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19/04/2022 11:48 Consulta de Acórdãos - Inteiro teor

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª REGIÃO
Primeira Turma

PROC. N.º TRT - ROT - 0000933-85.2019.5.06.0172


Órgão Julgador : PRIMEIRA TURMA
Relator : Desembargador SERGIO TORRES TEIXEIRA
Recorrentes : CONCÓRDIA LOGISTICA S.A. ; ELCIO VITORINO VANDERLEI
Recorridos : OS MESMOS
Advogados :FERNANDO MELO CARNEIRO; THULIO OLIVEIRA SOUSA CAVALCANTE
Procedência : 2ª VARA DO TRABALHO DO CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE
CUSTOS LEGIS: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

EMENTA

DIREITO DO TRABALHO. DIREITO PROCESSUAL DO


TRABALHO. RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. JORNADA
EXCESSIVA DE HORAS EXTRAS. RESTRIÇÃO AO DIREITO
SOCIAL AO LAZER. DANO EXISTENCIAL. FIXAÇÃO DO
QUANTUM. I - O dano moral consubstancia-se na violação dos
direitos individuais do cidadão no que tange a sua intimidade,
privacidade, honra e imagem. II - O dano existencial é uma espécie de
dano moral decorrente de uma frustração que impede a realização
pessoal do trabalhador, afetando negativamente sua qualidade de
vida e decorre de toda e qualquer lesão apta a comprometer, objetiva
e subjetivamente, nos mais variados sentidos, a liberdade de escolha
da pessoa humana, inibindo a sua realização pessoal, assim como a
sua convivência familiar e social, frustrando o seu projeto de vida. III -
Assim, presentes todos os pressupostos da responsabilização civil
(ato ilícito, dano efetivo, nexo de causalidade entre a conduta ilícita e
os transtornos sofridos pelo trabalhador e a culpa patronal), não há
como afastar a reparação pretendida pelo obreiro, merecendo a
conduta ilícita patronal, a devida e proporcional reprimenda pelo
judiciário. IV - No tocante ao quantum indenizatório devem ser
adotados critérios orientadores consubstanciados na verificação das
circunstâncias dos fatos, a natureza e gravidade do ato ofensivo, o
sofrimento do ofendido, o grau de culpa do ofensor e as condições
financeiras das partes. V - Deve-se destacar, ainda, que o valor fixado
não pode ensejar o enriquecimento sem causa do ofendido, mas
também não pode ser tão inexpressivo a ponto de nada representar
como punição ao ofensor, considerando sua capacidade de
pagamento, salientando-se não serem mensuráveis economicamente
aqueles valores intrínsecos atingidos. VI - Destarte, considerando
todos os aspectos elencados e, principalmente em vista dos casos já
julgados, mantenho a indenização fixada pelo Juízo de Origem para o
importe de R$ 8.000,00 (oito mil reais), por entender razoável para
reparação do dano causado. Recurso da Reclamada improvido.

Vistos etc.

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Recursos ordinários interpostos pela CONCÓRDIA LOGISTICA S.A.


e ELCIO VITORINO VANDERLEIem face de sentença proferida pelo MM. Juízo da 2ª VARA DO
TRABALHO DO CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE, que julgou procedentes em parte as
postulações formuladas na exordial, conforme os fundamentos da sentença.

Nas razões anexas, a reclamada insurge-se contra o deferimento de


diferenças de horas extras, incluindo-se feriados, intervalos interjornadas e intrajornada, bem
como, diferenças de tempo em espera, com base nos registros contidos nos controles de ponto da
ré. Diz que era do autor o ônus de demonstrar a existência de diferenças de horas extras,
inclusive em feriados, e dos intervalos interjornada e intrajornada, bem como, diferenças de tempo
em espera. Requer a ré que seja reformada a sentença de primeiro grau quanto a esse aspecto, a
fim de que sejam julgados improcedentes os pedidos de diferenças de horas extras, inclusive em
feriados, diferenças de intervalos interjornadas e intrajornada, e diferenças de tempo em espera.
Afirma que o julgamento de primeiro grau foi proferido de forma extra petitaquanto a esse aspecto,
razão pela qual, deverá ser anulada a parte da sentença que condenou a empresa a pagar
diferenças de tempo em espera, pelo fato de não ter sido feito pedido nesse sentido. Requer a
reforma do julgado que deferiu diárias. Pugna pela exclusão de indenização por danos morais
decorrentes do labor em jornada excessiva. Por fim, entende devidos honorários de sucumbência
aos advogados da ré. Pede provimento.

Por seu turno, nas suas razões recursais, o reclamante requer o


pagamento da totalidade das horas extras requeridas na peça de ingresso e repercussões,
visando acréscimo ao condeno. Entende que deve ser desconsiderado o depoimento da
testemunha patronal, Sra. Ana Lucia Martins da Costa, pelo fato de ser um depoimento genérico,
dúbio, confuso e com achismos. Pede provimento.

Contrarrazões apresentadas pela reclamada (ID. e4f927e).

