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Revista Brasileira de Geociências 22(4) : 437-448, dezembro de 1992

CONCEITOS DE ANÁLISE DE BACIAS E SUA APLICABI LI DADE NO ESTUDO DE


SEQÜÊNCIAS SEDIMENTARES PROTEROZÓICAS

HUNG K. CH ANG*

ABSTRACT BASlN ANALYS1S CONCEPTS AND THEIR APPLICATION lN THE STUDY OF


PROTEROZOIC SEDIMENTARY SEQUENCES. Thermomechanic al concepts and integrated multidisciplinary
studies have greatly contrib uted to lhe stratigraphic analysis of sedimentary basins . The purpose of'the present summary
is to discuss some important topics conceming lhe study of sedimentary sequences, focusing in lhe ir applicability to
proterozoic sequences. Concepts ofisostasy, heat cond uction, eustasy, climate and erosionlsupply are explored. Some
modem examples are also discussed in order to iIlustrate lhe applicab ility of comparative anatomy in lhe study of
Proterozoic sedimentary sequences .

Keywords: Proterozoic sedimentary sequences, isostasy, heat conduction, eustasy, climate, erosionlsupply.

RE SUM O O grande avanço alcançado na anális e estratigráfica de bacias sedime ntares se deve principalmente à
aplicação de conceitos termomecânicos e à multidisciplinaridad e dos estudos, por meio da análise integrada do método
processo/resposta. Este trabalho visa tão somente enumerar e discut ir suscintamente alguns tópicos importantes no
estudo de seqüências sed imentares, focalizando sua aplicabilidade às seqüênci as proterozóicas. São explorados os
conce itos de isostasia, condução de calor, eustasia, clima e erosão/suprimento. Alguns exemplos modernos são descritos
com o propósito de ilustrar os processos e as respectivas respostas, servindo também para testar a validade de se aplicar
a técnica de anatomia comp arativa ao estudo de seqüênc ias sedimentares proterozói cas.

Palavras-chaves: Seqüências sedimentares proterozóicas, isostasia, condução de calor, eustasia, clima, erosão/suprimento.

INTRODUÇÃO Bacias sedimentares são de importância que delimita a superfície da litosfera , é responsável pela exis-
fundamental para o entendimento da história da Terra, consti- tência de bacias sedimentares . Areas submergentes são o local
tuindo o repositório dos registros mais completos de processos de acumulação de sedimentos, que por sua vez deve sua exis-
geológicos atuantes no nosso planeta. tência à presença de uma região elevada (área fonte).
A interdigitação de estratos , por exemplo, registra o avanço Bacias sedimen tares podem ser vistas como o resultado de
e recuo da linha de costa , em respos ta a variações do nível do um ajuste compensatório, em resposta a um desequilíbrio da
mar ou do lago. A variação do nível do mar reflete muda nças distribuição de forças na litosfera (Chang et ai. 1990). Este
climáticas e tectônicas. Os pulsos de sedimentação registram a desequi líbrio pode ser provocado por : a. mudança da espessura
atividade tectônica nas áreas-fonte. A transformação da maté- crustal; b, mudança da estrutura térmica; c. alteração do estado
ria orgânica em hidrocarbonetos, bem como mineralização , é de tensão da litosfera (Fig. 1, Tab. 1).
conseqüência da ação do calor experimentado pelas seqüências A mudança da espessura da crosta produz uma deformação
sedimen tares durante a sua evo lução . A associação fossilífera , permanente, uma vez que altera fisicam ente a distribuiç ão de
além de registrar a evolução da vida no planeta, nos fornece um massas da litosfera, por adelgaçamento ou por espessamento.
parâmetro fundamental que é o tempo geológico. Enfim, nas A alteração do estado de tensões da litosfera produz uma
rochas sedimentares estão registrados os mais variados proces- redistribui ção de massas. A deformação, ao contrário da situa-
sos naturais (físicos, químicos e biológicos) que atuam de uma ção anterior, se caracteriza por ser não-permanente, pois ela
forma inter-relacionada e interdependente . ocorre dentro do campo elástico. Uma vez cessada a ação da
De importância fundamental é o significado econômico das tensão deviatória , a litosfera retoma ao seu estado original.
bacias sedimentares, pois delas advém a principal fonte de Este contexto tectônico é caracterizado pela ação dos esforços
recursos energéticos e bens minerais. São delas extraídas petró- intraplaca, decorrentes da interação das placas litosféricas.
leo, minerais radioativos, sais minerais, além de uma infinida- Esse fenômeno foi analisado por Cloet ingh (1986) e Kamer
de de outros minerais metálicos e não-metálicos. (1986).
O objeti vo deste trabalho é apresentar alguns conceitos A alteração da estrutura térmica envol ve essencialmente o
modernos dos processos termomecânicos, eustasi a, clima e transporte de energia na forma de calor. Quando a magnitude
erosão/suprimento de sedimentos, que controlam a formação do calor adicionado não resultar em reação químic a, a defor-
de seqüências sedimentares. Enfase será dada à análise tectono- mação resultante é não-permanente e é traduzida por expansão
sedimentar que inclui o arranjo espacial e temporal dos pacotes ou por contração térmica da rocha. No entanto, se o calor
sedimentares. Será, também, analisada a aplicabilidade destes adicionado promover mudanças mineralógicas, como durante
conceitos, desenvolvidos em estud os de bacias sedimentares o metamorfismo, a deform ação resultan te é de caráter perma-
fanerozóicas, às seqüências proterozóicas. nente. Exemplo que ilustra bem este processo é a ação de uma
pluma quente ou de uma intrusão ígnea: próximo à anomalia
pode ocorrer metamorfismo e distante dela somente expansão
PROCESSOS TERMOMECÂNICOS Processos ter- volumétrica.
momecânicos, como o próprio nome indica, estão relacionados
aos fenômenos físicos regidos por leis da mecânica e de calor. Isostas ia O mecanismo da comp ensação isostática, isto
Pode-se dizer, de forma simplificada, que a topografia da Terra, é, restauração do equilíbrio, é que determi na a configuração

" Cenpes, Petrob rás, Ilha do Fundão, Quadra 7, CEP 219 10-000, Rio de Jane iro, RJ, Brasil
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Tabela 1 - Natureza de desequilibrio e mecanismos de compensação de deformaç ão titosférica (Chang et alo1990)


Table 1 - Non-eq uilibrium and compensation mechani sms oflithospheric defonnation (Chang etai. 1990) .

