Você está na página 1de 414

Mídia Impressa ISSN 0102-9304

boletim de geociências da petrobras - v. 15, n. 2 - maio/nov. 2007


A publicação do presente número do Boletim brasileira, jogando todo o peso da Companhia no
de Geociências da Petrobras, com a nova versão das apoio às iniciativas que visem a difusão da Geologia,
cartas estratigráficas das bacias brasileiras e a permanente capacitação científica de nossa
respaldado pela chancela da Sociedade Brasileira de comunidade e a melhoria contínua da formação do
Geologia, nos dá vários motivos para comemorar. geólogo em nosso País.
Primeiro, o de estarmos - a área de exploração O projeto Cartas Estratigráficas foi levado
da Petrobras - resgatando o cumprimento de um adiante pelo trabalho dedicado de diversos colegas
inarredável compromisso com a comunidade de nossa Empresa, sob a liderança do Milani. Recebo
brasileira de Geociências e que estava "esquecido" o reconhecimento da SBG - que representa toda a
até há alguns anos atrás. Não podemos deixar de comunidade brasileira de Geociências - com muito
afirmar para a sociedade brasileira, com a ênfase e orgulho e satisfação, e cumprimento a todos os que
o entusiasmo necessários e com a maior freqüência contribuíram para que chegássemos a mais este êxito.
possível, que os mais de 50 anos de sucesso da Fica o reconhecimento institucional desta Diretoria
Petrobras - que é a Petrobras do povo brasileiro - de E&P e os meus pessoais parabéns - como geólogo
devem-se em boa parte ao trabalho, à competência, - a esta iniciativa.
ao elevado conhecimento técnico-científico de
profissionais da área das Geociências - basicamente
geólogos brasileiros.
Este fato nos obriga a nos entrelaçarmos Guilherme de Oliveira Estrella
completamente com a SBG e com a universidade Diretor de E&P da Petrobras
sumário
Introdução
Edison José Milani (Coordenador) | Hamilton Duncan Rangel | Gilmar Vital Bueno | Juliano Magalhães Stica | Wilson Rubem Winter |
183
José Maurício Caixeta | Otaviano da Cruz Pessoa Neto

Bacia do Acre
Paulo Roberto da Cruz Cunha
207
Bacia do Solimões
Joaquim Ribeiro Wanderley Filho | Jaime Fernandes Eiras | Pekim Tenório Vaz
217
Bacia do Amazonas
Paulo Roberto da Cruz Cunha | José Henrique Gonçalves de Melo | Osvaldo Braga da Silva
227
Bacia do Parnaíba
Pekim Tenório Vaz | Nélio das Graças de Andrade da Mata Rezende | Joaquim Ribeiro Wanderley Filho | Walter Antônio Silva Travassos
253
Bacia do Paraná
Edison José Milani | José Henrique Gonçalves de Melo | Paulo Alves de Souza | Luiz Alberto Fernandes | Almério Barros França
265
Bacia do Tacutu
Pekim Tenório Vaz | Joaquim Ribeiro Wanderley Filho | Gilmar Vital Bueno
289
Bacia da Foz do Amazonas
Jorge de Jesus Picanço de Figueiredo | Pedro Victor Zalán | Emilson Fernandes Soares
299
Bacia do Marajó
Pedro Victor Zalán | Nilo Siguehiko Matsuda
311
Bacia do Pará-Maranhão
Emilson Fernandes Soares | Pedro Victor Zalán | Jorge de Jesus Picanço de Figueiredo | Ivo Trosdtorf Junior
321
Bacia de Barreirinhas
Ivo Trosdtorf Junior | Pedro Victor Zalán | Jorge de Jesus Picanço de Figueiredo | Emilson Fernandes Soares
331
Bacias de Bragança-Viseu, São Luís e Ilha Nova
Pedro Victor Zalán
341
Bacia do Ceará
Valéria Cerqueira Condé | Cecília Cunha Lana | Otaviano da Cruz Pessoa Neto | Eduardo Henrique Roesner |
347
João Marinho de Morais Neto | Daniel Cardoso Dutra

Bacia Potiguar
Otaviano da Cruz Pessoa Neto | Ubiraci Manoel Soares | José Gedson Fernandes da Silva | Eduardo Henrique Roesner |
357
Cláudio Pires Florencio | Carlos Augusto Valentin de Souza

Bacia do Araripe
Mario Luis Assine
371
Bacia de Pernambuco-Paraíba
Valéria Centurion Córdoba | Emanuel Ferraz Jardim de Sá | Debora do Carmo Sousa | Alex Francisco Antunes 391
Bacia de Sergipe-Alagoas
Oscar Pessoa de Andrade Campos Neto | Wagner Souza Lima | Francisco Eduardo Gomes Cruz 405
Bacia de Jacuípe
José Carlos Santos Vieira Graddi | Oscar Pessoa de Andrade Campos Neto | José Maurício Caixeta 417
Bacia do Recôncavo
Olívio Barbosa da Silva | José Maurício Caixeta | Paulo da Silva Milhomem | Marilia Dietzsch Kosin 423
Sub-bacias de Tucano Sul e Central
Ivan Peixoto Costa | Paulo da Silva Milhomem | Gilmar Vital Bueno | Hélio Sérgio Rocha Lima e Silva | Marília Dietzsch Kosin 433
Sub-bacia de Tucano Norte e Bacia de Jatobá
Ivan Peixoto Costa | Gilmar Vital Bueno | Paulo da Silva Milhomem | Hélio Sérgio Rocha Lima e Silva | Marília Dietzsch Kosin 445
Bacia de Camamu
José Maurício Caixeta | Paulo da Silva Milhomem | Robson Egon Witzke | Ivan Sérgio Siqueira Dupuy | Guilherme Assunção Gontijo 455
Bacia de Almada
Guilherme Assunção Gontijo | Paulo da Silva Milhomem | José Mauricio Caixeta | Ivan Sérgio Siqueira Dupuy | Paulo Eduardo de Lemos Menezes 463
Bacia de Jequitinhonha
Hamilton Duncan Rangel | José Luiz Flores de Oliveira | José Maurício Caixeta 475
Bacia de Cumuruxatiba
Norberto Rodovalho | Rogério Cardoso Gontijo | Clovis Francisco Santos | Paulo da Silva Milhomem 485
Bacia de Mucuri
Rosilene Lamounier França | Antonio Cosme Del Rey | Cláudio Vinícius Tagliari | Jairo Rios Brandão |Paola de Rossi Fontanelli 493
Bacia do Espírito Santo
Rosilene Lamounier França | Antônio Cosme Del Rey | Cláudio Vinícius Tagliari | Jairo Rios Brandão | Paola de Rossi Fontanelli 501
Bacia de Campos
Wilson Rubem Winter | Ricardo Jorge Jahnert | Almério Barros França 511
Bacia de Santos
Jobel Lourenço Pinheiro Moreira | Cláudio Valdetaro Madeira | João Alexandre Gil | Marco Antonio Pinheiro Machado 531
Bacia de Pelotas
Gilmar Vital Bueno | Angélica Alida Zacharias | Sergio Goulart Oreiro | José Antonio Cupertino | Frank U. H. Falkenhein | Marcelo A. Martins Neto 551
Bacia do São Francisco
Pedro Victor Zalán | Paulo César Romeiro Silva 561
Mapa das bacias sedimentares brasileiras e suas cartas estratigráficas - Poster
Edison José Milani (Coordenador) | Hamilton Duncan Rangel | Gilmar Vital Bueno | Juliano Magalhães Stica | Wilson Rubem Winter |
572
José Maurício Caixeta | Otaviano da Cruz Pessoa Neto
Bacias Sedimentares Brasileiras - Cartas
Estratigráficas
Introdução
Edison José Milani1 (Coordenador), Hamilton Duncan Rangel2, Gilmar Vital Bueno3,
Juliano Magalhães Stica2, Wilson Rubem Winter4, José Maurício Caixeta5,
Otaviano da Cruz Pessoa Neto6

Os mais de 50 anos de trabalho exploratório daram, de modo que mesmo para esses casos as car-
cumulativo empreendido pela Petrobras nas bacias tas agora apresentadas mostram-se diferentes das an-
sedimentares brasileiras propiciaram a compilação teriores, o que por si só constitui um estimulante mate-
de um enorme acervo de informações geológico- rial para alimentar o debate técnico-científico que, cer-
geofísicas, que permitem hoje uma compreensão se- tamente, é por ele suscitado.
gura do arcabouço estratigráfico e estrutural dessas As cartas ora publicadas, além de um conteúdo
áreas. Apoiados pelas pesquisas em bioestratigrafia atualizado, incorporam alterações em sua forma quan-
e sedimentologia sobre dados de poços e afloramen- do cotejadas às de 1994. A mais expressiva das mudan-
tos, e com um importante suporte da sísmica de re- ças foi a supressão da coluna relativa ao zoneamento
flexão, aos geólogos da Companhia é possível re- bioestratigráfico, uma informação proprietária de inesti-
presentar o arranjo estratigráfico das várias provín- mável valor estratégico no processo exploratório e cuja
cias geológicas na forma de diagramas cronoestrati- atualização permanente é fonte de inequívoca vanta-
gráficos, as comumente denominadas cartas estrati- gem competitiva da Petrobras no estudo das bacias se-
gráficas, representativas dos atributos fundamentais dimentares brasileiras. Mas se o detalhado biozonea-
do preenchimento sedimentar-magmático de cada mento realizado pela empresa não é aqui apresentado,
uma das bacias pesquisadas para petróleo no País. ele serviu de base ao posicionamento das seções sedi-
Embora apresentadas de maneira isolada em publi- mentares das bacias brasileiras em escalas
cações diversas desde os anos 60, foi no Boletim de geocronológicas internacionais. A referência de idades
Geociências da Petrobras v. 8, n. 1, de 1994, que as absolutas utilizada foi a de Gradstein et al. (2004), de
cartas de todas as bacias foram padronizadas e apre- quem foram emprestadas também as cores padroniza-
sentadas em conjunto. das de cada intervalo de tempo geológico. Os desenhos
Nos últimos três anos, os geólogos da Petrobras se acomodam em escalas verticais variáveis, adaptadas
novamente se mobilizaram para um processo extensi- aos diferentes tipos de bacia apresentados e à amplitu-
vo de revisão das cartas estratigráficas. Diversas bacias de temporal de seu registro estratigráfico.
tiveram uma enorme evolução do conhecimento des- Uma segunda alteração importante na forma das
de 1994, pela aquisição de um volume muito grande cartas ora disponibilizadas se relaciona a uma diferen-
de novos dados geológicos e geofísicos e pela evolu- ciação gráfica imposta às seções sedimentares, conso-
ção natural do conhecimento acumulado. Em outras, ante em seu relacionamento - pleno ou secundário - a
nada ou muito pouco foi feito em termos de atividade uma determinada bacia. É assim que, no desenho das
exploratória desde a publicação da versão anterior das cartas cronoestratigráficas, foram representadas, em
cartas, mas as equipes de interpretação das bacias mu- cores, as unidades rochosas que dizem respeito ao pre-

1
Centro de Pesquisas da Petrobras/P&D de Exploração/Geologia Estrutural & Geotectônica - e-mail: ejmilani@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios/NNE
3
E&P Exploração/Geologia Aplicada a Exploração/Modelagem de Sistema Petrolífero
4
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bacia de Campos/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia
5
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste/Interpretação
6
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 183


enchimento daquela bacia específica: permanecem Mudanças também se apresentam no que diz
numa representação em preto-e-branco as seções sedi- respeito ao foco descritivo utilizado nos textos
mentares pré-existentes, que ocupavam aquele mesmo explicativos de cada bacia. Considerando-se que o
contexto geográfico em ciclos anteriores mas que não Boletim de 1994 enfatizou os aspectos litoestratigráfi-
guardam relação genética alguma com a bacia em ques- cos, produzindo uma síntese para todas as bacias nesse
tão. Exemplificam essa situação os relictos de sedimen- particular, preferiu-se adotar, agora, uma descrição
tação paleozóica que ocorrem por debaixo das bacias privilegiando aspectos evolutivos, emoldurados pelas
do Recôncavo e de Sergipe-Alagoas, e a seção unidades aloestratigráficas de cada bacia sedimentar.
proterozóica a cambriana do Grupo Purus, subjacente à Permanecem plenamente válidas as assertivas litoes-
Bacia do Amazonas. Da mesma forma, ciclos sedimen- tratigráficas da versão anterior, e a ela se fará refe-
tares posteriores àquela bacia em particular, tais como a rência sempre que necessário. Da mesma forma, sem-
seção cretácea que recobre parcialmente a Bacia do pre que julgadas oportunas, novas propostas de uni-
Parnaíba, estão representados sem cores. Com essa es- dades estratigráficas ou mudanças no ranking das
tratégia, pretendeu-se reforçar o conceito de bacia sedi- mesmas estão sendo aqui apresentadas, o que é o
mentar enquanto área subsidente e sítio deposicional caso apenas para algumas poucas bacias.
durante um determinado ciclo geotectônico da história A partir da nomenclatura adotada em 1994, em
geológica. As litologias presentes nas bacias, que conti- que as Seqüências Meso-Cenozóicas foram denomi-
nuam com representação similar àquela das cartas de nadas por uma letra - K ou T - e uma sucessão numé-
1994, são mostradas na figura 1. rica - 10, 20, 30 etc - representativa do empilhamento
sedimentar, a evolução do conhecimento conduziu a
um detalhamento daquele pioneiro arcabouço
aloestratigráfico e isso implica em algumas alterações
em relação ao esquema original. É assim que, embora
tentando preservar as denominações já estabelecidas,
correspondentes a intervalos de tempo específicos na
escala geocronológica de idades absolutas, mudanças
foram impostas para que fosse possível acomodar as
novas seqüências agora reconhecidas, na verdade, um
processo em contínuo desenvolvimento. É importante
ressaltar que os limites das seqüências exibem uma
certa variação temporal de bacia para bacia, fruto de
aspectos particulares na história evolutiva de cada uma
delas. Na definição das seqüências em escala
interbacias, buscou-se evidenciar a continuidade dos
principais eventos estratigráficos.
Uma outra alteração necessária adveio da eli-
minação do termo Terciário das cartas internacionais
de referência, de modo que a denominação das Se-
qüências Cenozóicas passou a ser E para as paleógenas,
e N para as neógenas, segundo critério de abreviatura
utilizado pela International Commission on Stratigraphy
(ICS) - (http://www.palaeos.com/Timescale/
timescale.html). A opção aqui adotada para os casos
em que o detalhamento e a individualização de novas
seqüências tenham acarretado um conflito com as de-
nominações anteriores é exemplificado na figura 2. Para
as unidades paleozóicas, são mantidas as denomina-
ções aloestratigráficas de caráter local, específicas de
cada bacia em particular. As discordâncias aparecem
Figura 1 – Simbologia litológica Figure 1 – Lithological representation. nas cartas com denominações que são as de uso inter-
utilizada nas cartas estratigráficas. no na Petrobras, não estabelecidas segundo um rígido
critério de nomenclatura.

184 | Introdução - Milani et al.


BGP v.8 n.1(94)
BACIA W

BACIA X

BACIA Y

BACIA Z

BACIA Z
GEOCRONOLOGIA
Ma
ÉPOCA IDADE

PALEOCENO
T HAN E T I AN O
SUP.
60 S E LAN D I AN O

E10-
N50
INF. DAN I AN O T10

K120
70
(S EN ON IAN O )

K110
CAM PAN IAN O
SUPERIOR

80
CRETÁCEO

K100
SAN T O N I AN O
C O N I AC I AN O K90
90
T U R O N I AN O
K80
C E N O MA N IA N O

100
K70
INFERIOR

AL B I AN O

K60
( GÁ LI CO )

110
K50
APTIANO ALAGOAS K50

Figura 2 – Critérios de correlação e nomenclatura das Figure 2 – Correlation and nomination criteria for
seqüências estratigráficas. Observar que um determinado stratigraphic sequences used in this volume.
intervalo de tempo geológico corresponde, em diferentes
bacias, a um número variável de seqüências.

Um outro assunto em que o entendimento dos na forma de almofadas, domos e diápiros, mui-
geológico evoluiu muito pós-1994 é o dos evaporitos tos destes com mais de sete quilômetros de altura,
do Andar Alagoas da margem leste brasileira, tema tendo assumido a halocinese um fundamental pa-
apresentado e discutido em detalhes na obra “Sal - pel na história das bacias da margem continental,
geologia e tectônica”, organizado por Mohriak et inclusive em sua Geologia do Petróleo. Na escala
al. (2008) e patrocinado pela Petrobras. Um aspecto de tempo em que são construídas as cartas estrati-
em particular - com impacto no desenho das cartas gráficas, a seção salina aptiana aparece como es-
estratigráficas - é o da taxa de acumulação salina, treito intervalo, sendo esta, todavia, a representa-
estimando-se que o empilhamento original de alguns ção mais fiel do entendimento presente dos aspec-
milhares de metros de sal, encontrado em algumas tos cronogenéticos dessa importante seção das ba-
regiões das bacias brasileiras, possa ter se produzido cias brasileiras. Esta situação é bem exemplificada
em menos de um milhão de anos. Com a evolução na carta da Bacia de Santos (fig. 3), em que espes-
posterior da margem, os evaporitos foram mobiliza- suras similares - da ordem dos 4 mil metros - de

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 185


Figura 3 – Variabilidade na representação de seções sedimentares em escala Figure 3 – Representation of sedimentary sections in a time scale,
de tempo, exemplificada pela carta estratigráfica da Bacia de Santos. exemplified by the stratigraphic chart of Santos Basin .

evaporitos (Formação Ariri) e da seção carbonática tar-magmático e o contexto tectônico em que se de-
“pré-sal” (formações Barra Velha, Itapema e Piçar- senvolveram: Sinéclises Paleozóicas, Bacias Meso-
ras) contrastam expressivamente quando numa re- Cenozóicas de Margem Distensiva, Bacias Meso-
presentação em escala de tempo geológico. Cenozóicas de Margem Transformante, Riftes
É notável a evolução experimentada na Mesozóicos Abortados e Bacias de Antepaís Andino
capacitação em Estratigrafia das universidades bra- (fig. 4). A Bacia do Acre é a singular representante,
sileiras. Diversos já são os projetos e as linhas de em território brasileiro, das bacias dessa última clas-
investigação conduzidas e os programas de pós-gra- se. Na realidade, esta bacia tem história complexa,
duação nacionais focados nessa vertente particular policíclica, alojando unidades sedimentares a partir
do conhecimento geocientífico. Diante deste qua- do Eopaleozóico, quando era parte do contexto mar-
dro, reafirma-se neste volume a tradicional vocação ginal do Gondwana. Durante o Meso-Cenozóico, com
para parcerias que a Petrobras mantém com a co- a instalação da Cordilheira Andina, a Bacia do Acre
munidade acadêmica do país: convidadas a partici- experimentou uma importante fase de subsidência
par, a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e a flexural assimétrica, aprofundando para oeste no sen-
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) tido das vizinhas calhas deposicionais peruanas de
se fazem presentes com artigos atualizados sobre, Marañon e Ucayali. Nessa etapa, alguns milhares
respectivamente, as bacias do Araripe (M. Assine) e de metros de sedimentos terrígenos a ela aportaram.
Pernambuco-Paraíba (V. Córdoba e colaboradores). Localmente, o território interior do país abriga
resquícios sedimentares com pequena área de ocor-
rência, remanescentes de ciclos deposicionais preté-
ritos de idades variadas e, hoje, sobreviventes do
extensivo processo de denudação que modela o con-
Bacias Sedimentares tinente sul-americano. Tais seções podem apresen-
tar uma expressão geográfica significativa quando
do Brasil - contexto foram recobertas por sucessões sedimentares mais

regional jovens, o que as preservou da remoção erosiva.


Exemplifica esse caso a presença local de unidades
de idade paleozóica sob os pacotes meso-cenozóicos
As Bacias Sedimentares Fanerozóicas brasilei- das bacias marginais e em seus ramos abortados.
ras agrupam-se em cinco grandes conjuntos, consi- Principalmente no interior da região Nordeste do país
derando-se a idade de seu preenchimento sedimen- são abundantes esses remanescentes sedimentares

186 | Introdução - Milani et al.


Figura 4 – Mapa das bacias sedimentares brasileiras. Figure 4 – Brazilian sedimentary basins.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 187


mono ou policíclicos, e o mais expressivo deles cons- Seguiu-se a Fase Drifte, cujo início foi mar-
titui a Bacia do Araripe, cuja interessante geologia cado pela instalação da crosta oceânica e da efe-
motivou sua inclusão no presente volume. Da mes- tiva separação progressiva dos continentes. A dis-
ma forma, a Bacia Proterozóica do São Francisco é cordância de breakup materializa a importante mu-
aqui apresentada numa visão que considera as infor- dança de regime tectônico experimentada pelas
mações de subsuperfície (geofísica e poços) adquiri- bacias da margem continental na passagem rifte/
das pela Petrobras em atividades conduzidas duran- pós-rifte para drifte. Com a deriva continental, im-
te alguns períodos nas últimas duas décadas. plantou-se um processo regional de basculamento
A análise integrada das bacias sedimentares, da margem continental, amplificado pela carga se-
representadas nas diversas cartas estratigráficas, per- dimentar proveniente das áreas emersas, sob ero-
mite a correlação entre elas e o reconhecimento de são, e definindo a configuração fisiográfica atual
fases evolutivas, caracterizadas cada uma delas por das bacias marginais.
um conjunto de atributos geológicos comuns a diver- Agora, apresentam-se resumidamente as ba-
sas áreas. São reconhecidas diversas superseqüências, cias brasileiras agrupadas segundo sua classe de afi-
unidades que materializam a seção sedimentar acu- nidade geológica.
mulada durante um determinado estágio de sua evo-
lução tectono-sedimentar. Para as bacias da margem
continental, as Superseqüências Pré-Rifte, Rifte, Pós-
Sinéclises Paleozóicas
Rifte e Drifte constituem o arcabouço fundamental.
Subsidência e sedimentação cratônica pós-
Ressalte-se que os conceitos de pré-rifte e
brasiliana foram iniciadas no Meso-Ordoviciano,
pós-rifte não são aqui inseridos com um significa-
documentada nas bacias do Solimões (Formação
do apenas temporal (anterior ou posterior à Fase
Benjamin Constant), do Amazonas (Formação
Rifte), outrossim, tais termos trazem também uma
Autás-Mirim), do Parnaíba (Formação Ipu) e do
vinculação genética ao processo de evolução das
Paraná (Formação Alto Garças). A sucessão sedi-
bacias da margem continental, e à seção sedimen-
mentar inicial dessas bacias arranja-se num
tar/magmática correspondentes. É assim que por
hemiciclo transgressivo que culmina em condições
Fase (ou Superseqüência) Pré-Rifte entende-se
de amplo afogamento marinho, já no Siluriano,
aquele estágio precoce da evolução das bacias
materializado em cada área, respectivamente,
marginais (e os depósitos correspondentes) em que
pelos sedimentos das formações Jutaí, Pitinga,
fenômenos de subsidência flexural foram induzi-
Tianguá e Vila Maria (fig. 5).
dos pelo processo de estiramento litosférico que,
O segundo hemiciclo transgressivo
adiante, culminaria na separação continental. Nes-
fanerozóico é documentado pelo Sistema
se estágio, entre o Jurássico terminal e o Cretáceo
Devoniano das bacias brasileiras. O pacote basal
mais inferior (Idade Dom João), define-se uma bacia
é de natureza arenosa nas bacias do Amazonas
com geometria sag, ampla e com mergulhos sua-
(Formação Maecuru), do Parnaíba (Formação Itaim)
ves, desprovida de falhamentos pronunciados. Em e do Paraná (Formação Furnas). Na Bacia do
continuidade ao pré-rifte, com o avançar da subsi- Solimões, aparece uma seção de diamictitos e are-
dência mecânica propiciada por falhas normais, nitos (Formação Uerê). Para cima, ocorre um es-
instala-se a Fase Rifte, cuja seção correspondente pesso intervalo de folhelhos marinhos de platafor-
é a Superseqüência Rifte. O estilo estrutural domi- ma distal, muito fossilíferos e com potencial gera-
nante nessa etapa, que aconteceu de maneira dor de hidrocarbonetos (formações Jandiatuba, na
diácrona ao longo da margem leste brasileira, foi Bacia do Solimões; Barreirinha, na Bacia do Ama-
o de blocos falhados e rotacionados, com grábens zonas; Pimenteiras, na Bacia do Parnaíba; e Ponta
alojando grandes depocentros sedimentares. Ces- Grossa, na Bacia do Paraná).
sada a atividade principal das falhas normais, in- O Devoniano foi sucedido por importantes
tensificaram-se fenômenos de subsidência térmi- modificações climáticas e paleofisiográficas, de tal
ca que se manifestam no desenvolvimento de uma sorte que o pacote permo-carbonífero das sinéclises
segunda bacia com geometria sag, agora na Ida- brasileiras registra uma grande diversidade de am-
de Alagoas - a Fase Pós-Rifte; persiste ainda algu- bientes de sedimentação e sistemas deposicionais
ma atividade de falhas normais. associados. Intervieram condições glaciais-periglaciais

188 | Introdução - Milani et al.


GEOCRONOLOGIA
SOLIMÕES AMAZONAS PARNAÍBA PARANÁ
Ma
ÉPOCA

NEO
CRETÁC EO

EO
JURÁSSICO

NEO

MESO

EO
TRIÁSSICO

NEO

MESO

EO
LO PIN G IAN O
PERMIANO

C I SU RAL I ANO
CAR BO N ÍFE RO
D E V ON IAN O

NEO

MESO

EO

WENLOCK
LIANDOVERY
ORDOVICIANO

NEO

MESO

EO
CAM B RIANO

Figura 5– Cartas estratigráficas das sinéclises paleozóicas. Figure 5 – Stratigraphic charts of Brazilian Paleozoic basins.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 189


(Grupo Itararé e Formação Aquidauana na Bacia mida pelas placas Africana e Sul-Americana na fase
do Paraná - diamictitos, arenitos e folhelhos); con- de deriva continental, dois domínios são reconheci-
texto marinho raso em clima árido (Formação dos na margem brasileira: um segmento dominan-
Carauari, na Bacia do Solimões; Nova Olinda, na temente distensivo e um trecho de natureza
Bacia do Amazonas; e Pedra do Fogo, na Bacia transformante, este correspondendo à margem
do Parnaíba, com seus característicos depósitos equatorial brasileira.
de evaporitos; e Formação Irati, na Bacia do O segmento distensivo inclui as bacias situa-
Paraná, com folhelhos betuminosos, margas, car- das do extremo nordeste da margem brasileira, na
bonatos e evaporitos subordinados). Aportes deflexão continental junto à Bacia Potiguar até o
deltaicos (bem documentado pela Formação Rio limite meridional da Bacia de Pelotas, um amplo
Bonito, na Bacia do Paraná) também pontuam o contexto onde predominou a tectônica extensional
intervalo Permiano. Rumo ao final deste período, como mecanismo formador de espaço à acomoda-
todas as sinéclises passam a experimentar condi- ção sedimentar na Fase Rifte. O arcabouço estrutu-
ções crescentes de aridez em função do fecha- ral desse segmento da margem é definido por fa-
mento definitivo ao ingresso de águas oceânicas lhas normais orientadas preferencialmente numa
por sobre o Gondwana. Contextos flúvio-lacustres direção paralela à costa, segmentadas localmente
que, com o ressecamento progressivo, evoluíram por zonas de transferência que aparecem a altos
no adentrar do Triássico para desertos arenosos, ângulos em relação àquelas. O processo de riftea-
aparecem como o registro sedimentar final da lon- mento desenvolveu-se de modo diácrono ao longo
ga história paleozóica dessas bacias (Formação da margem leste brasileira;
Andirá, na Bacia do Amazonas; Formação Asmus e Ponte (1973) consolidaram a visão
Sambaíba, na Bacia do Parnaíba; e formações de que a margem leste brasileira evoluiu segundo
Pirambóia e Sanga do Cabral, na Bacia do quatro grandes estágios: pré-rifte, rifte, marinho res-
Paraná). Na Bacia do Paraná, extensiva deflação trito e marinho aberto. As clássicas seqüências “do
eólica perduraria até o Eocretáceo. Tal condição continente, do lago, do golfo e do mar” daqueles
está documentada nos sedimentitos da Formação autores documentam, respectivamente, cada um dos
Botucatu, preservados no registro geológico por estágios tectônicos acima mencionados e aparecem,
terem sido recobertos - logo após sua acumula- embora não onipresentes, no registro estratigráfico
ção - pelo pacote de lavas Serra Geral. das bacias da margem leste.
O magmatismo mesozóico é um capítulo à O pacote pré-rifte, neojurássico-eocretáceo
parte na história das sinéclises intracratônicas bra- (figs. 6 e 7), ocorre na Bacia de Sergipe-Alagoas (for-
sileiras. Como precursores da ruptura do Gond- mações Candeeiro, Bananeiras e Serraria) e, para
wana, os diques, soleiras e derrames de rochas sul, é reconhecido até a região de Cumuruxatiba (for-
ígneas acomodaram-se em grandes volumes nes- mações Monte Pascoal e Porto Seguro). O pacote
sas bacias, tendo idade predominantemente pré-rifte é representado por sedimentitos no geral
eojurássica nas bacias do Solimões e do Amazo- avermelhados, de contextos deposicionais fluvial,
nas e eocretácea na Bacia do Paraná. A Bacia do eólico e lacustre muito raso.
Parnaíba exibe registros de ambos os eventos mag- A seção rifte tem natureza diversa em vários
segmentos ao longo da margem leste, além de re-
máticos acima mencionados, com predominân-
gistrar um perceptível diacronismo do fenômeno de
cia do mais antigo deles em termos de volume
ruptura e formação dos depocentros lacustres no Eo-
de ocorrência.
cretáceo. É abundante a presença de ígneas básicas
neocomianas sinrifte nas bacias mais meridionais, en-
Bacias Meso-Cenozóicas de tre Pelotas e o Espírito Santo (fig. 8). Os lagos do
rifte acomodaram uma seção de folhelhos que são
Margem Distensiva importantes como rochas geradoras de hidrocarbo-
netos, entre os quais incluem-se os do Grupo Lagoa
Considerando-se a natureza e a orientação Feia, na Bacia de Campos, e Formação Barra de
dos campos de tensões regionais durante a fase de Itiúba, em Sergipe-Alagoas. Ocorrem também con-
ruptura litosférica e a subseqüente dinâmica assu- glomerados, arenitos e coquinas.

190 | Introdução - Milani et al.


PERNAMBUCO- SERGIPE ALAGOAS ARARIPE JACUÍPE
Ma PARAÍBA
ÉPOCA
0

NEÓGENO
10

20

30
PALE Ó G E NO

40
EOCENO

50

60
PALEOCENO

70

80
NEO

90

100
CRETÁCEO

110

120
EO

130

140

150

250

300

350
490

542

Figura 6 – Cartas estratigráficas das bacias meso-cenozóicas de margem Figure 6 – Stratigraphic charts of Brazilian Mesozoic-Cenozoic, extensional
distensiva - segmento setentrional. Bacia do Araripe Interior, também incluída. margin-northern segment. Interior Araripe Basin also included.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 191


CAMAMU ALMADA JEQUITINHONHA CUMURUXATIBA MUCURI
Ma
ÉPOCA

NEÓGENO
PALE Ó GE N O

EOCENO
PALEOCENO
NEO
CRETÁCEO

EO

Figura 7 – Cartas estratigráficas das bacias Meso- Figure 7 – Stratigraphic charts of Brazilian, Mesozoic-
Cenozóicas de margem distensiva - segmento central. Cenozoic extensional margin - central segment.

192 | Introdução - Milani et al.


ESPÍRITO SANTO CAMPOS SANTOS PELOTAS
Ma
ÉPOCA

NEO
EO

MESO
EO

Figura 8 – Cartas estratigráficas das bacias meso- Figure 8 – Stratigraphic charts of Brazilian, Mesozoic-
cenozóicas de margem distensiva - segmento meridional. Cenozoic extensional margin - southern segment.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 193


O Andar Alagoas da margem leste abarca a bastante particular. Naquela área implantou-se, no
seção marinha restrita, bem caracterizada pelo pa- Aptiano, um binário de cisalhamento dextrógiro,
cote de evaporitos (principalmente halita e anidrita), mecanismo responsável pela ruptura litosférica e sub-
muito importante em espessura e área de ocorrên- sidência transtensional em diversos depocentros que
cia nas bacias de Santos (Formação Ariri), de Cam- então se estabeleceram. Segundo Pedro Victor Zalán
pos (Formação Retiro do Grupo Lagoa Feia) e do Es- (informação verbal), quatro estágios evolutivos mar-
pírito Santo (Membro Itaúnas da Formação Mariri- caram a margem equatorial:
cu). A bacia evaporítica da margem leste prolonga-
va-se seguramente até a região de Sergipe-Alagoas • Triássico-Mesojurássico: criando o gráben de Tacutu
(Membro Ibura da Formação Muribeca), e com ex- e um sag Pré-Rifte na área de Cassiporé, Bacia da
tensão provável até Pernambuco-Paraíba, área onde Foz do Amazonas, onde se acumularam os red beds
existem evidências apenas por geofísica da presen- e rochas ígneas associadas da Formação Calçoene
ça de horizontes evaporíticos, com sua característica (fig. 9);
assinatura em dados sísmicos. Abaixo dos sais, e tendo
o conjunto sido acumulado no contexto de um gran-
• Neocomiano-Barremiano: o mesmo evento que
de golfo proto-oceânico, aparecem depósitos carbo-
produziu extensivamente a ruptura da margem
náticos e siliciclásticos, com algum magmatismo lo-
leste brasileira, mas na margem equatorial estan-
cal associado. Tais depósitos, juntamente com os
do restrito aos domínios das bacias da Foz do Ama-
evaporitos, caracterizam a seção pós-rifte da mar-
zonas e Marajó. A esta fase associam-se pacotes
gem leste brasileira. Os carbonatos da Formação Barra
sedimentares relacionados à porção mais inferior
Velha, da Bacia de Santos, constituem os reservató-
da Formação Cassiporé, na Foz do Amazonas, e
rios “pré-sal” naquela bacia, uma seção que se no-
às formações Jacarezinho e Breves, em Marajó;
tabilizou nos últimos tempos em função dos grandes
volumes de petróleo que aloja. • Aptiano: de ampla ocorrência em toda a margem
Seguiu-se à deposição dos evaporitos a insta- equatorial. Ao rifte aptiano estão relacionadas as se-
lação de condições francamente marinhas. No Al- ções sedimentares da Formação Mundaú, da Bacia
biano, sob tais condições, foram depositados os car- do Ceará, e as unidades correlatas nas demais bacias;
bonatos das formações Portobelo (Bacia de Pelotas),
Guarujá (Bacia de Santos), Regência (bacias do Espí- • Albiano: o mais intenso deles, ampliando lateral-
rito Santo, Jequitinhonha e Cumuruxatiba), Algodões mente a área da margem, que alcançaria agora
(Bacia de Camamu-Almada), Riachuelo (Bacia de regiões antes não afetadas, tais como a Bacia de
Sergipe-Alagoas) e Estiva (Bacia de Pernambuco- São Luiz/Bragança-Viseu/Ilha Nova e a porção ter-
Paraíba), além daqueles do Grupo Macaé da Bacia restre da Bacia de Barreirinhas. O Grupo Canárias,
de Campos. Acima dos carbonatos, ocorre espessa das bacias do Pará-Maranhão e Barreirinhas, é uma
seção de sedimentitos siliciclásticos, dominantemente das seções que representa essa fase evolutiva da
folhelhos e arenitos, estes de naturezas variadas (de margem equatorial.
plataforma rasa, de leques costeiros e turbiditos de
talude e bacia), compondo em seu conjunto um gran- Não ocorrem evaporitos extensivos na margem
de ciclo transgressivo-regressivo entre o Neocretáceo equatorial, que seriam a materialização do contexto
e o Recente. marinho restrito, indicando ter sido a invasão de
águas marinhas naquela área, provenientes de no-
roeste - oceano Atlântico Central, implantado no
Bacias Meso-Cenozóicas de Jurássico - um fenômeno bastante rápido.
A natureza da seção marinha nas bacias da
Margem Transformante margem equatorial, do Albiano ao Recente, é aná-
loga à da margem leste, correspondendo a arenitos
O estilo tectônico dominante durante a evolu- e folhelhos da cunha clástica, a que se interpõem
ção das bacias da margem equatorial brasileira foi carbonatos de plataforma.

194 | Introdução - Milani et al.


Ma FOZ DO AMAZONAS PARÁ-MARANHÃO BARREIRINHAS CEARÁ POTIGUAR
ÉPOCA
0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150
194
200

235
350

400

542
+
+

Figura 9 – Cartas estratigráficas das bacias meso- Figure 9 – Stratigraphic charts of Brazilian
cenozóicas de margem transformante. Mesozoic-Cenozoic transform margin.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 195


TACUTU MARAJÓ RECÔNCAVO TUCANO SUL TUCANO NORTE
CENTRAL JATOBÁ
ÉPOCA

210
250

300

350

400
416

443
450

500

550

Figura 10 – Cartas estratigráficas dos riftes Figure 10 – Stratigraphic charts of Brazilian


mesozóicos abortados. Mesozoic aborted rift basins.

196 | Introdução - Milani et al.


Riftes Mesozóicos Abortados regressiva dominantemente arenosa da Formação
Açu, albo-cenomaniana, e pelos carbonatos
neocretácicos da Formação Jandaíra.
Os processos tectônicos responsáveis pela rup-
A Bacia do Recôncavo-Tucano-Jatobá consti-
tura mesozóica do Gondwana, além de individualiza-
tui o clássico exemplo brasileiro de rifte intraconti-
rem as placas Africana e Sul-Americana, definindo-
nental abortado. O preenchimento da bacia inclui um
lhes os contornos, promoveram o desenvolvimento de
pacote pré-rifte (Grupo Brotas) constituído por sedi-
alguns braços abortados de rifte, que se projetam para
mentos continentais aluviais, fluviais, eólicos e
o interior do continente a partir da margem (fig. 4). A
lacustres rasos, assinalados às formações Aliança,
idade dessas bacias correlaciona-se ao evento rifte
Sergi e Itaparica. A seção rifte é marcada pela ativa-
daquele trecho da margem continental em que estão
ção da grande Falha de Salvador, o elemento tectô-
inseridas. A amplitude temporal e a natureza do seu
nico que controlou a subsidência do gráben. A For-
preenchimento sedimentar é bastante variável, sen-
mação Salvador, uma grande cunha de conglomera-
do algumas delas restritas apenas à seção sintectônica,
dos, ocorre nas vizinhanças daquela falha normal. A
enquanto outras incluem um pacote pré-rifte ou um
seção lacustre sinrifte inclui folhelhos, arenitos turbi-
pós-rifte em seu registro geológico (fig. 10).
díticos, progradações deltaicas (Formação Candeias
A Bacia do Tacutu implantou-se nos terrenos
e Grupo Ilhas) e um assoreamento final por sistemas
pré-cambrianos do Escudo das Guianas. Seu preen-
arenosos fluviais (Formação São Sebastião). Encer-
chimento sedimentar corresponde ao intervalo tem-
ram a história de preenchimento da bacia os depósi-
poral Neojurássico-Eocretáceo, e a bacia é
tos clásticos arenosos da Formação Marizal, que ca-
assoalhada por um basalto eojurássico (Formação
racterizam sua Fase Pós-Rifte.
Apoteri). Bastante singular é também a presença de
uma seção de evaporitos neojurássicos (Formação
Pirara), documentando uma incursão marinha do
Oceano Atlântico Central àquela época.
Assim como Tacutu, a Bacia de Marajó assi-
nala manifestações do rifteamento neotriássico-
agradecimentos
eojurássico do Atlântico Central, do qual representa
a terminação mais meridional. No Aptiano, principal A padronização gráfica das cartas estrati-
época de subsidência na bacia, desenvolveu-se um gráficas foi um trabalho que requereu muita de-
grande depocentro onde foi depositado uma seção dicação e paciência. Nesse particular, o grupo de
sedimentar com cerca de 10 mil m de espessura, revisão é grato aos Técnicos de Projetos Adelino
dos quais praticamente a metade corresponde ao Teixeira Dias, César Fraga de Oliveira e José
pacote pós-rifte (Formação Marajó), representado por Sergival da Silva, o primeiro do Centro de Pesqui-
sistemas deposicionais costeiros, marinho-marginais. sas da Petrobras (CENPES) e os demais da Gerên-
A seção sinrifte da Bacia de Marajó (Formação cia Executiva de Exploração, que foram incansá-
Cassiporé), pouco amostrada por poços, é dominan- veis no preparo das múltiplas versões dos dese-
temente arenosa. Sotopostos à seção mesozóica da nhos. A participação inicial de Gerhard Beurlen,
Bacia de Marajó ocorrem remanescentes erosivos da da Gerência de Bioestratigrafia e Paleoecologia
sedimentação paleozóica, que cobrira originalmen- do CENPES, foi fundamental na definição dos
te toda aquela ampla área, outrora conectada a ter- padrões a serem adotados no desenho das car-
renos hoje situados na placa africana. tas. Além dos autores e co-autores de cada carta,
Na Bacia de Bragança-Viseu/São Luís/Ilha inúmeros outros colegas, que não será possível
Nova, o pacote sinrifte albiano, que se desenvolveu listar aqui, contribuíram enormemente para a
em condições transtensionais, é representado pela viabilização final deste trabalho. O apoio gerencial
Formação Itapecuru, dominantemente arenosa. A Ba- da área de Exploração, em todos os seus níveis
cia Potiguar, em sua porção terrestre, inclui um pa- na Companhia, foi o ingrediente que serviu de
cote de sedimentitos lacustres de idade neocomiana incentivo tanto ao planejamento e inserção do
(Formação Pendência), recobertos pela seção aptiana tema na pauta do Boletim de Geociências da Pe-
marinha restrita (Formação Alagamar), pela seção trobras quanto à finalização da tarefa.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 197


referências
bibliográficas
ASMUS, H. E.; PONTE, F. C. The brazilian marginal
basins, In: Nairn, A. E.; Stehli, F. G. (Ed.). The ocean
basins and margins: the south atlantic. New York:
Plenum, 1973. V. 1, p. 87-132.

GRADSTEIN, Félix M.; OGG, Jim G.; SMITH, Alan G. A


geologic time scale. Cambridge: Cambridge University
Press, 2004. 589 p.

MOHRIAK, W. U.; SZATMARI, P.; ANJOS, S. Sal: geo-


logia e tectônica. São Paulo: Beca, 2008. 448 p.

bibliografia
FEIJÓ, F. J. Introdução. Boletim de Geociências
da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 5-8,
jan./mar. 1994.

webgrafia
KAZLEV, M. Alan. Geological time. In: Palaeos: the
trace of life on earth. 2002. Disponível em: <http://
www.palaeos.com/Timescale/default.htm>. Acesso
em: 25 out. 2007.

198 | Introdução - Milani et al.


Brazilian Sedimentary Basins -
Stratigraphic Charts

Introduction
Edison José Milani1 (Coordenador), Hamilton Duncan Rangel2, Gilmar Vital Bueno3,
Juliano Magalhães Stica2, Wilson Rubem Winter4, José Maurício Caixeta5,
Otaviano da Cruz Pessoa Neto6

More than 50 years of cumulative exploratory charts now presented are different from the earlier
work undertaken by Petrobras in the Brazilian ones, which by itself is certainly material to rouse
sedimentary basins has generated the compilation and sustain the technical debate.
of an enormous geological-geophysical data bank The charts published here, besides having up-
that today allows a firm understanding of the to-date content, incorporate alterations to their format
stratigraphic and structural framework of these areas. when compared to those of 1994. The most significant
The Company’s geologists, assisted by the change was the suppression of the column related to
biostratigraphic and sedimentary research of well data the biostratigraphic zoning. This piece of information
and outcrops, and the important support of seismic is of invaluable strategic value to the exploratory
images, are able to represent the stratigraphic process and whose permanent update is a source of
arrangement of the various geological provinces in the unequivocal Petrobras competitive advantage in
the form of chronostratigraphic diagrams. These are Brazilian sedimentary basin studies. But if the detailed
usually called stratigraphic charts, representative of biozoning made by the company is not shown here,
the fundamental sedimentary-magmatic characteristic it serves as a basis for the sedimentary section
deposits of each basin prospected for petroleum positioning of the Brazilian basins in international
throughout the Country. Although these have been geochronological scales. Gradstein et al. (2004),
shown in an isolated manner in diverse publications reference was used for the absolute ages from which
since the 60s, it was in the Petrobras Geosciences were also taken the standardized colors of each
Bulletin v. 8, n. 1, in 1994, that all the basin charts geological time interval. The drawings appear in
were standardized and published together. variable vertical scales, adapted to the different types
During the last three years, Petrobras geologists of featured basin and to the temporal amplitude of
again organized an extensive revision process of the its stratigraphic record.
stratigraphic charts. Various basins have had an A second important alteration to the chart
enormous information evolution since 1994, through format made available herein, relates to a graphic
the acquisition of a very large volume of new differentiation imposed on the sedimentary sections,
geological and geophysical data and by the natural according to its relationship - full or secondary - to a
evolution of the accumulated knowledge. In others, particular basin. In this way, in the chronostratigraphic
nothing or very little had been done in terms of chart drawings, the rock units that were deposited in
exploratory activity since the chart’s previously that specific basin are represented in colors. Whereas,
published version. However, the basin interpretation the preexisting sedimentary sections that occupied
teams have changed, so that even in these cases the the same geographical context in previous cycles but

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 199


which have no genetic relationship with the basin in the Neogenic, according to the International
question remain in black and white. This situation Commission on Stratigraphy (ICS) abbreviation
exemplifies the relicts of Paleozoic sedimentation that criterion (http://www.palaeos.com/Timescale/
occurs beneath the Recôncavo and Sergipe-Alagoas timescale.html). The option adopted herein for ca-
Basins, and the Proterozoic to Cambrian section of ses where this detail and the new sequences
the Purus Group, subjacent to the Amazonas Basin. individualization have caused a conflict with the
In the same way, later sedimentary cycles in that previous denominations is illustrated in figure 2. For
particular basin, such as the Cretaceous section that the Paleozoic units, the local character
partially covers Parnaíba Basin, are represented allostratigraphic denominations are specifically
without colors. With this strategy, it is intended to maintained for each particular basin. The Petrobras
reinforce the sedimentary basin concept as the internal use, where no rigid nomenclature criterion
subsident area and depositional site during a particu- has been established.
lar geotectonic cycle of geological history. The basin The evaporites of the Andar Alagoas on the
lithologies that continue with a similar representation Eastern Brazilian margin are another subject in which
to those of the 1994 charts are shown in figure 1. the geological understanding has evolved a lot since
Changes also appear in respect of the 1994. This is a theme introduced and discussed in detail
descriptive focus used in the explanatory texts for in the work “Salt - geology and tectonic”, organized by
each basin. Bearing in mind that the 1994 Bulletin Mohriak et al. (2008) and sponsored by Petrobras. One
emphasized the lithostratigraphic aspects, it produced aspect in particular - with an impact on the drawing of
a synthesis for all the basins in that particular version. stratigraphic charts - is the rate of saline accumulation,
Now it is preferred to adopt a description privileging where it is estimated that the original deposition of some
evolutionary aspects, framed by the allostratigraphic thousands of meters of salt, as found in some Brazilian
units of each sedimentary basin. However, the basin regions, could have been produced in less than
lithostratigraphic assertions of the previous version one million years. With the later evolution of the margin,
remain completely valid, and they will be referred to evaporites were mobilized into the form of cushions,
whenever necessary. In the same way, whenever domes and diapirites, many of these more than seven
considered appropriate in the case of just a few kilometers high. Halokinesis assumed a fundamental
basins, new proposals or changes in the ranking of role in the continental margin basin history, including
stratigraphic units are shown. its Petroleum Geology. In the time scale in which the
From the nomenclature adopted in 1994, in stratigraphic charts are built, the Aptian saline section
which the Meso-Cenozoic Sequences were appears as a narrow interval, this being, however, the
denominated by the letters - K or T - and a numeric most faithful representation in the current understanding
succession - 10, 20, 30 etc - representative of the of the chronogenetic aspects of this important Brazilian
sedimentary deposits, knowledge evolution has led to basins section. This situation is well demonstrated in
a detailing of that pioneering allostratigraphic the Santos Basin chart (fig. 3), in which similar
framework and this has required some alterations to thicknesses - of around 4000 m - of evaporites (Ariri
the original outline. In this way, although trying to pre- Formation) and of the carbonatic “pre-salt” section (Bar-
serve the already established denominations ra Velha, Itapema and Piçarras formations) expressively
corresponding to specific time intervals in the contrast when represented in a geological time scale.
geochronological scale of absolute ages, changes have The evolution experienced in Stratigraphy
been imposed so that it was possible to accommodate qualification courses in Brazilian universities is notable.
the new currently recognized sequences, in a There are already several projects, lines of
continuously developing process. It is important to investigation and national post-graduation programs
emphasize that the sequence limits exhibit a certain focused on this particular branch of geoscientific
temporal variation from basin to basin, fruit of particu- knowledge. Faced with this scenario, this edition
lar aspects in the evolutionary history of each one. In reaffirms the traditional vocation for the partnerships
the inter-basin scale sequence definitions, the continuity that Petrobras maintains with the country’s academic
of the main stratigraphic events was sought to be shown. community: São Paulo State University (UNESP) and
Another necessary alteration occurred in the Rio Grande do Norte Federal University (UFRN) were
elimination of the term Tertiary in the international invited to participate with updated articles on,
reference charts, whereby the Cenozoic Sequence respectively, Araripe (M. Assine) and Pernambuco-
denomination became E in the Paleogenic, and N in Paraíba basins (V. Córdoba and collaborators).

200 | Introdução - Milani et al.


Brazilian Sedimentary the evolutionary phases, characterized for each one
by a set of common geological attributes in several

Basins - regional areas. Various Supersequences are identified, units


that make up the accumulated sedimentary section
context during a certain stage of its tectono-sedimentary
evolution. For the continental margin basins, Pre-Rift,
Rift, Post-Rift and Drift Supersequences make up their
The Brazilian Phanerozoic Sedimentary Basins fundamental framework.
are grouped into five large assemblies, depending It is emphasized that the concepts of Pre-Rift
on their sedimentary-magmatic deposition age and and Post-Rift are not inserted here with just temporal
the tectonic context in which they developed: meanings (previous or posterior to the rift phases),
Paleozoic Synclises, Meso-Cenozoic Extensional similarly, such terms also bring a genetic link to the
Margin Basins, Meso-Cenozoic Transform Margin continental margin basin’s evolutionary process, and
Basins, Aborted Mesozoic Rifts and Andean Foreland to the corresponding sedimentary/magmatic section.
Basins (fig. 4). The Acre Basin is the only Brazilian Therefore, the meaning of Pre-Rift Phase (or
territory representative of the basins of this last Supersequence) is that earlier evolutionary stage of
denomination. In fact, this basin has a complex the marginal basins (and the corresponding deposits).
history, polycyclic, lodging Eopaleozoic sedimentary This was when subsidence flexural phenomena were
units, when it was part of the Gondwana marginal induced by the lithospheric stretching process that, in
context. During Meso-Cenozoic, with the Andean time, would culminate in the continental separation.
mountain range installation, the Acre Basin During this stage, between terminal Jurassic and the
experienced an important asymmetric flexural most inferior Cretaceous (Dom João Age), a basin
subsidence phase, deepening to the west in the with sag geometry is defined, wide and with gentle
direction of the neighboring Peruvian depositional sites dips, without any pronounced faults. In continuity to
of Marañon and Ucayali. In this stage, some thousands the Pre-Rift, with the advance of the mechanical
of meters of terrigenous sediments entered it. subsidence caused by normal faults, the Rift Phase is
Locally, the country’s interior territory shelters installed; whose corresponding section is a the Rifit
sedimentary vestiges, which occur only in a small Supersequence. The dominant structural style in this
area, rejected remainders of depositional cycles of stage, which happened in a diachronial manner along
various ages and, today, survivors of the extensive the Brazilian Eastern margin, was one of faults and
denuding process that models the South American tilted blocks, with grabens accommodating large
continent. Such sections can show a significant sedimentary depocenters. With the cessation of the
geographical expression when they were covered by main normal fault activity, thermal subsidence
younger sedimentary successions, which preserved phenomena intensified that manifested themselves
them from erosive removal. This case is exemplified in the development of a second basin with sag
in the local presence of Paleozoic age units under geometry, now in the Alagoas Age - the Post-Rift
the Meso-Cenozoic marginal basin packages and in Phase, some normal fault activity persists.
its aborted branches. Mostly inside the country’s Then followed the Drift Phase, whose beginning
Northeast region, these mono or polycyclic was marked by the oceanic crust installation and the
sedimentary remainders are abundant. The most progressive separation effect of the continents. Break-
expressive of these makes up the Araripe Basin, up incomformity form the important tectonic regime
whose interesting geology motivated its inclusion in change experienced by the continental margin basins
the current edition. In the same way, the São Fran- with the passing of the Rift/Post-Rift phases to the
cisco Proterozoic Basin is shown here in a vision that Drift phase. With the continental drift, a regional con-
contemplates the subsurface information (geophysics tinental margin uphift process was implanted,
and wells). This data was acquired by Petrobras in amplified by the sedimentary load originating from
activities conducted during a number of periods over the emersed eroded areas and defining the current
the last two decades. physiographic configuration of the marginal basins.
The integrated sedimentary basins analysis, There now follows a summary of the Brazilian
represented in the various stratigraphic charts, allows basins grouped according to its geological affinity
the correlation between them and the recognition of classification.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 201


Paleozoic Syneclises deserts at the beginning the Triassic, finally
appearing as the sedimentary record of the long
Paleozoic history of these basins (Andirá Formation,
The Post-Brazilian Cratonic subsidence and in the Amazonas Basin; Sambaíba Formation, in
sedimentation were initiated in the Meso-Ordovician, the Parnaíba Basin; and Pirambóia and Sanga do
documented in the following basins: Solimões (Ben- Cabral Formations, in the Paraná Basin). In the
jamin Constant Formation), Amazonas (Autás-Mi- Paraná Basin, extensive wind deflation would last
rim Formation), Parnaíba (Ipu Formation) and Paraná
until the Early Cretaceous. This condition is
(Alto Garças Formation). The initial sedimentary
documented in sediments of the Botucatu
succession of these basins are found in a
Formation, preserved in the geological record for
transgressive hemicycle that culminates in extensive
having been covered - soon after its accumulation
marine flooding conditions, while in the Silurian,
- by the Serra Geral lava package.
there occurred in each respective area, sediments
Mesozoic magmatism is a chapter apart in
from the Jutaí, Pitinga, Tianguá and Vila Maria
the Brazilian Intracratonic syneclises history. As
formations (fig. 5).
The second Fanerozoic transgressive hemicycle precursors of the Gondwana rupture, the dikes, sills
is documented by the Brazilian basin Devonian and igneous rock flows were accommodated in
System. The base package is of a sandy nature in large volumes in these basins, having
the following basins: Amazonas (Maecuru Formation), predominantly Early Jurassic ages in the Solimões
Parnaíba (Itaim Formation) and Paraná (Furnas and Amazonas basins and Early Cretaceous in the
Formation). In the Solimões Basin, a diamictite and Paraná Basin. Parnaíba Basin exhibits registrations
sandstone section appears (Uerê Formation). from both the above mentioned magmatic events,
Upwards, occurs a thick interval of distal platform with the older one being predominant in terms of
marine shales, very fossiliferous and with potential occurrence volume.
hydrocarbon generation (Formations: Jandiatuba, in
the Solimões Basin; Barreirinha, in the Amazonas
Basin; Pimenteiras, in the Parnaíba Basin; and Ponta
Meso-Cenozoic Extensional
Grossa, in the Paraná Basin). Margin Basins
The Devonian was followed by important
climatic and paleophysiographic modifications, of such
Depending on nature and the regional stress
a type that the permo-carboniferous package of the
field orientation during the lithospheric rupture phase
Brazilian Syneclises registers a large diversity of
and the subsequent movement assumed by the
sedimentation environments and associated
African and South American plates in the continen-
depositional systems. Glacial-periglacial conditions
intervened (Itararé Group and Aquidauana tal drift phase, two domains are recognized on the
Formation in the Paraná Basin - diamictites, Brazilian margin: A segment predominantly
sandstones and shales); shallow marine context in Extensional and a nother with a Transform nature,
arid climate (Carauari Formation, in the Solimões this corresponding to the Brazilian equatorial margin.
Basin; New Olinda, in the Amazonas Basin; and The Extensional segment includes the basins
Pedra do Fogo, in the Parnaíba Basin, with their situated on the Brazilian extreme northeast margin,
characteristic evaporites deposits; and Irati from the continental deflection close to the Potiguar
Formation, in the Paraná Basin, with bituminous Basin until the southern limit of the Pelotas Basin, a
shales, marls, carbonates and subordinated wide context where the extensional tectonics
evaporites). Deltaic wedges (well documented by predominated as the space forming mechanism for
the Rio Bonito Formation, in the Paraná Basin) also the sedimentary accommodation in the Rift Phase. The
punctuate the Permian interval. Towards the end structural framework of this margin segment is defined
of this period, all syneclises pass through by normal faults preferentially oriented in a direction
experiences of increasingly arid conditions due to parallel to the coast, segmented locally by transfer
the permanent closing to oceanic water ingress over zones high angles from that. The Rifting process
the Gondwana area. Fluvial-lacustrine contexts developed in a diachronic manner along the Brazilian
that, with the progressive drying, evolved into sandy Eastern margin.

202 | Introdução - Milani et al.


Asmus and Ponte (1973) consolidated the has been highlighted in the recent times due to the
vision that the Brazilian Eastern margin evolved due large volumes of petroleum that it lodges.
to four large stages: Pre-Rift, Rift, Restricted Marine The deposition of the evaporites is followed by
and Open Marine. The classical sequences, “of the the installation of full marine conditions. In the Albian,
continent, lake, the gulf and the sea” of those authors under such conditions, carbonates were deposited in
document, respectively, each one of the above the formations: Portobelo (Pelotas Basin), Guarujá (San-
mentioned tectonic stages and they appear, although tos Basin), Regência (Espirto Santo Basins, Jequitinho-
not omnipresent, in the eastern margin basin’s nha and Cumuruxatiba), Algodões (Camamu-Almada
stratigraphic record. Basin), Riachuelo (Sergipe-Alagoas Basin) and Estiva
The Pre-Rift package, Late Jurassic - Early (Pernambuco-Paraíba Basin), in addition to those of
Cretaceous (fig. 6 and 7), occurs in the Sergipe-Ala- the Campos Basin Macaé Group. Above the
goas Basin (Candeeiro, Bananeiras and Serraria carbonates, a thick siliciclastic sediment section occurs,
Formations) and, to the South, it is recognizable until predominantly shales and sandstones, of varied natures
the Cumuruxatiba Region (Monte Pascoal and Porto (shallow platform, coastal fans and slope and basin
Seguro Formations). The Pre-Rift package is turbidites), composing in its assemblage a large
represented by generally reddish sediments, of fluvial transgressive-regressive cycle between Late Cretaceous
depositional, wind and very shallow lacustrine contexts. and the Recent.
The rift section has a diverse nature in several
segments along the Eastern margin, besides registering Meso-Cenozoic Transform
a perceptible diachronism of the lacustrine depocenters
rupture and formation phenomenon during the Early Margin Basins
Cretaceous. The presence of basic igneous Neocomian
Syn-Rift rocks is abundant in the more southern basins, The dominant tectonic style during the Brazilian
between Pelotas and Espirito Santo (fig. 8). The Rift Lakes equatorial margin basin evolutions was very particular.
contain a shales section that is important as hydrocarbon In that area in the Aptian, a Right lateral shear couple
generator rocks, between which are included the Lagoa was implanted, that was responsible for the
Feia Group, in the Campos Basin; and Barra de Itiúba lithospheric rupture and transtensional subsidence in
Formation, in Sergipe-Alagoas. Conglomerates, several depocenters that were established then.
sandstones and soft porous limestones also occur. According to P. V. Zalán (verbal information), four
The Andar Alagoas on the Eastern margin evolutionary stages marked the equatorial margin:
holds the restricted marine section, well characterized
by the evaporites package (mostly halite and gypsum-
• Triassic-Mesojurassic: Creating the Tacutu Graben
anhydrite), very important in thickness and occurrence
and a sag Pre-Rift in the Cassiporé Area, Foz do
area in the Santos Basin (Ariri Formation), of the Cam-
Amazonas Basin, where red beds and igneous rocks
pos Basin (Retiro Formation of the Lagoa Feia Group)
associated with the Calçoene Formation
and of the Espírito Santo Basin (Itaúnas Member of
accumulated (fig. 9);
the Mariricu Formation). The Eastern margin evaporitic
basin firmly continues until it reaches Sergipe-Ala- • Neocomian-Barremian: That same event extensively
goas Region (Ibura Member of the Muribeca produced the Brazilian Eastern margin rupture, but
Formation), and with a probable extension on to the in the equatorial margin it was restricted to the
Pernambuco-Paraíba area where there is some basins domains of Foz do Amazonas and Marajó.
geophysics evidence of the presence of evaporitic In this phase are associated the sedimentary
horizons, with its characteristic seismic data signature. packages related to the lower portion of the
Below the salts, and having the accumulated site in Cassiporé Formation, in Foz do Amazonas Basin, and
the context of a large proto-oceanic gulf, carbonate to the Jacarezinho and Breves Formations, in Marajó;
and siliciclastic deposits appear, with some locally
associated magmatism. Such deposits, together with • Aptian: Of wide occurrence in the whole equatorial
the evaporites, characterize the Post-Rift section of margin. The sedimentary sections of the Mundaú
the Brazilian Eastern margin. The Barra Velha Formation, in the Ceará Basin, and the correlated units
Formation carbonates, of the Santos Basin, make up in the other basins are related to the Aptian Rift;
the “pre-salt” reservoirs in that basin, a section that

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 203


• Albian: The most intense of them all, expanding cipal subsidence period in the basin, a large
the margin area sideways, that would now reach depocenter developed where a sedimentary section
regions not affected before, such as the São Luis/ of about 10 thousand m thick was deposited.
Bragança-Viseu/Ilha Nova Basin and terrestrial Practically half of this corresponds to the Post-Rift
portion of the Barreirinhas Basin. The Canárias package (Marajó Formation), represented by
Group, of Pará-Maranhão and Barreirinhas Basins, coastal marine-marginal depositional systems. The
is one of the sections that represent this Syn Rift section of the Marajó Basin (Cassiporé
evolutionary phase of the equatorial margin. Formation), little sampled by wells, is predominantly
sandy. Beneath the Mesozoic section of the Mara-
Extensive evaporites do not occur in the equa- jó Basin occur erosive remainders of the Paleozoic
torial margin that would have been the production sedimentation that had originally covered the whole
of a restricted marine context, indicating that there area, formerly connected by terrains today situated
had been a marine water invasion in that area, on the African plate.
originating from the Northwest - Central Atlantic In the São Luis/Bragança-Viseu/Ilha Nova Basin,
Ocean, implanted in the Jurassic - a very fast the Albian Syn Rift package, which developed in
phenomenon. transtensional conditions, is represented by the
predominantly sandy Itapecuru Formation. The Poti-
The nature of marine section in the equato- guar Basin, in its terrestrial portion, includes a lacustrine
rial margin basins, from the Albian to the Recent, is sediment package of Neocomian age (Pendência
similar to the Eastern margin, matching the Formation), covered by the Aptian restricted marine
sandstones and shale clastic wedges that intervene section (Alagamar Formation), by the predominantly
the platform carbonates. sandy regressive section of the Açu Formation, Albo-
Cenomanian, and by the Late Cretaceous carbonates
of the Jandaíra Formation.
Aborted Mesozoic Rifts The Recôncavo-Tucano-Jatobá Basin constitutes
the classical Brazilian example of an aborted intercon-
The tectonic processes responsible for the tinental Rift. The basin deposition includes a Pre-Rift
Gondwana Mesozoic rupture, besides individualizing package (Brotas Group) formed by continental alluvial,
the African and South American plates, by defining fluvial, wind and shallow lacustrine sediments, marking
their outlines, it also promoted the development of the formations Aliança, Sergi and Itaparica. The rift
some aborted branches of the Rift, which project from section is marked by the activation of the large Salva-
the margin towards the continent interior (fig. 4). dor Fault, the tectonic element that controlled the
The age of these basins is correlated to the rift event graben subsidence. The Salvador Formation, a large
of that continental margin stretch in which they are wedge of conglomerates, occurs in the vicinity of that
inserted. The temporal amplitude and nature of its normal fault. The Syn Rift lacustrine section includes
sedimentary deposition is very variable, some of them shales, sandstone turbidites, deltaic progradations
being restricted just to the syntectonic section, while (Candeias Formation and Ilhas Group) and a final silting-
others include a Pre-Rift or one Post-Rift package in up by fluvial sandy systems (São Sebastião Formation).
its geological record (fig. 10). The sandy clastic deposits of the Marizal Formation
The Tacutu Basin is located in the Precambrian conclude the basin depositional history, which
terrains of the Shield Guianas. Its sedimentary characterizes its Post-Rift Phase.
deposition corresponds to the temporal interval of
Late Jurassic-Early Cretaceous, and the basin has an
Early Jurassic basalt floor (Apoteri Formation). Very
Acknowledgements
unique also is the presence of a Late Jurassic
evaporite section (Pirara Formation), registering a The graphic standardization of the stratigraphic
Central Atlantic Ocean marine incursion at that time. charts was a work that required much dedication and
Like the Tacutu Basin, the Marajó Basin patience. In this particular instance, the revision group
witnesses Central Atlantic Late Triassic-Early is thankful for the Project Technicians: Adelino Teixeira
Jurassic Rift manifestations, which represent the Dias, César de Oliveira and José Sergival Da Silva,
southernmost termination. In the Aptian, the prin- the first from the Petrobras Research Center (CENPES)

204 | Introdução - Milani et al.


and the Fraga from the Exploration Executive
Management, they were tireless in the preparation
webgraphy
of multiple versions of the drawings. The initial
participation of Gerhard Beurlen, of the CENPES
Biostratigraphic and Paleoecological Management, KAZLEV, M. Alan. Geological time. In: Palaeos: the
was fundamental in the standards definitions that trace of life on earth. 2002. Disponível em: <http://
were adopted in the chart drawings. Besides the www.palaeos.com/Timescale/default.htm>. Acesso
authors and co-authors of each chart, there were em: 25 out. 2007.
countless other colleagues that will not be possible
list them all here, they contributed enormously to
the final viability of this work. The managerial support
of the Exploration area, in all their levels in the
Company, was the ingredient that served as an in-
centive not only in the planning and insertion of the
theme in the Petrobras Geosciences Bulletin list but
also regarding the conclusion of the task.

bibliographical
references
ASMUS, H. E.; PONTE, F. C. The brazilian marginal
basins, In: Nairn, A. E.; Stehli, F. G. (Ed.). The ocean
basins and margins: the south atlantic. New York:
Plenum, 1973. V. 1, p. 87-132.

GRADSTEIN, Félix M.; OGG, Jim G.; SMITH, Alan G. A


geologic time scale. Cambridge: Cambridge University
Press, 2004. 589 p.

MOHRIAK, W. U.; SZATMARI, P.; ANJOS, S. Sal: geo-


logia e tectônica. São Paulo: Beca, 2008. 448 p.

bibliography
FEIJÓ, F. J. Introdução. Boletim de Geociências
da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 5-8, jan./
mar. 1994.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 183-205, maio/nov. 2007 | 205


Bacia do Acre

Paulo Roberto da Cruz Cunha1

Palavras-chave: Bacia do Acre l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Acre Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução Na porção mais ocidental do Brasil, a Bacia


do Acre retrata uma condição especial: é a única
região do território brasileiro efetivamente submeti-
A Bacia do Acre localiza-se no noroeste brasi- da à tectônica andina, afetada que está por falhas
leiro, entre os paralelos 60 S e 90 S e meridianos 720 reversas relacionadas a esse importante fenômeno
30’ W e 740 W, nas proximidades da fronteira com o geotectônico da placa sul-americana. A Bacia do Acre
Peru. Possui área total de cerca de 150.000 km2, dos registra uma complexa história evolutiva iniciada no
quais 40.000 km2 incluem uma seção não-aflorante Paleozóico estendendo-se até ao Recente, sempre
de rochas paleozóicas. sob influência de eventos tectônicos compressivos
A Bacia do Acre é limitada a leste pelo Arco de atuantes na margem oeste do continente.
Iquitos, que a separa da Bacia do Solimões; ao norte/ De acordo com Oliveira (1994), a Bacia do Acre
noroeste e sul/sudeste prolonga-se respectivamente à é uma região de evolução complexa, multicíclica, com-
Bacia de Marañon e às bacias de Ucayali e Madre de preendendo diversos pulsos de distensão e contração
Dios, domínios subandinos de antepaís no Peru. tectônicos. Como as demais bacias multicíclicas, ela
De acordo com a classificação de Bally e Snelson possui um ciclo inicial de sedimentação paleozóica de
(1980) apud Raja Gabaglia e Figueiredo (1990), a Bacia plataforma que foi afetado pelos movimentos da Oro-
do Acre é uma perissutura ou uma bacia foredeep genia Herciniana. Essa seqüência é seguida pela depo-
assentada sobre litosfera rígida, associada à forma- sição de sedimentos terrígenos do segundo ciclo, do
ção de uma megassutura compressional, o cinturão Paleozóico tardio ou do Mesozóico. O episódio tectôni-
andino. Corresponde a uma plataforma de exogeos- co compressivo mais importante documentado na ba-
sinclíneo resultante da transformação de bacia margi- cia, o Diastrofismo Juruá (Campos e Teixeira, 1988),
nal aberta (tipo V) para tipo andino, passando a bacia corresponde ao mesmo evento que originou mais a
do tipo II-B ou Interior Composta Móvel (segundo clas- leste, no Jurássico-Eocretáceo, o Megacisalhamento do
sificação de Klemme, 1980). Solimões, na bacia de mesmo nome.

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sudeste/Pólo Norte – e-mail: pcunha@petrobras.com.br

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 207-215, maio/nov. 2007 | 207


A evolução da bacia pode ser relacionada a
ciclos deposicionais e tectônicos, separados por fa-
Seqüência Siluriano/
ses orogênicas que atuaram na Placa Sul-America-
na: os ciclos orogênicos Herciniano e Andino (Bar-
Devoniano Inferior(?)
ros e Carneiro, 1991). O Sistema Herciniano, ou
Pré-Andino, é representado pelos ciclos deposicio- É representada, no oriente peruano, pelos se-
nais Ordoviciano-Devoniano Inferior, Devoniano- dimentos do Grupo Contaya da Bacia do Marañon,
Carbonífero Inferior e Permo-Carbonífero. O Sis- sendo a sua ocorrência na Bacia do Acre inferida por
tema Andino é representado pelos ciclos Permo- sísmica de reflexão. Dalmayrac (1978) postula que a
Triássico, Juro-Triássico, Jurássico, Cretáceo Inferior- região central do Peru teria permanecido soerguida
Eoceno e Eoceno-Plioceno. Esses ciclos estão bem durante o Siluriano, constituindo a borda da bacia
representados nas bacias sub-andinas e podem ser eopaleozóica. Barros e Carneiro (1991) e Ham e
projetados para a Bacia do Acre. Herrera (1963) atribuem a provável ausência à ero-
O entendimento do arcabouço litoestratigráfico são provocada pela Orogenia Caledoniana. Essa se-
da Bacia do Acre é resultante de diversos estudos qüência e a que lhe é sobreposta não foram ainda
geológicos realizados através de mapeamentos de perfuradas na bacia, sendo apenas interpretadas com
superfície realizados nas décadas de 30 a 50, acres- base em sísmica e seções geológicas de correlações
cidos de dados de subsuperfície oriundos das perfu- com as bacias subandinas. Nas bacias de Ucayali e
rações de poços pela Petrobras, do final da década Marañon, e também na Bacia do Solimões, essa se-
de 50 até o início da década de 80, incluindo-se as qüência é composta por terrígenos (folhelhos, siltitos
interpretações de dados geofísicos e de linhas sísmi- e arenitos) de plataforma marinha rasa.
cas registradas em malha de reconhecimento.
As seqüências litológicas correspondentes
aos sedimentos que preenchem a bacia estão re-
presentadas por rochas de idade paleozóica, com
cerca de 1.500 m de espessuras máximas,
Seqüência Devoniano
recobertas por sedimentos mesozóicos, que atin-
gem até 4.000 m de espessura; e sobrepostos,
Inferior/Carbonífero
finalmente, por clásticos finos cenozóicos que al-
cançam cerca de 2.200 m de espessura. Toda essa
Inferior a Médio(?)
coluna rochosa fanerozóica está assentada, dis-
cordantemente, em substrato proterozóico cons- A existência de um pacote devoniano, corre-
tituído por rochas ígneas e metamórficas da Faixa lacionável ao que nos países vizinhos se constitui
Móvel Rondoniana-San Ignácio, de direção NW-SE, numa seção basal arenosa a conglomerática, so-
desenvolvida entre 1,5 Ga e 1,3 Ga, durante o breposta por um espesso pacote de folhelhos, onde
Ciclo Uruaçuano. se encontram os potenciais geradores das bacias,
A elaboração da coluna estratigráfica da encontra-se ainda no campo das especulações e se
Bacia do Acre passa ainda por várias revisões e os baseia em novas interpretações de dados sísmicos.
estudos internos mais recentes baseiam-se em Linhas sísmicas mostram uma discordância na base
crono-correlações com as bacias sub-andinas, com do Permo-Carbonífero, sobreposta a uma seqüên-
enfoque nas premissas que regem a Estratigrafia cia sedimentar mais antiga que acunha e desapare-
de Seqüências. Neste trabalho são mantidas as ce para leste, no sentido de uma plataforma rasa
seções-tipo apresentadas no Boletim de onde a seção do Paleozóico Superior descansa dire-
Geociências da Petrobras de 1994 para o preen- tamente sobre o embasamento. Esse ciclo pré-Car-
chimento da Bacia do Acre, com reformulações bonífero possui caráter distensivo e, os demais,
dos seus limites de seqüências. O arcabouço es- compressivos. Essa seqüência parece ter sofrido in-
tratigráfico da bacia é constituído por onze se- tensa erosão associada à Orogenia Eoherciniana.
qüências estratigráficas de segunda ordem, se- Aventada a sua existência através de dados
paradas pelos horizontes correspondentes aos li- sísmicos, pode ser constituída, principalmente, por
mites de seqüências ou grandes discordâncias re- folhelhos marinhos com potencial gerador de hidro-
gionais (Cunha, 2006). carbonetos, a exemplo das bacias limítrofes: Ucayali

208 | Bacia do Acre - Paulo Roberto da Cruz Cunha


(Peru) e Solimões (Brasil). Possivelmente na Bacia Acre, onde o início da deposição da Formação Cru-
do Acre, nessa seqüência devem ocorrer reservatórios zeiro do Sul representa a superfície transgressiva.
com qualidade moderada, a exemplo das bacias do Acima, essa unidade aloja também a superfície de
Solimões e Ucayali. inundação máxima da seqüência. Sobrepostos aos
calcários ocorrem arenitos marinhos e continentais
regressivos. Nessa seqüência também ocorrem fo-
lhelhos permianos que se apresentaram como os

Seqüência Carbonífero potenciais geradores dentre os sedimentos perfura-


dos até o momento na Bacia do Acre, possivelmen-

Inferior a Médio/ te crono-correlacionáveis aos folhelhos da Forma-


ção Irati da Bacia do Paraná.

Permiano Médio a Formação Cruzeiro do Sul: é sobreposta, con-


Superior cordantemente, aos conglomerados da Formação
Apuí e sotoposta, também concordantemente, aos
sedimentos da Formação Rio do Moura. A Forma-
Durante esse tempo, a bacia era do tipo in- ção Cruzeiro do Sul caracteriza-se pelas espessas
tracratônica/marginal, com subsidência flexural para camadas de calcarenitos bioclásticos e intercala-
oeste, desenvolvendo uma hinge-line numa plata- ções de leitos de anidritas, calcilutitos e folhelhos
forma carbonática. Essa seqüência pode ser dividi- calcíferos. Seu conteúdo faunístico permite atribuir
da em dois estágios: no primeiro, ocorrido durante idade eopermiana (com base em palinomorfos) a
o Mississipiano terminal, uma tectônica distensiva essa unidade, que retrata ambiente deposicional
foi responsável por uma sedimentação essencial- marinho raso, plataformal e restrito (Feijó e Sou-
mente continental (Formação Apuí). No segundo za, 1994). A Formação Cruzeiro do Sul pode ser
estágio, no final do Pensilvaniano, ocorreu a sedi- correlacionada com a Formação Pedra de Fogo,
mentação carbonática da Formação Cruzeiro do Sul da Bacia do Parnaíba.
em ampla área até os limites do Escudo Brasileiro.
O primeiro estágio possui o limite inferior as- No Eopermiano, uma bacia carbonática pou-
sociado à grande regressão arenosa de dissecação co subsidente se estendeu até grande parte do Peru
do relevo eoherciniano, compreendendo uma base Central (Formação Cruzeiro do Sul). No decorrer do
areno-conglomerática da Formação Apuí. Eo- e Mesopermiano, uma fase de dobramentos afe-
tou a região sul peruana, enquanto na parte central
Formação Apuí: proposta por Feijó e Souza peruana essa fase está representada por movimen-
(1994), é constituída por conglomerado castanho, tos epirogenéticos positivos.
com seixos e grânulos de quartzo, feldspato e gra-
nito, com matriz areno-argilosa, de leques aluviais.
Atribui-se idade neocarbonífera, através de rela-
ções estratigráficas. Seu contato inferior é discor-
dante ou com as rochas do embasamento Seqüência Permiano
proterozóico ou possivelmente com as seqüências
sedimentares sotopostas inferidas, enquanto no Médio a Superior/
topo possui relação concordante com a Formação
Cruzeiro do Sul. Correlaciona-se temporalmente Permiano Superior-
às formações Juruá da Bacia do Solimões e Monte
Alegre da Bacia do Amazonas; Triássico Inferior
O segundo estágio é representado pela de- É caracterizada, no oriente peruano, pelos
posição de uma seção transgressiva, culminando depósitos molássicos: essencialmente red beds, as-
no Eopermiano com sedimentação generalizada de sociados a níveis de evaporitos. Corresponde ao Gru-
calcários, desde a Bacia de Ucayali até a Bacia do po Mitu nas bacias de Ucayali e Marañon, onde ocor-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 207-215, maio/nov. 2007 | 209


rem intercalações de rochas vulcânicas riolíticas e
andesíticas características de uma fase de distensão Seqüência Triássico
tectônica, retratada pelas falhas normais sinsedimen-
tares que cortam os sedimentos dessa unidade na-
Inferior/Jurássico
quelas bacias.
Inicia-se, na Bacia do Acre, com arenitos mari-
Inferior
nhos transgressivos, assentados sobre os arenitos da
seqüência anterior. São sobrepostos por uma seção Durante o Triássico, uma importante fase de sub-
mista de siltitos, arenitos, folhelhos e carbonatos, em sidência ocorreu na bacia intracratônica. A subsidência
continuação à fase transgressiva atuante na época da flexural para oeste causou espessamento de sedimentos
deposição da Formação Rio do Moura. Os arenitos arenosos nessa área e a deposição de calcários e dolomitos
basais dessa unidade constituem bons reservatórios, e escuros, intercalados com folhelhos, arenitos betumino-
os folhelhos são potenciais geradores de petróleo. sos e camadas evaporíticas, proporcionando ainda a for-
mação de um alto intrabacinal na posição da futura Fa-
Formação Rio do Moura: engloba a seção lha de Batã. Posteriormente, ocorreu a deposição de
clástico-carbonática que recobre os sedimentos finos evaporitos, já no Eojurássico. A seguir, ainda nesse tem-
da Formação Cruzeiro do Sul; sua porção basal com- po, um evento compressivo gerou dobras de baixa am-
preende espessas camadas de arenitos intercaladas plitude e longo período, causando halocinese. Essa sedi-
com siltitos e folhelhos que gradam para carbonatos mentação muda gradualmente para o topo, para uma
no sentido do topo da seção. Seu contato inferior é seção continental regressiva, constituída por red-beds. A
concordante com a Formação Cruzeiro do Sul, en- essa associação sedimentar denominou-se Formação
quanto o superior é discordante com a Formação Juruá Mirim, constituída por depósitos de ambientes flu-
Juruá Mirim, eotriássica. Provavelmente é de idade vial, lacustrino, sabkha e marinho restrito, passando no
neopermiana, conforme indicam os poucos dados sentido do topo para ambiente eólico. A base corres-
bioestratigráficos com base em palinomorfos. Presu- ponde à Formação Pucará nas bacias do oriente perua-
me-se ambiente deposicional marinho raso, dentro no, enquanto o topo corresponde à Formação
de um contexto transgressivo. Correlaciona-se com Sarayaquillo e o topo da Formação Juruá Mirim nas ba-
a Formação Motuca, da Bacia do Parnaíba. cias do oriente peruano e do Acre, respectivamente.
Estabeleceu-se, a seguir, uma sedimenta- Essa seqüência é representada litologicamen-
ção de arenitos avermelhados, argilitos e evapo- te pela metade inferior da Formação Juruá-Mirim,
ritos, correspondentes a uma continentalização do constituída por um pacote basal de arenitos, segui-
Permo-Carbonífero (Formação Rio do Moura, por- dos de siltitos vermelhos, com intercalações de
ção superior), truncada erosionalmente pelos efei- halita, anidrita e carbonatos.
tos de soerguimento ligados à Orogênese Tardiher- Dentro dessa seqüência, ocorrem rochas íg-
ciniana. A fase tardiherciniana, da Orogenia Her- neas ácidas extrusivas na Bacia do Acre, representa-
ciniana, marcou o fim do Sistema Pré-Andino e o das por traquito nefelínico com idade de 194 ± 12 Ma
início do Sistema Andino, causado pelo início da (K-Ar), datação obtida a partir de amostra de poço.
subducção da Placa de Nazca e, em escala glo- Corresponde, cronologicamente, às intrusivas básicas
bal, com a quebra do Supercontinente Pangea da Bacia do Solimões (magmatismo Penatecaua).
(Barros e Carneiro, 1991). Formação Juruá Mirim: constituída, predomi-
nantemente, por siltitos avermelhados, intercalados
com anidritas e halitas, todos sobrejacentes a uma
seção basal espessa de arenitos possivelmente
eotriássicos. Ambos os contatos são discordantes: o
inferior com a Formação Rio do Moura e o superior
com o Grupo Jaquirana.
Considera-se a Formação Juruá Mirim associada
a ambiente deposicional flúvio-lacustrino com alguma
influência marinha refletida em sedimentos de planície
de sabkha. Essa unidade é possivelmente correlacioná-
vel com o Grupo Mearim, da Bacia do Parnaíba.

210 | Bacia do Acre - Paulo Roberto da Cruz Cunha


Seqüência Jurássico Seqüência Albiano
Inferior/Jurássico Superior-Cenomaniano/
Superior Turoniano Superior-
Corresponde à porção superior da Formação Coniaciano
Juruá Mirim, constituída por arenitos avermelhados
e rosáceos, eólicos, com intercalações delgadas de Corresponde à porção superior da Formação
folhelhos vermelhos. Nessa seqüência, é digna de Moa, constituída por arenitos e folhelhos subordi-
nota a ocorrência de basalto, tendo idade de 177 ± nados. O nível de folhelho parece representar a
8 Ma, obtida em determinação geocronológica K- superfície de inundação máxima de maior expres-
Ar em amostra de poço. são desde o Triássico, e representaria a passagem
Uma importante fase deformacional ocorreu Cenomaniano/Turoniano, nível esse amplamente
durante o Neojurássico-Eocretáceo, quando o de- reconhecido na margem atlântica e na região su-
nominado Diastrofismo Juruá (Campos e Teixeira, bandina (Pereira, 1994).
1988) provocou forte compressão na bacia e foi res-
ponsável pelo deslocamento inicial da Falha de Batã, Formação Moa (superior): constitui-se, es-
causando fortes inversões e falhamentos a oeste sencialmente, de arenitos finos a médios e folhe-
desta falha, além de halocinese com o deslocamen- lhos subordinados.
to de leitos salinos para os altos dos anticlinais. Essa
compressão também ocasionou reativações de fa-
lhas antigas. Erosão e peneplanização fecham esse
ciclo tectônico.
Seqüência Turoniano
Superior-Coniaciano/
Seqüência Aptiano/ Campaniano Inferior
Albiano Superior- Representada pelos pelitos marinhos da For-

Cenomaniano mação Rio Azul que poderiam retratar uma outra su-
perfície de inundação máxima do Neosantoniano e
por raros arenitos intercalados.
Esse período temporal é caracterizado por
quietude tectônica. Após extensa peneplanização, Formação Rio Azul: constitui-se de folhelhos
depositou-se essa seqüência, constituída por se- cinzentos e castanhos e de arenitos finos.
dimentos clásticos grossos, na base devido ao
aporte de sedimentos oriundos dos escudos Bra-
sileiro e das Guianas.
Corresponde à base do Grupo Jaquirana,
constituído pelos sedimentos flúvio-deltaicos e Seqüência Campaniano
neríticos da porção inferior da Formação Moa,
depositados em bacia foreland adjacentes ao
Inferior/Eoceno Inferior
cinturão andino. Seu limite inferior é discordante
com a Formação Juruá Mirim. Representada pelos arenitos fluviais basais da
Formação Divisor, em contato abrupto sobre os fo-
Formação Moa (inferior): constitui-se, essen- lhelhos marinhos e transicionais da Formação Rio Azul
cialmente, de arenitos finos a médios. e pelos sistemas deposicionais transgressivos associa-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 207-215, maio/nov. 2007 | 211


dos à Formação Ramon, representada por folhelhos
e carbonatos que representam a superfície de inun-
referências
dação máxima do Paleoceno.
bibliográficas
Grupo Jaquirana: o Grupo Jaquirana possui seus
BARROS, A. M.; ALVES, E. D. O.; ARAÚJO, J. F. V.;
contatos, tanto o superior com a Formação Solimões
LIMA, M. I. C.; FERNANDES, C. A. Geologia. In: PRO-
quanto o inferior, com a Formação Juruá Mirim, dis-
JETO RADAMBRASIL: Folhas SB/SC.18 Javari/
cordantes. Conforme indicado por palinomorfos, o
Contamana: geologia, geomorfologia, pedologia,
Grupo Jaquirana é de idade neocretácea, mas Barros
vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro :
et al. (1977) atribuem idade terciária à Formação
Projeto RADAMBRASIL, 1977. p. 17-101. (Levanta-
Ramon. O Grupo Jaquirana pode ser correlacionado
mento de Recursos Naturais, 13).
com as formações Codó, Grajaú e Itapecuru das baci-
as de São Luis e Parnaíba.
BARROS, M. C.; CARNEIRO, E. P. The Triassic Juruá
Orogeny and the Tectono-Sedimentary Evolution of
Peruvian Oriente Basin: exploratory implications. In:

Seqüência Eoceno Simpósio Bolivariano, 4., 1991, Bogotá, Colômbia. [Me-


mórias do...]. [S.l.]: [s.n.], 1991. Trabalho n. 6, 44 p.

Inferior/Plioceno CAMPOS, J. N. P.; TEIXEIRA, L. B. Estilos tectônicos da


Bacia do Amazonas. In: Congresso Brasileiro de Geo-
Após a ocorrência das primeiras fases da Oro-
logia, 35., 1988, Belém. Anais. São Paulo : Socieda-
genia Andina, estabeleceu-se a sedimentação desse
de Brasileira de Geologia, 1988. v. 5, p. 2161-2172.
ciclo, caracterizado, no oriente peruano, pela depo-
sição de folhelhos de ambiente marinho raso e
lacustrino, intercalados com níveis arenosos, segui- CUNHA, P. R. C. Bacias sedimentares brasileiras: Ba-
dos de depósitos de red-beds. É representado pelas cia do Acre. Phoenix, Aracaju, v. 8, n. 86, fev. 2006.
formações Poza, Chambira, Pebas e Ypururu, no orien-
te peruano, e Solimões, na Bacia do Acre. Está re- DALMAYRAC, B. Géologie de la cordillère orientale
presentada, na bacia, pelos sedimentos finos flúvio- de la région de Huanuco: sa place dans une
lacustres da Formação Solimões, que assentam em transversale des Andes du Pérou central: (9°S à
onlap contra sua borda leste, como resultado do gran- 10°30’S). Paris: Office de la Recherche Scientifique
de tectonismo terciário dos Andes. et Technique d’Outre-Mer, 1978. 161 p. il. (Géologie
A Formação Solimões, na Bacia do Acre, foi afe- des Andes péruviennes. Travaux et documents, 93).
tada pela Orogênese Andina, principalmente durante
o Mioceno-Plioceno (Fase Quéchua) (Oliveira, 1994). FEIJÓ, F. J.; SOUZA, R. G. Bacia do Acre. Boletim de
As falhas de Batã e Oeste de Batã foram reativadas Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
causando a edificação da Serra do Divisor e houve ain- p. 9-16, 1994.
da fenômenos de halocinese nos sedimentos jurássicos.
A Fase Quéchua (Mio-Plioceno) da Orogenia Andina é
HAM, C.; HERRERA, L. Role of sub-Andean fault
considerada a mais longínqua manifestação topográfi-
system in tectonics of eastern Peru and Ecuador. In:
ca da tectônica andina na América do Sul.
CHILDS, O. E.; BEDOE, B. W. (Ed.). Backbone of
the Americas: tectonic history from pole to pole: a
symposium. Tulsa : American Association of Petroleum
Geologists, 1963. p. 47-61. (AAPG. Memoir, 2).

OLIVEIRA, C. M. M. Estilos estruturais e evolução


tectônica da Bacia do Acre. 1994. 206 p. il. Disser-
tação (Mestrado). Universidade Federal de Ouro Pre-
to, Ouro Preto, Minas Gerais, 1994.

212 | Bacia do Acre - Paulo Roberto da Cruz Cunha


PEREIRA M. J. Seqüências deposicionais de 2ª. /
3ª. ordens (50 a 0,2M.a.) e tectono-estratigrafia
no Cretáceo de cinco bacias marginais brasilei-
ras: comparações com outras áreas do globo e impli-
cações geodinâmicas. 1994. 2 v. il. Tese (Doutora-
do). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Por-
to Alegre, Rio Grande do Sul, 1994.

RAJA GABAGLIA, G. P.; FIGUEIREDO, A. M. F. Evo-


lução dos conceitos acerca das classificações de
bacias sedimentares. In: RAJA GABAGLIA, G. P.;
MILANI, E. J. (Ed.). Origem e evolução de bacias
sedimentares. Rio de Janeiro: Petrobras. SEREC.
CEN-SUD, 1991. p. 31-45.

TASSINARI, C. C. G.; CORDANI, U. G.; NUTMAN,


A. P.; VAN SCHMUS, W. R.; BETTENCOURT, J. S.;
TAYLOR, P. N. Geochronological systematics on
basement rocks from the Rio Negro-Juruena Province
(Amazonian Craton) and tectonic implications.
International Geology Review, Columbia, MD, v.
38, n. 2, p. 1161-1175, 1996.

TASSINARI, C. C. G.; BETTENCOURT, J. S.; GERALDES,


M.C.; MACAMBIRA, M. J. B.; LAFOND, J. M. The
Amazonia Craton. In: CORDANI, U. G.; MILANI, E. J.;
THOMAZ FILHO, A.; CAMPOS, D. A. (Ed.). Tectonic
evolution of South America. Rio de Janeiro: [s.n.],
2000. p.41-95. International Geological Congress, 31.
2000, Rio de Janeiro.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 207-215, maio/nov. 2007 | 213


BACIA DO ACRE

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

EOCENO INFERIOR / PLIOCENO


EO ZAN C LEA N O
NEÓGENO

M E S S I N I AN O
NEO
10 TORTONIANO

FLÚVIO - L ACUSTRE
S E R R AVAL IA N O
MESO
LAN G H I AN O

CONTINENTAL

SOLIMÕES
B U R D I GAL IA N O
20 EO
AQ U I TAN IA N O

2200
NEO C HAT T IAN O

30 EO R U P EL IA N O

NEO P R I AB O N I AN O
PALE ÓGE N O

BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

50
EO Y P R E S I AN O

CAMPANIANO INF. /
T HAN E T I AN O
NEO

EOCENO INF.
60 PALEOCENO S E LAN D I AN O RASO RAMON
EO DAN I AN O

70
( SE NO NIANO )

DIVISOR
FLÚVIO - DELTAICO

CAM PAN IAN O

JAQUIRANA
80
CONTINENTAL
NEO

1000
SAN T O N I AN O
RIO AZUL
CRETÁCEO

C O N I AC I AN O
90
T U R O N I AN O

C E N O MA N IA N O
( GÁ LIC O )

100
MOA
AL B I AN O
EO

110

APTIANO ALAGOAS ALUVIAL


120
150
NEO
CONT.

NEOJURÁSSICA
JURUÁ MIRIM

MESO

EO
3000

200 RESTRITO
SABKHA
NEO FLÚVIO-LACUSTRE
CONT. / MARINHO

RESTRITO
SABKHA
MESO
ESTUÁRIO
250 EO
NEOPERMIANA
RIO DO
PLAT. RASA
MOURA
LAGUNAR

300
APUÍ 250

350

NEO INOMINADO
MESO
400
EO
INOMINADO

542

214 | Bacia do Acre - Paulo Roberto da Cruz Cunha


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 207-215, maio/nov. 2007 | 215
Bacia do Solimões

Joaquim Ribeiro Wanderley Filho1, Jaime Fernandes Eiras2, Pekim Tenório Vaz3

Palavras-chave: Bacia do Solimões l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Solimões Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução A denominação Bacia do Solimões surgiu com


Caputo (1984), em substituição ao termo anterior-
mente usado de Bacia do Alto Amazonas. Este autor
A Bacia paleozóica do Solimões subdivide-se justificou sua proposição ao considerar que esta ba-
em duas áreas bem definidas, separadas pelo Arco cia teve evolução geológica diferente das bacias do
de Carauari: a Sub-bacia do Jandiatuba, a oeste, e a Médio e do Baixo Amazonas e, hoje, no conjunto
Sub-bacia do Juruá, a leste, totalizando uma área de denominado simplesmente de Bacia do Amazonas.
aproximadamente 440.000 km2, totalmente compreen- A partir de 1978, ano da descoberta da pro-
dida no Estado do Amazonas. Geologicamente, os víncia de gás e condensado do Juruá, a pesquisa de
limites da bacia são: ao norte, o escudo das Guianas; petróleo na Bacia do Solimões tomou vulto, intensi-
ao sul, o escudo Brasileiro; a oeste, o Arco de Iquitos; ficando-se após 1986, ano da descoberta da provín-
e, a leste, o Arco de Purus. É uma bacia desprovida cia de óleo, gás e condensado do Urucu. Dos 126
de afloramentos da seção paleozóica, uma vez que poços perfurados até o momento na bacia, apenas
os pacotes meso-cenozóicos dos ciclos sedimentares 17 deles (15 poços de caráter estratigráfico e 2 pio-
mais jovens, correspondentes às formações Alter do neiros) foram perfurados entre 1958 e 1963, ou seja,
Chão e Solimões, extrapolam em muito a área de na fase anterior à descoberta do Juruá. Os 109 res-
ocorrência daquela seção. tantes foram perfurados a partir de 1978. Além dis-

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Amazônia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica
e-mail: jwand@petrobras.com.br
2
Ex-funcionário
3
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Amazônia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 217-225, maio/nov. 2007 | 217


so, mais de 50 mil quilômetros de linhas sísmicas sultou na deposição de sedimentos em ambiente flu-
de reflexão 2D foram levantados a partir de 1976, vial com influência marinha, representados pelas for-
e 2.234 quilômetros lineares de seções sísmicas mações Prosperança, Acari e Prainha, que compõem
de reflexão 3D foram adquiridos numa área de o Grupo Purus. Para Wanderley Filho e Costa (1991),
510 km 2 na região do Urucu, a partir de 1988 os riftes do Proterozóico, preenchidos com os sedi-
(Eiras et al. 1994). mentos clásticos e químicos do Grupo Purus, não cor-
O grande volume de informações estratigrá- respondem à fase rifte das bacias do Solimões e Ama-
ficas obtidas nessa fase pós-descoberta do Juruá zonas, uma vez que há um grande hiato temporal
gerou um número naturalmente elevado de traba- desses para as bacias paleozóicas e tal fato inviabiliza
lhos técnicos sobre o assunto, aí incluídos teses e a aplicação do modelo rifte-subsidência térmica para
dissertações e publicações diversas, tais como: o caso. Além disso, esses riftes proterozóicos têm
Esteves (1982), Caputo (1984), Lanzarini (1984), direção NW-SE, quase perpendicular à orientação das
Cruz (1984), Quadros (1985), Porsche (1985), Qua- bacias do Solimões e Amazonas.
dros (1986), Cruz (1987), Silva (1987a, 1987b,
1988), Cunha et al. (1988) Quadros (1988), Grahn
(1990), Becker, (1997), e alguns outros não cita-
dos aqui, todos direta ou indiretamente empenha-
dos em datar as unidades estratigráficas da Bacia seqüências
do Solimões, identificar as fácies sedimentares,
definir os ambientes deposicionais em que elas se deposicionais
formaram e entender os mecanismos controladores
da sedimentação, tais como tectonismo, clima, O arcabouço estratigráfico da Bacia do
área fonte e evolução da flora. Solimões pode ser dividido em cinco seqüências de-
O trabalho ora apresentado fundamenta-se na posicionais limitadas por discordâncias regionais, a
divisão estratigráfica proposta, em 1987, por Osval- saber: Ordoviciano, Siluriano Superior-Devoniano In-
do Braga da Silva, em tese de Doutorado, e formali-
ferior, Devoniano Médio-Carbonífero Inferior,
zada em 1988, no Congresso Brasileiro de Geologia,
Carbonífero Superior-Permiano e Cretáceo Superior-
com atualizações baseadas nos resultados das
Quaternário. Conforme ressalta Silva (1987a), “em-
datações mais recentes.
bora a seqüência deposicional apresente um forte
caráter cronoestratigráfico, seria impossível propor
uma nova coluna litoestratigráfica para a Bacia do
Solimões sem agrupar as unidades que a compõem
embasamento de forma mais próxima possível da seqüência depo-
sicional”. Assim sendo, sob os critérios litoestratigrá-
ficos, essas seqüências deposicionais foram denomi-
Na Sub-bacia do Jandiatuba, o substrato nadas, na mesma ordem, como Formação Benjamin
proterozóico sobre o qual se implantou a Bacia do Constant, Formação Jutaí, Grupo Marimari, Grupo
Solimões é constituído de rochas ígneas e metamór- Tefé, Grupo Javari, incluindo-se ainda o Magmatis-
ficas, enquanto na Sub-bacia do Juruá se destacam, mo Penatecaua de idade Triássica.
além dessas, rochas metassedimentares depositadas
numa sucessão de bacias que constituíam um sis-
tema de riftes proterozóicos, preenchidos por sedi- Formação Benjamin Constant
mentos da Formação Prosperança. O substrato ígneo
e metamórfico faz parte das faixas móveis que po- No Ordoviciano, a região da atual Sub-bacia
dem ser subdivididas em seis grandes províncias do Juruá era uma plataforma estável separada por
geocronológicas (Tassinari et al. 2000). O substrato uma zona de charneira de uma área mais subsidente
da Sub-bacia do Juruá enquadra-se na Província Rio a oeste, a Sub-bacia de Jandiatuba. A Formação
Negro – Juruena; e, na Sub-bacia do Jandiatuba, o Benjamin Constant, meso-ordoviciana, é o registro
substrato corresponde ao Cinturão Móvel da primeira transgressão marinha fanerozóica na
Rondoniense – San Inácio. Sobre esses cinturões ins- bacia e está restrita à Sub-bacia do Jandiatuba. A
talou-se uma fase rifte no paleoproterozóico que re- transgressão foi oriunda de oeste e as variações

218 | Bacia do Solimões - Wanderley Filho et al.


faciológicas retratam bem os ambientes de alta ener- de glaciação de latitude. Condições de alta anoxia
gia, possivelmente de praia ou marinho raso domi- aconteceram no auge da transgressão, favorecendo
nado por ondas. Foi depositada em onlap sobre o a preservação da matéria orgânica em algumas ca-
flanco oeste do Arco de Carauari, que separa as madas argilosas. Esse evento transgressivo-regressi-
duas sub-bacias. Quadros (1986) identificou em vo também foi de caráter pulsativo, permitindo indi-
amostras de folhelhos oriundas de poços a presen- vidualizar três ciclos que correspondem ao Grupo
ça de microfósseis do grupo dos acritarcos, em for- Marimari (Silva, 1987a, 1987b, 1988). Esse grupo
mas típicas do Ordoviciano (Arenigiano- subdivide-se em duas formações: Uerê, que contém
Llanvirniano). Essa foi a primeira constatação de as rochas com espículas silicosas, e Jandiatuba, que
material fossilífero assinalado ao Ordoviciano numa consiste em folhelhos pretos e diamictitos. Alguns
bacia sedimentar brasileira. arenitos proximais, com raras espículas de esponjas
ou delas desprovidos, ocorrem na área leste da Sub-
bacia do Juruá e foram individualizados como Mem-
Formação Jutaí bro Arauá da Formação Uerê. Esses arenitos foram
considerados como uma fácies resultante de sedimen-
Novas incursões marinhas, de caráter cíclico, tação costeira, enquanto as rochas com espículas
aconteceram do Neossiluriano ao início do Devoniano, seriam produto de sedimentação em condições de
compondo o registro de pacotes transgressivo-regres- inframaré, provavelmente na borda de barras ou ban-
sivos. As fácies distais são argilosas, enquanto as cos costeiros. Por outro lado, os diamictitos e folhelhos
proximais são arenosas, argilosas e, subordinadamen- associados, de distribuição errática dentro da Forma-
te, dolomíticas. Essa seqüência também está em ção Jandiatuba, foram rebaixados da categoria For-
onlap contra o Arco de Carauari, devido ao avanço mação Jaraqui (Silva, 1987a, 1987b, 1988) para Mem-
progressivo do mar no sentido leste. Durante o ciclo bro Jaraqui dessa formação. A Formação Jandiatuba
final, o mar atingiu a zona de charneira e ocorreu tem amplo domínio espacial na sub-bacia homôni-
sedimentação também sobre o referido arco. ma, enquanto na Sub-bacia do Juruá essas duas for-
mações (que compõem o Grupo Marimari) ocorrem
interdigitadas. O recuo marinho, nessa fase, pode ter
Grupo Marimari ocorrido em função da atuação da Orogênese eo-
Herciniana (Porsche, 1985; Silva, 1987a, 1987b,
Mais uma incursão marinha aconteceu de 1988). Pelos resultados de análises paleontológicas
oeste para leste, no Mesodevoniano. Desta vez, o (Quadros, 1988), conclui-se que isso ocorreu no iní-
mar ultrapassou o Arco de Carauari, que já se mani- cio do Carbonífero (Tournaisiano).
festava como uma feição positiva bem delineada, e
alcançou a área plataformal do Juruá, que passou a
ter um comportamento francamente subsidente. A Grupo Tefé
seqüência deposicional resultante é a que apresenta
maior variedade faciológica na Bacia do Solimões, Após a regressão marinha causada pela
pois a sedimentação foi bastante controlada pelos orogenia eo-Herciniana, a bacia sofreu um longo pro-
fatores tectônicos, climáticos e ambientais, enquan- cesso de exposição e erosão, que peneplanizou uma
to na Sub-bacia do Jandiatuba predominou uma se- ampla área. O clima também mudou radicalmente,
dimentação essencialmente argilosa em ambiente passando de frio para quente e árido. Um novo ci-
marinho relativamente mais profundo (Silva, 1987a, clo deposicional começou no Mesocarbonífero. No
1987b). Sobre o Arco de Carauari e na Sub-bacia do início, a sedimentação foi inteiramente de terríge-
Juruá houve alternância de deposição de sedimen- nos com a deposição de sedimentos arenosos e argi-
tos arenosos e argilosos, ricos em espículas de es- losos em ambiente continental, subambientes fluvial
ponjas silicosas, e sedimentos essencialmente argi- e estuarino e, depois, dominantemente eólico costei-
losos, ricos em matéria orgânica, às vezes associa- ro (Lanzarini, 1984; Cunha et al. 1988). A atuação de
dos a lentes de material seixoso, mal selecionado, ventos no desenvolvimento de dunas eólicas foi
suportado por matriz (diamictito). Caputo (1984) e favorecida pelo maior rigor das condições de ari-
Silva (1987a, 1987b, 1988) admitem que nessa épo- dez. A quarta e última incursão marinha na bacia
ca o clima era frio, passando até por uma situação também veio de oeste. O mar afogou e retrabalhou

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 217-225, maio/nov. 2007 | 219


campos de dunas eólicas, lençóis de areia e planíci- o perfil-tipo da Formação Fonte Boa passa a ser o
es salinas costeiras (sabkhas), ultrapassou a área intervalo 538-838 m no poço 2-FBST-1-AM (Fonte Boa
elevada que hoje constitui o Arco de Purus, ainda no 1). Os perfis de referência ficam redefinidos pelos
ativo, e, finalmente, interligou as bacias do Solimões intervalos 1.109-1.516 m do poço 1-RT-1-AM (Rio
e do Amazonas. A oscilação do lençol freático, cau- Tefé no1) e 573-907 m do poço 1-JT-4-AM (Rio Jutaí
sada pela proximidade do mar, favoreceu a preser- no 4). A relação de contato entre as Formações
vação de muitos depósitos eólicos, principalmente Carauari e Fonte Boa é interpretada como discor-
na região do Rio Urucu. Este importante ciclo dante. A Formação Fonte Boa é considerada de ida-
sedimentar consiste em um grande evento de Neovirgiliano-Asseliano.
transgressivo-regressivo extremamente pulsativo ou
cíclico, em que cada pulso de entrada de água
marinha era controlado pelo Arco de Iquitos, a oes-
magmatismo Penatecaua
te. Assim, formaram-se pequenos ciclos evaporíticos
resultantes dos processos de transgressão, isolamen- Após a regressão marinha ocorrida possivel-
to da bacia, perda d’água por evaporação, forma- mente no final do Permiano, houve exposição e in-
ção de lagos hipersalinos, precipitação de evapori- tensa erosão das rochas paleozóicas, principalmente
tos, nova transgressão e assim sucessivamente. Os da Formação Fonte Boa, incrementada por soergui-
ciclos evaporíticos desenvolveram-se incompletos, mentos causados pelas intrusões de soleiras de
sem deposição de sais de potássio ou sais mais diabásio no Triássico (205,7 Ma) e pelos dobramen-
solúveis, e a distribuição dos lagos hipersalinos tos decorrentes do Tectonismo Juruá. As soleiras têm
variou ao longo do tempo em função de controles uma uniformidade química muito grande em toda a
estruturais localizados. Ao final da grande regres- bacia e estão distribuídas continuamente em gran-
são marinha, voltou o domínio do ambiente conti- des áreas, não sendo possível distinguir as mais no-
nental, com clima ainda quente e árido. Foram vas e as mais antigas apenas com base em datações
então depositadas camadas vermelhas essencial- radiométricas. No entanto, as análises químicas mos-
mente sílticas, com raras lentes de anidrita nodular tram um enriquecimento em cromo e níquel na so-
e calcário. A última regressão marinha na bacia leira mais inferior, também conhecida como 3ª solei-
parece ter sido causada pela Orogênese Herciniana ra. Imagina-se que a câmara magmática tenha fica-
tardia (Porsche, 1985). O Grupo Tefé é composto do enriquecida em elementos mais densos e estes
pelas formações Juruá (terrígena basal), Carauari foram expelidos no último pulso magmático respon-
(evaporítica) e Fonte Boa (red beds) (Caputo, 1984), sável pela colocação da 3ª soleira. Um evento tectô-
conforme estabelecido por Silva (1987a, 1988), mas nico transpressivo deformou as soleiras, mas não afeta
alterando-se os limites das unidades e o tipo de a Formação Alter do Chão (neocretácea), podendo,
contato entre este grupo e o Marimari. Do Grupo portanto, ser posicionado entre o Mesojurássico e o
Tefé, apenas a Formação Carauari tem continui- Eocretáceo. Esse evento tectônico resultou na for-
dade física na Bacia do Amazonas, onde é mação de dobras anticlinais que, na província do Juruá
desmembrada nas formações Itaituba e Nova e Urucu, amplificaram os paleoaltos que viriam a
Olinda. Não há diferenças litológicas que justifi- constituir as trapas das acumulações de óleo e gás.
quem subdividir essa unidade na Bacia do Solimões. Com base na espessura total de diabásio e nos estu-
Durante a precipitação e sedimentação dessa dos de geotermômetros, estima-se que pelo menos
seqüência estratigráfica, a bacia sofreu outro evento 900 m de rochas da Formação Fonte Boa foram
importante no Pensilvaniano, mais especificamente erodidos na Sub-bacia do Juruá nesse período.
no Kasimoviano, onde Becker (1997) mostra a exis-
tência de um hiato de 10,5 Ma relacionado a perío-
dos de máxima atuação do Evento Tectônico Grupo Javari
Jandiatuba, caracterizado por basculamento e ero-
são da Sub-bacia Jandiatuba e restrição dos evapori- No Neocretáceo, a bacia voltou a se compor-
tos à Sub-bacia do Juruá. O mesmo autor propõe a tar como uma área subsidente. Implantou-se, então,
redefinição do contato inferior da Formação Fonte um sistema fluvial de alta energia que perdurou até
Boa na base da camada de halita ou anidrita imedia- o final do Cretáceo e que foi responsável pela depo-
tamente inferior ao Marco 800. Conseqüentemente, sição de sedimentos essencialmente arenosos da

220 | Bacia do Solimões - Wanderley Filho et al.


