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Novembro . Dezembro de 2016
Edição 31 . Ano 6
Entrevista
José Fernando Mercado
fala sobre os dez anos
do Simineral
Galvani investe
US$ 500 milhões
na Serra do Salitre

Comunidade

Mercado
Territórios
Sustentáveis estimula
S11D, da Vale, o desenvolvimento no Pará
é inaugurado

MERCADO ILEGAL DA AREIA


Estudo aponta que a extração ilícita do agregado
movimentou quase R$ 9 bilhões no país somente em 2015
CLIQUE
Paulo Moreira / MMAS Vale

SEMEADURA

Colaboradores da Vale fazem a semeadu-


ra de nativos na beira da rodovia munici-
pal de Canaã dos Carajás, no Pará, onde
a mineradora acaba de inaugurar o Com-
plexo S11D Eliezer Batista, maior projeto
de extração de minério de ferro da his-
tória da Vale e também da indústria da
mineração, segundo a empresa.

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
ESTANTE

Contenções: Constituição, Crise Hídrica, Geologia


Teoria e Aplicações Energia e Mineração do Petróleo
em Obras na América Latina
Richard Selley e Stephen
Denise Gerscovich e outros Pedro Curvello e outros A. Sonnenberg
Editora Oficina de Textos Editora Lumen Juris Editora Elsevier

O livro apresenta as estruturas de Resultado da união de pesquisas O livro conta os fundamentos da ge-
contenção, como muros de arrimo e feitas por professores da Universida- ologia do petróleo, mostrando as ca-
cortinas, e os fatores presentes no pro- de Federal Fluminense (UFF), a obra racterísticas físicas e químicas do óleo
cesso de construção, entre cálculos e mostra um panorama das áreas de natural, bem como as relativas ao pro-
investigação geotécnica. A obra tam- energia e de mineração nos países cesso de exploração e de produção
bém mostra o processo de empuxo de da América Latina em um período de dele. Além disso, dados econômicos
terra e como ele deve ser aplicado. crise hídrica. do campo também são apresentados.

• Ano: 2016 • Ano: 2016 • Ano: 2016


• 240 páginas • 396 páginas • 528 páginas
• R$ 92 • R$ 104 • R$ 130
• 16 x 23 cm • 16 x 23 cm • 16 x 23 cm
• Brochura • Brochura • Brochura
• ISBN: 978-85- • ISBN: 978-85- • ISBN: 978-85-
7975-248-3 8440-713-2 3528-433-1

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
SUMÁRIO

revistamineracao.com.br
Novembro . Dezembro de 2016
Edição 31 . Ano 6

24 10
Matéria de Capa Entrevista
Especialista denuncia a atividade Presidente do Simineral, José Fernando
ilegal de extração de areia no país faz balanço do setor minerário no Pará

20
Equipamentos
Os fora de estrada da
Mercedes-Benz já contam
com câmbio automatizado

14
38
Desastre

16
Cidades Minerárias Mercado
Conheça Cristalina, em Goiás, Investimento na Serra do Samarco aposta
uma das maiores reservas de Salitre visa suprir produção na cava Alegria Sul
quartzo do mundo de fertilizantes no Brasil para 2017

Seções 22 32
7 Editorial 19 Política Mineral 32 Comunidade
Política Mineral Comunidade
8 Panorama 20 Equipamentos 36 Cetem
Entenda Programa integra
10 Entrevista 22 Política Mineral 38 Cidades Minerárias a operação poder público,
13 Mercado 24 Matéria de Capa 42 Produto Final Timóteo sociedade e mineradora
14 Desastre 28 Ceamin 44 Equipamentos
16 Mercado 30 Surpreenda-se 46 Agenda

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
EDITORIAL

ROMPENDO OS
DESAFIOS DE 2016
Apesar da crise que atingiu o Brasil nos Ele escancara o problema, revelando
últimos anos, sobretudo neste ano, afe- que, por conta da ação ilícita, União,
tando praticamente todos os setores Estados e municípios brasileiros dei-
da economia, inclusive o da mineração, xaram de arrecadar até R$ 578 milhões
temos notícias boas para findarmos da Compensação Financeira pela Ex-
mais um ciclo de trabalho com as pers- ploração de Recursos Minerais (CFEM)
pectivas de um futuro mais próspero entre os anos de 2012 e 2015. O traba-
fortalecidas. Afinal, em janeiro, come- lho do agente federal é enriquecedor,
ça a operar em território brasileiro, no uma vez que contribui para coibir esse
Estado do Pará, um audacioso projeto tipo de ação ilegal, que não só atrasa a
da Vale: o Complexo S11D Eliezer Batis- economia do país, como degrada seu
ta, o maior de extração de minério de meio ambiente.
ferro da empresa e também da história
da mineração no país. Com uma capaci- As próximas páginas desvendam can-
dade anual de produção de 90 milhões tinhos brasileiros com riquezas que
de toneladas, o complexo, entrando em muitos ainda desconhecem. É o caso da
plena atividade a partir de 2017, deverá cidade de Cristalina, localizada no inte- Francisco Stehling Neto
Diretor de Relações Institucionais
impactar fortemente os mercados na- rior de Goiás. Dotado de um solo valio-
cional e internacional. Portanto, trata- so, por conta da abundância do quart- Com mais de 45 anos de expe-
-se de um marco na indústria minerária. zo, o lugar segue na contramão do riência no jornalismo, atuou nas
ritmo de desaceleração e instabilidade sucursais mineiras dos jornais
Fonte rica de minério, o Estado do financeira, destacando-se pela pujança “Folha de S. Paulo” e “O Globo”,
Pará nos revela também um exemplo econômica, conforme destacou na ma- além de 17 anos na editoria de
de ação de cidadania capaz de trans- téria a repórter Bruna Nogueira. política do “Estado de Minas”. Foi
formar vidas. É o programa Territórios secretário de Comunicação da
Sustentáveis, que promove o desen- As perspectivas de crescimento estão Prefeitura de Belo Horizonte e
volvimento de comunidades, como presentes em muitos outros locais do superintendente de Comunica-
as dos municípios de Faro, Oriximiná país. Em Campinas, no Estado de São ção Empresarial da Cemig.
e Terra Santa, e prepara a população Paulo, por exemplo, há pouco mais de
dessas localidades para o momento da um mês, a Mercedes-Benz adaptou seus
exaustão do setor minerário. fora de estrada para o câmbio automa-
tizado. A jornalista Sara Lira foi lá con-
Ainda sobre o Pará, uma entrevista com ferir o desempenho dos veículos com Brasil deixe de importar fertilizantes.
o presidente do Simineral (Sindicato a novidade. Também contemplando
das Indústrias Minerais do Estado), José esse e outros mercados, a ThyssenKru- Enfim, a despeito de todos os percalços
Fernando Gomes, traz um balanço dos pp trouxe para as terras brasileiras, no que a retração econômica trouxe para
dez anos de atividades do sindicato e segundo semestre, uma nova linha empresários e investidores, o desafio
uma avaliação sobre a evolução da mi- de britadores, cuja tecnologia oferece de identificar e preencher lacunas im-
neração no Estado. mais agilidade, reduzindo custos nos portantes no segmento minerário foi
processos operacionais. alcançado como forma de superar o
Em reportagem especial, a jornalis- complexo cenário econômico que, in-
ta Sara Lira esmiuçou um rico estudo Outra notícia relevante desta edição é a felizmente, instalou-se em nosso país.
desenvolvido pelo agente da Polícia que mostra que o país começa a adentrar Agora, é torcer para que, no próximo
Federal Luís Fernando Ramadon, que o fundo do mar para extrair granulados. ano, oportunidades de crescimento
denuncia a extração ilegal de areia no Como a repórter Bruna Nogueira apurou continuem sendo despertadas e que o
Brasil, atividade que, segundo ele, gera na reportagem sobre o assunto, a explo- mercado retome sua plenitude.
mais lucros do que o tráfico de drogas. ração marinha pode fazer com o que o Daniele Marzano (interina)
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
PANORAMA
Aender M. F.

CSN INICIA TRABALHOS


NA NOVA FÁBRICA
EM ARCOS (MG)

Após ter feito investimentos na ordem


de R$ 1,6 bilhão, a Companhia Siderúr-
gica Nacional (CSN) iniciou suas ope-
rações na nova fábrica de cimentos,
localizada no município de Arcos, no
Centro-Oeste de Minas Gerais. O com-
plexo tem capacidade anual de pro-
dução de 2,3 milhões de toneladas de
cimento e de 9.300 toneladas de clín-
quer por dia, um tipo de subproduto na
produção de cimento. Esse insumo pas-
sará a ser encaminhado para a unidade
do grupo em Volta Redonda (RJ). Já a
produção de cimentos em Arcos será
prioritariamente destinada aos merca-
dos mineiro e paulista. De acordo com
a CSN, com a operação da planta, serão
gerados 700 empregos diretos e 250
indiretos. Durante a construção da uni-
dade, foram criados aproximadamente
3.500 postos de trabalho diretos e cerca
de outros 5.000 indiretos.

VALE VENDE RESTANTE DA MINERAÇÃO PARAGOMINAS


A Vale anunciou em dezembro a conclusão da venda de sua participação restante de 13,63% na Mineração Paragominas
S.A., no Pará, para a Norsk Hydro. De acordo com informações divulgadas pela empresa, a transação totalizou US$ 113 mi-
lhões e está relacionada à venda dos ativos de alumínio da Vale, anunciada em 28 de fevereiro de 2011. Segundo a própria
empresa, a negociação é condizente com a estratégia da Vale de fortalecer seu balanço e focar ativos core.

PAGAMENTO DE DÍVIDA FAZ ARRECADAÇÃO DA CFEM EM MINAS GERAIS CRESCER 39,3%


O acidente com o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em 2015, não prejudicou a arrecadação da Com-
pensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) no âmbito estadual em 2016. De acordo com dados
divulgados pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o recolhimento aumentou 39,9% no acumulado
até outubro em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo informações do órgão, a arrecadação dos royalties
da mineração somou R$ 742,5 milhões, contra R$ 532,9 milhões nos mesmos meses de 2015. A alta foi resultado do
pagamento de uma dívida antiga da Vale com municípios mineradores mineiros, como Barão de Cocais, Belo Vale, Bru-
madinho, Nova Lima, Congonhas, Itabira, Itabirito, Ouro Preto, Rio Piracicaba e Santa Bárbara. As cidades de Catas Altas e
Mariana foram as exceções. Com esse resultado, Minas permanece na primeira posição entre todos os Estados arrecada-
dores da CFEM no Brasil, com uma participação de 45,19% do total recolhido nos dez primeiros meses deste exercício, um
montante de R$ 1,494 bilhão no país.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
VENDA DE PRODUTOS SIDERÚRGICOS AO MERCADO
BRASILEIRO TEVE QUEDA DE 1,9% EM NOVEMBRO
O Instituto Aço Brasil divulgou, na segunda quinzena de dezembro, o balanço do mercado siderúrgico para o mês de
novembro, e os dados não são dos melhores. As vendas internas de toneladas de produtos siderúrgicos em novembro
de 2016 foram de 1,3 milhão, uma queda de 1,9% em relação a novembro de 2015. No acumulado do período até o
mesmo mês, o número ficou em 15,3 milhões de toneladas, o que representa uma diminuição de 10,4% frente ao mes-
mo período do ano anterior. Já a produção brasileira de aço bruto foi de 2,4 milhões de toneladas em novembro de
2016, o que significa uma queda de 4,8% quando comparada com o ocorrido no mesmo mês de 2015. Em relação aos
laminados, a produção de 1,8 milhão de toneladas representa uma redução de 3,4% em novembro frente ao mesmo
mês de 2015. Com esses resultados, a produção acumulada de aço bruto entre janeiro e novembro de 2016 ficou em
28,1 milhões de toneladas, e a de laminados, em 19,5 milhões de toneladas, no mesmo período. Os números mostram
uma diminuição de, respectivamente, 8,9% e 7,7% sobre o mesmo período de 2015.

SIBELCO INVESTE R$ 160 MILHÕES EM NOVA FÁBRICA NO BRASIL


A empresa Sibelco, mineradora belga líder global no setor de multimineração, anunciou investimento de R$ 160 mi-
lhões em nova fábrica do Brasil. A planta, localizada na cidade de Jarinu, em São Paulo, será a terceira da empresa no
país e ocupa uma área total de 255 mil metros quadrados, contando com 7.300 metros quadrados de área construída.
O investimento está sendo feito com o apoio da agência de promoção de investimentos e exportação do governo do
Estado de São Paulo, a Investe São Paulo. A empresa irá trabalhar com a produção de carbonatos de cálcio e terá como
foco operações de moagem, secagem e preparação da base mineral líquida (slurry) para a indústria de tintas. A fábrica
de Jarinu também irá abrigar o 27° Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa em todo o mundo, sendo resul-
tado de um investimento da ordem de R$ 7 milhões.

Sebastião Jacinto / Ibram

IBRAM PREMIA EMPRESAS


POR SAÚDE E SEGURANÇA
DO TRABALHO
O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), por
meio do Mineração - Programa Especial de Se-
gurança e Saúde Ocupacional na Mineração,
coordenado por Cláudia Pellegrinelli (foto) -,
realizou, no dia 6 de dezembro, a cerimônia
de entrega do prêmio Melhores Práticas em
Saúde e Segurança do Trabalho. Na premia-
ção, destacaram-se a Vale, a Anglo American
e a AngloGold. A Vale foi a empresa mais con-
templada, recebendo cinco prêmios, entre eles
o de primeiro lugar em três categorias: Gestão
de Emergências em Barragens de Rejeitos, Me-
lhores Práticas em Altura na Mineração e Saúde
Ocupacional - Gestão do Absenteísmo. A ceri-
mônia ocorreu na sede da Federação das In-
dústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em
Belo Horizonte, e teve como principal objetivo
valorizar ações de destaque em Saúde e Segu-
rança do Trabalho (SST) desenvolvidas pelas
mineradoras e por demais empresas ligadas ao
setor em todo o Brasil.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
ENTREVISTA
Simineral
Divulgação
/ Divulgação
/ MRE

José Fernando Gomes Júnior

SIMINERAL:
dez anos de história
Em entrevista sobre o balanço das ações já realizadas pelo
Sindicato das Indústrias Minerais do Pará, o presidente da instituição,
José Fernando Gomes Júnior, destaca a maior participação da
sociedade e prevê um futuro promissor para a mineração no Estado
Sara Lira

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Prestes a completar dez anos, o Sindi- estabeleceu-se um elo importante en- entrar em operação, será um marco na
cato das Indústrias Minerais do Estado tre a mineração do Estado do Pará e a mineração brasileira. Hoje em dia, de
do Pará (Simineral) faz um balanço, na sociedade. Sobre o S11D, maior proje- acordo com José Fernando, 85% da ex-
voz de seu presidente, José Fernando to de produção de minério de ferro da portação no Pará é de minério, e o setor
Gomes Júnior, das atividades realiza- Vale atualmente no Brasil – inaugurado, representa quase 30% do Produto Inter-
das nesse período, do comportamento em dezembro, na cidade de Canaã dos no Bruto (PIB) do Estado, gerando mais
do mercado da mineração em tempos Carajás, no Pará (veja mais detalhes na de 290 mil empregos diretos e indiretos.
de crise e de suas expectativas para o matéria sobre a inauguração nesta edi- A estimativa é que, com a operação do
futuro do setor, que ele vê como muito ção) –, José Fernando tem perspectivas S11D, outros 90 mil colaboradores sejam
promissor. À frente da entidade desde bastante positivas: ele acredita que o demandados até 2021. O investimento
2014, José Fernando destaca o Plano boom de sua produção vá acontecer na planta, segundo ele, será de US$ 29,3
2030 como uma das ações de maior entre 2018 e 2022, podendo ultrapas- bilhões. Portanto, as expectativas de
resultado já executadas pelo Simine- sar Minas Gerais. O presidente da Simi- crescimento do segmento e, consequen-
ral. Conforme ele detalha na entrevista, neral enfatiza que se trata de uma obra temente, da economia do Estado Pará
por meio do planejamento estratégico, moderna e sustentável e que, quando são as melhores possíveis.

