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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA -UEPB

ESCOLA AGRÍCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – EAAC


CAMPUS II – LAGOA SECA – PB

MANEJO DE RECURSOS HÍDRICOS

PROFESSOR: FRANCISCO JOSÉ LOUREIRO MARINHO

ALUNO:________________________________________

JULHO DE 2004
2

SUMÁRIO

USO RACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS ----------------------------------------------------------- 3

CAPTAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE ÁGUA -------------------------------------------------------- 12

CONSERVAÇÃO DE ÁGUA----------------------------------------------------------------------------------- 22

MANEJO DA ÁGUA EM FUNÇÃO DA QUALIDADE-------------------------------------------------- 25

USO DE ÁGUA
29
RESIDUÁRIA---------------------------------------------------------------------------------

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA----------------------------------------------------------------------------- 32
3

MANEJO DE RECURSOS HÍDRICOS

1 – USO RACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

A maneira adequada de se utilizar racionalmente os recursos hídricos deve se baseada no


conhecimento detalhado das condições edafo-climáticas (solo e clima) da região de atuação.

1.1. – Conceitos básicos de climatologia.

O clima apresenta grande influência sobre a agricultura e pecuária, havendo necessidade do


técnico agrícola ter informações detalhadas sobre as características climáticas da região de sua
atuação. No estudo de clima, se deve destinguir:
a –Os elementos climáticos, como temperatura, luz e precipitação
b – Fatores que influenciam os elementos climáticos, tais como: circulação geral da atmosfera
(ventos, massas de ar), latitude, proximidade de oceanos, mares e lagos, ou influência de correntes
marinhas (quentes ou frias), altitude e configuração do relevo, a vegetação e o próprio homem.

1.1.1. Elementos climáticos

Uma série muito grande de elementos influi no clima; dentre eles, para efeito de agricultura,
pode-se destacar: temperatura, umidade (precipitação) e luminosidade.

 TEMPERATURA

È um dos principais elementos do clima, pois influencia diretamente na evapotranspiração


das culturas. No Brasil a temperatura deve ser medida em graus centígrados (º C) através de
instrumentos chamados termômetros.
Para efeito de caracterizar um clima, se devem conhecer as médias de temperatura (médias
diárias, mensais e anuais). A diferença entre as temperaturas extremas, temperatura máxima e
temperatura mínima, recebe o nome de amplitude térmica; existindo amplitudes térmicas diária,
mensais e anuais.
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Koppen dividiu a terra em cinco zonas térmicas, considerando a temperatura no decorrer do


ano:

1º) Zona tropical, em que a temperatura, por todo o ano, é sempre superior a 20 º C;
2º) Zona subtropical, em que alguns meses apresentam temperatura superior a 20 º C (8
meses), e alcançando temperaturas máximas e mínimas de 7 º C a 18 º C durante os meses
mais frios.
3º) Zona temperada, as temperaturas são inferiores a 20 º C no mínimo por 8 meses do ano.
4º) Zona fria, com apenas 4 meses de temperatura superiores a 10 º C;
5º) Zona polar, durante todo o ano a temperatura é inferior a 10 º C.

 UMIDADE

A umidade, quer seja do solo ou da atmosfera, é outro elemento de grande influência no


ecossistema. Quando se fala em umidade, referindo-se a clima, pensa-se, sobretudo, em
precipitação ou chuva. Além disso, outro fator importante que deve ser levado em consideração nos
estudos agrícolas é a umidade relativa do ar que é definida como a relação de água no ar ambiente
para a quantidade total de umidade que pode ser carreada no ar numa determinada temperatura
ambiente, expressa como percentual. Por exemplo, umidade relativa igual a 40% significa que o ar
ambiente contém apenas 40% da capacidade desse ar em carrear umidade numa determinada
temperatura.
A medição da quantidade de água caída é feita pelos pluviômetros ou pluviógrafos; é medida
pela altura da camada que forma no solo quando cai; essa medição é realizada em milímetros de
altura.
Levando-se em consideração somente às precipitações pluviométricas, podem-se ter os
seguintes tipos de clima.
- Clima árido, com precipitações inferiores a 250 mm por ano;
- Clima semi-árido, quando as precipitações anuais se encontram na faixa de 250 a
500 mm por ano;
- Clima subsumido, quando as precipitações se encontram na faixa de 500 a 1000
milímetros por ano;
- Clima úmido, com precipitações na faixa de 1000 a 2000 mm por ano;
- Clima superúmido, quando as precipitações são superiores a 2000 mm por ano.
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 LUMINOSIDADE

A quantidade de luz é uma característica climática importante, muito especialmente como


parte significativa do ambiente das plantas. A ação da luz está intimamente ligada à ação da
temperatura.
Levando-se em consideração a luz, a planta pode ser classificada:

 Plantas de luz ou heliófitas;


 Plantas de sombra ou umbrófilas.

A luz tem, na planta, influência direta sobre a fotossíntese, processo pelo qual a planta
realiza a síntese (formação) dos produtos orgânicos a partir da luz, do ar e dos nutrientes retirados
do solo. A luminosidade se refere ao número de horas de luz de um dia, de um mês, de um ano.
Nas regiões tropicais (entre os trópicos de Câncer e Capricórnio) o dia tem quase 12 horas
de luz durante o ano todo; nas regiões polares, no verão os dias têm 24 horas de duração.
Existem plantas que se adaptam melhor a dias longos e plantas que se adaptam a dias curtos;
dificilmente as plantas de dias longos podem viver em regiões de dias curtos e vice-versa.

1.2 Conceitos básicos de classificação do solo

Quando se pensa em qualquer trabalho no setor agrícola é necessário se conhecer não


apenas as características do clima mais, também as características do solo da região. Nestas
características se deve avaliar não apenas a parte superficial do solo mais o perfil que caracteriza o
solo.
O exame duma seção vertical de um solo, conforme encontrado no terreno, revela a presença
de camadas horizontais mais ou menos distintas. Tal seção é denominada perfil e as camadas
isoladas são chamadas horizontes. Estes horizontes superpostos ao material originário recebem a
designação coletiva de "solum", termo latino original, que significa solo, terra ou fração de terra.
Os solos recebem determinadas designações (nomes) de acordo como se apresenta o seu
perfil. A classificação dos solos varia de acordo com o país e as normas científicas prevalecentes.
Recentemente a Embrapa publicou um manual com a nova classificação. Contudo boa parte do
material bibliográfico ainda cita a classificação antiga da Sociedade Brasileira de Pedologia. (no
anexo temos alguns tipos de solos com suas respectivas fotos).
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1.3 Recursos Hídricos – Uso Racional

Na utilização racional de recursos hídricos deve-se planejar adequadamente a captação, o uso


quantitativo, a conservação e o reuso das águas, bem como o manejo da água de acordo a qualidade.
Os temas captação, conservação, reuso e manejo de acordo com a qualidade da água encontra-se
nos capítulos 2º e 3 º, 4 o e 5 º respectivamente.
As principais demandas na utilização de recursos hídricos são abastecimento humano e
doméstico, animal e consumo agrícola.
- Consumo humano: a água destinada para beber e cozinhar. É a demanda de menor volume,
mas de mais alta exigência de qualidade e constância. Se esta qualidade não se verifica, muitos
efeitos negativos a saúde das pessoas tendem a ocorrer;
- Consumo doméstico: a água é destinada para lavagem (roupa, cozinhar, banho, etc.)
Necessita de um volume maior do que a precedente, mas de qualidade não necessariamente tão boa.
A demanda é permanente.
- Consumo animal: a quantidade da água pode ser um fator significativo para saúde dos
animais, e a demanda é permanente. Os volumes podem ser consideráveis, dependendo do tamanho
e composição do rebanho e cardumes.
- Consumo agrícola: pode ser destinguido entre as áreas de irrigação e as de sequeiro. As
primeiras em termos absolutos exigem menos água porem o consumo podem ser durante o ano
inteiro. As segundas dependem diretamente das águas das chuvas para serem utilizadas na
agricultura, portanto suas demandas são periódicas.

