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Jesus e Nicodemos

João 3:1-21

Versículo 1: “Havia entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos


principais dos judeus.”

Havia entre os fariseus: esse pequeno trecho indica que Nicodemos tinha grande
relacionamento social com os fariseus, provavelmente esse era seu ciclo social. Por
conviver com os fariseus podemos concluir duas características de Nicodemos:

1) Era um exemplar homem religioso: os fariseus tinham certa repulsa àqueles


que aos seus olhos eram pecadores, e também àqueles que andavam com
esses pecadores (Lucas 5:30). Dito isso, tudo nos leva a pensar que Nicodemos
seguia a forma de religião dos fariseus onde aparentemente seguiam a lei e os
rituais de forma rigorosa (Mateus 23:4-6);

2) Pertencia a uma classe social elevada: por sua profissão os fariseus possuíam
um poder aquisitivo bem maior que parte da população e um grande amor ao
dinheiro (Mateus 6:14, 17).

“Ao redor dEle [Cristo] achavam-se sacerdotes em seus ricos paramentos,


príncipes com as vestes e insígnias indicadoras de sua alta posição”1

“Havendo conseguido domínio sobre seus bens, os astutos calculistas


[Fariseus] empregavam-nos para seu próprio benefício.”2

“Nicodemos ocupava posição de alta confiança na nação judaica. Possuía


esmerada educação, e era dotado de talentos acima do comum, sendo
igualmente membro honrado do conselho nacional. [...] Se bem que rico,
instruído e honrado, [Nicodemos] sentira-se estranhamente atraído pelo
humilde Nazareno.”3

“Depois da ascensão do Senhor, quando os discípulos foram dispersos pela


perseguição, Nicodemos tomou ousadamente a dianteira. Empregou sua
fortuna na manutenção da igreja infante”4

1
O Desejado de Todas as Nações, p. 610
2
O Desejado de Todas as Nações, p. 614
3
O Desejado de Todas as Nações, p. 167
4
O Desejado de Todas as Nações, p. 177

1
Nicodemos: É um nome grego (Νικόδημος, Nikodēmos) que significa “conquistador
do povo”. Nos tempos do novo testamento muitos Judeus haviam adotado nomes
gregos, como os discípulos André e Felipe.5

principais dos judeus: A palavra “principal” vem do grego ἄρχων (archón) que
significa “governante”, “chefe” e "líder"6. A versão da Bíblia King James traz uma
tradução mais correta e condizente com o original: “a ruler of the Jews” (“um
governante dos Judeus”).

Já a palavra “judeus” não se refere ao povo diretamente e sim ao sinédrio, a


autoridade suprema dos judeus7, da mesma forma que essa palavra é usada em João
1:19 “Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém
sacerdotes e levitas para lhe perguntarem”.

Com o uso das palavras “um dos”, nos levando a concluir que Nicodemos era um
homem com forte poder de influência no sinédrio, mas não “o governante" ou a
autoridade principal, que no caso seria Caifás, o sumo sacerdote, e tudo isso é
confirmado pela mensageira do Senhor:

“Nicodemos ocupava posição de alta confiança na nação judaica. [...] sendo


igualmente membro honrado do conselho nacional. [...] Se bem que rico, instruído e
honrado”8

"Num concílio do Sinédrio, em que fora considerada a atitude a tomar para com
Jesus, [Nicodemos] aconselhara cautela e moderação. Insistira em que, se Jesus Se
achava na verdade investido de autoridade por Deus, seria perigoso rejeitar-Lhe as
advertências. Os sacerdotes não haviam ousado desprezar esse conselho, e,
temporariamente, não tomaram medidas abertas contra o Salvador."9

Os sacerdotes eram cegos quanto à divindade de Cristo e desejavam ardentemente


acabar com Seu ministério. Provavelmente os fariseus não concordaram com esse
argumento dado por Nicodemos justificando a cautela, onde Jesus talvez poderia ser
o Messias, mas apenas por ser palavra de Nicodemos não ousaram desprezar esse
conselho.

Síntese: Nicodemos era um homem religioso, abastado e um dos judeus mais


influentes da época.

5
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, volume 5, p. 1024
6
Thayer's Greek Lexicon
7
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, volume 5, p. 999
8
O Desejado de Todas as Nações, p. 167
9
O Desejado de Todas as Nações, p. 167

2
Versículo 2: “Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és
Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu
fazes, se Deus não estiver com ele.”