Quem é:
José Fernando Gomes preside o Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral) desde 2014. Sua atuação
profissional na área sindical da indústria é extensa, tendo ele já sido diretor de diversas instituições, como a Federação da
Indústria do Pará (Fiepa) e o Centro das Indústrias do Pará (CIP), do qual foi vice-presidente. José Fernando também atuou
como gerente regional de relações institucionais da Vale Pará/Maranhão. Ele é formado em gestão de negócios, pelo Centro
Universitário do Pará (Cesupa), e pós-graduado em gestão de pessoas, pela mesma instituição.

Mineração & Sustentabilidade: Em é realizada no Estado, você tem uma empregos diretos e indiretos e va-
janeiro, o Simineral completará dez marca muito forte. Os municípios mi- mos precisar, até 2021, de mais 90
anos. Quais os destaques da atua- neradores possuem o maior Índice de mil colaboradores. Além disso, estão
ção da entidade nesse período? Desenvolvimento Humano (IDH) do previstos US$ 29,29 bilhões de inves-
Pará. Destacam-se também a contri- timentos até 2020. As perspectivas
José Fernando Gomes Júnior: Acho buição das mineradoras, a sustentabi- são as melhores possíveis, pois há
que o maior destaque nesse tempo é lidade, o respeito ao meio ambiente e várias empresas pequenas e grandes
justamente o planejamento estratégi- a formação e a capacitação de mão de vindo se instalar aqui. O Estado tem
co que fizemos até 2030, no qual co- obra local. Nas empresas filiadas ao um endividamento baixo, e isso atrai
locamos um elo muito importante. A Simineral, em média 80% da mão de o investidor, que busca segurança ju-
mineração no Pará sempre fez ações obra é local. Além disso, as compras rídica. E eu costumo dizer que temos
para mineradores e, quando assumi- feitas pelas empresas instaladas no 37 anos de mineração, e Minas Gerais,
mos, nós nos aproximamos da socie- município movimentam a economia. mais de 350. Queremos aprender com
dade para mostrar o que a mineração Isso é uma contribuição muito for- Minas para construir um Pará cada
faz. E a sociedade faz parte de tudo o te do segmento minerário, que vem vez melhor.
que fazemos, sejam eventos, sejam avançando a cada ano.
feiras ou prêmios, sempre com o ob- M&S Há possibilidades de o Pará ul-
jetivo de construir um Estado melhor M&S Quais as expectativas do Simi- trapassar Minas Gerais em produção
para todos. neral para a próxima década? mineral nos próximos anos?

M&S Como foi a evolução da minera- JF Sou um otimista por excelência e JF Existe essa perspectiva forte com re-
ção do Pará nos últimos anos? com o pé no chão. O futuro é muito lação ao minério de ferro, mais precisa-
promissor, e os dados mostram os mente entre 2018 e 2020. Mas isso de-
JF A mineração vem numa constante motivos: 85% da exportação no Pará penderá do ajuste da planta do S11D.
evolução no Brasil, mas, no Pará, o é de minério. O setor representa qua- Podemos até passar na produção, mas,
setor tem crescido muito em todos se 30% do Produto Interno Bruto (PIB) como disse, queremos sempre apren-
os quatro cantos. Onde a mineração do Estado. Geramos mais de 290 mil der com Minas.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Entrevista com José Fernando Gomes Júnior

M&S O que esperar do S11D, inau- e, agora, voltamos para a normalidade sim, elaborado com a ajuda da socie-
gurado em dezembro? dos preços. Quem fez o dever de casa, dade civil, dos sindicatos, dos traba-
reduziu custos e ajustou a empresa lhadores. Para seu desenvolvimento,
JF Para nós, o S11D é motivo de muito já está colhendo os frutos e vai colher foram discutidos a formação e o pla-
orgulho porque é tudo de mais moder- muito mais. nejamento do Pará até 2030. Com isso,
no que está acontecendo no mundo a evolução de todas as cadeias ficou
no ramo de mineração. É um projeto M&S Como aproveitar todas essas bem clara no plano, permitindo que
sustentável, que prevê a reutilização da expansões sem se esquecer da sus- as empresas ligadas ao Simineral te-
água. Com ele não se usa fora de estra- tentabilidade? nham cota de minério para se insta-
da, o que pode gerar uma produção de lar aqui. Nós temos matéria-prima, e
90 milhões de toneladas com alto teor JF As empresas que não tiverem em o governo dá incentivos para que as
de minério. Além disso, o S11D está seu DNA a sustentabilidade e o meio empresas venham para o Estado e
abrindo um novo marco na mineração ambiente estarão fora do mercado a utilizem. Nosso plano já se tornou
brasileira, que é o turismo mineral. É mundial. As empresas filiadas ao Simi- mais do que uma realidade, pois vem
uma nova janela de oportunidade que neral têm respeito ao meio ambiente e atraindo várias empresas dos mais va-
se abre para quem quer explorar esse às comunidades locais. As pessoas que riados setores, como dendê, chocolate
mercado. Na Floresta Nacional de Ca- compram minério do Pará em outros e açaí, além da própria mineração.
rajás, são 400 mil hectares de floresta países já começam a analisar a produ-
preservada e só 2.500 usados para a ção industrial da planta, se a produção M&S Sobre o Novo Marco da Mineração,
mineração. Enfim, o S11D é motivo de se deu de forma sustentável, se houve quais as expectativas do Simineral?
muito orgulho para o Pará, por toda sua um bom relacionamento com as co-
tecnologia, pelo desenvolvimento de munidades locais e respeito ao traba- JF Concentramos toda essa discussão
Canaã dos Carajás e por toda a contri- lhador. Temos este diferencial, que é o no Instituto Brasileiro de Mineração
buição de impostos para nosso Estado respeito à Amazônia. O mercado está (Ibram) a fim de que alguns Estados
e também para o Brasil. excluindo as empresas que não respei- não fiquem isolados. Dentro do Ibram
tam essas questões. há um comitê para tratar especifica-
M&S Qual o impacto desse projeto mente dessa questão, pois o órgão
para o Estado, na visão do Simineral, M&S O Plano 2030 do Pará chama a abrange o país inteiro, e ele tem con-
em relação a este período de crise? atenção para uma exploração sus- duzido isso de uma boa forma.
tentável, melhorando a relação em-
JF O S11D vem para revolucionar tudo presa x Estado x sociedade. Os pri- M&S Como a crise tem afetado a mi-
que já se viu de mineração de ferro no meiros passos já foram dados? neração paraense?
mundo. Estamos trabalhando forte-
mente para que as empresas que pas- JF Um governo planejado é tudo o JF Qualquer crise preocupa. Devido a
sarem por este momento voltem mais que a sociedade pode querer. E nosso uma gestão séria, neste ano o Pará não
fortes. Tivemos um boom do superciclo planejamento não foi fechado, mas, ficou com as contas no negativo. E isso
motiva outros setores. Como eu disse,
Simineral / Divulgação
quem fez o dever de casa, com esse
olhar para frente, vai sair bem melhor
desta fase.

M&S O novo governo parece dispos-


to a dar um novo “gás” ao programa
de concessões em infraestrutura. O
senhor acredita que, desta vez, have-
rá um êxito maior na proposta?

JF Eu confio muito nesse programa por-


que é o que vai proporcionar desenvol-
vimento para o Estado, com a geração
de empregos de modo rápido. O uso
de matéria-prima causa uma geração
direta de emprego. Com isso, a econo-
mia se movimenta. E precisamos fazer
a economia rodar no país. Dando certo
isso, todos vão ganhar: país, sociedade
e empresas. É um excelente início.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
MERCADO
Eny Miranda

Inauguração

O GIGANTE ENTRA EM OPERAÇÃO


Maior projeto de extração de minério de ferro da Vale e da indústria
da mineração, o Complexo S11D Eliezer Batista, no Pará, é inaugurado
com capacidade anual de produção de 90 milhões de toneladas
Sara Lira

Entra em operação comercial no mês de da economia”, declarou na inauguração. ckless, que substitui os tradicionais cami-
janeiro o maior projeto de extração de nhões fora de estrada por correias trans-
minério de ferro na história da minera- O ministro de Minas e Energia esteve portadoras, gerando uma redução de
ção, segundo a Vale: o Complexo S11D no local representando o presidente cerca de 70% do consumo de diesel. O
Eliezer Batista. A obra foi inaugurada, Michel Temer (PMDB). Para ele, o pro- beneficiamento promovido é a umida-
em uma cerimônia especial, no dia 17 de jeto vai contribuir para a reestrutura- de natural, diminuindo o gasto de água
dezembro, na usina localizada no muni- ção do Brasil diante do atual momento e dispensando o uso de barragens de
cípio de Canaã dos Carajás, no Pará. O econômico. “Empresas como a Vale, rejeitos. “Para além de um empreendi-
evento contou com a presença do dire- que acreditam em nosso país, mos- mento que agrega tecnologia de ponta,
tor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, tram que o futuro há de ser muito me- baixo custo e alta produtividade, o S11D
do ministro de Minas e Energia, Fernan- lhor”, destacou Fernando Bezerra. expressa a capacidade de realizar de
do Bezerra Filho, de autoridades do Es- nossa empresa”, ressatou Murilo Ferreira.
tado, além de executivos da mineração. A solenidade foi encerrada com o acio-
namento de um botão (foto) inaugu- HISTÓRICO DA OBRA
O projeto tem capacidade anual de produ- rando, oficialmente, o Complexo S11D.
ção de 90 milhões de toneladas, devendo O nome do espaço faz homenagem a No ano de 2001, foram feitos os pri-
impactar os mercados nacional e interna- Eliezer Batista, engenheiro e presiden- meiros estudos de capacidade técnica
cional. Portanto, a inauguração representa te da Vale por duas vezes. Ele é pai do e de viabilidade econômica na região
um marco na indústria minerária, mesmo empresário Eike Batista. onde hoje está o complexo. A Licen-
no cenário atual, conforme pontuou Fer- ça Prévia (LP) foi emitida em junho de
reira. “Tínhamos o desafio de implantar INOVAÇÃO 2012, e, um ano depois, saiu a Licen-
um dos maiores projetos de mineração ça de Instalação (LI). Em dezembro de
do mundo mesmo diante de incertezas. O complexo reúne inovações tecnoló- 2016, o Instituto Brasileiro do Meio
Enfrentamos os altos e baixos do merca- gicas que, ao mesmo tempo, oferecem Ambiente e dos Recursos Naturais Re-
do e a volatilidade do preço para levar em sustentabilidade ao projeto e benefi- nováveis (Ibama) concedeu a Licença
diante o S11D com uma inabalável con- ciam a produtividade da mina. Um dos de Operação (LO), válida por dez anos,
fiança na recuperação e no crescimento diferenciais é a utilização do sistema tru- podendo ser renovada.

Foram investidos O minério da região A vida útil da mina do


US$ 14,3 bilhões apresenta teores de S11D está estimada em
nas obras do complexo 66,7% de ferro 30 anos
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
DESASTRE
Léo Drumond / Nitro / Samarco

Cava de rejeitos

ALEGRIA SUL
ESPERANÇA DA
SAMARCO PARA 2017
Estrutura para receber rejeitos, localizada em Ouro Preto,
está com processo de licenciamento avançado, mas
ainda depende da liberação do Complexo de Germano
Sara Lira

Após 13 meses de inatividade, a Samar- para retomar os trabalhos. As apostas da De acordo com informações divulgadas
co espera retornar com as operações mineradora estão na utilização da cava pela empresa, o uso da cava foi aprova-
ainda em 2017. Parada desde o rompi- de Alegria Sul, localizada no município do pelo Departamento Nacional de Pro-
mento da barragem de Fundão, em no- de Ouro Preto, em Minas Gerais, para a dução Mineral (DNPM) em nota técnica
vembro de 2015, uma das maiores tra- disposição de rejeitos do Complexo In- emitida pelo órgão em 21 de novembro
gédias ambientais do país, que causou dustrial Germano-Alegria, que abrange de 2016. A justificativa do departamento
a morte de 19 pessoas, a empresa con- Mariana, no retorno das operações, com é que a forma de disposição do espaço na
tinua na busca pelas licenças ambientais 60% da capacidade produtiva. cava apresenta mais segurança em com-

Cava de Alegria Sul é a


grande aposta da Samarco
para retomar operações
com 60% da capacidade
produtiva em 2017

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Jefferson Almeida

paração com a barragem, já que a primei- de Justiça de Mariana, comentou a im- pela Semad para assegurar a viabilida-
ra permite o confinamento do rejeitos. portância de abordar com a população de ambiental do empreendimento.
as próximas fases, bem como os trâmi-
Além de utilizar uma cavidade já existen- tes para a obtenção de nova licença. “A Segundo a pasta, não há previsão para
te, a estrutura contará com um dique de regularidade do licenciamento, além a liberação do documento, já que seu
10 metros de altura feito em solo com- de requisito legal, é meio de se evita- termo de referência, que vai nortear o
pactado, oferecendo uma capacidade rem novas tragédias, sendo benéfica ao estudo de impacto ambiental da área,
total de armazenamento de 17 milhões meio ambiente, à proteção dos direitos ainda está sendo elaborado. Já o relativo
de metros cúbicos de rejeitos, o que irá humanos e ao próprio desenvolvimen- à cava segue em análise pelos técnicos
garantir um horizonte de cerca de dois to econômico”, afirmou no texto. da Semad e, após a emissão de um pare-
anos para as operações da Samarco. cer técnico, ele será analisado pelo Con-
Além de representantes da empresa e selho de Política Ambiental (Copam).
Enquanto isso, a empresa pretende dos moradores, participaram do encon-
intensificar análises em busca de alter- tro integrantes do Fórum Nacional da PREJUÍZOS
nativas para médio e longo prazos. As Sociedade Civil nos Comitês de Bacias
opções contemplam estruturas dispo- Hidrográficas (Fonasc), da Prefeitura Conforme a Samarco informou, atual-
níveis e já ambientalmente impactadas de Mariana, da Secretaria de Estado de mente o Complexo de Germano compor-
na região do Complexo de Germano, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sus- ta reservas de 2,86 bilhões de toneladas
bem como novas tecnologias de trata- tentável (Semad) e da empresa respon- de minério. O volume e a infraestrutura
mento dos rejeitos. sável pelo estudo de impacto ambiental. de transporte de três minerodutos mais
as quatro usinas pelotizadoras no Espírito
DEBATE TRÂMITES Santo garantiriam à mineradora condi-
ções de continuar operando com compe-
A utilização da cava de Alegria Sul foi De acordo com informações divulga- titividade no mercado internacional.
debatida em audiência pública nos mu- das pela Semad, a utilização da cava
nicípios de Mariana e Ouro Preto em de Alegria Sul depende da liberação da Com a paralisação dos trabalhos desde
dezembro. Na ocasião, representantes licença de operação do Complexo de novembro de 2015, a empresa calcula
da Samarco explicaram o plano para Germano. Mas, além dela, a empresa uma perda de R$ 4,4 bilhões de fatu-
moradores das duas cidades e trataram dependerá também da Licença Ope- ramento direto e indireto na cadeia de
da retomada das atividades. Por meio racional Corretiva (LOC), que irá reunir produção da companhia em 2017 – va-
de nota, o promotor de Justiça Guilher- todas as estruturas existentes no Com- lor correspondente a 1% do Produto In-
me de Sá Meneghini, da 2ª Promotoria plexo de Germano. A LOC foi solicitada terno Bruto (PIB) de Minas Gerais.