O douto Ministério Público do Trabalho, em Parecer da lavra da ilustre


Procuradora Lorena Bravo, opinou pelo conhecimento e não provimento do apelo patronal no que
tange ao dano existencial, matéria reputada como de interesse público.

É o relatório.

VOTO:

Dos pressupostos de admissibilidade

Satisfeitas as exigências legais concernentes à tempestividade,


representação processual e preparo (no caso do apelo patronal). Por essa razão, conheço dos

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apelos, bem como das contrarrazões.

Das Considerações Iniciais

Apenas a título de esclarecimento, em virtude da entrada em vigor da


Lei nº 13.467/17, em 11.11.2017, destaca-se que o contrato de trabalho do autor perdurou de
13.11.2018 a 26.07.2019, bem como que a presente ação foi protocolada em 18.11.2019.

Feitas essas considerações, passo a apreciar o mérito dos recursos


interpostos.

MÉRITO

RECURSO ORDINÁRIO DA RÉ E DO AUTOR (MATÉRIA COMUM)

Dos títulos relativos à jornada de trabalho

A reclamada insurge-se contra o deferimento de diferenças de horas


extras, incluindo-se feriados, intervalos interjornadas e intrajornada, bem como, diferenças de
tempo em espera, com base nos registros contidos nos controles de ponto da ré. Diz que era do
autor o ônus de demonstrar a existência de diferenças de horas extras, inclusive em feriados, e
dos intervalos interjornada e intrajornada, bem como, diferenças de tempo em espera. Requer a ré
que seja reformada a sentença de primeiro grau quanto a esse aspecto, a fim de que sejam
julgados improcedentes os pedidos de diferenças de horas extras, inclusive em feriados,
diferenças de intervalos interjornadas e intrajornada, e diferenças de tempo em espera. Afirma
que o julgamento de primeiro grau foi proferido de forma extra petitaquanto a esse aspecto, razão
pela qual, deverá ser anulada a parte da sentença que condenou a empresa a pagar diferenças
de tempo em espera, pelo fato de não ter sido feito pedido nesse sentido.

Por seu turno, nas suas razões recursais, o reclamante requer o


pagamento da totalidade das horas extras requeridas na peça de ingresso e repercussões,
visando acréscimo ao condeno. Entende que deve ser desconsiderado o depoimento da
testemunha patronal, Sra. Ana Lucia Martins da Costa, pelo fato de ser um depoimento genérico,
dúbio, confuso e com achismos.

Inicialmente, não há que se falar em julgamento extra petita em


relação ao tempo de espera, pois o autor desde sua inicial apresentou tese explícita na causa de
pedir acerca do artigo 235-C, da CLT e formulou o seu requerimento no item i da peça de
ingresso.

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Em relação ao tempo de espera, de início, destaque-se que prevalece


a presunção de constitucionalidade do art. 235-C da CLT, mormente quando se leva em
consideração as peculiaridades da atividade do motorista profissional, bem como o fato de tais
disposições terem sido transcritas, sem qualquer questionamento, por seu sindicato, nos seus
instrumentos normativos.

Distribuindo o ônus da prova, ao autor cabia comprovar os fatos


constitutivos de seu direito e, à empresa, os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos desse
direito, a teor do disposto no art. 818 da CLT e 373 do CPC.

A demandada se desincumbiu apenas em parte. Isto porque a


demandada acostou os controles de jornada sob o ID. 2714df3 e seguintes de parte do período.

O Juízo a quo, com esteio nos controles de ponto nos autos em parte
do contrato de trabalho e da prova oral, julgou parcialmente os pleitos constantes da ação, sob os
seguintes fundamentos (ID 890aa15):

"A Ré, a fim de comprovar suas alegações, anexou aos autos os cartões de ponto
de todo o período (exceto de 03 a 20/03/19), bem como contracheques referentes
ao contrato de trabalho. Observo que nos contracheques consta expressamente o
pagamento de hora extra e de tempo de espera.

Ressalto que o reclamante não apresentou impugnação tempestiva à prova


documental.

Disse o Autor em depoimento:

"que começava a trabalhar às 05h da manhã e parava de conduzir o veículo às 22h;


que gastava 30 minutos para o café; que tinha o intervalo de uma hora para o
almoço; que não parava para jantar; que trabalhava de segunda ao domingo e
gozava de três folgas no mês; que colocava a jornada numa papeleta mas a
funcionária Anaxuan não passava para o controle de jornada o verdadeiro horário
de trabalho; que nunca recebeu horas extras; que ao ser admitido foi informado que
deveria registrar a jornada nas papeletas; que os dias trabalhados, inclusive
domingos e feriados, o depoente registrava na papeleta; que a papeleta retificada
pela empresa consta os dias laborados, mas a jornada é menor do que a realizada
pelo depoente; que assinava os espelhos de ponto; que era o próprio depoente
quem definia o momento de parar para tomar o café e o almoço."