NA TUREZA DA TIPO DE TIPO DE


INICIAÇ Ãq DO TIPO DE DESEQUIL(BRIO TIPO DE DEFORMAÇ ÃO SOERGUIMENTO/
DESEQUILlBRIO COMPENSAÇ ÃO SUBSlD ~NCI A
lU

ALTERAÇÃ O DA ~ ESTlRAMENTO AFINAM ENTO


~
ESPESSUR A
~::> L1TOSF~RICO CRUSTAL z
w LOCAL/ MECÂN ICA
TRANSPO RTE -c z
lU
4:
CRUSTAL/ :::E
~ EMPURRÃ O
ESPESSAMENTO D::
w
REGIONAL LOCAL/FLEXURA
SUBCRUSTAL g CRUSTAL a...
DE -'
-c

~
AL TERAÇÃO DA DISTRIBUiÇ ÃO z MECÂNICA
O w
MASSA DE ESFORÇOS FLAMBAGEM k( z REGIONAL
w
z :::E
D:: FLAMBAGEM
(D ISTENSIVO COMPRESSIVO) W
a...
w
I-
MUDAN ÇA S
z
w LOCAL/ ITRMICA
z
TRANSPORTE 4:
AL TERAÇÃO DA ESTRUTURA DE FASE :::E REGIONAL LOCAL/REGIONAL
D::
w
a...
DE
~
EXPANSÃO E z
T~R MIC A DA LITOSFERA O w ITRMICA
ENERGIA CONTRAÇ ÃO k( z REGIONA L
w
z :::E
D:: REGIONAL
ITRMI CA W
a...
final (soerguimeuto ou subsidência) da litosfera, após seu de- esta deformação é o da flexura; a litosfera é considerada como
sequilíbrio. Isostasia é a forma pela qual a litosfera responde, uma placa elástica, flutuando sobre o manto fluido (Heiskanen
em profundidade, a cargas geológicas. O modelo físico que & Vening -Meinez 1958, Walcott 1970) . A equação diferencial
representa a situação geológica é aquele de blocos sólidos que descreve este fenômeno (Turcotte & Schubert 1982) é :
(cros ta) flutuando sobre um líquido denso (manto). Se a crosta
está em equilíbrio com o meio fluido , existe uma superfície de ()4w ()4w
compensação em profundidade para a qual é válida a seguinte D- + p - + (am - as)gw(x) - q(x) = O
relação : ax 4 ax 2

D = rigidez flexural g =aceleração da gra vidad e


J._.... .\,r Tc
l'.p (x, z)dzdx =O P = forç a lateral w(x) = deflexão
as = densidade do sedimento q(x) = carga aplic ada
=
am den sidade do manto
onde:
x = posição geográfica na superfície O co mprimento de onda e a amplitude resultantes desta
z = profundidade (z = Ona superfície) deformação são controlados pela magnitude da carga e pela
=
Te profundidade da superfície de compensação rig idez flexur al da placa:
l1p (xz) = variação da densidade com a profundidade e posição.
EN
Devido à complexidade reológica da Terra, a profundidade D=- -
da superfície de compensação é apenas uma aproximação. Esta 12 (1 - y 2)
superfície se localiza normalmente nas regiões onde aCOITem
as maiores mudanças de densidade, como por exemplo, no E = módulo de Young
limite crosta/manto. v =razão de Poisson
Existem dois mecanismos de compensação isostática - local h = espessura elástica
e regional (Fig . 2). No primeiro caso, a compensação ocorre
imediatamente abaixo ou acima do ponto de aplicação de uma E e Y são constantes físicas da rocha, enquanto h varia em
carga (e.g. montanha). Isto equivale a dizer que a litosfera não função da idade e da temperatura da litos fera.
tem qualquer resi stência lateral, comportan do-se como um
co nj unto de prismas verticais rígidos independentes. Est a sim- Calor Calor é uma form a de energia transferida entre dois
plificação impli ca que os blocos se movimentam verticalmente, corpos ou sistemas, sempre que ocorre um dife rencial de tem-
mesmo quando submetidos a um mínimo esforço cisalhante. peratura. Na natureza, existem essencialmente três formas de
No mecanismo regional, a litosfera possui uma rigidez, de transmissão de calor: 1. rad iação - a transmissão de calor
tal sorte que a carga apli cada .deformará uma área maior que a ocorre através de emissão contínua de energia da superfície do
região de aplicação da carga. O modelo que me lhor descreve co rpo, na forma de ondas eletromagnéticas; 2. condução - a
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A) ALTERAÇÃ O DA ESTRUTURA ITRt.4ICA DA LITOSfERA. dT


q =K - -
A B
dZ

F
Onde:
R Q = fluxo de calor por unidade de área e por unidade de tempo
I
O K = coeficiente de condutividade térmica
dT/dZ = gradiente térmico

A maioria dos problemas geológicos, envolvendo calor,


pode ser representada pela equação diferencial que descreve a
8) ALTERAÇÃO DA ESPESSURA L1TOSFÉRICA
distribuição de temperatura num sólido, onde a transferência
Es nRAM ENTO TECTONICO
de calor se dá por condução. Para sólidos com dimensões
EROSÃO horizontais muito maiores que a vertical, o fenômeno se reduz
AFINAMENTO
a um problema unidimensional, por exemplo (Turcotte &
<:= r:;;:;=v;=v~v~v~
v 8 ~ ~ <22z:=-...
Schubert 1982):
~ ~

r==- J
EMPURRÃO CARGA SEDIMENTAR

~ sendo:
~ <:=
E SP ESSAM~ K
K= - -
pc
C) ALTERAÇÃO DO ESTADO DI" TENSOES DA LITOSFERA.
Onde:
ESFORÇOS LATERAIS K = difusibilidade térmica
c = calor específico do meio
p = densidade do meio
O limite litosferalastenosfera é de natureza puramente térmica.
Considera-se como litosfera a camada superior da Terra, onde o
calor é transmitido apenas por condução. Astenosfera é a parte
imediatamente inferior à litosfera, onde processos de convecção
predominam na transmissão de calor, processos estes que ten-
Figura 1 - Principais mecanismo s de desequilibrio respon- dem a dissipar mais facilmente qualquer anomalia térmica do
sáveis pelas deformações que atuam na litosfera (Chang meio no qual atuam. Por esta razão, assume-se como constante
et al.1990) a temperatura da astenosfera (T,J.
Figure 1 - Non -equilibrium mechanisms acting on lithosphere, responsible for Se for negligenc iado o fluxo de calor produzido por desinte-
its deformation Chang et aI. 1990) gração radioativa dentro da própria litosfera, designando Tm
para representar a temperatura na base da litosfera (z = a) e
a - Loc al b - Regiona l considerando a temperatura na superfície (z = O) igual a zero,
obtém-se uma distribuição de temperatura na litosfera igual a:
AIRY
Flexura
Tmz
~l.mo T(z) = -
a

PRATI Onde:
a = espessura da litosfera.
Esta equação descreve os perfis de temperatura da figura 3.

Modelos termomecânicos formadores de bacias se-


dimentares Entre os vários modelos formadores de ba-
Figura 2 - Modelos de compensação isostática local e regio- cias, o modelo de extensão uniforme (McKenzie 1978) e o de
nal. es, ec e em correspondem à densidade do sedimento, carregamento flexural (Beaumont 1981) são os mais represen-
crosta e manto, respectivamente (adaptado de Karner & tativos e importantes para o entendimento dos processos termo-
Dewey 1986) mecânicos responsáveis pela sua origem e evolução.
Figure 2 - Local and regional isostatic compensation models. es, ec and em are
sediment, crust and mantle dens ities, respectively (Kamer & Dewey 1986)
REGIM E EX TENSIONAL No regime extensional, o afina-
transmissão de energia ocorre sem transporte de massa; 3. mento da crosta é o mecanismo responsáv el pela subsidên cia
convecção - a transmissão de energia ocorre através do desloca- da litosfera. Dentre os vários modelos de estiramento litos-
mento do material. férico, aquele proposto por McKenzie (1978), conhecido
A equação fundamental da condução de calor é a Lei de por extensão uniforme ou cisalhamento puro (Fig.3), é o mais
Fourier, que relaciona temperatura (T) e fluxo de calor (q). Para difundido e elucidativo para o entendimento do processo
o caso particular de fluxo unidirecional, tem-se: distensivo e de suas conseqüências. O modelo pressupõ e esti-
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ramento rápido (instantâneo) de uma placa litosférica homogê- Na fase inicial ou rifte, a taxa de subsidência depende
nea, constituída por uma porção crustal de composição siálica e diretamente da taxa de estiramento instantâneo no modelo de
uma subcrustal de composição máfica. McKenzie. Já, na fase pós-rifte, a subsidência segue uma forma
exponencial com o tempo, comportamento típico de um sólido
CONDIÇOES INICIAIS
rc que se resfria por condução de calor. Quando a duração da fase
O 1000 inicial de rifteamento é longa, ocorre uma superposição da