1.3.1. Fator quantidade.


Os diferentes componentes dos agroecossistemas para funcionarem a contento, têm
exigências diferenciadas em termos de volume de água. Estes volumes variam substancialmente
como se vê nos dados a seguir:
 Consumo humano: no mínimo 3 litros /pessoas /dia.
 Consumo doméstico: no mínimo 7 litros / pessoa/ dia
 Consumo animal:  Caprinos/ovinos: entre 6 a 11
L/cab./dia
 Bovinos: entre 40 e 80 L/cab/dia
 Equinos: entre 40 e 70 L/ cab/dia
 Suínos: entre 6 e 16 L/cab/dia
 Aves: entre 0,2 a 0,4 L/cab/dia
 Consumo agrícola: vária em
função da espécie cultivada
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1.3.2. Quantidade de água a aplicar na irrigação.

Um dos capítulos mais importantes no Manejo de Recursos Hídricos se refere à quantidade


de água a se aplicar na irrigação. Apenas um evento de irrigação pode consumir cerca de 200.000
litros de água em apenas um hectare.
O uso da irrigação é um fator de estabilização nacional e regional na agricultura. Em regiões
semi-áridas, a exemplo da região Nordeste do Brasil, raras culturas podem se desenvolver sem uso
da irrigação. Irrigação reduz os riscos com os outros investimentos como: preparação do solo,
plantio, fertilizante e controle cultural. A média da produção de culturas irrigadas em regiões áridas
e semi-áridas são normalmente duas ou três vezes maiores do que a média da produção em culturas
de sequeiro.
A irrigação tem sido praticada com sucesso em regiões áridas/semi-áridas por mais de dois
milênios. A expansão da irrigação tem sido rápida nos últimos 50 anos. Contudo, têm faltado ações
pertinentes para resolver os problemas inerentes a esta atividade, relacionados à conservação de
água e os efeitos deletérios ao meio ambiente. O aumento da competitividade e a degradação da
qualidade da água têm proporcionado questionamentos sobre o gerenciamento da irrigação em todo
o mundo.
A aplicação de alta tecnologia em equipamentos de irrigação não é suficiente para garantir o
sucesso de um empreendimento frutícola. O planejamento adequado das práticas de irrigação é
prática indispensável para o sucesso de qualquer empreendimento. Planejamento da irrigação é um
termo comumente usado para descrever os procedimentos para determinar como, quando e a
quantidade de água que será utilizada. Em princípio, é possível planejar ou controlar as bases dos
programas de irrigação, monitorando o solo, o clima e/ ou o microclima e as plantas. Sensores que
medem o teor de água no solo podem ser instalados em diferentes profundidades da zona radicular
das culturas e usados com sistema de controle automático para iniciar a aplicação das irrigações. A
umidade do solo pode ser determinada usando o método gravimétrico, o tensiômetro, os blocos de
resistências, a sonda de neutro e o TDR (refletômetro de domínio de tempo). O momento de se
efetuar as irrigações pode ser estimado através de sintomas visuais de déficit hídrico nas plantas,
que às vezes são difíceis de ser detectados e às vezes os são muito tardiamente, para fins de manejo
de irrigação, isto é, quando observados, os seus efeitos já comprometeram a produção ou a
qualidade do produto. Geralmente, esses sintomas estão relacionados à tonalidade da coloração das
folhas, enrolamento de folhas, ângulo da folha, etc. O ideal seria monitorar o status de água na
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planta através do potencial de água na folha, abertura dos estômatos ou outros parâmetros
relacionados com o déficit de água, como temperatura das folhas (termômetro a infravermelho),
índices de estresse hídrico, fluxo de seiva etc, mas os equipamentos são caros e a metodologia é
complexa. O monitoramento do status de água na planta é atualmente, portanto, mais utilizado na
pesquisa, em que se requer maior precisão.
No planejamento da irrigação se permite reduzir o nível de água disponível na zona
radicular das culturas a níveis adequados para as condições de solo e planta, tal redução pode
alcançar até 50% dos valores entre a capacidade de campo (capacidade de armazenamento de água
no solo) e o ponto de murcha permanente. No caso do monitoramento da umidade do solo, a
quantidade de água aplicada pode ser prevista, podendo ser aplicada uniformemente através do
sistema de irrigação, baseado em cálculos do total da quantidade requerida para recarga da zona
radicular das culturas ou valores menores.
O manejo da irrigação constitui uma técnica muito importante do ponto de vista econômico
e ambiental numa atividade agrícola. Através de um manejo adequado da irrigação, pode-se
economizar água, energia, aumentar a produtividade da cultura e melhorar a qualidade do produto.
O déficit de água pode reduzir a produção e/ou a qualidade do produto, enquanto o excesso de
irrigação, além das perdas de água e energia, pode contribuir para a lixiviação dos nutrientes e
agroquímicos para as camadas inferiores do solo ou até mesmo atingindo o lençol freático. Em
regiões áridas e semi-áridas, o uso inadequado da irrigação pode levar também à salinização do
solo. Por outro lado, através do planejamento e manejo adequado da irrigação e de outras práticas
culturais, pode-se programar a produção de algumas culturas e alcançar melhores preços na
entressafra.
Os laboratórios e estações meteorológicas podem coletar informações, necessários ao
dimensionamento e ao manejo de projetos, enquanto os fatores culturais, como ciclo, períodos
críticos e coeficientes culturais, são produtos de trabalhos de pesquisa desenvolvidos para cada
cultura, em condições específicas.
Em projetos de irrigação o estabelecimento do “calendário de irrigações” é uma estratégia
que utiliza basicamente o balanço de água no sistema solo-planta-atmosfera. O termo “calendário de
irrigações” significa estimar os intervalos (turno de rega) e as lâminas de água (total de água a ser
aplicado em condições de máxima demanda atmosférica) a serem aplicadas ao longo do ciclo da
cultura, com base nas condições de clima de anos anteriores, dados do solo e da cultura. Esse é o
método mais simples de ser utilizado pelos produtores, uma vez que o calendário das irrigações
pode ser elaborado antes mesmo do plantio, contendo datas e tempo de funcionamento do
equipamento. A principal fonte de erro nesse método é que se considera a média histórica de dados
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climáticos como sendo semelhante às condições climáticas do período em que a lavoura estiver
sendo conduzida. Nesse método, o solo é considerado um reservatório de água, cuja capacidade
depende da profundidade do sistema radicular e de suas características físico-hídricas.
Considerando que a principal perda de água desse reservatório é devido a evapotranspiração da
cultura (ETc), não é difícil visualizar que as datas das próximas irrigações e as totais a ser aplicado
podem ser estimadas conhecendo-se a taxa da ETc, a capacidade de armazenamento de água do solo
e a eficiência do sistema de irrigação.

Cálculo da lâmina de água a ser aplicada

LL = (CC - PMP) Ne Z da 10

Sendo:
LL - Lâmina líquida de irrigação (mm)
CC - Conteúdo de água no solo na capacidade de campo (g.água/g.solo)
PMP - Conteúdo de água no solo no ponto de murcha permanente (g.água/g.solo)
Ne - Nível de esgotamento permissível (%)
Z - Profundidade do sistema radicular (cm)
da = Densidade aparente (g de solo/cm3 de solo)
Cálculo da lâmina bruta (LB) ou quanto irrigar:
LB = LL/Ef
Sendo:
LB - Lâmina bruta (mm)
Ef - Eficiência de aplicação (%)

Predição de quando irrigar


Para estimar as datas em que as irrigações deverão ser realizadas, há necessidade de se
estimar o consumo diário de água da cultura ou evapotranspiração da cultura (ETc), sendo,
portanto, necessário estimar a evapotranspiração de referência (ETo) e o coeficiente de cultura Kc.