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
MERCADO
Fotos: Fabrício Trevisan

Produção de fertilizantes

Galvani investe
US$ 500 mi na
Serra do Salitre
Projeto, que inclui extração, beneficiamento e produção
de fertilizantes, vai contribuir para o suprimento do produto
no Brasil, que, atualmente, importa cerca de 70% dele

Sara Lira

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Entrevista com Duarte Júnior

A região de Patrocínio, no Alto Paranaí- De acordo com o executivo, a mina entra


O complexo vai contar ba de Minas Gerais, vai receber mais um em operação em 2017, e as plantas quí-
com todo o processo grande investimento na área de fertili- micas, em 2018, com o projeto atingindo
necessário para a produção
do fertilizante: mina,
zantes. Além de recursos obtidos da Vale, o ramp up (a capacidade total) em 2021.
usina de beneficiamento os quais foram anunciados pela Revista O objetivo é contribuir para o suprimento
e planta química Mineração & Sustentabilidade, agora a de fertilizantes no Brasil, que, atualmente,
Galvani está aplicando US$ 500 milhões importa cerca de 70% desse produto.
em um projeto que vai englobar extra-
ção de rocha fosfática, beneficiamento Devido à forte atividade de agricul-
do produto e tratamento químico para tura nacional, o país é o quarto maior
a finalização do fertilizante na divisa, em consumidor de fertilizantes do mundo,
Serra do Salitre. As obras já estão avan- ficando atrás apenas de China, Índia e
çadas, e a previsão é que a primeira fase Estados Unidos. Enquanto o consumo
do projeto seja colocada em prática no mundial desses produtos aumenta a
segundo semestre de 2017. cada ano cerca de 2%, em território
nacional esse índice chega a 4%. “Esse
No Complexo Mineroindustrial de Ser- projeto vai ajudar o Brasil a reduzir a
ra do Salitre, que contempla uma área dependência de exportação de fertili-
total de 2.500 hectares na cidade, a zantes”, salienta.
capacidade de produção anual chega
a 1,2 milhão de toneladas (mi/ton) de Conforme Horbach explica, por conta
concentrado fosfático; 250 mi/ton de do clima e do tipo de solo brasileiro, os
ácido fosfórico e 900 mi/ton de fertili- fertilizantes mais demandados por aqui
zantes granulados. “O minério vai che- são os fosfatados, enquanto, ao redor
gar com 4% de concentrado fosfático, do mundo, são os hidrogenados.
e vamos conseguir elevar para mais
ou menos 30%”, explica o gerente de O COMPLEXO
projetos da Galvani, Gustavo Horbach.
A expectativa é que com o projeto se- O projeto inclui uma mina, cujo tempo
jam gerados em torno de 1.200 postos de vida útil está estimado em 25 anos,
de trabalho, sendo aproximadamente com lavra a céu aberto. De lá, o minério
700 diretos e 500 indiretos. extraído será encaminhado por meio

Obras estão adiantadas;


previsão é que a operação
comece no segundo
semestre de 2017

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Galvani investe US$ 500 mi na Serra do Salitre

de correias transportadoras para a usi- de 20%, a qual será voltada apenas para círculo de rejeitos. “Isso depende mui-
na de concentração, onde será benefi- consumo no Brasil, direcionada princi- to de espaço disponível, mas espaço
ciado. As obras estão avançadas, segun- palmente para os grandes produtores. a gente tem. Hoje, essa barragem
do o gerente de projetos. Em seguida, o está em um nível, mas vai crescer 50
produto será levado para as unidades SEGURANÇA DE BARRAGENS metros para cima. E esse crescimento
químicas, onde serão produzidos áci- ocorrerá sem a necessidade de mobi-
dos sulfúrico e fosfórico para acidula- O rompimento da barragem da Samar- lização de uma área sob a água. Do
ção e granulação de fertilizantes. co em Mariana, em dezembro de 2015, ponto de vista do controle de quali-
fez com que os brasileiros passassem a dade, isso nos dá uma tranquilidade
Enquanto a última fase em Minas Gerais temer essas estruturas, mas também e uma segurança que talvez outros
não é finalizada, o minério beneficiado demandou das empresas mais atenção projetos não tenham”, afirma.
seguirá para a unidade da Galvani em em relação ao quesito segurança. Assim,
Paulínia, no interior de São Paulo, para para redobrar os cuidados quanto à de- Uma das barragens terá capacidade fi-
ser transformado em fertilizante. De posição dos rejeitos no Complexo Mine- nal de 200 milhões de metros cúbicos,
acordo com Horbach, o projeto apre- roindustrial de Serra do Salitre, a direção o que equivale a 80 mil piscinas olímpi-
senta soluções de engenharia própria, da empresa promoveu duas auditorias cas. Agora, estão sendo feitos os dispo-
criadas pela empresa, que agilizam a independentes, além de adotar um mé- sitivos de segurança extravasores, úteis
execução e ainda reduzem os custos todo de manutenção que, praticamente, em caso de volume excessivo de chuvas.
em aproximadamente 15%. anula a possibilidade de acidentes. “Estamos com esses dispositivos pron-
tos para a segurança das comunidades.
A expectativa da empresa é que, utili- Segundo Horbach, o alteamento será Essa barragem tem métodos construti-
zando sua capacidade total, a produção feito para trás. Com isso, não será pre- vos e de controle que são o ‘estado da
nacional de fosfato tenha um acréscimo ciso mobilizar material de dentro do arte’ da mineração hoje em dia”, resume.

SUSTENTABILIDADE EM PAUTA
A preocupação com o meio ambiente água. Toda quantidade desse líquido Instituto Lina Galvani. São programas de
e com as comunidades do entorno está empregada no processo de beneficia- educação ambiental, palestras em esco-
presente no projeto e também estará mento será tratada e reutilizada dentro las da região, encontro com represen-
durante a operação, conforme garante da própria mina. “É impossível pensar tantes da prefeitura, entre outras ações.
Gustavo Horbach. Segundo ele, um dos em um projeto desse porte sem que ele A preocupação com a fauna e a flora
destaques é que 80% dos 54 armazéns tenha um foco de sustentabilidade e também está presente através do enca-
são construídos com eucaliptos prove- proteção ao meio ambiente”, diz. minhamento de animais silvestres para
nientes de reflorestamento. um centro específico em Patos de Minas
A empresa também tem desenvolvido e do plantio de novas árvores, como for-
Além disso, o complexo vai contar com uma série de trabalhos com a comuni- ma de compensar as que precisaram ser
um sistema de reaproveitamento de dade de Serra do Salitre, por meio do extraídas para a execução do projeto.

ÁREA TOTAL INVESTIMENTO EMPREGOS CAPACIDADE PRODUTIVA

O PROJETO 1,2 milhão de toneladas


de concentrado fosfático

EM NÚMEROS 2.500 hectares na


Serra do Salitre, US$ 500
Cerca de 1.200,
250 milhões de toneladas
entre diretos e
a 398 km de milhões de ácido fosfórico
indiretos
Belo Horizonte
900 milhões de toneladas
de fertilizantes granulados

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
POLÍTICA MINERAL
Wesley Mcallister / Ascom AGU

Operação Timóteo

Deflagrada em 15 de dezembro, no Distrito Federal


e em mais 11 Estados, operação apura esquema
de corrupção na exploração mineral
Sara Lira

Um diretor do Departamento Nacional também foi presa. Já Alberto Lima Silva (CGU) enviou à PF uma sindicância que
de Produção Mineral (DNPM), órgão li- Jatene, filho do governador do Pará, Si- apontava incompatibilidade na evolu-
gado ao Ministério de Minas e Energia, mão Jatene (PSDB), supostamente en- ção patrimonial de um dos diretores do
e outras dezenas de pessoas, incluindo volvido no esquema, foi alvo de man- DNPM. Apenas essa autoridade pública
religiosos, estão sendo investigados dado de prisão temporária. pode ter recebido recursos que ultra-
pela Polícia Federal (PF) por suspeita no passam os R$ 7 milhões.
envolvimento em um esquema de cor- ESQUEMA
rupção na cobrança de royalties de ex- O nome da operação faz referência a
ploração mineral. A chamada “Operação A organização criminosa investigada, uma passagem do livro bíblico de 1ª Ti-
Timóteo” foi deflagrada no dia 15 de de- segundo a PF, era dividida em ao menos móteo, capítulo 6, versículo 9, que diz:
zembro e cumpriu mandados de busca quatro grandes núcleos: o captador, for- “Os que querem ficar ricos caem em
e apreensão em 52 diferentes endereços mado pelo diretor do DNPM e por sua tentação, em armadilhas e em muitos
relacionados ao grupo criminoso. esposa, que realizavam a captação de desejos descontrolados e nocivos, que
prefeitos interessados em ingressar no levam os homens a mergulharem na
Cerca de 300 policiais cumpriram, por esquema; o núcleo operacional, compos- ruína e na destruição”.
determinação da Justiça Federal, 29 to por escritórios de advocacia e por uma
conduções coercitivas, quatro manda- empresa de consultoria, em nome da es- RESPOSTA
dos de prisão preventiva, 12 de prisão posa de Moreira, que repassava valores
temporária, o sequestro de três imóveis indevidos a agentes públicos; o núcleo Por meio de nota, o DNPM esclare-
e o bloqueio judicial de valores de- político, que reunia agentes políticos e ceu que o cumprimento do manda-
positados que podem alcançar R$ 70 servidores públicos responsáveis pela do se restringiu ao âmbito da Direto-
milhões. As ações foram realizadas no contratação dos escritórios de advocacia ria de Procedimentos Arrecadatórios
Distrito Federal e em 11 Estados: Bahia, integrantes do esquema; e o colaborador, do DNPM em Brasília e informou que
Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, que se responsabilizava por auxiliar na prestou a assistência necessária à Po-
Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do ocultação e na dissimulação do dinheiro. lícia Federal. Até o fechamento desta
Sul, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins. edição, o órgão ainda tomava conheci-
Entre os investigados por esse apoio à mento do teor das investigações para,
De acordo com informações da Polícia lavagem do dinheiro está o pastor Silas se necessário, adotar as providências
Federal, o diretor do DNPM, Marco An- Malafaia, que recebeu valores do princi- administrativas cabíveis. O departa-
tônio Valadares Moreira, detentor de pal escritório de advocacia que atuava mento ainda declarou estar “colabo-
informações privilegiadas a respeito de no esquema. A suspeita é que ele tenha rando com todos os órgãos envolvidos
dívidas de royalties, oferecia os serviços emprestado contas-correntes de uma na investigação para a completa eluci-
de dois escritórios de advocacia e de instituição religiosa sob sua influência dação dos fatos”.
uma empresa de consultoria a muni- com a intenção de ocultar a origem ilí-
cípios com créditos de Compensação cita dos valores. Já o pastor Silas Malafaia nega que te-
Financeira pela Exploração de Recursos nha envolvimento em qualquer caso de
Minerais (CFEM) junto a empresas de TIMÓTEO corrupção. Em um vídeo divulgado na
exploração mineral. internet, ele diz que recebeu uma doa-
A operação Timóteo começou em 2015, ção de R$ 100 mil de um advogado, mas
Além de Marco Antônio, a esposa dele quando a Controladoria Geral da União que não sabia a origem do dinheiro.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
EQUIPAMENTOS
Fotos: Mercedes-Benz / Divulgação

Automatizado

NOVA LINHA

FORA DE ESTRADA
Mercedes-Benz adapta tecnologia Powershift
no câmbio de caminhões extrapesados
Sara Lira

Desde o mês de outubro, a Mercedes- mada Powershift, já existia nos rodoviários, tado a jornalistas em novembro, durante
-Benz passou a oferecer no Brasil o câm- mas foi adaptada para os mais robustos, evento realizado em Campinas, no inte-
bio totalmente automatizado para cami- como os caminhões extrapesados Axor rior de São Paulo, onde estão localizadas
nhões fora de estrada. A tecnologia, cha- 3344 e 4144. O novo câmbio foi apresen- a fábrica e uma pista de teste da empresa.

Os novos caminhões extrapesados


da Mercedes-Benz já contam
com o câmbio automatizado,
da tecnologia Powershif.

