Case Report

Síndrome Psiquiátrica Causada por Meningioma Bifrontal Gigante

com Piora Neurológica Súbita
Psychiatric Syndrome Caused by Giant Bifrontal Meningioma with Sudden Neurological Worsening

Duanna Damaeska Nogueira 1

Karine Cim Assenço 1
Renato Miguel Rezende 1
Eduardo Augusto Guedes de Sousa 1
Gustavo Ferreira Martins 1
Vithor Ely Bortolin da Silva 1
Aldimar Batista de Sousa 1
Luis Alberto Aguilar Condori 1
Luiz Carlos Braga 2
José Carlos Rodrigues Junior 3

RESUMO
Os meningiomas correspondem aos tumores cerebrais primários benignos mais comuns, representando de 13% a 26 % dos tumores
intracranianos. Apresentam maior incidência no sexo feminino, sendo a exposição a radiação ionizante o principal fator de risco.
São divididos em 3 grupos pela OMS, sendo o grau I o mais comum e menos agressivo. Possuem crescimento lento e são muitas vezes
silenciosos, podendo cursar com alterações psiquiátricas quando localizados na fossa anterior com efeito compressivo sobre os lobos
frontais, porém esta manifestação é rara. Apresentamos o caso de uma paciente de 68 anos que apresentava sintomas psiquiátricos
desde 2012 e, após 6 anos, evoluiu com deterioração neurológica súbita, tendo o diagnóstico tardio de meningioma frontal gigante.
Destacamos a importância da pesquisa de causa orgânica para manifestação psiquiátrica em determinado grupo de pessoas, no
intuito de diagnóstico e tratamento precoce, melhorando sobrevida e qualidade de vida dos pacientes.

Palavras-Chave: Meningioma; Depressão; Diagnóstico diferencial

ABSTRACT
Meningiomas correspond to the most common primary benign brain tumors accounting for 13% to 26% of intracranial tumors. They
have a higher incidence in females, with exposure to ionizing radiation being the main risk factor. According to the WHO classification,
they are divided into 3 groups with grade I as the most common and least aggressive. These tumors are slow-growing and often silent
and may present with psychiatric alterations when located in the anterior fossa with a compressive effect on the frontal lobes, but this
manifestation is rare. This case report deals with a 68-year-old woman who had psychiatric symptoms since 2012. After 6 years she
developed with sudden neurological deterioration, and late diagnosis of giant frontal meningioma. We emphasize the importance of
organic cause research for psychiatric manifestation in a specific group of people, aiming the early diagnosis and treatment to improve
survival rate and the quality of life of the patients.

Keywords: Meningioma; Depression; Differential diagnosis

1
MD, MR, Medical Residency in Neurosurgery, Hospital Heliópolis, São Paulo, SP
2
MD, Assistant Neurosurgeon, Hospital Heliopolis, São Paulo, SP
3
MD, Neurosurgeon, Chairman of Neurosurgery Service, Hospital Heliopolis, São Paulo, SP
Instituição: Hospital Heliópolis, São Paulo, SP, Brasil

Received Apr 10, 2019

Accepted Jul 16, 2019

Nogueira DD, Assenço KC, Rezende RM, Sousa EAG, Martins GF, Silva VEB, et al. J Bras Neurocirur 29 (3): 572-575, 2018
Síndrome Psiquiátrica Causada por Meningioma Bifrontal Gigante com Piora Neurológica Súbita

