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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade de Gestão de Recursos Naturais e Mineralogia

Análise do papel do Município da Cidade de Tete na prática da compostagem como fonte de renda
familiar na Cidade de Tete

De:
EVELINE PAULO JUNI NGUIRAZE

Trabalho submetido para avaliação no Módulo de Desenvolvimento Económico Regional e Local do


Curso de Mestrado em Gestão de Projectos de Desenvolvimento por orientação do docente Longo
Chuva.

Tete
Outubro de 2022
RESUMO

O presente artigo tem como objectivo analisar o papel do Município da Cidade de Tete na prática da
compostagem como fonte de renda familiar na Cidade de Tete. O problema que se coloca é que diante
de um cenário em que aumenta a taxa de desemprego e o custo de vida, paralelamente a isso o sistema
operacional de resíduos sólidos carece e melhorias sobretudo no tratamento, a ideia é perceber qual é o
papel do município na implementação dessa solução como fonte de renda. Perante o objectivo e
problema, levantou-se o seguinte questionamento: o que é que o Município da Cidade de Tete pode
fazer para que a compostagem seja uma fonte de renda familiar? A pesquisa bibliográfica, de método
indutivo e abordagem indutiva concluiu que em termos de regulamentos/normas o Conselho Municipal
não tem de forma clara a responsabilidade de tornar a compostagem uma fonte de renda familiar,
entretanto, a materialização desta solução trará benefícios as populações locais e ao próprio conselho
municipal.

Palavras-chave: gestão de resíduos, compostagem, fonte de renda.

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1. INTRODUÇÃO
1.1. Breve Introdução
De acordo com o número 1 do artigo 7 da lei 2/97, de 18 de Fevereiro, as autarquias locais gozam da
autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Segundo esta lei, a actividade municipal inscreve-se
num contexto amplo de atribuições, ligadas quer a área de gestão corrente, quer de manutenção e
investimento em infra-estruturas locais de serviços à comunidade.
As atribuições das autarquias locais respeitam os interesses próprios, comuns e específicos das
populações respectivas, de acordo com os recursos financeiros ao seu alcance com vista ao
desenvolvimento económico e social; meio ambiente, saneamento básico e qualidade de vida;
abastecimento de água; saúde; educação; cultura, tempos livres e desportos; polícia da autarquia e
urbanização, construção e habitação (números 1 e 2 do artigo 6 da lei 2/97, de 18 de Fevereiro, no
respeito ao estabelecido pelo decreto 33/2006, de 30 de Agosto).
A alínea b) do número 1 do artigo 27 da Lei 1/2008, de 16 de Janeiro, realça como competência própria
das autarquias locais o investimento público, na área de saneamento público, instalação de sistemas
autárquicos de abastecimento de água, sistemas de esgotos e sistema de recolha e tratamento de lixo e
limpeza pública. As autarquias são responsáveis pela prestação de serviços públicos e pela realização de
obras públicas, podendo adjudicar a particulares, mediante concurso público.
O desenvolvimento de uma sociedade traz consigo diversos desafios e a gestão de resíduos é um deles.
Moçambique não é excepção, sendo que os vários municípios e distritos do país encaram uma produção
de resíduos crescente e diversificada, para a qual é necessário assegurar o devido tratamento (Ministério
da Terra e Ambiente [MTA], 2020).
Mais do que assegurar o devido tratamento, é necessário buscar soluções tecnológicas para fazer face
aos diferentes tipos de resíduos produzidos.
Com base nas capitações de diferentes referências, estima-se que em Moçambique sejam produzidas
cerca de 10500 toneladas de RSU domésticos por dia (ou 3,8 milhões de toneladas por ano). Ainda que o
país apresente uma das mais baixas capitações da África Subsariana, em função do desenvolvimento
económico somado ao crescimento populacional, espera-se uma produção crescente de resíduos sólidos
urbanos (MTA, 2020).

