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A relação terapeuta-cliente

Verena Augustin Hoch

A partir da prática clínica e de suas pesquisas, Rogers constatou que quando o


terapeuta se abstém de dar uma direção ao processo terapêutico, quando ele não interfere no
processo espontâneo do cliente, propiciando ao cliente total liberdade para escolher sua
própria direção e avançar no seu próprio ritmo, ocorre uma surpreendente liberação das
forças de crescimento no cliente. Quando o terapeuta propicia ao cliente completa liberdade
de expressão, ele é capaz de expressar conflitos e sentimentos que não seriam possíveis ao
terapeuta supor ou conhecer previamente. Dessa forma, Rogers chegou à conclusão de que
o melhor guia para o processo terapêutico é sempre o próprio cliente.

Os constantes estudos no campo da psicoterapia, levaram Rogers a descobrir a


existência da tendência atualizante presente em todo organismo e a constatação de que a
melhor forma para se compreender o comportamento de uma pessoa é a partir do seu
referencial interno, levaram-no à conclusão de que o conhecimento intelectual que o
terapeuta obtém sobre as causas do comportamento do cliente não tem qualquer utilidade
do ponto de vista terapêutico. A mudança terapêutica somente ocorre a partir da experiência
que o cliente tem da inadequação de seus velhos modos de percepção e não do
conhecimento intelectual sobre essa inadequação.

Com estas descobertas, Rogers conclui que o diagnóstico, além de ser


desnecessário para o sucesso da psicoterapia, pode ser prejudicial para a pessoa, por ser
uma avaliação feita a partir de um referencial externo ao cliente. Ao realizar um
diagnóstico, o terapeuta está assumindo o lócus de avaliação na relação com o cliente. Esta
avaliação implica em julgamento. As atitudes, comportamentos e sentimentos do cliente
são julgados como adequados ou inadequados, saudáveis ou patológicos, maduros ou
imaturos.

Além disso, ao fazer um diagnóstico, o terapeuta assume a responsabilidade pela


compreensão do cliente e isso acarreta graves prejuízos ao desenvolvimento da autonomia e
autoconfiança do cliente.

A partir destas constatações Rogers conclui que não são as técnicas que facilitam
mudanças no cliente e sim as atitudes do terapeuta - que são extremamente eficientes na
promoção de mudanças construtivas na personalidade e no comportamento das pessoas. Em
um ambiente onde as atitudes facilitadoras do terapeuta estão presentes, as pessoas se
desenvolvem para uma maior autocompreensão, autoconfiança e uma maior capacidade
para escolher comportamentos, pois uma pessoa que experimenta um clima de aceitação,
pode escolher qualquer direção e na verdade escolhe caminhos construtivos e positivos,
pois a tendência à auto-realização é ativa no ser humano.

Quando o terapeuta incorpora as atitudes de congruência, consideração positiva


incondicional e compreensão empática na relação com o cliente de uma maneira que o
cliente possa perceber estas atitudes, com o locus de controle pertencendo ao cliente, é que
o processo de atualização do cliente é promovido.

A Terapia Centrada no Cliente, ao invés de se deter em técnicas, dá importância às


atitudes do terapeuta para a criação de um clima facilitador de crescimento. As atitudes de
compreensão empática, consideração positiva incondicional e congruência se tornam
essenciais para a formação deste clima. Assim, a ênfase do processo terapêutico está na
relação terapeuta-cliente, tornando-se este tipo de relação indispensável para que o cliente
possa liberar todo seu potencial de crescimento rumo à maturidade psíquica.

O terapeuta não é um expert que irá detectar e resolver os problemas, muito pelo
contrário, o terapeuta vai estar em igualdade de condições no sentido de não exercer
nenhum poder que seja legitimado pelo conhecimento teórico. Terá uma escuta profunda e
compreensiva e será apenas um facilitador do processo que é do cliente, oferecendo
segurança e calor num clima livre de ameaças.

Para que a escuta terapêutica seja profunda e capaz de facilitar o processo de


mudança do cliente, requer o desenvolvimento das atitudes facilitadoras e capacidades
intuitivas do terapeuta. Requer ainda sensibilidade, bom senso e conhecimento, abertura
para si mesmo e para o outro - liberdade experiencial para ir e vir no mundo
fenomenológico do cliente, sem se perder neste mundo.

Referências Bibliográficas
Gusmão, S.L.M. (1999). Ousando Ser Feliz: Temas de Psicologia Humanista. João
Pessoa: UFPB.

Rogers, C.R. & Kinget, M. (1977). Psicoterapia e Relações Humanas: teoria e prática
da terapia não-diretiva. Belo Horizonte: Interlivros.

Rogers, C.R. (1983). Um jeito de ser. São Paulo: E.P.U.

Rogers, C.R. (1987). A essência da psicoterapia: momentos de movimento. Em Santos,


A.M., et al. Quando fala o coração: a essência da psicoterapia centrada na pessoa. Porto
alegre: Artes Médicas, pp.13-19.

Rogers, C.R. (1991). Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes.

Rogers, C.R. (1992). Terapia Centrada no Cliente. São Paulo: Martins Fontes.

Rogers, C.R. (1995). As Condições Necessárias e Suficientes para a Mudança


Terapêutica da Personalidade. Em J.K. Wood (org). Abordagem Centrada na Pessoa.
Vitória: FCAA, pp. 125-156.

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