Formação Alter do Chão. A disponibilidade de água de tempo entre a deposição dessas duas unidades
para a implantação de um regime fluvial possante parece aumentar para leste. Tem sido observada a
se deu graças à mudança de clima árido para úmi- presença de paleocanais cortando o topo da Forma-
do. Não há registros de paleocorrentes dessa unida- ção Alter do Chão em seções sísmicas levantadas na
de na Bacia do Solimões. Mas através da observa- Sub-bacia do Juruá. Esses canais podem ter sido es-
ção de mapas faciológicos e de isópacas, da correla- cavados nas ombreiras formadas por compensação
ção com as unidades equivalentes nas bacias do Acre isostática do efeito flexural da sobrecarga andina so-
e nas demais subandinas e da análise da evolução bre a placa litosférica.
estrutural da bacia, pode-se dizer que as águas des-
sa bacia fluvial eram drenadas para o pretérito Ocea-
no Pacífico. A Formação Alter do Chão é indivi-
dualizada também na Bacia do Amazonas.
O início do soerguimento da Cadeia Andina referências
começou a isolar essa bacia fluvial no Paleógeno. A
sobrecarga andina causou uma flexura na placa bibliográficas
litosférica e deslocou o depocentro da sedimenta-
ção terciária para a região subandina, com compor-
tamento de bacia tipo foreland. Os rios entrelaçados
BECKER, C. R. Estratigrafia de seqüências apli-
do Cretáceo cederam lugar a grandes lagos de água
cada ao permocarbonífero da bacia do
rasa e doce, pouco movimentados, alimentados por
Solimões, norte do Brasil. 1997. 363 p. Tese
um sistema fluvial meandrante de baixa energia. A
(Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande
elevação da umidade também favoreceu o desen-
do Sul, Porto Alegre, 1997.
volvimento de uma vegetação incipiente, que de-
pois viria a se tornar a pujante Floresta Amazônica
de hoje. Nesse ambiente, foram depositados sedi- CAPUTO, M. V. Stratigraphy, tectonics,
mentos essencialmente argilosos junto com níveis palaeoclimatology and palaeogeography of
ricos em restos vegetais e conchas de moluscos. A northern basins of Brazil. 1984. 532 p. Tese (Dou-
partir do Mioceno, época do paroxismo andino, a torado) – University of Califórnia, Santa Bárbara, 1984.
bacia passou a ser assoreada pelo abundante aporte
de sedimentos oriundos do Cinturão Andino e co- CRUZ, N. M. C. Palinologia do linhito do Solimões,
meçou a se implantar a rede de drenagem em dire- Estado do Amazonas. In: SYMPOSIUM AMAZÔNICO,
ção ao Oceano Atlântico, precursor da bacia 2., 1984, Manaus. Anais. Manaus: Ministério das
hidrográfica atual. No Quaternário, ainda como con- Minas e Energia. Departamento Nacional da Produ-
seqüência isostática da construção andina, alguns ção Mineral, 1984. p. 473-480.
rios tiveram seus gradientes elevados e aumenta-
ram a competência em transportar sedimentos. CRUZ, N. M. C. Quitinozoários da Bacia do
Como resultado, foram depositados sedimentos es- Solimões, Brasil. Rio de Janeiro: Companhia de Pes-
sencialmente arenosos na região entre os rios Jutaí e quisa de recursos Minerais, 1987. 70 p. il. (Convênio
Negro. Essa unidade cenozóica, essencialmente ar- de cooperação técnica CPRM/Petrobras).
gilosa, forma uma cunha sedimentar desde o Arco
de Purus até as bacias subandinas, onde chega a
atingir mais de 7.000 m de espessura e recebe a CUNHA, P. R. C.; SILVA, O. B.; EIRAS, J. F. Interpre-
denominação de Formação Solimões na bacia ho- tação faciológica e ambiental do principal reserva-
mônima e na do Amazonas. A seção superior tório de hidrocarbonetos da Bacia do Solimões –
pleistocênica, essencialmente arenosa é denomina- Área do Rio Urucu. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
da informalmente de membro superior, que pode GEOLOGIA, 35., 1988, Belém. Anais. São Paulo:
futuramente ser formalizado como uma subunidade. Sociedade Brasileira de Geologia, 1988. v. 6, p.
Mantém-se a Formação Solimões, juntamente com 2439-2456.
a Formação Alter do Chão, no Grupo Javari. Aventa-
se a presença de uma discordância litológica e, em EIRAS, J. F.; BECKER, C. R.; SOUZA, E. M.; GONZAGA,
parte, erosional entre essas duas formações. O hiato F. G.; SILVA, G. F.; DANIEL, M. L. F.; MATSUDA, N.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 217-225, maio/nov. 2007 | 221


S.; FEIJÓ, F. J. Bacia do Solimões. Boletim SILVA, O. B. Revisão estratigráfica da Bacia do
Geociências Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. Solimões. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEO-
17-49, jan./mar. 1994. LOGIA, 35., 1988, Belém. Anais. São Paulo: So-
ciedade Brasileira de Geologia, 1988. v. 6, p.
ESTEVES, F. R. Exploração na área de Juruá. In: CON- 2428-2438.
GRESSO BRASILEIRO DE PETRÓLEO, 2., 1982, Rio de
Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de TASSINARI, C. C. G.; BETTENCOURT, J. S.;
Petróleo, 1982. v. 1, p. 315-316. GERALDES, M. C.; MACAMBIRA, M. J. B.; LAFON,
J. M. The Amazonian Craton. In: CORDANI, U. G.;
LANZARINI, W. L. Fácies sedimentares e ambien- MILANI, E. J.; THOMAZ FILHO, A.; CAMPOS, D. A.
te deposicional da Formação Monte Alegre na (Ed.). Tectonic evolution of South America. Rio
área do Juruá. Bacia do Alto Amazonas. Brasil: de Janeiro: [s.n.], 2000. p. 41-95. International
diagênese e permoporosidade dos arenitos-reserva- Geological Congress, 31. 2000, Rio de Janeiro.
tório. 1984. 215 p. Tese (Mestrado) – Universidade
Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 1984. WANDERLEY FILHO, J. R.; COSTA, J. B. S. Contribui-
ção à evolução estrutural da bacia do Amazonas e
PORSCHE, E. Tectônica da faixa de dobramentos sua relação com o embasamento. In: SIMPÓSIO DE
do Juruá. Bacia do Alto Amazonas. Brasil: um GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 3., 1991, Belém. Anais.
modelo estrutural. 1985. 214 p. Tese (Mestrado) – Belém: Sociedade Brasileira de Geociências, 1991.
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 1985. p. 244-259.

QUADROS, L. P. Distribuição bioestratigráfica dos


chitinozoas e Acritarchaes na Bacia do Amazo-
nas. 1985. 179 p. Tese (Doutorado) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1985. bibliografia
QUADROS, L. P. Ocorrência de microfósseis
(Acritarchae) ordovicianos na Sub-bacia do Alto Ama-
zonas, Brasil. Boletim Técnico da Petrobras, Rio de CAPUTO, M. V.; RODRIGUES, R.; VASCONCELOS,
Janeiro, v. 29, n. 3, p. 181-191, 1986. D. N. N. Nomenclatura estratigráfica da Bacia do
Amazonas, histórico e atualização. In: CONGRESSO
QUADROS, L. P. Zoneamento bioestratigráfico do BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 26., 1972, Belém. Anais.
Paleozóico Inferior e Médio (Seção marinha) da Ba- São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1972.
cia do Solimões. Boletim de Geociências da Petro- v. 3, p. 35-46.
bras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 95-109, 1988.
COMISSÃO ESPECIAL DE NOMENCLATURA ESTRA-
SILVA, O. B. Análise da Bacia do Solimões (revi- TIGRÁFICA. Código Brasileiro de Nomenclatura
são litoestratigráfica magmatismo e geoquímica). Estratigráfica. São Paulo: Sociedade Brasileira de
1987. 177 p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal Geologia, 1982, 55 p.
de Ouro Preto, Ouro Preto, 1987a.
LEITE, J. A. D.; SAE, S. G. S. Geocronologia Pb/Pb
SILVA, O. B. Espongiários do Devoniano da Bacia do de zircões detríticos e análise estratigráfica das co-
Solimões. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE berturas sedimentares proterozóicas do sudoeste do
PALEONTOLOGIA, 10., 1987, Rio de Janeiro. Anais. Cráton Amazônico. Revista do Instituto de
Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Paleontologia, Geociências da USP. Série Científica. São Paulo, n.
1987b. v. 2, p. 983-999. 3, p. 113-127, 2003.

222 | Bacia do Solimões - Wanderley Filho et al.


MONTALVÃO, R. M. G.; SILVA, G. H.; BEZERRA,
P. E. L.; PIMENTA, O. N. S. Coberturas sedimen-
tares e vulcano-sedimentares pré-cambrianas das
folhas SB. 20-Purus, SC. 20 - Porto Velho e SC. 21
- Juruena, plataforma Amazônica. Revista Brasi-
leira de Geociências, São Paulo, v. 9, n. 1, p.
27-32, 1979.

MONTALVÃO, R. M. G., BEZERRA, P. E. L. Geolo-


gia e tectônica da Plataforma (craton) Amazôni-
ca (parte da Amazônia Legal brasileira) Revista
Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 10, n.
1, p. 1-27, 1980.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 217-225, maio/nov. 2007 | 223


BACIA DO SOLIMÕES

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

SOLIMÕES

CONTINENTAL
CAM PAN IAN O

JAVARI
NEO SAN T O N I AN O ALTER
CRETÁCEO

C O N I AC I AN O
T U R O N I AN O DO
C E N O MA N IA N O
CHÃO
AL B I AN O

AP T IAN O
EO
BAR R E M IA N O
HAU T E R I V I AN O
VALAN G I N I AN O
B E R R I AS I AN O
T I T H O N I AN O
JURÁSSICO

NEO
O X F O R D IAN O
CALLOVIANO
MESO BATHONIANO
BAJOCIANO
AALENIANO
T OAR C I AN O
EO
S I N E M U R I AN O
HETTANGIANO
R HAE T I AN O
TRIÁSSICO

N O R I AN O
NEO
CAR N IAN O

LAD I N IAN O
MESO
AN ISIANO
OLENEKIANO
EO I NDUANO
LO PIN G IAN O
PERM IAN O

CAP I TA N IAN O

AR T I N S K IA N O
C I SU RAL I ANO
SAKMARIANO
AS SELIANO
G Z H E L I AN O FONTE BOA 220
TEFÉ
CAR B ON ÍFE R O

KASIMOVIANO
M O S C O V IAN O CARAUARI 1300
BAS H K I R I AN O
JURUÁ 200
CONTINENTAL / MARINHO

V I S EAN O

DEV. MÉDIO/
T O U R NA I S I AN O
MARIMARI

CARB. INF
JANDIATUBA

UERÊ

470
DE V ON IANO

FAM E N IAN O
JARAQUI
NEO
F RA S N IA N O
G I V E TI AN O ARAUÁ
MESO
E I F E L IAN O
E M S I AN O
EO
P RAG U I AN O
L O C H K O V I AN O
LUDF O RDIANO
JUTAÍ 150
WENLOCK BIÁ
TE LYC H IAN O
LIANDOVERY
ORDOVICIANO

NEO KAT I AN O
SAN D B IA N O
DAR R I W I L I AN O
MESO DAP I N G IA N O
BENJAMIN
120
EO CONSTANT
CAM BR IANO

224 | Bacia do Solimões - Wanderley Filho et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 217-225, maio/nov. 2007 | 225
Bacia do Amazonas

Paulo Roberto da Cruz Cunha1, José Henrique Gonçalves de Melo2, Osvaldo Braga da Silva1

Palavras-chave: Bacia do Amazonas l Estratigrafia l carta estratigráfica


Keywords: Amazonas Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução O substrato proterozóico sobre o qual se desen-


volveu o pacote sedimentar fanerozóico da bacia está
representado por rochas metamórficas pertencentes a
Na porção setentrional do continente sul-ame- faixas móveis, acrescidas a um núcleo central mais anti-
ricano desenvolveram-se as grandes sinéclises intra- go denominado Província Amazônia Central (Cordani
cratônicas do Amazonas, Solimões e Parnaíba. O et al. 1984), está constituída por rochas essencialmente
preenchimento sedimentar das sinéclises abrange graníticas. A faixa móvel ocidental, formada por rochas
grande variação espaço-temporal, uma vez que seus graníticas e metamórficas, é denominada Faixa Móvel
depósitos distribuem-se em escala verdadeiramente Ventuari-Tapajós (Cordani et al. 2000), e a faixa móvel
continental, abrangendo idades desde o Proterozóico oriental, também constituída por rochas graníticas e me-
até o Recente. tamórficas, designa-se Faixa Móvel Maroni-Itacaiúnas.
A Bacia do Amazonas, situada entre os crátons O registro sedimentar e ígneo da Bacia do Ama-
das Guianas ao norte e do Brasil ao Sul, possui área de zonas nada mais é que um reflexo tanto das varia-
aproximadamente 500.000 km2. Abrange parte dos es- ções eustáticas do nível do mar quanto dos eventos
tados do Amazonas e do Pará e separa-se a leste da tectônicos paleozóicos ocorrentes na borda oeste da
bacia tafrogênica do Marajó através do Arco de Gurupá, pretérita placa gondwânica. Já a sua borda leste so-
e a oeste da Bacia do Solimões pelo Arco de Purus. O freu influência da tafrogenia mesozóica do Atlântico
objetivo principal deste trabalho é atualizar a Sul. Como conseqüência dos fenômenos orogênicos,
cronoestratigrafia da coluna sedimentar-ígnea que preen- ocorreram movimentações epirogênicas no interior
che essa sinéclise intracratônica, à luz dos mais recentes da atual Placa Sul-Americana, resultando na forma-
estudos paleontológicos (palinomorfos, conodontes, fo- ção de grandes arcos e discordâncias regionais. Além
raminíferos) e isotópicos (Ar/Ar). Leva-se também em disso, esses eventos controlaram as ingressões e os
conta o seu relacionamento com os estágios evolutivos recuos dos mares epicontinentais, com conseqüente
da bacia, associados às grandes seqüências estratigráfi- influência nas fácies e ambientes deposicionais liga-
cas e aos eventos tectônicos interligados. dos às variações eustáticas do nível do mar.

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sudeste/Pólo Norte
e-mail: pcunha@petrobras.com.br
2
Centro de Pesquisas da Petrobras/P&D de Exploração/Bioestratigrafia e Paleoecologia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 227


embasamento seqüências
A história evolutiva do Pré-Cambriano, que
sedimentares
constitui o substrato da região amazônica, está rela-
cionada a dois eventos principais: o mais antigo origi- O arcabouço estratigráfico da Bacia do Amazo-
nou a organização dos terrenos granito-greenstones e nas, considerando-se as premissas da Estratigrafia de
dos cinturões de alto grau metamórfico; e o segundo Seqüências, apresenta duas importantes megasse-
foi o responsável pela edificação de vários baixios qüências de primeira ordem, que totalizam cerca de
deposicionais, dos quais se destaca o Gráben do Ca- 5.000 m de preenchimento sedimentar e ígneo. São
chimbo, posteriormente invertido no Neoproterozóico. elas: uma paleozóica, constituída por rochas sedimen-
As linhas estruturais mestras estabelecidas foram res- tares de naturezas variadas, associadas a um grande
ponsáveis e controlaram fortemente a arquitetura geral volume de intrusões de diques e soleiras de diabásio
da bacia durante o Paleozóico, da mesma forma com mesozóicos, e uma mesozóico-cenozóica sedimentar.
as estruturas geradas no Mesozóico e Cenozóico A Megasseqüência Paleozóica, segundo os mesmos
(Wanderley et al. 2005). critérios, pode ser dividida em quatro seqüências de
A origem da Bacia do Amazonas tem sido segunda ordem, aqui formalmente designadas como
investigada por vários pesquisadores, mas ainda cons- Seqüência Ordovício-Devoniana, Seqüência Devono-
titui tema aberto a discussões. Postula-se uma ori- Tournaisiana, Seqüência Neoviseana e Seqüência Pen-
gem relacionada à dispersão de esforços no fecha- silvaniano-Permiana. Todas são delimitadas por que-
mento do Ciclo Brasiliano. A Faixa Móvel Araguaia- bras significativas da sedimentação, decorrentes dos
Tocantins (Almeida, 1967) vincula-se, originalmen- eventos tectônicos atuantes nas bordas da Placa
te, à Orogenia Brasiliana/Pan-Africana, com esfor- Gondwânica, retratadas pelas expressivas discordân-
ços compressivos na direção leste-oeste e de alívio cias regionais que as separam.
na direção norte-sul. Essa zona de alívio, que corres-
ponderia ao rifte precursor da Bacia do Amazonas,
pode ter-se iniciado por meio desse mecanismo, ten-
Seqüência Ordovício-Devoniana
do ainda se propagado de leste para oeste em de-
corrência da reativação de antigas zonas de fraque- A Seqüência Ordovício-Devoniana registra o es-
za pré-cambrianas. Após esse evento distensivo, ocor- tágio inicial de deposição na sinéclise, com um caráter
reu o resfriamento das massas magmáticas, inician- pulsante transgressivo-regressivo. Ela apresenta
do-se, então, a subsidência térmica regional e o de- alternâncias de sedimentos glaciais e marinhos, com
senvolvimento de uma sinéclise intracontinental. ingressões de leste para oeste, jazendo em onlap sobre
Nas etapas finais do Ciclo Brasiliano (700- o Arco de Purus, que impedia a conexão com a Bacia
470 Ma, Almeida e Hasui, 1984), em condições do Solimões. Para leste, a sedimentação ultrapassou a
tardia pós-orogênicas, várias unidades sedimenta- região do atual Arco de Gurupá (então inexistente), e
res acumularam-se sobre a recém-estabilizada Pla- se conectou com as bacias do noroeste africano. As
taforma Sul-Americana. Seus registros atuais en- rochas dessa seqüência compõem o Grupo Trombetas
contram-se preservados localmente na bacia, em (Ludwig, 1964), que abrange as seguintes formações
áreas contíguas ao Arco de Purus, sobretudo no com suas respectivas idades (segundo Grahn, 2005):
seu lado oriental, onde constituem as formações Autás Mirim, composta por arenitos e folhelhos neríticos
Prosperança (arenitos aluviais e fluviais) e Acari neo-ordovicianos (Caradoc?-Ashgill); Nhamundá,
(carbonatos de planícies de maré), ambas reuni- edificada por arenitos neríticos e glaciogênicos eossilu-
das no Grupo Purus. Estas unidades correspondem rianos (Llandovery – Wenlock inferior); Pitinga, com-
a episódios anteriores à efetiva implantação da posta por folhelhos e diamictitos marinhos silurianos
sinéclise e, devido à sua reduzida área de ocor- (Llandovery médio – Pridoli inferior); Manacapuru, cons-
rência, são consideradas como unidades secundá- tituída por arenitos e pelitos neríticos neossilurianos –
rias na carta estratigráfica da bacia. Do ponto de eodevonianos (Ludlow superior – Lochkoviano inferior);
vista da exploração de hidrocarbonetos, elas inte- e a aqui formalmente definida Formação Jatapu, anti-
gram o embasamento econômico da bacia, care- go Membro Jatapu, da Formação Maecuru (do sobre-
cendo, portanto, de interesse comercial. posto Grupo Urupadi). No caso dessa unidade, formali-

228 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


za-se aqui sua mudança de categoria hierárquica (de Cunha (2000) considera esse grupo como uma
membro para formação) e o seu deslocamento para o unidade de terceira ordem na concepção da moder-
Grupo Trombetas, argumentado a seguir. na Estratigrafia de Seqüências e o subdivide em ci-
A Formação Jatapu é constituída por arenitos e clos menores de até quinta ordem, associados às os-
siltitos marinhos parálicos, datados através da palinolo- cilações climáticas oriundas das variações da órbita
gia como de idade lochkoviana a eo-emsiana (Melo e terrestre, dentro da banda de freqüências de
Loboziak, 2003). Não se detecta descontinuidade tem- Milankovitch. Esses ciclos tiveram duração de cerca
poral significativa entre sua base e a unidade subjacente, de cem mil anos (100 ka) cada, relacionados à ex-
a Formação Manacapuru. Em contraste, ocorre um con- centricidade curta da órbita terrestre àquele tempo.
siderável hiato temporal/deposicional entre o topo da Chama-se a atenção, aqui, para a definição
unidade Jatapu e a base da unidade sobreposta, a For- formal da Formação Maecuru, que agora passa a ser
mação Maecuru (ou mais especificamente o antigo representada integralmente pelo antigo Membro Lon-
Membro Lontra dessa mesma formação). Essa interpre- tra, uma vez que o Membro Jatapu, conforme discuti-
tação baseia-se em dados palinológicos, que acusam a do anteriormente, passa agora à categoria de forma-
ausência regional das biozonas emsianas AB e FD do ção dissociando-se da Formação Maecuru (Grupo
zoneamento de miósporos da Europa Ocidental, equi- Urupadi) para integrar o subjacente Grupo Trombetas.
valentes no seu conjunto às zonas internacionais de Diante da sinonímia assim caracterizada, o nome
conodontes gronbergi até serotinus ou mesmo patulus litoestratigráfico Maecuru (Derby, 1878) passa a ter
(Melo e Loboziak, 2003). Tal hiato, observado por toda precedência cronológica – e, portanto, prioridade
a Bacia do Amazonas, implicaria num intervalo tempo- nomenclatural – sobre a designação Lontra (Lange,
ral mínimo variando entre 7 Ma e 16 Ma, conforme a 1967). A Carta Estratigráfica de Cunha et al. (1994) já
escala geocronométrica admitida para o Devoniano (Gra- não considerava a divisão da Formação Maecuru nos
dstein et al. 2004; Kauffmann, 2006). Hiatos equivalen- dois membros. Assim sendo, é necessário ter em mente
tes também têm sido observados em outras bacias pa- esse detalhe com relação às denominações e classifi-
leozóicas no Brasil (Parnaíba e Paraná) e na Bolívia. Como cações estratigráficas adotadas anteriormente na ba-
perfil-tipo para a Formação Jatapu, indica-se aqui o in- cia, durante o acompanhamento geológico operacional
tervalo 2.255 m/2.317 m do poço 1-UR-1-AM. de poços perfurados ao longo de diversas campanhas
exploratórias da Petrobras. Além disso, Melo e Lobo-
Seqüência Devono-Tournaisiana ziak (2003) salientam que o espesso pacote de areni-
tos esbranquiçados atribuídos anteriormente ao “Mem-
Após a discordância relacionada à Orogenia bro Lontra” na margem sul da bacia (região dos rios
Caledoniana (ou Pré-Cordilheirana), um novo ciclo sedi- Abacaxis e Tapajós) são, na verdade, distintos do
mentar de natureza transgressivo-regressiva ocorreu na Membro Lontra, na verdade mais antigos, devendo
bacia, originando a deposição dos grupos Urupadi e constituir uma litofácies peculiar (fluvial?) da Forma-
Curuá. Estes grupos compõem a segunda seqüência de ção Jatapu naquela região.
segunda ordem do Paleozóico da bacia, a aqui chama- Sobreposto ao Grupo Urupadi, e após um pe-
da Seqüência Devono-Tournaisiana, que representa um queno pulso regressivo, seguiu-se a deposição de es-
estágio deposicional marinho com incursões glaciais, pessa seção sedimentar representada pelo Grupo Curuá
extensivas às bacias norte-africanas e ainda sem cone- (Ludwig, 1964). Propõe-se, no presente estudo, a ex-
xão direta com a Bacia do Solimões, a oeste (onde, no clusão formal da Formação Faro desse grupo estratigrá-
entanto, existem estratos equivalentes). O Grupo Urupadi fico, que passa a ser constituído apenas por três forma-
(Caputo, 1984) abrange as formações Maecuru, com- ções: Barreirinha, Curiri e Oriximiná. O desmembramento
posta de arenitos e pelitos neríticos a deltáicos, de idade da Formação Faro como unidade autônoma é justificada
neo-emsiana - eo-eifeliana, e Ererê, constituída por silti- pela ausência de sedimentos neo-tournaisianos a
tos, folhelhos e arenitos neríticos, parálicos, de idade eoviseanos na Bacia do Amazonas, perfazendo um hiato
neo-eifeliana - eogivetiana (Melo e Loboziak, 2003). regional com duração de cerca de 12 Ma a 14 Ma,
Como perfil-tipo para o Grupo Urupadi, ora redefinido, conforme datações recentes (Melo e Loboziak, 2003)
indicamos o intervalo 1.319 m/1.450 m do poço 1-AM- calibradas com a escala geocronométrica de Gradstein
1-AM, considerando os perfis de referência para as for- et al. (2004). Propomos, ainda, a divisão da Formação
mações Maecuru e Ererê os intervalos: 1.390 m/1.450 m Barreirinha em três membros: Abacaxis, Urubu e Urariá,
e 1.319 m/1.390 m, respectivamente. tal como discutido a seguir.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 229


A Formação Barreirinha apresenta seu terço intensa) à do Membro Abacaxis, basal. Possui como
inferior bem individualizado em subsuperfície, com o características diagnósticas adicionais a presença das zo-
auxílio de perfis geofísicos de poços (raios-gama, nas de Spirophyton e de Protosalvínia (esta última defi-
sônico, densidade e resistividade). Esse intervalo con- nida por Niklas et al. 1976 apud Melo e Loboziak, 2003),
siste de folhelhos cinza-escuros a pretos, físseis, além da ausência de diamictitos. Essa unidade está se-
carbonosos, que se apresentam em perfis elétrico- parada da seção superior (Formação Curiri, ora redefinida)
radioativos com baixa densidade, alta resistividade e por uma discordância erosiva de curta duração temporal
radioatividade e baixa velocidade sônica. Represen- (cerca de 1 Ma, segundo a palinologia). Propomos
tam os principais geradores de hidrocarbonetos da designá-la Membro Urariá, indicando para perfil-tipo o
bacia. Depositaram-se sob regime de sedimentação intervalo 3.005 m/3.093 m do poço 1-UA-2-AM.
condensada em ambiente marinho distal e euxínico, A Formação Curiri, de idade fameniana ter-
durante um lapso de 12 Ma a 18 Ma, que perdurou minal ou “struniana” (Melo e Loboziak, 2003), so-
desde o eofrasniano até o eo- ou mesofameniano brepõe-se discordantemente à Formação Barreirinha
(segundo as palinozonas de Melo e Loboziak, 2003, (Membros Abacaxis, Urubu e Urariá) por toda a Ba-
calibradas pela escala de Gradstein et al. 2004). Es- cia do Amazonas. Da forma como aqui concebida,
ses folhelhos orgânicos correspondem à superfície de ela constitui-se principalmente de diamictitos e, se-
inundação máxima (SIM) da seqüência ora comen- cundariamente, folhelhos, siltitos e arenitos de am-
tada (Cunha, 2000). Propomos, para essa unidade, bientes glacial a periglacial, relacionados ao resfria-
a denominação de Membro Abacaxis, atribuindo-lhe mento climático vigente na bacia durante o final do
como perfil-tipo o intervalo 1.525 m/1.602 m do poço Devoniano. Representa o trato de sistemas de mar
1-RX-2-AM. Sua individualização é também impor- baixo da seqüência de terceira ordem, sobreposta à
tante quando se trata de mapeamentos estratigráfi- anterior através de discordância erosiva (limite de
cos (isólitas) e geoquímicos (isólitas, teores, energia seqüência LS). Como perfil de referência, indicamos
cinética, etc) destinados a estudos sistemáticos de o intervalo 3.285 m/3.407 m do poço 1-AX-1-AM.
modelagens geológicas diversas, principalmente na Completando a Seqüência Devono-Tournai-
quantificação volumétrica de hidrocarbonetos gera- siana tem-se a Formação Oriximiná, constituída por
dos e a gerar. arenitos e siltitos subordinados, depositados em am-
O terço médio da Formação Barreirinha, tam- biente marinho raso/fluvial, de idade “struniana” a
bém representado por folhelhos cinza-escuros, depo- mesotournaisiana (Melo e Loboziak, 2003). Note-
sitados em ambiente marinho levemente regressivo se que, conforme salientado por esses autores, o
ou progradacional (segundo evidências palinológicas), limite entre as formações Curiri e Oriximiná obede-
apresenta um nítido contraste com o Membro Abaca- ce a critérios puramente litofaciológicos (dominância
xis, quando se comparam as respostas dos perfis elé- de arenitos), sendo, portanto, diácrono de poço para
trico-radioativos corridos: menor radioatividade, baixa poço, com a segunda formação ora incluindo sedi-
resistividade, e velocidade sônica mais alta. A essa mentos neodevonianos em sua base, ora restringin-
unidade propomos a denominação Membro Urubu, do-se ao Carbonífero Inferior. Como perfil de refe-
atribuindo-lhe por perfil-tipo o intervalo 1.895 m/1.965 m rência, apontamos o intervalo 2.243 m/2.390 m do
do poço 1-UR-1-AM. Sua idade é meso- a neo-fameniana poço 2-LF-1-AM.
(Melo e Loboziak, 2003).
Finalmente, posicionamos no terço superior da
Formação Barreirinha uma seção antes atribuída à parte Seqüência Neoviseana
inferior da Formação Curiri, e que vinha sendo referida
por alguns autores como “Curiri inferior” (Loboziak et al. Após a deposição da Seqüência Devono-Tour-
1997a, 1997b; Melo e Loboziak, 2003). A mesma é naisiana, uma intensa atividade tectônica atuou nas
caracterizada por folhelhos cinza-escuros a claros e silti- margens da Placa Sul-Americana: a orogenia
tos, que já documentam uma sedimentação marinha Acadiana ou Chánica, ocasionando soerguimento e
francamente regressiva, de idade neofameniana (Melo erosão dessa seqüência, e originando a discordância
e Loboziak, 2003). Apresentam, em perfis elétrico- que a separa da unidade sobreposta, a Formação Faro.
radioativos, regular radioatividade e velocidade sônica, Conforme já mencionado, a duração desse hiato pode
e altos valores de resistividade, apresentando uma assi- atingir 14 Ma, segundo recentes datações palinológi-
natura semelhante (do tipo “barriga”, porém, menos cas (Melo e Loboziak, 2003). A Formação Faro, isola-

230 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


damente, constitui a aqui chamada Seqüência rites heyleri e Raistrickia cephalata, de Playford e Dino
Neoviseana, que se caracteriza por arenitos e pelitos (2000). Propomos como perfil-tipo, o intervalo 1.042 m/
flúvio-deltaicos e litorâneos com influência de tem- 1.875 m do poço 9-FZ-2-AM.
pestades. Como perfil de referência, indicamos o in- O Membro Arari, superior, documenta o iní-
tervalo 2.129 m/2.243 m do poço 2-LF-1-AM. Seu cio da forte regressão que ocorreu na bacia, com-
topo é afetado pelo recuo do mar associado à orogenia provado pela ampla diminuição ou quase ausência
Eo-Herciniana, ou Ouachita, que proporcionou um de fósseis marinhos, a inexistência de carbonatos
extenso processo erosivo nessa seqüência. marinhos e a associação de folhelhos e siltitos com
pacotes de halitas cristaloblásticas. Estas últimas
apresentam redes de argilas na sua trama interna,
Seqüência Pensilvaniano- resultantes de retrabalhamento de seções salíferas
Permiana mais antigas, que foram soerguidas nas bordas da
bacia e redepositadas nas áreas mais centrais (Sil-
va, 1996). Esse soerguimento e o início da conti-
Após um hiato temporal de cerca de 15 Ma, nentalização da bacia estão associados à mudança
um novo ciclo deposicional de natureza transgressivo- climática e à orogenia Variscana ou Tardi-herciniana.
regressiva tomou lugar na Sinéclise do Amazonas, du- Apresenta-se como perfil de referência o intervalo
rante o Neocarbonífero. Trata-se da quarta seqüência 940 m/1.710 m do poço 1-AR-1A-AM. A idade des-
de segunda ordem da trama estratigráfica da bacia: a se membro é aqui considerada como ainda em pro-
denominada Seqüência Pensilvaniano-Permiana, cons- cesso de discussão, uma vez que são poucos os fós-
tituída pelas formações Monte Alegre, Itaituba, Nova seis diagnósticos, dificultando sobremaneira a sua
Olinda e Andirá, reunidas no Grupo Tapajós. datação. Os conodontes conferem-lhe idade
A Formação Monte Alegre, de idade virgiliana (Lemos, 1990), correspondendo ao Kasi-
neobashkiriana (Playford e Dino, 2000; Melo e Loboziak, moviano e Gzheliano, que é adotada nesse estudo,
2003), inicia sua deposição com arenitos eólicos e de ao passo que a palinologia sugere idade permiana
wadis, intercalados por siltitos e folhelhos de interdunas (Zona Vittatina costabilis, de Playford e Dino, 2000).
e lagos (Costa, 1984). Com a continuidade do proces- Porém, tal controvérsia parece refletir na verdade
so transgressivo, depositou-se, em seguida, a Forma- confusões na identificação do limite litoestratigráfico
ção Itaituba composta de folhelhos, carbonatos e Nova Olinda/Andirá, ao invés de divergências pura-
anidritas de fácies lagunar e marinho rasa/inframaré, mente bioestratigráficas.
com idade neobashkiriana - moscoviana (Lemos, 1990; Associada aos efeitos da orogenia Tardi-
Playford e Dino, 2000). Estes são encimados por calcá- herciniana, depositou-se a Formação Andirá. Essa
rios, anidritas e halitas de inframaré e planícies de sabkha unidade caracteriza-se por uma sedimentação pre-
da Formação Nova Olinda, de idade ainda em parte dominantemente continental, representada por sil-
controversa (moscoviana – gzheliana, segundo Lemos titos e arenitos avermelhados (red beds) e raras
(1990), ou moscoviana – permiana, segundo Playford anidritas, associados às fácies fluviais e lacustrinas,
e Dino, (2000)). atestando, além dos efeitos da tectônica, uma mu-
Propomos, neste trabalho, a formalização da di- dança climática significativa, passando de frio para
visão da Formação Nova Olinda em duas unidades de quente e árido.
categoria hierárquica inferior: os membros Fazendinha, Datações recentes dão conta que a palino-
basal, e Arari, superior, conforme discutido a seguir. zona Vittatina costabilis pode ter sua base na tran-
O Membro Fazendinha caracteriza-se, sição Asseliano/Sakmariano (295 Ma; Playford e
litologicamente pela ocorrência das seguintes rochas: Dino, 2000). Então, consideramos ser essa a idade
folhelhos, carbonatos, anidritas, halitas e, localmen- da base da Formação Andirá, uma vez que, em
te, sais mais solúveis como, por exemplo, silvita, de nossa opinião, as datações palinológicas de Playford
interesse econômico por se tratar de cloreto de potás- e Dino (2000) foram processadas em sedimentos
sio. Esses sedimentos, essencialmente químico- dessa unidade estratigráfica e não nos da Forma-
evaporíticos, foram depositados em ambientes mari- ção Nova Olinda, como indicado naquele traba-
nho raso, de planícies de sabkha e lagos hipersalinos. lho. De qualquer forma, consideramos a idade dessa
O Membro Fazendinha possui idade desmoinesiana última como um tema aberto à discussão e a tra-
(Moscoviano), abrangendo as palinozonas Striatospo- balhos adicionais.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 231


A interpretação de seções sísmicas, amparada intrusões permo-jurássicas relaciona-se com o término
em dados de poço exploratório situado na área central dos esforços gondwanides, ao passo que os magmas
da bacia, evidencia uma discordância angular entre as básicos juro-triássicos ocupariam as fraturas originadas
formações Nova Olinda e Andirá. Correlacionamos essa ou reativadas pelo processo de separação das placas
discordância com o lapso desprovido de registro fóssil africana e sul-americana. A abertura do Atlântico Norte
limitado entre o topo da Zona Raistrickia cephalata foi precedida pela geração de riftes como os de Marajó
(Desmoinesiano ou Moscoviano) e a base da Zona e Tacutu. O Arco de Gurupá configurou-se como um
Vittatina costabilis (Sakmariano). Esse hiato bioestrati- divisor entre a sinéclise paleozóica e o recém-formado
gráfico perfaz cerca de 9 Ma (Playford e Dino, 2000), rifte do Marajó. Estas manifestações magmáticas foram
sendo fortemente sugestivo de um grande período de inicialmente agrupadas em um único evento, com ida-
erosão ou não-deposição. Datações através de de (K-Ar) entre 170 e 220 Ma. Datações posteriores atra-
conodontes sugerem que a Formação Nova Olinda te- vés do método Ar-Ar situam-nas entre 210 Ma e 201 Ma,
nha alcançado idade virgiliana no seu topo (Lemos, 1990). sendo a mais provável a idade de 206 Ma (magmatis-
Em face das considerações acima, interpretamos que a mo Penatecaua). No Projeto Embasamento da Universi-
sedimentação da Formação Nova Olinda tenha-se es- dade Federal do Pará (PROEMB-UFPA, 2005), um proje-
tendido somente até o Virgiliano, enquanto a da Forma- to patrocinado pela Fundação de Amparo e Desenvolvi-
ção Andirá iniciou-se no Sakmariano. Admitimos que o mento de Pesquisa (Fadesp) e pela Petrobras, junto à
topo desta última unidade tenha atingido o final do Universidade Federal do Pará (UFPA), visando estudos
Permiano, tal como indicam as datações palinológicas geotectônicos relacionados ao papel do embasamento
disponíveis (Daemon e Contreiras, 1971; Playford e Dino, pré-cambriano na evolução da Bacia da Foz do Amazo-
2000). Como perfil de referência, indicamos o intervalo nas, as datações Ar-Ar dessas ígneas limitam-se entre
entre 505 m/1.226 m do poço 2-AI-1-AM. 210 Ma e 191 Ma, com idade mais provável de 200 Ma
Como conseqüência da orogênese Alleghe- para esses eventos reunidos (Zalán, 2004).
niana ou Gondwanides (Zalán, 1991), relacionada As orogêneses Kimmeridgiana tardia e Oregoniana
à colisão final dos continentes Laurásia e Gond- resultaram em esforços compressivos ENE-WSW e WNW-
wana, a porção setentrional da América do Sul foi ESE, originados a partir da abertura do Atlântico Equato-
afetada durante o Neopermiano/Eotriássico. Disso rial, a leste, e a zona de subducção andina cretácea, a
resultaram fraturamentos no Cráton das Guianas, oeste da Placa Sul-Americana. No continente, esses es-
que chegaram a atingir, transversalmente, as ba- forços ocasionaram a reativação de fraturas pré-existen-
cias amazônicas, provocando soerguimentos ge- tes e deformações compressivas ou cisalhantes (Campos
neralizados e, por conseguinte, uma discordância e Teixeira, 1988). Este episódio, conhecido na bacia como
erosiva regional que se estende até a Bacia do Diastrofismo Juruá, é a mais expressiva deformação que
Paraná. Aventa-se a hipótese de uma erosão de afetou a Plataforma Sul-Americana durante a Reativação
cerca de 1.000 m de sedimentos da Formação Wealdeniana ou Ativação Meso-Cenozóica (Almeida, 1972
Andirá, na Bacia do Amazonas, baseada em re- apud Zalán, 2004).
construções palinspáticas. Após a atuação dos esforços compressivos re-
lacionados ao Diastrofismo Juruá, ocorreu um relaxa-
mento tectônico seguido da implantação de novos
tectônica, sedimentação e ciclos deposicionais representados pela outra unidade
magmatismo pós-paleozóicos de primeira ordem da bacia, denominada Megasse-
qüência Mesozóico-Cenozóica, constituída pelas se-
qüências Cretácea e Terciária. Estas, em conjunto,
Posteriormente, a bacia sofreu processos constituem o Grupo Javari (Eiras et al. 1994; Cunha et
distensivos, na direção leste-oeste, seguidos de magma- al. 1994), então representado pelas formações Alter
tismo básico na forma de enxames de diques e soleiras do Chão e Solimões, assentado diretamente sobre a
de diabásio orientados na direção norte-sul. Dentre os discordância do topo do Paleozóico, conhecida como
mais importantes, incluem-se os diques permo-jurássicos discordância pré-cretácea. Sugere-se, neste trabalho,
aflorantes em Rosarinho e Pantaleão, na porção ociden- a inclusão formal, neste Grupo, da Formação Marajó,
tal da bacia, e os diabásios juro-triássicos Cassiporé, no ocorrente na porção oriental da bacia.
Amapá, e Penatecaua, na borda norte da bacia (Thomaz Durante o Cretáceo, instalou-se um sistema flu-
Filho et al. 1974). A formação de dutos norte-sul para as vial de alta energia estendendo-se até as bacias

232 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


subandinas. Na Bacia do Amazonas, esse processo ori- Solimões, a formação homônima possui um zonea-
ginou a deposição dos arenitos grossos, variegados, da mento palinológico tripartite que corresponde ao Mio-
Formação Alter do Chão, além de arenitos e conglo- ceno, Mioceno/Plioceno e Plioceno (Cruz, 1984 apud
merados de fácies de planície e leques aluviais, restri- Eiras et al. 1994). A cunha argilosa denominada For-
tos à porção oriental da bacia. O clima nessa época mação Solimões, ocorrente por toda a bacia de mes-
era úmido, como o atestam as bandas ferrosas lateríticas mo nome, mal ultrapassa o Arco de Purus, estenden-
em alguns níveis arenosos da unidade e a paleodrena- do-se pouco além de sua porção oriental, já na Bacia
gem corria de leste para oeste, em direção ao Oceano do Amazonas.
Pacífico. Apesar dos vários parâmetros litológicos e Por outro lado, apesar da dificuldade de
faunísticos levarem à aceitação dentre os estudiosos datação dessa seção terciária, em virtude de sedi-
da bacia de um ambiente continental atuante durante mentos arenosos poucos fossilíferos, existe a possibi-
a deposição dessa unidade estratigráfica, um trabalho lidade dessa unidade estratigráfica ocorrer em algu-
recente (Rossetti e Neto, 2006), baseado em análises mas outras regiões da bacia, hipótese levantada por
faciológicas e iconológicas, em afloramentos próximos Costa (2002) através das análises de velocidades sís-
a Manaus, sugere um paleoambiente em que fluxos micas registradas em perfil sônico de poços e em
continentais oriundos de noroeste formaram um sis- seções sísmicas. Trabalho recente (Rozo et al. 2005)
tema deltaico, dominado por ondas, que progradou define uma unidade litológica arenosa datada do
para a bacia, no sentido leste ou sudeste, conectado à Terciário, nas proximidades de Manaus, denomina-
ambiente marinho. Tal hipótese não é dividida pelos da de Formação Novo Remanso, porém, devido à
autores do presente trabalho. sua reduzidíssima espessura e distribuição areal
Essa unidade (Formação Alter do Chão) é descontínua, torna-se de difícil representação gráfica
aqui considerada, apesar da inerente dificuldade na carta estratigráfica ora apresentada.
em datações devido ao seu enorme conteúdo are- No extremo leste da Bacia do Amazonas, ocor-
noso, e levando-se em conta os trabalhos palino- rem sedimentos predominantemente arenosos e secun-
lógicos, variando de idade desde o Cretáceo Infe- dariamente argilosos, datados do Paleógeno (Paleoce-
rior (Aptiano – Dino et al. 1999) até o Cretáceo no/Eoceno) em vários poços situados às imediações do
Superior (Maastrichtiano – Daemon e Contreiras, Arco de Gurupá (porção oriental e limite da bacia) com
1971), sendo, portanto, alterada em relação aos características distintas dos sedimentos terciários essen-
seus limites temporais retratados na Carta Estrati- cialmente argilosos da Formação Solimões (Mioceno/
gráfica de Cunha et al. (1994). Evidências recen- Plioceno). Correlacionamos esses sedimentos com aque-
tes dão conta da ocorrência de um paleossolo de- les associados à fase pós-rifte da Bacia do Marajó
senvolvido sobre essa unidade, correlacionado com (Galvão, 2004), oriundos de uma intensa deposição are-
a superfície SD1 (Horbe et al. 2001), considerada nosa sob condições flúvio-deltáicas e fluviais, com algu-
como palogênica (Paleoceno), idade esta consis- mas contribuições marinhas que ocorreram naquela
tente com os dados paleomagnéticos obtidos das bacia, tendo-se extrapolado para além do Arco de
crostas lateríticas do norte da cidade de Manaus, Gurupá, conectando-se com a porção oriental da Bacia
que indicam idades entre 70 Ma e 50 Ma. do Amazonas. Provavelmente, ocorrem ainda, sobre-
Após o soerguimento da cadeia Andina, essa postos, sedimentos cronoequivalentes à Formação Bar-
região foi isolada no Paleógeno e a conseqüente reiras (Mioceno), com comprovada distribuição em todo
compensação isostática deslocou o depocentro o litoral norte brasileiro.
terciário para a região subandina. Os rios cretáceos
transformaram-se em lagos rasos de água doce,
assoreados por rios meandrantes de baixa energia
que depositaram pelitos contendo níveis com restos
vegetais e conchas de moluscos, típicos da Forma- referências
ção Solimões, que se assenta em discordância sobre
a Formação Alter do Chão. Após a culminância do bibliográficas
soerguimento andino, no Mioceno, a bacia passou a
ser alimentada por sedimentos oriundos daquela ALMEIDA, F. F. M. Origem e evolução da plataforma
cadeia montanhosa e a rede de drenagem passou a brasileira. Boletim da Divisão de Geologia e Mi-
ser dirigida ao Oceano Atlântico. Na Bacia do neralogia, Rio de Janeiro, n. 241, p. 36, 1967.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 233


ALMEIDA, F. F. M.; HASUI, Y. O pré-cambriano do CUNHA, P. R. C.; GONZAGA , F. G.; COUTINHO, L. F. C.
Brasil. São Paulo: Blücher, 1984. 378 p. Bacia do Amazonas. Boletim de Geociências da Petro-
bras. Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 47-55., jan./mar. 1994.
CAPUTO, M. V.; RODRIGUES, R.; VASCONCELOS,
D. N. N. Nomenclatura estratigráfica da Bacia do CUNHA, P. R. C. Análise estratigráfica dos sedi-
Amazonas: histórico e atualização. In: CONGRESSO mentos eo-mesodevonianos da porção ocidental
BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 26., 1972, Belém. Anais. da Bacia do Amazonas sob a ótica da estratigra-
São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1972. fia de seqüências no interior cratônico. 2000. 263
v. 3, p. 35-46. p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Gran-
de do Sul, Porto Alegre, 2000.
CAPUTO, M. V. Stratigraphy, tectonics,
palaeoclimatology and palaeogeography of DAEMON, R. F.; CONTREIRAS, C. J. A. Zoneamento
northern basins of Brasil. 1984. 586 p. Thesis (PhD) palinológico da Bacia do Amazonas. In: CONGRES-
– University Califórnia, Santa Bárbara, 1984. SO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 25., São Paulo. Anais.
São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1971,
CAMPOS, J. N. P.; TEIXEIRA, L. B. Estilos tectônicos da v. 3, p. 79-88.
Bacia do Amazonas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
GEOLOGIA, 35.,1988, Belém, Anais. São Paulo: Socie- DERBY, O. A. Contribuições para a geologia da região do
dade Brasileira de Geologia, 1988. v. 5, p. 2161-2172. Baixo Amazonas. In. Archivos do Museu Nacional. Rio
de Janeiro: Museu Nacional, 1878. v. 2, p. 77-104.
CORDANI, U. G.; NEVES, B. B. B.; FUCK, R. A.; POR-
TO, R.; THOMAZ FILHO, A.; CUNHA, F. M. B. Estu- DINO, R.; SILVA, O. B.; ABRAHÃO, D. 1999. Caracte-
do preliminar de integração do pré-cambriano rização palinológica e estratigráfica dos estratos
com os eventos tectônicos das bacias sedimen- cretáceos da Fm. Alter do Chão, Bacia do Amazonas.
tares brasileiras. Rio de Janeiro: PETROBRAS, 1984. In: SIMPÓSIO SOBRE O CRETÁCEO DO BRASIL, 5., Rio
70 p., il., (Ciência Técnica Petróleo. Seção: Explora- Claro. Boletim de Resumos Expandidos. Rio Claro:
ção de petróleo, n. 15). Sociedade Brasileira de Geociências, 1999, p. 557-565.

CORDANI, U. G.; SATO, K.; TEIXEIRA, W.; EIRAS, J. F.; BECKER, C. R.; SOUZA, E. M.; GONZAGA,
TASSINARI, C. C. G.; BASEI, M. A. S. Crustal F. G.; SILVA, J. G. F.; DANIEL, L. M. F.; MATSUDA, N.
evolution of the South American Plataform. In: S.; FEIJÓ, F. J. Bacia do Solimões. Boletim de
CORDANI, U. G.; MILANI, E. J.; THOMAZ FILHO, Geociências da Petrobrás. Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
A., CAMPOS, D. A. (Ed.). Tectonic Evolution of p. 17-45. jan./mar. 1994
South America. Rio de Janeiro: [s.n.]: 2000. p.
19-40. International Geological Congress, 31., 2000, GALVÃO, M. V. G. Bacias sedimentares brasileiras:
Rio de Janeiro. Bacia de Marajó. Aracajú: Fundação Paleontológica
Phoenix, 2004. (Série Bacias Sedimentares, ano 6, n. 67).
COSTA, A. R. A. Tectônica cenozóica e movimen-
tação salífera na Bacia do Amazonas e suas re- GRADSTEIN, F.; OGG, J.; SMITH, A. A geologic time
lações com a geodinâmica das placas da Améri- scale. Cambridge: University Cambridge, 2004. 589 p.
ca do Sul, Caribe, Cocos e Nazca. 2002. 238 p.
Tese (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, GRAHN, Y. Silurian and Lower Devonian chitinozoan
Belém, 2002. taxonomy and biostratigraphy of the Trombetas Group,
Amazonas Basin, northern Brazil. Bulletin of
COSTA, M. G. F. Fácies deposicionais e ambien- Geosciences, Prague, v. 80, n. 4, p. 245-276, 2005.
tes de sedimentação da Formação Monte Alegre
(neocarbonífero) na área de Autás Mirim e HORBE, A. M. C.; NOGUEIRA, A. C. R.; HORBE, M. A.;
adjacências, Bacia do Médio Amazonas. 1984. 90 COSTA, M. L.; SUGUIO, K. A laterização na gênese
p., il. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de Per- das superficies de aplainamento da região de Presiden-
nambuco, Recife, 1984. te Figueiredo-Balbina, nordeste do Amazonas. In: REIS,

234 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


N. J.; MONTEIRO, M. A. S. Contribuição à Geologia gie, Stuttgart, n. 255, p.1-46, 2000.
da Amazônia. Manaus: Sociedade Brasileira de
Geociências, 2001, v. 2. PROEMB / FADESP / UFPA / CG. Projeto Proemb: o
papel do embasamento pré-cambriano no desenvol-
KAUFFMANN, B. Calibrating the devonian time scale: vimento dos sistemas de riftes mesozóicos e evolução
a synthesis of U–Pb ID–TIMS ages and conodont paleogeográfica do litoral norte do Brasil. Belém:
stratigraphy. Earth-Science Reviews, Amsterdan, v. UFPA/CG, 2005.
76, n. 1-2, p. 175-190, May 2006.
ROSSETTI, D. F.; NETTO, R. G. First evidence of marine
LANGE, F. W. Subdivisão bioestratigráfica e revisão influence in the Cretaceous of the Amazonas Basin,
da coluna siluro-devoniana da Bacia do Baixo Ama- Brazil. Cretaceous Research, London, v. 27, n. 4,
zonas. In: SIMPÓSIO SOBRE A BIOTA AMAZÔNICA, p.513-528, Aug. 2006.
Belém. Atas. Belém: Conselho Nacional do Petró-
leo, 1967. v. 1, p. 215-236, il. ROZO, J. M. G.; NOGUEIRA, A. C. R.; HORBE, A. M.
C.; CARVALHO, A. S. Depósitos neógenos da Bacia do
LEMOS, V. B. Assembléias de conodontes do Amazonas. In: HORBE, A. M. C.; SOUZA, V. S. (Org.)
carbonífero da Bacia do Amazonas. 1990. 1 v. Contribuições à Geologia da Amazônia. Manaus:
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Gran- Sociedade Brasileira de Geologia, 2005. v. 4.
de do Sul, Porto Alegre, 1990.
SILVA, O. B. Ciclicidade sedimentar no pensilvania-
LOBOZIAK, S.; MELO, J. H. G.; MATSUDA, J. H. no da Bacia do Amazonas e o controle dos ciclos
G.; QUADROS, L. P. Miospore biostratigraphy of de sedimentação na distribuição estratigráfica dos
the type Barreirinha Formation (Curuá Group, upper conodontes, fusulinídeos e palinomorfos. 1996. 331
devonian) in the Tapajós River area, amazon Basin, p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Gran-
North Brazil. Bulletin des Centres de Recherches de do Sul, Porto Alegre, 1996.
Exploration-Production Elf Aquitaine, Pau, v.
21, n. 1, p. 187-205, 1997. THOMAZ FILHO, A.; CORDANI, U. G.; MARINO, O.
Idades K-Ar de rochas basálticas da Bacia Amazônica
LOBOZIAK, S.; MELO, J. H. G.; QUADROS, L. P.; e sua significação tectônica regional. In: CONGRES-
STREEL, M. Palynological evaluation of the SO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 28., 1974, Porto Ale-
Famennian Protosalvinia (Foerstia) Zone in the gre. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Geo-
Amazon Basin, northern Brazil: a preliminary study. logia, 1974. v. 6, p. 273-278.
Review of Palaeobotany and Palynology: an
international journal, Amsterdan, v. 96, n. 1-2, p. WANDERLEY FILHO, J. R.; MELO, J. H. G.; FONSECA,
31-45, Mar. 1997. V. M. M.; MACHADO, D. M. C. Bacias sedimentares
brasileiras: Bacia do Amazonas. Phoenix, Aracajú:
LUDWIG, G. Divisão estratigráfico-faciológica do ano 7, n. 82, 2005.
paleozóico da Bacia Amazônica. Rio de Janeiro:
PETROBRAS, 1964. 72 p. (Ciência Técnica Petróleo. ZALÁN, P. V. Influence of Pré-Andean orogenies on
Seção: Exploração de petróleo, n. 1). the paleozoic Intracratonic Basins of South América.
In: SIMPÓSIO BOLIVARIANO, 4., 1991, Bogotá. Anais.
MELO, J. H. G.; LOBOZIAK, S. Devonian-Early Bogotá: Asociation Colombiana de Geologos y
Carboniferous miospore biostratigraphy of the Amazon Geofísicos del Petróleo, 1991. Tomo I, Trabajo 7.
Basin, Northern Brazil. Review of Palaeobotany and
Palynology: an international journal, Amsterdan, ZALÁN, P. V. Evolução fanerozóica das bacias sedimenta-
v. 124, n. 3-4, p. 131-202, May/2003. res brasileiras. In: Geologia do continente sul-ameri-
cano: evolução da obra de Fernando Flávio Marques de
PLAYFORD, G.; DINO, R. Palynostratigraphy of upper Almeida. São Paulo: Beca, 2004. p. 595-612.
Palaeozoic strata (Tapajós Group), Amazonas Basin,
Brazil.Palaeontographica. Abt. B. Palaeophytolo-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 235


bibliografia
GRAHN, Y. Ordovician Chitinozoa and biostratigraphy
of Brazil. Geobios, [S.l], v. 25, n. 6, p. 703-723. 1991.

GRAHN, Y.; PARIS, F. Age and correlation of the Trom-


betas Group, Amazonas Basin, Brazil. Revue de
Micropaléontologie, Paris, n. 35, p. 197-209, 1992.

TRINDADE, R. I. F.; HORBE, A. M. C.; PEIXOTO, S. F.


Paleomagnetismo de crostas lateríticas na região
amazônica: dados preliminares e implicações crono-
lógicas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
43., 2006. Aracaju. Anais. São Paulo: Sociedade Bra-
sileira de Geologia, 2006. p. 136.

236 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


apêndice:
litoestratigrafia
Grupo Trombetas/Formação
Jatapu
A Seqüência Ordovício-Devoniana registra o
estágio inicial de deposição na sinéclise. As rochas
dessa seqüência compõem o Grupo Trombetas
(Ludwig, 1964), composto pelas seguintes forma-
ções: Autás Mirim, neo-ordoviciana (Caradoc? -
Ashgill); Nhamundá, eossiluriana (Llandovery –
Wenlock inferior); Pitinga, siluriana (Llandovery
médio – Pridoli inferior) e Manacapuru, neosssilu-
riana – eodevoniana (Ludlow superior – Lochkoviano
inferior) (Grahn, 2005).
Propõe-se, aqui, formalmente, a inclusão,
no Grupo Trombetas, da Formação Jatapu, antigo
Membro Jatapu, da Formação Maecuru (do Grupo
Urupadi). Formaliza-se, aqui, inclusive, sua mu-
dança de categoria hierárquica (de membro para
formação) e o seu deslocamento para o Grupo
Trombetas (fig. 1).

• nome: a Formação Jatapu tem seu nome de-


rivado do Rio Jatapu, no Estado do Amazonas
e foi proposto por Lange (1967);
• equivalência regional: com base em dados
bioestratigráficos e de correlações estratigrá-
ficas regionais, esta unidade pode ser corre-
lacionada com as formações Jutaí – porção
superior (Bacia do Solimões), Icla – porção
basal (Bacia Subandina Boliviana) e Furnas
(Bacia do Paraná);
• seção tipo: como perfil-tipo para a Forma-
ção Jatapu, indica-se, aqui, o intervalo entre
2.255 m/2.317 m do poço Urubu no. 1 (1-UR-
1-AM; 03º 05’ 53" S e 58º 41’ 57" W), perfu-
rado em 1958 (fig. 2);
• litologia: é constituída por arenitos finos a mé-
dios, siltitos e folhelhos micáceos bioturbados
subordinados, depositados em ambiente mari-
nho raso/transgressivo na base, com níveis
sideríticos e hematíticos, passando a depósitos Figura 1 – Perfil de referência do Grupo Figure 1 – Trombetas Group reference

progradacionais deltaicos dominados por ma- Trombetas. section.

rés, na sua porção superior;

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 237


• distribuição: ocorre em quase toda a bacia,
inclusive aflorando nas bordas norte e sul, pos-
suindo fácies de leques deltaicos nas bordas
da bacia, passando para finos de frentes
deltaicas e lamitos de offshore, em direção ao
eixo deposicional da bacia;
• contato e relações estratais: os sedimentos des-
sa unidade assentam-se concordantemente aos
da unidade subjacente, a Formação Manacapuru.
O contato superior, entretanto, apresenta-se como
discordante com a Formação Maecuru;
• idade: a Formação Jatapu encontra-se data-
da, através da palinologia, como de idade
lochkoviana a eo-emsiana (Melo e Loboziak,
2003). Não se detecta descontinuidade tem-
poral significativa entre sua base e a unidade
subjacente, a Formação Manacapuru. Em con-
traste, ocorre um considerável hiato temporal/
deposicional entre o topo da unidade Jatapu e
a base da unidade sobreposta, a Formação
Maecuru (ou mais especificamente o antigo
Membro Lontra dessa mesma formação). Essa
interpretação baseia-se em dados palinológi-
cos, que acusam a ausência regional das
biozonas emsianas AB e FD do zoneamento de
miósporos da Europa Ocidental, equivalentes
no seu conjunto às zonas internacionais de
conodontes gronbergi até serotinus ou mesmo
patulus (Melo e Loboziak, 2003). Tal hiato, ob-
servado por toda a Bacia do Amazonas, impli-
caria num intervalo temporal mínimo variando
entre 7 Ma e 16 Ma, conforme a escala geo-
cronométrica admitida para o Devoniano
(Gradstein et al. 2004; Kauffmann, 2006). Hia-
tos equivalentes também têm sido observados
em outras bacias paleozóicas no Brasil (Parnaíba
e Paraná) e na Bolívia.

Grupo Urupadi/Formação
Maecuru
O Grupo Urupadi, inicialmente proposto e de-
nominado por Santos et al. (1975) in Caputo (1984),
abrangendo as formações Trombetas, Maecuru e
Ererê, foi redefinido por Caputo (1984) constituído
pelas formações Maecuru e Ererê. A Formação
Figura 2 – Perfil-tipo da Formação Jatapu. Figure 2 – Jatapu Formation reference
Maecuru era dividida nos Membros Jatapu e Lontra. section.
Neste trabalho, é redefinido mais uma vez este
grupo, considerando as formações Maecuru e Ererê,

238 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


mas descartando os Membros Jatapu e Lontra. O pri-
meiro - Membro Jatapu - está sendo elevado hierar-
quicamente para Formação, porém, fazendo parte
agora do Grupo Trombetas subjacente, conforme dis-
cutido acima. Dessa forma, a Formação Maecuru o
Lat. = 03 17’ 06” S

constitui-se basicamente do antigo membro Lontra. Altitude = 26m o


Long. = 59 52’ 24” W

Como perfil-tipo para o Grupo Urupadi, ora


redefinido, indicamos o intervalo entre 1.319 m/1.450
m do poço Autás Mirim no. 1 (1-AM-1-AM; 03º 17’
06" S e 59º 52’ 24" W) perfurado em 1959 (fig. 3).

• nome: o nome da Formação Maecuru foi pro-


posto por Lange (1967), derivado do Rio
Maecuru, no Estado do Amazonas;

• equivalência regional: com base em dados


bioestratigráficos e de correlações estratigrá-
ficas regionais, esta unidade pode ser
correlacionada com as formações Uerê – por-
ção inferior (Bacia do Solimões), Itaim (Bacia
do Parnaíba), Icla – porção superior
(Subandina Boliviana) e Ponta Grossa – por-
ção inferior (Bacia do Paraná);

• seção tipo: como perfil-tipo para a Forma-


ção Maecuru, indica-se aqui o intervalo en-
tre 1.390 m/1.450 m do poço Autás Mirim
no.1 (1-AM-1-AM; 03º 17’ 06" S e 59º 52’
24" W) perfurado em 1959 (fig. 3);
• litologia: é constituída por arenitos finos a
grossos, ferruginosos, em parte bioturbados
e fossilíferos, silicificados; pelitos e cherts
subordinados;
• distribuição: ocorre em quase toda a bacia,
inclusive aflorando nas bordas norte e sul, pos-
suindo fácies flúvio-deltaica nas bordas da
bacia, passando para finos de fácies
estuarinas, ilhas de barreiras e shoreface do-
minado por ondas, em direção ao eixo depo-
sicional da bacia;
• contato e relações estratais: os sedimentos
Folhelho Siltito Arenito
dessa unidade assentam-se discordantemente
aos da unidade subjacente, a Formação Jatapu.
O contato superior, entretanto, apresenta-se
concordante com a Formação Ererê;
• idade: a Formação Maecuru, composta de
arenitos e pelitos neríticos/deltáicos, tem ida-
de neo-emsiana/eo-eifeliana.
Figura 3 – Perfil de referência do Grupo Figure 3 – Urupadi Group reference section.
Urupadi.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 239


Grupo Urupadi/Formação Ererê
• nome: o nome da Formação Ererê foi propos-
to por Lange (1967) e é derivado das monta-
o

nhas de Ererê, no município de Monte Ale- Lat. = 04 16’ 25” S


o
Altitude = 40m Long. = 58 42’ 46” W
gre, no Estado do Pará;
GR (gr API) RILD (ohm.m) Dt (us/ft)
• equivalência regional: com base em dados Prof. (m) 0
3150
150 0 20 140 40
Fm. Monte Alegre

Tapajós
bioestratigráficos e de correlações estratigrá-

Gr.
ficas regionais, esta unidade pode ser correla- 3176
Fm. Faro
cionada com as formações Jandiatuba/Uerê –
3200
porção inferior (Bacia do Solimões), Itaim – 3209
Fm. Oriximiná
porção superior /Pimenteira – porção inferior
(Bacia do Parnaíba), Huamampampa
(Subandina Boliviana e Ponta Grossa – porção 3250

inferior/média (Bacia do Paraná);


3285
• seção tipo: como perfil-tipo para a Formação Fm. Curiri
Ererê, indica-se, aqui, o intervalo entre 1.319 m 3300

/1.390 m do poço Autás Mirim no.1 (1-AM-1-AM;

á
03o 17’ 06" S e 59º 52’ 24" W) perfurado em
1959 (fig. 3);

u
3350

• litologia: é constituída por siltitos, arenitos e fo-

r
lhelhos fossilíferos bioturbados, comumente apre-

u
sentando estruturas wavy-linsen e hummocky nos 3400

C
3407
psamitos. Pelitos predominam na porção meso- Fm. Barreirinha
Mb. Urariá
inferior e os psamitos na porção superior;

G r.
3450
• distribuição: ocorre em toda a bacia, inclusive 3463

aflorando nas bordas norte e sul, possuindo fácies Fm. Barreirinha


Mb. Urubu
de deltas e plataformas dominadas por tempes-
tades. Folhelhos radioativos marcam intervalo de 3500

inundação máxima, próximo à base da unidade


3530
e se aproxima do flanco sul da bacia; Fm. Barreirinha
Mb. Abacaxis
• contato e relações estratais: os sedimentos 3550

dessa unidade assentam-se concordantemen-


te aos da unidade subjacente, a Formação
Maecuru. O contato superior apresenta-se dis- 3600 3606

Gr. Urupadi
cordante com a Formação Barreirinha, salvo Fm. Ererê

nas porções centrais da bacia;


• idade: a Formação Ererê, composta de siltitos, fo- 3650
Diamictito Folhelho Siltito Arenito
lhelhos e arenitos neríticos/parálicos tem idade neo-
eifeliana/eo-givetiana (Melo e Loboziak, 2003).

Grupo Curuá/Formação
Barreirinha/Membro Abacaxis
Figura 4 – Perfil-tipo do Grupo Curuá. Figure 4 – Curuá Group reference section.
Neste trabalho, é proposta a redefinição do Gru-
po Curuá, com a exclusão formal da Formação Faro
desse grupo estratigráfico, que passa a ser constituído

240 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


apenas por três formações: Barreirinha, Curiri e
Oriximiná. É proposto, como Seção-Tipo para este gru-
po, o intervalo entre 3.209 m e 3.606 m do poço Abaca-
xis no. 1 (1-AX-1-AM; 04º 16’ 25" S e 58º 42’ 46" W)
perfurado em 1973 (fig. 4). O desmembramento da
Formação Faro como unidade autônoma é justificada
pela ausência de sedimentos neo-tournaisianos a
eoviseanos na Bacia do Amazonas, perfazendo um
hiato regional com duração de cerca de 12 Ma a 14 Ma,
conforme datações recentes (Melo e Loboziak, 2003)
calibradas com a escala geocronométrica de Gradstein
et al. (2004). Propomos ainda a divisão da Formação
Barreirinha em três membros: Abacaxis, Urubu e Urariá,
tal como apresentado a seguir.

• nome: o nome do Membro Abacaxis (da For-


mação Barreirinha) que está sendo proposto
formalmente, aqui, neste trabalho, deriva do
Rio Abacaxis, no Estado do Amazonas;
• equivalência regional: com base em dados
bioestratigráficos e de correlações estratigráfi-
cas regionais, esta unidade pode ser
correlacionada com as formações Jandiatuba
– porção mediana (Bacia do Solimões), Pimen-
teira – porção superior (Bacia do Parnaíba),
Iquiri – porção basal (Suabandina Boliviana) e
Ponta Grossa – porção superior (Bacia do
Paraná);
• seção tipo: como perfil-tipo para o Membro
Abacaxis, indica-se, aqui, o intervalo entre
1.525 m/1.602 m do poço Rio Abacaxis no. 2
(1-RX-2-AM; 04º 35’ 47" S e 58º 11’ 43" W)
perfurado em 1960 (fig. 5);
• litologia: é constituída por folhelhos negros,
bem laminados e físseis, muito radioativos,
ricos em matéria orgânica, com níveis subor-
dinados de siltitos e arenitos finos;
• distribuição: ocorre em quase toda a bacia,
inclusive aflorando nas bordas norte e sul,
porém com seu limite ocidental mais afasta-
do do Arco de Purus, comparando-se com a
unidade subjacente. Esse membro foi deposi-
tado sob regime de sedimentação condensada
em ambiente marinho distal e euxínico. Esses
folhelhos orgânicos correspondem à superfí-
cie de inundação máxima (SIM) da Seqüên-
cia Devono-tournaisiana (Cunha, 2000) e se
configuram nos melhores geradores de hidro- Figura 5 – Perfil-tipo do Membro Abacaxis. Figure 5 – Abacaxis Member reference
carbonetos da bacia; section.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 241


• contato e relações estratais: os sedimentos
dessa unidade assentam-se discordantemente
aos da unidade subjacente, a Formação Ererê,
salvo nas regiões centrais da bacia. O contato
superior apresenta-se concordante com o Mem-
bro Urubu da mesma Formação Barreirinha;
• idade: o Membro Abacaxis tem idade que varia
do eofrasniano até o eo- ou mesofameniano (se-
gundo as palinozonas de Melo e Loboziak, 2003,
calibradas pela escala de Gradstein et al. 2004).

Grupo Curuá/Formação
Barreirinha/Membro Urubu
• nome: o nome do Membro Urubu (da Forma-
ção Barreirinha) que está sendo proposto for-
malmente, aqui, neste trabalho, deriva do Rio
Urubu, no Estado do Amazonas;
• equivalência regional: com base em dados
bioestratigráficos e de correlações estratigráfi-
cas regionais, esta unidade pode ser
correlacionada com as formações Jandiatuba –
porção mediana (Bacia do Solimões), Pimentei-
ra – porção superior (Bacia do Parnaíba), Iquiri –
porção mediana (Suabandina Boliviana) e Mem-
bro São Domingos da Fm. Ponta Grossa – por-
ção superior (Bacia do Paraná);
• seção tipo: como perfil-tipo para o Membro
Urubu, indica-se, aqui, o intervalo entre 1.895
m/1.965 m do poço Rio Urubu no. 1 (1-UR-1-
AM; 03º 05’ 53" S e 58º 51’ 47" W) perfura-
do em 1958 (fig. 6);
• litologia: é constituída por folhelhos escuros,
pouco físseis, menos radioativos e menos ri-
cos em matéria orgânica que o Membro Aba-
caxis, com níveis subordinados de siltitos;
• distribuição: ocorre em quase toda a bacia,
inclusive aflorando nas bordas norte e sul, se-
melhante ao membro subjacente, sendo depo-
sitado sob regime de sedimentação em ambi-
ente marinho distal passando para raso, no topo;
• contato e relações estratais: os sedimentos
dessa unidade assentam-se concordantemente
aos da unidade subjacente, o Membro Abacaxis
da mesma Formação Barreirinha. O contato su- Figura 6 – Perfil-tipo do Membro Urubu. Figure 6 – Urubu Member reference section.
perior apresenta-se também concordante com o
Membro Urariá da mesma Formação Barreirinha;

242 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


• idade: o Membro Urubu tem idade que varia do
meso- ao neo-fameniano (Melo e Loboziak, 2003).

Grupo Curuá/Formação
Barreirinha/Membro Urariá
Essa unidade, correspondente ao terço supe-
rior da Formação Barreirinha, era antes atribuída à
parte inferior da Formação Curiri, e que vinha sendo
referida por alguns autores como “Curiri inferior” (Lo-
boziak et al. 1997a, 1997b; Melo e Loboziak, 2003).
É aqui proposta como novo membro (terço superior)
da Formação Barreirinha.

• nome: o nome do Membro Urariá (da For-


mação Barreirinha), que está sendo proposto
formalmente neste trabalho, deriva do Rio
Urariá, no Estado do Amazonas;
• equivalência regional: com base em dados
bioestratigráficos e de correlações estratigráfi-
cas regionais, esta unidade pode ser
correlacionada com as formações Jandiatuba –
porção superior (Bacia do Solimões), Pimenteira
– porção superior (Bacia do Parnaíba), Iquiri –
porção superior (Suabandina Boliviana);
• seção tipo: como perfil-tipo para o Membro
Urariá, indica-se, aqui, o intervalo entre 3.005
m/3.093 m do poço Rio Urariá no. 2 (1-UA-2-
AM; 03º 45’ 22" S e 58º 46’ 42" W) perfurado
em 1973 (fig. 7);
• litologia: é constituída por siltitos e subordi-
nadamente folhelhos e arenitos com estrutu-
ras wavy e linsen, diamictitos ausentes,
bioturbações (Spirophyton) e plantas fósseis
(Protosalvinia spp.) são abundantes;
• distribuição: ocorre, a exemplo do membro
subjacente, em quase toda a bacia, inclusive
aflorando nas bordas, sendo depositado sob re-
gime de sedimentação em ambiente marinho
francamente regressivo, passando de distal na
base, para raso no topo (disóxico/óxico);
• contato e relações estratais: os sedimentos
dessa unidade assentam-se concordantemente
aos da unidade subjacente, o Membro Urubu
da mesma Formação Barreirinha. O contato su- Figura 7 – Perfil-tipo do Membro Urariá. Figure 7 – Urariá Member reference
perior apresenta-se em discordância erosiva section.
com a Formação Curiri;

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 243


• idade: o Membro Urariá tem idade neofame-
niana (Melo e Loboziak, 2003).

Grupo Curuá/Formação Curiri o


Lat. = 04 16’ 25” S
o
Altitude = 40m Long. = 58 42’ 46” W

Com a exclusão da antiga seção considera- GR (gr API) RILD (ohm.m) Dt (us/ft)
da por vários estudiosos como “Curiri-inferior”, ago- Prof. (m) 0 150 0 20 140 40
3150
Fm. Monte Alegre

Tapajós
ra denominada como Membro Urariá da Formação

Gr.
Barreirinha, torna-se necessária a redefinição da For- 3176
Fm. Faro
mação Curiri, separada da unidade subjacente por
3200
uma discordância temporal de curta duração, relacio- 3209
Fm. Oriximiná
nada à brusca queda glácio-eustática do nível do mar
àquela época.
3250
• nome: o nome Curiri deriva do Igarapé Curiri,
afluente do Rio Urupadi, no Estado do Pará e 3285
foi proposto por Lange (1967); Fm. Curiri
3300

• equivalência regional: com base em dados


bioestratigráficos e de correlações estratigráfi-
cas regionais, esta unidade pode ser 3350

á
correlacionada com as formações Uerê – por-

u
ção superior (Bacia do Solimões) e Longá (Ba-

r
cia do Parnaíba);

u
3400 3407

C
• perfil de referência: como perfil de referên- Fm. Barreirinha
Mb. Urariá
cia para a Formação Curiri, indica-se aqui o

G r.
intervalo entre 3.285 m/3.407 m do poço Aba- 3450
3463
caxis no. 1 (1-AX-1-AM; 04º 16’ 25" S e 58º Fm. Barreirinha
Mb. Urubu
42’ 46" W) perfurado em 1973 (fig. 8);
• litologia: é constituída essencialmente por dia- 3500

mictitos e, secundariamente, por siltitos e folhe-


3530
lhos com dropstones, além de arenitos, com for- Fm. Barreirinha
Mb. Abacaxis
mas lobadas e acanaladas, incisos nos pelitos; 3550

• distribuição: ocorre em quase toda a bacia,


inclusive em afloramentos nas bordas norte e
sul, sendo depositada sob regime de sedimen- 3600 3606

Gr. Urupadi
Fm. Ererê
tação em ambiente glácio-marinho com fácies
pelíticas e fácies de leques deltaicos com for-
te influência glacial junto às margens, devido 3650
Diamictito Arenito
à regressão máxima do final do Devoniano; Folhelho Siltito

• contato e relações estratais: os sedimen-


tos dessa unidade assentam-se discordante-
mente aos da unidade subjacente, o Mem-
bro Urariá da Formação Barreirinha. O con-
tato superior apresenta-se em concordância
com a Formação Oriximiná;
Figura 8 – Perfil de referência da Formação Figure 8 – Curiri Formation reference
• idade: a Formação Curiri tem idade Curiri. section.
fameniana terminal ou “struniana” (Melo e
Loboziak, 2003).

244 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


Obs.: A Seqüência Devono-Tournaisiana é
complementada pela Formação Oriximiná, de ida-
de “struniana” a mesotournaisiana (Melo e
Loboziak, 2003). Aspectos litoestratigráficos e de-
posicionais dessa unidade devem ser vistos na Car-
ta Estratigráfica da Bacia do Amazonas (Cunha
et al. 1994). Como perfil de referência, aponta-
mos o intervalo entre 2.243 m/2.390 m do poço
2-LF-1-AM (fig. 9).

Formação Faro
Após a deposição da Seqüência Devono-
Tournaisiana, uma intensa atividade tectônica
atuou nas margens da Placa Sul-Americana: a
orogenia Acadiana ou Chanica, ocasionando soer-
guimento e erosão dessa seqüência, e originando
a discordância que a separa da unidade sobrepos-
ta, a Formação Faro. Conforme já mencionado, a
duração desse hiato pode atingir 14 Ma, segundo
recentes datações palinológicas (Melo e Loboziak,
2003). A Formação Faro, isoladamente, constitui
a ora chamada Seqüência Neoviseana.

• nome: o nome Faro deriva da área da cidade


de Faro, no Rio Nhamundá, nas proximidades
do limite entre os estados do Pará e do Ama-
zonas; proposto por Caputo et al. (1972),
embora tenha sido utilizado, preliminarmen-
te, por Lange (1967), que considerou essa uni-
dade rochosa como membro;
• equivalência regional: com base em da-
dos bioestratigráficos regionais, esta uni-
dade não encontra correlação cronoestra-
tigráfica com as demais bacias paleozóicas
brasileiras;
• perfil de referência: como perfil de referên-
cia para a Formação Faro, indica-se aqui o
intervalo entre 2.129 m/2.243 m do poço Lago
do Faro no. 1 (2-LF-1-AM; 01º 57’ 20" S e 56º
58’ 17" W) perfurado em 1963 (fig. 10);
• litologia: é constituída essencialmente
por arenitos argilosos e bioturbados, e, se-
cundariamente, por pelitos mais expressi-
vos na porção superior da unidade e nas
Figura 9 – Perfil de referência da Formação Figure 9 – Oriximiná Formation reference
regiões mais centrais da bacia;
Oriximiná. section.
• distribuição: ocorre apenas nas partes
mais centrais da bacia, registrada em sub-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 245


superfície, depositada em ambiente flúvio-
deltaico a marinho raso dominado por ondas
de tempestades;
• contato e relações estratais: os sedimentos des-
sa unidade assentam-se discordantemente aos da
unidade subjacente, a Formação Oriximiná. O con-
tato superior, afetado pelo recuo do mar associa-
do à orogenia Eo-Herciniana, ou Ouachita, que
proporcionou um extenso processo erosivo nessa
seqüência, apresenta-se também discordante com
a Formação Monte Alegre;
• idade: a Formação Faro tem idade neoviseana
(Melo e Loboziak, 2003).

Formação Nova Olinda/


Membro Fazendinha
Após um hiato temporal de cerca de 15 Ma, um
novo ciclo deposicional de natureza transgressivo-regres-
siva tomou lugar na Sinéclise do Amazonas, durante o
Neocarbonífero. Trata-se da quarta seqüência de segun-
da ordem da trama estratigráfica da bacia: a denomina-
da Seqüência Pensilvaniano-Permiana, constituída pelas
formações Monte Alegre, Itaituba, Nova Olinda e Andirá,
reunidas no Grupo Tapajós (fig. 11).
Aspectos litoestratigráficos e deposicionais, re-
lacionados às unidades Monte Alegre e Itaituba
(subjacentes) e Andirá (sobrejacente), devem ser vis-
tos na Carta Estratigráfica da Bacia do Amazonas (Cu-
nha et al. 1994).
É proposta a formalização da divisão da For-
mação Nova Olinda em duas unidades de categoria
hierárquica inferior, os membros: Fazendinha, basal,
e Arari, superior, conforme discutido a seguir.

• nome: o nome Fazendinha deriva da área de


Fazendinha, localidade a Nordeste da cidade de
Nova Olinda, no Estado do Amazonas, uma área
de prospecção de sais de interesse econômico,
com vários poços perfurados pela Petromisa, an-
tiga subsidiária mineradora da Petrobras;
• equivalência regional: com base em da-
dos bioestratigráficos e de correlações es-
tratigráficas regionais, esta unidade pode ser
correlacionada com as formações Carauari
– porção mediana (Bacia do Solimões) e Piauí Figura 10 – Perfil de referência da Figure 10 – Faro Formation reference
(Bacia do Parnaíba); Formação Faro. section.

246 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


• perfil tipo: como perfil-tipo para o Membro
Fazendinha, indica-se, aqui, o intervalo entre
1.042 m/1.875 m do poço Fazendinha no. 2
(9-FZ-2-AM; 03º 42’ 42" S e 58º 56’ 21" W) Lat. = 03o 52’ 52” S
perfurado em 1974 (fig. 12); Altitude = 39m o
Long. = 59 05’ 05” W

GR (gr API) RLN (ohm.m)


• litologia: é constituído essencialmente por fo- 0 150 0 200
lhelhos, carbonatos, anidritas, halitas e, local- Prof. (m)

Javari
500 Fm. Alter do Chão

Gr.
mente, sais mais solúveis como silvita, impor-
590
tante mineral para a indústria de fertilizantes; 600
Fm. Andirá
• distribuição: ocorre em quase toda a bacia, 700
desde as proximidades dos afloramentos 780
800
permocarboníferos, nas bordas norte e sul da Fm. Nova Olinda
bacia, registrando uma contração de sua dis- 900 Mb. Arari
tribuição em área, para oeste, ao se subir na 1000
seção temporal, em subsuperfície. Esses se-
dimentos, essencialmente químico- 1100
evaporíticos, foram depositados em ambien- 1200
1181
tes: marinho raso, de planícies de sabkha e Fm. Nova Olinda
1300 Mb. Fazendinha
lagos hipersalinos;

s
• contato e relações estratais: os sedimen- 1400

ó
tos dessa unidade assentam-se concordante- 1500
mente aos da unidade subjacente, a Forma-

j
1600
ção Itaituba. O contato superior é também

a
concordante com o Membro Arari; 1700

p
• idade: o Membro Fazendinha tem idade 1800

a
desmoinesiana (Moscoviano), abrangendo as
1900

T
palinozonas Striatosporites heyleri e Raistrickia
cephalata de Playford e Dino (2000). 2000

G r.
2075
2100
Fm. Itaituba
Formação Nova Olinda/ 2200

Membro Arari 2300

2400 2418
• nome: o nome Arari deriva da área do Rio Arari, Fm. Monte Alegre
2500 Fm. Faro 2471
afluente do Rio Maués, no Estado do Amazo- Fm. Oriximiná 2494
nas, próximo à área de Fazendinha, onde ocor-

Gr. Curuá
2600
Fm. Curiri 2589
re grande jazida de sais de interesse econômi-
2700
co, conforme mencionado anteriormente;
2800 Fm. Barreirinha 2750
• equivalência regional: com base em dados
Siltito Calcário Halita Diamictito
bioestratigráficos e de correlações estratigrá-
Arenito Folhelho Anidrita Diabásio
ficas regionais, esta unidade pode ser corre-
lacionada com as formações Carauari – por-
ção mediana-superior (Bacia do Solimões) e
Piauí (Bacia do Parnaíba);
• perfil tipo: como perfil-tipo para o Membro Figura 11- Perfil de referência do Grupo Figure 11 – Tapajós Group reference section.
Arari, indica-se, aqui, o intervalo entre 940 m/ Tapajós.
1.710 m do poço Arari no. 1A (1-AR-1A-AM;

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 247


03º 36’ 09" S e 58º 12’ 22" W) perfurado
em 1958 (fig. 13);
• litologia: é constituído essencialmente por
carbonatos sem fósseis marinhos, folhelhos
e siltitos com pacotes de halitas
cristaloblásticas;
• distribuição: ocorre, a exemplo do membro
subjacente, em quase toda a bacia, atingin-
do quase os afloramentos permocarboníferos
nas bordas norte e sul. A exemplo do Mem-
bro Fazendinha, o Membro Arari registra uma
diminuição em área de ocorrência, para oes-
te, ao se subir na seção, em tempo. Esses
sedimentos registram a forte regressão ocor-
rida na bacia com a deposição de halitas com
argilas na sua trama interna, resultantes de
retrabalhamento de seções salíferas mais an-
tigas que foram soerguidas nas bordas da
bacia e redepositadas nas áreas centrais;
• contato e relações estratais: os sedimen-
tos dessa unidade assentam-se concordante-
mente aos da unidade subjacente, o Mem-
bro Fazendinha. O contato superior é discor-
dante com a Formação Andirá;
• idade: o Membro Arari tem idade ainda inde-
finida e em discussão, pela deficiência de fós-
seis diagnósticos. Os conodontes conferem-lhe
idade virgiliana (Lemos, 1990), correspondendo
ao Kasimoviano e Gzheliano, que é adotada
nesse estudo, ao passo que a palinologia su-
gere idade permiana (Zona Vittatina costabilis
de Playford e Dino, 2000). Porém, tal contro-
vérsia parece refletir na verdade confusões na
identificação do limite litoestratigráfico Nova
Olinda/Andirá, ao invés de divergências pura-
mente bioestratigráficas.

Figura 12 – Perfil-tipo do Membro Figure 12 – Fazendinha Member reference


Fazendinha. section.

248 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


Figura 13 – Perfil-tipo do Membro Arari. Figure 13 – Arari Member reference
section.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 249


BACIA DO AMAZONAS
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

0
65

CONTINENTAL

ALTER DO CHÃO
CAM PAN IAN O

CRETÁCEA
NEO

JAVARI
SANTONIANO

1250
FLUVIAL
CRETÁCEO

TURONIANO
100
C E N O MA N IA N O LACUSTRE
AL B I AN O
M E S O Z Ó I C O

AP T IAN O
EO
BAR R E M IA N O
HAUT E R I V I AN O
VALAN G I AN O
B E R R I AS I AN O
T I T H O N I AN O
150
NEO
JURÁSSICO

O X F O R D IAN O
CALLOVIANO
MESO BATHONIANO
BAJOCIANO
AALENIANO
T OAR C I AN O
EO
S I N E M U R I AN O
HETTANGIANO
200 R HAE T I AN O
TRIÁSSICO

N O R I AN O
NEO
CAR N IAN O

LAD I N IAN O
MESO
AN ISIANO
OLENEKIANO
250 EO I NDUANO
CONTINENTAL

PENSILVANIANO -
LO PIN G IAN O
PERM IANO

ANDIRÁ
CAP I TA N IAN O

PERMIANA
700
TAPAJÓS

AR T I N S K IA N O
C I SU RAL I ANO
SAK MAR I AN O
AS SELIANO
300 G Z HE L I AN O LACUSTRE-PLAT. RASA ARARI 500
NOVA OLINDA
D EV O NIANO CARB O NÍ FE RO

KASIMOVIANO MARINHO RESTRITO 700


M O S C O V IAN O ITAI TU BA
BAS H K I R I AN O
P A L E O Z Ó I C O

PRÉ-PENSILVANIANA FARO
CONTINENTAL / MARINHO

V I S EAN O

350

TOURNAISIANA
T O UR NA I S I AN O FLUVIAL- EO - MISSISSIPIANA ORIXIMINÁ
150

DEVONO -
CURUÁ

GLACIAL URARIÁ
FAME N IAN O 100
NEO URUBU 100
BARREIRINHA
ABACAXIS 150
F RA S N IA N O PLATAFORMA DISTAL
G I VE TI AN O
MESO PLATAFORMA RASA ERERÊ
E I F E L IAN O URUPADI
400 E M S I AN O
EO P RAG U I AN O JATAPU
PLATAFORMA RASA
TROMBETAS

L O C H K O V I AN O
DELTAICO PITINGA SUP.
WENLOCK
PITINGA
LIANDOVERY TE LYC H IANO PLATAFORMA DISTAL INF.
G LAC I AL NHAMUNDÁ

PLATAFORMA RASA
450 NEO KAT I AN O
SAN D B IA N O
DAR R I W I L I AN O
MESO DAP I N G IA N O

EO

530

540 M PLATAFORMA
PURUS
C PROSPERANÇA
550
E MBASAMENTO

250 | Bacia do Amazonas - Cunha et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 227-251, maio/nov. 2007 | 251
Bacia do Parnaíba

Pekim Tenório Vaz1, Nélio das Graças de Andrade da Mata Rezende2,

Joaquim Ribeiro Wanderley Filho3, Walter Antônio Silva Travassos3

Palavras-chave: Bacia do Parnaíba l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Parnaíba Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução presas realizaram pesquisas básicas e prospecções


nessa bacia, e são muitos os trabalhos publicados,
tendo-se como referências importantes as seguin-
Nos textos geológicos mais antigos, a Ba- tes: Lisboa (1914), Plummer (1948), Mesner e
cia do Parnaíba é identificada pelos nomes Bacia Wooldridge (1964), Caputo (1984), Della Fávera
do Maranhão ou do Piauí-Maranhão. Ocupa uma (1990) e Rodrigues (1995).
área de cerca de 600 mil km2 da porção noroeste
do Nordeste brasileiro e, no depocentro, a espessu-
ra total de suas rochas atinge cerca de 3.500 m.
Esta bacia foi, e continua sendo, objeto de estudos
sedimentológicos, estratigráficos, geofísicos e de re-
origem
cursos minerais e energéticos. Geocientistas da Pe-
trobras, da Companhia de Recursos Minerais A Bacia do Parnaíba desenvolveu-se sobre um
(CPRM), do Departamento Nacional de Produção embasamento continental durante o Estádio de Es-
Mineral (DNPM), de diversas universidades e em- tabilização da Plataforma Sul-Americana (Almeida

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Amazônia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia
e-mail: pekimvaz@petrobras.com.br
2
Ex-funcionário
3
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Amazônia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 253-263, maio/nov. 2007 | 253


e Carneiro, 2004). Por correlação com os litotipos tente dessa imensa sinéclise com bacias análogas que,
existentes nas faixas de dobramentos, maciços me- atualmente, estão assentadas no noroeste da África
dianos e outras entidades complexas situadas nas (Milani e Thomaz Filho, 2000). Acrescentando-se blo-
bordas ou proximidades da Bacia do Parnaíba se cos falhados de pequenos rejeitos, assim como tam-
deduz que o substrato dessa bacia é constituído de bém dobras e outras estruturas resultantes da intrusão
rochas metamórficas, ígneas e sedimentares, cujas de corpos ígneos mesozóicos nas camadas
idades abrangem um longo intervalo – do Arqueano sedimentares, delineia-se o panorama estrutural fun-
ao Ordoviciano; porém, possivelmente predominem damental dessa bacia.
rochas formadas entre o final do Proterozóico e o
início do Paleozóico, que corresponde ao tempo de
consolidação dessa plataforma. A origem ou
subsidência inicial da Bacia do Parnaíba provavel-
mente esteja ligada às deformações e eventos tér- embasamento
micos fini- e pós-orogênicos do Ciclo Brasiliano ou
ao Estádio de Transição da plataforma, utilizando-se Duas unidades sedimentares fazem parte do
a terminologia de Almeida e Carneiro (2004). Estru- embasamento da Bacia do Parnaíba:
turas grabenformes interpretadas (com base em da- a) Formação Riachão, conforme amostras de
dos de sísmica, gravimetria e magnetometria) no poços, é composta de grauvacas, arcósios, siltitos,
substrato da Bacia do Parnaíba, segundo Oliveira e folhelhos vermelhos e ignimbritos. Esses depósitos ima-
Mohriak (2003), teriam controlado o depocentro ini- turos são considerados de idade proterozóica média ou
cial dessa bacia. Ademais, esses sítios deposicionais, superior, por correlação com coberturas plataformais
ou riftes precursores da Bacia do Parnaíba, seriam dos Cratons Amazônico e do São Francisco;
correlacionáveis ao Gráben Jaibaras e também a b) Grupo Jaibaras, aflorante no leste-nordeste
outros grábens, como, por exemplo, Jaguarapi, da bacia e que, em subsuperfície, interpretado por
Cococi e São Julião, situados na Província Borborema, correlação àquelas áreas, ocorre preenchendo ca-
que foram gerados num sistema de riftes do final do lhas grábenformes sugeridas por dados geofísicos e
Proterozóico-início do Paleozóico. ainda não amostradas por poços. Estima-se uma ida-
de cambro-ordoviciana para esse pacote que, regis-
tra, na área em discussão, as atividades finais do
Ciclo Brasiliano (Oliveira e Mohriak, 2003). Conside-

estruturas maiores rando-se que o Grupo Jaibaras (depósitos fluviais,


aluviais, lacustres) provavelmente esteja ligado à
gênese da Bacia do Parnaíba, foi decidido representá-
Os Lineamentos Picos-Santa Inês, Marajó- lo na presente carta.
Parnaíba e a Zona de Falha Transbrasiliana são as três
feições morfo-estruturais mais notáveis da bacia, sen-
do essa última a mais proeminente, atravessando toda
sua porção nordeste e sul-sudeste. As mais significati-
vas fraturas e falhas herdadas do embasamento fo-
registro sedimentar
ram importantes não somente na fase inicial da ba-
cia, mas também em sua evolução, pois controlaram A sucessão de rochas sedimentares e
as direções dos eixos deposicionais até o Eocarbonífero. magmáticas da Bacia do Parnaíba pode ser disposta
Do Neocarbonífero até o Jurássico, os depocentros em cinco superseqüências: Siluriana, Mesodevoniana-
deslocaram-se para a parte central da bacia, a sedi- Eocarbonífera, Neocarbonífera-Eotriássica, Jurássica e
mentação passou a ter um padrão concêntrico e a Cretácea, que são delimitadas por discordâncias que
forma externa da bacia tornou-se ovalada, típica de se estendem por toda a bacia ou abrangem regiões
uma sinéclise interior. O Arco Ferrer-Urbano Santos, extensas. No contexto da Plataforma Sul-Americana,
uma feição flexural positiva relacionada com a aber- as três primeiras seqüências situam-se no Estádio de
tura, no Mesozóico, do Oceano Atlântico Equatorial, Estabilização e as discordâncias que lhe dizem respei-
define o limite norte da Bacia do Parnaíba, onde o to têm suas gêneses em parte relacionadas às
rifteamento Atlântico quebrou a conexão então exis- flutuações dos elevados níveis eustáticos dos mares

254 | Bacia do Parnaíba - Vaz et al.


epicontinentais do Eopaleozóico. As transgressões pro- areno-argilosa e matacões de quartzo ou quartzito e
vieram do oceano adjacente à margem ativa do su- arenitos de finos a grossos. Nos psamitos predomi-
doeste do Gondwana e de bacias do norte atual da nam as cores brancas ou cinza/creme-claro, maciços
África, inundadas pelo Oceano Tethys. As regressões ou com estratificação cruzada. As rochas dessa uni-
e discordâncias erosivas teriam contribuições também dade foram depositadas numa grande variedade de
de ascensões epirogênicas, em resposta às orogêneses ambientes, de glacial proximal e glacio-fluvial, a le-
ocorridas na borda ativa do Gondwana adjacente à ques ou frentes deltaicos (Caputo, 1984). A Forma-
plataforma. A forma ou configuração do registro ção Tianguá é composta de folhelhos cinza-escuro,
sedimentar teve contribuição também da subsidência bioturbados, sideríticos e carbonáticos, de arenitos
causada por estiramento litosférico, sobrecarga repre- cinza-claro, fino a médio, feldspáticos e de intercala-
sentada pelos depósitos que nelas se acumulavam e ções de siltitos e folhelhos cinza-escuros, bioturbados
outros processos da dinâmica continental. Assim sen- e micáceos. A deposição se deu num ambiente de
do, as ascensões eustáticas só em parte respondem plataforma rasa (Góes e Feijó, 1994). Seus contatos
pelas sucessivas inundações do mar no Brasil durante com as camadas das formações Ipu (sotoposta) e Jaicós
o Fanerozóico (Almeida e Carneiro, 2004). Tendo em (sobreposta) são concordantes (Caputo, 1984). A For-
vista esses argumentos, julgamos imprescindível evi- mação Jaicós é constituída de arenitos cinza com to-
denciar na carta as orogêneses que possivelmente nalidades claras, creme ou amarronzada, grossos, con-
influíram no registro sedimentar dessa bacia. Não tendo seixos angulares a subangulares, mal selecio-
obstante, mencionamos, a seguir, o trabalho de nados, friáveis, maciços ou com estratificação cruza-
Caputo et al. (2006), no qual expondo argumentos da ou lenticular (Caputo, 1984), depositados em sis-
que tratam das posições geográficas dos principais temas fluviais entrelaçados (Góes e Feijó, 1994). A
eventos orogênicos mundiais como, por exemplo, a Formação Tianguá representa a superfície de inun-
Orogênese Eo-herciniana (pensilvaniana), que atuou dação máxima, e as camadas Jaicós, o intervalo re-
no sul da Europa, leste dos Estados Unidos e norte- gressivo dessa seqüência, cujas fácies indicam depo-
nordeste da África, e da preponderância dos efeitos sição por sistemas fluviais, deltaicos e plataformais,
das flutuações do nível do mar (pode variar dezenas em ambientes continental, transicional e marinho raso
a centenas de metros num intervalo de tempo relati- (Góes e Feijó, 1994). As idades das três formações
vamente mais curto) em se comparando com as ta- dessa seqüência provêm das datações que constam
xas de subsidência ou de movimentos ascendentes de Grahn et al. (2005). Consoante esse trabalho na
verificados no substrato dessa sinéclise, tornam pa- Formação Jaicós, pode haver dois hiatos: um na Sé-
tente seu ponto de vista. Não orogêneses, mas, sim, rie Wenlock e outro na Pridoli.
a eustasia foi o fator primordial no controle dos ciclos
transgressivos-regressivos e, conseqüentemente, das
discordâncias que definem os limites das seqüências
Seqüência Mesodevoniana-
da Bacia do Parnaíba. O cerne desse pensamento é Eocarbonífera
sustentado também por Della Fávera (1990).
As camadas dessa seqüência afloram nas re-
giões leste e sudoeste da bacia. Em subsuperfície, tal
Seqüência Siluriana qual a seqüência subjacente, está presente quase em
toda a área abrangida pela bacia. Seus estratos fo-
Esta seqüência - um ciclo trangressivo-regres- ram depositados discordantemente sobre a seqüên-
sivo completo - está assentada sobre rochas cia mais antiga. Quanto à litoestratigrafia, é compos-
proterozóicas ou sobre depósitos cambrianos ta pelo Grupo Canindé, que está dividido em quatro
(ordovicianos?). Corresponde litoestratigraficamente formações, descritas a seguir na ordem de deposi-
ao Grupo Serra Grande. Em subsuperfície, ocorre pra- ção. A Formação Itaim designa arenitos finos a mé-
ticamente em toda a extensão da bacia. Contudo, dios com grãos subarredondados, bem selecionados
sua área de afloramento consiste quase que exclusi- e com alta esfericidade. Na base dessa unidade ob-
vamente de uma estreita faixa na extremidade leste serva-se um maior número de intercalações de
da bacia, bordejada por rochas do embasamento. folhelhos bioturbados. Ademais, nota-se uma
Sua unidade mais antiga, a Formação Ipu, designa granocrescência ascendente (Della Fávera, 1990).
arenitos com seixos, conglomerados com matriz Consoante Góes e Feijó (1994), os sedimentos Itaim

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 253-263, maio/nov. 2007 | 255


foram depositados em ambientes deltaicos e platafor- dentes e uma regressão de extensão global (Caputo,
mais, dominados por correntes induzidas por proces- 1984), teriam conduzido à erosão na bacia. Esses
sos de marés e de tempestades. A Formação Pimen- fenômenos ocorreram provavelmente em resposta
teiras consiste, principalmente, de folhelhos cinza-es- à Orogênese Eo-herciniana.
curos a pretos, esverdeados, em parte bioturbados.
São radioativos, ricos em matéria orgânica e repre-
sentam a ingressão marinha mais importante da ba- Seqüência Neocarbonífera-
cia. Notam-se intercalações de siltito e arenito, e a
sedimentação aconteceu num ambiente de platafor- Eotriássica
ma rasa dominada por tempestades. As feições grafo-
elétricas indicam ciclicidade deposicional, e uma mu- Em superfície, essa seqüência é observada
dança de tendência transgressiva para regressiva na principalmente nas regiões centro-sul e parte das
passagem gradacional para a Formação Cabeças, que regiões oeste e leste-nordeste da bacia. Em subsu-
lhe é sobreposta (Della Fávera, 1990). Na Formação perfície está presente numa extensa região da ba-
Cabeças, o litotipo predominante consiste de arenitos cia, e a erosão, muito mais que a não-deposição,
cinza-claros a brancos, médios a grossos, com inter- parece ser o fator mais importante na explicação de
calações delgadas de siltitos e folhelhos. Diamictitos sua ausência em algumas das áreas de borda dessa
ocorrem eventualmente e com maior freqüência na sinéclise. Concerne ao pacote sedimentar do Grupo
parte superior. Tilitos, pavimentos e seixos estriados Balsas. Numa seção aproximadamente norte-sul,
denotam um ambiente glacial ou periglacial (Caputo, controlada por poços, observa-se que há coincidên-
1984). Estratificação cruzada tabular ou sigmoidal pre- cia entre os depocentros dessa unidade e os das duas
domina, e tempestitos ocorrem na transição para a seqüências mais antigas da bacia. Porém, numa se-
Formação Pimenteiras (Della Fávera, 1990). Um am- ção oeste-leste, constata-se que o depocentro da
biente plataformal sob a influência preponderante de Seqüência Neocarbonífera-Eotriássica situa-se a oeste
correntes desencadeadas por processos de marés é daqueles das duas seqüências subjacentes. Suas qua-
defendido por Góes e Feijó (1994) como o mais im- tro formações serão tratadas da mais antiga para a
portante nessa unidade. Fácies flúvio-estuarinas mais nova. Lima e Leite (1978) dividiram a Forma-
também ocorrem. O litotipo da Formação Longá é ção Piauí em duas sucessões: a inferior, composta
caracterizado por folhelhos cinza-escuros a pretos, em de arenitos cor-de-rosa, médios, maciços ou com
parte arroxeados, homogêneos ou bem laminados, estratificação cruzada de grande porte e intercala-
bioturbados. Em sua porção média comumente apre- ções de folhelho vermelho, e a superior, formada de
sentam um pacote de arenitos e siltitos cinza-claros a arenitos vermelhos, amarelos, finos a médios, con-
esbranquiçados, laminados (Lima e Leite, 1978). Um tendo intercalações de folhelhos vermelhos, calcários
ambiente plataformal dominado por tempestades foi e finas camadas de sílex. Siltitos e lentes
interpretado por Góes e Feijó (1994) para essas ro- conglomeráticas também ocorrem (Caputo, 1984).
chas. A denominação Formação Poti diz respeito a Segundo Melo et al. (1998) essa unidade é
uma sucessão de estratos que pode ser dividido em pensilvaniana (não mais antiga que o Moscoviano).
duas porções, a inferior constituída de arenitos cinza- Lima e Leite (1978) interpretaram um ambiente flu-
esbranquiçados, médios, com lâminas dispersas de vial com contribuição eólica e breves incursões mari-
siltito cinza-claros, e a superior de arenitos cinza, lâ- nhas, num clima semi-árido a desértico. A Formação
minas de siltitos e folhelhos com eventuais níveis de Pedra de Fogo, de idade permiana (Dino et al. 2002),
carvão (Lima e Leite, 1978). A deposição ocorreu em é caracterizada por uma considerável variedade de
deltas e planícies de maré, às vezes sob a influência rochas - sílex, calcário oolítico e pisolítico creme a
de tempestades (Góes e Feijó, 1994). O contato supe- branco, eventualmente estromatolítico, intercalado
rior com a Formação Piauí é discordante, erosivo. As com arenito fino a médio amarelado, folhelho cin-
idades das formações dessa seqüência foram defi- zento, siltito, anidrita e, eventualmente, dolomito.
nidas com base no trabalho de Melo e Loboziak Depositados num ambiente marinho raso a litorâneo
(2003). A regressão que precedeu a sedimentação com planícies de sabkha, sob ocasional influência
Poti pode estar ligada ao aumento das capas de de tempestades (Góes e Feijó, 1994). Ciclos deposi-
gelo do Continente Gondwana. Após a deposição cionais podem ser identificados na sucessão de ca-
dessa formação, movimentos epirogênicos ascen- madas desta unidade (Aguiar, 1971). Os contatos são

256 | Bacia do Parnaíba - Vaz et al.


concordantes com as Formações Piauí (subjacente) ções Piauí e Pedra de Fogo. A deposição dessa se-
e Motuca (sobrejacente). A Formação Motuca de- qüência coincidiu com as mudanças ambientais e
nomina siltito vermelho e marrom, arenito branco tectônicas profundas na região ocupada pela Bacia
fino e médio, subordinadamente folhelho, anidrita e do Parnaíba, mares abertos com ampla circulação e
raros calcários. Esses dois últimos litotipos, segundo clima temperado, condições prevalecentes até en-
Lima e Leite (1978), ocorrem sob a forma de lentes tão, passaram a ser restritos, rasos e o clima quente
delgadas nos pelitos, e o contato apresenta-se con- e árido. Uma regressão de alcance mundial ocorrida
cordante com a Formação Pedra de Fogo no final do Permiano-início do Triássico (Caputo, 1984)
(subjacente). De acordo com Góes e Feijó (1994), provavelmente seja a causa da progressiva
os sedimentos Motuca foram depositados num siste- desertificação e a retirada definitiva do mar
ma desértico, com lagos associados. Sua idade epicontinental dessa bacia, que culminaram com o
(Caputo, 1984) estende-se do Permiano terminal ao estabelecimento do amplo deserto no qual foram
início do Eotriássico. Contudo, considerando-se a depositados os arenitos Sambaíba.
datação da Formação Pedra de Fogo (Dino et al.
2002), a sedimentação Motuca talvez tenha se pro-
longado até o final do Eotriássico. O termo Sambaíba
Seqüência Jurássica
foi utilizado pela primeira vez por Plummer (1948)
para designar arenitos que constituem mesetas ob- A seqüência está constituída somente pela For-
servadas nas cercanias da cidade homônima. Lima mação Pastos Bons, tendo em vista que a posição es-
e Leite (1978) adotaram para a Formação Sambaíba tratigráfica da Formação Corda foi reinterpretada pelos
uma seção tipo na qual suas camadas arenosas es- autores e passou a fazer parte da Seqüência Cretácea.
tão posicionadas sobre a Formação Motuca e A subsidência que culminou com essa deposição
subjacentes aos basaltos. Os arenitos Sambaíba são jurássica teve como origem, ou causa fundamental, o
vermelhos a cor-de-rosa, creme-claro/esbranquiçado, peso das rochas básicas Mosquito, que se somou ao da
em geral finos a médios, subangulosos a carga sedimentar então existente. O final dessa fase
subarredondados. As dunas com estratificação cru- sedimentar teria sido uma conseqüência das atividades
zada de grande porte, contendo diversas feições tí- tectônicas concernentes à abertura do Atlântico Equa-
picas de sedimentos eólicos caracterizam rochas de torial. Na carta nota-se que a Formação Pastos Bons
um sistema desértico, com contribuição fluvial. Os sobrepõe-se, parcialmente, à Formação Mosquito em
níveis do topo, quando silicificados, tornam-se re- consonância com a interpretação sísmica, tendo em
sistentes à erosão e formam mesetas. Em algumas vista que esse esquema estratigráfico não foi evidencia-
áreas, na porção superior notam-se disjunções do em poços. Contudo, deve-se ressaltar que essa ba-
colunares prismáticas, devido à influência térmica cia está relativamente pouco amostrada.
do capeamento basáltico (Lima e Leite, 1978). Se- Os litotipos da Formação Pastos Bons podem
gundo esses mesmos autores, “...a norte de ser divididos em três partes: na base predomina
Araguaína, até o povoado de Estreito, observa-se arenito branco ou com tonalidades esverdeadas,
que os basaltos recobrem os psamitos Sambaíba em amareladas, fino a médio, grãos subarredondados e,
superfície ondulada onde são observados já próxi- geralmente, apresentam estratificação paralela e ra-
mos a Estreito, que ocorrem em dois níveis de basalto ras lentes de calcário. Na parte média da seção ocor-
intercalados entre os arenitos Sambaíba”. Esse dado rem siltito, folhelho/argilito cinza a verdes,
permite inferir uma intercalação ou comumente intercalados com arenito. A porção mais
contemporaneidade entre as camadas do topo da superior é formada de arenito vermelho/cor-de-rosa,
Formação Sambaíba e a porção mais inferior de fino, gradando para siltito, contendo níveis de folhelho
basaltos Mosquito. Não obstante, essa possibilidade (Caputo, 1984). De leste para oeste, a Formação
não consta da carta proposta nesse trabalho, pois Pastos Bons jaz discordantemente sobre as Forma-
julgamos que há necessidade de uma pesquisa de- ções paleozóicas Poti, Piauí, Pedra de Fogo e Motuca
talhada para averiguar a identificação desses areni- (Lima e Leite, 1978). Com base no conteúdo fossilífero
tos: eles pertencem realmente à Formação Sambaíba (peixes, conchostráceos, ostracodes) atribui-se ida-
ou a outra unidade mesozóica? Lima e Leite (1978) de jurássica média a superior à Formação Pastos Bons,
inferem uma idade triássica média-superior para essa depositada em paleodepressões continentais,
unidade, que recobre discordantemente as Forma- lacustrinas, com alguma contribuição fluvial, em cli-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 253-263, maio/nov. 2007 | 257


ma semi-árido a árido. Há dúvidas acerca da posi- Na Formação Codó, folhelhos, calcários, silti-
ção estratigráfica da Formação Pastos Bons, por isso tos, gipsita/anidrita e arenito são os principais litotipos
sugere-se que estudos sejam realizados objetivando e são freqüentes níveis de sílex e estromatolito. Na
reanalisar sua idade e seus contatos, em especial Mina do Chorado, nas cercanias de Grajaú, o relevo
aqueles com a Formação Sambaíba e com as ígneas cárstico está refletido em inúmeras dolinas, com des-
Mosquito e Sardinha. locamentos de blocos. Os jazimentos de gipsita são
recobertos abruptamente por folhelho bege a cinza/
preto esverdeado, revelando uma ampla inundação
Seqüência Cretácea (transgressão) do mar/lago Codó. Rossetti et al.
(2001b) declaram que as Formações Grajaú e Codó,
No Cretáceo, os depocentros deslocaram-se ambas do Neo-aptiano-Eo-albiano, foram depositadas
da região central para as proximidades do extremo em ambientes marinho raso, lacustre e flúvio-deltaico.
norte e noroeste da bacia, como reflexo da abertura Interdigitação ou equivalência cronoestratigráfica en-
do Atlântico. No caso dos depósitos marinhos, dife- tre essas duas formações é asseverada também por
rentemente das seqüências anteriores, as transgres- Lima e Leite (1978).
sões e regressões provieram desse oceano, então no Os estratos arenosos e pelíticos da Formação
estágio inicial de seu desenvolvimento. Em Itapecuru, de idade Mesoalbiano-Neocretáceo, se-
afloramento, essa seqüência ocorre principalmente gundo Rossetti et al. (2001b) correspondem a seis
na porção noroeste-norte da bacia e sobrepõe-se dis- ciclos deposicionais atribuídos a sistemas de vales
cordantemente sobre as rochas das seqüências estuarinos incisos. Para esta unidade, na região de
Jurássica e as mais antigas. É constituída pelas se- Açailândia, prepondera um sistema estuarino-lagunar
guintes Formações: Codó, Corda, Grajaú e Itapecuru. episodicamente atingido por ondas de grande esca-
O termo Formação Corda refere-se, essencial- la, no qual foram observados os seguintes ambien-
mente, a arenitos vermelhos, castanho-avermelhados, tes: canal fluvial, laguna, canal de maré e litorâneo.
muito finos/finos e médios, seleção regular a boa, Os depósitos mostram uma natureza transgressiva, e
o litotipo mais freqüente é formado de arenitos
semifriáveis a semicoesos, ricos em óxidos de ferro e
variegados, finos, friáveis, com estruturas diversas,
zeólitas. Quando ocorrem sobrepostos a basaltos, é
como, por exemplo, estratificações cruzadas swaley,
abundante a presença de fragmentos dessa rocha
hummocky, acanalada, tabular, mud couplets e
como arcabouço. Estratificações cruzadas de grande
escorregamento de massa. Pelitos e arenitos
porte, climbings transladantes e ripples, fluxos de
conglomeráticos ocorrem, mas subordinadamente
grãos e outras estruturas típicas de dunas eólicas são
(Anaisse Junior et al. 2001). A Formação Itapecuru
comuns nessa unidade. Estruturas cruzadas de baixo
recobre discordantemente as Formações Grajaú e
ângulo e cruzadas acanaladas também ocorrem.
Codó, consoante Rossetti et al. (2001a).
Desse conjunto de informações deduz-se que essa
Num contexto mais amplo, a gênese dos de-
unidade foi depositada num sistema desértico. Uma
pósitos das Formações Grajaú, Codó e Itapecuru es-
relação de contemporaneidade entre os depósitos taria associada à movimentação tectônica ou ao pro-
das Formações Corda, Grajaú e Codó é proposta pelos cesso de separação dos continentes sul-americano e
autores desse texto e foi defendida anteriormente africano no Cretáceo. Em outras palavras, manifes-
por Rezende (2002). O conteúdo litológico da For- taria a história do Oceano Atlântico nessa área
mação Grajaú pode ser representado pelas rochas (Rossetti et al. 2001a).
aflorantes nas cercanias da cidade homônima - are-
nitos creme-claro/esbranquiçado, creme-amarelado
ou variegados, médios/grossos, subangulosos/angu- Rochas Magmáticas
losos, mal selecionados. Sendo comum a presença
de seixos e de níveis conglomeráticos. Eventualmente A ruptura do megacontinente Pangea estabe-
observam-se camadas de arenitos finos/muito finos leceu no Brasil um novo estádio tectônico, o da Ati-
e de pelitos. Estruturas cruzadas acanaladas e mar- vação, que levaria à abertura do Oceano Atlântico.
cas de carga são abundantes. Também no caso da Eventos distensionais, remobilização de falhas anti-
Formação Grajaú constata-se que quando existem gas, surgimento de fraturas e intenso magmatismo
basaltos subjacentes, estes fornecem material para básico caracterizaram essa etapa mesozóica na evo-
os corpos areníticos. lução da área que, posteriormente, tornou-se o terri-

258 | Bacia do Parnaíba - Vaz et al.


tório brasileiro (Almeida e Carneiro, 2004; Zalán, Thomaz Filho, 2000). Em subsuperfície, segundo a
2004). Nesse contexto tectônico, na Bacia do Par- interpretação sísmica, há soleiras numa grande ex-
naíba acomodaram-se as ígneas intrusivas (diques e tensão da bacia; porém, com base no conhecimento
soleiras) e extrusivas, de composição básica, as quais atual não sabemos quais delas classificar como Mos-
do ponto de vista estratigráfico foram divididas em quito ou Sardinha. Contudo, por correlação com as
duas unidades: Formação Mosquito e Formação Sar- bacias do Solimões e Amazonas, predominam, pos-
dinha. Em subsuperfície, os diques e soleiras estão sivelmente, as ígneas Mosquito (magmatismo Pena-
presentes em maior quantidade na Seqüência tecaua). Essa incerteza impede que essas duas uni-
Mesodevoniana-Eocarbonífera e ocorrem também dades sejam representadas na carta de forma mais
na Seqüência Siluriana e são muito raros na pujante na direção horizontal (área de ocorrência).
Neocarbonífera-Eotriássica. Formação Mosquito foi Não consideramos na confecção da presente
o termo proposto por Aguiar (1971) para identificar carta estratigráfica, não obstante, mas julgamos im-
derrames basálticos com intercalações de arenitos portante acrescentar que, por intermédio de
que afloram no rio homônimo, ao sul da cidade de sensoriamento remoto, levantamentos aerogeofísicos
Fortaleza dos Nogueiras (MA). Aguiar (1971) deno- e geofísica terrestres foram cartografados pipes
minou Formação Sardinha a corpos de basalto, pre- kimberlíticos na borda sul e no noroeste da Bacia do
to a roxo, mapeados entre as cidades de Fortaleza Parnaíba. Essas ígneas teriam intrudido no Juro-
dos Nogueiras e Barra do Corda. A espessura média Cretáceo, segundo Castelo Branco et al. (2002).
em afloramento é de 20 m e o nome da unidade
homenageia o local da primeira observação, a Al-
deia do Sardinha.
O geólogo Diógenes C. de Oliveira compilou 91
resultados de datações (K-Ar, Ar-Ar) para essas rochas.
referências
Esses dados definem dois grupos de idades: o primeiro,
contendo 44 resultados, assinala idades de 149,5 a 87
bibliográficas
Ma, e, o segundo, com 47 dados no intervalo 215 a
150 Ma. O valor médio das idades do primeiro grupo é
124 Ma (Eocretáceo), e a do segundo é 178 Ma AGUIAR, G. A. Revisão geológica da bacia paleozóica
(Eojurássico). Segundo o mesmo Diógenes de Oliveira, do Maranhão. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLO-
em preprint de trabalho a ser publicado, essas duas GIA, 25., 1971, São Paulo. Anais. São Paulo: Socieda-
unidades são distintas não somente quanto à idade, de Brasileira de Geologia, 1971. v. 3, p.113-122.
mas também no que diz respeito:
a) natureza química e isotópica (elementos
ALMEIDA, F. F. M.; CARNEIRO, C. D. R. Inundações
maiores, menores e diversas razões isotópicas);
marinhas fanerozóicas no Brasil e recursos minerais
b) forma de ocorrência na superfície – Forma-
associados. In: MANTESSO-NETO, V.; BARTORELLI, A.;
ção Sardinha: predominam grandes diques e peque-
CARNEIRO, C. D. R.; BRITO-NEVES, B. B. (Org.). Geo-
nas soleiras; Formação Mosquito: caracterizada por
logia do continente sul-americano: evolução da
grandes derrames e grandes soleiras;
obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São
c) localização: Formação Mosquito: mais fre-
Paulo: Beca, 2004. p.43-58.
qüente na porção oeste da bacia e a Formação Sar-
dinha na porção leste. Alguns autores, por exemplo,
Mizusaki e Thomaz Filho (2004) e Zalán (2004) de- ANAISSE JÚNIOR, J.; TRUCKENBRODT, W.; ROSSETTI,
fendem que a Formação Mosquito é correlacionável D. F. Fácies de um sistema estuarino-lagunar no Gru-
com as soleiras de diabásio (Magmatismo Penate- po Itapecuru, Área de Açailândia – MA, Bacia do
caua) das bacias do Solimões e do Amazonas (ida- Grajaú. In: ROSSETTI, D. F.; GÓES, A. M.;
des de 210-201 Ma), e que as básicas da Formação TRUCKENBRODT, W. (Ed.). O cretáceo na Bacia de
Sardinha seriam correlatas dos derrames da Forma- São Luís-Grajaú. Belém: Museu Paraense Emilio
ção Serra Geral (idades de 137 a 127 Ma) da Bacia Goeldi, 2001. p.119-150.
do Paraná. Além disso, o magmatismo Mosquito es-
taria relacionado ao rifteamento do Atlântico Cen- CAPUTO, M. V. Stratigraphy, tectonics,
tral, e o Sardinha ao do Atlântico Sul (Milani e paleoclimatology and paleogeography of

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 253-263, maio/nov. 2007 | 259


Northern Basins of Brazil. 1984. 586 p. Thesis MELO, J. H. G.; LOBOZIAK, S. Devonian-early
(Doctorate) - University of Califórnia, Santa Bárbara, 1984. carboniferous miospore biostratigraphy of the Amazon
Basin, Northern Brazil. Review of Palaeobotany and
CAPUTO, M. V.; REIS, D. E. S.; BARATA, C. F.; PEREI- Palynology, Amsterdam, v. 124, n.3-4, p. 131-202,
RA, L. C. 2006. Evolução tectônica da Bacia do May 2003.
Parnaíba: qual a influência das orogenias? In:
SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 6., 2006,
MELO, J. H. G.; LOBOZIAK, S.; STREEL, M. 1998.
Manaus. Anais. Manaus: Sociedade Brasileira de
Geologia, 2006. 1 CD-ROM. Latest devonian to early late carboniferous
biostratigraphy of Northern Brazil: an update. Bulletin
du Centre de Recherches Elf Exploration
CASTELO BRANCO, R. M. G.; MARTINS, G.; OLIVEI-
RA, D. C.; CASTRO, D. L. Características gerais do Production, Pau, v. 22, n. 1, p. 13-33, 1998.
quimismo mineral associado ao magmatismo
kimberlítico na bacia sedimentar do Parnaíba. In: MESNER, J. C.; WOOLDRIDGE, L. C. Estratigrafia das
SIMPÓSIO SOBRE VULCANISMO E AMBIENTES AS- bacias Paleozóica e Cretácea do Maranhão. Bole-
SOCIADOS, 2., 2002, Belém. Boletim de Resumos tim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2,
e Roteiro da Excursão. Belém: Universidade Fede- p. 137-164, abr./jun.1964.
ral do Pará, 2002. p. 78.

