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INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
Resumo
O litoral norte do Estado da Bahia possui aproximadamente 200 km de extensão. Este trabalho
das espécies e saturação hídrica do solo. A altura da vegetação diminui do interior em direção
vento, profundidade do lençol freático e granulometria. Foi reconhecido então que diferentes
Abstract
The Northern Littoral of the Bahia state is approximately 200km long. This work has mapped
the different Quaternary geomorphological units present along the coastal zone, including
Pleistocene Alluvial Fans, Pleistocene Marine Terraces and the Holocene Marine Terraces.
The restinga vegetation developed on top of the sands deposits. At the study area, it has been
structure. These formation present different degrees of species composition and soil water
saturation. Vegetation heights decreases from the interior to the shore reflecting the increase of
more stressful conditions like wind speed, deep of the water table and grain size sheets. It has
been found that different environmental variables for each of the geomorphologic units
mapped are responsible for the development of eight different vegetational communities in the
study area.
5
Lista de Figuras
Figura 03. Pluviometria do ano de 2005 e do mês de janeiro de 2006, colhidos a cerca de 5km da área de
27
estudo.
Figura 04. Médias das velocidades do vento para os anos de 2003, 2004 e 200, obtidos a cerca de 60km da
27
área de estudo.
Figura 05. Imagem de satélite da área de estudo, com indicação de ocorrência das unidades geomorfológicas. 29
Figura 06. Imagem de satélite utilizada para o reconhecimento inicial da geomorfologia e vegetação local,
33
locação das unidades amostrais e observações de campo.
Figuras 08. Exemplo de parcela móvel utilizada na fisionomia herbácea sobre as dunas frontais. 34
Figura 11. Duna frontal na porção norte da área de estudo, com indicação de um cordão litorâneo mais 41
antigo.
Figura 12. Duna frontal na porção norte da área de estudo, com indicação de cordões litorâneos mais 41
antigos.
Figura 13. Duna frontal na porção sul da área de estudo, em transição com o pós-praia. 41
43
Figura 14. Exemplo de Dunas “blowout”.
44
Figura 15. Dunas “blowout” sobre o Leque Aluvial Pleistocênico com orientação NE.
Figura 16. Dunas “blowout” sobre Terraço Marinho Pleistocênico com orientação SE e Zona de 45
Deflação associada ao sistema de Dunas.
Figura 17. Dunas “blowout” sobre o Leque Aluvial Pleistocênico com faces de deslizamento em duas 46
direções.
48
Figura 18. Abundância de espécies entre as diferentes fitofisionomias.
49
Figura 19. Altura média das diferentes fitofisionomias.
6
50
Figura 20. Abundância das espécies na Mata Seca.
51
Figura 21. Limite interno da Mata Seca.
51
Figura 22. Manilkara salzmanii e Attalea funifera. Espécies comuns na Mata Seca.
51
Figura 23. Poecilanthe itapuana, espécie dominante na Mata de Seca.
52
Figura 24. Poecilanthe itapuana.
52
Figura 25. Protium bahianum.
53
Figura 26. Abundância das espécies na Mata Periodicamente Alagável.
54
Figura 27. Lençol freático aflorado na Mata Periodicamente Alagável.
55
Figura 28. Blechnum serrulatum, espécie típica de áreas onde ocorre afloramento do lençol freático.
Figura 29. Anthurium bellum espécie típica do sub-bosque que ocorre em formações florestais na 55
restinga do Litoral Norte.
Figura 30. Heliconia psittacorum espécie típica do sub-bosque das formações florestais na restinga do 55
Litoral Norte do Estado.
55
Figura 31. Geonoma pohliana, uma espécie de palmeira exclusiva da MatPa.
55
Figura 32. Ocorrência de Elaeis guianensis (dendezeiro) na MatPa.
56
Figura 33. Abundância das espécies amostradas na MatPaTe.
57
Figura 34. Afloramento do lençol freático em zona deprimidas do Terraço Marinho Pleistocênico.
Figura 35. Afloramento do lençol freático e ocorrência de Comolia ovalifolia e Blechnum serrulatum, 57
espécies mais abundantes nestes ambientes.
Figura 36. Ocorrência de Blechnum serrulatum, no interior da Mata Periodicamente Alágvel no Terraço 57
Marinho Pleistocênico.
57
Figura 37. Ocorrência de Inga affinis na MatPaTe
59
Figura 38. Abundância das espécies amostradas na Mata de Duna.
60
Figura 39. Mata de Duna nas faces de deslizamento das Dunas do tipo “blowout”.
Figura 40. Face de deslizamento sobre o leito do rio Imbassaí. Indicação da ocorrência de espécies de 60
maior porte.
60
Figura 41. Torção dos ramos de uma mirtácea na crista da Duna provocada pelo vento local.
60
Figura 42. Andira nitida “Angelim” espécie que ocorre na Mata de Duna em contato com o rio Imbassaí.
61
Figura 43. Ocotea notata “louro” árvore comum nas faces de deslizamento das Dunas.
7
Figura 44. Acritopappus confertus “cura-facada” arbusto comum nas faces de deslizamento próximo as 61
cristas das Dunas.
Figura 45. Aspecto da distribuição da vegetação na Restinga em Moitas Esparsas associada a zona de 62
deflação do sistema de dunas “blowout”.
63
Figura 46. Abundância das espécies amostradas.
64
Figura 47. Aspecto da vegetação distribuída em moitas e vegetação arbustiva de entre-moitas.
Figura 48. Aspecto da vegetação distribuída em moitas em zona de deflação e cordão Duna ao fundo sob 64
o coqueiral.
64
Figura 49. Moita desenvolvida com Clusia hilariana, espécie de maior porte e em posição destacada.
Figura 50. Moita desenvolvida com Tabebuia elliptica em posição destacada em moita desenvolvida de 64
ocorrência esparsa na área.
66
Figura 51. Aspecto da vegetação organizada em moitas intercaladas por fragmentos da Mata Seca.
67
Figura 52. Abundância das espécies amostradas na Mata Seca.
Figura 53. Aspecto da vegetação disposta em moitas cercadas por solo desnudo na Restinga em Moitas 68
Densa.
Figura 54. Aspecto Borda de uma moita com Allagoptera brevicalyx e Hohenbergia littoralis espécies 68
que ocorrem também na Restinga em Moitas Esparsa.
68
Figura 55. Zona de Transição entre a Mata Seca e a Restinga em Moitas Densas.
68
Figura 56. Myrcia guianensis a espécie dominante e de população mais densa na RestMoiDen.
Figura 57. Aspectos das Zonas Úmidas Herbáceas na Planície Fluvial do rio Imbassaí e em Zona de 70
Deflação sobre Terraço Marinho Pleistocênico.
Figura 58. Aspecto da Zona Úmida em um trecho da Planície Fluvial do rio Imbassaí com a ocorrência 71
de Lagenocarpus rigidus dominando a paisagem.
71
Figura 59. Lagenocarpus rigidus, Blechnum serrulatum e Comolia ovalifolia.
71
Figura 60. Aspecto da Zona Úmida em uma zona de deflação ao Sul da Vila de Santo Antonio.
71
Figura 61. Aspecto da Zona Úmida em uma zona de deflação a Nordeste da Vila de Santo Antonio.
Figura 62. Cobertura relativa das espécies amostradas em zona úmida em área de deflação do campo de 72
dunas.
74
Figura 63. Aspecto das Zonas Úmidas Arbóreas em antigas linhas de Drenagem.
74
Figura 64. Antiga linha de drenagem com lençol freático aflorado.
74
Figura 65. Bonettia stricta.
75
Figura 66. População predominante de Bonettia stricta..
8
77
Figura 68. Remirea maritima espécie dominante no Cordão Duna.
Figura 69. Ipomoea pes-capre. Espécie de ocorrência restrita ao início da vegetação praial em transição 77
com o berma.
Figura 70. Ipomoea stolonifera. Espécie de ocorrência restrita ao início da vegetação praial em transição 77
com o berma.
77
Figura 71. Vegetação Praial entre o coqueiral e sobre a duna frontal
Figura 72. Chamaecrista ramosa de ocorrência restrita aos limites internos do Cordão Duna e Remirea 77
marítima, espécie dominante na área de estudo.
Figura 73. Panicum racemosum e Ipomoe pes-caprae, espécies de ocorrência restrita a face externa do 77
cordão duna.