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Caixa de transmissão do câmbio - A
nova linha ainda conta com sensor de
inclinação, reduzindo a chance de retor-
no nas arrancadas em terrenos íngremes

A ausência do pedal da embreagem o ajuste de EcoRoll coloca a transmis- superior da cabina, proporcionando
não afeta o desempenho do veícu- são do veículo, de forma segura e contro- ao veículo proteção contra avarias e
lo, que também conta com sensor de lada, em neutro quando não há deman- eventuais quebras do filtro causadas
inclinação, reduzindo a chance de re- da de torque. A inovação dispensa a in- por impactos com terreno acidentado,
torno nas arrancadas em terrenos ín- tervenção do motorista e contribui para comuns nas operações fora de estrada.
gremes. O dispositivo identifica a incli- a redução do consumo de combustível. “O Axor off-Road é muito usado na mi-
nação da rampa e seleciona a marcha neração no Brasil. Estimamos que cerca
mais adequada para cada situação: De acordo com Ribeiro, dos três prin- de 1.200 caminhões do tipo estejam
mais nas subidas íngremes e menos cipais mercados dos fora de estrada, em operação nesse setor em todo o
nas rampas leves. “O câmbio totalmen- canavieiro, madeireiro e minerário, país”, informa.
te automatizado PowerShift não foi este último apresenta particularida-
simplesmente transferido para os fora des em relação aos outros dois de- Outra mudança realizada, segundo
de estrada; após mais de um ano de vido à agressividade que o trabalho ele, foi a inserção na cabina do espe-
testes e de aplicações nos setores mi- demanda, impondo ao veículo a cir- lho frontal, que amplia o ângulo de
nerário, canavieiro e madeireiro, ele foi culação em terrenos irregulares, com visão do motorista, proporcionando-
adaptado para as reais necessidades pedras e muita poeira. Por isso, alguns -lhe mais segurança, principalmente
desse tipo de veículo”, destaca o enge- dos ajustes realizados foram pensa- durante manobras.
nheiro de caminhões extrapesados da dos especificamente para esse setor.
Mercedes-Benz, Hélio Ribeiro. “Um item muito pedido foi o protetor O recomendado para a mineração é o
de cárter. Nós tomamos o cuidado Axor 4144, pois ele apresenta estrutura
TECNOLOGIA de atender tanto à aplicação da cana mais forte, com molas apropriadas para
quanto à do minério. Afinal, as pedras aplicações em mineradoras, além de
Além da adaptação, os caminhões e os cascalhos acabam danificando o chassi reforçado. O veículo tem a capa-
fora de estrada da linha Axor também radiador e o cárter”, detalhou. cidade técnica de 41 toneladas e custa
contam com três novas teclas, que au- em média R$ 430 mil, enquanto o 3344
xiliam no desempenho do veículo. A O diretor de vendas e marketing de suporta 33 toneladas e vale em torno
Power Mode Off-Road fica acionada caminhões da Mercedes-Benz, Ari de de R$ 400 mil.
visando a um maior torque durante Carvalho, completa, afirmando que os
a operação. Caso seja necessário circu- caminhões da linha Axor também apre- De acordo com Ari de Carvalho, o lan-
lar com o veículo em rodovias, basta sentam outras características impor- çamento segue o conceito Econfort,
desligá-la. A tecla de manobra ajuda tantes para a mineração, como eixos disponibilizado pela Mercedes em uma
na movimentação, permitindo, por traseiros e chassi robusto. Outros ele- série de caminhões. A ideia dele é unir
meio do pedal acelerador, que o ca- mentos novos são os estribos flexíveis economia, conforto, força e desempe-
minhão tenha um maior controle. Já e o filtro de ar posicionado na lateral nho para o transporte de carga.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
POLÍTICA MINERAL
Divulgação

Comissão de Recursos e Reservas Comissão padroniza relatórios


de projetos de mineração e,
com isso, oferece mais seguran-
ça a investidores do setor

CBRR
JÁ ACEITA REGISTROS
DE PROFISSIONAIS
Entidade inicia trabalhos para adequar
relatórios de recursos e de reservas nacionais
aos padrões de comitê internacional
Sara Lira

Após a criação oficial da Comissão Bra- de Mineração (Ibram). dá, Chile, Estados Unidos, Cazaquistão,
sileira de Recursos e Reservas (CBRR), Mongólia, Rússia e Europa.
em maio de 2015, a instituição já come- O principal propósito da entidade é ade-
ça a receber registros de profissionais quar os relatórios de recursos e de reser- A padronização dos relatórios confe-
que desejam se cadastrar. A CBRR, a pri- vas nacionais aos padrões do Comitê de re aos investidores segurança jurídica
meira do tipo no Brasil, foi fundada em Reservas Minerais e Padrões Internacio- para financiarem projetos de minera-
parceria com a Associação Brasileira de nais de Relato (Committee for Mineral Re- ção, já que a própria CBRR preparou o
Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), serves International Reporting Standards Guia Brasileiro para Declaração de Re-
com a Agência Brasileira de Desenvolvi- – Crirsco), órgão ao qual é filiada. Além cursos e Reservas Minerais, que orienta
mento Tecnológico da Indústria Mine- do Brasil, o Crirsco também conta com a os profissionais na elaboração desses
ral (Adimb) e com o Instituto Brasileiro filiação de África do Sul, Austrália, Cana- documentos, conforme explica o presi-
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Sara Lira

dente do Comitê de Registro da CBRR,


Edson Ribeiro. “O Crirsco define um pa-
drão internacional a ser seguido, com
adaptações às leis locais. Quando eu
falo de adotar nosso guia, é porque ele
segue o padrão internacional. Então,
ele vai ser muito similar no Canadá, na
Austrália e nos demais países minera-
dores, que estão indo nessa direção”,
destaca. O guia vale para todos os bens
minerais sólidos, não incluindo petró-
leo, gás ou água mineral.

O documento também estabelece cri- Presidente do Comitê Técnico


térios e definições básicas de termino- da CBRR, Thomas Brenner,
logias para se classificarem recursos ou que elaborou o Guia Brasileiro
reservas minerais. “Ele define o nível para Declaração de Recursos e
Reservas Minerais e o presidente
de estudo técnico que você precisa ter do Comitê de Registro da CBRR,
para declarar as reservas, os parâme- Edson Ribeiro.
tros para dizer se elas são aprovadas e
também um checklist do que é necessá-
rio abordar nos relatórios”, completa o
presidente do Comitê Técnico da CBRR,
responsável pela elaboração do guia,
Thomas Brenner. vai poder assinar relatório em nenhum que conta com membros de todos as
dos países filiados ao Crirsco”, pontua nações filiadas.
CREDIBILIDADE PROFISSIONAL Brenner. “Nossa expectativa é fortalecer
o mercado para trabalhadores qualifi- A partir do momento em que a institui-
Além dessa padronização, a CBRR tam- cados, dar credibilidade para os do Bra- ção começar a ter profissionais registra-
bém atesta a credibilidade do profissio- sil, aumentar esse intercâmbio técnico dos, ela vai passar a disponibilizar cursos,
nal que faz o relatório, já que, para se e profissional com os outros países do eventos e materiais para eles, bem como
filiar, ele deve seguir uma série de pré- Crirsco, e, no fim, atrair capital externo buscar reciprocidade com outros países.
-requisitos. Algumas das exigências são para investir no Brasil também”, com- De acordo com os representantes da
possuir curso universitário concluído no plementa Ribeiro. Os dois também são CBRR, isso vai estimular o setor mineral
Brasil ou em instituição reconhecida no os representantes brasileiros do Crirsco, do país, atraindo investimentos.
exterior, ter tido atuação relevante por
pelo menos dez anos na indústria da mi-
neração, bem como ocupação de uma
posição de responsabilidade por, no mí-
nimo, três anos, entre outras. Podem se SAIBA COMISSÃO BRASILEIRA DE
registrar geocientistas, geólogos e enge- MAIS RECURSOS E RESERVAS (CBRR)
nheiros que atuam no segmento.
# Trata-se de um órgão que objetiva incluir melhores práticas na elaboração de
Segundo os representantes da insti- relatórios de acordo com os termos internacionais, bem como organizar o pro-
tuição, o profissional registrado ganha cesso de certificação e de manutenção do registro de profissionais no Brasil.
vantagens, como autorização para as-
sinar relatórios em qualquer um dos # É filiada ao Comitê de Reservas Minerais e Padrões Internacionais de Relato
países filiados ao Crirsco, por meio da (Committee for Mineral Reserves International Reporting Standards – Crirsco).
CBRR, que fará acordo de reciprocidade
com outras nacionalidades. Além dis- # Por meio da CBRR, o Brasil passa a ser um dos países filiados, juntamente
so, há um código de ética rígido, que com África do Sul, Austrália, Canadá, Chile, Estados Unidos, Kazaquistão, Mon-
serve como garantia da qualidade dos gólia, Rússia e Europa.
profissionais envolvidos. “Esse código
prevê medidas para advertir, punir ou # Profissionais interessados em se registrar ou que desejam obter mais infor-
até expulsar alguém que tenha feito al- mações sobre o órgão podem acessar o site cbrr.org.br. Lá constam uma ficha
guma declaração falsa. Assim, o profis- de cadastro e a lista de documentos necessários para o registro.
sional que cometer alguma fraude não
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Brasil
MATÉRIA DE CAPA
Fotos: Luís Fernando Ramadon

Estudo

A extração
ilegal de areia no

Estudo apresenta números alarmantes


da atividade ilícita, cujos lucros no país chegam a ser
superiores aos dos gerados com o tráfico de drogas
Sara Lira

Um dos locais onde se extrai


areia de forma ilegal é
na cidade de Seropédica,
no Rio de Janeiro

A extração ilegal de areia no Brasil gera a atividade em todo o território nacio- pesquisa “A extração ilegal de areia no
lucros maiores do que o tráfico de dro- nal. Realizada pelo agente da Polícia Brasil” foi divulgada em novembro de
gas. O dado é alarmante e faz parte da Federal (PF) e especialista em direito 2016 e contém análises da atividade
conclusão de um estudo que analisou ambiental Luís Fernando Ramadon, a ilícita praticada no país entre 2012 e
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
2015. Segundo o estudo, a receita ge- O estudo de Ramadon se baseou em rial, cometendo não somente a ilega-
rada pela comercialização de areia em dados do Departamento Nacional de lidade de lavrar sem autorização, mas
todo o país no ano de 2015 foi muito Produção Mineral (DNPM). Segundo o ainda a de degradar a área. Para isso,
superior à arrecadação obtida com a órgão federal, em 2012 foram produzi- de acordo com Ramadon, pessoas co-
Compensação Financeira pela Explora- das 368.957.000 toneladas de areia; em mumente se utilizam de milícias para
ção de Recursos Minerais (CFEM). 2013, 377.209.028 toneladas; em 2014, expulsar os moradores e proteger o
391.765.746; e, em 2015, a produção foi “negócio”. Há casos também em que o
O trabalho feito pelo agente da PF de 348.966.176 toneladas. No entanto, minerador possui a outorga legal, mas,
mostra que o faturamento gerado pela a quantidade consumida não bate com depois, passa a extrair fora da área au-
extração de areia em 2015 foi de R$ 8,9 a declaradamente extraída (confira ta- torizada. “Como crime organizado, a
bilhões, 61% do que faturou o tráfico bela ao fim da matéria). infiltração no poder público é uma re-
de drogas (R$ 14,5 bilhões), de acordo alidade. Em troca de vantagens ou de
com o relatório “Impactos Econômicos LEGISLAÇÃO participação no “esquema”, agentes
da Legalização das Drogas no Brasil”, públicos impulsionam os processos ad-
baseado em dados do Escritório das Pela Constituição da República, todo ministrativos de permissão ou autoriza-
Nações Unidas sobre Drogas e Crime minério é considerado bem da União. ção, bem como a expedição de guias,
(UNODC). Segundo esse estudo, o fa- Sendo assim, para se lavrar uma área, além de postergar ou não realizar a fis-
turamento proporcionado pelo tráfico são necessárias a autorização dos calização. Em alguns casos, essas pes-
da maconha chegou a R$ 4,7 bilhões; órgãos competentes e as devidas li- soas até mesmo fazem a inserção de
do crack, a R$ 3 bilhões; e do ecstasy, a cenças ambientais, além de estudos, dados falsos nos sistemas”, denuncia o
R$ 1,3 bilhão. Isso demonstra que, iso- conforme explica o advogado e es- autor do estudo.
ladamente, a extração ilegal de areia pecialista em direito minerário Bruno
ultrapassa o faturamento de todas Feigelson. “Qualquer extração que não REPRIMINDO O CRIME
essas substâncias ilícitas. A estimativa respeita esses trâmites é irregular e se
é que, nos quatro anos de análise, a enquadra no artigo 55 na Lei dos Cri- A informalidade e a falta de fiscaliza-
atividade tenha gerado mais de R$ 36 mes Ambientais (9.605/1998). A pena ção de pequenas mineradoras cola-
bilhões de lucro. é detenção de seis meses a um ano, boram para a incidência do crime. O
mais multa”, diz.
Devido à ação clandestina, União, Esta-
dos e municípios deixaram de arrecadar A atividade também é tipificada como
em 2015, através da CFEM, entre R$ 106 crime por ataque ao patrimônio, baliza-
milhões e R$ 142 milhões. Somando-se do pela Lei nº 8.176, de 8/2/1991, que,
os valores dos quatro anos analisados, no artigo 2º, prevê crime na modalida-
chega-se a números que ficam entre R$ de de usurpação a produção de bens
433,5 milhões e R$ 578 milhões. ou a exploração de matéria-prima per-
tencente à União sem autorização legal
De acordo com Ramadon, que tam- ou em desacordo com o título autoriza-
bém já coordenou o grupo de opera- tivo. A lei também pune quem adquirir
ções da Delegacia de Meio Ambiente esse material, bem como quem o
do Rio de Janeiro, a pesquisa se ini- transportar, industrializar, con-
ciou no Rio porque ele constatou, por sumir ou comercializar. “Os
meio de ações policiais, que o crime agregados, muitas vezes,
se repetia constantemente e que a não chamam a atenção.
ilegalidade estava alta no Estado. No Brasil. Considera-
“Mas, depois, passei a pesquisar em -se muito o minério de
todo o Brasil e percebi que a coisa ferro, e o agregado, por
era mais séria e maior do que eu ima- ser um minério de va-
ginava. O valor obtido com a venda lor mais baixo, recebe
O agente da Polícia Federal
dessa areia ilegal não gera arrecada- atenção menor por e especialista em direito
ção e acaba contribuindo para a la- parte do Estado”, des- ambiental Luís Fernando
vagem de dinheiro, pois as lojas que taca Feigelson. Ramadon é o autor da
compram o produto emitem notas pesquisa “A extração ilegal
de areia no Brasil”
fiscais frias”, afirma. Além dos prejuí- Ainda assim, há
zos financeiros, a ação ilegal também quem não se inti-
promove a degradação ambiental, já mide e se aposse
que forma terrenos assoreados e ex- de determinada área
tingue áreas verdes. para extrair o mate-
25
Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Fotos: Google Earth

PROGRESSÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA órgão responsável por esse trabalho é


PELA EXTRAÇÃO ILEGAL DE AREIA o DNPM. No entanto, conforme relata
Ramadon, dada a “conhecida falta de
estrutura” do departamento nacional,
o trabalho não é executado de forma
adequada. A reportagem entrou em
contato com a assessoria de imprensa
7/8/2009 do órgão, que não retornou. “O DNPM
conta com um time de profissionais
excelente. Mas é uma autarquia que
não dispõe de recursos há muito tem-
po”, lamenta Feigelson. “O DNPM fis-
caliza principalmente a lavra legal. No
entanto, a Polícia Federal demanda
ações mais duras, que visem à prisão
em flagrante de pessoas envolvidas na
atividade de extração ilegal de areia”,
completa Ramadon.