DELLA FÁVERA, J. C. Tempestitos na Bacia do MILANI E. J.; THOMAZ FILHO, A. Sedimentary basins
Parnaíba. 1990. 560 p. Tese (Doutorado) – Universi- of South America. In: CORDANI, U. G.; MILANI, E.
dade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1990. J.; THOMAZ FILHO, A.; CAMPOS, D. A. (Ed.). 2000.
Tectonic evolution of South America. Rio de Ja-
DINO, R.; ANTONIOLI, L.; BRAZ, S. M. N. Palynological neiro: [s.n.]: 2000. p. 389-450.
data from the Trisidela Member of Upper Pedra de
Fogo Formation (“Upper Permian”) of the Parnaíba MIZUSAKI, A. M. P.; THOMAZ FILHO, A. O magma-
Basin, Northeastern Brazil. Revista Brasileira de tismo pós-paleozóico no Brasil. p.281-291. In:
Paleontologia, São Leopoldo, n. 3, p. 24-35, jan./ MANTESSO-NETO, V.; BARTORELLI, A.; CARNEIRO,
jun. 2002.
C. R.; BRITO-NEVES, B. B. (Org.). Geologia do con-
tinente sul-americano: evolução da obra de
GÓES, A. M. O.; FEIJÓ, F. J. Bacia do Parnaíba. Bole- Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo:
tim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v.
Beca, 2004. p. 281-291.
8, n. 1, p. 57-68, jan./mar. 1994.

GRAHN, Y.; MELO, J. H. G.; STEEMANS, P. Integrated OLIVEIRA, D. C.; MOHRIAK, W. U. Jaibaras Trough:
chitinozoan and miospore zonation of the Serra Gran- an important element in the early tectonic evolution
de Group (Silurian-Lower Devonian), Parnaíba Basin, of the Parnaíba interior sag Basin, Northeastern Brazil.
Northeast Brazil. Revista Española de Marine and Petroleum Geology, Guildford, v. 20,
Micropaleontología, Madrid, v. 37, n. 2, p.183-204, p. 351-383. 2003.
mayo/ago. 2005.
PLUMMER, F. B; PRINCE, L. I.; GOMES, F. A. Estados
LIMA, E. A. M.; LEITE, J. F. Projeto estudo global
do Maranhão e Piauí. In: Relatório do Conselho
dos recursos minerais da Bacia Sedimentar do
Nacional do Petróleo. Rio de Janeiro: Conselho
Parnaiba: integracao geologico-metalogenetica:
Nacional do Petróleo, 1946, p.87-134.
relatorio final da etapa III. Recife: Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais. 1978. 212 p.
REZENDE, N. G. A. M. 2002. A zona zeolítica da
LISBOA, M. A. R. The permian geology of Northern formação corda, Bacia do Parnaíba. 2002. 142 p.
Brazil. American Journal of Science, New Haven, Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do
v. 37, n. 221, p. 425-443, may 1914. Pará, Belém, 2002.

260 | Bacia do Parnaíba - Vaz et al.


RODRIGUES, R. A geoquímica orgânica na Bacia do cretáceo na Bacia de São Luís-Grajaú. Belém: Mu-
Parnaíba. 1995. 226 p. Tese (Doutorado) – Universida- seu Paraense Emilio Goeldi, 2001. p. 15-29.
de Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1995.
PAZ, J. D. S.; ROSSETTI, D. F. Reconstrução paleoam-
ROSSETTI, D. F.; GÓES, A. M.; ARAI, M. A passagem biental da Formação Codó (Aptiano), Borda Leste da
aptiano-albiano na Bacia do Grajaú, MA. In: ROSSETTI, Bacia do Grajaú, MA. In: ROSSETTI, D. F.; GOES, A.
D. F.; GÓES, A. M.; TRUCKENBRODT, W. (Ed.). O M.; TRUCKENBRODT, W. (Ed.). O cretáceo na Bacia
cretáceo na Bacia de São Luís-Grajaú. Belém: Mu- de São Luís-Grajaú. Belém: Museu Paraense Emilio
seu Paraense Emilio Goeldi, 2001. p.101-117. Goeldi, 2001. p. 77.100.

ROSSETTI, D. F.; TRUCKENBRODT, W.; SANTOS


JUNIOR, A. E. Clima do cretáceo no meio-norte bra-
sileiro. In: ROSSETTI, D. F.; GÓES, A. M.;
TRUCKENBRODT, W. (Ed.). O cretáceo na Bacia de
apêndice
São Luís-Grajaú. Belém: Museu Paraense Emilio
Goeldi, 2001. p. 67-76. a) Na redefinição da posição estratigráfica da
Formação Corda tivemos a consultoria do Professor
TRUCKENBRODT, W. O cretáceo na Bacia de São Afonso Nogueira, da Universidade Federal do Ama-
Luis-Grajaú. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, zonas (UFAM), tanto em um trabalho de campo quan-
2001. 264p. to na edição da Carta;
b) Seções-tipos e outras informações referentes
a litologia ou à evolução da Bacia do Parnaíba podem
ZALÁN, P. V. Evolução fanerozóica das bacias sedi- ser consultadas no artigo de Góes e Feijó (1994);
mentares brasileiras. In: MANTESSO-NETO, V.; c) Os marcos estratigráficos provêm da obra
BARTORELLI, A.; CARNEIRO, C. R.; BRITO-NEVES, B. de Della Fávera (1990).
B. (Org.). Geologia do continente sul-americano:
evolução da obra de Fernando Flávio Marques de
Almeida. São Paulo: Beca, 2004. p. 595-612.

bibliografia

GÓES, A. M. A formação poti (carbonífero infe-


rior) da Bacia do Parnaíba. 1995. 172 p. Tese (Dou-
torado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995.

GÓES, A. M.; COIMBRA, A. M. Bacias sedimentares


da província sedimentar do meio-norte do Brasil. In:
SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 5., 1996,
Belém. Resumos. Belém: Sociedade Brasileira de
Geologia, 1996. p.186-187.

GÓES, A. M.; ROSSETTI, D. F. Gênese da Bacia de


São Luis-Grajaú, meio-norte do Brasil. In: ROSSETTI,
D. F.; GOES, A. M.; TRUCKENBRODT, W. (Ed.). O

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 253-263, maio/nov. 2007 | 261


BACIA DO PARNAÍBA

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
65

CAM PA N IAN O
NEO
SANTONIANO
CRETÁCEO

TURONIANO
C E N O MA N IA N O ESTUARINO-
100 C/M LAGUNAR ITAPECURU 724
AL B I AN O

AP T IAN O
C/M 266
M E S O Z Ó I C O

EO
BAR R E M IA N O SARDINHA
HAU T E R I V I AN O
VALAN G I AN O
B E R R I AS I AN O
150 T I T H O N I AN O
NEO
JURÁSSICO

OXF OR DIAN O
CALLOVIANO C FLÚVIO-LACUSTRE PASTOS BONS 77
MESO BATHONIANO
BAJOCIANO
AALENIANO
T OAR C I AN O
EO
S I N E M U R I AN O EXTRUSIVAS
HETTANGIANO E INTRUSIVAS MOSQUITO 193
200 R HAE T I AN O
TRIÁSSICO

N O R I AN O
NEO
CAR N IAN O

LAD I N IAN O
MESO DESÉRTICO SAMBAÍBA 440
AN ISIANO
OLENEKIANO
EO
250 I NDUANO DESÉRTICO / LACUSTRE
BALSAS MOTUCA 280
LO PIN G IAN O
PERM IANO

CAP I TA N IAN O
PLAT. RASA

PEDRA

FOGO
LITORÂNEO

DE
TEMPESTADES 240
AR T I N S K IA N O
C I SU RAL I ANO SABKHA
SAK MAR I AN O
MARINHO / CONTINENTAL

AS SELIANO
300 G Z H E LI AN O FLUVIAL DESÉRTICO
PIAUÍ 340
CAR BO N ÍFE RO

KASIMOVIANO
M O S C O V IAN O LITORÂNEO
BAS H K I R I AN O

DELTAS E PLAN. DE
V I S EAN O
MARÉS-TEMPESTADE POTI 320

350 T O U R NA I S I AN O
CANINDÉ

PLATAFORMA
DOM. TEMPESTADE LONGÁ 220
P A L E O Z Ó I C O

FAM E N IA N O
D EVONIANO

PLATAFORMA DOM.
NEO MARÉS, CABEÇAS 350
F RA S N IA N O FLÚVIO-ESTUARINO, PIM
PERIGLACIAL EN
TE
G I V E TI AN O PLATAFORMA I RA 320
MESO DOM. TEMPESTADE S
E I F E L IAN O
400 E M S I AN O
DELTA-MARÉS- ITAIM 260
TEMPESTADES
EO
JAICÓS

P RAG U I AN O
L O C H K O V I AN O
GRANDE

FLUVIAL
SERRA

ENTRELAÇADO 380
WENLOCK
TE LYC H IAN O
LIANDOVERY PLAT. RASA TIANGUÁ 200
GLÁCIO-FLUVIAL
LEQUE DELTAICO
450 NEO KAT I AN O
SAN D B IA N O
DAR R I W I L I AN O
MESO
DAP I N G IA N O

EO
CAM BR IANO

500
CONT.

FLUVIAL
ALUVIAL JAIBARAS 120
LACUSTRE

540
E M B A S A M E N T O

262 | Bacia do Parnaíba - Vaz et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 253-263, maio/nov. 2007 | 263
Bacia do Paraná

Edison José Milani1, José Henrique Gonçalves de Melo2, Paulo Alves de Souza3,

Luiz Alberto Fernandes4, Almério Barros França5

Palavras-chave: Bacia do Paraná l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Paraná Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução nal Mato-Grossense e o Arco de Asunción. Para sul-


sudoeste, a bacia prolonga-se ao Uruguai e Argen-
tina, enquanto a borda norte-nordeste parece re-
A Bacia do Paraná é uma ampla região sedi- presentar um limite deposicional original, o que é
mentar do continente sul-americano que inclui por- sugerido pela natureza persistentemente arenosa
ções territoriais do Brasil meridional, Paraguai orien- das diferentes unidades sedimentares da bacia na-
tal, nordeste da Argentina e norte do Uruguai, tota- quele domínio.
lizando uma área que se aproxima dos 1,5 milhão O arranjo espaço-temporal das rochas que
de quilômetros quadrados. A bacia tem uma forma preenchem a Bacia do Paraná constitui tema entre
ovalada com eixo maior N-S, sendo seu contorno os mais presentes na bibliografia geocientífica brasi-
atual definido por limites erosivos relacionados em leira, contando-se certamente em alguns milhares
grande parte à história geotectônica meso-cenozóica os trabalhos já publicados abordando os diferentes
do continente. O flanco leste da bacia, aí compreen- aspectos desta questão. Desde o último quarto do
dido o trecho entre o Sudeste brasileiro e o Uruguai, século passado, inúmeros pesquisadores envolveram-
foi profundamente modelado pela erosão em fun- se com a geologia da bacia, destacando-se o relató-
ção do soerguimento crustal associado ao rifte do rio de White (1908), que é considerado o “marco
Atlântico sul, tendo a remoção de seção sedimentar zero” na sistematização estratigráfica da Bacia do
sido estimada em até 2.500 m (Zanotto, 1993). Já o Paraná. Na história de investigação geológica da ba-
flanco ocidental é definido por uma feição estrutural cia, algumas obras assumiram particular relevância como
positiva orientada a norte-sul, um amplo bulge flexural sínteses de caráter regional, aí incluídos os trabalhos
relacionado à sobrecarga litosférica imposta ao con- de Sanford e Lange (1960), Northfleet et al. (1969),
tinente pelo cinturão orogênico andino (Shiraiwa, Schneider et al. (1974), Soares et al. (1978), Almeida
1994). Sobre o bulge inserem-se a região do Panta- (1980), Fulfaro et al. (1980) e Zalán et al. (1990).

1
Centro de Pesquisas da Petrobras/P&D de Exploração/Geologia Estrutural & Geotectônica
e-mail: ejmilani@petrobras.com.br
2
Centro de Pesquisas da Petrobras/P&D de Exploração/Bioestratigrafia e Paleoecologia
3
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/IG) - Porto Alegre - RS
4
Universidade Federal do Paraná (UFPR/DG) - Curitiba - PR
5
E&P Exploração/Geologia Aplicada a Exploração/Modelagem de Sistema Petrolífero

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 265


O registro estratigráfico da Bacia do Paraná oceânica do Panthalassa. Uma série de episódios oro-
compreende um pacote sedimentar-magmático com gênicos é reconhecida na história fanerozóica dessa
uma espessura total máxima em torno dos 7 mil margem (Ramos et al. 1986). A geodinâmica da borda
metros, coincidindo geograficamente o depocentro ativa do Gondwana influiu decisivamente na história
estrutural da sinéclise com a região da calha do rio evolutiva paleozóica-mesozóica da Bacia do Paraná. A
que lhe empresta o nome. Um sem-número de uni- análise integrada da subsidência da bacia, confronta-
dades foram formalizadas neste século de estudos da às grandes orogêneses acontecidas na borda conti-
da bacia no intuito de descrever-lhe o arcabouço es- nental (Milani, 1997), revelou uma relação entre ciclos
tratigráfico e compreender seu desenvolvimento geo- de criação de espaço deposicional na área intracratônica
lógico. O cumulativo de trabalhos produziu um qua- e os referidos episódios orogênicos. A flexura litosférica
dro hoje bem amadurecido em seus aspectos litoes- por sobrecarga tectônica, propagada continente aden-
tratigráficos. O posicionamento cronoestratigráfico tro a partir da calha de antepaís desenvolvida na por-
dos sedimentitos da Bacia do Paraná, entretanto, ção ocidental do Gondwana foi interpretada como ten-
ainda encerra uma série de questões pela falta de do sido um importante mecanismo de subsidência du-
efetivos elementos bioestratigráficos de amarração rante a evolução da Bacia do Paraná. Outros investiga-
às escalas internacionais de tempo geológico. dores interpretaram diferentemente a origem e evolu-
Milani (1997) reconheceu no registro estratigrá- ção da bacia: para Zalán et al. (1990), a contração
fico da Bacia do Paraná seis unidades de ampla escala térmica que teria sucedido aos fenômenos tectono-
ou Superseqüências (Vail et al. 1977), na forma de magmáticos do Ciclo Brasiliano seria um importante
pacotes rochosos materializando cada um deles inter- mecanismo ligado à implantação da sinéclise. Já para
valos temporais com algumas dezenas de milhões de Fulfaro et al. (1982), um conjunto de calhas
anos de duração e envelopados por superfícies de dis- aulacogênicas orientadas segundo a direção NW-SE
cordância de caráter interregional: Rio Ivaí (Ordoviciano- teriam sido “as precursoras da sedimentação cratônica”.
Siluriano), Paraná (Devoniano), Gondwana I A implantação da Bacia do Paraná deu-se na
(Carbonífero-Eotriássico), Gondwana II (Meso a forma de depressões alongadas na direção NE-SW,
Neotriássico), Gondwana III (Neojurássico-Eocretáceo) segundo a trama do substrato pré-cambriano (Milani,
e Bauru (Neocretáceo). As três primeiras superseqüên- 1997). As zonas de fraqueza do embasamento, cor-
cias são representadas por sucessões sedimentares que respondentes ao arcabouço brasiliano impresso nes-
definem ciclos transgressivo-regressivos ligados a osci- sa região, foram reativadas sob o campo compres-
lações do nível relativo do mar no Paleozóico, ao passo sional originado na borda do continente pela Orogenia
que as demais correspondem a pacotes de sedimentitos Oclóyica (Ramos et al. 1986), do Neo-Ordoviciano,
continentais com rochas ígneas associadas. As unida- originando, assim, espaço à acomodação da primei-
des formais da litoestratigrafia, quais sejam os grupos, ra unidade cratônica da bacia: a Superseqüência Rio
formações e membros comumente utilizados na des- Ivaí. O topo desse pacote é assinalado pela discor-
crição do arranjo espacial dos estratos da bacia, inse- dância neossiluriana, a que se associaram a exposi-
rem-se como elementos particularizados neste arcabou- ção subaérea das unidades previamente acumula-
ço aloestratigráfico de escala regional. das, significativa remoção erosiva e o estabelecimento
de um vasto e regular peneplano.
Retomada a subsidência, acumulou-se a Su-
perseqüência Paraná, devoniana, um pacote caracte-

síntese evolutiva rizado por uma notável uniformidade faciológica em


toda sua grande área de ocorrência. Sua espessura é
variável, uma vez que a porção superior da Superse-
A evolução tectono-estratigráfica da Bacia do qüência Paraná foi severamente esculpida por suces-
Paraná, no interior cratônico do Gondwana, conviveu sivos eventos erosivos superpostos, ocorridos entre o
com o desenvolvimento de ativos cinturões colisionais final do Neodevoniano e o Carbonífero Médio. Estes
a ela adjacentes que definem uma extensa faixa posi- foram provavelmente pontuados por breves fases de
cionada junto à margem sudoeste do paleocontinente sedimentação no Fameniano terminal e Eocarbonífe-
- os Gondwanides (Keidel, 1916), ao longo da qual, ro, com registros litológicos hoje quase totalmente per-
durante todo o Fanerozóico, tem tido lugar uma rela- didos por erosão, porém detectáveis por associações
ção de convergência entre o Gondwana e a litosfera de palinomorfos dessas idades, retrabalhados no Gru-

266 | Bacia do Paraná - Milani et al.


po Itararé. A discordância neodevoniana (“pré- associação de vertebrados, possui grande identidade com
Itararé”) define um notável marco na geologia do a paleofauna presente em seções sedimentares da Ar-
Gondwana. Na Bacia do Paraná, demarca uma im- gentina e África do Sul (Barberena et al. 1991). Com o
portante lacuna em sua história tectono-sedimentar, continuar do Mesozóico, prosseguiriam as condições de
nela estando implícito um hiato de cerca de 70 Ma. erosão em ampla escala ligadas à abrasão eólica do
Sua origem tem sido interpretada como decorrente substrato no interior do Gondwana, refletindo-se na Ba-
primordialmente de fatores tectônicos ligados à Oro- cia do Paraná como a mais pronunciada lacuna de seu
genia Herciniana (Zalán, 1991; López-Gamundí e registro estratigráfico. Sobre a superfície assim estabele-
Rossello, 1993). Contudo, a paleoposição em altas cida, acumular-se-iam extensos campos de dunas a par-
latitudes da placa gondwânica durante o Devoniano tir do final do Jurássico, sucedidas pelas rochas magmá-
terminal e Eocarbonífero (Caputo e Crowell, 1985; ticas eocretácicas relacionadas aos momentos iniciais de
Caputo et al. 2008), com o desenvolvimento intermi- ruptura do paleocontinente, no conjunto compondo a
tente de calotas de gelo em áreas próximas e tam- Superseqüência Gondwana III.
bém sobre parte da Bacia do Paraná, além do grande No Eocretáceo, a crosta terrestre foi submetida
rebaixamento do nível do mar que deve ter acompa- a um colossal fendilhamento, associado a magmatis-
nhado o ápice dessas glaciações, certamente consti- mo basáltico de proporções sem similares na história
tuíram fatores decisivos à atual inexistência de um do planeta. Neste evento rompeu-se o megacontinente
registro mississipiano na bacia. Gondwana e iniciou-se a evolução do oceano Atlânti-
Com a migração do Gondwana para norte, a co Sul. O magmatismo Serra Geral marcou o fim de
acumulação sedimentar na Bacia do Paraná foi reto- eventos de sedimentação extensiva na grande área
mada, no final do Westfaliano (Daemon e França, interior do megacontinente. Após a abertura do Ocea-
1993; parte terminal do Moscoviano, de Gradstein et no Atlântico, a Plataforma Sul-Americana manteve o
al. 2004). A implantação da sedimentação carbonífera caráter ascensional generalizado - iniciado ainda ao
sucedeu um tempo de profundas alterações tanto tempo da sedimentação Botucatu - até que o acúmulo
tectônicas quanto climáticas. O pacote que sucede à de quase 2.000 m de espessura de lavas basálticas
discordância neodevoniana, a Superseqüência Gond- determinasse a inversão deste comportamento, na
wana I (Milani, 1997), materializa um ciclo transgres- busca de novo ajuste isostático da porção litosférica
sivo-regressivo completo, fruto da invasão e posterior onde agora estavam acumulados os derrames Serra
saída do Panthalassa sobre o interior do Gondwana. Geral. Cessadas as atividades vulcânicas e promovi-
Sua porção mais inferior corresponde à sedimenta- dos os ajustes isostáticos, definiu-se uma depressão
ção ainda diretamente ligada ao degelo da calota sobre o pacote basáltico onde, no Neocretáceo, viria
polar, sendo caracterizada por depósitos em que fo- a se acumular a derradeira superseqüência na área
ram importantes os mecanismos ligados a fluxos de ocupada pela Bacia do Paraná. O material siliciclásti-
massa e ressedimentação. O ciclo sedimentar alcan- co proveniente de alteração e erosão de rochas pa-
ça condições de máxima inundação no Artinskiano e leozóicas e pré-cambrianas expostas nas bordas al-
encerra com sistemas deposicionais continentais à cançou o interior após erosão e transporte por cente-
entrada do Triássico. A acumulação da Superseqüên- nas de quilômetros. Fernandes e Coimbra (1996) ex-
cia Gondwana I foi acompanhada de um progressivo cluem a seqüência neocretácea do registro sedimen-
fechamento da Bacia do Paraná às incursões mari- tar da Bacia do Paraná por considerá-la acumulada
nhas provenientes de oeste. O caráter de bacia intra- em uma nova bacia, denominada Bacia Bauru.
cratônica vai então paulatinamente sendo assumido, A sedimentação na Bacia Bauru ocorreu em
e a bacia acaba sendo aprisionada no árido interior condições semi-áridas, mais úmidas nas margens e
continental do Gondwana mesozóico. desérticas em seu interior. Na região de Uberaba (MG)
A chegada do Triássico assistiu a uma distensão preservam-se registros de depósitos mais proximais
generalizada na porção sul do paleocontinente Gond- originais da parte oriental, tais como associações de
wana (Uliana e Biddle, 1988). A Superseqüência Gond- fácies areno-conglomeráticas, de leques aluviais e
wana II da Bacia do Paraná, de ocorrência restrita às sistemas fluviais entrelaçados distributários. O avan-
porções gaúcha e uruguaia da bacia, insere-se neste ço da sedimentação levou ao soterramento progres-
contexto regional e parece representar uma sedimenta- sivo do substrato basáltico por extensa manta de len-
ção acumulada em bacias do tipo gráben. O conteúdo çóis de areia, com pequenas dunas e lamitos (loesse
fossilífero desses estratos, na forma de uma importante retido em baixios eventualmente úmidos/aquosos).

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 267


Neste contexto, os poucos depósitos fluviais corres- noroeste paranaense. O Basalto Três Lagoas (Milani
pondem a fluxos desconfinados de enxurradas de et al. 1994) foi amostrado no poço epônimo, perfu-
deserto (wadis). No eixo central da calha elíptica ajus- rado junto ao Rio Paraná na porção central da bacia,
tou-se um sistema regional de drenagem de nordes- e constitui uma singular ocorrência de material ígneo
te para sudoeste, entre as bordas da Bacia Bauru e a associado aos sedimentitos Rio Ivaí.
periferia do deserto interior Caiuá, quente e seco. Esta unidade, a mais antiga já identificada na
Durante a deposição da Superseqüência Bauru Bacia do Paraná, assenta-se diretamente sobre os diver-
houve dois períodos de maior intensidade de even- sos domínios do embasamento da sinéclise. Seu topo é
tos intrusivos de natureza alcalina: 87-80 Ma e 70- demarcado por uma superfície de discordância de
60 Ma (Almeida e Melo, 1981). Seu registro é carac- abrangência regional que justapõe os estratos eossiluria-
terizado por corpos intrusivos que pontuam as mol- nos da porção superior do Grupo Rio Ivaí, quando este
duras da bacia, mais freqüentes nas bordas setentri- exibe seu registro completo àqueles do Eodevoniano,
onais. No interior da bacia essa atividade ígnea foi da base da Formação Furnas. O pacote ocorre desde a
registrada como sismitos em pacotes sedimentares, porção catarinense da bacia até os estados de Mato
assim como na intensa silicificação de arenitos em Grosso e Goiás. Apresenta uma tendência regional de
áreas de intersecção de feições tectônicas regionais espessamento para oeste, rumo ao Paraguai oriental,
de direção SW-NE com o Arco de Ponta Grossa, na onde encontra correspondência litoestratigráfica nos gru-
porção sul da bacia (Fernandes et al. 1993). O único pos Caacupé e Itacurubi, que lá alcançam uma espessu-
registro de magmatismo extrusivo sinsedimentar co- ra total em torno dos 1.000 m.
nhecido são os analcimitos Taiúva, que ocorrem Três unidades constituem o Grupo Rio Ivaí: as
na borda leste da bacia no Estado de São Paulo. formações Alto Garças, Iapó e Vila Maria (Assine et al.
1994). A Formação Alto Garças, com espessura máxi-
ma da ordem de 300 m, é essencialmente arenosa,
podendo incluir um conglomerado basal quartzoso, que

Superseqüência Rio Ivaí passa para arenitos conglomeráticos com estratificação


cruzada. Predominam nessa formação arenitos
quartzosos finos a grossos, pouco feldspáticos, que na
Rochas sedimentares supostamente pré- sua porção superior podem apresentar-se síltico-argilo-
devonianas foram primeiramente identificadas na ba- sos e de cor avermelhada. A Formação Alto Garças
cia por Maack (1947), em mapeamento do flanco apresenta icnofósseis do gênero Skolithos (Milani, 1997),
leste no Estado do Paraná. Em subsuperfície, o acom- observados em testemunhos cortados no poço epônimo.
panhamento geológico relatou a presença de um pa- Contudo, essa formação ainda não revelou um con-
cote denominado “arenito pré-Furnas” na seção pe- teúdo fossilífero significativo que lhe indicasse a idade.
netrada pelo poço de Alto Garças, em Mato Grosso. Paleocorrentes em estratos cruzados de natureza flu-
Mas somente a partir do final da década de setenta é vial, que aparecem na base dessa unidade, em aflora-
que sedimentitos pré-devonianos seriam conclusiva- mentos no flanco ocidental da bacia, apontam no sen-
mente datados e mapeados, inicialmente no flanco tido sudoeste.
norte (Faria e Reis Neto, 1978; Popp et al. 1981) e, a A Formação Iapó é constituída por diamictitos
seguir, por correlação de dados de subsuperfície (Zalán de cores diversas, com matriz síltico-arenosa e clastos
et al. 1987), nas demais porções da Bacia do Paraná. de natureza variada, cujo persistente posicionamen-
Ao pacote subjacente à Formação Furnas, uma to estratigráfico tanto em superfície quanto em se-
vez individualizado e mapeado em escala de bacia, ções de poços empresta-lhe a condição de um notá-
tem sido atribuídas diversas denominações em estu- vel horizonte de correlação, desde o flanco seten-
dos de síntese publicados nos últimos anos. É assim trional da bacia até a porção centro-sul da mesma,
que tanto a Superseqüência Rio Ivaí, de Milani (1997), já no Estado do Paraná. Seu contato abrupto com os
quanto a Seqüência Ordovício-Siluriana, de Milani et arenitos da Formação Alto Garças denota uma im-
al. (1995), a Seqüência Tectonossedimentar portante descontinuidade na história de sedimenta-
Ordovício-Siluriana, de Soares (1991), e o Grupo Rio ção. Os diamictitos Iapó são sucedidos pelos depósi-
Ivaí, de Assine et al. (1994), correspondem à mesma tos da Formação Vila Maria, cujos pelitos fossilíferos
seção de sedimentitos e às rochas magmáticas asso- representam o marco estratigráfico mais importante
ciadas, bem representadas no poço de Rio Ivaí, no de toda a Superseqüência Rio Ivaí.

268 | Bacia do Paraná - Milani et al.


A Formação Vila Maria foi descrita por Faria da unidade até o nível dos pelitos da Formação Vila
(1982) a partir de estudos no sudoeste de Goiás. Para Maria, que manifestam a máxima inundação desse
este autor, a denominação referia-se a todo o pacote ciclo sedimentar. Daí para o topo desenvolve-se a por-
de sedimentitos cratônicos estratigraficamente soto- ção regressiva, de pequena expressão em território
posto à Formação Furnas, que na região estudada brasileiro devido à pronunciada remoção erosiva acon-
inclui diamictitos na base, folhelhos fossilíferos e are- tecida com o evoluir da discordância “pré-Furnas”. No
nitos intercalados a siltitos na porção superior. Poste- Paraguai, o trecho regressivo encontra-se bem preser-
riormente, Assine et al. (1994) redefiniram a unidade vado, correspondendo aos arenitos finos, micáceos e
pela subtração dos diamictitos, por eles considerados fossilíferos da Formação Cariy.
como correspondentes à Formação Iapó. Desse modo,
restringiram a Formação Vila Maria ao pacote pelítico
sobreposto, que grada para termos arenosos no senti-
do do topo, no conjunto com poucas dezenas de
metros de espessura. Os folhelhos são, em geral, de Superseqüência Paraná
cor vermelha, micáceos e com aspecto ferruginoso,
porém localmente cinza-escuros e bastante fossilíferos. Os sedimentitos devonianos que ocorrem
Por sua vez, os arenitos e siltitos da porção superior no Sul do Brasil constituem de longa data temas de
exibem estratificação cruzada do tipo hummocky. investigações científicas. Segundo Salamuni e Biga-
Gretas de contração também ocorrem no intervalo rella (1967), as primeiras descrições relativamente
superior (Faria, 1982), o que sugere uma eventual organizadas dos estratos devonianos da Bacia do
exposição subaérea da superfície deposicional. Paraná são devidas a Derby (1878). Seguiram-se os
O conteúdo fossilífero característico faz da For- trabalhos de Kayser (1900), Clarke (1913) e Kozlowski
mação Vila Maria e, sobretudo, de sua correspondente (1913), todos voltados para aspectos sedimentológicos
paraguaia, a Formação Vargas Peña, um intervalo-cha- e paleontológicos desse pacote. É atribuída a Olivei-
ve para a cronoestratigrafia do Siluriano da Bacia do ra (1912) a pioneira divisão do pacote devoniano da
Paraná. Tomadas em conjunto, são registrados nessas região meridional da bacia em “Grés das Furnas”,
unidades megafósseis marinhos como graptólitos, “Xistos de Ponta Grossa” e “Grés de Tibagi”. Evans
trilobitas, braquiópodos, gastrópodos, biválvios e ostra- (1894) definiu a “Série Chapada” referindo-se à se-
codes (Popp et al. 1981; Wiens, 1990; Boucot et al. 1991; ção devoniana aflorante no Estado de Mato Grosso.
Melo, 1993; Uriz et al. 2008), além de palinomorfos Desde cedo, foi reconhecida uma divisão natu-
como quitinozoários (Wood e Miller, 1991; Grahn et al. ral do pacote devoniano da Bacia do Paraná em duas
2000; Grahn, 2006), miósporos e acritarcos (Gray et al. unidades: um pacote arenoso inferior, a Formação Fur-
1985, 1994). Do ponto de vista bioestratigráfico, os ele- nas, e outro pelítico, sobreposto a Formação Ponta Gros-
mentos de maior relevância na caracterização da idade sa. Mas se um consenso acerca do empilhamento es-
são os graptólitos (gêneros Monograptus e Diplograptus), tratigráfico foi logo estabelecido, o mesmo não pode
quitinozoários e miósporos (Mizusaki et al. 2002; Mauller ser dito acerca da nomenclatura desse pacote. Pairam,
et al. 2004; Grahn, 2006). Tal associação posiciona o da mesma forma, importantes debates acerca da natu-
intervalo estratigráfico em questão no Llandovery reza da sedimentação Furnas (continental versus mari-
(Eossiluriano), confirmado também pela datação abso- nha), de sua idade (mormente a de sua porção inferior,
luta (Rb–Sr) de pelitos da Formação Vila Maria (435,9 + afossilífera), e também quanto à sua relação de conta-
7,8 Ma, fide Mizusaki et al. 2002), que corresponderia to com a sobrejacente Formação Ponta Grossa (se tran-
à transição Aeroniano/Telychiano na escala sicional ou discordante). Dois termos, a “Série Paraná”
geocronométrica de Gradstein et al. (2004). A mesma (Moraes Rêgo, 1931) e a “Série Campos Gerais” (Oli-
idade é indicada pelos graptólitos e palinomorfos da veira, 1927), disputaram a primazia de nomear a seção
Formação Vargas Peña no Paraguai oriental (Mauller et devoniana da Bacia do Paraná. A partir de Lange e
al. 2004; Grahn, 2006; Uriz et al. 2008). Petri (1967) tem prevalecido a denominação litoestrati-
A sucessão de fácies no pacote Rio Ivaí docu- gráfica de Grupo Paraná, empregada por diversos pes-
menta o primeiro ciclo transgressivo-regressivo da se- quisadores até os dias atuais. O Grupo Paraná da litoes-
dimentação cratônica da Bacia do Paraná. A nature- tratigrafia encontra correspondência em denominações
za da sedimentação é dominantemente marinha, com de cunho aloestratigráfico tais como Seqüência
o trecho transgressivo estendendo-se desde a base Tectonossedimentar Devoniana-Mississipiana (Soares,

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 269


1991), Seqüência Devoniana (Milani et al. 1994) e Su- membros: Jaguariaíva, Tibagi e São Domingos (Lange
perseqüência Paraná (Milani, 1997). e Petri, 1967). O inferior, que materializa o afogamen-
O pacote devoniano da bacia, o Grupo Paraná, to dos sistemas transicionais da porção superior da
apresenta uma espessura máxima em torno dos 800 m, Formação Furnas, é representado por folhelhos com
como no poço de Alto Piquiri, perfurado na região oeste cerca de 100 m de espessura, contendo lentes de are-
do Estado do Paraná. Possança similar é observada no nito fino com estratificações retrabalhadas por ondas.
Paraguai oriental, onde a ocorrência de estratos devo- Nos 20 m superiores desse pacote, ocorre um folhelho
nianos em subsuperfície, sugerida já por Lange e Petri preto laminado, carbonoso, que configura um impor-
(1967), foi finalmente comprovada por trabalhos palino- tante marco de correlação estratigráfica em subsuper-
lógicos efetuados pela Petrobras (inéditos). Na maior par- fície, além de constituir potencial gerador de hidrocar-
te da bacia, esta superseqüência assenta-se sobre os bonetos gasosos em toda sua área de ocorrência, no
estratos ordovício-silurianos do Grupo Rio Ivaí, mas tam- domínio central da Bacia do Paraná. O Membro Tibagi,
bém pode ser encontrado diretamente sobre os litotipos areno-síltico, corresponde à porção média da Forma-
do embasamento da sinéclise. A base do pacote ção Ponta Grossa, refletindo um contexto regressivo
devoniano coincide com uma superfície de discordância de progradação de sistemas deltaicos provenientes da
notavelmente regular e aplainada, de tal sorte que sua borda nordeste, onde é bastante expressivo o aporte
geometria regional, em particular a da Formação Fur- dos termos arenosos (Andrade e Camarço, 1982). O
nas, configura um imenso blanket, com cerca de 250 m Membro São Domingos, dominantemente pelítico,
de espessura em toda sua ampla área de ocorrência. O documenta nova inundação em ampla escala, que
topo do pacote é assinalado por outra discordância re- fecha o registro devoniano pré-”struniano” da sinécli-
gional, desenvolvida no final do Devoniano e sobretudo se. A Formação Ponta Grossa ultrapassa os 600 m de
no Carbonífero. O estabelecimento desta superfície espessura em subsuperfície, com 300 m remanescen-
erosiva subtraiu importantes registros sedimentares da tes em afloramentos. Sedimentitos devonianos ocor-
Bacia do Paraná, correspondentes ao Devoniano termi- rem também no Uruguai, onde são reunidos sob a
nal e quiçá ao Eocarbonífero. denominação de Grupo Durazno.
A Formação Furnas é representada por uma su- Assine (1996) demonstrou que os arenitos Fur-
cessão de arenitos quartzosos brancos, médios a gros- nas encerram um rico conteúdo icnofossilífero, impor-
sos, caulínicos e exibindo estratificações cruzadas de tante argumento a favor da hipótese de acumulação
várias naturezas. Próximo à base, são freqüentes leitos em plataforma marinha rasa. A datação dessa unida-
conglomeráticos com até 1 m de espessura. Na sua por- de ainda é problemática no que diz respeito à sua por-
ção intermediária, dominam arenitos de granulometria ção inferior, sedimentada talvez ainda no Siluriano ter-
média, que se intercalam a delgados níveis de siltito e minal. O mesmo não se aplica à porção superior, onde
folhelho muscovítico, salientando o aspecto estratificado ocorrem – desde o Paraná até Goiás e Mato Grosso –
desse intervalo. Cruzadas do tipo espinha de peixe ocor- pelitos portadores de plantas continentais do grupo das
rem neste nível intermediário da formação (Assine, 1996). Psilophytales, conhecidas desde Bigarella et al. (1966),
Para o topo, arenitos médios a grossos passam a domi- e hoje posicionadas no Lochkoviano superior não-ter-
nar, mas também aparecem camadas de arenitos muito minal (Gerrienne et al. 2001). Os miósporos associados
finos com estratificação do tipo hummocky. Em subsu- a essas tafoflórulas, inicialmente datados como
perfície, a porção mais superior da Formação Furnas praguianos por Dino e Rodrigues (1993), na verdade
mostra um incremento paulatino nas leituras do perfil de corroboram a idade Neolochkoviana indicada pelas plan-
raios gama, o que indica um aumento contínuo de argi- tas, e pertencem a palinozona Mórfon Emsiensis, de
losidade, evidenciando uma passagem gradacional para Rubinstein et al. (2005). Esta datação, aliada à relação
a Formação Ponta Grossa. As “camadas de transição” de gradacionalidade entre as formações Furnas e Pon-
de Petri (1948), um conjunto de fácies com arranjo gra- ta Grossa em escala de bacia, confirma que o Grupo
nodecrescente que inicia na base com o típico “arenito Paraná tenha se depositado - inteiramente ou na sua
Furnas” e que culmina a algumas dezenas de metros quase totalidade - durante o Devoniano.
acima nos folhelhos da Formação Ponta Grossa, parece Quanto às pesquisas bioestratigráficas na Forma-
materializar em afloramentos o referido intervalo de ção Ponta Grossa, o trabalho de Clarke (1913), basea-
gradação indicado nos perfis de poços. do num abundante acervo coletado em afloramentos
A Formação Ponta Grossa foi descrita inicialmen- no Estado do Paraná, é considerado um marco na clas-
te no Estado do Paraná, onde é representada por três sificação dos macrofósseis dessa unidade. Lange (1954)

270 | Bacia do Paraná - Milani et al.


e Sommer (1954) sintetizaram os conhecimentos acu- se, aqui, pela informalidade nomenclatural do
mulados até então sobre a paleofauna e a paleoflora “diamictito Ortigueira”.
do Devoniano paranaense, respectivamente. Na pri- A Superseqüência Paraná constitui o segundo
meira, predominam invertebrados marinhos como ciclo transgressivo-regressivo do registro estratigráfico
braquiópodos, trilobitas, biválvios, gastrópodos, anelí- da Bacia do Paraná. O pacote Furnas exibe uma ca-
deos e equinodermos. A tafoflora da Formação Ponta racterística assinatura transgressiva que vai culminar
Grossa evidencia o sensível avanço evolutivo já alcan- nos pelitos da base da Formação Ponta Grossa, estes
çado no Devoniano, com representantes de Psilophyta- documentando a primeira grande inundação do ciclo
les, Lepidodendrales, Lycopsidales e Hyniales. Entre- devoniano, durante o Praguiano – Eo-emsiano. Um
tanto, foi por meio de zoneamentos palinoestratigráfi- segundo episódio de expansão marinha seria atingida
cos, estabelecidos em subsuperfície com base em no Mesodevoniano (transição Eifeliano/Givetiano), que
quitinozoários (Lange, 1967; Grahn et al. 2000, 2002; promoveu uma conexão entre as bacias do Paraná e
Grahn, 2005; Gaugris e Grahn, 2006) e miósporos do Parnaíba, evidenciada paleontologicamente por
(Daemon et al. 1967; Loboziak et al. 1988, 1995, 1998; megafósseis e palinomorfos. O afogamento marinho
Dino et al. 1995; Melo e Loboziak, 2003), que se data- na Bacia do Paraná persistiu até pelo menos o Fras-
ram com precisão os estratos Ponta Grossa. Os resulta- niano, embora não com a magnitude e o desenvolvi-
dos das investigações mais recentes indicam que o mento anóxico observados então nas bacias paleozói-
pacote pelítico devoniano, preservado atualmente na cas do Norte brasileiro. No seu conjunto, o pacote Ponta
Bacia do Paraná, depositou-se do Praguiano ao Grossa registra condições de mar alto, sendo a seção
Neofrasniano não-terminal. Registros mais jovens do dominantemente pelítica pontuada localmente por
Devoniano foram erodidos, mas palinofloras relictas do progradações arenosas, a mais significativa delas cor-
Fameniano terminal (“Struniano”) foram documenta- respondendo ao Membro Tibagi.
dos, possivelmente in situ, em diamictitos do poço
Ortigueira, no Paraná (Loboziak et al. 1995).
Esses diamictitos, aqui informalmente desig-
nados segundo o poço de mesmo nome, ocorrem no
testemunho n°14 (entre 953-954,5 m) e assentam-se Superseqüência
sobre pelitos frasnianos da Formação Ponta Grossa.
Foram analisados palinologicamente por Loboziak et Gondwana I
al. (1995), que os atribuíram a palinozona LN da Eu-
ropa Ocidental (Streel et al. 1987), equivalente à Zona O pacote gondwânico da Bacia do Paraná, do
LVa de Melo e Loboziak (2003), constatando ainda a qual esta unidade constitui a porção dominantemente
presença de palinomorfos retrabalhados do Givetiano paleozóica, tem-se constituído em inesgotável acervo
e Frasniano. Sua litologia foi descrita sumariamente para pesquisas há mais de um século. Isso é decorrente
por Caputo et al. (2008), como sendo diamictitos cin- do interesse mineiro em função da existência dos leitos
zentos, constituídos por clastos de granulometria va- de carvão da Formação Rio Bonito, das ocorrências de
riada (desde arenosa até seixos), dispersos numa ma- urânio nesta mesma unidade e do potencial petrolífero
triz argilosa a síltica, micácea, maciça. Esse mesmo - tanto pela presença de rochas geradoras como de
intervalo fora atribuído por Lange (1967) à Formação rochas-reservatório - que esta superseqüência encerra.
Ponta Grossa (Frasniano, intervalo bioestratigráfico D5), Embora o registro inicial da seção gondwânica
tendo sido posteriormente relacionado por geólogos remonte a Derby (1878), foi White (1908) quem pri-
da Petrobras ao Grupo Itararé (Formação Campo meiro agrupou o conjunto de estratos em questão
Mourão). Cumpre salientar que é praticamente im- no “Sistema de Santa Catarina”, constituído pela
possível distinguir litologicamente os diamictitos “Série de São Bento” (“eruptivas da Serra Geral,
neocarboníferos dos neofamenianos, estes com redu- grés de Botucatu e camadas vermelhas do Rio do
zida espessura, sendo necessário recorrer-se à palino- Rasto”), “Série de Passa Dois” (“rocha calcárea da
logia para separá-los. Além disso, é comum o retra- Rocinha, schistos da Estrada Nova, schisto negro de
balhamento de palinomorfos “strunianos” nos diamic- Iraty”) e “Série de Tubarão” (“schistos de Palermo,
titos do Grupo Itararé, conforme já salientado por grés do Rio Bonito com estractos carboníferos, con-
Loboziak et al. (1995). Em função dessas ressalvas e glomerados de Orleans, grés amarellos e schistos
até que sua mapeabilidade seja demonstrada, optou- em solo de granito”).

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 271


Em seus traços gerais, tal divisão pioneira man- individualmente o Grupo Itararé e Formação Aquidaua-
tém-se até hoje, sendo que a visão litoestratigráfica na, Grupo Guatá, Grupo Passa Dois e formações
contemporânea do pacote permo-carbonífero da Ba- Pirambóia e Sanga do Cabral. No conjunto, esta grande
cia do Paraná deve-se em grande parte à síntese de unidade aloestratigráfica posiciona-se temporalmente
Schneider et al. (1974). Num enfoque aloestratigráfico, entre o Moscoviano (Neocarbonífero) e o Scythiano
Soares (1991) referiu-se a este pacote como Seqüên- (Eotriássico).
cia Tectonossedimentar Pensilvaniana-Permiana, en- Durante boa parte do Eocarbonífero, o Gond-
quanto Milani et al. (1994) designaram-no Seqüência wana sul-ocidental postou-se a elevadas latitudes e
Carbonífera-Eotriássica. tornou-se o sítio de extensa glaciação continental. A
A ausência de fósseis da coluna geocronológica presença de geleiras foi fator inibidor a uma efetiva
padrão, tais como amonóides e conodontes, e a es- organização de sistemas deposicionais e à acumula-
cassez de datações absolutas - uma vertente de pes- ção sedimentar expressiva. Este período reflete-se no
quisa que só há poucos anos está sendo praticada registro estratigráfico da Bacia do Paraná como uma
para esse pacote - impedem um posicionamente geo- significativa lacuna entre os estratos neodevonianos
cronológico mais acurado das seções gondwânicas. da Formação Ponta Grossa e os neocarboníferos do
As idades atribuídas às unidades dessa superseqüên- Grupo Itararé e Formação Aquidauana. Com a pro-
cia são baseadas em dados paleontológicos advindos gressiva migração do paleocontinente para norte, afas-
de diversos grupos fósseis, principalmente palinomor- tando-se assim do foco da glaciação, a sedimentação
fos para as unidades dos grupos Itararé, Guatá e base - em um contexto periglacial - foi retomada nessa
do Passa Dois (Formação Irati), (Daemon e Quadros, área, no final do Moscoviano.
1970; Souza e Marques-Toigo, 2005; Souza, 2006) e A porção inferior da Superseqüência Gondwa-
vertebrados (tetrápodes da Formação Rio do Rastro, na I é representada pelos depósitos ainda diretamente
por exemplo Cisneiros et al. 2005; Lucas, 2006). ligados à fase de degelo dos grandes glaciares mississi-
Idades absolutas têm sido obtidas mais recen- pianos. Para o Grupo Itararé e Formação Aquidauana,
temente, com relativa convergência de informações França e Potter (1988) definiram ciclos de sedimentação
até o presente momento apenas para a Formação com afinamento de grão para cima que corresponde-
Irati (Santos et al. 2006; Rocha-Campos et al. 2007). riam a mudanças climáticas cíclicas dentro do regime
De qualquer modo, pelo posicionamento estratigráfi- glacial, cada um deles ligado a uma subida do nível
co relativo das diversas unidades, a obtenção de ida- relativo do mar. Tais ciclos iniciam em pacotes arenosos
des absolutas robustas para o horizonte Irati tem que gradam para cima a seções argilosas, nessas últi-
impactado fortemente o ajuste do biozoneamento mas sendo comuns intercalações de lamitos seixosos (dia-
desta seção à escala de idades absolutas, com altera- mictitos). As maiores espessuras preservadas da seção
ções da ordem dos 30 Ma em relação aos esquemas glaciogênica encontram-se na porção centro-norte da
anteriormente praticados. Está em curso uma verda- bacia, onde atingem mais de 1.300 m. Para França e
deira releitura da Estratigrafia do Permo-Carbonífero Potter (1988), a Formação Aquidauana equivale estrati-
da Bacia do Paraná, e antecipam-se para os próximos graficamente ao Grupo Itararé, porém sua ocorrência
anos novos resultados de forte impacto no tema. restringe-se ao domínio setentrional da sinéclise e deste
A Superseqüência Gondwana I (Milani, 1997) último se diferencia basicamente por sua generalizada
engloba o maior volume sedimentar da Bacia do oxidação e cor vermelha.
Paraná, aflorando num cinturão quase contínuo ao lon- Constituem os depósitos glaciogênicos da Bacia
go do perímetro da sinéclise e exibindo, em subsuperfí- do Paraná diamictitos maciços ou estratificados, com
cie, uma espessura total máxima da ordem de 2.500 m. seixos e blocos de múltiplas litologias e áreas-fonte que
Esta unidade encerra em seu registro atributos sedi- evidenciam o trabalho das geleiras carreando imenso
mentares que refletem uma grande variedade de con- volume sedimentar para a bacia. As fácies arenosas,
dições deposicionais sucedendo-se no tempo e evoluindo maciças, gradadas ou com ondulações unidirecionais
entre um contexto neocarbonífero de sedimentação totalizam o maior volume sedimentar do pacote glacial
com marcada influência glacial até um amplo e árido e correspondem, segundo Eyles et al. (1993), a contex-
interior continental com domínio de campos de dunas tos de sedimentação turbidítica. São comuns corpos
eólicas já na chegada do Mesozóico. arenosos apresentando deformações sinssedimentares
Esta superseqüência inclui os pacotes sedimenta- ligadas a escape d’água ou dobras diversas. Os pelitos
res que, sob a ótica da Litoestratigrafia, caracterizam foram associados a processos de decantação quando

272 | Bacia do Paraná - Milani et al.


maciços, e a sedimentação turbidítica quando finamen- influência marinha pode manifestar-se como pacotes
te laminados. Esses mesmos autores advogaram uma pelíticos de espessura importante, como é o caso do
importante contribuição de fluxos gravitacionais na se- Membro Paraguaçu, no conjunto traduzindo uma pro-
dimentação glaciogênica da Bacia do Paraná, sendo gressiva subida do nível do “mar Palermo” que, a se-
para eles a presença de fácies de ressedimentação em guir, recobriria por completo a bacia. Localmente, sob
todos os domínios da bacia uma forte evidência de condições de restrição lagunar ao longo da franja litorâ-
um substrato acidentado e elevado aporte sedimen- nea, desenvolveram-se turfeiras que deram origem aos
tar. Dois outros litotipos, embora de ocorrência subor- carvões do Membro Siderópolis.
dinada, são bastante característicos desse pacote: os A unidade superior da Formação Rio Bonito com-
“ritmitos” e os tilitos (Rocha-Campos, 1967). Os pri- preende arenitos finos, siltitos e siltitos carbonosos que
meiros incluem os chamados varvitos, originados por se intercalam a camadas de carvão (Bortoluzzi et al.
variações climáticas sazonais em lagos periglaciais, 1987). O carvão ocorre na porção meridional da Bacia
enquanto os tilitos verdadeiros, de presença muito local do Paraná, sendo Bonito, Barro Branco e Candiota, den-
no Itararé, relacionam-se a pavimentos estriados im- tre outras, unidades de grande significado na Geologia
pressos no substrato pela ação mecânica da geleira Econômica da região Sul do País. As camadas de car-
em movimento, geralmente orientando-se a N-S ou vão na região de Candiota (RS) arranjam-se num pa-
NW-SE (Rocha-Campos, 1967; Gesicki et al. 1996). drão retrogradacional (Alves, 1994), sucedendo-se tem-
Com base nos palinomorfos (Souza, 2006, em parte poralmente de sul para norte segundo a tendência
reinterpretado no presente trabalho), ao Grupo Itararé transgressiva que dominava a sedimentação em maior
é atribuída uma idade entre o Moscoviano terminal escala. No domínio norte, a seção correspondente aos
(Neocarbonífero) e o início do Sakmariano (Eopermia- intervalos médio e superior da Formação Rio Bonito,
no), ao passo que a Formação Aquidauana - com seu em conjunto com a Formação Palermo, são agrupados
conteúdo palinológico referido à “zona G” de Daemon na Formação Tatuí (Schneider et al. 1974).
e Quadros (1970) -, constitui um registro sedimentar A Formação Palermo é constituída por siltitos e
exclusivamente neocarbonífero. siltitos arenosos cinza-amarelados, sendo a conspícua
A deglaciação trouxe como conseqüência dire- bioturbação uma característica onipresente em sua ocor-
ta uma subida do nível relativo do mar, conceitualmen- rência pela bacia. Arenitos finos em corpos de geome-
te identificada como “transgressão permiana” por tria lenticular e estratificação do tipo hummocky ocor-
Lavina e Lopes (1987). Sucedem os estratos glaciogê- rem localmente no Palermo. Folhelhos cinza-escuros tam-
nicos o pacote sedimentar do Grupo Guatá, na porção bém aparecem, compondo um horizonte de correlação
meridional da bacia, e o das formações Tietê (senso regional relacionado à máxima inundação da Superse-
Fulfaro et al. 1991) e Tatuí no domínio centro-norte; no qüência Gondwana I (Milani, 1997). Tal horizonte confi-
Uruguai, equivale à Formação Três Islas. A par de dis- gura igualmente um notável marco bioestratigráfico no
tintas denominações locais, o pacote pós-glacial defi- zoneamento palinológico de Daemon e Quadros (1970),
ne uma cunha transgressiva em onlap de sul para nor- posicionando-se temporalmente no Artinskiano (Souza,
te que inicia com os depósitos da Formação Rio Bonito, 2006). No seu conjunto, o Grupo Guatá tem idades en-
tradicionalmente interpretados como constituindo um tre o Sakmariano e o Artinskiano.
“extenso front deltaico” (Northfleet et al. 1969). Uma Acima, a Formação Irati documenta um mo-
notável ciclicidade sedimentar pode ser observada no mento singular na evolução da bacia: uma efetiva
pacote Rio Bonito, traduzindo oscilações do nível de restrição à circulação de águas entre a sinéclise e o
base na bacia de acumulação. Em função desta carac- oceano Panthalassa culminou por desenvolver um
terística, em que se alternam pacotes ora dominante- contexto ambiental hipersalino na bacia interior. Sob
mente arenosos e ora pelíticos, a unidade foi dividida tais condições, acumularam-se carbonatos e evaporitos
em três membros: Triunfo, Paraguaçu e Siderópolis na porção norte, e folhelhos betuminosos na porção sul
(Schneider et al. 1974). da bacia, estes exibindo um conteúdo orgânico quanti-
A tendência transgressiva da sedimentação pós- tativo que atinge níveis dos mais elevados já registra-
glacial se manifesta desde a base do Grupo Guatá, dos em depósitos sedimentares do planeta, da ordem
sendo comuns retrabalhamentos dos lobos deltaicos de 23%, qualificando-os como um gerador em poten-
por ação de marés. A completa seção da Formação cial para acumulações petrolíferas na área. Singular
Rio Bonito é pontuada por níveis marinhos em grande também é a paleofauna de vertebrados encontrada no
parte representados por tempestitos (Castro, 1991). A Irati, com os gêneros Mesosaurus e Stereosternum, rép-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 273


teis que permitiram a Du Toit (1927), ainda muito cedo centes lacustres da “Bacia Passa Dois”. Tal interpreta-
neste século, sugerir a deriva continental como uma ção, associada à presença de répteis da biozona de
possibilidade científica, em função da correlação de Lystrosaurus do Scythiano (Eotriássico) nos estratos da
tais fósseis com os equivalentes encontrados nos depó- Formação Sanga do Cabral (Lavina, 1988), corrobora o
sitos da Formação Whitehill, na África do Sul. A Forma- posicionamento da porção terminal da Superseqüên-
ção Irati, ajustada aos esquemas internacionais pela cia Gondwana I no início do Mesozóico. No domínio
datação geocronológica de zircões nela presentes (cin- setentrional, um contexto sedimentar análogo ao da
zas vulcânicas), posiciona-se atualmente no neo-Ar- Formação Sanga do Cabral é conhecido como Forma-
tinskiano (Santos et al. 2006). Na sucessão sedimentar, ção Pirambóia. Trata-se de depósitos fluviais e eólicos
segue a Formação Serra Alta um pacote de folhelhos compondo uma cunha que se adelgaça para sudoeste
cinza-escuros finamente laminados, produto de decan- no sentido da porção paranaense da bacia.
tação de argila em um contexto marinho de baixa ener- Em síntese, no arcabouço aloestratigráfico da
gia (Gama Jr., 1979) e interpretados como os depósitos Bacia do Paraná, a Superseqüência Gondwana I do-
relativos ao “afogamento” do “golfo Irati”. Na realida- cumenta um ciclo transgressivo-regressivo comple-
de, a última incursão marinha importante documenta- to, que se inicia na base do pacote glacial pensilva-
da na Bacia do Paraná. niano, atinge condições de máximo afogamento
A sedimentação Passa Dois “pós-Serra Alta” de- marinho na Formação Palermo no Artinskiano, e
senvolveu-se acompanhando uma definitiva tendência encerra em depósitos continentais que colmatariam
regressiva em grande escala. Sistemas continentais pas- a sinéclise já no início do Mesozóico.
sam a dominar a bacia de acumulação, representando
o assoreamento da bacia remanescente. Depósitos do-
minantemente pelíticos, com estruturas sedimentares
ligadas à ação de marés na Formação Teresina, dão
lugar a um complexo progradacional de red beds in- Superseqüência
cluindo lobos deltaicos, pelitos lacustres, arenitos eólicos
e depósitos fluviais (Lavina, 1988) da Formação Rio do Gondwana II
Rasto, que se desenvolveram no sentido geral de no-
roeste para sudeste. No domínio paulista da bacia, a O estabelecimento da ocorrência do Sistema
Formação Corumbataí, documentando um amplo sis- Triássico na Bacia do Paraná apresenta um forte vínculo
tema de planície de marés, é a equivalente litoestrati- ao pacote pelítico fossilífero da Formação Santa Maria,
gráfica da Formação Teresina. A fauna de vertebrados que ocorre na porção gaúcha da bacia e que, em ter-
(pareiassaurídeos) da Formação Rio do Rasto, registra- mos de conteúdo fossilífero, não encontra analogia nos
da em afloramentos do Paraná e Rio Grande do Sul demais domínios da sinéclise. O posicionamento destes
(Cisneros et al. 2005), são referíveis aos faunacrons red beds com restos de vertebrados no arcabouço estra-
Gamkano e Hoedemakerano da biocronologia global tigráfico da bacia, pelo caráter limitado de sua área de
de tetrápodes permianos de Lucas (2006), cuja idade é ocorrência, tem suscitado controvérsias ao longo de sua
guadalupiana (mesopermiana). Contudo, o maior de- história de investigação, iniciada com a definição das
senvolvimento em espessura sedimentar da Formação “Camadas Santa Maria” por Moraes Rego (1930) apud
Rio do Rasto em subsuperfície permite especular-se que Baptista et al. (1984). Além disso, os pelitos Santa Maria
essa unidade possa atingir o Permiano Superior - Triássico ocorrem inseridos numa espessa seção dominantemen-
inicial no interior da bacia, em seções não representa- te arenosa, em grande parte afossilífera, que abarca o
das na faixa de afloramentos. intervalo entre o pacote reconhecidamente de idade
Na porção gaúcha da Bacia do Paraná, uma permiana da Formação Sanga do Cabral e a Formação
espessa sucessão flúvio-eólica com até 500 m de Botucatu, do Neojurássico-Eocretáceo, de tal sorte que
possança, como constatado pelo poço de Alegrete, diversos aspectos da estratigrafia desta porção da bacia
corresponde à Formação Sanga do Cabral, unidade que ainda estão por ser adequadamente equacionados.
se prolonga ao Uruguai nos depósitos da Formação A identificação pioneira da presença de restos
Buena Vista. O pacote Sanga do Cabral foi interpreta- fósseis de vertebrados na seção sedimentar em questão
do por Lavina (1988) como um equivalente lateral da remonta ao início do século (Woodward, 1907 apud
Formação Rio do Rasto, que representaria o avanço Faccini, 1989). Investigações do conteúdo fossilífero da
para norte de sistemas continentais sobre os remanes- Formação Santa Maria que se tornaram clássicas foram

274 | Bacia do Paraná - Milani et al.


as de Huene (1928) apud Scherer (1994) e Huene (1942) quanto que os pelitos lacustres teriam se acumulado jun-
apud Bortoluzzi e Barberena (1967), dedicadas ao estu- to às porções mais subsidentes. A ciclicidade observada
do de répteis e reconhecendo já àquela época a maio- neste pacote, em que se intercalam pelitos lacustres e
ria dos grupos presentes (Dicynodontia, Cynodontia, arenitos fluviais, teria se desenvolvido em resposta a va-
Pseudosuchia, Rhynchocephalia e Saurischia). Gordon riações do nível de base do lago em função de um con-
Jr. e Brown (1952) apud Bortoluzzi e Barberena (1967), trole combinado da tectônica e do clima (Milani et al.
na pesquisa de plantas fósseis; Pinto (1956) apud 1998). A Formação Santa Maria, o clássico registro
Bortoluzzi e Barberena (1967), observando e descreven- ladiniano-noriano da região central do Rio Grande do
do plantas fósseis e invertebrados (Crustacea e Insecta), Sul, corresponde à sedimentação lacustre - e fluvial asso-
e Price (1946, 1947) apud Bortoluzzi e Barberena (1967), ciada - que aconteceu em resposta a um pulso de subsi-
igualmente voltada aos vertebrados fósseis. dência nos grábens meso-neotriássicos da Bacia do
Mas certamente estes estratos se notabilizaram Paraná. De todo o modo, a pronunciada erosão a que
na bibliografia geocientífica por sua paleoherpetofauna, foi submetido este pacote, principalmente durante o de-
tendo os estudos sistemáticos dos restos de vertebrados senvolvimento da ampla superfície de deflação eólica
da Formação Santa Maria efetivamente implementados ligada à Formação Botucatu, dificulta sobremodo uma
a partir da década de 70. Barberena (1977) mostrou a reconstituição mais confiável do contexto paleofisiográfico
primeira subdivisão bioestratigráfica para o intervalo se- do Meso-Neotriássico da Bacia do Paraná.
dimentar da Formação Santa Maria, na forma de três
cenozonas (Therapsida, Rhynchocephalia e Dicroidium).
As duas primeiras baseadas em répteis e dotadas de
extensão lateral considerável, ao passo que a última
apóia-se em plantas fósseis e tem caráter fortemente Superseqüência
local. Esse autor estabeleceu meticulosa correlação en-
tre as zonas de associação e a fauna triássica da Argen- Gondwana III
tina, concluindo por um posicionamento da seção sedi-
mentar da Formação Santa Maria entre o Mesotriássico A Superseqüência Gondwana III, denominada
e o Neotriássico. como “Seqüência Jurássica-Eocretácica” na concep-
Em dados de subsuperfície, observa-se que a se- ção de Milani et al. (1994), compreende o intervalo
ção correspondente à Superseqüência Gondwana II exi- do registro estratigráfico da Bacia do Paraná em que
be um contato basal nítido, em que depósitos pelíticos se posicionam os sedimentitos eólicos da Formação
sobrepõem-se abruptamente aos arenosos da unidade Botucatu e os magmatitos da Formação Serra Geral.
anterior. Este contato abrupto, na realidade refletindo Tal seção, se acrescida do pacote sedimentar
uma rápida “transgressão lacustre” sobre a superfície suprabasáltico, encontrará correspondência no Gru-
de discordância que marca o topo da Superseqüência po São Bento, de Schneider et al. (1974). A Superse-
Gondwana I, poderia ser indicativo de um episódio de qüência Gondwana III é amplamente distribuída pela
afundamento acelerado do substrato e desenvolvimen- Bacia do Paraná, e seus sedimentitos continentais são
to de uma bacia faminta. O posterior preenchimento representados dominantemente por fácies eólicas. A
por aportes arenosos progradacionais encontra-se docu- Formação Botucatu constitui-se quase totalmente, em
mentado nos dados de poços que amostraram essa se- toda sua ampla área de ocorrência, por arenitos mé-
ção sedimentar. O conjunto pelitos lacustres/progradações dios a finos de elevada esfericidade e aspecto fosco,
arenosas é recoberto em contato abrupto pelos arenitos róseos, que exibem estratificação cruzada tangencial,
da Formação Tacuarembó no Uruguai e pelos da For- de médio a grande porte, numa assinatura faciológica
mação Botucatu no Rio Grande do Sul. muito característica que possibilita um pronto reco-
Assim, o conjunto de atributos da Superseqüên- nhecimento do “deserto Botucatu” em todos os pon-
cia Gondwana II permite uma interpretação de que a tos em que aflora. Junto à base, localmente ocorrem
subsidência meso-neotriássica da Bacia do Paraná po- ventifactos (Almeida e Melo, 1981) derivados de um
deria estar relacionada ao desenvolvimento de grábens persistente retrabalhamento eólico sobre depósitos flu-
distensivos assimétricos, acomodando-se a drenagem viais subjacentes ao campo de dunas.
fluvial sobre a rampa flexural deste sistema, com mer- Com mais freqüência na porção norte da ba-
gulho regional do substrato para norte na porção gaú- cia, mas também no Rio Grande do Sul, ocorrem ele-
cha e para sul em uma calha uruguaia análoga, en- mentos sedimentares de origem ligada a fluxos aquo-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 275


sos, na forma de arenitos médios a grossos, em cor- canismo fissural que as afetou no Mesozóico, consti-
pos lenticulares exibindo ciclos gradacionais, com tuindo ampla província magmática que, no conjunto
arenitos conglomeráticos associados, interpretados de todas as áreas por ela compreendidas, define a
como produzidos por episódios torrenciais (Almeida maior manifestação ígnea não-oceânica durante o
e Melo, 1981), num contexto alúvio-fluvial. Esta Fanerozóico e uma importante contribuição à gera-
fácies repete-se ciclicamente com gradação para a ção da crosta continental do planeta. De alguma for-
fácies eólica, significando múltiplos eventos e uma ma, a série de episódios magmáticos aí envolvidos
certa proximidade a paleomargem do erg. Junto ao está vinculada aos campos tensoriais e fenômenos
topo da unidade, e mesmo em lentes sedimentares endógenos que levaram à desagregação do Pangea.
intercaladas aos derrames basais do Serra Geral, Na Bacia do Paraná, o evento traduziu-se como uma
são relatadas ocorrências de sedimentitos lacustres espessa cobertura de lavas, uma intrincada rede de
com até 10 m de espessura, na forma de ritmitos diques cortando a inteira seção sedimentar e múlti-
com termos argilosos, sílticos e arenosos arranjados plos níveis de soleiras intrudidas segundo os planos
segundo uma bem-definida estratificação plano-pa- de estratificação dos sedimentitos paleozóicos. Pra-
ralela (Almeida e Melo, 1981). Deve-se ressaltar, ticamente nenhuma região da bacia foi poupada pela
as fácies que não a eólica quebram apenas muito invasão magmática e, hoje, após mais de 100 Ma
localmente o monótono e o amplo domínio dos cam- de retrabalhamento erosivo, ainda restam cerca de
pos de dunas e interdunas secas que constituem a três quartos da área total da bacia recobertos pelas
Formação Botucatu. rochas ígneas da Formação Serra Geral, com uma
Se por um lado inexistem dificuldades na in- espessura remanescente que se aproxima dos 2.000 m
dividualização do Botucatu naqueles sítios em que na região do Pontal do Paranapanema (SP).
ele é exclusivamente eólico, tornando-se bastante De maneira generalizada, constituem a For-
óbvio, nestes casos, o caráter discordante de seu mação Serra Geral termos petrológicos dominados
contato basal, alguns embaraços surgem quando por basaltos toleíticos e andesitos basálticos, ocor-
ocorrem em sua porção inferior estratos de origem rendo subordinadas quantidades de riolitos e
alúvio-fluvial, o que é geralmente o caso na porção riodacitos (Peate et al. 1992). Geoquimicamente,
paulista da bacia. Fulfaro et al. (1980) apontam a ocorre uma diferenciação destas rochas ao longo da
dificuldade em se determinar a posição do contato bacia em termos de conteúdo de TiO2 (Bellieni et al.
Botucatu-Pirambóia, esta última faciologicamente 1984) e de elementos-traço, especialmente Y e Yb
caracterizada por sedimentitos flúvio-eólicos (Peate, 1989 apud Gomes, 1996). Tais pesquisas con-
texturalmente similares aos da primeira. Soares duziram ao reconhecimento de uma distribuição es-
(1972) considera transicional esta relação de con- tratigráfica seqüencial entre os termos geoquimica-
tato, e engloba estas duas formações em sua “Se- mente diferenciados, interpretada inicialmente por
qüência Tectonossedimentar Triássico-Jurássico” Peate et al. (1992) como devida a uma migração da
(Soares, 1991). Caetano-Chang e Wu (1993), inse- fonte magmática de sul para norte ao longo da ba-
rindo elementos de análise faciológica, argumen- cia. A abordagem geoquímica no estudo das rochas
tam a favor de uma discordância entre estas unida- da Formação Serra Geral (Bellieni et al. 1984;
des, sendo a sedimentação Botucatu precedida pelo Mantovani et al. 1985) definiu que na porção norte
desenvolvimento de uma superfície de deflação da bacia dominam rochas enriquecidas em TiO2, ao
eólica que se associaria a um hiato erosivo “de tem- passo que no sul prevalecem as pobres neste consti-
po relativamente curto”. Em subsuperfície, pode- tuinte, tendo tais autores creditado esta variação a
se acompanhar a distribuição da Formação Botucatu uma composição diferenciada já em nível de fonte
em dados de poços, podendo-se perceber um es- primária do magma. O manto sob esta área não se-
pessamento desta unidade no sentido do domínio ria homogêneo em termos composicionais quando
norte da Bacia do Paraná. analisado regionalmente. Fodor et al. (1989), por seu
turno, preferem explicar a variação do teor de TiO2
por diferentes graus de assimilação crustal pelo mag-
magmatismo Serra Geral ma em seu trânsito até a superfície.
Em termos geocronológicos, com base em de-
Dentre as características comuns às bacias terminações pelo método K/Ar, as magmáticas Ser-
cratônicas sul-americanas encontra-se o intenso vul- ra Geral foram assinaladas ao intervalo temporal de

276 | Bacia do Paraná - Milani et al.


147 a 119 Ma (Amaral et al. 1966; Cordani e Van- a Superseqüência Bauru é formada pelos grupos
doros, 1967). A utilização mais recentemente da téc- cronocorrelatos Caiuá e Bauru (passagem lateral gra-
nica Ar/Ar tem alterado este quadro. Renne et al. dual e interdigitada). O primeiro compreende as for-
(1992), datando rochas coletadas em quatro seções mações Rio Paraná, Goio Erê e Santo Anastácio. O
verticais na porção sul da Bacia do Paraná, concluiu segundo é composto pelas formações Uberaba, Vale
ter sido o evento Serra Geral extremamente rápido, do Rio do Peixe, Araçatuba, São José do Rio Preto,
a 133 ± 1 Ma e com duração aproximada de 1 Ma. Presidente Prudente e Marília, além de rochas vulcâ-
Entretanto, com base na estratigrafia proposta por nicas alcalinas intercaladas, os Analcimitos Taiúva
Peate et al. (1992) para as lavas da Bacia do Paraná, (Fernandes e Coimbra 2000; CPRM 2004, 2006).
percebe-se que a amostragem de Renne et al. (1992) O Grupo Caiuá corresponde a trato de sistemas
centrou-se em dois tipos magmáticos em particular - eólico interior do Deserto Caiuá (Fernandes, 2006):
Gramado e Urubici -, não sendo os resultados de tais depósitos de complexos de dunas de cristas sinuosas
datações representativos para a província no seu todo. eólicas de grande porte (draas), de região central de
Turner et al. (1994) apresentaram dados Ar/ sand sea (Formação Rio Paraná); depósitos periféricos,
Ar realizados a partir de amostras coletadas a dife- de dunas eólicas de porte moderado, de cristas sinuo-
rentes níveis estratigráficos dentro do pacote de la- sas, e interdunas úmidas/aquosas (Formação Goio Erê);
vas, selecionadas adequadamente para caracterizar e depósitos de lençóis de areia, em extensas e monóto-
em termos geocronológicos os diversos tipos mag- nas planícies desérticas, marginais do sand sea. (For-
máticos da proposta de Peate et al. (1992). Os resul- mação Santo Anastácio). A Formação Rio Paraná com-
tados demonstraram uma distribuição de idades de- preende arenitos quartzosos finos a muito finos (rara-
crescente a partir de 137,8 ± 0,7 Ma para níveis da mente médios a grossos) marrons avermelhados a
base da capa ígnea, em subsuperfície no Estado de arroxeados, bem selecionados, supermaturos, com típi-
São Paulo, até 126,8 ± 2,0 Ma em amostras de su- ca estratificação cruzada de médio a grande porte.
perfície do Uruguai. Amostras provenientes da re- Apresenta lamitos arenosos maciços intercalados, com
gião trabalhada por Renne et al. (1992) forneceram menor freqüência. No Pontal do Paranapanema (SP)
resultados similares aos relatados naquele trabalho. foram descritas dobras convolutas métricas entre por-
Diques com direção NW-SE, incluídos no conjunto ções não-deformadas, interpretadas como sismitos
do Arco de Ponta Grossa, resultaram em 134,1 ± 1,3 (Fernandes et al. 2007). A Formação Goio Erê é com-
Ma e 130,5 ± 2,8 Ma, enquanto outros de orienta- posta por arenitos quartzosos finos a muito finos (algu-
ção NE-SW, amostrados ao longo da Rodovia Rio- mas vezes médios) marrons avermelhados a cinza-
Santos mostraram idades entre 133,3 ± 1,7 Ma e arroxeados, subarcoseanos, mineralogicamente maturos
129,4 ± 0,6 Ma. Este conjunto de resultados posiciona e texturalmente submaturos. Formam camadas tabula-
o evento Serra Geral entre 137 e 127 Ma. res com estratificação cruzada, alternadas com maci-
ças, às vezes com laminação plano-paralela, ondula-
ções de adesão, climbing ripples eólicos e pequenas
dobras convolutas, todas descontínuas e mal defini-

Superseqüência Bauru das. A Formação Santo Anastácio é constituída por


estratos tabulares de espessura decimétrica, de areni-
tos quartzosos subarcoseanos finos a muito finos, ma-
A cobertura pós-basáltica constitui unidade si- ciços, pobremente selecionados, com fração silto-ar-
liciclástica psamítica acumulada em condições semi- gilosa subordinada.
áridas a desérticas. Tem espessura máxima preserva- O Grupo Bauru corresponde a depósitos de tra-
da de cerca de 300 m e área de ocorrência de 370.000 to de sistemas de clima semi-árido, formado por le-
km2, nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, ques aluviais marginais, lençóis de areia atravessados
Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso, assim como por sistemas fluviais efêmeros e zona endorrêica palu-
no Nordeste do Paraguai. A Superseqüência Bauru dial, que alimentaram o deserto interior correspondente
tem contato basal discordante (não-conformidade), ao Grupo Caiuá. A Formação Vale do Rio do Peixe
sobretudo com basaltos da Formação Serra Geral. Em compreende estratos tabulares de arenitos finos a fi-
sua base geralmente ocorre delgado estrato de as- nos marrons claros rosados a alaranjado, de seleção
pecto brechóide com clastos angulosos de basalto, moderada a boa. Intercalados com siltitos ou lamitos
matriz arenosa imatura. Em termos litoestratigráficos, arenosos de cor creme a marrom, maciços ou com

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 277


estratificação plano-paralela pouco definida, fendas além de fragmentos de ossos, ventifactos). Tem conta-
de ressecação e feições tubulares (bioturbação). Os are- to interdigitado complexo e irregular com o Membro
nitos têm aspecto maciço ou estratificação cruzada ta- Ponte Alta. Em afloramentos tal passagem correspon-
bular e acanalada de médio a pequeno porte ou de a contatos bem definidos, geralmente entre litofácies
estratificação/laminação plano-paralela grosseira (super- não cimentadas (Serra da Galga) e litofácies intensa-
fícies onduladas com climbing ripples eólicos, ondula- mente cimentadas (Ponte Alta). Em termos regionais,
ções de adesão e planos com lineação de partição). o Membro Ponte Alta tem passagens graduais para o
Corresponde a depósitos eólicos de extensas áreas pla- Serra da Galga em todas as direções. O Membro Serra
nas de lençóis de areia e campos de dunas baixas, com da Galga reúne importantes jazigos de ossos de répteis
depósitos de loesse retidos em corpos aquosos efêmeros. de grande porte da bacia (dinossauros, crocodilos e
No norte do Paraná há ocorrência restrita de conglome- quelônios), além de invertebrados. O Membro Ponte
rados e arenitos conglomeráticos imaturos, ricos em Alta é formado por unidades detríticas arenosas imatu-
ventifactos. Denominada Litofácies Mairá, foi interpre- ras, intensamente cimentadas por carbonato de cálcio:
tada como depósitos de deflação retrabalhados por en- calcários arenosos maciços, conglomeráticos de matriz
xurradas de deserto (wadis). A Formação Araçatuba ca- arenosa (conhecidos como casco-de-burro), e calcários
racteriza-se por estratos tabulares silto-arenosos muito finos fragmentados. Os conglomerados são polimíticos
finos, de cor cinza-esverdeado, de aspecto maciço, com (quartzo, quartzito, arenito, pelitos carbonáticos, basalto
estratificação plano-paralela, moldes e pseudomorfos de e fragmentos de outras rochas alteradas), de clastos
cristais fibrorradiados (gipsita), marcas onduladas (climbing subangulosos a subarredondados, centimétricos (2-7 cm;
ripples), gretas de ressecação e marcas de raízes. Apre- até 15 cm). Os calcários finos têm cor levemente
senta freqüente cimentação e crostas carbonáticas pa- esverdeada e textura de mosaico (pseudobrecha), com
ralelas à estratificação. Nas bordas de sua área de expo- texturas de crescimento expansivo (displacive). Os mem-
sição ocorrem corpos com contatos e estratificação in- bros Ponte Alta e Serra da Galga ocorrem intimamente
terna sigmoidal de baixa inclinação e/ou estratificação associados. Regionalmente, a passagem entre as duas
contorcida mal definida (deslizamentos subaquosos). unidades é gradual, por variação da intensidade de
Acumulou-se em ambiente paludial de águas salinas rasas cimentação, e algumas vezes brusca. Fernandes (1998)
e pouco agitadas, com períodos de exposição. A Forma- supôs que a diferenciação foi sobretudo pós-sedimen-
ção Uberaba compreende arenitos muito finos a lamitos tar, pela formação de zonas de calcretes freáticos (Mem-
siltosos cinza-esverdeados a verde-oliva, com notável bro Ponte Alta). Desta forma, ambos correspondem a
quantidade de grãos clásticos de perovskita. Ocorre em depósitos de leques aluviais medianos a distais, com
estratos tabulares e lenticulares, de estrutura maciça, sistemas fluviais entrelaçados associados, com even-
com estratificação cruzada tabular/acanalada ou tuais intercalações de depósitos de pequenas dunas
laminação plano-paralela. Apresenta intercalações se- eólicas. Nesse contexto, ocorrem ainda depósitos de
cundárias de argilitos, arenitos conglomeráticos e con- fluxos densos esporádicos (clastos imersos em lamitos).
glomerados de matriz arenosa. Corresponde a depósi- O Membro Echaporã sustenta planaltos digitiformes,
tos de sistema fluvial entrelaçado e de fluxos em lençol. mais expressivos nas regiões de Marília e Echaporã. É
A Formação Marília é composta por três mem- constituído por estratos tabulares maciços em geral de
bros: Serra da Galga, Ponte Alta e Echaporã. Os dois 1 m de espessura, de arenitos finos a médios, imatu-
primeiros ocorrem apenas no Triângulo Mineiro (MG). ros, com frações grossas e grânulos em quantidades
Em São Paulo é representada apenas pelo seu Mem- subordinadas, de cor bege a rosa-pálida. Em geral, os
bro Echaporã, que também aflora no Triângulo Minei- estratos têm maior desenvolvimento de nódulos e cros-
ro. O Membro Serra da Galga compreende arenitos tas carbonáticas no topo. Às vezes, discreta concentra-
grossos a finos imaturos, freqüentemente conglomerá- ção de clastos na base. Raras vezes exibe estratificação
ticos, amarelo-pálidos a avermelhados, com intercala- cruzada de médio porte. As litofácies conglomeráticas,
ções secundárias de conglomerados e lamitos. Os are- de poucos centímetros de espessura, são constituídas
nitos apresentam estratificação cruzada tabular por intraclastos centimétricos (carbonáticos e lamíticos)
tangencial na base e acanalada, de médio a pequeno e por extraclastos silicosos (quartzo, quartzito e arenito
porte. Os conglomerados são texturalmente imaturos e silicificado, alguns deles ventifactos). São freqüentes
polimíticos (quartzo, quartzito, calcedônia, nódulos car- intercalações de delgadas lentes de lamitos arenosos
bonáticos remobilizados, arenitos, pelitos, fragmentos de cor marrom de espessuras centimétricas a
de basalto e outras possíveis rochas ígneas alteradas, decimétricas (até 1 m), de base côncava e topo hori-

278 | Bacia do Paraná - Milani et al.


zontal. O Membro Echaporã encerra em São Paulo a
Litofácies Rubião Júnior, de ocorrência restrita às ime- referências bibliográficas
diações de Botucatu. Corresponde a depósitos mais
proximais, correlatos geneticamente aos do Membro ALMEIDA, F. F. M.; MELO, M. S. A. Bacia do Paraná e o
Serra da Galga em Minas. É composto por estratos vulcanismo mesozóico. In: INSTITUTO DE PESQUISAS
arenosos médios a grossos, de seleção moderada a TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – IPT.
má, com intensa cimentação carbonáticas, intercala- Mapa Geológico do Estado de São Paulo, São Paulo:
dos com conglomerados polimíticos (basalto, domi- IPT, 1981, v.1, p.46-81. Escala l:500.000.
nantes, quartzo, quartzito, milonito, silexito, geodos
de quartzo, nódulos carbonáticos remobilizados). O ALMEIDA, F. F. M. Tectônica da Bacia do Paraná no
Membro Echaporã formou-se como depósitos de len- Brasil. São Paulo, Paulipetro, 1980. 187 p.
çóis de areia, onde se desenvolveram calcretes
freáticos e pedogenéticos. A Formação São José do ALVES, R. G. Correlação estratigráfica de alta resolu-
Rio Preto compreende arenitos finos a muito finos com ção aplicada ao Permiano Inferior da Bacia do Paraná
frações de areia média e grossa secundárias, de cor na região de Candiota, Rio Grande do Sul. 1994. 114
marrom claro a bege, com estratificação cruzada p. Tese (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande
acanalada e tabular tangencial na base, freqüente- do Sul, Porto Alegre, 1994.
mente conglomeráticos. A formação apresenta inter-
calações subordinadas de arenitos a siltitos com
AMARAL, G.; CORDANI, U. G.; KAWASHITA, K.; REYNOLDS,
estratificação plano-paralela, marcas onduladas e
J. H. Potassium-argon dates of basaltic rocks from Southern
lamitos argilosos maciços. Os clastos são nódulos car-
Brazil. Geochimica et Cosmochimica Acta, Oxford, v. 30,
bonáticos, fragmentos de lamitos e argilitos, seixos
n. 2, p. 159-189, 1966.
silicosos, fragmentos de ossos e outros bioclastos. Exi-
be cimentação carbonática com freqüência. Corres-
ANDRADE, S. M.; CAMARÇO, P. E. N. Seqüências sedi-
ponde a depósitos arenosos pouco maturos, freqüen-
mentares pré-carboníferas dos flancos nordeste da Bacia do
temente conglomeráticos, de barras e planícies flu-
Paraná e sudoeste da Bacia do Parnaíba e suas possibilida-
viais de sistemas de canais entrelaçados, amplos e
des uraníferas. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 32.,
rasos. A Formação Presidente Prudente é composta
1982, Salvador. Anais do... São Paulo: Sociedade Brasilei-
por arenitos muito finos a finos marrons avermelhados
ra de Geologia, 1982. v. 5, p. 2132-2144.
claros a bege e lamitos arenosos marrons escuros. As
lentes arenosas exibem estratificação cruzada
ASSINE, M. L. Aspectos da estratigrafia das seqüên-
acanalada e sigmoidal (unidades de corte-e-preen-
cias pré-carboníferas da Bacia do Paraná no Brasil.
chimento). Os estratos tabulares de arenitos e siltitos
1996. 207 p. Tese (Doutorado) - Universidade de São
exibem estratificação plano-paralela, marcas ondula-
Paulo, São Paulo, 1996.
das, climbing ripples, brechas intraformacionais (argi-
litos, intraclastos carbonáticos, silicosos e fragmentos
de ossos). Correspondem a depósitos de sistema flu- ASSINE, M. L.; SOARES, P. C.; MILANI, E. J. Seqüências
vial meandrante arenoso fino, de canais rasos com tectono-sedimentares mesopaleozóicas da Bacia do
sinuosidade relativamente baixa, composto pela Paraná. Revista Brasileira de Geociências, São Paulo,
alternância de depósitos de preenchimento de canais v. 24, n. 2, p. 77-89, 1994.
amplos, com depósitos de planícies de inundação/rom-
pimento de diques marginais (crevasse). Estes últimos BARBERENA, M. C. Bioestratigrafia preliminar da Formação
podem preservar esqueletos e carcaças menos desar- Santa Maria. Pesquisas, Porto Alegre, v. 7. p. 111-119, 1977.
ticulados, como cascos de tartarugas. Os Analcimitos
Taiúva (não-aflorantes) são rochas extrusivas de natu- BARBERENA, M. C.; ARAÚJO, D. C.; LAVINA, E. L.;
reza alcalina intercaladas na parte superior Formação FACCINI, U. F. The evidence for close paleofaunistic
Vale do Rio do Peixe, com espessura máxima de 15 m. affinity between South America and Africa, as indicated
Ocorrem em subsuperfície, a noroeste de Jaboticabal by Late Permian and Triassic tetrapods. In:
(SP). Apresentam cor marrom claro avermelhado a ama- INTERNATIONAL GONDWANA SYMPOSIUM, 7.; 1991,
relado, textura afanítica e feições de caráter vulcânico São Paulo. Proceedings. São Paulo, Universidade de São
extrusivo (Coimbra et al. 1981; Coutinho et al. 1982) Paulo, 1991. p. 455-467.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 279


BELLIENI, G.; COMIN-CHIARAMONTI, P.; MARQUES, Late Devonian and Early Carboniferous glacial records
L, S.; MELFI, A. J.; PICCIRILLO, A. J. R. ROISEMBERG, of South America. In: FIELDING, C. R.; FRANK, T. D.;
A. High-and-low-TiO2 flood basalts from the Paraná ISBELL, J. L. (Ed.). Resolving the Late Paleozoic ice
Plateau (Brazil): petrology and geochemical aspects age in time and space. Boulder: Geological Society
bearing on their mantle origin. Neues Jahrbuch fur of América, 2008. p. 161-173. Special Paper, 441.
Mineralogie, Stuttgart, v. 150, n. 3, p.273-306, 1984.
CASTRO, J. C. A evolução dos sistemas glacial,
BIGARELLA, J. J.; SALAMUNI, R.; MARQUES F. P. L. Es- marinho e deltaico das formações Rio do Sul e
truturas e texturas da Formação Furnas e sua significa- Rio Bonito/Membro Triunfo (Eopermiano), sudes-
ção paleogeográfica. Boletim da Universidade Fede- te da Bacia do Paraná. 1991. 147 p. Tese (Doutora-
ral do Paraná, Curitiba, n. 18, 114 p. 1966. do) - Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 1991.

BIZZI, D. F.; SCHOBBENHAUS, C.; GONÇALVES J. H.; CISNEROS, J. C.; ABDALA, F.; MALABARBA, M. C.
BAARS, F. J.; SANTOS J. O. S.; ABRAM, M.; LEÃO NETO, Pareiasaurids from the Rio do Rasto Formation, Southern
R.; MATOS, G. M. M. Geologia, tectônica e recursos Brazil: Biostratigraphic implications for Permian faunas
minerais do Brasil: sistema de informação geográfica e of the Paraná Basin. Revista Brasileira de Paleonto-
mapas na escala 1:2.500.000. Companhia de Pesquisa e logia, São Leopoldo, v. 8, n. 1, p. 13-24, 2005.
Recursos Minerais: Brasília, 2001. 4 CD-ROM.
CLARKE, J. M. Fósseis devonianos do Paraná. Rio
BORTOLUZZI, C. A.; AWDZIEJ, J.; ZARDO, S. M. Geologia de Janeiro: Serviço Geológico e Mineralógico Brasi-
da Bacia do Paraná em Santa Catarina. In: SILVA, L. C.; leiro, 1913. 353 p.
BORTOLUZZI, C. A. (Ed.). Textos básicos de Geologia e
recursos minerais de SantaCatarina: Mapa geológico do COIMBRA, A. M.; COUTINHO, J. M. V.; BRANDT NETO,
Estado de Santa Catarina. Texto explicativo e mapa -Escala M.; ROCHA, G. A. Lavas fonolíticas associadas ao Grupo
1:500.000. Florianópolis: Departamento Nacional de Produ- Bauru no Estado de São Paulo. In: SIMPÓSIO REGIONAL
ção Mineral, 1987. n. 1, p. 135-167. DE GEOLOGIA, 3., 1981, Curitiba. Atas. São Paulo: So-
ciedade Brasileira de Geologia, 1981. v. 1, p. 324-327.
BOUCOT, A. J.; MELO, J. H. G.; NETO, E. V. S.; WOLFF, S. First
Clarkeia and Heterorthella (Brachiopoda, Lower Silurian) CORDANI, U. G.; VANDOROS, F. Balsatic rocks of
occurrence from the Paraná basin in Eastern Paraguay. Journal the Paraná Basin. In: BIGARELLA, J. J.; BECKER, G.
of Paleontology, Tulsa, v. 65, n. 3, p. 512-514. 1991. D.; PINTO, I. D. (Ed.). Problems in Brazilian Godwana
geology. Curitiba: Mac Roesner, 1967. p. 207-231.
CAETANO-CHANG, M. R.; WU, F. T. Bacia do Paraná:
Formações Pirambóia e Botucatu. In: CONGRESSO BRA- COUTINHO, J. M. V.; COIMBRA, A. M.; BRANDT NETO,
SILEIRO DE GEOLOGIA, 37., 1992. São Paulo. Roteiro M.; ROCHA, G. A. Lavas alcalinas analcimíticas asso-
de excursão ... São Paulo: Sociedade Brasileira de Geo- ciadas ao Grupo Bauru (Kb) no Estado de São Paulo,
logia, 1992, n. 2 , p. 1-19. Brasil. In: CONGRESO LATINAMERICANO DE GEOLO-
GIA, 5., 1982, Buenos Aires. Actas. Buenos Aires:
CAETANO-CHANG, M. R.; WU, F. T. A composição Servicio Geologico Nacional, 1982. v. 2, p.185-196.
faciológica das formações Pirambóia e Botucatu no centro-
leste paulista e a delimitação do contato entre as unidades. DAEMON, R. F.; FRANÇA, A. B. 1993. Sedimentos
In: SIMPÓSIO DE CRONOESTRATIGRAFIA DA BACIA DO do Westfaliano (Carbonífero Médio) na Formação
PARANÁ. 1., 1993, Rio Claro. Boletim de resumos. Rio Lagoa Azul, Grupo Itararé. In: SIMPÓSIO SOBRE CRO-
Claro: Universidade Estadual Paulista, 1993, p. 93. NOESTRATIGRAFIA DA BACIA DO PARANÁ, 1., 1993,
Rio Claro. Resumos. Rio Claro: Universidade Estadual
CAPUTO, M. V.; CROWELL, J. C. Migration of glacial centers Paulista, 1993. p. 36.
across Gondwana during Paleozoic Era. Geological Society
of America Bulletin, Boulder, 96, p. 1020-1036, 1985. DAEMON, R. F.; QUADROS, L. P. Bioestratigrafia do Neopa-
leozóico da Bacia do Paraná. In: CONGRESSO BRASILEIRO
CAPUTO, M. V.; MELO, J. H. G.; STREEL, M.; ISBELL, J. L. DE GEOLOGIA, 24., 1970, Brasília. Anais do... São Paulo:

280 | Bacia do Paraná - Milani et al.


Sociedade Brasileira de Geologia, 1970. p. 359-412. (Cretáceo Superior, Brasil). Anais da Academia Brasileira
de Ciências, Rio de Janeiro, v. 68, n. 2, p. 195-205. 1996.
DAEMON, R. F.; QUADROS, L. P.; SILVA, L. C.
Devonian palinology and biostratigraphy of the Paraná FERNANDES, L. A. Estratigrafia e evolução geológica da
Basin. Boletim Paranaense de Geociências, parte oriental da Bacia Bauru (Ks, Brasil). 1998. 216 p.
Curitiba, v. 21/ 22, p. 99-132, 1967. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.

DERBY, O. A. Geologia da região diamantífera da pro- FERNANDES, L. A. Caiuá Desert sedimentary environments
víncia do Paraná. In: Arquivos do Museu Nacional. and facies (Caiuá Group, Late Cretaceous, Brazil). In:
Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1878. v. 3, p. 89-96. CONGRESO LATINOAMERICANO DE SEDIMENTOLOGÍA,
4.; REUNIÓN ARGENTINA DE SEDIMENTOLOGÍA, 11., 2006,
DINO, R.; RODRIGUES, M. A. C. Palinologia da Forma- San Carlos de Bariloche. Resúmes. San Carlos de Bariloche:
ção Furnas (Eodevoniano) na região de Jaguariaíva (PR). Asociación Argentina de Sedimentologia; International
In: SIMPÓSIO SOBRE CRONOESTRATIGRAFIA DA BA- Association of Sedimentologists. 2006. p. 97.
CIA DO PARANÁ, 1., 1993, Rio Claro. Resumos. Rio
Claro: Universidade Estadual Paulista, 1993. p. 24-25. FERNANDES, L. A.; CASTRO, A. B.; BASILICI, G. Seismites
in continental sand sea deposits of the Caiuá Desert, Bauru
DINO, R.; BERGAMASCHI, S.; PEREIRA, E.; MELO, J. H. Basin, Brazil. Sedimentary Geology, Amsterdam, v. 199,
G.; LOBOZIAK, S.; STEEMANS, P. Biochronostratigraphic p. 51-64, 2007.
investigations of the Pragian and Emsian stages on the
southeastern border of the Paraná Basin. In: SIMPÓSIO FERNANDES, L. A.; COIMBRA, A. M. 2000. Revisão es-
DE CRONOESTRATIGRAFIA DA BACIA DO PARANÁ, 2., tratigráfica da parte oriental da Bacia Bauru (Neocretáceo).
1995, Porto Alegre. Boletim de Resumos Expandi- Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 30, n.
dos. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande 4, p. 723-734, 2000.
do Sul, 1995. p. 19-25.
FERNANDES, L. A.; COIMBRA, A. M.; BRANDT NETO,
DU TOIT, A. L. A geological comparison of South M. Silicificação hidrotermal neocretácea na porção me-
America with South Africa. Washington: The ridional da Bacia Bauru. Revista do Instituto Geológi-
Carnegie Institution. 1927. 157 p. co, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 19-26, 1993.

EVANS, J. W. The geology of Matto Grosso, FODOR, R. V.; MCKEE, E. M.; ROISENBERG, A. Age
particularly the region drained by the Upper Paraguay. distribution of Serra Geral (Paraná) flood basalts,
Quarterly Journal of the Geological Society, v. southern Brazil. Journal of South American Earth
50, n. 2, p. 85-104, 1894. Sciences, Oxford, v. 2, p. 343-349, 1989.

EYLES, C. H.; EYLES, N.; FRANÇA, A. B. Glaciation FRANÇA, A. B.; POTTER, P. E. Estratigrafia, ambiente de-
and tectonics in an active intracratonic basin: the Late posicional e análise de reservatório do Grupo Itararé
Palaeozoic Itararé Group, Paraná Basin, Brazil. (Permocarbonífero), Bacia do Paraná (Parte 1). Boletim
Sedimentology, Oxford, v. 40, p. 1-25. 1993. de Geociências da PETROBRAS, Rio de Janeiro, v. 2, n.2-
4, p. 147-191, abr./dez. 1988
FARIA, A.; REIS NETO, J. M. 1978. Nova unidade litoes-
tratigráfica pré-Furnas no sudoeste de Goiás. In: CON- FULFARO, V. J.; GAMA JUNIOR, E.; SOARES, P. C. 1980.
GRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 30., 1978, Recife. Revisão estratigráfica da Bacia do Paraná. São Paulo:
Anais do... São Paulo: Sociedade Brasileira de Geolo- Paulipetro, 167 p.
gia, 1978. p. 136-137.
FULFARO, V. J.; PERINOTTO, J. A. J.; BARCELOS, J. H. 1991. For-
FARIA, A. Formação Vila Maria - nova unidade litoes- mação Tietê: o pós-glacial no Estado de São Paulo. In: SIMPÓSIO
tratigráfica siluriana da Bacia do Paraná. Ciências da DE GEOLOGIA DO SUDESTE, 2., 1991, São Paulo. Atas. São
Terra, Salvador, v. 3, p. 12-15. Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1991. p. 397-404.

FERNANDES, L. A.; COIMBRA, A. M. A Bacia Bauru FULFARO, V. J.; SAAD, A. R.; SANTOS, M. V.; VIANNA,

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 281


R. B. Compartimentação e evolução tectônica da Bacia GRAY, J.; BOUCOT, A. J.; GRAHN, C. Y.; HIMES, G.
do Paraná. Revista Brasileira de Geociências, São Pau- T. A new record of Early Silurian-age land plant spores
lo, v. 12, n. 4, p. 233-256, 1982. from the Paraná Basin, Paraguay. Geological Maga-
zine, Cambridge, v. 129, n. 6, p. 741-752, 1994.
GAMA JUNIOR, E. A sedimentação do Grupo Passa Dois
(exclusive Formação Irati), um modelo geomórfico. Re- GRAY, J.; COLBATH, G. K.; FARIA, A.; BOUCOT, A.
vista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 9, n. 1, J.; ROHR, D. M. Silurian-age fossils from the Paleozoic
p. 1-16, 1979. Paraná Basin, Southern Brazil. Geology, Boulder, v.
13, p. 521-525.
GAUGRIS, K. A.; GRAHN, Y. New chitinozoan species
from the Devonian of the Paraná Basin, south Brazil, and KAYSER, F. H. E. Alguns fósseis paleozóicos do Esta-
their biostratigraphic significance. Ameghiniana, Buenos do do Paraná. Revista do Museu Paulista, São Pau-
Aires, v. 43, n. 2, p. 293-310, 2006. lo, n. 4, p. 301-311, 1990.

GERRIENNE, P.; BERGAMASCHI, S.; PEREIRA, E.; KEIDEL, J. La geología de las sierras de la Província de
RODRIGUES, M. A. C.; STEEMANS, P. An Early Devonian Buenos Aires y sus relaciones con las montañas de Sud
flora, including Cooksonia, from the Paraná Basin (Brazil). Africa y los Andes. Anales del Ministerio de Agricul-
Review of Palaeobotany and Palynology, Amsterdam, tura de la Nación, Sección Geología, Mineralogía y
v. 116, n. 1-2, p. 19-38, 2001. Minería, Buenos Aires, v. 9, n. 3, p. 1-78, 1916.

GESICKI, A. L. D.; RICCOMINI, C.; BOGGIANI, P. C.; COIMBRA, KOZLOWSKI, R. Fossiles devoniens de l’État de Paraná.
A. M. Evidências de avanço glacial na Formação Aquidauana Annales de Paléontologique , Paris, v. 8, p. 105-
(Neopaleozóico da Bacia do Paraná) no Estado de Mato Gros- 123, 1913.
so do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 39.,
1996, Salvador. Anais do... São Paulo: Sociedade Brasileira LANGE, F. W.; PETRI, S. The Devonian of the Paraná
de Geologia, 1996. v. 1, p. 124-127. Basin. In: BIGARELLA, J. J. (Ed.). Problems in
Brazilian Devonian geology. Curitiba: Universida-
GRADSTEIN, F. M.; OGG, J. G.; SMITH, A. G. A de Federal do Paraná, 1967. p. 5-55. (Boletim
geologic time scale. Cambridge: Cambridge University Paranaense de Geociências, 21/22).
Press, 2004. 610 p.
LANGE, F. W. Estratigrafia do Estado do Paraná.
GRAHN, Y. Devonian chitinozoan biozones of Western Curitiba: Comissão de Comemorações do Centená-
Gondwana. Acta Geologica Polonica, Warszawa, v. 55, rio do Paraná, 1954.
n. 3, p. 211-227, 2005.
LANGE, F. W. Biostratigraphic subdivision and
GRAHN, Y. Ordovician and Silurian chitinozoan biozones correlation of the Devonian in the Paraná Basin.
of Western Gondwana. Geological Magazine, Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1967, p.
Cambridge, v. 143, n. 3, p. 509-529, 2006. 63-98. (Boletim Paranaense de Geociências, 21/22)

GRAHN, Y.; PEREIRA, E.; BERGAMASCHI, S. Silurian and LAVINA, E. L.; LOPES, R. C. A transgressão marinha
Lower Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná do Permiano Inferior e a evolução paleogeográfica do
Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, Dallas, n. 24, Supergrupo Tubarão no Estado do Rio Grande do Sul.
p. 147-176, 2000. Paula Coutiana, Porto Alegre, n. 1, p. 51-103, 1986.

GRAHN, Y.; PEREIRA, E.; BERGAMASCHI, S. Middle and LAVINA, E. L. The Passa Dois Group. In:
Upper Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná INTERNATIONAL GONDWANA SYMPOSIUM, 7.,
Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, Dallas, n. 26, 1988. São Paulo. Field excursion guide book. São
p. 135-165, 2002. Paulo:Instituto de Geociências, 1988. p. 24-30. 1988.

282 | Bacia do Paraná - Milani et al.


LOBOZIAK, S.; STREEL, M.; BURJACK, M. I. A. Carboniferous miospore biostratigraphy of the Amazon Basin,
Miospores du Dévonien moyen et supérieur du bassin northern Brazil. Review of Palaeobotany and Palynology,
du Paraná, Brésil: systématique et stratigraphie. Amsterdam, v. 124, n. 3-4, p.131-202, 2003.
Sciences Géologiques Bulletin, Strasbourg, v. 41,
n. 3-4, p. 351-377. 1988. MELO, J .H. G. A paleontologia do Siluriano da Bacia do
Paraná: estado-da-arte. In: SIMPÓSIO SOBRE CRONOES-
LOBOZIAK, S.; MELO, J. H. G.; STEEMANS, P. ; TRATIGRAFIA DA BACIA DO PARANÁ, 1., 1993, Rio Cla-
BARRILARI, I. M. R. 1995. Miospore evidence for pre- ro. Resumos. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista,
Emsian and latest Famennian sedimentation in the 1993. p. 6-7.
Devonian of the Paraná Basin, south Brazil. Anais da
Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. MILANI, E. J. Evolução tectono-estratigráfica da Ba-
67, n. 3, p. 391-392, 1955. (Resumo). cia do Paraná e seu relacionamento com a
geodinâmica fanerozóica do Gondwana sul-ociden-
LOBOZIAK, S.; STEEMANS, P.; BORGHI, L. New tal. 1997. 2 v. Tese (Doutorado) - Universidade Federal
miospore evidence of Pragian age for the lower Pon- do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1997.
ta Grossa Formation (Devonian, Paraná Basin) in the
Chapada dos Guimarães area, Mato Grosso State,
MILANI, E. J.; ASSINE, M. L.; SOARES, P. C.; DAEMON,
Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências,
R. F. A Seqüência Ordovício-Siluriana da Bacia do Paraná.
Rio de Janeiro, v. 70, n. 2, p. 382, 1988. (Resumo).
Boletim de Geociências da PETROBRÁS, Rio de Janeiro,
v. 8, n.2-4, p. 257-273, abr./dez. 1995.
LÓPEZ-GAMUNDÍ, O. R.; ROSSELLO, E. A. Devonian-
Carboniferous unconformity in Argentina and its
relation to Eo-Hercynian orogeny in Southern South MILANI, E. J.; FRANÇA, A. B.; SCHNEIDER, R. L. Bacia do
America. Geologische Rundschau, Stuttgart, v. 82, Paraná. Boletim de Geociências da PETROBRÁS, Rio de
p. 136-147, 1993. Janeiro, v. 8, n. 1, p. 69-82, jan./mar. 1994.