-
-
>......./\ ...... ~
~ '\'..::- ) ~
\,/
\ I /. -
...., ,/ -,
- ''':--
subsidência térmica com a subsidência da fase rifte (Jarvis &
McKenzie 1980, Cochran 1983). Este modelo, juntamente
com outros subseqüentemente derivados, tem -se mostrado bas-
tante útil na análise de bacias sedimentares formadas sob um
regime extensional como riftes continentais, margens passivas
e bacias retroarco (back are).
Dentre os vários modelos subseqüentes ao modelo de Me -
Kenz ie, destacam-se o de extensão não- uniforme por cisa-
lhamento puro (Royden & Keen 1980, Hellinger & Sclater
EXTENSÃO UNIFORME (F ASE RIFTE) 1983) e o de extensão uniforme por cisalhamento simples
(Wemicke 1985). O primeiro caracteriza-se por representar um
afinamento diferenciado entre porções crustais e subcrustais da
litosfera. Já, o de cisalhamento simples, proposto por Wemicke
(1985) e formu lado segundo suas observações na região de
~~~~ H+H +~ - - - - -- - --- - - - - - - - Basin and Range e Co lorado Plateau, preconiza uma zona de
cisalhamento representada por falha de baixo ângu lo sec-
cionando a litosfera (Fig. 4). Com isso, as regiõe s de máxi mo
afinamento da crosta e do manto litosférico encontram se
deslocadas uma da outra, resu ltando padrões de subsidência
simi lares aos descritos pelos modelos de exten são não -unifor-
RESFRIAMENTO ( FASE PÓS- RIFTE) me (e.g., Royden & Keen 1980).

Ó > fi Ó < fi

•• • • • ••• • • o • ••

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I.U.NTO II II \I II \I II II II II II \I II

II II II II II II \I II II \I II " Y II " " y Y Y " Y "

80\l \lIlIlYIIII II" \l II" IY"""" ~"IIY IIIIY


LITo sr[lU, v \I \I II " Y II " II " A " " "" II II V II II 'Y

12 0 " " " " " " " " " " " " " "
km AST[ HOSrERA " " " " " " " " " " " " " " "

.--.. . ...-·1-- --[--·) --·- - SUBSIOÊHC1A

~ '
- /-
'-- CROSTA}
:if=_ ~-:::t _-__ -i-.=-=--:-:- l .- ..-:·_t"-_-- - --- --- - - -
TECTÔHICA

TERI.IAl
~

LITOSFERA
MANTO Figura 4 - Modelo esquemático de extensão uniforme por
cisalhamento simples (Wemicke 1985). Õ - fator de extensão
crusta I; ~ - fator de extensão subcrustal
ASTENOSFERA Figure 4 - Schematic uniform simple shear extension model (Wemicke 1985).
P-subcru stal extension factor
li - crustal extension factor;

Figura 3 - Mode lo esquemático de extensão litosférica, po r Vale ressaltar que todos modelos acima descritos se utilizam
cisalhamento puro (McKenzie 1978). Os pe rfis à direita ilus- do conceito de isos tasia local. Dessa forma, não reprod uzem as
tram a distribuição de temperatura da litosfera nos três está- feições geológ icas típicas das regiões de borda de bacia. Nestas
gios; ooe oe
na superficie e 1.330 na base da litosfera regiõe s, pelo fato de a rigidez flexural não ser nula, a compen-
Figure 3 - Schernatic pure shear lithospheric extension model (McKenzie sação isostática, como foi anteriormente vista, resulta em de-
1978). Diagrams on lhe lithosphere temperature at different stages - O"C at lhe formação além do limi te lateral da aplicação da carga. Como
surface and 13300 e atthe base of the Iithosphere resultado deste ajuste compensatório, ocorre na borda das
bacias uma região subsidente, onde comumente se instalam as
Numa litosfera, onde a razão de espessura crosta/subcrosta é planícies costeiras. Modelos matemáticos mais elaborados têm
superior a 0,14, o estiramento produzirá inicialmente uma conseguido reproduzir estas feições (e.g., Braun & Beaumont
subsid êncía tectônica, como conseqüência da resposta isos- 1989, Weissel & Kamer 1989) .
tática à substituição do material da crosta siálica (menos denso)
pelo manto (mais denso), acompanhado de uma ascenção REGIME COMPRESSIONAL No contexto compres-
passiva da astenosfera. Esta etapa se associa à fase rifte da bacia sio nal, a subs idência da litosfera resulta do aj uste isostático
sedime ntar resultante. Na concepção de McKenzie (1978), a regional , prov ocado por uma carga aplicada sob re uma
acomo dação física da deform ação, durante a exte nsão, oco rre placa elástica. Esta carga é normalmente asso ciada a um
através de falhamentos normais na parte superior da crosta e espessamento da crosta, típico de regiões colis ionais. A geome-
por fluxo dúc til na porção inferior. tria da deflexão resultante, como visto anteriormente, depende
Cessada a fase de estiramento, ocorre o resfriamento por da dimensão da carga e da rigidez flexural da placa (Fig. 5).
condução na porção afinada da litosfera. Com o resfriamento A subsidência tectônica, produzida pelo carregamento fle-
ocorre um adensamento desta porção da litosfera e, em conse- xural, está diretamente associada ao tamanho do cinturão de
qüência, uma subsidência adicional. Esta fase é conhecida dobramento/empurrão adjacente, cuja resposta é praticamente
como subsidência térmica ou pós-rifte. insta ntânea ao desequilíbrio provocado. A magnitude da de-
RevistaBrasileirade Geociências, Volume 22, 1992 441

pressão produzida normalmente não ultrapassa 3 km junto à A.


carga, atenuando à medida que se afasta dela. A distância entre DEPRESSÃO
a depressão máxima e o alto flexural (jlexural bulge) pode PULL-APART
atingir algumas centenas de quilômetros.

-SOkm

26
10 Nm (178km)
r-..

~
E 0.1 B.
'-'

«
24
0. 2 o = 10 Nm (38km)
u
ELÁ S T I C O
Z
<W
o
---=-----:---~-----------------:.:-1~-;k~===~ 21Okm-.,
(J) ____o, OOkm -----..j
m
::::>
(J)
0. 1
o= 10
25
Nm (83km) c.
0 .2 5
T = 10 ma
BACIA RIFTE BACIA COMPRESSIONAL
0.3
+ + + + +
VISCO- ELÁS T ICO + CROSTA
+ +
+ + + + + +
+
Figura 5 - Perfil de deformação resultante da aplicação de " " " " "
uma carga, equivalentea um prisma de 50 km de largura por 1
km de altura, em substratos elásticos e visco-elásticos (Be- " MANTO
" ,, " " "
__ FALHA STRIKE SLlP
aumont 1978, 1981). D =rigidezflexural; valoresentreparên- " "
" " " "
(REGI~O EM COt.lPRESS~O)
teses representam a espessura elástica; 't = constante
de relaxação
" " " " "
Figure 5 - Deformation profile for a point load equivalent to a prism of 50 km by Figura 6 - Subsidência tectônica associada ao regime strike-
1 km, on elastic and visco-elastic substrata (Beaumont 1978, 1981). D = slip. A. subsidência produzida por distensão associada ao
f1exural rigidity; values quoted in parenthesis represent elastic thickness; segmento de alívio (releasing bend). B. subsidência associada
't = time constant ao carregamentoflexural produzidopor blocos soerguidosnos
segmentos de constrição restraining bends). C. perfil transver-
Para condições litosféricas de comportamento reológico vis- sal afalha strike-slip (Kamer & Dewey 1986)
co-elástico, a geometria depende também da constante de Figure 6 - Tectonic subsidence associated to a strike-slip regime . A. subsidence