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1.2. Problema
Segundo uma estimativa realizada em 2017 com base nas capitações conhecidas e ajustada ao PIB per
capita da província de Tete, produz-se 0,3kg de resíduos por habitante por dia significando, 343033kg
por ano (MTA,2020).
A Cidade de Tete possui várias fontes de produção de resíduo orgânico como: os mercados formais (1º
de Maio e OUA) e os informais (Kwachena, Cambinde, Candogola e outros) que possuem um sector de
venda de médio e grande volume de alimentos orgânicos e consequentemente resíduos, as carpintarias
que produzem serradura, o capim e os resíduos de varredura dos quintais.
Associado a isso, é possível notar que, sobretudo nos mercados formais e informais o resíduo orgânico é
depositado a céu aberto, não é levado na sua totalidade para a lixeira e as pessoas ficam expostas ao
mesmo quer pela falta de contentores suficientes para fazer face a quantidade, quer pela falta de
consciência para deposição correcta.
Estes factores remetem a necessidade de aplicação de iniciativas de valorização de resíduos orgânicos
como a compostagem que depositados incorrectamente expõem as pessoas ao mau cheiro e aos
vectores causadores de doenças.
Segundo a CEIC Data a taxa de desemprego em Moçambique teve um registo alto de 3,98 % em 2021 em
relação aos anos anteriores e o registo mais baixo de 2,69% foi feito em 1993. Este alto registo na taxa
de desemprego tem-se reflectido nos jovens que estão nos mercados formais e informais, catadores de
lixo, formados em diferentes áreas e outros que se podem ver pela Cidade de Tete buscando
diariamente por actividades geradoras de renda.
Por outro lado, segundo Felipe (2011) no Município da Cidade de Tete, a única fase do processo
operacional dos resíduos sólidos que não é efectuada transferência e/ou tratamento e recuperação.
Perante este cenário, o artigo pretende responder a seguinte questão: o que é que o Município da
Cidade de Tete pode fazer para que a compostagem seja uma fonte de renda familiar?

1.3. Objectivos
1.3.1. Geral
O objectivo geral deste artigo é analisar o papel do Município da Cidade de Tete na prática da
compostagem como fonte de renda familiar na Cidade de Tete.
1.3.2. Específicos
Constituem objectivos específicos deste trabalho:
 Abordar o papel do Município da Cidade de Tete na Gestão de Resíduos Sólidos;
 Identificar as principais fragilidades dos processos operacionais de resíduos sólidos na Cidade de
Tete actualmente;
 Reflectir sobre os benefícios da compostagem como fonte de renda e para o Município da
Cidade de Tete;

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1.4. Justificativa e relevância da pesquisa
1.4.1 Justificativa
O interesse primeiro em desenvolver este tema surge de debates levantados em aulas de diferentes
módulos sobre a importância de usar recursos locais para desenvolvimento local, os modelos de
desenvolvimento aplicados em Moçambique, o papel do governo/estado na implementação das políticas
e na capacidade de responder as necessidades dos cidadãos.
Outra motivação para a escolha deste tema é materializar as vantagens da compostagem, ou seja,
propor uma solução científica e sustentável para o tratamento/recuperação de resíduos orgânicos e, por
outro lado uma fonte de renda para fazer face ao volume de resíduos orgânicos produzidos e contribuir
para a minimização da taxa de desemprego e a nível macro contribuir para o desenvolvimento local.