82
Figura 74. Dendrograma da análise de cluster entre das diferentes formações vegetacionais.
Lista de Tabelas
50
Tabela 01. Parâmetros fitossociológicos obtidos na amostragem da Mata Seca.
54
Tabela 02. Parâmetros fitossociológicos obtidos na amostragem da Mata Periodicamente Alagável
63
Tabela 05. Parâmetros fitossociológicos obtidos na amostragem da Restinga em Moitas Esparsas.
67
Tabela 06. Parâmetros fitossociológicos obtidos na amostragem da Restinga em Moitas Densas.
72
Tabela 07. Parâmetros fitossociológicos obtidos na amostragem da Vegetação Hidrófila Herbácea.
76
Tabela 08. Parâmetros fitossociológicos obtidos na amostragem da Formação Praial.
78
Tabela 09. Similaridade Florística entre as diferentes fitofisionomias mapeadas
82
Tabela 10. Matriz com valores das variáveis ambientais utilizadas na análise de cluster.
9
SUMÁRIO
RESUMO .................................................................................................................................... 3
ABSTRACT................................................................................................................................ 4
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 11
4. MÉTODOS ........................................................................................................................... 30
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................... 39
5.1. GEOMORFOLOGIA............................................................................................................. 39
5.1.1. Leque Aluvial Pleistocênico..................................................................................... 39
5.1.3. Terraço Marinho Holocênico .................................................................................. 40
5.2. VEGETAÇÃO ..................................................................................................................... 47
5.2.1. Aspectos florísticos e fitossociológicos.................................................................... 47
5.2.2. Mata Seca sobre o Leque Aluvial Pleistocênico (MatSec) ...................................... 49
10
5.2.3. Mata Periodicamente Alagável sobre o Leque Aluvial Pleistocênico (MatPa) ...... 52
5.2.4. Mata Periodicamente Alagável sobre o Terraço Marinho Pleistocênico (MatPaTe)
............................................................................................................................................ 56
5.2.5. Mata de Duna sobre as faces de deslizamento das dunas do tipo “blowout”
(MatDun)............................................................................................................................ 58
5.2.6. Restinga em Moitas Esparsas sobre Terraço o Marinho Pleistocênico
(RestMoiEsp)...................................................................................................................... 61
5.2.7. Restinga em Moitas Densas sobre o Leque Aluvial Pleistocênico (RestMoiDen)... 64
5.2.8. Vegetação Hidrófila em Zonas Úmidas (VegZU).................................................... 69
5.2.9. Formação Praial sobre as Dunas Frontais (Fpr) ................................................... 74
5.3. HETEROGENEIDADE DA VEGETAÇÃO ................................................................................ 78
5.3.1. Evolução da zona costeira e as fitofisionomias encontradas .................................. 83
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 87
ANEXOS................................................................................................................................... 95
1. Introdução
apresentando em quase toda sua totalidade depósitos arenosos costeiros formados por
variações do nível relativo do mar na costa brasileira ao longo do Quaternário (MARTIN et al.,
1980; CBPM, 2000). Evidências de variações do nível relativo do mar ao longo do Quaternário
foram constatadas em áreas costeiras do Rio de Janeiro e São Paulo (Suguio & Martin, 1978
apud Dominguez, 1990), Bahia (Martin et al., 1980; Dominguez et al., 2003), Sergipe
(Bittencourt et al., 1983 apud Dominguez, 1990) e Alagoas (Barbosa et al., 1986 apud
Dominguez, 1990). Quanto à origem dos sedimentos que compõem estes depósitos, estes
rios que apresentem desembocadura diretamente no oceano (Suguio & Tessler, 1984) ou das
escarpas do Embasamento cristalino (Martin et al., 1980; Suguio & Tessler, 1984). As
variações do nível relativo do mar, associadas às mudanças no clima e na direção dos ventos
O Litoral Norte do Estado da Bahia apresenta uma estreita faixa de planície quaternária
Norte do Estado da Bahia se restringem aos de Martin et al. (1980) englobando todo o Litoral
Norte, Guimarães (1978) realizado na costa atlântica de Salvador e o de Accioly (1997) para a
controle das mudanças do nível relativo do mar durante o Quaternário. Os Terraços Marinhos
Pleistocênicos e Holocênicos ocorrem em quase toda costa brasileira (Bittencourt et al., 1979;
Martin et al., 1980; Bittencourt et al., 1983 a e b; Barbosa et al., 1986, Dominguez et al., 1990;
Dominguez et al., 1996; Lyrio, 1996; Martin et al., 1997; Accioly, 1997).
reduzida quando comparada, a outras faixas litorâneas encontradas na costa brasileira é muito
pouco estudada principalmente quanto a sua dinâmica física e biológica. Sobre a vegetação
quase nada se sabe, salvo alguns trabalhos de florística, enquanto que o estudo ao nível de
restinga apesar de amplamente discutidas, parecem não terem sido alvo de estudos mais
profundos que tentem relacionar tais influências. Neste sentido é que o presente estudo busca:
geomorfológicas, (iii) Produzir uma classificação para a vegetação local, (iv) Mapear as
2. Revisão Bibliográfica
Aluviais Pleistocênicos, enquanto que as Dunas Externas e as Dunas Atuais ocorrem sobre os
1996; Accioly, 1997). As diferentes formas de crescimento das plantas, a distância do mar e a
13
intensidade e freqüência dos ventos são fatores fundamentais na formação das Dunas. Dentre
das mesmas, reduzindo a ação do vento através do trapeamento da areia e assim dando início a
formação das dunas. Na ausência de vegetação, dunas móveis caracterizam áreas costeiras
(Sprigg, 1959, apud Musila et al. 2000; Lancaster, 1981). Em estudo da dinâmica de um
Dech et al. (2004) concluiu que a formação das dunas e a colonização da vegetação são
processos naturais concomitantes que afetam grandes áreas onde ocorrem dunas.
longo da costa brasileira, e se encontram mapeados apenas para a costa dos Estados da Bahia
(Martin et al., 1980; Dominguez, 1982; Lyrio, 1996; Dominguez et al., 1996; Accioly, 1997;
CBPM, 2000), Sergipe (Bittencourt et al., 1983), Alagoas (Barbosa et al., 1996). Sua origem
depósitos possuem gênese altamente influenciada por um nível relativo do mar mais elevado
encontram-se mapeados para quase toda a costa brasileira (Suguio & Martin, 1978; Martin et
al., 1980; Dominguez, 1982; Bittencourt et al., 1983; Suguio et al., 1985; Suguio & Flexor,
1988; Martin et al., 1988; Dominguez et al., 1990; Dominguez et al., 1992); Martin et al.,
1980; Barbosa et al., 1996; Villwock et al., 1994; Villwock & Tomazelli, 1995; Lyrio, 1996;
Dominguez et al., 1996; Martin et al., 1997; Accioly, 1997; CBPM, 2000).
brasileira, e tiveram sua origem relacionada a um nível pretérito do mar mais elevado durante
14
Dominguez, 1982; Suguio et al., 1985; Suguio & Flexor, 1988; Dominguez et al., 1990;
Dominguez et al., 1992; CBPM, 2000). Estes Terraços Marinhos Holocênicos encontram-se
mapeados para quase todo o Brasil (Suguio & Martin, 1978; Martin et al., 1980; Bittencourt et
al., 1983; Barbosa et al., 1986; Martin et al., 1988; Dominguez et al., 1990; Villwock et al.,
1994; Villwock & Tomazelli, 1995; Lyrio, 1996; Dominguez et al., 1996; Accioly, 1997;
Suguio & Tessler (1984) ressaltam a dificuldade de conceituar as restingas devido aos
relacionada aos ambientes costeiros. Os mesmos autores admitem o uso do termo restinga para
vegetação se apresenta com fisionomias herbáceas até florestas com árvores podendo alcançar
até trinta metros de altura. As características dos depósitos arenosos quaternários ao longo da
costa brasileira variam de acordo com sua origem que por sua vez, determina características
edáficas muito importantes para o desenvolvimento das plantas como, por exemplo, a textura
do substrato, ou pelas suas distintas fisiografias e topografias, fatores estes muito influentes no
diversidade de ambientes ao longo das planícies arenosas do litoral brasileiro suporta uma
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vegetação com características distintas entre si, no que se reflete em fisionomias vegetacionais
e os ventos modelaram uma topografia complexa e diversificada que pode assumir a forma de
altas barreiras que bloqueiam a foz dos rios ou separam lagunas do mar, de dunas móveis ou
ainda de planícies de cordões arenosos de relevo pouco acidentado. Esses depósitos arenosos
são em geral cobertos por vegetação muito diversificada, e a esse conjunto de formações
A primeira tentativa de classificação da vegetação das restingas foi elaborada por Karl P.