relaxação (Fig. 5), isto é, o tempo necessário para aliviar o related to a releas ing bend . B. subsidence related to f1exuralloading ofuplifted
stress inicial para l/e do seu valor. Neste modelo reológico, blocks associated to restraining bends . C . profile transversal to a strike-slip fault
num curto período de tempo inicial, a litosfera se comporta (Karner & Dewey 1986)
elasticamente. No entanto, num período longo, ela apresenta
comportamento viscoso. Isto implica que, com o passar do BACIAS INTRACRATÔNICAS As bacias intracratônicas,
tempo, as bacias sedimentares implantadas em litosfera visco- que se caracterizam por apresentarem uma geometria mais
elástica se tomam cada vez mais estreitas. circular e ampla, apresentando um mergulho suave da borda
para o centro, têm origem ainda controversa. De uma forma
REGIME STRIKE-SLIP No regime strike-slip, a subsi- geral, devido à ausência de cargas adjacentes à bacia, como os
dência tectônica pode ocorrer segundo os dois modos descritos dobramentos associados às bacias foreland, sua origem tem
(extensional e compressional), isto é, por distensão nos seg- sido associada a fenômenos térmicos que provocam mudanças
mentos de alívio releasing bend) e por flexura associada ao de fase nas regiões subcrustais (Middleton 1980), resultando
carregamento produzido pelos blocos soerguidos nos segmen - no seu adensamento e subseqüente subsidência (Fig.?) . Em
tos de constrição (restraining bend, Fig. 6). algumas bacias, como a de Paris, de idade mesozóica, o emba -
A porção transtensiva de uma zona transcorrente apresenta samento e a porção sedimentar basal encontram-se cortadas
um padrão de subsidência dominantemente mecânico, com por falhas de rejeito normal, suportando uma origem disten-
incipiente contribuição térmica . A magnitude dessas depres- sional para a sua formação (perrodon 1988).
sões pode atingir valores acima de 4 km (e.g. Ridge Basin, Outros mecanismos, como tensões intraplacas, correntes
Kamer & Dewey 1986). convectivas descendentes (Middleton 1989), erosão subaérea e
No segmento transpressivo, a depressão associada é de subcrustal, têm sido utilizados para explicar a origem de bacias
dimensões limitadas, em virtude da pequena magnitude dos intracratônicas . Infelizmente, os conhecimentos geológico e
blocos, comparada à dos cinturões de dobramento/empurrão. geofísico de subsuperfície não permitem definir inequivoca-
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mente um ou mais mecanismos para explicar a origem e a SOBRECARREGADO "BACKSTRIPRED" .


evolução dessas bacias. Uma análise crítica de vários mecanis- NíVEL DO MAR DESCARREGADO
mos e modelos responsáveis por sua origem e evolução encon-
tra-se no trabalho de Quinlan (1987).
- - - - - - - - - - - - - · VV"\J'Urv\.I"\J"\.f"V'
Wd
Pw
Pw y
v v v v
v v v
v v v v
S*

/
_ _ ERODIDO
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, - ;, 1 ' - / 1/, - /
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V V V V
V V V Wd + S* - 6 SL ":' y
V V V v v v v
A
A

/
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/ /. 1 -,
V
V V V v v v v
V V V
v
v
v
v
v
v
v
y = S* [ Pm- p sJ + Wd-
Pm -Pw
6
SL
[P mPm- Pw]
V V V V

Figura 8 - Diagrama esquemático da técnica de back-


stripping (Steckler & Watts 1978). A coluna à esquerda
~ CROSTA CONTINENTAL ~ PLUMA QUENTE corresponde à situação geológica de uma depressão preenchi-
da por sedimentos. A coluna à direita corresponde à situação
MUDANÇA DE FASE OU geológica na qual sedimentos são removidos e substituídos por
~ MANTO L1 TOSF~RICO água; pw, ps, rb e rm correspondem a densidades da água,
"UNDERPLATING"
sedimento, embasamento (crosta) e manto, respectivamente.
Wd - paleobatimetria: S* - espessura do pacote sedimentar a
Figura 7 - Modelos esquemáticos de dois possíveis mecanis- ser removido; B - espessura da crosta (não entra nafórmula)
mos de formação de bacia intracratônica. Em ambos os casos, Ssl- variação do nível do mar; Y - espessura descarregada
a subsidência resulta de afinamento crustal, por erosão ou (backstripped)
extensão Figure 8 - Schematic diagram of backstripping technique (Steckler & Watts
Figure7 - Schematic models of two possible mechanismsofi ntracratonicbasin 1978). Left column iIIustrates a depression filled by sediments. Right column
formation. ln bolhcases, subsidence is producedby crustal thinning - erosionor iIIustrates lhe situation after replacing sediments by water. pw, ps, pb e nn
extension correspond to water,sediment,basementandmantledensities,respec-tively, Wd
- paleobalhimetry;S* - sediment thicknessto be removed;B - crustalthickness;
CONTROLE NA EVOLUÇÃO ESTRATIGRÁFICA &1- sea leveI variation;Y - backstrippedthickness
A estratigrafia de uma bacia sedimentar é a resposta física da
natureza a uma regiã o dominantemente subsidente . Pelo estu- Variação eustática do nível do mar Oscilações
do das seqüências sedimentares pode-se obter o conhecimento globais do nível do mar têm sido reconhecidas desde o início do
do tempo e das características litológicas das rochas que as século. Atribui-se a Suess (1906) a introdução do termo eustá-
compõem. tico para se referir a mudanças na escala global do nível do mar.
As seq üências sedimentares são o produto da interação de Estas oscilações têm sido atribuídas a vários processos geológi-
vários processos geológicos, sendo os principais a subsidência cos: glaciação e dessecação , variação do volume das cadeias
tectônica, a variação do nível do mar, o clima e o suprimento de mesoceânicas, orogenias de colisão, sedimentação, OOt spots e
sedimentos. Os dois primeiros determinam a história da subsi- outros (pitman 1978, Donovan & Jones 1979, Pitman &
dência e a magnitude do espaço disponível para ser preenchi- Golovchenko 1983, Steclder 1984). Partindo da prémissa que o
do. O clima e o suprimento sedimentar definem o tipo de volume de água é constante, estes processos se resumem na
depósito e o quanto do espaço disponível será preenchido. variação ou do volume das bacias oceânicas ou o partido-
A avaliação da contribuição de cada um destes parâmetros é namento da água em fase sólida (geleiras)/líquida
uma.tarefa difícil. Muitas vezes ela se torna impossível, dada a Vários métodos têm sido empregados para estimar a magni-
interdependência entre eles. No entanto, a subsidência tectôni- tude das variações eustáticas do nível do mar ao longo do tem-
ca pode ser estimada a partir do conhecimento estratigráfico po. Esses métodos incluem análise de fácies sedimentares,