Considerando a ausência de impugnação à prova documental, bem como o teor do


depoimento do reclamante acerca da marcação do labor nos cartões, reconheço a
validade dos horários consignados nos cartões de ponto, inclusive no tocante à
marcação do intervalo.

Já para o período em que não foi apresentado o cartão de ponto (03 a 20 /03/19),
cujo ônus cabia à Ré, arbitro a seguinte jornada de trabalho:

- segunda ao domingo de 05h00 às 22h00;

- 02 folgas no período;

- 30 minutos para o café;

- 01 hora para o almoço;

Passo à análise dos pedidos.

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Horas Extras e Dobras.

Defiro o pagamento da diferença das horas extras a partir da 08ª diária ou 44ª
semanal, o que for mais benéfico, sendo "as duas primeiras horas extras
remuneradas com o adicional de 50% (cinquenta por cento); a terceira e a quarta
horas extras serão remuneradas com o adicional de 75% (setenta e cinco por
cento)" e 100% nos domingos e feriados.

Quanto aos feriados, devem ser considerados 08 (oito) feriados nacionais, a saber:
01/01; 21/04; 01/05; 07/09; 02/11; 15/11 e 25/12, de acordo com a Lei nº
10.607/2002 e 12/10, de acordo com a Lei nº 6.802/80. Deve ser considerado o
feriado religioso, fixado por lei municipal, da sexta-feira da paixão, tendo em vista
que os municípios podem declarar até 04 feriados, sendo a sexta-feira santa
obrigatoriamente um deles.

Defiro os reflexos das horas extras deferidas no Aviso Prévio, nas férias+1/3, 13º
salários, RSR e FGTS+40%.

Tempo de espera.

Para a Lei nº 13.103/2015, vigente a partir de 17.04.2015, são considerados tempo


de espera "as horas em que o motorista profissional empregado ficar aguardando
carga ou descarga do veículo nas dependências do embarcador ou do destinatário e
o período gasto com a fiscalização da mercadoria transportada em barreiras fiscais
ou alfandegárias, não sendo computados como jornada de trabalho e nem como
horas extraordinárias.". Além disso, o período deve ser pago da seguinte forma "As
horas relativas ao tempo de espera serão indenizadas na proporção de 30% (trinta
por cento) do salário-hora normal.".

Diante disso e considerando o tempo de espera apontado nos cartões de ponto (ver
rubrica "em espera"), defiro o pagamento da diferença do tempo de espera, no
percentual de 30% do valor-hora normal (art. 235-C, §8º, da CLT), já que se trata de
verdadeiro "tempo de espera", observada a natureza indenizatória e respeitado o
valor mínimo do salário-hora da categoria (§10º, do art. 235-C, da CLT, ou seja, não
pode ser inferior)."

O julgado não merece ajustes.

Com relação à jornada e frequência de trabalho, há de se constar que


a sua demonstração ocorre através de prova pré-constituída, a cargo do empregador, que
consiste em cartões de ponto, por incidência dos artigos 2º e 74, §2º, da CLT combinados com o
art. 373, II do CPC e a Súmula nº 338, I do TST.

Com relação ao período em que houve juntada da prova documental


de jornada pela ré, o julgado não merece reformas, pois como mencionado na decisão o
reclamante não apresentou impugnação tempestivamente.

Ademais, com relação à parte em que ausentes os documentos, além


de não justificar sua inércia, a empresa tem mais de 10 (dez) funcionários, o que impõe a inversão
do ônus da prova. E desse ônus, em razão do conjunto probatório dos autos, não se
desvencilhou, atraindo a orientação objeto dos itens I e III da Súmula nº 338 do C. TST. Correto o
julgador. E mais, a própria testemunha apresentada pela demandada destacou que não havia

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como saber a jornada de trabalho do motorista sem as papeletas, de forma que deve prevalecer a
jornada arbitrada pelo Juízo. Senão, vejamos:

"INTERROGATÓRIO DA 1ª TESTEMUNHA DO RECLAMADO(A): Sr. Ana Lucia


Martins da Costa, brasileiro(a), RG n. 5707624/ CPF n. 033.096.034.23 , Nome da
mãe: Marluce Martins da Costa, residente e domiciliado no(a) Rua Padre Anchieta,
256, apt 1203,Torre, Recife-PE. Testemunha advertida e compromissada na forma
da lei. Às perguntas disse que: "que trabalha na reclamada desde fevereiro de 2019;
que chegou a trabalhar com o reclamante; que o reclamante era motorista de
carreta; que o motorista preenche as papeletas com sua jornada de trabalho; que o
motorista fica com essa papeleta do veículo; que existe controle de horário também
pelo sistema A52; que há controle de jornada pelas mensagens que o motorista
manda pelo equipamento rastreador que existe no veículo; que o motorista
preenche a papeleta e entrega na empresa; que não há possibilidade da empresa
mandar ao motorista refazer o preenchimento das papeletas ; que o motorista
deveria trabalhar 7h20min e 220 horas mensais; que não tem condições de
mensurar a quantidade de horas trabalhadas pelos motoristas, inclusive o
reclamante, pois depende da operação, mas o horário que ele trabalhou, ele
registra nas papeletas; que se o motorista fizer intervalo durante a jornada ele
registra na papeleta; que a empresa orienta ao motorista a usufruir do intervalo
intrajornada; que se o motorista der o comando de fim de jornada o veículo fica
bloqueado; que se o motorista finaliza a jornada pode sair de perto do veículo; que
se o motorista chegar no cliente, dependendo da situação, pode dar fim de jornada
ou pode continuar trabalhando por causa do descarrego; que o veículo é
desbloqueado quando o motorista informa no sistema o início de jornada; ". (ID
12b6749) grifos de agora."

