribuição de fluidos e pode causar redistribuição de até 20%
do volume plasmático nos leitos capilares esplênicos. Além das perdas de fluidos ricos em sódio,
o aumento da permeabilidade capilar levará à perda de albumina e água para o espaço
extravascular, esgotando ainda mais o volume plasmático e o volume intravascular (Holcombe,
2003). Como consequência do IPO, o animal pode apresentar um aumento do refluxo
enterogástrico que, caso não tratado, pode evoluir para ruptura do estômago (Dechant e Winfield,
2015).
Como descrito anteriormente, disfunção da motilidade intestinal pode estar presente em todos os
cavalos após laparotomia (Freeman et al., 2000). Muitos desses casos são subclínicos
necessitando mínima ou até mesmo nenhuma intervenção específica (Sanchez, 2018). No entanto,
em casos persistentes, o tratamento deve ser adotado de forma imediata.
A motilidade GI é produzida por uma ação coordenada altamente complexa dos sistemas nervosos
entéricos e autonômicos. Diante dos múltiplos níveis de regulação para modular a motilidade,
existe uma miríade de tratamentos de IPO. Os tratamentos incluem não apenas o uso de agentes
procinéticos mas também é importante a adoção de uma terapia de suporte apropriada (Holcombe,
2003). Isso porque o IPO está associado a outras complicações (Fogle, 2019; Morton e Blikslager,
45
2002), com fatores de risco compartilhados (Morton e Blikslager, 2002), numa relação causa e
efeito, ou ambos (King e Gerring, 1988, 1991).
Por exemplo, a distensão e a estase do intestino delgado proximal a uma obstrução física ou
funcional não estranguladora leva à presença de refluxo pós-operatório (Freeman, 2017),
proliferação bacteriana intraluminal (Sachdev e Pimentel, 2013) e produção de endotoxina. A
lesão celular epitelial induzida pela distensão pré-operatória no intestino delgado (ID)
remanescente pode favorecer o extravasamento dessa endotoxina através da mucosa do ID,
provavelmente, sendo uma causa de síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) (Yu et
al., 2014).
Baseado nisso, a terapia suporte consiste em descompressão nasogástrica, hidratação por via
intravenosa, manutenção de eletrólitos e dependendo do quadro, nutrição parenteral. Vários
fármacos podem ser utilizados para o controle da dor, endotoxemia e da cascata inflamatória,
entre eles, o flunixim meglumine, polimixina B e plasma com anticorpos (Holcombe, 2003).
Apesar da terapia suporte ser bastante recomendada, esta deve ser realizada com cautela. Foi
verificado que a prevalência de IPO pode ser produto de diversos fatores. Diante disso, Freeman
et al., (2000) descreveram um protocolo de prevenção ou controle do IPO, no qual não se utiliza
rotineiramente agentes procinéticos nem sonda nasogástrica após a cirurgia. Em vez disso,
mantem um esquema de alimentação precoce a partir de 18 a 24 horas. Às 18h após a cirurgia,
um cavalo deve começar a ingerir pequenos punhados de feno de boa qualidade, o que parece
estimular a motilidade intestinal (Mitchell et al., 2005; Naylor et al., 2006) e evita complicações
induzidas pelo jejum.
Alguns fatores implicados na terapia suporte podem complicar o quadro de IPO. Como por
exemplo, a presença da sonda nasogástrica. Apesar do uso contínuo da sonda nasogástrica
apresentar vantagens no esvaziamento gástrico de pacientes com refluxo, a presença da sonda
pode trazer malefícios. Aumenta o desconforto do paciente, pode aumentar a morbidade em geral
e atrasar o retorno da função GI normal. Por este motivo, alguns autores recomendam que o
paciente permaneça monitorado e apenas quando o mesmo apresentar frequência cardíaca
elevada, é que se passa a sonda no intuito de promover a descompressão gástrica, evitando assim
a ruptura gástrica (Freeman et al., 2000).
46
Quando se fala em procinéticos, uma gama de opções estão disponíveis. Contudo, a maioria
desses fármacos são extrapolados da medicina humana. Muitos são utilizados em cavalos há anos
baseados apenas em experiências anedóticas, com resultados conflitantes presentes na maioria
das vezes. Isso ocorre por diversos motivos, entre eles está na falta de consenso da definição do
IPO, como discutido anteriormente. Outro fator está associado aos resultados contrastantes entre
os estudos in vitro e in vivo, modelos experimentais, estudos clínico e teste em animais hígidos.
Inicialmente, o quadro de IPO foi associado a hipocalemia acentuada e hipocloremia. Por este
motivo, o tratamento inicial foi realizado sem êxito com suco de tomate concentrado via sonda
nasogástrica. Posteriormente, passaram a utilizar parassimpaticomiméticos, como o carbacol
também sem sucesso (Gerring, 1991).
Diante do desafio do IPO em equinos, com o passar dos anos, vários fármacos de diferentes
grupos foram testados: parassimpaticomiméticos (betanecol, neostigmina, antangonistas
adrenérgicos), benzamidas (metoclopramida, cisaprida, mosaprida, tegaserod), antagonista
opioide (N-metilnaltrexone e alvimopan), agonista motilin (eritromicina) e bloqueadores do canal
de sódio (lidocaína). Mesmo com todo o avanço e surgimento de novos fármacos, estudos recentes
com especialistas dos Colégios Europeu (Lefebvre et al., 2015) e Americano (Lefebvre et al.,
2015), demonstraram que a metoclopramida foi o segundo fármaco mais utilizado no tratamento
de IPO.
O primeiro estudo com a metoclopramida demonstrou que a administração até 6 horas do início
do IPO, produziu rápido restabelecimento da atividade da função normal do intestino. O fármaco
acelerou o trânsito de pequenos marcadores esféricos, indicando a restauração da atividade
propulsora quase normal através do canal alimentar. Neste estudo preliminar, a metoclopramida
já apresentava como fator limitante o risco de efeitos extrapiramidais (Gerring e Hunt, 1986).
A maioria dos estudos com procinéticos GI foram realizados em humanos. Por este motivo, uma
ampla variedade de informações estão disponíveis na literatura sobre os efeitos em seres humanos,
animais de laboratório e cães. Os cães servem de modelo para os humanos porque as propriedades
anatômicas e os padrões de motilidade de seus TGI são semelhantes (Steiner e Roussel, 1995).
47
Várias benzamidas modificadas alcançaram a consagração em todo mundo desde o final dos anos
60, como medicamentos antieméticos e/ou gastrocinéticos para humanos. A metoclopramida foi
identificada em meados da década de 1950 na França pelo Laboratoires Delagrange e descrita
pela primeira vez em 1964 por Louis Justin-Besaçon e Charles Laville. A descoberta se deu
durante a execução de um programa que objetivava melhorar as propriedades da procainamida,
um anestésico local e antiarrítmico cardíaco derivado da procaína. A cloração do anel benzeno da
procainamida (2-cloroprocainamida) aumentou significativamente a atividade antiemética em
cães. No entanto, verificou-se ausência da atividade sedativa das estruturas fenotiazínicas. Após
uma avaliação das estruturas relacionadas, observou-se que a metoxi-2-cloro-5-procainamida ou
metoclopramida, apresentava uma atividade anestésica local ou antiarrítmica cardíaca
negligenciável, mas capacidade de inibir o vômito induzido por apomorfina, hidgina e sulfato de
cobre em cães (Justin-Besançon et al. 1964).
A metoclopramida tem sido usada em humanos como antiemético desde os anos 60 (Vella et al.,
1985) e está disponível nos EUA desde 1979 (Lee e Kuo, 2010). Uma das características da
metoclopramida é que a mesma apresenta um mecanismo de ação menos específico e, portanto,
frequentemente estimula uma variedade de receptores entéricos, consequentemente podendo
apresentar efeitos colaterais. Por este motivo, inúmeras pesquisas são realizadas na busca de
desenvolver agentes bloqueadores e ativadores específicos para determinados receptores.
A metoclopramida possui ação antidopaminérgica ao nível dos receptores dopamina D2. Essa é a
base para a eficácia antiemética central do composto. Contudo, a metoclopramida também
bloqueia os efeitos gastrointestinais dos agonistas dopaminérgicos administrados local ou
sistematicamente (Brunton, 1996), interferindo também nos receptores de serotonina. O
antagonismo moderado dos receptores 5-HT3 e agonismo moderado dos receptores 5-HT4 (Costall
e Naylor, 1990), contribuem para o controle da secreção intestinal de serotonina e para a ação
procinética gastrointestinal (Turconi et al., 1991). A metoclopramida também apresenta
propriedades parassimpaticomiméticas indiretas, assim, ela pode atuar como inibidor das
isoenzimas da colinesterase do sistema nervoso central e/ou periférico e do TGI (Chemnitius et
al., 1996). As propriedades colinérgicas da metoclopramida parecem ser de importância primária,
pois a existência de receptores dopamina intestinais específicos ainda é motivo de controvérsia
em muitas espécies (Steiner e Roussel, 1995).
Como exposto anteriormente, um entrave na comparação dos estudos é a definição de IPO. Nieto
e Rakestraw (2000), observaram que a metoclopramida estimulou a atividade contrátil do piloro,
do duodeno proximal e do jejuno médio, demonstrando a capacidade de coordenação da
motilidade dos segmentos intestinais estimulados, ao invés de induzir a atividade contrátil
aumentada de forma aleatória.
48
Infusão de metoclopramida (0,125-0,25 mg/kg/h) adicionada a fluidos IV para reduzir o íleo pós-
operatório em equinos (Papich, 2016). A metoclopramida antagoniza o efeito da dopamina no
sistema nervoso central, porque atravessa a barreira hematoencefálica (Steiner e Roussel, 1995).
Como a bromoprida se apresenta de forma similar, supõe-se que a mesma apresente efeito
parecido.
Foram relatados efeitos colaterais no sistema nervoso central em humanos, cabras e cavalos após
a administração de metoclopramida, pois esse agente atravessa facilmente a barreira
hematoencefálica (Vito et al., 2015). Os fármacos antidopaminérgicos são modificadores da
motilidade GI e seus efeitos dependem da pré-existência de atividade motora (Steiner e Roussel,
1995).
Em cavalos, tem sido usado para tratar IPO, mas efeitos adversos limitaram o uso. O uso em
animais (e doses) é baseado principalmente em estudos em animais de pesquisa, experiência em
pessoas ou experiência anedótica em animais. A maioria dos usos é para fins antieméticos gerais,
mas doses tão altas quanto 2 mg/kg têm sido usadas para prevenir vômitos durante a quimioterapia
do câncer (doses mais altas podem produzir efeitos de antiserotonina).
Quando estamos nos referindo ao uso dos agentes procinéticos em equinos, temos que levar em
consideração tudo aquilo que já foi abordado anteriormente para estarmos a par da situação na
qual comumente o paciente equino irá se apresentar. Pacientes com íleus frequentemente sofreram
um enterectomia e anastomose. Por este motivo temos que levar em consideração também os
possíveis efeitos colaterais desses agentes na cicatrização intestinal e da parede abdominal.
Estudo semelhante também em condições sépticas demonstrou que a bromoprida não apresentou
efeito na cicatrização da parede abdominal (Oliveira et al., 2011).
49
4.6. SITUAÇÃO ATUAL DO ÍLEUS
Tendo em vista a ocorrência de IPO nos humanos e equinos, estudos têm sido desenvolvidos no
intuito de melhor compreender esta disfunção. No entanto, os distúrbios na motilidade,
resultando em trânsito GI prejudicado, ainda são pouco compreendidos.
Os estudos relacionados com IPO em cavalos, no período entre 2009 e 2019, abordaram revisões
de literatura (Lisowski et al., 2018; Augestod et al., 2010; Hudson et al., 2015; Doherty et al.,
2009; Okamura et al., 2009; Vether et al., 2014; Iropskaya et al., 2012; Burke et al., 2018; Salem
et al., 2016), estudos epidemiológicos (taxas de incidência e sobrevivência) (Freeman et al.,
2000), identificação de fatores de risco associados (Holcombe et al., 2009; Chai et al., 2018;
Hopster-Iversen et al., 2011) e determinação da eficácia de intervenções terapêuticas ou
profiláticas (Lefebvre et al., 2016ab; Torfs et al., 2009; Toppenbeck et al., 2013; The et al.,
2011; Guschlbauer et al., 2010; Nieto et al., 2013; Bauck et al., 2017). No entanto, há poucos
estudos realizados a respeito da fisiopatologia do IPO.
Ultimamente, tem se dado muita atenção ao papel da inflamação. Para Freeman (2018), esse
foco restrito pode explicar o fracasso em fazer avanços importantes no manejo de cavalos com
essa complicação. O que ocorre de fato é que a fisiopatologia do IPO é multifatorial, e envolve
fatores neurais, inflamatórios, hormonais e farmacológicos. Embora se tenha que levar em
consideração esses fatores, a maioria dos estudos parece aplicar os resultados da pesquisa ao
caso clínico, sem levar em consideração as evidências clínicas. Por este motivo, Freeman (2018),
enfatiza que na espécie equina é necessário redirecionar o pensamento atual sobre IPO para
longe de uma abordagem que destaca predominantemente um distúrbio funcional e
gerenciamento médico, para uma abordagem que foca na prevenção cirúrgica.
5. CONCLUSÃO
A motilidade gastrointestinal equina é algo complexo que ainda não está completamente
compreendida. Diversos fatores estão envolvidos na patofisiologia do íleus. Diante das
particularidades encontradas na espécie equina, fica difícil extrapolar resultados obtidos em outras
espécies. Apesar do surgimento de novos fármacos, a metoclopramida foi eleita o segundo
fármaco mais utilizado na prevenção e tratamento de IPO, mesmo com o risco do
desenvolvimento de efeitos extrapiramidais.