LUCAS, S. G. Global Permian tetrapod biostratigraphy and MILANI, E. J.; FACCINI, U. F.; SCHERER, C. M. S.; ARA-
biochronology. In: LUCAS, S. G.; CASSINIS, G.; ÚJO, L. M.; CUPERTINO, J. A. Sequences and stratigraphic
SCHNEIDER, J. W. (Ed.). Non-marine Permian hierarchy of the Paraná Basin (Ordovician to Cretaceous),
biostratigraphy and biochronology. London: Geological Southern Brazil. Boletim IG-USP, São Paulo, p. 125-173.
Society, 2006. p. 65-93. (Special Publications, 265). nov. 1998. (Série Científica, n. 29).

MAACK, R. Breves notícias sobre a Geologia dos esta- MIZUSAKI, A. M. P.; MELO, J. H. G.; VIGNOL-LELARGE,
dos do Paraná e Santa Catarina. Arquivos de Biolo- M. L.; STEEMANS, P. Vila Maria Formation (Silurian,
gia e Tecnologia, Curitiba, v. 2, p. 63-154, 1947. Paraná Basin, Brazil): integrated radiometric and
palynological age determinations. Geological Magazi-
MANTOVANI, M. S. M.; MARQUES, L. S.; SOUSA, ne, Cambridge, v. 139, n. 4, p. 453-463, 2002.
M. A.; CIVETTA, L.; ATALLA, L.; INNOCENTI, F. Tra-
ce element and strontium isotope constraints on the MORAES RÊGO, L. F. A geologia do petróleo no Esta-
origin and evolution of Paraná continental flood basalts do de São Paulo. Rio de Janeiro: Papelaria Mendes,
of Santa Catarina State, southern Brazil. Journal of 1931. 110 p. (Brasil. Ministério da Agricultura, Indústria e
Petrology, Oxford, v. 26, p.187-209, 1985. Comércio. Boletim 46).

MAULLER, P. M.; PEREIRA, E.; GRAHN, Y.; STEEMANS, NORTHFLEET, A. A.; MEDEIROS, R. A.; MÜHLMANN, H.
P. Análise bioestratigráfica do intervalo Llandoveriano Reavaliação dos dados geológicos da Bacia do Paraná.
da Bacia do Paraná no Paraguai Oriental. Revista Bra- Boletim Técnico da PETROBRAS, Rio de Janeiro, v.12,
sileira de Paleontologia, São Leopoldo, v. 7, n. 2, n.3, p. 291-346, jul./set. 1969.
p. 199-212, 2004.
OLIVEIRA, E. P. O terreno devoniano do sul do Brasil. Annaes
MELO, J. H. G.; LOBOZIAK, S. Devonian – Early da Escola Minas de Ouro Preto, v. 14, p. 31-41, 1912.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 283


OLIVEIRA, E. P. Geologia e recursos minerais do Palaeobotany and Palynology, Amsterdam, v. 133,
estado do Paraná. Monografias do Serviço Ge- n. 1-2, p. 91-113, 2005.
ológico e Mineralógico do Brasil, Rio de Ja-
neiro, v. 6, 172 p. 1927. SALAMUNI, R.; BIGARELLA, J. J. The pre-Gondwana
basement. In: BIGARELLA, J. J. (Ed.). Problems in
PEATE, D. W.; HAWKESWORT, C. J.; MANTOVANI, Brazilian Devonian geology. Curitiba: Universida-
M. S. M. Chemical stratigraphy of the Paraná lavas de Federal do Paraná, 1967. p. 3-25 .
(South America): classification of magma types and
their spatial distribution. Bulletin of Volcanology, SANFORD, R. M.; LANGE, F. W. Basin-study approach
Berlin, v. 55, p. 119-139, 1992. to oil evaluation of Paraná miogeosyncline, south Brazil.
AAPG Bulletin, Tulsa, v. 44, n. 8, p. 1316-1370, 1960.
PETRI, S. Contribuição ao estudo do Devoniano
paranaense. Rio de Janeiro : Departamento Nacio- SANTOS, R. V.; SOUZA, P. A.; ALVARENGA, C. J. S.;
nal da Produção Mineral, 1948. 125 p. (Brasil. Depar- DANTAS, E. L.; PIMENTEL, M. M.; OLIVEIRA, C. G.;
tamento Nacional da Produção Mineral. Divisão de ARAÚJO, L. M. Shrimp U-Pb Zircon dating and
Geologia e Mineralogia. Boletim 129). palinology of bentonitic layers from the Permian Irati
Formation, Paraná Basin, Brazil. Gondwana
POPP, M. B.; BURJACK, M. I.; ESTEVES, I. R. Estudo pre- Research, Osaka, v. 9, p. 456-463, 2006.
liminar sobre o conteúdo paleontológico da Formação
Vila Maria (pré-Devoniano) da Bacia do Paraná. Revista
SCHNEIDER, R. L.; MÜHLMANN, H.; TOMMASI, E.;
Pesquisas, Porto Alegre, v. 14, p. 169-180, 1981.
MEDEIROS, R. A.; DAEMON, R. F.; NOGUEIRA, A. A.
Revisão estratigráfica da Bacia do Paraná. In: CON-
RAMOS, V. A.; JORDAN, T. E.; ALLMENDINGER, R. GRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 28., 1974, Por-
W.; MPODOZIS, C.; KAY, J. M.; CORTÉS, J. M.; PAL- to Alegre. Anais do... São Paulo: Sociedade Brasilei-
MA, M. Paleozoic terranes of the central Argentine- ra de Geologia, 1974. v. 1, p. 41-65.
Chilean Andes. Tectonics, Washington, v. 5, n. 6, p.
855-880, 1986.
SHIRAIWA, S. Flexura da litosfera continental sob
os Andes centrais e a origem da Bacia do Panta-
RENNE, P. R.; ERNESTO, M.; PACCA, I. G.; COE, R. S.;
nal. 1994. 85 p. Tese (Doutorado) - Universidade de
GLEN, J.; PRÉVOT, M.; PERRIN, M. Rapid eruption
São Paulo, São Paulo, 1994.
of the Paraná flood volcanism, rifiting of southern
Gondwanaland and the Jurasssic-Cretaceous boundary
Science, Washigton, v. 258, p. 975-979, 1992. SOARES, P. C. Arenito Botucatu e Pirambóia no Esta-
do de São Paulo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GE-
ROCHA-CAMPOS, A. C. The Tubarão Group in the Brazilian OLOGIA, 26., 1972, Belém, Resumos. São Paulo:
portion of the Paraná Basin. In: BIGARELLA, J. J. (Ed.). Sociedade Brasileira de Geologia, 1972, p. 250-251.
Problems in Brazilian Devonian geology. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 1967. p. 27-102. SOARES, P. C. Tectônica sinsedimentar cíclica na
Bacia do Paraná: controles. 1991. 131 p. Tese para
ROCHA-CAMPOS, A. C.; BASEI, M. A. S.; NUTMAN, provimento de vaga de Professor Titular, Universida-
A.; SANTOS, P. R. Shrimp U-Pb zircon ages of the de Federal do Paraná, Curitiba, 1991.
late Paleozoic sedimentary sequence, Paraná Basin,
Brasil. In: SIMPÓSIO SOBRE CRONOESTRATIGRAFIA SOARES, P. C.; LANDIM, P. M. B.; FULFARO, V. J.
DA BACIA DO PARANÁ, 4., 2007, Armação de Búzi- 1978. Tectonic cycles and sedimentary sequences in
os. Boletim de Resumos. [S.l.]: Sociedade Brasilei- the Brazilian intracratonic basins. Geological Society
ra de Paleontologia, 2007. p. 33. of America Bulletin, Boulder, v. 89, n. 2, p. 181-
191, 1978.
RUBINSTEIN, C.; MELO, J. H. G.; STEEMANS, P.
Lochkovian (earliest Devonian) miospores from the SOMMER, F. W. Contribuição à paleofitografia do Paraná.
Solimões Basin, northwestern Brazil. Review of In: LANGE, F. W. (Ed.). Paleontologia do Paraná.

284 | Bacia do Paraná - Milani et al.


Curitiba: Museu Paranaense, Comissão de Comemora- WIENS, F. Estratigrafia fanerozoica resumida del
ções do Centenário do Paraná, 1954. p. 175-194. Paraguay. Asunción: Geoconsultores, 1990. 6 p.

SOUZA, P. A. Late Carboniferous palynostratigraphy WOOD, G. D.; MILLER, M. A. Distinctive Silurian


of the Itararé Subgroup, northeastern Paraná Bain, chitinozoans from the Itacurubi Group (Vargas Peña
Brazil. Review of Palaeobotany and Palynology, shale), Chaco basin, Paraguay. Palynology, Dallas,
Amsterdam, v. 138, p. 9-29, 2006. v. 15, p. 181-192, 1991.

SOUZA, P. A.; MARQUES-TOIGO, M. Progress on the ZALÁN, P. V. Influence of Pre-Andean orogenies on the
palynostratigraphy of the Permian strata in Rio Gran- Paleozoic intracratonic basins of South America. In:
de do Sul State, Paraná Basin, Brazil. Anais da Aca- SIMPÓSIO BOLIVARIANO: EXPLORACIÓN PETROLERA
demia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 77, EN LAS CUENCAS SUBANDINAS, 4., 1991, Bogotá.
p. 353-365, 2005. Memórias. Bogota : Asociacion Colombiana de Geologos
y Geofisicos del Petroleo, 1991. Trabalho 7.
STREEL, M.; HIGGS, K.; LOBOZIAK, S.; RIEGEL, W.;
STEEMANS, P. Spore stratigraphy and correlation with ZALÁN, P. V.; WOLFF, S.; ASTOLFI, M. A. M.; VIEIRA,
faunas and floras in the type marine Devonian of the I. S.; CONCEIÇÃO, J. C. J.; APPI, V. T.; SANTOS NETO,
Ardenne-Rhenish regions. Review of Palaeobotany and E. V.; CERQUEIRA, J. R.; MARQUES, A. The Paraná
Palynology, Amsterdam, v. 50, n. 3, p. 211-229, 1987. Basin, Brazil. In: LEIGHTON, M. W.;KOLATA, D. R.;
OLTZ, D. F.; EIDEL, J. J. (Ed.). Interior cratonic
TURNER, S. P.; REGELORES, M.; KELLEY, S.; HA- basins. Tulsa: American Association of Petroleum
WKESWORTH, C. J.; MANTOVANI, M. S. M. Geologists, 1990. p. 681-708. (AAPG. Memoir, 51).
Magmatism and continental break-up in the South
Atlantic: high precision 40 Ar - 39 Ar geochronology. ZALÁN, P. V.; WOLFF, S.; CONCEIÇÃO, J. C. J.; VIEIRA,
Earth and Planetary Science Letters, Amsterdam, I. S.; ASTOLFI, M. A. M.; APPI, V. T.; ZANOTTO, O.
v. 121, p. 333-348, 1994. A. A divisão tripartite do Siluriano da Bacia do Paraná.
Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 17,
ULIANA, M. A.; BIDDLE, K. Mesozoic-Cenozoic n. 3, p. 242-252, 1987.
paleogeographic and geodynamic evolution of
southern South America. Revista Brasileira de ZANOTTO, O. A. Erosão pós-Cretáceo na Bacia do
Geociências, São Paulo, v. 18, p. 172-190, 1988. Paraná, com base em dados de reflectância da
vitrinita. In: SIMPÓSIO SUL-BRASILEIRO DE GEOLO-
URIZ, N. J.; ALFARO, M. B.; INCHAUSTI, J. C. G. Silurian GIA, 5., 1993, Curitiba. Resumos. Curitiba: Socie-
(Llandovery) monograptids from the Vargas Peña dade Brasileira de Geologia, 1993. p. 58.
Formation (Paraná Basin, eastern Paraguay). Geologica
Acta, Barcelona, v. 6, n. 2, p. 181-190, 2008.

VAIL, P. R.; MITCHUM, R. M.; THOMPSON, S. Seismic


stratigraphy and global changes of sea level, part 3:
bibliografia
relative changes of sea level from coastal onlap. In:
PAYTON, C. E. (Ed.). Seismic stratigraphy: ROHN, R. Distribuição de fósseis e de fácies no Grupo
applications to hydrocarbon exploration. Tulsa: Passa Dois (Permiano Superior) na borda leste da Ba-
American Association of Petroleum Geologists, 1977. cia do Paraná. In: SIMPÓSIO SOBRE CRONOESTRATI-
p. 63-81. (AAPG. Memoir, 26). GRAFIA DA BACIA DO PARANÁ, 2., 1995, Resumos.
Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do
WHITE, I. C. Relatório sobre as coal measures e Sul, 1995. p. 71-75.
rochas associadas ao sul do Brasil. Rio de Janei-
ro: Comissão das Minas de Carvão de Pedra do Bra-
sil, 1908. 300 p.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 285


BACIA DO PARANÁ

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
65

CAM PAN IAN O

RIO PR.
NEO SAN T O N I AN O 260
CRETÁCEO

C O N I AC I AN O
T U R O N I AN O
C E N O MA N IA N O
100
AL B I AN O

AP T IAN O
EO
BAR R E M IA N O SERRA
HAU T E R I V I AN O GERAL N. PRATA 1700
M E S O Z Ó I C O

VALAN G I AN O GONDWANA
B E R R I AS I AN O
BOTUCATU 450 III

150 T I T H O N I AN O
NEO
JURÁSSICO

OXF OR DIAN O
CALLOVIANO
MESO BATHONIANO
BAJOCIANO
AALENIANO
T OAR C I AN O
EO
S I N E M U R I AN O
HETTANGIANO
200 R HAE TI AN O
TRIÁSSICO

N O R I AN O
NEO
CAR N IAN O
CONT.

300
LAD I N IAN O
MESO
AN ISIANO
OLENEKIANO
CONTINENT.

250 EO I NDUANO
LO PIN G IAN O 650
PASSA

GONDWANA I
PERMIANO

CAP I TA N IAN O
DOIS
G UADALU PIAN O 850
100
AR T I N S K IA N O
MARINHA

C I SU RAL I ANO
SAK MAR I AN O 350
AS SELIANO
300 G Z H E L I AN O 1500
CARB O NÍ FE RO

KASIMOVIANO
M O S C O V IAN O
BAS H K I R I AN O

V I S EAN O

350 T O U R NA I S I AN O
P A L E O Z Ó I C O

FAM E N IAN O
D E VO N IAN O

NEO

PARANÁ
PARANÁ
MARINHA

F RA S N IA N O
660
G I V E TI AN O
MESO
E I F E L IAN O
400 E M S I AN O
EO
P RAG U I AN O
L O C H K O V I A N O C. M. 337
PRIDOLI
LUDLOW
WENLOCK
MAR.

LIAN D O VE R Y TE LYC H IAN O 38


RIO IVAÍ

RIO IVAÍ

70
CONT./
MAR.

450 NEO KAT I AN O


SAN D B IA N O 253
DAR R I W I L I AN O
MESO
DAP I N G IA N O

EO
CAM B RIANO

500

E M BASAM E N T O

286 | Bacia do Paraná - Milani et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov. 2007 | 287
Bacia do Tacutu

Pekim Tenório Vaz1, Joaquim Ribeiro Wanderley Filho2, Gilmar Vital Bueno3

Palavras-chave: Bacia do Tacutu l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Tacutu Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução 100 m acima do nível do mar, na qual predomina


vegetação do tipo cerrado ou savana (Eiras e Kinoshita,
1990), mas em seu extremo guianense florestas equa-
O rifte intracontinental do Tacutu está situa- toriais são abundantes. Na Guiana, as rochas pré-
do, geograficamente, numa região de fronteira en- cambrianas, na borda sul do gráben (montanhas
tre o Brasil, nordeste do Estado de Roraima e da Kanuku), atingem altitudes superiores a 1.000 m, e
Guiana, distrito de Upper Takutu-Upper Essequibo. na borda norte (montanhas Pakaraima) o terreno apre-
No país vizinho, esta bacia é denominada North senta escarpas de falhas e altitudes de 180 a 300 m.
Savannas gráben (Berrangé e Dearnley, 1975). Do Este gráben apresenta uma largura média de
ponto de vista geológico, esta bacia desenvolveu-se 30 a 50 km e se estende, segundo uma direção ge-
na área central do Escudo das Guianas. ral NE-SW, por aproximadamente 280 km da con-
A fisiografia da região do gráben caracteriza- fluência dos rios Rupununi e Essequibo, na Guiana,
se por uma planície, com altitude média em torno de ao Rio Branco, no Estado de Roraima.

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Amazônia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia
e-mail: pekimvaz@petrobras.com.br
2
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Amazônia/Exploração/Avaliação de Bloco e Interpretação Geológica
3
E&P Exploração/Geologia Aplicada a Exploração/Modelagem de Sistema Petrolífero

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 289-297, maio/nov. 2007 | 289


A área total da bacia abrange cerca de transpressão e transtensão (tectônica transcorrente),
12.500 km2 distribuídos entre a Guiana e o Brasil. O geraram o Alto do Tucano e os Baixos da Girafa e
pacote sedimentar e vulcânico preservado no gráben do Tucano. As feições estruturais presentes na
alcança, localmente, mais de 7.000 m de espessu- Guiana, bem como as suas origens, são similares
ra (Eiras et al. 1994). ao observado no Brasil (Eiras et al. 1994).
Em seções sísmicas, do lado brasileiro, obser- A partir do final do Albiano, a região foi ca-
va-se um espessamento predominante de noroeste racterizada por relativa estabilidade, possivelmente
para sudeste, comprovando o forte controle tectôni- coincidindo com o estágio final da abertura da por-
co exercido pelas falhas na borda sudeste, onde es- ção meridional do Atlântico Norte. Porém, no Mio-
tão registrados os maiores rejeitos e, conseqüente- ceno, a bacia sofreu um evento modificador trans-
mente, a mais espessa coluna sedimentar, caracte- corrente que afetou toda a seção vulcânica e
rístico da geometria assimétrica de um meio-gráben. sedimentar mesozóica, deformando as estruturas pré-
Segundo Eiras e Kinoshita (1988, 1990), os existentes. Formaram-se dobras, arqueamentos re-
sistemas de fraturas NW-SE e NE-SW presentes nas gionais, estruturas “em flor” positiva e reativação de
rochas pré-cambrianas sobre as quais o Gráben do antigos falhamentos (Eiras e Kinoshita, 1988). Su-
Tacutu se implantou, tiveram uma participação es- põe-se que a origem desses esforços relacione-se às
sencial no desenvolvimento desta bacia, pois os complexas interações entre a placa continental da
mesmos teriam controlado os sentidos e as intensi- América do Sul e as oceânicas de Nazca e do Caribe
dades dos movimentos verificados nos primeiros es- (Mendiguren e Richter, 1978).
tágios de sua história.
Esta fossa tectônica é constituída por dois
meio-grábens, separados pela Zona de Acomoda-
ção North Savannas, a partir da qual os mergulhos
se invertem. O primeiro, que se estende desde o histórico
limite sudoeste da bacia, coincidindo com o Rio
Mucajaí, no Brasil, até o Arco Savannas, na Guiana, McConnell (1969) elaborou a hipótese que a
possui perfil notadamente assimétrico, um acen- origem do gráben estivesse associada à formação
tuado mergulho para sudeste e é limitado pelas do sistema de riftes na atual região do Caribe, que
falhas normais do Pirara e de Lethem, a noroeste se propagaram e evoluíram para resultar no Oceano
e sudeste, respectivamente. Atlântico Norte, também conhecido como Oceano
O segundo meio-gráben, com assimetria me- Central na sua porção meridional. Concluiu que a
nor, prolonga-se do Arco Savannas até o limite nor- bacia teria se formado sobre uma zona de falha-
deste da bacia, próximo ao Rio Essequibo, tam- mentos muito antiga, que separava rochas pré-
bém na Guiana. Apresenta mergulho para noroes- cambrianas situadas a norte e a sul do gráben, que
te e é limitado pelas falhas normais do Maú e do não se correlacionavam entre si.
Kanuku, a noroeste e sudeste, respectivamente A hipótese que se baseia numa vinculação entre
(Eiras e Kinoshita, 1990). a origem do Gráben do Tacutu e a abertura do Atlântico
As grandes falhas de Lethem e do Kanuku Central foi também defendida pelos trabalhos de Eiras e
que estabelecem os limites sul/sudeste do meio- Kinoshita (1990) e Berrangé e Dearnley (1975).
gráben nas Guianas e as do Pirara e do Maú, que Recentemente, Zalán (2004) também vincu-
delimitam o meio-gráben a norte/noroeste no Bra- lou os basaltos da Formação Apoteri, idade de 150 Ma;
sil, podem ser consideradas como as ombreiras do os diques do magmatismo Taiano intrudidos no es-
Rifte Tacutu-North Savannas. cudo das Guianas, idade em torno de 200 Ma (Reis
Na parte brasileira do gráben, as feições es- et al. 2006) e as soleiras de diabásio da Bacia do
truturais mais significativas são falhas normais e Solimões, idades médias de cerca de 200 Ma
transtensionais de rejeitos variáveis (1.000-400 m) (Mizusaki, 2004), à abertura do Atlântico Central.
e lístricas associadas a halocinese. Altos e baixos Trabalhos de geologia de campo, levantamen-
estruturais gerados pela tectônica rifte são comuns, tos de prospecção sísmica, gravimétrica e magneto-
entre eles se sobressaem os Altos de São José e do métrica integrados aos dados obtidos da perfuração
Tomba, o horst de Vista Alegre e o Baixo de São de quatro poços exploratórios, no período 1982-1984,
Bento. Anticlinais e sinclinais formados por dois em Roraima e dois na Guiana, constituem a base

290 | Bacia do Tacutu - Vaz et al.


de todas as análises, interpretações e modelos pro- (J10 e J20) referentes à fase pré-rifte, três (J30, K10-
postos para a Bacia do Tacutu. K30 e K40-K60) pertencentes à fase rifte e uma (N50-
Após a publicação do artigo de Eiras et al. N60) correspondendo à fase de sinéclise recente.
(1994), poucos dados foram adquiridos no que
concerne à porção brasileira da Bacia do Tacutu, ten-
do em vista que, desde então, a Petrobras não per-
furou poços nem executou levantamentos geofísicos
neste gráben. Não obstante, as escassas informa-
ções obtidas nos últimos anos permitiram avançar
Superseqüência Pré-
no conhecimento sobre a evolução dessa bacia, tal Rifte
como, melhor posicionar a idade dos basaltos Apoteri.
No que tange à porção guianense do gráben consta-
tou-se que os últimos artigos remontam à década de Seqüência J10
80, não havendo dados novos a serem introduzidos
na evolução geológica da bacia.
Esta seqüência é representada pela Formação
Apoteri, que é constituída predominantemente por
basaltos. A fase efusiva pré-rifte ocorreu sob a forma
de fissuras, que serviram de condutos para sucessi-
embasamento vos derrames (Eiras et al. 1994). A espessura relati-
vamente constante desse pacote vulcânico é a evi-
dência para posicioná-la na fase pré-rifte, pois indica
A Bacia do Tacutu está implantada sobre a Fai- que a bacia ainda não era estruturalmente comparti-
xa Móvel Maroni-Itacaiúnas, de direção geral NW-SE, mentada. Resultados de análises petrológicas ates-
formada durante o Ciclo Orogênico Transamazônico tam que essas vulcânicas possuem uma composição
(2.1-1.8 Ma). A história geológica do substrato da ba- toleítica (Berrangé e Dearnley, 1975). Em alguns aflo-
cia é muito complexa, remontando a eventos ocorri- ramentos foram observadas intercalações de basalto
dos desde o Arqueano até o Cenozóico (Cordani et al. e rochas sedimentares (siltitos, arenitos e conglome-
1984). Esta faixa móvel, bem como os escudos das rados), indicativos de um magmatismo pulsátil inter-
Guianas e o do Guaporé, faz parte do conjunto de calado à atividade de uma sedimentação clástica em
províncias tectônicas que constituem o Cráton Amazô- ambiente de lagos rasos.
nico (Cordani et al. 2000). Na faixa predominam ro- Em afloramentos, estes basaltos toleíticos apre-
chas metavulcânicas e metassedimentares deforma- sentam coloração cinza-escuros a esverdeados e ge-
das e metamorfizadas nas fácies xistos-verdes a ralmente oxidados, granulação muito fina a afanítica,
anfibolito, bem como terrenos gnáissico-migmatíticos amigdaloidal (aspecto conchoidal quando fragmen-
e granulíticos. Sua principal evolução ocorreu no inter- tado), padrão de juntas ortogonal e localmente ob-
valo 2.2-1.95 Ga (Tassinari e Macambira, 2004). Na serva-se estruturas em almofadas (pillows), indican-
parte norte do gráben, o embasamento consiste de do que parte das extrusões ocorreram em ambientes
rochas efusivas ácidas (riodacitos, riolitos e dacitos) e subaquosos. Essas vulcânicas afloram nas margens
intermediárias (traquitos, latitos, andesitos) do Grupo leste e sul do gráben e se estendem por cerca de 280 km
Surumu, com idade aproximada de 1.85 Ma (Eiras e do Rio Essequibo, próximo à cidade de Apoteri
Kinoshita, 1990; Santos, 1984). (Guiana), ao Rio Branco e próximo à cidade de Boa
Vista (Roraima) (Berrangé e Dearnley, 1975).
Um conjunto de dados geocronológicos pro-
duzidos na década de 70 pelo método K/Ar, indicava

seqüências um intervalo de ocorrência bastante extenso para os


basaltos Apoteri, 178 Ma a 114 Ma. A datação de

sedimentares um andesito da Formação Apoteri, na localidade do


Morro do Redondo (Roraima), utilizando-se o méto-
do Ar/Ar, forneceu uma idade de 149,5 ± 0,3 Ma
Seis seqüências foram estabelecidas para os (Reis et al. 2006), que permitiu posicionar melhor a
depósitos vulcânicos e sedimentares desta bacia: duas Formação Apoteri no contexto geológico.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 289-297, maio/nov. 2007 | 291


Ainda com base no artigo de Reis et al. (2006), e carbonatos. Os fanglomerados da borda sudeste
foi acrescentada uma ocorrência ígnea na fase pré- identificam esta como a borda falhada do meio-
rifte deste gráben. Trata-se do dolerito Taiano, com gráben, onde a movimentação de blocos criou re-
idade em torno de 200 Ma, que corresponde a um levos proeminentes, que posteriormente foram
magmatismo caracterizado pela ocorrência de enxa- expostos à erosão. Interpreta-se que as partes dis-
me de diques que afloram na porção oriental de tais das cunhas alcançaram os lagos e formaram
Roraima com direções NE-SW a E-W. leques deltaicos interdigitados com os depósitos
lacustres. A presença de anomalias de amplitude
em seções sísmicas no fundo dos lagos permite
Seqüência J20 interpretar a ocorrência de depósitos turbidíticos
(Eiras e Kinoshita, 1988, 1990).
Após o resfriamento das vulcânicas Apoteri, Sua idade neojurássica é inferida, pois os
a sobrecarga decorrente do espesso pacote dados bioestratigráficos não são conclusivos. O
basáltico provocou uma subsidência capaz de ge- contato com a Formação Manari é discordante e
rar espaço suficiente para acomodar os clásticos considera-se que a deposição das rochas da For-
finos da Formação Manari (Eiras e Kinoshita, 1990). mação Pirara se deu sob condições de clima ári-
Esse ajuste isostático é evidente em seções sísmi- do, em ambientes de circulação restrita, seme-
cas, onde são visíveis algumas falhas normais de lhantes às planícies de sabkhas ou mesmo mari-
pequeno rejeito restritas à Formação Apoteri (Ei- nhos (Eiras et al. 1994). Os evaporitos são con-
ras e Kinoshita, 1988). temporâneos aos sais depositados no mar do
A Formação Manari assenta-se discordante- Caribe e no Atlântico Central, sugerindo que o
mente sobre os basaltos da Formação Apoteri e gráben pode ter estado temporariamente conec-
distribui-se de forma uniforme por quase toda a tado ao mar Jurássico situado a nordeste
extensão do gráben. Compõem-se de siltitos, fo- (Crawford et al. 1984).
lhelhos e, localmente, calcissiltitos e dolomitos.
Interpreta-se para este intervalo um ambiente se-
dimentar lacustre, no qual situam-se as melhores Seqüência K10-K30
rochas com potencial para a geração de petróleo.
As datações bioestratigráficas sugerem uma idade Contemporâneo ao progressivo decréscimo
neojurássica (Eiras et al. 1994). do tectonismo distensivo, acumularam-se os sedi-
mentos vermelhos da Formação Tacutu (Seqüência
K10-K30). Dados sísmicos sugerem que ela se dis-
tribuiu ao longo de todo o gráben, mostrando es-

Superseqüência Rifte pessamento em direção às grandes falhas de su-


deste (Eiras et al. 1994). Seu contato com a Forma-
ção Pirara é discordante e se interdigita lateralmente
com os leques conglomeráticos da borda sudeste.
Seqüência J30 Sob a análise de seções sísmicas, constatou-se que,
de sudeste para noroeste, há uma variação na ex-
A fase rifte começou com a atividade das tensão dos leques conglomeráticos, estando suas
falhas da borda sudeste, no Eocretáceo. Levando- maiores dimensões situadas na porção média da
se em conta a magnitude destas falhas na porção Formação Tacutu. Quanto aos litotipos, consistem
mais interna do gráben e das cunhas clásticas a basicamente de siltitos castanhos-escuros a verme-
elas associadas, Eiras e Kinoshita (1990) concluí- lhos, calcíferos, argilosos, com laminação plano-
ram, a partir de dados sísmicos, que a Formação paralela ou de baixo ângulo. Subordinadamente
Pirara foi depositada contemporaneamente ao clí- ocorrem arenitos, carbonatos e folhelhos. Para esta
max da tectônica distensiva que se iniciava. A For- associação litológica interpreta-se a deposição num
mação Pirara é constituída por halitas nas áreas ambiente lacustre raso. Estudos palinológicos per-
mais centrais do gráben e lateralmente interdigita- mitem posicioná-la no Eocretáceo (Van Der
se a folhelhos e, menos freqüentemente, a siltitos Hammen e Burger, 1966).

292 | Bacia do Tacutu - Vaz et al.


Seqüência K40-K60 et al. 1994). De acordo com Montalvão et al. (1975),
na Guiana a correlação é feita com a Formação White
Sand (Pleistoceno-Holoceno).
O abrandamento da tectônica produziu Uma subdivisão dos depósitos neógenos da
uma redução da taxa de subsidência que, acom- Bacia do Tacutu foi proposta por Reis et al. (2001).
panhada do aumento do influxo de clásticos, per- Para o intervalo inferior, cuja extensão areal res-
mitiu a implantação de sistemas flúvio-deltaicos tringe-se ao gráben do Tacutu, manteve-se o nome
que caracterizam a Formação Tucano (Seqüên- de Formação Boa Vista que, na interpretação des-
cia K40-K60). ses autores, deve sua sedimentação à reativação
A Formação Tucano está restrita ao sinclinal de estruturas regionais. Os intervalos superiores,
homônimo e em superfície apresenta-se sob a for- cujos depósitos ultrapassam os limites do gráben
ma de elevações suaves que atingem até 200 m e recobrem as rochas pré-cambrianas circunvizi-
de altitude, constituindo a Serra do Tucano, fei- nhas, foram por eles denominados Formação Arei-
ção fisiográfica que se destaca amplamente na pla- as Brancas (Pleistoceno Superior-Holoceno). Esses
nície circundante (Eiras e Kinoshita, 1990). Com autores afirmam que há uma discordância angu-
base em interpretação sísmica estima-se que sua lar entre estas duas unidades, que tem mais
espessura possa atingir cerca de 2.200 m. Em chances de ser detectado na borda norte do
afloramentos no sopé da Serra do Tucano, obser- gráben. Esta unidade mais nova constitui-se de
vam-se arenitos castanhos, médio a grossos, com areias predominantemente eólicas, parte fluvial,
seixos gradando para o topo para arenitos róseo- sendo considerada o produto do retrabalhamento
esbranquiçados, caulínicos e friáveis, com dos depósitos da Formação Boa Vista.
estratificação cruzada e raras intercalações de sil- A extrapolação da sedimentação da Forma-
titos. Sua idade é inferida a partir da sua posição ção Boa Vista para além dos limites do Gráben do
estratigráfica. Essa sedimentação marca o encer- Tacutu aponta para uma subsidência regional no
ramento da fase rifte e culmina com o assorea- Cenozóico e constitui-se numa repetição dos pro-
mento da bacia (Eiras e Kinoshita, 1988). cessos ocorridos na formação das sinéclises
paleozóicas (Cordani et al. 1984).
Depósitos aluviais recentes (areias, cascalhos
e, menos freqüentemente, argilas) distribuem-se nos
Seqüências do leitos e terraços dos principais cursos d’água que dre-
nam a região (Montalvão et al. 1975), que denotam
Neógeno denudação e assoreamento no Holoceno.

Seqüências N50-N60
Esta unidade (Pleistoceno a Holoceno) foi
referências
definida por Ramos (1956). Predominam arenitos,
secundariamente observam-se lateritos, argilitos e
bibliográficas
níveis conglomeráticos. São depósitos de ambientes
continentais fluvial, lacustre e eólico. Esta formação
recobre discordantemente não só as rochas das For- BERRANGÉ, J. P.; DEARNLEY, R. The apoteri volcanic
mações Tucano, Tacutu e Apoteri, mas também as formation – tholeiitic flows in the North Savannas
rochas proterozóicas adjacentes ao gráben. Gráben of Guyana and Brazil. Geologische
Suas maiores espessuras são encontradas nos Rundschau, Sttutgart, v. 64, n. 1, p. 883-899, 1975.
blocos rebaixados das grandes falhas das bordas, onde
dados sísmicos indicam espessuras de até 120 m. Na CORDANI, U. G.; NEVES, B. B. DE B.; FUCK, R. A.;
ausência de informações bioestratigráficas capazes PORTO, R.; THOMAZ FILHO, A.; CUNHA, F. M. B.
de datar esta unidade, presume-se que a mesma DA. Estudo preliminar de integração do pré-
tenha sido depositada no fim do Pleistoceno (Eiras cambriano com os eventos tectônicos das bacias

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 289-297, maio/nov. 2007 | 293


sedimentares brasileiras. Rio de Janeiro: PETRO- MONTALVÃO, R. M. G.; MUNIZ, M. B.; ISSLER, R.
BRAS. Cenpes, 1984. 70 p., il., (Ciência Técnica Pe- S.; DALL’AGNOL, R.; LIMA, M. I. C.; FERNANDES,
tróleo. Seção Exploração de Petróleo, n. 15). P. E. C. A.; SILVA, G. G. Geologia. In: Projeto
Radambrasil. Folha NA.20 Boa Vista e parte das
CORDANI, U. G.; SATO K., TEIXEIRA W.; TASSINARI, Folhas NA.21 Tumucumaque, NB.20 Roraima e
C. C. G.; BASEI, M. A. S. 2000. Crustal Evolution of NB.21. Rio de Janeiro: Departamento Nacional de
the South American Platform. In: CORDANI, U. G.; Produção Mineral, p. 13-136. (Levantamento de Re-
MILANI, E. J.; THOMAZ FILHO, A.; CAMPOS, D. A. cursos Naturais, 8).
(Ed.). Tectonic evolution of South America. Rio
de Janeiro: [s.n.]: 2000. p. 19-40. International RAMOS, J. R. A. Reconhecimento geológico no Ter-
Geological Congress, 31., 2000. Rio de Janeiro. ritório do Rio Branco. Relatório Anual da Direto-
ria de Divisão Geológica Mineral. Rio de Janei-
ro: Departamento Nacional de Produção Mineral,
CRAWFORD, F. D.; SZELEWSKI, C. E.; ALVEY, G. D.
p. 58-62, 1956.
Geology and exploration in the Takutu Gráben of
Guyana. Journal Petroleum Geology, Beaconsfield,
v. 8, n. 1, p. 5-36. 1984. REIS, N. J.; SZATMARI, P.; WANDELEY FILHO, J. R.;
YORK, D.; EVENSEN, N. M.; SMITH, P. E. Dois eventos
de magmatismo máfico mesozóico na fronteira Brasil-
EIRAS, J. F.; KINOSHITA, E. M. Evidências de movi-
Guiana, Escudo das Guianas: enfoque à região do Rifte
mentos transcorrentes na Bacia do Tacutu. Boletim
Tacutu – North Savannas. In: CONGRESSO BRASILEIRO
de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 2,
DE GEOLOGIA, 43., 2006, Aracaju. Anais. Bahia: Socieda-
n. 2-4, p. 193-208, abr./dez., 1988.
de Brasileira de Geologia, 2006. p. 244.

EIRAS, J. F.; KINOSHITA, E. M. Geologia e Perspecti-


REIS, N. J.; FARIA M. S. G.; MAIA, M. A. M. O qua-
vas Petrolíferas da Bacia do Tacutu, p.197-220. In:
dro cenozóico da porção norte-oriental do Estado de
GABAGLIA, G.P.R.; MILANI, E. J. Origem e evolu-
Roraima. In: KLEIN, E. L.; VASQUEZ, M. L.; ROSA-
ção de bacias sedimentares. Rio de Janeiro: Petro-
COSTA, L. T. (Ed.). Contribuição à geologia da
bras, 1990, 416 p.
Amazônia, Belém: Sociedade Brasileira de Geolo-
gia, 2001. v. 3, p. 259-272.
EIRAS, J. F.; KINOSHITA, E. M.; FEIJÓ, F. J. Bacia do
Tacutu. Boletim de Geociências da Petrobras, v.
SANTOS, J. O. S. A Parte setentrional do Cráton
8, n. 1, p. 83-89, jan./mar., 1994.
Amazônico (Escudo das Güianas) e a Bacia Amazô-
nica. p. 57-91. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS,
McCONNELL, R. B. Fundamental fault zones in the D. A.; DERZE, G. R.; ASMUS, E. A. (Coord.). Geolo-
Guiana and West African Shields in relation to gia do Brasil: texto explicativo do mapa geológico
presumed axes of Atlantic spreading. Geological do Brasil e da área oceânica adjacente incluindo de-
Society of America Bulletin, Bouder, v. 80, p. 1775- pósitos minerais: escala 1:2 500 000. Brasília: DNPM/
1782, Sep. 1969. Min. das Minas e Energia, 1984, 502 p.

MENDIGUREN, J. A.; RICHTER, F. M. On the origin of TASSINARI, C. C. G.; MACAMBIRA M. J. B. A evo-


compressional intraplate stresses in South America. lução tectônica do cráton Amazônico. In:
Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 8, MONTESSO-NETO, V.; BARTORELLI, A.; CARNEIRO,
n. 2, p. 90-102, 1978. C. D. R.; NEVES, B. B. B. (Ed.). Geologia do conti-
nente sul-americano: evolução da obra de
MIZUSAKI, A. M. P. O magmatismo pós-paleozóico Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo:
no Brasil. In: MANTESSO-NETO, V.; BARTORELLI, A.; Beca, 2004, p. 471-485.
CARNEIRO, C. D. R.; NEVES, B. B. B. (Org.). Geolo-
gia do continente sul-americano: evolução da HAMMEN, T. V. D.; BURGER, D. Pollen flora and age of
obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São the Takutu Formation, (Guyana). Leidse Geologische
Paulo: Beca, 2004. Mededelingen, Leiden, v. 38, p. 173-180, 1966.

294 | Bacia do Tacutu - Vaz et al.


ZALÁN, P. V. Evolução fanerozóica das Bacias Sedi-
mentares Brasileiras. In: MONTESSO-NETO, V.;
BARTORELLI, A.; CARNEIRO, C. D. R.; NEVES, B. B.
B. (Ed.). Geologia do continente sul-americano:
evolução da obra de Fernando Flávio Marques de
Almeida. São Paulo: Beca, 2004, p. 595-612.

bibliografia
ALMEIDA, F. F. M. Origem e evolução da Plata-
forma Brasileira. Rio de Janeiro: Divisão de Geo-
logia e Mineralogia, 1967. 37 p. (Brasil. Departa-
mento Nacional da Produção Mineral. DGM. Bo-
letim, 241).

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 289-297, maio/nov. 2007 | 295


BACIA DO TACUTU PEKIM TENÓRIO VAZ et al.

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
CONT. FLUVIAL

10 NEO

MESO

20 EO

100 NEO

105 ALBIANA
FLÚVIO-DELTAICO

110

TUCANO

2200
CRETÁCEO

115
LEQUES ALÚVIO-DELTAICOS
CONTINENTAL

120
EO

125

REWA
130
LACUSTRE

TACUTU

2700
135

140

145

SABKHA L.A. DOM JOÃO PIRARA 950


150
TITONIANA APOTERI 950
NEO
155

OXIFORDIANO
160

CALLOVIANO
165
BATHONIANO
MESO
JURÁSSICO

170 BAJOCIANO

ALENIANO
175

180 TOARCIANO

185
PLIENSBACHIANO
EO
190

SINEMURIANO

195

HETTANGIANO
200
RHAETIANO

205 NORIANO

542
PRÉ - CAMBRIANO EM BASAME NTO

296 | Bacia do Tacutu - Vaz et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 289-297, maio/nov. 2007 | 297
Bacia da Foz do Amazonas

Jorge de Jesus Picanço de Figueiredo1, Pedro Victor Zalán2, Emilson Fernandes Soares1

Palavras-chave: Bacia da Foz do Amazonas l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Foz do Amazonas Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução aquisição sísmica 2D e 3D e de uma breve campa-


nha de perfuração de quatro poços exploratórios (três
em águas profundas, entre 2001 e 2004). Estes po-
A Bacia da Foz do Amazonas corresponde à ços visaram basicamente o Cone do Amazonas, a
mais extrema bacia ao norte da margem continental seção superior do Cenozóico (Neógeno e parte do
brasileira, situando-se em frente a todo o litoral do Paleógeno) da Bacia da Foz do Amazonas deposita-
Estado do Amapá e parte do litoral noroeste do Esta- da pelo Rio Amazonas nos últimos 11 Ma.
do do Pará. Sua área é de 268.000 km2 (Brandão e Apesar de mais de 60 poços perfurados
Feijó, 1994). Sua exploração processou-se basicamen- na bacia, apenas três estão localizados em águas
te durante as décadas de 70 e 80, em águas rasas. profundas, no Cone do Amazonas. As seções do
A retomada do processo exploratório na Foz do Neocretáceo (Fase Drifte, marinho franco) e parte
Amazonas no final dos anos 90 consistiu de extensa do Eocretáceo (Fase Rifte) só foram amostradas,

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação
e-mail: picanco@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios/NNE

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 299-309, maio/nov. 2007 | 299


por poços, nas águas rasas da porção noroeste da A nomenclatura utilizada para a litoestratigra-
bacia. A Bacia da Foz do Amazonas, em particu- fia foi mantida semelhante à utilizada por Brandão e
lar, teve seu último poço em águas rasas perfura- Feijó (1994), até hoje a mais completa revisão da es-
do em 1987 (1-APS-53). Conseqüentemente, ne- tratigrafia da Bacia da Foz do Amazonas.
nhum dado estratigráfico novo relativo à seção pré-
eocênica advindo de poços foi incorporado ao co-
nhecimento geológico desta bacia da margem
equatorial desde a publicação pioneira da Petro-
bras sobre as cartas estratigráficas das bacias bra- embasamento
sileiras (Brandão e Feijó, 1994).
Os dados aqui apresentados para a Fase Os Grábens do Cassiporezinho e Externo da
Rifte da bacia são baseados predominantemente Bacia da Foz do Amazonas foram implantados so-
nos resultados de projetos diversos contratados bre a Faixa Móvel Rokelides, um cinturão de do-
pela Petrobras e, obviamente, em trabalhos pu- bramentos e cavalgamentos de idade neoprote-
blicados anteriormente. Para a Fase Drifte, os rozóica de direção NNO-SSE que se formou du-
resultados apresentados são fruto de cuidadosa rante a amalgamação do supercontinente Gondwa-
reinterpretação dos dados de poços existentes, na (Evento Orogenético Brasiliano). A Faixa
amarrados com as linhas sísmicas disponíveis, à Rokelides ocorre na área como resultado da jun-
luz dos conceitos mais modernos da estratigrafia ção entre a Faixa Araguaia e a Faixa Gurupi mais
de seqüências. Particularmente, os poços de águas a sul (ambas de idade brasiliana e situadas no
profundas permitiram uma reinterpretação deste entorno dos Crátons Amazônico e de São Luís).
banco de dados sob a luz dos avanços científicos O nome Rokelides provém da extensão desta faixa
das últimas duas décadas. móvel amalgamada na África. Por serem zonas
A Fase Rifte da Bacia da Foz do Amazo- lineares constituídas de fortes anisotropias late-
nas é constituída por três grábens principais, alon- rais, as faixas móveis são zonas preferenciais para
gados paralelamente à direção NNO-SSE. São de- a instalação de riftes durante o processo de
nominados, de oeste para leste, de: Cassiporé, quebramento continental e propagação de ruptu-
Cassiporezinho e Externo. Os dois primeiros são ras. Sua composição compreende rochas metas-
clássicos semi-grábens confinados entre altos do sedimentares e metavulcânicas de origem
embasamento, apresentando borda falhada a oes- infracrustal e supracrustal, com idades originais
te (maioria das falhas sintéticas, mergulhando variando do Arqueano ao Neoproterozóico.
para nordeste/leste) e borda flexural a leste. O O Gráben do Cassiporé, de direção NO-
Gráben Externo ocorre em porções mais distais e SE, implantou-se como um ramo isolado, diver-
sua continuação/extensão em direção às águas gente em relação aos outros dois, em meio ao
profundas não pode ser visualizada com clareza Cráton das Guianas, constituído pelo Complexo
nas linhas sísmicas. Guianense (gnaisses, granitóides, migmatitos, gra-
A Fase Drifte iniciou-se no final do Albia- nulitos e ortoanfibolitos). Nesse domínio apare-
no (circa 102 Ma) e transcorre até o tempo pre- cem também, as rochas plutônicas ácidas e as
sente. Três domínios litoestratigráficos são clara- supracrustais do Paleoproterozóico.
mente identificados nessa fase: entre o final do
Albiano e o Neopaleoceno (Selandiano) ocorre um
domínio de deposição siliciclástica. A partir de
Selandiano até o topo do Mesomioceno instalou-
se uma plataforma mista (carbonato-siliciclástica).
Superseqüência Pré-Rifte
Do Neomioceno (10,7 Ma) até o Presente desen-
volveu-se uma portentosa edificação sedimentar co- Arenitos castanho-avermelhados intercala-
nhecida como o “Cone do Amazonas”. A inter- dos com lavas basálticas ocorrem como uma se-
pretação da evolução cronoestratigráfica da seção qüência plano-paralela, refletiva, de espessura
Drifte permitiu a individualização de 11 seqüênci- constante, no assoalho dos três grábens. Em ter-
as de 2ª ordem de acordo com Mitchum e Van mos de litoestratigrafia corresponde à Formação
Wagoner (1991). Calçoene (Brandão e Feijó, 1994). Recentes

300 | Bacia da Foz do Amazonas - Figueiredo et al.


datações dos basaltos pelo método Ar-Ar apon- lhante à da Formação Codó, de idade neo-aptiana,
tam idades entre 235 e 194 Ma, indicando assim bem caracterizada pela associação composta pre-
uma idade mesotriássica a eojurássica para a de- dominantemente por folhelhos e calcilutitos, bem
posição desta unidade. A espessura máxima esti- como pela sua assinatura elétrica, foi perfurada nos
mada para esta superseqüência é de 1.000 m Grábens de Cassiporé e Externo pelos poços APS-
(Brandão e Feijó, 1994). 18 e APS-49, respectivamente. A idade neo-aptiana
A extensão areal subjacente a todos os foi atestada apenas no último. Litologicamente, a
grábens, sua ocorrência em alto estrutural separan- fácies Codó é representada no APS-49 por folhe-
do os Grábens de Cassiporezinho e Externo, sua lhos cinza-escuros, calcíferos e carbonosos, e no
sismofácies de “trilhos”, a ausência de crescimentos APS-18 por intercalações de folhelhos, siltitos, are-
ou de variações bruscas de espessura e a presença nitos e calcilutitos. Em termos de caráter sísmico,
de rochas ígneas básicas apontam para uma seqüên- a litofácies Codó é caracterizada, a exemplo das
cia depositada em uma bacia do tipo sag Pré-Rifte, outras bacias estudadas, por refletores contínuos,
em condições intracratônicas desérticas. Este é o plano-paralelos, com altos contrastes de
paleoambiente deposicional esperado para o interi- impedância acústica. Sua ocorrência marca sem-
or do supercontinente Gondwana às vésperas de seu pre o topo das seqüências Rifte I e II e é restrita ao
quebramento e ruptura. interior dos grábens. Crescimentos visíveis em sua
sismofácies atestam seu caráter sinrifte no Gráben
do Cassiporezinho. Assim sendo, a litofácies Codó
marca a presença indubitável da Seqüência Rifte II
dentro destes grábens. Seu contato superior é uma
Superseqüência Rifte discordância sobre a qual repousam em onlap os
refletores da seqüência sobrejacente, e seu conta-
to inferior com a Seqüência Rifte I é concordante.
Seqüências K20-K40 e K50 Incorpora-se, neste trabalho, uma mudança
na coluna estratigráfica da bacia, em relação à
apresentada por Brandão e Feijó (1994). A Forma-
A pequena quantidade de poços que pe- ção Codó, pelas razões descritas acima, é introdu-
netraram nos sedimentos rifte, a falta de dados zida em meio à Formação Cassiporé na idade Neo-
bioestratigráficos mais precisos e o não-reconhe- aptiano. A Formação Cassiporé foi utilizada por
cimento de uma discordância significativa na sís- Brandão e Feijó (1994) para designar todas as ro-
mica não permitiram a separação das Seqüên- chas sedimentares da Seqüência Rifte, do
cias K20-K40 (Rifte I) e K50 (Rifte II) nos grábens Barremiano ao Albiano. Este uso é mantido neste
subjacentes da Bacia da Foz do Amazonas. Mes- trabalho, com a inserção da litofácies da Forma-
mo a ocorrência de uma fase de rifteamento neo- ção Codó (representante do Rifte II) no meio da
comiana-barremiana é inferida nesta bacia, ten- Formação Cassiporé (cujas litofácies representam
do em vista a sua localização entre o Rifte do os Riftes I e III).
Marajó (onde sedimentos rifte dessa idade são
comprovados em poços), a sul; e o Platô de De-
merara, a norte, onde sua ocorrência também é Seqüência K60
comprovada por poços. A idade máxima neoco-
miana para esta fase de rifteamento é também A propagação do rifteamento, do Aptiano para
inferida pela idade do rifte, imediatamente a o Albiano, parece ter sido em padrão backstepping,
norte, no Platô de Demerara. As maiores espes- isto é, o depocentro da Seqüência K60 (Rifte III) ocor-
suras dessas seqüências ocorrem nos Grábens do re deslocado em relação ao depocentro das Seqüên-
Cassiporezinho e Externo. cias Rifte I + II em direção à borda falhada, para
Em termos de litoestratigrafia, esta uni- oeste. Assim sendo, os máximos de espessura destas
dade corresponde à Formação Cassiporé, consti- diferentes fases sinrifte não se superpõem. A maior
tuída por intercalações de folhelhos cinza-escuros, espessura da Seqüência Rifte III ocorre no Gráben do
arenitos cinzentos muito finos a finos, seleção mo- Cassiporé, enquanto as maiores espessuras das Se-
derada e arenitos finos a médios, bem seleciona- qüências Rifte I e II ocorrem nos Grábens do Cassipo-
dos (Brandão e Feijó, 1994). Uma litofácies seme- rezinho e Externo. A Seqüência III é composta, pre-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 299-309, maio/nov. 2007 | 301


dominantemente, por arenitos intercalados com (1994) em nove seqüências, que foram interpreta-
folhelhos e siltitos, bem datados como neo-aptianos das como sendo de 3ª ordem, assim distribuídas:
a albianos. Os ambientes deposicionais são inter- quatro no Neocretáceo e cinco no Cenozóico. Neste
pretados como continental, transicional a marinho trabalho foram individualizadas onze seqüências
(recorrentes incursões marinhas). Em sísmica, seus deposicionais, sendo quatro até a base do Maas-
refletores são fracos e descontínuos. Entretanto, o trichtiano e sete deste ponto até o Recente. Da
crescimento de suas espessuras em direção às fa- mesma forma, como interpretado pelos autores
lhas de borda é notável. Em termos de litoestrati- acima citados, não foi identificada, no presente
grafia foram também englobados sob a denomina- trabalho, nenhuma discordância próxima ao limite
ção de Formação Cassiporé (Brandão e Feijó, 1994). Cretáceo-Paleógeno. Portanto, nenhum limite de
O topo desta seqüência é claramente seqüência foi reconhecido neste tempo. De outra
uma discordância angular entre seus estratos bas- forma, ao contrário de Brandão e Feijó (1994), as
culados, rotacionados e falhados, e os estratos seqüências individualizadas e apresentadas neste
de uma nítida seqüência do tipo sag Pós-Rifte, trabalho, com tempo de duração variando entre 5
com refletores de amplitude moderada a forte, Ma, a mais curta, e 18 milhões de anos, a mais
contínuos, subhorizontais e com espessamento longa, foram classificadas como de 2ª ordem
gradual em direção offshore. Seu contato infe- (Mitchum e Van Wagoner, 1991).
rior é igualmente discordante, repousando em
O padrão deposicional para a fase Drifte
onlap sobre as litofácies da Formação Codó (os
sugerido na carta de Brandão e Feijó (1994) é
estratos da Seqüência Rifte III encontram-se me-
de tendência geral transgressiva através do tem-
nos rotacionados do que os estratos das Seqüên-
po geológico. Também neste ponto diverge o pre-
cias Rifte I e II subjacentes).
sente trabalho, uma vez que foram interpreta-
Brandão e Feijó (1994) estimam para toda
dos três grandes momentos de afogamento da
a Fase Rifte (sua Formação Cassiporé) uma espes-
bacia intercalados por fases regressivas. O pri-
sura máxima de 7.000 m. De maneira mais preci-
meiro ocorreu logo após o término da fase rifte,
sa, seções sísmicas convertidas em profundidade
no final do Albiano e início do Cenomaniano. O
indicam para as Seqüências I e II da Bacia do Ma-
segundo se deu no Paleoceno, seguindo uma
rajó espessuras máximas de 6.000 m e para a Se-
tendência já presente deste o Campaniano, po-
qüência III 4.000 m.
rém, não suplantando a do Albiano. O terceiro,
e maior de todos, ocorreu no Eomioceno. Este
último perpetuou-se no registro geológico sob a
forma da Formação Pirabas (a Formação Pirabas
Superseqüência Drifte não é reconhecida na Bacia da Foz do Amazo-
nas; os calcáreos cronoequivalentes aos da For-
As interpretações mais recentes posicionam mação Pirabas estão contidos na porção miocê-
o final da fase Rifte na Bacia da Foz do Amazo- nica da Formação Amapá) encontrada, continen-
nas próxima do final do Albiano. A partir daí, ini- te adentro, a uma distância de aproximadamen-
ciou-se a sedimentação marinha franca com a de- te 200 km a partir da linha de costa atual (Ros-
posição de uma coluna sedimentar siliciclástica seti, 2001). Após esse máximo afogamento ini-
que se propagou por todo o Neocretáceo e só foi ciou-se uma fase de progradação com novo re-
interrompida no Neopaleoceno (Selandiano) com cuo da linha de costa durante o qual foram de-
a instalação de uma plataforma carbonático-sili- positados os sedimentos coevos aos da Forma-
ciclástica. Esta por sua vez atravessou todo o Pa- ção Barreiras, identificada no continente (Rosse-
leógeno (desde o Neopaleoceno) e parte do Neó- ti, 2001). Neste contexto, o Cone do Amazonas
geno até ser completamente obstruída pela che- é crono-correlato ao que este autor denominou
gada dos sedimentos terrígenos trazidos pelo Rio de “pós-Barreiras”.
Amazonas no Neomioceno (10,7 Ma, Tortoniano), Intercalando-se aos máximos de afoga-
que foram os responsáveis pela formação do Cone mentos ocorreram máximos regressivos durante
do Amazonas. os quais foram expostas as seqüências mais anti-
A fase Drifte, que engloba os três domínios gas. Entre o Albiano e o Paleoceno, a máxima
citados acima, foi dividida por Brandão e Feijó regressão, pela interpretação corrente, teria

302 | Bacia da Foz do Amazonas - Figueiredo et al.


acontecido no Campaniano, por volta de 80 Ma luna geocronológica de Gradstein et al. (2004), é
(Gradstein et al. 2004) (todas as idades absolu- de aproximadamente 3 Ma.
tas referidas neste trabalho são baseadas em Gra- O registro geológico encontrado nos poços
dstein et al. 2004). Entre o Paleoceno e o Eo- que perfuraram essa seqüência revela a predomi-
mioceno, o evento erosivo de maior magnitude nância de folhelhos e siltitos em detrimentos de
teria ocorrido imediatamente após a máxima arenitos. Isso sugere que os sistemas alimentado-
transgressão, ou seja, ainda no Paleoceno, por res da bacia ou estavam distantes, em direção ao
volta de 59 Ma. continente, ou não possuíam as características ne-
As onze seqüências de 2ª ordem identifica- cessárias para entregar um forte aporte de sedi-
das neste trabalho enquadram-se, dessa forma, em mentos grosseiros à bacia.
um padrão de mais baixa freqüência de longas ten-
dências transgressivas e regressivas e permeiam os
três domínios litoestratigráficos relatados anteriormen- Seqüência K82-K86
te. A metodologia que permitiu a identificação das
seqüências de 2ª ordem baseou-se em interpreta- Começando na base do Cenomaniano, a Se-
ções bioestratigráficas através da técnica de correla- qüência K82-K86 sobrepõe-se à K70, porém, não
ção gráfica (Wescott et al. 1998; Neal et al. 1998; em toda a sua extensão, denotando o caráter re-
Aubry, 1995). Em uma segunda etapa, as interpre- gressivo da deposição após o afogamento do Albia-
tações foram cruzadas com dados sísmicos para se no. O limite superior desta seqüência é uma discor-
ratificar, ou não, os eventos de afogamento e ero- dância posicionada na porção intermediária do
são. Como resultado desse trabalho apresenta-se, a Turoniano, por volta de 91 Ma. Neste caso existe
seguir, uma descrição sucinta para as onze seqüên- uma excelente correlação entre o hiato deposicio-
cias identificadas. nal e uma forte queda no nível global dos mares
registrada na curva de Haq (1988) recalibrada para
Seqüência K70 Gradstein et al. (2004) naquela idade. Um outro
fator que poderia ser relacionado como causa ou,
pelo menos, como amplificador dessa discordância
Marca o início da deposição Drifte. Seu li- é um evento magmático ocorrido na bacia durante
mite inferior é determinado pela discordância do o Turoniano, registrado no poço PAS 24 e datado
break up (final da fase Rifte, ~102 Ma) e o supe- por Ar-Ar em 90 Ma. O tempo de duração sugerido
rior por uma discordância na base do Cenoma- para a Seqüência K82-K86, baseado em critérios
niano, em torno de 99 Ma. O posicionamento semelhantes aos utilizados para a Seqüência K70,
dessa discordância, como de outras descritas do- é em torno de 8 Ma.
ravante, foi feito cruzando-se as informações so- Análises paleoambientais em poços per-
bre hiatos deposicionais, obtidas nos crossplots furados nas porções de águas rasas da bacia atual
(tempo geológico versus profundidade) de dados indicam ambiente marinho raso para os sedimen-
bioestratigráficos, com a curva de Haq (1988), tos da Seqüência K82-K86. Todavia, a ocorrência
recalibrada para Gradstein et al. (2004). Nesse de siltitos e folhelhos, inclusive com característi-
caso (discordância do Cenomaniano) existe uma cas de deposição em ambientes anóxicos, ainda
boa correlação entre o hiato deposicional obser- supera os arenitos, sugerindo, como no caso an-
vado e uma queda no nível global dos mares re- terior, ou distância dos sistemas alimentadores ou
gistrada na curva referida. baixa energia dos mesmos.
A Seqüência K70 descrita neste trabalho é
caracterizada por um afogamento generalizado da
bacia. Após o Albiano, somente no Mioceno o mar Seqüência K88-K90
voltou a cobrir uma grande extensão da bacia. Tal
fato é constatado em alguns poços onde os sedi- A última seqüência da fase regressiva do
mentos do Mioceno repousam diretamente sobre Neocretáceo, com tempo de duração de, aproxi-
aqueles do Albiano. A duração estimada da Se- madamente, 11 Ma, é limitada em seu topo por
qüência K70, interpretada com base no posiciona- uma discordância na porção intermediária do Cam-
mento das discordâncias que a limitam sobre a co- paniano, em torno de 80 Ma.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 299-309, maio/nov. 2007 | 303


Também no caso da discordância do Cam-
paniano existe uma boa correlação entre o hiato
Seqüência K130-E20
observado no registro geológico e uma queda no
nível global dos mares registrada na curva de Haq Esta seqüência se inicia no Cretáceo (base
(1988), recalibrada para Gradstein et al. (2004). A do Maastrichtiano, ~70 Ma) e propaga-se até o
discordância em questão é de grande importância Neopaleoceno (meio do Thanetiano, ~58 Ma) com
na história geológica da bacia, pois além de mar- tempo de duração em torno de 12 Ma. Durante o
car um ponto de inflexão no padrão deposicional seu desenvolvimento ocorreu um dos máximos de
de regressivo para transgressivo, representa a má- afogamento da bacia, após o qual iniciou-se a pro-
xima regressão registrada no Neocretáceo. Além pagação dos carbonatos em um tempo próximo à
disso, ressalta-se o fato de que após essa passagem entre o Eopaleoceno e o Neopaleoceno.
discordância ocorreu uma drástica mudança no Cruzando-se os dados de hiatos deposicionais com
conteúdo litológico da região de águas rasas da a curva de Haq (1988) observa-se uma boa corre-
bacia, onde a deposição de sedimentos grossei- lação dos primeiros com uma acentuada queda no
ros (arenitos), diferentemente das seqüências an- nível dos mares no estágio Thanetiano (~58 Ma).
teriores, tornou-se preponderante sobrepujando Neste ponto foi posicionada a discordância do topo
a sedimentação de finos (folhelhos e siltitos). A da Seqüência K130-E20, que marca o máximo re-
Seqüência K88-K90 posicionada abaixo da dis- gressivo do Cenozóico. A partir daí, a deposição
cordância do Campaniano ainda possui um con- ocorreu continuamente com tendência transgres-
teúdo litológico semelhante ao da Seqüência K88- siva até o Mesomioceno.
K90, qual seja os folhelhos, siltitos e arenitos in-
tercalados. Onde amostrados por poços, os dois
primeiros sobrepõem-se ao terceiro.
Seqüência E30-E50
As Seqüências E30 a E50 foram agrupadas
Seqüência K100-K120 em uma única, que foi individualizada entre a dis-
cordância do Thanetiano e outra ocorrida no Eo-
Após o topo da Seqüência K88-K90, no ceno médio (Lutetiano, ~42 Ma). Com tempo de
Campaniano (~80 Ma), só foi identificada outra duração de aproximadamente 18 Ma, a Seqüên-
discordância próxima à base do Maastrichtiano cia E30-E50 experimentou certa complexidade de-
(~70 Ma). Como a primeira discordância marca, posicional uma vez que a chegada de sedimentos
caracteristicamente, o topo da Seqüência K88- siliciclásticos, ocorrida durante o Ypresiano, na
K90 e a segunda a base da Seqüência K130-E20 porção sudeste da bacia, interrompeu localmente
nas bacias da Margem Equatorial, optou-se, nes- o desenvolvimento dos carbonatos que se propa-
te trabalho, por se agrupar as Seqüências K100 a gavam desde o Neopaleoceno.
K120 em uma só com tempo de duração em tor- A deposição desses siliciclásticos ocorreu de
no de 10 Ma. forma intermitente aos carbonatos até o final do
A discordância do topo da Seqüência K100- Mesomioceno e provocou uma diferenciação de-
K120 não possui correlação com nenhuma queda no posicional ao longo do strike da bacia que resul-
nível global dos mares registrada na curva referida tou na construção de uma plataforma mista (car-
anteriormente, porém, recentes estudos anteriores bonático/siliciclástica) na metade sudeste, conco-
indicam um evento de soerguimento das áreas con- mitante ao desenvolvimento de uma plataforma
tinentais da Margem Equatorial exatamente em tor- tipicamente carbonática na metade noroeste. Na
no de 70 Ma. Este evento tectônico pode, dessa for- porção sudeste, a Seqüência E30-E50 começou
ma, estar relacionado à causa da discordância que sob o domínio de carbonatos. Logo após o início
marca o topo da Seqüência K100-K120. Essa seqüên- do Ypresiano, a deposição mudou para predomi-
cia também difere das anteriores por possuir um pa- nantemente siliciclástica e continuou assim até o
drão deposicional transgressivo e um conteúdo final desse estágio quando os carbonatos voltaram
litológico predominantemente arenoso, onde a ter a supremacia por aproximadamente 2/3 do
amostrado por poços. tempo total do estágio seguinte (Lutetiano). No
terço superior do Lutetiano, os siliciclásticos vol-
taram e permaneceram como majoritários até o

304 | Bacia da Foz do Amazonas - Figueiredo et al.


final da Seqüência E30-E50. Para além da E30- mioceno e Mesomioceno (Burdigaliano, ~16,5 Ma).
E50, observa-se a continuação da dominação dos Evidências sobre a presença dessa discordância fo-
siliciclásticos até o Neo-oligoceno. Uma vez mais, ram encontradas tanto nas interpretações já relata-
a sedimentação carbonática sobrepujou os das anteriormente, quanto em informações obtidas
terrígenos. Desta feita até a chegada do Cone na bibliografia publicada. Rossetti (2001) em estudos
do Amazonas no Neomioceno. geológicos de superfície em área contígua à Bacia
da Foz do Amazonas interpretou grandes eventos
Seqüência E60 erosivos na região nos tempos: base do Chatiano;
topo do Burdigaliano e a base do Tortoniano.
A Seqüência E60 foi individualizada entre as Neste contexto, a Seqüência E80-N10 indivi-
discordâncias do Lutetiano (~42 Ma) e outra no limite dualizada neste trabalho tem base na discordância
entre o Bartoniano e o Priaboniano (~37 Ma). Essas do Chatiano (~28,5 Ma) e o topo na discordância do
duas discordâncias, como outras descritas anteriormen- Burdigaliano (~16,5 Ma) com uma duração de cerca
te, foram interpretadas com base no cruzamento de de 12 Ma. Ao contrário das duas anteriores, ela foi
dados de hiatos deposicionais com a curva de varia- depositada totalmente sob o domínio dos carbonatos
ção global do nível dos mares. Todavia, dados de poço (excetuando-se apenas a sua base). Durante a Se-
recentemente perfurado em águas profundas na Foz qüência E80-N10 ocorreu a máxima inundação da
do Amazonas corroboraram seu posicionamento e bacia. A Formação Pirabas está, temporalmente,
reforçaram a metodologia utilizada neste trabalho para contida na Seqüência E80-N10.
o posicionamento de discordâncias na coluna crono-
estratigráfica. A Seqüência E60 foi toda depositada
sob o domínio de siliciclásticos na porção SE da bacia,
Seqüência N20-N30
enquanto na porção NO a seção coeva é predomi-
nantemente carbonática. A discordância próxima da base do Torto-
niano (aqui se reposiciona a discordância para pró-
ximo da base e não exatamente nela) (~10,7 Ma)
Seqüência E70 que marca o topo da Seqüência N20-N30 é a dis-
cordância mais bem documentada na Foz do Ama-
Com limites entre a base do Priaboniano zonas. Imageada com bastante clareza em sísmi-
(~37 Ma) e a base do Chatiano (~28,5 Ma) a ampli- ca, é ratificada por dados de poços (águas rasas e
tude temporal da Seqüência E70 é bem superior a profundas) podendo ainda ser observada em su-
da Seqüência E60. O conteúdo litoestratigráfico, po- perfície (Rossetti, 2001). Circunscrita quase que
rém, é o mesmo da seqüência anterior. A predomi- totalmente ao Mesomioceno, durante o transcurso
nância de terrígenos no SE e carbonatos no NO, ana- da Seqüência N20-N30 ocorreu a progradação dos
lisando dados da seção sedimentar entre o Eoceno sistemas deposicionais costeiros após a máxima
médio e a base do Cone, depositada no talude infe-
inundação do Eomioceno, que são registrados nas
rior/bacia profunda da Foz do Amazonas, mostram
porções proximais da Margem Equatorial, hoje to-
que existe uma boa correlação entre os eventos geo-
talmente sobre o continente (Formação Barreiras)
lógicos (discordâncias, inundações máximas etc) pre-
(Rossetti, 2001). Todavia, ao mesmo tempo da
viamente interpretados, baseados unicamente em
deposição da Formação Barreiras, nas porções pro-
informações obtidas na plataforma, com aqueles
ximais, continuava a deposição de carbonatos nas
observados na seção coeva depositada em águas
porções distais, daí o porquê de na Foz do Amazo-
profundas da bacia. A interpretação do posiciona-
nas serem encontrados, predominantemente, car-
mento das discordâncias que limitam as Seqüências
bonatos no Mesomioceno.
E60, E70, E80-N10 e N20-N30, entre o Eoceno mé-
dio e a base do Cone, é assim reforçada.
Seqüência N40-N60
Seqüência E80-N10
A última seqüência da Bacia da Foz do Ama-
O topo da Seqüência E80-N10 é marcado pelo zonas iniciou-se circa 10,7 Ma (conforme explicado
evento discordante próximo ao limite entre o Eo- anteriormente) e continua até o Recente. Esta se-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 299-309, maio/nov. 2007 | 305


qüência, apesar de representar apenas cerca de 10% importante para a evolução sedimentar na Foz
do tempo da fase Pós-Rifte da Bacia, contém o ter- do Amazonas foi o soerguimento ocorrido no
ceiro grande domínio litoestratigráfico (o Cone do Mesomioceno denominado Tectônica Quéchua II,
Amazonas), e sozinha é responsável por mais de 50% que alterou o padrão da drenagem na Amazônia
do volume de sedimentos depositados na bacia des- Ocidental resultando na formação do moderno Rio
de o final do Albiano. Como o principal foco da re- Amazonas (Hoorn et al. 1995) com a conseqüen-
cente fase exploratória na Foz do Amazonas incidiu te formação do Cone do Amazonas na Bacia da
sobre o “Cone”, a Seqüência de 2ª ordem N40-N60 Foz do Amazonas.
pode ser mais bem detalhada e subdividida em 11 Outro elemento tectônico importante para
seqüências de 3ª ordem (Pasley et al. 2004). a sedimentação em bacias costeiras é o soergui-
mento flexural da borda da bacia em função da
carga sedimentar. Este elemento foi particularmen-
te importante para a sedimentação Plio-Pleistocê-
nica na Foz do Amazonas.
tectonismo na Fase
Drifte
Após um evento de ruptura continental defi-
referências
nitiva, as bacias costeiras formadas nas margens dos
continentes ficam submetidas a um regime de esfor-
bibliográficas
ços intraplaca que é uma conseqüência da natureza
do tipo de margem sob a qual determinada bacia foi AUBRY, M. P. From chronology to stratigraphy:
instalada. A Foz do Amazonas, instalada sob uma interpreting the lower and middle Eocene
margem do tipo transformante, tem sido subme- stratigraphic record in the Atlantic Ocean:
tida, em sua fase Drifte, tanto às conseqüências geochronology time-scale and global stratigraphic
dos eventos tectônicos causados pelo processo de correlation. Tulsa: Society of Economic Paleontolo-
espalhamento do Oceano Atlântico, cujos princi- gists and Mineralogists, 1995. p. 213-274. (SEPM.
pais agentes são as ramificações das zonas de Special Publication, 54).
fraturas para o interior da bacia (Saint Paul, no
caso da Foz do Amazonas), quanto ao esforço BRANDÃO, J. A. S. L.; FEIJÓ, F. J. Bacia da Foz do
devido à compressão ocorrida na margem oeste Amazonas. Boletim de Geociências da Petro-
do continente sul-americano, causador do soer- bras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 91-99, jan./
guimento da Cordilheira dos Andes. Os primeiros mar. 1994.
eventos, ou seja, aqueles devidos ao espalhamen-
to oceânico possuem muito mais um caráter trans-
GRADSTEIN, F. M.; OGG, J. G.; SMITH, A. G. A
formador da configuração do conteúdo deposi-
geologic time. Cambridge: Cambridge University
cional da bacia do que propriamente um caráter
Press, 2004, 610 p.
motriz do processo deposicional. Os eventos epi-
sódicos de soerguimento na Cordilheira dos An-
des, de outra forma, por agirem diretamente so- HAQ, B. U.; HARDENBOL, J.; VAIL, P. R. Mesozoic
bre as áreas fontes que fornecem sedimentos para and Cenozoic chronostratigraphy and cycles of
a bacia, têm desempenhado um papel de suma sea-level change. IN WILGUES, C. K.; HASTINGS,
importância no processo de preenchimento sedi- B. S.; POSAMENTIER, H. W.; VAN WAGONER, J. C.;
mentar da Foz do Amazonas. ROSS, C. A.; KENDALL, C. G. S. G. (Ed.). Sea-level
Recentes estudos em Traços de Fissão em changes: an integrated approach. Houston: Society
Apatitas têm demonstrado uma boa correlação of Economic Paleontologists and Mineralogists, 1988.
entre eventos registrados em sedimentos e inter- p. 71-108. (SEPM. Special Publication, 42).
pretados como de soerguimentos das áreas fon-
tes e os principais picos de soerguimento dos HOORN, C.; GUERRERO, J.; SARMIENTO, G. A.;
Andes relatados na bibliografia. Destes, o mais LORENTE, M. A. Andean tectonics as a cause for

306 | Bacia da Foz do Amazonas - Figueiredo et al.


changing drainage patterns in miocene, northern
South America. Geology, Boulder, v. 23, n. 3, p.
237-240, Mar.1995.

MITCHUM JUNIOR, R. M.; VAN WAGONER, J. C.


High-frequency sequences and their stacking
patterns: sequence-stratigraphic evidence of high-
frequency eustatic cycles. Sedimentary Geology,
Amsterdam, v. 70, p. 131-160, 1991.

NEAL, J.E., STEIN, J. A., GAMBER, J. H. Nested


stratigraphic cycles and depositional systems
of the paleogene Central North Sea: mesozoic
and cenozoic sequence stratigraphy of European
Basins. Tulsa: Society of Economic Paleontologists
and Mineralogists, 1998. p. 261-288. (SEPM.
Special Publication, 60).

PASLEY, M. A.; SHEPHERD, D. B.; POCKNALL, D.


T.; BOYD, K. P.; ANDRADE, V.; FIGUEIREDO, J. J. P.
Sequence stratigraphy and basin evolution of the
Foz do Amazonas Basin, Brazil. In: AAPG
INTERNATIONAL CONFERENCE AND EXHIBITION,
2004, Cancun. Book of Abstracts. Houston:
American Association of Petroleum Geologists.
2004. 1 CD-ROM.

ROSSETTI, D. F. Late cenozoic sedimentary


evolution in northeastern Pará, Brazil, within the
context of sea level changes. Journal of South
American Earth Sciences, Oxford, v. 14, p. 77-
89, 2001.

WESCOTT, W. A.; KREBS, W. N.; SIKORA, P. J.;


BOUCHER, P. J.; STEIN, J. A. Modern application
of biostratigraphy in exploration and production.
The Leading Edge, Tulsa, v. 17, p. 1204-1210,
Sep. 1998.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 299-309, maio/nov. 2007 | 307


BACIA DA FOZ DO AMAZONAS

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

TUCUNARÉ
PLATAFORMA
REGRESSIVO

N40 - N60
GE
RUC
UDE

9000
EO ZAN C LE AN O

ORAN
M E S S I N I AN O

PIRA
NEÓGENO

TAL
F.
PRO
NEO
T O R T O N IA N O
10

N20-
S E R R AVAL IA N O

N30
MESO
LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O

E80 - N10
20 EO
AQ U I TAN IA N O

TRAVOSAS
NEO C HAT T IAN O
TRANSGRESSIVO

PLATAFORMA

PROFUNDO
30
EO RUPELIANO

E70
TALUDE

AMAPÁ

4000
NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G E NO

E60
BAR T O N I AN O

MARAJÓ
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

E30 - E50
50
EO Y P R E S I AN O
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

K100-K120 K130 - E20


TALUDE
TRANSGRESSIVO

PLATAFORMA

EO DAN I AN O

70
(S EN ON IAN O )

CAM PA N IAN O
LIMOEIRO

2500
80
NEO

K88-K90
PLATAFORMA
REGRESSIVO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
TALUDE

T U R O N I AN O

K82-K86
C E N O MA N IA N O
CRETÁCEO

100
K70
4000
MARINHO
(GÁLICO)

AL B I AN O
PLATAFORMA CASSIPORÉ K60
110

CODÓ 500 K50


ALAGOAS
APTIANO
120
EO

CONTINENTAL

CASSIPORÉ
LACUSTRE/
DELTAICO/

FLUVIAL/

JIQUIÁ
ALUVIAL

K20-K40

BARRE- BURACICA
5500

MIANO
130
(NEOCOMIANO)

ARAT U
HAUTE-
RIVIANO
RIO
VALAN- DA
GINIANO SERRA
140
194
200
T-J

DESÉRTICO CALÇOENE 1000


235
542
EM BASAME NTO

308 | Bacia da Foz do Amazonas - Figueiredo et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 299-309, maio/nov. 2007 | 309
Bacia do Marajó

Pedro Victor Zalán1, Nilo Siguehiko Matsuda2

Palavras-chave: Bacia do Marajó l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Marajó Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução Muito embora esta campanha não tenha resultado


em sucesso exploratório, os dados oriundos desses
poços formaram a base sobre a qual a evolução geo-
A Bacia do Marajó situa-se na confluência dos lógica da bacia foi reconstituída.
rios Amazonas e Tocantins, Estado do Pará, possuin- O rifte do Marajó apresenta, em planta,
do uma área de 53.000 km2. Encontra-se ladeada pelas uma geometria em forma de colher, com alonga-
bacias paleozóicas do Amazonas, a oeste, e do Par- mento geral seguindo a direção NW-SE. A borda
naíba, a sudeste. Ao norte, passa lateralmente para a falhada localiza-se na margem oeste, e a flexural,
bacia marginal da Foz do Amazonas. Tectonicamente, na margem leste da bacia. Esta pode ser subdivi-
trata-se de uma bacia meso-cenozóica do tipo dida em três sub-bacias com elongações distintas
aulacógeno (rifte abortado) coberta por uma bacia do de norte para sul: Mexiana (NE-SW), Limoeiro
tipo sag bem desenvolvida, simetricamente disposta (NW-SE) e Cametá (WNW-ESSE), formando, as-
em relação ao rifte profundo não-aflorante. Neste as- sim, a típica geometria de meia-lua da bacia. Ao
pecto, sua geometria é semelhante à da Bacia do sul do gráben de Cametá ocorre o pequeno gráben
Mar do Norte, razão pela qual despertou grande inte- de Mocajuba (NNW-SSE), como uma pequena di-
resse na indústria petrolífera no final da década de vergência da direção de ruptura principal, que
80. Nessa ocasião, a companhia multinacional Texaco nesta extremidade tendeu a seguir a Faixa Gurupi
perfurou cinco poços profundos seguidos na bacia. para leste.

1
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios/NNE – e-mail: zalan@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Geologia Aplicada à Exploração/Estratigrafia e Sedimentologia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 311-319, maio/nov. 2007 | 311


As revisões litoestratigráficas mais completas
existentes acerca da Bacia do Marajó foram realiza- Superseqüência
das no âmbito interno da Petrobras. Poucos traba-
lhos sobre a bacia tiveram publicação externa, Milani
Paleozóica
e Zalán (1998) e Galvão (2004). A Bacia do Marajó
teve seu último poço perfurado em 1989 (1-MU-1).
Conseqüentemente, nenhum dado estratigráfico
Seqüência Ordovício-Siluriana
novo advindo de poços, com exceção de revisões
paleontológicas, foi posteriormente adicionado ao Rochas sedimentares paleozóicas foram alcan-
conhecimento geológico desta bacia. çadas por poços e pertencem à Seqüência Ordovício-
Sua espessura sedimentar ultrapassa 16.000 m Siluriana. Em seções sísmicas aparecem sempre como
e o seu preenchimento sedimentar compreende duas o assoalho da Bacia do Marajó, sob a forma de uma
seqüências de sedimentos sinrifte: Riftes I e II seqüência sismo-estratigráfica constituída por estra-
(Berriasiano ao Aptiano) e Rifte III (Neo-aptiano ao tos plano-paralelos, de grande continuidade e espes-
Albiano), capeadas por uma Superseqüência Pós-Rifte sura constantes, cortados abruptamente pelas falhas
composta por sedimentos com idades variando do do rifte. Compreendem, possivelmente, às Forma-
Neo-albiano ao Neógeno. ções Manacapuru, Pitinga e Nhamundá/Autás-Mi-
rim, pertencentes ao Grupo Trombetas, de idade
ordovício-siluriana da Bacia do Amazonas, que se
estendiam por grandes áreas intracratônicas do
Gondwana e que foram capturadas e preservadas
embasamento na base dos grábens por ocasião do abatimento dos
mesmos durante o rifteamento Mesozóico. A espes-
sura máxima estimada para esta seqüência é de
A Bacia do Marajó foi quase que totalmen- 1.300 m (Galvão, 2004).
te (grábens de Mexiana e Limoeiro) implantada
sobre a Faixa Móvel Araguaia, um cinturão de
dobramentos e cavalgamentos de idade neopro-
terozóica que se formou durante a amalgamação
do Supercontinente Gondwana (Ciclo Orogênico Superseqüência Rifte
Brasiliano). Por serem zonas lineares constituídas
de fortes anisotropias laterais, as faixas móveis
são zonas preferenciais para a instalação de riftes Seqüência K10-K30 e K40
durante o processo de quebramento continental
e propagação de rupturas. Sua composição com- As seqüências K10-K30 e K40 (Rifte I e II)
preende rochas metassedimentares e exibem espessos pacotes de sedimentos na parte
metavulcânicas de origem infracrustal e supracrus- basal dos grábens. A indicação da idade mais anti-
tal, com idades originais variando do Arqueano ga obtida por poços é do Barremiano (P-180). En-
ao Neoproterozóico. tretanto, pela análise de seções sísmicas, ocorrem
A Faixa Araguaia se une à Faixa Gurupi, tam- espessuras muito grandes de sedimentos abaixo
bém de idade brasiliana e situada no entorno do destes pacotes datados. Com base em correlação
Cráton de São Luís, na altura da borda sudeste da geológica com riftes situados imediatamente a nor-
Bacia do Marajó. Neste ponto, a ruptura principal te do Brasil, no Platô de Demerara, infere-se uma
do gráben seguiu a Faixa Gurupi formando o idade máxima eocretácea para estes sedimentos.
gráben de Cametá, enquanto que a pequena di- Pelo mesmo raciocínio foram sugeridos sedimentos
vergência do gráben de Mocajuba continuou a se- até de idade Neojurássica nas partes mais profun-
guir a direção da Faixa Araguaia. A partir deste das da bacia. Zalán (2004) apresentou a hipótese
ponto, no sentido norte, as duas faixas seguem de propagação para sul, até a Bacia do Marajó, do
como se fossem uma só ao longo de uma direção rifteamento que resultou na abertura do Atlântico
norte-sul por baixo da bacia, entre os Crátons Ama- Central. Assim, sedimentos neotriássicos a
zônico e de São Luís. Sua extensão na África rece- eojurássicos também poderiam ocorrer nas partes
be o nome de Rokelides. mais profundas do gráben.

312 | Bacia do Marajó - Zalán e Matsuda


A composição é essencialmente siliciclástica, do de fluvial a flúvio-deltaico/estuarino, com con-
predominantemente arenosa, com delgadas interca- tribuições locais de marinho marginal (Galvão,
lações de siltitos e folhelhos. Tufos vulcânicos básicos 2004). O padrão predominante de dispersão das
foram detectados em um poço. Devido à baixa reso- areias é axial, com contribuições das bordas fa-
lução sísmica, torna-se difícil estabelecer os paleoam- lhadas e de zonas de transferência. Litoestratigra-
bientes de sedimentação. Zonas mais pobres em re- ficamente, estes ambientes são correlacionados
flexões sísmicas coincidentes com os depocentros dos à Formação Itapecuru da Bacia do Parnaíba
meio-grábens foram interpretadas como regiões pos- (Galvão, 2004). Os fanglomerados da Formação
sivelmente mais ricas em argilas lacustres, talvez até Jacarezinho também ocorrem lateralmente inter-
com a presença de lutocinese. Em termos de litoes- calados a oeste e sudoeste com a Formação
tratigrafia, as rochas sedimentares pertencentes a estas Itapecuru.
seqüências podem ser denominadas de Formação O topo desta seqüência é claramente uma dis-
Breves (a ser formalizada neste trabalho, adiante). cordância angular entre seus estratos basculados,
A oeste, junto à borda falhada, ocorrem espessos pa- rotacionados e falhados, e os estratos de uma nítida
cotes de conglomerados polimíticos e arenitos gros- seqüência do tipo sag (geometria de prato), subhori-
sos, marrons-avermelhados, depositados em tálus e zontal e com refletores fortes e contínuos. Seu con-
em leques aluviais, indicando típica sedimentação sin- tato inferior é concordante, não representado por
tectônica associada à falhas normais, que correspon- nenhuma reflexão nem quebra de sismo-fácies notá-
dem à Formação Jacarezinho. Muito embora não te- vel. Seções sísmicas convertidas em profundidade
nha havido perfurações completas nas partes mais indicam para a Seqüência K50-K60 (Rifte III) da Ba-
profundas da bacia, cerca de 3.000 m de sedimentos cia do Marajó com espessura máxima de 4.000 m.
sinrifte foram perfurados pelo poço 1-BV-1 em um pa-
tamar da borda oeste do gráben de Limoeiro, no qual
foram perfuradas rochas vulcânicas básicas. Seções
sísmicas convertidas em profundidade indicam para
as seqüências K10-K30 e K40 da Bacia do Marajó Superseqüência Pós-Rifte
espessuras máximas de 6.000 m.
Não há evidências sísmica, litológica ou pa-
Na Bacia do Marajó não é possível, ainda, se
leontológica para a existência da Seqüência sag de
fazer a separação das rochas sedimentares deposita-
idade P-270 (Neo-Aptiano). Possivelmente, a notá-
das acima da discordância pós-rifte nas clássicas se-
vel incursão marinha desta idade não conseguiu pe-
qüências da margem continental brasileira, assim
netrar nos domínios do aulacógeno, caso único en-
como realizado por Feijó (1994), para as seqüências
tre todas as bacias da margem equatorial.
deposicionais empregadas em todas as cartas estra-
tigráficas das bacias marginais. Portanto, aqui será
Seqüência K50-K60 usada a denominação Superseqüência Pós-Rifte para
englobar todas as rochas depositadas entre o Ceno-
A propagação do rifteamento dentro da maniano e o Paleógeno no interior de uma bacia em
Bacia de Marajó parece ter sido em padrão retro- forma de prato (tipo sag), que recobre o aulacógeno
gradante, isto é, o depocentro da Seqüência K50- de Marajó por toda a sua extensão.
K60 (Rifte III) ocorre deslocado para sudoeste em As seqüências K88-K90 a E40-E80 são com-
relação ao depocentro das seqüências K10-K30 e postas, predominantemente, por arenitos intercala-
K40 (Rifte I e II) em direção à borda falhada. As- dos subordinadamente por siltitos, folhelhos e argili-
sim, as máximas espessuras dessas diferentes fa- tos. A ambiência deposicional varia entre o conti-
ses sinrifte não se superpõem. Conseqüentemen- nental e o marinho. As camadas são absolutamente
te, a espessura total do gráben não é a soma das horizontais, sem nenhum indício de deformação de
espessuras das diferentes fases rifte. A Seqüên- qualquer natureza. Antigos trabalhos internos da Pe-
cia K50-K60 é predominantemente composta por trobras apresentam o histórico da separação formal
arenitos e secundariamente por folhelhos, siltitos, deste conjunto de rochas em duas unidades litoestra-
argilitos e carbonatos, datados como neo-aptianos tigráficas: formações Limoeiro e Marajó, que podem
a albianos. Os ambientes deposicionais são inter- alcançar até 5.000 m de espessura.
pretados como continental a transicional, varian-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 311-319, maio/nov. 2007 | 313


Seqüência K70-K86 Seqüência E40-E80
Merece destaque o pacote Albiano (P-360) A Formação Marajó é constituída por areni-
a Cenomaniano que se destaca notavelmente nas tos, argilitos e folhelhos, com espessura máxima
seções sísmicas (refletores fortes e contínuos) da ordem de 2.000 m. O conjunto de ambientes
como sendo constituído por estratos de uma níti- sedimentares é o mesmo observado para a For-
da seqüência basal de uma bacia do tipo sag, mação Limoeiro (Galvão, 2004). Seus contatos
subhorizontal e com geometria típica de prato. basal e superior são concordantes, contudo, possi-
Segundo Galvão (2004), esta seqüência desen- velmente devem ocorrer hiatos de tempo. Lateral-
volve-se inicialmente apenas acima dos grábens mente, para norte, grada para os carbonatos da
de Limoeiro e Mexiana, justamente onde ocorreu Formação Amapá da Bacia da Foz do Amazonas
o maior afinamento crustal nas fases rifte, não se (offshore). Para oeste, interdigita-se com depósi-
estendendo para o gráben de Cametá. Litoestra- tos litologicamente similares aos da Bacia do Ama-
tigraficamente, esta unidade é denominada de zonas (onshore). Sua idade deve variar do
Formação Anajás (a ser formalizada neste trabalho, Eoeoceno ao Mioceno.
adiante), sendo composta por intercalações de are-
nitos, folhelhos (moderadamente radioativos) e
siltitos, que podem alcançar espessuras de até
1.200 m. É a única unidade da Superseqüência
Pós-Rifte que não possui composição predominan-
temente arenosa, devendo o seu conteúdo argi-
Superseqüência Drifte
loso refletir a transgressão marinha cenomania-
na. À medida que o resfriamento e a subsidência Seqüência N20-N50
termal foram se ampliando a partir deste núcleo,
a sedimentação avançou para sul em direção ao
gráben de Cametá, e a bacia em forma de prato Segundo Galvão (2004), a Formação Barrei-
foi se alargando de baixo para cima, com seqüên- ras (Eomioceno-Plioceno) ocorre na Bacia do Ma-
cias cada vez mais amplas e transbordantes em rajó, não guardando nenhuma relação com a his-
relação às ombreiras do rifte subjacente, adelga- tória mecânica e térmica do aulacógeno
çando-se em direção aos Arcos de Gurupá e subjacente. Seus sedimentos refletem depósitos de
Tocantins (Galvão, 2004) e interdigitando-se com planícies costeiras típicas de toda a margem lito-
formações das bacias da Foz do Amazonas, Ama- rânea brasileira, tabuleiros constituídos de inter-
zonas e Parnaíba. calações de arenitos e argilitos mosqueados, e que
espessam para o norte, em direção à parte sub-
mersa do Subgráben de Mexiana, em um proces-
Seqüência K88-K90, K100- so de migração da deposição para o mar, sendo
totalmente controlados pela subsidência térmica
K130 e E10-E30 da margem continental amapaense. Para oeste,
interdigita-se com depósitos arenosos similares aos
A Formação Limoeiro é constituída por are- da Bacia do Amazonas.
nitos finos a grossos, friáveis e níveis conglome- A Formação Tucunaré é formada exclusiva-
ráticos intercalados com argilitos cinza-escuros, mente por areias inconsolidadas, cuja idade é atri-
com espessura máxima da ordem de 3.000 m. A buída ao Plio-Pleistoceno e que repousam concor-
ambiência sedimentar é de continental a dantemente sobre a Formação Barreiras. Estes se-
transicional, com algumas contribuições de sedi- dimentos se correlacionam à Formação Boa Vista
mentação marinha rasa (Galvão, 2004). Sua ida- da Bacia do Tacutu, que é interpretada por Cordani
de deve variar entre o Turoniano e o Eoeoceno. et al. (1984) como produto deposicional a um pro-
Em sua base ocorrem rochas vulcânicas e vulca- cesso de subsidência regional, tal como aquele que
noclásticas, de natureza ácida a intermediária, originou as sinéclises paleozóicas.
com idade máxima em torno de 88 Ma.

314 | Bacia do Marajó - Zalán e Matsuda


referências
bibliográficas

CORDANI, U. G.; NEVES, B. B. B.; FUCK, R. A.; POR-


TO, R.; THOMAZ FILHO, A.; CUNHA, F. M. B. Estudo
preliminar de integração do pré-cambriano com
os eventos tectônicos das bacias sedimentares bra-
sileiras. Rio de Janeiro: Petrobras, 1984. 70 p. il. (Ciên-
cia Técnica Petróleo: Seção Exploração de Petróleo, 15).

FEIJÓ, F. J. Introdução. Boletim de Geociências


da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 5-6,
jan./mar. 1994.

GALVÃO, M. V. G. Bacias sedimentares brasilei-


ras: Bacia de Marajó. Aracajú: Fundação Paleon-
tológica Phoenix, 2004. (Série Bacias Sedimenta-
res, ano 6, n. 67).

MILANI, E. J.; ZALÁN, P. V. The geology of paleozoic


cratonic basins and mesozoic interior rifts of Brazil.
Brazilian Geology, Tulsa, v. 1, 184 f.

ZALÁN, P. V. Evolução fanerozóica das bacias sedi-


mentares brasileiras. In: MANTESSO-NETO, V.;
BARTORELLI, A.; CARNEIRO, C. D. R.; NEVES, B. B.
B. (Org.). Geologia do continente sul-americano:
evolução da obra de Fernando Flávio Marques de
Almeida. São Paulo: Beca, 2004. p. 595-612.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 311-319, maio/nov. 2007 | 315


apêndice:
litoestratigrafia
Formação Breves
Unidade litoestratigráfica proposta com hie-
rarquia de formação para designar os depósitos
siliciclásticos e tufos vulcânicos na Bacia do Marajó.
• nome: O nome Formação Breves deriva do
nome do poço 1-BV-1-PA perfurado nas ime-
diações da cidade de Breves, situada na Ilha
do Marajó no Estado do Pará.
• equivalência regional: baseado em dados
cronogeológicos, correlaciona-se com parte da
Série do Recôncavo.
• seção tipo: A Formação Breves ocorre ape-
nas em subsuperfície e está definida no poço
1-BV-1-PA (Breves 01) lat 10 24’ 46,01" S e
500 22’ 16,86" W, perfurado em 1988, tendo
atingido a profundidade máxima de -5.488 m.
Ocorre entre as profundidades de -3.032 m a
- 5.488 m, perfazendo um total de 2.456 m
de seção predominantemente arenosa silici-
clástica (fig.1).
• litologia: A composição litológica desta uni-
dade é siliciclástica, predominantemente are-
nosa. Na base da seção tipo foi verificado um
intervalo de 170 m de tufos vulcânicos.
• distribuição: Os depósitos correspondentes a
esta unidade ocorrem nos depocentros estru-
turais da Bacia do Marajó.
• contatos e relações estratais: Os sedimen-
tos siliciclásticos e tufos vulcânicos da Forma-
ção Breves depositaram-se discordantemente
sobre os sedimentos paleozóicos do Grupo
Trombetas, como definidos na vizinha Bacia
do Amazonas. O contato superior é discordan-
te com os siliciclásticos da Formação Anajás.
Lateralmente interdigita-se com os conglome-
rados aluviais da Formação Jacarezinho.
• idade: A Formação Breves foi depositada du-
rante o Cretáceo, desde o Neocomiano até a
Figura 1 – Perfil-tipo da Formação Breves. Figure 1 – Breves Formation Reference Section.
parte superior do andar Aptiano, com base
em datações palinológicas.

316 | Bacia do Marajó - Zalán e Matsuda


Formação Anajás
Unidade litoestratigráfica proposta com hierar-
quia de formação para designar os depósitos
siliciclásticos com predominância em siltitos, areni-
tos finos a médio e folhelhos na Bacia do Marajó.
• nome: O nome Formação Anajás deriva do
nome do poço 1-AN-1-PA perfurado nas ime-
diações da cidade de Anajás, situada na Ilha
de Marajó no Estado do Pará.
• equivalência regional: baseado em dados
cronogeológicos, correlaciona-se com a seção
equivalente ao Grupo Cajú na Bacia Barreirinhas.
• seção tipo: A Formação Anajás ocorre ape-
nas em subsuperfície e está definida no poço
1-AN-1-PA (Anajás 01) lat 00 56’ 19,108" S e
490 49’ 15,700" W, perfurado em 1989, tendo
atingido a profundidade máxima de -5.090 m.
Ocorre entre as profundidades de -3.651 m a -
5.016 m, perfazendo um total de 1.365 m de
seção predominantemente arenosa siliciclásti-
ca, siltitos e folhelhos (fig.2).
• litologia: A composição litológica dominan-
te desta unidade é siliciclástica, predominan-
temente de siltitos, arenitos finos e folhelhos.
• distribuição: Os depósitos correspondentes a
esta unidade ocorrem principalmente na par-
te central da Bacia do Marajó seguindo apro-
ximadamente a calha deposicional.
• contatos e relações estratais: A seção
sedimentar da Formação Anajás se sobrepõe
discordantemente sobre os sedimentos da For-
mação Itapecurú e, o contato superior é tam-
bém discordante com os siliciclásticos da For-
mação Limoeiro.
• idade: A Formação Anajás foi depositada du-
rante o Cretáceo desde o Albiano Superior a
Cenomaniano com base em datações
palinológicas.

Figura 2 – Perfil-tipo da Formação Anajás. Figure 2 – Anajás Member Reference Section.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 311-319, maio/nov. 2007 | 317


SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
FLUVIAL PARÁ TUCUNARÉ

N20 - N50
EO ZAN C LE AN O
NEÓGENO

M E S S I N I AN O
NEO 500
10 T ORTONIANO FLUVIAL
S E R R AVAL IA N O
MESO
LAN G H I AN O
ESTUARINO
B U R D I GAL IA N O
20 EO
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O

MARAJÓ
30

E40 - E80
EO R U P E L IA N O
2000
NEO P R I AB O N I AN O
PALE ÓG E N O

BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

50
EO Y PR ES I ANO
MARINHO

COSTEIRO

E10 - E30
T HAN E T I AN O
NEO
60 PALEOCENO S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O

LIMOEIRO

K100 - K130
70 3000
(S ENO N IAN O)

CAM PAN IAN O

80
NEO

K88 - K90
SAN T O N I AN O
C ON I ACI AN O
90
T UR ON I ANO

K70 -
PLATAFORMA /

K86
C E N O MA N IA N O
ANAJÁS 1200
CRETÁC EO

100 PROFUNDO

AL B I AN O
(GÁLICO)

COSTEIRO /

K50 -
4000
JAC

K60
500
110 FLUVIAL /
ALUVIAL /

APTIANO ALAGOAS ALUVIAL /


2000
1000
JAC

120 K40
CONTINENTAL

FLUVIAL / BREVES
EO

JI QUIÁ LACUSTRE
BARRE- BURACICA
MIANO
130
JACAREZINHO

ARAT U
BREVES

HAUTE-
ALUVIAL /
K10 - K30
1000
4000

RIVIANO
FLUVIAL /
VALAN- RIO
GINIANO DA
LACUSTRE
140
SERRA
BERRIA-
SIANO
DOM
TITHO-
JOÃO
NIANO
150

416
TROMBETAS
MARINHO

MANACAPURU
1300

PITINGA
443 NHAMUNDÁ /
AUTÁS. MIRIM

488
542
EM BASAME NTO

318 | Bacia do Marajó - Zalán e Matsuda


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 311-319, maio/nov. 2007 | 319
Bacia do Pará-Maranhão

Emilson Fernandes Soares1, Pedro Victor Zalán2, Jorge de Jesus Picanço de Figueiredo1,

Ivo Trosdtorf Junior1

Palavras-chave: Bacia do Pará-Maranhão l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Pará-Maranhão Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução metria de deformação e do preenchimento sedimen-


tar da bacia se assemelham às de uma bacia de
margem passiva com separação ortogonal.
A Bacia do Pará-Maranhão é uma bacia ex- A exploração da bacia foi concentrada nas
clusivamente marítima e situa-se na margem equa- décadas de 70 e 80, tendo resultado em uma des-
torial brasileira aproximadamente entre os meridianos coberta subcomercial de óleo leve em carbonatos
47oO e 44oO e os paralelos de 10S e 10N, e ocupa cenozóicos (poço 1-PAS-11). O último poço perfu-
uma área de aproximadamente 48.000 km2. Seus rado na bacia foi em 1993, conseqüentemente, ne-
limites sudeste (com a Bacia de Barreirinhas) e noroes- nhum dado estratigráfico novo advindo de poços
te (com a Bacia da Foz do Amazonas) são arbitrários foi incorporado ao conhecimento geológico dessa
e imprecisos, dado que não se conhecem feições bacia da margem equatorial desde a publicação
tectônicas significativas que compartimentem tais pioneira da Petrobras sobre as cartas estratigráficas
bacias. A oeste, a Plataforma de Ilha de Santana das bacias brasileiras (Feijó, 1994). Os dados aqui
constitui uma barreira de embasamento raso, a par- apresentados para a Fase Rifte da bacia são basea-
tir do qual a bacia se estende para as águas rasas e dos nos resultados de projetos diversos contratados
profundas, até à cota batimétrica de 3.000 m. A Zona pela Petrobras e, obviamente, em trabalhos publi-
de Fratura São Paulo se projeta para o interior da cados anteriormente. Para a Fase Drifte, os resulta-
crosta continental aproximadamente no limite norte dos apresentados são frutos de cuidadosa reinter-
da bacia, através de dois ramos bem definidos. pretação dos dados de poços existentes, amarrados
A origem e evolução desta bacia foram pouco com as linhas sísmicas disponíveis, à luz dos con-
estudadas. Ressaltam-se aqui o trabalho de Zanotto ceitos mais modernos da estratigrafia de seqüên-
e Szatmari (1987), Brandão e Feijó (1994) e Silva cias. A nomenclatura utilizada para a litoestratigra-
(2007), assim como alguns trabalhos internos da Pe- fia da bacia foi mantida semelhante à utilizada por
trobras. A bacia situa-se inteiramente num segmen- Brandão e Feijó (1994), que é a mesma da Bacia de
to oblíquo da margem continental de direção NO-SE. Barreirinhas (Feijó, 1994), devido às similaridades
Nestes trechos da margem equatorial a separação litológica e estratigráfica do preenchimento sedi-
continental se processou de forma oblíqua e a geo- mentar entre ambas.