No tocante ao intervalo interjornada, diante da manutenção da


sentença no tocante à condenação da reclamada ao pagamento de horas extras nos termos
descritos na sentença, resta evidente que o autor efetivamente não gozava do intervalo
interjornada.

Nessa toada, as horas que avançaram sobre o intervalo mínimo


devem ser pagas como extras sendo cabíveis os reflexos pleiteados, nos moldes da sentença que
já levou em consideração as inovações da Lei 13.103/2015.

A não obediência ao intervalo interjornada acarreta a condenação ao


pagamento das horas laboradas antes de decorrido o citado intervalo, em razão do prejuízo
causado ao estado físico, mental e social do empregado e, não, em razão da prestação de
serviços além da jornada normal.

Este é o entendimento consagrado na Súmula 21, deste E. Tribunal:

"SÚMULA Nº 21

INTERVALO INTERJORNADAS. INOBSERVÂNCIA.

O desrespeito ao intervalo mínimo interjornadas, previsto no artigo 66 da CLT,


acarreta, por analogia, os mesmos efeitos previstos no artigo 71, § 4º, da CLT,
sendo devido o pagamento das horas subtraídas com acréscimo de, no mínimo,
50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal, parcela
natureza salarial.

Precedente IUJ - Processo RO 0000329.97.2015.5.06.0001."

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Por fim, com relação ao intervalo para repouso e alimentação, correto


o magistrado sentenciante que deferiu em parte o pedido, nos dias em que a marcação não
demonstrava gozo integral. Da mesma maneira, parece razoável o deferimento de 30 minutos de
intervalo para o período em que a jornada foi arbitrada, pois coerente com a narrativa dos autos. E
considerando o depoimento da testemunha apresentada pelo autor, Sr. Wilrobson Pereira da Silva
no depoimento sob o ID 12b6749, entendo razoável os 30 minutos, pois havia pausas para café e
almoço.

Dessa forma, nego provimento aos recursos, nesses pontos.

Das diárias

 Asseverou o autor na inicial que a Convenção Coletiva da categoria


profissional do reclamante prevê, ano a ano, o direito de receber uma determinada quantia a título
de almoço, jantar e pernoite, quantia essa denominada de "diária". Ressaltou que a reclamada,
todavia, não pagava as diárias ao reclamante corretamente, descumprindo obrigação livremente
pactuada.

É indiscutível que, negado o pagamento de diárias em patamar


superior ao pago pela empresa, pertencia ao autor o ônus de comprovação de diferenças
pleiteadas, nos moldes dos artigos 373, I, do CPC e 818 da CLT, por se tratar de fato constitutivo
do direito.

Ocorre que ao impugnar a alegação e alegar que as mesmas estavam


quitadas, cabia à ré demonstrar a quitação.

Correto o julgado que assim foi fundamentado:

"A Ré demonstrou o pagamento mensal de diárias ao obreiro nos seus


contracheques, entretanto, apesar de afirmar que "os valores relativos ao almoço
eram, não depositados diretamente no cartão alimentação (ALELO)" acostou aos
autos o respectivo extrato para apuração dos valores depositados."

Assim, conforme os documentos, não restou comprovado que a


empresa pagava corretamente os valores devidos a título de diárias.

Por fim, observo que já foi determinada a dedução de valores pagos a


esse título nos contracheques.

Recurso negado.

 Da indenização por danos morais. Do dano existencial.

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Requer a exclusão de indenização por danos morais decorrentes do


labor em jornada excessiva. Caso mantida a condenação, pede a minoração do valor.

À análise.

Destaque-se que essa situação perdurou de forma contínua e


demorada, não sendo algo transitório e passageiro, conforme já narrado.