50
CAPÍTULO II - AVALIAÇÃO DOS EFEITOS NEUROLÓGICOS DA
BROMOPRIDA E DA METOCLOPRAMIDA EM EQUINOS
RESUMO
51
EVALUATION OF NEUROLOGICAL EFFECTS OF BROMOPRIDE AND
METOCLOPRAMIDE IN HORSES
ABSTRACT
There are few studies evaluated on the adverse effects of bromopride and metoclopramide in
horses. For this reason, a preclinical study was carried out, evaluating the neurological effects of
metoclopramide and bromopride in horses. Thus, five healthy horses for physical examination,
mixed breed, castrated were used in a randomized crossover study, with the aim of evaluating and
comparing the neurological effects of intramuscular administration of metoclopramide,
bromopride and Lactate Ringer solution (control). Behavior tests, degree of sedation, reaction to
touch and nociceptive mechanical threshold were performed. Initially, a pilot study was carried
out to adjust the dose of both drugs to be used during the experiment. Generalization equation
models were adjusted, which are the regression models used for data with longitudinal
experimental design with execution of repeated measures in the same individual over time. They
were included as predictive variables for treatment, time and treatment application order. Also
calculate the differences between treatments at each time (24 comparisons), as well as the
differences in time differences from the initial time (ie, zero time) for each treatment. No pilot
study, extrapyramidal effects were observed, with doses of 0.3 mg/kg and 0.125 mg/kg of
metoclopramide and 0.2 mg/kg, 0.1 mg/kg and 0.05 mg/kg of bromopride. A final dose used in
the study was 0.125 mg/kg of metoclopramide and 0.025 mg/kg of bromopride. At these doses of
metoclopramide, they have an excitatory effect while a bromopride promotes drowsiness,
sedation and increased nociceptive threshold.
52
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
53
3. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade
Federal de Minas Gerais, número 423/2018.
3.2. ANIMAIS
Diante das doses descritas na literatura para metoclopramida, foi utilizada inicialmente a dose de
0.3 mg/kg, por via intramuscular (Bretas Viana, 2014). Como os animais apresentaram efeito
extrapiramidal a dose foi reduzida até 0.125 mg/kg, por via intramuscular.
Inicialmente, a dose de bromoprida utilizada foi baseada em estudos realizados em humanos, 0.2
mg/kg, por via intramuscular (Bretas Viana, 2014). Diante da presença de efeito extrapiramidal,
a dose foi reduzida diversas vezes até chegar a 0.025 mg/kg. O quadro 1, apresenta a descrição
do número de animais utilizados, a dose e o fármaco utilizado, além do número de animais que
manifestaram efeito extrapiramidal.
Quadro 1 - Descrição do número de animais, doses, fármacos, número de animais expostos e o número de animais que
apresentaram efeito extrapiramidal (EEP).
Fármaco administrado Dose Nº de animais expostos Nº de animais com EEP
Metoclopramida 0.3 mg/kg 3 3
Metoclopramida 0.125 mg/kg 5 1
Bromoprida 0.2 mg/kg 2 2
Bromoprida 0.1 mg/kg 2 2
Bromoprida 0.05 mg/kg 2 2
Bromoprida 0.025 mg/kg 5 0
Quando sinais clínicos de EEP eram manifestados, o experimento piloto foi interrompido e o
equino colocado no piquete para evitar acidentes até a tranquilização dos mesmos.
54
controle (CONT), com intervalo mínimo de cinco dias entre eles. No tratamento BRO, foi
administrado 0.025 mg/kg de bromoprida, no MET, foi administrado 0.125 mg/kg de
metoclopramida e no CONT, foi administrado solução Ringer com lactato em um volume
intermediário, todos por via intramuscular (músculo semitendinoso).
Todas as avaliações foram feitas no tronco de contenção. Inicialmente, o animal era mantido duas
horas seguidas no tronco de contenção, sem água e alimento. Após esse período, o animal era
solto no piquete com disponibilidade de feno e água ad libitum. No dia do experimento, não foi
fornecido ração. Para as avaliações após duas horas, o animal era colocado no tronco de contenção
apenas durante a avaliação e em seguida era colocado no piquete.
Quadro 2 - Sequência da avaliação dos efeitos neurológicos. Primeiramente foi feito a avaliação do comportamento
do animal tanto na forma descritiva como na forma de escores. Em seguida, foi avaliado o grau de sedação através da
medição em centímetros da altura da cabeça do animal em relação ao chão. Após essa avalição, foi colocado uma
máscara no animal. Um avaliador com o auxílio de um bastão de madeira de aproximadamente 1,5m de comprimento
avaliou o grau de reação ao toque (classificada em escores) para em seguida avaliar o limiar nociceptivo com a ajuda
de um dinamômetro de compressão portátil (avaliada em quilos).
AVALIACÃO NEUROLÓGICA
1º - Avaliação do comportamento
- Avaliação descritiva do comportamento.
- Avaliação em escores do comportamento.
2º - Avaliação do grau de sedação
- Avaliação da altura da cabeça em relação ao chão em centímetros.
3º - Avaliação da reação ao toque
- Colocação de máscara no cavalo com o intuito de impedir que a visualização do bastão possa interferir
nos resultados.
- Uso de bastão de madeira.
4º - Avaliação do limiar nociceptivo
Colocação de máscara no cavalo com o intuito de impedir que a visualização do bastão possa interferir
nos resultados.
Uso de dinamômetro de compressão portátil.
A descrição detalhada da metodologia utilizada em cada avaliação poderá ser visualizada nos
subtópicos a seguir.
55
3.5.1. Avaliação do comportamento
A avaliação do comportamento foi feita antes (tempo zero) e 30, 45, 60, 90, 120, 180, 240, 300,
480, 720 e 1440 minutos após a administração dos tratamentos (CONT, MET e BRO). Todas as
avaliações foram feitas pelo mesmo avaliador.
Quadro 3 - Descrição dos dados e escores utilizados para avaliação visual do comportamento dos animais.
DADO CRITÉRIO ESCORE
Cabeça e orelhas baixas, sem relutância em se movimentar 0
Alerta, movimentos ocasionais de cabeça, sem relutância em se movimentar 1
APARÊNCIA
Inquietação, orelhas em alerta, expressões faciais anormais, pupilas dilatadas 2
Excitação, movimento corporal contínuo, expressão facial anormal 3
Sem sudorese 0
Leve sudorese ao toque 1
SUDORESE
Leve sudorese ao toque e gotas visíveis de suor 2
Sudorese excessiva, suor escorrendo 3
Sem chutar 0
Ocasionalmente (1 a 2 vezes em 5 minutos) 1
CHUTAR O
Frequentemente (3 a 4 vezes em 5 minutos) 2
ABDÔMEN
Excessivamente (>5 vezes em 5 minutos), tentativas intermitentes de deitar e
3
rolar
Sem cavar 0
Ocasionalmente (1 a 2 vezes em 5 minutos) 1
CAVAR O CHÃO
Frequentemente (3 a 4 vezes em 5 minutos) 2
Excessivamente (>5 vezes em 5 minutos) 3
Andar normal e quieto na posição quadrupedal 0
Ocasional transferência de peso, leves tremores musculares 1
POSTURA
Distribuição de peso anormal, rolar 2
Posição de micção, tremores, prostração 3
Sem sinais de desconforto, cabeça ereta 0
Movimentos laterais ou verticais intermitentes, olhar para o flanco (1 a 2 em 5
1
MOVIMENTOS min)
DE CABEÇA Movimentos laterais ou verticais intermitentes e rápidos, olhar para o flanco
2
(3 a 4 em 5 min)
Movimentos contínuos, olhas para o flanco excessivo (>5vezes em 5 min) 3
Normal ou não é fornecido 0
Hesita em comer 1
APETITE
Mostra pouco interesse, come pouco, não mastiga 2
Sem interesse 3
Presta atenção 0
RESPOSTA AO Resposta exagerada a estímulos auditivos 1
OBSERVADOR Resposta excessiva/agressiva a estímulos auditivos 2
Estupor, prostração, ausência de resposta a estímulo auditivo 3
Quando sinais clínicos graves, como comportamento agressivo e tentativas de pular o tronco
foram observados, o experimento foi imediatamente interrompido e o equino colocado no piquete
para evitar acidentes até a tranquilização dos mesmos.
56
3.5.2. Avaliação do grau de sedação
O grau de sedação foi avaliado através da mensuração da altura da cabeça do animal em relação
ao solo, com o auxílio de uma fita métrica fixada no tronco de contenção. O valor basal (tempo
zero) foi utilizado para calcular a porcentagem de variação dos demais momentos.
A avaliação do grau de sedação foi feita antes (tempo zero) e 30, 45, 60, 90, 120, 180, 240, 300,
480, 720 e 1440 minutos após a administração dos tratamentos (CONT, MET e BRO).
Antes de iniciar a avaliação da reação ao toque, foi colocada uma máscara no animal, na qual
limitava o seu campo de visão, impedindo o mesmo de ter contato visual com o avaliador. Com
o auxílio de um bastão de madeira de aproximadamente 1,5 metros, foram avaliadas as reações
ao toque no lado esquerdo e direito da nuca, axila e virilha (Fig. 1) e classificadas em escores de
0 a 3 (Quadro 2).
Figura 1 - Representação esquemática das regiões de avaliação da reação ao toque de bastão (nuca - azul, axila – rosa
e virilha - amarelo) e das regiões de avaliação do limiar nociceptivo (tuberosidade da escápula - verde e tuberosidade
coxal - vermelho).
57
Todas as avaliações foram feitas pelo mesmo avaliador, antes (tempo zero) e 30, 45, 60, 90, 120,
180 e 240 minutos após a administração dos tratamentos (CONT, MET e BRO).
Todas as avaliações foram feitas pelo mesmo avaliador, antes (tempo zero) e 30, 45, 60, 90, 120,
180 e 240 minutos após a administração dos tratamentos (CONT, MET e BRO).
4. ANÁLISE ESTATÍSTICA
A correlação não paramétrica de Spearman foi calculada para todos os pares de variáveis e as
correlações significativas a 5% de significância foram reportadas. As correlações foram
calculadas separadamente para metoclopramida e bromoprida.
Todas as análises estatísticas foram realizadas através do software R versão 3.5.1 (R Core Team,
2018).
5. RESULTADOS
Ao analisar o comportamento dos animais, observou-se que nenhum apresentou sudorese e chutar
o abdômen. Como os animais passaram os primeiros 120 minutos no tronco de contenção, e sem
a disponibilidade de alimento, não foi possível avaliar alterações de apetite.
Observando a soma dos escores de aparência de cada animal e comparando as médias em cada
tratamento, a metoclopramida apresentou leve efeito excitatório até os 120 minutos após a
58
administração, entretanto a variabilidade entre os animais foi muito grande. Durante o mesmo
período, a bromoprida tendeu a apresentar um efeito contrário (Gráf. 1).
Gráfico 1 - Médias das somas dos escores de comportamento e seus respectivos intervalos de 95% de confiança para
cada tratamento em cada tempo. As letras acima de cada grupo representam as comparações múltiplas: a - diferença
significativa entre BRO (bromoprida) e CONT (controle); b – diferença significativa entre BRO (bromoprida) e MET
(metoclopramida) e c – diferença significativa entre MET (metoclopramida) e CONT (controle).
Comparando os resultados de cada tratamento com o tempo zero, observou-se que a bromoprida
apresentou valores médios significativamente menores nos minutos 30, 45 e 60. Neste período os
animais apresentavam um aspecto sonolento. Apesar da metoclopramida apresentar valores
médios maiores, indicando uma excitação, a variação entre os animais impossibilitou um efeito
significativo (Gráf. 2).
Gráfico 2 - Médias das somas dos escores de comportamento e seus respectivos intervalos de 95% de confiança para
cada tratamento (BRO – bromoprida, CONT – controle e MET – metoclopramida) em cada tempo. Os momentos
destacados com o asterisco são significativamente diferentes do tempo zero a 5% de significância.
Alguns animais apresentaram efeitos extrapiramidais, sendo a maioria do piloto. Foi realizado um
piloto para o ajuste da dose da metoclopramida e da bromoprida. A descrição das doses,
medicamentos e sinais estão descritos no quadro 5.
Apenas um animal do grupo metoclopramida, na dose 0.125 mg/kg apresentou efeito
extrapiramidal (Fig. 2), enquanto, nenhum animal do grupo bromoprida na dose de 0.025 mg/kg
apresentou efeito extrapiramidal.
59
Quadro 5 - Descrição do número de animais, doses, fármacos, início, duração e descrição dos efeitos extrapiramidais
(EEP), durante as fases de ajuste de dose (piloto) e experimental.
Nº de animais
Dose e fármaco Duração
com EEP/Nº de Sinais de EEP Início
administrado do efeito
animais expostos
Animal 1 – Inquietação, leve desconforto abdominal, olhar para o
flanco, troca de apoio e fasciculações musculares.
Animal 2 e 3 - Taquicardia, taquipneia, dilatação das narinas e da
pupila, inquietude, abaixar da cabeça colocando as mesmas entre
3/3 0.3 mg/kg de
os membros, busca por alimento, movimentos mastigatórios com 60 min 60 min
100% Metoclopramida
movimento horizontal da mandíbula exacerbado até o momento
que pulou o tronco de contenção. Agressividade, manoteando,
escoiceando e mordendo quando alguém tentava se aproximar
dos mesmos. Perseguiu um dos ajudantes e tentou atingi-lo.
Animal 1 – Inquietação, leve desconforto abdominal, olhar para o
flanco, troca de apoio e fasciculações musculares.
Animal 2 - Taquicardia, taquipneia, dilatação das narinas e da
2/2
0.2 mg/kg de Bromoprida pupila, inquietude, abaixar da cabeça colocando as mesmas entre 60 min 30 min
100%
os membros, busca por alimento, movimentos mastigatórios com
movimento horizontal da mandíbula exacerbado até o momento
que pulou o tronco de contenção.
1/5 0.125 mg/kg de Inquietação, cavar, olhar para o flanco, colocar a cabeça entre os
10 min 50 min
20% Metoclopramida membros, agressividade, taquipneia, rolar e coices no ar.
Dilatação das narinas, abaixar da cabeça colocando a mesma
2/2 entre os membros, inquietação, sapatear, busca desesperada por
0.1 mg/kg de Bromoprida 40 min 45 min
100% alimento, mastigação com movimento horizontal da mandíbula
exacerbado, dilatação da pupila e saltar o tronco.
Dilatação das narinas, abaixar da cabeça colocando a mesma
2/2 0.05 mg/kg de entre os membros, inquietação, sapatear, busca desesperada por
40 min 45 min
100% Bromoprida alimento, mastigação com movimento horizontal da mandíbula
exacerbado, dilatação da pupila e saltar o tronco.