TR = LL/ETc
ETc = Kc ETo
Sendo:
TR – Turno de rega (dias)
10

LL – Lâmina líquida de irrigação (mm)


ETc - Evapotranspiração da cultura (mm.dia - 1)

EFICIENCIA DE IRRIGAÇÃO (Ei)

A obtenção de boas produções com menor quantidade possível de água aplicada torna a
irrigação efetiva. A Ei vem a ser a porcentagem de água incorporada ao solo na zona de
profundidade efetiva das raízes, sob a forma disponível, em relação à água derivada do reservatório
ou rio. Logo, poderá ser assim equacionada:

Água incorporada ao solo Vi


E1 = 100 = 100
Água derivada da fonte Vd

As perdas de água ocorrem devido a diversos fatores: o método de irrigação, a técnica usada
dentro de cada método, as perdas por evaporação durante a aplicação, a infiltração nos canais de
condução etc.
O método de irrigação localizada apresenta eficiência de 90 % ou mais; o método por
aspersão apresenta uma eficiência de irrigação de 65 a 85% ; o de sulcos de infiltração e o de
inundação de 25 a 60%.

1.3.3. Irrigação de salvação

As localidades que tenham garantido as águas para consumo humano e animal, deverão utilizar
as águas de açudes e barreiros e barreiros para garantir a colheita através da irrigação. Pois se estas
água não forem rapidamente utilizadas serão perdidas por evaporação (1,5 a 2,0 metros por ano).

1.3.4. As disfunções hídricas do agroecossistema:

Primeiramente podemos distinguir dois tipos de disfunções, quais sejam:

 Os déficits;
 As degradações ambientais.
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1.2.4.1 – Os déficits:

Os déficits ocorrem quando o consumidor encontra-se na impossibilidade de ter acesso a


água de acordo com suas demandas específicas, de acordo com os fatores quantidade, qualidade e
tempo. Em geral as demandas são relativas a:

 Exigência em qualidade;
 Exigência em quantidade e no decorrer do tempo
 Transporte e armazenamento (caso o consumo não seja no local da fonte).

1.2.4.2. As degradações ambientais:

Entende-se por degradação qualquer modificação de um ou vários componentes ambientais


(solos, água, vegetação, animais, etc.) que levem a diminuição irreversível ou não, do potencial
agro-silvi-pecuário de um dado local.
As degradações mais importantes que provocam alteração negativa no balanço hídrico dos
agroecossistemas são: erosão, salinização e poluição.

1.2.5. - Otimização do uso dos recursos hídricos:

De maneira geral as intervenções nos sub-sistemas hídricos dos agroecossistemas tem uma ou
mais das três finalidades expostas nos esquema seguinte:
AUMENTAR A QUANTIDADE DE ÁGUA DISPONÍVEL 12

ÁGUA SUBTERRÂNEA ÁGUA SUPERFICIAL


Favorecer o armazenamento e as Favorecer o escoamento superficial
infiltrações e o armazenamento e reduzir as
perdas

MELHORAR A GESTÃO
APROVEITAR AS ÁGUAS Reduzindo a poluição, o desperdício e
Através da perfuração de poços, as degradações
bombeamento para o consumo
humano, animal, irrigações e
piscicultura.

Os meios concretos para realizar estas intervenções no agroecossistemas poderão ser:


 Reorganizar a gestão dos recursos hídricos (sem investimento). Por exemplo: evitar
poluição por sabão, venenos, e dejetos nas fontes.
 Realização de infra-estruturas (com investimentos). Por exemplo: construção de açudes,
barragens subterrâneas, cisternas, de poços, chafariz, etc.
 Aquisição de equipamentos e/ou materiais (com investimento). Por exemplo: conjunto de
irrigação, subirrigação, etc.

A alteração de qualquer agroecossistema depende de vários fatores ambientais que devem ser
analisados criticamente. Entretanto, de nada adianta uma boa análise das características ecológicas
da fazenda se não forem consideradas as perspectivas do principal agente das alterações e seu maior
interessado: o agricultor.

2 - CAPTAÇÃO E ARMAZENAMENTO E ÁGUA

Em tempos recentes, têm ocorrido inesperadas e persistentes secas em parte da África tendo
repercussão internacional. Secas tem também ocorrido com grande freqüência e severidade na
Índia, Japão, Europa, Canadá, Nordeste do Brasil e outros países durante a década de 80 e 90.
A seca é um evento natural, temporário que provoca o desbalanceamento na disponibilidade de
água devido a chuvas abaixo da média, e que possui freqüência, duração e severidade imprevisíveis.
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Embora a seca e a baixa disponibilidade de água ocorra em todo as regiões, os impactos mais
severos são nas regiões áridas e semi-áridas. A prática da captação e armazenamento e água é muito
importante em qualquer circunstância, contudo é particularmente importante para as regiões áridas e
semi-áridas do mundo.
O armazenamento de água das tempestades ou fortes eventos de chuva são um aspecto de
fundamental importância para sobrevivência do homem. A água pode ser armazenada em
reservatórios superficiais ou lagos e em aqüíferos subterrâneo (captada através de poços). A
construção de pequenos reservatórios, médios e grandes reservatórios superficiais são medidas
importantes para as regiões semi-áridas/semi-úmidas. Armazenamento de águas subsuperficiais
pode ser aumentado construindo-se represas ou barragens subterrâneas nos riachos ou planície de
inundação e construindo bacias para reter as águas de infiltração.

2.1. Técnicas de captação e armazenamento.

Várias técnicas de captação e armazenamento de água são adotadas. A princípio não existe uma
técnica que se sobreponha às demais, ficando a opção na dependência das condições
hidroclimáticas, hidrogeológicas e a finalidade do uso.

2.1.1. - Cisternas Rurais: Um dos principais efeitos da seca nas regiões áridas e semi-áridas é a
escassez de água de boa qualidade para consumo humano. Dentro deste contexto, a captação de
água através de pequenas cisternas que permitam assegurar água para consumo humano durante
todo o ano, exerce um papel preponderante principalmente com respeito à saúde do homem do
campo. A técnica de captação e armazenamento de água de chuva através de cisternas, apesar de ser
fundamental, é pouco difundida entre os agricultores de baixa renda. Este baixo nível de difusão
está diretamente ligado ao elevado custo de construção das cisternas em relação à renda dos
pequenos agricultores. Entretanto, novas tecnologias na construção de cisternas tem sido
amplamente divulgadas por organizações governamentais e não governamentais como a Embrapa e
o PATAC. Como o caso das cisternas rurais de "placas", que é uma tecnologia alternativa de baixo
custo. As cisternas, que têm capacidade individual de armazenamento de 16 mil litros de água,
sendo construídas pelos trabalhadores rurais de cada comunidade .Além do benefício direto, com a
captação e armazenamento de água doce suficiente para suprir as necessidades de uma família de 6
pessoas durante um período de 6 meses, as comunidades rurais são treinadas na construção das
cisternas, qualificando a mão de obra especializada do homem do campo.
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 Etapas da construção:

1. Após a escolha do local, realiza-se a marcação e a escavação do buraco, que deve ter 4,20
metros de diâmetro e aproximadamente 1,50 metros de profundidade.

2. Paralelamente à escavação do buraco, são construídas, com o auxílio de um kit de formas, as


placas de cimento, as vigas e...