INTRODUÇÃO
Os meningiomas são os tumores cerebrais benignos primários
mais comuns, correspondendo a 13% a 26% dos tumores
intracranianos1,2,3. Possuem incidência anual de 10,5 casos
por 100 000 mulheres e 4,8 casos por 100 000 homens, com
idade média de 65 anos3. A exposição à radiação ionizante
é o único fator de risco bem estabelecido na literatura, mas
há também fatores sugestivos como a exposição hormonal
endógena e exógena, visto que a incidência é maior no sexo
feminino2,3. Podem ser encontrados por toda a superfície
externa do cérebro, bem como no interior do sistema
ventricular4, e se originam das células meningoteliais da
aracnoide3. São classificados segundo a OMS em graus I, II
e III, sendo o grau I os benignos, o II os atípicos e o grau III,
os anaplásicos e malignos3. A sua variante frontal, devido
ao seu crescimento lento e progressivo, exerce compressão
crônica sobre parênquima cerebral adjacente, dando início
a sintomas psiquiátricos e comportamentais1,5,6. Esses
pacientes são frequentemente referenciados de forma errada,
primeiramente para psiquiatras, o que acaba retardando o seu
diagnóstico1,5,6.
Temos como objetivo relatar um caso de um meningioma
frontal gigante que apresentava sintomas psiquiátricos
desde 2012 e apresentou deterioração neurológica súbita e
consequente diagnóstico tardio.
RELATO DE CASO
Paciente, sexo feminino, 68 anos, hipertensa, diabética e
obesa, iniciou quadro clínico com sintomas psiquiátricos,
caracterizada por apatia, desinteresse por atividades habituais,
desânimo e choro fácil desde 2012. Nos últimos três anos
apresentou alguns episódios de síncopes, não investigadas,
que se tornaram progressivamente mais frequentes. Os
sintomas psiquiátricos também tiveram curso progressivo ao
longo do período, com piora no último ano, quando passou a
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fazer psicoterapia, com pouca resposta. Em dezembro de 2018,
paciente apresentou primeiro episódio convulsivo do tipo
tônico-clônico generalizado, seguido de rebaixamento súbito
do nível de consciência, com anisocoria à direita e outros sinais
de hipertensão intracraniana, como a tríade de Cushing. Ao
ser admitida no setor de urgência, foi submetida a intubação
orotraqueal, estabilizada do ponto de vista hemodinâmico e
realizada tomografia de crânio sem contraste, que revelou a
presença de lesão expansiva bifrontal, medindo 9 x 7 x 4 cm,
com componente hemorrágico frontal à direita, exercendo
importante efeito de massa, com compressão da cisternas
basais e desvio de estruturas da linha média.
O diagnóstico pré-operatório aventado foi de meningioma de
goteira olfatória gigante. Paciente foi submetida a tratamento
neurocirúrgico em caráter de emergência, por meio de
craniotomia frontal bilateral e ressecção microcirúrgica do
tumor. Os achados intraoperatórios corroboraram com o
diagnostico aventado de meningioma e o tumor foi submetido
a uma ressecção Simpson II. O exame anatomopatológico
foi compatível com meningioma meningotelial (grau I da
OMS). A paciente permaneceu internada em unidade de
terapia intensiva neurocirúrgica por três semanas, cursando
com complicações clínicas e infecciosas e, posteriormente,
evoluindo ao óbito.
Figura 1 . Lesão expansiva bifrontal, medindo 9 x 7 x 4 cm, com componente
hemorrágico frontal à direita, exercendo importante efeito de massa, com
compressão da cisternas basais e desvio de estruturas da linha média.
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DISCUSSÃO
Este caso retrata uma paciente de 68 anos que vinha
apresentando sintomas psiquiátricos desde 2012. Após
6 anos, evoluiu com deterioração neurológica súbita
e, consequentemente, recebeu o diagnóstico tardio de
meningioma frontal bilateral gigante. Foi operada em
situação de emergência neurocirúrgica devido à hipertensão
intracraniana e evoluiu com complicações clínicas no pós-
operatório, apresentando um desfecho desfavorável três
semanas após a cirurgia.
Levantamos o questionamento de que mesmo com a crescente
facilidade da realização de exames de neuroimagem, como
a tomografia computadorizada e a ressonância magnética,
tumores cerebrais como os meningiomas frontais, ainda
podem ser erroneamente confundidos como uma condição
psiquiátrica isolada, com consequente atraso no diagnóstico,
aumento da morbidade e/ou desfechos clínicos desfavoráveis.
Os meningiomas do lobo frontal, devido ao seu crescimento
lento e progressivo, exercem compressão crônica sobre
parênquima cerebral adjacente, dando início a sintomas
psicológicos que se assemelham a depressão, estados de
ansiedade, hipomania e esquizofrenia5. Em uma série de casos
relatada por Kumar de 79 meningiomas, 15 (21%) pacientes
tinham sintomas psiquiátricos, sem apresentar sintomas
neurológicos concomitantes7. Tal fato corrobora para que
estes tumores tenham seu diagnóstico tardio. Por outro lado,
pacientes com histórico de abuso de álcool e outras substâncias
ou que já venham sendo previamente tratados para outras
condições psiquiátricas, podem ter o diagnóstico de um tumor
cerebral negligenciado, uma vez que as características clínicas
podem se sobrepor. Após um paciente ser diagnosticado com
transtorno psiquiátrico, raramente o caso é revisado para
possíveis causas orgânicas. Assim, é importante enfatizar que
o primeiro diagnóstico é crucial para o manejo subsequente
destes pacientes.
Não é viável e nem necessário que todos os pacientes com
doenças psiquiátricas sejam submetidos à investigação
neurorradiológica indiscriminada, a fim de descartar
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causas secundárias. Mesmo em estágios iniciais, existem
características clínicas que podem ser indicativas de uma
doença orgânica. Por exemplo, surgimento dos sintomas
após os 35 anos de idade, ausência de histórico de transtorno
psiquiátrico prévios, mudança psicológica progressiva, além
de refratariedade ao tratamento medicamentoso8.
Assim, os médicos da atenção primária, como a porta de
entrada no sistema de saúde, bem como os psiquiatras, como
especialistas, têm um papel fundamental ao avaliar a história
e revisar o diagnóstico de paciente com início tardio de
sintomas psiquiátricos, atípicos ou refratários.
No caso da nossa paciente, se um estudo de neuroimagem
tivesse sido realizado precocemente, o tumor não teria
alcançado este tamanho, a cirurgia não teria sido realizada
em situação de emergência neurocirúrgica e, provavelmente,
seria possível alcançar um melhor desfecho final.
CONCLUSÃO
Tumores cerebrais, sobretudo os meningiomas frontais,
podem se apresentar apenas com sintomas psiquiátricos,
vindo a manifestar sintomas neurológicos, como cefaleia,
convulsões, papiledema ou déficits focais em fases mais
tardias. Assim, estes pacientes podem buscar inicialmente
atendimento especializado com psiquiatra e serem
erroneamente diagnosticados na primeira avaliação. Por isso,
enfatizamos a importância dos estudos de neuroimagem
nos pacientes que apresentam, sobretudo, surgimento tardio
de sintomas psiquiátricos e refratariedade ao tratamento
inicialmente instituído, mesmo sem sinais ou sintomas
neurológicos.
J Bras Neurocirur 29 (3): 572-575, 2018
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REFERÊNCIAS CORRESPONDING AUTHOR

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Síndrome Psiquiátrica Causada por Meningioma Bifrontal Gigante com Piora Neurológica Súbita