Conforme O Desejado de Todas as Nações, Nicodemos havia presenciado a expulsão


dos vendedores do templo por Jesus e Seus milagres realizados lá (João 2:13-22), isso
despertou uma pesquisa profética, que o levou a convicção de que Ele era o Messias:

"Desde que ouvira Jesus, Nicodemos estudara ansiosamente as profecias relativas


ao Messias; e quanto mais procurara, tanto mais forte era sua convicção de que este
era Aquele que havia de vir. [...] Fora testemunha ocular da cena da expulsão dos
vendedores e compradores por Jesus; presenciara a maravilhosa manifestação de
poder divino; vira o Salvador receber os pobres e curar os enfermos; vira-lhes a
expressão de alegria, e escutara-lhes as palavras de louvor; e não podia duvidar de
que Jesus de Nazaré era o Enviado de Deus."10

de noite, foi ter com Jesus: Por ter grande influência e prestígio tanto do povo
quanto dos governantes judeus, e por grande parte do sustento do seu estilo de vida
e do seu capital vir de alguma forma desse influência, decidiu buscar Jesus em
segredo, já que a esmagadora maioria dos governantes eram grandemente contra o
ministério de Cristo e se Nicodemos mostrasse de alguma forma apoio a Jesus
perderia grande parte de sua influência e consequentemente status social e
financeiro.

"recuava ante a idéia de O procurar abertamente. Seria demasiado humilhante,


para um príncipe judeu [...] E chegasse sua visita ao conhecimento do Sinédrio, isso
lhe atrairia o desprezo e as acusações do mesmo. Decidiu-se por uma entrevista em
segredo, desculpando-se com a ideia de que, fosse ele abertamente, outros lhe
poderiam seguir o exemplo. Sabendo, depois de indagar especialmente, o lugar de
retiro do Salvador, no Monte das Oliveiras, esperou até que a cidade silenciasse no
sono, indo então em busca dEle." 11

Rabi: Palavra grega Ῥαββί (rhabbi) originada do aramaico “rabi” literalmente significa
“grande em número”, provavelmente se referindo ao grande número de fatos e
conhecimento bíblico adquiridos por um rabino12. A tradução mais correta para essa
palavra é “meu grande” e “meu mestre”13, geralmente equivalente a “senhor”, mas

10
O Desejado de Todas as Nações, p. 168
11
O Desejado de Todas as Nações, p. 170
12
NAS Exhaustive Concordance of the Bible with Hebrew-Aramaic and Greek Dictionaries
13
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, volume 5, p. 1004

3
usado também num sentido mais restrito como título de distinção e respeito para
um mestre da lei, um título oficial de honra14.

Em João, “rabi” é o termo consistentemente usado para se dirigir a Jesus por parte
daqueles que O reconheciam como um mestre, talvez até um profeta, mas que
ainda não tinham compreendido que Ele era o Messias ou ainda estavam relutantes
em admitir isso (João 1:38,39; 3:2; 4:31; 6:25; 9:2; 11:8). Aqueles em favor de quem Jesus
realizou milagres, com frequência, O chamavam de “Senhor” (João 9:36; 11:3, 21, 27,
32). Segundo o relato de João, os discípulos, no início de sua associação com Jesus, O
chamavam de “rabi”, mas depois do aprofundamento da convicção de que Ele era de
fato o enviado de Deus, passaram a chamá-Lo de “Senhor” (João 6:68; 11:12; 13:6, 25;
14:5,8, 22; 21:15, 20; etc.). Após a ressurreição o título usado para Jesus é sempre
“Senhor” (1 Coríntios 16:22), nunca “rabi”.