0/5 0.025 mg/kg de
- - -
0% Bromoprida
60
Figura 2 - Cavalo apresentando efeito extrapiramidal (EEP) após a administração de metoclopramida na dose de 0.125
mg/kg. O animal apresentou inquietação (A, B, C, D, E e F), busca desesperada por alimento (A), cavar (B), coices no
ar (C) e rolar (D, E e F). Os efeitos se iniciaram 10 minutos após a administração da metoclopramida e duraram em
torno de 50 minutos.
A B
C D
E F
61
5.2. AVALIAÇÃO DO GRAU DE SEDAÇÃO
Em relação ao grau de sedação pela altura da cabeça, poucas diferenças foram observadas entre
os tratamentos. Apesar da bromoprida tender a apresentar menores valores que o tempo zero, esse
valor foi significativo apenas aos 90 minutos (Gráf. 3).
Gráfico 3 - Médias da altura da cabeça (cm) e seus respectivos intervalos de 95% de confiança para cada tratamento
(BRO – bromoprida, CONT – controle e MET – metoclopramida) em cada tempo. Os momentos destacados com o
asterisco são significativamente diferentes do tempo zero a 5% de significância.
A bromoprida apresentou valores significativamente menores do que o tempo zero, nos minutos
30, 60, 90, 180 e 240. Apesar da metoclopramida tender a apresentar menores valores do que o
tempo zero, a variação entre os animais foi grande, não havendo diferença estatística (Gráf. 4).
Gráfico 4 - Médias das somas dos escores da avaliação da reação ao toque e seus respectivos intervalos de 95% de
confiança para cada tratamento em cada tempo. Os momentos destacados com o asterisco são significativamente
diferentes do tempo zero a 5% de significância.
A bromoprida apresentou valores médios do limiar nociceptivo maiores do que o tempo zero, nos
minutos 30, 45, 60 e 120. Nenhum efeito nociceptivo foi verificado no grupo controle e
metoclopramida (Gráf. 5).
62
Gráfico 5 - Médias das somas dos limiares nociceptivos (kg) e seus respectivos intervalos de 95% de confiança para
cada tratamento em cada tempo. Os momentos destacados com o asterisco são significativamente diferentes do tempo
zero a 5% de significância.
6. DISCUSSÃO
Diante das variedades de doses descritas na literatura para metoclopramida, foi utilizada
inicialmente a dose de 0.3 mg/kg, por via intramuscular (Bretas Viana, 2014). Como o primeiro
animal apresentou um efeito extrapiramidal leve, a mesma dose foi utilizada em outros dois
animais. Todavia, ambos apresentaram efeito extrapiramidal. Diante disso, a dose foi reduzida
para 0.125 mg/kg por via intramuscular.
Ao avaliar os escores de comportamento dos animais, observou-se que a metoclopramida na dose
de 0.125 mg/kg apresentou efeito excitatório até 120 minutos, enquanto a bromoprida apresentou
efeito contrário. Foi observado que os animais sob efeito da bromoprida apresentavam-se mais
sonolentos. Sonolência foi relatada como efeito adverso mais comum da metoclopramida,
bromoprida e ondansetrona em humanos (Epifanio et al., 2018). Contudo, no presente estudo,
apenas a bromoprida apresentou este efeito.
63
A metoclopramida tem a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica e causar graves
efeitos colaterais centrais (Ambrojo et al., 2018). De acordo com um levantamento realizado em
humanos, os efeitos extrapiramidais após o uso de metoclopramida dependem da idade e do sexo.
Esses efeitos são mais comuns em jovens e mulheres, especialmente com idade entre 12 e 19 anos
(Bateman et al., 1985). Como o presente estudo só foi realizado em equinos machos, não se pôde
comparar o efeito sexo, todavia, o único cavalo que não apresentou efeito extrapiramidal nas
doses mais elevadas de bromoprida (0.2 mg/kg) e metoclopramida (0.3 mg/kg) foi o animal mais
velho do grupo (12 anos de idade), durante o experimento piloto.
64
ficou em decúbito lateral e continuou mastigando e com movimento de pedalada nos membros
torácicos.
De acordo com Agass et al. (2017), os efeitos extrapiramidais começaram 60 minutos após a
administração subcutânea de metoclopramida e cessaram após a administração de agonistas alfa-
2 e dopamina. No estudo piloto, dois animais apresentaram efeitos extrapiramidais após uso de
metoclopramida na dose de 0.3 mg/kg por via intramuscular, 60 min após a administração. Apenas
um animal apresentou efeito extrapiramidal na dose de 0.125 mg/kg, neste, os efeitos se iniciaram
10 minutos após a administração. Nos três animais os efeitos cessaram após aproximadamente
50-60 minutos do início do quadro, sem a necessidade da administração de qualquer fármaco.
Apesar dos trabalhos utilizarem vias de administração diferentes, pode-se concluir que o uso de
agonistas alfa-2 e dopamina para cessar os efeitos neurológicos da metoclopramida podem ser
questionados.
Como não há estudos farmacocinéticos da metoclopramida em equinos, não se sabe qual o tempo
de excreção deste fármaco. Em humanos, o pico de concentração sérica de metoclopramida ocorre
30 minutos após administração subcutânea, retornando aos níveis normais após 4 horas (Mc
Callun et al., 1991).
A reação extrapiramidal em humanos é descrita como desconforto físico e inquietação mental. É
relatado que a pessoa se sente desconfortável em qualquer posição, ficando impossibilitada de se
concentrar em atividades básicas com a necessidade de produzir movimentos pelo corpo como
uma forma de aliviar parcialmente o desconforto (Tomelin e Tonelli, 2012). Blefaroespasmo
(encerramento palpebral), crises bucolinguais (movimentos de deglutição ou mastigação
repetitivos, engasgos, protusão da língua, assimetria facial), crises oculógiras (desvio conjugado
do olhar), distonia (disfonia, estridor, disfagia), torcicolo (contratura cervical mantida ou
espasmódica, desvio lateral da cabeça), opistótono (hiperextensão do tronco) e movimentos
repetidos de extensão e flexão dos membros inferiores são alguns dos achados descritos em
humanos (Barreira e Magaldi, 2009; Cadete et al., 2018; Campbell, 2001). Apesar de não haver
estudos descrevendo os efeitos extrapiramidais na espécie equina, no presente estudo, observou-
se manifestações similares a de humanos.
Bateman et al., (1978) mencionaram pela primeira vez um provável efeito sedativo da
metoclopramida em humanos, quando a mesma foi administrada por via intravenosa. O efeito
sedativo, durou entre 1 e 3 horas. Não há trabalhos avaliando os efeitos sedativos e analgésicos
da metoclopramida nem da bromoprida em cavalos.
No presente trabalho, a avaliação do grau de sedação através altura da cabeça não demonstrou
resultados significativos entre os tratamentos. Muitas vezes, apesar do animal apresentar um certo
grau de sonolência, o mesmo não era refletido na altura da cabeça. No entanto, quando se
observou o grau de reação ao toque, a bromoprida apresentou efeito sedativo até 240 min. A
65
metoclopramida apresentou uma tendência de efeito sedativo porem não foi significativo devido
ao desvio padrão.
Okamura et al. (2009) descreveram evento de queda após depressão em um cavalo, após a
administração de 0.2 mg/kg de metoclopramida por via oral. Como a metoclopramida inibe os
receptores de dopamina, um efeito extrapiramidal similar à diminuição de liberação de dopamina
foi relatado no SNC.
Ainda não se sabe qual o mecanismo envolvido no aumento do limiar nociceptivo mecânico. A
bromoprida além de ter efeito antidopaminérgico, tem efeito antiserotoninérgico principalmente
no receptor 5-HT3. Bloqueadores específicos do receptor 5-HT tem ação analgésica em alguns
modelos experimentais de dor (Moss e Sanger, 1990).
7. CONCLUSÃO
A dose de 0.2 mg/kg de bromoprida utilizada em humanos, não é recomendada para uso em
equinos hígidos ao exame físico devido ao risco do desenvolvimento de efeitos colaterais
extrapiramidais. A dose de 0.025 mg/kg de bromoprida, por via intramuscular, apresentou efeito
sedativo e aumentou o limiar nociceptivo de equinos hígidos ao exame físico.
66
CAPÍTULO III - AVALIAÇÃO DO EFEITO PROCINÉTICO DA BROMOPRIDA
E DA METOCLOPRAMIDA EM EQUINOS
RESUMO
67
EVALUATION OF THE PROCINETIC EFFECT OF BROMOPRIDE AND
METOCLOPRAMIDE IN HORSES
ABSTRACT
68
1. INTRODUÇÃO
O íleus pós-operatório (IPO) é uma das principais complicações de cavalos submetidos à cirurgia
abdominal, levando ao aumento do tempo de internação e custos decorrentes. Avanços na
compreensão do desenvolvimento de IPO em equinos baseiam-se principalmente em pesquisas
realizadas em humanos e roedores (Lisowski et al., 2018).
Diversos agentes procinéticos estão disponíveis para o tratamento de IPO, cada um com suas
vantagens e desvantagens. Nos estudos epidemiológicos realizados por Lefebvre et al. (2015ab),
a metoclopramida foi relatada como o segundo agente procinético mais utilizado em equinos, por
membros dos Colégios Americano e Europeu.
A metoclopramida como medicação procinética promove a motilidade intestinal pela inibição dos
receptores D2 pré-sinápticos e pós-sinápticos, pela estimulação dos receptores 5-HT3 e liberação
de acetilcolina. Por este motivo, é amplamente utilizada no tratamento sintomático de vômitos,
doença do refluxo gastroesofágico e gastroparesia em pacientes humanos submetidos à
quimioterapia (Lee e Kuo, 2010). Na espécie equina, tem apresentado resultados satisfatórios no
tratamento de IPO (Dart et al., 1996; Dart e Pascoe, 1994; Gerring e Hunt, 1986). Todavia, alguns
veterinários têm receio de utiliza-la devido ao risco do efeito extrapiramidal (Agass et al., 2017).
Diante disso, uma outra benzamida de 1ª geração, a bromoprida, poderia ser utilizada para
substituir a metoclopramida apresentando o mesmo efeito procinético, sem apresentar efeito
extrapiramidal. Especialistas colorretais em humanos, acreditam que a bromoprida tem um efeito
maior do que outros antieméticos na motilidade do íleo terminal. No entanto, esta é uma teoria
científica não comprovada (Oliveira et al., 2011). Palhares et al. (2003) descreveram efeitos
benéficos do uso da bromoprida por via endovenosa no pós-operatório de equinos com cólica. No
entanto, não há outros estudos que corroborem com esses achados.
Apesar de ser utilizada em equinos há muitos anos, não há estudos avaliando a farmacocinética e
a farmacodinâmica da metoclopramida na espécie equina. Da mesma forma, que a bromoprida,
na qual sua eficácia na espécie equina é baseada em evidências anedóticas.
69
2. OBJETIVOS
3. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade
Federal de Minas Gerais, número 423/2018.
3.2. ANIMAIS
Duas horas após a administração, o animal foi colocado no piquete e foram disponibilizados feno
e água ad libitum. O animal apenas retornava para o tronco de contenção no momento das
avaliações em seguida voltava para o piquete. No dia do experimento, não foi fornecido ração.
70
3.4. ADMINISTRAÇÃO MARCADOR DE TRÂNSITO INTESTINAL (LIPE®)
A avaliação do trânsito intestinal foi realizada utilizando um marcador de fase sólida da digesta.
A cinética da fase sólida da digesta foi estimada pela lignina isolada, purificada e enriquecida
(LIPE®). O LIPE® foi administrado em dose única, na forma de cápsula com 0,5g (Fig. 1), via
sondagem nasogástrica, diluído em um litro de água, imediatamente antes do início do
experimento. A sonda nasogástrica foi retirada imediatamente após a colocação do LIPE®.
A avaliação da motilidade intestinal por auscultação foi feita seguindo a metodologia de Boscan
et al. (2006). Os escores de ruídos intestinais foram estimados por auscultação dos quadrantes
abdominais (região dorsal e ventral do flanco esquerdo e direito) antes e após a administração dos
tratamentos (BRO, MET e CONT) em tempos pré-determinados. Os ruídos intestinais foram
classificados de acordo com o quadro 1.
A posição do duodeno descendente, base cecal e do cólon ventral esquerdo em cada equino foi
identificada antes do início do exame ultrassonográfico. A base cecal foi identificado na região
da porção superior da fossa paralombar direita, enquanto o cólon ventral esquerdo foi identificado
na região ventral da fossa paralombar esquerda ao nível da articulação femurotibiopatelar (Fig.
1). O duodeno descendente foi localizado na área compreendida entre a 8ª e a 18ª costela direitas
ao longo da linha do olecrano e tuberosidade coxal. Após a identificação, foi feita a tricotomia
bilateral nas regiões identificadas. O local foi limpo com álcool, e em seguida foi colocado gel
transdutor para melhorar o contato com o transdutor.
O exame ultrassonográfico abdominal foi realizado com transdutor macroconvexo de 5MHz com
o aparelho ultrassonográfico Mindray® modelo M5. O transdutor foi orientado em uma direção
longitudinal para melhor visualização das saculações do ceco e do cólon ventral esquerdo. Para o
exame do duodeno descendente, o transdutor foi posicionado em direção transversal.
71
Todas as medidas ultrassonográficas foram feitas pelo mesmo operador, para evitar variações
individuais.
Figura 1 – Imagem ultrassonográfica transcutânea abdominal de equino, com evidências parciais do baço e colón
ventral esquerdo (CVE) caracterizado pela presença de haustras. O transdutor macroconvexo de 5 MHz foi posicionado
na área ventral da fossa paralombar esquerda ao nível da articulação femurotibiopatelar. As contrações do cólon ventral
esquerdo foram avaliadas por mudanças nas saculações maiores do que 2 cm.