1.4.2. Relevância do estudo


A realização desta pesquisa visa contribuir de forma científica na busca por soluções cada vez mais
sustentáveis para o meio ambiente assim como para sociedade.
A pesquisa pode encorajar as entidades responsáveis pela gestão de resíduos da Cidade de Tete a
considerar a compostagem como uma forma de tratamento/recuperação dos resíduos orgânicos e assim
cumprir todas etapas do processo operacional de resíduos sólidos e criar projectos sociais para
transformar a compostagem em fonte de renda. Ademais, o estudo é relevante tomando em
consideração que através da compostagem pode-se minimizar custos de transporte de resíduos
orgânicos que seriam levados para a lixeira.
1.4.3. Limitações do estudo
Constituem limitações do estudo a inexistência de dados da composição gravimétrica dos resíduos na
Cidade de Tete bem como estudos locais que relacionem a compostagem e a geração de renda.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Conceito de compostagem
Segundo Dores-Silva (2013) a compostagem é o processo de transformação biológica de materiais
orgânicos, tais como palha de arroz, café, restos de vegetais etc., em fertilizantes orgânicos utilizáveis na
agricultura. Este processo envolve transformações de natureza bioquímica, promovidas por milhões de
microrganismos presentes no próprio material orgânico ou que nele são adicionados, que utilizam a
matéria orgânica in natura como fonte de energia, nutrientes minerais e carbono, promovendo a
mineralização de parte do material e a humificação de outra parte [...].
Rodrigues et al (2015) complementa afirmando que a compostagem é definida como uma técnica que
permite a reutilização da matéria orgânica domiciliar, agro-pecuários e agro-indústrias no solo,
minimizando a contaminação do meio ambiente (Citado por Cunha, 2020).

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Fica claro com estes dois pontos de vista que a compostagem é uma tecnologia de valorização do
resíduo orgânico e que tem como produto o composto orgânico que é rico em nutrientes que melhoram
a qualidade dos solos, ou seja, pode ser utilizado na agricultura.
Kiehl (1985) explica que os microorganismos que realizam a decomposição da matéria orgânica
absorvem carbono (C) e nitrogénio (N). O tempo necessário para as reacções, a plena decomposição e
consequente mineralização dependerá da relação entre C e N da matéria-prima. E Wojahn (2016)
acrescenta que carbono é essencial como fonte de energia e o nitrogénio para síntese de proteínas.
Pesquisas indicam para a relação de 30/1, como a melhor condição para que a compostagem aconteça.
Esta relação de C/N, na prática, é uma combinação de matéria orgânica seca rica em C como por
exemplo serradura e folhas secas e matéria orgânica húmida rica em N como por exemplo restos de
verdura, frutas, entre outros.

2.2. Conceito de renda familiar


Para Mather, Cunguara e Boughton (2008) a renda familiar são os retornos líquidos aos recursos da
família (terra, mão-de-obra e outros activos) provenientes de produção de culturas e pecuária,
actividades de pequenos negócios, mão-de-obra assalariada dos membros residentes, remessas de
dinheiro recebidas dos membros não residentes, e renda de pensões e do arrendamento da terra (Citado
por Sapuleta, 2016, p.13).

Mochón (2007) e Samuelson e Nordhaus (2012) concordam que a renda familiar é o valor total auferido
durante um determinado período de produção. Este último acrescenta que é a renda familiar que dita as
condições de sustento da família.

Mochón (2007), diz ainda que a renda familiar é o total de receita das famílias auferida pelos
proprietários dos factores produtivos da economia (Citado por Sapuleta, 2016).

3.3. O papel do município na gestão de resíduos sólidos

A municipalização é uma forma de descentralização democrática das políticas e dos mecanismos de


intervenção pública para o plano municipal, com transferência efectiva da capacidade decisória para o
município como espaço de poder local (Sérgio, 1999). O município é pessoa colectiva territorialmente
dotada de órgãos representativos, que visa a prossecução de interesses próprios da população na
respectiva circunscrição (Amaral, 2006). Portanto, o município chamado de autarquia local, é uma
pessoa colectiva pública dotada de autonomia financeira, administrativa e patrimonial.