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação
e-mail: emilsonsoares@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 321


O preenchimento sedimentar da bacia é comple- mente oblíquas aos mesmos. A Zona de Fratura Oceâ-
xo. Inicia-se com depósitos basais atribuíveis ao nica São Paulo, que é praticamente o limite norte da
Paleozóico, parte de seqüências intracratônicas pretéri- bacia, nucleou-se no contato entre a Faixa Móvel
tas que se estendiam sobre as plataformas pré- Araguaia/Gurupi (neoproterozóica) e a parte
cambrianas do Gondwana, e que foram capturadas den- paleoproterozóica do Cráton de São Luís (Faixa Móvel
tro dos grábens iniciais da bacia. Seguem-se depósitos Santa Luzia-Viseu). A zona de sutura entre os dois do-
sinrifte (transtensionais) e inter-rifte de idades aptiana e mínios do Cráton de São Luís (Faixa Móvel Santa Lu-
albiana; cobertos por Seqüências Drifte (Neo-Albiano ao zia-Viseu paleoproterozóica e a parte infracrustal ar-
Recente) típicas de subsidência termal de margem pas- queana) condicionou a localização de importante mu-
siva. Magmatismo basáltico é reportado no Neocretáceo, dança no trend e estrutural da Bacia do Pará-Maranhão,
Eoceno e Mioceno. bem como a do Arco de Gurupi, que divide as bacias
A formação da Bacia do Pará-Maranhão iniciou-se de Bragança-Viseu e São Luís.
através de dois eventos de rifteamento de idade aptiana
(Seqüência Rifte II) e albiana (Seqüência Rifte III). Entre es-
tes dois eventos, caracterizados por depocentros bem níti-
dos e camadas de crescimento, ocorre uma seção de espes-
sura homogênea constituída por refletores plano-paralelos, Superseqüência
sem tectônica sin-sedimentar, de idade aptiana, atribuíveis
à Formação Codó. Por suas características tectono-sedimen- Intracratônica
tares, esta seqüência indica uma interrupção no processo
de rifteamento e pode ser interpretada como tendo sido Semelhantemente à Bacia de Barreirinhas, uma
depositada em uma bacia do tipo sag Pós-Rifte II ou sag seqüência de refletores plano-paralelos pode ser vista
Pré-Rifte III. Escolhemos adotar a segunda hipótese neste na parte inferior das seções sísmicas da Bacia do Pará-
trabalho devido ao fato dessa seqüência ocorrer em áreas Maranhão. Ao contrário de Barreirinhas, onde esta
extensas do embasamento adjacente, sempre abaixo do seção foi perfurada, nada se pode afirmar quanto à
Rifte III, mas nem sempre acima do Rifte II. idade da mesma. A idade devoniana para esta se-
A Fase Drifte inicia-se no final do Neo-Albiano e se qüência é sugerida por similaridade e pela sua conhe-
estende até o Recente. A interpretação da evolução cro- cida ocorrência na margem continental conjugada
noestratigráfica da seção Drifte permitiu o reconhecimen- africana (Gana), onde arenitos devonianos são produ-
to de 11 seqüências de 2ª ordem, de acordo com os con- tores no campo de Takoradi. Litoestratigraficamente
ceitos descritos por Mitchum e Van Wagoner (1991). Uma corresponderiam ao Grupo Canindé, constituído da
particularidade da Bacia de Pará-Maranhão é a espessa base para o topo pelas Formações Itaim (arenitos),
seção carbonática de idade cenozóica que predomina na Pimenteiras (folhelhos) e Cabeças (arenitos).
parte de águas rasas.

embasamento Superseqüência Rifte


A Bacia do Pará-Maranhão desenvolveu-se Seqüência K40
inteiramente sobre o Cráton de São Luís, rompido de
maneira praticamente ortogonal à sua trama estrutural Arenitos e folhelhos de idade aptiana ocorrem
durante a separação África-América do Sul. O Rifte do abrangentemente na Bacia do Pará-Maranhão e corres-
Pará-Maranhão possui geometria de meio-gráben com pondem a sedimentos sinrifte continentais, com visíveis
borda flexural a sudoeste (Plataforma de Ilha de Santana) acunhamentos e espessamentos em seções sísmicas. Seu
e borda falhada a NE, estando esta última atualmente mapa de isópacas sísmicas mostra alguns depocentros
situada na bacia conjugada africana, na Costa do Marfim. pouco desenvolvidos que se espessam de SO para NE
Os vários grábens constituintes das Seqüências Rifte II e III contra falhas de bordas de grábens com direção NO-SE.
se estendem paralelamente à elongação da bacia e são Um alto estrutural intrabacinal, interpretado como pro-
freqüentemente cortados por zonas de transferência forte- vável zona de acomodação, ocorre ao longo da exten-

322 | Bacia do Pará-Maranhão - Soares et al.


são da bacia, na direção NO-SE, dividindo os grábens do continuar na parte basal da Superseqüência Drifte (Neo-
Rifte II praticamente ao meio, controlando depocentros albiano a Cenomaniano). Como mencionado anteriormen-
imediatamente a NE e SO do mesmo. Como esta se- te, a discordância que capeia os pacotes sinrifte tem idade
qüência não havia sido ainda reconhecida na época da próxima de 102 Ma.
publicação da última carta estratigráfica (Brandão e Feijó,
1994), e poucos poços a atravessam, ela aparece no
presente trabalho como unidade litoestratigráfica sem
denominação formal, à espera de uma maior quantida-
de de descrições litológicas e datações paleontológicas
Superseqüência Drifte
para sua melhor definição.
No presente trabalho, a Seqüência Drifte se encontra
subdividida em 12 seqüências estratigráficas que variam em
Seqüência K50 duração de 1,6 a 17 Ma, que, segundo classificação adota-
da por Mitchum e Van Wagoner (1991), são de 2ª ordem. O
A Formação Codó foi identificada em alguns critério adotado para essa compartimentação foi a identifi-
poços pela associação litológica de calcilutitos e folhe- cação de hiatos paleobioestratigráficos no registro sedimen-
lhos lagunares e pela assinatura sísmica caracterizada tar através da técnica de correlação gráfica (Wescott et al.
por refletores plano-paralelos com espessura relativamen- 1988; Neal et al. 1998; Aubry 1995) aplicada em 20 dos 33
te constante. Sua localização entre as duas fases de poços desta bacia. Tais hiatos foram relacionados a discor-
rifteamento e feições sismoestratigráficas caracterizam dâncias erosivas que limitariam as seqüências propostas. A
esta sucessão como depositada em uma bacia tipo sag idade de cada discordância foi obtida pela identificação da
Inter-Riftes. Como explicado acima, optou-se, neste tra- queda global do nível dos mares mais representativa no in-
balho, considerá-la como um depósito relacionado a uma tervalo de cada hiato, com base na curva de Haq (1988),
bacia sag Pré-Rifte. Esta unidade também não havia recalibrada para Gradstein et al. (2004). Este método se mos-
sido reconhecida na coluna estratigráfica publicada por trou bastante consistente, alcançando um excelente nível
Brandão e Feijó (1994). Entretanto, seu conteúdo litológico de correlação entre os hiatos e a variação eustática global.
e a assinatura sísmica são tão características da unidade Outros critérios complementares foram adotados
litoestratigráfica Codó que não hesitamos em usar esta para a determinação e/ou corroboração dessas seqüên-
terminologia no presente trabalho. cias, tais como a interpretação sísmica, a correlação com
bacias vizinhas e a análise da termocronologia baseada
em dados de traços de fissão em apatitas.
Seqüência K60 Seguindo-se um encadeamento cronológico que vai
desde o break up no Neoalbiano, aproximadamente 102
A Seqüência K60 (Rifte III - Albiano) corresponde Ma, até o presente, temos inicialmente uma seqüência
a sedimentos siliciclásticos (arenito lítico, siltito cinza a mista carbonático-siliciclástica inferida por correlação com
castanho-avermelhado e folhelhos esverdeados) conti- a Bacia de Barreirinhas, denominada litoestratigraficamen-
nentais a parálicos, interpretados como leques deltaicos te como Grupo Caju. Seguem-se a ela três seqüências
depositados em ambientes marinhos (Brandão e Feijó, siliciclásticas já no domínio litológico do Grupo Humberto
1994). Litoestratigraficamente correspondem ao Grupo de Campos (Formações Areinhas e Travosas). O conjunto
Canárias. Os poucos dados disponíveis não permitem descrito se caracteriza por uma tendência transgressiva,
subdividir os litotipos nas formações constituintes deste excetuando-se a última seqüência onde se inicia a fase
Grupo. Os depocentros mapeados para esta seqüência regressiva. Acima dessas temos o surgimento de uma pla-
indicam que os grábens do Rifte III se formaram a partir taforma carbonática (Formação Ilha de Santana) já no
da reativação de falhas normais do Rifte II. Maastrichtiano, de tendência regressiva a agradacional, à
Camadas carbonáticas sinrifte III podem ser medida que se expande até dominar completamente o
encontradas em alguns poços da parte central da registro sedimentar na área plataformal. Finalmente, no
bacia (1-MAS-12 e 1-MAS-11). Pela idade dos car- topo da coluna estratigráfica, temos a seqüência domina-
bonatos (Eoalbiano e Mesoalbiano, respectivamen- da por sedimentos inconsolidados que caracterizam a sedi-
te) considera-se que os mesmos sejam litoestratigra- mentação do Pleistoceno ao Recente.
ficamente equivalentes ao Grupo Caju. Portanto, as- A seguir, será apresentada uma breve descrição
sim como na Bacia de Barreirinhas, a deposição car- individualizando cada uma das seqüências estratigráficas
bonática se inicia já na Fase Rifte, podendo ou não propostas neste trabalho.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 323


Seqüência K70-K82 Observa-se no dado sísmico desta bacia um mag-
matismo básico possivelmente vulcânico que possui cor-
relação estratigráfica com o mesmo evento na Bacia da
A ocorrência desta seqüência foi inferida por cor-
Foz do Amazonas, datado de aproximadamente 90 Ma
relação com a Bacia de Barreirinhas, uma vez que não
(Ar-Ar). Datações radiométricas realizadas por Misuzaki
foram encontrados microfósseis e palinomorfos de idade
et al. (2002) na Província Borborema, no Nordeste do
correspondente a este intervalo de tempo em nenhum
Brasil, corroboram a existência desse evento magmático
poço da bacia até então (Cainelli e Moraes Jr., 1986).
nessa idade. Segundo os autores tal evento estaria as-
Na bacia vizinha essa seqüência é caracterizada
sociado com a efetiva separação entre as placas da Amé-
em poços por uma sedimentação carbonática em plata-
rica do Sul e da África. Outros eventos vulcânicos que
forma mista, formada por calcarenitos bioclásticos/
ocorrem na bacia, de idade mais jovem que 80 Ma, são
oncolíticos, calcilutitos, margas, folhelhos e clásticos, to-
atribuídos à atividade de hot spots (Misuzaki et al. 2002).
dos pertencentes ao Grupo Caju. Depositada em ambiente
marinho raso, naquela bacia ela pode atingir mais de
1.000 m de espessura sedimentar. Seqüência K100-K120
As camadas carbonáticas do topo da Seqüência Rifte
são o único registro sedimentar do Grupo Caju encontrado A Seqüência K100-K120 tem duração aproxima-
em poços da Bacia de Pará-Maranhão até o momento. da de 9 Ma. Seu topo é marcado por uma discordância
Provavelmente essa seqüência está preservada em águas a cerca de 70 Ma, que embora apresente correlação
profundas e áreas não amostradas da bacia. com um rebaixamento global do nível dos mares
(Ma1=70,8 Ma), conforme registrado na curva de eustasia
Seqüência K84-K86 global (Gradstein et al. 2004), este não parece ser de
magnitude suficiente para produzir uma discordância
como a observada. Contudo, estudos recentes em tra-
Sobrepondo-se à plataforma mista do Grupo
ços de fissão em apatitas mostraram um evento de soer-
Caju, ocorre esta seqüência siliciclástica delimitada no
guimento das áreas continentais da Margem Equatorial
seu topo por uma discordância intraturoniana que pos-
em torno de 70 Ma. Dessa forma, o evento tectônico
sui excelente correlação com uma significativa queda
pode estar relacionado à causa da discordância que
global do nível dos mares registrada na curva de eustasia
marca o topo da Seqüência K100-K120, tendo um con-
global. Um importante evento anóxico ocorre nesta pla-
trole predominantemente tectono-eustático.
taforma siliciclástica no Turoniano, então caracteriza-
da por sedimentação marinha transgressiva.
Essa seqüência se caracteriza litoestratigraficamen- Seqüência K130-E20
te na sua porção proximal, por arenitos quartzosos, bran-
cos, de granulometria grossa (Formação Areinhas), prove- Esta seqüência começa no final do Cretáceo
nientes de um ambiente parálico/deltaico. Nas porções mais Superior e se estende até o Paleoceno Superior, com
distais se encontram folhelhos cinzentos e siltitos, com even- duração aproximada de 12 Ma. O limite superior é
tuais intercalações de arenito quartzoso fino (Formação marcado por uma discordância, cujo cruzamento com
Travosas), segundo descrito por Feijó et al. (1984). a curva de eustasia global mostra boa correlação com
uma acentuada queda no nível global dos mares.
Seqüência K88-K90 No Maastrichtiano implanta-se uma platafor-
ma carbonática incipiente, que se expandiu no tem-
A Seqüência K88-K90 possui duração de cerca de po geológico e acabou por dominar toda a platafor-
12 Ma e é limitada no topo por discordância na porção ma continental. Nas bacias vizinhas da Foz do Ama-
intermediária do Campaniano (discordância do Meso-Cam- zonas e Barreirinhas, a sedimentação carbonática só
paniano). Esta discordância também apresenta excelente seria expressiva mais tarde no Paleoceno. Apesar do
correlação com a curva de eustasia global, onde se encon- início da plataforma carbonática, a sedimentação sili-
tra registrado neste período um rebaixamento global do ciclástica permanece dominante nesta seqüência.
nível dos mares. A discordância do Meso-campaniano, junto A sedimentação carbonática, que se inicia no
com a discordância do break up, constituem as duas prin- Maastrichtiano e que domina até o Recente, é co-
cipais discordâncias da Margem Equatorial Brasileira, po- nhecida litoestratigraficamente como Formação Ilha
dendo ser identificadas em todas as bacias deste conjunto. de Santana, sendo caracterizada por uma enorme

324 | Bacia do Pará-Maranhão - Soares et al.


variedade de biocalcarenitos e biocalcirruditos nas amplas frentes de empurrão, à medida que se alcança do-
áreas de plataforma rasa, calcarenitos finos e calcilu- mínios de água profunda.
titos na plataforma externa. No talude ocorrem mar- A deformação gerada por essa tectônica promoveu
gas, folhelhos, lamitos seixosos e eventualmente uma alteração da fisiografia do assoalho marinho da época,
turbiditos (Feijó et al. 1984). determinando a formação de altos e baixos estruturais. En-
quanto que os altos estruturais ficaram sujeitos à erosão (zo-
nas de cavalgamento), nas partes baixas se criou um espa-
Seqüência E30 ço de acomodação nos rejeitos das falhas lístricas e no flanco
anterior das frentes de empurrão. Como conseqüência, es-
O hiato bioestratigráfico que define o limite su- ses baixos estruturais se tornaram regiões preferenciais de
perior desta seqüência é identificado apenas no sul captação de sedimentos durante a deposição das seqüên-
da bacia. Na área remanescente ele não ocorre, sen- cias posteriores até o Mioceno Superior.
do esta seqüência agrupada com a seguinte, forman-
do a Seqüência E30-E50. Seqüência E60-E70
Amplia-se o domínio da plataforma carbonáti-
ca que adquire um caráter misto à medida que depó- As duas discordâncias que limitam esta seqüência
sitos siliciclásticos deltaicos se intercalam localmente foram interpretadas pela identificação de hiatos deposicio-
à sedimentação carbonática. nais em poços e a correlação com quedas da variação glo-
À medida que a extensão da plataforma carbo- bal do nível dos mares, segundo Gradstein et al. (2004).
nática se expande, ocorre o avanço do limite da plata- Embora dolomitos já ocorram nas seqüências anterio-
forma enquanto, simultaneamente, represa a sedimen- res, aqui temos sua mais significativa ocorrência na bacia, as-
tação siliciclástica, confinando-a a uma área cada vez sociada ao rebaixamento do nível dos mares que, pela mudan-
mais proximal. Apenas em alguns pontos da platafor- ça do perfil de equilíbrio do lençol freático, gerou fluxos de
ma, onde se implanta uma drenagem de maior água meteórica para dentro da plataforma carbonática expos-
possança, a sedimentação siliciclástica tem expressão ta. Tais fluxos foram, provavelmente, o principal causador do
suficiente para sobrepor a plataforma carbonática, for- processo de formação dos dolomitos encontrados nos interva-
mando-se, ali, uma sedimentação de caráter misto. los do Eoceno Superior e Oligoceno Inferior.
Tem sido interpretada, em dados sísmicos, a ocorrência
de intenso magmatismo básico datado como Mesoeocênico
Seqüência E40-E50 por correlação estratigráfica com estratos de idade inferida que
se encontram sismicamente em situação de onlap sobre os
Perfazendo um intervalo de tempo de aproxi- corpos ígneos. Há fortes indícios do caráter extrusivo deste mag-
madamente 8 Ma, esta seqüência marca a expansão matismo, tanto pela aparência de corpos circulares em mapas
da plataforma mista, com uma deposição caracteriza- magnetométricos quanto pela forma cônica nas seções sísmi-
da por arenitos deltaicos da Formação Areinhas, inter- cas, o que sugere uma morfologia de edifícios vulcânicos. Po-
calados aos carbonatos da Formação Ilha de Santana. rém, tal interpretação é especulativa, uma vez que até o pre-
O limite superior da seqüência está relaciona- sente momento estas rochas não foram amostradas.
do a uma importante superfície erosiva no Meso- Como evento análogo, podemos citar o vulcanismo
eoceno, onde se implantaram sistemas de vales incisos Royal Charlotte no Arco de Cabo Frio e em Abrolhos, que
que escavaram a plataforma carbonática. Esta super- ocorre neste mesmo período (Zalán, 2004). Entretanto, a com-
fície é facilmente identificada na sísmica como um pleta ausência de amostras para datação radiométrica impe-
refletor que divide estratos subhorizontais acima, de de uma correlação direta entre esses eventos.
estratos com mergulho pronunciado abaixo, marcan- Esse magmatismo tem especial importância na tectôni-
do uma clara discordância angular. ca gravitacional instalada na porção em águas profundas da
Além disso, na porção de águas profundas da área norte da bacia, pois o relevo estrutural gerado por ele
bacia, tem início um processo de tectônica gravitacio- serviu de anteparo aos cavalgamentos do domínio
nal, responsável pela formação de falhas lístricas em compressional, permitindo que ele ali se instalasse ao mesmo
domínio extensional, situado dominantemente no ta- tempo em que possivelmente também atuou como mecanis-
lude e no início da bacia, passando ao domínio mo disparador de tal tectônica. A partir desta seqüência, a
transicional, caracterizado por anticlinais suaves e, pos- plataforma carbonática adquire um caráter agradacional.
teriormente, a um domínio compressivo dominado por

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 325


Seqüência E80-N10 representada por argilitos e sedimentos argilosos in-
consolidados, com maior ou menor teor de carbona-
to, preenchendo o fundo oceânico.
Com uma abrangência em torno de 12 Ma, ocor- Durante o Holoceno, a sedimentação foi pou-
reu nesta seqüência o maior evento transgressivo do co significativa, restringindo-se ao retrabalhamento
Terciário em quase toda Margem Equatorial, que está da seção clástica proximal na porção de plataforma
associado ao mar de Pirabas, cuja expansão máxima da rasa/média e ao acúmulo de sedimentos carbonáti-
plataforma carbonática teve lugar nessa bacia. cos retrabalhados na borda da plataforma (Cainelli e
Possui excelente correlação com o mesmo evento Moraes Jr., 1986).
nas bacias vizinhas de Barreirinhas e Foz do Amazonas.

Seqüência N20-N30
A discordância que marca o topo desta seqüência é
agradecimentos
uma das mais expressivas da Margem Equatorial. Sendo bem
identificada na sísmica e confirmada por dados de poços, ela Ao colega Arnaldo Tanaka pelas inestimáveis
também é observada em superfície (Rossetti, 2001). contribuições feitas a este trabalho, tanto no desenho
A Seqüência N20-N30 está quase que totalmente res- quanto no texto. Também agradecemos aos editores
trita ao Mioceno Médio (andares Langhiano e Serravaliano). do Boletim de Geociências da Petrobras pela oportuni-
Nesta seqüência também ocorre um magmatismo dade e incentivo dispensado.
básico estimado como Mesomiocênico. A datação dessas
rochas ígneas foi feita por correlação estratigráfica com es-
tratos de idade inferida, que se encontram sismicamente
em situação de onlap sobre os corpos ígneos. Através dos
mesmos critérios citados na interpretação da ocorrência
magmática da Seqüência E60-E70, podemos inferir que se
referências
trata também de um evento vulcânico, embora não se pos-
sa afirmar pela falta de dados mais conclusivos.
bibliográficas
AUBRY, M. P. From cronology to stratigraphy:
Seqüência N40-N50 interpreting the lower and middfe eocene stratigraphic
record in the atlantic Ocenan. In: BERGREN, W. A.;
Esta seqüência, que perfaz um intervalo de tem- KENT, D. R.; AURBRY, M. P.; HARDENBOL, J. (Ed.).
po de 10 Ma, é caracterizada pelo avanço da plataforma Geochronology time scale and global
carbonática, que ultrapassa os limites da bacia se con- stratigraphic correlations. Tulsa, Okla.: Society for
fundindo com a sedimentação de mesma característica Sedimentary Geology, 1995. p. 213-274. (SSG. Special
da Bacia de Barreirinhas. Puvlications, 54).
No intervalo dessa seqüência também ocorre uma
importante progradação dos sistemas deposicionais cos- BRANDÃO, J. A. S. L.; FEIJÓ F. J. Bacia do Pará-
teiros. Com abrangência em toda a Margem Equatorial, Maranhão. Boletim de Geociências da Petrobras,
esta litofácies é conhecida como Formação Barreiras Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 101-102, jan./mar. 1994
(Rossetti, 2001).

CAINELLI, C.; MORAES JUNIOR, J. J. Preenchimento


Seqüência N60 sedimentar da Bacia de Pará-Maranhão. In: CON-
GRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 34., 1986,
A sedimentação pleistocênica é constituída por se- Goiânia. Anais do... São Paulo: Sociedade Brasileira
dimentos arenosos e argilosos depositados em cordões de Geologia, 1986. p. 131-144.
litorâneos ao longo da costa e pelo extravasamento, lo-
calmente, da rede de drenagem sobre a plataforma car- FEIJÓ, F. J. Bacia de Barreirinhas. Boletim de
bonática. Na porção offshore da bacia, esta seqüência é Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,

326 | Bacia do Pará-Maranhão - Soares et al.


p. 103-105, jan./mar. 1994. WESCOTT W. A.; KREBS W. N.; SIKORA P. J.; BOUCHER,
P. J.; STEIN, J. A. Modern application of biostratigraphy
FEIJÓ, F. J. Bacia do Pará Maranhão. Boletim de in exploration and production. The Leading Edge, Tulsa,
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. v. 17, n. 9, p. 1204-1210, 1998.
1, p. 101-102, jan./mar. 1994.
ZALÁN P. V. Evolução Fanerozóica das bacias sedimen-
GRADSTEIN, F. M.; OGG, J. G.; SMITH, A. G. A tares brasileiras. In: MANTESSO-NETO, V.; BARTORELLI,
geologic time scale. Cambridge: Cambridge A.; CARNEIRO, C. D. R.; BRITO-NEVES, B. B. (Org.). Geo-
University Press, 2004. 610 p. logia do continente sul-americano: evolução da obra
de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo:
Beca, 2004. p. 595-612.
HAQ, B. U.; HARDENBOL, J.; VAIL, P. R. Mesozoic and
Cenozoic cronostratigraphy abd cycles of sea-level change.
In: WILGUES, C. K.; HASTINGS, B. S.; POSAMENTIER, H. ZANOTTO, O.; SZATMARI, P. Mecanismo de rifteamento
W.; VAN WAGONER, J. C.; ROSS, C. A.; KENDALL, C. G. da porção ocidental da margem norte brasileira, Bacia
S. G. (Ed.). Sea-level: an integrated approach. Houston: do Pará-Maranhão. Revista Brasileira de Geociências,
Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 189-195, 1987.
1988. p. 71-108. (SEPM. Special Publication, 42).

MIZUSAKI, A. M. P.; THOMAZ-FILHO, A.; MILANI,


E. J.; CÉSERO, P. Mesozoic and Cenozoic igneous
activity and its tectonic control in northeastern Brazil.
bibliografia
Journal fo South American Earth Sciences, v. 15,
n. 2, p. 183-198, June 2002. SOARES JUNIOR, A. V. Paleografia e evolução da paisa-
gem do nordeste do estado do Pará e noroeste do
MITCHUM JUNIOR, R. M.; VAN WAGONER J. C. High- Maranhão: cretáceo ao holoceno. 2002. 118 p. Tese
frequency sequences and their stacking patterns: (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Belém, 2002.
sequence-stratigraphic evidence of high-frequency eustatic
cycles. Sedimentary Geology, v. 70, p. 131-160, 1991. SZATMARI, P.; ZANOTTO, O.; FRANÇOLIN, J. B. L.;
WOLFF, S. Rifting and Early Tectonic Evolution of the Equa-
NEAL, J. E.; STEIN, J. A.; GAMBER, J. H. Wested torial Atlantic. In: GEOLOGICAL SOCIETY OF AMERICA:
stratigraphic cycles and depositional systems of the Annual Meeting, 98., 1985, Orlando. Abstracts. Orlando:
Paleogene Central North Sea. In: GRACIANSKY, P. Boulder, 1985. p. 731.
C.; HARDENBOL, J.; JACQUIN, T.; VAIL, P. R. (Ed.).
Mesozoic and Cenozoic sequence stratigraphy SZATMARI, P.; ZANOTTO, O.; FRANÇOLIN, J. B. L.; WOLFF,
of european basins. Tulsa, Okla.: Society for S. Evolução tectônica da margem equatorial brasileira.
Sedimentary Geology, 1998. p. 261-288. (SSG. Special Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 17, n.
Publication, 60). 2, p. 180-188, 1987.

ROSSETTI, D. F. Late cenozoic sedimentary evolution TANAKA, A. Interação entre os processos gravitacio-
in northeastern Pará, Brazil, within the context of sea nais e a ação das correntes de fundo no Talude Con-
level changes. Journal of South American Earth tinental da Bacia do Pará-Maranhão dentro do
Science, Oxford, v. 14, n. 1, p. 77-89, Apr. 2001. Neogeno. 2006. Tese (Mestrado) – Universidade Fede-
ral Fluminense, Niterói, 2006.
SILVA, C. P. Estudo sobre foraminíferos e
radiolários do Cretáceo, Bacia Pará-Maranhão,
Margem Equatorial Brasileira. 2007. 127 p. Tese
(Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2007.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 327


BACIA DO PARÁ-MARANHÃO

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
N60

N40 - N50
EO ZAN C LE AN O
M E S S I N I AN O
NEÓGENO

MARINHO AGRADACIONAL
NEO

TALUDE / PROFUNDO
TORT ONIANO
10

HUMBERTO DE CAMPOS

N20-
S E R R AVAL IA N O

PLATA FORMA

N30
MESO
LAN G H I AN O

ILHA DE SANTANA

TRAVOSSAS
B U R D I GAL IA N O

AREINHAS

E80 - N10
EO
20
AQ U I TAN IA N O

566
COSTE IRO

NEO C HAT T IAN O

30
EO R U P E L IA N O

E60 - E70
4348
NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G E NO

BAR T O N I AN O
40
EOCENO

E40 - E50
MESO
CO ST EIR O

L UT E T I AN O

3500
50
MAR. REGRESSIVO

EO Y P R E S I AN O
E30
RM A
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60
PL ATAFO

S E LAN D I AN O

K130 - E20
PROFUNDO

EO DAN I AN O
TALUDE /

70
(S EN ON IAN O )

K100-
K120
CAM PA N IAN O

80
NEO

K88-K90
MAR. TRANSG.

PROFUNDO
OR MA

SAN T O N I AN O
TALUDE /

C O N I AC I AN O
90
CRETÁCEO

PL ATA F

T UR O N I AN O
COS TE IR

C E N O MA N IA N O

K70-
K82
100 CAJU
BREAK-UP
MARINHO
( G ÁLI CO )

2200

AL B I AN O
PLATAFORMA INDIVISO K60
110

230
EO

CODÓ K50

APTIANO ALAGOAS
CONT.

3000

120 INOMINADO K40

JIQUIÁ
BARRE-
MIANO BURACICA

350

PLATAFORMA CABEÇAS
PALEOZÓICA
CANINDÉ

400

PROFUNDO / PIMENTEIRAS
400 PLATAFORMA
ITAÍM

542
PRÉ - CAMBRIANO EM BASAME NTO

328 | Bacia do Pará-Maranhão - Soares et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 329
Bacia de Barreirinhas

Ivo Trosdtorf Junior1, Pedro Victor Zalán2, Jorge de Jesus Picanço de Figueiredo1,

Emilson Fernandes Soares1

Palavras-chave: Bacia de Barreirinhas l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Barreirinhas Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução Azevedo et al. 1985; Szatmari et al. 1985; Szatmari


et al. 1987; Soares Jr., 2002; Zalán et al. 2004). A
bacia tem sido considerada como um clássico exem-
A Bacia de Barreirinhas situa-se na Margem plo de bacia transtensional rômbica (Azevedo, 1991)
Equatorial Brasileira, tanto em terra quanto no mar, associada à movimentação dextral e projeção em
aproximadamente entre os meridianos 44oO e 42oO e crosta continental da Zona de Fratura Oceânica Ro-
os paralelos de 00 e 30 S. Ocupa uma área de aproxi- manche, que a corta praticamente pela metade,
madamente 46.000 km2, dos quais 8.500 km2 são estendendo-se para oeste até à Ilha de São Luís.
emersos, com a porção marítima estendendo-se até A exploração da bacia foi concentrada nas
à cota batimétrica de 3.000 metros. A leste, o Alto de décadas de 60, 70 e 80, com resultados pouco
Tutóia representa o seu limite com a Sub-bacia de encorajadores. Em função disso, a exploração da
Piauí-Camocim (Bacia do Ceará); a sul, limita-se com bacia encontra-se suspensa há mais de 20 anos. O
o embasamento raso através de falhas de borda que último poço perfurado na parte terrestre foi em 1987,
a separam da Plataforma de Sobradinho. A oeste, a enquanto na parte marítima o último poço aconte-
Plataforma de Ilha de Santana constitui uma barreira, ceu em 1988. Conseqüentemente, nenhum dado
a partir da qual a bacia estende-se para as águas ra- estratigráfico novo advindo de poços foi incorporado
sas e profundas. Seu limite noroeste é, no momento, ao conhecimento geológico dessa bacia da margem
arbitrário e tem sido classicamente referido ao equatorial desde a publicação pioneira da Petrobras
meridiano de 44oO. Na realidade, não existe nenhu- sobre as cartas estratigráficas das bacias brasileiras (Feijó,
ma feição geológica que justifique a separação das 1994). Os dados aqui apresentados para a Fase Rifte
bacias de Barreirinhas e Pará-Maranhão nesta região. da bacia são baseados nos resultados de projetos diver-
A origem e evolução dessa bacia, associa- sos contratados pela Petrobras e, obviamente, em tra-
da à separação transformante dos continentes sul- balhos publicados anteriormente. Para a Fase Drifte, os
americano e africano, foi alvo de estudo de diversos resultados apresentados são frutos de cuidadosa rein-
autores e projetos (Pamplona, 1969; Azevedo, 1986; terpretação dos dados de poços existentes, amarrados

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação
e-mail: trosdtorf@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios/NNE

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 331-339, maio/nov. 2007 | 331


com as linhas sísmicas disponíveis, à luz dos conceitos (neoproterozóica) e Província Borborema. A Zona de Fra-
mais modernos da estratigrafia de seqüências. A no- tura Oceânica Romanche, à qual a gênese da bacia está
menclatura utilizada para a litoestratigrafia da bacia intimamente ligada, nucleou-se no contato entre a parte
foi mantida semelhante à utilizada por Feijó (1994). arqueana do Cráton de São Luís e a Faixa Gurupi. O Alto
O preenchimento sedimentar da bacia é com- de Tutóia, limite oriental da bacia, desenvolve-se acima
plexo. Inicia-se com depósitos basais atribuíveis ao do contato entre a Faixa Gurupi e a Província Borborema.
Paleozóico, parte de seqüências intracratônicas pretéritas A sul da Zona de Fratura Romanche, a bacia encontra-se
que se estendiam sobre as plataformas pré-cambrianas fortemente deformada por estruturas transpressionais de
do Gondwana e que foram capturadas dentro dos grá- idade cenomaniana, que diminuem de intensidade à me-
bens iniciais da bacia. Seguem-se depósitos sinrifte (trans- dida que se aproxima a borda falhada sul, na Plataforma
tensionais) e inter-rifte de idades aptiana e albiana, cober- de Sobradinho. A norte da Zona de Fratura Romanche, a
tos por seqüências drifte (Neo-Albiano ao Recente) típicas Bacia de Barreirinhas adquire um formato típico de bacia
de subsidência termal de margem passiva. de margem passiva, passando quase que imperceptivel-
A Bacia de Barreirinhas iniciou-se onde hoje é mente para a Bacia do Pará-Maranhão.
a sua porção marítima através de rifteamento de idade
aptiana (Seqüência K40, Rifte II). Durante o Albiano
(Seqüência K60, Rifte III), o rifteamento propagou-se para
oeste/sudoeste, em padrão backstepping, formando a
porção terrestre da bacia e as adjacentes bacias de Ilha
Superseqüência
Nova, São Luís e Bragança-Viseu. Entre esses dois even-
tos, caracterizados por depocentros bem nítidos e cama-
Intracratônica
das de crescimento, ocorre uma seção de espessura ho-
mogênea constituída por refletores plano-paralelos, sem Uma espessa seqüência de refletores plano-
tectônica sin-sedimentar, de idade aptiana, atribuíveis à paralelos pode ser vista na parte inferior das seções
Formação Codó. Por suas características tectono-sedi- sísmicas que cortam a Bacia de Barreirinhas, tanto
mentares, esta seqüência indica uma interrupção no pro- em terra quanto em mar. A idade devoniana para
cesso de rifteamento e pode ser interpretada como ten- esta seqüência é indicada por dados de poços que
do sido depositada em uma bacia do tipo sag pós-rifte II penetraram arenitos e folhelhos devonianos na parte
ou sag pré-rifte III. Escolhemos adotar a segunda hipóte- terrestre e pela sua conhecida ocorrência na margem
se neste trabalho devido ao fato dessa seqüência ocor- continental conjugada africana (Gana), onde arenitos
rer tanto na parte marítima da bacia (acima do Rifte II e devonianos são produtores no campo de Takoradi. Li-
abaixo do Rifte III) quanto na parte terrestre (onde só toestratigraficamente, corresponderiam ao Grupo
ocorre o Rifte III). Canindé, constituído, da base para o topo, pelas for-
A fase drifte inicia-se no final do Neo-Albiano e mações Itaim, Pimenteiras e Cabeças. Pela espessura
se estende até o Recente. A interpretação da evolução sísmica significativa apresentada por esta unidade, não
crono-estratigráfica da seção pós-rifte permitiu o reco- se pode descartar a possibilidade da ocorrência de
nhecimento de 12 seqüências de 2ª ordem, de acordo rochas sedimentares e vulcânicas, mais velhas ou mais
com os conceitos descritos por Mitchum e Van Wagoner novas que o Devoniano, correlacionáveis ao preen-
(1991). Uma particularidade da Bacia de Barreirinhas é chimento sedimentar da Bacia do Parnaíba.
a espessa seção drifte depositada sobre a crosta oceâni-
ca (>10 km), que pode ser encontrada na porção de
águas profundas e ultra-profundas da bacia.

Superseqüência Rifte
embasamento Seqüência K40
A Bacia de Barreirinhas desenvolveu-se sobre três A Seqüência K40 (Rifte II) corresponde a arenitos
grandes elementos do embasamento, de oeste para les- e folhelhos de idade aptiana que ocorrem somente na
te: Cráton de São Luís (parte arqueana), Faixa Gurupi parte marítima da Bacia de Barreirinhas. Seu mapa de

332 | Bacia de Barreirinhas - Trosdtorf Junior et al.


isópacas sísmicas mostra alguns depocentros pouco de- tados em ambiente nerítico de alta e baixa energia,
senvolvidos controlados por grandes falhas de bordas de respectivamente (Feijó, 1994).
direção NO-SE e O-E, com blocos baixos a NE e N. Como Uma novidade aqui introduzida é a ocorrência
esta seqüência não havia sido ainda reconhecida na dos carbonatos do Grupo Caju tanto na seção sinrifte III
época da publicação da última carta estratigráfica (Feijó, quanto na seção drifte. Nas cartas anteriores, os carbo-
1994), e muitos poucos poços a atravessam na parte natos ocorriam apenas na seção drifte. Na parte terres-
marítima (1 no Alto de Tutóia e 3 na sub-bacia adjacen- tre, observa-se freqüentemente nas linhas sísmicas a ocor-
te de Piauí-Camocim), ela aparece no presente traba- rência dos carbonatos em seções que apresentam cres-
lho como unidade litoestratigráfica sem denominação cimentos consideráveis próximos às falhas. Deve-se, por-
formal, à espera de uma maior quantidade de descri- tanto, trabalhar com modelos deposicionais onde o de-
ções litológicas e datações paleontológicas para sua senvolvimento dos carbonatos se dê nas quinas estrutu-
melhor definição. ralmente mais altas dos blocos falhados rotacionados,
como a exemplo dos riftes cenozóicos do Golfo de Suez.
Seqüência K50 Como mencionado anteriormente, a discor-
dância que capeia os pacotes sinrifte tem idade pró-
xima de 102 Ma.
A Formação Codó foi identificada pela asso-
ciação litológica de calcilutitos e folhelhos lagunares (em
alguns poços tanto na parte terrestre quanto marítima)
e pela assinatura sísmica na atual porção marítima de
Barreirinhas e em Piauí-Camocim, onde ocorre com es-
pessura relativamente constante. Sua localização entre
Superseqüência Drifte
as duas fases de rifteamento e feições sismoestratigráfi-
cas caracterizam esta sucessão como depositada em Os dados mais recentes posicionam o final da fase
uma bacia tipo sag inter-riftes. Como explicado acima, rifte da Bacia de Barreirinhas no Neo-Albiano, em torno
optou-se neste trabalho considerá-la como um depósito de 102 Ma. Três principais estágios da evolução tectono-
relacionado a uma bacia sag pré-rifte. Essa unidade tam- sedimentar da seção drifte podem ser identificados:
bém não havia sido reconhecida na coluna estratigráfi-
I) o primeiro com sedimentação predominan-
ca publicada por Feijó (1994); entretanto, suas litologias
temente carbonática;
e assinatura sísmica são características da unidade li-
toestratigráfica Codó e, portanto, adotamos usar esta II) o segundo com o predomínio de sedimen-
terminologia no presente trabalho. tação siliciclástica, em bacia tipicamente de mar-
gem passiva;
Seqüência K60 III) o último, com o retorno da sedimentação
carbonática associada à transgressão do mar de
A Seqüência K60 (Rifte III - Albiano) Pirabas no Mioceno.
corresponde a sedimentos siliciclásticos continentais a
parálicos na parte sul da Bacia de Barreirinhas, passan- Feijó (1994) resume em três grandes seqüên-
do a carbonatos, folhelhos e arenitos marinhos nas por- cias deposicionais, com ciclos transgressivo-regressi-
ções centrais e distais destas bacias. vos, o preenchimento da seção drifte da bacia. A pri-
Litoestratigraficamente, correspondem aos meira se estende do Neo-Albiano até o Cenomaniano
grupos Canárias e Caju. Segundo Feijó (1994), fa- (representada pelo Grupo Caju); a segunda, do Turo-
zem parte do Grupo Canárias os folhelhos cinza-es- niano ao Oligoceno (Grupo Humberto de Campos); e,
curos da Formação Arpoador, os arenitos grossos cin- a última, do Mioceno ao Recente (Formação Pirabas).
zentos da Formação Bom Gosto, os folhelhos cinza- As 12 seqüências individualizadas e apresenta-
escuros da Formação Tutóia e os arenitos médios das neste trabalho, com tempo de duração variando entre
cinzentos da Formação Barro Duro. O Grupo Canárias 1,6 Ma (a mais curta) e 17,5 Ma (a mais longa) são
representa leques deltaicos depositados em ambi- classificadas como de 2ª ordem (Mitchum e Van Wagoner,
ente marinho. O Grupo Caju é composto por calca- 1991). As duas primeiras seqüências após o break-up
renitos bioclásticos e oncolíticos da Formação Bonfim (K70 e K82, Albiano Superior–Cenomaniano) e a meta-
e calcilutito creme da Formação Preguiças, sedimen- de da seqüência K84-K86 (Cenomaniano-Turoniano) es-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 331-339, maio/nov. 2007 | 333


tão litoestratigraficamente inseridas dentro do contexto sismicamente, na seção já sobre crosta oceânica pode-
do Grupo Caju. Do Turoniano ao Oligoceno Inferior (me- se observar padrões de sedimentação indicativos de
tade superior da K84-K86 até a metade inferior da E80- deposição em águas profundas e ultra-profundos.
N10), reconhecemos sete seqüências de 2ª ordem (Gru- O registro geológico encontrado nos poços que
po Humberto de Campos). As últimas seqüências iden- perfuraram essa seqüência indica a deposição de uma
tificadas (metade superior da E80-N10 até a N60) es- plataforma mista formada por calcarenitos bioclásticos
tão associadas à transgressão do mar de Pirabas. Essa e oncolíticos (Formação Bomfim), calcilutitos, margas e
foi a última grande transgressão ocorrida na margem folhelhos da Formação Preguiças e os clásticos deposi-
equatorial, e perpetuou-se no registro geológico sob a tados em ambiente marinho raso da Formação Periá,
forma dos carbonatos da Formação Pirabas, que po- que podem ser correlacionados com a parte da Forma-
dem ser encontrados há uma distância de aproximada- ção Açu, da Bacia Potiguar (Feijó, 1994).
mente 200 km a partir da linha de costa atual (Rosseti,
2001). Após esse afogamento máximo, inicia-se uma
fase de progradação com novo recuo da linha de costa Seqüência K82
durante a qual foram depositados os sedimentos da
Formação Barreiras (Rosseti, 2001). A Seqüência K82 possui duração aproximada
A metodologia aplicada neste trabalho e que de 3,5 Ma, e está inserida no contexto deposicional do
permitiu a identificação das seqüências de 2ª ordem Grupo Caju. Na porção emersa da Bacia de Barreiri-
baseia-se em interpretações bioestratigráficas através nhas, esta seqüência é caracterizada pela presença de
da técnica de correlação gráfica (Wescott et al. 1988; calcarenitos bioclásticos e oncolíticos da plataforma car-
Neal et al. 1998; Aubry, 1995). Posteriormente, as in- bonática da Formação Bomfim.
terpretações foram cruzadas com dados sísmicos visan- Contudo, semelhantemente ao constatado na se-
do ratificar os eventos de afogamento e, principalmen- qüência K70, altos estruturais herdados da fase rifte (por
te, de erosão. Como resultado desse trabalho, apre- exemplo: altos de Rio Negro/Espigão – Queimados e do
senta-se, a seguir, uma descrição sucinta para as doze Mandacaru Leste) ainda influenciam e condicionam a
seqüências identificadas. sedimentação dessa seqüência. Altas taxas de deposição
podem ser encontradas no baixo de Barreirinhas, que, por
sua vez, se encontra fortemente controlado pela falha
Seqüência K70 homônima. Além disso, terminações em onlap são obser-
vadas no Alto de Tutóia, que serviu de anteparo à deposi-
A Seqüência K70 marca o início da deposição drifte. ção da seqüência K82 e a separa da Bacia do Ceará.
Seu limite inferior é determinado pela discordância do
break-up (~ 102 Ma) e o superior, por uma discordância Seqüência K84-K86
no topo do Albiano (~ 99,5 Ma). O posicionamento dessa
discordância, como o de outras descritas, deve-se ao cru- O limite superior desta seqüência é caracteriza-
zamento de informações sobre os hiatos deposicionais, do por uma discordância posicionada na porção inter-
obtidos nos gráficos de tempo geológico versus profundi- mediária do Turoniano, por volta de 91,5 Ma. O hiato
dade de dados bioestratigráficos, com a curva de eustasia deposicional associado à discordância do Turoniano
global, recalibrada para Gradstein et al. (2004). possui excelente correlação com uma importante que-
O paleorelevo da seção rifte influenciou a deposi- da global do nível dos mares registrada na curva de
ção da seqüência K70. Adicionalmente, esforços da eustasia global. Poços perfurados na porção emersa e
tectônica transcorrente E-W submeteram a bacia a de águas rasas da Bacia de Barreirinhas que atingiram
elevadas taxas de subsidência e deposição, como essa seqüência mostram a ausência da porção inferior
mostram os poços na porção terrestre da bacia. A do Turoniano, estando, provavelmente, preservada na
confluência dos fatores acima descritos impôs à bacia porção de águas profundas da bacia.
condições paleobatimétricas distintas das que são nor- Adicionalmente, pode-se observar o afogamen-
malmente encontradas nas bacias da margem leste to da plataforma carbonática da Formação Bomfim e a
para o período logo após o break-up (por exemplo: instalação de uma plataforma predominantemente si-
Aptiano da Bacia de Campos). Profundidades acima liciclástica no final da Seqüência K84-K86. A partir des-
de 200 m (batial superior) são interpretadas em diver- se ponto tem-se, portanto, o início de um período de
sos poços proximais da plataforma do Maranhão e, subsidência predominantemente termal, com reativa-

334 | Bacia de Barreirinhas - Trosdtorf Junior et al.


ções esporádicas de falhas anteriores ao longo da fase Devido à discordância do Maastrichtiano, um ex-
de drifte continental. pressivo hiato deposicional é observado na bacia, restrin-
gindo a ocorrência da Seqüência K100-K120 às porções
Seqüência K88-K90 mais distais da Bacia de Barreirinhas.

A Seqüência K88-K90 possui duração de cerca Seqüência K130-E20


de 12 Ma e é limitada no topo por discordância na
porção intermediária do Campaniano (discordância do Esta seqüência começa no final do Cretáceo
Campaniano Médio), em torno de 79,5 Ma. Esta dis- Superior (~ 70 Ma) e se estende até o Paleoceno
cordância também apresenta excelente correlação com Superior (~ 58,5 Ma), com duração de cerca de 11,5
a curva de eustasia global, onde, nesse período, há Ma. O limite superior é marcado por uma nova dis-
um rebaixamento do nível dos mares. cordância, cujo cruzamento com a curva de eustasia
A Seqüência K88-K90 caracteriza-se pelo de- global mostra boa correlação com uma acentuada
senvolvimento do leque deltaico da Formação Areinhas queda no nível global dos mares.
na região de plataforma. Sedimentação carbonática Dados de poços indicam que uma incipiente pla-
incipiente também é observada em alguns poços da taforma carbonática teve início nesta idade. Contudo,
Bacia de Barreirinhas, mas esta é rapidamente soterra- a mesma foi colmatada pelo rápido avanço de frentes
da pelos finos da frente deltaica. A Margem Equatorial deltaicas da Formação Areinhas. Além disso, na por-
Brasileira possui duas discordâncias principais: a do ção de águas profundas da Bacia de Barreirinhas, já
break-up e a do Campaniano Médio. A discordância sobre crosta oceânica, tem-se início um processo de
do Campaniano Médio separa duas megasseqüências tectônica gravitacional responsável pela formação de
e marca a mudança do comportamento estratigráfico amplas frentes de empurrão. Concomitantemente, há
predominantemente retrogradacional (transgressivo, a alteração da fisiografia do assoalho marinho da épo-
controlado pela variação do nível do mar) para progra- ca com a formação de altos (sujeitos à erosão) e baixos
dacional (regressivo, controlado pela variação do nível estruturais a montante das frentes de empurrão, que se
do mar e o aporte de sedimentos). tornariam regiões preferenciais de captação de sedi-
mentos durante a deposição da Seqüência K130-E20.
Seqüência K100-K120
Seqüência E30-E50
A Seqüência K100-K120 tem duração aproxi-
mada de 9,5 Ma. Seu topo é marcado por uma discor- Com duração de aproximadamente 17 Ma, a
dância a 70 Ma, que não apresenta correlação com Seqüência E30-E50 se desenvolve entre as discordân-
nenhum rebaixamento global do nível dos mares, con- cias do Paleoceno (~ 58 Ma) e a do Eoceno Médio
forme registrado na curva de eustasia global. Contu- (~ 41,5 Ma). Neste período, ocorre a deposição de
do, estudos recentes em Traços de Fissão em Apatitas uma plataforma mista (carbonato versus siliciclásti-
mostraram um evento de soerguimento das áreas con- co) representada pelos arenitos deltaicos da Forma-
tinentais da Margem Equatorial exatamente em torno ção Areinhas e os carbonatos da Formação Ilha de
de 70 Ma. Dessa forma, este evento tectônico deve Santana. Ademais, a tectônica gravitacional continua
estar relacionado à causa da discordância que marca o se desenvolvendo sob a forma de grandes falhas
topo da Seqüência K100-K120. lístricas na região de plataforma/talude e falhas de
O tectonismo do Maastrichtiano influenciou pra- empurrão na porção distal.
ticamente todas as bacias da Margem Equatorial e pode Semelhantemente à Seqüência K130-E20, a Se-
ser observado até na Bacia da Foz do Amazonas, que qüência E30-E50 não ocorre na atual porção emersa
dista mais de 600 km da Bacia de Barreirinhas. Zalán da bacia. Diversos eventos erosivos do Eoceno Médio,
(2004), refinando as fases da evolução fanerozóica da representados neste trabalho apenas pela discordân-
Plataforma Sul-Americana de Almeida (1967, 1969), cia do Eoceno Médio (Lutetiano), são responsáveis pela
mostra que entre 65 e 74 Ma ocorreu uma orogenia ausência dessa seqüência na parte emersa da Bacia
pré-Andina na Cordilheira Central (Colômbia), que, por de Barreirinhas.
sua vez, pode estar associada ao soerguimento gene- Diferentemente de Feijó (1994), que registra a
ralizado na Margem Equatorial a 70 Ma. ocorrência dos carbonatos da Formação Ilha de

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 331-339, maio/nov. 2007 | 335


Santana perenemente a partir do Turoniano/Conia- gem Equatorial, associado ao mar de Pirabas, com a
ciano até o início da Formação Pirabas (Mioceno), deposição de uma extensa plataforma carbonática
neste trabalho interpreta-se a instalação definitiva (Formação Pirabas), recobrindo discordantemente as
dessas rochas apenas na Seqüência E30-E50. Ante- rochas do Grupo Humberto de Campos.
riormente, apenas alguns núcleos isolados de sedi-
mentação carbonática são reconhecidos.
Adicionalmente, em sísmica, existem algumas
Seqüência N20-N30
evidências de magmatismo básico no Eoceno Mé-
dio, que pode estar associado ao magmatismo ob- A discordância do Mioceno Superior (~ 11,6
servado na Bacia do Pará-Maranhão. Neste mesmo Ma), que marca o topo da Seqüência N20-N30, é
período ocorre o vulcanismo Royal Charlotte, no Arco uma das discordâncias mais evidentes da Margem
de Cabo Frio e em Abrolhos (Zalán, 2004). Contudo, Equatorial. Esta discordância é bem imageada pela
uma correlação direta entre esses eventos torna-se sísmica e ratificada por dados de poços, podendo
difícil devido à completa ausência de amostras para ainda ser observada em superfície (Rossetti, 2001).
datação radiométrica. A Seqüência N20-N30 está quase que total-
mente restrita ao Mioceno Médio (andares Langhiano
Seqüência E60-E70 e Serravaliano). Durante a deposição dessa seqüên-
cia, ocorre um novo afogamento e avanço da plata-
forma carbonática da Formação Pirabas.
A Seqüência E60-E70 se desenvolve entre as dis-
cordâncias do Eoceno Médio (~ 41,5 Ma) e a do Oligoce-
no Inferior (~ 28,5 Ma). As duas discordâncias foram in-
Seqüência N40-N50
terpretadas com o cruzamento dos dados de hiatos depo-
sicionais e a curva de variação global do nível dos mares. Esta seqüência é caracterizada pelo rápido
A Seqüência E60-E70 mantém o caráter regressi- avanço da plataforma carbonática da Formação
vo presente nas seqüências anteriores e, semelhantemente Pirabas, inclusive ultrapassando os limites da bacia.
ao observado na seqüência E30-E50, ocorre o desenvolvi- Adicionalmente, há a progradação dos siste-
mento de uma plataforma mista (carbonato versus silici- mas deposicionais costeiros, presentes em toda a
clástico). Há evidências no Oligoceno de reativação de Margem Equatorial, representados pela Formação
um sistema de lineamentos de direção N55E, produzindo Barreiras (Rossetti, 2001).
movimentos verticais de blocos falhados na Bacia de Bar-
reirinhas, que colocariam rochas sedimentares em está-
gio diagenético avançado próximas à superfície.
Seqüência N60
A discordância do Oligoceno Inferior marca uma
importante mudança no padrão de sedimentação na Constituída por sedimentos arenosos e argilo-
Bacia de Barreirinhas, saindo de um longo período de sos depositados em cordões litorâneos ao longo da
deposição dentro de um contexto marinho regressivo, costa e pelo extravasamento da rede de drenagem.
para um período marinho transgressivo presente em Na porção offshore da bacia, a seqüência é repre-
toda a Margem Equatorial. sentada pelos argilitos e sedimentos argilosos incon-
solidados do fundo oceânico.

Seqüência E80-N10
A Seqüência E80-N10 foi individualizada entre
as discordâncias do Oligoceno Inferior (~ 28,5 Ma) e
agradecimentos
a do Mioceno Inferior (~ 16,5 Ma). Evidências sobre a
presença da discordância do Mioceno Inferior tam- Os autores agradecem aos colegas Anna Rosa
bém são encontradas na Bacia da Foz do Amazonas. do Amaral Lira, Edgar Liandrat e João Luiz Caldeira,
Neste contexto, a Seqüência E80-N10 apresenta du- pela leitura e críticas sempre construtivas feitas ao
ração aproximada de 12 Ma. texto e à carta. Também agradecemos aos editores
Durante a deposição da Seqüência E80-N10, do Boletim de Geociências da Petrobras pela oportu-
ocorre um grande evento transgressivo em toda a Mar- nidade e incentivo dispensado.

336 | Bacia de Barreirinhas - Trosdtorf Junior et al.


referências NEAL, J. E.; STEIN, J. A.; GAMBER, J. H. Nested
stratigraphic cycles and depositional systems of the

bibliográficas Paleogene Central North Sea. In: GRACIANSKY, P. C.;


HARDENBOL, J.; JACQUIN, T.; VAIL, P. R. (Ed.). Mesozoic
and Cenozoic sequence stratigraphy of european
ALMEIDA, F. F. M. Origem e evolução da platafor- basins. Tulsa, Okla.: Society for Sedimentary Geology,
ma brasileira. Rio de Janeiro: Divisão de Geologia e 1998. p. 261-288. (SSG. Special Publication, 60).
Mineralogia, 1967. 36 p. (DNPM. DGM. Boletim, 241).
PAMPLONA, H. R. P. Litoestratigrafia da Bacia Cretácea
ALMEIDA, F. F. Diferenciação tectônica da plataforma de Barreirinhas. Boletim Técnico da Petrobras, Rio
brasileira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 261-290, 1969.
23., 1969, Salvador. Anais... Salvador: Sociedade Brasi-
leira de Geologia, 1969. p. 24-46. ROSSETTI, D. F. Late Cenozoic sedimentary evolution
in northeastern Pará, Brazil, within the context of sea
AUBRY, M.P. From chronology to stratigraphy: interpreting level changes. Journal of South American Earth
the lower and middle Eocene stratigraphic record in the Science, Oxford, v. 14, n. 1, p. 77-89, Apr. 2001.
Atlantic Ocean. In: BERGGREN, W. A.; KENT, D. V.;
AUBRY, M.P.; HARDENBOL, J. (Ed.). Geochronology SOARES JUNIOR, A. V. Paleografia e evolução da
time scale and global stratigraphic correlation. Tulsa, paisagem do nordeste do Estado do Pará e noro-
Okla.: Society for Sedimentary Geology, 1995. p. 213- este do Maranhão: Cretáceo ao Holoceno. 2002.
274. (SSG. Special Publication, 54). 118 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Fede-
ral do Pará, Belém, 2002.
AZEVEDO, R. P. Interpretação geodinâmica da evolu-
ção mesozóica da Bacia de Barreirinhas. In: CONGRES- SZATMARI, P.; ZANOTTO, O.; FRANÇOLIN, J. B.
SO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 34., 1986, Goiânia. L.; WOLFF, S. Rifting and Early Tectonic Evolution
Anais do... São Paulo: Sociedade Brasileira de Geo- of the Equatorial Atlantic. In: ANNUAL MEETING
logia, 1986. v. 3, p. 1115-1130. OF THE GEOLOGICAL SOCIETY OF AMERICA, 98.,
1985, Orlando. Abstracts. Boulder, Co: GSA,
AZEVEDO, R. P.; ROSSETTI, E. L.; NEPOMUCENO FILHO, 1985. 731 p.
F.; CAPUTO, M. V. Modelamento tectônico, origem e
evolução da Bacia de Barreirinhas. In: Simpósio de Geo- SZATMARI, P.; ZANOTTO, O.; FRANÇOLIN, J. B. L.;
logia da Amazônia, 2., 1985, Belém. Anais do... Belém: WOLFF, S. Evolução tectônica da Margem Equatorial
Sociedade Brasileira de Geologia, 1985. v. 1, p. 208-221. Brasileira. Revista Brasileira de Geociências, São
Paulo, v. 17, n. 2, p. 180-188, 1987.
AZEVEDO, R. P. Tectonic evolution of brazilian equa-
torial continental margin basins. 1991. 492 f. Thesis WESCOTT, W. A.; KREBS, W. N.; SIKORA, P. J.;
(PhD. Sci) – University of London, London, 1991. BOUCHER, P. J.; STEIN J. A. Modern application of
biostratigraphy in exploration and production. The
FEIJÓ, F. J. Bacia de Barreirinhas. Boletim de Leading Edge, v. 17, n. 9, p. 1204-1210, Sep. 1998.
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n.
1, p. 103-105, jan./mar. 1994. ZALÁN, P. V. Evolução fanerozóica das bacias sedi-
mentares brasileiras. In: MANTESSO-NETO, V.;
GRADSTEIN, F. M.; OGG, J. G.; SMITH, A. G. A BARTORELLI, A.; CARNEIRO, C. D. R.; BRITO-NEVES,
geologic time scale 2004. Cambridge: Cambridge B. B. (Org.). Geologia do continente sul-america-
University Press, 2004. 589 p. il. no: evolução da obra de Fernando Flávio Marques de
Almeida. São Paulo: Beca, 2004. p. 595-612.
MITCHUM JR, R. M.; VAN WAGONER, J. C. High-
frequency sequences and their stacking patterns: ZALÁN P. V.; PALAGI, P. R.; SEVERINO, M. C.;
sequence-stratigraphic evidence of high-frequency MARTINS, F. A. L.; FERREIRA, E. P. Bacias sedimenta-
eustatic cycles. Sedimentary Geology, Amsterdam, res brasileiras: Bacia de Barreirinhas. Phoenix, v. 6,
v. 70, n. 2-4, p. 131-160, 1991. n. 64, 2004.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 331-339, maio/nov. 2007 | 337


BACIA DE BARREIRINHAS

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

0 N60

MARINHO TRANSGRESSIVO

N40-N50
EO ZAN C LE AN O ?

PIRABAS
NEÓGENO

M E SS I N I AN O
NEO
10 T ORT ONIAN O

683

N20-
TA LU DE
S E R R AVAL IA N O

N30
MESO
LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O

E80 - N10
20 EO
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O

3303
PLATAFORMA

30
EO R U P E L IA N O

E60 - E70
ILHA DE SAN TANA
NEO P R I AB O N I AN O
PALE ÓG E N O

BAR T O N I AN O
40
MARINHO REGRESSIVO
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

E30 - E50
1188
50

HUMBERTO DE CAMPOS
EO YP R ES I AN O
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO

TRAVOSAS
AREINHAS
60 S E LAN D I AN O

K130 - E20
PROFUNDO

EO DAN I AN O

70
(S EN ON IAN O )

K100-
K120
CAM PA N IAN O

80
MARINHO TRANSGRESSIVO

PROFUNDO
NEO

K88-K90
SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
CRETÁCEO

T U R ON I AN O

K84-
K86
BONFIM
CAJU

1188
1067
C E N O MA N IA N O
K82
100 K70
1048
BONFIM

BARRO
CANÁRIAS /
MARINHO

DURO
3500

AL B I AN O
CAJU

PLATAFORMA K60
(G ÁLI CO )

110 BOM GOSTO


EO

CODÓ 230 K50


ALAGOAS
CONT.

APTIANO
120 INOMINADO K40

JI QUIÁ
BARRE-
MIANO BURACICA

350
PALEOZÓICA

PLATAFORMA

PROFUNDO /
400 PLATAFORMA

542

338 | Bacia de Barreirinhas - Trosdtorf Junior et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 331-339, maio/nov. 2007 | 339
Bacias de Bragança-Viseu, São Luís e Ilha Nova

Pedro Victor Zalán1

Palavras-chave: Bacias de Bragança-Viseu, São Luís e Ilha Nova l Estratigrafia l carta estratigráfica
Keywords: Bragança-Viseu, São Luís and Ilha Nova Basins l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução mou-se sobre uma zona de acomodação entre as ba-


cias de São Luís e Barreirinhas, sendo preenchida tam-
bém, essencialmente, por rochas sedimentares da fase
Estas bacias localizam-se no litoral nordeste transtensional. Entretanto, pela proximidade e conti-
do Estado do Pará e noroeste do Estado do Maranhão nuidade com a Bacia de Barreirinhas, possui um pe-
e constituem grábens desenvolvidos no interior do queno pacote de rochas da fase drifte. Todas as três
Cráton de São Luís. Ao norte, a Plataforma de Ilha bacias são antecedidas pela seqüência neo-aptiana
de Santana separa-as das bacias marítimas de Bar- (P270), interpretada como uma bacia sag.
reirinhas e Pará-Maranhão. Seu limite sul é marcado A nomenclatura utilizada para a litoestrati-
pelo Arco de Ferrer-Urbano Santos, desenvolvido so- grafia das diferentes fases evolutivas foi mantida
bre a Faixa Móvel Gurupi (neoproterozóica), que semelhantemente à utilizada por Lima et al. (1994).
separa essas bacias da bacia paleozóica do Parnaí- A Bacia de São Luís teve seus últimos poços perfu-
ba. As Bacias de Bragança-Viseu e São Luís são ba- rados em 1988 (1-IV-1, 2-PR-1). Já a Bacia de
cias transtensionais (pull-apart basins) essencialmen- Bragança-Viseu possui dois poços perfurados ainda
te albianas que, por não apresentarem uma fase de na década de 60. Conseqüentemente, nenhum
subsidência termal, sua característica geometria de dado estratigráfico advindo de poços foi incorpora-
rombo-grábens é desprovida de sedimentação pós- do ao conhecimento geológico dessas bacias da mar-
rifte. Esta transtensão no Albiano foi produzida pela gem equatorial desde a publicação pioneira da
movimentação ao longo das zonas de fraturas Petrobras sobre as cartas estratigráficas das bacias
Romanche e São Paulo. A Bacia de Ilha Nova for- brasileiras (Feijó, 1994).

1
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios/NNE – e-mail: zalan@petrobras.com.br

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 341-345, maio/nov. 2007 | 341


embasamento Seqüência Devoniana
Rochas sedimentares devonianas pertencen-
As bacias de São Luís e de Ilha Nova desenvol-
tes à Bacia do Parnaíba encontram-se preservadas
veram-se sobre a porção infracrustal arqueana do Cráton
na borda sul da Bacia de São Luís sob depósitos de
de São Luís, enquanto que a Bacia de Bragança-Viseu
idade aptiana e albiana. Esta seqüência foi penetra-
se formou sobre a Faixa Móvel Santa Luzia-Viseu de
da por 5 poços (1-AT-1, 1-CL-1, 1-IV-1, 1-RL-1 e
idade paleoproterozóica (Ciclo Orogênico Transamazô-
1-RPR-1) e se constitui basicamente de arenitos e
nico), que também integra o Cráton de São Luís. Ape-
folhelhos, subordinadamente, basaltos e diamictitos.
nas a extremidade meridional da Bacia de São Luís
Os últimos são correlacionáveis à Formação Pimen-
desenvolveu-se sobre a Faixa Móvel Gurupi, esta de
teiras de idade devoniana. Sua espessura máxima é
idade neoproterozóica (Ciclo Orogênico Brasiliano). Os
estimada em torno de 500 m.
mapas aeromagnetométricos ilustram muito bem o con-
trole exercido por feições antigas do embasamento so-
bre a localização e a deformação das bacias mesozóicas.
Tal como o desenvolvimento do Arco de Gurupi, no
contato entre a faixa paleoproterozóica e a parte ar-
queana do Cráton de São Luís, que veio separar as
Superseqüência Pré-Rifte
bacias de São Luís e Bragança-Viseu. A Zona de Fratu-
ra Romanche foi claramente nucleada no contato en- Seqüência K40-K50
tre a Província Borborema e o Cráton de São Luís (a sul
da Bacia de Ilha Nova). A Zona de Fratura São Paulo, A Seqüência K40-K50 abrange as Formações
mais larga, constituída por três ramos principais, foi Bragança, Grajaú e Codó (Lima et al. 1994). Em
nucleada nas anisotropias de direção SW-NE da faixa seções sísmicas são representadas por refletores pa-
móvel paleoproterozóica. ralelos, contínuos, de grande extensão, sem cresci-
mento de seção, e que registram a fase Pré-Rifte
da bacia sag. Dados lito-faciológicos e bioestrati-
gráficos demonstram que esta unidade apresenta o
Superseqüência registro da primeira invasão marinha mesozóica nos
domínios da margem equatorial brasileira. Os fo-
Paleozóica lhelhos da Formação Codó possuem grande impor-
tância nesta região por se constituírem no principal
nível gerador de petróleo.
Seqüência Cambro- Segundo Lima et al. (1994), a Formação Bra-
gança é composta por sedimentos clásticos grossos
Ordoviciano (arenitos cinzentos e conglomerados), com areni-
tos médios e siltitos verdes subordinados, represen-
Compondo o substrato das bacias de São Luís e tando os depósitos de mais alta energia (leques
Ilha Nova ocorre uma seqüência sismo-estratigráfica ni- aluviais) na base e nas bordas das bacias. A conti-
tidamente representativa de uma fase rifte pretérita à nuidade deposicional e seus contatos gradacionais
formação das bacias intracratônicas mesozóicas. Esta com as Formações Grajaú e Codó indicam idade
seqüência foi penetrada por sete poços (1-BO-1, 1-MO- neoaptiana para a sua deposição. A Formação
1, 1-PE-1, 1-RP-1, 1-RP-2, 2-PR-1, 1-VNST-1) e corresponde Grajaú é constituída por arenitos finos a médios,
à Formação Bequimão, composta por pelitos, arenitos, creme a brancos, de natureza fluvial. Sobrepõem-
conglomerados e diamictitos, levemente metamorfizados. se concordantemente à Formação Grajaú e
A Formação Bequimão ocorre preservada como uma interdigitam-se com os pelitos da Formação Codó.
estreita faixa de direção WNW-ESSE, apresentando es- A idade neoaptiana é atribuída pela presença de
tratos de crescimento e depocentros controlados por fa- palinomorfos da zona P270 (Lima et al. 1994).
lhas normais. Típica geometria de depósitos remanes- A Formação Codó (P270, neoaptiano) é com-
centes de riftes outrora muito maiores, cuja idade presu- posta por folhelhos negros, betuminosos, níveis de
me-se ser cambro-ordoviciana. anidrita e calcilutito, com intercalações de arenitos

342 | Bacias de Bragança-Viseu, São Luís e Ilha Nova - Pedro Victor Zalán
(Lima et al. 1994). O ambiente deposicional inter-
pretado para esta unidade é lagunar, ligado a um Superseqüência Drifte
mar epicontinental raso e anóxico, eventualmente
restrito a ponto de originar precipitações de evapori- Sedimentos pós-rifte são praticamente ausen-
tos (anidrita e, mais raramente, halita). Esta seqüên- tes nas bacias de Bragança-Viseu e São Luís. Na Ba-
cia pode ser dividida em três intervalos distintos: Codó cia de Ilha Nova, próximo à passagem para a Bacia
Inferior, Médio e Superior. de Barreirinhas, duas seqüências sedimentares po-
O Codó Inferior é predominantemente are- dem ser encontradas (Lima et al. 1994).
noso, o Codó Médio pelito-carbonático-evaporítico
e o Codó Superior é formado por folhelhos, carbo-
natos, arenitos e evaporitos. Em termos deposi- Seqüência K82-K86
cionais, os três intervalos representam dois ciclos
evaporíticos, sendo o primeiro constituído pelo A Formação Periá do Grupo Caju foi definida
Codó Inferior e Médio, e o segundo ciclo, pelo na Bacia de Barreirinhas e designa as fácies clásticas
Codó Superior. A Superseqüência Pré-Rifte apre- (arenitos e folhelhos) depositadas em leques costei-
senta uma sismofácies que constitui um horizon- ros. À medida que se avança para nordeste, em dire-
te-guia nas linhas sísmicas, com seu topo muito ção à Bacia de Barreirinhas, intercalações de fácies
bem evidenciado por refletores fortes e paralelos, carbonáticas tornam-se mais freqüentes.
resultantes do grande contraste de impedância
acústica originado pela interdigitação de carbona-
tos, anidritas e folhelhos. Suas maiores espessuras Seqüência K88-K90
localizam-se na Bacia de Bragança-Viseu.
A Formação Areinhas é formada por areni-
tos finos e muitos finos, depositados sob condição
de mar franco.

Superseqüência Rifte
Seqüência N30-N40 e N50
Seqüência K60 A Formação Pirabas é composta por arenitos,
argilas variegadas e calcários de idade miocênica
A Seqüência K60, de idade albiana, abran- sobrepostos discordantemente às unidades cretácicas.
ge a unidade litoestratigráfica denominada de For- Ocorre nos extremo nordeste e noroeste, respectiva-
mação Itapecuru. Ela é constituída por arenitos mé- mente, das bacias de Ilha Nova e de Bragança-Viseu.
dios e finos, conglomerados, folhelhos e siltitos de
cor cinza e vermelha. De sul para norte, o am-
biente deposicional interpretado para esta forma-
ção é basicamente fluvial, com intercalações de
arenitos exibindo feições de depósitos marinhos referências
rasos influenciados por maré. É possível dividir esta
superseqüência em duas unidades sismo-estrati- bibliográficas
gráficas: Albiano Inferior e Albiano Médio/Supe-
rior. A primeira apresenta maiores espessuras no
FEIJÓ, F. J. Bacia de Barreirinhas. Boletim de
norte da Bacia de São Luís (Baixo de Bacuri), en-
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
quanto que a segunda apresenta seus depocentros
p. 103-105, jan./mar. 1994.
nas partes centrais das bacias de São Luís (Baixo
de Maracaçumé) e Bragança-Viseu. O topo desta
superseqüência corresponde à discordância de LIMA, H. P.; ARANHA, L. G. F.; FEIJÓ, F. J. Bacias de
breakup na margem equatorial. Bragança-Viseu, São Luís e Gráben de Ilha Nova.
Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Ja-
neiro, v. 8, n. 1, p. 111-116, jan./mar. 1994.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 341-345, maio/nov. 2007 | 343


SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

EO

NEO

MESO

EO

NEO

EO

NEO

MESO

EO

NEO

EO
NEO
EO

344 | Bacias de Bragança-Viseu, São Luís e Ilha Nova - Pedro Victor Zalán
B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 341-345, maio/nov. 2007 | 345
Bacia do Ceará

Valéria Cerqueira Condé1, Cecília Cunha Lana2, Otaviano da Cruz Pessoa Neto1,

Eduardo Henrique Roesner3, João Marinho de Morais Neto1, Daniel Cardoso Dutra1

Palavras-chave: Bacia do Ceará l Estratigrafia l carta estratigráfica


Keywords: Ceará Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução Camocim, Acaraú, Icaraí e Mundaú, de oeste para


leste, que apresentam histórias deposicionais e de-
formacionais ligeiramente distintas, em função da
A Bacia do Ceará se localiza na plataforma sua posição geográfica regional (Costa et al. 1989
continental da margem equatorial brasileira, abran- apud Morais Neto et al. 2003). As atividades explo-
gendo uma área de aproximadamente 34.000 km2. ratórias sempre foram concentradas na Sub-bacia de
Seu limite a sudeste com a Bacia Potiguar é definido Mundaú, onde recentes estudos estratigráficos inte-
pelo Alto de Fortaleza, e a oeste limita-se com a Ba- grados, aliados à interpretação de novos dados sís-
cia de Barreirinhas pelo Alto de Tutóia. O limite sul é micos permitiram um melhor entendimento do seu
dado pela faixa de afloramento do embasamento cris- preenchimento sedimentar.
talino, junto à linha de costa, enquanto ao norte limi- O preenchimento tectono-sedimentar da
ta-se pelo ramo sul da Zona de Fratura Romanche Sub-bacia de Mundaú pode ser dividido em três
(Costa et al. 1989 apud Beltrami et al.1994). principais superseqüências que representam as su-
Devido às características tectônicas e feições cessivas fases evolutivas da bacia: Rifte, Pós-Rifte
estruturais distintas, a Bacia do Ceará foi e Drifte, caracterizadas por distintas arquiteturas
compartimentada em quatro sub-bacias: Piauí- e padrões de falhamentos.

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação
e-mail: valeria.conde@petrobras.com.br
2
Centro de Pesquisas da Petrobras/P&D de Exploração/Bioestratigrafia e Paleoecologia
3
Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 347-355, maio/nov. 2007 | 347


Superseqüência Rifte Superseqüência Pós-rifte
Seqüência Continental K40 Seqüência Transicional K50
O primeiro registro sedimentar na Bacia do A Seqüência Transicional é representada na
Ceará é datado como Aptiano e corresponde aos Bacia do Ceará pela Formação Paracuru, original-
sedimentos da Formação Mundaú, originalmente mente definida por Costa et al. (1984) apud Beltrami
definida por Costa et al. (1989) apud Beltrami et et al. (1994) e representa a transição da sedimenta-
al. (1994). Até o momento não foram amostra- ção tipicamente continental para condições marinhas
dos sedimentos mais antigos que o Eoaptiano, da- marginais, que passam a prevalecer no final da sedi-
tados através de palinomorfos continentais. No mentação do Andar Alagoas (Regali, 1980, 1989),
entanto, acredita-se que depósitos mais antigos analogamente ao verificado na Bacia Potiguar.
possam estar presentes nas porções mais profun- Conforme já referido por Morais Neto et al.
das da bacia, como indicado pelo espesso pacote (2003), esta seqüência tem sido tradicionalmente
imageado por dados sísmicos, que sugere a pos- posicionada como representante do estágio sag da
sibilidade de seção sinrifte de idade barremiana, evolução tectônica da bacia; no entanto, análises
correlacionável à Formação Pendência na Bacia recentes de dados sísmicos indicam crescimento de
Potiguar, ou de um substrato sedimentar pré-rifte seção sedimentar junto às falhas normais, princi-
Jurássico/Paleozóico (Morais Neto et al. 2003). Os palmente nas áreas mais distais, atestando a in-
sedimentos da Formação Mundaú foram deposi- fluência de subsidência tectônica ativa durante a
tados numa grande fossa tectônica, caracteriza- sua deposição, no Neoaptiano. Restaurações estru-
dos por conglomerados, arenitos, siltitos e folhe- turais e simulações tridimensionais de sistemas pe-
lhos intercalados por depósitos de fluxo gravita- trolíferos também levam a considerar que a deposi-
cionais. Ambientes tipicamente continentais são ção desta seção estaria associada ao evento de rif-
reconhecidos: leques aluviais, rios entrelaçados e teamento. Assim, no atual estágio de conhecimen-
lagos provenientes tanto da margem flexural norte to da bacia, considera-se que a deposição dessa
quanto da borda falhada a sul (Beltrami et al. seqüência, nas áreas mais distais da bacia, foi con-
1994). Em poços, esta seqüência possui espessu- dicionada pelas fases finais da tectônica de riftea-
ra de até 2.400 m e reflete uma paleogeografia mento, ora denominada Pós-Rifte.
complexa cuja deposição foi controlada pela ati- A Formação Paracuru apresenta fácies sísmi-
vidade tectônica sinrifte. ca plano-paralela e é constituída por três unidades
Esta seqüência é caracterizada por descon- litológicas distintas, onde predominam arenitos de
tinuidades bem marcadas em perfis elétricos, de- granulação variável, separados por níveis de folhe-
nominados, informalmente, marcos 700, 800 e lhos que representam afogamentos regionais de boa
1.000, consagrados pelo uso ao longo de mais de continuidade lateral (Beltrami et al. 1994; Morais
30 anos de exploração na bacia, principalmente Neto et al. 2003). Na porção inferior, dominam are-
devido ao precário controle bioestratigráfico des- nitos e folhelhos bioturbados de origem fluvial, del-
te intervalo. Os marcos 700 e 800 delimitam, res- táica e lacustre. Na porção mediana da Formação
pectivamente, eventos de transgressão e regres- Paracuru, distingue-se uma camada carbonática rica
são durante o Aptiano. A superfície de em calcilutito, ostracodes e folhelhos carbonosos
condensação no topo da seqüência (Marco (Membro Trairi), cronocorrelata às “Camadas Ponta
1.000), reconhecida regionalmente, corresponde do Tubarão” da Bacia Potiguar, aos folhelhos betu-
litologicamente a hardgrounds e representa o topo minosos das “Camadas Batateira” da Bacia do Ara-
da Formação Mundaú (Costa et al. 1984 apud ripe e aos folhelhos betuminosos da Formação Codó
Beltrami et al. 1994). no Maranhão (Hashimoto et al. 1987). Foram depo-
sitados em ambientes de natureza continental (fluvio-
deltaico a lacustre), passando para marinho restrito
ou sabkha marginal (quando localmente associados
à precipitação de evaporitos).

348 | Bacia do Ceará - Condé et al.


Em associação lateral aos carbonatos Trairi, fo- evento erosivo que esculpe o paleorelevo no topo da
ram recuperados níveis de sal, predominantemente halita, seção Alagoas. Esta discordância é uma superfície
em dois poços na Bacia do Ceará (1-CES-42A e 1-CES- bem conhecida e de uso consagrado na exploração
46). Ocorrem como cristais de granulação grossa, com da bacia, e individualiza a sedimentação de idade
matéria orgânica e argilominerais incorporados e inter- Alagoas, compartimentada por falha da sedimenta-
calação de folhelhos ricos em matéria orgânica. ção marinha plataformal de idade eo-mesoalbiana.
Recentes análises de dados sísmicos na parte mais Trata-se de uma seqüência essencialmente siliciclás-
distal da bacia indicam uma provável presença de eva- tica, composta por arenitos, com intercalações de
poritos na área de águas profundas-ultraprofundas da folhelhos e arenitos. As maiores espessuras (até 375 m)
bacia, sugeridas pela presença de feições dômicas. encontram-se preservadas nos blocos baixos de im-
O ambiente restrito é atestado pela ocorrência portantes falhamentos da bacia, como a Falha de
da ecozona de dinoflagelados Subtilisphaera spp (Regali, Atum, indicando o dominante controle tectônico na
1989; Lana e Roesner, 2002) e pela elevada concentra- sedimentação, interpretado como reativações das
ção do biomarcador gamacerano, caracterizando, as- estruturas pretéritas durante o Albiano.
sim, condições hipersalinas no ambiente deposicional.
Seqüência K70

Superseqüência Drifte Esta Seqüência (Albiano superior) é limitada


na base pela discordância interna do Albiano (DAB),
bem imageada na área proximal da bacia e repre-
A Superseqüência Drifte compreende toda a sentada por uma conformidade correlativa na por-
sedimentação marinha na bacia, representada pelas ção mais distal. Trata-se de uma seqüência marinha,
formações Ubarana, Tibau e Guamaré. Estas forma- caracterizada por uma sedimentação essencialmen-
ções foram originalmente definidas para a Bacia Poti- te pelítica (folhelhos e siltitos), e localmente com se-
guar (Souza, 1982) e, posteriormente, estendidas para dimentação carbonática rasa, correlacionável à For-
a Bacia do Ceará devido às semelhanças litoestratigrá- mação Ponta do Mel, na Bacia Potiguar. Eventuais
ficas (Beltrami, 1985 apud Beltrami et al. 1994). conglomerados presentes na base da seqüência re-
Litoestratigraficamente, a Formação Ubarana presentam depósitos do trato de sistemas de mar
está subdividida em Membros Uruburetama (Cretáceo baixo, preservados nos blocos baixos de sistemas de
Inferior/Superior) e Itapagé (Cretáceo Superior/Eoceno falhas da bacia. A distribuição areal mais ampla do
Inferior), que representam, respectivamente, um ciclo que a seção sotoposta sugere que os limites da bacia
transgressivo e um ciclo regressivo durante o Cretáceo foram estendidos para além das calhas tectônicas que
(Mayer, 1974 apud Beltrami et al. 1994). condicionaram a sedimentação durante o Eo-
Recentes análises de poços, perfis elétricos e mesoalbiano. As maiores espessuras desta seção são
o rastreamento sísmico das principais superfícies encontradas nos baixos estruturais associados às gran-
identificadas na seção cretácea pós-Alagoas permi- des falhas NW/SE, podendo atingir até 230 m nas
tiram a individualização do intervalo cretáceo pós- proximidades da Falha de Mundaú.
Alagoas em oito seqüências deposicionais, K60, K70,
K82, K84, K86, K88-K90, K100-K120 e K136. As Se-
qüências do Paleógeno e Neógeno (K138-E30, E40-
Seqüência K82
E70, E80-N30) representam um grande ciclo de se-
qüências regressivas, limitadas por três discordân- O limite desta seqüência do Cenomaniano infe-
cias erosivas conspícuas na bacia. rior é dado pela discordância do Albo-cenomaniano
(DAC). A sedimentação do Cenomaniano inferior foi
preservada nas áreas mais distais da bacia, bem como
Seqüência K60 nos grábens situados em área proximal. Apesar de sua
restrita expressão espacial, pode-se inferir para esta se-
A Seqüência K60 (Albiano inferior/médio) ção uma variação ambiental significativa. Foram obser-
marca o início de um ciclo transgressivo que se es- vados em poços proximais carbonatos e pelitos de pla-
tende por todo o Albiano. Seu limite inferior é repre- taforma carbonática rasa, ricos em ostracodes marinhos
sentado pela discordância da base do Albiano (DBA), e foraminíferos bentônicos. Nas áreas mais distais, os

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 347-355, maio/nov. 2007 | 349


siltitos e folhelhos do Cenomaniano inferior foram de- evento pode ser rastreado como uma forte escava-
positados em ambiente batial superior a médio. ção que erode grande parte do intervalo do Albiano-
Uma importante feição paleogeográfica da Cenomaniano nas imediações do poço 1-CES-112.
bacia, denominada Cânion de Curimã, é resultante Esta seqüência é constituída, essencialmen-
de escavações recorrentes durante o Cretáceo, sen- te, por folhelhos, margas e, subordinadamente, are-
do bem marcadas pela discordância do Albo-ceno- nitos. A análise paleoambiental através de forami-
maniano (DAC). Situado a oeste dos campos de Es- níferos e dinoflagelados aponta para uma sedimen-
pada e Curimã, este cânion apresenta seu eixo prin- tação em ambientes marinhos profundos, de batial
cipal na direção aproximada norte-sul, ramificando- superior a médio com condições de fundo desfavo-
se para nordeste onde torna a escavar a plataforma ráveis, anóxicas a disóxicas.
a leste do Campo de Espada. Valores relativamente altos de carbono orgâ-
nico total em folhelhos da Seqüência K86 refletem
boas condições de preservação da matéria orgânica
Seqüência K84 nesta seção, provavelmente relacionadas a eventos
anóxicos da passagem Cenomaniano-Turoniano. Es-
Sobre a seção do Cenomaniano inferior (K82) tes eventos anóxicos, aliados à ausência ou presen-
ocorre uma seqüência (até 205 m), geograficamente ça subordinada de sedimentação terrígena na bacia,
bem representada, de pelitos de idade mesocenoma- refletem, provavelmente, um período de máxima
niana. A Seqüência K84 é limitada na base por uma transgressão da bacia durante o Cretáceo Superior.
discordância de idade mesocenomaniana (DCM), su- A expressão em área dessa seqüência, na
perfície dificilmente individualizada nas seções sísmi- Bacia do Ceará, é restrita aos baixos estruturais dos
cas. Apesar dos poucos dados paleoambientais dispo- blocos basculados ou grábens localizados, tendo sido
níveis, em áreas proximais foram amostradas fácies mais erodida pelos vários eventos que escavaram a bacia,
arenosas e provavelmente mais rasas. Na porção mais preservando-se apenas nas regiões de cânions, como
distal, onde esta seção está mais preservada, são regis- o Cânion de Curimã.
trados paleoambientes profundos, como nerítico infe-
rior a batial superior até a batial médio, no poço mais
distal (CES-112). Seqüência K88-K90
Litologicamente, trata-se de uma seção essen-
cialmente pelítica, composta por folhelhos, siltitos e Esta seqüência (Turoniano superior a Campania-
margas. Na área mais distal, amostrada pelo poço 1- no inferior) é limitada na base por uma importante dis-
CES-112, a seção mesocenomaniana é composta por cordância de idade neoturoniana (DTU). Na porção
uma intercalação de arenitos, margas e folhelhos, proximal da bacia, onde foi melhor preservada, a Se-
nos quais foi observado importante retrabalhamento qüência K88-K90 caracteriza-se por paleobatimetrias de
de palinomorfos de idade aptiana e neo-albiana, su- batial superior a médio. Nas raras situações de preserva-
gerindo a ocorrência de um trato de sistemas de mar ção da seqüência, em áreas mais distais, são registradas
baixo de uma seqüência cenomaniana. paleobatimetrias mais profundas (batial médio).
Litologicamente caracteriza-se pelo largo pre-
domínio de fácies pelíticas, eventualmente com delga-
Seqüência K86 das intercalações de carbonatos. Uma característica
marcante dessa unidade em perfis elétricos é o padrão
O limite inferior da Seqüência K86 (Cenoma- cíclico registrado em praticamente todas as curvas.
niano superior/Turoniano inferior-médio) é dado pela A ausência de sedimentação clástica grossa
discordância do Cenomaniano Médio/Superior nesta seção, aliada à geometria deposicional dessa
(DCMS), um horizonte identificado sismicamente e seqüência (essencialmente tabular e com espessu-
em perfis, mas que no entanto não é marcado por ras reduzidas), sugere tratar-se de outro período de
significativa descontinuidade bioestratigráfica. O topo máximo transgressivo ocorrido na bacia. A boa re-
dessa unidade é claramente discordante, relaciona- presentatividade dessa seqüência na porção mais
do a um importante evento erosivo do Turoniano. proximal da bacia reflete o posicionamento mais
Mesmo nas áreas de sedimentação mais distal este costa-adentro dos depocentros àquela época.

350 | Bacia do Ceará - Condé et al.


Seqüência K100-K120 mente regressiva que se instala na bacia após o
Neocampaniano. A Seqüência K136 recobre pra-
ticamente toda a bacia em forma de cunhas
O limite inferior desta Seqüência (Campania-
progradantes, preenchendo e colmatando todos
no superior-Maastrichtiano inferior) é dado pela dis-
os cânions existentes e alcançando espessuras má-
cordância do Campaniano (DCP), correlacionável a
ximas de 500 m. Escavações mais recentes só
mais conspícua e importante discordância do Cretá-
voltam a ocorrer no Mesoeoceno, erodindo inten-
ceo Superior na Bacia Potiguar. Esta seção represen-
samente essa seqüência.
ta as maiores paleobatimetrias verificadas na seção
do Cretáceo Superior da bacia (até batial inferior).
Litologicamente é dominada por sedimentos silici- Seqüência K138-E30
clásticos, representados por siltitos e folhelhos de
paleobatimetrias nerítico profundo a batial superior,
com arenitos subordinados. O limite inferior desta Seqüência (Maastrichtia-
As altas paleobatimetrias observadas na seção no Superior/Paleoceno) é dado pela discordância inter-
são compatíveis com a interpretação de uma época na do Maastrichtiano superior (DIMS), superfície erosiva
de mar alto generalizado e, conseqüentemente, com facilmente identificada nas seções sísmicas, principal-
a de uma elevação da profundidade de compensa- mente nas áreas dos campos de Espada e Xaréu.
ção do carbonato de cálcio na coluna de água, con- Litologicamente, a Seqüência K138-E30 ca-
forme evidenciado pela dissolução das carapaças dos racteriza-se por folhelhos e siltitos (até 300 m de es-
nanofósseis e foraminíferos planctônicos e pelas con- pessura), depositados em paleobatimetrias de neríti-
dições desfavoráveis aos organismos bentônicos. co inferior a batial superior.
O aprofundamento progressivo das fácies A porção correspondente à passagem Cretá-
deposicionais da Seqüência K100-K120 culminou ceo-Paleoceno freqüentemente está ausente, erodida
com uma superfície de inundação máxima de ida- pela discordância do Eoceno médio (DEO), que foi
de neocampaniana. Esta superfície, bem assinala- muito efetiva na bacia, principalmente em áreas mais
da pelas biotas planctônicas e bentônicas, marca distais. Quando presente, esta passagem parece ter
uma significativa mudança na geometria deposi- sido contínua, não discordante. Nos poços onde se
cional das seqüências cretáceas. Inicia-se, então, encontra preservado, o limite Cretáceo/Paleógeno é
a importante fase regressiva da bacia, que se es- caracterizado pela sucessão de folhelhos
tende por todo o Maastrichtiano e persiste nas maastrichtianos que gradam para folhelhos eopaleo-
seqüências do Paleógeno e Neógeno. cênicos, sem aparentes quebras em perfil ou con-
As maiores espessuras dessa seqüência (até trastes litológicos. É freqüente a ocorrência, na pas-
510 m) estão preservadas na porção proximal da sagem, de um nível cimentado, ora descrito como
bacia, em poços situados dentro de calhas deposi- calcilutitos ou calcarenitos, ora como arenitos cimen-
cionais ou em cânions escavados e preenchidos tados. Por este motivo, uma única seqüência é indi-
durante o Cretáceo. vidualizada, englobando as seções do Maastrichtia-
no superior ao Paleoceno. Contudo, é possível que
ocorra uma seqüência paleocênica, raramente pre-
Seqüência K136 servada pela erosão do Eoceno.
O topo da Seqüência K138-E30, de idade
Durante o Maastrichtiano acentua-se a fase eocênica, corresponde litoestratigraficamente às
regressiva na bacia, com a sedimentação da Se- formações Tibau e Guamaré, definidas original-
qüência K136 (seqüência do Maastrichtiano), que mente para a Bacia Potiguar (Souza, 1982; Silva,
atinge a máxima expressão horizontal e vertical 1966) e estendidas para a Bacia do Ceará por
de todo o Cretáceo. Corresponde, juntamente Beltrami (1985) apud Beltrami et al. (1994) devi-
com a seqüência sobreposta (K138-E30) ao Mem- do às características semelhantes. A Formação
bro Itapagé da Formação Ubarana. O limite infe- Guamaré caracteriza-se por calcarenitos deposi-
rior da Seqüência K136 é dado pela discordância tados em plataforma e talude e a Formação Tibau
de idade eomaastrichtiana (DBMA). Esta seqüên- é representada por arenitos depositados em um
cia caracteriza-se por uma sedimentação clara- ambiente de leques costeiros.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 347-355, maio/nov. 2007 | 351


Seqüência E40-E70 magmatismo
A Seqüência E40-E70 é limitada na base pela
As principais atividades vulcânicas conhecidas
discordância do Eoceno (DEO) e caracteriza-se pela
na Bacia do Ceará ocorreram entre o Mesoeoceno e
deposição de calcarenitos da Formação Guamaré e
Eooligoceno. Tais manifestações vulcânicas são asso-
arenitos da Formação Tibau, em um padrão de de-
ciadas a um evento de natureza alcalina representa-
posição progradacional. A discordância do Eoceno
do por corpos intrusivos de basalto e diabásio, alguns
(DEO) foi muito efetiva nas bacias marginais brasilei-
dos quais amostrados em poços exploratórios. Na por-
ras e na Bacia do Ceará erodiu parte da seqüência
ção de águas profundas e ultraprofundas, expressivos
sotoposta, incluindo a porção correspondente à pas-
edifícios vulcânicos e feições associadas indicam uma
sagem Cretáceo-Paleoceno.
intensa atividade vulcânica durante o desenvolvimen-
to da Superseqüência Drifte da Margem Equatorial.
Seqüência E80-N30 Datações K-Ar e Rb-Sr (Mizusaki et al. 2001)
indicam que as rochas vulcânicas variam do Eoceno
A Seqüência E80-N30 tem seu limite inferior (44 Ma, na área do “Alto do Ceará”) ao Oligoceno
definido pela discordância do Oligoceno superior (DOS), (32 Ma, na área do “Alto de Fortaleza”). Na área
um importante evento erosivo presente em toda a emersa do Alto de Fortaleza, intrusões fonolíticas
bacia. Representa a continuação da sedimentação dos referidas na literatura como “Magmatismo
sistemas deposicionais progradantes carbonáticos e Mecejana” são datadas entre 26 e 34 Ma (Mizusaki
siliciclásticos das formações Tibau e Guamaré (Seqüên- et al. 2001). Entretanto, análises recentes pelo mé-
cia E40-E70), bem como a deposição de grandes vo- todo 40Ar/39Ar indicam idades mais novas, entre 30 e
lumes de areia na parte de águas profundas da bacia. 34 Ma, para as mesmas rochas (Souza et al. 2004).
Este magmatismo é contemporâneo a um importan-
Seqüência N40-N50 te pulso do “Magmatismo Macau” da Bacia Poti-
guar, no Neo-oligoceno (Almeida et al. 1988;
Mizusaki et al. 2001). Localmente, próximo ao Cam-
A Seqüência N40-N50 é limitada na base por po de Xaréu, um diabásio forneceu idade K-Ar em
uma importante discordância erosiva regional de idade torno de 83 Ma, podendo estar relacionado ao “Mag-
eomiocênica (discordância do Mioceno – DMI), forte- matismo Cuó”, restrito à Bacia Potiguar e ativo no
mente atuante na bacia, reconhecida ao longo de toda intervalo Santoniano-Turoniano.
a Bacia do Ceará, bem como na vizinha Bacia Potiguar
(Pessoa Neto, 1999). A partir do Mioceno superior ob-
serva-se uma notável mudança na geometria deposicio-
nal da bacia, de progradacional para eminentemente
agradacional. Litologicamente, a Seqüência N40-N50
caracteriza-se pela implantação de uma plataforma mista
agradecimentos
dominada por sedimentação litorânea, dominantemen-
te siliciclástica na porção interna, passando lateralmente Os autores agradecem a valiosa colaboração
para carbonatos de alta energia na porção externa e de Marta Claudia Viviers, Enio Rossetti, Simone Cos-
pelitos de talude e bacia (Morais Neto et al. 2003). A ta, Rogério Antunes, Claudia Queiroz e Pedro Zalán,
Seqüência N40-N50 também compreende os sedimen- pelas contribuições técnicas, e a Leila Pezzin pela
tos clásticos da Formação Barreiras, que repousa sobre o colaboração na edição da carta. Agradecemos tam-
embasamento cristalino e interdigita-se com os sedimen- bém aos diversos exploracionistas que trabalharam na
tos da Formação Tibau nas porções proximais da bacia. bacia ao longo dos últimos 30 anos, cujas interpreta-
ções e idéias estão, de algum modo, incorporadas ao
atual estágio de conhecimento da Bacia do Ceará.
Seqüencia N60
É representada por coberturas aluvionares e sedi-
mentos eólicos costeiros sotopostos à Formação Barreiros,
correlatos à Formação Potengi na Bacia Potiguar.

352 | Bacia do Ceará - Condé et al.


referências REGALI, M. S. P. Primeiros registros da transgressão
neoaptiana na margem equatorial brasileira. In: CON-

bibliográficas GRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA, 11., 1989,


Curitiba, Anais do... Rio de Janeiro: Sociedade Brasi-
leira de Paleontologia, 1989. v. 1, p. 275-293.
ALMEIDA, F. F. M.; CARNEIRO, C. D. R.; MACHADO
JR., D. L.; DEHIRA, L. K. Magmatismo pós-paleozóico SILVA, A. C. Considerações sobre o Quaternário do
no nordeste oriental do Brasil. Revista Brasileira de Rio Grande do Norte. Arquivo do Instituto de An-
Geociências, São Paulo, v. 18, n. 4, p. 451-462, 1988. tropologia, Natal, v. 2, n. 1-2, p. 275-301, mar. 1966.

BELTRAMI, C. V.; ALVES, L. E. M.; FEIJÓ, F. J. Bacia SOUZA, S. M. Atualização da litoestratigrafia da Bacia
do Ceará. Boletim de Geociências da Petrobras, Potiguar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 117-125, jan./mar. 1994. 32., 1982, Salvador, Anais do... São Paulo: Sociedade
Brasileira de Geologia, 1982. v. 5, p. 2392-2406.
HASHIMOTO, A. T.; APPI, C. J.; SOLDAN, A. L.;
CERQUEIRA, J. R. O Neo-Alagoas nas bacias do Cea- SOUZA, Z. S.; VASCONCELOS, P. M.; NASCIMEN-
rá, Araripe e Potiguar (Brasil): caracterização estrati- TO, M. A. L.; SILVEIRA, F. V.; PAIVA, H. S.; SILVEIRA
gráfica e paleoambiental. Revista Brasileira de DIAS, L. G.; VIEGAS, M. C. D.; GALINDO, A. C.;
Geociências, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 116-121, 1987. OLIVEIRA, M. J. R.; Geocronologia e geoquímica do
magmatismo cretácico a terciário do NE do Brasil. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 42., 2004,
LANA, C. C.; ROESNER, E. H. Biocronoestratigrafia Araxá, Resumos. Minas Gerais: Sociedade Brasileira
de dinoflagelados da seção cretácea marinha das de Geologia, 2004. 1 CD-ROM.
bacias do Ceará e Potiguar, Margem Equatorial Bra-
sileira. In: SIMPÓSIO SOBRE O CRETÁCEO DO BRA-
SIL, 6., São Pedro. Boletim. Rio Claro: Universidade
Estadual Paulista, 2002. p. 239-245.
bibliografia
MIZUSAKI, A. M. P.; THOMAZ FILHO, A.; MILANI,
E. J.; CÉSERO, P. Mesozoic and cenozoic igneous
activity and its tectonic control in the northeastern MATOS, R. M. D.; WAICK, R. N.; PIMENTEL, V. P. C.
region of Brazil, South America. Journal of South Bacia do Ceará (Mundaú): uma fase rift não conven-
America Earth Sciences, Oxford, v. 15, p. 183- cional? In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
198. 2001. 39., 1996, Salvador, Anais do... São Paulo: Socieda-
de Brasileira de Geologia, 1996. v. 5, p. 358-362.
MORAIS NETO, J. M.; PESSOA NETO, O. C.; LANA.
C. C.; ZALÁN. P. V. Bacias sedimentares brasileiras:
Bacia do Ceará. Phoenix, Aracaju, v. 57, p. 1-6, 2003.

PESSOA NETO, O. C. Análise estratigráfica inte-


grada da plataforma mista (siliciclástica-carboná-
tica) do Neogeno da Bacia Potiguar, Nordeste do
Brasil. 1999. 220 p. Tese (Mestrado) – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999.

REGALI, M. S. P. Palinoestratigrafia da Bacia do Cea-


rá. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 31.,
1980, Camboriú. Anais do... São Paulo: Sociedade
Brasileira de Geologia, 1980. v. 5, p. 2161-2172.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 347-355, maio/nov. 2007 | 353


BACIA DO CEARÁ VALÉRIA CERQUEIRA CONDÉ et al.

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

1550
EO ZAN C LE AN O
NEÓGENO

M E S S I N I AN O
NEO
10 T O R T O N IA N O

S E R R AVAL IA N O MIOCENO
MESO
LAN G H I AN O

820
B U R D I GAL IA N O
20 EO
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O


MARINHO REGRESSIVO

30 OLIGOC. SUP
EO R U P E L IA N O

NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó GE N O

800
BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

50 EOCENO MED.
EO Y P R E S I AN O
PALEOCENO

300
T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O
INTERNA MAAST. SUP

70 BASE MAASTRICHTIANO
( SE NO NIAN O)

510
MARINHO TRANGRESSIVO

CAM PA N IAN O

80
NEO

CAMPANIANO

295
SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U R O N I AN O
TURONIANO
250
C E N O MA N IA N O
CENOMANIANO MÉDIO
199
CRETÁCEO

100 ALBO-CENOMANIANO 230


AL B I AN O MARINHO INTERNA DO ALBIANO

PLATAFORMA 375
(G ÁLI CO )

110
FLUVIO BASE DO ALBIANO
PARACURU TRAIRI 1018
DELTAICO
CONT.

ALAGOAS
APTIANO FLUVIO-LACUSTRE
120 LEQUES ALUVIAIS MUNDAÚ 2423
EO

JIQUIÁ
BARRE- BURACICA
MIANO
130
ARAT U
( NE OC O MIANO )

HAUTE-
RIVIANO

VALAN-
GINIANO RIO
140 DA
SERRA
BERRIA-
SIANO

DOM
TITHO- JOÃO
NIANO
150
542
EM BASAME NTO

354 | Bacia do Ceará - Condé et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 347-355, maio/nov. 2007 | 355
Bacia Potiguar

Otaviano da Cruz Pessoa Neto1, Ubiraci Manoel Soares2, José Gedson Fernandes da Silva3,

Eduardo Henrique Roesner3, Cláudio Pires Florencio3, Carlos Augusto Valentin de Souza2

Palavras-chave: Bacia Potiguar l Estratigrafia l carta estratigráfica


Keywords: Potiguar Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução A Superseqüência Rifte é representada pe-


los depósitos flúvio-deltaicos e lacustres das For-
mações Pendência e Pescada (Berriasiano/Eo-
A Bacia Potiguar localiza-se no extremo leste Aptiano). A Superseqüência Pós-rifte é caracteri-
da Margem Equatorial Brasileira, compreendendo um zada pela deposição de uma Seqüência flúvio-
segmento emerso e outro submerso. Distribui-se em deltaica, com os primeiros registros de ingressão
sua maior parte no Estado do Rio Grande do Norte e, marinha (Formação Alagamar). A Superseqüên-
parcialmente, no Estado do Ceará. Geologicamen- cia Drifte é caracterizada por uma seqüência
te, é limitada a sul, leste e oeste pelo embasamento flúvio-marinha transgressiva (Formações Açu, Pon-
cristalino, estendendo-se a bacia marinha para norte ta do Mel, Quebradas, Jandaíra e Ubarana),
até a isóbata de 2.000 m. O Alto de Fortaleza define recoberta por uma seqüência clástica e
seu limite oeste com a Bacia do Ceará, enquanto carbonática regressiva (Formações Ubarana, Tibau
que o Alto de Touros define seu limite leste. A bacia e Guamaré). Rochas vulcânicas associadas à For-
abrange uma área de aproximadamente 48.000 km2, mação Macau foram depositadas entre o Eoceno
sendo que 21.500 km2 (45%) encontram-se emersos e o Oligoceno na bacia.
e 26.500 km2 (55%) submersos. O preenchimento sedimentar da Bacia Poti-
O registro estratigráfico inclui três superseqüên- guar está intimamente relacionado com as diferen-
cias: uma Superseqüência Rifte, depositada no Cretá- tes fases de sua evolução tectônica: duas fases de
ceo Inferior; uma Superseqüência Pós-rifte, deposita- rifteamento (Rifte I e Rifte II), cujo registro estratigrá-
da durante o Andar Alagoas; e uma Superseqüência fico é correspondente ao conjunto de seqüências
Drifte, depositada entre o Albiano e o Recente. continentais que compõem a Superseqüência Rifte;

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação
e-mail: otaviano@petrobras.com.br
2
Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará/Exploração/Avaliação de Blocos
e Interpretação Geológica e Geofísica
3
Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 357


uma fase aqui denominada pós-Rifte, que corresponde longamento do rifte emerso na direção NE, sendo
a Superseqüência do mesmo nome, e a fase Termal pouco amostrada por poços devido à grande pro-
constituída pelos conjuntos de seqüências marinhas fundidade dos mesmos. No entanto, a correlação
transgressivas e regressivas, que compõem a Super- com as seqüências identificadas no rifte emerso
seqüência Drifte. torna-se bastante complexa devido às bruscas vari-
ações de fácies e à baixa resolução dos métodos
de datação bioestratigráfica.
A fase Rifte II (Neobarremiano/Eo-Aptiano) é

Superseqüência Rifte caracterizada pela implantação do regime transcorren-


te/transformante ao longo da futura margem equatorial,
causando uma grande mudança na cinemática do rifte.
Na Bacia Potiguar, este evento provoca um desloca-
Seqüências continentais K10 mento do eixo de rifteamento para a porção submersa
a K40 da bacia, ao mesmo tempo em que causa levanta-
mento e erosão na porção emersa, que se comporta
como uma ombreira do novo rifte. A direção de trans-
Correspondem ao preenchimento da bacia
porte tectônico muda de NNW para E-W, com movi-
durante as fases Rifte I e Rifte-II. A fase Rifte I (Neo-
mentos predominantemente transtensionais destrais, em
berriasiano/Eobarremiano) é caracterizada por um
resposta ao início do processo de deriva continental. O
regime tectônico de estiramento crustal, com altas
registro dessa fase na Bacia Potiguar é restrito à porção
taxas de subsidência mecânica do embasamento.
submersa, sendo dado pelas Seqüências K38 (Barre-
Nesta fase se desenvolvem falhas com até 5.000 m
miano Superior) e K40 (Aptiano Inferior).
de rejeito, preferencialmente normais, definindo
A Seqüência K38 encontra-se preservada na por-
meio-grábens assimétricos e altos internos de dire-
ção submersa da bacia, tendo sido amostrada por po-
ção geral NE-SW. Essas calhas tectônicas foram pre-
ços em grábens isolados sobre a plataforma de Aracati
enchidas pelos depósitos lacustrinos, fluvio-deltaicos
e fandeltaicos que constituem a Formação Pendên- (Grábens de Jacaúna, Massejana e Fortaleza), bem
cia. Quatro seqüências deposicionais de terceira or- como nos depocentros relacionados às falhas de Macau
dem foram individualizadas nesta seção (Della e Ubarana. Litoestratigraficamente, a Seqüência K40
Fávera et al. 1994), aqui denominadas de K10, K20, constitui a parte mais superior da Formação Pendên-
K34 e K36. Nas duas seqüências mais basais (K10 e cia, sendo constituída por arenitos grossos e pelitos de
K20) predomina uma sedimentação lacustre com um sistema flúvio-deltaico-lacustrino.
fluxos gravitacionais de arenitos e fanglomerados, A Seqüência K40 é constituída por uma cu-
alimentados por sistemas deltaicos e de leques nha clástica sintectônica, reconhecida inicialmen-
aluviais/fandeltas, provenientes da margem flexural te no bloco baixo da Falha de Pescada, cuja ativi-
e da margem falhada. Estimam-se valores de taxa dade está geneticamente relacionada a um au-
de sedimentação entre 400 e 500 m/Ma nos mento da taxa de subsidência no final da fase de
depocentros da Seqüência K20. Nas duas seqüên- rifteamento da bacia. O sistema de falhas de Pes-
cias mais superiores (K34 e K36), a sedimentação é cada possui direção geral WNW-ESE e constitui o
predominantemente flúvio-deltaica progradante, limite proximal de ocorrência desta seqüência. O
com contribuição de sistemas deposicionais axiais preenchimento sedimentar é dado por sistemas
(SW-NE) e provenientes da margem flexural (NW- deposicionais continentais, dominados por leques
SE) da calha tectônica. A contribuição da margem aluviais e sistemas fluviais de alta energia, com
falhada consiste de leques fandeltaicos empilhados, bancos carbonáticos restritos. A esta seção de ro-
com pouca expressão lateral. Nessas seqüências, a chas corresponde à unidade litoestratigráfica de-
taxa de sedimentação apresenta uma tendência de nominada Formação Pescada.
crescimento em direção ao topo da seção rifte, com A partir do Neo-aptiano inicia-se a deposição
valores que variam entre 150 m/Ma na Seqüência da megasseqüência proto-oceânica sobre uma forte
K34 até 600 m/Ma na Seqüência K36. discordância angular (mais evidente na porção emer-
A ocorrência de sedimentos da fase Rifte I sa), em resposta ao início de uma subsidência termal
na porção submersa da bacia está restrita ao pro- lenta e generalizada: a Seqüência K50.

358 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al.


Superseqüência Pós- Superseqüência Drifte
Rifte K50 K60 a N50
O intervalo Aptiano – Albiano na Bacia Po- Esta superseqüência compreende toda a sedi-
tiguar é marcado pela passagem gradativa de sis- mentação marinha ocorrida a partir do Albiano Inferior.
temas deposicionais continentais para marinhos. Ela pode ser dividida em dois conjuntos de seqüências:
O regime tectônico dominante nesta fase é mar- as Seqüências Marinhas Transgressivas, de idade
cado por subsidência térmica que sucede ao evento Eoalbiano – Eocampaniano, e as Seqüências Marinhas
de afinamento litosférico e crustal (fase Rifte), aqui Regressivas, de idade Neocampaniano – Holoceno.
denomindada de fase Pós-rifte.
A sedimentação desta fase é dominada por
sistemas deposicionais flúvio-lacustres, cujos de- Seqüências Marinhas
pósitos encontram-se assentados diretamente so-
bre uma forte discordância angular no topo da
Transgressivas K60 a K90
seção rifte. O registro litológico dessa seqüência é
representado pelos sedimentos transicionais da For- Nesta fase, a bacia experimenta taxas mais
mação Alagamar, depositados em regime modestas de subsidência, com o depocentro princi-
tectônico de relativa quietude que caracteriza essa pal formando uma grande calha fluvial de orienta-
fase. No entanto, em algumas porções dos grábens ção geral NE-SW. Esse sistema passava
de Boa Vista e Guamaré, conglomerados de le- gradativamente em direção ao mar para uma
ques aluviais e fandeltas associados com sedimen- platafoma rasa siliciclástica a mista, com a implanta-
tação fluvial de granulometria grossa com forte ção de sedimentação carbonática de borda de plata-
controle tectônico, sugerem que algumas falhas forma e um sistema de talude/bacia marcado pela
herdadas da fase rifte continuaram ativas durante formação de cânions submarinos com sedimentação
o Neo-aptiano. turbidítica associada. Os cânions de Pescada e
A Seqüência K50 é constituída por um tra- Ubarana, escavados neste período, foram preenchi-
to de sistemas deposicionais francamente trans- dos dominantemente por folhelhos de talude, inter-
gressivo, marcado pelo afogamento gradativo de calados com camadas de turbiditos, diamictitos e
sistemas fandeltaicos e flúvio-deltaicos (membros olistolitos carbonáticos.
Canto do Amaro e Upanema) pelos folhelhos O sistema foi gradativamente afogado pela
transicionais do Membro Galinhos. O evento de grande transgressão do Neocretáceo, resultando em
máxima transgressão ocorre sobreposto a um in- empilhamento vertical de sistemas fluviais, com sis-
tervalo de rochas constituído por folhelhos pretos temas entrelaçados na base, passando a meandrantes
e calcilutitos ostracoidais, amplamente distribuí- grossos, meandrantes finos e estuarinos no topo. O
do na bacia, denominado de Camadas Ponta do afogamento máximo dos sistemas fluviais ocorre no
Tubarão (CPT). Essas rochas são interpretadas Eoturoniano, dando lugar à implantação de extensa
como o primeiro registro de ingressão marinha plataforma/rampa carbonática dominada por maré,
na bacia e depositadas em ambiente lagunar res- formada na transição para as seqüências regressivas.
trito (sabkha) durante um período de clima ári- As Seqüências Transgressivas K60 a K90 que re-
do. Dados geoquímicos e bioestratigráficos (pre- gistram este período têm início com a deposição da
sença de dinoflagelados) corroboram a hipótese seção fluvial a marinha representada pelos sedimentos
de que a primeira incursão marinha na bacia ocor- siliciclásticos proximais (Formação Açu) e marinhos dis-
reu nesta idade. tais (Formação Quebradas), bem como pelos depósitos
A partir do Albiano, o regime tectônico atu- carbonáticos marinhos rasos (Formação Ponta do Mel).
ante é dominado por subsidência térmica e deriva Na porção emersa, as discordâncias limítrofes
continental. O ambiente deposicional é marinho das Seqüências K60, K70 e K84 coincidem, respectiva-
raso, com a formação incipiente de sistema de pla- mente, com os limites das unidades de correlação infor-
taforma-talude e bacia. Tem início a sedimenta- mais denominadas Açu-1, Açu-2 e Açu-3 (Vasconcelos
ção da seqüência marinha. et al. 1990) da Formação Açu. Por outro lado, na por-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 359


ção submersa, a discordância limítrofe da Seqüência
K70 coincide com o topo da Formação Ponta do Mel.
Seqüências Marinhas
O máximo transgressivo dessa seqüência ocor- Regressivas K100-E10 a N60
reu na passagem Cenomaniano - Turoniano, sendo
marcado pela deposição de uma seção de folhelhos A partir de um evento erosivo de grande magni-
contínuos na porção submersa da bacia e pelo afo- tude durante o Neocampaniano, ocorre um grande ci-
gamento dos sistemas fluviais e estuarinos na porção clo de seqüências regressivas que se estende até o
emersa. Segue-se a implantação de uma platafor- Holoceno. Um evento transgressivo importante foi re-
ma/rampa carbonática dominada por maré (Forma- gistrado na base deste ciclo, representado por uma
ção Jandaíra), cujos sedimentos mais novos apresen- seção condensada conhecida como Marco Radioativo,
tam idade eocampaniana. As rochas carbonáticas
de idade neocampaniana, que se encontra assentado
da Formação Jandaíra afloram em praticamente toda
diretamente sobre o limite basal da megasseqüência.
a porção emersa da Bacia Potiguar, onde se encon-
Dentro deste ciclo regressivo foram individua-
tra intensamente erodida e carstificada, e mergulha
lizadas pelo menos sete seqüências deposicionais,
com baixa inclinação em direção ao Oceano Atlânti-
limitadas por eventos erosivos regionais. Essas se-
co. A espessura é variável desde algumas dezenas
qüências estão preservadas quase exclusivamente na
de metros na porção oeste da bacia, atingindo um
porção submersa da bacia, em especial aquela do
valor máximo da ordem de 600 m na porção da pla-
Cretáceo Superior e Paleógeno (K100-E10). Os úni-
taforma interna atual, passando a zero em direção a
cos registros aflorantes dessas seqüências na porção
água profunda por efeito de erosão ou condensação.
emersa ocorrem sob a forma de depósitos de leques
O limite do pacote carbonático da Formação
costeiros proximais de idade miocênica.
Jandaíra com os arenitos da Formação Açu sotopos-
As Seqüências Regressivas (K100-E10 a N60)
tos é concordante e representa a superfície de inun-
representam o registro estratigráfico na bacia entre o
dação máxima do Cretáceo Superior na bacia. Os
Neocampaniano e os dias atuais. Caracterizam-se por
depósitos deste trato de sistemas deposicionais trans-
gressivo são caracterizados por folhelhos de ambien- sistemas mistos compostos por leques costeiros, siste-
te nerítico médio a batial, na porção submersa da mas de plataformas rasas com borda carbonática e sis-
bacia, e sucessões de tidal bundles (ambiente temas de talude/bacia. Os correspondentes litoestrati-
estuarino) e folhelhos marinhos na porção emersa. O gráficos dessas seqüências são as rochas definidas nas
trato de sistemas de mar alto é representado pela formações Barreiras, Tibau, Guamaré e Ubarana.
deposição de carbonatos da Formação Jandaíra. Pelo menos seis seqüências podem ser indivi-
Na porção emersa, a região deste contato dualizadas neste intervalo, limitadas por discordân-
constitui uma expressiva cuesta que se estende por cias bem marcadas em seções sísmicas, quebras nos
todo o Estado do Rio Grande do Norte e parte do perfis elétricos e descontinuidades bioestratigráficas
Estado do Ceará, configurando um relevo em em poços (Soares et al. 2003). A seqüência mais
chapada, conhecida como Chapada do Apodi. antiga, de idade Neocampaniano – Eopaleoceno
O padrão estratal dos sedimentos dessa se- (K100–E10), preserva ainda delgadas relíquias de uma
qüência consiste de estratos com mergulhos suaves plataforma carbonática e, sobretudo, fácies de talu-
e clinoformas sigmoidais típicas de bacias de mar- de e bacia. Sotopostos a essas fácies mais distais
gem em rampa. ocorrem olistolitos carbonáticos das Seqüências K88
Dentro do pacote carbonático é possível indivi- e K90, escorregados e depositados na base do talu-
dualizar duas seqüências deposicionais. Uma seqüência de, por efeito de colapso da borda da plataforma
correspondente ao intervalo Neoturoniano - Eosantoniano após a importante erosão do Neocampaniano.
(K88) e que tem o limite basal marcado por evidente Uma seqüência intermediária, de idade
quebra nos perfis de poços e bruscas mudanças Neopaleoceno – Eomioceno, está representada em
ambientais identificada nas associações bioestratigráfi- quase toda a bacia por uma cunha sedimentar com-
cas. Constitui-se por grainstones bioclásticos e oolíticos posta de relíquias de uma plataforma carbonática, fácies
na porção proximal e por wackestones e mudstones na de talude e bacia, limitada no topo por outro importan-
porção distal. A última seqüência, que corresponde ao te evento erosivo, datado como de idade Eomioceno.
intervalo Neo-santoniano – Eocampaniano (K90) é ca- O padrão estratal dessas seqüências é variá-
racterizada pelo total domínio da sedimentação carbo- vel e apresenta duas geometrias distintas. As Seqüên-
nática na bacia, inclusive na porção proximal. cias Basais (E20 a N10) apresentam clinoformas mais

360 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al.


oblíquas com quebras de plataformas mais abruptas na, apresentando idades radiométricas (Ar-Ar) com
e bem definidas, mostrando um evidente domínio idade de 93,1 ± 0,8 Ma (Souza et al. 2004).
de feições progradacionais, com predomínio de O evento magmático conhecido como Forma-
fácies de talude da Formação Ubarana. Na porção ção Macau ocorre intercalado aos sedimentos da
mais profunda ocorrem turbiditos intercalados com seqüência regressiva e no embasamento adjacente
folhelhos de talude e derrames vulcânicos terciários à bacia, sendo datados pulsos no Eoceno/Oligoceno
(basaltos da Formação Macau na área do Cânion de com idades distribuídas entre 70-65 e 9-6 Ma, com
Agulha). As Seqüências N20 a N50 apresentam pa- picos entre 48,9 ± 2,9 e 31,4 ± 1,5 Ma. As rochas
drão dominantemente agradacional, com a preser- magmáticas são principalmente basaltos que ocor-
vação de sedimentos de plataforma mista rasa das rem sob diversas formas no Alinhamento Macau –
formações Tibau e Guamaré (Pessoa Neto, 1999). Queimadas (AMQ), predominando, em termos de área
A Seqüência N60 é formada por sedimentos
aflorante, derrames com pico de idades Ar-Ar entre
aluviais provenientes dos rios Açu e Mossoró, na por-
27 e 22 Ma. Um pulso mais novo no Mioceno com
ção proximal, sedimentos de praia e dunas na região
idade mínima de 14,7 ± 0,9 Ma é datado com base
costeira, sedimentos siliciclásticos intercalados com
em relações estratigráficas em poços na porção sub-
sedimentos bioclásticos de plataforma externa e sedi-
mersa da bacia (Pessoa Neto, 1999). A espessura
mentos finos no talude e bacia profunda.
total desses derrames de olivina-basalto atinge até
O limite externo abrupto da borda da plata-
forma dessas seqüências é de origem provavelmen- 1.500 m na região dos cânions de Agulha e Ubarana,
te tectônica, controlada pela reativação tardia de evidenciando a grande magnitude desse evento. A
falhas antigas ancoradas no embasamento. origem desse vulcanismo pode estar associada à pas-
Os sedimentos conglomeráticos imaturos da sagem da margem equatorial sobre o hot spot de
Formação Serra do Martins, que ocorrem sobre platôs Fernando de Noronha ou ainda estar relacionado à
do embasamento ao sul da Bacia Potiguar, são inter- colocação de magmas em zonas de alívio, a partir
pretados como parte desse evento regressivo, deposi- de ajustes tectônicos intraplaca.
tados na porção mais continental do mesmo. O cres-
cente influxo de terrígenos na plataforma do siste-
ma Barreiras-Tibau-Guamaré, durante o Mioceno,
deve-se a um acentuado incremento da erosão do
relevo pós-cretáceo da província Borborema.
referências
bibliográficas
magmatismo ARARIPE, P. T.; FEIJÓ, F. J. Bacia Potiguar. Boletim de
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
Três eventos magmáticos principais são iden- p. 127-141, jan./mar. 1994.
tificados na Bacia Potiguar: Rio Ceará Mirim, Cuó e
Macau. O evento magmático conhecido como For- DELLA FÁVERA, J. C.; CASTRO, J. C.; SOARES, U. M.;
mação Rio Ceará Mirim ocorre na forma de diques
ROSSETTI, E. L.; MATSUDA, N.; HASHIMOTO, A. T.;
de diabásio com forte orientação E-W no embasa-
GUSSO, J.; RODRIGUES, R.; AZAMBUJA, N. C.; ALVES,
mento adjacente à borda sul da Bacia Potiguar. Este
D. B. Estratigrafia de Seqüências da Formação Pen-
enxame de diques está relacionado à gênese do rifte,
dência, Bacia Potiguar. In: SIMPÓSIO SOBRE O
datado com base nos dados 40Ar/39Ar, com pulso em
CRETÁCEO DO BRASIL, 3., Rio Claro. Boletim. Rio
132,2 ± 1 Ma. A ocorrência de rochas vulcanoclásti-
Claro: Universidade Estadual Paulista, 1994. p. 35.
cas intercaladas aos sedimentos da porção basal da
Formação Pendência, na porção emersa da bacia,
também é correlacionada com este evento. PESSOA NETO, O. C. Análise estratigráfica integra-
O evento magmático conhecido como Forma- da da plataforma mista (siliciclástica-carbonática)
ção Serra do Cuó, definido com base em afloramento do Neogeno da Bacia Potiguar, Nordeste do Bra-
localizado na borda sul da Bacia Potiguar, ocorre na sil. 1999. 220 p. Tese (Mestrado) – Universidade Fe-
forma de derrames de basalto com tendência alcali- deral do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,1999.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 361


SOARES, U. M., ROSSETTI, E. L.; CASSAB, R. C. T.
Bacias sedimentares brasileiras: Bacia Potiguar.
Aracajú: Fundação Paleontológica Phoenix, 2003. (Sé-
rie Bacias Sedimentares, ano 6, n. 36).

