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The Drake Chronicles 02 – Blood

Feud

Capítulo 11
Isabeau

París, 1793

— Papai, eu não entendo. — Isabeau suplicou. — Porque tenhi


que usar este vestido horroroso? Ele me pinica. — o vestido em
questão era de lã cinza sem um pingo de enfeite. Ela podia ser
confundida com uma empregada ou uma garota do povo. Até seu
cabelo estava preso para trás em um complicado redemoinho sem
um só enfeite de pêrolas ou algum grampo de diamantes.

— Chouette*, já não é seguro. — respondeu Jean Paul.

* Chouette: palavra francesa que significa Coruja.

Ela nunca o havia visto assim antes. Nada o assustava; não


Versalles, não os lobos uivando no bosque, nem sequer as enormes
aranhas que entraram no Catelo justo no inverno. Ela o havia visto
lutar em um duelo uma vez, quando se supunha que ela deveria estar
dormindo em sua cama. Agora ele parecia desfigurado e cansado e
quase cinza, de tristeza. Sua mãe estava sentada, chorando no canto.
Não tinha parado de chorar a dias. Seu cabelo estava perdendo seus
cachos, seu rosto estava sem empoar. Isabeau estremeceu.

— Trata-se do Rei, certo? — sussurrou.

Ele lançou´lhe um olhar. — O que você sabe; chouette?

— Que o povo tomou a Bastilha e que Paris já não é segura,

— Não se trata apenas de Paris. — disse em voz baixa;


empurrando outra rodela de queijo no bolso de couro que tinha diante
dele. Eles estavam na cozinha, agrupados junto ao fogo da lareira.
Sua velha babá Martine, estava na porta, com a coluna reta. Usava
um evstido de lã marrom e seu cabelo estava penteado para trás,
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com um gorro de pano. Isabeau nunca a tinha visto tão simples e
comum antes. Ela estremeceu novamente.

— Eles ganharam força e número. Criarão a guilhotina como


uma forca permanente. E o Rei foi executado ontem. França já não
tem realiza, agora.

Ela o olhou, surpresa. — Mataram o Rei?

— Você sabe o que isso significa Isabeau?

Ela negou com a cabeça, em silêncio.

— Isso significa que nenhum de nós esta a salvo. — envolveu


um grosso manto sobre os ombros. — Aqui, mantenha isto. Faz frio
agora.

Fechou o cinto com força. — Aonde nós vamos?

— Vamos para a casa de meu irmão, em Londres.

— Inglaterra? — repetiu. Sua mãe chorou mais fortemente,


afogando-se em soluços. — Mas, você não fala com ele há anos.

Ela foi interrompida pelo som de vidros quebrados, vindo da


parte frontal do Castelo. Virou-se para o som. Sua mãe jogou-se no
chão, suas mãos cruzadas sobre a boca trêmula. Seu pai ficou rígido.

— Merde*. Não há tempo. — seus olhos estavam decididos,


profundos quando encontraram os dela. — Isabeau, preciso que você
se esconda. Vá com Martine, leve sua mãe. Lembra-se da pedra
quebrada que eu te mostrei?

* Merde: Francês que significa Merda.

Isabeau assentiu; seu coração batendo tão rápido que revirou


seu estômago.

— Remova-a e enfie-se dentro. A passagem às levará para fora.


No bosque, pelos campos de lavanda. — mais sons de vidros
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quebrados, e alguma coisa dura; tinha sido jogada contra a porta
fechada. Ouviam gritos, com voz fraca.

— Entendeu Isabeau?

Obrigou-se a olhá-lo. — Oui; papai. — ela entendia


perfeitamente. Tinha dezesseis anos e estava mais bem preparada
para proteger sua frágil mãe.

— Então, vá! Vá agora!

— Não. — Amandine gritou, agarrando seu braço com tanta


força que o tecido de sua camisa rasgou sob suas frenéticas unhas. A
porta estilhaçou-se com um forte e agudo rangido, que ecoou por
todo o Castelo. O rosto de Martine paracia assustado enquanto
agarrava o ombro de Isabeau.

— Temos que ir. — o ruído de passos ia se aproximando deles.


A multidão gritou, derrubou os quadros da parede, uivou com a fome
e a frustração. Os candelabros de ouro no corredor poderiam ter
comprado alimentos para um inverno, para uma família inteira. Mas
não importava se tinham dinheiro suficiente para comprar ou não. A
geada de Janeiro cobriu os campos e as hortas, as colheitas do Verão
tinham sido mais fracas do que o habitual, devido ao mal tempo e a
agitação política.