Baço
Figura 2 - Imagem ultrassonográfica transcutânea abdominal de equino, com evidências parciais do fígado, colón
dorsal direito (CDD) e duodeno (D). O duodeno descendente foi localizado na área compreendida entre o 8º e o 18º
espaços intercostais do lado direito ao longo da linha do olecrano e tuberosidade coxal, local onde foi posicionado o
transdutor macroconvexo de 5 MHz. Na imagem A, observa-se o duodeno começando a contrair; na B, o duodeno
contraído e na C, o duodeno dilatado. O círculo amarelo mostra a área de posicionamento do transdutor para a realização
do exame ultrassonográfico da base do ceco.
72
Fígado
3.7. COLETA E PROCESSAMENTO DAS FEZES
O tempo médio de retenção (TMR) da fase sólida da digesta no trato digestório foi calculado
utilizando a quantidade de LIPE® excretado no intervalo de tempo (mi) e o intervalo de tempo
entre o fornecimento do indicador (ti) e o tempo de coleta fecal (i) em equação proposta por
Faichney (1975), segundo Godoi et al., (2009):
4. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Todas as análises estatísticas foram realizadas através do software R versão 3.5.1 (R Core Team,
2018).
5. RESULTADOS
Ao analisar os resultados, foi levado em consideração o tempo zero em cada tratamento, ou seja,
como a motilidade intestinal se apresentava antes da realização do tratamento. Avaliando as
diferenças entre os momentos em relação ao minuto zero, poucas alterações foram encontradas.
73
No gráfico 1, os momentos destacados com o asterisco são significativamente diferentes do
minuto zero a 5% de significância. As diferenças se concentraram após 300 minutos, havendo
apenas duas diferenças significativas antes de 300 minutos.
Gráfico 1 - Diferenças das médias de escore de motilidade intestinal após avaliação por auscultação, entre tempos em
relação ao tempo zero, para cada tratamento (bromoprida - BRO, metoclopramida - MET e controle - CONT) e para
cada região (QID – quadrante inferior direito, QIE – quadrante inferior esquerdo, QSD – quadrante superior direito,
QSE – quadrante superior esquerdo).
As médias dos escores de auscultação no tempo zero foram diferentes entre os tratamentos (Gráf.
1). No gráfico 2, pode-se observar as diferenças de médias de escores de motilidade intestinal
entre os tratamentos em cada região, em cada momento avaliado, com a linha cinza sendo
considerada o tempo zero. Apesar das médias dos escores de motilidade intestinal dos quadrantes
inferiores direito (QID) e esquerdo (QIE) apresentarem diferenças entres os tratamentos, não
houve diferença significativa em relação ao tempo zero, dentro do mesmo tratamento.
No quadrante superior direito (QSD), a média de escore de motilidade dos animais tratados com
bromoprida apresentou valores significativamente maiores que o controle nos minutos 180 e 240.
Enquanto, o tratamento com metoclopramida, apresentou valores significativamente maiores que
o controle nos minutos 60 e 720. No quadrante superior esquerdo (QSE), a média dos escores de
motilidade dos animais tratados com bromoprida foi maior do que o controle nos minutos 180,
240 e 720.
74
Gráfico 2 - Diferenças das médias de escore de motilidade intestinal entre os tratamentos, em cada região (QID –
quadrante inferior direito; QIE – quadrante inferior esquerdo; QSD – quadrante superior direito e QSE – quadrante
superior esquerdo) e em cada momento avaliado onde: a - diferença significativa entre bromoprida (BRO) e controle
(CONT); b - diferença significativa entre bromoprida (BRO) e metoclopramida (MET); c: diferença significativa entre
controle (CONT) e metoclopramida (MET).
Em relação às diferenças das médias de escore de motilidade entre tratamentos, por região de cada
tempo, em relação ao tempo zero, verificou-se apenas uma diferença significativa entre
bromoprida e o grupo controle na região do quadrante superior direito, com menores valores para
este último. Apesar da diferença entre controle e metoclopramida nesta mesma região ter sido
maior que a diferença entre bromoprida, o erro padrão para metoclopramida foi maior, impedindo
que a diferença fosse significativa.
Na comparação das médias de escores de motilidade intestinal entre regiões, por tratamento em
relação ao tempo zero, foram verificadas diferenças significativas entre as regiões do quadrante
inferior direito (QID) e quadrante superior direito (QSD) apenas para metoclopramida.
O número de contrações do ceco (CEC), cólon (COL) e duodeno (DUO) foram registrados
durante três minutos, através de avaliação ultrassonográfica. Inicialmente, foram estimados os
75
efeitos globais dos tratamentos (BRO, MET e CONT) durante todo o período analisado para cada
região (sem especificar por cada momento mensurado). Estes efeitos globais foram calculados
sem o tempo zero.
Como o valor de motilidade se apresentou de forma diferente em cada animal antes de iniciar os
tratamentos, foram avaliadas as diferenças das médias entre os momentos em relação ao minuto
zero (Gráf. 3). Os momentos destacados com o asterisco são significativamente diferentes do
minuto zero a 5% de significância. Foram observadas diferenças em 30 e 60 minutos para
bromoprida no cólon e uma a 30 minutos no ceco.
Gráfico 3 - Diferenças das médias do número de contrações intestinais avaliadas por ultrassonografia entre tempos
(15, 30, 60, 90, 120, 180, 240, 300, 480, 720 e 1440 min), em relação ao tempo zero (0) para cada tratamento (BRO –
bromoprida, CONT – controle e MET – metoclopramida) para cada região (CEC – ceco, COL – cólon ventral esquerdo
e DUO - duodeno), após avaliação ultrassonográfica.
Não foram verificadas diferenças estatísticas entre as ordens de aplicação dos tratamentos.
Para ficar mais nítido se houve ou não efeito procinético dos tratamentos, foram observadas as
diferenças das médias do número de contrações intestinais entre os grupos (BRO, MET e CONT)
para cada região em cada tempo em relação ao tempo zero (linha cinza). Os resultados foram
ilustrados no gráfico 4. Observou-se que a bromoprida apresentou valores significativamente
maiores que o grupo controle nos minutos 60 no ceco, nos minutos 30, 60, 90, 180, 480, 720 para
o cólon e no minuto 30 para o duodeno. A bromoprida apresentou valores significativamente
maiores do que a metoclopramida nos minutos 30 e 60 para o ceco. A metoclopramida apresentou
maiores valores que o controle para o minuto 120 no ceco, minuto 90 no cólon e minuto 240 no
duodeno.
76
Gráfico 4 – Diferenças das médias do número de contrações intestinais entre grupos (BRO – bromoprida; MET -
metoclopramida e CONT - controle) para cada região (CEC - ceco, COL – cólon ventral esquerdo e DUO - duodeno)
em cada tempo em relação ao tempo zero (linha cinza), após avaliação ultrassonográfica. A média do número de
contrações intestinais em cada tempo foi considerada 0.
77
Tabela 1 - Médias dos Tempos Médio de Retenção (TMR) e Taxa de Passagem (TxP) da fase sólida da digesta em
cada tratamento (controle, metoclopramida e bromoprida) em horas.
TRATAMENTO
Controle Metoclopramida Bromoprida
TMR 12,09±2,97 11,07±0,81 9,84±2,46
TxP 8,81±2,27 9,08±0,69 11,10±3,89
Não foram constatadas diferenças significativas nos TMR e TxP entre os tratamentos.
6. DISCUSSÃO
A motilidade intestinal dos animais foi monitorada em vários momentos durante o dia, por dois
motivos: (1) ausência de estudos farmacocinéticos destes fármacos na espécie equina
(desconhecimento do tempo de ação dos fármacos) e (2) possibilidade da variação da atividade
intestinal individual durante o dia. O que de fato, foi observado durante o estudo. Isto implica que
um curto período de monitoramento poderia não ser representativo.
Justamente por não haver estudos farmacocinéticos da metoclopramida na espécie equina, existe
uma grande variedade de doses disponíveis para equinos, que varia de 0.04 mg/kg a 0.5 mg/kg
(Dart et al., 1996; Torfs et al., 2009). A maioria dos estudos com metoclopramida utilizaram a
via intravenosa com infusão contínua (Dart et al., 1996; Dart e Hodgson, 1998; Gerring e Hunt,
1986; Gerring, 1991). Diante do receio da apresentação dos efeitos extrapiramidais precoce (antes
do término da infusão), a via intramuscular foi escolhida tanto para a administração de
metoclopramida como de bromoprida.
A dose escolhida inicialmente para a realização do estudo foi de 0.3 mg/kg para metoclopramida
e de 0.2 mg/kg para bromoprida. Após 60 minutos da administração dos fármacos, os animais
apresentaram reação extrapiramidal. A dose da metoclopramida foi reduzida para 0.125 mg/kg.
Torfs et al. (2009) utilizaram 0.05 mg/kg de metoclopramida, por via intramuscular, a cada 6
horas, para efeito profilático e curativo do IPO em cavalos. Todavia, a dose foi muito baixa e isso
poderia explicar a falta de efeito observada.
A dose da bromoprida foi reduzida para 0.1 mg/kg e 0.05 mg/kg. Em ambas as doses, os animais
manifestaram excitação após aproximadamente 60 minutos. A dose final usada no estudo foi de
0.025 mg/kg, ou seja, 1/8 da dose proposta inicialmente. Palhares et al., (2003) utilizaram 20 mg
de bromoprida, por via intravenosa lenta (30 minutos), a cada 8 horas. Enquanto, Bretas Viana
(2014) recomenda a dose de 0.2 mg/kg de bromoprida para equinos, frisando que a mesma foi
baseada em trabalhos realizados em humanos e não em cavalos.
O objetivo do presente estudo era utilizar uma dose de metoclopramida e bromoprida que ao
mesmo tempo aliasse efeito procinético e certa segurança durante a administração. Os resultados
do estudo pré-clínico demonstraram que a avaliação da motilidade por auscultação não foi capaz
de detectar possíveis efeitos procinéticos da bromoprida ou da metoclopramida quando
administrada em cavalos hígidos ao exame físico. Para a realização do presente estudo, foram
utilizadas as médias de escore de motilidade por região, tempo e tratamento.
A mensuração da motilidade intestinal em cavalos apesar de ser fácil pode apresentar resultados
conflitantes. Diferentes estudos têm demonstrado que a auscultação é um método subjetivo, com
78
variabilidade significativa entre indivíduos (Cohen, et al., 2004; Naylor et al., 2006). Para tentar
minimizar este efeito, o mesmo indivíduo foi utilizado para fazer todas as auscultas abdominais.
Todavia, a mensuração da auscultação é feita utilizando uma escala categórica, o que dificulta e
restringe a capacidade de detectar pequenas alterações na motilidade.
Ao comparar a metoclopramida com o controle, percebeu-se que apesar de não haver diferença
estatística, houve uma tendência a aumentar a motilidade na região do ceco e cólon, no entanto,
o erro padrão elevado impossibilitou de haver êxito. A metoclopramida, quando aplicada em bolus
IV de 0.03 mg/kg, não demonstrou alterações significativas na CMM e na atividade motora do
jejuno e na flexão pélvica (Sojka et al., 1988). No entanto, na infusão contínua (0.5 mg/kg/h, IV)
em pôneis com IPO induzido experimentalmente, promoveu um claro aumento da atividade
contrátil do jejuno, ceco e cólon. Além disso, a metoclopramida foi capaz de restabelecer uma
boa coordenação da atividade de CMM perturbada nesses pôneis (Gerring e Hunt, 1986).
Diferenças após 180 minutos não foram levadas em consideração, em ambos os métodos de
avaliação, tendo em vista dois fatores: o fornecimento de feno e o resultado de estudos prévios
sobre a duração dos efeitos dos fármacos em outras espécies. Existem diversos fatores que podem
interferir na motilidade gastrointestinal, uma delas é a disponibilidade de alimento (Naylor et al.,
2006). Cavalos em jejum apresentaram diminuição da atividade do ceco e do intestino grosso
(Mitchell et al., 2005). Além disso, o PK (constante de dissociação) da metoclopramida pode ser
alterado pelo metabolismo saturado da primeira passagem e isso pode ser influenciado pelo jejum,
variabilidade individual, raça, etc (Vito et al., 2015). Por estes motivos, todos os animais foram
submetidos a um jejum alimentar antes de iniciar o experimento, sendo fornecido alimentação
(feno) e água 120 minutos após a administração dos fármacos.
Outro fator está relacionado ao tempo de ação dos fármacos. Não são conhecidas as características
farmacocinéticas da metoclopramida e da bromoprida na espécie equina. Estudos realizados em
humanos, demonstraram que a metoclopramida apresentou meia-vida terminal de 4,5 a 8,8 horas,
79
um valor que a princípio parecia não depender da dose (McGovern et al., 1986). Sua absorção foi
rápida pelo TGI e seu metabolismo de primeira passagem foi variável, com biodisponibilidade
oral de 32 a 100% (Bateman, 1983).
Avaliar a motilidade intestinal de equinos é algo complexo, por este motivo, existem vários
métodos disponíveis, cada um deles apresentando suas vantagens e desvantagens. A auscultação
detecta o ruído de migração da ingesta, enquanto, a ultrassonografia detecta as contrações
intestinais (Chen e McCallum, 1993). Os resultados obtidos entre os métodos utilizados na
avaliação de motilidade no mesmo tratamento e no mesmo tempo foram diferentes. Sasaki et al.
(2008) ao comparar três métodos de avaliação da motilidade (auscultação, ultrassonografia e
eletrointestinografia), observaram que os resultados obtidos variaram de acordo com o método
utilizado.
Isso ficou mais claro durante a avaliação ultrassonográfica, no qual observou-se um aumento no
trânsito do conteúdo intraluminal após a administração dos medicamentos, no entanto, não houve
a possibilidade de quantificar ou atribuir um escore. E não necessariamente, esses resultados
condiziam proporcionalmente com o número de contrações (obtidas através da própria avaliação
ultrassonográfica) ou com os ruídos auscultados.
80
Em cavalos hígidos, a metoclopramida (0.2 mg/kg) melhorou a motilidade jejunal (Okamura et
al., 2009). No presente estudo, na dose de 0.125 mg/kg, foram utilizados animais hígidos ao
exame físico, todavia, os efeitos procinéticos da metoclopramida não foram detectados com os
métodos de avaliação da motilidade utilizados (auscultação, avaliação ultrassonográfica e
avaliação do trânsito intestinal). Talvez, a utilização de animais hígidos possa ter interferido nos
resultados da metoclopramida, quando comparados com outros estudos ou até mesmo a forma de
avaliação não foi a mais adequada. Contudo, essas formas foram escolhidas por serem mais
simples e frequentemente utilizadas na rotina clínica, com exceção do marcador de trânsito
intestinal. A bromoprida foi mais eficiente do que a metoclopramida na promoção do aumento do
número de contrações no ceco e cólon ventral esquerdo, com efeito até aproximadamente 180
minutos.