Segundo Felipe (2011) para orientar as actividades ligadas à Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (GIRS),
o CMCT conta com o Plano Estratégico do Município de Tete, o Código de Posturas Municipal, o
Regulamento Interno e o Plano de saneamento básico e meio ambiente. Dos dados recolhidos,
percebemos que o Plano de Saneamento básico do meio ambiente do CMCT é um plano anual de

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actividades que resulta do desdobramento do manifesto eleitoral em plano quinquenal e que não existe
um plano de GIRS.
Este plano anual onde constam as actividades e os objectivos a alcançar a cada ano para o pelouro de
saneamento básico e meio ambiente, é macro, na medida em que engloba tudo relacionado ao pelouro.
Especificamente sobre a GIRS, não está patente o processo operacional dos resíduos sólidos, nem está
claro até onde vão as responsabilidades dos munícipes e do CMCT na GIRS.O que o plano apresenta é
que se deve garantir a melhoria do sistema de limpeza, recolha e tratamento dos resíduos sólidos, a
varrição das ruas e mercados, o recolhimento dos resíduos e encaminhamento à lixeira geral, assim
como as aquisições anuais a serem efectuadas, no que concerne aos materiais de escritório e de campo
para efectuar as actividades ligadas à GIRS.

2.3. Fragilidades do processo de operações de resíduos sólidos


Numa pesquisa exploratória descritiva, baseada num estudo de caso que buscou identificar as
capacidades individuais, organizacionais e institucionais do Conselho Municipal da Cidade de Tete e
analisar a sua influência na Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, Filipe (2011) concluiu que existe uma
estrutura básica montada para à Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (GIRS), os mecanismos de
prestação de serviços são eficazes na medida em que são cumpridas as tarefas pré-estabelecidas mas
não são eficientes pois não permitem que o CMCT faça face aos desafios que o contexto apresenta no
que concerne à GIRS. Nesta mesma pesquisa pode-se ler que a questão dos resíduos sólidos é tratada de
diferentes formas em diferentes contextos, tendo em conta os problemas e o nível de desenvolvimento
que os Governos locais apresentam.

O facto da gestão de resíduos não ser integrada é uma fragilidade do sistema porque significa que não
inclui de entre alguns aspectos, o tratamento dos resíduos (compostagem, reutilização, etc) antes do
descarte final.
Ferro (2016) desenvolveu um estudo de caso quali-quantitativo cujo objectivo era propor um modelo
alternativo de gestão de resíduos sólidos que integrasse a reutilização no mercado Kwachena e concluiu
que há fraca difusão de informação sobre matérias de gestão de resíduos sólidos, pois verificou-se que
muitos dos vendedores não tinham conhecimento da prática da reutilização artesanal, ademais, foi
possível constatar que o decreto 13/2006 de 15 de Junho que aprova o regulamento de Gestão de
Resíduos Sólidos não apresenta detalhadamente os instrumentos para propiciar tanto a reciclagem bem
como a reutilização de resíduos, nem faz referência da participação das organizações de colecta selectiva
no sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos dos Municípios como forma de reduzir a pobreza e os
problemas causados pelos resíduos sólidos e este pode ser um dos factores que faz com que haja a fraca
disseminação da reutilização.
Outra fragilidade que o município enfrenta é a falta de um aterro sanitário para a deposição correcta dos
resíduos, sobre isso Cumbi (2014), ressalta que os municípios moçambicanos devido ao défice financeiro
e outras adversidades, concorrem para a falta de aterros sanitários, sendo utilizadas lixeiras a céu aberto
para o efeito, apesar de esta medida ser actualmente desaconselhada olhando para as premissas
ambientais.

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2.4. Compostagem como fonte de renda

2.4.1. Possibilidades
Por um lado a taxa de desemprego vem aumentando desde 1993, por outro, conforme Lewis (1963) o
salário mínimo pago pelo sector capitalista em expansão é determinado pelo que se pode receber fora
deste sector. O salário mínimo pago pelo sector capitalista de um ponto de vista analítico não è capaz de
suprir as necessidades básicas de uma família por isso mesmo que algumas pessoas que recebem o
salário mínimo nos seus empregos formais usam do negócio informal para pelo menos responder as
necessidades básicas de suas famílias.