Jean Paul tentou sair do agarre de Amandine, empurrá-la aos


cuidados de Isabeau, mas sua esposa estava louca de medo e não se
moveria. Ele não a deixaria salvá-lo e não ele podia arriscar sua filha.
Nem todos pderiam esccapar, seriam perseguidos pelo campo, até
serem encontrados.

— Cherie*, por favor! — rogou a sua esposa. — Por favor, você


tem que ir.

* Cherie: Querida.

A multidão estava quase sobre eles. Não havia tempo, não


havia mais opções. Lançou um olhar desesperado a Martine. — Pegue
Isabeau.
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— Papai, non! Todos nós sairemos! — Isabeau lutava para
convencê-lo, mesmo quando sua mãe caiu completamente inerte em
seus braços.

Os irritados aldeões entraram como furações na cozinha, em


busca de alimento, deixando alguns outros para quebrar e saquear o
que pudessem.

— O Duque! — uma mulher de cabelo cinza gritou. Ela estava


tão magra, suas costelas eram visíveis por debaixo do vestido
rasgado. Alguem gritou mais como animal do que humano. As
chamas de uma tocha pularam em uma toalha de mesa que o aceitou
de forma instantânea; O cheiro de tecido queimado misturou-se com
olho de pinheiro em chamas.

Martine empurrou Isabeau para trás e se encaminhou para o


escuro jardim da cozinha antes do amanhecer, antes que ela pudesse
resistir. Cairam no manjericão, amassando os arbustos secos
enquanto rolavam para as sombras da parede de pedra decorada.
— Vem. — Martine puxou sua mão com força. — Je vous em
prie*.

* Je vous en prie: Por favor.

— Meus pais. — disse Isabeau atrevez das lágrimas que


obstruíam sua garganta. — Temos que ajudá-los.

— É tarde demais para eles.

— Non. — mas ela podia ouvir os gritos, o rasgar das mãos


através dos barris de carne salgada e cestas de maças frescas. Ela
podia ouvir os estranhos gemidos de sua mãe, como um gato
aterrorizado, e os xingamentos de seu pai, enquanto lutava para
protegê-la.

— Seu pai nunca nos perdoaria se não você não ficar em


segurança. — Martine disse em voz baixa, com urgência.

Isabeau sabia que ela tinha razão. Martine se aproveitou dessa


pausa para arrastá-la até a beira do bosque. Luzes de tochas
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brilhavam da janela da cozinha, assim como mais tecidos queimavam
pelo fogo. A fumaça saia pela porta aberta.

Viu seus pais, do cume alto de uma arvore de carvalho. A


multidão os arrastou até um caminhão de fazenda e os prendeu pelos
lados. O pai de Isabeau olhou para frente, negando-se a procurar por
sua filha para não delatá-la. Isabeau, de alguma forma, sabia que ele
podia senti-la ali na arvore, prendendo sua boca com uma das mãos
para não gritar. Martine segurou-se no tronco, ao seu lado, com o
rosto nanhado em lagrimas silenciosas.

— Vou para Paris. — Isabeau jurou. — E vou encontrar uma


maneira de salvá-los.

Isabeau esperou até que Martine estivesse adormecida antes de


escapar. Haviam encontrado um refugio em uma fazenda
abandonada, as tabuas de madeira estavam separadas sob o vento e
não havia neve nos cantos, mas era melhor do que estarem expostas
em uma noite de Janeiro. Fizeram uma pequena fogueira, suficiente
apenas para esquentar seus pés em suas botas caseiras. Isabeau
levou os joelhos até o peito e deixou cair um grosso casaco ao ser
redor como uma tenda. Fechou os olhos e fingiu estar à margem, até
que ouviu Martine roncar novamente.

Ela estava tremendo ligeiramente, e o cinza em seu cabelo


parecia mais aparente nas linhas ao redor dos olhos mais fundos.
Isabeau não podia suportar a ideia de deixá-la para trás, mas também
não podia deixar que sua babá fosse com ela para Paris, era uma
armadilha mortal.

Mas não havia modo possível de que ela pudesse ir para outro
lugar. Seus pais tinham sido presos e arrastados. Neste momento,
estavam na rua, condenados por crimes monárquicos e logo seriam
executados.

Tinha que defendê-los.

E tinha certeza que Martine tentaria detê-la.