Como comentado anteriormente pelo NAS Exhaustive Concordance of the Bible


with Hebrew-Aramaic and Greek Dictionaries, a palavra grega Ῥαββί (rhabbi) é usada
diversas vezes como substantivo próprio dos fariseus e mestres da lei, e tal ideia é
confirmada em Mateus 23:7, 8 onde Jesus censura os escribas e fariseus e afirma que
eles eram chamados de “rhabbi” pelo povo: “ 6 Amam o primeiro lugar nos
banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, 7 as saudações nas praças e o
serem chamados mestres [Ῥαββί] pelos homens. 8 Vós, porém, não sereis chamados
mestres [Ῥαββί], porque um só é vosso Mestre [διδάσκαλος], e vós todos sois irmãos.”.
Podemos concluir que provavelmente o próprio Nicodemos fosse chamado também
de “rhabbi”, por todas suas características apresentadas neste mesmo comentário
em João 3:1 e por ser considerado um dos fariseus (João 3:1). Ou seja, ao Nicodemos
se referir a Jesus como “rhabbi” estava demonstrando respeito e certa inferioridade
própria com relação a Jesus por chamá-lo de mestre, mesmo sendo ele próprio um
mestre, mas não demonstrou completo reconhecimento de Jesus como Messias e
Salvador.

sabemos: Ao usar o verbo no plural Nicodemos inclui outras pessoas do seu ciclo
social (fariseus, líderes e influentes) que também sabiam que Cristo era “Mestre vindo
da parte de Deus” e que seus milagres eram de origem divina.

“A manifestação de autoridade por parte de Cristo, na purificação do templo,


despertara nos sacerdotes e principais [líderes e influentes] decidido ódio. [...]
Determinaram acabar com Sua obra. Mas nem todos concordavam com isso. Alguns
havia que temiam opor-se a uma pessoa tão evidentemente dirigida pelo Espírito de
Deus."15

14
Strong's Exhaustive Concordance
15
O Desejado de Todas as Nações, p. 167

4
Mestre: Vem do grego διδάσκαλος (didaskalos) e se refere a um título de respeito, um
professor, um instrutor reconhecido por seu domínio em seu campo de
aprendizagem16, e pode ser considerado um sinônimo de “rhabbi”. Usado no
evangelho de João pelo mesmo grupo de pessoas que se referiam a Jesus como
“rhabbi”, pessoas que ainda não tinham compreendido que Ele era o Messias ou
ainda estavam relutantes em admitir isso, apenas com exceção de Maria Madalena
(João 11:28; 20:16). O próprio Nicodemos era também considerado por muitos como
um “didaskalos” (João 3:10).

A única explicação dessa visita é que ele sentiu no coração o fato de Jesus ser mais
do que simplesmente um mestre. A princípio, contudo, o orgulho o impediu de
revelar seus pensamentos de que Jesus pudesse ser o Messias. Mas, quando sua
reação é contrastada com a dos outros líderes da nação, pode-se ver como é
surpreendente o grau em que seu desejo pela verdade venceu o orgulho (João
19:39-42; O Desejado de Todas as Nações, p. 177).

da parte de Deus: Estas palavras estão em posição enfática no grego.17 Com elas,
Nicodemos reconheceu que os milagres de Jesus demonstravam que Suas
credenciais constituíam a prova de uma autoridade mais que humana.

ninguém: Os milagres que Jesus já havia realizado (João 2:1-12; 23) constituíam uma
evidência do poder divino que não se podia negar (João 2:23). Em ocasiões
posteriores, Jesus dirigiu a atenção dos líderes judeus para o significado de Seus
milagres, a fim de provar que Sua missão era divina (João 5:36; 10:38).

sinais: vem do grego σημεῖα (sēmeia)18 e quando usado no evangelho de João se


refere apenas a milagres (João 2:11, 18, 23; … ver concordância de σημεῖα ), ou seja, a
evidência que Nicodemos aponta do poder de Deus em Cristo foi a realização de
milagres. Os evangelhos relatam a essa altura da história apenas dois episódios de
milagres:

1. A transformação da água em vinho (João 2:1-12).


2. Alguns milagres quando estava em Jerusalém na festa da páscoa após a
purificação do templo (João 2:23) onde “Os mudos abriam os lábios em louvor;
os cegos contemplavam o rosto de seu Restaurador. Alegrava-se o coração
dos enfermos” 19. E como dito anteriormente no comentário desse mesmo
capítulo, foi esse segundo milagre e sinal que Nicodemos presenciou e que
tocou seu coração.