Não houve diferença significativa entre os tratamentos na análise do trânsito intestinal com o
marcador de fase sólida LIPE®. Contudo, houve uma tendência da bromoprida apresentar um
menor valor de tempo médio de retenção, assim como, um valor maior de tempo de passagem,
com a metoclopramida apresentando valores intermediários entre a bromoprida e o controle.
Diante das observações feitas durante as avaliações ultrassonográficas, que não puderam ser
quantificadas, esperava-se que elas pudessem refletir mais diretamente no trânsito intestinal.
Os resultados da avaliação do trânsito intestinal foram próximos aos achados da motilidade por
ultrassonografia, com a bromoprida apresentando um potencial procinético maior do que a
metoclopramida. Contudo, não houve diferença estatística entre os tratamentos. O marcador de
trânsito utilizado no trabalho foi o Lipe®, um marcador de fase sólida. Existem diferentes tipos
de marcadores de trânsito intestinal no mercado. O LIPE® é um marcador de fase sólida,
composto por lignina purificada enriquecida e apresenta diversas vantagens como marcador de
trânsito intestinal em cavalos (Saliba e Cavaltanti, 2013). Em póneis saudáveis, a metoclopramida
(0.125 mg/kg, IV) acelerou a taxa de esvaziamento da fase líquida gástrica (Sojka et al., 1988).
81
pré-clínico da metoclopramida (0.125 mg/kg) apresentou efeito extrapiramidal. No momento da
avaliação, antes da manifestação dos efeitos extrapiramidais, percebeu-se que a motilidade tanto
por auscultação como por avaliação ultrassonográfica foi mais baixa. Supõe-se que quando os
animais vão apresentar efeito extrapiramidal, os fármacos não apresentam efeito na motilidade.
A princípio, este achado não foi relatado em outros estudos, sendo necessário mais estudos para
a sua melhor compreensão.
Podem ser consideradas como limitações do estudo um pequeno número amostral, apenas cinco
cavalos. Inicialmente seriam utilizados seis animais, no entanto, um animal teve que ser retirado
do estudo devido ao seu temperamento. Esse número foi restringido pelo número de cavalos de
pesquisa adequados disponíveis na instituição durante o período de estudo. O crossover, com cada
animal passando pelos três tratamentos (CONT, MET e BRO), foi usado para minimizar o efeito
do pequeno tamanho da amostra.
O efeito do dia, hora do dia, temperatura ambiente e ritmo circadiano não foram incluídos na
análise. No entanto, todos os dados foram coletados durante o dia, no início da manhã e no outono,
para limitar a variação.
O estudo foi realizado em cavalos hígidos ao exame físico e apenas com cinco animais, pois se
tratava de um estudo pré-clínico da ação da bromoprida. Para a utilização em pacientes clínicos,
a aplicação da bromoprida necessita de uma investigação mais profunda.
7. CONCLUSÃO
A avaliação da motilidade por auscultação não foi capaz de detectar possíveis efeitos procinéticos
da bromoprida ou da metoclopramida quando administrada em cavalos hígidos. No entanto, a
avaliação ecográfica demonstrou que a administração de 0.025 mg/kg de bromoprida, por via
intramuscular, aumentou o número de contrações no ceco e cólon ventral esquerdo de equinos
hígidos, com a duração do efeito de aproximadamente 90 minutos, quando comparado com a
metoclopramida e o controle.
82
CAPÍTULO IV - AVALIAÇÃO DOS EFEITOS CARDÍACOS DA BROMOPRIDA
E DA METOCLOPRAMIDA EM EQUINOS
RESUMO
83
EVALUATION OF CARDIAC EFFECTS OF BROMOPRIDE AND
METOCLOPRAMIDE IN HORSES
ABSTRACT
Metoclopramide is a prokinetic agent commonly used in colic horses. In humans, there are several
reports on its pro and antiarrhythmic effect. As colic horses increase the risk of drug-induced
arrhythmias, there are concerns about the hemodynamic consequences and the potential for
further electrical destabilization. Bromopride is another potential prokinetic agent used in horses.
There are no studies evaluating the cardiac effects of these drugs on horses. Thus, the objective
was to evaluate the pro-arrhythmic and antiarrhythmic effects of bromopride and metoclopramide
in healthy horses. Five healthy horses, mixed breed, were used in a randomized cross-over study,
with the aim of evaluating and comparing the pro and antiarrhythmic effects of intramuscular
administration of metoclopramide (0.125 mg/kg) or bromopride (0.025 mg/kg) or Lactate Ringer
solution. Electrocardiographic evaluation was performed using base-apex derivation and with the
ECG device (InCardio®) and all information obtained was visually checked offline by a blinded
observer. The animals were monitored at predetermined times for 3 minutes before (zero time)
and at 15, 30, 45, 60, 90, 120, 180, 300, 480, 720 and 1440 hours after the administration of the
drugs. When analyzing the exams, it was observed that the changes were concentrated up to 120
minutes. Therefore, two times between 0 and 120 minutes were selected. The alterations found
were second degree atrioventricular block, sinus arrest, sinus arrhythmia and premature atrial
complex. Both metoclopramide and bromopride showed a potential antiarrhythmic effect.
84
1. INTRODUÇÃO
A cardiologia veterinária está em constante ascensão e na espécie equina, não poderia ser
diferente. Nos equinos, esta área vem assumindo um papel de destaque, não apenas para a
detecção de anormalidades cardíacas e adoção de tratamento adequado, mas também para
estabelecer prognósticos tanto da vida atlética quanto da sobrevivência, racionalizando a
campanha atlética ou a atividade pretendida (Diniz et al., 2008; Reef et al., 2014; Schade et al.,
2014).
Anormalidades cardíacas na espécie equina representaram a terceira maior causa de perda do
desempenho de atletas, após alterações musculoesqueléticas e respiratórias. Devido a alta
variação do tônus vagal em repouso, a incidência de arritmias cardíacas em cavalos saudáveis
varia de 25 a 30% (Martin et al., 2000), sendo estas benignas ou fisiológicas (van Loon, 2019).
Arritmias clinicamente significativas são incomuns na espécie equina (Jesty e Reef, 2006). Elas
podem se desenvolver como distúrbios elétricos isolados ou secundários a outros fatores
etiológicos (doença cardíaca estrutural; distúrbios metabólicos e endócrinos; inflamação
sistêmica; hipotensão, hemorragia, anemia e isquemia; influências autonômicas;
toxicose/envenenamentos; e drogas) (Reef et al., 2014). Todavia, as principais preocupações são
as consequências hemodinâmicas (hipotensão, baixo débito cardíaco, má perfusão periférica) e o
potencial de desestabilização elétrica adicional (arritmias malignas potencialmente fatais)
(Schwarzwald et al., 2012).
Cólica de origem gastrointestinal é um achado comum em cavalos. Cavalos acometidos
apresentam desequilíbrio hidroeletrolítico, dor e alterações na motilidade gastrointestinal, entre
outros. A frequência cardíaca lenta em repouso e a hipocalcemia comumente associada à distúrbio
gastrointestinal em cavalos aumentam teoricamente o risco de arritmias induzidas por
medicamentos (Schwarzwald, 2016).
O uso de fármacos destinados a aumentar ou restaurar a motilidade gastrointestinal normal é
comum na espécie equina. No entanto, o uso de procinéticos clinicamente eficazes em humanos,
estão associados a perfis desfavoráveis de segurança cardiovascular, levando a restrições em seu
uso (Giudicessi et al., 2018).
A metoclopramida é utilizada há décadas e foi sugerida como uma alternativa relativamente
segura. Contudo, alguns estudos demonstraram efeitos adversos cardíacos da metoclopramida em
humanos. Colapso circulatório, bradicardia grave, parada cardíaca e prolongamento do intervalo
QT são os principais efeitos adversos encontrados após administração intravenosa de
metoclopramida, principalmente em pessoas idosas e com histórico de problema cardíaco
(Sijtsma et al., 2018). Embora os efeitos cardiovasculares da metoclopramida em humanos
tenham sido descritos pela primeira vez em 1974 (Shaklai et al., 1974), o seu perfil de efeitos
colaterais ainda não está completamente estabelecido.
Na espécie equina, a metoclopramida foi indicada como o segundo procinético mais utilizado
(Lefebvre et al., 2015a,b). Estudos in vitro (Nieto et al., 2000) e in vivo (Doherty et al., 1999),
demonstraram a sua eficácia como agente procinético em cavalos, apesar de apresentar como
principal efeito colateral reação extrapiramidal. Por este motivo, outros fármacos vêm sendo
estudados quanto a sua eficácia no restabelecimento da motilidade e diminuição dos efeitos
adversos, entre eles, a bromoprida.
85
Diante dos efeitos colaterais cardiovasculares da metoclopramida e da bromoprida em humanos,
há necessidade de estudos avaliando os efeitos pró e antiarrítmicos desses medicamentos na
espécie equina.
2. OBJETIVOS
3. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade
Federal de Minas Gerais, número 423/2018.
3.2. ANIMAIS
86
Duas horas após a administração, foram disponibilizados feno e água ad libitum. No dia do
experimento, não foi fornecido ração.
Para a realização do ECG, os cavalos foram mantidos em estação e para a obtenção da derivação
base ápice, os eletrodos verde, vermelho e preto foram colocados, respectivamente, nas seguintes
regiões: ápice cardíaco entre o 5º e o 6º espaço intercostal esquerdo, sulco jugular do lado direito
e ponta da escapula do lado esquerdo, sendo depois umedecidos com álcool (Fig.1).
Figura 1 - Ilustração dos locais de colocação dos eletrodos (derivação base-ápice) para a realização de
eletrocardiograma nos equinos. Eletrodo preto – ponta da escápula (ponto preto); eletrodo verde – ápice cardíaco (ponto
verde); e eletrodo vermelho – sulco da jugular do lado direito (ponto vermelho).
Os animais foram monitorados em tempos pré-determinados durante 3 minutos antes (tempo zero)
e aos 15, 30, 45, 60, 90, 120, 180, 300, 480, 720 e 1440 horas após a administração dos fármacos.
Após análise dos dados, foram separados dois tempos entre o tempo 0 e 120 min, totalizando
quatro análises de ECG por tratamento.
4. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Ao analisar todos os tempos, observou-se que as alterações se concentravam entre zero e 120
minutos, por este motivo, foram selecionados quatro tempos. Todas as alterações do ECG foram
descritas e as médias da fc foram transformadas em logaritmo. Foi utilizado o coeficiente de
Crammer-V para avaliar se havia ou não correlação entre as médias da fc com as alterações
encontradas no ECG. Foi feito também o teste ANOVA para avaliar se o tratamento influenciava
no aumento das médias da fc.
87
5. RESULTADOS
A dose inicial utilizada de metoclopramida de 0.3 mg/kg, por via intramuscular, foi utilizada em
três animais (A, B e F). Aos 60 minutos, o início do exame do animal A estava normal com o
ECG e a fc (Fig. 2A) do meio para fim do exame o animal apresentou taquicardia interferindo no
traçado, com a fc chegando a 160 bpm (Fig. 2B). Após 30 minutos (T90), o ECG e a fc voltou ao
normal.
Figura 2 - Eletrocardiograma (ECG) do cavalo A, 60 minutos após a administração de 0.3 mg/kg de metoclopramida.
A –ECG e frequência cardíaca normal; B – taquicardia e alterações no traçado do ECG.
2-A
2-B
O animal F, apresentou taquicardia na maior parte do exame no T20 e T45. No entanto, não foi
possível fazer avaliações a partir do T60, devido ao efeito extrapiramidal apresentado pelo animal,
sendo suspensa todas as avaliações posteriores. Diante do comportamento apresentado pelo
animal durante o estudo, optou-se por remover o mesmo do experimento.
O animal B apresentou bloqueio atrioventricular de segundo grau (BAV2) no T45, com parada
sinusal no T60 e T90. A partir do T90, o animal apresentou efeito extrapiramidal, impossibilitando
a realização de exames posteriores. Diante dos efeitos extrapiramidais apresentados, houve um
ajuste na dose de metoclopramida, para 0.125mg/kg.
A dose inicial de bromoprida utilizada no estudo foi baseada na dose em humanos, 0.2 mg.kg.
Diante da intensidade do efeito extrapiramidal apresentado pelo animal, esta dose foi utilizada em
apenas dois animais (A e E). No animal E, foi observado que o traçado da linha de base do T0 do
animal estava muito alterado e o mesmo apresentava fc aumentada no geral. No T5, o animal
apresentou BAV2 com 4 ondas P isoladas. No T20, o animal apresentava a mesma alteração
descrita no T0, no entanto, com uma fc mais elevada. Após este momento, o animal apresentou
efeito extrapiramidal, impossibilitando a realização dos eletros até T120, quando o mesmo se
88
apresentou um pouco mais taquicardíaco. Baseado nisso, a dose de bromoprida foi ajustada para
0.025 mg.kg.
Após o ajuste das doses de metoclopramida e bromoprida, os animais foram avaliados quanto a
presença ou ausência de arritmias. De todos os tempos avaliados, foram selecionados dois tempos,
entre zero e 120 minutos. Os resultados obtidos estão expostos na tabela 1.
Tabela 1 - Alterações eletrocardiográficas e frequências cardíaca máxima, mínima e média de equinos hígidos quando
submetidos a três tipos de tratamento: controle, bromoprida (0.025 mg/kg) e metoclopramida (0.125 mg/kg).