Além disso, a testemunha do autor ainda relatou que (12b6749):

"(...)INTERROGATÓRIO DA 1ª TESTEMUNHA DO RECLAMANTE: Sr.Wilrobson


Pereira da Silva, brasileiro(a), RG n.623997 / CPF n. 027.606.364-37 , Nome da
mãe: Rosinete do Carmo Pereira, residente e domiciliado no(a) Rua 55, 12, São
Francisco, Cabo-PE . Testemunha advertida e compromissada na forma da lei. Às
perguntas disse que: "que trabalhou para a reclamada por seis ou setembro anos;
que saiu da reclamada em 2017; que exercia a função de motorista carreteiro; que
colocava sua jornada de trabalho numa papeleta; que esse documento ficava com o
motorista; que era o depoente quem registrava os horários na papeleta; que ao
entregar o documento na empresa os funcionários Taciana e Axionoan mandavam a
pessoa alterar a jornada, sob pena de demissão; que no novo documento a jornada
era totalmente diferente daquela por ele anotada na papeleta; que a frequência
ficava corretamente anotada no novo documento mas não os horários; que era
obrigado a assinar o novo controle de horário; que nesse novo controle eram
registradas algumas horas extras mas não todas; que não tinha horário específico
para começar a trabalhar, poderia começar às 02 da manhã ou às 06 da manhã;
que acontecia de iniciar às 04 da manhã e parava de conduzir o veículo de meia
noite a uma hora da manhã; que acontecia de iniciar de novo às 06 da manhã
dependendo da programação pois tinha que atender o cliente; que trabalhava em
torno de 18 horas por dia; que gastava de 10 a 20 minutos para o café; que gastava
cerca de 15 a 20 minutos no almoço; que parava para jantar de 5 a 10 minutos; que
às vezes tinha uma folga no mês, era um milagre ter uma folga; que era obrigado a
colocar fim de jornada no sistema mas ficava muitas vezes acompanhando o
carrego e o descarrego do veículo ; que a empresa desbloqueava o veículo quando
o depoente informava que havia terminado o descarrego, a fim de retornar de
viagem; que quando o depoente trabalhou para a reclamada o reclamante também
estava trabalhando para a ré; que o carrego ou descarrego pode perdurar por seis
horas, 12 horas, o dia todo ou 48 horas dependendo do cliente; que a empresa não
orientava para o gozo de uma hora de intervalo, tinha que cumprir o horário
determinado; q eu era o depoente quem definia os horários das paradas para café,
almoço e jantar; que o novo documento produzido com os novos horários era
assinado pelo depoente".

Dessa forma, resta evidente que, durante o contrato de trabalho, o


autor deixou de ter convívio familiar, com amigos e mesmo de cuidar da própria saúde (prática de
esportes, diversão, etc). De fato, a vida se resumia a comer, dormir e trabalhar.

Com efeito, a indenização por dano existencial pleiteada é espécie de


dano moral e, assim sendo, segue o mesmo entendimento para se verificar se houve, ou não,
lesão ao princípio da dignidade da pessoa humana, passível de se lhe atribuir reparação.

Nos termos do art. 186 do Código Civil, aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica
obrigado a reparar o dano, inclusive moral (art. 5º, inciso X, da CF/88), que representa o efeito
não patrimonial da lesão de direito, normalmente identificado pelas atribulações, mágoas, aflição e

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sofrimento, íntimos e subjetivos que atingem a alma de um ser humano, em decorrência de atos
ofensivos à imagem ou à honra, que ocasionam intensa dor moral ou física na vítima (dor-
sentimento).

O dever de reparar exige prova cabal da relação entre a prestação de


serviços e o dano causado, ônus que incumbe ao autor, a teor dos artigos 818 da CLT e 373,
inciso I, do CPC, além, naturalmente, do concurso de ação ou omissão por parte do agente
(conduta omissiva ou comissiva culposa), efetivo prejuízo para a vítima (dano) e nexo causal entre
ambos.

Consoante analisado em linhas pretéritas, foi reconhecida uma


jornada por demais extenuante, com certos dias em que o autor trabalhou das 5h às 22h, o que,
sem a necessidade de produção de outras provas, demonstra que o autor restou privado do
convívio familiar e social, o que comprometeu o seu direito ao lazer e ao descanso e, por
conseguinte, sua saúde psicofísica.

O magistrado de origem frisou:

"No tocante ao pleito de danos morais em virtude da submissão do obreiro à jornada


de trabalho excessiva, observa-se claramente que o obreiro era submetido à
jornada longa, na medida em que laborava, em média, mais de 12 horas por dia.
(grifou-se)"

Do mesmo modo, opinando o Parquet pela manutenção do julgado, o


Parecer Ministerial destacou (ID. ef5d152):

"Destaca-se que, uma vez demonstrado o evento lesivo, não há necessidade de


prová-lo. Trata-se, em verdade, de um dano ínsito na própria ofensa e que decorre
do próprio ato ilícito.

Neste sentido, o Enunciado 445, da V Jornada de Civil dispõe que "o dano moral
indenizável não pressupõe necessariamente a verificação de sentimentos humanos
desagradáveis como dor ou sofrimento". Portanto, o reiterado labor excessivo, por si
só, já enseja a necessidade de reparação pelos prejuízos morais sofridos
independentemente da comprovação dos mesmos."

Assim, resta evidente que a supressão quase que total de tempo


disponível durante o dia, inegavelmente, gera dano de natureza extrapatrimonial ao autor.

Quanto ao tema, assim vem decidindo o C. TST:

"RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. 1.