da bacia e da variação eustática do nível do mar. Uma téc- sismoestratigrafia, cálculo da variação volumétrica das cadeias
nica bastante utilizada na análise de bacias é o backstripping mesoceânicas e modelagem termomecânica (Vail et ai. 1977,
(Steclder & Watts 1978). Esta técnica consiste em remover Hallam 1978, 1984, Pitman 1978, Watts & Steclder 1979, Vail
as unidades estratigráficas, substituindo-as por água (Fig. 8). & Todd 1981, Kominz 1984). O cálculo volumétrico das cadei-
Por meio desta operação, pode-se retirar da subsidência total o as mesoceânícas só é possível para o Meso-Cenozóico, uma vez
efeito da carga causada pelo peso dos sedimentos, que amplifi- que não se tem registros de assoalhos oceânicos mais antigos .
ca pela subsidência tectônica (para maiores detalhes, vide A magnitude das oscilações eustáticas máximas nos últimos
Bender et al. 1989). 100 milhões de anos situam-se entre 150 e 350 m. Estes valores
Revista Brasileira de Geociências, Volume 22,1992 443

foramestimados em funçãoda glaciaçãoe do volumeda cadeia uma circulação zonal. Este padrão se caracteriza por apresen-
mesoceânica, respectivamente. Sobre a de taxa de variação tar uma zona de baixa pressão na região.do'equador, uma de
eustática, a causada pela glaciação é muito maior (10.000 mi alta nos pólos, intercaladaspor um par de altaebaixap ressões
.Ma) que aquela causada pelo espalhamento oceânico nas latitudes intennediárias. Este padrão de circulação atmos-
(10 mIMa, Tab. 2). férica é tambémperturbado pela presença de massas continen-
tais. O contraste de temperatura entre o oceano e a massa
continental resulta na formação de células de circulação, que
Tabela 2 - Magnitudes e taxas de variação eustática do nível são criadas e destruídas sasonalmente e que, em última instân-
domar cia, regulam a pluviosidade (Fig. 10).
Table 2 - Magnitudes and rates of eustatic sea leveI variatio n

3 00
MUDANÇA DO NIVEL DO MAR
200

TAXA !
MECANISMO MÁXIMA
(m)
MÉDIA
(m) (cm/l000 a.) .
li:
ii
100

o
GLAC IAÇÃO It 200 150 100 0 .0 o
VOLUM E DE CADEIAS It 500( '350) 350('230) 1.2
...... o
MESO-OCEÂNICAS .~
- 10 0
OROGEN IA I 15 0 70 0.25
SEDIMENTAÇÃO It 10 0 60 0.25
- 200
' HOT SPO TS' Ir 10 0 50 0.50
INUNDAÇÃO DE I 15 INSTANTÂNEO JURÁSSICO I CREr. INFER. I CREtSUP ER. IPAL-I EOC. I OUG . I M/OC.1PíJ
OCEANO (MED.)
I
TEMPERATURA It 10 l~ ~ 140 1W 100 00 60 40 20 o
TEMPO (Mal

(PIT MAN, 1978; OONOVAN & JON ES, 1979)


• KOMINZ , 198 4 Figura 9 - Curvas de variação eustática do nível do mar .
H007
estimadas para o Mesozóico. Notar que, apesar de diferirem
na amplitude das variações, existe uma concordância no pa-
Com base na análise sismoestratigráfica, Vail et ai. (1977) drão de variação das curvas de primeira ordem (Chang &
identificaram três tipos de ciclos de variação relativa do nível Kowsmann 198 7)
do mar. Originalmente, estas curvas, construídas a partir de Figure 9 - Eustatic sea leveI curves estimated for Mesozoic. Note despite of
onlap costeirosos, foram interpretadas como representando distinct amplitudes ofvariations, ofthe first order curves follow a similar trend
variações absolutas do nível do mar. Este equívoco foi poste- (Chang & Kowsmann 1987)
rionnente corrigido,passando-se a descrever apenas variações
do mar (Haq et alo 1987). Haq et alo (1987) produziram Portanto, para uma avaliação paleoclimática, durante um
recentemente uma nova curva eustática, onde as variações de determinado período geológico, é fundamental conhecer a
primeira ordem, representativas de grandes fenômenos regio- paleogeografia. Esta descreve feições como a posição da linha
nais, continuam essencialmente semelhantes às de Vail et ai. de costa, o relevo topográfico e a configuração das placas,
(1977). A curva de segunda ordem apresentaterminaçõesmais principalmente com respeito a distribuição de continentes
suaves, eliminando, em grande parte, a assimetria da versão em relação aos oceanos.
anterior. Dois ciclos de primeira ordem foram identificados, O clima é um dos fatores determinantesque condicionama
um com duração de 300 Ma (Proterozóico - Eo-Triássico) e deposição de evaporitos e dos recifes. As construções recifais
outro de 225 Ma (Triássico- Presente). Foram identificados14 são típicas de mares tropicais, onde a temperatura da ág"'l é
ciclos de segunda ordem, com duração entre 10 a 80 Ma e,
ainda,mais de 80 ciclos de terceiraordem, com duraçãoentre 1
e 10 Ma.
Os ciclos de primeira ordem registram provavebnenteosci-
lações do nível do mar causadas por variações no volume das
cadeias mesoceânicas. Estas variações estão diretamenteasso-
ciadasa variaçõesna taxa de espalhamentodo assoalhooceâni-
co (pitman 1978, Kominz 1984).Esta hipóteseé reforçadapela
coincidência entre as curvas (Fig. 9) geradaspor Pitman (1979)
por Vail et alo (1977). Os ciclos menores retratam processos
geológicos que produzem taxas de variação maiores (> 1O mi
Ma),como a glaciação,cuja taxa atinge 10.000 mIMa.Fenôme-
nos como vulcanismo intraplaca, alteraçãoda trajetóriaorbital
da Terraque regula os períodos glaciais e interglaciais, e esfor-
ços intraplaca (associadosa rearranjo das placas) são responsá- _ "\\Eí I'EZJ ÚMIDO o SUB-ÚMIDO o SECO

veis pelas variações de terceirae quarta «1


Ma) ordens.
Figura 10 - Modelo de circulação atmosférica (setas) e regi-
Clima Clima é em essência o produto de uma complexa mes climáticos calculados segundo a distribuição hipotética .
interaçãoenvolvendoa atmosfera.os oceanos, os continentes, a de continentes, contendo duas cadeias de montanhas. super-
vegetaçãoe a calota polar. impostos à trajetória orbital da terra (Ziegler
Por causa da maior radiação solar na região do equador em et al.1979)
relação aos pólos, um gradiente de temperaturaé criado e com Figure 10 - Atrnospheric circulation model (arrows) and climate zonation based
isso uma movimentação da massa de ar.Este padrão de circula- 00 continental mass compassing two mountain chains (Zieg ler et
ção, superimpostoà rotação da Terra (efeito Coriolis), produz aI. 1979)
444 Revista Brasileira de Geociências, Volume 22, 1992

superior a 18°C e há disponibilidade de luz e de nutrientes. EROSÃO


A formação de evaporitos é, por sua vez; condicionada pela T, = 2.5 t,4a

superssaturação do meio aquoso. Esta situação pode ser alcan-


çada em regiões de alta taxa de evaporação (clima árido), com
constante renovação de soluções salinas.
a clima, por sua influência na vegetação, no intemperismo e OCEANO OCEANO
no regime hidrológico, contribui decisivamente no processo de
erosão . a intemperismo químico é altamente dependente da
pluviosidade, que é normalmente associado a regiões de clima