Von Martius, onde a região litorânea foi incluída na província denominada Dryas,
representada principalmente pela Mata Atlântica Martius (1951, apud Silva, 1998). No
século seguinte, os trabalhos em restinga iniciaram-se com Ule (1901, apud Silva, 1998) ao
descrever a restinga de Cabo Frio (RJ), onde distinguiu formações vegetacionais, as quais
Sampaio (1934, apud Lamego, 1946), classificou diversos tipos vegetacionais costeiros
como praias e dunas na zona marítima do Brasil. Santos (1943) dividiu o país em 8 regiões
restingas também é citada por Rizzini (1992), ao incluir os tipos vegetacionais costeiros no
mencionar aquele que seguiu a tendência de reconhecer o solo como um fator condicionador
lacustre onde se enquadram as restingas (Veloso & Góes Filho, 1991; IBGE, 1992). Uma
abordagem sobre os aspectos da composição florística e estrutura das comunidades pode ser
Estado de Santa Catarina, agrupando as plantas de acordo com sua função ecológica. Araújo
fluminense: hálófita, psamófita reptante, slack de dunas móveis, thicket baixo de pós-praia,
tratou das comunidades vegetais da restinga de Setiba, Espírito Santo, onde distinguiu 10
formações. Dentre as várias conotações que podem ser encontradas para o referido termo,
destaca-se o conceito de Furlan et al. (1990) que se refere às formações vegetais da planície
do litoral arenoso, as quais englobam praias, dunas, brejos, matas e florestas costeiras.
As planícies arenosas são ocupadas por uma grande variedade de comunidades vegetais
devido à diversidade de sua topografia e às condições ambientais que ali vicejam, incluindo
conseqüentemente de uma flora rica e variada (Araújo & Henriques, 1984). Segundo Rocha et
al. (2004), as restingas são habitats característicos do Bioma Mata Atlântica que estão
localizados nas baixadas litorâneas e ao longo dos milhares de quilômetros da costa brasileira.
17
composto em sua grande maioria de areia inconsolidada e em muitas áreas com considerável
nível de salinidade (Hay, 1981 apud Rocha, 2004). Rocha et al. (2004) ressaltam que as
diferentes formações vegetacionais propiciam por sua vez condições de vida a uma grande
(1946), em suas referências à vegetação de Restinga, já deixava claro da estreita relação desta
em longas faixas paralelas” (vegetação localizada entre cordões litorâneos). Dansereau (1947
apud, Silva, 1998) descreveu os principais "ambientes" vegetacionais de uma área costeira do
última. Seguindo esta tendência de interpretação da vegetação litorânea como uma seqüência
de diferentes zonas de vegetação que refletem um processo sucessional, Reitz (1961) identifica
Hueck (1955, apud Silva, 1998) caracterizou as principais associações vegetais das dunas do
aspectos morfológicos das espécies típicas desta região, além de definir diferentes "zonas" de
vegetação.
Ao longo dos Terraços Marinhos Holocênicos, sobre as Dunas Atuais, encontra-se uma
vegetação de pequeno porte, quase sempre herbácea, associadas à fixação das mesmas, através
do trapeamento dos sedimentos trazidos da zona de praia (Rizzini, 1992; Lyrio, 1996;
Dominguez et al., 1996). A dinâmica construtiva e erosiva destes depósitos parece influenciar
18
ambientes. Estas quase sempre são rasteiras (reptantes), dotadas de grande capacidade de
salino vindo do mar, assim como da intensidade dos ventos constantes, evitando a desidratação
foliar (Rizzini, 1992). Henriques et al. (1986) utilizam o nome de formação praial-graminóide,
para designar este tipo de vegetação. Silva (1998) a chama de campo aberto não inundável,
enquanto que Araújo (2000) de halófila –psamófila – reptante. Costa (1995) constata que a
dinâmica das marés, evidenciada pelas ressacas que alteram de forma brusca a topografia dos
Brasil vêem sendo indicadas desde Ule (1901) para as restingas do Rio de Janeiro, e por
Rizzini (1992), tratando esta sob a denominação de scrub. Outros autores (Henriques et al.,
1986; Montezuma, 1997; Zaluar, 1997; Silva, 1998; Zaluar & Scarano, 2000), também fazem
As matas ou florestas de restinga também têm sido descritas por diversos autores ao
longo do tempo estando estas associadas a depósitos sedimentares mais antigos, como nos
Leques Aluviais Pleistocênicos ocorrentes no Litoral Norte do Estado da Bahia. Nestes podem-
se distinguir uma fisionomias florestal de médio porte, com árvores podendo atingir até 10m
foi descrita para outras regiões da costa brasileira (Araújo & Henriques, 1984; Henriques et al.,
19
1986; Pereira; 1990; Assis, 2004), que as denominaram de mata de Myrtaceae ou mata seca.
Waetcher (1985) as chama de mata arenosa, enquanto que Trindade (1991) de floresta arenosa
para a estabilização das mesmas, estando estas adaptadas às condições abióticas locais,
principalmente o vento e a temperatura do solo. Na sua face voltada para o mar, exposta aos
ventos dominantes a vegetação é quase nula, ao passo que sobre as faces de deslizamento, esta
se torna mais densa. Para a zona costeira do Estado da Bahia são inexistentes trabalhos que
abordem a relação entre a vegetação e dinâmica dunar. Estudos sobre a dinâmica das dunas
diversidade da vegetação associada (Ranwell, 1958; Yeaton, 1988; Martinez et al. 2001).
Dunas ocorrem em regiões onde existe grande suprimento de areia, onde é empilhada em
cristas criadas pela ação do vento. Podem ser encontradas em desertos, planícies fluviais e ao
compreendem um grande número de ambientes naturais e estas podem ser encontradas nas
margens de rios, riachos, regiões litorâneas de lagos, turfeiras, manguezais e outros. São áreas
transicionais entre os sistemas aquáticos e terrestres, onde o nível do lençol freático está
próximo a superfície do terreno ou este é inundado por águas rasas geralmente em planícies
fluviais (Lyrio, 1996; Dominguez et al., 1996; CBPM, 2000). O termo “Terra Úmida” é
utilizado para descrever ambientes que não são nem completamente terrestres, nem
completamente aquáticos. Estas áreas são inundadas ou saturadas por água superficial ou água
adaptadas à saturação hídrica do solo. Devido a esta grande diversidade, elas têm recebido as
20
mais variadas definições (Esteves, 1998). Alguns autores como Worthington (1976, apud
Esteves, 1998), definem que as áreas alagáveis são aquelas que apresentam macrófitas
aquáticas emersas. Para Denny (1985, apud Esteves, 1998) é uma área de vegetação que pode
estar inundada permanentemente ou ser inundada sazonalmente. Estas áreas são ecossistemas
A planície fluvial ou planície de inundação é uma área adjacente a um rio, que se torna
alagada durante épocas de enchente. Esta planície apresenta-se altamente vegetada (Riccomini
et al., 2000). Neste ambiente pode-se observar que os espécimes vegetais herbáceos são
1996; Accioloy, 1997; CBPM, 2000). Vegetais lenhosos também podem compor um ambiente
de área alagável, no entanto este passa a receber a denominação de pântano (Lyrio, 1996;
Dominguez et al., 1996; Accioloy, 1997). As zonas úmidas são sistemas que desempenham
importantes funções ambientais, tanto do ponto de vista físico quanto biológico. São
como tampões hidrológicos, controlando o volume de água nas áreas onde ocorrem em épocas
suas espécies, sendo muito comum o domínio de vegetação herbácea. A origem destes
vales encaixados nos tabuleiros costeiros e inundação da planície quaternária (CBPM, 2000).