Como Luís Fernando explica no estudo,


em 2015 o Ministério Público Federal
(MPF) instaurou 223 Inquéritos Civis
Públicos em função de supostas irregu-
22/4/2011 laridades cometidas por empresas de
mineração e pessoas físicas, que cau-
saram danos ao meio ambiente ou ao
patrimônio público em decorrência da
atividade de mineração. “Esse indica-
dor nos permite perceber a gravidade
da questão e o trabalho que precisa ser
realizado para se tentarem punir os cul-
pados pelos crimes”, salienta.

De acordo com o estudo do policial, Es-


tados das regiões Norte e Nordeste são
os que apresentam o maior índice de
constatação de extração ilegal de areia
no Brasil, seguido pelos da região Cen-
tro-Oeste. Depois, vêm os do Sudeste e
4/4/2012 do Sul, os quais apresentam números
menores de ocorrências de extração
ilegal de areia.

Na opinião do especialista, para que


o crime seja coibido, é necessário que
haja a integração do trabalho das insti-
tuições, que, juntas, podem conseguir
apoio do DNPM e de institutos am-
bientais. “Combater a extração ilegal
de areia é mais fácil do que o tráfico
de drogas. Se a pessoa tiver a oportu-
nidade de legalizar sua área para fazer
a extração, melhor. Não é abrir faci-
lidades, mas criar oportunidades. Eu
desejo que haja repressão efetiva para
localizar esses grandes destruidores
26/6/2013 da natureza”, frisa.
26
Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
A extração ilegal de areia no Brasil
Luís Fernando Ramadon

A IMPORTÂNCIA DOS AGREGADOS

A areia é matéria-prima
indispensável no
desenvolvimento da
infraestrutura urbana

A areia, o cascalho, o saibro e outros agregados, e a mesma distância de uma A areia é encontrada em leitos de rios,
materiais compõem um importante estrada pavimentada consome 9.800 to- dunas e planícies, podendo ser classifi-
grupo: o de agregados para a constru- neladas. Em edifícios, são utilizadas 1.360 cada como fina, média ou grossa. Para
ção civil. São matérias-primas indispen- toneladas em cada mil metros quadrados se extraírem os depósitos nos rios, são
sáveis para o desenvolvimento da infra- de área construída. Em casas populares utilizadas dragas de sucção, que bom-
estrutura urbana e de moradia. de 50 metros quadrados, são usadas 68 beiam a água, separando a areia em
toneladas. Além disso, Ramadon lembra lagoas de decantação. A partir daí, ela
De acordo com o agente da Polícia Fe- que a areia é constantemente emprega- é retirada por pás carregadeiras ou de
deral e autor do estudo sobre a extração da na indústria de transformação: vidros, forma braçal. Nas planícies, a extração
ilegal de areia no Brasil, para cada quilô- química, cerâmica, siderurgia, filtros, sen- nas cavas ocorre em depósitos aluvio-
metro de uma linha do metrô, por exem- do esses setores que usam a areia em al- nares, por meio de escavação mecânica
plo, são consumidas 50 mil toneladas de guma parte do processo. ou de desmonte hidráulico.

PRODUÇÃO ESTIMADA DE AREIA PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL


2012 2013 2014 2015
Produção estimada 368.957.000 377.209.028 391.765.746 348.966.176
em toneladas (ton)
Consumo aparente em (ton) 368.957.000 377.209.028 391.765.746 348.966.176

Produção real em (ton) 92.982.548 99.551.286 94.833.733 87.241.544

Extração ilegal em (ton) 275.974.452 277.657.742 296.632.013 261.724.632

Preço médio DNPM R$/Ton 31 32 33 34

Extração ilegal em R$ 8.555.208.012,00 8.885.047.744,00 9.788.856.429,00 8.898.637.488,00

PORCENTAGEM DE PRODUÇÃO
DE AREIA NO BRASIL POR REGIÃO:
1,83% Em 2015, o faturamento
8,79% gerado pela extração de areia foi
SUDESTE

SUL
7,35%
8,9 bilhões,
de R$
NORDESTE
50,86%
61% do que faturou o tráfico de
CENTRO-OESTE drogas (R$ 14,5 bilhões).
NORTE 31,17%

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
CEAMIN

A SOCIEDADE
PÓS-MODERNA
e o novo Brasil que está a emergir demandarão uma
nova mineração: estamos preparados para construí-la?

José Mendo Mizael de Souza¹

Vivemos tempos desafiadores e extre- também mudam radicalmente, assim França, a atração pelo extremismo não
mamente interessantes: para o soció- como o papel da política e dos intelec- vem do excesso de ideal comunitário ou
logo francês Michel Maffesoli, “o indivi- tuais”, diz ele. do tribalismo, mas da necessidade de
duo hoje pertence a várias tribos, que preencher um buraco”. “A França é uma
focam mais o presente que o passado”. “Cada um pertence a mais de uma tribo e sociedade inteiramente secularizada,
De acordo com Maffesoli, em repor- adota papéis diferentes segundo a tribo a que não tolera mais signos religiosos no
tagem do jornal “Valor Econômico”, “a que sente pertencer em cada momento. espaço comum e tende a eliminar do
ideia de uma humanidade que pode Mas é claro que a coexistência das tribos calendário (tempo) e das áreas públicas
dominar a natureza, obter a felicidade não ocorre sem conflitos e concorrên- (espaço) toda referência a deuses, santos,
e a liberdade individual por meio do cias. Uma tribo também se define pela festas etc. Isso é ainda mais acentuado
trabalho e construir o mundo segundo agressão ou crítica a outras tribos. Veja- nas crianças nascidas de pais imigran-
sua própria vontade está ficando para mos o caso da alimentação: os veganos tes recentes, que criam seus filhos sem
trás. Em seu lugar, surge uma socieda- criticam os onívoros por destruírem os contos e lendas, sem fé e sem memória.
de que se adapta às condições como se animais, enquanto os onívoros criticam A necessidade da sensação de pertenci-
apresentam, concentra-se mais no pre- os veganos pela destruição da Amazônia mento comunitário é cada vez mais forte.
sente que no futuro e cria novas formas em longo prazo, já que desmatar seria Precisamos sentir em comum, rir e chorar
de religiosidade para orientar sua rela- necessário para a produção da soja, que em comum. Daí a atração que as sereias
ção com o mundo e os outros”. substitui a proteína animal. É um antago- do Estado Islâmico exercem sobre esses
nismo. O desafio é aprender a regular os jovens que crescem desterritorializados”.
Essa nova forma de sociedade, que antagonismos para que as tribos coexis-
Maffesoli nomeia “pós-moderna”, é tam sem tentar se exterminarem mutua- Se, de fato, como pondera Maffesoli,
constituída por diversas tribos que mente. Algo que pode ajudar é que cada “a necessidade da sensação de perten-
interagem. “Cada indivíduo participa um pertence a várias tribos, manifestan- cimento comunitário é cada vez mais
de várias tribos diferentes ao mesmo do ‘sinceridades sucessivas’”. forte” - e concordo plenamente com
tempo. Neste mundo pós-moderno, as ele -, nossos olhos devem voltar-se ime-
noções de trabalho, lazer e educação Por exemplo, afirma ele, “no caso da diatamente para a família, que é onde
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
melhor se concretiza (ou, infelizmen- fundos, ética e senso de respon-
te, em certos casos, não se concretiza) sabilidade social e política apren-
esse sentido basilar de pertencimento. dem-se em casa;
Família, que por mim é entendida, con-
forme explicitei no livro de minha auto- V. Quem vence o desafio de fazer
ria “Família S.A., Construa a Empresa de os filhos crescerem equilibrada-
Amor que Faz a Diferença”, como “uma mente dentro do lar, acompanhan-
microempresa constituída de capital de do-os passo a passo em sua evolu-
amor, que necessita de lucros de amor ção (também quando vacilam ou
para poder sobreviver”. erram) pode estar seguro de que os
preparou para a vida, não para eles
A propósito da família hoje e de seus próprios. Com isso, saberão, por
desafios, abordando o tema “Novos própria conta, vencer os desafios
desafios da família contemporânea”, que um dia terão que enfrentar;
padre Edênio Valle (Anais do 48º Con-
gresso Nacional da Escola de Pais do VI. Hoje - época marcada pela secu-
Brasil - “A Família Administrando seus larização, pelo individualismo, pela
Desafios”) assim sintetizou o que cha- confusão e pelo pluralismo de valo- José Mendo Mizael de Souza
mou de “pontos de iluminação para o res culturais, políticos e filosóficos -,
enfrentamento dos desafios atuais”: a base espiritual e religiosa da futura
geração depende muito do que os Engenheiro de Minas e Metalur-
I. O mais fundamental na educação filhos - sejam eles crianças, sejam gista, EEUFMG, 1961. Ex-Aluno
familiar é estar sempre orientado adolescentes ou jovens adultos - Honorário da Escola de Minas
para a pessoa assim como ela de irão aprender (ou não) no modo de de Ouro Preto. Presidente da
fato é, com seus limites e suas po- crer, viver e agir de seus pais. E isso J.Mendo Consultoria Ltda. Fun-
tencialidades, mas sempre crendo mesmo depois da morte! dador e Presidente do Centro de
e apostando no melhor; Estudos Avançados em Minera-
Padre Edênio sugere “que pais educa-
ção (Ceamin). Vice-Presidente da
II. Mas, ao mesmo tempo, é preciso dores percebam que nunca os valores
Associação Comercial e Em-
saber que a sociedade e a cultura e os critérios que pesam são uma enti-
atuais apresentam perigos e po- dade etérea, pendurados em ‘lugar ne- presarial de Minas (ACMinas) e
dem neutralizar e mesmo destruir nhum’ (esse o significado verbal da pa- Presidente do Conselho Empre-
os valores que apresentam, este- lavra ‘utopia’). Os desafios que valem a sarial de Mineração e Siderurgia
jam eles despontando (sendo no- pena estão sempre situados em algum da entidade. Coordenador, como
vos, portanto) ou vindo de tempos lugar concreto, e não nas nuvens da Diretor do BDMG, em 1976, da
muito antigos, como a responsabi- fantasia, mas carecem de nossa capa- fundação do Instituto Brasileiro
lidade, o altruísmo, o respeito, o es- cidade de sonhar e de crer no possível de Mineração - Ibram. Como
pírito de solidariedade, a confiança, diferente, dois ingredientes importan- representante do Ibram, um dos
a gratidão, o afeto generoso etc.; tíssimos para uma boa administração três fundadores da Agência para
das dificuldades da vida familiar”. o Desenvolvimento Tecnológico
III. Pais educadores precisam ter
da Indústria Mineral Brasileira
consciência de que educam seus E a mineração nesses contextos?
(Adimb). Ex-Conselheiro do
filhos e filhas para a vida e para o
Centro de Tecnologia Mineral do
mundo. Preocupam-se, por isso, em Nossa (mineração) característica única
paulatinamente sair do pequeno de “rigidez locacional” nos faz, neces- Ministério da Ciência, Tecnologia
círculo das relações familiares para sária e distinguidamente, “a” atividade e Inovação (Cetem/MCTI).
integrá-los à sociedade e aos grupos que, por sua própria natureza, cons-
que frequentam, mas certos de que titui polo de desenvolvimento no(s)
há um lugar no mundo onde eles município(s) onde se situa(m).
serão sempre acolhidos como são; nia à que prepara para a vida.
Assim, melhor e mais do que nin-
IV. O destino de cada ser huma- guém, temos a responsabilidade e a O Novo Brasil cobra isso de nós, e de-
no depende, em larga parte, do oportunidade de não só promover- veremos dizer “presente” a esse mister
equilíbrio afetivo-emocional e mos o desenvolvimento sustentável, que nos é próprio!
da visão de mundo que recebeu como de contribuirmos com a educa-
em sua própria casa, que é a vida ção das atuais e das novas gerações, Temos que construir uma nova minera-
emocional. Valores religiosos pro- desde aquela voltada para a cidada- ção para o Novo Brasil.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
SURPREENDA-SE
Departamento de Geologia Marinha / Divulgação

Extração no oceano

O projeto de extração de sulfetos


no oceano está concentrado na
Elevação do Rio Grande, área
localizada ao largo da costa do
Rio Grande do Sul