quente e úmido. Já, o intemperismo físico é favorecido em con-
dições extremas de frio e calor desértico. A vegetação, se por EROSÃO
um lado minimiza o ataque físico, favorece o primeiro por meio ® T2 = 25 t,4a

de reações ligadas à liberação de ca2 e ácidos orgânicos. OCEANO OCEANO


Um exemplo recente do controle climático na erosão está na ~~---.
região dos Andes. A região, situada na faixa latitudinal em tor-
no de 20° S (deserto de Atacama), encontra-se na faixa desér-
tica de expressão mundial, resultante do padrão atual de
circulação atmosférica. As montanhas andinas, nessa região, Figura 11 - Constantes de taxa de denudação obtidas por .
são as mais elevadas da cadeia (até 7.000 m) e, no entanto, as meio da análise multivariada de dados coletados em 45 das
cunhas de acreção adjacente são as mais famintas, ao contrário principais drenagens do mundo (Pinet & Souriau 1988). A -
do que ocorreu em outras regiões da mesma cordilheira, em situação que se aplica a orogenias jovens ou fases ativas. B -
outras latitudes (Ziegler et aI. 1981). Isto tem sido interpretado representa terrenos estáveis ou fases quiescentes
como reflexo da menor ação da erosão, como conseqüência da Figure 11 - Denudation rate constants obtained from multi-varied statistical
aridez climática. analysis ofthe world 45 major drainages (Pinet & Souriau 1988). A- represents
young orogenies or active phases . B - represents stable terrains or quiescent
Eros ão/suprimento A erosão é um fator extremamen- phases
te importante no controle da geometria das seqüências sedi-
mentares. Ela controla não só o suprimento do material a ser
transportado à bacia, como também a configuração do seu mo efeito pode ser extrapolado para bacias extensionais, uma
arcabouço. a processo de erosão atua como se fosse um carre- vez que o soerguimento flexural da borda está diretamente
gamento negativo, isto é, produz um alívio de carga atuante associado à atividade das falhas.
sobre o substrato, resultando num soerguimento. Ela opera na
direção contrári a à do efeito da implantação de uma frente de AI:-GUNS EXEMPLOS EM BACIAS FANERO-
empurrão. A zona de influência atingida por este processo ZOICAS A seguir serão apresentados alguns aspectos da
depend e diretamente da rigidez flexural da litosfera . interação dos processos abordados neste trabalho.
Processos de denudação têm sido alvo de pesquisa pelos
geomorfólogos, que os tem relacionado com a tectônica, o Bacia s extensi onais do tipo margem passiva Em
relevo e o clima. A influência deste último na erosão foi bacias formadas no contexto de margem passiva, o controle
discutida no item anterior. Estudos em escala local e regional tectônico na sedimentação é mais evidente durante a fase rifte,
sugerem que a taxa de denudação é proporcional à elevação e ao passo que no estágio subseqüente (pós-rifte) a variação
muitos desses estudos definem empiricamente uma relação eustática do nível do mar e o suprimento são mais importantes.
linear entre a erosão e o relevo. No entanto, as constantes Um excelente exemplo desta interação está nas bacias meso-
obtidas variam consideravelmente entre si. Estas discrepâncias zóicas da margem continental brasileira, onde alguns aspectos
derivam provavelmente dos diferentes métodos utilizados nas de sua evolução serão ressaltados.
investigações. As técnicas utilizadas variam desde a medição Na fase rifte, a sedimentação é fortemente controlada pela
direta da taxa de denudação nas encostas dos depósitos piro- compartimentação tectônica, podendo ocorrer em lagos pro-
elásticos de idade quaternária (Ruxton & McDougall 1967) a fundos ou simplesmente em depressões amplas e rasas , típicas
estimativas de denudação obtidas indiretamente, através da de planícies fluviais. Esta compartimentação tectônica é refle-
descarga dos sedimentos fluviais (Schumm 1963, Ahnert 1970, xo da magnitude das dimensões (lateral e vertical) das falhas.
Pinet & Souriau 1988). Neste último, as estimativas foram A sedimentação se processa pulsativamente, em resposta à
calculadas com base no balanço de materiais em bacias de acomodação da deformação resultante da atividade das falhas.
drenagens de pequeno (Schumm 1963) a médio (Ahnert 1970) Como tal acomodação se dá muitas vezes por rotação das
porte e numa escala global (Pinet & Souriau 1988). falhas, é comum ocorrer de onlap até discordâncias erosivas.
Por meio da análise de correlação múltipla dos dados com- Em resposta à compensação isostática regional, o soergu imento
pilados para 45 das principais bacias de drenagem do mundo, da capa pode produzir barreiras paleogeográficas locais e
Pinet & Souriau (1988) concluíram que a denudação física não regionais, dependendo da intensidade da deformação.
era correlacionável com fatores ambientais, mas sim com a Pelo fato do rifteamento ocorrer principalmente em crosta
elevação média das drenagens em relação ao nível do mar. No continental, fruto da menor resistência reológica, as bacias
entanto, concluíram que a denudação química é insensível ao extensionais iniciam-se normalmente com a sedimentação em
relevo, mas altamente correlacionável com a média anual de ambiente continental. No entanto, se o rifteamento ocorrer
precipitação pluviométrica. Com base nos resultados de análise próximo a oceanos, águas marinhas podem rapidamente inva-
multivariada, determinaram duas constantes de denudação que dir o rifte desde o início.
dependem da idade da última orogenia atuante na área (Fig. a preenchimento sedimentar das bacias extensionais, na
11). Este resultado permite inferir que a taxa de suprimento que fase pós-rifte, ocorre ao longo de um período de tempo signifi-
alimenta a bacia depende não só da magnitude do relevo, mas cativamente maior que aquele durante a fase rifte. Em bacias
também do estágio de atividade tectônica da área fonte. Estas fanerozóicas, a duração da fase pós-rifte em relação a fase rifte
observações podem ser extrapoladas para escalas de tempo varia entre 4 : 1 e 1 : 1. a ciclo completo da fase extensional
menores. Em regiões colisionais, altas taxas de suprimento' (rifte/pós-rifte) mais longo que se conhece é o da costa leste
deverão ocorrer quando a frente de empurrão estiver ativa; americana e do Mar do Norte (Triássico - Presente), equivalen-
taxas menores ocorrerão durante as fases quiescentes. a mes- te a aproximadamente 250 Ma (Ziegler 1989).
Revista Brasileira de Geociências, Volume 22, 1992 445

Na fase pós -rifte das bacias marginais brasileiras, a combi- fria, superimposta à variação eustática do nível do mar. Exem-
nação de três fatores - variação eustática do nível do mar, sub- plos típicos dessa feição são as planícies costeiras das Bacias de