Sobre a situação económica do país e a fonte de renda das famílias, Sapuleta (2016) diz que:

“A situação económica do país está debilitada e o custo de vida elevado, pensa-


se que este facto se deve a crise que o país atravessa. Esta situação parece
impor ao sector formal ainda mais dificuldades de criar sustento as famílias o
que até aumenta pressão sobre alguns investidores e empregadores do sector
e obriga-os a fechar seus negócios. Quer dizer, perdendo o seu emprego, as
famílias perdem também a sua fonte de renda. Os meios para o sustento estão
ligados a sobrevivência para as famílias das quais grande maioria tem
enfrentado dificuldades” (p.9).

Estes pontos de vista levam-nos a reflectir sobre a necessidade de buscar oportunidades de negócios
e/ou actividades que sejam fonte de renda e/ou que aumentem a renda para satisfazer condições
básicas das famílias.
Ferro (2016) recomendou no seu estudo que se garanta a participação das comunidades no processo de
gestão de resíduos sólidos através de projectos que gerem renda, com vista a sensibilizar e
consciencializar na matéria de resíduos sólidos.
Os sectores de venda de alimentos orgânicos dos mercados formais e informais, os restaurantes, as
carpintarias, as limpezas dos terrenos abandonados, as podas de árvores e jardins da Cidade de Tete, são
algumas das fontes de matéria orgânica que servem de matéria-prima para produção de composto
orgânico.
De acordo com Pereira e Gonçalves (2011) a compostagem apresenta como vantagem a redução da
metade do material destinado ao aterro/lixeira, aproveitamento agrícola do composto orgânico,
processo ambiental seguro e economia no tratamento de efluentes (Cit. em Cunha, 2020).

A título de exemplo, o lixo orgânico é depositado praticamente a céu aberto nos mercados, a prática de
compostagem pode possibilitar a redução de ambiente favorável ao desenvolvimento de agentes
patogénicos, vectores de doenças e roedores bem como a exposição dos vendedores e consumidores
aos mesmos.

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A compostagem é também uma resposta ao objectivo de desenvolvimento sustentável, mais o
concretamente ao oitavo que diz: trabalho decente e crescimento económico. Se os catadores, os
vendedores informais, as comunidades se organizarem em grupos ou de maneira individual para fazer
compostagem e fazer desta uma fonte de renda e trabalho local, com certeza será um contributo para a
propagar o crescimento económico inclusivo e sustentável e trabalho decente na Cidade de Tete.

Segundo Lelis e Neto (2001), a viabilidade de Centrais de Triagem e compostagem pode ser dada pela
geração de empregos directos (no sistema de tratamento) e indirectos, em face, principalmente da
comercialização dos materiais recicláveis e do composto orgânico (Cit. em Chagueza, Civeira, Stein &
Tubino, 2017, p.4).

Neto (2007) propôs o método de Windrow, o mais difundido e de mais renome entre os métodos
existentes no Brasil. Ele propõe uma metodologia simplificada que atinja as necessidades de pequenas e
largas escalas. O autor afirma que é um processo simples e de baixo custo, podendo ser desenvolvido em
áreas como pátios, onde é montado pilhas de compostagem de formato cónico, ou leiras prismáticas de
base, aproximadamente, triangular (Cit. em Chagueza, Civeira, Stein & Tubino, 2017, p.4).
.
Segundo Cunha (2020) o Ministério do Meio Ambiente brasileiro, classifica a compostagem em três
tipos: a natural, aeração forçada e reactor biológico. E Peixe e Hack (2014, p. 6) descrevem o primeiro
tipo como o próprio método de Windrow, e segue as suas especificações (Citado por Cunha, 2020).

A compostagem natural ou o método de Windrow é um processo de baixo custo pelos seguintes


motivos: (i) pode ser realizado ao ar livre, ou seja, em quintais, pátios, escolas, na comunidade em
pequena e média escala; (ii) baixo investimento para aquisição dos materiais e da matéria-prima; e (iii) o
composto orgânico, pode ser comercializado de forma formal e informal tomando em consideração que
no contexto em que vivemos, a maior parte dos agregados familiares na Cidade de Tete que possui um
quintal e uma horta ou jardim.