SOUZA, S. M. Atualização da litoestratigrafia da Bacia


Potiguar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
32., 1982, Salvador. Anais. São Paulo: Sociedade Bra-
sileira de Geologia, 1982, v. 5, p. 2392-2406.

SOUZA, Z. S.; VASCONCELOS, P. M.; NASCIMEN-


TO, M. A. L.; SILVEIRA, F. V.; PAIVA, H. S.; SILVEIRA
DIAS, L. G.; VIEGAS, M. C. D.; GALINDO, A. C.;
OLIVEIRA, M. J. R. Geocronologia e geoquímica do
magmatismo cretácico a terciário do NE do Brasil. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 42. 2004,
Araxá. Resumos. Minas Gerais: Sociedade Brasileira
de Geologia, 2004. 1 CD-ROM.

VASCONCELOS, E. P.; LIMA NETO, F. F.; ROOS, S.


Unidades de correlação da Formação Açu – Bacia
Potiguar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
36. 1990, Natal. Anais. São Paulo: Sociedade Brasi-
leira de Geologia, 1990. v.1, p. 227-240.

362 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al.


apêndice: 1495 / 2195 m, perfazendo um total de 700 m
de seção predominantemente siliciclástica
litoestratigrafia pelítica (fig.1).
• litologia: A composição litológica dominante
desta unidade é de margas, calcilutitos e fo-
Desde a última revisão estratigráfica realiza-
lhelhos de talude/bacia, com turbiditos e
da na Bacia Potiguar (Araripe & Feijó, 1994), algu-
olistolitos carbonáticos intercalados.
mas unidades informais foram incorporadas à colu-
na estratigráfica da bacia, em função de novos da- • distribuição: Esta unidade é inteiramente res-
dos de poços perfurados, tanto na porção emersa trita à porção submersa da Bacia Potiguar e
quanto na porção submersa. Em função destes no-
vos dados, três novas unidades litoestratigráficas são
propostas para a bacia, e uma quarta é redefinida.

Redefinição do Membro Porto


do Mangue da Formação
Quebradas (Grupo Apodi)
A Formação Quebradas foi definida por Sou-
za (1982) como membro da Formação Ubarana e
elevada à categoria de formação por Araripe e Feijó
(1994), incluindo o Membro Redonda, definido para
designar os depósitos arenosos distais da Formação
Açu, e o Membro Porto do Mangue, definido para
designar espessas camadas de folhelhos que afogam
o sistema fluvial da Formação Açu. Propõe-se aqui a
redefinição deste membro como correspondente ao
pacote de rochas que compreende os depósitos dis-
tais de todas as unidades marinhas transgressivas (for-
mações Açu, Ponta do Mel e Jandaíra).
• nome: O nome Membro Porto do Mangue
deriva do nome da cidade de mesmo nome,
situada a norte do Estado do Rio Grande do
Norte.
• equivalência regional: baseado em dados
bioestratigráficos e cronogeológicos, bem
como correlações estratigráficas regionais, esta
unidade pode ser correlacionada com o Mem-
bro Uruburetama da Formação Ubarana, na
Bacia do Ceará.
• seção tipo: O Membro Porto do Mangue
ocorre apenas em subsuperfície e está defi-
nida no poço de extensão Rio Grande do Norte
Submarino 61 (4-RNS-61; 40 58’ 51,87" S e
360 23’ 32,67" W), perfurado em 1984, ten-
do atingido a profundidade máxima de 2632 Figura 1 – Perfil-tipo do Membro Porto Figure 1 – Porto do Mangue Member
do Mangue. reference section.
(-2609 m). Ocorre entre as profundidades de

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 363


ocorre tanto preenchendo cânions quanto na
região de talude/bacia das citadas formações.
• contatos e relações estratais: Os sedimen-
tos do Membro Porto do Mangue depositam-
se discordantemente sobre os sedimentos da
Formação Alagamar. O contato superior é dis-
cordante com os folhelhos da Formação
Ubarana.
• idade: O Membro Porto do Mangue foi de-
positado – com base em datações pelos mé-
todos bioestratigráficos – entre o Eo-albiano e
o Eocampaniano.

Membro Lagoa do Queimado


da Formação Pendência
(Grupo Areia Branca)
Unidade litoestratigráfica proposta por Francis-
co Fontes Lima Neto (2007, comunicação verbal) com
hierarquia de formação para designar os depósitos de
leques aluviais e fandeltas associados às falhas de bor-
da do rifte Potiguar. Propõe-se aqui a sua formalização
como membro da Formação Pendência.
• nome: O nome Membro Lagoa do Queimado
deriva do poço 1-LQ-1-RN (Lagoa do Queima-
do, no.1), onde estes depósitos foram
amostrados e descritos. A denominação do
poço teve como origem uma importante la-
goa de mesmo nome, situada no município
de Pendências, no Estado do Rio Grande do
Norte.
• equivalência regional: estes depósitos po-
dem ser comparados, estratigráfica e
sedimentologicamente, aos fandeltas e le-
ques aluviais da Formação Salvador, na Ba-
cia do Recôncavo.
• seção tipo: O Membro Lagoa do Queimado
ocorre apenas em subsuperfície e está defini-
da no poço (1-LQ-1-RN; 50 15’ 24,10" S e 360
36’ 52,82" W), perfurado em 1980, tendo
atingido a profundidade máxima de 1235 m
(– 1190 m). Ocorre entre as profundidades de
870 a 1235 m, perfazendo 365 m de seção
predominantemente siliciclástica grossa (fig.2).
Figura 2 – Perfil-tipo do Membro Lagoa Figure 2 – Lagoa do Queimado Member
do Queimado. reference section.

364 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al.


• litologia: A composição litológica dominan-
te desta unidade é de conglomerados polimí-
Membro Canto do Amaro da
ticos, arenitos grossos a conglomeráticos ima- Formação Alagamar (Grupo
turos e feldspáticos com líticos.
• distribuição: Os depósitos correspondentes
Areia Branca)
a esta unidade ocorrem principalmente nas
bordas falhadas do rifte, principalmente nas Unidade litoestratigráfica aqui proposta para
áreas dos grabens de Guamaré, Umbuzeiro e designar os depósitos fandeltaicos e fluviais entrela-
Apodi, com ocorrências menos expressivas na çados que ocorrem na base da Formação Alagamar.
porção NE do Graben de Boa Vista. • nome: a designação Canto do Amaro provém
• contatos e relações estratais: Os sedimentos do povoado localizado 24 quilômetros a nor-
grossos do Membro Lagoa do Queimado deposi- deste da cidade de Mossoró, Estado do Rio
tam-se lateralmente e intercalados aos sedimen- Grande do Norte, topônimo previamente ado-
tos pelíticos e arenosos lacustres da Fm. Pendên- tado para nomear um campo produtor de pe-
cia. O contato superior é discordante com os se- tróleo na Formação Açu e em reservatórios
dimentos fluviodeltaicos da Formação Alagamar. da unidade aqui formalizada.
• idade: O Membro Lagoa do Queimado foi • equivalência regional: considerando-se as
depositado, com base em datações pelos características litológicas, faciológicas e o con-
métodos bioestratigráficos palinologia e texto tectônico, o Membro Canto do Amaro é
ostracodes não-marinhos, durante o Eocretá- homotáxico ao Membro Carmópolis da Forma-
ceo (Berriasiano a Barremiano). ção Maceió, na Bacia de Sergipe.

Figura 3 – Perfil-tipo do Membro Canto do Amaro. Figure 3 – Canto do Amaro Member reference section.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 365


• seção tipo: o Membro Canto do Amaro ocor- • equivalência regional: baseado em dados
re apenas em subsuperfície e está definido no bioestratigráficos e cronogeológicos, bem
poço Canto do Amaro n°830 (3-CAM-830-RN; como correlações estratigráficas regionais, esta
5° 08’ 29’’ S e 37°09’14’’ W), perfurado em unidade pode ser correlacionada com o Mem-
2002, tendo atingido a profundidade máxima bro Morro do Chaves da Formação Coqueiro,
de 1426 m (-1338m). Este poço de extensão nas bacias de Sergipe e Alagoas.
descobriu jazida mais profunda de óleo em • seção tipo: O Membro Cristóvão ocorre ape-
reservatórios desta unidade. Ocorre entre as nas em subsuperfície e está definida no poço
profundidades de 1322 a 1383 m, perfazendo explotatório Ubarana Submarino 47 (7-UB-47-
um total de 61 metros de seção predominan- RNS; 40 56’ 3,670" S e 360 21’ 41,329" W),
temente conglomerática (fig.3). perfurado em 1981, tendo atingido a profun-
• litologia: a composição litológica dominante didade máxima de 2612 (-2584 m). Ocorre
desta unidade é de conglomerado polimítico/ entre as profundidades de 2437 a 2486 m,
oligomítico e arenito muito grosso a médio, perfazendo um total de 49 m de seção pre-
com intercalações de arenito médio a muito dominantemente carbonática (fig.4).
fino, capeados por siltito ou folhelho casta- • litologia: depósitos carbonáticos compostos
nho-avermelhado a cinza claro/escuro. de calcarenitos e coquinas a conchas de
• distribuição: Os depósitos correspondentes a bivalves, intercalados com arenitos finos
esta unidade ocorrem com maior expressão bioturbados com fragmentos de bivalves e
no Graben de Boa Vista, no flanco oriental do folhelhos pretos laminados intercalados com
Alto de Mossoró, e em algumas áreas da fa- margas e calcilutitos.
lha de Carnaubais (Guamaré, Palmeira e Fa- • distribuição: Estes depósitos ocorrem na área
zenda Pocinho). do Campo de Ubarana, tendo sido amostra-
• contatos e relações estratais: as rochas dos por diversos poços do mesmo campo, sen-
desta unidade assentam-se em discordância do interpretados como bancos carbonáticos
sobre a Formação Pendência ou sobre restritos, depositados no início de períodos
embasamento. O contato superior/lateral é transgressivos de borda de lago.
interdigitado, gradacional ou abrupto com o • contatos e relações estratais: Os sedimen-
Membro Upanema da Formação Alagamar. tos do Membro Cristóvão depositam-se con-
• idade: com base em análises palinológicas e cordantemente sobre os sedimentos mais in-
ostracodes não-marinhos realizadas em amos- feriores da Formação Pescada. O contato su-
tras de calha e testemunho, a porção superior perior é discordante com os arenitos da base
da unidade tem idade neo-aptiana. da Formação Alagamar. O contato lateral é
interdigitado com os sedimentos siliciclásticos
da Formação Pescada.

Membro Cristóvão da • idade: O Membro Cristóvão foi depositado –


com base em datações pelos métodos bioes-
Formação Pescada (Grupo tratigráficos – durante o Eo-aptiano.

Areia Branca).
Unidade litoestratigráfica proposta para desig-
nar os depósitos carbonáticos lacustres que ocorrem
no topo da Formação Pescada.
• nome: O nome Membro Cristóvão deriva de
uma localidade de mesmo nome, situada na
região costeira do município de Areia Branca,
na porção noroeste do Estado do Rio Grande
do Norte.

366 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al.


Figura 4 – Perfil-tipo do Membro Cristóvão. Figure 4 – Cristóvão Member reference section.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 367


BACIA POTIGUAR OTAVIANO DA CRUZ PESSOA NETO et al.

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

N40 - N50
1000
EO ZAN C LEA N O
NEÓGENO

M E S S I N I AN O
NEO
TOR T ONIAN O
10
S E R R AVAL IA N O MIOCENO SUPERIOR

N20-
850

N30
MESO

GUAMARÉ
LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O

TIBAU
EO MIOCENO INFERIOR

E80 - N10
20
AQ U I TAN IA N O

850
NEO C HAT T IAN O

30 OLIGOCENO SUPERIOR
EO R UPELIAN O

M AC AU

E40 - E70
NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G E NO

1300
BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

GU AM AR É
50
EOCENO MÉDIO

E20 - E30
EO YPRE SIANO

400
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO PALEOCENO SUPERIOR
DAN I AN O

K100 - E10
1250
70
( SEN O NIANO )

CAM PAN IAN O

80 CAMPANIANO SUPERIOR
JANDAÍRA

550
NEO

K90

PORTO DO MANGUE
SAN T O N I AN O
SANTONIANO SUPERIOR
QUEBRADAS

C O N I AC I AN O
90
350 K88
APODI

T U R O N I AN O
TURONIANO SUPERIOR
150 K86
CENOMANIANO SUPERIOR
CRETÁCEO

C E N O MA N IAN O REDONDA
1050
100 CENOMANIANO INFERIOR
630 K70
ALBIANO SUPERIOR
AÇU

600

AL B I AN O
( GÁ LI CO )

K60
110
ALBIANO INFERIOR
GALINHOS
FLUVIAL-
650

K50
ALAGOAS DELTAICO UPANEMA
AREIA BRANCA

APTIANO
1500
EO

120 ALAGOAS SUPERIOR


PESCADA K40
JIQUIÁ ALAGOAS INFERIOR
K38
PENDÊNCIA

BARRE- BURACICA
MIANO
BURACICA INFERIOR K36
6500

130
ARAT U ARATU SUPERIOR
(N EO CO M IAN O)

HAUTE-
RIVIANO K34
RIO DA SERRA SUPERIOR
VALAN-
RIO K20
GINIANO
140 DA
SERRA RIO DA SERRA MÉDIO
BERRIA-
SIANO

DOM
TITHO- JOÃO
NIANO
150
542

368 | Bacia Potiguar - Pessoa Neto et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 357-369, maio/nov. 2007 | 369
Bacia do Araripe

Mario Luis Assine1

Palavras-chave: Bacia do Araripe l Estratigrafia l carta estratigráfica


Keywords: Araripe Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução paleogeográfico diferente, integrado a outras ba-


cias adjacentes. A distribuição geográfica original
de cada uma das diferentes seqüências era muito
Os eventos associados ao rifteamento de Gond- mais ampla, o que é testemunhado por remanes-
wana e à abertura do Atlântico sul atuaram de manei- centes isolados em várias pequenas bacias situa-
ra diferenciada no interior da região Nordeste do Brasil. das entre os lineamentos de Pernambuco e da
A reativação de estruturas antigas do embasamento Paraíba, e na Bacia do Jatobá (Serra Negra), a sul
pré-cambriano teve papel muito importante, do Lineamento de Pernambuco.
condicionando a forma e a localização das bacias in- A Bacia do Araripe destaca-se na geomorfo-
teriores do Nordeste do Brasil, localizadas entre as ba- logia da Região Nordeste do Brasil pela existência
cias Potiguar, do Tucano-Jatobá e do Parnaíba. da Chapada do Araripe, uma feição geomorfológica
Implantada em terrenos precambrianos da alongada na direção EW, de topo plano mergulhante
Zona Transversal da Província Borborema (Brito Ne- suavemente para oeste e limitada por escarpas
ves et al. 2000), a sul do Lineamento de Patos, a erosivas e íngremes (fig. 1). A chapada é formada
Bacia do Araripe é a mais extensa das bacias inte- por unidades das seqüências pós-rifte (Aptiano/Ce-
riores do Nordeste e a que apresenta, dentre elas, nomaniano), cujos estratos apresentam atitude
história geológica mais complexa. Seu arcabouço suborizontal, com leve caimento para oeste. As se-
estratigráfico é constituído por sequências estrati- qüências pós-rifte recobrem em discordância angu-
gráficas, limitadas por discordâncias regionais, que lar unidades das seqüências mais antigas ou repou-
representam o registro fragmentário de embacia- sam diretamente sobre o embasamento cristalino,
mentos gerados em ambientes tectônicos distin- sendo a segunda configuração comum na porção
tos. Cada seqüência foi formada num contexto oeste da bacia.

1
Universidade Estadual Paulista/Instituto de Geociências e Ciências Exatas de Rio Claro/Departamento de Geologia Aplicada
e-mail: assine@rc.unesp.br

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 371


-7º00’ -7º00’
41º00’ 40º30’ 40º00’ 39º30’ Caririaçu 39º00’ 38º30’
Campos Sales


PIA

Á
BACIA DE

AR
VALENÇA

CE
Santana BACIA DE BARRO
do Cariri

D Juazeiro
Crato do Norte Missão
Velha
2-AP-1-CE Q
Q Q Q
B CH Q Barbalha Q E
C AP Q
AD Q
A
PIAUÍ CEARÁ
CH DO
PERNAMBUCO AP
AD AR
A CE AR
AR
DO PE
RN
AM
Á IPE
BU
CO
-7º30’ AR Exu -7º30’
A AR
IP Conceição
E
Á
AR
F

CE
Jardim
Araripina

BU
PERNAM C PAR
A

ÍBA
Bodocó BACIA DE
Cidade CEDRO
Trindade
Divisa interestadual
PE
RNAMBUCO

Escarpa
Ouricuri A
F
Seção geológica BACIA DE
PIAUÍ

SÃO JOSÉ DO
10 km BELMONTE
BACIA DE SOCORRO/
SANTO IGNÁCIO
Serrita

41º00’ 40º00’ 39º30’ 39º00’ 38º30’


-8º00’ -8º00’

Figura 1 - Mapa Geológico da Bacia do Araripe (Assine 1990). Figure 1 – Araripe Basin Geological Map (Assine 1990).

A Bacia do Araripe estende-se também para mentais de Beurlen, muitos outros trabalhos e pro-
leste, para além dos limites atuais da chapada, ocu- postas estratigráficas foram publicados nas últimas
pando a depressão do Vale do Cariri (sub-bacia do quatro décadas, a grande maioria baseada unica-
Cariri) onde afloram unidades das seqüências mente em dados de superfície.
paleozóica, pré-rifte e rifte. Tais unidades não aflo- A moderna concepção da estratigrafia da Ba-
ram na sub-bacia de Feira Nova (fig. 1), que foi des- cia do Araripe foi delineada na década de 80, quan-
coberta por métodos geofísicos e amostrada pelo do a bacia foi objeto de intensa pesquisa visando a
poço 2-AP-1-CE, que atingiu o embasamento crista- avaliação de seu potencial petrolífero. O ponto de
lino na profundidade de 1.498 m (fig. 2). partida foi o levantamento gravimétrico de Rand e
As sub-bacias do Cariri e de Feira Nova são Manso (1984), que mostrou uma bacia com espes-
estruturadas por falhas de direção NE e WNW. Tal sura sedimentar muito maior que os 850 m estima-
estruturação foi conseqüência da propagação conti- dos por Beurlen (1962; 1963). Trabalhos de
nente adentro dos eventos tectônicos relacionados à mapeamento geológico (Ghignone et al. 1986) pro-
fase rifte das bacias da margem atlântica brasileira piciaram grande avanço no conhecimento da
(Assine, 1990; Matos, 1992; Ponte e Ponte Filho, 1996). estratigrafia da bacia, que foi consolidado nos traba-
As bases da litoestratigrafia da bacia foram lhos de Ponte e Appi (1990) , Assine (1990; 1992) e
estabelecidas por Beurlen (1962; 1963), que definiu Ponte e Ponte Filho (1996).
as formações Cariri, Missão Velha, Santana e Exu, Muitos trabalhos foram publicados desde en-
para as quais estimou uma espessura sedimentar to- tão, mas como apontado por Arai (2006), “o
tal de cerca de 850 m. A partir dos trabalhos funda- arcabouço basilar para a Bacia do Araripe foi esta-

372 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


belecido pelos trabalhos bastante sólidos de Ponte e
Resistividade LITO-
SEQÜÊNCIAS ESTRATIGRAFIA
Appi (1990) e Assine (1992)”, que “se equivalem em
0 Raios-Gama 100 0m 1 2 10 20 100
termos de sucessão das seqüências, diferindo apenas
140 Sônico 40
na terminologia litoestratigráfica. Por isso, a concep-
ção estratigráfica aqui apresentada tem como base
100
FM. EXU as proposições feitas nos dois referidos trabalhos.
PÓS-RIFTE II
Neste trabalho, as unidades litoestratigráficas são
200
revistas e discutidas, mas também são apresentadas
algumas novas proposições. As opções feitas, de no-
menclatura e de subdivisão estratigráfica, tiveram como
FM. ARARIPINA
300 base critérios relacionados a prioridade, duplicidade de
denominações e inconsistência de algumas proposi-
Coquinas
Concreções ções. Assim, por exemplo, optou-se por manter a de-
FM. SANTANA
400

MB. ROMUALDO
nominação sub-bacia de Feira Nova (Matos, 1992), em
detrimento das denominações Serrolândia (Assine,
500
1992) e Feitoria (Ponte e Ponte Filho, 1996).
PÓS-RIFTE I FM. SANTANA

MB. CRATO
Devido à natureza incompleta do registro sedi-
mentar da Bacia do Araripe e ao número reduzido de
FUP
600 informações de subsuperfície, a análise de
Camadas Batateira (?)
FM. BARBALHA paleocorrentes tem sido uma ferramenta de grande
potencial para a reconstituição de sua evolução tectono-
FUP 700
sedimentar (Assine, 1994). Sua importância é vital por-
que, à exceção dos sedimentos marinhos da Formação
RIFTE FM. ABAIARA
Santana, o preenchimento sedimentar da bacia é ca-
800
racterizado por sistemas deposicionais continentais,
sobretudo de origem aluvial, nos quais o declive topo-
900
gráfico controla o sentido de fluxo das águas em super-
FM.
MISSÃO VELHA
fície, de forma que as paleocorrentes medidas indicam
o mergulho deposicional, permindo reconhecer mudan-
1000 ças de áreas-fonte, interpretar movimentações
tectônicas, esboçar cenários paleogeográficos a partir
da integração com os dados disponíveis na literatura
1100
sobre as bacias adjacentes. Desta forma, contribui para
PRÉ-RIFT
a reconstituição da paleodrenagem continental à épo-
1200
ca da sedimentação das diferentes seqüências.
FM.
BREJO SANTO

1300

Seqüência paleozóica
1400

A seqüência é constituída por uma única unida-


PALEOZÓICA FM. CARIRI

1500
de litoestratigráfica, denominada Formação Cariri por
EMBASAMENTO PRE-CAMBRIANO

Beurlen (1962), nomenclatura utilizada em muitos tra-


balhos. Por outro lado, em muitos trabalhos recentes
foi utilizada a denominação Formação Mauriti, proposta
por Gaspary e Anjos (1964) e adotada por Ponte e
Figura 2 - Perfil do poço 2- Figure 2 – Well 2-AP-1-CE Appi (1990). Tendo em vista que as duas denomina-
AP-1-CE (FUP = granode- Profile (FUP = fining
ções vêm sendo utilizadas e respeitando-se o quesito
crescência ascendente). upwards).
prioridade, como preceitua o Código Brasileiro de No-
menclatura Estratigráfica (SBG, 1996), propõe-se a
manutenção da denominação Formação Cariri.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 373


A unidade aflora na porção leste da bacia, no intervalo Ordoviciano superior/Devoniano inferior.
definindo os contornos do Vale do Cariri. Na parte Idade neo-ordoviciana/siluriana foi aventada por Assi-
oeste da bacia não aflora, ocorrendo apenas em sub- ne (1992) e Ponte e Ponte Filho (1996).
superfície, como na Sub-bacia de Feira Nova. Sua
espessura é reduzida, podendo alcançar cerca de uma
centena de metros (46 m no 2-AP-1-CE).
A Formação Cariri é constituída por arenitos
imaturos, de granulação média a muito grossa, com Superseqüência Pré-Rifte
grãos angulares a subangulares, interpretados como
fácies de sistemas fluviais entrelaçados. Níveis de
ortoconglomerados ocorrem, sendo mais comuns na
Seqüência J20-J30
base, onde incluem fragmentos líticos do embasamen-
to e clastos de feldspatos róseos bem preservados Composta pelas formações Brejo Santo e Mis-
Por ser considerada afossilífera e, em função são Velha, a seqüência foi formada no contexto do
da similaridade litológica com a Formação Tacaratu estágio pré-rifte, caracterizado como período de
(Bacia de Tucano-Jatobá), Braun (1966) atribuiu ida- subsidência mecânica produzida por estiramento
de paleozóica para a Formação Cariri. Na mesma litosférico visco-elástico. Tal processo foi responsável
linha de raciocínio, Ghignone (1972) considerou tais pela formação da Depressão Afro-Brasileira, uma
unidades correlatas ao Grupo Serra Grande, advo- imensa área topograficamente deprimida que se es-
gando que originalmente fariam parte da Bacia do tendia do sul da Bahia até regiões tão setentrionais
Parnaíba, que no Siluriano se estendia muito além como a da Bacia do Araripe (Garcia e Wilbert, 1995).
do seu atual limite oriental. Esta concepção foi pos- Com espessura máxima de cerca de 450 m, a
teriormente adotada por diversos autores, entre os Formação Brejo Santo é composta essencialmente
quais Caputo e Crowell (1985). por folhelhos e lamitos vermelhos, nos quais se en-
Carvalho et al. (1995) questionaram, entre- contram ostracodes típicos do Andar Dom João, como
tanto, a atribuição de idade paleozóica para a For- Bisulcocypris pricei P & S e Darwinula oblonga
mação Cariri, posicionando-a no Cretáceo inferior ROEMER (Braun, 1966). A presença de formas exclusi-
com base no reconhecimento de pegadas de vamente não-marinhas indica sedimentação lacustre em
dinossauros em estratos da unidade. Tais pegadas ambientes propícios à formação de red beds.
não foram encontradas por outros pesquisadores, tais A Formação Missão Velha, que sobrepõe con-
como Kellner e Campos (2000). Além disso, a atri- cordantemente a Formação Brejo Santo, tem espes-
buição de idade cretácea é inconsistente já que a sura máxima de cerca de 200 m. É constituída por
Formação Cariri ocorre sotoposta à Formação Brejo arenitos quartzosos, por vezes feldspáticos e/ou
Santo, portadora de ostracodes típicos do Andar Dom caolínicos, localmente conglomeráticos, portadores de
João (Braun, 1966; Coimbra et al. 2002) e relaciona- abundantes troncos e fragmentos de madeira
da à fase pré-rifte. silicificada, atribuídos à conífera Dadoxilon benderi.
O padrão de paleocorrentes da Formação Os arenitos apresentam-se em sets decimétricos, com
Cariri, notavelmente constante ao longo da bacia, estratificação cruzada planar e/ou acanalada, entre
indica que a sedimentação não teve relação alguma os quais podem ocorrer níveis decimétricos de siltitos
com a geometria dos sítios em que depósitos da uni- arroxeados. A associação faciológica é de planícies
dade estão preservados. O padrão paralelo para NNW fluviais de sistemas entrelaçados caracterizados por
dos vetores médios de paleocorrentes não apresenta canais rasos e de alta energia.
similaridades com os padrões das unidades das se- Segundo Coimbra et al. (2002), a presença,
qüências pré-rifte e rifte, indicando paleodrenagem nas duas formações, de associações palinológicas
para o quadrante NW, similar à do Grupo Serra Grande indicativas da Zona Dicheiropollis sp. A/Leptolepidites
da Bacia do Parnaíba (Assine, 1994). ssp. permite posicioná-las no Andar Dom João (NRT-
Com base nas considerações acima, mantém- 001), andar local do Jurássico superior. As formações
se nesta revisão a atribuição de idade paleozóica para Brejo Santo e Missão Velha constituem unidades lito
a Formação Cariri. Por correlação com o Grupo Serra e cronocorrelatas às formações Aliança e Sergi da
Grande da Bacia do Parnaíba e com a Formação Bacia do Recôncavo-Tucano e às formações Bana-
Tacaratu da Bacia do Jatobá, a unidade foi posicionada neiras e Serraria da Bacia de Sergipe-Alagoas.

374 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


A seqüência ocorre embutida nas sub-bacias do a posição bioestratigráfica na na base da Zona
Cariri e de Feira Nova, sendo seus limites normalmente Paracypridea brasiliensis Zone (NRT–004).
definidos por falhas. A não-constatação de fácies margi- A ocorrência de isolada de Cypridea vulgaris
nais e a ausência de padrão definido de variação geo- Krömmelbein na parte superior da seção abre a pos-
gráfica de fácies indicam que os limites são dados por sibilidade de que a sedimentação tenha se prolonga-
falhas originadas em eventos tectônicos posteriores e do até a parte inferior do Andar Aratu, já que esta
que os depósitos preservados constituem fração de uma espécie é encontrada da base da Zona Paracypridea
bacia originalmente mais extensa, que se estendia para brasiliensis (NRT–004, topo do Andar Rio da Serra)
norte e para sul das atuais áreas de ocorrência. até a Zona Paracypridea obovata obovata (NRT–005,
Esta interpretação é reforçada pelos dados de base do Andar Aratu) nas bacias vizinhas do
paleocorrentes medidas nos arenitos fluviais, que indi- Recôncavo e Tucano, podendo ser considerada uma
cam paleofluxo constante para o rumo SSW, integran- espécie-índice deste intervalo (Coimbra et al. 2002).
do paleo-rede hidrográfica que fluía em direção à Ba- A Formação Abaiara é uma unidade que ain-
cia do Recôncavo-Tucano (Assine, 1994). Consideran- da necessita ser melhor caracterizada, sobretudo
do a abundância de troncos silicificados na Formação porque sua espessura é muito maior do que a seção
Missão Velha, as áreas-fonte situadas a norte deveri- de 115 m atravessada no poço 2-AP-1-CE, proposta
am ser cobertas por extensas florestas de coníferas. como seção-tipo da unidade por Ponte e Appi (1990).
Nas proximidades da cidade de Abaiara, por exem-
plo, uma seção com espessura de cerca de 280 m foi
levantada por Assine (1992). Folhelhos sílticos e siltitos
vermelhos, com intercalações lateralmente descontínuas
Superseqüência Rifte de camadas decimétricas de arenitos finos, predomi-
nam na base da seção, ao passo que arenitos finos pre-
domina na parte superior. Lentes decamétricas de areni-
Seqüência K10-K30 tos quartzosos finos a muito grossos, com níveis conglo-
meráticos, portadores de fragmentos de madeira
silicificada, ocorrem intercaladas na seção.
No Neocomiano teve início o estágio rifte na
Os arenitos finos a médios da parte superior es-
Bacia do Araripe, com a deposição da seqüência
tão dispostos em sets decimétricos a métricos, com
correspondente à Formação Abaiara, unidade que
estratificação cruzada cuneiforme tangencial na base.
apresenta significativa variação faciológica lateral e
Estratos com estratificação cruzada recumbente e do-
vertical, distinguindo-se claramente do registro es-
bras convolutas são evidências de tectonismo contem-
tratigráfico do estágio pré-rifte.
O contato basal com a Formação Missão Velha é porâneo à sedimentação (fig. 3). Intercalados nos are-
admitido como discordante em função da ausência de nitos encontram-se níveis decimétricos a métricos de
ostracodes da Zona Theriosynoecum varietuberatum folhelhos papiráceos verdes, freqüentemente portado-
varietuberatum (NRT–002), base do Andar Rio da Serra. res de ostracodes.
Esta opção é baseada no trabalho de Coimbra et al. No grabén Crato-Juazeiro, seção mais repre-
(2002), que apresenta a descrição mais completa do sentativa do Andar Aratu pode estar preservada, sen-
conteúdo paleontológico da Formação Abaiara. Segun- do inferidas espessuras da ordem de 400 m a partir
do os referidos autores, o registro fossilífero é escasso e de dados sísmicos. Poços perfurados para produção
esparso na parte inferior da unidade, não ocorrendo es- de água subterrânea na área de Juazeiro atravessa-
pécies-índice em abundância, tendo sido encontrados ram seções portadoras de conglomerados e folhe-
os ostracodes Cypridea sellata VIANA e Cypridea lhos verdes pertencentes à Formação Abaiara. Tra-
(Morininoides) candeiensis KRÖMMELBEIN, indicativos tam-se de conglomerados polimíticos, com seixos e
da Zona Cypridea (Morininoides) candeiensis (NRT–003). calhaus de rochas metamórficas e magmáticas, re-
Os ostracodes se tornam abundantes na parte superior centemente descritos em afloramentos existentes a
da unidade, embora apresentem diversidade extrema- sul da cidade de Missão Velha (fig. 3).
mente baixa. A ocorrência conjunta de Theriosynoecum As associações faciológicas e o conteúdo fos-
laciniatum (KRÖMMELBEIN), Cypridea (Morininoides) silífero indicam sedimentação em tratos deposicio-
grekoffý KRÖMMELBEIN, Tucanocypris camposi KRÖM- nais continentais, num cenário onde lagos rasos são
MELBEIN e Cypridea tucanoensis KRÖMMELBEIN indica paulatinamente, porém, com freqüente recorrência

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 375


Figura 3 - Fácies da Formação Abaiara: a) conglomerados Figure 3 – Abaiara Formation Faces: a) interstratified
interestratificados com arenitos e folhelhos vermelhos; b) detalhe conglomerates with sandstones and red shales; b) detail of the
dos conglomerados polimíticos; c) ciclos fluviais com polymictic conglomerates; c) fluvial cycles with fining
granodecrescência ascendente; d) arenitos finos a médios, com upwards; d) fine to medium sandstones, interbeded with green
intercalações de folhelhos verdes, basculados em zona de falha de shales, filted along a NE fault zone.
direção NE.

ambiental, substituídos por planícies fluviais de ca- por falhas normais de direção principal NE. Esta dispo-
nais entrelaçados. Paleocorrentes medidas nos are- sição enquadra-se no esquema tectônico de distensão
nitos fluviais mostram paleofluxo constante para SSW, regional NW-SE, apresentado por Matos (1992).
permitindo concluir que o cenário paleogeográfico Como não foram encontradas até o momento
do Andar Dom João não foi alterado no Eocretáceo seções pertencentes aos andares Buracica e Jiquiá, nem
e que a Bacia do Araripe fazia parte de uma paleo- tampouco fácies de conglomerados de leques aluviais
bacia hidrográfica cujos rios corriam para sul em di- dominados por fluxos de detritos nos blocos baixos das
reção à Bacia do Recôncavo-Tucano (Assine, 1994). falhas, com rejeitos que alcançam os 1.000 m no
As sub-bacias do Cariri e de Feira Nova apre- gráben de Crato-Juazeiro, considera-se que a
sentam-se estruturadas em horsts e grábens definidos estruturação rúptil, delineada em horstes e grábens,

376 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


foi em grande parte moldada por evento de tectônica presença de intervalos pelítico-carbonáticos lacustres.
dominantemente modificadora, possivelmente relaci- Este empilhamento, repetitivo em todos os perfis levan-
onado a um segundo pulso da fase rifte. Este evento tados no Vale do Cariri por Chagas (2006), também
não criou espaço de acomodação significativo, mas caracteriza o registro sedimentar preservado na sub-
causou basculamentos generalizados das unidades das bacia de Feira Nova, como pode ser observado no in-
seqüências mais antigas, hoje preservadas nas sub-ba- tervalo 480 a 722 m do poço 2-AP-1-CE (fig. 2).
cias do Cariri e de Feira Nova. Processos erosivos pre- O primeiro ciclo se encerra com um intervalo
dominaram até o Eoaptiano, causando erosão dos blo- de folhelhos betuminosos pretos, ricos em lâminas car-
cos altos e peneplanização do relevo, posteriormente bonáticas de origem algálica, coprólitos, ostracodes, res-
recoberto pelas unidades da seqüência pós-rifte I. tos de peixes (Dastilbe elongatus) e fragmentos vegetais
carbonificados (fig. 4). Este intervalo, em meio ao qual
encontra-se uma camada decimétrica de calcário com
aspecto brechóide, mineralizado em sulfetos, foi deno-

Superseqüência Pós-Rifte minado informalmente “seqüência plumbífera do Arari-


pe” por Farina (1974). Com base no conteúdo
palinológico, Lima e Perinotto (1984) atribuíram idade
neoaptiana para o intervalo, o que foi confirmado poste-
Seqüência K40-K60 riormente por Hashimoto et al. (1987), que formaliza-
ram a denominação “Camadas Batateira” para o inter-
A seqüência neoaptiana-eoalbiana registra o valo em questão, posicionando-o na biozona P-270.
advento do estágio pós-rifte na Bacia do Araripe, re- Devido à sua grande extensão lateral e pe-
sultado de subsidência flexural térmica. A seqüência quena espessura (<10 m), as Camadas Batateira cons-
distingue-se estrutural e, estratigraficamente, das duas tituem marco estratigráfico de importância regional
sequências sotopostas, sobre as quais se assenta em na Bacia do Araripe. Sua presença foi constatada
discordância angular. Trata-se da discordância pré- também nos 14 poços perfurados no Vale do Cariri,
Alagoas, uma descontinuidade regional reconhecida entre Crato e Jardim, no âmbito do Projeto Santana
em todas as bacias da margem leste brasileira. Na II da Companhia de Recursos Minerais (CPRM) (Scheid
Bacia do Araripe envolve uma lacuna no registro et al. 1978). Representam o registro da implantação
sedimentar cuja duração se estende do Andar Buracica do primeiro sistema lacustre na bacia caracterizado
ao Alagoas inferior. Na porção ocidental da bacia, por condições de anoxia, o que ensejou a preserva-
onde as formações mais antigas estão ausentes, a ção de significativa quantidade de matéria orgânica.
seqüência repousa em discordância litológica direta- Hashimoto et al. (1987) correlacionaram as Ca-
mente sobre o embasamento cristalino pré-cambriano. madas Batateira com as Camadas Trairi da Bacia do
Constituída pelas formações Barbalha e Ceará e com as Camadas Ponta do Tubarão da Ba-
Santana, a seqüência ocorre no sopé das escarpas, cia Potiguar, o que reforça a importância das três
contornando a Chapada do Araripe e o morro-teste- camadas como marcos estratigráficos para suas res-
munho Serra da Mãozinha. No Vale do Cariri, ape- pectivas bacias. Independente da acuracidade da cor-
nas a Formação Barbalha, sua unidade inferior, en- relação, o fato é que as Camadas Batateira constitu-
contra-se presente, ocorrendo descontinuamente na em um marco estratigráfico de importante evento
forma de terraços fluviais. regional na bacia, o que justifica a manutenção da
Na Formação Barbalha predominam arenitos com denominação Batateira na acepção original de
intercalações de folhelhos de colorações avermelhadas Hashimoto et al. (1987). Desta forma, optou-se pela
e de níveis delgados de conglomerados. Os arenitos são utilização da denominação Formação Barbalha (As-
finos a médios, subarredondados a subangulares, em sine 1992) para designar todo o conjunto de estratos
geral bastante friáveis, argilosos, às vezes com seixos neoaptianos, do qual as Camadas Batateira fazem
dispersos e/ou portadores de feldspatos alterados e bo- parte, abandonando-se a denominação Formação Rio
las de argila, ocorrendo dispostos em sets com 0,2 a 2,0 m da Batateira de Ponte e Appi (1990).
de espessura, que invariavelmente apresentam estratifi- Arenitos grossos e conglomerados fluviais sobre-
cação cruzada planar ou acanalada. põem as Camadas Batateira em contato erosivo, repre-
O perfil estratigráfico vertical da Formação sentando o início do segundo ciclo sedimentar da For-
Barbalha compreende dois ciclos fluviais com granode- mação Barbalha (Chagas et al., no prelo). Em direção
crescência ascendente, cujos topos são marcados pela ao topo, os arenitos se tornam mais finos, com interca-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 377


Figura 4 - Camadas Batateira: a) Exposição no rio da Batateira, Figure 4 – Batateira Layers: a) Batateira River exhibition,
onde folhelhos pretos são sobrepostos por uma camada de calcário where black shales are superimposed by a layer of brechoid
brechóide com cerca de 30 cm de espessura; b) detalhe dos limestone of around 30cm thick; b) detail of black shales
folhelhos pretos com intercalações de lâminas de calcários interbeded with microbial limestone interclasts and levels
microbiais e de níveis com coprólitos e ostracodes; c) base do with coprolites and ostracodes; c) second cycle base, where
segundo ciclo, onde conglomerados e arenitos truncam em contato conglomerates and sandstones end in erosive contact with the
erosivo as Camadas Batateira; d) detalhe dos ortoconglomerados Batateira Layers; d) detail of the polymictic
polimíticos sobre os folhelhos. ortoconglomerates over the shales.

lações de folhelhos calcíferos de cor verde que se tor- sentes, entre outros, em insetos, ostracodes, crustáceos,
nam dominantes no topo da Formação Barbalha. aracnídeos, pequenos peixes (pouca diversidade, sobres-
O segundo ciclo de granodecrescência ascendente saindo-se o onipresente Dastilbe elongatus), quelônios,
termina com os calcários micríticos laminados do Mem- lagartos e pterossauros. Rica associação fossilífera nos
bro Crato da Formação Santana, que formam bancos calcários laminados e folhelhos associados, caracteriza-
descontínuos com espessuras que ultrapassam duas de- da pela ausência de formas marinhas, indica ambientes
zenas de metros, interdigitados lateralmente com folhe- de sedimentação lacustres (Newmann, 1999).
lhos verdes. O registro fossilífero é abundante e muito Sobre a seção de calcários laminados ocorrem
diversificado (Mabesoone e Tinoco, 1973), estando pre- camadas descontínuas de gipsita, com espessura má-

378 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


xima da ordem de 30 m, em associação faciológica curta duração, caracterizando um contato diastêmico
com folhelhos verdes e pretos. A gipsita apresenta-se com o Membro Romualdo. Na área de Santana do
sob a forma laminada primária com cristais colunares Cariri (CE), como por exemplo na mina Pedra Bran-
dispostos em paliças (palisades). Gipsita secundária é ca, em Nova Olinda, arenitos e conglomerados
representada pelas variedades alabastro, porfiroblástica aluviais, com geometrias canalizadas e padrão de
(rosetas de selenita) e nodular. Variedades fibrosas cons- afinamento textural para o topo, presentes na base
tituem a última geração, sendo produto de do Membro Romualdo, truncam as camadas de
recristalização durante processos de diagênese (Silva, gipsita e de folhelhos pretos geneticamente associa-
1988). Embora haja várias ocorrências no Vale do Cariri, dos aos evaporitos. Na parte oeste da bacia, como
as camadas de gipsita concentram-se, sobretudo, na na mina de Lagoa de Dentro em Araripina (PE), exis-
porção oeste da bacia, de Ipubi a Araripina no Estado tem evidências de retrabalhamento com a presença
de Pernambuco, principal área produtora do país. de delgado nível de paraconglomerados acima dos
A descontinuidade das camadas (lentes), a evaporitos. Segundo Silva (1986), esta descontinui-
existência de intercalações de folhelhos portadores de dade pode ser identificada também nas áreas onde
conchostráceos e a íntima associação com folhelhos os evaporitos não se encontram presentes, sendo re-
pirobetuminosos pretos, ricos em ostracodes não-mari- conhecida pela presença de superfícies de
nhos e fragmentos vegetais carbonificados, apontam paleocaliche e de camada fina de conglomerados
no sentido de que a paleogeografia não era a de uma sobreposta aos folhelhos do Membro Crato.
ampla bacia evaporítica marinha. A interpretação as- A parte inferior do Membro Romualdo é carac-
sumida é de que os evaporitos foram originados em terizado pela presença de arenitos interestratificados com
ambientes costeiros (supramaré), sujeitos a variações folhelhos, bem expostos em seção levantada na antiga
relativas do nível do mar, em condições de clima árido mina de gipsita na localidade de Romualdo, entre Crato
a semi-árido. As características mineralógicas, dimen- e Barbalha (Chagas, 2006). Para o topo, o empilhamen-
sões, natureza e geometria dos jazimentos, indicam to é transgressivo e os arenitos costeiros cedem lugar a
sistemas deposicionais similares às modernas salinas uma seção de folhelhos verdes, ricos em ostracodes.
do sul da Austrália. Estas constituem ambientes costei- Segundo Arai e Coimbra (1990), os folhelhos recupera-
ros subaquosos, sem conexão com o mar, com dimen- dos nos testemunhos do poço 2-AP-1-CE apresentam
sões individuais da ordem de dezenas a centenas de uma assembléia fóssil composta por grãos de pólen,
quilômetros quadrados, preenchidas por gipsita esporos, dinoflagelados, ostracodes, foraminíferos e
laminada com espessuras que ultrapassam uma deze- moluscos típicos de ambientes costeiros mixohalinos, tais
na de metros (Warren e Kendall, 1985). como estuários e lagunas, mas a ocorrência do gênero
As camadas de gipsita formam o Membro Ipubi Spiniferites MANTELL and Subtilisphaera JAIN and
da Formação Santana de Beurlen (1971). Entretanto, MILLEPIED indica inquestionável influência marinha.
seu reconhecimento no campo e em poços é difícil, ten- Os folhelhos adquirem, progressivamente
do em vista a descontinuidade das camadas e a dificul- em direção ao topo, colorações mais escuras, cul-
dade em se estabelecer os limites do membro quando minando com um intervalo de cerca de 20 m de
os evaporitos não estão presentes. Tais dificuldades re- folhelhos cinza escuros e pretos, ricos em matéria
sultam do fato de que a subdivisão da Formação Santana orgânica, caracterizado pela presença de um nível
em membros Crato, Ipubi e Romualdo (Beurlen, 1971) com concreções fossilíferas que alcança cerca de
não é inteiramente apropriada, pois foi baseada em cri- 5 m de espessura na borda leste da Chapada do
térios ambientais e não em bases litoestratigráficas (Lima, Araripe. O nível de concreções ocorre em toda a
1979). No entanto, tendo em vista que as camadas de bacia, constituindo também um importante marco
gipsita são de idade neoaptiana e cronocorrelatas aos estratigráfico, possível registro de evento de mor-
evaporitos das bacias marginais (Regali, 1989), e que tandade em massa. As concreções encerram rica
constituem importante marco estratigráfico na bacia, paleoictiofauna considerada marinha (Silva Santos
propõe-se a reclassificação da denominação para “Ca- e Valença, 1968), havendo também a presença de
madas Ipubi”, posicionadas estratigraficamente no topo tartarugas marinhas (Price, 1973) e pterossauros
do Membro Crato. (Price, 1971; Campos e Kellner, 1985).
O topo do Membro Crato, redefinido com a Alguns metros acima do nível das concreções
inclusão da associação que contém as camadas de destaca-se a existência de uma camada de coquinas,
gipsita, é marcado por descontinuidade erosiva de que pode atingir um metro de espessura. A presença

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 379


de moluscos marinhos (turritelídeos) e de equinóides Calcários laminados, litológica e paleontolo-
(Beurlen, 1966) confirma, inquestionavelmente, as gicamente semelhantes aos do Membro Crato,
condições marinhas francas. Trata-se de um nível re- capeiam a Serra de Tonã, situada na porção norte
conhecível em toda a área, mesmo nos limites oci- da Bacia do Tucano (Rolim, 1984), mostrando que os
dentais da bacia como mostram os perfis de Sales sistemas lacustres, que deram origem ao Membro
(2005), que interpretou tais depósitos como tempestitos. Crato, ocupavam expressiva área a sul do Lineamento
As coquinas são lags residuais e seu contato basal é de Pernambuco.
aqui interpretado na superfície de ravinamento por A transgressão marinha eoalbiana, ensejada
onda, correspondendo o nível de coquinas à superfí- pela continuidade da subsidência e da elevação glo-
cie de inundação máxima na seqüência. bal do nível do mar, atingiu também o interior da
Para o topo, interdigitados aos folhelhos, paula- Região Nordeste do Brasil. Registros cretáceos mari-
tinamente voltam a ocorrer siltitos e arenitos com fós- nhos restringem-se, entretanto, apenas àqueles do
seis de água doce, como conchostráceos e moluscos Membro Romualdo da Formação Santana. A recons-
(Beurlen, 1971), caracterizando condições regressivas trução paleogeográfica neste intervalo de tempo é
ao final da seqüência. Esta seção superior da Forma- matéria controversa, tendo sido já aventados senti-
ção Santana nem sempre ocorre, podendo estar au- dos de ingressão marinha a partir da Bacia de Sergi-
sente devido à erosão durante a geração de pe-Alagoas, a partir da Bacia Potiguar e a partir da
discordância que a separa das seqüências sobrepostas. Bacia do Parnaíba.
A seção superior da Formação Santana, em Considerando que as paleocorrentes fluviais
particular nos arredores da cidade de Arajara, é ca- das formações Barbalha (Bacia do Araripe) e Marizal
racterizada por intercalações de arenitos finos com (Bacia de Tucano) indicam paleodrenagem para sul-
lâminas e clastos de argila nos foresets e nos limites sudeste, o caminho mais natural para a ingressão é
dos sets. Esta seção foi correlacionada, por Ponte e justamente no sentido oposto ao da paleodrenagem
Appi (1990), à seção de ritmitos e arenitos que ocor- continental, ou seja, de SSE para NNW. Esta inter-
re no extremo oeste da bacia, classificada inicial- pretação é corroborada por Santos (1982), para quem,
mente como o membro inferior da Formação Exu em direção a oeste da bacia, estão representadas
(Beurlen, 1963). Para ambas as seções foi cunhada apenas seções cada vez mais novas, o que denota
a denominação Formação Arajara (Ponte e Appi, onlap de leste para oeste. A Formação Barbalha e os
1990), com seção-tipo no intervalo de 237 m a 337 m calcários laminados do Membro Crato não ocorrem
do poço 2-AP-1-CE. Desde sua proposição, muitos na porção oeste da bacia, sendo freqüente a seqüên-
autores têm feito referência à Formação Arajara, cia se iniciar com camadas de gipsita alojadas em
adotando-a em seus trabalhos, sem nenhum paleodepressões do embasmento cristalino. No ex-
questionamento quanto à propriedade da proposi- tremo oeste da bacia, depósitos marinhos, represen-
ção. Não há, entretanto, correspondência estrati- tados por folhelhos com concreções e coquinas com
gráfica entre a seção do Vale do Cariri e a da porção equinóides, constituem o único registro da seqüên-
oeste da bacia, porque inclusive as duas são de ida- cia, testemunhando, assim, o alcance da transgres-
des distintas. Tendo em vista as considerações apre- são marinha eoalbiana no interior do Nordeste.
sentadas acima, a conclusão é de que a manuten- A extensão geográfica original da seqüência
ção da Formação Arajara não é sustentável, sugerin- era maior que sua atual área de ocorrência, sendo
do-se o seu abandono (Assine et al. 2006). testemunhos a Bacia de Socorro na fronteira dos es-
Paleocorrentes medidas na Formação tados de Pernambuco e do Piauí e a morro testemu-
Barbalha, unidade basal que registra a sedimenta- nho da Serra Negra na Bacia de Jatobá, onde a se-
ção fluvial no início do ciclo, revelaram mergulho qüência encontra-se quase que completamente pre-
deposicional para SW. Paleofluxos similares foram servada, inclusive em cotas altimétricas similares às
constatados por Rolim e Mabesoone (1982) na For- da Chapada do Araripe (Braun, 1966; Mabesoone e
mação Marizal (Bacia de Tucano), uma unidade lito, Tinoco, 1973).
crono e geneticamente correlata à Formação A seqüência neoaptiana-eoalbiana materiali-
Barbalha. Isto indica que os eventos tectônicos da za um ciclo transgressivo-regressivo, reflexo de sub-
fase rifte não alteraram significativamente a sidência térmica e de eventos eustáticos globais de
paleodrenagem continental, que continuou a fluir em elevação do nível do mar, que criaram espaço de
direção às bacias da margem leste. acomodação para a deposição e preservação de

380 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


depósitos marinhos no interior do Nordeste. Trata-se riormente por Silva (1986) para designar o conjunto
de um ciclo quase completo, uma vez que é trunca- dos membros Crato e Ipubi, mas tal proposição trouxe
do no topo, faltando as fácies aluviais dos tratos de mais confusão à nomenclatura estratigráfica, não ten-
sistemas de mar alto do final do ciclo. do sido adotada por outros autores.
As melhores exposições da Formação Araripina
Seqüência K70-K80 encontram-se em cortes da rodovia BR-316, nas
escarpas da chapada a leste e a oeste de Marcolândia
(divisa entre Pernambuco e Piauí (PE/PI). A formação
Enquanto a Seqüência K40-K60 (pós-rifte I) é é constituída por ritmitos compostos por arenitos fi-
correlacionável com seqüências de bacias da mar- nos e lamitos, de colorações avermelhadas,
gem leste no que concerne a aspectos litológicos,
arroxeadas e amareladas, neles ocorrendo intercala-
paleontológicos e genéticos, os depósitos aluviais
dos corpos lenticulares de arenitos médios a grossos,
neocretáceos da Bacia do Araripe destoam comple-
com espessuras que ultrapassam três metros. Estru-
tamente do registro das bacias marginais do Nordes-
turas de sobrecarga, como pseudonódulos e almofa-
te, que são caracterizadas por condições marinhas
das, e estruturas em chama são comuns na associa-
transgressivas até o final do Cretáceo.
ção, sendo a presença de truncamentos na estratifi-
Fazem parte desta seqüência duas unidades
cação uma característica marcante, constituindo
com características litológicas distintas, separadas por
diastemas angulares internos à unidade. Os ritmitos
discordância erosiva, inicialmente referidas como
também podem apresentar dobramentos convolutos
membros inferior e superior da Formação Exu
gerados por deformação penecontemporânea e in-
(Beurlen, 1963; Mabesoone e Tinoco, 1973). No pre-
tervalos constituídos por brechas intraformacionais
sente trabalho, como em Ponte e Appi (1990), a
com clastos de ritmitos (fig. 5). Exceto os palinomorfos
denominação Exu é usada para designar apenas o
descritos por Lima (1978), não foram encontrados
membro superior.
fósseis na unidade, cuja faciologia é condizente com
A seção correspondente ao que foi denomina-
sedimentação em planícies de leques aluviais.
do membro inferior da Formação Exu é restrita à por-
ção oeste da bacia e é constituída por associação de Os truncamentos internos e as deformações
fácies heterolíticas, caracterizada por grande diversi- exitentes na seção heterolítica da Formação Araripina
dade de litotipos, recorrentes e geneticamente rela- sugerem tectônica sindeposicional, evidenciada tam-
cionados. Com base em 141 espécies reconhecidas, bém pelo fato de a unidade encontrar-se intensamente
das quais 18 não ocorrem na Formação Santana, em fraturada. Este evento tectônico mesoalbiano afetou
especial de polens tricolpados, considerados o primeiro os estratos subjacentes da Formação Santana, como
registro indubitável da presença de angiospermas na pode ser observado nas minas de Lagoa de Dentro e
área, Lima (1978) concluiu que a associação palino- Rancharia, a sul de Araripina (PE), onde toda a for-
lógica presente é consideravelmente distinta e mais mação apresenta-se basculada com até 20º de mer-
evoluída que as da Formação Santana, sendo dela gulho. Destaca-se que a Bacia do Araripe, na sua
separada por discordância. Com base na associação porção oeste, recobre terrenos pré-cambrianos cor-
reconhecida, considerou que a seção é de idade tados por falhas SW relacionadas à terminação oeste
mesoalbiana e que o clima era quente e árido. das estruturas do Lineamento da Paraíba.
Como discutido anteriormente, esta seção in- Este evento tectônico, que não se prolongou
ferior, atravessada pelo poço 2-AP-1-CE na profundi- com a mesma intensidade até o tempo de sedimen-
dade de 237 a 337 m, não apresenta correlação es- tação da Formação Exu, já que esta se apresenta
tratigráfica com a seção de topo da Formação muito menos deformada e quase subhorizontalizada,
Santana, como se apresenta na parte leste da bacia, pode estar relacionado à uma mudança no regime
de forma que foi sugerido o abandono da denomina- de esforços no interior do Nordeste, decorrente da
ção Arajara para designá-la. Por outro lado, conside- mudança do pólo de rotação da deriva dos continen-
rando o fato de que constitui uma unidade distinta e tes africano e sul-americano, datada em cerca de
mapeável, de importância para o entendimento da 106 Ma por Rabinowitz e Labrecque (1979).
evolução da bacia, e que tem sua melhor área de Evidências de tectonismo albiano são encon-
exposição nos arredores de Araripina, propõe-se a tradas de forma inequívoca na Bacia de Pernambu-
denominação Formação Araripina para a mesma. A co, onde a sucessão vulcano-sedimentar da Forma-
denominação Formação Araripina foi proposta ante- ção Cabo constitui a seqüência rifte. A Província

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 381


Figura 5 - (a e b) A Formação Araripina é superposta em desconformidade Figure 5 – (a and b) The Araripina Formation is superimposed in
pela Formação Exu; c) a unidade mostra evidências de tectonismo nonconformity by the Exu Formation; c) the unit shows evidence of
sindeposicional, como a presença de truncamentos na estratificação, bem sindepositional tectonism, as the presence of truncated stratification,
como de fraturamentos mais jovens; d) arenitos finos a grossos, as well as younger fractures; d) fine to coarse sandstones, interspersed
intercalados nos ritimitos, apresentam estruturas de correntes in the rhythmites, present unidirectional current structures; e)
unidirecionais; e) destaca-se a presença de conglomerados highlight of the presence of intraformational conglomerates; f)
intraformacionais; f) dobras convolutas penecontemporâneas. penecontemporaneous convoluted folds.

382 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


Magmática do Cabo (Nascimento et al. 2004) com- to, a área leste da região Nordeste passou a ser
porta rochas básicas a intermediárias (basaltos a fonte de sedimentos para unidades siliciclásticas de
traqui-andesitos) e ácidas (riolitos, traquitos e grani- bacias adjacentes, tais como a Formação Açu da
tos). Idades do Granito do Cabo de 105 ± 2 Ma (Long Bacia Potiguar, o Membro Angico (Formação
et al. 1986) e de 102 ± 1 Ma (Nascimento et al. Riachuelo) da Bacia de Sergipe/Alagoas e a Forma-
2004) comprovam ativação magmática no Albiano. ção Exu da Bacia do Araripe.
Os arenitos fluviais da Formação Exu recobrem
em discordância erosiva a Formação Araripina em
alguns locais em com pequena angularidade, repre-
sentando um novo evento tectono-sedimentar. Na
porção oeste da bacia, o arranjo estratigráfico é de considerações finais
ciclos com granodecrescência ascendente, com del-
gados níveis de conglomerados e/ou arenitos Com base em dados de traços de fissão, Mo-
conglomeráticos na base, superpostos por arenitos rais Neto et al. (2005) interpretaram evento de
grossos com estratificação cruzada planar e resfriamento térmico iniciado entre 90 e 100 Ma.
acanalada, dispostos em sets decimétricos a métri- Durante o Neocretáceo, portanto, a subsidência deve
cos. Fácies pelíticas de planície de inundação oca- ter continuado na Bacia do Araripe. Desta forma, a
sionalmente ocorrem Intercaladas nos arenitos, às espessura atual da Formação Exu pode representar
vezes preenchendo canais abandonados. Na porção apenas fração da espessura original. O evento de
leste da bacia, os arenitos são mais grossos e imatu- resfriamento antecedeu a geração da superfície de
ros, com maior freqüência de níveis conglomeráticos, aplainamento sul-americana, cujo modelado final
apresentando estratificações cruzadas planares e/ou deu-se no início do Paleoceno e à qual está associa-
acanaladas, numa associação de fácies característi- da intensa laterização presente nos arenitos do topo
ca de sistemas fluvialis entrelaçados. da Formação Exu.
Até o momento, somente traços fósseis sem No Paleógeno houve novo soerguimento, que
valor cronoestratigráfico foram encontrados na For- alçou a superfície sul-americana a altitudes que al-
mação Exu, de forma que sua idade ainda está por cançaram os 1.000 m no interior do Nordeste do Bra-
ser definida com mais precisão. Por correlação com sil. Com a elevação regional, processos de denudação
as formações Açu (Bacia Potiguar) e Itapecuru (Ba- do relevo passaram a ter maior intensidade e a su-
cia do Parnaíba), a Formação Exu é posicionada no perfície foi sendo rapidamente dissecada. Cessado o
intervalo do Albiano ao Cenomaniano. soerguimento, processos de denudação continuaram
O padrão de paleocorrentes nos arenitos da atuando em novo período de resfriamento, iniciado
Formação Exu indica mergulho deposicional para no final do Eoceno, a partir de 40 Ma (Morais Neto
oeste, numa mudança paleogeográfica notável em et al. 2005), resultando na atual geomorfologia do
relação ao padrão das seqüências pré-rifte, rifte e interior do Nordeste do Brasil, onde relevos residuais,
pós-rite I. O retorno às condições de sedimentação tais como a Chapada do Araripe, testemunham a
continental na Bacia do Araripe foi resultado de grande extensão original da superfície sul-america-
soerguimento epirogênico da região Nordeste do Bra- na. Como produto da erosão dos relevos escarpados,
sil a partir do Albiano. Este soerguimento foi dife- depósitos de leques aluviais são encontrados no en-
renciado, com basculamento para oeste, promoven- torno da chapada, especialmente no Vale do Cariri,
do uma reestruturação completa da paleodrenagem recobrindo parcialmente unidades das seqüências pré-
continental no interior do Nordeste, que passou a rifte, rifte e pós-rifte I, e dificultando seu reconheci-
fluir para oeste em direção à Bacia do Parnaíba. mento e mapeamento.
A interpretação de soerguimento da porção
oriental da Província Borborema na Albiano encon-
tra suporte nos eventos tectono-magmáticos ocor-
ridos na Bacia de Pernambuco, que resultou no alo-
jamento do plúton granítico do Cabo, em nível
agradecimentos
crustal raso (Long et al. 1986) e no aumento do
fluxo de calor que deu origem à sucessão vulcano- O autor é grato a Edison José Milani, Gilmar
sedimentar da seqüência rifte. Com o soerguimen- Vital Bueno, Juliano Stica e Hamilton Ducan Rangel,

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 383


pelo convite para submissão deste trabalho e pelas leira de Geociências, São Paulo, v. 24, n. 4, p. 1-
sugestões apresentadas ao texto. A Norberto 10, dezembro de 1994.
Morales, Bruno César Araújo e Francisco Idalécio de
Freitas, pela colaboração em trabalhos de campo e BEURLEN, K. A geologia da Chapada do Araripe.
discussões sobre a geologia da bacia, à Fundação de Anais Academia Brasileira de Ciências, v. 34, n.
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) 3, p. 365-370, 1962.
(proc. 2004/15786-0) e ao Conselho Nacional de De-
senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (proc.
BEURLEN, K. Geologia e estratigrafia da Chapada do
476727/2004-9 e 308724/06-2) pelo apoio à pesqui-
Araripe. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
sa na Bacia do Araripe.
17., 1963, Recife. Anais. Recife: Sociedade Brasilei-
ra de Geologia/SUDENE, 1963. Suplementos, p. 47.

BEURLEN, K. Novos equinóides no Cretáceo do Nor-


referências deste do Brasil. Anais da Academia Brasileira de
Ciências, Rio de Janeiro, v. 389, p. 455-464, 1966.
bibliográficas
BEURLEN, K. As condições ecológicas e
faciológicas da Formação Santana na Chapada do
ARAI, M. Revisão estratigráfica do Cretáceo Inferior Araripe (Nordeste do Brasil). Anais da Acade-
das bacias interiores do Nordeste do Brasil. Revista mia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 43,
Geociências, São Paulo, v. 25, n. 1, p 7-15, 2006. p. 411-415, 1971.

ARAI, M.; COIMBRA, J. C. Análise paleoecológica BRAUN, O. P. G. Estratigrafia dos sedimentos da


do registro das primeiras ingressões marinhas na parte interior da Região Nordeste do Brasil (ba-
Formação Santana (Cretáceo Inferior da Chapada cias de Tucano-Jatobá, Mirandiba e Araripe). Rio
do Araripe). In: SIMPÓSIO SOBRE A BACIA DO de Janeiro: Departamento Nacional da Produção Mi-
ARARIPE E BACIAS INTERIORES DO NORDESTE, neral. Divisão de Geologia e Mineralogia, 1966. 75
1., 1990, Crato. Anais. Rio de Janeiro: Departa- p. (DPNM. DGM. Boletim, 236).
mento Nacional de Produção Mineral, 1990. v. 1.
p.225-239.
BRITO NEVES, B. B.; SANTOS, E. J.; VAN SCHMUS,
W. R. Tectonic history of the Borborema Province,
ASSINE, M. L. Sedimentação e tectônica da Ba- Northeastern Brazil. In: CORDANI, U. G.; MILANI, E.
cia do Araripe (Nordeste do Brasil). 1990. 124 p. J.; THOMAZ FILHO, A.; CAMPOS, D. A. (Ed.)
il. Tese (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Tectonic Evolution of South America. Rio de Ja-
Rio Claro, 1990. neiro: [s.n.], 2000, p. 151-182. International
Geological Congress, 31., 2000, Rio de Janeiro).
ASSINE, M. L. Análise estratigráfica da Bacia do Ara-
ripe, Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de CAMPOS, D. A., KELLNER, A. W. A. Panorama of
Geociências, São Paulo, v 22, n. 3, p. 289-300. 1992. the flying reptiles study in Brazil and South
America. Anais da Academia Brasileira de Ciências,
ASSINE, M. L.; MORALES, N.; CHAGAS, D. B. D.; v. 57, n. 4, p. 453-466, 1985.
FREITAS, F. I. Formação Arajara da Bacia do Araripe:
fato ou ficção? In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GE- CAPUTO, M. V.; CROWELL, J. C. Migration of glacial
OLOGIA, 43., 2006, Aracaju. Anais. Bahia: Socieda- centers across Gondwana during Paleozoic Era.
de Brasileira de Geologia Núcleo Bahia-Sergipe, 2006. Geological Society of American. Bulletin, Boulder,
v. 1, p. 103. v. 96, p. 1020-1036, 1985.

ASSINE, M. L. Paleocorrentes e paleogeografia na CARVALHO, I. S.; VIANA, M. S. S.; LIMA FILHO, M.


Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Revista Brasi-

384 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


F. Os icnofósseis de dinossauros da Bacia do Araripe Goiania: Sociedade Brasileira de Geologia, 1986.
(Cretáceo Inferior, Ceará-Brasil). Anais da Acade- v. 1, p. 271-285.
mia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 67, p.
433-442, 1995. HASHIMOTO, A. T.; APPI, C. J.; SOLDAN, A. L.;
CERQUEIRA, J. R. O neo-Alagoas nas bacias do Ce-
CHAGAS, D. B. Litoestratigrafia da Bacia do Ara- ará, Araripe e Potiguar (Brasil): caracterização es-
ripe: reavaliação e propostas para revisão. 2006. tratigráfica e paleoambiental. Revista Brasileira
112 f. il. Tese (Mestrado) – Universidade Estadual de Geociências, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 118-
Paulista, Rio Claro, 2006. 122, 1987.

CHAGAS, D. B.; ASSINE, M. L.; FREITAS, F. I. Fácies KELLNER, A. W. A.; CAMPOS, D. A. Brief review of
sedimentares e ambientes deposicionais da Forma- dinosaur studies and perspectives in Brazil. Anais da
ção Barbalha no Vale do Cariri, Bacia do Araripe, Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v.
Nordeste do Brasil. Revista de Geociências, São 72, p. 509-538, 2000.
Paulo, v. 26, n. 4, 2007. No prelo.
LIMA, M. R. Considerações sobre a subdivisão estra-
COIMBRA, J. C.; ARAI, M.; CARREÑO, A. L. tigráfica da Formação Santana - Cretáceo do Nordes-
Biostratigraphy of Lower Cretaceous microfossils from te do Brasil. Revista Brasileira de Geociências, São
the Araripe basin, northeastern Brazil. Geobios, Pa- Paulo, v. 9, n. 2, p. 116-121, 1979.
ris, v. 35, n. 6, p. 687-698, Nov./Dec. 2002.
LIMA, M. R.; PERINOTTO, J. A. J. Palinologia de sedi-
FARINA, M. Seqüência plumbífera do Araripe - mentos da parte superior da Formação Missão Velha,
mineralização sulfetada no Cretáceo sedimentar bra- Bacia do Araripe. Revista Geociências, São Paulo,
sileiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO GEOLOGIA, 28., v. 3, p. 67-76, 1984.
1974, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: Sociedade
Brasileira de Geologia, 1974. v. 6, p. 61-77. LONG, L. E.; SIAL, A. N.; EKVANIL, H. E.; BORBA, G. S.
Origin of granite at Cabo de Santo Agostinho – Northeast
GARCIA, A. J. V.; WILBERT, A. Paleogeographic Brazil. Contributions to Mineralogy and Petrology,
evolution of Mesozoic pre-rift sequences in coastal Heidelberg, v. 92, n. 3, p. 341-350, Sep. 1986.
and interior basins of northeastern Brazil. In: EMBRY,
A. F.; BEAUCHAMPS, B.; GLASS, D. J. (Ed.) Pangea: MABESOONE, J. M.; TINOCO, I. M. Paleoecology
global environments and resources. Calgary: Canadian of Aptian Santana Formation (Northeastern
Society of Petroleum Geologists, 1995, p. 123-130. Brazil). Palaeogeography, Palaeoclimatology,
(CSPG. Memoir 17). Paleaeocology, Amsterdam, v. 14, n. 2, p. 87-
118, 1973.
GASPARY, J.; ANJOS, N. F. R. Estudo hidrogeológico
de Juazeiro do Norte: Ceará. Recife: SUDENE, 1964. MATOS, R. M. D. The Northeast Brazilian Rift System.
p. 25. (Hidrogeologia, 3). Tectonics, Washington, DC., v. 11, n. 4, p. 766-
791, 1992.
GHIGNONE, J. I. Ensaio de paleogeografia do Nor-
deste e as seqüências sedimentares. In: CONGRES- MORAIS NETO, J. M.; HEGARTY, K.; KARNER, G. D.
SO BRASILEIRO GEOLOGIA, 26., 1972, Belém. Anais. Abordagem preliminar sobre paleotemperatura e evo-
Belém: Sociedade Brasileira de Geologia, 1972. v. 3, lução do relevo da Bacia do Araripe, Nordeste do Bra-
p. 21-28. sil, a partir da análise de traços de fissão em apatita.
Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janei-
GHIGNONE, J. I.; COUTO, E. A.; ASSINE, M. L. ro, v. 14, n. 1, p. 113-119, nov. 2005/maio 2006.
Estratigrafia e estrutura das bacias do Araripe,
Iguatu e Rio do Peixe. In: CONGRESSO BRASILEI- NASCIMENTO, M. A. L.; SOUZA, Z. S.; LIMA FILHO,
RO DE GEOLOGIA, 34., 1986, Goiania. Anais. M. F.; JARDIM DE SÁ, E. F.; CRUZ, L. R.; FRUTUOSO

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 385


JÚNIOR, L. J.; ALMEIDA, C. B.; ANTUNES, A. F.; SIL- continental do Ceará, Brasil, e sua relação com os outros
VA, F. C. A.; GUEDES, I. M. G. Relações estratigráfi- evaporitos das bacias nordestinas. Boletim do IG-USP,
cas da Província Magmática do Cabo, Bacia de Per- São Paulo, v. 7, Publicação Especial, p.139-143, 1989.
nambuco, Nordeste do Brasil. Estudos Geológicos,
v. 14, p. 3-19, 2004.
ROLIM, J. L. Seqüência clástica e carbonática da
Serra do Tonã, Macururé, Estado da Bahia. 1984.
NEUMANN, V. H. M. L. Estratigrafia, Sedimento- Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Gran-
logia, Geoquímica y Diagénesis de los Sistemas de do Sul, Porto Alegre, 1984.
Lacustres Aptienses-Albienses de lá Cuenca de
Araripe (Nororeste do Brasil). 1999. Tese (Douto-
rado) – Facultat de Geologia, Universitat de Barcelo- ROLIM, J. L.; MABESOONE, J. M. Um modelo de
na, Barcelona, 1999. grande rio para as bacias rift do Recôncavo-Tuca-
no-Jatobá (Purbeckiano-Aptiano, Nordeste do Bra-
sil). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
PONTE, F. C.; APPI, C. J. Proposta de revisão da colu- 32., 1982, Salvador. Anais. Salvador: Sociedade
na litoestratigráfica da Bacia do Araripe. In: CON- Brasileira de Geologia, 1982. v. 4, p. 1406-1412.
GRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36., 1990, Na-
tal. Anais. Natal: Sociedade Brasileira de Geologia,
1990, v. 1, p. 211-226. SALES, A. M. F. Análise tafonômica das ocor-
rências fossilíferas de macroinvertebrados do
Membro Romualdo (Albiano) da Formação
PONTE, F. C.; PONTE FILHO, F. C. Estrutura geoló- Santana, Bacia do Araripe, NE do Brasil: signi-
gica e evolução tectônica da Bacia do Araripe. ficado estratigráfico e paleoambiental. 2005.
Recife: DNPM, 1996, 68p. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2005.
PRICE, L .I. A presença de Pterosauria no Cretáceo
Inferior da Chapada do Araripe, Brasil. Anais da Aca- SANTOS, M. E. M. Ambiente deposicional da For-
demia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 43, mação Santana, Chapada do Araripe (PE/PI/CE). In:
suplemento, p. 451-461, 1971. CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 32., 1982,
Salvador. Anais. Salvador: Sociedade Brasileira de
PRICE, L. I. Quelônio Amphychelidia no Cretáceo In- Geologia, 1982, v. 4, p. 1412-1426.
ferior do Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de
Geociências, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 84-95, 1973.
SCHEID, C., MUNIS, M. B., PAULINO, J. Projeto
Santana. Relatório Final da Etapa II. Recife: Com-
RABINOWITZ, P. D.; LABRECQUE, J. The Mesozoic panhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Superin-
South Atlantic Ocean and evolution of its conti- tendência Regional de Recife, 1978.
nental margins. Journal of Geophysical Research, v.
84, p. 5973-6002, 1979.
SILVA, M. A. M. Lower Cretaceous unconformity
truncating evaporite-carbonate sequence, Arari-
RAND, H. M.; MANSO, V. A. V. Levantamento pe Basin, Northeastern Brazil. Revista Brasileira
gravimétrico e magnetométrico da Bacia do de Geociências, São Paulo, v. 16, n. 3, p. 306-
Araripe. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLO- 310, 1986.
GIA, 33., 1984, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Ja-
neiro: Sociedade Brasileira de Geologia, 1984. v.
4, p. 2011-2016. SILVA, M. A. M. Evaporitos do Cretáceo da Bacia do
Araripe: ambientes de deposição e história
diagenética. Boletim de Geociências da Petrobras,
REGALI, M. S. P. A idade dos evaporitos da plataforma Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 53-63, 1988.

386 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


SILVA SANTOS, R.; VALENÇA, J. G. A Formação
Santana e sua paleoictiofauna. Anais da Academia
Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 40, n. 3, p.
339-360, 1968.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA. Código Bra-


sileiro de Nomenclatura Estratigráfica: guia de no-
menclatura estratigráfica. Revista Brasileira de
Geociências, São Paulo, v. 16, p. 370-415, 1986.

WARREN, J. K.; KENDALL, C. S. S. Comparision of


sequences formed in marine sabkha (subaerial) and
salina (subaqueous) setting - modern and ancient.
AAPG Bulletin, Tulsa, v. 69, n. 6, p. 1013-1026, 1985.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 387


BACIA DO ARARIPE

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

90

T U R O N I AN O
NEO

95

CONTINENTAL

FLUVIAL
C E N O MA N IA N O

EXU
100

ALBIANO SUPERIOR
ALUVIAL

ARARIPE
CONT.

105
ALB I ANO
ARARIPINA 100
( GÁ LIC O )

ALBIANO
COQUINAS
110 PLATAFORMAL
CONCREÇÕES ROMUALDO
COSTEIRO SANTANA
CAMADAS IPUBI
LACUSTRE CRATO
FLUVIAL
115 LACUSTRE BARBALHA
CAMADAS BATATEIRA
ALAGOAS FLUVIAL
CRETÁCEO

APTIANO

120
EO

JI QUIÁ
125

BURACICA
BARRE-
MIANO

130
ARAT U

HALTE- PRÉ-ALAGOAS
CONTINENTAL

RIVIANO
LACUSTRE
(N EO CO M IAN O )

ABAIARA
FLUVIO -

135
VALE DO CARIRI

VALAN-
GINIANO
RI O
140 DA
SERRA

BERRIA-
SIANO

145
CONT.

RIO DA SERRA M. VELHA


DOM FLUVIAL
TITHO- JOÃ O
N I AN O LACUSTRE B. SANTO
NEO

150

K I M M E-
R I D G IA N O

300

350

400 PALEOZÓICA
FLUVIAL CARIRI
450

500

550
EM BASAME NTO

388 | Bacia do Araripe - Mario Luis Assine


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 371-389, maio/nov. 2007 | 389
Bacia de Pernambuco-Paraíba

Valéria Centurion Córdoba1, Emanuel Ferraz Jardim de Sá2, Debora do Carmo Sousa2,

Alex Francisco Antunes2

Palavras-chave: Bacia de Pernambuco-Paraíba l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Pernambuco-Paraíba Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução mediante solicitação da Agência Nacional de Petró-


leo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Seguindo instru-
ções para uniformização da editoração, os quatro
A carta estratigráfica da Bacia Pernambuco- autores acima nominados são aqueles responsáveis
Paraíba (BPP) consolida os resultados obtidos por pes- pelo trabalho de elaboração da carta e do texto
quisadores do Programa de Pós-Graduação em Geo- explicativo. Desse modo, é importante referir e agra-
dinâmica e Geofísica, no âmbito do projeto “Avalia- decer a participação, em etapas prévias, de outros
ção do Potencial Petrolífero da Bacia de Pernambu- pesquisadores que foram co-responsáveis pela aqui-
co-Paraíba”. Esse projeto foi objeto de contrato da sição, discussão e interpretação de partes dos dados
Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustí- aqui apresentados: Renato Marcos Darros de Matos
veis/Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ (Aurizônia), Liliane Rabelo Cruz (Petrobras), Camilla
Fundação Norte Rio-Grandense de Pesquisa e Cultu- Bezerra de Almeida (todos então, ou atualmente, no
ra (ANP/UFRN/FUNPEC), e nele foi incluído a análise Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geodinâ-
de toda a base de dados públicos disponíveis na mica e Geofísica da Universidade Federal do Rio Gran-
Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustí- de do Norte - PPGG/UFRN), Ademilson Fagundes de
veis/Banco de Dados de Exploração e Produção (ANP/ Brito (OilFinders), Paulo Marcos de Paula Vasconcelos
BDEP), além de outros dados geológicos e geofísicos (University of Queensland), Paulo de Tarso Araripe
obtidos pela equipe. Posteriormente, foi possível es- (ANP), Mário Ferreira Lima Filho (Programa de Pós-
tudar um conjunto de linhas sísmicas proprietárias Graduação da Universidade Federal de Pernambuco -
abrangendo a Sub-bacia de Pernambuco e a porção PPG/UFPE) e Virgínio H. M. Lopes Neumann (Progra-
norte da Sub-bacia de Alagoas. Tais linhas foram dis- ma de Pós-Graduação da Universidade Federal de
ponibilizadas pela empresa Veritas do Brasil S.A. Pernambuco - PPG/UFPE).

1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Centro de Ciências Exatas e da Terra/Departamento de Geologia.
e-mail: vcordoba@ufrnet.br
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Centro de Ciências Exatas e da Terra/Departamento de Geologia.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 391-403, maio/nov. 2007 | 391


A Bacia de Pernambuco-Paraíba é constituída dados fornecem marcos cronoestratigráficos precisos
por duas sub-bacias, de Pernambuco (abreviada por e trazem implicações importantes para a evolução
SBPE e também conhecida como Bacia do Cabo, a dessa bacia e vizinhas.
sul) e da Paraíba (SBPB, a norte). O limite dessas A carta estratigráfica ilustra cinco discordân-
sub-bacias é posicionado ao longo do extremo leste cias mais expressivas, representadas por superfícies
do Lineamento Pernambuco, com base na assinatu- de erosão e/ou não deposição que apresentam boa
ra gravimétrica em offshore e nas diferenças nas continuidade através da bacia, ocorrendo desde as
colunas estratigráficas das porções emersas das mes- porções proximais até as distais. A discordância mais
mas. O alto que limita a Sub-bacia de Pernambuco antiga corresponde à não conformidade que delimi-
com a Bacia Potiguar corresponde à Plataforma de ta a unidade basal da coluna sedimentar (mais espe-
Touros; a sul, o Alto de Maragogi limita a Sub-bacia cificamente, horizontes da Seqüência Rifte) em rela-
de Pernambuco com a Bacia Sergipe-Alagoas. ção ao topo do embasamento cristalino. A idade
Tendo em vista as citadas diferenças, e a mínima para essa discordância pode ser estimada
necessidade de representá-las em uma única carta, com base na ocorrência da palinozona P-260 (idade
a mesma constitui um modelo idealizado do arca- Mesoaptiano), como o registro fossilífero mais anti-
bouço estratigráfico, projetando para uma mesma go da unidade sobreposta. Deve ser ressaltado, to-
seção transversal, hipotética, unidades estratigráfi- davia, que o poço no qual foi obtido esse dado (o
cas e feições geológicas que se distribuem longitu- Poço do Cupe) não atingiu o embasamento e, as-
dinalmente ao longo de ambas as sub-bacias. Se- sim, o primeiro registro sedimentar da bacia pode
guindo a linha editorial, essa descrição enfatiza se- ser ainda mais antigo.
qüências deposicionais e os principais eventos mag- Como citado anteriormente, ocorre a Discor-
máticos, tectônicos e erosivos reconhecidos ou in- dância do Albiano/Cenomaniano, que delimita no
feridos na bacia. topo a seqüência de rochas vulcanossedimentares
A construção da carta estratigráfica aqui apre- afetadas pela deformação distensional associada ao
sentada envolveu a integração de uma base de da- evento de rifteamento Sul-Atlântico, caracterizando-
dos bastante heterogênea: dados de geologia de su- se, assim, como a discordância Rifte-Drifte (breakup
perfície e de subsuperfície (mapas, poucos poços pro- unconformity) nessa região.
fundos e testemunhados) e dados sísmicos restritos As outras três discordâncias mais jovens, do
na porção emersa, em contraste com a inexistência Turoniano superior, do Maastrichiano superior/Dania-
de dados de poços e um acervo razoável (Sub-bacia no e do Mioceno inferior, foram originadas no está-
de Pernambuco) ou limitado (Sub-bacia de Paraíba) gio de deriva continental, quando as flutuações glacio-
de dados sísmicos na porção submersa da bacia, além eustáticas passaram a ter um papel fundamental na
de uma ampla cobertura de dados gravimétricos. As construção do arcabouço cronoestratigráfico.
seqüências deposicionais e suas respectivas discordân- Além das três discordâncias Pós-Rifte, a carta
cias-limites, caracterizadas em sua maior parte pelos estratigráfica ilustra, de forma preditiva, mais duas
trabalhos no continente, foram rastreadas para as discordâncias que, apesar de não serem evidentes
porções mais distais da bacia, utilizando critérios sis- nas linhas sísmicas, possuem grande importância nas
moestratigráficos e correlações com bacias vizinhas. bacias vizinhas: as discordâncias do Campaniano in-
Assim, uma parcela das discussões aqui apresentadas ferior e do Oligoceno.
é de cunho especulativo ou preditivo. É importante As cinco discordâncias de maior expressão
ressaltar que as unidades e superfícies cronoestrati- separam cinco seqüências deposicionais e, no caso
gráficas identificadas em afloramentos e testemunhos da mais antiga, faz a sua delimitação em relação ao
na porção terrestre da bacia não são necessariamen- embasamento cristalino. Essas seqüências envolvem,
te reconhecidas nas linhas sísmicas do segmento cada qual, um intervalo de duração entre 10 a 50
offshore, em virtude das diferenças de escala e das Ma, o que as coloca na classe dos ciclos de 2ª or-
resoluções inerentes a cada método de investigação. dem, de acordo com a hierarquia de ciclos proposta
Cabe ainda mencionar que o estudo da Bacia de Per- por Vail et al. (1991).
nambuco-Paraíba viabilizou a aquisição de um expres- As seqüências deposicionais e suas respecti-
sivo conjunto de datações geocronológicas de rochas vas unidades litoestratigráficas estão apresentadas a
ígneas na Sub-bacia de Pernambuco. Analisados sob seguir, sendo individualizadas de acordo com os es-
o prisma das relações de campo dessas rochas, tais tágios tectônicos Rifte e Drifte. Ao contrário das ba-

392 | Bacia de Pernambuco-Paraíba - Córdoba et al.


cias a sul (Sergipe-Alagoas), não são conhecidas evi- do Cupe (2-CPE-01-PE), a sul de Recife, o que indica
dências de unidades Pré-Rifte no assoalho dos que a deposição sin-rifte já estaria em curso circa
depocentros, possibilidade essa que não pode ser 115 Ma (Mesoaptiano). Esse poço não atingiu o
descartada ao nível atual de conhecimento da BPP. embasamento, e a sísmica permite estimar a ocor-
Em termos de paleogeografia, as unidades relacio- rência de mais 0,5 a 1 km de rochas sedimentares
nadas ao estágio Rifte ocorrem na Sub-bacia de Per- sotopostas. O magmatismo da Suíte Ipojuca, pene-
nambuco ao longo de três zonas distintas, em estru- contemporâneo à deposição da Formação Cabo, foi
turas orientadas na direção NNE (Almeida et al. datado entre 105 a 100 Ma (idades 40Ar-39Ar em mi-
2005; Brito et al. 2006): nerais e rocha total), o que confere a Superseqüên-
i) os grábens do setor continental e de águas cia Rifte uma duração aproximada, ou mínima, de
rasas (ou grábens ocidentais), aí incluídos os grábens pelo menos 15 Ma. Essa seqüência é limitada acima
do Cupe e de Piedade; por uma expressiva discordância (discordância Rifte-
Drifte), que teria erodido pelo menos 1 a 2 km da
ii) o Alto do Maracatu, mais a leste;
Formação Cabo (Almeida et al. 2005), incluindo in-
iii) um extenso gráben (o gráben oriental) que tercalações de rochas vulcânicas da Suíte Ipojuca.
se prolonga além da Sub-bacia de Pernambuco, e ou- Esse evento erosivo foi responsável pela exumação
tros depocentros mais a leste, em pleno domínio do do Granito do Cabo, anterior à deposição dos estra-
Platô de Pernambuco. Dados gravimétricos e sísmicos tos mais basais da Seqüência Drifte Transgressiva
permitem inferir a extensão desses depocentros em sobreposta, no continente. Nesse setor (borda conti-
direção norte, na Sub-bacia da Paraíba (ver adiante). nental) da bacia, a idade máxima estimada para essa
Tendo em vista a impossibilidade atual de pro- discordância é de 102 Ma (a idade 40Ar-39Ar do Gra-
por seções tipo para as seqüências que ocorrem do- nito do Cabo), ou um pouco mais jovem (com base
minantemente em offshore, em virtude da falta de nas idades 40Ar-39Ar ou por traços de fissão em zircão,
poços para referência, foi adotada a solução, quan- das vulcânicas sotopostas à discordância, entre 100
do possível, de utilizar (e na prática, estender a área a 98 Ma) (Nascimento, 2003). A oportunidade ímpar
de ocorrência) as denominações de unidades corre- de obter datações radiométricas (efetuadas no Ages
latas na vizinha Bacia Sergipe-Alagoas. Laboratory, University of Queensland) de rochas íg-
neas intercaladas (derrames e piroclásticas) ou intru-
sivas na Superseqüência Rifte (em especial na sua
porção superior, aflorante) permitiu evidenciar que a

Superseqüência Rifte Fase Rifte, nessa bacia, perdurou até o Neo-Albiano.


Partindo do pressuposto de que a ruptura da crosta
continental e a conseqüente criação de crosta oceâ-
nica ocorreram após o estágio Rifte, pode-se afirmar
que na Bacia de Pernambuco-Paraíba tais eventos
Seqüência K40-K70 tenham ocorrido no limiar Neo-Albiano/Eocenoma-
niano. Sendo assim, e considerando que nas bacias
A Seqüência K40-K70 (Rifte) corresponde litoes- vizinhas (Sergipe-Alagoas/porção centro-sul e Poti-
tratigraficamente à Formação Cabo (incluindo uma se- guar) a formação de crosta oceânica tem idade mais
ção evaporítica de provável idade neoaptiana/eoalbiana) antiga (provavelmente Neo-Aptiana), conclui-se que
e as rochas da Suíte Magmática Ipojuca, aflorante na a região hoje ocupada pela Bacia de Pernambuco-
Sub-bacia de Pernambuco e mapeada pela sísmica no Paraíba representava o último elo entre os continen-
setor offshore de ambas as sub-bacias. A esse estágio tes Sul-Americano e Africano.
ainda se reportam as seqüências vulcanossedimentares A Superseqüência Rifte, caracterizada na Sub-
situadas na região limítrofe entre as crostas continental bacia de Pernambuco por exposições e poços no con-
e oceânica, com assinatura sísmica característica e co- tinente (i) e no setor marítimo (ii e iii) pelas linhas
mumente referidas como seaward-dipping reflections- sísmicas, é composta por sistemas de leques aluviais
SDRs (vide Tectônica e Magmatismo). e lacustres depositados em contexto tectonicamente
O registro bioestratigráfico mais antigo obtido ativo, indicado pela ocorrência de falhas de borda
nas rochas da Formação Cabo corresponde à palino- acompanhadas por espessas cunhas de conglomera-
zona P-260, identificada na base (2.953 m) do Poço dos, feições de crescimento dos pacotes sedimenta-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 391-403, maio/nov. 2007 | 393


res e pelo alojamento sintectônico de rochas subvul- Superseqüência Rifte. Face às datações no continen-
cânicas encaixadas na Formação Cabo. te, acima referidas (vulcânicas e, em decorrência,
Em termos de associação faciológica, o poço suas encaixantes sedimentares), uma idade eoalbiana
do Cupe apresenta dois intervalos bastante distintos. a neo-aptiana pode ser tentativamente inferida para
Na porção inferior, a partir de 2.000 m até a sua a seção evaporítica. Esta seção foi interpretada como
profundidade final, ocorrem camadas de conglome- tendo sido formada a partir da implantação de ba-
rados com espessuras de dezenas a centenas de cias evaporíticas associadas a um braço de mar epi-
metros, intercalados com camadas mais delgadas de continental, que, em decorrência de um clima mais
folhelhos e arenitos. Os testemunhos retirados nessa quente, embora úmido, teria sido submetido à in-
porção do poço amostraram alguns níveis de folhe- tensa evaporação.
lhos negros, intensamente bioturbados, o que pode As rochas evaporíticas formadas nesta etapa
indicar condições de deposição em águas lacustres foram reconhecidas em linhas sísmicas atravessando
mais profundas. Este intervalo corresponde às pali- um importante depocentro no setor de águas profun-
nozonas P260 e P270, equivalendo cronoestratigrafi- das da bacia (Platô de Pernambuco), o gráben oriental
camente ao Andar Aptiano. A porção superior, que (Brito et al. 2006). Sua caracterização é facilitada quan-
se estende da profundidade de 61 m (limite da For- do desenvolvem formas diapíricas e estruturas associa-
mação Cabo com a Formação Estiva, neste poço) das, que afetam a coluna sedimentar sobrejacente, ao
até os 2.000 m, é praticamente toda composta por nível da Seqüência Drifte Transgressiva, e até da Se-
camadas de arenitos, algumas chegando a apresen- qüência Drifte Regressiva Inferior.
tar 400 m de espessura. Ocorrem ainda, intercalados Na análise sísmica foi possível identificar
aos arenitos, níveis de folhelhos e argilitos. Os teste- sismofácies com padrões hummocky e divergente
munhos dessa porção evidenciam que alguns destes na seção inferior da Seqüência Rifte que indicam
níveis de folhelhos contêm restos vegetais, o que pode processos deposicionais por escorregamentos de
sugerir deposição em águas mais rasas. Este interva- massas e por fluxos gravitacionais, sindeposicionais.
lo compreende a palinozona P280, apresentando ida- Estas sismofácies são típicas dos estágios iniciais do
de eoalbiana. O poço de Piedade (9-JG-01-PE), que rifteamento e indicam o domínio de sistemas de le-
também amostrou parte da Supeseqüência Rifte, é ques aluviais/deltaicos e de turbiditos lacustres. Na
bastante semelhante. seção superior, foram identificadas sismofácies com
A ocorrência de intervalos, cujo caráter da padrão free que podem indicar a ocorrência de siste-
sedimentação se revela significativamente distinto, mas fluviais, além de sismofácies com padrões para-
permite inferir que a Superseqüência Rifte deposi- lelos e descontínuos, que sugerem a ocorrência de
tou-se sob forte controle cíclico, em que se alterna- deltas progradantes.
vam condições de deposição em águas lacustres pro- Na Sub-bacia de Pernambuco, dados sísmicos e
fundas a rasas. As fácies que ocorrem nos intervalos gravimétricos integrados permitiram distinguir, em
mais basais de ambos os poços atestam que, duran- offshore, a ocorrência de semi-grábens cujo preenchi-
te a época da sua deposição, a paleogeografia era mento é comparável à Seqüência Rifte da Sub-bacia
delineada por lagos profundos, com sedimentação de Pernambuco. A designação litoestratigráfica de For-
gravitacional por leques aluviais/deltaicos. Por outro mação Cabo é adotada preliminarmente para estes
lado, o predomínio de fácies areníticas, nos interva- depósitos. Os depocentros estão alinhados com aque-
los mais superiores destes poços, demonstra uma forte les que ocorrem no Platô de Pernambuco e, desta re-
tendência ao assoreamento destes lagos por siste- gião no rumo norte, continuam até a borda oriental da
mas de leques aluviais e/ou flúvio-deltaicos. Esta Plataforma de Touros (Jardim de Sá et al. 2006).
mudança no cenário deposicional, causada pela re- Em síntese, as interpretações tecidas com base
lativa quiescência da tectônica ao final do estágio na análise dos poços e no mapeamento sísmico con-
Rifte, pode também ter tido influência do aqueci- firmam a existência de uma fase inicial de desenvol-
mento do clima, como sugere a Curva Global de vimento do rifte, onde a atividade tectônica é mais
Variação Eustática (Haq et al. 1988), que neste inter- intensa e de uma fase final caracterizada por uma
valo de tempo se mostra ascendente. diminuição da atividade das falhas de borda da ba-
A interpretação sísmica em offshore caracte- cia, o que conduz a taxas menores de criação de
rizou uma seção evaporítica (denominação provisó- espaço para acomodação e o conseqüente assorea-
ria neste texto) intercalada na porção superior da mento dos depocentros lacustres.

394 | Bacia de Pernambuco-Paraíba - Córdoba et al.