sidência térmica e suprimento de sedimento - deternúnaram a Pelotas e Santos.
natureza do preenchimento. A primeira é de escala global, a se-
gunda é de escala regional e a terceira é de escala local. Bacias do tipo foreland Em um regime tectônico
Na escala temporal de primeira ordem, a subsidência térmi- compressional, a formação de uma bacia do tipo foreland
ca tem papel preponderante no seu estágio inicial, uma vez que resulta do preenchimento da depressão, causada pela deflexão
ela supera em taxa os outros dois fenômenos. Com o decai - do substrato, em resposta à carga exercida pelo peso do cinturão
mento da taxa de subsidência, a variação eustática e o supri- de dobras e empurrão, criado durante a tectônica contracional.
mento de sedimento passam a se destacar. Como conseqüência, Este mecanismo foi formulado por Price (1973), quando inter-
o estágio inicial do pós -rifte será, via de regra, transgressivo. pretou a Bacia de Alberta como resposta isostática ao carrega-
A ocorrência de um estágio regressivo subseqüente dependerá mento produzido pelo cinturão de dobras/empurrão da
da época em que ocorrerá esta diminuição da subsidê ncia Cordillera, durante o Meso-Cenozóico (Fig. 13). Este mecanis-
térmica em relação ao comportamento da curva eustática do mo foi posteriormente desenvolvido quantitativamente por
nível do mar de primeira ordem. Dependerá também do supri - Beaumont (1981) e Jordan (1981).
mento de sedimento para a bacia.
Nas bacias da margem continental brasileira, os dois estági-
os - transgressivo e regressivo - foram reconhecidos (Ponte et sw NE
al. 1978). O regressivo é conseqüência da coincidência do SITUAÇÃO INICIAL
rebaixamento do nível do mar, a partir do final do Cretáceo,
com o decréscimo na taxa de subsidência térmica (Fig. 13, SL T~~~~~-:--:---:--:--::--:~""---
+ + + + + + + +
SL

+
Chang & Kowsmann 1987, Chang et al. 1988a) . +

Uma inform ação importante que pôde ser extraída da


ESPESSAMENTO TECT6 NICO
combinação da curva de subsidência tectônica com a da

SL~
variação eustática do nível do mar, denominada de curva de
subsidência composta (Fig. 12), é a magnitude da paleoba- SL
+ + + + + +
timetria na bacia. Conhecido o valor do afinamento crustal de
+ + + + SEM COMPENSAÇÃO ISOSTÁn CA
uma deternúnada região da bacia, pode-se estimar a poleo-
batimetria máxima (e.g. Chang & Kowsmann 1987, Bender et
al. 1989), bastando para isso descontar a taxa de suprimento de SL
sedimento da taxa de subsidêncía composta.

ESTÁGIOS~ PÓS-RIFTE ( TERMAL)


TECTÓNICOS RIFTE

II~
~
-c MARINHO SL <·<t:12i::::i:l::':·:·:·:·:·:·:·:·:·:~ SL
1-' z
S EQU~NCI AS F ;:: o
oc;;
ESTRAllGRÁFlCAS Zz z
IffiANSGRESSIVO! REGRESSIVO SUBSIDrNCIA PRODUZIDA PELO ESPESSAMENTO
OW -c ~ ~ / REGRESSIVO
Ü Z 10 5< <
~

0. 0
+ SL
Ê / TECTÕNICA
""
........ 1.0
+ + + +
«
(3
~ 2.0
400 I SUBSIDrNCIA TOTAL DO SUBSTRATO INICIAL
o
<ii 200 ~
(D 3.0 til
:J
til .......... COMPOSTA--""""'"- "'- - <l Figura 13 - Mecanismo de subsidência responsável pela for-
mação de bacias do tipo forelan d propostopor Price (1973),
para explicara origem da Bacia de Alberta, Canadá
Figure 13 - Subsidence mechanism respons ible for foreland basin formation, as
prese nted by Price (1973) to explain the origin of Alberta Basin , Canada

Figura 12 - Curvas de subsidência tectõnica e de variação


eustâtica do nível do mar que, combinadas, produzema curva O preenchimento de uma depressão desta natureza resul-
de subsidência composta(Chang & Kowsmann 1987). A cur- ta necessariamente em sucessão de estratos depositados
va de subsidência tectônica foi calculada usando o valor de em profundidades progressivamente mais rasas, produzindo
extensão litosférica ~ = 2. Notar que, após o Cretáceo, a taxa seqüência típicas de shallowing upward. No entanto, para se
de subsidência composta se tornamais baixa que a tectônica. entender a complexa geometria, as discordâncias e as relações
A partir deste ponto, as taxas de variação de subsidência faciológicas dos depósitos, é necessário conhecer o processo de
tectônica e eust âtica se subtraem erosão e preechimento, a taxa de deformação, além da natureza
Figure 12 - Tectonic subsidence, eustat ic sea leveI curves and lhe res ultan t reológica da litosfera.
composite subsidence curve (Chang & Kowsmann 1987). Tectonic subsidence Com relação a esta última, existem duas linhas conceituais:
curve is that for lilhospheric extension factor of f3 = 2. During Tertiary, uma que considera comportamento visco-elástico (Quinlan &
subsidence rate of lhe composite curve is lower than that experienced by lhe Beaumont 1984, Beaumont etal. 1988) e outra em que litosfera
tectonic one after cretaceous, rates of tectonic and eustatic curves cance l each reage elasticamente a uma sobrecarga (Jordan 1981, Karner
1987, Flemings & Jordan 1989) . Em ambos os modelos, as
cunhas elásticas e altos flexuais (jlexural bulges) são reprodu-
Outra feição importante é a criação de uma planície costeira zidos . Elas diferem na natureza das discordâncias e no relacio-
que resulta da subsidência flexural imposta nas bordas das namento faciológico entre as várias seqüências sedimentares
bacias marginais. Esta subsidência é produzida pela resposta que compõem a estratigrafia de uma bacia típicaforeland (Fig .
flexural do embasamento em litosfera progressivamente mais 14). No modelo visco-elástico ou de relaxação reológica da
446 Revista Brasile ira de Geocl ências, Volume 22, 1992

litosfera, a discordância erosional é gerada durante a fase de descritos e exemplificados para as bacias fanerozóicas desem-
quiescência, com a retrogradação das fácies associadas ao penharam um papel fundamental em sua formação.
"encolhimento da bacia" . Já; no modelo elástico, a fase ativa da A análise holística, na qual a interação de todos os processos
discordância e rápida retrogradação das fácies, em direção à físicos e químicos se somam, é importante no estudo do
frente de empurrão, ocorre logo após a formação do cinturão de arcabouço tectono-estratigráfico regional das bacias sedimen-
dobras/empurrão. A migração da cunha elástica , em direção ao tares, bem como nas relações faciológicas dentro de uma
continente (joreland), dá-se à medida que a frente de empurrão sequência. Muitos dos conceitos descritos acima já se mostra-
avança e durante a fase quiescente. ram bastante úteis em terrenos pré-cambrianos brasileiros.

A A'
~J""OO'OO

POSiÇÃO POSiÇÃO
D H
EMPURRÃO

.~
T c
1 ·:·::: --"
....

QUIESCtNCIA
jf!7
G
0 ,0
0.5
1.0
2.0
+ +

:::::== .

A E
B'
2.0
LITOSFERA VISCO- ELÁSTICA LITOSFERA ELÁSTICA C/ 1. 0