EQUIPARAÇÃO SALARIAL. SÚMULA 126/TST. 2. HORAS EXTRAS.
COMPENSAÇÃO DE JORNADA. INEXISTÊNCIA. SÚMULA 126/TST. 3. DANOS
MORAIS. PRESTAÇÃO EXCESSIVA, CONTÍNUA E DEZARRAZOADA DE HORAS
EXTRAS. DANO MORAL EXISTENCIAL (DIREITO AO LAZER). A Constituição da
República determinou a instauração, no Brasil, de um Estado Democrático de
Direito (art. 1º, CF), composto, segundo a doutrina, de um tripé conceitual: a pessoa
humana, com sua dignidade; a sociedade política, necessariamente democrática e
inclusiva; e a sociedade civil, também necessariamente democrática e inclusiva

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(Constituição da República e Direitos Fundamentais - dignidade da pessoa humana,


justiça social e Direito do Trabalho. 3ª ed. São Paulo: LTr, 2015, Capítulo II). Ora, a
realização dos princípios constitucionais humanísticos e sociais (inviolabilidade
física e psíquica do indivíduo; bem-estar individual e social; segurança das pessoas
humanas, ao invés de apenas da propriedade e das empresas, como no passado;
valorização do trabalho e do emprego; justiça social; subordinação da propriedade à
sua função social, entre outros princípios) é instrumento importante de garantia e
cumprimento da centralidade da pessoa humana na vida socioeconômica e na
ordem jurídica, concretizando sua dignidade e o próprio princípio correlato da
dignidade do ser humano. Essa realização tem de ocorrer também no plano das
relações humanas, sociais e econômicas, inclusive no âmbito do sistema produtivo,
dentro da dinâmica da economia capitalista, segundo a Constituição da República
Federativa do Brasil. Ressalte-se que a conquista e afirmação da dignidade da
pessoa humana não mais podem se restringir à sua liberdade e intangibilidade física
e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista e afirmação de sua
individualidade no meio econômico e social, com repercussões positivas conexas no
plano cultural - o que se faz, de maneira geral, considerado o conjunto mais amplo e
diversificado das pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o emprego. O
direito à indenização por danos moral e material encontra amparo no art. 186,
Código Civil, c/c art. 5º, X, da CF, bem como nos princípios basilares da nova ordem
constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção da dignidade
humana e da valorização do trabalho humano (art. 1º, da CR/88). Ora, a higidez
física, mental e emocional do ser humano são bens fundamentais de sua vida
privada e pública, de sua intimidade, de sua autoestima e afirmação social e, nessa
medida, também de sua honra. São bens, portanto, inquestionavelmente tutelados,
regra geral, pela Constituição Federal (artigo 5º, V e X). Agredidos em face de
circunstâncias laborativas, passam a merecer tutela ainda mais forte e específica da
CF, que se agrega à genérica anterior (artigo 7º, XXVIII, da CF). Dessa maneira,
uma gestão empregatícia que submeta o indivíduo a reiterada e contínua jornada
extenuante, que se concretize muito acima dos limites legais, por doze horas
diárias, por exemplo, em dias sequenciais, agride todos os princípios constitucionais
acima explicitados e a própria noção estruturante de Estado Democrático de Direito.
Se não bastasse, essa jornada gravemente excessiva reduz acentuadamente e de
modo injustificável, por longo período, o direito à razoável disponibilidade temporal
inerente a todo indivíduo, direito que é assegurado pelos princípios constitucionais
mencionados e pelas regras constitucionais e legais regentes da jornada de
trabalho. Tal situação anômala deflagra, assim, o dano ao patrimônio moral do
indivíduo, por lesar direitos de sua personalidade. O recurso de revista não
preenche os requisitos previstos no art. 896 da CLT, pelo que se mostra inviável o
seu conhecimento. Recurso de revista não conhecido. (RR - 317-
71.2014.5.12.0026, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de
Julgamento: 24/02/2016, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/02/2016)

3. DANO MORAL. JORNADA DE TRABALHO EXAUSTIVA. RESTRIÇÃO AO


DIREITO SOCIAL AO LAZER. As regras de limitação da jornada e duração semanal
do trabalho tem importância fundamental na manutenção do conteúdo moral e
dignificante da relação laboral, preservando o direito social ao lazer, previsto
constitucionalmente (art. 6º, caput). É fácil perceber que o empresário que decide
descumprir as normas de limitação temporal do trabalho não prejudica apenas os
seus empregados, mas tensiona para pior as condições de vida de todos os
trabalhadores que atuam naquele ramo da economia. Diante desse quadro, tem-se
que a deliberada e reiterada desobediência do empregador às normas de limitação
temporal do trabalho ofende toda a população, que tem por objetivo fundamental
construir uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3°, I, da CF). Tratando-se de
lesão que viola bem jurídico indiscutivelmente caro a toda a sociedade, surge o
dever de indenizar, sendo cabível a reparação por dano moral. Frise-se que, na
linha da teoria do danum in re ipsa, não se exige que o dano moral seja
demonstrado. Ele decorre, inexoravelmente, da gravidade do fato ofensivo que, no
caso, restou materializado pela exigência de prática de jornada exaustiva e
consequente descumprimento de norma que visa à mantença da saúde física e
mental dos trabalhadores no Brasil. Recurso de revista conhecido e desprovido. (RR
- 4112-57.2013.5.03.0063 , Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, Data de Julgamento: 09/03/2016, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
11/03/2016)