Mineração

Com investimento milionário, o Brasil inicia trabalhos


de exploração de sulfetos polimetálicos no fundo do mar
Bruna Nogueira

País que se destaca quando o assunto clui chumbo, cobre, ouro, prata e zinco. após a Autoridade Internacional dos
é mineração, o Brasil começa agora a Fundos Marinhos ter implementado
trabalhar além dos solos, levando os O projeto se encontra na Elevação do uma nova legislação regulamentando a
trabalhos de exploração para o fundo Rio Grande, área localizada ao largo da exploração de sulfetos polimetálicos, o
do mar, mais especificamente para o costa do Rio Grande do Sul, fora da zona Brasil começou os trabalhos na área. As-
Atlântico Sul. Após ter recebido um econômica exclusiva brasileira. A meta sim, iniciamos a elaboração de um pla-
investimento milionário do governo é obter junto à Autoridade Internacio- no para ser submetido à autoridade. Em
brasileiro, o Serviço Geológico do Brasil nal dos Fundos Marinhos (Isba) o direi- 2014, o documento foi enviado ao ISBA
(CPRM) iniciou um projeto de extração to de exploração de crostas cobaltíferas e aprovado”, explica o responsável pela
de sulfetos polimetálicos, grupo que in- na Elevação do Rio Grande. “Em 2012, geologia marinha do CPRM, Ivo Pessa-
30
Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
nha. Em novembro de 2015, o governo dentemente do objetivo e das precau- mas são de nódulos polimetálicos. Os
anunciou o investimento de R$ 11 mi- ções tomadas para sua realização, re- métodos desenvolvidos compõem sis-
lhões para a exploração de minerais no sulta em modificações temporárias ou temas hidráulicos, que variam de dragas
oceano Atlântico. permanentes do ambiente marinho. rebocadas a veículos com autopropulsão.
Conforme Pessanha informa, o Brasil
Além das informações científicas, a leva em conta não apenas as demandas LEGISLAÇÃO
proposta contém um mapa com a in- da legislação marítima como também
dicação das áreas de interesse para a o biossistema presente nas águas. Com Até a década de 1980, não existia uma
mineração e as mais vulneráveis, bem esse plano, o país assumiu o compromis- legislação que assegurasse aos países
como um plano de monitoramento am- so de investir continuamente na região costeiros os direitos de fazerem a explo-
biental para a fase de pesquisa. Foram pelos próximos cinco anos, atentando ração dos recursos minerais marinhos.
coletados todos os dados geológicos, para a preservação das condições am- Entre os anos de 1982 e 1983, houve
biológicos e oceanográficos necessá- bientais da área. “Quando a atividade de uma reunião das Nações Unidas, que fi-
rios para compor o relatório que subsi- exploração tiver início, todos os parâme- cou conhecida como a “Convenção das
diou a proposta brasileira. tros pré-estabelecidos serão monitora- Nações Unidas sobre o Direito do Mar”,
dos. Estamos na fase de fazer o diagnós- na qual se instituíram alguns órgãos e
De acordo com a especialista em mine- tico ambiental da região”, relata. algumas definições. Três deles são fun-
ração submarina do Departamento Na- damentais: a Comissão de Limites, a
cional de Pesquisa Geológica, Vanessa Autoridade Internacional dos Fundos
Calvancanti, as operações de mineração Marinhos e a Comissão Interministerial
marinha no país ainda são de pequena para os Recursos do Mar, reunindo este
proporção. “Existem áreas concedidas último 17 ministérios e a Marinha do
é o investimento que o
para lavra, na parte emersa da zona cos- Brasil. Esses três órgãos legislam o ter-
governo está fazendo para explorar
teira, de areia, conchas calcárias e mine- mo internacional dos direitos dos paí-
minerais no oceano Atlântico
rais pesados. Há concessão e requeri- ses, costeiros ou não, para a utilização
mentos de lavra para conchas calcárias dos recursos existentes.
na Baía de Todos os Santos, na Bahia, e PROCESSO
de areia na Baía de Guanabara, no Rio de Em 1987, foram definidos, pela Isba, al-
Janeiro”, informa. Para a exploração em A extração em depósitos inconsolidados guns conceitos estabelecendo direitos
mar aberto, segundo ela, existem áreas de águas rasas (areias, cascalhos, mine- e deveres dos Estados costeiros em re-
com concessão para a extração de calcá- rais pesados e gemas) pode ser realiza- lação à mineração marítima, bem como
rio no Maranhão, na Bahia e no Espirito da por meio de dragagem por sucção alguns limites, sendo os de maior rele-
Santo. “Podemos citar alguns recursos ou mecânica. No caso desta última, são vância o de 200 milhas náuticas da linha
minerais marinhos cujo aproveitamento empregadas dragas dos tipos caçamba de base do país costeiro (linha de costa)
imediato poderia gerar um retorno eco- ou escavadeira. A extração de diamantes e a Plataforma Continental Jurídica, que
nômico relevante. Há outros recursos na Namíbia e na África do Sul, onde há controla as atividades fora desse limite.
marinhos importantes, principalmente águas rasas, é feita por mergulhadores Na mesma época, a fim de expandir
os metálicos, mas para aproveitamento que operam dragas de sucção, com o seus limites, o Estado brasileiro criou o
futuro”, afirma Cavalcanti. chamado airlift, selecionando os locais Plano de Levantamento da Plataforma
de maior probabilidade de ocorrência. Continental Brasileira (Lepac).
BENEFÍCIOS
Em águas de fundo consolidado, são Ivo Pessanha explica que, entre os anos
Segundo Ivo Pessanha, um dos maiores utilizadas sondagens rotativas de largo de 1992 e 1993, a legislação brasileira
benefícios da mineração submarina é a diâmetro (até dez metros), denomina- passou a internalizar esses conceitos já
extração de granulados marinhos cha- das “wirth drill”, que podem operar em definidos no cenário externo. Tudo no
mados de “bioclásticos”, cuja origem é até 200 metros de profundidade. São mar que está no limite da plataforma
biológica. Desse grupo é possível obter usados ainda tratores submarinos com continental começou então a ser consi-
sais de potássio, enxofre e fosforita. Esta sistema de sucção, os quais também derado área internacional.
última é empregada na produção de fer- conseguem extrair ouro.
tilizantes. Assim, o aproveitamento dos Assim, para dentro da área-limite há uma
depósitos marinhos desse grupo é uma Para a extração mineral em fundos oceâ- legislação e, para fora, existe outra. Inter-
alternativa importante e viável para que nicos, que podem atingir de 4.000 a 6.000 namente, o Estado tem autonomia para
o país deixe de importar fertilizantes. metros, embora já existam estudos, ainda fazer uso dos recursos naturais da forma
Atualmente, mais de 90% do produto não foi implantada nenhuma operação que ele quiser, podendo explorar recursos
utilizado aqui vem de fora. em escala industrial. Centenas de paten- vivos e não vivos, tanto da água quanto
tes de equipamentos de mineração de do solo ou do subsolo. Já fora do limite,
A exploração do leito do mar, indepen- mar fundo já foram inclusive registradas, não pode utilizar a coluna da água.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
COMUNIDADE
Fotos: Rafael Araújo

Inclusão e capacitação

Entre os beneficiados do programa


estão moradores urbanos e rurais,
pescadores, ribeirinhos, colonos,
indígenas e quilombolas; ao todo,
88 mil pessoas são contempladas

Territórios
Sustentáveis
Programa integra poder público,
sociedade civil e mineradora no desenvolvimento
de comunidades do Estado do Pará
Sara Lira

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Para uma árvore crescer frondosa e cheia tórios Sustentáveis é dividido em qua- nais dos municípios para implementar
de frutos, é necessário muito trabalho: tro eixos: Gestão Pública; Capital Social; políticas públicas, de maneira a ampliar
uma terra fértil, o preparo do solo e, so- Desenvolvimento Econômico e Gestão sua habilidade de resolver problemas.
bretudo, a iniciativa de lançar a semente. Ambiental. Essa estrutura propicia um “O Territórios Sustentáveis propõe um
Depois, é preciso regar diariamente para modelo integrado de desenvolvimen- novo modelo de desenvolvimento para
que ela se estruture de maneira saudável. to, como explica o diretor executivo a região, baseado na oferta de melhores
Isso pode durar meses, anos ou até déca- da Agenda Pública, Sérgio Andrade. “O serviços públicos, na promoção de alter-
das. O exemplo do crescimento de uma programa propõe uma forma de cola- nativas econômicas e no fortalecimento
vegetação serve para se fazer uma ana- boração entre o setor público, a socie- da participação social. Nosso papel é
logia com um grande programa que está dade civil e as empresas para melhorar incrementar as instituições do território
em execução nos municípios de Faro, as condições de vida da população, e reforçar a capacidade das equipes mu-
Oriximiná e Terra Santa, no Pará. Nesses aproveitando os ativos do território e nicipais para a resolução de problemas
locais, a Mineração Rio do Norte (MRN) suas vocações regionais de forma sus- públicos, enfrentando a fragmentação e
desenvolve o Territórios Sustentáveis. tentável”, destaca. a sobreposição de esforços e construin-
do soluções com diferentes atores so-
Criado em 2015, o programa tem como Para o diretor executivo da Ecam, Vasco ciais, dentro e fora do governo”, explica
propósito elaborar uma série de diag- Van Roosmalen, a proposta é inovado- Sérgio Andrade.
nósticos e de ações que visam preparar ra, pois propicia a diversidade econômi-
as populações dessas cidades para o ca local, de modo a não deixar a região De acordo com ele, uma série de ações
momento de exaustão da atividade mi- dependente da atividade de minera- já foi efetuada, como o apoio e a ges-
nerária. Em suma, a ideia é não deixar ção. “O programa potencializa espaços tão das finanças públicas, no sentido de
os moradores dependentes economi- de participação social e melhora a atu- equilibrar receitas e despesas, avaliando
camente da mineração. ação de servidores municipais. Fortale- a situação do código tributário, de con-
cidos, eles se tornam atores capazes de tratos e de convênios. A Agenda Pública
Executado por três organizações da promover um desenvolvimento mais também contribuiu com a elaboração
Sociedade Civil de Interesse Público sustentável, voltado para a realidade da do novo Plano Diretor de Oriximiná.
(Oscips): Agenda Pública, Equipe de região, que conta com uma variedade
Conservação da Amazônia (Ecam) e Ins- de recursos naturais”, defende. A partir de 2017, novos prefeitos as-
tituto do Homem e Meio Ambiente da sumem o Executivo, e, para o novo
Amazônia (Imazon), o Território Susten- INCLUSÃO DO PODER PÚBLICO mandato, a ideia é propor um ciclo de
táveis foi elaborado para durar 15 anos. planejamento para os próximos quatro
O cronograma dele previa: diagnóstico Para qualquer tipo de ação ser executada anos, com planos específicos para as
e pactuação (ações realizadas em 2015) em uma cidade, é necessária a atuação principais áreas da prefeitura. “Será o
e implementação das ações por meio do governo. O eixo Gestão Pública obje- momento de reorganizar processos e
de planos de trabalho, os quais estão tiva trabalhar as capacidades institucio- de fortalecer as equipes”, resume.
em desenvolvimento desde o início de
2016, devendo permanecer até 2019. A
meta é chegar a 2030 com um cenário
que apresente gestão territorial inte-
grada e economia diversificada com
participação social.

Cerca de 88 mil habitantes dos três mu-


nicípios de abrangência do Territórios
Sustentáveis são beneficiados com o
programa. Nesse grupo, incluem-se os
moradores urbanos e rurais, pescadores,
ribeirinhos, colonos, indígenas e quilom-
bolas. “Você envolve essas comunidades
e suas vocações e começa a ter a melho-
ria do processo produtivo e o acesso ao
comércio, à troca de informação, além de Por meio do eixo Capital
valorizar a cultura e o desenvolvimento Social, o programa apoia
ambiental”, afirma o gerente de relações associações de bairro,
comunitárias da MRN, Alberto Juliê. sindicatos e demais
entidades criadas e
dirigidas pela população
Para abranger todos os setores, o Terri-
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
ENVOLVENDO A COMUNIDADE
Uma das atividades realizadas pelo
programa é o estímulo ao desenvolvi- Além dos governos, outra camada con-
mento e ao aprimoramento das cadeias templada pelo Territórios Sustentáveis é
produtivas de outros setores, como
os de madeira, de pesca e de turismo a sociedade civil organizada, por meio do
eixo Capital Social. O propósito é apoiar
associações de bairro, sindicatos e de-
mais entidades criadas e dirigidas pela
população, além de melhorar as ações
dos conselhos municipais em seu papel
de patrocinar uma governança com mais
transparência. Um quarto da população
dos três municípios, ou cerca de 25 mil
pessoas, participa de alguma organização.

As comunidades remanescentes de qui-


lombolas também são atendidas com
iniciativas promovidas por esse eixo,
conforme explica o diretor executivo
da Ecam, Vasco Van Roosmalen. “Esse
componente tem o objetivo de ajudar
essas comunidades a fortalecerem sua
representação a partir de seus planos de
gestão e das associações comunitárias.
Muitas dessas ações incluem momentos
de capacitação de lideranças e assesso-
rias técnica, jurídica e contábil”, diz.

Segundo ele, após um ano de diagnós-


tico, os planos de trabalho foram desen-
volvidos em parceria com atores locais.
Ao longo desse período, com o intuito
de se verificarem as principais demandas
das organizações, foram entrevistadas
mais de 70% das entidades da sociedade
civil organizada da região, um total de 64
instituições e de 18 conselhos munici-
pais. Em seguida, traçou-se um plano de
trabalho para capacitações, que envol-
vem oficinas de elaboração de projeto e
indicadores de resultado ou de gestão de
projetos e sustentabilidade, entre outros.

O resultado até agora, de acordo com


Roosmalen, é que, em 2016, mais de 500
pessoas foram capacitadas nessas ofici-
nas, bem como dezenas de servidores
dos três municípios, dos quais 66% são
mulheres. Uma delas é Simone, psicólo-
ga e técnica da Secretaria Municipal de
Educação de Faro, para quem o diferen-
cial do Territórios Sustentáveis é que as
aulas são pautadas na realidade local, e
não apenas em conhecimentos técni-
cos. “O que eu achei de diferente é que,
nessas oficinas, o trabalho é mais pé no
chão. Os exemplos que vemos são os do
34
Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Territórios Sustentáveis

nosso dia a dia. Outros trazem realida- Com esse aporte de informações, fo- tar a gestão sustentável das florestas,
des bem diferentes do território amazô- ram implementados planos de traba- deter o desmatamento ilegal e restau-
nico”, enfatiza. lho, dos quais constam, entre outras rar áreas degradadas em Faro, Orixi-
atividades, elaboração de cadastro miná e Terra Santa, além de aumentar
Já para o integrante de uma das asso- ambiental rural, assistência técnica em em 40% o Produto Interno Bruto (PIB)
ciações de Faro, Marcos Malheiros, o meliponicultura (criação de abelhas per capita de cada uma dessas cidades.
maior destaque é que essas atividades sem ferrão), assistência técnica na co- “O programa Territórios Sustentáveis é
perduram, o que aproxima os parti- mercialização de castanha-do-pará e uma oportunidade de se aproveitar po-
cipantes da organização, garantindo de copaíba, além de apoio técnico às sitivamente a presença de um grande
mais apoio às entidades. “As outras ofi- atividades de licenciamento ambien- empreendimento de mineração para se
cinas das quais participamos duravam tal e de preparo de agentes comunitá- despertar o potencial natural e humano
um dia e pronto. Aqui, por ser continua- rios para receber turistas. presente na região e, assim, favorecer o
do, aprendemos por etapas e temos um desenvolvimento sustentável e a me-
acompanhamento”, relata. Jakeline explica que os principais focos lhoria na qualidade de vida da popula-
dos dois eixos, até 2030, são implemen- ção”, argumenta.
Em Faro, o Territórios Sustentáveis
também apoiou a criação do Conse-
lho Municipal de Meio Ambiente. Na
cidade de Oriximiná, as ações do pro-
grama ajudaram o município a conse-
guir e investir R$ 500 mil em fundos de
compensação ambiental. TERRITÓRIOS
SUSTENTÁVEIS
SUSTENTABILIDADE COMO FOCO

Parte das atividades minerárias da MRN


na região dos municípios de Faro, Orixi- Parceria e
Municípios contemplados: apoio financeiro:
miná e Terra Santa é realizada dentro de Oriximiná, Terra Santa e Faro Mineração Rio
florestas, o que redobra a atenção com do Norte (MRN)
relação à sustentabilidade e à inclusão
das comunidades no processo. São es- Objetivo:
ses os focos dos eixos Desenvolvimento desenvolver as comunida- Moradores atendidos:
Econômico e Gestão Ambiental, execu- des locais, promovendo a 88 mil
diversidade econômica e
tados pelo Instituto do Homem e Meio a integração entre poder
Ambiente da Amazônia (Imazon). público, sociedade e
mineradora
Organizações da Socie-
De acordo com a pesquisadora assisten- dade Civil de Interesse
te do Imazon, Jakeline Ramos Pereira, o Público (Oscips) que
Eixos do programa: participam:
processo de diagnóstico avaliou, prin- Gestão Pública; Agenda Pública, Equipe de
cipalmente, a situação das secretarias Capital Social; Conservação da Amazônia
e Desenvolvimento
municipais de Meio Ambiente e realizou (Ecam) e Instituto do
Econômico e Homem e Meio Ambiente
estudos do potencial de receita das loca- Gestão Ambiental da Amazônia (Imazon)
lidades a partir de licenciamentos como
o ICMS Verde e a Concessão Florestal Ma-
deireira. “O programa estimula o desen-
volvimento e o aprimoramento de outros
setores, como o de madeira, o de cultivo
de copaíba, castanha, tucumã e andiroba,
CRONOGRAMA

além dos de pesca e de turismo”, conta.