3. a tampa. O fundo da cisterna, recebe uma camada de concreto à base de cimento, brita e areia.
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4. A próxima etapa é o levantamento da alvenaria, seguindo da amarração com ferro, colocação das
vigas e reboco interno e externo.

5. As cisternas são construídas pelos trabalhadores rurais, os quais além de serem beneficiados
diretamente, recebem orientação e acompanhamento.
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6 - Após completamente construídas as cisternas já estão aptas à captação de água de chuva por sistemas de
calhas (bicas) ou alternativamente, ao abastecimento por pipas. Com dimensões de 3,0 metros de diâmetro e
2,40 metros de altura, tem capacidade de acumulação de 16.000 litros de água.

Para se construir uma cisterna de placas são necessários 20 sacos de cimento, 40 Kg de


ferro, 4,0 m3 de areia e 1,0 m3 de brita, além de outros insumos como zinco, tubos e conexões de
PVC, cal e durepox. Considerando que em algumas comunidades há disponibilidade de areia e
brita, além da mão de obra, o custo de uma cisterna de placas alcança em média R$ 900,00
(trezentos e cinqüenta reais).

2.1.2. Reservatórios Superficiais (Barragens, açudes...).

2.1.2.1. Um Pouco de História

Os primeiros açudes do Nordeste foram construídos desde a implantação dos engenhos na


zona da Mata e eram utilizados para desviar a água dos riachos que forneciam energia hidráulica
aos moinhos. No decorrer da colonização do sertão, posteriormente, o pequeno açude apareceu
como uma das soluções ao problema do abastecimento e difundiu-se paulatinamente.
As secas de 1825-1827-1830 marcaram a arrancada da açudagem do Nordeste semi-árido.
Em 1832, o Concelho da Província do Ceará passou a atribuir prêmios a quem construísse um açude
de certas dimensões. A partir de 1844, o Governo Imperial decidiu intervir diretamente,
empregando recursos na construção de estradas e açudes.
A grande seca de 1877 (nessa seca morreu 50% da população do Nordeste) levou o governo
a cogitar projetos de grandes barragens; somente em 1906, porém, ficaria concluído o primeiro
dentre eles, o açude Cedro em Quixadá. O sertão já contava, nessa época, com cerca de 6.000
açudes de todos os tamanhos.
Paralelamente ao desenvolvimento da açudagem pública, e apesar das prioridades oficiais
voltadas para os grandes reservatórios, observou-se o surto espontâneo da pequena açudagem
privada; em l9l5, a região do Seridó (RN) já contava com 710 açudes. Este crescimento perdurou
até os dias de hoje, verificando-se taxas de crescimento particularmente altas depois dos anos de
estiagem mais críticos.

2.1.2.2. O que é um pequeno açude?


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A diversidade dos termos utilizados no Nordeste parta reservatórios de água superficial


(barreiro, tanque, açudeco, açude, barragem, represa...) e o extenso leque de capacidade de
armazenamento dessas obras (desde algumas centenas de metros cúbicos (pequena escavações para
o abastecimento do gado) até os 34 bilhões de m 3 da barragem de Sobradinho) tornam necessário
definirmos a terminologia empregada a seguir.

Adotaremos as seguintes definições:

Barreiro:
O barreiro é uma pequena represa de barro, com sangradouro lateral rudimentar, que seca todo ano
e serve principalmente de bebedouro intermitentes para o gado.
O pequeno açude:
Sem dúvida o mais difundido, serve principalmente para assegurar o abastecimento durante a
estação seca, de maneira a estabelecer a junção entre dois períodos chuvosos, embora não seja de
nenhuma serventia para lutar contra secas prolongadas; a probabilidade de ficar sem água (ou com
água barrenta, não potável) é grande demais para que, em geral, seja a única fonte d’água
disponível.
O açude médio:
Sua capacidade faz com que a probabilidade de secar seja muito inferior àquela do pequeno açude.
Ele permite, no mínimo, atravessar um ano de seca (ano sem escoamento, o que corresponde a 20
meses sem receber água), o que significa não raro, ser ele a principal fonte de abastecimento da
propriedade.
O grande açude:
Trata-se de um reservatório perene (quando pouco ou não utilizado) e geralmente público.
2.1.2.3. Onde e quantos açudes tem o Nordeste?
O número total de açudes no Nordeste, além de apresentar um constante crescimento,
depende muito do limite inferior escolhido, em termos de volume ou superfície. Estimou-se em
70.000 o número de açudes de mais de 1.000 m3 de espelho d’água.
Observou-se, em algumas regiões, densidades de até um açude por 1.5km 2, a qual pode ser
considerada como valor limite. Com essas características, o Nordeste brasileiro destaca-se, depois
da Índia, como a região mais açudada do mundo.
Por outra parte, a (grande) açudagem pública apresenta um balanço de aproximadamente
1.200 a 1.500 açudes de capacidade superior a 100.000 m3, com cerca de 450 barragens de mais de
um milhão de m3.
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A maior concentração de açudes encontra-se nos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do
Norte.
2.1.2.4. Escolha do local para a construção do açude

Os principais critérios a serem levados em conta para a localização da barragem são:

 O uso previsto do açude;


 As características do local escolhido para a construção, do qual dependerão a facilidade de
execução e o custo do empreendimento;
 As características do futuro reservatório, principalmente a profundidade e o volume
armazenável;
 A quantidade e a qualidade dos recursos hídricos da bacia hidrográfica;
 A situação fundiária no local da construção e vizinhanças.

Na prática, as situações ótimas correspondentes a cada um desses critérios, nem sempre se


encontrarão reunidas ao mesmo tempo, devendo-se buscar a solução mais equilibrada. Portanto,
vale lembrar que a procura de um local para o projeto pode relevar-se negativa: nem sempre
existem condições favoráveis, podendo o projeto ser abandonado.

 Escolher o melhor local para construção da barragem

 A largura do “boqueirão”
Procuram-se lugares estreitos a fim de diminuir o tamanho e o custo da futura barragem.

 O declive das encostas do vale


As encostas do vale não devem ser, na medida do possível, excessivamente declivosas,
porque isto dificulta o trabalho do trator e a execução do sangradouro. No entanto, encostas pouco
inclinadas acarretam uma barragem comprida e cara; devem-se encontrar situações intermediárias
equilibradas.

 Quantidade e qualidade do material disponível


A fim de limitar o deslocamento das máquinas (e o custo da obra), a terra necessária à
construção do aterro deve ser removida da área mais próxima possível de local da barragem. Por
isso, na prática, procura-se utilizar o material do fundo do vale (em geral, aluviões) e da parte baixa
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das encostas, logo a montante do local escolhido. Cria-se assim, além do mais, uma caixa que trará
um aumento da profundidade do açude.

 Evitar os afloramentos rochosos


Mesmo que correspondam a um estreitamento do vale ou que seja tentador nelas apoiar a
barragem, áreas de lajedos devem ser evitadas por duas razões:
 A vedação da ligação lateral barragem/rocha é inferior á ligação terra/terra;
 Os lajedos, mesmo se apresentando a princípio sem fendas, podem ter fraturas subterrâneas
que são muito difíceis de evidenciar e de remediar.

 A posição do sangradouro
Geralmente, procura-se um lugar onde a escavação lateral do sangradouro é fácil. Isto leva a
descartar as situações nas quais as duas encostas são muito íngremes e a procurar situações em que,
pelo menos de um lado, exista uma encosta pouco inclinada na altura em que se projeta o
sangradouro.

 A profundidade da fundação
Embora, na maioria dos casos, não se estude antes a profundidade da fundação, é
obviamente preferível construir a barragem em lugares onde esta não será profunda demais.
Sondagem com o auxílio de um trado permite estimar a profundidade em que se encontra o
embasamento rochoso.

