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Apresentação Critica a Formação

Boa tarde, o Luiz pediu pra eu apresentar esse texto de sua autoria que é o Concepção
de História Literária na Formação.
Pressupondo que todo mundo já leu o texto, eu pensei em destacar alguns pontos
interessantes do texto e fazer alguns comentários e algumas reflexões.
Eu não tenho muita bagagem bibliográfica para trazer o máximo da discussão, mas vou
tentar ao máximo aqui. Até agradeço à Clarissa pela ajuda que ela me deu ouvindo
minhas reflexões.
Qualquer coisa podem me interromper, inclusive.
Enfim, apenas para uma contextualização geral,
Segundo o Professor, a crítica-literária do século XX se enraíza em três eixos: (1) a
questão da linguagem literária; (2) a relação da linguagem literária com a sociedade; (3)
a ideia de literatura nacional. Essa última advém justamente do século XIX que
estávamos estudando nas últimas aulas.
E vemos justamente como as histórias da literatura nacional eram parte integrante e
concretizadora do espírito nacional. De modo geral, já vemos uma desconsideração dos
aspectos literários do texto e uma posição determinista no que tange a relação entre
contexto histórico-sociológico e a produção literária.
Na página 153, a gente já vê uma passagem interessante de uma das primeiras
discussões que tivemos, acho que na primeira aula ainda: ‘este absolutismo do nacional
tornava as histórias literárias uma sucursal do pathos das histórias políticas, uma e outra
movidas pela ação de heróis e pais da pátria”.
Isso significou numa marginalização de autores que não “serviam à musa nacional”.
No início do século XX, segundo o texto, algumas propostas interpretativas (como a de
Lukács, que já discutimos) iluminariam a especificidade da obra em relação a sua
formação social – “O elemento social da literatura porém é a forma”. Logo, (página
154) “o contexto social era o motivador de uma forma que, enquanto estética, não tinha
história”. Nas palavras de Lukács “a forma autêntica de um artista autêntico é a priori: é
uma forma constante frente às coisas, é uma condição necessária para que as próprias
coisas possam ser percebidas pelo artista”.
O jovem Lukács produziu uma crítica que, apesar de interessante, ainda era
relativamente a-histórica.
Essa análise de Lukács no que diz respeito à forma e o relativo abandono desta depois
de aderir ao marxismo. Isso me levantou a pulga atrás da orelha de pensar na relação
entre literatura e política, sobretudo das perspectivas sociológicas do mundo e as
análises críticas das obras literárias. Me parece que quando a crítica se mistura com a
práxis política cria-se um pragmatismo político que veta análises mais centradas na
estrutura estética das obras. Tal qual quando estávamos falando de Silvio Romero, que
possuía uma visão politicamente orientada, exigindo de Machado de Assis que “agisse”.
Me parece que prejudica alguns autores de apreciar os elementos estéticos do texto em
si.
Não sei se pela própria natureza da política, especialmente seu caráter da ação, e nem
sei e estou falando alguma besteira – o que tem altas chances. A questão é que algumas
chaves de leitura que priorizam o social em detrimento dos elementos estéticos da obra,
e isso me dá a impressão de que se espera que a obra seja uma janela privilegiada do
contexto social, e algum tipo de revelação que pode ser interpretada politicamente.
Como se a obra devesse indicar algo, enfim, ficando aspectos narrativos em segundo
plano. Enfim, não sei, foi só uma ideia que eu pensei.
Voltando ao texto em si, um ponto interessante é justamente de que, para além da
história literária nacional, diversos autores passaram a desconsiderar uma linearidade
cronológica para realizar suas críticas, ressaltando agora uma própria temporalidade
interna aos trabalhos. Ou seja, enquanto na tradição determinista o passado e o futuro
tinham seu caráter fatalista, nessas novas leituras, como a de Jakobson e Tynianov, eles
se tornavam objeto de escolha no sentido de estabelecer conexões entre autores
distintos.
Fiquei pensando que isso significa dizer que cada obra possui uma temporalidade
própria e uma rede de conexões e referências próprias. Logo, a ideia de “literatura
nacional” esconde uma certa pluralidade de experiências temporais e literárias. Como
o Luiz chegou a falar em uma das aulas passadas, não é porque um autor é
contemporâneo ao outro que sua produção necessariamente se encaixa em determinados
moldes. Autores contemporâneos e conterrâneos produzem estilos diferentes.
Enfim, as reflexões vão servir de contexto para situar Candido em um dos três eixos
falados no início.
Com esse objetivo, Costa Lima evoca a passagem do prefácio da segunda edição de
Formação da literatura brasileira, em que Cândido diz, cito: “Procurei mostrar a
inviabilidade da crítica determinista em geral, e mesmo da sociologia em particular
quando se erige em método exclusivo ou predominante; e procurei, ainda, mostrar até
que ponto a consideração dos fatores externos (legítima e, conforme o caso,
indispensável) só vale quando submetida ao princípio básico de que a obra é uma
entidade autônoma no que tem de especificamente seu”.
Em Crítica e Sociedade, o texto que a gente leu, Candido já não se contenta com a
equação “elemento sociológico: fator externo :: elemento estético: fator interno”, senão
que aponta como alvo a apreensão do momento em que o externo se torna interno e a
crítica de ser sociológica, para ser apenas crítica”.