16
Strong's Exhaustive Concordance
17
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, volume 5, p. 1025
18
Strong's Exhaustive Concordance
19
O Desejado de Todas as Nações, p. 163

5
Porém, o Espírito de Profecia amplia os sinais não somente a milagres físicos, mas
também o fazer com que “a luz brilhasse no coração deles”20, o que realmente
aconteceu no coração dos fariseus e principais, como relata O Desejado de Todas as
Nações:

“não viram apenas indignação na fisionomia de Cristo; perceberam o significado de


Suas palavras. Sentiram-se como perante o trono do eterno Juiz, tendo sobre si Sua
sentença para este século e a eternidade. Por algum tempo, ficaram convencidos de
que Cristo era profeta; e muitos acreditaram ser o Messias.”21

Como Nicodemos era um homem político e que possuía amplas habilidades de


persuasão, introduziu tais palavras com o objetivo de “preparar o terreno” para sua
entrevista com o intuito de despertar confiança em Jesus, porém falho o exprimir
incredulidade ao se referir a Jesus como mestre, e não como Senhor.

"Esperava, falando dos raros dons de Cristo como mestre, bem como de Seu
maravilhoso poder de operar milagres, preparar o terreno para a entrevista que
pretendia. Suas palavras visavam exprimir e despertar confiança; na realidade,
porém, exprimiam incredulidade. Não reconheceu Jesus como o Messias, mas
apenas como um mestre enviado por Deus.” 22

Síntese: Nicodemos foi testemunha ocular do episódio da purificação do templo


realizado por Jesus e dos milagres realizados lá, isso fez-lo buscar Jesus, porém a
noite, já que seria humilhação para si que outros o vissem buscando Jesus. Com o
objetivo de iniciar a conversa suscitando a confiança de Jesus, o chama de “rabi” e
“mestre”, porém o uso de tais substantivos mostrou incredulidade, já que ele mesmo
era um rabi e um mestre. Deveria tê-lo chamado de “senhor”, ou algum outro
substantivo que não apenas demonstrasse conhecimento e poder, mas também ser
Jesus o Messias.

Versículo 3: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se


alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.”

respondeu Jesus: Nicodemos tenta com essa introdução ganhar a confiança de


Jesus através de seus elogios e considerações com relação a seu poder, porém, Cristo
lera as intenções do coração de Nicodemos e sabia que seu objetivo, como homem
culto e racional, era discussão teológica 23. Sabendo que não era esse tipo de
20
O Desejado de Todas as Nações, p. 164
21
O Desejado de Todas as Nações, p. 162
22
O Desejado de Todas as Nações, p. 170
23
O Desejado de Todas as Nações, p. 170

6
conhecimento que Nicodemos necessitava, Jesus de forma séria e sem rodeios vai
direto ao assunto, não comprimenta e não agradece::

“Em vez de agradecer essa saudação, Jesus fixou os olhos no visitante, como se lhe
estivesse lendo a alma. Em Sua infinita sabedoria viu diante de Si um indagador da
verdade. Sabia o objetivo dessa visita e, no desejo de aprofundar a convicção já
existente no espírito do ouvinte” 24

Em verdade, em verdade: De todos os escritores do Novo Testamento apenas João


usa e a expressão repetida como ocorre aqui. No total, ele o fez 25 vezes, em todas
elas citando Jesus. As palavras estão no tom decisivo de autoridade e certeza. “Este é
o ensinamento de Deus para você, professor como você mesmo é”. 25

nascer de novo, não pode ver o reino de Deus: A palavra nascer vem do grego
ἄνωθεν (anōthen) que tem dois usos principais na Bíblia, o primeiro “de cima” ou “de
um lugar mais alto”, já o segundo “desde o início”, “desde o primeiro”. 26 Na grande
maioria das versões da Bíblia, ἄνωθεν é traduzido como “de novo”, porém quando
analisamos o que é o novo nascimento, vemos que ambos os significados são válidos,
nascemos de novo, mas não na carne, porém no Espírito do alto.

O que é o novo nascimento?

Ao longo deste capítulo João apresenta duas características principais do novo


nascimento:

1. Sem o novo nascimento não é possível herdar a vida eterna (João 3:3);

"se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." João 3:3

“até mesmo um homem tão justo e honrado como ele [Nicodemos]


precisava experimentar um novo nascimento através de Jesus Cristo,
como a única condição pela qual poderia ser salvo e garantir a
entrada no Reino de Deus." 27

2. O renascido anda no espírito e não na carne (João 3:5, 6).

24
O Desejado de Todas as Nações, p. 170
25
Ellicott's Commentary for English Readers
26
Thayer's Greek Lexicon
27
The Signs of the Times, 15 de Novembro de 1883

7
" 5 quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de
Deus. 6 O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito
é espírito." João 3:5, 6

Essas mesmas características são apresentadas no “crer” usado também por


João, onde é dito que para herdar a vida eterna é preciso crer e quem crê anda
no espírito e não na carne.