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Destarte, a exigência do empregador no cumprimento de jornada


desumana e abusiva merece indenização por dano moral, pois exigir do empregado o
cumprimento de tal jornada é inconcebível nos dias atuais. É que, pela regra dos arts. 7º, XXVIII,
da CR/88 e 186 do CC/02, a indenização por danos morais pressupõe a existência de culpa do
empregador, que por ação ou omissão, causou dano ao empregado, sendo imprescindível o nexo
causal entre este e a conduta empresária. Presentes tais requisitos, há indenização.

Resta comprovado, na hipótese, verdadeiro dano existencial à esfera


de direitos personalíssimos do autor, uma vez que, diante da carga horária a que este era
submetido, sua própria existência de forma condigna restou ofendida.

No tema, bem escrevem Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho (Pós-


Doutor pela Université de Nantes - França) e Rúbia Zandelli de Alvarenga (Mestre em Direito do
Trabalho pela USP), em artigo intitulado O Dano Existencial e o Direito do Trabalho, que, textual:

"O dano existencial no Direito do Trabalho, também chamado de dano à existência


do trabalhador, decorre da conduta patronal que impossibilita o empregado de se
relacionar e de conviver em sociedade por meio de atividades recreativas, afetivas,
espirituais, culturais, esportivas, sociais e de descanso, que lhe trarão bem-estar
físico e psíquico e, por consequência, felicidade; ou que o impede de executar, de
prosseguir ou mesmo de recomeçar os seus projetos de vida, que serão, por sua
vez, responsáveis pelo seu crescimento ou realização profissional, social e pessoal.

Júlio César Bebber, um dos autores a adotar essa expressão para designar as
lesões que comprometem a liberdade de escolha e frustram o projeto de vida que a
pessoa elaborou para sua realização como ser humano, esclarece haver optado por
qualificar esse dano com o epíteto já transcrito justamente porque o impacto por ele
gerado "provoca um vazio existencial na pessoa que perde a fonte de gratificação
vital".

Nos danos desse gênero o ofendido se vê privado do direito


fundamental, constitucionalmente assegurado, de, respeitando o direito alheio, livre dispor de seu
tempo fazendo ou deixando de fazer o que bem entender. Em última análise, ele se vê despojado
de seu direito à liberdade e à sua dignidade humana.

Giuseppe Cassano, citado por Amaro Alves de Almeida Neto,


esclarece que por dano existencial "se entende qualquer dano que o indivíduo venha a sofrer nas
suas atividades realizadoras (...)". Flaviane Rampazzo Soares, por sua vez, considera que ele
"abrange todo acontecimento que incide, negativamente, sobre o complexo de afazeres da
pessoa, sendo suscetível de repercutir-se, de maneira consistente - temporária ou
permanentemente - sobre a sua existência".

Inegável, portanto, que, no caso em análise, o autor sofreu dano


existencial, que merece reparação, nos termos do art. 927 do Código Civil.

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Ressalto que o caráter pedagógico e inibitório da indenização por


dano moral tem lugar aqui e que o pagamento das horas extras e repercussões não restitui as
partes ao status quo ante, uma vez que o obreiro perdeu para sempre a oportunidade de conviver
com sua família, seus amigos, bem como o lazer.

No tocante ao quantum indenizatório, à míngua de parâmetros legais


expressos que embasem a fixação do valor da indenização por dano moral, devem ser adotados
critérios orientadores consubstanciados na verificação das circunstâncias dos fatos, a natureza e
gravidade do ato ofensivo, o sofrimento do ofendido, o grau de culpa do ofensor e as condições
financeiras das partes.

Deve-se destacar, ainda, que o valor fixado não pode ensejar o


enriquecimento sem causa do ofendido, mas também não pode ser tão inexpressivo a ponto de
nada representar como punição ao ofensor, considerando sua capacidade de pagamento,
salientando-se não serem mensuráveis economicamente aqueles valores intrínsecos atingidos.

Destarte, considerando todos os aspectos elencados e,


principalmente em vista dos casos já julgados, mantenho a indenização fixada pelo juízo
sentenciante, no importe de R$ 8.000,00 (oito mil reais), e nego provimento ao apelo.

Mantido o julgado na íntegra, nada a modificar com relação aos


honorários de sucumbência.

Do prequestionamento

Acrescento, enfim, que os motivos expostos na fundamentação do


presente julgado não violam nenhum dos dispositivos da Constituição Federal, tampouco
preceitos legais, sendo desnecessária a menção expressa, a cada um deles, a teor do disposto na
OJ nº. 118, da SDI-1, do C. TST.