2.1.2.5. Necessidade de dimensionamento


O dimensionamento de uma barragem e seu sangradouro é fundamental para o projeto de
construção e de utilização da água do açude.
 Evitar o arrombamento da barragem
 Evitar prejuízos econômicos
 Aproveitar racionalmente a água disponível
 Diminuir a salinização do açude, do perímetro e dos prejuízos para outros usuários da
água situados à jusante.

 Dimensionamento da barragem
O dimensionamento da barragem consiste em compatibilizar a capacidade do reservatório
com o volume escoado no rio ou riacho.

 Se o açude for pequeno demais (sub-dimensionamento):


 Não se aproveitará toda a água disponível. Perdendo-se a maior parte por sangria;
20

 Passara muita água no sangradouro.


Neste caso, será necessário construir um sangradouro extenso e caro.
 Se o açude for grande demais (super-dimensionamento):
 O custo da barragem será excessivo;
 Grandes áreas serão inundadas pela represa;
 O açude encherá e sangrará raramente. Isto poderá provocar:
- A salinização da água do açude;
- Prejuízo para as propriedades situadas à jusante, que raramente receberão água do
riacho.

 Dimensionamento do sangradouro
Se o sangradouro for sub-dimensionado, ou seja, insuficiente para suportar a vazão das
cheias, haverá grande riscos de arrombamento do açude, caso a água chegue a passar por cima
da parede. Por outra parte, se o sangradouro for grande demais, sem necessidade, isto constituirá
um grande prejuízo econômico por causa do custo adicional dessa obra.

Portanto é necessário:
 Estimar a vazão máxima das cheias, no local do futuro açude;
 Prever uma margem de segurança, para se precaver, em particular, contra os riscos de
arrombamento de açudes situados a montante ou da obstrução acidental do sangradouro.

 O dimensionamento é fundamental. Vejam os exemplos a seguir...


 Uma pesquisa abrangendo 57 pequenos açudes mostrou que 88% do total tinham seus
sangradouros sub-dimensionados.
 Na bacia do Piranhas (RN), mais de 275 pequenos açudes arrombaram somente no ano de
1984.
2.1.3. Barragens subterrâneas

As barragens subterrâneas permitem barrar parcial ou totalmente o escoamento subterrâneo


sob o leito dos rios ou outros locais adequados.
Essa estrutura apresenta elevada eficiência na captação de águas em zonas semi-áridas pelos
resultados significativos na redução dos efeitos da seca, pela diminuição das perdas por evaporação
e pela elevação do lençol freático em sua área de influência.
21

As barragens subterrâneas exploradas pelos agricultores no Nordeste, algumas com mais de


50 anos, foram construídas com um septo impermeável implantado, dentro do aluvião preexistente,
a partir da rocha, cuja parede é formada de pedras rejuntadas com argamassa de cimento e areia,
núcleos de argila compactada, ou de tijolos com argamassa de areia e cal.
As barragens subterrâneas são constituídas pelo barramento do fluxo d’água subterrâneo por
meio de um diafragma executado com material de pequena permeabilidade, assente sobre base
impermeável, de modo a formar um aqüífero aluvionar. (represa subterrânea sob aluviões)
Define-se como aqüífero, uma formação de acumulação de água que possibilite a liberação
desta com facilidade, em conseqüência de elevada permeabilidade.
Como a barragem subterrânea visa interceptar o fluxo d’água, o septo ou diafragma
(barramento) deve ser constituído por material que tenha baixa permeabilidade, sendo comumente
utilizado argila compactada, alvenaria de pedra e lona plástica.

 Vantagens e desvantagens.

As principais vantagens das barragens subterrâneas são: pequena perda por evaporação e o
não alagamento das terras que passam a ter o cultivo beneficiado pela elevação do lençol freático,
aproveitando o processo natural de subirrigação em grande parte do ano. Outra grande vantagem
das barragens subterrâneas é quanto ao pequeno custo de construção e manutenção, quando
comparado com outros sistemas de acumulação de água. Também os problemas decorrentes do
rompimento das barragens de superfície não existem nas barragens subterrâneas e, além disso,
eventuais problemas de perda d’água que possam vir a surgir durante o funcionamento do sistema,
serão reparados facilmente.
Outra grande vantagem que deve ser considerada na utilização das barragens subterrâneas
consiste na menor agressão ao meio ambiente.
A principal desvantagem do sistema de barragens subterrâneas refere-se ao risco de
salinização da área de acumulação de água. Neste caso devem-se projetar sistemas de drenagem
que, mesmo em áreas com razoável potencial de salinização, viabilizam o sistema sem aumentar
excessivamente o custo do projeto.
Outra desvantagem apontada na utilização das barragens subterrâneas é quando ao pequeno
volume de acumulação nos aqüíferos superficiais, mas um sistema integrado de algumas barragens
sucessivas pode facilmente superar este problema.

2.1.4 – Poço Amazonas (cacimbão)


22

Esse tipo de estrutura, pelas suas próprias características técnicas (diâmetro, profundidade,
etc.) é utilizado principalmente em áreas aluvionais, onde o lençol freático encontra-se à pequena
profundidade. Esses poços são em geral, utilizados para abastecimento humano e animal, porém
quando a vazão permite podem ser usados para irrigação.
2.1.5. Poços Tubulares.

Os poços tubulares profundos se ajustam às peculiaridades hidro-geológicas de cada local,


sendo utilizados principalmente em áreas de formação sedimentar.
A política de perfuração de poços tubulares tem por objetivo principal atender às
necessidades de água das populações e rebanhos das pequenas cidades, vilas e povoados, situados
na zona rural.

3 - CONSERVAÇÃO DE ÁGUA

Existem muitos opções que as nações, regiões ou fazendas podem utilizar para resolver os
problemas referentes à conservação de água. Diferentes tecnologias visam melhorar o
gerenciamento e a conservação da água. Embora, as tecnologias mais simples não possam resolver
todos os problemas quantitativos e qualitativos da água utilizada na agricultura, as vantagens do
planejamento, do aumento da eficiência da irrigação, do manejo da umidade do solo e do controle
do desperdício da água são inquestionáveis. A seguir veremos o resumo das principais técnicas de
conservação de água

Objetivo Tecnologia
Redução da saída de água  Planejamento da irrigação: Prover de informações de quanto,
quando e como aplicar água de irrigação.
 Aumento da eficiência da irrigação: Instalação de medidas
físicas de controle como: revestimento dos canais, controle
das estruturas e das canalizações, Plantio das culturas em
nível, aumento da automação dos sistemas, etc.
 Redução da evaporação da água: Uso de revestimentos
químicos e objetos flutuantes para impedir que as moléculas
de água escapem.
 Redução da evaporação do solo: Uso de resíduos culturais,
coberturas plásticas, instalação de gotejadores em culturas
arbóreas e gotejadores subsuperficiais em culturas anuais.
 Reduzir o uso da água em vegetação não econômica e
freotípicas. (plantas que baixam o lençol freático) Maior
espaçamento entre as freotípicas, etc.
Redução dos requerimentos de água  Limitação da irrigação: Aplicação de água menor do que a
pelas culturas máxima ET(evapotranspiração) demandada.
23

 Limitação do número de culturas a serem irrigadas:


Utilização da irrigação em áreas mais secas da fazenda, etc.
 Seleção e modificação das culturas: Seleção de plantas
resistentes à seca que podem resistir a períodos secos.

3.1 Gerenciamento da demanda: Os principais aspectos listados para redução da distribuição da


água são: planejamento da irrigação, aumento da eficiência da irrigação, redução da evaporação e
redução do uso da água pela vegetação não econômica. Entre as tecnologias disponíveis, para
redução dos requerimentos de água nas culturas, se inclui a limitação das culturas a serem irrigadas,
seleção e modificação de culturas, modelos de tomadas de decisão e assistência técnica.