" 12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; 13 os quais não nasceram do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de
Deus." João 1:12,13

"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16

A Bíblia expõe diversas terminologias para apresentar a verdadeira conversão


como: nascer de novo (João 3:2), crer (João 3:16), coração novo (Ezequiel
11:19-20), morte (Romanos 6:4-7, 11), crucifixão (Gálatas 2:20), nova criatura (2
Coríntios 5:17), etc. Porém, todas elas se referem a um mesmo episódio da vida
do cristão: a verdadeira conversão, e quase sempre com as duas principais
características: vitória sobre a carne (pecado) e vida eterna. Confira:

" 17 se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram


[abandona velhos hábitos, vitória sobre a carne]; eis que se fizeram novas. 18
Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de
Cristo [temos direito à salvação] " 2 Coríntios 5:17, 18

" 4 Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também
andemos nós em novidade de vida. 5 Porque, se fomos unidos com ele na
semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança
da sua ressurreição, 6 sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho
homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado
como escravos [vitória sobre a carne]; 7 porquanto quem morreu está
justificado do pecado [vida eterna]." Romanos 6:4-7

Como o próprio nome instiga, o novo nascimento consiste em um recomeço,


não na carne, mas no espírito, a própria vontade do homem é substituída pela
de Deus mediante a completa entrega. Veja o que o Espírito de Profecia diz
especificamente sobre o novo nascimento:

“Há os que ouvem a verdade e se convencem de que vivem em oposição a


Cristo. São condenados e arrependem-se de suas transgressões. Confiando

8
nos méritos de Cristo, nEle exercendo verdadeira fé, recebem o perdão do
pecado. Ao deixarem de fazer o mal e aprenderem a praticar o bem, crescem
na graça e no conhecimento de Deus. Vêem que precisam sacrificar-se a fim
de separar-se do mundo; e, depois de calcular o custo, consideram tudo como
perda se tão-somente puderem ganhar a Cristo. Alistaram-se em Seu exército.
Acha-se perante eles a luta e nela entram valorosa e alegremente,
combatendo suas inclinações naturais e desejos egoístas, levando a vontade
em sujeição à de Cristo. Diariamente buscam do Senhor graça para
obedecer-Lhe, e são fortalecidos e ajudados.Isso é verdadeira conversão. Em
humilde e grata submissão, o que recebeu um coração novo confia no auxílio
de Cristo. Revela na vida os frutos da justiça. Outrora amava a si mesmo. Os
prazeres mundanos eram seu deleite. Agora o ídolo é destronado, e Deus
reina supremo.” 28

“No novo nascimento o coração é posto em harmonia com Deus, ao


colocar-se em conformidade com a Sua lei. Quando esta poderosa
transformação se efetua no pecador, passou ele da morte para a vida, do
pecado para a santidade, da transgressão e rebelião para a obediência e
lealdade. Terminou a velha vida de afastamento de Deus, começando a nova
vida de reconciliação, de fé e amor. Então, ‘a justiça da lei’ [justiça
comunicada] se cumpre ‘em nós, que não andamos segundo a carne, mas
segundo o Espírito.’” 29

“Se experimentardes este novo nascimento deleitar-vos-eis, não nos tortuosos


caminhos de vossos próprios desejos, mas no Senhor." 30

“A velha natureza, nascida do sangue e da vontade da carne, não pode


herdar o reino de Deus. Os velhos caminhos, as tendências hereditárias, os
hábitos antigos precisam ser abandonados; pois a graça não é herdada. O
novo nascimento consiste em ter novos intuitos, novos gostos, novas
tendências. Os que, pelo Espírito Santo, são gerados para uma nova vida,
tornaram-se participantes da natureza divina, e em todos os seus hábitos e
práticas evidenciarão sua relação com Cristo. Quando homens que alegam
ser cristãos retêm todos os seus defeitos naturais de caráter e disposição, em
que a sua posição difere da dos mundanos? Eles não apreciam a verdade
como elemento santificador e refinador. Não nasceram de novo.” 31

A terminologia mais corriqueira usada por Ellen White ao se referir à


verdadeira conversão é o termo “participantes da natureza divina”, que

28
The Youth's Instructor, 26 de Setembro de 1901
29
O Grande Conflito, p. 468
30
Conselhos sobre Educação, p. 156
31
The S.D.A. Bible Commentary 6, p. 1101 (Ellen White), transcrito na meditação Maranata - O Senhor
Vem, p. 240

9
também possui as mesmas características que as outras terminologias:
condição para a salvação e vitória sobre a carne.