água marinha nos vales dos rios criando condições para o possível desenvolvimento de
máximo da última transgressão fez com que gradativamente a água doce dominasse estes
As áreas costeiras são ambientes que resultam da interação terra/mar, recebendo direta
ou indiretamente suas influências. Identificada como área crítica, estas áreas apresentam
ecossistemas tais como estuários, manguezais, pântanos, praias, planícies de maré, dunas e
recifes de corais, ao lado de ser um local onde é corrente o exercício de atividades econômicas
costeiros. Devido ao equilíbrio delicado que existe entre os diferentes processos atuantes na
zona costeira, a atividade humana pode afetar de modo bastante adverso a qualidade ambiental
da mesma.
quase toda a costa Brasileira (Dominguez et al., 1990), e os diferentes tipos de depósitos
marinhas ocorridas ao longo do Pleistoceno e Holoceno foram mapeados. Estas são conhecidas
como Transgressão Mais Antiga, Penúltima Transgressão e Última Transgressão (Martin et al.,
1980; Suguio et al., 1985; Martin, Suguio & Flexor, 1988). Na costa do Estado da Bahia, uma
Transgressão Mais Antiga ainda sem datação, é evidenciada por uma linha de falésias fósseis
que separa o Grupo Barreiras dos Depósitos dos Leques Aluviais Pleistocênicos (Martin et al.,
1980). No sul do país, dois níveis pretéritos de mar mais antigos que 120.000 AP foram
22
registrados (Willwock et al., 1986; Martin et al., 1988). Mais recentemente para o leste –
nordeste do Brasil, Barreto et al. (2002) identificou depósitos costeiros com mais de 220.000
AP. Por volta de 120.000 AP, mais uma transgressão marinha ocorreu, quando o nível do mar
se posicionou cerca de 8 ± 2 metros acima do nível atual (Martin, Bittencourt & Vilas Boas,
evolução. Este evento foi então denominado por Martin et al. (1980) de Penúltima
Transgressão e foi seguido por uma fase regressiva que teve como característica a deposição
Martin, 1978; Guimarães, 1978; Martin et al., 1980; Bittencourt et al., 1983; Barbosa et al.,
1996; Martin et al., 1988; Dominguez et al., 1990; Villwock et al., 1994; Villwock &
Entre 4.000-5.000 AP, uma outra transgressão marinha que atingiu cerca de 5m acima
do nível atual (Martin et al., 1980; Suguio et al., 1985) conhecida como a Última
Transgressão, erodiu os Terraços Marinhos Pleistocênicos e inundou grande parte dos vales
depósitos arenosos formados por areias regressivas marinhas, chamados de Terraços Marinhos
Holocênicos, que também foram mapeados por quase todo o Brasil (Martim et al., 1980;
Dominguez, 1982; Dominguez et. al., 1990; Dominguez et al., 1996; CBPM, 2000).
Transgressões (Figura 01). Para esta região, a evolução Quaternária da zona costeira foi
23
descrita por Accioly (1997) para a localidade de Arembepe, enquanto que Guimarães (1978)
Figura 01. Modelo evolutivo para costa do Estado da Bahia (Dominguez et al., 1996).
24
3. Área de estudo
3.1. Localização
município de Mata de São João e situada entre os povoados do Diogo, Imbassaí, Areial e Santo
Antonio. Este último muito peculiar dentre outras localidades no Litoral Norte do Estado pela
aproximadamente 398ha, estando limitada a Sul e a Leste pelo Oceano Atlântico, a Oeste pelo
rio Imbassaí e a Vila do Diogo, e a Nordeste pelo Complexo Hoteleiro Costa de Sauípe e o rio
Santo Antonio (Figura 02). A Reserva Particular do Patrimônio Natural RPPN esta legalizada
desde 2001, já que seus proprietários o Sr. Paulo Roberto Álvares de Souza e Sra. Lindaura
Soares de Carvalho, determinaram a criação da RPPN Santo Antônio de 370,72 hectares com
“Ordenar o uso para auto-sustentar a própria RPPN, e estimular outros proprietários a tomar
BA
3.2. Clima
ao longo de todos os meses do ano. Tais características resultam não só de sua posição
latitudinal na zona intertropical do globo, onde o balanço da radiação é sempre positivo, mas,
também da sua situação da zona litorânea oriental da região nordeste, que lhe assegura fortes
sul para o norte e situam-se entre 2.000mm a 1.200mm a respectivamente. Dados obtidos a
cerca de 5km da área de estudo indicam valores mensais máximos de precipitação de 400mm
para os meses de abril e junho no ano de 2005, sendo que nesse mesmo ano os valores mensais
mais baixos foram obtidos para os meses de setembro a janeiro (Figura 03). O litoral norte
apresenta valores médios mensais e anuais de temperatura, da ordem de 23° a 25° C, com
2.000 horas anuais, em toda a área, havendo ligeiro decréscimo nos meses de outono –
dominantes sopram de sudeste (SE), registrando-se ainda fluxos de leste (E) e nordeste (NE)
no verão Gonçalves (1991 apud, Lyrio 1996). Cerca de 75% dos ventos são de NE-E-SE sendo
que durante o outono-inverno, época da chegada das frentes frias na região, os ventos
450
400
Precipitação (mm)
350
300
250
200
150
100
50
0
FEVEREIRO
AGOSTO
NOVEMBRO
JANEIRO
MARÇO
MAIO
JUNHO
JULHO
SETEMBRO
DEZEMBRO
ABRIL
OUTUBRO
Me se s
Fonte: NM Construtora.
Figura 03. Pluviometria do ano de 2005, obtidos na localidade de Imbassaí, cerca de
5km da área de estudo.
2003 2005
8,0
7,0
6,0
5,0
Velicidade (m/s)
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
AGOSTO
NOVEMBRO
MAIO
JUNHO
JULHO
DEZEMBRO
OUTUBRO
Meses
Figura 04. Médias das velocidades do vento para os anos de 2003 e 2005, obtidos a
cerca de 60km da área de estudo.
28
com a direção dos ventos predominantes. Dunas Internas ocorrem sobre o Leque Aluvial
citado anteriormente. Um estreito Cordão Dunar compondo as Dunas Frontais, ocorre sobre o
rodeadas ou pela areia desnuda ou por espécies herbáceas ou sub-arbustivas. Nas bacias de
deflação sobre o Terraço Marinho Pleistocênico onde o lençol freático encontra-se próximo a
superfície (Dominguez informação pessoal) são comuns as espécies Cuphea flava e Comolia
domínio de uma fisionomia vegetacional fechada onde ocorrem espécies arbóreas como Clusia
Campo de Dunas
Figura 05. Imagem de satélite da área de estudo, com indicação da ocorrência das
diferentes unidades geomorfológicas e fisionomias da vegetação local.
30
4. Métodos
Poucos são os trabalhos publicados para o Litoral Norte do Estado da Bahia que tratam
da vegetação de Restinga. Podem ser citados os trabalhos de Brito et al. (1984; 1993) nas
Dunas e Lagoas do Abaeté em Salvador e o de Pinto et al. (1984) que se destaca por ser o
Litoral Norte do Estado. Mais recentemente um “check-list” das espécies vegetais ocorrentes
no Litoral Norte da Bahia, Costa dos Coqueiros e Salvador foi publicado IBGE (2004).
Costa Atlântica do Salvador, Martin et al. (1980), Lyrio (1996), Accioly (1997) para a
localidade de Arembepe e Dominguez et al. (1996) para o Litoral Norte do Estado da Bahia.
31
abertas e fechadas, sobre os diferentes depósitos arenosos. Foram definidas para amostragem,
(Figura 06). Nas fisionomias fechadas, situadas sobre o Leque Aluvial Pleistocênico e nas
faces de deslizamento das Dunas Externas sobre o Terraço Marinho Pleistocênico, foram
32
amostrados todos os indivíduos lenhosos, com CAP (circunferência na altura do peito) maior
ou igual a 15cm, enquanto que para as fisionomias lenhosas abertas sobre o Terraço Marinho
(circunferência ao nível do solo) maior ou igual a 5cm foram amostrados. A altura foi estimada
apenas para as espécies destas fisionomias. Para as fisionomias herbáceas ocorrentes na Zona
Úmida e nas Dunas frontais foram utilizadas sub-parcelas móveis de 1m², totalizando 400m²
de área amostrada para estimativa da cobertura (Dominância), que foi obtida como a
porcentagem da superfície do solo coberta pela porção aérea do vegetal. Para o cálculo da
indivíduos para melhor comparação com as outras fisionomias (Figuras 07 e 08). A vegetação
hidrófila das antigas linhas de drenagem sobre o Terraço Marinho Pleistocênico não foi
amostrada, por apresentar basicamente duas espécies e não ser representativa na unidade
geomorfológica em questão.