3.1.1 Planejamento e controle da irrigação. Planejamento da irrigação é um termo comumente


usado para descrever os procedimentos para determinar como, quando e a quantidade de água que
será utilizada.
3.1.2. Aumento da eficiência e uniformidade da água aplicada. A apropriada seleção da
eficiência e uniformidade é função dos métodos de irrigação e os objetivos desejados no uso da
água. Todavia o melhoramento da eficiência da irrigação pode proporcionar redução do uso das
águas superficiais ou da água bombeada do lençol freático.
O bom aproveitamento da água, em qualquer método de irrigação, ocorre em culturas que
promovem boa cobertura vegetal (Bucks et al. 1982). A evapotranspiração em culturas com
cobertura incompleta, como os espaços encontrados em plantios jovens de culturas arbóreas e uvas,
são menores se poder ser irrigada com sistema de irrigação localizada que não molham toda a área
do solo entre as plantas (Fereres et al., 1982; Middleton et al., 1979).
3.1.3. Redução da Evaporação. A evaporação em lagos, reservatórios e outras superfícies de água
varia de 2 m / ano em condições de clima seco e quente a 1 m / ano ou menos em regiões frias e
úmidas. Reduções na evaporação, no entanto, podem ser maiores do que 60% em condições ideais.
O uso de revestimento químico para reduzir a evaporação, reduzindo a área de superfície livre da
água tem pouca aplicação prática. Em vez disso, maiores sucessos têm sido obtidos nos tanques de
água ou pequenos reservatórios com objetos flutuantes como containeres vazios ou lâminas de
borracha ou isopor (Cooley, 1975).
As evaporações em reservatórios também podem ser reduzidas pela redução da área da
superfície da água. Redução na superfície de água facilita o armazenamento, aumentando-se a
profundidade e reduzindo-se a área reduz-se a evaporação. Onde existe sedimento e materiais
biológicos a lixiviação nem sempre aumenta com o aumento da profundidade do solo. Isto ocorre
porque as camadas de restolho aumentam as forças de compressão ou resistência ao movimento da
24

água. O aumento do restolho pode diminuir as perdas por lixiviação quando à profundidade dos
reservatórios são aumentados (Bouwer, 1988).
Técnicas de redução da evaporação do solo em regiões secas que conservam a água na zona
radicular durante os períodos de pousio para ser usado durante os períodos de cultivo, também são
utilizadas. Conservação da lavoura (incluindo cultivo sem lavras, cultivo mínimo, cultura em sucos,
cobertura morta ou outras formas de gerenciamento dos resíduos) pode também melhorar o controle
do runoff (escoamento superficial) e da erosão do solo (Stewart et al., 1985; Unger, 1986). Contudo
as doenças e os insetos contidos nos resíduos e a falta de desses resíduos como em culturas como
algodão ou sorgo, tem sido problemas em algumas situações. Maiores pesquisas são necessárias
para desenvolver a integração entre a irrigação e a conservação dos restos culturais que mantém a
produção cultural, reduzindo as necessidades de nutrientes, pesticidas, minimizando a poluição da
água e reduzindo a evaporação do solo.

3.1.4. Redução de água usada em culturas não econômica. Ao longo dos rios e riachos, a
vegetação ciliar muitas vezes remove, diretamente, considerável quantidade de água. Além disso, as
raízes de plantas arbóreas absorvem grande quantidade de água do lençol freático. A água usada por
este tipo de planta pode ser reduzida através de limpeza ou adelgaçamento. Mas este tipo de ação
pode prejudicar o meio ambiente e o controle de plantas não econômicas pode ser antieconômico ou
inadequado politicamente.

3.1.5. Limitação da Irrigação. Limitação ou déficit na irrigação se referem às estratégias de


manejo da água em sistema onde as aplicações de água são menores do que as demandas máximas
de ET (ETm), através de: (1) Escolha do plantio coincidido com períodos de baixa
evapotranspiração e ou com previsão de chuvas, além da utilização de restos culturais para manter a
umidade do solo. (2) Redução da umidade do solo através de menores lâminas aplicadas na
irrigação. (3) Aplicação da água de irrigação considerando apenas o que pode ser efetivamente
armazenado na zona radicular das raízes

3.1.6. Limitação das culturas irrigadas na fazenda. Devido aos problemas anteriormente citados
como alagamento, salinização do solo, escassez de água, aumento do custo da água, o processo de
irrigação poderia ser abandonado em algumas áreas. Algumas projeções indicam que de 10 a 30 %
das terras irrigadas podem ser convertidas em cultivos de sequeiro ou para outros usos no século 21
(U.S. Department of Agriculture, USDA, 1989). Devido a razões de disponibilidade e distribuição
de comida, e muitos fatores econômicos, sociais e humanos, não é possível generalizar a melhor
25

alternativa, se: máxima produção em menor área ou aumentar a disponibilidade de água


aumentando-se a área ocupada pelas culturas de sequeiro.

3.1.7 Seleção e modificação de culturas. O uso de técnicas de melhoramento de plantas, visando


adaptação a condições de menor disponibilidade de água. Algumas novas variedades que têm sido
identificadas podem sobreviver a longos períodos de seca, muitas merecendo maiores estudos para
avaliar as relações entre ET e a produção comercial. Algumas culturas podem sobreviver a maiores
níveis de estresse do que outras, contudo, maiores produções são obtidas com maiores valores de
evapotranspiração das culturas.

4 – MANEJO DA ÁGUA EM FUNÇÃO DA QUALIDADE

O conceito de qualidade da água refere-se às suas características que podem afetar sua
adaptabilidade para uso específico; em outras palavras, a relação entre a qualidade da água e as
necessidades do usuário. A qualidade da água define-se por uma ou mais características físicas,
químicas ou biológicas. Preferências pessoais, como o sabor, podem também constituir simples
avaliação de aceitabilidade, porém na avaliação da qualidade da água para irrigação, leva-se em
consideração principalmente, as características químicas e físicas e poucas são às vezes em que
outros fatores são considerados importantes.
A agricultura irrigada depende tanto da quantidade como da qualidade da água. No entanto,
o aspecto da qualidade tem sido desprezado devido a que no passado, as fontes de água, no geral
eram abundantes, de boa qualidade e de fácil utilização. Esta situação, todavia, está se alterando em
muitos lugares. O uso intensivo de praticamente todas as águas de boa qualidade implica que, tanto
para os projetos novos como para os antigos tem sido necessário se recorrer às águas de qualidade
inferior. Para evitar problemas conseqüentes, deve existir planejamento efetivo que assegure melhor
uso possível das águas de acordo com sua qualidade.
Usos específicos podem ter diferentes requisitos de qualidade. Assim, uma água pode ser
considerada de melhor qualidade, se produzir melhores resultados, ou causar menos problemas. Por
exemplo: uma água de rio que pode ser considerada de boa qualidade para determinado sistema de
irrigação pode, por sua carga de sedimentos, ser inaceitável para uso urbano, sem antes ser tratada
para extrair tais sedimentos.
A situação ideal é contar com várias águas de diferentes qualidades e, assim, poder
selecionar a mais adequada. Entretanto, na maioria das vezes, dispõe-se unicamente de água de uma
só qualidade.
26

4.1. – Problemas químicos referentes à qualidade da água.