Tratamento
Controle Bromoprida Metoclopramida
Animal Tempo
fc fc fc
ECG ECG ECG
máx mín méd máx mín méd máx mín méd
0 NOR 27 21 24 CAP 71 24 26 NOR 79 26 30
NOR 27 21 24 NOR 126 24 29 NOR 70 26 32
A
NOR 27 21 24 NOR 103 22 29 NOR 76 25 31
120 NOR 27 21 24 NOR 120 24 30 NOR 94 25 32
0 NOR 138 19 27 BAV 2 33 12 24 BAV 2 97 11 22
NOR 138 19 27 BAV 2 126 12 25 BAV 2/PS 100 12 22
B
NOR 138 19 27 NOR 55 22 26 BAV 2/PS 120 12 27
120 NOR 138 19 27 NOR 91 22 26 NOR 76 21 27
0 NOR 99 37 41 NOR 35 30 33 NOR 32 26 28
NOR 99 37 41 NOR 48 36 40 NOR 100 27 30
C
NOR 99 37 41 NOR 41 37 40 NOR 40 28 31
120 NOR 99 37 41 NOR 129 31 40 NOR 47 26 31
0 BAV2 77 15 28 BAV 2 109 14 28 BAV 2 75 15 31
BAV2 77 15 28 BAV 2 164 14 32 BAV 2/AS 55 15 25
D
BAV2 77 15 28 BAV 2 131 14 35 NOR 90 34 37
120 BAV2 77 15 28 BAV 2 109 15 32 NOR 136 12 41
0 NOR 31 18 22 NOR 46 14 24 NOR 27 17 23
NOR 31 18 22 PS 51 16 29 NOR 36 16 24
E
NOR 31 18 22 NOR 53 23 26 NOR 28 21 24
120 NOR 31 18 22 NOR 99 23 28 NOR 86 21 25
Legenda: NOR – normal; BAV2 – bloqueio atrioventricular de segundo grau; CAP – complexo atrial prematuro; AS
– arritmia sinusal; PS – parada sinusal; fc máx – frequência cardíaca máxima, fc mín – frequência cardíaca mínima;
fc méd – frequência cardíaca média.
Após o ajuste da dose da metoclopramida, dos cinco animais utilizados (A, B, C, D e E), três
apresentaram ECG normal (Fig. 3) e dois apresentaram alterações (animal B e D) no ECG. Em
ambos os animais foram observados no T0 um BAV2 variando apenas o número de ondas P
bloqueadas (19 para B e 3 para D). No animal B, aos T0, T20 e T60, foram observados um BAV2
com parada sinusal, normalizando no T120. No animal D, 5 minutos após a administração do
fármaco, foi observado BAV2 com 15 ondas P isoladas associada com arritmia sinusal. Após este
exame, o animal apresentou efeito extrapiramidal, impossibilitando a realização de exames
posteriores até o T60 e T90, quando se observou a presença de traçados sem alterações.
89
Figura 3 - Eletrocardiograma (ECG) normal de um equino. O círculo azul mostra as ondas PQRST.
Na dose de 0.025 mg/kg de bromoprida, nenhum dos cinco animais, apresentaram efeitos
extrapiramidais. Em relação aos efeitos cardiovasculares, apenas um animal (animal D) não
apresentou qualquer alteração no ECG. O animal D, já iniciou o exame (T0) com BAV2 (Fig. 4)
que persistiu no T20, T60 e T120, variando apenas o número de ondas P bloqueadas (16, 4, 5 e 3,
respectivamente). O animal B, iniciou o exame (T0) com BAV2 com 16 ondas P bloqueadas,
passou para 4 ondas P bloqueadas no T20 e normalizou no T60 e T120.
Figura 4 - Eletrocardiograma (ECG) de um equino apresentando bloqueio atrioventricular de segundo grau (BAV2).
O BAV2 é caracterizado por falha intermitente do impulso elétrico atrial a ser conduzido através do nó AV até os
ventrículos. O ECG é caracterizado por ondas P que ocorrem regularmente, das quais algumas não são seguidas pelo
complexo QRS-T (círculo azul).
O animal A, iniciou o exame (T0) com uma extrasistole supraventricular isolada ou complexo
atrial prematuro (Fig. 5), não apresentando alterações após a administração da bromoprida (T20,
T60 e T120). Enquanto, o animal E, apresentou parada sinusal (Fig. 6) no T20, normalizando no
T60.
Figura 5 - Eletrocardiograma (ECG) de um equino apresentando extrassístole supraventricular isolada ou complexo
atrial prematuro (círculo azul).
Figura 6 - Eletrocardiograma (ECG) de um equino apresentando parada sinusal. O círculo azul demonstra o local onde
seria para estar presente as ondas PQRST.
No tratamento controle, no qual era administrado somente solução fisiológica, dos cinco animais
utilizados, apenas um apresentou BAV2 (animal E).
90
6. DISCUSSÃO
Diversas alterações cardíacas são descritas após o uso da metoclopramida em humanos, tais como,
bloqueio cardíaco completo (Midttun e Oberg, 1994; Misis Del Campo et al., 2001; Vidal
Company et al., 1991), taquicardia supraventricular (Baguley et al., 1997), insuficiência cardíaca
congestiva (Ahmad, 1991) além do registro de arritmias (Rumore et al., 2011). Acredita-se que
muitos desses efeitos se deva ao efeito vagolítico da metoclopramida (Ahmad, 1991).
O BAV2 foi o achado mais frequente dos cavalos desse estudo. Em um estudo com 56 pacientes
humanos tratados com metoclopramida, foi observado apenas um simples caso de BAV2 (Gilbert
et al., 1995). Apesar do BAV2 ter sido o achado mais frequente, não há indícios de que ele tenha
sido originado pelo uso dos fármacos. Ao invés disso, os fármacos supostamente cessaram o
BAV2 em três animais que apresentavam essa alteração antes do tratamento. Dois animais após
o uso de metoclopramida (0.125 mg/kg) e um animal após o uso da bromoprida (0.025 mg/kg).
Aparentemente, o BAV2 foi cessado até 120 minutos, com o ECG apresentando traçados normais.
O BAV2 é comum em cavalos atletas. A frequência cardíaca se encontra na faixa normal baixa e
geralmente várias ondas P são conduzidas antes do BAV. A atividade física ou o aumento do
tônus simpático deve fazer com que a arritmia desapareça, embora seja provável que ela volte
rapidamente. Quando o BAV resultar em mais de duas ondas P bloqueadas consecutivamente, o
termo “alto grau” pode ser usado e o ritmo ser considerado anormal (Reef et al., 2014). Ainda
que o BAV2 tenha sido o achado mais frequente, nenhum animal apresentou BAV de alto grau.
91
ou bizarros, com alterações secundárias do segmento ST e da onda T (Reef, 2019; Reef et al.,
2014). Curiosamente, este achado sumiu após a administração da bromoprida. Não
necessariamente, pode-se concluir que este efeito foi devido a ação do fármaco, contudo mais
estudos devem ser realizados.
No presente estudo, a arritmia sinusal esteve associada com BAV2 cinco minutos após a
administração da metoclopramida em um animal. Logo antes do animal apresentar efeito
extrapiramidal. O exame se normalizou até 120 min, quando o efeito extrapiramidal já havia
transcorrido. A arritmia sinusal ocorre quando há um aumento e diminuição cíclicos (em várias
batidas) da taxa sinusal, porem a relação entre ondas P e complexos QRS e a morfologia do QRS
permanece normal. Pequenas alterações na morfologia da onda P podem estar associadas a
alterações no tônus autonômico. A arritmia sinusal geralmente se apresenta após o exercício e
pode começar com um prolongamento repentino da PP, seguido de encurtamento progressivo da
PP, após o qual o ciclo se repete com um longo intervalo de PP (van Loon, 2019).
Outro animal do grupo metoclopramida, que havia apresentado BAV2 no primeiro momento,
após a administração do fármaco apresentou BAV2 associado com parada sinusal, que normalizou
até 120 min. A parada sinusal é caracterizada por um intervalo PP maior que 2 intervalos normais
PP. Os intervalos PR e a morfologia do QRS permanecem normais, mas, devido ao alto tônus
vagal, o bloqueio AV de primeiro ou segundo grau frequentemente coexiste (van Loon, 2019).
Para o diagnóstico de disritmias, a localização dos eletrodos não é crítica (Holmes, 1990), no
entanto, durante a avaliação dos animais identificou-se na pele o local de colocação dos eletrodos
para evitar mudanças de posicionamento. Muitas arritmias nos equinos estão relacionadas à
frequência cardíaca, particularmente associadas a frequências cardíacas lentas em repouso
(Holmes, 1990). Baseado nisso, o estudo avaliou as frequências cardíacas máxima, mínima e
média e a associação dos seus efeitos sobre as alterações cardíacas.
Cavalos em crise devido a uma arritmia apresentarão uma de duas causas – períodos em que uma
taquicardia se torna clinicamente significativa ou períodos em que uma bradicardia se torna
clinicamente significativa, sendo o primeiro o mais provável (Jesty e Reef, 2006). Esses dados
estão de acordo com os achados no experimento. Os animais que apresentaram arritmia,
demonstraram uma frequência cardíaca máxima muito elevada associada à uma frequência
cardíaca mínima muito baixa, quando comparado com animais que apresentavam ECG normais.
Entretanto, não houve correlação entre a frequência cardíaca média e as alterações encontradas.
De acordo com Jesty e Reef (2006), o histórico e os achados clínicos de um cavalo com arritmia
significativa podem ser variáveis. As taquiarritmias são frequentemente associadas a alguma
ansiedade (provavelmente não muito diferente de uma pessoa que sofre de “palpitações
cardíacas”). A inapetência e os sinais interpretados como cólica (agitação, observação do flanco
e estimulação) podem ser vistos. No experimento, esses achados podem ser confundidos ou
associados ao início da apresentação dos efeitos extrapiramidais, quadro que ocorreu com o
animal D.
92
Shaklai et al. (1974) descreveram que a injeção intramuscular de metoclopramida provocou
extrassístole supraventricular após 15 minutos em um paciente humano. Esta foi a primeira
associação da metoclopramida com efeito cardiovascular. Há poucas evidências de efeitos pró-
arritmicos da metoclopramida (0.125 mg/kg) e da bromoprida (0.025 mg/kg) em cavalos hígidos.
Aparentemente, esses fármacos apresentam efeitos antiarrítmicos. Em cães, a metoclopramida
antagonizou com eficácia as arritmias causadas pelo desacetil-lanatosideo C e reverteu
temporariamente, na maioria das experiências, aquelas decorrentes da administração de
digitoxinas (Bastos Ramos et al., 1982).
Pinder et al., (1976) verificaram que a metoclopramida bloqueia a ação hipotensora da dopamina.
A condução cardíaca não é afetada pela metoclopramida, mas em estudos com animais, grandes
doses impediram arritmias cardíacas induzidas experimentalmente e produziram uma leve
diminuição da pressão arterial.
Morgan et al. (2011) avaliaram as principais alterações cardíacas apresentadas por cavalos com
cólica. Despolarização prematura supraventricular (DPSV) e bradiarritmias como arritmia
sinusal, bloqueio atrioventricular e parada sinusal predominaram em cavalos com doença
gastrointestinal. Nenhuma das alterações cardíacas observadas no pré e pós-operatório de cavalos
com distúrbios GI submetidos a cirurgia necessitaram de tratamento específico. Assim como
nenhuma foi associada diretamente à morte ou eutanásia (Morgan et al., 2011).
Baseado nisso, é importante estar ciente de uma alta prevalência de arritmias cardíacas durante
esse período, e se a taquicardia persistir ou um ritmo cardíaco foi identificado, uma investigação
adicional é necessária, principalmente em relação aos fármacos no período pós-operatório que
podem agravar o quadro.
Acredita-se que a ação da metoclopramida sobre o coração ocorra devido à uma influência vagal.
Baseado nisso, dentro das limitações do estudo, menciona-se a ausência das avaliações da
variabilidade da frequência cardíaca (VFC). A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é um
importante método não invasivo para quantificar o estresse, inferindo a atividade simpática e
parassimpática do sistema nervoso autônomo (van Vollenhoven et al., 2016).
No cavalo em repouso, a inibição vagal tônica diminui a fc e aumenta a VFC a curto prazo. No
início do exercício, a retirada do tônus vagal aumenta a fc para aproximadamente 100 a 120 bpm.
O tônus simpático e a regulação neuro-humoral elevam ainda mais a fc acima de 120 bpm (Flethøj
et al., 2016). A medida que a fc aumenta as diferenças entre os intervalos R-R se tornam menos
aparentes. Quando um cavalo entra na fase de recuperação após o exercício, o tônus simpático se
retrai e o tônus parassimpático novamente predomina. Essa fase de recuperação frequentemente
é associada com bloqueio atrioventricular (BAV) de 1º e 2º grau ou arritmias sinusais e complexo
93
prematuro (Ryan et al., 2005). O conhecimento dessas variáveis poderia demonstrar o real
impacto do uso da bromoprida e da metoclopramida no sistema cardíaco.
Este estudo fornece dados sobre a magnitude e a duração das respostas cardíacas à 0.125 mg/kg
de metoclopramida e à 0.025 mg/kg de bromoprida e, embora seja avaliado no contexto de
equinos hígidos ao exame físico em repouso, serve para destacar o potencial impacto de confusão
que esses fármacos podem ter sobre a avaliação clínica, que devem ser consideradas juntamente
com os prováveis benefícios de estimular a motilidade.
7. CONCLUSÃO
Este é o primeiro estudo que avalia os efeitos pró e antiarrítmicos dos procinéticos
metoclopramida e bromoprida em cavalos. Após a conclusão do estudo pode-se ter uma ideia da
presença desses efeitos na espécie equina.
Mais estudos devem ser efetuados para estabelecer a segurança cardiovascular da metoclopramida
e da bromoprida na espécie equina.
94
CAPÍTULO V - AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA BROMOPRIDA E DA
METOCLOPRAMIDA NOS PARÂMETROS FISIOLÓGICOS,
HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS DE EQUINOS
RESUMO
95
EVALUATION OF EFFECTS OF BROMOPRIDE AND METHLOPRAMIDE
ON THE PHYSIOLOGICAL, HEMATOLOGICAL AND BIOCHEMICAL
PARAMETERS OF EQUINES
ABSTRACT
96
1. INTRODUÇÃO
A metoclopramida e a bromoprida são derivados benzamidas que são utilizados como agentes
procinéticos em cavalos (Dart et al., 1996; Palhares et al., 2003). Ambos os fármacos apresentam
propriedades antidopaminérgicas. A dopamina exerce sua ação nos tecidos periféricos através dos
receptores adrenérgicos, mas também através dos receptores DA1, DA2, DA3 e DA4 (Velasco e
Luchsinger, 1998). Por este pretexto, a dopamina exerce efeito inibitório e excitatório em
diferentes sistemas (Cabezas et al., 2001).