Por fim, cabe ressaltar que a representação grá- A Seqüência K82-K86 é representada por sis-
fica da Superseqüência Rifte na carta estratigráfica pro- temas deposicionais que incluem leques costeiros e
curou retratar o modelo de deposição em uma estrutu- deltas nas porções proximais, gradando para uma pla-
ra de meio-gráben, sem escala horizontal definida, onde taforma carbonática de águas rasas e baixa energia,
a margem falhada foi posicionada no lado continental em offshore. Na Sub-bacia de Pernambuco, esta pla-
e a margem flexural em direção a águas profundas, taforma corresponde litoestratigraficamente à Forma-
em termos da batimetria atual. Seguindo este modelo, ção Estiva, que é composta por calcários maciços,
prevê-se que o hiato erosional no topo da Superse- microcristalinos e dolomitizados, em associação com
qüência Rifte (associado à discordância do Neo-albiano) siltitos/argilitos escuros e folhelhos esverdeados.
tende a ser maior em direção à margem flexural. Admite-se que a idade mais provável para
implantação da plataforma carbonática Estiva, segun-
do dados paleontológicos obtidos na porção onshore,
seja o Cenomaniano inferior, com limite máximo em
Supersequência Drifte 100-98 Ma (idade das rochas ígneas sotopostas, mais
jovens, da Seqüência Rifte).
Considerando o contexto deposicional que
Esta superseqüência foi aqui subdividida em marcou o início da sedimentação em condições de
dois grandes conjuntos de seqüências: Transgressivas margem passiva em outras bacias brasileiras, pode-
(K82-K130) e Regressivas (E10-N50). se inferir, de forma comparativa, que o início da de-
posição da Seqüência K82-K86, na Sub-bacia de Per-
Seqüências K82-K86 e K88- nambuco, era caracterizado por uma paleomorfologia
em rampa homoclinal, onde sistemas carbonáticos
K130 de águas rasas e de alta energia se interdigitavam,
em direção à costa, com sistemas deposicionais sili-
A Seqüência Drifte Transgressiva foi dividida ciclásticos. Como as condições de deposição ainda
em duas seqüências de mais alta freqüência, deno- eram bastante restritas, é provável que estas rochas
minadas de Seqüência K82-K86 (Drifte Transgressiva contivessem uma biota pouco variada com predomí-
Inferior) do Cenomaniano inferior/Turoniano inferior nio de grãos envelopados, como oolitos e oncolitos.
e Seqüência K88-K130 (Drifte Transgressiva Supe- Com o avanço do processo transgressivo, a ambiência
rior) correspondente ao Turoniano superior a Maas- deposicional provavelmente foi sendo modificada, pas-
trichtiano superior. Tais seqüências são limitadas, no sando a prevalecer um sistema plataformal de águas
topo, pela discordância do Maastrichtiano. rasas, porém, de baixa energia. Esta porção mais
superior e mais jovem da Seqüência K82-K86 deve
corresponder àquela que se encontra aflorante ou
Seqüência K82-K86 subaflorante na porção onshore da Sub-bacia de Per-
nambuco representada pelas rochas dolomíticas e
Esta seqüência foi bem caracterizada na Sub- siliciclásticas da Formação Estiva.
bacia de Pernambuco emersa, com base em aflora- Com base nos modelos de estratigrafia de se-
mentos e poços, estando representada pela Forma- qüências para rampas carbonáticas, admite-se que a
ção Estiva. Nas porções offshore das sub-bacias de Seqüência K82-K86 seja formada predominantemente
Pernambuco e da Paraíba foi interpretada sismica- pelos tratos de sistemas transgressivos e de nível de
mente. Especificamente na Sub-bacia da Paraíba, mar alto e que o trato de sistemas de nível de mar alto
uma seqüência de provável equivalência pode ser encontre-se ausente ou pouco expressivo. O trato de
inferida em linhas sísmicas dip na plataforma conti- sistemas transgressivos da Seqüência K82-K86 apresenta
nental, dispostas desde o norte de Recife (região de uma geometria retrogradacional, adquirida pelo deslo-
Itamaracá) até João Pessoa. No caso em apreço, a camento gradual dos cinturões de fácies em direção às
referida seqüência ocorre sobreposta, em discordância porções mais proximais da bacia e culmina em uma
angular, aos depósitos associados a Superseqüência superfície de inundação máxima, que foi relacionada à
Rifte, sendo capeados por um conspícuo refletor cuja passagem do Cenomaniano para o Turoniano, momento
posição estratigráfica permite correlacioná-lo à que registra um importante evento global de anoxia. O
discordância do Turoniano superior. trato de sistemas de nível de mar alto é marcado pela

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 391-403, maio/nov. 2007 | 395


migração dos cinturões de fácies em direção à bacia, dância, inferida como do Campaniano inferior. A
de forma agradacional a progradacional. existência de uma importante discordância do Cam-
paniano inferior já foi comprovada nas bacias vizi-
nhas (Potiguar e Sergipe-Alagoas).
Seqüência K88-K130 Com base na análise sísmica e tendo como
referência as seqüências deposicionais carbonáticas
Esta seqüência corresponde, na Sub-bacia da cronocorrelatas na Bacia Potiguar, pode-se admitir
Paraíba, às formações Beberibe, Itamaracá e Gra- que a Seqüência K88-K130, na Bacia de Pernambu-
mame. Na Sub-bacia de Pernambuco, esta seqüên- co-Paraíba, tenha mantido a paleomorfologia de ram-
cia ocorre preferencialmente em offshore e foi ca- pa que condicionou a sedimentação da Seqüência
racterizada sismicamente, à exceção do registro pa- K82-K86. Assim sendo, prevê-se que tal seqüência
leontológico nos carbonatos do Poço de Piedade seja formada por dois tratos de sistemas: o trato de
(Lima Filho 1998; Lima Filho e Silva Santos, 2001). sistemas transgressivo, mais basal e notadamente o
Neste caso, trata-se de fácies carbonáticas híbridas mais importante e, a seguir, com uma tendência um
que, embora incluídas originalmente na Formação pouco mais agradacional, o trato de sistemas de ní-
Estiva, são aqui reinterpretadas como correlatas às vel de mar alto. O trato de sistemas de nível de mar
formações Itamaracá e Gramame. Esta mudança baixo não foi reconhecido nas linhas sísmicas, o que
levou em consideração a existência de uma impor- corrobora tal interpretação. De forma preditiva, pode-
tante discordância que, originalmente posicionada se ainda inferir que a superfície de máxima inunda-
na porção mediana da Formação Estiva, é aqui inter- ção marinha, que marca a transição entre ambos os
pretada como a base da Seqüência K88-K130. tratos de sistemas da Seqüência K88-K130, nas sub-
A Curva Global de Variação Eustática do Ní- bacias investigadas, seja a superfície de inundação
vel do Mar (Haq et al. 1988) revela uma tendência do Campaniano superior que na Curva Global de
regressiva desse intervalo, a partir do Turoniano su- Variação Relativa do Onlap Costeiro (Haq et al. 1988)
perior. Apesar disso, na Bacia de Pernambuco-Paraí- apresenta idade de 78 Ma.
ba, esta mudança se deu de forma mais sutil e gra- Na Sub-bacia da Paraíba, o trato de sistemas
dual. O padrão fortemente transgressivo que preva- transgressivos da Seqüência K88-K130 é representa-
leceu na seqüência anterior provavelmente se man- do por arenitos conglomeráticos a conglomerados fi-
teve até o Campaniano superior, culminando em um nos de matriz síltico-argilosa, de sistemas fluviais
pico máximo expresso por um nível fosfático. A par- meandrantes, incluídos na Formação Beberibe, que
tir daí, o padrão transgressivo cedeu lugar a um pa- interdigitam-se vertical e lateralmente com arenitos
drão agradacional. A imposição, no entanto, de uma finos a médios, calcíferos e com rico conteúdo fossilí-
tendência fortemente regressiva ocorreu apenas no fero, dos sistemas litorâneos da Formação Itamaracá.
final do Cretáceo. Estas fácies possivelmente gradam, em direção a
Nas linhas sísmicas, pode ser observado que offshore, para rochas carbonáticas e pelíticas de pla-
os refletores que representam os estratos mais supe- taforma aberta. Infere-se que tais rochas constituam
riores dessa seção truncam o limite superior dessa os primeiros registros, nas porções mais distais da Sub-
seqüência, na forma de toplaps e truncamentos ero- bacia da Paraíba, da plataforma carbonática Grama-
sionais, revelando que a discordância do Maastrich- me. Ao final da deposição deste trato de sistemas
tiano superior/Daniano preservou estratos mais jo- foram implantados sistemas lagunares e estuarinos nas
vens nas porções mais distais das sub-bacias. regiões costeiras, representados pelos arenitos calcí-
O intervalo envolvido na deposição da Seqüên- feros das porções intermediária e superior da Forma-
cia K88-K130, que vai do Turoniano superior ao ção Itamarácá. Juntamente com o avanço das fácies
Maastrichtiano superior/Daniano, corresponde, na litorâneas para a costa, os sedimentos carbonáticos,
Curva Global de Variação Relativa do Onlap Costeiro que provavelmente ocupavam uma área mais restrita
(Haq et al. 1988) a duas superseqüências separadas na plataforma, devem ter avançado no mesmo senti-
por uma importante discordância do Eocampaniano, do, ampliando assim a extensão da plataforma car-
com idade circa 80 Ma. De forma comparativa, pode bonática Gramame. Este trato culmina com uma im-
ser inferido que a Seqüência K88-K130 também cons- portante superfície de máxima inundação marinha,
titui uma seqüência composta por duas seqüências representada por um nível fosfático que ocorre no topo
de mais alta freqüência, separadas por uma discor- da Formação Itamaracá, já na transição para a For-

396 | Bacia de Pernambuco-Paraíba - Córdoba et al.


mação Gramame. Este nível é caracterizado pela as- tinente, passando pelas águas marinhas rasas até as
sociação de foraminíferos bentônicos e de algas ver- porções abissais. Em águas marinhas rasas, a sedi-
des com foraminíferos planctônicos. Esta mistura de mentação é representada por sedimentos siliciclásti-
biota é creditada a correntes sazonais de ressurgência, cos de sistemas deposicionais transicionais, que pas-
de águas ricas em nutrientes, das porções mais pro- sam por sistemas deposicionais carbonáticos com
fundas para as mais rasas da plataforma. Tal nível grande diversidade biológica, construções recifais e/
fosfático é reconhecido regionalmente como uma ou bancos carbonáticos na borda da plataforma, até
expressiva anomalia de raios-gama, podendo ser cor- os sistemas de leques submarinos nas porções mais
relacionado a outros níveis de fosfato existentes no profundas de talude e bacia. Sistemas fluviais repre-
Campaniano, nas bacias vizinhas (Matsuda 1988; sentando a sedimentação continental passaram a
Matsuda e Viviers 1989). compor este cenário deposicional nos momentos ini-
Sobre esta superfície de máxima inundação ciais da deposição desta seqüência.
depositou-se o trato de sistemas de nível de mar alto A Seqüência Drifte Regressiva foi dividida em
da Seqüência K88-K130, que é marcado por uma duas seqüências de ordem superior, denominadas de
tendência de empilhamento agradacional a progra- Seqüência E10-N10 (Drifte Regressiva Inferior), de
dacional, sendo representado pelas rochas carboná- idade Paleoceno inferior/Mioceno inferior e a Seqüên-
ticas do topo da Formação Gramame. Esta forma- cia N20-N50 (Drifte Regressiva Superior) do Mioceno
ção, de idade campaniana-maastrichtiana, é com- médio/Plioceno, separadas por uma importante dis-
posta predominantemente por grainstones a packs- cordância do Mioceno inferior. Esta divisão teve como
tones maciços, por vezes intensamente dolomitiza- suporte a identificação, nas linhas sísmicas, de um
dos e/ou contendo grãos siliciclásticos, e por refletor mais expressivo, que marca a transição entre
mudstones e margas, com intensa bioturbação. Es- um conjunto de refletores com caráter progradacio-
tas rochas são compostas por uma biota variada, e nal, que corresponde à Seqüência E10-N10, para
tal fato corroborou para a interpretação de que as outro conjunto com caráter agradacional, relaciona-
mesmas se depositaram sob condições de mar aber- do à Seqüência N20-N50.
to, em águas quentes e calmas e com lâmina d’água
entre 100 a 200 m. O final deste trato de sistemas
provavelmente é marcado por taxas relativamente
Seqüência E10-N10
menores de subida eustática do nível do mar e por
uma diminuição gradativa na taxa de acomodação, Esta seqüência apresenta como representan-
o que gerou a migração dos cinturões de fácies para tes litoestratigráficos as formações Algodoais, Mari-
o interior da bacia, num padrão progradacional. Tal tuba, Mosqueiro e Calumbi, na Sub-bacia de Per-
fato pôde ser comprovado pela ocorrência, em al- nambuco, e as formações Marituba, Maria Farinha e
guns poços no setor onshore da bacia, de níveis de Calumbi na Sub-bacia da Paraíba.
arenitos calcíferos intercalados com as rochas carbo- Na Sub-bacia de Pernambuco, esta seqüência
náticas típicas da Formação Gramame, na porção é formada por sistemas fluviais, transicionais e mari-
mais superior desta seqüência. Estes níveis represen- nhos rasos e profundos. Os sistemas fluviais que com-
tam o avanço dos sedimentos litorâneos por sobre põem a Formação Algodoais compreendem conglo-
os sedimentos carbonáticos de plataforma. merados predominantemente polimíticos e arenitos
com intercalações de argilitos, possuindo um padrão
entrelaçado a meandrante. Para esta unidade, ca-
Seqüências E10-N10 e N20- racteristicamente afossilífera, Lima Filho (1998) pro-
N50 pôs uma idade no intervalo Cretáceo superior – Pa-
leógeno. Todavia, a ocorrência de apatita detrítica
nesta formação, com idade de 78 ± 6 Ma pelo méto-
A Seqüência Drifte Regressiva é marcada pelo do de traços de fissão, sugere que, ao final do Cretá-
estabelecimento pleno das condições de deposição ceo superior, a sua área fonte já estaria exumada e
em ambiente marinho aberto. Neste contexto pa- exposta à erosão. Conseqüentemente, e pelo baixo
leoambiental desenvolveram-se nas sub-bacias inves- grau de litificação, a idade de deposição deve ser
tigadas plataformas com fisiografia de borda, talude mais jovem, possivelmente paleógena.
e bacia, onde a deposição se processou desde o con-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 391-403, maio/nov. 2007 | 397


Na Sub-bacia da Paraíba, por sua vez, a Se- mentar excedia amplamente a taxa de criação de
qüência E10-N10 é formada por sistemas marinhos espaço de acomodação, para condições de deposi-
rasos a profundos, não incluindo sistemas fluviais. ção onde predomina um equilíbrio entre as taxas de
Na porção onshore desta sub-bacia, a seqüência é aporte sedimentar e a de criação de espaço de aco-
representada pelas rochas carbonáticas de platafor- modação. A Sub-bacia de Pernambuco inclui as for-
ma e borda de plataforma da Formação Maria Fari- mações Barreiras, Marituba, Mosqueiro e Calumbi,
nha, que representa uma prolífera plataforma car- e a Sub-bacia da Paraíba as formações Barreiras,
bonática, composta essencialmente por grainstones Marituba, Maria Farinha e Calumbi.
a packstones bioclásticos. A Seqüência N20-N50 é representada por vários
Na porção offshore de ambas as sub-bacias, sistemas deposicionais, integrados em uma ampla pla-
estratos avaliados como equivalentes aos sistemas taforma com borda. Neste panorama deposicional, sis-
fluviais da Formação Algodoais, na Sub-bacia de Per- temas continentais representados por depósitos de le-
nambuco, ou correlatos aos sistemas carbonáticos ques aluviais e fluviais relacionados à Formação Barrei-
da Formação Maria Farinha, na Sub-bacia da Paraí- ras gradavam nas regiões litorâneas para depósitos silici-
ba, encontram-se representados sismicamente por clásticos de sistemas transicionais, denominados (seguindo
um conjunto de clinoformas dispostas em downlap a explanação da seqüência anterior) de Formação Mari-
sobre a discordância inferior, do Maastrichtiano su- tuba. Os sistemas deposicionais marinhos são represen-
tados por depósitos carbonáticos plataformais e de bor-
perior/Daniano, e em toplap com relação à discor-
da de plataforma e por folhelhos e raros turbiditos de
dância superior, do Mioceno inferior. Para nomear
talude e bacia. Estes sistemas marinhos foram relacio-
litoestratigraficamente as rochas carbonáticas plata-
nados, respectivamente, às formações Maria Farinha e
formais que ocorrem somente em offshore na Sub-ba-
Calumbi, também segundo a explicação anterior.
cia de Pernambuco, optou-se por utilizar a designação
Considerando que a Seqüência N20-N50 pos-
da unidade equivalente na Sub-bacia da Paraíba, nes-
sui como limite inferior uma discordância produzida
te caso, a Formação Maria Farinha. Para classificar os
por um pronunciado recuo do nível do mar e que se
folhelhos pelágicos e turbiditos de talude e bacia que
desenvolveu em uma paleomorfologia de platafor-
ocorrem nas porções mais distais de ambas as sub-
ma com borda, pode-se especular que a Seqüência
bacias, foi adotado o nome da unidade cronoestrati- N20-N50 na Bacia de Pernambuco-Paraíba seja com-
gráfica correspondente na Bacia Sergipe-Alagoas, a posta pelos tratos de sistemas de nível de mar baixo,
Formação Calumbi. Foi interpretado ainda, com base transgressivo e de nível de mar alto.
no padrão de empilhamento progradacional identifica- Durante a deposição do trato de sistemas de ní-
do sismicamente que, ao final desta seqüência, ocor- vel de mar baixo, com o recuo do onlap costeiro e da
rem sistemas siliciclásticos costeiros, que vieram a re- linha de costa para as porções mais distais, provavel-
ceber a denominação de Formação Marituba, nome mente desenvolveram-se sistemas de leques submari-
também derivado da Bacia Sergipe-Alagoas. nos no talude e bacia, seguidos pela deposição de uma
Esta seqüência se desenvolveu sob uma cunha clástica, de forma progradante, representando a
paleomorfologia de plataforma com borda, talude e parte tardia do rebaixamento eustático. O trato de siste-
bacia. Sendo assim, infere-se que a mesma seja for- mas transgressivo é marcado pelo avanço dos cinturões
mada pelo trato de sistemas de nível de mar baixo, de fácies para as porções mais proximais, culminando
com seus típicos sistemas de leques submarinos e a com a superfície de máxima inundação marinha. Du-
cunha de nível de mar baixo, e pelos tratos de siste- rante este episódio, é provável que o aporte de sedi-
mas transgressivos e de nível de mar alto. Nas linhas mentos siliciclásticos tenha diminuído, contido nas áreas
sísmicas, não foi possível reconhecer as superfícies- costeiras, e que nas regiões plataformais tenha domina-
chave, que separam estes tratos de sistemas. do uma sedimentação carbonática pura. Durante a de-
posição do trato de sistemas de nível de mar alto, houve
uma redução da taxa de criação do espaço de acomo-
Seqüência N20-N50 dação, concomitante com o avanço dos cinturões de
fácies para a bacia. Esta situação deve ter imprimido
O início da deposição desta seqüência, no condições de sedimentação mista, com sedimentos sili-
Mioceno inferior/médio, marca a mudança das con- ciclásticos e carbonáticos interdigitando-se em águas pla-
dições prevalecentes durante toda a deposição da taformais, além da geração de bioconstruções de corais,
seqüência sotoposta, onde a taxa de aporte sedi- sejam na forma de manchas recifais na plataforma ou

398 | Bacia de Pernambuco-Paraíba - Córdoba et al.


como recifes de barreira nas margens da mesma. Du- Paraíba, e um controle por mecanismo gravitacional
rante toda a deposição desta seqüência, sedimentos de (colapso da plataforma-talude) pode ser aventado. O
leques aluviais e fluviais, relacionados à Formação Bar- diapirismo salino em águas profundas da Sub-bacia
reiras, ocuparam as regiões mais proximais da bacia. de Pernambuco está inserido neste contexto. Toda-
via, na Sub-bacia da Paraíba, entre Recife e Natal,
ocorrem estruturas de grábens com distensão NE/ENE,
Seqüência N60 cujas falhas afetam tanto as unidades do Cretáceo
superior (até o Campaniano) como o próprio emba-
A Seqüência N60 ocorre na parte emersa da samento cristalino. Reativações deste regime
bacia, constituída pelos sedimentos de planícies próxi- cinemático chegam a afetar a Formação Barreiras.
mo à foz dos rios, principalmente Sirinhaem, Capibaribe O terceiro evento distinguido envolve disten-
e Paraíba e por cordões litorâneos ao longo da costa. são longitudinal às bacias, em geral mediando a di-
reção N-S (a NNE). Na Bacia Sergipe-Alagoas, um
importante evento deformacional, com tal
cinemática, é de idade pré-Formação Barreiras. Na
tectônica e Bacia de Pernambuco-Paraíba, esta cinemática é
definida por falhas normais E-W a ENE, além de fa-
magmatismo lhas de rejeito direcional, ou oblíquas, com direções
NE e NW. A cinemática de distensão N-S ± com-
pressão E-W pode ser relacionada ao campo de ten-
Na evolução da Bacia Pernambuco-Paraíba, sões de escala continental, que afeta a Placa Sul-
desde o estágio Rifte até o estágio Drifte (incluindo Americana desde o Cretáceo superior.
as fases Transgressiva e Regressiva), ocorreram pro- Dado à carência de marcadores estratigráfi-
cessos deformacionais e magmáticos que contribuí- cos ou geocronológicos, a exata cronologia entre os
ram para o arcabouço ou estão presentes no registro eventos Pós-Rifte ainda é pouco conhecida. Muito
estratigráfico. Com base na geometria das estrutu- provavelmente, esses eventos são em parte pene-
ras, assinatura cinemática, relações cronológicas e contemporâneos, mas relacionados a causas distin-
provável mecanismo gerador, três eventos deforma- tas, de escala regional (colapso da margem conti-
cionais são reconhecidos. nental) ou distribuído por toda a placa.
O evento sinrifte (ou simplesmente Rifte) é Ao longo da Bacia Pernambuco-Paraíba, são
traduzido por uma deformação distensional, com eixo assinaladas ocorrências de rochas ígneas de contex-
de máxima distensão na direção NW-SE. Falhas nor- to sin a tardirifte (a Suíte Magmática Ipojuca, no se-
mais em arranjo lístrico ou dominó, com direção NE, tor emerso e plataforma adjacente da Sub-bacia de
e combinadas a falhas de transferência (em geral, Pernambuco; os SDRs, no limite com a crosta oceâ-
de rejeito oblíquo) NW, são as estruturas caracterís- nica) e Pós-Rifte (a província de corpos magmáticos
ticas deste estágio de evolução. O registro cinemático no Platô de Pernambuco e ocorrências restritas no
descrito tem como base as exposições da Superse- embasamento ladeando a Sub-bacia da Paraíba).
qüência Rifte na Sub-bacia de Pernambuco (Almeida A Suíte Magmática Ipojuca (SMI) engloba ba-
et al. 2005). Na Sub-bacia da Paraíba, falhas sinrifte saltos, traqui-andesitos e traquitos, riolitos, piroclásti-
são reconhecidas em offshore pela sísmica. cas e o Granito do Cabo de Santo Agostinho. Este
Um segundo evento (Pós-Rifte), é representa- conjunto de litotipos ígneos está filiado a dois magmas
do também por estruturas distensionais, todavia re- parentais distintos, básico e ácido, pelo menos em
conhecidas em unidades mais jovens, sobrepostas à parte coexistentes, ambos de afinidade alcalina (Nas-
discordância rifte-rifte (na Sub-bacia de Pernambu- cimento 2003). A presença de derrames e camadas
co) ou cronologicamente equivalentes (Seqüência piroclásticas intercaladas na Formação Cabo, junto com
Drifte Transgressiva Superior e Regressiva, na Sub- corpos hipabissais (soleiras, diques e plugs, além do
bacia da Paraíba). As falhas normais são mapeadas plúton epizonal) nela intrusivos, indicam que o mag-
tanto em terra quanto em linhas sísmicas no mar, e, matismo foi penecontemporâneo à deposição daque-
muito freqüentemente, constituem falhas peliculares les sedimentos (pelo menos ao nível aflorante no conti-
ou ocorrem na continuidade das falhas sinrifte. O nente) e à tectônica rifte. O controle desses corpos por
eixo principal de distensão varia entre WNW, na Sub- falhas sinrifte é evidenciado em vários exemplos de
bacia de Pernambuco; a NE/ENE, na Sub-bacia da campo (Almeida et al. 2005).

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 391-403, maio/nov. 2007 | 399


Várias amostras desses corpos foram datadas i) Os altos seriam dominados por construções
pelos métodos 40Ar-39Ar e traços de fissão em zircão, magmáticas Pós-Rifte, possivelmente de idade neo-
resultando em um dos melhores conjuntos de idades cretácea, em sua maior parte intrusivas no embasa-
disponíveis em bacias da margem continental brasi- mento cristalino. Esta hipótese, relacionável à ativi-
leira (Nascimento 2003). A distribuição das datações dade de plumas intraplaca, é mais simples e parece
permite estimar que os diversos componentes da SMI contemplar melhor as relações de onlap da seqüên-
(basaltos, traquitos, riolitos e o Granito do Cabo) fo- cia terciária nas bordas dos altos;
ram formados no intervalo de tempo 105 a 100 (±2) ii) Numa hipótese atualmente avaliada como
Ma, correspondente ao Meso-Neoalbiano. Em de- de menor probabilidade, os altos seriam de origem
corrência, a mesma idade pode ser inferida para a tectonomagmática, relacionada ao rifteamento, com
seção superior da Formação Cabo. Por outro lado, soerguimento da crosta inferior granulítica intrudida
os dados palinológicos dos poços do Cupe e Piedade por plútons granitóides neoproterozóicos/brasilianos
indicam um intervalo Mesoaptiano à base do Albia- (expostos na margem continental), e/ou por corpos
no (palinozonas P-260 a P-280) para os níveis inferio- ígneos sinrifteamento, equivalentes plutônicos dos
res a medianos desta formação, que são capeados por litotipos dominantes na Suíte Ipojuca (sienogabros/
uma zona estéril que pode corresponder ao intervalo dioritos a monzonitos/monzodioritos).
Meso/Neo-Albiano (pós-P-280) inferido a partir das
Finalmente, ainda deve ser citada a ocorrên-
idades das rochas da SMI.
cia, eventual e pontual, de rochas básicas/alcalinas
Na região limítrofe entre as crostas continen-
de idade neocretácea a terciária, especialmente na
tal e oceânica, no Platô de Pernambuco, mas tam-
Sub-bacia da Paraíba, tendo como exemplos e análo-
bém ao longo da Sub-bacia da Paraíba, a reinterpre-
gos, no continente, a intrusão alcalina de Itapororoca
tação de algumas linhas sísmicas estudadas no Pro-
e os basaltos alcalinos correlatos à Suíte Macau.
jeto Pernambuco-Paraíba permite identificar a ocor-
rência dos seaward-dipping reflectors (SDRs). Com
base em vários exemplos descritos na literatura, tais
feições correspondem a seqüências vulcanossedimen-
tares (provavelmente vulcânicas básicas intercaladas
com sedimentos silicilásticos de proveniência conti-
agradecimentos
nental) cuja idade coincide com um estágio tardio,
ou terminal, do rifte, e a conseqüente criação de Agradecimentos à Agência Nacional de Petró-
assoalho oceânico. No caso da Bacia de Pernambu- leo, Gás e Biocombustíveis (ANP) e a Veritas do Brasil
co-Paraíba, tais seqüências estão capeadas por sedi- S.A. pelo apoio e permissão para divulgação dos resul-
mentos de provável idade paleógena/neógena (Se- tados dos projetos, como também a Petrobras, em nome
qüência Regressiva) e, pelo menos em parte, pare- de Gilmar Vital Bueno, Hamilton Duncan Rangel e
cem estar assentadas sobre o substrato oceânico. Edison José Milani, pelo honroso convite para partici-
No Platô de Pernambuco, o exame das li- pação neste volume e pelas discussões técnicas ocorri-
nhas sísmicas permite interpretar a ocorrência de das durante a preparação da carta estratigráfica.
outros tipos de corpos magmáticos, de forma ta-
bular (soleiras), encaixados nas Seqüências Rifte e
Drifte Transgressiva, mais provavelmente definin-
do uma província ígnea mais jovem, em compara-
ção com a SMI.
referências
Esta província ígnea na Sub-bacia de Pernam-
buco marítima é referida como os Altos Magmáticos
bibliográficas
do Platô de Pernambuco. Marcantes anomalias mag-
néticas e gravimétricas estão associadas com estes
altos batimétricos, que ocorrem no domínio de cros- ALMEIDA, C. B.; CRUZ, L. R.; JARDIM DE SÁ, E. F.;
ta continental, sob águas profundas e ultraprofun- VASCONCELOS, P. M. P.; MEDEIROS, W. E. Tectôni-
das. Tais rochas podem corresponder a grandes ca e relações estratigráficas na Sub-bacia de Pernambu-
plútons ou a enxames de corpos menores, freqüen- co, NE do Brasil: contribuição ao conhecimento do rifte
temente tabulares. Duas hipóteses principais podem Sul-Atlântico. Boletim de Geociências da Petrobras,
ser colocadas para a origem destas feições: Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 167-180, maio/nov. 2005.

400 | Bacia de Pernambuco-Paraíba - Córdoba et al.


BRITO, A. F.; ANTUNES, A. F.; JARDIM DE SÁ, E. F.; relações com as unidades sedimentares da Bacia
MEDEIROS, W. E.; CÓRDOBA, V. C.; SOUSA, D. C.; de Pernambuco (NE do Brasil). 2003, 235 p. Tese
ARARIPE, P. T. Reinterpretação sísmica e gravimétrica (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do
no Platô de Pernambuco: altos e depocentros, evidên- Norte, Natal, 2003.
cias de uma seção evaporítica e implicações explorató-
rias. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 43., VAIL, P. R.; AUDERMAD, F.; BROWMAN, S. A., EISNER,
2006, Aracajú. Anais. Bahia: Sociedade Brasileira de P. N.; PEREZ-CRUZ, C. The stratigraphy signatures of
Geologia. Núcleo Bahia-Sergipe Aracaju, 2006. 14 p. tectonics, eustacy and sedimentology: an overview. In:
EINSELE, G.; RICKEN, W.; SEILACHER, A. (Ed.) Cycles
HAQ, B. U.; HARDENBOL, J.; VAIL, P. R. Mesozoic and events in stratigraphy. Berlin: Springer-Verlag,
and cenozoic chronostratigraphy and cycles of Sea- 1991. p. 617-659.
Level change. In: WILGUES, C. K.; HASTINGS, B. S.;
POSAMENTIER, H. W.; VAN WAGONER, J. C.; ROSS,
C. A.; KENDALL, C. G. S. G. (Ed.). Sea-level
changes: an integrated approach. Houston: Society
of Economic Paleontologists and Mineralogists, 1998.
bibliografia
p. 71-108. (SEPM. Special Publication, 42).
FEIJÓ, F. J. Bacia Pernambuco-Paraíba. Boletim de
JARDIM DE SÁ, E. F.; MEDEIROS, W. E.; ANTUNES, Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
A. F.; ALVES DA SILVA, F. C.; CÓRDOBA, V. C.; OLI- p. 143-147, jan./mar. 1994.
VEIRA, R. G. O extremo norte do rifte sul-atlântico:
integração geologia e geofísica. In: CONGRESSO BRA- JARDIM DE SÁ, E. F.; CRUZ, L. R.; ALMEIDA, C. B.;
SILEIRO DE GEOLOGIA, 43., 2006, Aracajú. Anais. MEDEIROS, W. E.; MOREIRA, J. A. M.; FIGUEIREDO, E.
Bahia: Sociedade Brasileira de Geologia. Núcleo M. Tectônica pós-rifte na Sub-bacia da Paraíba, Nordes-
Bahia-Sergipe Aracaju, 2006. 17 p. te do Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLO-
GIA, 42., 2004. Araxá. Anais. Minas Gerais: Sociedade
LIMA FILHO, M. F. Análise estratigráfica e estrutu- Brasileira de Geologia, 2004. 1 CD-ROM.
ral da Bacia Pernambuco. 1998. 139 p. Tese (Dou-
torado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. JARDIM DE SÁ, E. F.; ALMEIDA, C. B.; RABÊLO CRUZ,
L.; NASCIMENTO, M. A. L.; ANTUNES, A. F.; ALVES
LIMA FILHO, M. F.; SILVA SANTOS, P. R. Biocronoestrati- DA SILVA, F. C. Controle estrutural no alojamento de
grafia da Bacia Pernambuco – implicações ambientais e rochas vulcânicas: exemplos e implicações na Bacia
paleogeográficas. Revista Brasileira de Paleontologia, Pernambuco-Paraíba, NE do Brasil. In: SIMPÓSIO NA-
São Leopoldo, v. 2, p. 84-85. 2001. CIONAL DE ESTUDOS TECTÔNICOS, 10., 2005,
Curitiba. Boletim de resumos expandidos. Curitiba:
MATSUDA, N. S.; VIVIERS, M. C. Caracterização do Sociedade Brasileira de Geologia, 2005. p. 75-77.
marco radioativo da parte superior da Formação
Jandaíra na Bacia Potiguar. In: CONGRESSO BRASI- NASCIMENTO, M. A. L.; VASCONCELOS, P. M.; SOU-
LEIRO DE PALEONTOLOGIA, 11., 1989, Curitiba. ZA, Z. S.; JARDIM DE SÁ, E. F.; CARMO, I. O.; THIEDE,
Anais. Curitiba: Sociedade Brasileira de Paleontolo- D. 40Ar-39Ar geochronology of the Cabo Magmatic
gia, 1989, p. 1029-1041. Province, Pernambuco Basin, NE Brazil. In: SOUTH
AMERICAN SYMPOSIUM ON ISOTOPE GEOLOGY, 4.,
MATSUDA, N. S. Caracterização petrográfica, 2003, Salvador. Anais. Salvador: Companhia Baiana
mineralógica e paleoambiental da anomalia ra- de Pesquisa Mineral, 2003. p. 624-628.
dioativa associada às rochas carbonáticas do Cre-
táceo Superior da Bacia Potiguar, Rio Grande do RABÊLO CRUZ, L., CÓRDOBA, V. C., MATOS, R. M.
Norte, Brasil. 1988, 131 p. Tese (Mestrado) - Uni- D., JARDIM DE SÁ, E. F., ALMEIDA, C. B., GUEDES,
versidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 1988. I. M. G., LIMA FILHO, M. F. Revisão lito-estratigráfica
da Sub-bacia de Pernambuco, Nordeste do Brasil. In:
NASCIMENTO, M. A. L. Geologia, geocronologia, CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 42., 2004.
geoquímica e petrogênese das rochas ígneas Araxá. Anais. Minas Gerais: Sociedade Brasileira de
cretácicas da Província Magmática do Cabo e suas Geologia, 2004. 1 CD-ROM.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 391-403, maio/nov. 2007 | 401


BACIA DE PERNAMBUCO-PARAÍBA

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
SPA

BARREIRAS
EO ZAN C LEAN O

N20 - N50
1.200
M E S S I N I AN O
NEÓGENO

NEO
TORT ONIANO
10
S E R R AVAL IA N O
MESO
LANG H I AN O

MARITUBA
MAR I N H O R E G R E S S I VA
B U R D I GAL IA N O MIOCENO INFERIOR
20 EO
AQ U I TAN IA N O

HA
NEO C HAT T IAN O

MARIA FAR IN
30
EO R U P E L IA N O

NEO OLIGOCENO

E10 - N10
P R I AB O N I AN O

ALGODOAIS

1.500
PALE Ó G E NO

BAR T O N I AN O

CALUMBI
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

50
EO Y P R E S I AN O
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O

MAASTRICHTIANO/DANIANO
CONT. / MARINHO TRANSG.

70

GRAMAME
( SE NO NIANO )

K88 - K130
ACÁ

2.000
COSTEIRO

CAM PA N IAN O
EOCAMPANIANO
BEBERIBE
R

80
ITAM A
NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U R O N I AN O FLUVIO- NEOTURONIANO

700

K82-
ESTUARINO

K86
/ RAMPA ESTIVA
C E N O MA N IA N O CARBONÁTICA
100
CRETÁCEO

SUÍTE
JUCA

NEO-ALBIANO
IPO-
LEQUES ALUVIAIS
CONTINENTAL

/ LACUSTRE

AL B I AN O
K40 - K70
( GÁ LIC O )

110
CAB O

ALAGOAS
APTIANO
120
EO

PRÉ-ALAGOAS SUPERIOR
JI QUIÁ
BARRE- BURACICA
MIANO
130
ARAT U
(N EO CO M IAN O )

HAUTE-
RIVIANO

VALAN-
GINIANO RIO
140 DA
BERRIA- SERRA
SIANO

DOM
TITHO-
JOÃO
NIANO
150
542
EM BASAME NTO

402 | Bacia de Pernambuco-Paraíba - Córdoba et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 391-403, maio/nov. 2007 | 403
Bacia de Sergipe-Alagoas

Oscar Pessoa de Andrade Campos Neto1, Wagner Souza Lima2,

Francisco Eduardo Gomes Cruz3

Palavras-chave: Bacia de Sergipe-Alagoas l Estratigrafia l carta estratigráfica


Keywords: Sergipe-Alagoas Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução dentre esses se destacam Lana (1985). Feijó (1994),


na última revisão das cartas estratigráficas, individua-
lizou as bacias de Sergipe e Alagoas, estabelecendo
A Bacia de Sergipe-Alagoas limita-se a nor- o limite das duas bacias no Alto de Japoatã-Penedo.
deste com a Bacia de Pernambuco-Paraíba pelo alto Nessa revisão, a Bacia de Sergipe-Alagoas será
de Marogogi, e a sudoeste com a Bacia de Jacuípe, tratada como uma única bacia sedimentar, tendo em
onde o limite é indiviso. Souza-Lima et al. (2002) e vista que o Alto de Japoatã-Penedo não caracteriza
Campelo (2006) sugeriram que esse limite seria no um divisor de bacias e que está restrito apenas à
sistema de falhas de Guarajuba ou mesmo mais a porção emersa e de águas rasas, não se prolongan-
sul no sistema de falhas de Itapuã, e admitiram que do até o bloco baixo da charneira Eoalagoas. Outra
a Bacia de Jacuípe seria uma Sub-bacia de Sergipe- justificativa é que na região de águas profundas não
Alagoas. De acordo com Souza-Lima et al. (2002), a ocorre nenhuma feição geológica que justifique um
Bacia de Sergipe-Alagoas abrangeria as sub-bacias limite de bacias. Entretanto, como o preenchimento
de Jacuipe, Sergipe e Alagoas, bem como a Sub- sedimentar e o estilo tectônico na Bacia de Sergipe-
bacia do Cabo, que se situa no sul de Pernambuco. Alagoas varia da porção sergipana para a alagoana,
Contudo, para admitir essa interpretação, será ne- foram elaboradas duas cartas estratigráficas.
cessário realizar um trabalho de integração no limite A nomenclatura litoestratigráfica mantém a
setentrional da Bacia de Sergipe-Alagoas. precedência das definições de Schaller (1970) e
A Bacia de Sergipe-Alagoas sempre foi abor- Feijó (1995). Algumas das definições de Schaller
dada em diversos trabalhos como uma bacia única, (1970) e Feijó (1995) foram alteradas em virtude

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica
e-mail: oscarcampos@petrobras.com.br
2
Unidade de Negócio de Exploração e Produção de Sergipe e Alagoas/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação
Geológica e Geofísica
3
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sul/Pólo Sul

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 405-415, maio/nov. 2007 | 405


dessa revisão enfatizar conceitos que regem a es- sendo que Schaller (1970) individualizou nessa uni-
tratigrafia de seqüências. dade os membros: Mulungu, que é representado
por conglomerados e diamictitos; Atalaia, carac-
terizado por arenitos, e Boacica, que é constituído
por siltitos e folhelhos.
embasamento Nessa revisão, consideramos apenas duas uni-
dades na Formação Batinga: o Membro Mulungu,
basal, de distribuição restrita, é composto exclusiva-
O embasamento da Sub-bacia de Sergipe é mente por diamictitos que são resultantes do retra-
formado pelas rochas metamórficas proterozóicas balhamento dos sedimentos glaciais por fluxos de
de baixo grau dos grupos Miaba e Vaza-Barris detritos; e o Membro Boacica, que é constituído por
(Moraes Rego, 1933). Também ocorrem metasse- conglomerados, arenitos, siltitos e folhelhos que fo-
dimentos do Grupo Estância (Silva et al. 1978), pos-
ram depositados através de leques deltaicos. O pa-
sivelmente de idade cambriana, que foram deposi-
drão de empilhamento sedimentar dessas unidades
tados por sistemas alúvio-fluviais, deltaicos e de
é predominantemente transgressivo.
marés. O embasamento da Sub-bacia de Alagoas é
O Membro Atalaia foi suprimido porque os are-
constituído por rochas graníticas, proterozóicas, do
nitos da seção tipo dessa unidade no poço 1-5M-1-
maciço Pernambuco-Alagoas.
O preenchimento sedimentar da Bacia de Ser- SE (Santa Maria) pertencem à Formação Candeeiro
gipe-Alagoas constitui-se de vinte e três seqüên- de idade juro-eocretácea.
cias deposicionais. Essas seqüências são correla-
cionáveis aos estágios evolutivos que ocorreram
nas bacias da margem leste brasileira e que cul-
Seqüência Permiana
minaram com a formação do Atlântico Sul (Ponte
e Asmus, 1976): sinéclise; pré-rifte; rifte e mar- A Formação Aracaré foi depositada em am-
gem passiva (drifte). bientes desértico, litorâneo e deltaico, sob a influên-
cia de retrabalhamentos eólico e de ondas. Essa su-
cessão sedimentar é caracterizada por um ciclo trans-
gressivo-regressivo (T-R), no qual os folhelhos pretos

sinéclise são recobertos por arenitos, calcarenitos associados


a sílex e laminitos algais.

Sobre o embasamento pré-cambriano foram


depositadas em condições intracratônicas, inicialmen-
te a Seqüência Carbonífera representada pela For-
mação Batinga e, posteriormente, a Seqüência
Superseqüência Pré-
Permiana, que corresponde à Formação Aracaré.
Essas seqüências representam o registro sedimentar
Rifte
de sinéclises paleozóicas que cobriam extensas áre-
as do continente Gondwana. Seqüência J20-K05
A Bacia de Sergipe-Alagoas constituía um dos
segmentos da depressão afro-brasileira, que foi for-
Superseqüência mada por um soerguimento crustal no Neojurássico

Paleozóica (Ponte e Asmus, 1976). Nessa fase de estabilidade


tectônica depositou-se a Seqüência Juro-Cretácea
(J20-K05), representada pelos folhelhos vermelhos
lacustres da Formação Bananeiras e os arenitos flúvio-
Seqüência Carbonífera deltaicos da Formação Candeeiro. Posteriormente,
sistemas fluviais entrelaçados com retrabalhamento
As rochas siliciclásticas da Formação Batinga eólico colmataram esse lago e depositaram os areni-
depositaram-se em ambiente glacial subaquoso, tos da Formação Serraria.

406 | Bacia de Sergipe - Alagoas - Campos Neto et al.


Superseqüência Rifte Seqüência K34-K36
Corresponde ao estágio de subsidência me- Compreende os andares Aratu, Buracica e Ji-
cânica da bacia, quando foram depositadas, em am- quiá durante o primeiro pulso tectônico do rifte. Essa
biente continental e marinho restrito, as rochas das seqüência é composta por conglomerados aluviais da
seqüências K10-K20, K34-K36, K38 e K40. Formação Rio Pitanga; arenitos alúvio-fluviais da For-
Em Sergipe-Alagoas, o início e o término do mação Penedo; carbonatos coquinóides e folhelhos
estágio rifte da bacia ainda é motivo de controvér- da Formação Morro do Chaves, além de arenitos,
sia. Alguns autores, dentre eles Feijó (1995), posi- siltitos e folhelhos deltaico-lacustres da Formação
cionaram esse limite em idades diferentes. Nessa Barra de Itiúba.
revisão admitimos que o início do rifte ocorreu no Nessa época, a tectônica rúptil restringia-se
início do Andar Rio da Serra (aproximadamente 142 à Sub-bacia de Sergipe, onde ocorria a deposição
Ma) ao instalar-se o lago da Formação Feliz Deserto. dos conglomerados aluviais da Formação Rio Pi-
Esse lago, mais profundo e com características dife- tanga, dos arenitos da Formação Penedo e, nas
rentes do lago da Formação Bananeiras, evidencia porções distais, prevalecia a sedimentação
que além das variações climáticas também ocorreu
deltaica-lacustre da Formação Barra de Itiúba. Na
um progressivo aumento na taxa de subsidência da
Sub-bacia de Alagoas, a sedimentação arenosa flu-
bacia. Esse evento foi síncrono com o das bacias do
vial da Formação Penedo ocorria concomitantemen-
Recôncavo e Tucano. Entretanto, o tectonismo foi
te à deposição deltaica-lacustre da Formação Bar-
mais brando na Bacia de Sergipe-Alagoas.
ra de Itiúba.
Quanto ao término do rifte, admitimos que
O nível máximo desse lago ocorreu ao final
ocorreu no Eoalagoas (aproximadamente 116 Ma),
da idade Buracica com a deposição do marco estra-
quando o tectonismo foi bastante intenso e deli-
neou-se a linha de charneira. Posteriormente, uma tigráfico, aqui denominado de Folhelho Buracica. A
discordância expressiva ocorreu em toda bacia. partir da idade Eojiquiá esse lago foi colmatado pe-
Esse evento erosivo regional, denominado de dis- los sedimentos alúvio-fluviais das formações Rio Pi-
cordância pré-Neo-Alagoas, também aconteceu tanga e Penedo. Nas porções rasas da Sub-bacia de
nas bacias de Camamu, Almada, Espírito Santo, Sergipe, durante os períodos de baixo aporte sedi-
Campos e Santos, onde também limita o final do mentar, ocorria a deposição das coquinas de bivalves
estágio rifte (Dias, 2005). da Formação Morro do Chaves.
Nessa revisão retomamos a denominação
de Formação Morro do Chaves atribuída por
Seqüência K10-K20 Schaller (1970) aos carbonatos coquinóides e fo-
lhelhos que ocorrem interdigitados às rochas das
De idade Rio da Serra, foi depositada durante Formações Rio Pitanga, Poção e Coqueiro Seco.
o estiramento inicial do rifte, quando se instalou o Feijó (1995) rebaixou essa unidade para Membro
sistema lacustre-deltaico da Formação Feliz Deser- da Formação Coqueiro Seco. Entretanto, consta-
to. O registro da sedimentação arenosa alúvio-fluvial tou-se que essa unidade ocorria tanto nas seqüên-
da Formação Penedo restringia-se a segmentos da bor- cias K34-K36 como na K38.
da sergipana e ao extremo nordeste da borda
alagoana. Nessa revisão propõe-se retomar a deno-
minação de Formação Feliz Deserto que no basin Seqüência K38
study de Sergipe-Alagoas foi atribuída à sucessão de
folhelhos esverdeados com delgadas intercalações
de arenitos que ocorre na parte basal da Formação De idade Neojiquiá a Eoalagoas foi deposi-
Barra de Itiúba (Schaller, 1970). Essa redifinição ba- tada no início do segundo pulso de rifteamento,
seia-se na constatação da discordância pré-Aratu quando o tectonismo aumentou de intensidade e
(Galm e Santos,1994) entre a parte superior e a in- se propagou por toda bacia. Nessa fase ocorreu a
ferior da Formação Barra de Itiúba. O hiato estimado deposição do sistema alúvio-deltaico e lacustre da
desse evento erosivo é de 3 Ma. A seção-tipo da Formação Coqueiro Seco, que teve uma alta taxa
Formação Feliz Deserto é o intervalo 1.923-2.525 m de sedimentação em virtude da elevada subsidên-
do poço 1-FD-1-AL (Feliz Deserto). cia da bacia.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 405-415, maio/nov. 2007 | 407


Essa seqüência é composta pelas formações e calcilutitos da Formação Maceió. Arienti (1996),
Rio Pitanga, Poção, Coqueiro Seco e Morro do Cha- estudando as formações Poção e Maceió, na sub-
ves. Na parte proximal da Sub-bacia de Sergipe pre- bacia alagoana, caracterizou trato de sistemas trans-
dominava a deposição dos conglomerados aluviais gressivos compostos por conglomerados e arenitos
da Formação Rio Pitanga e dos carbonatos da For- de leques deltaicos, turbiditos arenosos e folhelhos.
mação Morro do Chaves, enquanto nas porções dis- Esses depósitos foram interpretados como sendo re-
tais a sedimentação era deltaica-lacustre, com os are- sultantes dos fluxos gravitacionais que ocorreram nos
nitos e folhelhos da Formação Coqueiro Seco. Na períodos de clima úmido e de grande aporte sedi-
Sub-bacia de Alagoas, os depósitos alúvio-deltaicos mentar. Nas fases de clima árido havia o rebaixa-
e lacustres da Formação Coqueiro Seco prevaleciam mento do nível de base, e a sedimentação era pre-
em relação aos conglomerados aluviais da Forma- dominantemente de folhelhos e calcilutitos algálicos.
ção Poção e aos carbonatos e folhelhos da Forma- No período de máxima aridez ocorria a deposição
ção Morro do Chaves. dos evaporitos “Paripueira”, sugerindo que o am-
O estudo das rochas pertencentes aos Anda- biente era do tipo sabkha.
res Jiquiá e Alagoas, caracterizou, no intervalo in- Nessa revisão propõem-se alterações nas se-
termediário da Formação Coqueiro Seco, um even- guintes unidades litoestratigráficas:
to transgressivo que ocorreu na Sub-bacia de Ala-
goas. A esse afogamento, que é representado por
uma sucessão de folhelhos betuminosos, denomi- Formação Ponta Verde (Schaller, 1970): rebai-
nou-se de Folhelho “C”. Estudos recentes dos eva- xamento para membro da Formação Maceió
poritos da Bacia de Sergipe-Alagoas, com base em (Feijó, 1995). Essa sucessão de folhelhos
datação por ostracodes não marinhos, definiram que esverdeados tem ocorrência restrita à porção
os evaporitos constatados na Formação Coqueiro central terrestre da Sub-bacia de Alagoas,
Seco no poço 1-HZ-1-AL são de idade Neojiquiá e onde está sotoposta à Formação Maceió e
estão abaixo do Folhelho “C”. Esses evaporitos, in- sobreposta à Formação Coqueiro Seco;
formalmente denominados de “Horizonte”, repre-
sentam a primeira incursão marinha que houve na Formação Coqueiro Seco (Schaller, 1970): en-
Bacia de Sergipe-Alagoas.
globar o intervalo superior de idade Eoalagoas
na Formação Maceió, a qual passará a com-
Seqüência K40 preender todo intervalo de idade Eoalagoas. A
Formação Coqueiro Seco passa a abranger ape-
nas o intervalo de idade Neojiquiá, pertencen-
De idade Eoalagoas foi depositada ao final
do segundo pulso tectônico do estágio rifte, quan- te à Seqüência K38.
do o tectonismo foi bastante intenso e delineou-
se a linha de charneira. Nessa época, a porção
emersa sergipana e parte da porção terrestre ala-
goana foram soerguidas, sendo que a sedimenta-
ção ficou restrita ao bloco baixo da Charneira e
Superseqüência Pós-Rifte
ao nordeste de Alagoas. Na sub-bacia alagoana
ocorreu a deposição dos evaporitos “Paripueira”,
que foram interpretados como tendo sido forma-
Seqüência K50
dos a partir de uma salmoura marinha com in-
fluência continental (Florêncio, 1996). Esses de- Na idade Neo-Alagoas, com o início da subsi-
pósitos de halita evidenciam que durante a idade dência térmica, a bacia sofreu basculamento para
Eoalagoas ocorreram incursões marinhas na Ba- sudeste e ocorreu a primeira grande incursão mari-
cia de Sergipe-Alagoas, enquanto que nas outras nha, que proporcionou a deposição dos sedimentos
bacias da margem leste brasileira, predominava da Formação Muribeca. Nessa época, a sedimenta-
a sedimentação continental (Dias, 2005). ção foi retomada na porção emersa da Sub-bacia de
Essa seqüência é composta por conglomera- Sergipe, enquanto que na Sub-bacia de Alagoas a
dos de leques alúvio-deltaicos das Formações Rio deposição continuou restrita ao bloco baixo da Char-
Pitanga e Poção e por arenitos, folhelhos, evaporitos neira e à área nordeste.

408 | Bacia de Sergipe - Alagoas - Campos Neto et al.


Esta seqüência é composta por siliciclásti- denominadas de K62 (Neo-Alagoas terminal), K64
cos grossos do Membro Carmópolis, evaporitos, (Eoalbiana) e K70-K84 (albo-cenomaniana). Nas se-
carbonatos microbiais e folhelhos do Membro Ibura, qüências K64 e K70-K84 se caracterizou um interva-
bem como intercalações de folhelhos e calciluti- lo basal argiloso, com altos teores de carbono orgâ-
tos do Membro Oiteirinhos, todos incluídos na For- nico e padrão de empilhamento de perfis retrograda-
mação Muribeca. Os depósitos do Membro Car- cional, que interpretou como sendo o trato de siste-
mópolis na Sub-bacia de Sergipe, constituídos por mas trangressivo. O intervalo superior com depósitos
siliciclásticos alúvio-fluviais e deltaicos constituem predominantemente de carbonatos e com padrão
tratos de sistemas de mar baixo e transgressivo. progradacional foi interpretado como pertencente ao
As rochas do Membro Ibura, que estão sobrepos- trato de sistemas de mar alto.
tas ao Membro Carmópolis, estão representadas
por evaporitos, carbonatos microbiais e folhelhos,
que foram depositados em ambiente marinho raso Seqüência K86-K88
com influência de marés e representam o trato de
sistemas de mar alto.
Do Neocenomaniano ao Coniaciano ocorreu
Feijó (1995) considerou que na Sub-bacia de
um grande evento transgressivo, cujo ápice foi no
Alagoas a Formação Maceió, compreenderia os in-
Eoturoniano, que proporcionou a deposição dos sedi-
tervalos de idade Neo-Alagoas e Eoalbiano. Nessa
mentos da rampa carbonática da Formação Cotin-
revisão admitimos que esses intervalos pertencem às
guiba (Koutsoukos, 1989). Na parte proximal da rampa
formações Muribeca (Seqüência K50) e Riachuelo (se-
depositaram-se os calcilutitos maciços e brechóides
qüências K62, K64 e K70-K84), respectivamente.
do Membro Sapucarí, enquanto no talude e na bacia
ocorreram a sedimentação dos folhelhos, margas e
calcilutitos do Membro Aracaju.

Superseqüência Drifte Seqüência K90, K100-K110


Nesse estágio de subsidência térmica da bacia No final do Coniaciano houve um rebaixa-
mento do nível do mar que propiciou a erosão de
foram depositadas inicialmente em condições mari-
parte das seqüências subjacentes. Esse evento ero-
nhas restritas e, posteriormente, em mar aberto, as
sivo de caráter regional é aqui denominado de dis-
rochas das seqüências K50 a K130 e E10 a N60.
cordância Sub-formação Calumbi. Posteriormente,
ocorreu outro evento transgressivo e a sedimenta-
Seqüências K62, K64 e K70-K84 ção que era eminentemente carbonática mudou
para siliciclástica com a deposição da sucessão de
folhelhos da Formação Calumbi. O máximo dessa
Próximo ao término da idade Alagoas, as bar- transgressão foi no Eocampaniano. Subseqüente-
reiras de restrição foram desfeitas e, em conseqüên- mente, aumentou o aporte sedimentar e o padrão
cia da subida do nível do mar, estabeleceu-se a sedi- de empilhamento passou a ser progradante. Nas
mentação marinha franca da Formação Riachuelo porções proximais foram depositadas as areias cos-
(Koutsoukos, 1989). Na borda da bacia e nos blocos teiras e plataformais da Formação Marituba, en-
rebaixados depositaram-se através de leques deltaicos quanto nas partes distais persistia a sedimentação
as rochas siliciclásticas grossas do Membro Angico. da Formação Calumbi com folhelhos e eventuais
Nas áreas de menor aporte sedimentar desenvolveu- intercalações de arenito.
se uma rampa carbonática com bancos de oólitos e
oncólitos do Membro Maruim, que eram parcialmen-
te dolomitizados, durante os rebaixamentos do nível
Seqüências K120 e K130
do mar. Nas lagunas e no talude ocorria a deposição
dos calcilutitos e folhelhos do Membro Taquari (Men- Do Neocampaniano (K120) ao Maastrichtiano
des, 1994; Falconi, 2006). (K130), o padrão da sedimentação continuou pro-
Mendes (1994) individualizou na Formação gradante tendo sido ampliada a planície costeira e a
Riachuelo três seqüências de terceira ordem, aqui plataforma arenosa da Formação Marituba.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 405-415, maio/nov. 2007 | 409


Seqüências E10 e E20 interpostos às rochas sedimentares. A natureza e a
idade dessas rochas são desconhecidas, mas os trun-
camentos e as deformações provocadas nas refle-
Constituem os primeiros depósitos terciários xões sísmicas permitem atribuir que esses eventos
que ocorreram no Eopaleoceno (E10) e Neopaleoceno ocorreram no final do Alagoas e no Turoniano
(E20). No início do terciário, o padrão de empilha- (Mohriak et al. 1995; Feijó, 1995). Entretanto, não
mento sedimentar continuou progradacional. Entre- são descartadas reativações mais jovens, já que al-
tanto, na borda da plataforma siliciclástica da For- tos vulcânicos cortam seqüências paleogênicas
mação Marituba, foram acumulados calcarenitos bio- (Cainelli, 1992; Gomes, 2000). Na região de transi-
clásticos da Formação Mosqueiro (Feijó, 1995). ção da crosta continental para crosta oceânica, são
freqüentes as ocorrências de feições magmáticas
Seqüências E30-E40 , E50 e E60 (Mohriak et al.1995; Gomes, 2000; Hamsi Jr. et al.
2006). Essas rochas, possivelmente extrusivas, que
mergulham para mar, estão relacionadas com o
A progradação persistiu durante o Eoeoceno (E30- magmatismo que resultou na formação da crosta
E40) e o Mesoeoceno (E50), sendo que o máximo des- oceânica. Admite-se nesses estudos que o início da
se evento ocorreu no Neo-eoceno, concomitantemente implantação da crosta oceânica teria ocorrido na ida-
com a deposição da Seqüência E60. de Neo-Alagoas com um rápido afinamento crustal.

Seqüências E70-N10 e N20-N40


No início do Oligoceno ocorreu uma subida
do nível do mar, seguido de um rebaixamento no
referências
Neo-oligoceno, que antecedeu a transgressão
mesomiocena. Nessas idades, a sedimentação
bibliográficas
passou a ter um padrão agradacional (Seqüência
E70-N10), que persistiu até o Eomioceno, quan-
do ocorreram os primeiros depósitos da Seqüên- ARIENTI, L. M. Análise estratigráfica, estudos de
cia N20-N40. fluxos gravitacionais e geometria dos depósi-
tos “rift” da Formação Maceió e Formação Po-
ção, Bacia de Alagoas. 1996. 2 v. 398 p. Tese (Dou-
Seqüências N50-N60 torado) – Universidade do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 1996.
No Plioceno, outro evento regressivo propiciou
a deposição dos sedimentos costeiros da Formação
CAINELLI, C. Sequence stratigraphy, canyons, and
Barreiras na porção terrestre da bacia.
gravity mass flow deposits in the Piaçabuçu
Os sedimentos do sistema Pleistoceno (N60)
Formation, Sergipe-Alagoas Basin, Brazil. 1992.
possuem como limite inferior a discordância de 1,6
233 p. Thesis (PhD) – University of Texas, Austin, 1992.
Ma, que corresponde a uma importante discordân-
cia, relacionada à queda eustática global. O limite
superior são os sedimentos atuais do fundo marinho DIAS, J. L. Tectônica, estratigrafia e sedimentação
que estão mapeados, baseado em sísmica e poços . no Andar Aptiano da margem leste brasileira. Bole-
tim de Geociências da Petrobras. Rio de Janeiro, v.
13, n. 1, p. 7-25, nov. 2004/maio 2005.

rochas ígneas FALCONI, C. M. O. Sedimentação mista carbona-


to-siliciclástico durante o Albo-aptiano na por-
ção emersa da Bacia Sergipe-Alagoas. 2006. 169
Em águas profundas e ultraprofundas da Ba- p. Tese (Doutorado) – Universidade Vale do Rio dos
cia de Sergipe-Alagoas ocorrem corpos magmáticos Sinos, São Leopoldo, 2006.

410 | Bacia de Sergipe - Alagoas - Campos Neto et al.


FEIJÓ, F. J. Bacias de Sergipe e Alagoas. Boletim de MORAES REGO, L. F. Notas sobre a geologia, a geo-
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. morfologia e os recursos minerais de Sergipe. Anais
1, p 149-16, jan./mar. 1994. da Escola de Minas de Ouro Preto, n. 24, p. 31-
84. 1933.
FLORÊNCIO, C. P. Geologia dos evaporitos
Paripueira na porção alagoana da Bacia de PONTE, F. C.; ASMUS, H. E. The Brazilian margin
Sergipe-Alagoas. 1996. 94 p. Tese (Mestrado) – basins-current state of knowledge. Anais da Acade-
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. mia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 48,
supl., p. 215-240, 1976.
GALM, P. C.; SANTOS, D. F. Caracterização de uma
discordância de idade pré-Aratu (Eocretácea) na Bacia SCHALLER, H. Revisão estratigráfica da Bacia de
de Sergipe-Alagoas. Acta Geológica Leopoldensia, Sergipe / Alagoas. Boletim Técnico da Petrobras,
São Leopoldo, v. 39, n. 2, p. 555-562, 1994. Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 21-86, 1969..

GOMES, P. O. Distensão crustal, implantação de SILVA F., M. A.; SANTANA, A. C.; BONFIM, L. F. C.
crosta oceânica e aspectos evolutivos das zonas Evolução tectono-sedimentar do Grupo Estância: suas
de fratura e da sedimentação no segmento nor- correlações. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLO-
deste da margem continental brasileira. 2000. GIA, 30., 1978, Recife. Anais. São Paulo: Sociedade
130 p. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado Brasileira de Geologia, 1978. v. 2, p. 685-699.
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.
SOUZA-LIMA, W.; ANDRADE, E. J.; BENGTSON, P.;
HAMSI JÚNIOR, G. P.; KARNER, G. D.; BARROS, F. A. GALM, P. C. A Bacia de Sergipe-Alagoas: evolu-
R. A crosta transicional da Bacia Sergipe-Alagoas. In: ção geológica, estratigrafia e conteúdo fóssil.
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 43., 2006. Aracaju: Fundação Paleontológica Phoenix, 2002.
Aracaju. Anais. Bahia: Sociedade Brasileira de Geo- 34 p. Edição especial, 1.
logia, 2006, p. 17.

KOUTSOUKOS, E. A. M. Mid to late cretaceous


microbiostratigraphy, paleo-ecology and
paleogeography of the Sergipe Basin,
bibliografia
northeastern Brazil. 1989. 645 p. Tese (Doutora-
do) – Department of Geological Sciences of
Polytechnics South West, Plymouth, 1989. CAMPELO, R. C. Integração de métodos geofísicos na
caracterização de um limite entre as bacias de Sergi-
LANA, M. C. Rifteamento da Bacia Sergipe-Ala- pe-Alagoas e Jacuípe. In: CONGRESSO INTERNACIO-
goas, Brasil. 1985. 124 p. Tese (Mestrado) – Univer- NAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOFÍSICA, 9.,
sidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 1985. 2005, Salvador. Anais. Rio de Janeiro: Sociedade Bra-
sileira de Geofísica, 2005. 1 CD-ROM.
MENDES, J. M. C. Análise estratigráfica da seção neo-
aptiana/eocenomaniana (Fm. Riachuelo) na área do
Alto de Aracaju e adjacências: Bacia de Sergipe-Ala-
goas. 1994. 166 p. Tese (Mestrado) – Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1994.

MOHRIAK, W. U.; RABELO J. H. L.; MATOS, R. D.;


BARROS, M. C. Deep seismic reflection profling of
sedmintary basins offshore Brazil: geological objectives
and preliminary results in the Sergipe Basin. Journal
of Geodynamics, v. 20, n. 4, p. 515-539. 1995.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 405-415, maio/nov. 2007 | 411


SUB-BACIA DE SERGIPE

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0 N60

PLATAFORMA RASA

BAR
COSTEIRO
EO ZAN C LE AN O N50
NEÓGENO

ME S S I N I AN O

N20 - N40
NEO
10 TO R T O N IA N O

S E R R AVAL IA N O
MESO
LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O
MIOCENO MÉDIO
20 EO

CALUMBI

E70 - N10
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O

MOSQUEIRO

1500
M A R I N H O REGRESSIVO

30
EO R U P E L IA N O

MARITUBA
OLIGOCENO INFERIOR E60

1500
NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G E NO

TALUDE

BAR T O N I AN O EOCENO SUPERIOR


40
EOCENO

E50
MESO

3000
L UT E T I AN O

PIAÇABUÇU
EOCENO MÉDIO

E30 -
50

E40
EO Y P R E S I AN O

T HAN E T I AN O PALEOCENO
NEO E20
60 S E LAN D I AN O
PALEOCENO PALEOCENO SUPERIOR
EO DAN I AN O E10
CRETÁCEO
K130
70
(S EN ON IAN O )

CAMPANIANO
PROFUNDO

K120

CAM PA N IAN O

80
NEO

K90
SAN T O N I AN O
C O N I AC I AN O SUB-FM. CALUMBI ARACAJU
MARINHO TRANSGRESSIVO

TALUDE /

K86-
1050

K88
90
T U R O N I AN O
PROFUNDO COTINGUIBA
SAPUCARI
SERGIPE

K70-K84
C E N O MA N IA N O
RIACHUELO

TAQUARI
MARUIM
100 LEQUES ALUVIO-
CRETÁC EO

ANGICO

2800
DELTAICOS /
AL B I AN O PLATAFORMA /
( GÁ LIC O )

TALUDE K64
110
K62
MURIBECA 1150 K50
ALAGOAS
PRÉ-NEO-ALAGOAS
APTIANO
120 MACEIÓ 1450 K40
CORURIPE
EO

ALÚVIO-FLUVIAL K38
1700

JIQUIÁ 1700
DELTAICO-LACUSTRE
BARRE- BURACICA
ALÚVIO
CONTINENTAL

MIANO BARRA
1200

K34-
PENEDO

K36

130 FLUVIAL C O DE
ARAT U
AI
900

HAUTE- ITIÚBA
LT
DE
RIVIANO
RE
VALAN- ST PRÉ-ARATU
CU
K10-
600

RIO
K20

GINIANO
140 DA LA FELIZ
DESERTO
BERRIA- SERRA
SIANO PRÉ-RIFT
FLUVIAL SERRARIA 130
J20-
K05

TITHO- DOM LACUSTRE PERUCABA


NIANO JOÃO BANANEIRAS 180
150

250
IGREJA NOVA
CONTINENTAL

DESÉRTICO/LITORÂNEO/
P

DELTAICO ARACARÉ

300 LEQUES DELTAICOS/DELTAS


BATINGA BOACICA 220
C

GLACIAL

350
490
C

ESTÂNCIA
542
E M BASAM E NTO

412 | Bacia de Sergipe - Alagoas - Campos Neto et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 405-415, maio/nov. 2007 | 413
SUB-BACIA DE ALAGOAS

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
170

COSTEIRO
EO ZAN C LEA N O
NEÓGENO

M E SS I N I AN O

PLATAFORMA
NEO
10 T O R T O N IA N O

S E R R AVAL IA N O
MESO
LAN G H I AN O MIOCENO MÉDIO
B U R D I GAL IA N O
20 EO
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O


M A R I N H O REGRESSIVO

30

MOSQUEIRO
EO R U P E L IA N O

OLIGOCENO INFERIOR E60


PA L E Ó G E N O

NEO P R I AB O N I AN O
TALUDE

2800
850
BAR T O N I AN O EOCENO SUPERIOR

650
40
EOCENO

MESO E50
L UT E T I AN O

MARITUBA

CALUMBI
50 EOCENO MÉDIO
EO YP R ES I ANO

PIAÇABUÇU
T HAN E T I AN O PALEOCENO
NEO E20
60 PALEOCENO S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O E10
CRETÁCEO
K130
70
( SEN O NIANO )

CAMPANIANO
PROFUNDO

K90 - K120
CAM PAN IAN O
80
NEO

SAN T O N I AN O
C O N I AC I AN O
MARINHO TRANSGRESSIVO

SUB-FM. CALUMBI

K86-
K88
220
90 TALUDE /
T U R ON I AN O
PROFUNDO
COTINGUIBA ARACAJU
SERGIPE

C E N O MA N IA N O
RIACHUELO

TAQUARI
100 LEQUES
CRETÁCEO

MARUIM
ANGICO

1500
ALUVIAIS /
AL B I AN O PLATAFORMA /
( G ÁLI CO )

TALUDE K64
110
K62
IBURA
DELTAICO

MURIBECA 1250 K50


SABKHA
ALÚVIO-

CARMÓPOLIS
ALAGOAS NEO-ALAGOAS
2000

120
APTIANO MACEIÓ PONTA VERDE
K40
CORURIPE
EO

JIQUIÁ 3120 K38


BARRE- BURACICA
IO
CONTINENTAL

1300
PENEDO

K34-

ÚV IAL
1570

K36

MIANO
130 L O
ARAT U A U V IC
HAUTE-
FL TA L RE
DE
RIVIANO
T ARATU
VALAN- US
AC
K10-

FELIZ
700

K20

GINIANO RIO
140 DA L
BERRIA- S E R R A
DESERTO
SIANO PRÉ-RIFT
FLUVIAL PERU- SERRARIA 130
J20-
K05

DOM
TITHO-
NIANO JOÃO LACUSTRE CABA BANANEIRA 180
150 F LU V IAL CANDEEIRO 80

250 DESÉRTICO/LITORÂNEO/
P

DELTAICO ARACARÉ
IGREJA
NOVA

300 LEQUES
BATINGA BOACICA
C

DELTAICOS / DELTAS 220


G LACIAL MULUNGU

350
542
EM BASAME NTO

414 | Bacia de Sergipe - Alagoas - Campos Neto et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 405-415, maio/nov. 2007 | 415
Bacia de Jacuípe

José Carlos Santos Vieira Graddi1, Oscar Pessoa de Andrade Campos Neto1,

José Maurício Caixeta2

Palavras-chave: Bacia de Jacuípe l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Jacuípe Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução co, ou seja, praticamente, não existe uma feição geo-


lógica pronunciada que divida as duas bacias, enquan-
to que o limite sudoeste com a Bacia de Camamu si-
A Bacia de Jacuípe está localizada na parte se- tua-se no sistema de falhas de Itapuã. Souza-Lima et
tentrional da costa da Bahia, indo aproximadamente al. (2002) e Campelo (2005) sugeriram que a Bacia de
de Salvador (latitude 13° S) até a divisa geográfica com Jacuípe seria uma sub-bacia da Bacia de Sergipe-
o Estado de Sergipe (latitude 11,5° S). O limite nordes- Alagoas, não havendo uma feição geológica expressi-
te com a Bacia de Sergipe-Alagoas é apenas geográfi- va que justifique um limite entre essas duas bacias.

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica
e-mail: graddi@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste/Interpretação

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 417-421, maio/nov. 2007 | 417


embasamento reu durante a deposição da Seqüência K30 também
foi caracterizada na Bacia de Jacuípe. Entretanto,
não é possível discriminar outros eventos dessa natu-
O embasamento na Bacia de Jacuípe é consti- reza nas seqüências sobrejacentes (K40 e K50) devi-
tuído por rochas granulíticas proterozóicas pertencen- do ao alto percentual da fração arenosa nas áreas
tes à Província do São Francisco (Almeida e Hasuy, onde essas seqüências foram amostradas. Nessa re-
1984). Assim como nas bacias do Recôncavo, Tuca- visão, considera-se que o final do estágio rifte ocor-
no e Camamu, a Bacia de Jacuípe foi formada em reu no Eoalagoas e teria sido síncrono com as bacias
terrenos que estiveram submetidos a múltiplos even- de Sergipe-Alagoas e Recôncavo.
tos deformacionais e de metamorfismo desde o
Arqueano até o Proterozóico, quando ocorreu a es-
tabilização do Cráton do São Francisco.
Superseqüência Pós-Rifte
A Superseqüência Pós-Rifte corresponde ao
seqüências estágio de subsidência térmica da bacia, quando fo-
ram depositadas, inicialmente, em condições conti-
sedimentares nentais e posteriormente em ambiente marinho, as
rochas da seqüência K50.
O preenchimento sedimentar da Bacia de
Jacuípe é constituído por sete seqüências deposicio- Seqüência K50
nais. Essas unidades são correlacionáveis aos está-
gios rifte e de margem passiva (drifte) que ocorre-
Representada pela Formação Taipus-Mirim, a
ram nas bacias da margem leste brasileira. Na Bacia
Seqüência K50 é constituída por conglomerados, are-
de Jacuípe não foram constatadas rochas pertencen-
nitos, folhelhos e evaporitos depositados em ambi-
tes ao estágio pré-rifte.
ente marinho restrito, em uma bacia do tipo sag.
Netto et al. (1994) atribuíram a essa unidade a ida-
de Alagoas e apenas a reconheceram nas bacias de
Camamu e Almada. Dias (2005) admitiu que a de-

Superseqüência Rifte posição da Formação Taipus-Mirim ocorreu apenas


na idade Neo-Alagoas, quando teve início o proces-
so de subsidência térmica dessas bacias. Nessa revi-
são admite-se, com base em datações de palino-
Seqüências K30 e K40 morfos, que os arenitos e folhelhos da Formação
Taipus-Mirim ocorrem na Bacia de Jacuípe e foram
O estágio de subsidência mecânica da bacia depositados através de leques alúvio-deltaicos, pro-
ocorreu a partir da idade Aratu até a idade Eoalagoas, vavelmente, em um ambiente continental.
quando foram depositadas, em ambientes alúvio-
deltaico e lacustre, as rochas das seqüências K30 e
K40. Essas seqüências compreendem conglomera-
dos, arenitos e folhelhos que constituem a Formação
Rio de Contas e a porção inferior da Formação Taipus- Superseqüência Drifte
Mirim, definidas por Netto et al. (1994). Na borda
da bacia predominam as fácies areno-conglomeráti-
cas, enquanto que as fácies pelítico-lacustres, prova- Seqüência K60-K80
velmente, prevalecem nas porções distais, ainda não
amostradas por poços. Um importante evento trans- A partir do Albiano, com o aumento da
gressivo de idade Buracica é identificado na Bacia subsidência térmica, a porção proximal da bacia foi
Sergipe-Alagoas, que denominou-se de Folhelho soerguida e nos blocos rebaixados foram deposita-
Buracica. Essa máxima inundação do lago que ocor- dos, em ambiente marinho, os carbonatos e folhe-

418 | Bacia de Jacuípe - Graddi et al.


lhos da Formação Algodões (seqüência K60-K80). e Itariri, entre outros, que se depositaram diretamente
No final do Coniaciano houve um rebaixamento do sobre o embasamento gnáissico. Completam esse qua-
nível do mar que propiciou a erosão de parte das dro os depósitos estuarinos, além da sedimentação de
seqüências subjacentes. argilas, ainda inconsolidadas, que forram toda a exten-
são da porção submersa da bacia.

Seqüência K90-K130
Posteriormente à sedimentação carbonática da
seqüência K60-K80, mais precisamente, do Santoniano referências
ao Maastrichtiano, um evento transgressivo proporcio-
nou a deposição dos folhelhos da Formação Urucutu- bibliográficas
ca, que representam a seqüência K90-K130. Arenitos
turbidíticos associados a flutuações do nível do mar
são comuns nas bacias circunvizinhas de Camamu, ALMEIDA, F. F. M.; HASUY, Y. O pré-cambriano do
Jequitinhonha e Sergipe-Alagoas, e devem ser comuns Brasil. São Paulo: Blucher, 1984. 378 p. il.
também na Bacia de Jacuípe, que ainda não teve
poços perfurados que amostrassem a seqüência do
CAMPELO, R. C. Integração de métodos geofísicos na
Cretáceo Superior. Outros argumentam, até mesmo,
caracterização de um limite entre as Bacias de Sergipe-
a hipótese de ali não existir o registro do Cretáceo
Alagoas e Jacuípe. In: CONGRESSO INTERNACIONAL
Superior, que estaria ausente por erosão decorrente
DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOFÍSICA, 9., 2005,
de um soerguimento regional.
Salvador. Anais. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira
de Geofísica, 2005. 1 CD-ROM.
Seqüência E10-N50
DIAS, J. L. Tectônica, estratigrafia e sedimentação no
Durante o Paleógeno (Seqüência E10-N50), as- Andar Aptiano da margem leste brasileira. Boletim
sim como no restante das bacias da margem leste brasi- de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13,
leira, persistiu o regime marinho transgressivo, com a n. 1, p. 7-25, nov. 2004/maio 2005.
sedimentação dos folhelhos batiais da Formação Urucu-
tuca. Somente no Neo-Oligoceno e no decorrer de todo NETTO, A. S. T.; WANDERLEY FILHO, J. R.; FEIJÓ, F. J.
o Neógeno, desenvolveu-se uma plataforma estreita com Bacias de Jacuípe, Camamu e Almada. Boletim de
arenitos da Formação Rio Doce e carbonatos da Forma- Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
ção Caravelas indicativos da regressão marinha, tam- p. 173-175, 1994.
bém reconhecida ao longo de toda a costa brasileira.
Vários eventos vulcânicos foram observados
SOUZA-LIMA, W.; ANDRADE, E. J.; BENGTSON, P.;
por diferentes pesquisadores, que puderam caracte-
GALM, P. C. A Bacia de Sergipe-Alagoas: evolu-
rizar sismicamente vários corpos magmáticos inter-
ção geológica, estratigrafia e conteúdo fóssil. Aracajú:
postos às rochas sedimentares na Bacia de Jacuípe.
Fundação Paleontológica Phoenix, 2002. 34 p. Edi-
Analisando os truncamentos e as deformações
ção especial n. 1.
provocadas nos refletores sísmicos, atribui-se que
esses eventos ocorreram ao final do Alagoas e início
do Albiano, sendo reativados no Paleógeno.

Seqüência N60
A Seqüência N60 diz respeito aos sedimentos
de praias e aluviões (SPA) que englobam os sedimen-
tos clásticos do Pleistoceno e do Holoceno e que com-
põem a fisiografia atual da bacia. São arenitos e folhe-
lhos da planície de inundação dos rios Joanes, Jacuípe

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 417-421, maio/nov. 2007 | 419


BACIA DE JACUÍPE

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
N60

COSTEIRO
EO ZAN C LEAN O

PLATAFORMA
NEÓGENO

MESSINIANO

CARAVELAS
RIO DOCE
NEO
TORTONIANO
10

70
SERRAVALIANO
MESO
LANGHIANO

BURDIGALIANO
20 EO
AQUITANIANO

NEO CHATTIANO

E10 - N50
30
EO RUPELIANO
TALUDE

NEO PRIABONIANO

ESPÍRITO SANTO
PALE Ó G E NO

BARTONIANO
40
EOCENO

MESO
LUTETIANO

URUCUTUCA
50
EO YPRESIANO

1500
PALEOCENO

THANETIANO
NEO
60 SELANDIANO
MARINHO

PROFUNDO

EO DANIANO

PALEOCENO
70
(S EN ON IAN O )

K90 - K130
CAM PA N IAN O

80
NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
SUB-FM.URUCUTUCA
90
T U R O N I AN O
PLATAFORMA

ALGODÕES

C E N O MA N IA N O

K60 - K80
CRETÁCEO

300
CAMAM U

100
( GÁ LIC O )

AL B I AN O

110

TAIPUS-MIRIM 400 K50


ALAGOAS
CONTINENTAL

PRÉ-NEO-ALAGOAS
LACUSTRE
DELTAICO/

APTIANO
120
ALÚVIO/

TAIPUS-MIRIM 800 K40


EO

JI QUIÁ
ALMADA

BARRE- BURACICA
2400

MIANO
130 K30
ARAT U
( NE OC OM IANO )

HAUTE-
RIVIANO

VALAN-
GINIANO RI O
140 DA
BERRIA- SERRA
SIANO

TITHO- DOM
NIANO JOÃO
150
542
E MBASAME NTO

420 | Bacia de Jacuípe - Graddi et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 417-421, maio/nov. 2007 | 421
Bacia do Recôncavo

Olívio Barbosa da Silva1, José Maurício Caixeta2, Paulo da Silva Milhomem3,

Marilia Dietzsch Kosin1

Palavras-chave: Bacia do Recôncavo l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Recôncavo Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução ção preferencial N30°E. Zonas de transferência com


orientação N40°W acomodaram taxas de extensão va-
riáveis entre diferentes compartimentos da bacia ao
A Bacia do Recôncavo localiza-se no Estado longo de sua evolução. Segundo Abrahão e Warme
da Bahia, Nordeste do Brasil, ocupando uma área de (1990), o campo de tensões responsável pelo rifteamento
aproximadamente 11.500 km2. Seus limites são re- teria atuado entre o Mesojurássico e o Eocretáceo.
presentados pelo Alto de Aporá, a norte e noroeste;
pelo sistema de falhas da Barra, a sul; pela Falha de
Maragogipe, a oeste; e pelo sistema de falhas de
Salvador, a leste.
A configuração estrutural da bacia relaciona-se
histórico
aos esforços distensionais que resultaram na fragmen-
tação do Supercontinente Gondwana durante o As primeiras referências sobre a seção
Eocretáceo, promovendo a abertura do Oceano Atlân- sedimentar preservada na Bacia do Recôncavo da-
tico. Sua arquitetura básica é a de um meio-gráben, tam da primeira metade do século XIX, sendo atri-
com falha de borda a leste e orientação geral NE-SW. buídas a Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich
O mergulho regional das camadas para leste é condi- Phyllip von Martius, que descreveram unidades
cionado por falhamentos normais planares com dire- aflorantes na orla da Baía de Todos os Santos. Tam-

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica
e-mail: oliviosil@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste/Interpretação
3
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 423


bém no século XIX iniciaram-se os estudos de seu introduzidas modificações referentes à amplitude
registro fossilífero. Já naquela época indicava-se uma estratigráfica de algumas unidades, bem como me-
afinidade com estratos wealdenianos e uma prová- lhor definidos os limites de suas seqüências depo-
vel idade neocomiana. sicionais. A abordagem adotada tem como foco a
Viana et al. (1971) apresentaram uma exce- reconstituição do preenchimento sedimentar da
lente resenha sobre o histórico dos trabalhos volta- bacia a partir da caracterização de suas seqüên-
dos ao estudo da bacia, particularmente sob o enfoque cias estratigráficas.
de sua estratigrafia. Estes autores diferenciaram uma
fase inicial como de pioneirismo geológico e de cu-
nho acadêmico, na qual pouco se acrescentou à
nomenclatura estratigráfica. A procura por hidrocar-
bonetos e sua posterior descoberta foram
embasamento
determinantes para uma mudança de concepção,
com a realização de trabalhos voltados à subdivisão O embasamento da Bacia do Recôncavo é
do registro sedimentar em unidades estratigráficas representado predominantemente por gnaisses
com nomenclatura e hierarquia melhor estabelecidas. granulíticos arqueanos pertencentes ao Bloco
Nesta etapa, destaca-se a atividade inicial da Divi- Serrinha, a oeste e norte; aos cinturões Itabuna-Sal-
são de Geologia e Mineralogia do Departamento vador-Curaçá, a oeste-sudoeste; e Salvador-
Nacional de Produção Mineral (DNPM) e, sobretu- Esplanada, a leste-nordeste. Ao norte, ocorrem ain-
do, do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), duran- da rochas metassedimentares de idade
te a década de 1940. neoproterozóica, relacionadas ao Grupo Estância.
Com a criação da Petrobras e a intensificação Conforme Delgado et al. (2003), os gnaisses
dos estudos de superfície, integrados aos dados de sub- granulíticos são constituídos por suítes ígneas TTG
superfície e com a utilização mais sistemática da (tonalítico-trondhjemítico-granodioríticas)
paleontologia, a evolução do conhecimento estratigrá- migmatizadas, de idade mesoarqueana a neo-
fico teve novo impulso. O ápice dessa fase consiste na arqueana (3.200-2.900 Ma), intrudidas por granitos,
proposta de Viana et al. (1971), cuja grande contribui- granodioritos e sienitos paleoproterozóicos (2.100-
ção foi a de sistematizar e organizar o conhecimento 1.900 Ma). Estas rochas associam-se a seqüências
geológico até então acumulado, estabelecendo colu- supracrustais depositadas em bacias rifte e em am-
nas litoestratigráfica, bioestratigráfica e cronoestratigrá- bientes plataformais de margem passiva, compreen-
fica independentes, e resgatando os princípios que de- dendo quartzitos, paragnaisses aluminosos, rochas
finem cada tipo de unidade, como estabelecido no calciossilicáticas, formações ferríferas, gnaisses
Código Americano de Nomenclatura Estratigráfica. manganesíferos e grafitosos e gonditos. São ainda
A Carta Estratigráfica do Recôncavo-Tucano descritas rochas máficas (anfibolitos) interpretadas
manteve-se única até o início da década de 1990, como remanescentes de crosta oceânica. Estes ter-
quando Caixeta et al. (1994) apresentaram uma pro- renos estiveram submetidos a múltiplos eventos
posta diferenciada para a Bacia do Recôncavo. Nes- deformacionais e de metamorfismo desde o
te trabalho, foram incorporadas algumas modifica- Arqueano até o Proterozóico, quando ocorreu a es-
ções na coluna litoestratigráfica, tendo por base os tabilização do Cráton do São Francisco.
trabalhos de Netto e Oliveira (1985) e Aguiar e Mato Rochas metassedimentares de baixo grau com-
(1990). As unidades bioestratigráficas e cronoestrati- põem o Grupo Estância, estando relacionadas a uma
gráficas permaneceram, no entanto, essencialmen- bacia neoproterozóica (750-650 Ma) que se desen-
te as mesmas. Sua grande contribuição foi a de pro- volveu na borda nordeste do Cráton do São Francis-
mover uma melhor caracterização das relações late- co, sob um regime extensional a flexural-termal. Seus
rais e cronológicas entre as diferentes unidades, dando depósitos acumularam-se em uma plataforma rasa
maior clareza à história de preenchimento da bacia. mista e caracterizam, da base para o topo, as for-
Em seu trabalho, Caixeta et al. (1994) incorporaram mações Juetê, Acauã e Lagarto. A Formação Juetê
as principais descontinuidades do registro sedimentar, é representada por siliciclásticos de origem litorânea
que subsidiaram a definição de seqüências deposici- (conglomerados, arenitos médios a grossos
onais de terceira ordem. retrabalhados por ondas e pelitos). Rochas
O presente trabalho reproduz, em grande par- sedimentares carbonáticas (dolomitos estromatolíticos
te, a proposta de Caixeta et al. (1994). São aqui e oolíticos, calcarenitos e calcilutitos) com intercala-

424 | Bacia do Recôncavo - Silva et al.


ções de pelitos e níveis de intraclastos constituem a
Formação Acauã. Arenitos com clastos carbonáticos Seqüências
intercalados a pelitos definem a Formação Lagarto.
Considera-se que a deposição dessas duas últimas
Sedimentares
unidades esteja associada a um ciclo provavelmente
transgressivo. Deformação e metamorfismo são As seqüências sedimentares relacionadas ao
incipientes na Bacia Estância devido à sua posição preenchimento da Bacia do Recôncavo, propriamen-
marginal em relação à tectônica compressiva que te dito, compreendem os depósitos acumulados du-
estruturou a Faixa de Dobramentos Sergipana. rante o processo extensional juro-cretáceo e caracte-
rizam cinco seqüências deposicionais, relacionadas
aos estágios pré-rifte, rifte e pós-rifte. Sua espessura
máxima, superior a 6.500 m, é verificada no Baixo

Superseqüência de Camaçari (Aragão, 1994).

Paleozóica
Seqüência Permiana Superseqüência Pré-Rifte
O Eratema Paleozóico é representado pelos
membros Pedrão e Cazumba da Formação Afligidos. Seqüência J20-K05
Depositadas sob paleoclima árido e em contexto de
bacia intracratônica, as associações faciológicas que A Seqüência J20-K05 reúne depósitos relacio-
caracterizam estas unidades ilustram uma tendência
nados ao estágio inicial de flexura da crosta, em res-
geral regressiva, com transição de uma sedimenta-
posta aos esforços distensionais que originaram o sis-
ção marinha rasa, marginal, a bacias evaporíticas iso-
tema de riftes do Eocretáceo. Esta sedimentação pré-
ladas, ambientes de sabkha continental e, por fim,
rifte engloba três grandes ciclos flúvio-eólicos, repre-
sistemas lacustres (Aguiar e Mato, 1990). Arenitos
sentados, da base para o topo, pelo Membro Boipeba
com feições de retrabalhamento por onda, laminitos
da Formação Aliança e pelas formações Sergi e Água
algais e evaporitos, principalmente anidrita, caracte-
Grande. Transgressões lacustres de caráter regional
rizam o Membro Pedrão. No Membro Cazumba, pre-
separam esses ciclos e são expressas pela sedimenta-
dominam pelitos e lamitos vermelhos lacustres, com
ção dominantemente pelítica que caracteriza o Mem-
nódulos de anidrita na base da seção.
bro Capianga (Formação Aliança) e a Formação
Dados palinológicos atribuem uma idade
Itaparica. Uma parte do registro, correspondente às
permiana ao Membro Pedrão, que se correlaciona
formações Aliança e Sergi (Andar Dom João), tem sido
com o Membro Ingá da Formação Santa Brígida (Sub-
relacionada ao Neojurássico. As formações Itaparica
bacia do Tucano Norte) e com as formações Aracaré
e Água Grande (Andar Rio da Serra inferior) são de
(Bacia de Sergipe-Alagoas) e Pedra de Fogo (Bacia
idade eocretácea (Eoberriasiano), como o indicam as
do Parnaíba). A idade do Membro Cazumba é objeto
análises micropaleontológicas.
de discussão, contribuindo para tanto a pobreza do
registro fossilífero. Aguiar e Mato (1990) admitem uma
possível extensão dessa unidade ao Triássico, tam-
bém com base no resultado de análises palinológicas.
Ainda segundo estes autores, seu contato com o
Membro Boipeba (Formação Aliança) é discordante
Superseqüência Rifte
na maior parte do Recôncavo, mas considerado
transicional no sudoeste da bacia, o que reforça o O limite entre os estágios pré-rifte e rifte tem
problema de posicionamento cronoestratigráfico do sido objeto de discussão (Magnavita, 1996; Da Silva,
intervalo. Adota-se, aqui, a interpretação de Caixeta 1996). Segundo Ghignone (1979), a configuração
et al. (1994), que restringem ao Permiano a deposi- atual da Bacia do Recôncavo já se esboçava ao tem-
ção da Formação Afligidos. po de deposição da Formação Itaparica e mais no-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 425


tadamente da Formação Água Grande, sugerindo um associadas testemunham o contexto lacustre que pre-
incipiente controle tectônico. Da Silva (1993, 1996) valecia no início da fase rifte, quando se definiu o
atribui esta última unidade à fase rifte. Em sua con- arcabouço estrutural da bacia. A sucessão estratigrá-
cepção, a discordância erosiva que a separa da For- fica observada nos depocentros ilustra um incremen-
mação Itaparica, na porção setentrional da bacia e na to batimétrico inicial, resultante de uma umidificação
Sub-bacia do Tucano Sul, estaria relacionada a um climática associada à intensificação da atividade
rejuvenescimento de relevo, com basculamento para tectônica. Os folhelhos, calcilutitos e arenitos
sul, testemunhando uma mudança de regime tectôni- turbidíticos do Membro Gomo representam esta fase
co. Caixeta et al. (1994) e Magnavita (1996), dentre inicial de aprofundamento, de idade Mesorrio da Ser-
outros autores, relacionam o início do rifteamento à ra (Eoberriasiano/Eovalanginiano), quando a Bacia do
transgressão regional que sobrepõe os pelitos lacustres Recôncavo desenvolveu uma fisiografia caracterizada
do Membro Tauá à fácies eólicas presentes no topo por áreas plataformais relativamente estáveis e
da Formação Água Grande. Esta transgressão estaria depocentros com elevadas taxas de subsidência
relacionada não apenas a uma provável umidificação (Aragão, 1994). Ao longo do Neo-Rio da Serra
climática, mas também a um incremento nas taxas (Eovalangianiano/Eohauteriviano), a atenuação da
de subsidência, com ruptura da crosta ainda sob ativi- atividade tectônica e o incremento no aporte
dade tectônica moderada. Outra concepção conside- sedimentar resultaram na redução dos gradientes de-
ra que o primeiro aparecimento de conglomerados posicionais, com o progressivo assoreamento dos
sintectônicos registre o início do estágio rifte. A inter- depocentros. Neste processo, paleobatimetrias ainda
pretação aqui adotada segue a proposta de Caixeta relativamente elevadas mantiveram-se ao tempo de
et al. (1994) e Magnavita (1996), posicionando-se o deposição da Formação Maracangalha acomodando
limite entre as fases pré-rifte e rifte na base do Mem- um grande volume de depósitos relacionados a fluxos
bro Tauá. A deposição de conglomerados sintectônicos gravitacionais (membros Caruaçu e Pitanga). Estes
(Formação Salvador) tem início apenas no Mesorrio depósitos apresentam litofácies indicativas de proces-
da Serra inicial (Berriasiano), estendendo-se até o Ji- sos de ressedimentação de frentes deltaicas, constitu-
quiá (Neobarremiano/Eoaptiano). Esta defasagem indo, portanto, o equivalente distal dos sistemas
entre o primeiro registro dos conglomerados de borda deltaicos que, posteriormente, progradariam ao lon-
e o início do estágio rifte é considerada compatível go da bacia, sob as condições de relativa quiescência
com o tempo necessário para o soerguimento das om- tectônica que caracterizam a base da Seqüência K30.
breiras do rifte e sua posterior erosão para constitui- A sobrecarga exercida pelos depósitos gravitacionais
ção de leques aluviais e fandeltas (Magnavita, 1996). de idade Mesorrio da Serra e Neo-Rio da Serra
A seção rifte abrange três seqüências. As discor- (Berriasiano/Valanginiano), aliada à fisiografia própria
dâncias que as limitam estão bem definidas a oeste, de um meio-gráben com blocos basculados em dire-
no segmento flexural da bacia, naturalmente mais su- ção à falha de borda, deu origem à argilocinese e a
jeito aos efeitos de variações do nível de base relacio- um novo estilo estrutural, representado por
nadas à atividade tectônica e/ou controle climático. Nos falhamentos lístricos sindeposicionais. A estruturação
depocentros, seus limites são dados por concordâncias e distribuição de reservatórios da própria Formação
relativas, expressando a continuidade da sedimenta- Maracangalha, bem como das formações Marfim e
ção nesses sítios. As associações de fácies que as ca- Pojuca, mais jovens, relacionam-se intimamente ao
racterizam reproduzem um padrão de empilhamento desenvolvimento destas falhas lístricas.
estratigráfico semelhante ao proposto por Lambiase Na borda flexural, discordâncias pontuam o re-
(1990) para bacias rifte progressivamente assoreadas a gistro associado ao Andar Rio da Serra. O principal des-
partir de um estágio inicial de lago profundo. tes eventos erosivos resulta na omissão de grande par-
te do Rio da Serra médio e da base do Rio da Serra
superior (Neoberriasiano/Eovalanginiano), constitui o
Seqüências K10 e K20 limite entre as Seqüências K10 e K20. Segundo Da
Silva e Picarelli (1990), esta discordância teria origem
As seqüências K10 e K20 abrangem grande em um provável rebaixamento do nível do lago, asso-
parte do Andar Rio da Serra, compreendendo rochas ciado a uma mudança climática. Inversões de polari-
sedimentares relacionáveis às formações Candeias dade observadas no compartimento sul da bacia
(membros Tauá e Gomo) e Maracangalha. As litofácies (Cupertino e Bueno, 2005), em idade próxima ao topo

426 | Bacia do Recôncavo - Silva et al.


do Mesorrio da Serra (Eovalanginiano), sugerem que o recobriram tais áreas, sobrepondo-se discordantemen-
fator tectônico seja também relevante. Além de sub- te a sedimentos lacustres da porção basal do Andar Rio
metidas aos processos erosivos ocasionados pelo re- da Serra superior (Valanginiano). A fisiografia da bacia
baixamento do nível de base, áreas plataformais teri- assumiu, então, a geometria de rampa que caracteriza
am estado sujeitas a bypass de sedimentos para os o Andar Aratu (Da Silva, 1993), onde ciclos deltaico-
baixos adjacentes, respondendo pela deposição con- lacustres sucessivos (Formação Pojuca) evidenciam um
temporânea de arenitos turbidíticos do Membro Gomo. contexto de reduzido gradiente deposicional e baixas
Durante o Neo-Rio da Serra (Valanginiano), a taxas de subsidência. Pelitos e carbonatos lacustres re-
transgressão das plataformas, com deposição de lacionados ao afogamento recorrente do sistema deltaico
folhelhos relacionados à Formação Maracangalha, possuem expressão comumente regional, constituindo
marca a base da Seqüência K20. Para o topo, a ten- importantes marcos estratigráficos.
dência regressiva que então se estabelece está mais No início do Mesoaratu (Neo-Hauteriviano), a
bem representada em direção aos baixos regionais, reativação da Falha de Paranaguá (Bueno, 1987),
culminando, no Neo-Rio da Serra (Neovalanginiano/ associada a um provável rebaixamento do nível de
Eohauteriviano), com depósitos deltaicos (Membro base, sob controle climático (Caixeta et al. 1991 apud
Catu) relacionados à base da Seqüência K30. Esta Amorim, 1992), deu origem ao Cânion de Taquipe.
sucessão contínua não é observada em áreas A esta época, e ao longo do Neoaratu, ainda preva-
plataformais, que ao tempo de deposição de grande leciam os sistemas deltaicos relacionados à Forma-
parte do Rio da Serra superior estiveram sujeitas a ção Pojuca. A porção meridional da bacia (Baixo de
processos de erosão e/ou bypass, resultando na Camaçari) e o Cânion de Taquipe constituíam, no
discordância que separa as seqüências K20 e K30. entanto, sítios preferenciais para a deposição lacustre
Sua origem é atribuída a um evento tectônico de ca- (formações Maracangalha e Taquipe, respectivamen-
ráter regional, como indicado pela omissão de seções te), com fluxos gravitacionais associados.
correlatas nas bacias do Espírito Santo, Cumuruxatiba, Para o topo, o predomínio de fácies fluviais
Almada, Camamu, Tucano e Sergipe-Alagoas. Bueno (Formação São Sebastião) testemunha a fase final
de assoreamento do rifte, que durante o Jiquiá este-
(2001, 2004) relaciona este evento à propagação
ve submetido a um novo ciclo tectônico, com a cria-
diácrona do sistema de riftes da margem leste, atri-
ção e a reativação de falhamentos (Aragão, 1994).
buindo a discordância impressa nessas bacias ao
As maiores taxas de subsidência são compensadas,
tectonismo que promoveu contemporaneamente o
no entanto, por elevadas taxas de aporte sedimentar,
encerramento da fase rifte (breakup) e implantação
resultando em uma sucessão estratigráfica de cará-
de crosta oceânica no segmento compreendido entre
ter agradacional, com preservação de espessas se-
o norte da Bacia de Pelotas e o sul da Bacia de San-
ções fluviais. Conglomerados sintectônicos (Forma-
tos. No Recôncavo, a margem flexural teria adquirido
ção Salvador) ocorrem ao longo do intervalo, esten-
estabilidade tectônica aproximadamente a esta épo-
dendo-se ao Andar Jiquiá. A representação adotada
ca (Cupertino e Bueno, 2005), marcando o encerra-
para a borda leste, na carta estratigráfica do
mento da fase de expansão da bacia, em função do
Recôncavo, não contempla esta amplitude estratigrá-
deslocamento, para leste, dos esforços relacionados
fica por retratar a extremidade sul da bacia, onde
à abertura do Atlântico Sul.
grande parte da seqüência encontra-se erodida.

Seqüência K30
A porção inferior da Seqüência K30 registra a Superseqüência Pós-Rifte
expansão dos sistemas deltaicos ao longo da bacia,
com progressivo recuo, para sul, dos sítios deposicio-
nais eminentemente lacustres, representados pela For- Seqüência K50
mação Maracangalha. A seção basal, relacionada ao
Membro Catu da Formação Marfim, depositou-se em A Seqüência K50 é representada pelos clásticos
onlap sobre as áreas plataformais antes sujeitas à ero- grossos (conglomerados e arenitos), folhelhos e
são e/ou bypass. Apenas ao final do Neo-Rio da Serra calcários pertencentes à Formação Marizal, de idade
(Eohauteriviano), os arenitos deltaicos dessa unidade Neo-alagoas (Neo-aptiano). Sua deposição relacio-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 427


na-se a sistemas aluviais desenvolvidos já no contex- AGUIAR, G. A.; MATO, L. F. Definição e relações es-
to de uma subsidência termal, pós-rifte, como indi- tratigráficas da Formação Afligidos nas bacias do Re-
cado pela subhorizontalidade dos estratos, que se côncavo, Tucano Sul e Camamu, Bahia, Brasil. In:
sobrepõem discordantemente a seções estruturadas, CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36, 1990,
relacionadas à fase rifte (Da Silva, 1993). Natal. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de
Geologia, 1990. v. 1, p. 157-170.

AMORIM, J. L. Evolução do preenchimento do

Seqüências do Cânion de Taquipe, Neocomiano da Bacia do


Recôncavo, sob o enfoque da Estratigrafia Mo-
Neógeno derna. 1992. 114 p. Tese (Mestrado) – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1992.

Seqüências N20 e N50 ARAGÃO, M. A. N. F.; PERARO, A. A. Elementos es-


truturais do rifte Tucano/Jatobá. In: SIMPÓSIO SOBRE
Não há registro de depósitos neocretáceos na O CRETÁCEO DO BRASIL, 3., 1994, Rio Claro. Bole-
Bacia do Recôncavo. O Neógeno ocorre subordina- tim. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista, 1994.
damente, estando representado pela Formação Sabiá p. 161-165.
e pelo Grupo Barreiras, que identificam as Seqüênci-
as N20 e N50, respectivamente. A Formação Sabiá BUENO, G. V. Considerações sobre a sedimenta-
caracteriza-se por folhelhos cinza esverdeados e ção e origem do paleocanyon de Taquipe, Bacia
calcários impuros, cuja deposição relaciona-se a uma do Recôncavo (Brasil). 1987. 132 p. Tese (Mestrado)
transgressão marinha de idade miocênica (Petri, - Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 1987.
1972). Sistemas de leques aluviais pliocênicos carac-
terizam o Grupo Barreiras.
BUENO, G. V. Discordância pré-Aratu: marco
tectono-isotópico no rifte afro-brasileiro. 2001. 2 v.
Seqüência N60 Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Gran-
de do Sul, Porto Alegre, 2001.
A Seqüência N60 engloba os sedimentos
pleistocênicos a holocênicos de praias e aluviões (SPA) BUENO, G. V. Diacronismo de eventos no rifte Sul-
que compõem a fisiografia atual da Bacia do Atlântico. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio
Recôncavo e que recobrem igualmente o de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 203-229, maio/nov. 2004.
embasamento cristalino da borda Leste da bacia.
CAIXETA, J. M.; BUENO, G. V.; MAGNAVITA, L. V.;
FEIJÓ, F. J. Bacias do Recôncavo, Tucano e Jatobá.
Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Ja-
referências neiro, v. 8, n. 1, p. 163-172, jan./mar. 1994.

bibliográficas CUPERTINO, J. A.; BUENO, G. V. Arquitetura das se-


qüências estratigráficas desenvolvidas na fase de lago
profundo no Rifte do Recôncavo. Boletim de
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13, n.
ABRAHÃO, D.; WARME, J. E. Lacustrine and associated
2, p. 245-267, 2005.
deposits in a rifted continental margin – Lower
Cretaceous Lagoa feia Formation, Campos Basin, offsho-
re Brazil. In: KATZ, B. J. (Ed.) Lacustrine basin DELGADO, I. M.; SOUZA, J. D.; SILVA, L. C.; SILVEIRA
exploration: case studies and modern analogs. FILHO, N. C.; SANTOS, R. A.; PEDREIRA, A. J.; GUIMA-
Tulsa: The American Association of Petroleum Geologists, RÃES, J. T.; ANGELIM, L; A. A.; VASCONCELOS, A.
1990. p. 287-305. (AAPG. Special Publication, 50). M.; GOMES, I. P.; LACERDA FILHO. J. V.; VALENTE, C.

428 | Bacia do Recôncavo - Silva et al.


R.; PERROTTA, M. M.; HEINEC, C. A. Geotectônica SILVA, H. T. F.; PICARELLI, A. T. Variações da linha de
do Escudo Atlântico. In: BIZZI, L. A., SCHOBBENHAUS, costa do lago do Recôncavo e taxa de acumulação
C., VIDOTTI, R. M.; GONÇALVES, J. H. (Eds.) Geolo- durante o Andar Rio da Serra, fase rifte. Boletim de
gia, tectônica e recursos minerais do Brasil: textos, Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2,
mapas & SIG. Brasília: Companhia de Pesquisa de Re- p. 205-216, 1990.
cursos Minerais, 2003. p. 227-334.
VIANA, C. F.; GAMA JUNIOR, E. G.; SIMÕES, I. A.;
GHIGNONE, J. I. Geologia dos sedimentos MOURA, J. A.; FONSECA, J. R.; ALVES, R. J. Revisão
fanerozóicos do Estado da Bahia. In: INDA, H. A. V. estratigráfica da Bacia do Recôncavo/Tucano. Bole-
(Ed.) Geologia e Recursos Minerais do Estado da tim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 14, n.
Bahia: textos básicos. Salvador: Secretaria das Mi- 3-4, p. 157-192, 1971.
nas e Energia, 1979. v. 1, p. 24-117.

MAGNAVITA, L. P. Sobre a implantação da fase sinrifte


em riftes continentais. In: CONGRESSO BRASILEIRO
DE GEOLOGIA, 39, 1996, Salvador. Anais. São Pau-
lo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1996. p. 335-
338.

LAMBIASE, J. J. A model for tectonic control of lacustrine


stratigraphic sequences in continental rift basins. In:
KATZ, B. J. (Ed.) Lacustrine basin exploration: case
studies and modern analogs. Tulsa: The American
Association of Petroleum Geologists, 1990. p. 265-276.
(AAPG. Special Publication, 50).

NETTO, A. S. T.; OLIVEIRA, J. J. O preenchimento do


rift-valley na Bacia do Recôncavo. Revista Brasilei-
ra de Geociências, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 97-
102, 1985.

PETRI, S. Foraminíferos e o ambiente de deposição


dos sedimentos do Mioceno do recôncavo baiano.
Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 2,
n. 1, p. 51-67, 1972.

SILVA, H. T. F. Flooding surfaces, depositional


elements and accumulation rates: characteristics
of the Lower Cretaceous Tectonosequence in the
Reconcavo Basin, northeast Brazil. 1993. 312 p. Tese
(Doutorado) – Texas University, Austin, 1993.

SILVA, H. T. F. Caracterização do início da fase sinrifte


na Bacia do Recôncavo, estado da Bahia: discussão
sobre a formação água grande e o reconhecimento
da erosão do início do rifteamento. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 39., 1996, Salvador.
Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia,
1996, p. 325-328.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 429


BACIA DO RECÔNCAVO

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

M E S S I N I AN O
10 NEO TOR T ONIANO
MESO

20 EO B U R D I GAL IA N O
AQ U I TAN IA N O

NEO C E N O MA N IA N O
100

105 AL B I AN O

110

115
(GÁLICO)

ALAG O AS

PRÉ-MARIZAL
APT I AN O
CRETÁCEO

120
EO

JIQUIÁ
125 SÃO
MASSACARÁ
BURACICA SEBASTIÃO
BAR R E -
M I AN O
TAQUIPE

130
AR ATU
HA U TE R I V I AN O

ILHAS

POJUCA
MARACANGALHA

SESMARIA
SALVADOR
(N EO C OM IANO )

CARUAÇU
PITANGA-

135

2000
MARFIM
GI NIANO
V A L A N-

R I O DA S E R RA

SANTO AMARO

140
GOMO
B E R R I-
AS I AN O

145 ITAPARICA
SERGI
DOM BROTAS
JOÃO CAPIANGA
ALIANÇA

150 T I T H O N I AN O

250
CAZUMBA
MAR. RESTRITO A MARGINAL AFLIGIDOS
300

350

400

450

500

550

430 | Bacia do Recôncavo - Silva et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-431, maio/nov. 2007 | 431
Sub-bacias de Tucano Sul e Central

Ivan Peixoto Costa1, Paulo da Silva Milhomem2, Gilmar Vital Bueno3,

Hélio Sérgio Rocha Lima e Silva4, Marília Dietzsch Kosin4

Palavras-chave: Sub-bacias de Tucano Sul e Central l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Tucano South and Central Sub-Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução As sub-bacias de Tucano Sul e Central possuem


áreas de cerca de 7.000 km2 e 14.700 km2, respectiva-
mente. O limite entre ambas é pouco definido, estando
A Bacia de Tucano localiza-se no nordeste do representado pela Zona de Acomodação do Rio Itapicuru
Estado da Bahia, ocupando uma área de aproxima- (Magnavita et al. 2003). A norte, o Tucano Central se-
damente 30.500 km2. Feições estruturais com dire- para-se do Tucano Norte pela Zona de Acomodação do
ção NW-SE permitem subdividi-la nas sub-bacias de Vaza-Barris. A sul, o limite entre a Sub-bacia de Tucano
Tucano Sul, Tucano Central e Tucano Norte. Neste Sul e a Bacia do Recôncavo é dado pelo Alto de Aporá.
capítulo, discute-se a estratigrafia das sub-bacias de A leste, as falhas de Inhambupe e Adustina constituem,
Tucano Sul e Central que, em função das similarida- respectivamente, os limites das sub-bacias de Tucano
des de seu arcabouço estrutural e registro sedimen- Sul e Central. A oeste, o contato com o embasamento
tar, podem ser representadas através de uma única é discordante ou definido através de uma monoclinal
carta estratigráfica. com falhas de pequeno rejeito (Magnavita et al. 2003).

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Programação e Controle da Exploração
e-mail: peixotocosta@petrobras.com.br
2
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia
3
E&P Exploração/Geologia Aplicada a Exploração/Modelagem de Sistema Petrolífero
4
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 433-443, maio/nov. 2007 | 433


O arcabouço estrutural de ambas as sub- bem sumarizado por Viana et al. (1971), cuja pro-
bacias relaciona-se ao processo de rifteamento posta de revisão estratigráfica para as bacias do
que resultou na fragmentação do Supercontinen- Recôncavo e Tucano representa um marco para a
te Gondwana durante o Eocretáceo. Sua geome- compreensão de seu registro sedimentar. Tendo
tria é a de meio-grábens com falha de borda a por base o Código Americano de Nomenclatura
leste e mergulho regional das camadas para su- Estratigráfica, e revendo conceitos e contribuições
deste, acomodado, em padrão dominó, por fa- anteriores, Viana et al. (1971) estabeleceram co-
lhas normais planares, sintéticas em relação à lunas litoestratigráfica, bioestratigráfica e cronoes-
falha de borda, com direção N25 oE, na Sub-bacia tratigráfica independentes, cujas unidades man-
de Tucano Sul, e N-S, na do Tucano Central (Mag- tiveram-se inalteradas, em sua maior parte, em
navita et al. 2003; Santos et al. 1990; Aragão e trabalhos posteriores.
Peraro, 1994). As profundidades estimadas do A proposta de uma carta estratigráfica
embasamento nos depocentros são superiores a unificada para as bacias do Recôncavo e Tucano
7.000 m, para a primeira (Magnavita et al. 2003), foi oficialmente revista por Caixeta et al. (1994),
e de aproximadamente 16.800 m, na última. A na medida em que particularidades de seu arca-
Zona de Acomodação do Rio Itapicuru transfere bouço tectono-sedimentar justificavam a adoção
a deformação relacionada aos esforços de cartas diferenciadas para o Recôncavo, para
extensionais, no limite entre as duas sub-bacias, as sub-bacias do Tucano Sul e Central e para o
promovendo o deslocamento relativo de suas fa- Tucano Norte e a Bacia de Jatobá. Além desta
lhas de borda (Inhambupe e Adustina), mas não contribuição, as novas propostas promoveram
uma inversão da assimetria do rifte. uma melhor caracterização das relações laterais
e cronológicas entre as diferentes unidades. Mo-
dificações introduzidas na coluna litoestratigrá-
fica, tendo por base os trabalhos de Netto e Oli-
veira (1985) e Aguiar e Mato (1990), afetaram
histórico essencialmente a Sub-bacia do Tucano Sul e a
Bacia do Recôncavo.
Embora Caixeta et al. (1994) tenham sub-
O Sistema Rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá dividido o registro sedimentar em seqüências de-
tem sido estudado desde o século XIX. Inicialmen- posicionais de terceira ordem, correlacionáveis
te, os trabalhos apresentavam cunho acadêmico, ao longo do Sistema Rifte Recôncavo-Tucano-Ja-
próprio de investigações pioneiras voltadas à des- tobá, somente mais tarde foram contempladas
crição litológica e à caracterização de conteúdo todas as principais descontinuidades estratigrá-
fossilífero, sem maior contribuição para o estabe- ficas hoje reconhecidas nas sub-bacias do Tuca-
lecimento de um arcabouço estratigráfico. Este no Sul e Central.
panorama modificou-se ao se intensificarem os São aqui revistos os limites de suas seqüên-
estudos, movidos pela pesquisa e prospecção de cias deposicionais e a amplitude estratigráfica de
hidrocarbonetos, quando se tornou necessário sub- algumas unidades.
dividir o registro sedimentar em unidades estrati-
gráficas com nomenclatura, hierarquia e relações
bem definidas. Sob esta nova abordagem desta-
caram-se as atividades inicialmente desenvolvi-
das pela Divisão de Geologia e Mineralogia do
Departamento Nacional de Produção Mineral
embasamento
(DNPM) e, sobretudo, pelo Conselho Nacional do
Petróleo (CNP), ainda na década de 1940. As sub-bacias do Tucano Sul e Central ins-
A evolução do conhecimento estratigráfico talaram-se sobre a borda nordeste do Cráton do
teve novo impulso com a criação da Petrobras e São Francisco, tendo como embasamento
a integração de trabalhos de superfície e ortognaisses migmatíticos, a oeste-sudoeste e su-
subsuperfície, paralelamente ao desenvolvimen- deste; rochas metavulcano-sedimentares do
to dos estudos paleontológicos. Este histórico é greenstone belt do Rio Itapicuru, a oeste; metas-

434 | Sub-bacias de Tucano Sul e Central - Costa et al.


sedimentos da cobertura cratônica Estância, a no-
roeste e leste-nordeste; e rochas sedimentares da Superseqüência
Bacia Palmares, a leste.
Conforme Delgado et al. (2003), os ortog-
Paleozóica
naisses migmatíticos compreendem suítes ígneas
TTG (tonalítico-trondhjemítico-granodioríticas), de
idade mesoarqueana a neo-arqueana (3.200-2.900 Seqüência Permiana
Ma), intrudidas por granitos e sienitos
paleoproterozóicos (2.100-1.900 Ma). Associam- Os membros Pedrão e Cazumba da Formação
se ainda seqüências supracrustais metamorfizadas Afligidos constituem o único registro do Eratema
em alto grau, depositadas em bacias rifte e de Paleozóico sob as sub-bacias de Tucano Sul e Cen-
margem passiva. tral. Estas unidades não afloram na área e o número
O greenstone belt do Rio Itapicuru represen- de poços que as amostraram é restrito, sendo míni-
ta uma bacia de retro-arco paleoproterozóica ma a cobertura por testemunhos. Sua caracterização
(2.200-2.000 Ma), estando caracterizado por rochas baseia-se sobretudo em dados obtidos nas bacias do
metavulcânicas básicas e ácidas e metassedimen- Recôncavo e Camamu, onde as associações de fácies
tos epiclásticos, vulcanoclásticos e siliciclásticos, indicam uma deposição sob paleoclima árido, em
intrudidos por corpos graníticos-granodioríticos. contexto de bacia intracratônica. Arenitos com fei-
O Grupo Estância compreende rochas me- ções de retrabalhamento por onda, laminitos algais
tassedimentares de baixo grau, relacionadas a e evaporitos, notadamente anidrita, constituem o
uma bacia neoproterozóica (750-650 Ma) que se Membro Pedrão. Fácies diagnósticas de ambiente
desenvolveu sobre o Cráton do São Francisco, em marinho raso são sucedidas por evaporitos, definindo
regime extensional a flexural-termal. Deformação uma tendência regressiva cujo ápice dá-se com a
e metamorfismo são incipientes devido à sua po- deposição dos pelitos e lamitos vermelhos e lacustres
sição marginal em relação à tectônica que compõem o Membro Cazumba (Aguiar e Mato,
compressiva que estruturou a Faixa de Dobramen- 1990). Dados palinológicos conferem uma idade
tos Sergipana. Seus depósitos acumularam-se em permiana ao Membro Pedrão, permitindo relacioná-
uma plataforma rasa mista, estando representa- lo à porção superior da Formação Santa Brígida (Mem-
dos, na base, por conglomerados, arenitos e bro Ingá), no Tucano Norte. A possível extensão do
pelitos de origem litorânea. Rochas carbonáticas Membro Cazumba ao Triássico é abordada por Aguiar
(dolomitos estromatolíticos e oolíticos, calcareni- e Mato (1990), sendo ainda objeto de discussão,
tos e calcilutitos) e pelitos, relacionados a um ci- motivo pelo qual se adota aqui a proposta de Caixeta
clo provavelmente transgressivo, sobrepõem-se a et al. (1994), que posicionaram a Formação Afligidos
esta seção siliciclástica. Pelitos e arenitos inter- integralmente no Permiano.
calados caracterizam o topo da unidade.
A Bacia Palmares desenvolveu-se ao final
da orogênese brasiliana, entre o Cambriano e o
Ordoviciano (500 Ma), tendo evoluído como uma
bacia molássica de antepaís, instalada sobre a
cobertura cratônica Estância. Em ambiente
Seqüências
tectonicamente instável, depositaram-se conglo-
merados e arenitos imaturos, feldspáticos, que
Sedimentares
se sobrepõem a arenitos líticos e pelitos associa-
dos a leques aluviais e retrabalhados em planí- Quatro Seqüências Deposicionais, representa-
cies costeiras. das por rochas sedimentares do Jurássico Superior e
Cretáceo Inferior, compõem o registro estratigráfico
das sub-bacias de Tucano Sul e Central. Como na Bacia
do Recôncavo, predominam os depósitos relaciona-
dos à extensão crustal juro-cretácea, caracterizando
os estágios pré-rifte (Neojurássico a Eoberriasiano), rifte
(Eoberriasiano a Eoaptiano) e pós-rifte (Neo-aptiano).

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 433-443, maio/nov. 2007 | 435


Superseqüência Pré- cepções para o evento que registra a ruptura da
crosta e o início do rifteamento envolvem:

Rifte i) a discordância erosiva que separa as forma-


ções Água Grande e Itaparica (Da Silva, 1993, 1996),
melhor caracterizada na Bacia do Recôncavo;
Seqüência J20-K05 ii) a transgressão que sobrepõe folhelhos
lacustres do Membro Tauá (Formação Candeias)
A Seqüência Juro-Cretácea (J20-K05) abran- a arenitos eólicos da Formação Água Grande
ge estratos pertencentes ao Andar Dom João (Caixeta et al. 1994; Magnavita, 1996; Magnavi-
(Tithoniano) e à porção mais inferior do Andar Rio ta et al. 2003);
da Serra (Eoberriasiano). Sua deposição identifica iii) o primeiro aparecimento de conglome-
o estágio pré-rifte, estando relacionada ao perío- rados sintectônicos (Ghignone, 1972). Adota-se,
do de extensão e ao adelgaçamento da crosta que aqui, a segunda interpretação, segundo a qual
antecede a implantação dos meio-grábens. A su- o Membro Tauá constitui o registro inicial da fase
cessão estratigráfica é marcada pela recorrência rifte. Sob este enfoque, a transgressão dos sis-
de ciclos flúvio-eólicos, relacionáveis ao Membro temas subaéreos que caracterizam a Formação
Boipeba e às formações Sergi e Água Grande, e às Água Grande envolveria a conjugação de fato-
transgressões lacustres de caráter regional repre- res climáticos a um contexto inicial de subsidên-
sentadas pelo Membro Capianga e pela Formação cia mecânica. A deposição dos conglomerados
Itaparica. Os depósitos aluviais que caracterizam o de borda teve início apenas no Mesorrio da Ser-
Andar Dom João (formações Aliança e Sergi) ocor- ra (Berriasiano), depois de transcorrido o tempo
rem ao longo de toda a Bacia de Tucano, aflorando necessário para soerguimento e erosão das om-
em sua borda flexural. Os ciclos flúvio-eólicos adel- breiras do rifte.
gaçam-se para norte, sentido no qual são progres- Duas seqüências subdividem a seção rifte,
sivamente maiores as espessuras dos pelitos e abrangendo depósitos de idade Eorrio da Serra (Eo-
lamitos lacustres (Membro Capianga). A esta épo- berriasiano) a Neojiquiá (Eoaptiano). À semelhan-
ca, o panorama de uma bacia ampla e rasa, com ça da Bacia do Recôncavo, a sucessão estratigráfi-
tectonismo incipiente, assemelha-se ao de uma si- ca reproduz o padrão de empilhamento proposto
néclise (Santos et al. 1990), cujo depocentro situa- por Lambiase (1990) para riftes continentais, ilus-
va-se a sul, na área que abrange o limite entre as trando uma tendência geral de raseamento, de-
bacias do Recôncavo e Camamu. Os registros de terminada pelo progressivo assoreamento do sis-
idade Eorrio da Serra (formações Itaparica e Água tema lacustre implantado na fase inicial de
Grande) possuem distribuição restrita, estando vin- estruturação das bacias, sob elevadas taxas de
culados quase que exclusivamente à porção sul do subsidência tectônica. Nas sub-bacias de Tucano
Tucano Sul. Dados bioestratigráficos indicam a Sul e Central, este assoreamento ocorreu mais ra-
ocorrência local de estratos relacionáveis à Forma- pidamente, refletindo o preenchimento axial do
ção Itaparica também na porção norte desta sub- Sistema Rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá. Associa-
bacia, como na porção centro-sul do Tucano Nor- ções de fácies deltaicas são descritas na margem
te, fato indicativo de que a seção eoberriasiana flexural do Tucano Central já no Mesorrio da Serra
possuía uma distribuição originalmente mais am- (Neoberriasiano/Eovalanginiano), época em que
pla, cujos limites se desconhecem. prevaleciam ambientes de água profunda nos
depocentros da Bacia do Recôncavo, com deposi-
ção dos folhelhos e turbiditos lacustres que carac-
terizam o Membro Gomo. Ao início do Neo-aratu

Superseqüência Rifte (Eobarremiano), sistemas fluviais recobriam toda


a Bacia de Tucano. No Recôncavo, no entanto, a
maior parte da bacia era palco de uma extensa
O limite entre os estágios pré-rifte e rifte sedimentação deltaica, com preservação de am-
tem sido discutido por diversos autores, cujas con- bientes lacustres a sul.