"Se havemos de alcançar o Céu, terá de ser ligando a alma ao Mediador,


tornando-nos participantes da natureza divina." 32

“Cristo veio para nos tornar “participantes da natureza divina” (2 Pedro 1:4), e
Sua vida declara que a humanidade, unida à divindade, não comete pecado.”
33

"Os que são participantes da natureza divina não cederão à tentação." 34

Vale ressaltar que o novo nascimento não é uma espécie de “carne santa”,
onde uma vez renascidos e convertidos nunca mais voltamos atrás. O novo
nascimento deve ocorrer a cada dia, se por um dia não nos entregamos a
Deus de forma completa o pecado volta a ter domínio sobre nós, é
exatamente por isso que Jesus e Paulo dizem:

"Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua
cruz e siga-me.” Lucas 9:23

“Dia após dia, morro!” Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós
outros, em Cristo Jesus, nosso Senhor.” 1 Coríntios 15:31

"A vida cristã consiste em entrega diária, submissão e constante vitória." 35

Clique para ver estudo sobre “participantes da natureza divina”.

Como dito anteriormente, o objetivo de Nicodemos com a conversa era de uma


discussão teológica, e Jesus, sabendo das intenções de Nicodemos vai direto ao
ponto e diz do que é realmente ele necessitava. Nicodemos não precisava de mais
conhecimento teórico, até porque os mestres da lei sabiam eram os que mais
sabiam sobre as escrituras da nação. O que Nicodemos precisava era de uma
verdadeira conversão:

“Nicodemos fora ter com o Senhor pensando em entrar com Ele em discussão, mas
Jesus expôs-lhe os princípios fundamentais da verdade. Disse a Nicodemos: Não é
tanto de conhecimento teórico que precisas, mas de regeneração espiritual. Não

32
Carta 15a, 1890
33
A Ciência do Bom Viver, p. 180
34
Review and Herald, 14 de abril de 1904
35
The S.D.A. Bible Commentary 4, p. 1154

10
necessitas satisfazer tua curiosidade, mas ter um novo coração. É mister que recebas
nova vida de cima, antes de te ser possível apreciar as coisas celestiais. Antes que se
verifique essa mudança, tornando novas todas as coisas, nenhum salvador proveito
tem para ti o discutir comigo Minha autoridade ou missão.” 36

Síntese: Jesus, lendo o coração de Nicodemos, sabendo que seu objetivo com a
conversa era discutir assuntos teóricos, Ele vai direto ao ponto da verdadeira conversa
que Nicodemos precisava escutar, sobre o novo nascimento, que é a verdadeira
conversão onde através de Cristo abandonamos nosso pecados, principalmente os
interiores e ocultos, assim tendo direito à salvação.

Versículo 4: “Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo


velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?”

A metáfora “novo nascimento” já era conhecida por Nicodemos, ele era um dos
homens mais influentes e inteligentes da época, compreendeu ao que Cristo se
referia com aquela metáfora por ser sua resposta repleta de ironia e por essa
expressão ser conhecida entre os judeus quando se referiam à conversão de um
pagão à fé judaica 37 .

“A figura do novo nascimento, empregada por Jesus, não deixava de ser familiar a
Nicodemos. Os conversos do paganismo à fé de Israel eram muitas vezes
comparados a crianças recém-nascidas. Portanto, devia ter percebido que as
palavras de Cristo não se destinavam a ser tomadas em sentido literal.” 38

“Colhido de improviso, respondeu a Cristo em palavras plenas de ironia” 39

Nicodemos havia compreendido a mensagem que Jesus desejava que lhe tocasse o
coração: a necessidade de uma nova conversão. Porém seu orgulho o impediu de
aceitar tal mensagem, por que como um dos homens mais religiosos, ricos,
admirados e influentes de toda judéia seria comparado a um pagão que ainda não
havia se convertido à religião judaica? Jesus não considerou Nicodemos como um
príncipe judeu, mas como um verdadeiro pagão que necessitava da verdadeira
religião.