33
Figura 07. Exemplo de parcela fixa Figura 08. Exemplo de parcela móvel
(unidade amostral), utilizada na (unidade amostral), utilizada sobre o
fisionomia fechada. cordão duna.
cinco amostras de espécies vegetais vasculares férteis, incluindo todas as formas biológicas e
técnicas usuais de herborização (Mori et al., 1989; IBGE, 1992) e incorporado ao Herbário
(1981), enquanto que para as Pteridófitas foi utilizado o sistema de Tryon & Tryon (1982).
Soma de bases Cmolc/dm³, Capacidade de Troca Cmolc/dm³, Relação V = S/T x 100, Relação
Al/Al + s x 100, Relação Ca/Mg, Cálcio Cmolc/dm³, Magnésio Cmolc/dm³, Ferro mg/dm³,
Em cada uma das 8 (oito) parcelas foi medida a profundidade do lençol freático,
vegetação amostrada.
Ikonos, com combinação das bandas vermelho, verde e azul (coloração natural). A resolução
de um metro permite identificar alvos como copas de árvores, moitas e clareiras assim como
absoluta e relativa (DoA e DoR), densidades absoluta, relativa total (DA, DR e DAT) e o
índice de valor de importância (IVI), que foram calculados seguindo a metodologia abordada
por Muller-Dombois & Ellenberg (1974). Foi também calculado o índice de Similaridade de
DA = ni/ A
DR = DAi / DAT
IVI = DRi+DoRi
em que:
Para cálculo da dominância (espécies lenhosas) nas formas absoluta (DoAi) e relativa
(DoRi) foram utilizadas as seguintes fórmulas:
DoAi = ABi/A
DoR = DoAi / DoAt
onde:
DoAi= dominância absoluta da i-ésima espécie, em m²/ha;
ABi = área basal da i-ésima espécie, expressa em m²;
A = área amostrada, em hectare; e
DoRi= dominância relativa da i-ésima espécie, em percentagem.
DoAi = Coi/A
onde:
A = área amostrada, em hectare.
Co = Cobertura estimada em porcentagem.
Para teste de significância estatística e análise das relações ecológicas existentes entre
PCORD© (McCune & Grace, 2002). Este método permite a avaliação da composição de
espécies entre categorias arbitrariamente definidas. Segundo McCune & Grace (2002), este
dos dados e é, portanto, o mais adequado para detectar diferenças entre comunidades
biológicas. Uma matriz de variáveis ambientais foi criada para teste de agrupamento. Foram
restinga (Rizzini, 1992; Waechter, 1995), enquanto que abundância, riqueza e dominância das
freqüência relativa de todos os valores obtidos para cada parâmetro. Para testar então a
hipótese nula de que não há diferença na composição das fitofisionomias, foi utilizado o
MRPP sobre a matriz de abundâncias transformada (Tabela 10), usando como medida de
na restinga do litoral Norte da Bahia (Tinoco et al., 2004 a; Tinoco et al., 2004 b), indicando
fitofisionomias e os depósitos arenosos, foi realizada uma análise de cluster entre as variáveis
5. Resultados e discussão
5.1. Geomorfologia
com altitudes que variam de 5 a 30 m. Encontra-se limitado pelo rio Imbassaí, a noroeste pela
a escarpa da Formação Barreiras e a sudeste e sul pelo Terraço Marinho Pleistocênico. Parte
dos sedimentos desta unidade foi mobilizado pelo vento gerando dunas do tipo “blowout” (ver
mapa em anexo).
40
Holocênico, totalizando uma área total de aproximadamente 190ha, com altitudes em torno de
5m. Em quase sua totalidade, o Terraço Marinho Pleistocênico foi afetado por processos de
deflação devido a formação de um sistema de dunas do tipo “blowout” que ocupa a porção
cerca de 40ha, com altitudes que variam de 0 a 5m. Atualmente, sua superfície encontra-se
quase que totalmente ocupada por um conjunto de dunas frontais de configuração semelhante
àquela descrita por Accioly (1997) para Arembepe e Lyrio (1996) e Dominguez et al. (1996)
5.1.1.4. Dunas
descritas por Martin et al. (1980a) e denominadas de Dunas Internas, Externas e Dunas
Litorâneas Atuais (Martin et al., 1980; Lyrio, 1996; Dominguez et al., 1996; Accioloy, 1997).
região de Arembepe por Accioly (1997), com direcionamento multivariado das faces de
deslizamento, descrição esta que se assemelha muito àquelas descritas por Lyrio (1996) para o
As dunas frontais bordejam a linha de costa atual (Figuras 11, 12, 13 e 14) com altura
do trapeamento dos sedimentos da face de praia pela vegetação praial. Próximo a Vila de
Santo Antonio, o cordão duna encontra-se mais desenvolvido, apresentando-se mais largo e
mais alto.
Figura 11. Duna frontail na porção norte da Figura 12. Cristas de antigas dunas frontais
área de estudo. Indicação de um cordão na porção norte da área de estudo, com
litorâneo mais antigo. indicação de cordões litorâneos mais
registradas por Bittencourt et. al. (1979) e Martin et. al. (1980), que as classificaram em três
categorias entre dunas internas e externas e as dunas atuais, com base nos aspectos
morfoscópicos das areias das mesmas. Aquelas que ocorrem sobre os Terraços Marinhos
Pleistocênicos foram denominadas de Dunas Externas, enquanto que aquelas sobre os Leques
Aluviais Pleistocênicos foram então classificadas como Dunas Internas. Accioly (1997) para a
localidade de Arembepe, chamou atenção para o aspecto digitaliforme apresentada por estas
Dunas. Estas dunas externas de aspecto digitaliforme e com faces de deslizamento exibindo
variadas direções também foram descritas por Lyrio (1996). Estas feições dunares atualmente
são reconhecidas como Dunas do tipo “blowout”, que constituem unidades geomorfológicas
fortes o suficiente para remoção drástica de sedimentos e seu posterior transporte e deposição
Bacias de Deflação (Hesp, 1996; 2002), enquanto que as regiões recebedoras dos sedimentos
“soprados” pelo vento são chamadas de Lobos Deposicionais (Hesp, 1996; 2002) ou Áreas de
Repouso ou ainda Faces de Deslizamento (Lyrio, 1996; Accioly, 1997). A magnitude dos
“blowouts” que podem ser classificados nos tipos trough “calha” e soucer “prato”, sendo que
variações locais podem evoluir dos tipos acima citados (Hesp, 2002). Sua origem esta
Na área de estudo, dunas do tipo “blowout” foram mapeadas tanto sobre os Terraços
Pleistocênico, os “blowouts” (Figura 14) ocorrem de forma subparalela a linha de costa, com
altura dos lobos deposicionais variando entre 10 a 15 metros, ocupando 11ha do terraço
marinho e com orientação predominante de SE e E (Figura 15). Suas bacias de deflação estão
ocupadas por zonas úmidas temporárias ou por vegetação aberta organizada em moitas
(Dominguez, com pess.) (Figura 16). De fato em toda área de ocorrência destas bacias de
orientações de Nordeste também foram observadas ao Sul desse Campo de Dunas (Figura 17).
Figura 14. Detalhe de dunas do tipo “blowout”, sobre o Terraço Marinho Pleistocênico.
44
Figura 15. Detalhe de dunas tipo "blowout” sobre o Leque Aluvial Pleistocênico com
orientação NE.
45
SE
NE
Figura 17. Detalhe de dunas do tipo “blowout” sobre o Terraço Marinho Pleistocênico com
faces de deslizamento orientadas para NW e SW, associadas respectivamente a ventos de SE
e NE.
47
5.2. Vegetação
distintas que foram classificadas com base nas terminologias empregadas em outros estudos
sobre a vegetação de restinga no Brasil (Araújo & Henriques 1984; Henriques et al., 1986;
Silva, 1998; Assumpção & Nascimento, 2000), sendo estas denominadas de (i) Mata Seca
(MatSec), (ii) a Mata Periodicamente Alagável sobre Leque Aluvial Pleistocênico (MatPa),
(iii) Mata Periodicamente Alagável sobre o Terraço Pleistocênico (MatPaTe), (iv) Mata de
Duna (MatDun), (v) Restinga em Moitas Esparsas sobre o Terraço Marinho Pleistocênico
(RestMoiDen), (vii) Vegetação Hidrófila em Zonas Úmidas (VegZu) e (viii) Formação Praial
semelhança ambiental nas áreas de ocorrência das fitofisionomias citadas é sugerida, o que
também sugere semelhanças ambientais nas áreas de ocorrência das mesmas. Estas quando
obteve em média 15,60m de altura enquanto que a Mata Seca 8,28m. A Restinga em Moitas
respectivamente (Figura 19). As informações acima quando cruzadas com a distribuição das
fisionomias na área de estudo, demonstram uma redução do porte das espécies em direção a
linha de praia.