Isso é particularmente importante nos quadros de cólica, que podem confundir no diagnóstico e
tratamento clínico. O IPO é um distúrbio da motilidade GI comum na espécie equina e
responsável por um elevado índice de mortalidade. Animais que apresentam íleus podem
manifestar distúrbios hematológicos e bioquímicos (Sanchez, 2009) . A indução experimental de
íleus em pôneis demonstrou mudanças consistentes nas concentrações plasmáticas de sódio,
potássio, cálcio e cloreto, mas não de proteína, magnésio ou volume globular. Essas alterações
podem ter sido uma resposta ao trauma cirúrgico geral e/ou a perda de líquidos e eletrólitos do
intestino traumatizado (Gerring e Hunt, 1986). Baseado nisso, é importante que se avalie os
efeitos dos agentes procinéticos.
Ao longo dos anos, diversos agentes procinéticos foram estudados com o intuito de tentar reverter
este quadro. A metoclopramida é utilizada na espécie equina há mais de 50 anos, por este motivo,
existem mais estudos, tanto in vitro como in vivo, avaliando a sua eficácia na motilidade (Melo et
al., 2007). Enquanto a bromoprida começou a ser utilizada por volta dos anos 2000, de forma
subjetiva, baseada nos efeitos obtidos em humanos (Palhares et al., 2003). Apesar dos dois
fármacos serem utilizados na espécie equina, pouco se sabe a respeito dos seus efeitos
hematológicos e bioquímicos.
Por estes fármacos serem utilizados em animais que apresentam IPO e consequentemente
distúrbios hematológicos e bioquímicos, é importante a avaliação da segurança desses fármacos.
97
2. OBJETIVOS
3. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade
Federal de Minas Gerais, número 423/2018.
3.2. ANIMAIS
Duas horas após a administração, foram disponibilizados feno e água ad libitum. No dia do
experimento, não foi fornecido ração.
A frequência cardíaca foi avaliada através da detecção dos batimentos cardíacos do lado esquerdo,
com o auxílio de um estetoscópio, durante um minuto. A auscultação foi realizada em tempos
98
pré-determinados antes e 15, 30, 60, 90, 120, 180, 240, 300, 480, 720 e 1440 minutos após a
administração dos fármacos.
A frequência respiratória foi avaliada com a observação dos movimentos respiratórios e ausculta
laringotraqueal com o auxílio de um estetoscópio, durante um minuto. A auscultação foi realizada
em tempos pré-determinados antes e 15, 30, 60, 90, 120, 180, 240, 300, 480, 720 e 1440 minutos
após a administração dos fármacos.
A temperatura retal foi aferida através da introdução de um termômetro digital no reto do animal,
em tempos pré-determinados antes e 15, 30, 60, 90, 120, 180, 240, 300, 480, 720 e 1440 minutos
após a administração dos fármacos.
Amostras de sangue (4 ml) foram coletadas por meio de venopunção jugular utilizando agulhas
25x8 e tubos BD Vacutainer® Plus contendo EDTA. Amostras de sangue para avaliação
hematológica foram coletadas no momento antes (T0), 6 (T6) 12 (T12) e 24 (T24) horas após a
administração de bromoprida, metoclopramida e ringer com lactato.
Amostras de sangue (4 ml) foram coletadas por meio de venopunção jugular utilizando agulhas
25x8 e tubos BD Vacutainer® Plus sem anticoagulante. Amostras de sangue para avaliação
bioquímica foram coletadas no momento antes (T0), 6 (T6), 12 (T12) e 24 (T24) horas após a
administração de bromoprida, metoclopramida e ringer com lactato. Imediatamente após as
coletas, o sangue será centrifugado para a obtenção de soro. O soro será armazenado a -21ºC para
posterior processamento e análise.
O perfil bioquímico foi obtido por meio das dosagens séricas de g-glutamiltransferase (GGT),
aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA),
creatina quinase (CK), desidrogenase láctica (LDH), ureia, creatinina, proteína total (PT),
globulina, albumina (ALB), relação albumina/globulina, glicose e lactato por método
99
colorimétrico cinético utilizando kits comerciais (Kovalent®) e leitura em espectrofotômetro
(Cobas Mira Plus®).
4. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Inicialmente, construiu-se um gráfico descritivo com os valores medidos em cada animal em cada
tratamento e em cada tempo. Este gráfico auxilia a observar se as diferenças são devidas
principalmente às diferenças entre tratamentos, entre animais, ou entre tempos. Este gráfico
também auxilia identificar valores discrepantes e possíveis outliers. Para fornecer uma
complementação numérica deste primeiro gráfico, ajustou-se um modelo de regressão múltipla
com cada variável resposta em relação às variáveis preditoras: Tratamento, Animal, Ordem de
aplicação e Tempo. Calculou-se o coeficiente de determinação deste ajuste, que foi particionado
para obter a importância relativa de cada preditor na variável resposta. Este resultado deve ser
utilizado apenas para análise descritiva inicial não devendo ser utilizado para inferência, pois o
modelo de regressão utilizado não considera a estrutura de medidas repetidas. A inferência deve
ser realizada com os resultados do modelo descrito a seguir.
Todas as análises estatísticas foram realizadas através do software R versão 3.5.1 (R Core Team,
2018).
5. RESULTADOS
100
Tabela 1 - Médias e desvios padrão da temperatura retal (ºC), por tempo, conforme o tratamento metoclopramida,
bromoprida e controle.
Tratamento
Tempo (min)
Metoclopramida Bromoprida Controle
0 36,3±0,49a 36,4±0,40a
15 36,5±0,71a,c 36,7±0,79a,c
30 36,6±0,65a 36,6±0,75a
60 36,7±0,70a,c 36,8±0,66a,c
90 36,9±0,87a,c 36,8±0,70a,c
120 37,0±0,88a 36,8±0,59a
36,8±0,71
180 37,4±0,70c,d 37,2±0,60c,d
240 37,7±0,48b 37,9±0,38b
300 37,9±0,32b 38,0±0,43b
480 38,0±0,52b,d 37,6±0,49b,d
720 37,9±0,30b,d 37,8±0,39b,d
1440 37,2±0,68c 36,7±0,17c
Tabela 2 - Médias e desvios padrão das frequências cardíaca (bpm), por tempo, conforme o tratamento
metoclopramida, bromoprida e controle.
Tratamento
Tempo (min)
Metoclopramida Bromoprida Controle
0 27,8±4,21a,d 32,8±9,88
15 27,0±2,94a,c 31,2±4,09
30 28,5±4,20 31,2±5,26
60 30,6±6,50 31,6±5,13
90 29,8±7,16a,c 30,6±5,37
120 31,2±7,98 29,8±5,26
24,6±4,98
180 31,6±6,11 32,6±9,94
240 34,8±4,32 34,4±6,07
300 36,0±6,40b,c 34,2±7,56
480 37,4±5,94c 36,4±3,58
720 34,0±4,80b,c,d 35,8±4,32
1440 29,4±6,91a 32,4±6,07
Tabela 3 - Médias e desvios padrão das frequências respiratória (mpm), por tempo, conforme o tratamento
metoclopramida, bromoprida e controle.
Tratamento
Tempo (min)
Metoclopramida Bromoprida Controle
0 12,4±6,31a 9,60±5,37a
15 13,2±8,87a,d 12,4±5,77a,c
30 12,5±8,66a,d 10,4±2,19a
60 17,2±11,9a,c,d 11,0±3,46a,c
90 14,0±10,0a,d 10,0±2,92a
120 18,0±12,7a,d 11,0±4,18a
8,60±1,95
180 19,0±9,90a,d 17,8±8,32a,c
240 26,8±15,1b,c 24,6±11,0b
300 30,0±11,6b 33,4±11,6b
480 23,6±8,29c,d 20,8±5,93c
720 13,6±4,34a 15,4±7,80a,c
1440 15,8±7,22a,d 11,2±4,44a
101
5.2. AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA
Foram avaliadas as médias dos valores hematológicos dos equinos submetidos aos três
tratamentos (BRO, MET e CONT) (Tab. 4). Não foram observadas diferenças estatísticas entre
as variáveis hematológicas analisadas ou houve resultados contrastantes entre o valor p global e
as comparações múltiplas, indicando que a evidência do efeito é fraca. Os valores da maioria das
variáveis hematológicas se encontravam dentro dos valores de referência para a espécie.
Tabela 4 - Média e desvio padrão dos índices hematológicos e hematimétricos de equinos, conforme o tratamento
controle (CONT), bromoprida (BRO) e metoclopramida (MET).
Variáveis Tratamento
Tempo Referência
Analisadas CONT BRO MET
0 6.95 ± 1.14 7.34 ± 1.00 6.90 ± 1.43
6 7.34 ± 1.23 7.72 ± 1.66
Hemácias 6.5-12.5
12 7.69 ± 1.58 7.40 ± 1.60
24 7.31 ± 1.07 7.32 ± 1.58
0 10.60 ± 0.75 10.60 ± 0.88 9.90 ± 1.50
6 10.96 ± 1.15 11.10 ± 1.71
Hemoglobina 11-193
12 11.14 ± 1.56 10.66 ± 1.59
24 10.56 ± 0.70 10.62 ± 1.79
0 30.46 ± 2.71 31.20 30.10
Hematócrito 6 31.98 33.94
27-433
% 12 34.22 32.98
24 32.36 32.04
0 6.8 ± 0.24 6.72 7.00
6 7.16 7.52 5.6 – 7.91
Proteína Total
12 7.40 7.32 6.0 – 8.5
24 7.00 6.69
0 44.29 ± 4.27 42.74 44.27
6 44.09 44.52
VCM (fl) 41-49a
12 44.97 45.23
24 44.67 44.43
0 15.51 ± 2.36 14.59 14.5
HCM 6 15.12 14.54
13.7-18.2a
(pg) 12 14.66 14.57
24 14.59 14.64
0 34.91 ± 2.71 34.06 32.81
6 34.26 32.67
CHCM (g/dl) 31-37
12 32.58 32.27
24 32.69 33.03
0 19.94 ± 1.4 20,13 20.26
6 19,92 20.84
RDW.CV (%)
12 21,12 21.4
24 20,7 20.36
Observações: VCM: volume corpuscular médio; CHCM: concentração de hemoglobina corpuscular média; RDW:
coeficiente de variação do tamanho médio das hemácias.
1
Limites de referência para equinos segundo Kaneko et al. (1997).
Foram avaliados a influência dos preditores tratamento, animal e tempo. Observou-se que o
animal foi o principal preditor que influenciou nas variáveis hematológicas. O tratamento e o
tempo (0, 6, 12 e 24 horas) pouca influência teve, exceto na variável proteína total (Tab. 5).
102
Tabela 5 - Importância relativa de cada preditor (tratamento, animal e tempo) na variável resposta dos valores
hematológicos.
Variáveis Tratamento Animal Tempo
Hemácias 1% 91% 3%
Hemoglobina 2% 80% 8%
Hematócrito 2% 80% 12%
Proteína Total 8% 30% 50%
VCM 1% 96% 1%
HCM 4% 91% 1%
CHCM 22% 38% 19%
RDW.CV 2% 87% 9%
Não foram observadas diferenças estatísticas entre as variáveis leucocitárias analisadas ou houve
resultados contrastantes entre o valor p global e as comparações múltiplas, indicando que a
evidência do efeito é fraca. Os valores da maioria das variáveis leucocitárias se encontravam
dentro dos valores de referência para a espécie (Tab. 6).
Tabela 6 - Médias e desvios padrão do leucograma de equinos, conforme o tratamento controle, bromoprida e
metoclopramida.
Variáveis Tratamento
Analisadas Tempo Referência
Controle Bromoprida Metoclopramida
0 8420±2071 8250±2009 7960±1932
6 9620±2632 9080±2428
Leucócitos 5200-13900
12 9740±2148 9160±1721
24 9200±1965 8840±1292
0 4686±2376 4172±1622 4092±1264
Neutrófilos 6 5198±2264 5173±1958
2200-8500
Segmentados 12 4891±1983 4849±1342
24 4605±2409 5074±1628
0 3411±425 3391±666 3056±718
6 3942±589 3825±436
Linfócitos 1500-7700
12 3512±1120 3977±339
24 3565±767 3803±707
0 241±272 386±544 338±109
6 286±201 358±270
Monócitos 100-1000
12 423±395 412±414
24 389±273 183±203
0 82.4±63.35 213±237 433±739
6 176±65 250±280
Eosinófilos 100-1000
12 174±281 215±230
24 217±298 241±286
0 0±0 34.8±48.07 42±93
6 18±40.25 16±36
Basófilos 0-290
12 0 22±45
24 0 0
0 170±49 147±60.1 169±57
6 176±52.06 179±72
Plaquetas 117-2563
12 167±47.5 168±46
24 151±35.9 174±64
1
Limites de referência para equinos segundo Kaneko et al. (1997).
103
Assim como ocorreu com as variáveis hematológicas, o preditor animal, foi o principal fator que
influenciou nas variáveis leucocitárias (Tab. 7).
Tabela 7 - Importância relativa de cada preditor (tratamento, animal e tempo) na variável resposta dos valores
hematológicos.
Variáveis Tratamento Animal Tempo
Leucócitos 5% 78% 9%
Neutrófilos
3% 84% 5%
segmentados
Linfócitos 6% 30% 55%
Monócitos 15% 59% 17%
Eosinófilos 13% 69% 3%
Basófilos 16% 54% 28%
Plaquetas 3% 83% 3%
Um animal apresentou alterações na GGT, AST e ALP antes do início do experimento. Por este
motivo, foram utilizadas as medianas ao invés da média. A mediana da maioria das variáveis
bioquímica analisadas encontravam-se dentro dos limites de referência para a espécie (Tab. 8). A
metoclopramida e a bromoprida não promoveram alterações significativas nos parâmetros
bioquímicos analisados ou houve resultados contrastantes entre o valor p global e as comparações
múltiplas, indicando que a evidência do efeito é fraca.