2.3.2. Limitações
Dependendo das condições do processo de compostagem e do local onde é realizada, podem existir
algumas limitações.

Segundo Oliveira e Higarashi (2016) mostram que é necessário previsão de substrato para utilizar na
compostagem; custo com substrato; necessidade de monitoramento constante; criação de um lugar
especial para compostagem, necessidade de mão-de-obra manual.

Complementando, Fernandes e Silva (1999) colocam como desvantagem a necessidade de um bom


dimensionamento, áreas maiores para produção, influência do clima, problemas comuns com odores.

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3. Metodologia
3.1. Tipo de pesquisa
3.1.1. Quanto ao enfoque
O enfoque desta pesquisa é qualitativo, pois focar-se-á em compreender na sua profundidade como
funciona o sistema de gestão de resíduos sólidos especificamente os resíduos orgânicos e como o
município pode contribuir na transformação da compostagem em fonte de renda familiar e alternativa
de tratamento destes resíduos. De acordo com Michel (2005), este tipo de pesquisa fundamenta-se na
discussão e conexão de dados interpessoais, na co-participação das situações dos informantes,
analisados com base na significação que dão aos seus actos, pelo que o pesquisador participa,
compreende e interpreta.

3.1.2 Quanto aos objectivos

Quanto aos objectivos a pesquisa é explicativa na medida em que aprofunda o conhecimento da


realidade, porque explica a razão, o porque dos acontecimentos, dos fenómenos conforme afirma Gil
(2002).

3.1.3. Quanto aos procedimentos técnicos e fontes de informação


De acordo com Gil (2002) o estudo de caso consiste no estudo profundo e detalhado de um ou poucos
objectos, de tal modo que permita seu vasto e detalhado conhecimento. Deste modo, esta pesquisa é
um estudo de caso pois abordará exaustivamente a compostagem como fonte de renda familiar e o
papel do município da Cidade de Tete para a materialização.

3.1.4. Método de pesquisa


No que diz respeito ao método de pesquisa, é o método indutivo pois o objectivo dos argumentos
indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se
basearam. Segundo Marconi e Lakatos (2003), indução é um processo mental por intermédio do qual,
partindo de dados particulares, suficientemente constatados, conclui-se uma verdade geral, não contida
nas partes examinadas.

3.1.5. Participantes de estudo

De acordo com Guerra (2006, Cit. Sampaio, 2016) porque o estudo é delimitado a uma situação ou
fenómeno que envolve grupos alvo como o CMCT e a população da cidade de Tete, opta-se por escolher
participantes que assumam um estatuto de participantes privilegiados. Os participantes desse estudo
foram os funcionários do CMCT e alguns vendedores do mercado Cambinde por ser um dos pontos de
maior produção de resíduos orgânicos. A selecção dos participantes foi por conveniência.

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3.1.6. Técnicas de recolhas de dados
a) Pesquisa bibliográfica e documental
Para permitir obter maior riqueza de detalhes sobre o fenómeno em estudo, será realizada pesquisa
documental com base em consulta de documentos como tabelas estatísticas, plano de gestão de
resíduos sólidos da cidade de Tete, o Regulamento sobre a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos e
bibliográfica com base em teses, dissertações, relatórios, artigos e revistas científicas, uma vez que e
concordando, segundo Gil (2002) o principal benefício da pesquisa bibliográfica é obter uma série de
informações mais ampla sobre o fenómeno do que aquela que poderia pesquisar directamente.

b) Entrevistas e questionários
Para obtenção de informação mais detalhada sobre o papel do município da Cidade de Tete para a
materialização compostagem como fonte de renda familiar, serão utilizados os seguintes instrumentos
de fácil uso e que permitem obter informações que sustentam a investigação: entrevistas semi-abertas,
questionários através de um formulário previamente preparado.