300
250
N° de indivíduos
200
150
100
50
0
RestmoiDen RestMoiEsp MatSec MatPaTe MatPa MatDun
Fitofisionomias
16,00
14,00
12,00
Altura média (m)
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
MatPa MatSec MatPaTe MatDun RestMoiDen RestMoiEsp
Fitofisionomias
Formação Barreiras, constata-se uma fisionomia vegetacional fechada onde as espécies mais
abundantes são Poecilanthe itapuana, seguida de Swartzia apetala (Figura 20). Estas ainda
constituindo ainda as espécies mais importantes (Tabela 01). A Mata Seca se apresenta com
altura média de 8,12m, de sinúsia arbórea marcante com a formação de um dossel pouco
contínuo (Figura 21). Todavia esta contigüidade do dossel é quebrada, em áreas onde o solo
Seca é a ocorrência dos piaçavais, amplas populações de Atallea funifera (Figura 22). Foram
Gochnatia sp., Guettarda platypoda, Hohenbergia sp., Inga affinis, Jacaranda obovata,
Lafoensia sp, Manilkara salzmanii, Myciaria floribunda, Myrtaceae sp.1, Myrtaceae sp.2,
Poecilanthe itapuana (Figura 23 e 24), Protium bahianum (Figura 25), Ruellia sp. e Scleria
scandens.
Protium bahianum
Myrcia guianensis
Myrtaceae sp.1
Manilkara salzmanii
Espécies
Guettarda platypoda
Leguminosa sp.1
Hirtella ciliata
Alibertia sp.
Vismia ferruginea
Swartzia apetala
Poecilanthe itapuana
0 5 10 15 20 25 30 35
N° de indivíduos
Figura 21. Limite interno da Mata Seca (MaTSec), no topo do Leque Aluvial
Pleistocênico.
Figura 22. Manilkara salzmanii e Attalea Figura 23. Poecilanthe itapuana, espécie
funifera. Espécies comuns na Mata Seca dominante na Mata Seca (MaTSec).
Seca (MaTSec).
52
Figura 24. Poecilanthe itapuana. Espécie Figura 25. Protium bahianum. Espécie típica da
dominante da Mata Seca (MatSec). Mata Seca (MatSec).
Esta outra fisionomia fechada ocorre limitada a Oeste pelo rio Imbassaí e a
Leste pelo Leque Aluvial Pleistocênico. Sua altura média é de 14,49m e as espécies
Morfoespécie5 (Figura 26). As populações das três primeiras espécies totalizam 46,34%
também as que apresentaram o maior índice de valor importância (Tabela 02). O solo
nesta formação encontra-se hidricamente saturado, sendo que nos meses chuvosos, o
lençol freático aflora (Figura 27). Em seu sub-bosque encontram-se espécies tanto
serrulatum (Figura 28), Anthurium bellum (Figura 29) e Bonettia stricta, espécies
estudo como a Heliconia psittacorum (Figura 30), Ruellia sp., Philodendron imbe. Foram
nitens, Erythroxylon ovalifolium, Ficus sp., Geonoma pohliana, Inga affinis, Lygodium
guianensis. Uma espécie de palmeira Geonoma pohliana (Figura 31) teve ocorrência
exclusiva nesta fisionomia. A Geonoma schottiana uma espécie similar, foi considerada
(Silva, 1998). O limite desta fisionomia com a Mata Seca se diferencia pela ocorrência de
uma linha de “dendezeiros” (Elaeis guianensis) (Figura 32), e uma abrupta quebra da
topografia local.
Inga affinis
Morfoespécie4
Bonettia stricta
Morfoespécie6
Morfoespécie1
Espécies
Morfoespécie3
Morfoespécie2
Rheedia gardeneriana
Emmotum nitens
Morfoespécie5
Erythroxylon ovalifolium
Tapirira guianensis
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Nº de Indivíduos
Figura 27. Lençol freático aflorado de Figura 28. Blechnum serrulatum, espécie típica de
Mata Periodicamente Alagável (MatPa). áreas onde ocorre afloramento do lençol freático.
Fisionomia de Mata Periodicamente Alagável
(MatPa).
55
Figura 29. Anthurium bellum espécie típica Figura 30. Heliconia psittacorum espécie
de sub-bosque na Mata Periodicamente típica de sub-bosque na Mata
Alagável (MatPa). Periodicamente Alagável (MatPa).
Figura 31. Geonoma pohliana, uma espécie Figura 32. Ocorrência de Elaeis guianensis
de palmeira exclusiva na Mata (dendezeiro) na Mata Periodicamente
Periodicamente Alagável (MatPa). Alagável (MatPa).
56
fechada, com altura média de 6m, localizada nas áreas deprimidas. Interessante aqui é a
elevada abundância de Inga affinis, que representa quase metade do número total de indivíduos
amostrados (Figura 33). O lençol freático aflora sazonalmente ou se encontra muito próximo à
superfície (Figura 34). Espécies paludícolas típicas ocorrem na Mata Periodicamente Alagável
limita-se a ocorrer nas áreas mais deprimidas onde o lençol freático aflora ou encontra-se
muito próximo à superfície. As populações de Inga affinis, (Figura 37), Bonnetia stricta e
Xylopia sp. juntas totalizam 82,54% da Densidade Relativa Total e 88,99% da Dominância
Relativa Total, sendo que Bonnetia stricta desponta como sendo a espécie de maior
Anacardium occidentale
Coccoloba alnifolia
Tapirira guianensis
Espécies
Elaeis guianensis
Xylopia sp.
Bonnetia stricta
Inga affinis
0 5 10 15 20 25 30 35
N° de indivíduos
Figura 33. Abundância das espécies amostradas na Mata Periodicamente Alagável (MatPaTe).
57
Figura 34. Afloramento do lençol freático em Figura 35. Afloramento do lençol freático e
zona deprimida no Terraço Marinho ocorrência de Comolia ovalifolia (a direita) e
Pleistocênico. Blechnum serrulatum (a esquerda) na Mata
Periodicamente Alagável sobre o Terraço
Marinho Pleistocênico (MatPaTe).
5.2.5. Mata de Duna sobre as faces de deslizamento das dunas do tipo “blowout”
(MatDun)
Pleistocênico, a sotavento dos ventos predominantes ocorre outra fisionomia fechada. Nas
dunas do tipo “blowout” sobre o Leque Aluvial Pleistocênico esta fisionomia não foi
abundantes são Coccoloba alnifolia, Ficus sp. e Ocotea notata (Figura 38). Juntas totalizam
62,50% da Densidade Relativa Total e 71% da Dominância Relativa Total, sendo que a
Coccoloba alnifolia apresenta-se como a espécie mais importante (Tabela 04). Estas espécies
apresentam porte menor que as fisionomias citadas anteriormente e incluem algumas espécies
arbóreas que também ocorrem nas outras fisionomias fechadas. Nas áreas de contato com o rio
Imbassaí percebe-se o aumento do porte da vegetação (Figura 39 e 40). A altura das espécies
tende a diminuir em direção a crista da duna, o que sugere uma limitação do crescimento das
espécies envolvidas em conseqüência da ação dos ventos locais (Figura 41). As espécies nas
guianensis, o Ficus sp. e o Protium heptaphyllum ocorrem em outros pontos da Mata de Duna
(Figuras 42, 43 e 44), enquanto que o Acritopappus confertus, espécie arbustiva, ocorre
geralmente nas bordas desta vegetação. Os efeitos causados pelo vento podem ser observados
na torção dos ramos, redução do porte e perfilhamento dos caules. Aspecto já abordado para
Guettarda platypoda
Protium bahianum
Calycolpus legrandii
Espécies
Byrsonima sericea
Diospyros sp.
Swartzia apetala
Ocotea notata
Ficus sp.
Coccoloba alnifolia
0 1 2 3 4 5 6 7
N° de indivíduos
Figura 38. Abundância das espécies amostradas na fisionomia de Mata de Duna (MatDun).