Conclusão do recurso

Ante o exposto,

I - CONHEÇO dos recursos interpostos;

NO MÉRITO

II - NEGO PROVIMENTO aos recursos ordinários da reclamada e do


autor.

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ACORDAM os Desembargadores da Primeira Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da Sexta Região, por unanimidade, I - CONHECER dos recursos
interpostos; NO MÉRITO  II - por maioria, NEGAR PROVIMENTO aos recursos ordinários da
reclamada e do autor, vencido, em parte, o Exmo. Desembargador Eduardo Pugliesi (que dava
provimento ao apelo empresarial para excluir o dano existencial.).

Recife (PE), 30 de março de 2022.

SERGIO TORRES TEIXEIRA

   Desembargador Relator

                   EMMT
 

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

Certifico que, na 9ª Sessão Ordinária  Híbrida (Presencial e


Telepresencial) realizada no dia 30 de março de 2022, sob a presidência do Exmo. Sr.
Desembargador IVAN DE SOUZA VALENÇA ALVES, com a presença do Ministério Público  do
Trabalho da 6ª Região, representado  pela Exma. Sra. Procuradora Ângela Lôbo e dos Exmos.
Srs. Desembargadores Sergio Torres Teixeira (Relator) e Eduardo Pugliesi, resolveu a 1ª Turma
do Tribunal, julgar o processo em epígrafe, nos termos do dispositivo supra.

Certifico e dou fé.


Sala de Sessões, em 30 de março de 2022.

    Vera Neuma de Moraes Leite

Chefe de Secretaria da 1ª Turma


 

JUSTIFICATIVA DE VOTO DIVERGENTE

Conforme se observa da certidão de julgamento, discordei da decisão

Turmária que, por maioria, manteve a condenação da reclamada em indenização por

dano existencial, em razão da jornada excessiva desempenhada pelo obreiro.

Com efeito, o dano existencial é conceituado como aquele decorrente de

conduta patronal que impossibilita o trabalhador de se relacionar em sociedade,

causando-lhe prejuízo por não ter o descanso físico e psicológico adequados, o que

acarreta uma limitação em sua vida pessoal, quer seja no aspecto familiar, social e de

lazer.

Diz-se que o dano é existencial porque provoca um vazio existencial na

pessoa que perde a gratificação vital.

Mas, para ser caracterizado, não é suficiente o desrespeito às normas

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trabalhistas relativas ao descanso, como cumprimento de uma jornada extensa ou

ausência de férias, faz-se necessário que se comprove o efetivo prejuízo sofrido pelo

trabalhador, porque houve lesão a seu projeto de vida ou mesmo ao seu convívio social e

familiar, a chamada "vida de relações".

E o ônus de comprovar, no caso, cabe ao empregado, por se tratar

de fato constitutivo do seu direito, a teor do art. 818 da CLT e art. 373, I, do

CPC, contudo, entendi que desse encargo o reclamante não logrou êxito,

porquanto não produziu prova robusta a respeito.

Isso porque, apesar de extenuante a jornada do autor, não há, nos

autos, qualquer prova no sentido de que a jornada a que era submetido afetava

a sua vida pessoal ou social, implicando em efetivo prejuízo sofrido pelo

trabalhador.

A testemunha do autor, Sr. Wilrobson Pereira da Silva, apenas

prestou depoimento informando a jornada desempenhada por eles, porém, nada

relatou a respeito de prejuízos em sua vida pessoal ou limitação no convívio

social.

Ressalto que não se deve entender que o trabalho extraordinário, por si só,

seja fato gerador de ofensa à dignidade humana. A consequência jurídica, no caso, se

resolve nos reflexos de ordem patrimonial - horas extras, o que foi deferido ao

reclamante.

Repiso que, para a configuração dessa espécie de dano, é necessária

comprovação do efetivo prejuízo ao convívio social e familiar do trabalhador, não sendo o

dano presumido, o que não restou demonstrado, no caso, visto que não há qualquer

prova, indicada pelo autor, que corrobore a sua tese.

Nesse sentido, cito decisão desta Turma, em processo de minha relatoria:

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO/6ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR EDUARDO PUGLIESI

egc

fl. 2

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS (DANO EXISTENCIAL). JORNADA DE TRABALHO.

INCABÍVEL. Para a configuração do dano existencial é necessária a

comprovação do efetivo prejuízo ao convívio social e familiar do

trabalhador, o que não ocorreu na hipótese. Portanto, correta a sentença

ao indeferir o pedido indenizatório, uma vez que não houve prova alguma

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da lesão objetiva, que não decorre automaticamente da prestação

habitual de sobrejornada. Recurso do autor desprovido, no ponto.

(Processo: ROT - 0000481-52.2019.5.06.0018, Redator: Eduardo Pugliesi,

Data de julgamento: 25/08/2021, Primeira Turma, Data da assinatura:

27/08/2021)

É a minha justificativa de voto divergente.

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