Tabela 8 – Mediana, valor máximo e mínimo da bioquímica sérica de equinos, conforme o tratamento controle
(CONT), bromoprida (BRO) e metoclopramida (MET).
Variáveis Tratamento
Analisadas T CONT BRO MET Ref.
Med. Máx Mín Med. Máx Mín Med. Máx Mín
0 18.51 250.74 13.93 16,05 162.39 13.38 19.2 166.98 17.32
GGT 6 19.2 208.2 15.48 16.68 175.25 16.27
6-321
(U/L) 12 16.53 147.06 16.09 17.69 158.94 15.7
24 21.84 146.14 15.35 21.82 146.57 16.38
0 316 1072 242 229 991 215 310 1110 204
AST 6 245 1096 212 277 1182 214
160-4121
(U/L) 12 242 1172 188 282 1141 208
24 224 1111 202 310 1039 190
0 10.56 22.43 9.12 7.8 11.88 5.99 11.89 14.16 4.31
ALT 6 10.51 11.57 8.57 12.13 24.84 7.87
3-23
(U/l) 12 8.88 12 7.71 13.39 16.26 7.19
24 11.35 13.29 5.9 10.55 12.81 3.31
0 265 382 104 264 337 94 255 373 107
ALP 6 254 387 97 267 382 107
143-3953
(U/L) 12 250 402 95 244 387 99
24 248 421 108 257 360 100
0 205 341 188 226 289 128 249 277 239
CK 6 228 422 156 333 520 281
60-3301
(U/L) 12 209 275 147 340 390 236
24 292 333 176 324 371 270
0 228 293 164 174 246 168 207 303 180
LDH 6 221 294 150 214 257 165
162-4123
(U/L) 12 190 255 143 181 260 159
24 205 393 174 193 213 134
104
Tabela 8 - Mediana, valor máximo e mínimo da bioquímica sérica de equinos, conforme o tratamento controle (CONT),
bromoprida (BRO) e metoclopramida (MET). (Continuação)
3
Variáveis Tratamento
Analisadas T CONT BRO MET Ref.
Med. Máx Mín Med. Máx Mín Med. Máx Mín
0 38.42 44.41 36.49 38.97 50.27 32.44 40.72 50.02 38.75
6 42.69 51.45 35.28 46.19 54.8 41.01
Ureia 21,4-51,473
12 42.4 52.65 38.24 47.98 57.76 41.08
24 35.87 47.21 34.23 38.46 53.34 34.52
0 1.38 1.44 1.32 1.22 1.29 1.04 1.22 1.32 0.78
Creatinina 6 1.41 1.51 1.16 1.41 1.6 1.35
0.4-2.21
(mg/dL) 12 1.38 1.54 1.16 1.54 1.69 1.35
24 1.19 1.32 0.25 1.44 1.54 1.22
0 9.31 13.38 7.84 7.51 9.27 6.98 8.62 9.12 7.69
Proteína 6 7.82 8.89 7.36 7.89 8.53 7.58
5,2 – 7,93
Total 12 7.95 8.12 7.65 8.08 8.54 7.69
24 8.22 10.12 7.36 8.68 11.95 7.76
0 5.63 9.62 4.41 4.16 5.98 3.11 5.43 5.75 4.03
Globulina 6 4.29 5.57 3.75 4.56 5.25 3.77
2.62 – 4.043
(g/dL) 12 4.35 4.75 3.9 4.9 5.34 3.99
24 5.09 6.33 4.22 5.38 8.71 4.72
0 3.57 3.76 2.99 3.29 3.87 3.06 3.37 4.04 2.89
Albumina 6 3.36 3.8 3.2 3.28 3.81 3.26
2.6 – 3.73
(g/dL) 12 3.54 4.22 2.98 3.29 3.7 3.07
24 3.14 3.85 3.12 3.24 3.85 2.72
0 0.65 0.81 0.36 0.74 1.24 0.55 0.59 0.91 0.53
A:G 6 0.82 1.01 0.60 0.71 1.01 0.62
0.62 – 1.463
(g/dL) 12 0.83 1.08 0.63 0.71 0.93 0.57
24 0.63 0.74 0.60 0.58 0.82 0.37
0 75.06 83.83 70.63 74.48 93.59 70.27 76.72 85.09 75.10
6 77.39 88.22 72.15 97.31 104.56 73.9
Glicose 62-1341
12 79.94 86.79 51.25 81.1 93.77 74.93
24 69.20 84.24 46.24 79.94 97.89 75.6
0 13.08 20.9 6.9 14.15 19.90 8.80 11.30 15.40 7.10
Lactato 6 12.40 24.60 9.40 9.90 17.40 6.10
10-163
(mg/dL) 12 17.00 36.80 11.30 14.40 15.40 12.90
24 18.15 30.00 15.60 11.80 17.90 7.90
0 200 600 200 200 400 200 400 800 200
Fibrinogênio 6 200 600 200 400 1200 200
100-4003
(mg/dL) 12 400 400 200 400 1600 200
24 200 600 200 200 1000 200
Limites de referência para equinos segundo Duncan et al. (1994)1, Meyer et al. (1995)2, Kaneko et al. (2008)3
Nos parâmetros bioquímicos, o principal preditor que influenciou na variável resposta foi o
animal. Contudo, algumas variáveis foram influenciadas pelo tratamento e pelo tempo porem em
menor intensidade (Tab. 9).
105
Tabela 9 - Importância relativa de cada preditor (tratamento, animal e tempo) na variável resposta.
Variáveis Tratamento Animal Tempo
GGT 1% 97% 0%
AST 0% 96% 0%
ALT 29% 58% 8%
ALP 1% 96% 0%
CK 33% 29% 26%
LDH 4% 66% 4%
UREIA 9% 70% 19%
CREATININA 16% 34% 46%
PT 39% 17% 18%
GLOBULINA 35% 14% 18%
ALBUMINA 4% 79% 1%
A:G 15% 44% 14%
GLICOSE 19% 51% 16%
LACTATO 31% 33% 29%
6. DISCUSSÃO
Em humanos, relatos de broncoespasmo agudo (Allen, 1990) e dispneia evoluindo para falha
respiratória (Cabezas et al., 2001; Grossmann et al., 2012; MacLaren e Shields, 1998) foram
associados ao uso de metoclopramida. A dopamina age no pulmão exercendo um efeito
modulador no tônus brônquico das vias aéreas humana, dependendo do grau de tônus preexistente
(Cabezas et al., 2001). Portanto, este poderia ser um mecanismo pelo qual a metoclopramida e a
bromoprida poderiam atuar, já que são agentes antidopaminérgicos. Acredita-se que esse efeito
seja devido ao excesso da atividade colinérgica no nervo vago. A metoclopramida promove o
aumento da atividade colinérgica pela inibição da acetilcolinesterase prevenindo a degradação da
acetilcolina (Chemnitius et al., 1996). Apesar dos relatos em humanos, a administração
intramuscular de metoclopramida e bromoprida não promoveram alterações respiratórias
significativas em cavalos hígidos.
106
alterações na frequência cardíaca. Isso é particularmente importante, porque a frequência cardíaca
por auscultação é um parâmetro frequentemente monitorado em cavalos no pós-operatório de
cólica, prováveis candidatos a fazerem uso de procinéticos. Deve-se levar em consideração que a
frequência cardíaca do animal que apresentou efeito extrapiramidal não pôde ser avaliada, o que
provavelmente estaria alterada.
Não foram verificadas alterações na temperatura retal, frequências cardíaca e respiratória dos
cavalos após administração intramuscular de metoclopramida e bromoprida. Dados semelhantes
aos encontrados por Rankins (1996) em ovelhas tratadas com metoclopramida.
Algumas variáveis hematológicas apresentam uma variação biológica intrínseca. Essas variações
representam flutuações fisiológicas ao longo do tempo e contribui para a variação total de um
resultado laboratorial. Muitas variáveis medidas rotineiramente demonstraram alta variação entre
indivíduos, tais como: hemácias, hemoglobina, hematócrito (Wright et al., 2019). Isto pôde ser
observado nos valores de hemácias, hemoglobina, hematócrito, VCM, HCM e RDW.CV.
A proteína total, foi o único fator no qual o tempo influenciou mais do que o animal e o tratamento.
A desidratação pode influenciar na concentração de proteína total (Barrelet e Rickets, 2002). No
início do experimento, os animais apresentavam-se em jejum tendo acesso a comida e água após
120 minutos, isto pode ter influenciado nos valores da proteína. Já foi visto que a alimentação
pode promover aumento significativo na proteína total e no hematócrito (Satué et al., 2012).
Apesar de haver variação da proteína total, essas diferenças não foram significativas entre os
tratamentos avaliados.
107
No leucograma, a metoclopramida e a bromoprida parece não ter interferido nas variáveis.
Variações entre os animais parece ter tido mais efeito do que o tratamento. Contudo, todas essas
variações ocorreram dentro dos intervalos de referência e não foram significativas.
A metoclopramida foi fortemente associada a lesão hepática idiossincrática (Abajo et al., 2004)
e seu uso não é recomendado em pacientes com insuficiência renal. No presente estudo, a
metoclopramida e a bromoprida não acarretaram alterações nos parâmetros bioquímicos
analisados em cavalos hígidos. Observou-se que as alterações pareciam mais provenientes de
fatores individuais do que relacionadas aos fármacos.
No capítulo II, foram descritas algumas alterações neurológicas com o uso da metoclopramida e
da bromoprida. O único animal que apresentou reação extrapiramidal na dose mais baixa de
metoclopramida (0.125 mg/kg), apresentava alterações na GGT (250.74 UI/L), AST (1071.71
UI/L) e ALP (382.36 UI/L). O animal entrou no experimento apresentando essas alterações. Por
este motivo, foram utilizadas as medianas e não a médias para avaliar esses parâmetros. O animal
em si, apesar de se apresentar clinicamente saudável, apresentava um histórico de uso de grande
quantidade de anti-inflamatório não esteroidal quando mais novo devido à exangulação do casco.
A GGT foi descrita como uma enzima que apresenta bastante variabilidade individual em equinos
(Wright et al., 2019). O valor encontrado no animal antes de iniciar o experimento foi de 250.74
UI/L, um valor muito superior aos limites fisiológicos (6 a 32 UI/L) (Duncan et al., 1994). A
GGT é um marcador sérico primário para doenças do sistema hepatobiliar associadas com
colestase (Barrelet e Rickets, 2002). Ela está associada a numerosos tecidos, como rins, pâncreas
e intestino, mas a maior parte é oriunda do fígado. A colestase provoca aumento na atividade
sérica desta enzima (Thrall et al., 2007).
Nesse mesmo animal, o valor de ALP foi de 382.36 UI/L um valor dentro do limite superior do
intervalo de referência (143-395 UI/L) (Kaneko et al., 2008). Os hepatócitos respondem pela
maior parte da atividade sérica normal de ALP. O aumento da produção de ALP e de sua atividade
sérica pode estar relacionado a maior atividade osteoblástica, colestase, indução por drogas e
várias doenças crônicas (Ambrojo et al., 2013). Os fármacos não induziram aumento de ALP nos
animais. A ALP não tem sensibilidade para o diagnóstico de hepatopatia.
O valor de AST desse animal especificamente estava 1071.71 UI/L quando o intervalo de
referência é de 160 a 412 UI/L (Duncan et al., 1994). Os equinos podem apresentar um aumento
nos valores de AST em consequência da miopatia ou lesão hepática. Para descartar uma lesão
muscular, foi avaliado a CK, que consiste em um indicador altamente sensível e específico.
Quando há um aumento nos valores séricos de AST, com uma atividade normal de CK, sugere-
se que o aumento de AST ocorre em razão de doença hepatobiliar e não em razão do dano
muscular (Barrelet e Rickets, 2002).
A atividade de CK aumenta rapidamente após a lesão muscular e diminui rapidamente após sua
resolução. Nota-se o valor máximo em 6 a 12 horas após a lesão muscular aguda, retornando ao
normal dentro de 24 a 48 horas depois da resolução da lesão. A meia-vida de CK no sangue de
equinos é de 2 horas (Thrall et al., 2007). O animal que exibiu efeito extrapiramidal apresentou
CK normal (238.64 UI/L) no tempo zero e valores elevados de CK as 6 horas (520.17 UI/L) e 12
108
horas (340 UI/L) após a administração da metoclopramida (0.125 mg/kg), voltando ao intervalo
de referência 24 horas após (270.36 UI/L).
Diante das alterações, poderia se questionar o motivo pelo qual o animal foi mantido no
experimento. A justificativa para tal fato seria justamente a ausência de informações a respeito do
comportamento da metoclopramida e da bromoprida em cavalos com algum grau de dano
hepático.
A ausência da avaliação seriada do grupo controle foi um fator limitante do estudo. Através dessa
avaliação, poderia ser obtido a variação fisiológica de cada animal durante 24 horas e aumentar o
poder do teste. A avaliação em intervalos menores poderia detectar de forma mais sensível
109
possíveis alterações promovidas pelo uso dos fármacos, assim como a comparação dos efeitos
por diferentes vias de administração.
7. CONCLUSÃO
Este foi o primeiro estudo avaliando os efeitos nos parâmetros fisiológicos, hematológicos e
bioquímicos de equinos hígidos ao exame físico. Os resultados apresentados demonstraram que
a administração de dose única, por via intramuscular, de 0.125 mg/kg de metoclopramida ou 0.025
mg/kg bromoprida não promoveu alterações significativas nos parâmetros fisiológicos,
hematológicos ou bioquímicos. A metoclopramida apresenta potencial risco de causar efeitos
extrapiramidais em animais com comprometimento hepático. Mais estudos devem ser realizados
avaliando os efeitos desses fármacos em equinos clinicamente comprometidos.
110
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta dose, a bromoprida apresentou efeito sedativo, aumentou o limiar nociceptivo e não
promoveu alterações significativas nos ECG, parâmetros fisiológicos, hematológicos ou
bioquímicos de equinos hígidos ao exame físico. Nenhum animal sob ação da bromoprida
apresentou reação extrapiramidal.
111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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relevant drug-induced liver injury: a population based case-control study. British Journal of
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ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC Número 67, de 8 de outubro
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