Figura 39. Fisionomia de Mata de Duna Figura 40. Face de deslizamento sobre o leito do
(MatDun). rio Imbassaí. Indicação de onde ocorrem as
Mata de Duna nas faces de deslizamento das espécies de maior porte na fisionomia de Mata de
Duna (MatDun).
Figura 41. Torção dos ramos Figura 42. Andira nitida “angelim” espécie que
(anemomorfismo) de uma mirtácea na crista ocorre na fisionomia de Mata de Duna
da Duna provocada pela ação dos ventos (MatDun).
locais.
61
Figura 43. Ocotea notata “louro” árvore comum Figura 44. Acritopappus confertus “cura-
nas faces de deslizamento na fisionomia de Mata facada” arbusto comum nas faces de
de Duna (MatDun). deslizamento na fisionomia de Mata de Duna
(MatDun).
Este tipo vegetacional ocupa quase que exclusivamente toda a bacia de deflação
do sistema das dunas do tipo “blowout” sobre o Terraço Marinho Pleistocênico (Figura
45). Myrcia guianensis, Emmotum affine e Humiria balsamifera foram as espécies mais
Relativa Total, sendo que Myrcia guianensis, Emmotum affine, Tabebuia elliptica,
vegetal, com exceção de uma flora de pequeno porte e baixa diversidade representada por
condições ambientais favorecidas pela exposição do solo e saturação hídrica, já que esta
zona possui por característica de sua própria origem, lençol freático raso o que favorece
seu afloramento nos meses chuvosos (Figuras 47 e 48). A Clusia hilariana espécie que
Byrsonima blanchetiana
Cuphea brachiata
Alibertia sp.
Manilkara salzmanii
Myrtaceae sp1
Ternstroemia brasiliensis
Espécies
Coccoloba alnifolia
Davilla flexuosa
Tabebuia elliptica
Protium bahianum
Humiria balsamifera
Emmotum affine
Myrcia guianensis
0 10 20 30 40 50 60
N° de indivíduos
Figura 46. Abundância das espécies amostradas na fisionomia de Restinga Aberta em Moitas
sobre o Terraço Marinho Pleistocênico (RestMoiEsp).
Tabela 05. Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas, em ordem decrescente de valor
de importância (IVI).
Figura 47. Aspecto da vegetação na fisionomia Figura 48. Aspecto da vegetação na fisionomia de
de Restinga Aberta em Moitas Esparsas sobre o Restinga Aberta em Moitas Esparsas sobre o Terraço
Terraço Marinho Pleistocênico (RestMoiEsp). Marinho Pleistocênico (RestMoiEsp), associada à
bacia de deflação e cordão duna ao fundo sob o
coqueiral (setas vermelhas).
Figura 49. Moita desenvolvida com Clusia Figura 50. Moita com Tabebuia elliptica em
hilariana, (vermelho) espécies de maior porte e posição destacada na fisionomia de Restinga
em posição destacada Aspecto da vegetação na Aberta em Moitas sobre o Terraço Marinho
fisionomia de Restinga Aberta em Moitas sobre Pleistocênico (RestMoiEsp).
o Terraço Marinho Pleistocênico (RestMoiEsp).
(RestMoiEsp) (Figura 51). Entretanto a Comolia ovalifolia muito comum na vegetação desta
guianensis é a espécie mais abundante em ambas as fisionomias vegetais (Figura 52). Sua
apresentou-se como sendo a espécie dominante e mais importante. Copositae indet., Davilla
Coccoloba sp. e Guettarda platypoda exibiram valores similares para Densidade Relativa
Total indicando certo equilíbrio na colonização destas espécies neste ambiente (Tabela 06). O
solo entre as moitas está quase que totalmente descoberto (Figuras 53 e 54), com raras
Moitas Densas (RestMoiDen) sugere alguma semelhança ambiental. Espécies típicas da Mata
Seca ocorrem também aqui, como a Swartzia apetala, o Calycolpus legrandii, Poecilanthe
itapuana. Na área amostrada, estas espécies representaram as mais abundantes. Aqui foi
registrada também uma maior abundância de indivíduos quando comparada com a Restinga
legrandii ocorrem nesta fisionomia assim como na Mata Seca (MatSec). A colonização de
Figura 51. Aspecto da conectividade entre a Restinga em Moitas Densas (RestMoiDen) e a Mata Seca
(MatSec).
67
Myrtaceae 01
indet 01
Erythroxylon leal-costae
Esenbeckia grandiflora
indet 04
Guettarda platypoda
Coccoloba sp.
Calycolpus legrandii
Espécies
Ouratea suaveolans
Swartzia apetala
Coccoloba alnifolia
Byrsonima sp.
Protium bahianum
Manilkara salzmanii
Byrsonima blanchetiana
Davilla flexuosa
Copositae 01
Myrcia guianensis
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
N° de indivíduos
Figura 52. Abundância das espécies amostradas na Restinga em Moitas Densas (RestMoiDen) sobre
o Leque Aluvial Pleistocênico.
Figura 53. Aspecto da vegetação disposta em Figura 54. Aspecto da borda de uma moita com
moitas cercadas por solo desnudo na Restinga em Allagoptera brevicalyx e Hohenbergia littoralis na
Moitas Densas (RestMoiDen). Restinga em Moitas Densas (RestMoiDen).
Figura 55. Myrcia guianensis a espécie Figura 56. Zona de Transição entre a Mata Seca e
dominante e de população mais densa na a Restinga em Moitas Densas (RestMoiDen).
Restinga em Moitas Densas (RestMoiDen).
69
Sob influência permanente ou sazonal da saturação hídrica do solo, causada seja pela
inundação da planície fluvial dos rios Imbassaí e Santo Antonio, seja pelo afloramento do
lençol freático nas bacias de deflação do campo de dunas ou em antigas drenagens, ocorre uma
vegetação formada por espécies adaptadas a estas condições. A vegetação nestas zonas úmidas
foi classificada em dois tipos: Vegetação Hidrófila Herbácea e Vegetação Hidrófila Arbórea
Este tipo vegetacional é dominado por espécies de pequeno porte, quase todas de hábito
(porte) herbáceo, muitas delas rizomatosas ou estoloníferas. Ocorre nas planícies de inundação
dos rios Imbassaí e nas bacias de deflação encontradas sobre o Terraço Marinho Pleistocênico
(Figura 57). Nas zonas úmidas herbáceas na planície fluvial do rio Imbassaí, as ciperáceas
stricta, “musserengue”, ocorre nas porções mais internas destas planícies, onde este tipo de
vegetação entra em contato ou com a Mata de Duna (MatDun) ou com a Mata Periodicamente
Alagável (MatPa). Outra sinúsia herbácea marcante ocupa as bacias de deflação sobre o
Terraço Marinho Pleistocênico (Figuras 60 e 61). Comolia ovalifolia, juntamente com uma
espécie de Paspalum sp. e duas espécies de ciperáceas totalizam juntas 93,14% da cobertura
total da desta sinúsia (Figura 62). Cyperaceae 02, Cyperaceae 01, Comolia ovalifolia e
70
Paspalum sp., representam as espécies de maior índice de valor de cobertura – IVC (Tabela
07).
Figura 57. Zonas Úmidas Herbáceas na Planície Fluvial do rio Imbassaí e na bacia de
deflação no sistema de dunas do tipo “Blowout” sobre o Terraço Marinho Pleistocênico.
71
Figura 58. Aspecto da Zona Úmida em um Figura 59. Lagenocarpus rigidus, Blechnum
trecho da planície fluvial do rio Imbassaí com serrulatum e Comolia ovalifolia (setas em
a ocorrência de Lagenocarpus rigidus vermelho) em um trecho da planície fluvial do rio
dominando a paisagem. Imbassaí.
Figura 60. Aspecto da Zona Úmida na bacia de Figura 61. Aspecto da Zona Úmida na bacia de
deflação ao sul da Vila de Santo Antonio. deflação a nordeste da Vila de Santo Antonio.
72
Microlícia sp.
Krameria spartioides
Cyperaceae 03
Chamecrista ramosa
Xyris sp.
Cuphea flava
Espécies
Syngonanthus imbricatus
Schultesia guianensis
Cyperaceae 02
Cyperaceae 01
Paspalum sp.