De acordo com Mattos (2005, Cit. em Sampaio, 2016), na entrevista semi-estruturada o investigador tem
uma lista de questões ou tópicos para serem preenchidos ou respondidos, como se fosse um guia. A
entrevista tem relativa flexibilidade. As questões não precisam seguir a ordem prevista no guia e
poderão ser formuladas novas questões no decorrer da entrevista.

Segundo Marconi e Lakatos (2011), questionário é um instrumento de colecta de dados constituída por
uma série de perguntas que devem ser respondidos por escrito e podem ser respondidos também sem a
presença do entrevistador. Assim, o questionário foi submetido ao Pelouro de Saneamento e Meio
Ambiente mais concretamente aos departamentos de gestão de resíduos sólidos urbanos e de educação
cívica.

3.7 Técnicas de análise e interpretação de dados

Para a análise e interpretação de dados, foi usada a análise descritiva de conteúdos pois a maior parte do
questionário era composto por conteúdos. Para a parte contendo dados estatísticos, os dados foram
analisados usando a análise estatística de dados recorrendo a tabelas.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para melhor perceber sobre ao papel do município da cidade de Tete na prática da compostagem como
fonte de renda familiar a recolha de dados foi feita entrevistas semi estruturadas para alguns
vendedores do mercado cambinde por se considerar um foco de resíduos sólidos e para um funcionário
do Pelouro de Saneamento e Ambiente.

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4.1. Entrevista aos vendedores do mercado Cambinde

 Género dos participantes

Género Masculino Feminino Total


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 Conceito de compostagem: já ouviu falar sobre a compostagem?


Nenhum dos entrevistados tinha conhecimento sobre a compostagem tendo respondido não a questão.
Entretanto depois de uma explicação breve, foi possível perceber os entrevistados tem alguma noção
pois adubam suas machambas e/o hortas com material orgânico.

 Importância da compostagem
Para esta questão, dois dos seis participantes responderam que usam folhas das árvores, esterco de
animais, capim seco para fertilizar ainda mais os solos e essa é a única vantagem que conhecem. Os
restantes 4 afirmaram que não tem ideia de como o resíduo orgânico produzido no mercado pode ter
importância.

 Compostagem como fonte de renda


Para esta questão, foi unânime não saberem como a compostagem e a geração de renda se relacionam.
Porém 3 dos entrevistados afirmaram que toda ideia que possa amentar sua renda é bem-vinda, desde
que percebam que há mercado para tal produto.

 Produção de resíduos orgânicos:

Todos os entrevistados responderam que tem tido muitos restos de verdura como couve, cicito, alface,
tomate, frutas, etc.

4.2. Questionário ao Pelouro de Saneamento e Meio Ambiente

 Conceito de compostagem

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A resposta foi que a compostagem é uma forma de reutilizar os resíduos orgânicos e que o seu produto
final é um abudo/fertilizante orgânico.

 Normas que regulam o funcionamento dos serviços na GRSU


O funcionamento da Gestão de Resíduos Sólidos pelo Plano Estratégico do Município de Tete, o Código
de Posturas Municipal, o Regulamento Interno e o Plano de saneamento básico e meio ambiente.
Nenhum dos documentos citados anteriormente aborda alternativas de tratamento/recuperação de
resíduos sólios no geral, dos resíduos orgânicos especificamente e nem esclarece até onde vão as
responsabilidades dos munícipes e do CMCT na GIRS. O Plano de Saneamento básico do meio ambiente
do é um plano anual de actividades, macro que descreve objectivos de todo o pelouro.

 Competências do Pelouro de Saneamento e Meio Ambiente


Compete ao Conselho Municipal da Cidade de Tete, através do Pelouro de saneamento básico e meio
ambiente, o seguinte:
a) Garantir uma limpeza eficiente e constante da Cidade; e
b) Assegurar e garantir a aquisição de equipamento para os trabalhadores de limpeza dentro das normas
de segurança, higiene e protecção no trabalho.