2015: Diagnóstico e pactuação
DE AÇÃO

“Também verificamos a situação atual e 2016 a 2019: Planos de trabalho


a necessidade de aprimorar as cadeias
produtivas dos setores madeireiro e 2020 a 2030: Avaliação e repactuação
não madeireiro, com o cultivo de, por
exemplo, copaíba, castanha, tucumã
2030: Gestão territorial integrada e economia diversificada
com participação social
e andiroba, bem como do moveleiro e
dos de pesca e de turismo”, completa.
35
Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
INOVAÇÃO E TECNOLOGIA MINERAL

Fernando A. Freitas Lins


Engenheiro metalúrgico, M.Sc e D.Sc.,
pesquisador titular e diretor do Cetem/MCTIC.
(fernando.lins@cetem.gov.br)

A IMPORTÂNCIA DA
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
São quatro anos de contribuição. Agra- biental do Brasil. Em seus 38 anos, o E o impacto dos projetos do Cetem?
deço o convite da direção da revista e centro atuou em um leque de projetos, Um estudo recente delineou algumas
aos leitores que deram feedback sobre as ora preenchendo lacunas do desenvol- diretrizes para o acompanhamento sis-
diversas questões apresentadas. Exem- vimento econômico, social e ambiental, temático de indicadores que permitem
plo: o Brasil investe adequadamente em ora atendendo ao setor privado ou a estimar o impacto dos projetos no futu-
PD&I no setor mineral? Não. órgãos públicos e ainda a comunidades ro. É importante ressaltar que, na teoria,
de garimpeiros e artesãos. E o Cetem o impacto é uma medida diferente do
É reveladora a comparação com outros se- espera contribuir também para o apro- resultado. O primeiro se define como
tores que se baseiam também em recur- veitamento mais sustentável dos re- a consequência que o segundo traz.
sos naturais. Em termos de participação cursos minerais. Porém, ele é pequeno Quanto ao passado, o estudo foi base-
no PIB, o setor mineral, com 4%, equivale para o segmento mineral brasileiro. E, ado em cerca de 60 projetos, descritos
aos segmentos energético (5%), de petró- portanto, vê como muito positiva a cria- no livro “Cetem 35 Anos: Criatividade e
leo & gás e energia elétrica, e de agricul- ção recente de centros de pesquisa pri- Inovação”, publicado em 2014. Procura-
tura (6%). É o segundo nas exportações vados (ITV/Vale, Senai/MG e Senai/PA). ram-se analisar as três dimensões abor-
brasileiras (mais de 20%), ficando atrás Há espaço para outros, bem como para dadas pelo Cetem em suas atividades: a
apenas do setor agropecuário. Mas ain- a mobilização de competências para o econômica, a ambiental e a social. Será
da sim recebe poucos recursos públicos desenvolvimento de projetos em cola- lançada uma publicação a respeito, mas
federais ao ano para P&D, cerca R$ 70 boração, incluindo as parcerias com as antecipo que se estimou, na dimensão
milhões: 70 vezes menos que o de petró- universidades e as ICTs (Instituições de econômica, que, ao ano, para cada real
leo e gás, dez vezes menos que o de Ciência e Tecnologia). investido no Cetem, em anos recentes,
energia elétrica e 30 vezes menos que pelo menos dez foram de produção in-
o de agropecuária. Isso precisa mu- As empresas precisam incrementar dustrial gerados. Um resultado muito
dar ou o país permanecerá refém dos seus investimentos em P&D e inovar bom se comparado aos de outras ICTs.
avanços tecnológicos do exterior e visando à competitividade. Um inédi-
ainda perderá a oportunidade de desen- to programa, o Inova Mineral, da Finep O centro, após seu planejamento estra-
volver e exportar tecnologias, como a Aus- (Financiadora de Estudos e Projetos) e tégico, está concluindo o Plano de C&T
trália e o Canadá, entre outros, já fazem. do BNDES (Banco Nacional de Desen- 2022, ano que celebra dois séculos da
volvimento Econômico e Social), está independência do país. Vale lembrar
O Cetem realiza parte significativa da disponível, no momento, R$ 1,2 milhão o discurso* otimista do patriarca José
pesquisa em tecnologia mineral e am- de recursos para investir. Bonifácio, cientista mineral, ainda em
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
1819, antes de voltar ao Brasil: za, com o andar dos tempos nenhum vimento Sustentável, a Rio + 30, para o
outro paiz poderá correr parelhas com Brasil e organizar um evento paralelo
“E que paiz esse, Senhores, para huma a Nova Lusitânia.” sobre mineração, reafirmando o com-
nova civilização e para novo assento promisso do setor com a sustentabili-
das Sciencias! Não dá para cumprir jornada tão virtuo- dade, o qual ficou abalado com o rom-
sa até 2022, mas vamos tentar chegar pimento da barragem em Mariana. Que
Que terra para hum grande e vasto lá com o sentimento de termos con- venha 2017, caros leitores, pleno de es-
Imperio... tribuído intensamente para recuperar peranças e realizações!
o tempo perdido. Vamos nos esforçar
(*) Fragmentos do discurso recitado em 24/6/1819 por José Bonifácio de Andra-
...Riquíssimo nos três reinos da nature- para trazer a Conferência de Desenvol- da e Silva, então secretário da Academia Real das Ciências de Lisboa.

PROCESSO CONTÍNUO PARA A SEPARAÇÃO DE TERRAS RARAS LEVES Curtas


Ysrael Marrero Vera . yvera@cetem.gov

As Terras Raras são um grupo de elementos químicos com grande peso atômico e que vem ganhando notoriedade
por estar vinculado à produção de materiais usados em manufaturas de grande teor tecnológico. Por esse motivo,
elas fazem parte da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti) 2016-2022, do Ministério da Ci-
ência, Tecnologia e Inovação (MCTIC), sendo consideradas materiais portadores do futuro. Além disso, receberam
destaque como minerais estratégicos no Plano Nacional de Mineração (PNM) 2030, do Ministério de Minas e Ener-
gia (MME).

A grande questão envolvendo as Terras Raras é a dificuldade técnica encontrada para que a separação desses
elementos seja eficaz e economicamente viável. A tecnologia desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Mineral
(Cetem) tem por objetivo melhorar a eficiência do processamento pela manipulação do meio em que essa reação
química ocorre. O processo registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) diferencia-se do méto-
do convencional, que se dá pela adição de um ácido orgânico na sequência do procedimento. Além de aprimorar
o rendimento da reação, o ácido evita a saponificação do meio. Uma das grandes vantagens desse método é a de
ele ser ecologicamente sustentável.

PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PAPEL BRAILLE POLIMÉRICO COM O USO DE RESÍDUOS GERADOS NA PRODU-
ÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS
Roberto Carlos Ribeiro . rcarlos@cetem.gov.br

Cetem / Divulgação

Existem no mundo 34 milhões de cegos, e sua forma


de comunicação escrita consiste no método Braille, de
marcação de papel. O grande problema encontrado
nesse procedimento está no fato de que, com o tempo,
as marcações vão perdendo o relevo, passando a in-
dicar letras e palavras diferentes das do texto original.

A tecnologia patenteada pelo Centro de Tecnologia


Mineral (Cetem) aproveita rejeitos de serraria como
carga para a preparação desse papel. Com esse ma-
terial, as publicações tornam-se mais resistentes ao
tempo e ao manuseio. Além disso, o método apresenta
as vantagens do baixo custo da sustentabilidade, uma
vez que os rejeitos são descartados e não impactam o
meio ambiente.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
CIDADES MINERÁRIAS
Fotos: Prefeitura de Cristalina / Divulgação

Cristalina

CIDADE
DOS CRISTAIS
Dona de um solo
valioso, Cristalina,
no interior de Goiás,
destaca-se pela
grande ocorrência
de quartzo e pela arte
que dele é produzida

Com pouco mais de 54


mil habitantes, Cristalina
é uma charmosa cidade
do interior de Goiás,
localizada a quase
300 km de Goiânia

Bruna Nogueira

No interior de Goiás está uma pequena uma camada de massa de rochas quart- cipio atrai turismo não apenas pelo
cidade, com um nome que parece ter zo, chamada “domo estrutural”. charme de cidade pequena, mas tam-
saído de um conto de fadas. Cristalina é bém pelo solo valioso, que leva mui-
um município de 54.337 habitantes, que Com cem anos de história e famílias tos a acreditarem que ali está o ponto
se destaca pela grande ocorrência do tradicionais, Cristalina tem como dife- de equilíbrio da Terra, devido ao mag-
mineral quartzo no subsolo e até mes- rencial o clima de misticismo embu- netismo que as inúmeras pedras de
mo na superfície da cidade, que está sob tido nas artes e nos cristais. O muní- quartzo carregam.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
A cidade foi emancipada em 1916 e, an- Com a grande quantidade de minério, vos do Fundo de Apoio à Mineração
tes de se tornar Cristalina, chamava-se eles nomearam a região de “Serra dos (FunMineral) para desenvolverem
São Sebastião da Serra dos Cristais. Ela Cristais”. Mesmo tendo ficado surpresos suas atividades e melhorarem as con-
começou a se formar como município com a quantidade de cristal presente dições de trabalho.
por conta do grande fluxo de garimpei- ali, o que os trabalhadores realmente
ros que chegavam de Paracatu (MG). Os buscavam era ouro e, por esse motivo, O presidente da Associação dos Arte-
trabalhadores iam atrás de joias e acaba- não deram importância ao quartzo. sãos de Cristalina, Willian Souto, conta
vam se ajeitando por lá, formando suas que o trabalho com o quartzo ainda é
famílias e construindo casas às margens Mais tarde, no ano 1879, dois franceses fundamental ali, especialmente para
do córrego Almocrafe, onde se ergueu o que moravam em Paracatu, Etienne Le- manter a tradição e atrair turistas. “Até
bairro Cristalina Velha. pesqueur e Leon Laboussiere, viajaram o fim da década de 70, a cidade vivia
até o município vizinho e encontraram exclusivamente da exploração do cris-
O prefeito Luiz Attié (PSD) explica que a ali o quartzo em sua forma de cristal. tal. Era cultural. A partir dos anos 80,
base da cidade foi construída com a pre- Eles se mudaram para a então Serra dos isso diminuiu, pois cresceu a procura
sença do cristal. “Temos a maior concen- Cristais e passaram a explorar e a vender pelo agronegócio. Assim, para essa
tração de cristal em rocha quartzo do o mineral para a indústria bélica e para a cultura voltada para o trabalho com os
planeta. Isso tornou Cristalina mundial- fabricação de joias, as quais, segundo os cristais não acabar, tivemos a iniciativa
mente famosa, e, durante muitos anos, moradores da cidade, eram exportadas de fundar uma associação”, relata. Atu-
essa foi nossa principal atividade econô- para as monarquias europeias. almente, são 80 artesãos associados, e
mica”, afirma. a intenção do trabalho realizado por
COMUNIDADE eles é levar o conhecimento dos cristais
Segundo o Cadastro Geral de Empre- para as gerações futuras. “Um de nos-
gados e Desempregados (Caged), Cris- O prefeito explica que, no início, o sos projetos é criar uma escola técnica
talina é o município de Goiás que mais desenvolvimento da atividade mi- para ofertar cursos de lapidação, ouri-
gerou emprego de janeiro a outubro de neradora no local se deu de forma vesaria e polimento”, revela.
2016. A cidade contratou 12.994 pessoas amadora e desorganizada. Mas, com
e teve 8.923 demissões, que resultaram o tempo, mediante a criação da Asso- A MINERAÇÃO HOJE
em um saldo positivo de 4.071 postos de ciação dos Artesãos e a intervenção
trabalho no período. “Nossa economia é do poder público, foi possível acom- Em relação ao quadro atual da mine-
independente e pujante. Somos o mu- panhar esse progresso. Com isso, mui- ração do quartzo na cidade, de acordo
nicípio que mais emprega com carteira tos trabalhadores receberam incenti- com o prefeito, ainda existem empre-
assinada em Goiás, estando à frente de sas em operação: lapidários e lojas de
Goiânia. Além disso, já fomos o quinto comercialização. O Mercado do Cristal
do Brasil, à frente de todas as capitais reúne, segundo ele, diversas lojas, sala
brasileiras. Aqui é um lugar para viver, para palestras e lanchonete, além de
investir e trabalhar”, destaca Attiê. comércio no centro, que, frequente-
mente, recebe visitas de autoridades
ORIGEM de Brasília, em especial do corpo diplo-
mático, que, ao retornar para seus pa-
Durante o século XVIII, a Capitania de íses, leva presentes de cristal.
Goiás buscava explorar cada vez mais
o solo local, e a mineração crescia com Por isso, a cidade continua atrain-
o trabalho dos bandeirantes. Os serta- do um grande fluxo de turistas e
nistas encontraram então uma grande artesãos de todo o país, que pro-
serra com cristais de rocha de variados curam a matéria-prima em pri-
tipos e tamanhos em todo o chão. meira mão. É esse fluxo que gera

O prefeito de Cristalina, Luiz


Attié, explica que a base da
cidade foi construída com a
presença do cristal

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
Cidade dos cristais

A cachoeira do Arrojado (E)


e a pedra Chapéu do Sol
estão entre as peculiaridades
geográficas do município

empregos diretos e indiretos na área MARCAS DE CRISTALINA cidade é a Feira de Cristais e Pedras
da exploração do minério e também Preciosas (Fecris), além do feriado que
na comercialização do artesanato que Outra peculiaridade geográfica do ocorre no dia 16 de maio, homenage-
é produzido com ele. “A cidade tem município é a pedra Chapéu do Sol, ando o Dia do Garimpeiro. Nessa data,
um potencial muito grande para o tu- um bloco de rocha com 370 tonela- em 1951, cinco garimpeiros morreram
rismo, possui muitas cachoeiras, além das equilibrado em uma base com em um desmoronamento que ocorreu
de reservas particulares ambientais. menos de um metro, exemplar único enquanto extraíam cristal. Em home-
Mas a característica que mais chama no mundo. nagem aos trabalhadores, a prefeitura
a atenção para o município são os promove todo ano um grande churras-
cristais que temos aqui”, comenta o Ainda hoje, um dos eventos tradi- co e atividades de lazer para os garim-
artesão. cionais que marcam o calendário da peiros e suas famílias.