Essa afronta contra a posição e status de Nicodemos foi o que lhe perturbou e
provocou sua resposta repleta de ironia.

36
O Desejado de Todas as Nações, p. 171
37
Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento, p. 302
38
O Desejado de Todas as Nações, p. 171
39
O Desejado de Todas as Nações, p. 171

11
“Em virtude de seu nascimento como israelita, entretanto, considerava-se seguro de
um lugar no reino de Deus. Achava não precisar de nenhuma mudança. Daí sua
surpresa ante as palavras do Salvador. Ficou irritado por sua íntima aplicação a si
próprio. O orgulho do fariseu lutava contra o sincero desejo do pesquisador da
verdade. Admirava-se de que Jesus lhe falasse da maneira por que falou, não
respeitando sua posição de príncipe em Israel.” 40

O Comentário Bíblico Adventista exprime bem o dilema que acontecia no coração de


Nicodemos:

“Ele simplesmente reconhecia a impossibilidade de um renascimento físico. Mas a


conclusão alternativa lhe parecia igualmente incrível, que ele, um judeu devoto,
precisasse passar pela experiência que Jesus mencionava. Ele enfrentou um dilema:
era incapaz de aceitar a primeira alternativa e não estava disposto a aceitar a
segunda.” 41

Síntese: Nicodemos havia compreendido o que o Mestre queria lhe dizer quando
usou a expressão “nascer de novo”, porém seu orgulho o impediu de aceitar a
mensagem, não queria ele, rico, religioso e influente ser comparado a um novato na
fé, por isso de forma irônica fez a pergunta: “Como pode um homem nascer, sendo
velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?”.

Versículo 5: “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer


da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.”

Respondeu Jesus: Jesus não responde nem confronta a pergunta irônica de


Nicodemos, apenas reforça sua ideia.

“Mas o Salvador não enfrentou argumento com argumento. Erguendo a mão em


solene e calma dignidade, acentuou a verdade com mais firmeza" 42

quem não nascer da água e do Espírito: Há um consenso entre grande parte dos
teólogos e estudiosos da Palavra quanto ao significado da palavra “água” usada nesta
passagem por Jesus. Acreditam que refere ao batismo, onde os argumentos
apresentados por eles serão exibidos ainda no comentário deste mesmo versículo
ainda. Porém, é fato que Cristo se referia ao batismo, uma vez confirmado pelo
Espírito de Profecia:

40
O Desejado de Todas as Nações, p. 171
41
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, volume 5, p. 1025
42
O Desejado de Todas as Nações, p. 171

12
"Nicodemos sabia que Jesus Se referia aí ao batismo de água" 43

Quando se analisa o grego desta passagem pode-se extrair duas principais


traduções:

1. "da água e do Espírito" (2 elementos: água e espírito);


2. “da água, isto é, do Espírito” 44 (1 elemento, água e espírito são os mesmos).

A primeira tradução impõem dois elementos diferentes, dois tipos de nascimentos


necessários para a salvação, já a segunda tradução apresenta a “água” e o “espírito”
como sinônimos, apontando ser necessário apenas um tipo de novo nascimento
para se herdar o reino dos céus.

A mais aceita pelos teólogos e estudiosos é a segunda tradução. Heinrich Bullinger


traz uma explicação gramatical sobre esta passagem em seu comentário bíblico:

“Não dois elementos, mas um, pelo qual o último substantivo se torna um adjetivo
superlativo e enfático, determinando o significado e a natureza do primeiro
substantivo, mostrando que aquele é água espiritual: ou seja, não água, mas espírito.
Deve ser traduzido como ‘de água – sim, água espiritual’.” 45

O texto acima foi traduzido por mim. Segue o original:

“No Art. Figure of speech Hendiadys ( App-6 ). Not two things, but one, by which the
latter Noun becomes a superlative and emphatic Adjective, determining the
meaning and nature of the former Noun, showing that one to be spiritual water: i.e.
not water but spirit. It is to be rendered ‘of water-yea, spiritual water’.”