Comolia ovalifolia
Dominância Relativa
Figura 62. Cobertura relativa das espécies amostradas na Vegetação Hidrófila Herbácea da
zona úmida que ocupa bacia de deflação do campo de dunas.
onde o lençol freático aflora (Figura 63). De fisionomia bem distinta das demais mapeadas na
área de estudo, esta fisionomia está representada por poucas espécies. A Annona glabra
Figura 63. Aspecto da Vegetação Hidrófila Arbórea das Zonas Úmidas em antigas
drenagens.
74
Figura 64. Antiga linha de drenagem com Figura 65. Bonettia stricta (setas vermelhas), na
lençol freático aflorado na Vegetação Vegetação Hidrófila Herbácea.
Hidrófila Herbácea.
87,30% da Cobertura Relativa Total esta representada por Remirea maritima, Marsypianthes
75
demonstra a importância destas espécies (Tabela 08). As espécies de pequeno porte são
comuns e dominam a paisagem que é, portanto de aparência rasteira ocupando quase que toda
a superfície das dunas frontais (Figura 71). Alguns arbustos como Maytenus sp., Byrsonima
moitas, mas sempre a sotavento da duna frontal. Mytracarpus sp., Polygala sp., Sporobolus
pes-caprae ocorrem quase que exclusivamente nas primeiras porções das dunas frontais
(Figura 73).
Cyperaceae 01
Commelina sp.
Morfoespécie 1
Myrtaceae 01
Stenotaphrom secundatum
Polygala sp.
E spécies
Ipomoea pes-caprae
Ipomoea stolonifera
Spororbolus virginicus
Mitracarpus sp.
Chamaesyce hyssopifolia
Panicum racemosum
Marsypianthes chamaedrys
Remirea maritima
Cobertura Relativa
Tabela 08. Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas na formação Praial (Fpr)
em ordem decrescente de valor de cobertura. Considerando-se a cobertura como
parâmetro de importância.
Figura 68. Remirea maritima espécie Figura 69. Ipomoea pes-capre. Espécie de
dominante na duna frontal. ocorrência restrita ao início da vegetação
praial na transição com o berma.
Figura 70. Ipomoea stolonifera. Espécie de Figura 71. Vegetação Praial entre o coqueiral e
ocorrência restrita ao início da vegetação praial sobre a duna frontal.
na transição com o berma.
Figura 72. Chamaecrista ramosa (indicada Figura 73. Panicum racemosum (indicada
pela seta vermelha) de ocorrência restrita aos pela seta vermelha) e Ipomoe pes-caprae
limites internos da duna frontal e Remirea (indicada pela seta azul). Espécies de
maritima, espécie dominante na área de ocorrência restrita a face externa da duna
estudo ramosa (indicada pela seta azul). frontal.
78
de cluster apontam para uma forte influência do vento (velocidade) e solo (granulometria,
independentes.
orgânica, não ultrapassando diferenças acima de 3%, o que se expressa pela similaridade dos
79
abundância das espécies na RestMoiDen, está associada provavelmente a uma oferta maior de
matéria orgânica no solo (Tabela 10) quando comparada a RestMoiEsp e ao fato de estar em
contato com a Mata Seca (MatSec), da qual propagam-se espécies que colonizam a
RestMoiDen. Outro grupo identificado é formado pelas Matas Seca (MatSec) e a Mata de
possivelmente pelos valores obtidos para granulometria e matéria orgânica, o que também se
obtidos para a RestMoiEsp, são superiores para àqueles obtidos para aqueles obtidos para Mata
de Duna (MatDun) (Tabela 10). A variável velocidade do vento parece ser um fator diferencial
(MatDun), já que a granulometria das unidades geomorfológicas é muito similar entre estas. A
posição a sotavento da MatDun em relação aos “blowouts” e o teor de argila, que na Mata de
agrupa-se de forma menos similar com as Matas Seca e a Mata de Duna, cerca de (75%),
orgânica (Tabela 10). A diferença mesmo que pequena entre os teores de matéria orgânica das
composição das espécies, marcada pela baixa similaridade florística com outras formações,
lençol freático, a Mata Periodicamente Alagável, localizada entre o sopé do Leque Aluvial
encontrados na MaPaTe (Tabela 10), e os menores valores para a velocidade do vento obtidos
maior porte com ocorrência de espécies exclusivas a esta fisionomia, como de espécies
características das fisionomias florestais de solos mais antigos sobre a Formação Barreiras.
de Duna talvez como decorrência das similaridades na granulometria e nos valores para a
quaternária local.
comparada às outras fitofisionomias, como resultado provavelmente nos teores de areia fina,
determinantes sobre a composição das espécies locais. Estes fatores condicionam a sustentação
de uma vegetação com características peculiares, de porte reduzido, com grande capacidade de
SILTE
Ni Riqueza DoAT Vel. Vento (m/s) Prof. Lençol Freático (m) Materia Orgânica (%) ARGILA (%) (%)
MatPa
MatPaTe
MatSec
MatDun
RestMoiDe
RestMoi
ZU
Fpr
Figura 74. Dendrograma da análise de cluster entre das diferentes formações
vegetacionais.
83
antiguidade deste depósito pode ser atestada pela ocorrência de espécies na vegetação da
restinga estudada e comum em formações florestais mais antigas sobre a Formação Barreiras
como a Geonoma pohliana e o Emmotum nitens. Quanto a primeira, esta possui ocorrência
nas Florestas Ombrófilas do litoral sul da Bahia (Lorenzi, 2004). Os teores de matéria
orgânica nesta unidade geomorfológica são bem maiores que nas demais fitofisionomias
sugerindo um maior período de colonização das espécies vegetais desde a estabilização destes
sedimentos.
exposição da vegetação aos ventos locais, o que pode ser observado no porte reduzido das
espécies arbóreas ocorrentes na Mata Seca (MatSec). Ainda sobre o Leque Aluvial
Pleistocênico, em áreas ainda mais expostas à ação dos ventos e com o solo pobre em matéria
na área de estudo, grande parte do Terraço Marinho Pleistocênico constitui uma extensa bacia
84
cerca de 16.000 AP., quando a plataforma continental se encontrava exposta. Em áreas mais
deprimidas, onde o lençol freático aflora sazonalmente, Zonas Úmidas temporárias são
altamente influenciada pela topografia deste tipo geomorfológico. Sob influência da dinâmica
deste sistema de dunas, duas comunidades vegetais são mantidas, a Mata de Duna e a
Restinga em Moitas Esparsas ao longo da bacia de deflação. O vento age ainda diretamente
plantas do pós-praia e das dunas frontais são na maioria espécies perenes com crescimento
clonal. As espécies que ocorrem sobre as dunas frontais são selecionadas de acordo com a
tolerância de cada espécie a variação da salinidade local, água, nutriente e condições edáficas,
causadas por distúrbios erosivos e construtivos das dunas frontais, relacionados estes muitas
vezes aos regimes de vento e aos padrões da deposição de sedimentos (Cordazzo & Seeliger,
2003).
85
6. Considerações finais
que tange a ocorrência de dunas do tipo “blowout”. A topografia deste tipo dunar proporciona
uma variedade de condições ambientais que por sua vez são determinantes na manutenção de
assim como na manutenção de Zonas Úmidas específicas. Sobre as faces de deslizamento dos
lobos deposicionais, a sotavento das dunas, predomina a Mata de Duna (MatDun). Sua flora
muito similar à RestMoiEsp e a MatSec, é diretamente influenciada pela topografia dos lobos
deposicionais que funcionam como anteparo aos ventos locais, dando condições às espécies
mas sim a argila, vento e conectividade com a Mata Seca. A topografia do Terraço Marinho
(RestMoiEsp).
costa (NE-SW), associadas ao regime dos ventos (intensidade e freqüência), distância da linha
86
de costa e o teor de matéria orgânica condicionam a flora e fauna locais e seu potencial para
água subterrânea.
Esta compreensão a partir de agora, deve nortear as ações e os padrões de uso da terra na
planície quaternária do Litoral Norte do Estado da Bahia, que se encontra hoje sob a pressão
Litoral Norte requer antes de tudo a preservação de sua base física que são os depósitos
em grande escala deste sistema, principalmente da topografia local, que pode ser causada na
maioria das vezes ou pela remoção irregular de areia, terraplanagem ou simplesmente pela
obstrução dos ventos locais, podem afetar de forma significativa a vegetação natural. Perda de
7. Referências Bibliográficas
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Anexos
Mapa Geológico – geomorfológico
96
Mapa de Vegetação