Cristalina (GO)

Raio X
Fundação: 18/7/1916
População: 54.337 habitantes
Área: 6.162,089 Km²
Altitude: 1.189 metros
Localização: Leste Goiano
Distância da capital: 288 Km
Municípios Limítrofes: Acari, Campo Redondo, Cabeceira Grande e outros
PIB per capita: R$ 23 421,79
Clima: tropical de altitude
Fonte: IBGE
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
O gesso do sertão

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
PRODUTO FINAL
Fotos: Associação dos Artesãos de Cristalina

Quartzo

Só em 2015, a exportação
do mineral chegou a
7.164 toneladas

A abundância do

O mineral mais comum do planeta pode ser a solução


para o consumo consciente da energia elétrica
Bruna Nogueira

Pedra preciosa, areia, joia, chip eletrônico de quartzo no Brasil. A primeira são os trino, ametista, quartzo rosa e quartzo
e base para relógios. O quartzo, o mine- depósitos primários, que consistem em fumê, comumente vistas em joias e em
ral mais comum da Terra, detém no Brasil quartzo de veios hidrotermais e de peg- objetos decorativos.
95% das reservas mundiais e pode ser a matitos. Aqui, o mineral é extraído em
solução para um consumo consciente de lascas de cristais bem lapidadas ou em Depois de extraída, a rocha de quart-
energia elétrica. Ainda pouco explorado blocos. E há também os depósitos se- zo passa pelo processo de britagem, e
no país, o cristal de quartzo, que é uma cundários, de quartzo em sedimentos o tamanho da pedra fica padronizado.
variação do produto, já foi comprovado eluviais, coluviais e aluviais. Isso signi- O mineral é então lavado, peneirado e
como uma opção viável para contribuir fica dizer que o cristal pode ser encon- classificado. A parte final é a da granula-
com a conversão de energia solar para a trado tanto em reservas a céu aberto ção, momento em que o quartzo rece-
elétrica através de placas fotovoltaicas. quanto em minas subterrâneas. be o formato desejado de acordo com a
destinação que terá na indústria.
De acordo com o geólogo e especialista Ainda que possuam cores e aparências
em quartzo do Departamento Nacional distintas, todas as pedras de quartzo APLICAÇÃO
de Produção Mineral (DNPM), Gustavo são formadas por dióxido de silicone.
Rocha, existem duas formas de reserva Algumas das mais conhecidas são ci- Versátil, o quartzo tem grande utilidade,
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
sendo empregado desde na indústria dução de quartzo. Entretanto, segun- ENERGIA
ótica até na construção civil. O mineral do Gustavo Rocha, o mineral ainda é
também é usado em células fotovoltai- explorado de forma rudimentar, com Com grande capacidade para conver-
cas, abrasivos, ligas especiais com aço, pequenos garimpeiros, que passam a ter energia solar em elétrica, o cristal de
areia para moldes de fundição na infor- atividade de pai para filho. “Os garim- quartzo já é utilizado em alguns países
mática e smartphones, em cosméticos, peiros descobrem a ocorrência e, com como alternativa para uma energia reno-
tintas, pisos e vidros especiais. “Falando o auxílio de pás e de picaretas, fazem a vável de baixo impacto ambiental.
em termos financeiros, é o mineral mais extração. Quanto mais limpo o quartzo
importante, pois, em seu estado de estiver, maior será o preço”, explica. O Brasil já se firmou no mercado como
maior pureza, seu valor também é mui- um grande exportador da matéria-pri-
to alto”, informa o especialista. Para quem está do outro lado da opera- ma para essa tecnologia. Entretanto,
ção, os garimpeiros e os artesãos veem ainda não produz os aparelhos para
A capacidade do mineral de gerar uma no cristal a oportunidade de crescer e fazer a conversão da energia com valor
tensão elétrica quando sofre pressão de expandir o setor, ainda que de ma- acessível às famílias brasileiras.
mecânica, chamada “propriedade pie- neira tradicional, com o garimpo que
zoelétricas”, junto à estabilidade na os- passa de geração para geração e as O especialista Gustavo Rocha informa
cilação, possibilita ao quartzo ser ma- negociações com pequenas empresas. que algumas casas do interior de Goiás
terial para osciladores. Nesse campo, o Para isso, precisam, muitas vezes, unir- já têm telas de energias fotovoltaicas,
cristal é utilizado em rádio, para estabi- -se a fim de conseguir apoio, como o da que contribuem muito para a redução
lizar frequências de sons, e também em Uniquartz, uma cooperativa de Minas de gastos e promovem a sustentabilida-
relógios, emitindo uma determinada Gerais formada por garimpeiros, minera- de. Segundo ele, a utilização de placas
quantidade de pulsos elétricos por se- dores e lapidários da região de Corinto, solares é algo que só tende a crescer. “O
gundo e fazendo, assim, a contagem pequena cidade do interior de Minas. Brasil vai a passos lentos, mas vamos ter
do tempo. Essas mesmas características que chegar lá, porque os recursos fósseis
tornam o quartzo peça fundamental na O presidente da cooperativa, Joel San- vão se exaurir e a tendência será utilizar-
indústria dos computadores. turnino, explica que a instituição foi mos a energia solar. Somos ainda muito
criada com o objetivo inicial de permitir dependentes de energia. Então, falta de-
A empresa Rima Mineração, localizada aos garimpeiros a obtenção de licenças manda de painéis de energia solar, que é
em Belo Horizonte, no Estado de Minas para a extração e o trabalho legalizado, muito cara. Se o valor dela baixar, haverá
Gerais, é uma das mineradoras brasilei- inclusive com a possibilidade de lapida- o aumento da produção do quartzo no
ras que se especializaram no beneficia- ção. “Os garimpos são antigos na região, Brasil”, salienta.
mento do cristal. Na Rima, o foco é a pro- e os procedimentos, normalmente, são
dução de silício metálico, que é obtido clandestinos, inseguros e de alto risco. O Brasil exporta matéria-prima, mas im-
por meio da redução por aquecimento No formato do cooperativismo, seria porta o produto final. Segundo dados do
da sílica presente no quartzo leitoso. “O possível tentar mudar essa situação”, diz. DNPM, a exportação atingiu 7.164 tonela-
silício metálico e as ligas à base de silício das em 2015. As principais indústrias de
são usados para a produção de silicones, “A utilização do mineral, tanto na in- consumo dos cristais piezolétricos e bru-
placas solares e chips de computador, dústria, como no mundo da beleza e do tos são as de equipamentos de comunica-
tendo aplicações diversas nas áreas si- esotérico, mostrou que o período do ção e as eletrônicas. Atualmente, os países
derúrgica e metalúrgica”, explica o dire- garimpo há muito acabou. Nossa res- que mais importam o quartzo brasileiro
tor de energia e mineração da empresa, ponsabilidade é a da mineração, e nos- são China, Espanha, Bélgica, República
Alexandre Amaral. “Apesar de o quartzo sos passos devem estar acompanhados Tcheca e Japão, sendo a China a maior im-
ser um mineral abundante na crosta ter- de análises e de custos”, afirma o presi- portadora, com o consumo de 43% e US$
restre, são poucas as jazidas com quan- dente da Uniquartz. 3,7 milhões só de produto bruto.
tidade e qualidade para a produção de
silício metálico. Dessa forma, o quartzo
puro, como chamamos, usado para pro-
duzir silício metálico, que, por sua vez, é Peças de joias produzidas
empregado na fabricação de células so- com quartzo por artesãos de
lares e de chips de computador, é uma Cristalina (GO), um dos polos
do minério no Brasil
ocorrência extremamente rara para a
implantação de minerações de escala
industrial”, afirma Amaral.

Os Estados da Bahia e Minas Gerais, em


primeiro lugar, e Goiás e Tocantins, em
seguida, são os mais associados à pro-
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
EQUIPAMENTOS
Fotos: Divulgação / ThyssenKrupp

Lançamento

THYSSENKRUPP
lança nova linha
de britadores
Equipamentos da série Kubria apostam na automação,
produtividade e redução de custos de operação
Bruna Nogueira

A ThyssenKrupp trouxe para o Brasil, no produtos são destinados a pedreiras, Dentre as vantagens do sistema, a fabri-
final de agosto, a nova linha de brita- construtoras, mineradores e usinas de cante destaca a agilidade, que resulta
dores Kubria, que conta com dois tipos reciclagem, dentre outros. A principal em menos custos. A tecnologia fornece
de tecnologia, cone e mandíbulas. Os novidade da série é a automação. acesso a todos os dados da operação,
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
o que permite prever possíveis erros e
antecipar as etapas produtivas que pre-
cisam de atenção. “No Brasil, o mercado
estava parado. Nós chegamos com essa Novos britadores
novidade e estamos trazendo novas da ThyssenKrupp têm
tido boa aceitação
tecnologias para mudar esse cenário”, no mercado.
explica o diretor-comercial de Minera-
ção da ThyssenKrupp Industrial Solu-
tions do Brasil, Marcos de Castro.

Os britadores de mandíbulas são usa-


dos no estágio primário das instala-
ções de britagem. Já os de cone têm
aplicação nos estágios secundário, ter-
ciário e quaternário. O modelo de cone
da linha Kubria traz avanços na espiral
ciclo-paloidal. Segundo a fabricante, a
nova configuração permite a transmis-
são de elevadas forças de britagem,
fazendo com que o aparelho funcione
de maneira leve, sem agravantes. O
cilindro hidráulico instalado debaixo
da máquina serve tanto para ajustar a
abertura do britador como para prote-
gê-lo de sobrecargas.

Tanto o britador de mandíbula quanto


o de cone contam com tecnologia que
deixa os agregados em formato cúbi-
co. Isso é essencial para que o produto
dure mais tempo e seja mais resistente
a agentes externos na comparação com
agregados lamelados. O produto lame-
lado é mais vulnerável ao desenvolvi-
mento de bolhas de ar e água, o que
prejudica o processo de preparação do
asfalto ou do concreto, por exemplo. estamos tendo respostas positivas. A A linha Kubria pode ser montada em
própria marca ThyssenKrupp dá um estruturas móveis ou fixas e conta com
“Quanto mais o produto final for cúbico peso maior na hora da venda. O clien- a tecnologia de câmara otimizada para
melhor é para a operação. Se o produto te costuma ouvir o nome e pensar no asfalto e para concreto. A câmara dimi-
for lamelar, o agregado fica com uma carimbo de produto robusto, de qua- nui a exposição das peças ao desgaste e
série de problemas, podendo causar lidade. Isso tem contribuído”, diz Mar- acena com maior produtividade e dimi-
danos até no maquinário do cliente. cos de Castro. nuição de gastos.
Tendo em conta que um asfalto ou pa-
vimentação de rua tem cerca de 95% de
agregados e apenas 5% de cimento, ter
um produto cúbico é necessário para a
qualidade final”, avalia Castro. SAIBA MAIS SOBRE A BRITAGEM
PERSPECTIVA A britagem é o processo de fragmentação de grandes materiais como rochas
e compreende boa parte do que é chamado beneficiamento de mineral. Nor-
Mesmo com o cenário de desacelera- malmente, ocorre em quatro etapas: primária, secundária, terciária e quater-
ção econômica, o diretor-comercial nária, classificação que respeita o nível de granulação desejado. Em cada fase
de Mineração da ThyssenKrupp ga- é usado um modelo de britador, como mandíbula, giratório, cônico, rotativo,
rante estar recebendo bom retorno de impacto ou martelo.
do mercado. “Estamos em um mo-
mento de recessão, mas ainda assim
45
Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
AGENDA

GEO India • 16 a 18 de janeiro de 2017 • Greater Noida - Nova Vitória Stone Fair • 14 a 17 de fevereiro de 2017 • Carapina
Déli - Índia Centro de Eventos • Carapina (ES) - Brasil
A conferência GEO é organizada e desenvolvida pela Associação A Feira Internacional de Rochas Ornamentais Brasileiras irá reunir
Americana de Geólogos de Petróleo (AAPG), pela Associação Eu- a cadeia produtiva das pedras ornamentais, bem como compra-
ropeia de Geocientíficos e Engenheiros (Eage) e pela Sociedade de dores e negociadores do mundo inteiro. Na oportunidade, serão
Geofísicos de Exploração (SEG). A união das entidades tem como ob- apresentadas as novidades em produtos e serviços para o comér-
jetivo promover encontros entre os geocientistas da região. cio e para a exportação de rochas ornamentais.
www.geo2018.com/ www.vitoriastonefair.com.br/

International Convention, Trade Show & Investors Exchange


Mining Indaba Professional Conference • 6 a 9 de fevereiro de - PDAC • 5 a 8 de março de 2017 • Metro Toronto Convention
2017 • Cape Town International Convention Centre • Cidade do Centre • Toronto - Canadá
Cabo - África do Sul
A PDAC International Convention, Trade Show & Investors Exchan-
A conferência Indaba Mining 2017 irá focar a forma como os in- ge é uma convenção mundial para pessoas, empresas e organiza-
vestidores, as empresas de mineração, os governos africanos e as ções ligadas à exploração mineral. Além de receber mais de 900
indústrias do setor maximizam a lucratividade, os retornos finan- expositores e contar com 22 mil participantes de 125 países, o
ceiros e as vendas durante a recuperação do setor, bem como o evento também oferece sessões técnicas, cursos curtos e momen-
ciclo de crescimento para o futuro. tos para a troca de experiências profissionais.
www.miningindaba.com www.pdac.ca/convention/

Minexcellence - 2o Seminário Internacional de Excelência Ope-


racional em Minério • 29 a 31 de março de 2017 • Grand Hyatt
Geotherm Expo & Congress • 15 e 16 de fevereiro de 2017 • Santiago Hotel • Santiago - Chile
Messe Offenburg • Offenburg - Alemanha
O Minexcellence visa reunir executivos de mineração e profissio-
O evento pretende reunir exposições e congressos do universo da nais para analisarem modelos de gestão, estratégias de negócios
geologia. A Geotherm irá receber palestrantes e especialistas de e métodos de otimização com o intuito de melhorarem seu de-
44 nações, e a feira que será realizada simultaneamente terá mais sempenho e de reduzirem seus custos, de maneira sustentável e
de 180 expositores. ao longo dos próximos anos, no campo da mineração.
www.geotherm-offenburg.de/ www.gecamin.com/minexcellence

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Novembro . Dezembro de 2016
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro . Outubro de 2015

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