 Quantidade de resíduo orgânico produzido na cidade de Tete


Não é sabida a quantidade de resíduos orgânicos produzida diariamente. Ainda não foi feito o estudo da
composição gravimétrica de resíduos da cidade de Tete. Entretanto, são recolhidos diariamente cerca de
35 toneladas de resíduos sólidos em toda a cidade, em horário único das 6h às 14h.

 Fragilidades do sistema de resíduos sólidos na Cidade de Tete


Foram apontadas como fragilidades do sistema operacional de resíduos sólidos: (i) a falta de um plano
de gestão integrada de resíduos sólidos; (ii) a falta de tratamento e/ou transferência de resíduos durante
o processo de GRSU; (iii) a falta de um estudo de composição gravimétrica que constitui limitação para
desenvolvimento de soluções práticas para tratamento de resíduos; (iv) falta de iniciativas de tratamento
de resíduos sólidos recicláveis incluindo os orgânicos.

5. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Na fundamentação teórica assentamos que devido ao alto custo de vida que o país enfrenta, muitas
famílias veem-se obrigadas a buscar oportunidades de geração de renda para sua sobrevivência, por
outro lado, verifica-se a falta de tratamento de resíduos orgânicos e inorgânicos na cidade de Tete e a
compostagem (processo que resulta em um adubo orgânico) pode ser uma fonte de renda e
consequentemente uma solução para o tratamento de resíduos orgânicos.

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Fazendo uma análise dos dados obtidos, apesar das fragilidades identificadas existe um potencial para
implementação de algumas soluções tecnológicas.
As entrevistas com os vendedores revelam uma grande necessidade de implementação de iniciativas de
educação ambiental. Pois a falta de conhecimento os faz desperdiçar a oportunidade de abraçar mais
uma fonte de renda.
Não está claro o papel do município na prática de compostagem com enfoque para a geração de renda,
entretanto, é papel do pelouro de saneamento e meio ambiente garantir a melhoria do sistema de
limpeza, recolha e tratamento dos resíduos sólidos e isso passa por buscar soluções alternativas para
tratamento de resíduos.

6. CONCLUSÕES

O objectivo da pesquisa era analisar o papel do Município da Cidade de Tete na prática da compostagem
como fonte de renda familiar na Cidade de Tete, especificamente buscamos perceber o papel do
Município da Cidade de Tete na gestão de resíduos, identificar as fragilidades do sistema de gestão de
resíduos sólidos e reflectir sobre os benefícios da compostagem para geração de renda e para o
município.

Assim sendo, apresentamos as principais conclusões da pesquisa:

A nível da cidade de Tete, o Conselho Municipal é responsável pela melhoria do sistema de gestão de
resíduos sólidos bem como garantir a obtenção de equipamentos de escritório e de campo para efectuar
as actividades seguindo as regras de higiene e segurança no trabalho. Não está definido de forma clara e
objectiva, mas melhorar o sistema de gestão de resíduos pode significar buscar alternativas para
melhorar cada etapa do processo e a compostagem pode ser uma dessas soluções.

Em termos de fragilidades, a falta de um plano de gestão integrada é um factor limitante para a prática
de soluções tecnológicas para as diferentes etapas de gestão de resíduos. A falta de informações ligadas
a boas práticas de gestão de resíduos, a falta de informação actualizada sobre a quantidade de resíduo
produzido na cidade de Tete, constitui principais fragilidades do sistema de gestão de resíduos sólidos.

Não está definido como responsabilidade do pelouro de saneamento e meio ambiente como entidade
que atende a gestão de resíduos na cidade de Tete a prática da compostagem e/ou outra prática como
fonte de renda familiar.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amaral, D. F. (2006). Curso de Direito Administrativo. Coimbra: Almedina.

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