4.1.1 Problemas químicos referentes à qualidade de água para irrigação

A qualidade da água de irrigação pode variar significativamente segundo o tipo e quantidade


de sais dissolvidos. Os sais encontram-se em quantidades relativamente pequenas, porém
significativas, e têm sua origem na dissolução ou intemperização das rochas e solos, incluindo a
lenta dissolução do calcário, do gesso e de outros minerais. Os sais são transportados pela água de
irrigação e depositados no solo, onde se acumulam na medida em que a água se evapora ou é
consumida pelas culturas.
A adequação da água de irrigação não depende unicamente do teor total, mas também do
tipo de sais. A medida em que o conteúdo total de sais aumenta, os problemas do solo e das culturas
agravam-se, o que requer o uso de práticas especiais de manejo, para manter os rendimentos
aceitáveis. A quantidade da água e/ou sua adaptabilidade à irrigação determinam-se também, pela
gravidade dos problemas que podem surgir depois do uso ao longo prazo.
Os problemas resultantes variam em tipo e intensidade e depende do solo e do clima, da
habilidade e conhecimento no manejo do sistema água-solo-planta do usuário. Os problemas mais
comuns, segundo os quais se avaliam os efeitos da qualidade da água, são relacionados com a
salinidade, a velocidade de infiltração no solo, a toxicidade e outros problemas.

PROBLEMAS DE QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO

SALINIDADE

Os sais do solo e da água reduzem a disponibilidade da água para as plantas, a tal ponto que afetam
os rendimentos.

INFILTRAÇÃO DE ÁGUA

Teores relativamente altos de sódio, ou baixos de cálcio no solo e água, reduzem a velocidade com
que a água de irrigação atravessa a superfície do solo. Esta redução pode alcançar tal magnitude,
que as raízes das plantas não recebem suficiente de água entre as irrigações

TOXICIDADE DE IONS ESPECÍFICSO

Certos íons (sódio, cloreto e boro) contidos no solo ou na água, acumulam-se nas plantas em
concentrações suficientes altas para causar danos e reduzir os rendimentos das culturas sensíveis.

OUTROS PROBLEMAS

Os excessos de nutrientes reduzem os rendimentos das culturas e/ou sua qualidade. As manchas nas
frutas ou na folhagem prejudicam a comercialização dos produtos. A corrossão excessivas dos
equipamentos aumenta os custos de manutenção e reparos.
27

4.1.2. - Tolerância das plantas a salinidade. Nem todas as culturas respondem, igualmente, à
salinidade e ou sodicidade; algumas produzem rendimentos aceitáveis, a níveis altos de salinidade,
e outras são sensíveis a níveis relativamente baixos. Esta diferença deve-se à melhor capacidade de
adaptação osmótica que algumas culturas têm, o que permite absorver, mesmo em condições de
salinidade, maior quantidade de água. Esta capacidade de adaptação é muito útil e permite a seleção
de espécies mais tolerantes e capazes de produzir rendimentos economicamente aceitáveis, quando
não se pode manter a salinidade do solo ao nível desejado (Ayers & Westcot, 1991). As tolerâncias
relativas das culturas são classificadas da seguinte forma:

Grupos de tolerância relativa Salinidade limiar (SL ) - dS /m

Sensíveis < 1,3


Moderadamente sensíveis 1,3 - 3,0
Moderadamente tolerantes 3,0 - 6,0
Tolerantes 6,0 - 10,0
Não adequado para a maioria das culturas > 10,00

4.1.2. Sais. Embora a salinidade seja o maior fator na baixa produção cultural e redução na
produtividade do solo, não há limites específicos no total de sólidos dissolvidos (TDS) para o
suprimento de água para beber. Contudo, para o cloro (Cl) e sulfato (SO 4 ) é recomendado limites
máximos de 250 mg/L. Alta concentração de sais pode ser também o principal fator de corrosão no
sistema de distribuição de água. Para o gado 3000 mg/L ou menos de sais solúveis poderiam ser
satisfatório sobre a maioria das condições.

4.1.3. Pesticidas. Resíduos de pesticidas encontrados nas águas dos fluxos residuais e dos aqüíferos
subsuperficiais pode tornar um problema de saúde pública. Devido à existência de pesticidas
residuais o uso de águas residuais da irrigação pode influir na qualidade das diferentes culturas que
têm menor tolerância do que a cultura alvo. Através do runoff (escoamento superficial) os
pesticidas vão para os riachos superficiais provocando impactos em espécies aquáticas ou
possibilitando a acumulação na cadeia alimentar (ex. Boqueirão). A ingestão de pesticidas através
da água pode também por a saúde humana em risco. As Agencias de Proteção Ambiental nos
Estados Unidos tem proposto níveis de advertência para 64 tipos de pesticidas. Aqueles valores são
relativos a medições de problemas agudos e crônicos e de natureza e carcinogênicas daqueles
compostos (USEPA, 1989).
28

4.1.4.. Elementos Traço Tóxicos. Elementos traços têm sido encontrados em concentrações que
podem provocar impactos severos no uso da água. Elementos traços como arsênico, boro, cadmium,
cromo, cobre, chumbo, manganês, mercúrio, molibidênio, níquel, selênio e zinco (As, B, Cd, Cr, Cr,
Pb, Mn, Hg, Mo, Ni, se e Zn) estão presentes em alguns solos e têm sido detectados nas águas para
irrigação e nos fluxos de retorno. Estes elementos são essenciais para saúde humana em
concentrações apropriadas, mas podem causar danos e toxidade em altos níveis. Aqueles elementos
produzem sintomas de toxidade nos homens que incluem anomalias reprodutivas, dificuldade
respiratória, danos nos rins, problemas cardiovasculares e gastrintestinais. Os problemas de
toxicidade associados com Cd, Pb, Hg e Se são mais sérios porque estes metais se acumulam na
cadeia alimentar. As normas para água de beber e de irrigação estão recomendadas na tabela 4
(USEPA, 1973; Letey et al., 1986).

Concentração máxima de vários elementos traços em água para beber e para irrigação
Elemento Traço Limites para Água de Beber Limites Recomendados para Irrigação
(mg/L) * (mg/L) &
As 0,10 0,10
Cd 0,010 0,010
Cr 0,050 0,010
Pb 0,050 -
Mn 0,050 0,200
Hg 0,002 -
Mo - 0,010
Se 0,010 0,020
V 0,010 0,100

* U. S. Environmemtal Protection Agency (1973)


& Letey et al. (1986).

4.2. Problemas físicos referentes à qualidade da água para Agricultura (Sedimentos). Os


impactos da erosão do solo na qualidade da água incluem redução da capacidade de acumulação de
água nos lagos e reservatórios, fechamento dos riachos e dos canais de drenos, deterioração do
habitat aquático e das áreas recreativas, aumento dos custos de tratamento de água e transporte de
elementos químicos ligados à agricultura associados com sedimentos para dentro do sistema
29

aquático (Council For Agricultural Science and Tecnology, CAST, 1982). Embora as evidencias
não mostrem que os sedimentos em suspensão, tenham direto efeitos adversos na saúde do homem,
matéria orgânica e sedimentos finos (argila) pode trazer aumento na concentração adsorvida de
nutrientes, pesticidas, vírus, bactérias e outros componentes tóxicos (Office of Technology
Assessment, OTA, 1983). Estes materiais em suspensão poderiam trazer sérios problemas nos
corpos d’águas superficiais quando usadas para beber.

4.3 Problemas biológicos referentes à qualidade de água: Vários tipos de doenças têm ocorrido
devido ao manejo inadequado da água. O uso de águas contaminadas biologicamente tanto
diretamente no consumo humano e animal, como também na irrigação tem favorecido o aumento de
doenças por todo o mundo. O uso da irrigação pode provocar o aumento de vários tipos doenças,
quando não controladas. Podendo ser incluídas as infecções intestinais, a malária, esquistossomose
e outras, cujos agentes causais incluem-se as bactérias, vírus, protozoários (amebas), nematóides
(lombrigas) entre outros e entre os transmissores observa-se insetos ou outros vetores favorecidos
pela água.Algumas medidas como tratamento da água, uso de adequado da água de acordo com o
grau de contaminação pode contribuir para minimizar as contaminações diretas, por outro lado à
drenagem para facilitar o runoff (escoamento superficial), além da cobertura dos canais e o aumento
da velocidade do fluxo podem também ser necessárias para reduzir o excesso de água acumulada
(inibindo a ação de alguns vetores).