Portanto, o melhor seria que ela se fosse agora mesmo, antes


que lhe fosse ainda mais difícil. Seus olhos estavam ásperos e
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inchados, seu estomago estava em chamas pelo nervoso, mas no
fundo, sabia que estava fazendo a coisa certa. Deixou a maioria das
mordas que seu pai havia costurado em seu casaco, para Martine,
ficando apenas com o suficiente para ir para a cidade. Martine
precisava mais do que ela. Poderia ir para a Inglaterra ou Espanha, ou
hospedar-se com um aldeão. Talvez alguém se casasse com ela. Era
gordinha, bonita e dedicada, e merecia ser amada e protegida da
mesma forma em que havia cuidado de Isabeau durante toda a vida.
Deveria ter sido trabalho de Isabeau, encontrar uma nova colocação
para sua babá, uma nova família para morar, ou melhor, pedir a seus
pais que a mantivessem com ela até que se casasse e tivesse seus
próprios filhos.

Nada disso era provável agora. O matrimonio era o mais


distante na mente de alguém. O Rei estava morto, Maria Antonieta
esta presa e a maior parte da aristocracia tinham sido assassinadas
ou haviam fugido para fazer molhos cremosos e pastéis para os
ingleses.

Isabeau tinha dezesseis anos e ela era inteligente, engenhosa e


faria tudo o que tinha que fazer. Encontraria seus pais e depois
encontraria um barco para levá-los a alguma parte, em qualquer
lugar.

Ela abriu a porta, fazendo uma careta ante o vento frio que
entrava no interior, agitando a resto da fogueira. Martine femeu e se
moveu desconfortável. Isabeau fechou a porta rapidamente e
esperou, pressionando-se contra o outro lado, ouvindo o som da voz
de Martine.

Satisfeita de que sua babá não havia acordado, Isabeau


deslizou para fora da cabana. A noite estava especialmente escura,
sem lua para iluminar seu caminho. Estava sozinha no silèncio gelado
com apenas uma capa de neve como companhia. Ela caminhou tão
rápido como seus pés frios permitiram, tropeçando nos galhos,
mantendo-se a beira do bosque, pela estrada.

Caminhou a noite toda e não parou até que o amanhecer filtrar-


se através das nuvens. Seus pés e suas panturrilhas doíam, e estava
convencida de que nunca recuperaria a sensibilidade na ponta do
nariz. Continuou caminhando com a dor, pelo vento frio e com seu
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estomago vazio e roncando. Escondeu-se entre os arbustos quando
ouviu o som das rodas de um coche, não confiaria em ninguém para
pedir um lugar na parte de trás de um coche. Ela podia se misturar
com seu casaco de lã e vestido cinza, mas sabia que seu sotaque era
muito culto, muito obviamente aristocrático, e que só podiam fazer
dela, um objetivo.

Quanto mais próxima estava de Paris, mais obstruído o caminho


se tornava, especialmente com as pessoas que fugiam para o campo.
Apenas os radicais, os aventureiros e os loucos se dirigiam para a
cidade nestes dias. Colocou o capuz sobre seu cabelo e baixou os
olhos, mantendo-se entre as arvores. Com o tempo, reduziram-se a
irregulares arbustos e logo em campos, para depois passar a periferia
da cidade, onde tudo era de pedra com tetos cinza son a luz do sol de
inverno.

Tinha caminhado durante três dias com muito pouco sono e


apenas água do córrego congelado, que ela derretia e bebia. Sua
cabeça nadava e sentia-se como se estivesse com febre; tudo era
muito brilhante ou muito opaco, muito forte ou muito suave.

Parou o tempo suficiente para comprar comida e um copo de


café forte, para assim se fortalecer. Encolheu-se em seu casaco,
tentando não olhar para todos e tudo. Pequenas casas aglomeradas
deram espaço aos edifícios, torres altas e de pedra cor manteiga. O
rio Sena ondulava através da cidade, mais a frente, as Tuileries*,
onde uma vez, o Rei havia vivido, antes que cortasse sua cabeça.

* TROCAR (-) POR (.) - http://www - flickr.com/photos/aure-paris/2747762150/

Obrigou-se a ficar em pé e seguiu o rio. A agura agitava-se sob


uma grossa camada de gelo quebrado. Esfregou as mãos para
esquentá-las, tendo cuidado de não chamar atenção de ninguém. Os
homens acotovelando-se em grupos, consumia café e distribuíam
panfletos, enquanto as mulhers com flores, cobriam seus gorros, nas
esquinas, conversando. Seus rostos estavam sérios, com um
propósito. Isabeau podia cheirar a fumaça persistente e viu montes
de lixo queimados nos distúrbios e nas lutas que se apoderaram das
ruas durante a noite. Ela tinha ouvido seu pai falar de mais e mais,
especialmente no outono passado, quando muitos haviam sido
massacrad
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Ela tinha ouvido falar que a guilhotina havia sido estabelecida
em um das praças da cidade, mas não sabia onde estava. Seus pais
não tinham ido a sua casa de Paris desde o Natal, quando tinha onze
anos. Lembrou-se que passou pela casa de opera em sua carruagem
e também da neve que caia nas ruas.