A segunda tradução parece ser a mais convincente por dois motivos:

1. A única condição para a salvação é o novo nascimento como descrito no


comentário do versículo 3 deste mesmo capítulo, não sendo estritamente
necessário o batismo como condição absoluta para a salvação. Muitas pessoas
que não foram batizadas, antes e depois da primeira vinda de Jesus serão
salvas, porém nenhuma terá o direito à salvação sem novo nascimento
(arrependimento e mudança de rumo);
2. O que Jesus tenta expor à Nicodemos neste episódio não é a importância das
leis cerimoniais como a do batismo, e sim a necessidade da verdadeira
conversão. Como foi apresentado anteriormente e como será reforçado a
seguir.

43
O Desejado de Todas as Nações, p. 172
44
Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento, p. 302
45
Bullinger's Companion Bible Notes, John 3:5

13
A figura do batismo não era desconhecida pelos judeus, muito menos por
Nicodemos. Eram realizados batismos de prosélitos 46 , os judeus batizavam pagãos e
gentios que se convertiam ao judaísmo. Ou seja, o batismo era sinônimo de uma
vida que até então não era verdadeiramente convertida, uma vida de pecados
(Mateus 3:6), por este motivo os judeus e sobretudo os fariseus negavam o batismo
(Lucas 7:3). Nicodemos havia ouvido as pregações de João Batista quanto ao
arrependimento, ele próprio reconheceu temporariamente a falta de espiritualidade
entre os fariseus e judeus, porém com o passar do tempo perdeu essa convicção do
pecado. 47 Nicodemos acreditava que não precisava do batismo, já que se orgulhava
de sua beneficência e liberalidade.

O objetivo de Jesus era impressionar Nicodemos com a necessidade que ele tinha de
se converter verdadeiramente, e tentou isso dizendo que ele necessitava de um novo
nascimento, porém Nicodemos ocultou sua verdadeira compreensão do que era o
novo nascimento, então Cristo usa uma palavra mais familiar e que da mesma forma
exprimia bem a ideia de uma verdadeira conversão, e esta era o “nascer da água”.

Espírito: Se nascer da água, neste caso, é um sinônimo da verdadeira conversão


(novo nascimento) e tomando a segunda tradução como a mais correta, a palavra
“Espírito” carrega o mesmo significado, como apresentado pelo Espírito de Profecia:

“Nicodemos sabia que Jesus Se referia aí ao batismo de água, e à renovação da


alma pelo Espírito de Deus.” 48

E afirmamos que ambos representam a verdadeira conversão, uma vez que


confirmamos os dois princípios de um novo nascimento:

1. Condição para salvação (que é dito no restante deste versículo);


2. O andar no Espírito e não na carne (confirmado na citação de Ellen White
acima).

O Espírito de Profecia comenta que neste momento Nicodemos teve a certeza de ser
Jesus o Messias:

“Ficou convencido de achar-se na presença dAquele que João Batista predissera.” 49

46
Comentário Histórico-cultural da Bíblia, Novo Testamento, p. 302; Clarke's Commentary, John 3:5;
Barnes' Notes on the Whole Bible, John 3:5
47
O Desejado de Todas as Nações, p. 171
48
O Desejado de Todas as Nações, p. 172
49
O Desejado de Todas as Nações, p. 172

14
Síntese: Jesus reafirmando Sua ideia de que Nicodemos necessitava de uma
verdadeira conversão usa sinônimos de “novo nascimento”, que no caso foi “nascer
da água” e “nascer do Espírito”.

Versículo 6: “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é


espírito.”

nascido da carne: “carne” vem do grego σαρκὸς (sarkos), e entre suas muitas
definições, a que mais condiz com o contexto é:

“a natureza sensual do homem, 'a natureza animal' [...] a natureza animal com
desejos que incitam ao pecado” 50

" 19 Ora, as obras da carne (σαρκὸς) são conhecidas e são: prostituição, impureza,
lascívia, 20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,
facções, 21 invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das
quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus
os que tais coisas praticam." Gálatas 5:19-21

Outros versículos apresentam a mesma ideia de σαρκὸς como a natureza inferior do


homem caído: João 1:13, Mateus 26:41, Marcos 14:38, Romanos 7:18, 1 João 2:16, Gálatas
5:19 entre outros.

E tal significado é confirmado quando analisamos os textos que contrastam carne e


espírito como João 1:13, onde a mesma lógica é novamente apresentada neste
versículo:

Carne → pecado
Espírito→ vontade de Deus
Carne → morte eterna
Espírito → vida eterna

50
Thayer's Greek Lexicon

15
16

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