Eu, que não possuo tanto contato com a crítica literária quanto eu gostaria, ou deveria,
achei bem interessante a ideia geral proposta pelo Antônio Cândido. Essa transformação
do “elemento externo” em “interno”.
Como a gente viu, No percurso de Crítica e sociedade na passagem que diz que “uma
crítica que se queira integral deixará de ser unilateralmente sociológica, psicológica ou
linguística, para utilizar livremente os elementos capazes de conduzirem a uma
interpretação coerente”.
Por conseguinte, o crítico deve dispor dessa liberdade de estratégias para que não se
torne prisioneiro de um método, de algo que se julga a princípio externo, entretanto
capaz de se transfundir com o interno, a estrutura da obra. Logo, essa defesa da estrutura
da obra frente a unilateralidade de um método se apoia em uma identificação implícita
do método com o que é externo à obra.
O método não pode se impor por si mesmo; há de confundir com um estoque de
variáveis.
Uma passagem interessante que eu gostaria de ler, está na página 157: “Em suma, se o
dado teórico a priori é externo e, então, variável, assim sucede mesmo porque diversos
caminhos poderiam conduzir à mesma Roma, i. e., à mesma estrutura. Por conseguinte,
o favorecimento da tolerância metodológica, em prol do que W. Iser chamaria um
"conceito pluralista” da atividade crítica, deriva em Antonio Candido da Manutenção de
uma concepção a-histórica da forma. A literária é plena em si mesma; teorias e métodos,
uma espécie de mal necessário”.
A questão que me chama atenção nessa proposição de Cândido é como que uma história
da literatura nacional é, aparentemente, limitadora pela própria natureza da empreitada.
Claro que isso é uma afirmação até um pouco óbvia. Mas o estabelecimento de origens
e caminhos perpassa por escolhas e decisões daqueles que se encaixam ou não nessa
narrativa.
Afinal, essas escolhas acabam por revelar mais do que apenas um modelo descritivo do
passado histórico. Revelam opções e juízo de valores. Cândido defende justamente uma
flexibilização metodológica na execução da crítica, o que não é necessariamente ruim,
porém ela precisa ser explícita. De forma que seja possível compreende de onde viemos
e para onde estamos indo.
Como está colocado na página 158: “A atividade dirigida por valores, a cadeia de
decisões em que a crítica se insere – a cadeia formada por pressupostos teóricos,
operacionalização metodológica e pragmática crítica – implica que seu agente não mais
pode ser confundido como um caçador que, em busca da caça, se orienta pelos rastros
que a presa deixa. Ao crítico, assim como ao historiador, só cabe a analogia com o
caçador se se lembrar que um e outro não só perseguem rastros mas que, assim fazendo,
produzem outros rastros: os rastros do rastreador. São estes que indicarão a outros
“caçadores” por que aquele primeiro traçou tal caminho, chegou a tal presa ou despreou
tal outra. Os rastros seguidos e produzidos unanimemente declaram os valores que
orientam seu agente”.
Dessa forma, Cândido acaba que entrar no segundo eixo destacado: focando numa
relação entre a sociedade e a produção literária.
Ao fazer uma análise da Formação, o Luiz apontou que levara a considera-la como
inserida em uma concepção da obra literária que derivava da interação de sua
especificidade em face de seu confronto com a própria sociedade. Este resultado foi
desmentido pela própria análise, que parece mostrar que a estabilidade estética
conferida por Candido à “estrutura” é antes efeito de uma concepção mais tributária de
uma visão tradicional do que se estava disposto a admitir.
Candido distingue as manifestações literárias, descontínuas e dispersas, e o sistema
literário, caracterizado pela articulação entre um conjunto de produtores, “mais ou
menos conscientes de seu papel”, um conjunto de recepetores, formando públicos, sem
os quais a obra não vive; e um mecanismo transmissor.
Candido indica em favor da organicidade e da coerência da literatura nacional. O
aspecto descritivo de Candido para se referir a algumas obras, e, sobretudo, para
argumentar em favor da construção de um sistema coerente (nacional) em razão de
manifestações literárias isoladas.
O tom descritivo da obra parece reforçar uma leitura distanciada, entretanto,
comparando passagens, é possível compreender que o distganciado do ideário de
Candido é o exotismo e a diferenciaçãoo meramente verbal: o exotismo é afastado para
que se louve o serviço prestado pelas “sugestões externas” para a “estilização das
tendências locais” – há a atribuição de um papel secundário do brasileirismo linguístico.
A ideia de sistema literário implica que só se pode falar em literatura nacional quandoa
s obras produzidas são também recebidas e fecundadas. A questão é que a extensão
dessa recepção, para cândido, se encontra na ênfase da extensão nacional e de seu
caráter de coerência. em consonância com a Antropologia social inglesa e se aproxima
da noção de “forma orgânica”, relativa a cada obra e constituída pela interrelação
dinâmica dos seus elementos, exprimindo-se pela ‘coerência’. . Na obra de Cândido,
portanto, a ideia de sistema está subornizada à coesão.
A partir dessas concepções é que vemos o que eu falei antes, que daí é possível inferir
sobre as escolhas dos autores que vão ocupar o cânone. Enfim, me parece que esses
valores não são tão secundários assim, visto que a compreensão da crítica se dá pela
compreensão mínima dos seus pressupostos.

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