4.4. Proteção da Qualidade da Água. Só recentemente tem aumentado o número de publicações


sobre a qualidade de água do lençol freático dos campos de irrigação. As práticas de irrigação
podem ter efeitos marcantes na redução da qualidade da água. O potencial de contaminação pode
incluir sedimentos, nutrientes, sais dissolvidos, pesticidas, outros elementos orgânicos tóxicos,
microorganismos que provocam doenças e outros elementos tóxicos. Obviamente existe
necessidade de se gerenciar as práticas de irrigação para minimizar os impactos adversos da
qualidade da água provocados pela irrigação.

5. - USO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS

A profunda crise econômica e social em que se encontra a América Latina tem


proporcionado que grandes setores de sua população vivam em zonas marginais das grandes
cidades, em condições de total pobreza desprovidos de qualquer serviço básico. Segundo a
organização mundial de saúde (WHO, 1987) na América Latina apenas 10% das águas residuárias
30

são tratadas antes de voltarem para os corpos d’água como os rios e mares. Isto significa que
próximo a 400 m3 / s de águas contaminadas poluem o meio ambiente e constituem um vector de
transmissão de parasitas, bactérias e vírus patogênicos.
Por outro lado, devido à carência atual e a crescente demanda por água potável em várias
regiões do planeta à utilização racional de águas residuárias tem se tornado uma necessidade
indispensável para sobrevivência do próprio homem.
No Nordeste do Brasil de acordo com o IBGE (1996) mais da metade das famílias vivem em
situação de pobreza crítica, englobando uma população de 22 milhões de habitantes, existindo
necessidade de se aumentar à produção de alimentos.
Na realidade existem dois requerimentos antagônicos: a necessidade inevitável de se utilizar
às águas e os possíveis perigos da reutilização destas águas para as comunidades. Pois, a utilização
direta de águas residuárias em piscicultura e campos agrícolas pode propagar enfermidades
gastrointestinais. Havendo necessidade de alguma forma de tratamento capaz de reduzir ao mínimo
os riscos para saúde pública.
A importância do reuso de águas associado à engenharia sanitária normalmente não tem
sido adequadamente valorizada. Segundo OMS, (1989) a integração entre o tratamento de águas
residuárias e sua posterior reutilização no ciclo produtivo reduz os custos dos serviços sanitários
básicos na ordem de 30-90% para os municípios.
A Organização Pan-americana de Saúde (OPS) recomenda lagoas de estabilização para o
tratamento de águas residuárias domésticas, devido à remoção de patógenos. A transformação da
matéria orgânica em lagoas permite liberar nutrientes e gerar biomassa de algas, elementos
aproveitáveis para a agricultura e aquicultura.
Trabalhos publicados pelo Banco Mundial e o International Development Research Centre,
no Canada relatam que a cultura do peixe, algas, produção de plantas aquáticas e produção de
energia tem sido identificadas como promissoras tecnologias que podem mudar radicalmente o
contexto da engenharia sanitária nas cidades.

5.1. - Princípios básicos do uso de águas residuárias

Podem-se tomar quatro medidas principais para proteger a saúde ao aproveitar-se de águas
residuárias, a saber: o tratamento destas, restrições de cultivos, controle das classes de emprego das
águas residuárias e da exposição das mesmas e aumento da higiene. Destas, o tratamento de águas
residuárias e a restrição do cultivo tem sido as mais amplamente adotadas nos sistemas de
aproveitamento controlado. No futuro com um método de planificação melhor integrado, se espera
31

poder selecionar um conjunto ótimo de medidas, segundo as condições socioculturais, institucionais


e econômicas de cada lugar.
Nos métodos convencionais de tratamento de águas residuárias se acentua a redução ou a
eliminação da demanda bioquímica de oxigênio e dos sólidos em suspensão, no entanto no
tratamento para aproveitamento se exige a eliminação de elementos patogênicos como os helmintos,
operação para a qual não são muito eficazes os métodos convencionais.
O engenheiro que pretende desenhar uma planta de tratamento de águas residuárias para fins
de aproveitamento deve saber até que ponto terá que eliminar os elementos patógenos excretados.
Por tanto, cada sistema de aproveitamento exige um objetivo relacionado com a qualidade das
águas residuárias tratadas, e no que diz respeito à máxima concentração permissível de
determinados microorganismos. As diretrizes apropriadas para fins de desenho permitirão
selecionar a tecnologia de tratamento de águas residuárias e as técnicas administrativas de
aproveitamento que oferecem boa proteção sanitária.
Existe necessidade de se produzir sempre águas residuárias com qualidade exigida mediante
processos de tratamento selecionados, sem necessidade de vigilância contínua. Portanto, no
planejamento deverá priorizar os cuidados no manejo, sendo isto, particularmente importante nos
países em desenvolvimento onde é grande a deficiência em infra-estrutura e limitada a experiência
em manejo. Neste caso o planejamento do tratamento de águas residuárias deverá priorizar as
tecnologias mais simples e baratas que terão maior possibilidade de êxito (OMS, 1989).
O Centro Pan-americano de Engenharia Sanitária e Ciências do Ambiente (CEPIS),
localizado no Peru, e algumas instituições internacionais vem estudando desde 1977 o sistema de
lagoas de estabilização para reusar águas em diversas atividades agropecuárias. Entre os principais
resultados obtidos pode-se mencionar:
a) Os sistemas de lagoas de estabilização têm grande capacidade para remover patógenos, o qual
assegura o uso de seus afluentes na agricultura, garantindo a qualidade sanitária dos produtos.
b) Os efluentes tratados que alcançam níveis de 10.000 coliformes fecais/100mL são apropriados
para obter produtos agrícolas livres de patógenos.
c) As águas residuárias tratadas contêm nutrientes necessários para os cultivos agrícolas, evitando
ou reduzindo os custos com fertilização.
d) Tem-se implantado tecnologia com cultivo de peixes (Tilápia) com águas residuárias tratadas,
obtendo-se 4.400 kg/ha sem adicionar alimentos artificiais.
e) Tem-se desenvolvido um programa de dimensionamento, custeio e avaliação econômica para
sistemas integrados de tratamento e reuso de águas residuárias.
32

Diretrizes recomendadas sobre a qualidade microbiológica das águas residuais usadas na agricultura
Nematóides Coliformes Tratamento das águas
intestinais fecais (nº/ 100 necessário para obter
Condições do Grupo exposto (lombrigas) ml) qualidade exigida
Categoria aproveitamento (nº de ovos / 100 ml)
A Irrigação de cultivos que se Serie de tanques de
consomem crus, campos de Trabalhadores, estabilização que
esportes e parques públicos. consumidores e <1 < 1000 permitem obter qualidade
público. microbiológica indicada
B Irrigação de cultivos de
cereais, forragens, arbóreas, Trabalhadores <1 Não se Retenção em tanques de
cultivos, para industrias. recomenda estabilização por 8 a 10
nenhuma dias para eliminação de
norma helmintos e coliformes
fecais
C Irrigação localizada de
cultivos da categoria B Não se recomenda Não se Tratamento prévio de
quando os trabalhadores Ninguém nenhuma norma recomenda acordo com a tecnologia
nem o público entram em nenhuma de irrigação (filtragem)
contato com a água norma

6 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.

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