EROSÃO E DEPOSiÇÃO 0 .5
+ + 0.0

Figura 14- Modelos conceituais de preenchimento de depres -


sões associadas a cinturões de empurrão (Flemings & Jordan
1990). Notar nos diagramas de Weeler (idade X posição) que B B'
as relações estratigráficas resultantes são muito diferentes. A
retrogradação das fácies proximais associadas ao encolhi-
mento da bacia ocorre durante afase quiescente (C), para o [ 2km
. caso visco -elástico, e logo após àformação do empurrão (H),
no modelo elástico
Figure 14 - Conceptual models for sediment infill of depressions associated to
fold/thrust belts (Flemings & Jorda n 1990). Note on the Weeler diagrams
marked differences on the resultant stratigraphic relationships. The
retrogradation of prox imal facies associated to the "narrowing" of the basin
occurs during quiescent phase for visco-elastic model (C), whereas for the
O 300
elastic model it occurs right after thrusting (H) , I

Infelizmente, não existe ainda um consenso quanto ao rela- Figura 15 - Esquema hipotético de uma situação geológica
cionamento espaço-temporal entre a deformação e a deposição similar à fase compressionaI da Bacia do São Francisco. O
de sedimentos em bacias do tipoforeland. A versão tradicional diagrama central ilustra a deformação, em planta, de um
correlaciona a formação das cunhas elásticas diretamente ao substrato elástico associado a duas cargas (traços) posicio-
soerguimento do cinturão (e.g. Armstrong & Oriel 1965, nadas simetricamente. A isôpaca (linhas cheias com valores
Wiltschko & Dorr 1983). A versão alternativa é aquela que estimados em km) resultam da interferência (positiva ou nega-
associa a maior deposição de finos durante a iniciação do tiva) das deflexões causadas por cada carga, individualmente.
empurrão, em virtude da rápida subsidência resultante do AA ' e BB' representam seções transversais. Notar a forma
soerguimento acelerado do cinturão. Neste esquema, os sedi- convexa das bordas norte e sul, produto de interferência
mentos grossos são retidos bem próximo ao cinturão (e.g. Beck flexural do substrato
& Vondra 1985, Heller et al. 1988). Figure 15 - Hyphotetic geologic situation of the contractional stage of the São
Francisco Basin . Central diagram ilustrates, in plane view, the deflexion of an
APLICABILIDADE DOS CONCEITOS NO ESTUDO elastic substrate associated to two symetric loads (hatches). Isopachs (continuous
DE SEQÜÊNCIAS PROTEROZÓICAS Apesar de lines, values are in km) result from interference (positive or negative) of indivi-
muitas seqüências sedimentares pré-cambrianas estarem hoje dual deflexions. AA' and BB' represent transverse sections. Note the convex
deformadas e metamorfizadas, é certo que os processos acima form ofthe northem and southem borders
I.

Re vista Brasileira de Geoci ências, Volume 22, 1992 447

Um exemplo deste fato é a configuração da borda sul da Bacia temperatura inferior a 1.500°C e usando valores de condu-
de São Francisco, cuja form a convexa pode ser explicada como tividad e e difusivi dade térmica típicas de rochas graníticas e
fruto da interferência flexural do embasamento, em resposta ao basálticas. Naturalmente, durações maiores podem ser obtidas
carregamento prod uzido pelas frentes de empurrão das Faixas se forem constatados mais de um evento distensivo ou t érmico
Araç uaí e Canastra (Fig .15, Chang et al. 1988b). atuante.
A grande vantagem em con hecer os processos geológicos O entendimento da estratigrafia e evolução tectónica de
atuantes na formação das seqüências sedimentares está na bacias sedimentares proterozóicas, em ambientes compres-
possibilidade de se prever as relações espaciais entre o processo sionais, tem sido facilitado pela anatomia análogos
e o prod uto. Por exemplo, a associação íntima de um cinturão modernos (Chang et aI. 1987 e 1988b, Christie-Blick et al.
de dobramento/empurrão com um a bacia do tipo foreland 1988, Grotzinger & McConnick 1988). Esta técnica de anato -
resultante permite inferir a presença de uma dessas entidades mia comparativa é válida, uma vez que, tanto os proces-
pela identificação do outro. sos tectónicos quanto as propriedades físicas da litos-
Uma dificuldade que se enfre nta no estudo de seqüências fera vigentes no Proterozóico, po uco diferem daqueles
proterozóicas está na resolução de sua cronoestratigrafia. Ao do Fanerozóico.
contrário das seqüências fanerozóicas, a resolução bioest rati- Espec ula-se que mesmo durante o Arquea no, quando a
gráfica é extrema mente baixa. Só recentemente é que se identi- prod ução interna de calor era de duas a três vezes superior à
ficara m microfósseis nos sedimentos proterozóicos do Brasil atual, a tectón ica de placas estava de alguma forma atuando
(Fairchild & Su ndaram 1981, Zai ne & Fairchild 1987, Qua- (Nisbet & Fow ler 1983, Nisbet 1984). Evidê ncias petrológicas
dros 1987). A falta de uma refinada datação dos estratos sugerem que, a exemplo do que ocorre hoje, existiriam
impede uma análise apropriada dessas sequências. no Arqueano continentes "jovens", mais quente s, e con tinen-
No entanto, o conhecimento de análogos mais recentes, tes antigos", mais frios . Estimativas de temperaturas entre
onde esta relação temporal é con hecida, permite avaliar critica- 1.600 a 1.700°C na base da litosfera, com aproximadamente
mente os dados geocronológicos dessas seqüências, no Protero- 80 km de espessura, são compatíveis com fácies meta-
zóico , uma vez que os proc essos geológicos atuant es obedecem mórficas impressas nas rochas continentais arqueanas
às mesmas leis físicas . No Neo-Proterozóico, a estrutura t érmi- "jovens". Já, a presença de diam antes desta idade são indica -
ca da litosfera e da astenosfera era próxima a do Fanerozóico. tivos de litosfera espessa, com 150 a 200 km de espessura
Mes mo que prevaleça a tese de um manto mais quente no Pré- (Fo wler 1990).
cambri ano, isto apenas reduzi ria a duraç ão de um ciclo de
Wilson. Desta forma , seqüências sedimentares proterozóicas Agradecimentos Agradeço ao geólogo Renato O.
deposit adas num contexto de margem passiva , isto é, regime Kowsmann pelas proveitosas disc ussõe s e sugestões durante a
extensional, devem registrar durações de tempo inferiores a elaboração e edição deste artigo, à Petrobrás pela permissão
algumas centenas de milhões de anos . Esta estimativa é compa- para a elaboração e publicação do presente trabalho e aos
tível com cálculos grosseiros de resfriamento por condução de geólogos André Bender e Edson Milani pelas sugestões apre-
uma placa litosférica de espessura inferior a 250 km , com sentadas na revisão.

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