Ela podia andar em círculos e nunca encontrar o caminho.

Finalmente percebeu que a multidão parecia ir para a mesma


direção. Parou atrás de um grupo de mulheres com as mãos
apertadas, embaixo de um poste apagado. Prestando atenção nas
duas senhoras que se aproximavam lentamente.

— Perdão; senhora?

Uma das mulheres virou a cabeça para olhar-lhe raivosamente.

— Cidadã. — corrigiu ela, sombriamente.

Isabeau se corrigiu. — Perdão; cidadã. Poderia me dizer como


se encontra A Praça da Concordia*?

* Praça da Concordia: Esta praça, de forma octogonal, foi construída entre 1755 e 1775
por Gabriel, arquiteto de Luis XV. Foi o cenário de numerosos acontecimentos históricos
chave, incluindo a execução de Luis XXI. Com seus obelisco no centro, entregue a Carlos X
pelo vice-Rei do Egito, com suas estatuas e suas magestosa dimensões, a Praça da Concordia
é uma das praças mais lindas de Paris.

A mulher concordou com a cabeça. — Esta visitando Louisette*,


certo?

* Louisette: Rua próxima a Praça da Concordia.

— Oh! Hum, sim.

— Você não é daqui, não é?

Isabeau deu um passo para trás, perguntando-se se devia


colocar-se rapidamente em segurança no labirinto de vielas. — Sim,
eu sou.
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A mulher negou com a cabeça, de uma forma pouco amável. —
Por esta rua, vire a direita.

— Obrigada.
— Se você for depressa, pegará a ultima excecução. Só tem que
seguir a multidão e o barulho. Robespierre* prendeu um Duque e
uma Duquesa muito gordos**. — sua companheira assentiu
presunçosamnete. Uma delas cuspiu na sarjeta.

* Robespierre: Foi um político Francês (apelidado de “O Incorruptivel” por sua dedicação a


Revolução e por sua resistência aos subornos.) e um dos mais importantes lideres da
Revolução Francesa.
** N.T: É uma expressão, como quando dizem: Prenderam um peixe gordo, faz referencia ao
fato de que eram pessoas muito importantes.

O estomago de Isabeau caiu como uma pedra. Lançou-se a


correr, se esquivando de mesas de café e latidos de cães e carros
rodando lentamente pela rua. Ouviu um clamor de varias ruas mais,
mesmo com os batimentos de seu pulso em seus ouvidos. Os
paralelepípedos estavam escorregadios com o gelo, escorregou e caiu
contra o pilar de um grande edifício. Levantou-se, olhando
freneticamente ao redor. Todos os edifícios pareciam iguais, as
mesmas pedras e grandes janelasm colunas e calçadas. Respirou
lenta e profundamente. O burburinho ecoou, desta vez mais forte. Em
seguida correu novamente.

Ela chegou ao momento em que a guilhotina caiu, a lâmina


brilhante sob o sol. Houve uma pausa silenciosa e então mais gritos.
A terra parecia tremer com todo o barulho dos pés batendo no chão.
A pressão do barulho fez-lhe ter náuseas. Nunca tinha visto tanta
gente em sua vida. Tinha guardas com baionetas, centenas de
cidadãos e cidadãs, bebês, moleques, trombadinhas e prostitutas com
bochechas vermelhas.

Isabeau abriu caminho entre a multidão, fazendo pouco caso


dos pés que pisava e nos xingamentos que lhe jogavam em seu
caminho. Lutou contra a parede de pessoas, dirigindo-se para o
cercado no centro da praça. Foi quente, com tantos corpos e tochas
acesas em fogareiros. Na parte da frente, fixada alta e estranha,
estava a guilhotinha, havia mulheres tecendo, sentadas em frenre a
uma grande cesta, para onde rodavam as cabeças. Sentavam-se
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muito próximas, o sangue as salpicava. Haviam descoberto há muito
tempo, a distância perfeita e exata.

Isabeau podia ouvir suas agulhas batendo enquanto tentava se


empurrar no meio delas. No justo momento em que a lamina caiu
pela segunda vez.

A cabeça de seu pai rolou até a grande cesta, parando boca a


boca com a cabeça de sua mãe. Seus longos cabelos presos juntos. O
sangue filtrava através do vime, a madeira do estrado estava
manchada com o mesmo.

Os gritos de Isabeau foram afogados pelos expectadores


entusiasmados, Ela gritou até ficar rouca e sentiu a queda, e nem
sequer tentou deter o choque de sua cabeça contra o paviemento
frio.

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