436 | Sub-bacias de Tucano Sul e Central - Costa et al.


Seqüência K10-K20 deltaicos, ilustrando o deslocamento dos siste-
mas marginais em direção aos depocentros, como
resposta a oscilações periódicas do nível de base.
A Seqüência K10-K20 abrange estratos de Na Sub-bacia de Tucano Sul, marcos estratigrá-
idade Eorrio da Serra (Eoberriasiano) a Neo-rio ficos pontuam o Andar Rio da Serra médio e cons-
da Serra (Eohauteriviano). Os depósitos mais tituem uma evidência adicional de que o estágio
basais são essencialmente pelíticos e relacionam- lacustre não tenha se caracterizado por eleva-
se à Formação Candeias. No Tucano Central e das batimetrias.
em grande parte do Tucano Sul, esta seção A redução das taxas de subsidência que se
pelítica lacustre sobrepõe-se diretamente à For- segue ao paroxismo tectônico de idade Mesorrio
mação Sergi, dada a ocorrência restrita das for- da Serra (Neoberriasiano) permitiu que os siste-
mações Itaparica e Água Grande. mas deltaicos se estabelecessem nas margens
A evolução do estágio lacustre retrata uma flexurais, dando início ao assoreamento das sub-
intensificação da atividade tectônica, conjugada bacias de Tucano Sul e, sobretudo, Central. O sen-
a uma progressiva umidificação climática. Duran- tido geral de progradação, de norte para sul
te o Eorrio da Serra (Eoberriasiano), a sedimen- (Gontijo, 1988; Bueno, 1996b) ilustra o preenchi-
tação apresentou um caráter agradacional, refle- mento axial do Rifte Tucano-Jatobá. No Tucano
tindo taxas ainda reduzidas de acumulação e de Sul, a Formação Marfim representa estes siste-
subsidência. Na Sub-bacia de Tucano Sul, esta mas progradacionais, que ao longo do Neo-rio da
fase lacustre inicial é representada pelo Membro Serra (Neovalanginiano/Eohauteriviano), já sob
Tauá, que perde identidade para norte, em dire- tectonismo atenuado, restringem progressivamen-
ção ao Tucano Central, onde a Formação te as fácies lacustres à porção meridional da ba-
Candeias é indivisa. A configuração estrutural da cia, onde originalmente prevaleciam as maiores
Bacia de Tucano apenas delineia-se nesta fase. batimetrias do rifte. No Tucano Central, a seção
A efetiva estruturação da bacia deu-se no início deltaica não apresenta variações internas signifi-
do Mesorrio da Serra (Eo/Neoberriasiano), quan- cativas de seus padrões de sedimentação, o que
do se acentuaram os mergulhos regionais e se a torna indivisa (Grupo Ilhas). Ainda nesta sub-
consolidou a geometria de meio-gráben. bacia, depósitos fluviais vinculados ao Grupo
Depocentros com elevadas taxas de subsidência Massacará são descritos na borda flexural, já no
e áreas plataformais relativamente estáveis, mais início do Neo-rio da Serra (Neovalanginiano).
amplas na borda flexural, passaram a caracteri- A atenuação do tectonismo que se observa
zar a fisiografia das sub-bacias de Tucano Sul e ao longo do Rio da Serra é exemplificada tam-
Central, a esta época. O sistema lacustre bém pela presença de calcários oncolíticos em
aprofundou-se e as taxas de subsidência supera- estratos pertencentes à base do Rio da Serra (topo
ram amplamente as de sedimentação, definindo da Formação Candeias), na Sub-bacia de Tucano
um contexto de bacia faminta, na qual deposita- Sul (Magnavita et al. 2003). Em linhas gerais, o
ram-se, sobretudo, pelitos (Formação Candeias). contexto tectono-climático é comparável ao da
A análise integrada de padrões de Bacia do Recôncavo, uma vez que tanto nesta
eletrofácies e sismofácies, balizada por dados bacia quanto na Bacia de Tucano, a transição
de testemunho e somada a características do re- entre o Mesorrio da Serra e o Neo-rio da Serra
gistro fossilífero, sugere que a paleobatimetria registra um relativo ressecamento do clima e uma
alcançada durante o ápice deste primeiro ciclo redução da atividade tectônica.
distensional tenha sido inferior àquela inferida Ao contrário da Bacia do Recôncavo, nas sub-
para a Bacia do Recôncavo. Depósitos relacio- bacias de Tucano Sul e Central não são observa-
nados a fluxos gravitacionais, que nesta última das descontinuidades significativas do registro es-
bacia constituem uma fração significativa do re- tratigráfico no limite entre as Seqüências K10 e
gistro associado aos depocentros, não foram até K20. A sedimentação teria transcorrido de manei-
o momento amostrados na Bacia de Tucano. Os ra relativamente contínua ao longo do Rio da Ser-
arenitos que de forma descontínua intercalam- ra, com preservação das seções mais jovens, de
se à seção pelítica lacustre, em áreas flexurais, idade Neo-rio da Serra (Neovalanginiano/Eohaute-
apresentam litofácies características de lobos riviano) no sudeste do Tucano Sul. Na Sub-bacia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 433-443, maio/nov. 2007 | 437


de Tucano Central e a norte do Tucano Sul, se- vos que nesta última bacia, perdendo identidade
ções de idade Eoaratu (Eohauteriviano) sobrepõem- para norte, em direção ao Tucano Central, onde
se a estratos do Neo-rio da Serra (Neovalanginia- a seção deltaica é indivisa (Grupo Ilhas).
no), definindo a discordância que separa as Se- Em uma pequena área do sudeste do Tuca-
qüências K10-K20 e K30-K40. Esta discordância é no Sul, a reativação da Falha de Inhambupe propi-
reconhecida não apenas no Rifte Recôncavo-Tuca- ciou a implantação de processos erosivos em época
no, mas também na margem continental, entre as correspondente à escavação do Paleocanyon de
bacias do Espírito Santo e Sergipe-Alagoas. Sua Taquipe, na Bacia do Recôncavo (Amorim, 1992).
abrangência identifica um evento tectônico de ca- A atividade erosiva, de idade Mesoaratu (Neo-
ráter regional, que Bueno (2001, 2004) relacionou hauteriviano), foi menos intensa do que nesta últi-
ao diacronismo que caracteriza a propagação, para ma bacia, e os depósitos que preencheram o
norte, do sistema de riftes da margem leste. Ao paleocanyon (arenitos, folhelhos e margas da For-
tectonismo que marcou o encerramento da fase mação Taquipe) são pouco expressivos.
rifte mais a sul, no segmento compreendido entre Seções de idade Mesoaratu a Neojiquiá
o norte da Bacia de Pelotas e o sul da Bacia de (Neo-hauteriviano a Eoaptiano), representam a
Santos, corresponderiam tanto o evento distensional fase final de assoreamento do rifte. Já no Neo-
que deu origem à Bacia de Jacuípe, quanto o tecto- aratu (Eobarremiano), os sistemas fluviais abran-
nismo responsável pelo desenvolvimento dessa dis- giam todo o segmento meridional da Bacia de
cordância intrarifte nas demais bacias situadas a Tucano, culminando o preenchimento axial da
norte da Bacia de Campos. bacia. A arquitetura retrogradacional dos ciclos
deposicionais que caracterizam a Formação São
Sebastião, comum na Bacia do Recôncavo em
Seqüência K30-K40 seções de idade Buracica (Santos, 1998, 2005),
está melhor caracterizada na Sub-bacia de Tu-
Em sua porção inferior, abrangendo estra- cano Sul, através de uma sucessão recorrente
tos de idade Eoaratu (Eohauteriviano) a de depósitos fluviais, deltaicos e lacustres. Estes
Mesoaratu (Neo-hauteriviano), a Seqüência K30- ciclos tendem a perder expressão em intervalos
K40 representa um estágio já avançado de asso- estratigráficos mais jovens, nos quais predomi-
reamento da Bacia de Tucano. A esta época, a nam amplamente os depósitos fluviais. Alguns
bacia esteve sujeita a um segundo evento dos registros lacustres ilustram afogamentos de
distensional, que promoveu a reativação de fa- caráter regional, constituindo marcos estratigrá-
lhas, com ampliação de depocentros e espessa- ficos reconhecidos também na Bacia do Recôn-
mento da seção sedimentar. Os efeitos deste novo cavo. Para norte, em direção ao Tucano Cen-
ciclo tectônico foram mais pronunciados na Sub- tral, a seção torna-se mais arenosa, padrão de
bacia de Tucano Central e, sobretudo, no Tucano sedimentação tipicamente fluvial, que, por ve-
Norte e na Bacia de Jatobá. Sob paleoclima do- zes, é retrabalhado pela ação do vento, como
minantemente seco e taxas de sedimentação que atestam os registros de arenitos eólicos (Magna-
equilibravam as taxas de subsidência tectônica, vita, 1992; Magnavita et al. 2003), que indicam
sistemas fluvio-deltaicos progradaram ao longo da uma aridização do clima.
bacia, encerrando a deposição lacustre no seg- Ao tempo de deposição da porção superior
mento meridional do Rifte Tucano-Jatobá. No Tu- da Seqüência K30-K40, as sub-bacias de Tucano
cano Central, predominavam os sistemas fluviais Sul e Central estiveram sujeitas a um terceiro ci-
(Formação São Sebastião) e o caráter axial da clo distensional, de idade Neoburacica a Jiquiá
sedimentação. Nos depocentros desta Sub-bacia (Neobarremiano/Eoaptiano). Este evento registra
e do Tucano Sul, desenvolviam-se ciclos deltaicos. as maiores taxas de extensão da fase rifte nas
Marcos estratigráficos pontuam a seção deltaica bacias de Tucano e Jatobá, tendo sido responsá-
sobretudo no Tucano Sul, ilustrando o afogamen- vel pela criação e reativação de falhamentos, pela
to periódico dos sistemas progradacionais (Forma- rotação de blocos e por grandes espessamentos
ção Pojuca). Alguns desses marcos constituem da seção sedimentar (Santos et al. 1990). Con-
eventos registrados também na Bacia do Recôn- glomerados sintectônicos pertencentes à Forma-
cavo, mas, de modo geral, são menos expressi- ção Salvador registram a atividade tectônica ao

438 | Sub-bacias de Tucano Sul e Central - Costa et al.


longo das falhas de borda de ambas as bacias
neste ciclo, assim como nos anteriores, abrangen- Seqüências do
do seções de idade Mesorrio da Serra a Neojiquiá
(Neoberriasiano/Eoaptiano).
Neógeno
As rochas sedimentares mais jovens da
fase rifte são representadas pelos folhelhos e cal-
c á r i o s d a F o r m a ç ã o P o ç o Ve rd e ( G r u p o Seqüência N50
Massacará), de idade Neojiquiá (Eoaptiano).
Coquinas de biválvios associadas a esta unida- Como verificado na Bacia do Recôncavo, não
de correlacionam-se àquelas presentes no Mem- há registros do Neocretáceo nas sub-bacias de Tucano
bro Morro dos Chaves (Formação Coqueiro Seco), Sul e Central. O Neógeno possui uma distribuição res-
na Bacia de Sergipe-Alagoas (Magnavita et al. trita, estando representado exclusivamente pelos de-
2003). Estes depósitos representam a Seqüên- pósitos aluviais pliocênicos que caracterizam a For-
cia K40, cuja distribuição atual na Bacia de Tu- mação Barreiras (Seqüência N50), presentes apenas
cano é muito restrita. na porção sudeste do Tucano Sul.

Seqüência N60
Superseqüência Pós- A Seqüência N60 engloba os aluviões
quaternários presentes ao longo dos principais rios
Rifte que atravessam a Bacia de Tucano.

Seqüência K50
referências
O estágio de subsidência térmica pós-rifte
é representado pela Seqüência K50, que com- bibliográficas
preende os depósitos aluviais (conglomerados e
arenitos) da Formação Marizal. Esta unidade re-
cobre grande parte da Bacia de Tucano, ocu- AGUIAR, G. A.; MATO, L. F. Definição e relações es-
pando quase toda a porção central dessa bacia, tratigráficas da Formação Afligidos nas bacias do Re-
onde se sobrepõe aos depósitos estruturados da côncavo, Tucano Sul e Camamu, Bahia, Brasil. In:
fase rifte através de discordância angular. A se- CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36., 1990,
dimentação teria ocorrido em uma bacia do tipo Natal. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Geo-
sag, durante o Neo-Alagoas (Neo-aptiano). Con- logia, 1990. v. 1, p. 157-170.
forme Magnavita et al. (2003), a discordância
que define o limite entre os estágios rifte e pós-
rifte (base da Formação Marizal) constitui um AMORIM, J. L. de Evolução do preenchimento do
evento regional, reportado não apenas no Rifte Cânion de Taquipe, Neocomiano da Bacia do Re-
Recôncavo-Tucano-Jatobá, mas também em ba- côncavo, sob o enfoque da Estratigrafia Moder-
cias da margem leste (Kiang et al. 1988) e na na. 1992. 114 p. Tese (Mestrado) – Universidade Fe-
costa oeste da África (Teisserenc e Villemin, 1989 deral do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1992.
apud Magnavita et al. 2003). A seção
conglomerática presente na base da Formação ARAGÃO, M. A. N. F.; PERARO, A. A. Elementos es-
Marizal correlaciona-se ao Membro Carmópolis truturais do rifte Tucano/Jatobá. In: SIMPÓSIO SOBRE
da Formação Muribeca (Magnavita et al. 2003), O CRETÁCEO DO BRASIL, 3., 1994, Rio Claro. Bole-
depositado ainda no contexto de uma bacia rifte, tim. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista, 1994.
nas bacias de Sergipe e Alagoas. p. 161-165.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 433-443, maio/nov. 2007 | 439


BUENO, G. V. Análise de Bacia em riftes não-mari- studies and modern analogs. Tulsa: The American
nhos com enfoque na exploração do petróleo: Tuca- Association of Petroleum Geologists, 1990. p. 265-
no-Jatobá uma experiência. In: CONGRESSO BRASI- 276. (AAPG. Special Publication, 50).
LEIRO DE GEOLOGIA, 39., 1996b, Salvador. Anais.
São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1996. MAGNAVITA, L. P. Geometry and kinematics of
v. 1, p. 317-320. the Reconcavo-Tucano-Jatoba rift, NE Brazil. 1992.
Tese (Doutorado) – Wolfson College, Earth Sciences
BUENO, G. V. Discordância pré-Aratu: marco Department, University of Oxford, Oxford, 1992.
tectono-isotópico no rifte afro-brasileiro. 2001. 2 v.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Gran- MAGNAVITA, L. P. Sobre a implantação da fase sin-
de do Sul, Porto Alegre, 2001. rifte em riftes continentais. In: CONGRESSO BRASI-
LEIRO DE GEOLOGIA, 39, 1996, Salvador. Anais.
BUENO, G. V. Diacronismo de eventos no rifte Sul- São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1996.
Atlântico. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio p. 335-338.
de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 203-229, maio/nov. 2004.
MAGNAVITA, L. P.; DESTRO, N.; CARVALHO, M. S.
CAIXETA, J. M.; BUENO, G. V.; MAGNAVITA, L. V.; S. DE; MILHOMEM, P. DA S.; SOUZA-LIMA, W. Ba-
FEIJÓ, F. J. Bacias do Recôncavo, Tucano e Jatobá. cias sedimentares brasileiras: Bacia de Tucano.
Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Ja- Aracajú: Fundação Paleontológica Phoenix, 2003.
neiro, v. 8, n. 1, p. 163-172, jan./mar. 1994. (Série Bacias Sedimentares, n. 52).

CHANG, H. K.; KOWSMANN, R. O.; FIGUEIREDO, A. NETTO, A. S. T.; OLIVEIRA, J. J. O preenchimento do


M. F. New concepts on the development of East rift-valley na Bacia do Recôncavo. Revista Brasileira
Brazilian marginal basins. Episodes, Ottawa, v. 11, de Geociências, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 97-102, 1985.
n. 3, p. 194-202, 1988.
SANTOS, C. F. Seqüências estratigráficas, varia-
DELGADO, I. M.; SOUZA, J. D.; SILVA, L. C.; SILVEIRA ção do nível do lago e ciclicidade no Andar
FILHO, N. C.; SANTOS, R. A.; PEDREIRA, A. J.; GUI- Buracica (Formação São Sebastião) das bacias do
MARÃES, J. T.; ANGELIM, L. A. A.; VASCONCELOS, Recôncavo e Tucano Sul, Bahia, Brasil. 1998. 2 v.
A. M.; GOMES, I. P.; LACERDA FILHO, J. V.; VALEN- Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Gran-
TE, C. R.; PERROTTA, M. M.; HEINEC, C. A. de do Sul, Porto Alegre, 1998.
Geotectônica do Escudo Atlântico. In: BIZZI, L. A.;
SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R. M.; GONÇALVES, SANTOS, C. F. Estratigrafia de Seqüências da fase
J. H. (Ed.). Geologia, tectônica e recursos minerais final de preenchimento de um rifte intracontinental:
do Brasil: textos, mapas & SIG. Brasília: Companhia um modelo com base no Barremiano Inferior da Ba-
de Pesquisa de Recursos Minerais, 2003. p. 227-334. cia do Recôncavo. Boletim de Geociências da Pe-
trobras, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 205-226, 2005.
GHIGNONE, J. I. A evolução estrutural do Recôncavo
durante o tempo Candeias. Revista Brasileira de SANTOS, C. F. dos; CUPERTINO, J. A.; BRAGA, J. A. E.
Geociências, São Paulo, v. 2, p. 35-50, 1972. Síntese sobre a geologia das bacias do Recôncavo, Tu-
cano e Jatobá. In: RAJA GABAGLIA, G. P.; MILANI, E. J.
GONTIJO, G. A. Estudo de proveniência em areni- (Coord.) Origem e evolução de bacias sedimenta-
tos da Bacia do Tucano, partes sul e central: Bahia. res. Rio de Janeiro: Petrobras, 1990. p. 235-266.
1988. 97 p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal
de Ouro Preto, Ouro Preto, 1988. SILVA, H. T. F. Flooding surfaces, depositional
elements and accumulation rates: characteristics
LAMBIASE, J. J. A model for tectonic control of lacustrine of the Lower Cretaceous Tectonosequence in the
stratigraphic sequences in continental rift basins. In: Reconcavo Basin, northeast Brazil. 1993. 312 p. Tese
KATZ, B. J. (Ed.). Lacustrine basin exploration: case (Doutorado) – Texas University, Austin, 1993.

440 | Sub-bacias de Tucano Sul e Central - Costa et al.


SILVA, H. T. F. Caracterização do início da fase sin-
rifte na Bacia do Recôncavo, estado da Bahia: discus-
são sobre a formação água gGrande e o reconheci-
mento da erosão do início do rifteamento. In: CON-
GRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 39., 1996, Sal-
vador. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de
Geologia, 1996, p. 325-328.

TEISSERENC, P.; VILLEMIN, J. Sedimentary Basin of


Gabon – Geology and oil systems. In: EDWARDS, J.
D. & SANTOGROSSI, P. A. (Ed.) Divergent/passive
margin basins. Tulsa: The American Association of
Petroleum Geologists, p. 117-199. (Memoir, 48).

VIANA , C. F.; GAMA JUNIOR, E. G.; SIMÕES, I. A.;


MOURA, J. A.; FONSECA, J. R.; ALVES, R. J. Revisão
estratigráfica da Bacia do Recôncavo/Tucano. Bole-
tim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 14, n.
3-4, p. 157-192, 1971.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 433-443, maio/nov. 2007 | 441


SUB-BACIAS DE TUCANO SUL E CENTRAL

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

NEO T O R T O N IA N O
10
MESO

EO B U R D I GAL IA N O
20 AQ U I TAN IA N O
C HAT T IAN O

NEO C E N O MA N IA N O
100

105
AL B I ANO

110
(G ÁLI CO )

115

ALAGOAS
CRETÁCEO

APTIANO

120
EO

JI QUIÁ
125
O ÃO
SÃ STI
MASSACARÁ

1630
BURACICA
BARRE- A
MIANO
S EB

130
POJUCA /

SALVADOR
TAQUIPE

ARAT U

900
2400
HAUTE-
RIVIANO
135
( NE OC O MIANO )

ILHAS
MARFIM

250
VALAN-
GINIANO
CANDEIAS

RIO
140 DA
1000
SERRA
AMARO
SANTO

BERRIA-
SIANO 100
TAUÁ
145 ITAPARICA
SERGI 315
DOM
JOÃO
ALIANÇA CAPIANGA 160

150 T I T H O N I AN O
NEO

250
AFLIGIDOS
P

300

350

400

450

500

550

442 | Sub-bacias de Tucano Sul e Central - Costa et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 433-443, maio/nov. 2007 | 443
Sub-bacia de Tucano Norte e Bacia de Jatobá

Ivan Peixoto Costa1, Gilmar Vital Bueno2, Paulo da Silva Milhomem3,

Hélio Sérgio Rocha Lima e Silva4, Marília Dietzsch Kosin4

Palavras-chave: Sub-bacia de Tucano Norte e Bacia de Jatobá l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Tucano North Sub-Basin and Jatobá Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução São Francisco, a nordeste. A sul, a Zona de Acomo-


dação do Vaza-Barris a separa do Tucano Central. O
contato com o embasamento é definido pela Falha
A Sub-bacia de Tucano Norte e a Bacia de de São Saité, a oeste, e, por discordância ou falhas
Jatobá ocupam uma área de cerca de 13.800 km2, de pequeno rejeito, a leste.
que abrange a extremidade nordeste do Estado da A Bacia de Jatobá ocupa uma área de aproxi-
Bahia e, no caso desta última bacia, também a por- madamente 5.000 km2 com orientação NE-SW. As
ção centro-sul de Pernambuco. A estratigrafia de falhas de São Francisco, a oeste, e Ibimirim, a norte,
ambas as bacias é aqui discutida de forma integrada constituem seus principais limites estruturais. A sul e
em função das similaridades de seu arcabouço es- a leste, seu contato com o embasamento é discor-
trutural e registro sedimentar que as diferenciam das dante ou ocorre mediante falhas de pequeno porte.
sub-bacias do Tucano Sul e Central. Uma única car- A Sub-bacia de Tucano Norte e a Bacia de
ta sintetiza as principais características de seu arca- Jatobá representam a extremidade setentrional do
bouço estratigráfico. Sistema Rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá, estando sua
A Sub-bacia de Tucano Norte, com cerca de origem relacionada à extensão crustal que fragmen-
8.800 km2, possui uma orientação geral N-S. Seu tou o Supercontinente Gondwana, dando origem ao
limite com a Bacia de Jatobá é dado pela Falha de Oceano Atlântico. Ao contrário das bacias da mar-

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Programação e Controle da Exploração
e-mail: peixotocosta@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Geologia Aplicada a Exploração/Modelagem de Sistema Petrolífero
3
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia
4
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 445-453, maio/nov. 2007 | 445


gem continental, que evoluíram ao estágio de mar- efetivas para o estabelecimento de um arcabouço
gem passiva, as bacias do Recôncavo, Tucano e Ja- estratigráfico desenvolveram-se como suporte à pes-
tobá constituem um ramo do Rifte Sul-Atlântico abor- quisa e prospecção de hidrocarbonetos, já ao final
tado no Eoaptiano. desta década, envolvendo a Divisão de Geologia e
A configuração estrutural de ambas as bacias Mineralogia do Departamento Nacional de Produ-
reflete a atuação dos esforços extensionais em um ção Mineral (DNPM) e, particularmente, o Conselho
embasamento heterogêneo (Magnavita, 1996). A Nacional do Petróleo (CNP).
mudança no sentido de abertura do rifte, que passa Um breve histórico dos trabalhos que pon-
de S-N, no Tucano Norte, para SW-NE, na Bacia de tuaram a evolução do conhecimento geológico das
Jatobá, é talvez o exemplo mais explícito do contro- bacias do Recôncavo e Tucano foi apresentado por
le exercido por estruturas pretéritas do embasamen- Viana et al. (1971), que destacaram o impulso dado
to. Esta inflexão está condicionada à Zona de aos estudos de cunho estratigráfico, após a cria-
Cisalhamento Pernambuco-Paraíba, cuja reativação ção da Petrobras, com a integração de dados de
durante o Eocretáceo deu origem à Falha de Ibimirim, superfície e subsuperfície e a utilização mais siste-
limite norte da Bacia de Jatobá (Santos et al. 1990; mática da paleontologia para o estabelecimento
Costa et al. 2003). de relações cronológicas.
O Tucano Norte, como a Bacia de Jatobá, apre- Após uma fase de rápido acúmulo de infor-
senta uma geometria típica de meio-gráben, com mações e controvérsias, o trabalho desenvolvido por
falhas de borda a oeste e noroeste, respectivamen- Viana et al. (1971), em sua revisão estratigráfica das
te. Falhas normais planares acomodam o mergulho bacias do Recôncavo e Tucano, consolidou a subdivi-
das camadas em direção aos depocentros, a partir são do registro sedimentar destas bacias em unida-
da margem flexural. Na Bacia de Jatobá, estas fa- des com nomenclatura, hierarquia e relações bem
lhas são sintéticas em relação à falha de borda e definidas. Estes autores estabeleceram colunas
possuem uma orientação geral N70oE. Na Sub-bacia litoestratigráfica, bioestratigráfica e cronoestratigrá-
de Tucano Norte registra-se uma maior complexida- fica independentes, resgatando os princípios adotados
de estrutural, manifestada por falhas com orienta- pelo Código Americano de Nomenclatura Estratigrá-
ções NW-SE, N-S e NE-SW (Santos et al. 1990). A fica. Seu trabalho é considerado um marco para a
sul, seu limite com o Tucano Central envolve as fa- compreensão da seção sedimentar preservada no
lhas de transferência de Caritá e Jeremoabo que, Recôncavo e no Tucano. As unidades então defini-
junto ao Alto de Vaza-Barris, constituem uma zona das, mantêm-se inalteradas, em sua maior parte.
de acomodação ao longo da qual ocorre a inversão A proposta de Viana et al. (1971) foi revista
na assimetria dos meio-grábens (Magnavita et al. por Caixeta et al. (1994), que promoveram uma
2003). As profundidades estimadas do embasamen- melhor caracterização das relações laterais e crono-
to nos baixos de Salgado do Melão, Sub-bacia de lógicas entre as diferentes unidades litoestratigráfi-
Tucano Norte, e Ibimirim, Bacia de Jatobá, são supe- cas, além de apresentarem cartas diferenciadas para
riores, respectivamente, a 7.000 m (Magnavita et o Recôncavo, para as sub-bacias do Tucano Sul e
al. 2003) e 3.000 m (Costa et al. 2003). Central, e para o Tucano Norte e a Bacia de Jatobá,
em função das particularidades de seu arcabouço
tectono-sedimentar. Foram ainda introduzidas modi-
ficações na coluna litoestratigráfica que, tendo por

histórico base os trabalhos de Netto e Oliveira (1985) e Aguiar


e Mato (1990) afetaram, essencialmente, a Sub-ba-
cia do Tucano Sul e a Bacia do Recôncavo. As se-
As primeiras referências sobre a geologia e o qüências paleozóicas aflorantes na margem flexural
conteúdo fossilífero das bacias do Recôncavo, Tuca- da Sub-bacia do Tucano Norte e da Bacia de Jatobá,
no e Jatobá datam do século XIX e relacionam-se não discriminadas por Viana et al. (1971), foram
principalmente à Bacia do Recôncavo. Até a década então individualizadas e passaram a compor as car-
de 1930, prevaleceram os estudos de cunho mais tas destas bacias.
propriamente acadêmico, pautados pelo pioneirismo As principais descontinuidades estratigráficas
dos trabalhos e com foco em descrições litológicas e hoje reconhecidas no Tucano Norte e em Jatobá fo-
na avaliação do conteúdo fossilífero. Contribuições ram apresentadas na proposta de Caixeta et al.

446 | Sub-bacia de Tucano Norte e Bacia de Jatobá - Costa et al.


(1994), que contribuiu para uma melhor caracteriza- A Bacia Juá desenvolveu-se entre o Cambria-
ção das seqüências deposicionais. São aqui revistas no e o Ordoviciano (500 Ma), tendo evoluído como
as amplitudes estratigráficas de algumas unidades, uma bacia extensional pós-orogênica, instalada so-
bem como melhor definidos os limites de suas se- bre o subdomínio Macururé. Seus depósitos incluem
qüências deposicionais. uma fácies proximal, relacionada a fluxos de detri-
tos, e outra distal, associada a rios entrelaçados que
preencheram um antigo sistema de grábens.

embasamento
O embasamento da Sub-bacia do Tucano
Superseqüência
Norte é representado pelos terrenos Canindé-
Marancó e Pernambuco-Alagoas, a noroeste e les-
Paleozóica
te-nordeste, pelos metassedimentos da Faixa de
Dobramentos Sergipana, a oeste-sudoeste e sudes- Três seqüências subdividem a seção paleozóica,
te, e pelas rochas sedimentares da Bacia Juá, a su- tendo atuado como embasamento para as bacias de
deste. A Bacia do Jatobá instalou-se integralmente Jatobá e de Tucano Norte. O registro sedimentar
sobre o terreno Pernambuco-Alagoas. abrange estratos do Siluriano/Devoniano (Formações
Conforme Delgado et al. (2003), os terrenos Tacaratu e Inajá), Carbonífero (Formação Curituba)
Canindé-Marancó e Pernambuco-Alagoas com- e Permiano (Formação Santa Brígida). Sua caracteri-
preendem rochas metavulcânicas e metassedimen- zação baseia-se, principalmente, em afloramentos
tares de idade mesoproterozóica (1.2-1.0 Ma), situados na borda flexural de ambas as bacias, uma
intrudidas por inúmeros batólitos graníticos, data- vez que poucos poços amostraram o intervalo. Este
dos do Mesoproterozóico (1.0 Ma) e do Neoprote- fato contribui para as incertezas existentes quanto à
rozóico (650-600 Ma). O terreno Canindé-Marancó distribuição das diferentes unidades e para a dificul-
caracteriza-se por duas seqüências metavulcano-se- dade de definição de suas relações estratigráficas.
dimentares, cuja origem relaciona-se a arcos
magmáticos. Uma faixa de gnaisses migmatíticos
separa estas duas seqüências. O terreno
Seqüência Siluro-Devoniana
Pernambuco-Alagoas subdivide-se nos complexos
Cabrobó e Belém do São Francisco. O primeiro reú- Rochas sedimentares pertencentes ao Grupo
ne duas seqüências, uma metassedimentar e outra Jatobá (formações Tacaratu e Inajá) caracterizam a
metavulcânica. Ortognaisses graníticos-tonalíticos e Seqüência Siluro-devoniana, que aflora a S-SE da
migmatizados constituem o segundo. Dentre os Bacia de Jatobá e a leste da Sub-bacia de Tucano
batólitos graníticos destacam-se as suítes Xingó e Norte, no Gráben de Santa Brígida. Em subsuperfí-
Chorochó, por suas grandes dimensões. cie, a unidade foi amostrada por apenas um poço,
A Faixa de Dobramentos Sergipana teve sua perfurado na Bacia de Jatobá. A Formação Tacaratu
evolução relacionada a um contexto de margem é representada predominantemente por clásticos gros-
passiva. Sua origem, deformação e metamorfismo sos (conglomerados e arcósios conglomeráticos), de-
deram-se durante o Neoproterozóico (850-650 Ma). positados no Siluriano, através de um sistema de le-
Rochas metassedimentares pelíticas e psamíticas de ques aluviais coalescentes (Ghignone, 1979; Menezes
natureza turbidítica caracterizam o subdomínio Filho et al. 1988). Ghignone (1979) sugere uma pos-
Macururé. O subdomínio Vaza-Barris é composto sível extensão da unidade ao Devoniano, tendo por
pelos Grupos Miaba (conglomerados, metagrauvacas, base dados palinológicos obtidos por Regali (1964).
metavulcânicas, metacarbonatos e metapelitos); Si- A Formação Inajá, cuja ocorrência restringe-se à Ba-
mão Dias (metassiltitos, filitos e metarenitos cia de Jatobá, inclui arenitos finos a grossos, caulínicos,
interestratificados, contendo lentes de rochas de origem fluvial, aos quais se intercalam pelitos ver-
metavulcânicas) e Vaza-Barris (diamictitos e filitos melhos. Sua deposição teria ocorrido no Devoniano,
seixosos sotopostos a metacarbonatos e raros filitos). como o indicam dados palinológicos (Regali, 1964
apud Ghignone, 1979; Brito, 1967a, 1967b apud Costa

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 445-453, maio/nov. 2007 | 447


et al. 2003) e a presença de macrofósseis mari-
nhos desta idade (Ghignone, 1979). As formações Seqüências Sedimentares
Tacaratu e Inajá correlacionam-se, respectivamen-
te, com o Grupo Serra Grande e parte do Grupo Na Sub-bacia do Tucano Norte e na Bacia
Canindé, ambos da Bacia do Parnaíba (Caixeta de Jatobá, o registro estratigráfico é representado
et al. 1994). por rochas sedimentares do Jurássico Superior e
Cretáceo Inferior. São reconhecidas quatro seqüên-
cias deposicionais, dentre as quais se destacam
Seqüência Carbonífera aquelas relacionadas ao processo extensional juro-
cretáceo, abrangendo os estágios pré-rifte (Neoju-
A Seqüência do Carbonífero é representada rássico a Eoberriasiano), rifte (Eoberriasiano a
pela Formação Curituba, cuja presença é reporta- Eoaptiano) e pós-rifte (Neo-aptiano).
da no Gráben de Santa Brígida, Sub-bacia de Tu-
cano Norte, e em um dos poços perfurados na Bacia
de Jatobá. Sua composição inclui arenitos argilo-
sos, folhelhos várvicos e calcários. Pavimentos
estriados em arenitos (Magnavita et al. 2003) e Superseqüência Pré-
varves são indicativos de atividade glacial ao tem-
po de sua deposição. Dados palinológicos corro- Rifte
boram a idade carbonífera da unidade que se
correlaciona com a Formação Batinga nas bacias
de Sergipe e Alagoas. Seqüência J20-K05
A Seqüência Juro-cretácea (J20–K05) carac-
Seqüência Permiana teriza o estágio pré-rifte, estando representada, so-
bretudo, por depósitos do Neojurássico (Andar Dom
A Seqüência Permiana aflora apenas na mar- João). Registros da base do Eocretáceo (Eoberria-
gem flexural da Sub-bacia de Tucano Norte, no Grá- siano), vinculados à Formação Itaparica, foram
ben de Santa Brígida, que apresenta o registro mais amostrados apenas na porção centro-sul do Tucano
completo da sedimentação paleozóica no Sistema Norte. Não há registro dos arenitos flúvio-eólicos
Rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá, reunindo estratos não que caracterizam a Formação Água Grande e que
apenas do Permiano, mas também do Siluriano- no sudeste do Tucano Sul e na Bacia do Recôncavo
Devoniano (Grupo Jatobá) e do Carbonífero (Forma- constituem o topo da seção pré-rifte.
ção Curituba). Rochas sedimentares pertencentes à A área abrangida pela Sub-bacia de Tuca-
Formação Santa Brígida (membros Caldeirão e Ingá) no Norte e pela Bacia de Jatobá representa a
caracterizam a seqüência, que em subsuperfície foi porção distal dos sistemas aluviais do Neojurássi-
amostrada por dois poços perfurados no Tucano Nor- co (Andar Dom João), depositados sob paleoclima
te. O Membro Caldeirão é representado por clásticos árido. Os pelitos lacustres que caracterizam o
avermelhados (siltito e arcósio grosso e fino), com Membro Capianga atingem suas maiores espes-
evidências de sedimentação eólica. O Membro Ingá suras nestas bacias. Já os ciclos flúvio-eólicos,
inclui arenitos quartzosos médios a grossos, siltitos relacionáveis ao Membro Boipeba e à Formação
calcíferos, folhelhos verdes e dolomitos de coloração Sergi, mostram uma tendência de adelgaçamen-
cinza escuro a preta, ricos em matéria orgânica e to ao longo da Bacia de Tucano. Na Bacia de Ja-
por vezes silicificados. Sua deposição teria ocorrido tobá, há registros da Formação Sergi, mas a ocor-
em ambiente transicional a marinho raso, relacionável rência do Membro Boipeba é incerta. O Membro
ao do Membro Pedrão da Formação Afligidos, nas Capianga correlaciona-se com a Formação Bana-
bacias de Camamu e do Recôncavo. A Formação neiras, nas bacias de Sergipe e Alagoas. O Mem-
Santa Brígida correlaciona-se ainda com as forma- bro Boipeba e a Formação Sergi relacionam-se,
ções Aracaré, na Bacia de Sergipe-Alagoas, e Pedra respectivamente, às formações Candeeiro e Ser-
de Fogo, na Bacia do Parnaíba. raria, nessas mesmas bacias.

448 | Sub-bacia de Tucano Norte e Bacia de Jatobá - Costa et al.


Superseqüência Rifte A integração regional de dados de poço e os padrões
de preenchimento ilustrados em seções sísmicas su-
gerem esta mesma interpretação para todo o seg-
O limite entre os estágios pré-rifte e rifte é mento setentrional do rifte Tucano-Jatobá.
dado pela discordância que sobrepõe a Formação A implantação da fase lacustre relaciona-se
Candeias à Formação Itaparica, ou diretamente aos a um primeiro ciclo tectônico, cujo ápice deu-se
depósitos flúvio-eólicos da Formação Sergi. A se- no Mesorrio da Serra. Ainda ao longo do Mesorrio
ção rifte engloba duas seqüências, que abrangem da Serra (Neoberriasiano/Eovalanginiano), a redu-
estratos de idade Eorrio da Serra (Eoberriasiano) a ção da atividade tectônica permitiu que os siste-
Neojiquiá (Eoaptiano). A sucessão estratigráfica ilus- mas deltaicos progradassem a partir da margem
tra um rápido assoreamento de ambas as bacias, flexural, dando início ao assoreamento de ambas
refletindo o preenchimento axial do Sistema Rifte as bacias. Rochas sedimentares do Grupo Ilhas ca-
Recôncavo-Tucano-Jatobá. Já ao início do Neo-rio racterizam este período.
da Serra, sistemas fluviais dominavam a sedimen- No Neo-Rio da Serra (Neovalanginiano/Eohau-
tação na Sub-bacia de Tucano Norte e na Bacia de teriviano), já sob tectonismo atenuado, o Tucano Norte
Jatobá. O número reduzido de poços perfurados e a Bacia de Jatobá estiveram sujeitos a uma extensa
nestas bacias e a prevalência de ambientes deposi- sedimentação fluvial (Formação São Sebastião) que
cionais pouco favoráveis à preservação de persistiu até o Neojiquiá (Eoaptiano).
microfósseis dificultam a caracterização e o
detalhamento das seqüências estratigráficas, cuja
distribuição é avaliada principalmente com base na
Seqüência K30
interpretação de dados sísmicos.
A discordância que separa as seqüências K10-
K20 e K30 é de difícil avaliação, não apresentando
Seqüência K10-K20 uma expressão sísmica diagnóstica. A exigüidade
de dados de poços e os problemas de detalhamento
A Seqüência K10-K20, de idade Rio da Serra bioestratigráfico em seções predominantemente flu-
(Eoberriasiano/Eohauteriviano), compreende depósi- viais contribuem para as dificuldades de se avaliar a
tos relacionáveis às formações Candeias, São Se- amplitude do hiato envolvido e a própria extensão
bastião e Salvador e ao grupo Ilhas. Estas unidades geográfica das áreas sujeitas à erosão. Dados bio-
não ilustram variações internas significativas dos pa- estratigráficos isolados sugerem um hiato que abran-
drões de sedimentação, o que as torna indivisas no ge o Neo-Rio da Serra (Neovalanginiano/Eohauteri-
Tucano Norte e na Bacia de Jatobá. viano), na porção centro-sul do Tucano Norte. A con-
Durante o Eorrio da Serra (Eoberriasiano), e tinuidade da sedimentação nos depocentros é, por
particularmente no início do Mesorrio da Serra (Eo/ outro lado, especulativa, embora dados sísmicos
Neoberriasiano), o tectonismo que estruturou as ba- permitam interpretar uma deposição quase-contínua
cias, conjugado a uma progressiva umidificação do dos fandeltas da Formação Salvador junto à Falha
clima, resultou na implantação e posterior expansão de São Saité.
do sistema lacustre que caracteriza a Formação Embora de difícil caracterização, o limite en-
Candeias. Arenitos deltaicos descontínuos interca- tre estas seqüências marca o início de um segundo
lam-se à seção pelítica nas áreas flexurais, estando ciclo distensional, expresso pela atividade das falhas
relacionados às oscilações freqüentes do nível de de borda de ambas as bacias. Durante o Eo/Mesoaratu
base em um paleolago para o qual se estimam (Hauteriviano), taxas de subsidência maiores que as
batimetrias bem inferiores a de sistemas contempo- prevalentes no Neo-Rio da Serra (Neovalanginiano/
râneos aos da Bacia do Recôncavo, onde se deposi- Eohauteriviano) são evidenciadas por crescimentos
tavam turbiditos nos grandes depocentros, sob ele- da seção sedimentar e pela ampliação de
vada lâmina d’água. Santos et al. (1990) conside- depocentros. Mudanças contemporâneas na ativida-
ram que a pequena espessura da Formação de tectônica, envolvendo a atenuação ou o recru-
Candeias, na Bacia de Jatobá, estaria relacionada a descimento dos esforços distensionais, são observa-
taxas de subsidência com magnitude insuficiente para das também em outras bacias, como a do Recônca-
um aprofundamento significativo do sistema lacustre. vo e a de Sergipe-Alagoas. Bueno (2001, 2004) re-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 445-453, maio/nov. 2007 | 449


lacionou-as a esforços intraplaca vinculados à propa- estruturados da Formação São Sebastião através de
gação diácrona do sistema de riftes da margem leste. discordância angular. Esta discordância, registrada em
No Tucano Norte e na Bacia de Jatobá, a ar- todo o Sistema Rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá, está
quitetura estratal reflete um equilíbrio entre as taxas presente também em bacias da margem continental
de subsidência e de aporte sedimentar ao tempo de do Brasil e na costa oeste africana (Magnavita et al.
deposição da Seqüência K30, definindo um padrão 2003) correspondendo ao evento de breakup.
de empilhamento estratigráfico agradacional, re-
presentado pela recorrência de ciclos fluviais. Entre
o Neoburacica e o Jiquiá (Neobarremiano/Eoaptiano),
estas bacias estiveram submetidas a um terceiro epi-
sódio distensional, que resultou em uma expressiva Seqüências do
acumulação de sedimentos nos depocentros. A má-
xima taxa de distensão do Rifte Tucano-Jatobá é re- Neógeno
lacionada a este último ciclo tectônico, de idade
Neoburacica a Jiquiá (Neobarremiano/Eoaptiano).
Conglomerados sintectônicos (Formação Sal- Seqüência N60
vador) constituem uma feição conspícua adjacente
às falhas de borda de ambas as bacias, em seções No Tucano Norte e na Bacia de Jatobá não há
de idade Mesorrio da Serra a Neojiquiá (Eoberriasia- registros de depósitos do Neocretáceo e do Neógeno.
no/Eoaptiano). Sua deposição relaciona-se ao soer- Aluviões quaternários ocorrem associados aos princi-
guimento e posterior erosão das ombreiras do rifte, pais rios da região e caracterizam a Seqüência N60.
ilustrando ciclos de rejuvenescimento de relevo as-
sociados aos diferentes episódios tectônicos que ca-
racterizam a história de subsidência das bacias.

referências
bibliográficas
Superseqüência Pós-
Rifte AGUIAR, G. A.; MATO, L. F. Definição e relações es-
tratigráficas da Formação Afligidos nas bacias do Re-
côncavo, Tucano Sul e Camamu, Bahia, Brasil. In:
Seqüência K50 CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36., 1990,
Natal. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de
A Seqüência K50 reúne depósitos relacionados Geologia, 1990. v. 1, p. 157-170.
ao estágio pós-rifte, identificando um contexto de sub-
sidência térmica, em bacia do tipo sag. O registro sedi-
BRITO, I. M. Contribuição ao conhecimento dos
mentar inclui as associações de fáceis aluviais que ca-
microfósseis devonianos de Pernambuco: I-
racterizam a Formação Marizal, representadas sobre-
Archaeotriletes. Anais da Academia Brasileira de
tudo por clásticos grossos (conglomerados e arenitos)
Ciências, Rio de Janeiro, v. 39, n. 2, p. 281-283, 1967.
de idade Neo-Alagoas (Neo-aptiano). Na Serra do Tonã
(Sub-bacia de Tucano Norte) são descritos ainda folhe-
lhos esverdeados e calcários escuros albo-aptianos, para BRITO, I. M. Contribuição ao conhecimento dos
os quais se sugere uma correlação com a Formação microfósseis devonianos de Pernambuco: II-Acritarcha.
Santana, na Bacia do Araripe (Bueno, 1996a; Magna- Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de
vita et al. 2003). Não há uma designação formal e Janeiro, v. 39, n. 2, p. 285-287, 1967.
específica para estes depósitos, que foram relaciona-
dos à Formação Marizal por Ghignone (1979). A seção BUENO, G. V. Serra do Tonã: um elo estratigráfico
pós-rifte recobre grande parte do Tucano Norte e da entre as bacias de Tucano Norte (BA) e Araripe
Bacia de Jatobá, sobrepondo-se aos depósitos (CE), Nordeste do Brasil. In: SIMPÓSIO SOBRE O

450 | Sub-bacia de Tucano Norte e Bacia de Jatobá - Costa et al.


CRETÁCEO DO BRASIL, 4., 1996a, Rio Claro. Bo- rie Bacias Sedimentares, n. 52).
letim. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista,
1996. p. 143-146. MENEZES FILHO, N. R.; SANTOS, R. A.; SOUZA, J. D.
Programas levantamentos geológicos básicos do
BUENO, G. V. Discordância pré-Aratu: marco Brasil: Santa Brígida – Folha SC 24-X-C-V. Brasília: Com-
tectono-isotópico no rifte afro-brasileiro. 2001. 2 v. panhia de Pesquisa de Recursos Minerais, 1988. 113 p.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Gran-
de do Sul, Porto Alegre, 2001. NETTO, A. S. T.; OLIVEIRA, J. J. O preenchimento do rift-
valley na Bacia do Recôncavo. Revista Brasileira de
BUENO, G. V. Diacronismo de eventos no rifte Sul- Geociências, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 97-102, 1985.
Atlântico. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio
de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 203-229, maio/nov. 2004. REGALI, M. S. P. Resultados palinológicos de amos-
tras paleozóicas da Bacia de Tucano-Jatobá (seção
CAIXETA, J. M.; BUENO, G. V.; MAGNAVITA, L. V.; paleozóica do poço IMST-1-PE). Boletim Técnico da
FEIJÓ, F. J. Bacias do Recôncavo, Tucano e Jatobá. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 165-180, 1964.
Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Ja-
neiro, v. 8, n. 1, p. 163-172, jan./mar. 1994. SANTOS, C. F.; CUPERTINO, J. A.; BRAGA, J. A. E. Sín-
tese sobre a geologia das bacias do Recôncavo, Tucano
COSTA, I. P.; MILHOMEM, P. DA S.; CARVALHO, M. e Jatobá. In: RAJA GABAGLIA, G. P.; MILANI, E. J. (Coord.)
S. S. DE. Bacias sedimentares brasileiras: Bacia Origem e Evolução de Bacias Sedimentares. Rio de
de Jatobá. Aracaju: Fundação Paleontológica Janeiro: Petrobras, 1990. p. 235-266.
Phoenix, 2003. (Série Bacias Sedimentares, n. 53).
VIANA, C. F.; GAMA JUNIOR, E. G.; SIMÕES, I. A.;
DELGADO, I. M.; SOUZA, J. D.; SILVA, L. C.; SILVEIRA MOURA, J. A.; FONSECA, J. R.; ALVES, R. J. Revisão
FILHO, N. C.; SANTOS, R. A.; PEDREIRA, A. J.; GUI- estratigráfica da Bacia do Recôncavo/Tucano. Bole-
MARÃES, J. T.; ANGELIM, L. A. A.; VASCONCELOS, tim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 14, n.
A. M.; GOMES, I. P.; LACERDA FILHO, J. V.; VALEN- 3-4, p. 157-192, 1971.
TE, C. R.; PERROTTA, M. M.; HEINEC, C. A.
Geotectônica do Escudo Atlântico. In: BIZZI, L. A.;
SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R. M.; GONÇALVES,
J. H. (Ed.). Geologia, tectônica e recursos minerais
do Brasil: textos, mapas & SIG. Brasília: Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais, 2003. p. 227-334.

GHIGNONE, J. I. Geologia dos sedimentos


fanerozóicos do Estado da Bahia. In: INDA, H. A. V.
(Ed.) Geologia e recursos minerais do Estado da
Bahia: textos básicos. Salvador, v. 1, p. 24-117, 1979.

MAGNAVITA, L. P. Sobre a implantação da fase sin-


rifte em riftes continentais. In: CONGRESSO BRASI-
LEIRO DE GEOLOGIA, 39., 1996, Salvador. Anais.
São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1996,
p. 335-338.

MAGNAVITA, L. P.; DESTRO, N.; CARVALHO, M. S.


S. DE; MILHOMEM, P. DA S.; SOUZA-LIMA, W. Ba-
cias sedimentares brasileiras: Bacia de Tucano.
Aracaju: Fundação Paleontológica Phoenix, 2003. (Sé-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 445-453, maio/nov. 2007 | 451


SUB-BACIA DE TUCANO NORTE E BACIA DE JATOBÁ

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
NEÓGENO

10 NEO T O R T O N IA N O
MESO

20 EO B U R D I GAL IA N O
AQ U I TAN IA N O

NEO C E N O MA N IA N O
100

105
AL BI ANO

110
(GÁLICO)

115

ALAGOAS
APTIANO
CRETÁCEO

120
C O N T I N E N TAL
EO

JIQUIÁ
125
BURACICA
BARRE-

SÃ O SE BASTIÃ O
MIANO
MASSACARÁ

K30
SALVAD OR
F LUV IAL

130
FAN-DELTAS

ARAT U

4000
3025
HAUTE-
RIVIANO
( NEO C OM IANO )

135

K10 - K20
VALAN-
GINIANO
RIO
140
ILHAS

DA 585
SERRA
DELTAICO
800

BERRIA-
AMARO
SANTO

SIANO
LACUSTRE CANDEIAS
145
J20 - K05
LACUSTRE
BROTAS

DOM
FLÚVIO-EÓLICO SERGI 105
JOÃO LACUSTRE ALIANÇA CAPIANGA 180
FLÚVIO-EÓLICO BOIPEBA 120
NEO

150

250
RESTRITO A LITORÂNEO SANTA
MARINHO

RASO BRÍGIDA CALDEIRÃO


300
C

RASO CURITUBA 150


350
RASO INAJÁ 700
400 JATOBÁ
FLUVIAL TACARATU 700
450

500

550
EM BASAME NTO

452 | Sub-bacia de Tucano Norte e Bacia de Jatobá - Costa et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 445-453, maio/nov. 2007 | 453
Bacia de Camamu

José Maurício Caixeta1, Paulo da Silva Milhomem2, Robson Egon Witzke3,

Ivan Sérgio Siqueira Dupuy3, Guilherme Assunção Gontijo3

Palavras-chave: Bacia de Camamu l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Camamu Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução cam um tratamento diferenciado entre as mesmas,


com destaque na Bacia de Camamu para o papel
subordinado da seqüência evaporítica no que diz
A Bacia de Camamu situa-se na costa leste respeito à presença de halita.
brasileira, entre os paralelos 13° e 14° Sul, ocupan- Em seu registro sedimentar, a Bacia de Ca-
do uma área de 12.929 km2, se considerada sua mamu apresenta quebras marcantes relacionadas
porção emersa e sua porção marinha até a cota ba- a superfícies de discordância que delimitam treze
timétrica de 3.000 m. Ao norte, seu limite com as seqüências estratigráficas. Essas seqüências com-
bacias do Recôncavo e Jacuípe é dado pela Falha da preendem sedimentos jurássicos de uma fase pré-
Barra, uma importante feição regional que corta a rifte, evoluindo para as seqüências de preenchi-
bacia na direção leste-oeste. Ao sul, o limite é ape- mento dos riftes eocretáceos e culminando com a
nas geográfico com a Bacia de Almada, observan- sedimentação marinha. A história evolutiva da
do-se uma continuidade tanto estrutural quanto estra- Bacia de Camamu está marcada mais pelas ero-
tigráfica entre ambas as bacias. Em outras palavras, sões e hiatos deposicionais do que pela continui-
não existe uma feição geológica expressiva ao nível dade da sedimentação, conforme atestam os 41
do embasamento que as delimite. Observam-se, no poços perfurados até agosto de 2006 e os dados
entanto, particularidades estratigráficas que justifi- sísmicos disponíveis.

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste/Interpretação - e-mail: jmcaixeta@petrobras.com.br
2
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia
3
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 455-461, maio/nov. 2007 | 455


embasamento Superseqüência Pré-Rifte
O embasamento cristalino da Bacia de Cama-
mu, assim como o da Bacia do Recôncavo, é carac-
Seqüência J20-K05
terizado por rochas gnáissicas pertencentes ao
Cinturão Proterozóico do Leste da Bahia, constituin- Ao final do Permiano, um importante evento
te do Cráton do São Francisco, cujos terrenos foram regressivo marcaria o fim da sedimentação marinha,
estabilizados a mais de 1.8 Ga (Alkimin, 2004). Na gerando uma discordância no topo da Formação Afli-
realidade, as bacias de Camamu e Jacuípe limitam gidos. Sobre ela foram depositados sedimentos do
o cráton em sua porção leste. Neojurássico, correspondentes ao Grupo Brotas. Pre-
sente nas bacias do Recôncavo, Camamu e Almada,
o Grupo Brotas compreende as formações Aliança e
Sergi, estando caracterizado por sedimentos clásticos
arenosos e folhelhos depositados por rios entrelaça-
Superseqüência dos com retrabalhamento eólico, que recobriram os
lagos rasos e as depressões suaves, precursoras do
Paleozóica rifteamento que viria a seguir.
Netto et al. (1994) definiram a Formação Itaípe
para designar os clásticos finos sobrepostos aos areni-
tos da Formação Sergi e sotopostos aos clásticos finos
Seqüência Permiana e grossos da Formação Morro do Barro nas bacias de
Camamu e Almada. No entanto, face à sua praticidade
e constância na forma de ocorrência, principalmente
A Superseqüência Paleozóica engloba sedi-
em águas rasas, onde foi descoberto o campo de gás
mentos continentais e marinhos de idade permiana
de Manati, manteve-se como referência a estratigra-
e correspondentes, em termos litoestratigráficos,
fia do Recôncavo, definida por Viana et al. (1971) e
à Formação Afligidos de Aguiar e Mato (1990),
que se caracteriza pela subdivisão deste intervalo es-
definida na Bacia do Recôncavo e composta pelos
tratigráfico nas formações Itaparica e Água Grande e
membros Pedrão e Cazumba. O primeiro é repre-
no Membro Tauá da Formação Candeias. Deste modo
sentado por arenitos finos de ambiente de
propõem-se, nesta revisão, que sejam retomadas as
supramaré, enquanto que o segundo está relacio-
designações dessas unidades para a caracterização
nado aos siltitos, folhelhos e calcários de ambien-
da parte superior da Seqüência J20-K05, na Bacia de
te lacustre/sabkha continental (Aguiar e Mato,
Camamu. A Formação Itaípe estaria restrita à Bacia
1990), depositados em uma suave sinéclise con-
de Almada, onde não se reconhece a mesma estrati-
temporânea e, talvez, interligada com as bacias
grafia do Recôncavo. O contato basal é transicional
do Paraná, Parnaíba e Alagoas.
com a Formação Sergi e o topo é discordante sob a
Formação Morro do Barro. As análises biocronoestra-
seqüências sedimentares tigráficas com base em ostracodes conferem a este
pacote uma idade Eorrio da Serra. A parte superior
da Seqüência J20-K05 ainda caracteriza a fase pré-
Treze seqüências deposicionais represen- rifte da bacia e sua sedimentação teria ocorrido por
tadas por rochas sedimentares do Jurássico Su- meio de depósitos fluvio-lacustres.
perior ao Neógeno compõem o registro estrati-
gráfico da Bacia de Camamu. Como na Bacia
do Recôncavo, predominam os depósitos rela-
cionados à extensão crustal juro-cretácea, ca-
racterizando os estágios pré-rifte (Neojurássico
Superseqüência Rifte
a Eoberriasiano), rifte (Eoberriasiano a Eoapti-
ano), pós-rifte (Neo-aptiano) e drifte (Albiano A sedimentação rifte teria ocorrido durante
ao Neógeno). o Eocretáceo, mais precisamente entre o Berriasiano

456 | Bacia de Camamu - Caixeta et al.


e o Aptiano, abrangendo o intervalo entre os anda- do Recôncavo-Tucano, Penedo e parte inferior da
res Rio da Serra e Alagoas, na cronoestratigrafia Formação Coqueiro Seco, de Sergipe e Alagoas, e
local. Compreende os sedimentos do Grupo Almada com a parte superior da Formação Cricaré, das ba-
e a porção basal do Grupo Camamu, que, por sua cias do Espírito Santo e Cumuruxatiba.
vez, podem ser subdivididos em pelo menos três
seqüências: K10-20, K30 e K40. Essas seqüências
correspondem, na litoestratigrafia vigente, às for-
Seqüência K40
mações Morro do Barro, Rio de Contas e Taipus-
Mirim, respectivamente. A porção inferior do Grupo Camamu, corres-
pondente à Seqüência K40, foi depositada durante o
Aptiano e encerra os últimos sedimentos da fase rifte
Seqüência K10-K20 da bacia. Na cronoestratigrafia local, corresponderia à
sedimentação de grande parte do Andar Alagoas.
A Seqüência K10-K20 é constituída pelos Fácies argilosas predominam em seções de idade
clásticos de granulometria grossa e fina que caracte- Eoalagoas. Grandes espessuras de clásticos grossos
rizam a Formação Morro do Barro, que teriam pro- (arenitos e conglomerados), com intercalações subor-
gradado sobre a seqüência lacustre anteriormente dinadas de folhelhos caracterizam o Neo-Alagoas. No
implantada. A Formação Morro do Barro, conforme poço 1-BRSA-28-BAS, perfurado pela Petrobras, em
definida por Netto et al. (1994), subdivide-se nos 2001, em cota batimétrica de 1.918 m, a seqüência
membros Tinharé, que reúne os clásticos grossos, e clástica possui uma razão A/F superior a 90%, eviden-
Jiribatuba, constituído por clásticos finos. Essas uni- ciando uma sedimentação fluvio-deltaica, provavel-
dades representam uma sedimentação predominan- mente, proveniente de Leste e Nordeste. Gontijo et
temente subaquosa, dominada por fluxos gravitacio- al. (neste volume - Bacia de Almada) definem o Mem-
nais em um lago tectônico. O contato inferior com a bro Itacaré (Formação Taipus-Mirim) para a caracteri-
seção pré-rifte, e, superior, com a Formação Rio de zação dessa expressiva seção de clásticos grossos, de-
Contas, são discordantes (Netto et al. 1994). A For- finição esta que se estende à Bacia de Camamu.
mação Morro do Barro pode ser correlacionada com
a Formação Maracangalha e com o Membro Gomo
da Formação Candeias, do Recôncavo/Tucano, e com
a Formação Feliz Deserto, de Sergipe e Alagoas.
Superseqüência Pós-Rifte
Seqüência K30
A Seqüência K30 reúne os clásticos e carbo-
Seqüência K50
natos da Formação Rio de Contas, representativos
dos leques aluviais, rios e lagos que se instalaram A deposição da Seqüência K50 deu-se no
durante o rifte, entre o Hauteriviano e o Eoaptiano, âmbito de bacia do tipo sag. Em águas rasas, sua
correspondendo aos andares Aratu, Buracica e Jiquiá, porção basal é representada por litologias pertencen-
na cronoestratigrafia local. Na Formação Rio de Con- tes ao Membro Serinhaém da Formação Taipus-Mi-
tas, são reconhecidos os membros Ilhéus, represen- rim, correspondendo a intercalações regulares de are-
tado por folhelhos cinza-esverdeados, cinza-escuros nito cinza claro a escuro, muito fino e folhelho síltico
e acastanhados, associados a arenitos muito finos, e cinza-escuro, castanho e preto, carbonoso, como
Mutá, composto por arenitos cinza-esbranquiçados, apresentado por Netto et al. (1994). Para o topo, o
finos a grossos, conglomeráticos e dolomíticos. Membro Igrapiúna congrega calcários castanhos e
Marga esbranquiçada, biocalcarenito e dolomito amarelados, dolomíticos, folhelhos castanhos e eva-
ocorrem dispersos em sua seção, sendo mais contí- poritos, principalmente anidrita. A ocorrência de halita
nuos na metade inferior da formação (Netto et al. em águas rasas é restrita, embora tenha sido consta-
1994). O contato inferior, com a Formação Morro do tada, em poço, uma espessura de cerca de 200 m.
Barro, e o contato superior, com a Formação Taipus- Nas partes mais profundas da bacia, os dados sísmi-
Mirim, são discordantes. A Formação Rio de Contas cos indicam a presença de halocinese, evidenciada
é cronocorrelata às formações São Sebastião e Pojuca, pelas intensas deformações associadas à fuga do sal

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 455-461, maio/nov. 2007 | 457


em direção à Bacia de Almada. No entanto, grandes as formações Urucutuca (folhelhos e turbiditos are-
domos de sal, como aqueles observados nas bacias de nosos), Caravelas (calcários) e Rio Doce (arenitos),
Almada e Jequitinhonha (Caixeta et al. 2008), possuem com idade variando do Turoniano ao Recente.
ocorrências muito subordinadas, restritas ao norte da ba- A partir do Turoniano, teria sido implantado
cia. Essas rochas são o resultado das primeiras ingressões um oceano aberto, onde se depositaram os sedi-
marinhas na bacia, em clima árido, o que propiciou a mentos finos de talude da Formação Urucutuca, com
precipitação de expressivos depósitos evaporíticos. As intercalações de arenitos turbidíticos, identificando
datações disponíveis a partir de palinomorfos permitem erosões associadas a rebaixamentos relativos do
caracterizá-las como de idade Neo-Alagoas. Essa seria a nível do mar. Até o topo do Cretáceo são reconhe-
idade estimada para o surgimento de crosta oceânica cidas, pelo menos, duas seqüências limitadas por
nas partes mais distais da Bacia de Camamu. erosões regionais, aqui designadas K86-K90 e K100-
K130. Como na Bacia de Camamu existe apenas
um poço em águas profundas, todo o reconheci-
mento estratigráfico é consubstanciado em dados
sísmicos. Ainda assim, procurou-se reconhecer que-
Superseqüência Drifte bras importantes no registro sedimentar para o es-
tabelecimento das seqüências deposicionais, o que
é feito, basicamente, por analogia com outras ba-
Seqüência K60-K84 cias, dando-se ênfase a eventos globais.
As seqüências K86-K90 e K100-K130 são cons-
Durante o Albiano e o Cenomaniano, a Bacia tituídas, basicamente, por folhelhos que registram
de Camamu experimentou uma sedimentação franca- um grande afogamento na bacia e arenitos turbidíti-
mente marinha carbonática, representada pela Forma- cos relacionados, provavelmente, aos rebaixamen-
ção Algodões. Mantém-se aqui a designação das Se- tos relativos do nível do mar. Os limites dessas se-
qüências K60-K84 para este intervalo estratigráfico, qüências seriam as discordâncias do Turoniano, na
como proposto por Netto et al. (1994). A Formação base, e do Paleoceno Inferior, no topo. Registra-se,
Algodões subdivide-se nos membros Germânia e ainda, um importante evento erosivo intracampania-
Quiepe, conforme definição de Netto et al. (1994). Esta no. Aparentemente, pelo que se observa na sísmica
unidade designa os carbonatos sotopostos à Formação 3D, as duas seqüências aqui abordadas englobam a
Urucutuca, nas bacias de Jacuípe, Camamu e Almada. maior parte dos depósitos clásticos provavelmente
O Membro Germânia é caracterizado por calcarenito e arenitos turbidíticos.
calcirrudito oolítico e pisolítico, em parte dolomitizado
com ocorrência subordinada de arenitos nas áreas pro-
ximais. O Membro Quiepe é formado por calcilutitos e
Seqüências E10-E30 e
margas com foraminíferos plantônicos. O contato infe- E40-E60
rior, com a Formação Taipus-Mirim, é concordante e o
contato superior, com a Formação Urucutuca, é marca-
A Seqüência E10-E30 é limitada pelas dis-
do por uma importante discordância regional. A For-
cordâncias regionais do Paleoceno Inferior, na base,
mação Algodões é cronocorrelata às formações Macaé,
e do Eoceno Médio, no topo. Essa seqüência en-
da Bacia de Campos; Regência e São Mateus, das ba-
globa o pacote sedimentar representativo de todo
cias do Espírito Santo; Cumuruxatiba e Jequitinhonha e
o Paleoceno e do Eoceno Inferior. Durante esse pe-
Riachuelo, da Bacia de Sergipe e Alagoas, bem como
ríodo, observa-se na Bacia de Camamu uma contí-
às demais unidades carbonáticas albianas das bacias
nua transgressão marinha, com a deposição expressi-
costeiras brasileiras (Netto et al. 1994).
va de folhelhos da Formação Urucutuca e eventuais
depósitos turbidíticos, relacionados, sobretudo, à se-
Seqüências K86-K90 e dimentação paleocênica. É também nesse período
que se observa a maioria dos eventos de natureza
K100-K130 vulcânica nas bacias de Jequitinhonha e Cumuru-
xatiba. Em Camamu, porém, feições vulcânicas são
Os sedimentos sobrejacentes ao Grupo Cama- reconhecidas até o momento apenas através da sís-
mu pertencem ao Grupo Espírito Santo e englobam mica de reflexão, apresentando, provavelmente, a

458 | Bacia de Camamu - Caixeta et al.


mesma idade do vulcanismo de Royal Charlotte (Eo-
ceno Inferior). referências
A tendência transgressiva regional teria se
estendido até o Eo-oligoceno, perdurando, portan-
bibliográficas
to, durante a deposição da Seqüência E40-E60. Nes-
se período, na Bacia de Camamu prevaleceu a de- AGUIAR, G. A.; MATO, L. F. Definição e relações es-
posição de folhelhos e delgadas camadas de calci- tratigráficas da Formação Afligidos nas bacias do Re-
lutitos. A partir dessa idade, marcada pela discor- côncavo, Tucano Sul e Camamu, Bahia, Brasil. In:
dância do Oligoceno Inferior, a sedimentação assu- CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36., 1990,
me o caráter regressivo que caracteriza as seqüên- Natal. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Ge-
cias mais jovens. ologia, 1990. v.1, p. 157-170.

ALKIMIM, F. F. O que faz de um cráton um cráton? O


Seqüências E70-N10 e cráton do São Francisco e as relações almeideanas
N20-N50 ao delimitá-lo. In: MANTESSO-NETO, V.; BARTORELLI,
A.; CARNEIRO, C. D. R.; BRITO-NEVES, B. B. (Org.).
Geologia do continente sul americano: evolução
As seqüências E70-N10 e N20-N50 ocor-
e obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São
rem a partir do Eo-oligoceno e se caracterizam
Paulo: Beca, 2004. p. 17-35.
pela progradação das fácies proximais represen-
tadas pelas formações Caravelas e Rio Doce so-
CAIXETA, J. M.; RANGEL, H. D.; FLORES, J. L.; NAS-
bre a sedimentação pelítica da Formação Urucu-
CIMENTO, M. M.; GALVÃO, M. V. G.; MACHADO,
tuca. Ressalta-se nessas seqüências a presença
E. C. V. Tectônica de sal na Bacia de Jequitinhonha.
marcante de fácies de calcilutitos intercaladas aos
In: MOHRIAK, W.; SZATMARI, P.; ANJOS, S. M. C.
folhelhos durante os períodos de afogamentos
(Org.). Sal geologia e tectônica: exemplos das ba-
globais, a exemplo do Marco Azul da Bacia de
cias brasileiras. São Paulo: Beca, 2008. p. 272-283.
Campos, de idade eo-oligocênica. Destaca-se,
também, uma importante discordância erosiva do
Mioceno Médio, que, em águas profundas, omi- NETTO, A. S. T.; WANDERLEY FILHO, J. R.; FEIJÓ, F. J.
te grande parte dos sedimentos oligocênicos atra- Bacias de Jacuípe, Camamu e Almada. Boletim de
vés de cânions submarinos. Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
A Formação Barreiras, depositada entre o p. 173 -175, jan./mar. 1994.
Burdigaliano e o Recente, é comum às bacias costei-
ras brasileiras, mas, curiosamente, está praticamen- VIANA, C. F.; GAMA JUNIOR, E. G.; SIMÕES, I. A.;
te ausente na Bacia de Camamu. As falésias do Are- MOURA, J. A.; FONSECA, J. R.; ALVES, R. J. Revisão
nito Barreiras do sul do Estado da Bahia dão lugar às estratigráfica da Bacia do Recôncavo/Tucano. Bole-
escarpas da Formação Sergi (pré-rifte) e a terras ar- tim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 14, n.
rasadas recobertas diretamente pelos sedimentos de 3-4, p. 157-192, 1971.
praia e aluviões do Holoceno-Pleistoceno.

Seqüência N60
A Seqüência N60 diz respeito aos sedimen-
tos de praias e aluviões (SPA) do Pleistoceno e do
Holoceno, que compõem a fisiografia atual da Ba-
cia de Camamu. São areias e argilas da planície
de inundação dos rios Jiquiriçá e Jaguaripe, bem
como depósitos da foz desses rios. Insere-se, tam-
bém, a sedimentação de argilas, ainda inconsoli-
dadas, que recobrem toda a extensão da porção
submersa da bacia.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 455-461, maio/nov. 2007 | 459


BACIA DE CAMAMU

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

E
MA

C
EO ZAN C LE AN O

O
NEÓGENO

OR

D
ME S S I N I AN O

IO

S
NEO

AF
T OR T O N IA N O

LA
R
AT

VE
S E R R AVAL IA N O

PL

RA
MESO
LAN G H I AN O

CA
UD
B U R D I GAL IA N O
EO

L
TA
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O

EO R U P E L IA N O

E SPÍRITO SANTO
NEO P R I AB O N I AN O
PALE ÓG E NO

BAR T O N I AN O
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

URUCUTUCA
EO Y P R E S I AN O
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O
( SEN ON IANO )

CAM PAN IAN O


NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O

T U R O N I AN O

C E N O MA N IA N O
ALGODÕES

GERMÂNIA

QUIEPE
CRETÁCEO

PL IN
AT TE

CAMAMU
AF R N

AL B I AN O
O A
(GÁLICO)

RM
A

IGRAPIÚNA/
TAIPUS-

SERINHAÉM
MIRIM

ALAGOAS
APTIANO
ITACARÉ
EO

JIQUIÁ
CONTAS

MUTÁ
RIO DE

BARRE- BURACICA MUTÁ


MIANO
ALMADA

ILHÉUS
( NE OC OM IANO )

ARAT U
HAUTE-
RIVIANO

VALAN- TINHARÉ
GINIANO RIO MORRO DO
DA BARRO JIRIBATUBA
BERRIA- SERRA
SIANO CANDEIAS
T AU Á
AGUA GRANDE
ITAPARICA
DOM SERGI
TITHO- CAPIAN GA
JOÃO
NIANO ALIANÇA

CAZUMBA
AFLIGIDOS

E MBASAME NTO

460 | Bacia de Camamu - Caixeta et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 455-461, maio/nov. 2007 | 461
Bacia de Almada

Guilherme Assunção Gontijo1, Paulo da Silva Milhomem2, José Mauricio Caixeta3,

Ivan Sérgio Siqueira Dupuy1, Paulo Eduardo de Lemos Menezes4

Palavras-chave: Bacia de Almada l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Almada Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução se considerada a cota batimétrica de 3.000 m.


Limita-se a norte com a Bacia de Camamu, sen-
do este limite ainda especulativo, mas aqui assu-
A Bacia de Almada localiza-se na costa les- mido como sendo o Alto de Taipus, identificado
te brasileira, limitada pelos paralelos 14° e 14° em águas rasas, na altura do paralelo 14° 10’.
37’ sul, ocupando uma área de aproximadamen- Ao sul, o alto do embasamento nominado de Alto
te 17.300 km 2, quando considerado o limite de de Olivença separa-a da Bacia do Jequitinhonha.
crosta continental-crosta oceânica, e de 9.500 km2 O limite oeste com o embasamento pré-cambriano

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica
e-mail: basco@petrobras.com.br
2
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia
3
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste/Interpretação
4
Ex-funcionário

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 463-473, maio/nov. 2007 | 463


é definido por falhas normais, sendo a principal a Após um breve período de estabilidade que
Falha de Aritaguá. A parte terrestre da bacia é se seguiu à orogênese Jequié, o paleocontinente neo-
bastante estreita e, próximo a Ilhéus, ocorre um arqueano foi submetido, durante o Paleoproterozóico,
pequeno enclave de bacia, onde afloram sedi- a um regime extensional que provocou uma frag-
mentos jurássicos e cretáceos. mentação do cráton. Nestas zonas de instabilidade
A configuração estrutural da Bacia de ocorreram manifestações graníticas em alinhamen-
Almada é típica de uma bacia de margem passi- tos, com intrusões de diversos corpos sieníticos alca-
va, que evoluiu após um estágio inicial de estira- linos ultrapotássicos (Delgado et al. 2003).
mento até a fragmentação do Supercontinente Ainda no Paleoproterozóico, um novo está-
Gondwana durante o Eocretáceo e a abertura do gio orogênico implantou-se sob regime compressivo,
Oceano Atlântico. A arquitetura básica do está- em ambiente de arco continental, representado, na
gio rifte é de grábens, horsts e principalmente área, por intrusões granítico-granodioríticas, de afi-
meio-grábens, com falhas normais de direção em nidade calcioalcalina. Os registros mais recentes de
geral N5°-10°E e N30°E, paralelas aos lineamen- rochas do embasamento, nas imediações da Bacia
tos pré-cambrianos do Cráton do São Francisco. de Almada, datam de 680 Ma (Neoproterozóico) e
A Falha de Aritaguá, separando o embasamento são representados pela Suíte Alcalina Itabuna-Flo-
de um grande baixo estrutural a ela associado, resta Negra, composta por granitos alcalinos e sie-
pode estar relacionada a um contexto estrutural nitos com nefelina/sodalita.
de borda falhada. As falhas mais próximas à bor-
da oeste mergulham em direção ao depocentro,
ou seja, seus planos mergulham para leste. Na
extensa área a partir do depocentro até o limite
da crosta continental com a crosta oceânica, o seção sedimentar
sentido dos mergulhos de falhas se alterna entre
leste e oeste. Zonas de transferência com orien- A seção sedimentar preservada na Bacia de
tação N40°W acomodam taxas de extensão va- Almada abrange rochas do Jurássico Superior, Cre-
riáveis entre diferentes compartimentos da bacia, táceo, Paleógeno e Neógeno distribuídas em quin-
ao longo de sua evolução. ze seqüências. Diferentemente das bacias de
A história evolutiva da bacia permite relacio- Camamu e do Recôncavo, situadas ao norte, a Su-
nar quinze seqüências estratigráficas separadas por perseqüência Paleozóica não está presente, de
superfícies de discordância regionais. A estas superfí- modo que os primeiros registros sedimentares, re-
cies estão relacionados significativos hiatos e erosões. lacionados à seqüência neojurássica, sobrepõem-
se diretamente ao embasamento cristalino. A es-
pessura máxima é da ordem de 8.500 m, sendo o
registro relacionado ao evento rifte muito mais ex-
pressivo, quando comparado ao pacote sedimentar
embasamento que caracteriza o estágio drifte.

O embasamento pré-cambriano faz parte da


Província São Francisco, uma das quatro províncias
estruturais da região oriental da Plataforma Sul-Ame-
ricana (Delgado et al. 2003). As rochas mais antigas Superseqüência Pré-
são de idade neo-arqueana, pertencentes ao Domí-
nio Itabuna do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, que Rifte
representa um extenso segmento de crosta formado
durante a orogenia Jequié. Este domínio é composto
por associações de paragnaisses do Cinturão Itabuna Seqüência J20-K05
e ortognaisses do Complexo Itabuna, associações de
rochas máficas e ultramáficas em corpos de piroxenito, A seqüência sedimentar mais antigas da ba-
gabronorito, gabro-diorito e metabasalto e intrusões cia pertence ao Neojurássico e ao Eocretáceo, cor-
de charnockito, granito, tonalito e monzonito. respondendo a uma sedimentação de fase pré-

464 | Bacia de Almada - Gontijo et al.


rifte, distribuída originalmente sobre uma gran-
de extensão geográfica, com unidades correla- Superseqüência Rifte
tas nas bacias de Camamu, Recôncavo, Tucano,
Jatobá, Sergipe e Alagoas. Estes depósitos po- A sedimentação rifte ocorreu durante o Eo-
dem ser relacionados ao estágio inicial de flexura cretáceo, entre o Berriasiano e o Aptiano, abran-
da crosta, em resposta aos esforços distensionais gendo, na cronoestratigrafia local, os andares Rio
que originaram o sistema de riftes do Eocretáceo. da Serra a Alagoas. Compreende os sedimentos do
Em termos litoestratigráficos, está representada Grupo Almada e a porção basal do Grupo Cama-
pelas formações Sergi e Itaípe, do Grupo Brotas. mu, subdivididos em três seqüências: K10-K20, K30
Diferentemente daquelas bacias, em Almada, a e K40. O início do estágio rifte ainda é motivo de
Formação Aliança ou sua correlata não ocorre, controvérsias, e há quem o defina a partir da sedi-
estando a Formação Sergi assentada diretamen- mentação dos pelitos da porção superior da Forma-
te sobre o embasamento. ção Itaípe. A interpretação aqui adotada é a de
A Formação Sergi caracteriza a parte infe- que a discordância entre esta unidade e a Forma-
rior da Seqüência J20-K05 e é composta predomi- ção Morro do Barro representa a base da seção rifte.
nantemente por arenitos hialinos, brancos e casta- Esta discordância possui caráter regional, sendo
nho esbranquiçados, finos a conglomeráticos, de- muito expressiva também na Bacia de Camamu.
positados por sistemas fluviais entrelaçados com
retrabalhamento eólico (Viana et al. 1971). Folhe-
lhos e siltitos compõem delgadas camadas em meio Seqüência K10-K20
ao espesso pacote arenoso. Sua idade é neojurás-
sica e, na cronoestratigrafia local, posiciona-se no A Seqüência K10-K20, de idade Rio da Serra,
Andar Dom João. caracteriza os depósitos mais basais da fase rifte, es-
A parte superior da Seqüência J20-K05, de tando representada pela Formação Morro do Barro,
idade Eorrio da Serra, é representada por rochas através de seus membros Tinharé e Jiribatuba, confor-
sedimentares relacionadas à Formação Itaípe. Esta me definido por Netto et al. (1994). As características
unidade foi originalmente definida por Netto et marcantes da seção são a grande variabilidade facio-
al. (1994) tanto para esta bacia quanto para a lógica e o freqüente retrabalhamento intrabacinal,
Bacia de Camamu, dada a ausência de uma iden- indicado a partir da análise do registro fossilífero.
tidade litológica com seções cronocorrelatas na O Membro Tinharé é formado por arenitos
Bacia do Recôncavo, pertencentes às formações muito finos a médios e conglomerados variegados.
Itaparica e Água Grande e ao Membro Tauá da O Membro Jiribatuba compõe-se de folhelhos cin-
Formação Candeias. Esta concepção é revista por za-esverdeados a castanho escuro, calcíferos, co-
Caixeta et al. (2008) para a Bacia de Camamu. mumente ricos em matéria orgânica, contendo
Estes autores reconhecem a extensão das unida- intercalações de arenitos.
des presentes na Bacia do Recôncavo também a Estudo realizado na área de Itaparica (Bacia
esta última bacia. A Formação Itaípe fica, por- de Camamu) identificou um contexto deposicional
tanto, restrita à Bacia de Almada, redefinindo-se predominatemente subaquoso, onde dominam pro-
seu perfil-tipo, originalmente estabelecido no poço cessos relacionados a fluxos gravitacionais, dando
1-BAS-84 (Bacia de Camamu), entre 3.427 m e origem a fan-deltas, fluxos de detritos (sand-debris)
3.893 m, para o intervalo de 1.848 m/2.101 m do e turbiditos. Estes últimos quase sempre confinados
poço 1-BAS-36-BA (Bacia de Almada), também em calhas condicionadas por falhamentos. No en-
perfurado pela Petrobras (fig. 1). Em sua seção tanto, alguns testemunhos também sugerem a pre-
de referência, a Formação Itaípe é representada sença de depósitos de planície e frente deltaica.
por folhelhos cinza-esverdeados a cinza-acasta- Associado a este ambiente, possivelmente
nhados, com intercalações de arenitos, siltitos e relacionado às proximidades de uma falha de bor-
calcilutitos. Comumente, no entanto, a seção é da, presume-se a existência de uma borda opos-
essencialmente argilosa. Seu limite é transicional, ta, flexural, onde se registraria a entrada de cor-
na base, com a Formação Sergi, mas discordan- pos arenosos na forma de rios e deltas, que pro-
te, no topo, com a Formação Morro do Barro. O gradariam e retrogradariam conforme variações
ambiente deposicional é flúvio-lacustre. no espaço de acomodação.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 463-473, maio/nov. 2007 | 465


Figura 1 – Perfil-tipo da Formação Itaípe. Figure 1 – Itaípe Formation reference section.

466 | Bacia de Almada - Gontijo et al.


Seqüência K30 a hiatos ou à elevada contribuição arenosa desta se-
ção. Ao lado dos problemas de caracterização bioes-
tratigráfica, a grande variabilidade faciológica e a forte
A Seqüência K30 abrange os andares locais compartimentação proporcionada por movimentações
Aratu, Buracica e Jiquiá, estando representada por ro- diastróficas e adiastróficas têm dificultado o estabe-
chas sedimentares relacionáveis à Formação Rio de Con- lecimento de um modelo tectono-sedimentar para o
tas (membros Mutá e Ilhéus). A discordância que a se- andar na Bacia de Almada.
para da Seqüência K10-K20 é bem marcada no registro Na Bacia de Almada, a Seqüência K40 foi
bioestratigráfico e pela ocorrência de truncamentos ero- amostrada apenas em águas rasas, onde se caracte-
sionais verificados em seções sísmicas. A dinâmica rifte riza por uma expressiva seção areno-conglomerática,
impôs variações nas atividades dos falhamentos, resul- com intercalação subordinada de folhelhos, exceto
tando na migração de depocentros e em conseqüentes em sua base, onde esta litologia, associada a siltitos,
variações nas rotas de influxo de clásticos. é predominante. Esta seção atinge espessuras supe-
A exemplo da Formação Morro do Barro, a riores a 1.500 m, constituindo um registro diferencia-
Formação Rio de Contas é caracterizada pela gran- do daquele que identifica o Membro Serinhaém da
de variabilidade litológica e pela ausência de mar- Formação Taipus Mirim, como descrito em Netto et
cos elétricos regionais. No entanto, o conteúdo fos- al. (1994). Desta maneira, define-se, aqui, o Mem-
silífero é notadamente mais abundante. O Membro bro Itacaré para englobar esta espessa seqüência de
Mutá é composto por conglomerados e arenitos fi- conglomerados polimíticos, arenitos muito finos a gros-
nos a conglomeráticos, com alguma marga e carbo- sos, folhelhos cinza esverdeados e siltitos, presente
natos dispersos na seção. O Membro Ilhéus é forma- tanto na Bacia de Almada quanto em Camamu.
do por folhelhos cinza-esverdeados, cinza-escuros e Adota-se como perfil-tipo o intervalo de 721 a 1.520
acastanhados, associados a arenitos muito finos. In- m do poço 1-BAS-3, perfurado pela Petrobras (fig. 2).
terpreta-se para a seção um contexto deposicional As isópacas são variáveis, em águas rasas, em fun-
possivelmente relacionado a leques subaquosos jun- ção de processos erosivos pós-albianos. Em águas
to à borda falhada de um lago com sedimentação profundas, este intervalo é interpretado em sísmica e
dominantemente pelítica e que se amplia para les- sua espessura é superior a 1.000 m.
te. Ambientes fluvial e deltáico deverão ocorrer na A Seqüência K40 foi amostrada por poços so-
borda flexural, a leste. Áreas relativamente altas no mente na área proximal da bacia e o contexto depo-
interior do lago apresentam hiatos deposicionais na sicional é tipicamente não marinho. A sedimentação
base da seqüência. predominantemente clástica grosseira reflete o
gradativo assoreamento do lago, cuja borda oeste
Seqüência K40 migra em direção ao centro da bacia, expondo sedi-
mentos das seqüências mais antigas. Evidências
A Seqüência K40, depositada durante o geoquímicas e paleontológicas sugerem, localmen-
Aptiano ou na cronoestratigrafia local, Andar Ala- te, uma influência marinha ao tempo da deposição
goas, representa a última unidade do estágio rifte. da porção basal, mais argilosa, da Seqüência K40.
O Andar Alagoas tem sido alvo de uma série
de discussões quanto à sua evolução paleoambien-
tal/paleogeográfica, arcabouço tectono-estratigráfi-
co, correlação com a cronoestratigrafia internacio-
nal padrão e bioestratigrafia. Nas bacias marginais
Superseqüência Pós-Rifte
brasileiras, este intervalo registra a transição de fácies
continentais, com subordinada influência marinha,
a evaporitos de ambiente marinho restrito. A associa- Seqüência K50
ção desta transição de fácies a também transição do
regime tectônico, de rifte para pós-rifte, tem sido Os membros Serinhaém e Igrapiúna da For-
comum, embora não consensual. mação Taipus Mirim (Netto et. al. 1994) são as uni-
A bioestratigrafia do Andar Alagoas baseia- dades litoestratigráficas que compõem a Seqüência
se, principalmente, em dados palinológicos, cuja K50, depositada ao final do Neo-aptiano (Neo-Ala-
descontinuidade do registro pode estar relacionada goas). As características litológicas, palinofaciológicas

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 463-473, maio/nov. 2007 | 467


Figura 2 – Perfil-tipo da Formação Itacaré. Figure 2 – Itacaré Formation reference section.

468 | Bacia de Almada - Gontijo et al.


e paleontológicas dos estratos associados a ela são et al. (1994). Estes autores não mencionam a ocor-
indicativas da implantação de ambientes marinhos rência de sedimentos terrígenos, embora os conside-
proximais, com circulação restrita e variável influxo rem na representação gráfica, mesmo que subordi-
continental. Esta seqüência desenvolve-se, princi- nadamente. O Membro Quiepe é constituído por cal-
palmente, em águas profundas, onde atinge espes- cilutitos e margas e, minoritariamente, por folhelhos,
suras superiores a 1.000 m, com destaque para uma calcarenitos e arenitos. O Membro Germânia é ca-
importante província de domos de sal, de orienta- racterizado por uma expressiva ocorrência de terrí-
ção geral norte-sul, e que abrange quase toda a genos (arenitos e folhelhos) associados a calcareni-
extensão da bacia. Destaca-se também a ocorrên- tos e, secundariamente, calcilutitos. Os contatos, in-
cia, verificada em poço, de grandes espessuras de ferior com a Formação Taipus-Mirim, e superior, com
arenitos e intercalações subordinadas de halita. Nes- a Formação Urucutuca, são discordantes. A Forma-
te caso, a ausência de anidrita e de carbonatos as- ção Algodões pode ser correlacionada com o Grupo
sociados não permite identificar tais ocorrências Barra Nova, das bacias de Jequitinhonha, Cumuruxa-
como produto de ciclos evaporíticos tradicionais. tiba e Espírito Santo, e com a Formação Riachuelo,
Injeção durante o processo de halocinese tem sido das bacias de Sergipe e Alagoas.
um modelo aventado. É importante salientar que pouco se conhece
Em águas rasas, a ocorrência da Seqüência desta seção na parte mais distal da bacia. Os dois
K50 é restrita. As seções relacionadas aos mem- únicos poços perfurados nessa região atingiram áreas
bros Serinhaém (arenitos e folhelhos) e Igrapiúna soerguidas nessa época e os registros mostraram-se
(anidrita) são descritas no norte da bacia, definin- pouco espessos. No entanto, através do imageamento
do uma sucessão estratigráfica comparável à re- sísmico, é possível identificar calhas deposicionais
gistrada em estratos correlatos, presentes no sul associadas a uma halocinese já ativa, que podem ter
da Bacia de Camamu. concentrado fluxos turbidíticos confinados.
A concepção de que a Seqüência K50 tenha
se depositado em um contexto de bacia do tipo sag,
como proposto neste trabalho, tem sido objeto de dis-
Seqüências K88-K90 e K100-
cussão. Questiona-se a possibilidade de que um está- K130
gio inicial de subsidência termal pudesse ter criado o
espaço necessário à acumulação da espessa seção
As Seqüências K88-K90 e K100-K130 subdi-
marinha neo-aptiana presente na bacia. Modelagens
videm a seção neocretácea pós-cenomaniana, es-
termomecânicas com compensação isostática flexural
tando representadas pela Formação Urucutuca, que
sugerem a possibilidade de uma de uma extensão da
reúne folhelhos cinza-escuros ou esverdeados, por
atividade de falhas na Seqüência K50.
vezes piritosos e fossilíferos, com intercalações de
arenitos turbidíticos relacionados a rebaixamentos
do nível do mar. Em terra e em algumas porções
da área plataformal, o conteúdo em clásticos gros-

Superseqüência Drifte sos, inclusive conglomerados, representa o preen-


chimento de canais escavados durante estes re-
baixamentos eustáticos.
A deposição da Formação Urucutuca iden-
Seqüência K60-K84 tifica o aprofundamento da bacia e a substituição
dos depósitos plataformais, pertencentes à Forma-
No período que compreende quase todo o Al- ção Algodões, por pelitos de ambiente batial. As
biano até o Cenomaniano, a sedimentação da ba- maiores paleobatimetrias da seção neocretácea
cia passa a ser francamente marinha e majoritaria- são observadas no Santoniano/Campaniano, se-
mente química. Depositaram-se calcarenitos, calci- guindo-se uma tendência de redução batimétrica
lutitos, margas e, subordinadamente, arenitos e fo- para o topo do Cretáceo.
lhelhos, litologias que caracterizam a Formação Al- O registro sedimentar caracteriza-se por uma
godões, porção superior do Grupo Camamu. série de superfícies de discordância, identificando hia-
A Formação Algodões subdivide-se nos mem- tos deposicionais e erosões que se superpõem em
bros Germânia e Quiepe, como apresentado por Netto diversas áreas da bacia. O soerguimento de cama-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 463-473, maio/nov. 2007 | 469


das pela movimentação, muitas vezes contínua e
verificada até o presente da seção evaporítica, tam-
Seqüências E60-E70, E80-
bém resulta, na parte distal, em acunhamentos de N30 e N40-N50
camadas, hiatos deposicionais e erosões conspícuas.
Estratos do Turoniano e do Coniaciano são pou-
A deposição das Seqüências E60-E70 a N40-N50
co espessos e sua área de ocorrência é limitada pela
identificam uma sedimentação de caráter regressivo,
incidência de importantes eventos erosivos durante o
implantada a partir do Neo-Eoceno e representada pela
Santoniano/Campaniano. Nesta época, plataforma e
progradação dos sedimentos plataformais relacionados
talude foram escavados, dando origem a cânions com
às formações Rio Doce e Caravelas sobre as fácies dis-
orientação geral W-E e NW-SE, preenchidos ao longo
tais pertencentes à Formação Urucutuca. Esta última
do Senoniano e do Paleógeno. Dentre estas feições
unidade apresenta-se essencialmente pelítica (folhelhos
erosivas, destaca-se o Cânion de Almada, situado no
e argilitos), com delgados níveis de margas, calcareni-
sul da bacia e cuja porção mais proximal aflora nas
tos e calcilutitos, não se registrando a presença de ca-
proximidades da cidade de Ilhéus.
madas arenosas expressivas. Já o complexo Caravelas/
A associação de rebaixamentos do nível do
Rio Doce ocorre com a composição clássica, alternan-
mar, erosões na área plataformal e halocinese na
do clásticos grossos, de origem continental, com carbo-
porção distal da Bacia de Almada proporcionaram o
natos geralmente bioclásticos.
desenvolvimento de vias preferenciais para a trans-
A Formação Barreiras, unidade que ocorre ao
ferência de sedimentos para águas profundas, cons-
longo da faixa costeira do Brasil, desde o Estado do
tituindo leques submarinos. Espessos pacotes areno-
Amapá até o Rio de Janeiro, é registrada apenas
sos são registrados em poço a cerca de 50 quilôme-
localmente na Bacia de Almada, próximo ao limite
tros da atual costa. Falhamentos lístricos, de direção
com a Bacia de Camamu (Martin et al. 1980). A
preferencial NNE-SSW, têm também um importante
origem continental comumente atribuída às rochas
papel no controle da sedimentação.
sedimentares que a caracterizam é questionada quan-
do consideradas evidências sedimentológicas e pa-
Seqüências E10, E20 e E30-E50 leontológicas (Arai, 2005). Em outras bacias, a For-
mação Barreiras abrange estratos do Mioceno Mé-
dio ao Plioceno, estando representada por conglo-
Ao tempo de deposição das Seqüências E10 a merados, arenitos maturos, lamitos vermelhos com
E50, considera-se que os cânions escavados no crostas de limonita e diamictitos. Não há, contudo,
Santoniano/Campaniano tenham permanecido áreas datações para a seção presente na Bacia de Almada.
preferenciais para a transferência de areias para águas Optou-se, neste trabalho, por posicioná-la no Mioce-
profundas. A exemplo da seção neocretácea pós-ce- no Superior/Plioceno, acima da grande discordância
nomaniana, o registro sedimentar do Paleoceno infe- do Tortoniano, comumente identificada em seções
rior à base do Eoceno Médio é pontuado por discor- sísmicas, nas bacias da margem continental.
dâncias de expressão regional, melhor expressas em O pacote sedimentar abrangido pelas Seqüên-
águas profundas através de truncamentos erosivos, cias E60-E70 a N40-N50 é afetado por um fraco tec-
feições de onlap e associação de sistemas de canais tonismo distencional, representado por falhamentos
submarinos. A discordância do Paleoceno Médio/Su- lístricos de direção preferencial NNE-SSW.
perior, em particular, é identificada comumente por
sismofácies indicativas de grandes canalizações.
Nos diversos poços em que foram amostradas,
Seqüência N60
estas seqüências são representadas predominante-
mente por folhelhos, com intercalações de arenitos, A Seqüência N60, de idade pleistocênica a
margas, calcilutitos e calcarenitos. Esta associação holocênica, engloba os sedimentos clásticos de praias e
caracteriza o ambiente nerítico profundo a batial sob aluviões (SPA) que compõem a fisiografia atual da Bacia
o qual depositou-se a Formação Urucutuca. Em áreas de Almada. São arenitos e folhelhos relacionados às pla-
proximais, margas e calcarenitos marcam a base da nícies de inundação dos rios Almada e de Contas, bem
seção progradante que culmina com a deposição dos como aos depósitos estuarinos e deltaicos que ocorrem
carbonatos plataformais da Formação Caravelas a na foz destes rios. Argilas ainda inconsolidadas recobrem
partir do Neo-Eoceno/Eooligoceno. toda a extensão da porção submersa da bacia.

470 | Bacia de Almada - Gontijo et al.


referências
bibliográficas

ARAI, M. A grande elevação eustática do Mioceno:


a verdadeira origem do Grupo Barreiras. In: CON-
GRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS
DO QUATERNÁRIO, 10., 2005, Guarapari. Anais.
Guarapari: Associação Brasileira de Estudos do
Quaternário, 2005.

CAIXETA, J. M.; RANGEL, H. D.; FLORES, J. L.; NAS-


CIMENTO, M. M.; GALVÃO, M. V. G.; MACHADO,
E. C. V. Tectônica de sal na Bacia de Jequitinhonha.
In: MOHRIAK, W.; SZATMARI, P.; ANJOS, S. M. C.
(Org.). Sal geologia e tectônica: exemplos das ba-
cias brasileiras. São Paulo: Beca, 2008. p. 272-283.

DELGADO, I. M.; SOUZA, J. D.; SILVA, L. C.;


SILVEIRA FILHO, N. C.; SANTOS, R. A.; PEDREIRA,
A. J.; GUIMARÃES, J. T.; ANGELIM, L. A. A.; VAS-
CONCELOS, A. M.; GOMES, I. P.; LACERDA FI-
LHO, J. V.; VALENTE, C. R.; PERROTA, M. M.;
HEINECK, C. A. Geotectônica do Escudo Atlânti-
co. In: BIZZI, L. A.; SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI,
R. M.; GONÇALVES, J. H. (Ed.). Geologia, tectô-
nica e recursos minerais do brasil: texto, mapa
& SIG. Brasília: Companhia de Pesquisa de Recur-
sos Minerais, 2003. p. 227-334.

MARTIN, L.; BITTENCOURT, A. C. S. P.; VILAS


BOAS, G. S.; FLEXOR, J. M. Mapa geológico do
quaternário costeiro do Estado da Bahia. Sal-
vador: Secretaria das Minas e Energia, 1980. Es-
cala 1:250.000.

NETTO, A. S. T.; WANDERLEY FILHO, J. R.; FEIJÓ,


F. J. Bacias de Jacuípe, Camamu e Almada. Bole-
tim de Geociências da Petrobras. Rio de Janei-
ro, v. 8, n. 1, p. 173-175, jan./mar. 1994.

VIANA, C. F.; GAMA JUNIOR, E. G.; SIMÕES, I.


A.; MOURA, J. A.; FONSECA, J. R.; ALVES, R. J.
Revisão estratigráfica da Bacia do Recôncavo/Tu-
cano. Boletim Técnico da Petrobras, Rio de Ja-
neiro, v. 14, n. 3-4, p. 157-192, 1971.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 463-473, maio/nov. 2007 | 471


BACIA DE ALMADA

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

EO ZAN C LE AN O
NEÓGENO

M E SS I N I AN O
NEO
10 T O RT O N IA N O

S E R R AVAL IA N O
MESO
LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O
EO
20
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O

30
EO R UP E L IA N O

NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G E N O

ESPÍRITO SANTO
BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

URUCUTUCA
50
EO Y PR E S I AN O

T HAN E T I AN O
NEO
60 PALEOCENO S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O

70
( SEN O NIANO )

CAMPAN IAN O

80
NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U R O N I AN O
ALGODÕES

C E N O MA N IA N O
QUIEPE
GERMÂNIA
CRETÁCEO

100
CAMAMU

AL B I AN O
( G ÁLI CO )

110
IGRAPIÚNA
TAIPUS-
MIRIM

ALAGOAS
APTIANO
120
ITACARÉ
EO

JI QUIÁ
ILHÉUS
MUTÁ

BARRE- BURACICA
ALMADA

MIANO
130
ARAT U
( NE OC OM IANO )

HAUTE-
RIVIANO
BARRO

TINHARÉ
M. DO

1300

VALAN-
GINIANO RIO JIRIBATUBA
140 DA
SERRA
BERRI-
ASIANO ITAÍ PE
BROTAS 230
TITHO- DOM
JOÃO
SERGI
NIANO
150
542

472 | Bacia de Almada - Gontijo et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 463-473, maio/nov. 2007 | 473
Bacia de Jequitinhonha

Hamilton Duncan Rangel1, José Luiz Flores de Oliveira2, José Maurício Caixeta2

Palavras-chave: Bacia de Jequitinhonha l Estratigrafia l carta estratigráfica


Keywords: Jequitinhonha Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução parte emersa da bacia perfaz 5.535 km2 , cerca de


20% da área total da bacia.
Trinta e um poços exploratórios foram per-
A Bacia de Jequitinhonha situa-se na costa sul furados na bacia, todos localizados em terra ou na
do Estado da Bahia, entre os paralelos 14 o 37’ Sul e área proximal, portanto, o conhecimento geológico
16 o 24’ Sul, na costa leste do Brasil. Ela possui uma da bacia em sua porção média e distal baseia-se em
área de 25.685 km2 até a cota batimétrica de 3.500 m dados sísmicos.
(Caixeta et al. 2006). Seu limite norte com a Bacia Inicialmente, levantamentos sísmicos foram
de Almada ocorre no Alto de Olivença (Santos et al. efetuados por dezessete equipes sísmicas 2D em
1994) e o limite sul com o Alto de Royal Charlote. A diferentes áreas da bacia. Posteriormente, foi ad-

1
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios/NNE – e-mail: hdrangel@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste/Interpretação

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 475-483, maio/nov. 2007 | 475


quirido um levantamento 2D SPEC em toda a bacia (coquinas e folhehos), englobadas na parte infe-
com o objetivo de eqüalizar os parâmetros sísmicos rior do Grupo Nativo.
de aquisição e processamento, permitindo uma Como a Formação Cricaré não foi atingida pe-
melhor caracterização na continuidade dos eventos los poços perfurados na bacia, sua presença é inter-
geológicos. Mais recentemente, dois levantamen- pretada pelas fácies sísmicas típicas para essa unida-
tos sísmicos 3D foram adquiridos (um no bloco BM-J-1, de atravessada por poços nas bacias do Espírito San-
área rasa) e outro no BM-J-3 e 4 (porção média e to (Vieira et al. 1994) e de Campos (Rangel et al.
profunda). Portanto, o conhecimento de grande 1994). A presença da Formação Cricaré também
parte da bacia se baseia nas informações obtidas pode ser indicada pela presença de fósseis retraba-
em linhas sísmicas 2D e 3D adquiridas na parte lhados de idade Jiquiá, encontrados dentro de sedi-
média e distal, pois o poço mais distal foi perfurado mentos siliciclásticos de idade Alagoas em poços
em lâmina d’água de 880 metros. O imageamento perfurados na parte emersa da bacia.
sísmico propiciado principalmente pelo levantamento Pelos dados geológicos podemos inferir
sísmico 3D no BM-J-3 e 4 permitiu descortinar a que a extensão areal original da Formação Cri-
individualização das unidades estratigráficas da caré era muito mais ampla, inclusive na parte
bacia, assim como sua arquitetura deposicional e terrestre da bacia, sendo exumada em sua por-
posterior movimentação causada principalmente ção proximal durante o Alagoas, encontrando-
pela movimentação de sal. se presente em grábens e semi-grábens nas por-
ções média e distal da bacia (conforme eviden-
ciado pelas seções sísmicas).

embasamento
O embasamento da Bacia de Jequitinho- Superseqüência Pós-Rifte
nha é constituído predominantemente por rochas
do Proterozóico Superior, constituídas por meta-
carbonatos, metapelitos, metarenitos com baixo
Seqüência K40
grau de metamorfismo pertencentes ao Grupo
Rio Pardo e foi amostrado por vários poços no Outra característica singular na bacia ocor-
Alto de Olivença. reu durante o Aptiano médio e superior (equivalen-
te ao andar local Alagoas médio e superior), pois a
seção do Andar Alagoas, muito espessa na parte
terrestre, parece acunhar-se na porção média da
bacia, conforme evidenciado pelas linhas sísmicas.
Superseqüência Rifte Os sedimentos atravessados pelos poços são consti-
tuídos por camadas espessas de arenitos e folhe-
lhos pertencentes à Formação Mariricu/Membro
Seqüência K30 Mucuri (parte superior do Grupo Nativo), com es-
pessura atravessada por poço de 2.380 metros, um
A Bacia de Jequitinhonha apresenta carac- dos maiores registros dessa unidade estratigráfica
terísticas estrutural-sedimentares que a diferen- ao longo das bacias marginais brasileiras.
cia das demais bacias da costa leste e sudeste O acunhamento do Membro Mucuri na parte
brasileira, inclusive na seção rifte: a seção dos média da bacia propicia a deposição dos evaporitos
andares Barremiano ao Aptiano inferior (andares (Membro Itaúnas) do Andar Alagoas (Seqüência
locais Aratu, Buracica e Jiquiá) ocorre provavel- K50) diretamente sobre coquinas e folhelhos (For-
mente na porção média e distal da bacia. Atra- mação Cricaré/Membro Sernambi) do andar Jiquiá
vés das linhas sísmicas pode-se prever a presen- (Seqüência K30). O topo dessa unidade é capeado
ça da Seqüência K30 (do Andar Aratu ao Andar por discordância, principalmente na parte média da
Jiquiá), constituída pela Formação Cricaré, Mem- bacia, diferentemente do que acontece em outras
bros Jaguaré (arenitos e folhelhos) e Sernambi bacias da margem leste e sudeste do Brasil, onde a

476 | Bacia de Jequitinhonha - Rangel et al.


seção clástica do Andar Alagoas se estende até a
região de águas profundas. Superseqüência Drifte
A seção do Andar Alagoas foi também
atravessada por vários poços no Alto de Olivença,
onde se apresenta constituída basicamente por
Seqüência K60
sedimentos pelíticos e carbonáticos com espes-
sura máxima de poucas dezenas de metros até O ambiente marinho franco se instalou a
atingir o Embasamento. partir do Eoalbiano com a deposição de arenitos
de leques deltaicos na borda da bacia que gradam
rapidamente a carbonatos de alta energia. Esses
Seqüência K50 sedimentos constituem a parte inferior do Grupo
Barra Nova, composta pelas formações São Mateus
Domos de sal proeminentes com direção su- (siliciclásticos grosseiros) e Regência (calcários de
deste-noroeste também se aproximam muito da bor- alta a baixa energia e níveis de folhelhos radioati-
da da bacia em sua porção norte, diferentemente vos). A sedimentação durante o Albiano foi muito
de outras bacias onde a progradação de sedimen- influenciada pela movimentação do sal da seqüên-
tos associada ao basculamento propiciou a migra- cia sotoposta, propiciando a formação de um grande
ção do sal para as partes mais distais dessas ba- e espesso alto estrutural com direção N-S na parte
cias. A Seqüência K50 é constituída por halitas e proximal da bacia, localizado a sudeste do Alto de
anidritas englobadas na Formação Mariricu/Mem- Olivença e da Fossa de Jequitinhonha. Esse grande
bro Itaúnas, sendo amostrada por vários poços, in- alto foi parcialmente perfurado por poços explora-
clusive na porção emersa da bacia. A precipitação tórios, constituído basicamente por calcilutito, cal-
dos evaporitos aconteceu num tempo geológico de carenitos e arenitos do Albiano Inferior e Superior.
menos de dois milhões de anos.
Estima-se uma espessura de cerca de 2.000 m da
Os evaporitos (basicamente as halitas) fo-
seção albiana nesse alto estrutural. A leste desse
ram intensamente deformados logo após o início
grande alto do Albiano, o estilo estrutural é carac-
de sua deposição, e essa deformação continuou
terizado por blocos de carbonatos escorregados,
de forma intensa até os dias atuais, moldando a
criando calhas receptoras de sedimentos carboná-
arquitetura da bacia e controlando intensamente
ticos de baixa energia, margas e folhelhos de se-
a deposição das seqüências superiores. A intensa
qüências sobrepostas, pertencentes às partes mé-
movimentação de sal propiciou também o escor-
regamento de grandes blocos sobrejacentes de dia e superior do Grupo Barra Nova (Albiano Supe-
arenitos e calcários do Albiano, criando grandes rior a Cenomaniano).
baixos estruturais, inclusive a Fossa de Jequitinho- De maneira geral ocorre um afogamento
nha (Garcia, 1999). gradacional da base para o topo do Grupo Barra
Na parte média e distal da bacia ocorreu a Nova, os sedimentos passam de alta energia na base
formação de bacias interdômicas controladas por para baixa energia no topo e o mesmo acontece
domos proeminentes de sal. Em porções mais em direção à parte distal da bacia. Dentro da Se-
distais da bacia ocorrem feições compressivas cau- qüência K60 do Andar Albiano Inferior, níveis de
sadas pela movimentação do sal, propiciando lo- afogamento são marcados pela presença de cama-
calmente os afloramentos de rochas sedimentares das de folhelho. O topo dessa seqüência é capeado
Paleógeno, Neógeno e do Cretáceo Superior no por discordância regional, que se torna concordan-
fundo do mar. te na parte distal da bacia.
No extremo norte da Bacia de Jequitinho-
nha, divisa com a Bacia de Almada, localmente
ocorrem níveis de halita mais antigos do que os
Seqüência K70
depositados regionalmente não só nessa bacia
como em outras bacias do leste e sudeste da Corresponde a arenitos da Formação São
margem brasileira. Durante a deposição da Se- Mateus na borda da bacia, que gradam a calci-
qüência K50 ocorreu a ruptura da crosta conti- lutitos pertencentes à Formação Regência. Em
nental e a implantação da crosta oceânica na baixos estruturais e na porção distal da bacia
Bacia de Jequitinhonha. ocorre a presença de margas também da For-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 475-483, maio/nov. 2007 | 477


mação Regência. De maneira geral essa seqüência Meso-Campaniano, constituído por folhelhos e
registra um maior afogamento do mar em relação à camadas de turbiditos arenosos na parte média e
seqüência sotoposta. Essas duas formações estão distal da bacia, depositados em água profunda;
englobadas na parte média do Grupo Barra Nova. enquanto que na parte proximal ocorrem folhe-
Seu topo é marcado por discordância regional. lhos, margas e arenitos. A presença de muitos
O conteúdo plantônico das rochas carbonáti- domos e almofadas de sal, desde a área proximal,
cas (mudstones e wackestones) apresenta conteúdo condicionou a distribuição de areias turbidíticas
fossilífero dominado por elementos caracteristicamen- na seção pós-sal, provavelmente provenientes do
te tetianos, encontrados em sucessões carbonáticas noroeste devido aos alinhamentos de sal, forman-
coevas do México, Golfo do México e Cárpatos oci- do calhas condutoras de sedimentos nessa dire-
dentais (Carvalho et al. 1999). ção e desempenhando um importante papel na
distribuição de areias turbidíticas pós-sal, princi-
Seqüência K82-K84 palmente nas Seqüências K88-K90, K100-K110 e
K120-K130 e no Paleógeno. Os sedimentos da Se-
qüência K88-K90 são englobados na Formação
Corresponde a arenitos proximais da Forma-
Urucutuca. Com a subsidência e o basculamento
ção São Mateus e a calcitutitos e margas da For-
da bacia ocorre uma espessa seção retrogradacio-
mação Regência, pertencentes à parte superior do
nal sobre uma superfície discordante em direção
Grupo Barra Nova. Na região proximal da bacia,
sua espessura é bem menor do que as das seqüên- à parte proximal da bacia. É registrado no topo
cias do Albiano Inferior e Superior, devido à pre- dessa seqüência uma discordância que a separa
sença de altos estruturais proeminentes no Albiano. da seqüência sobreposta.
Pelas linhas sísmicas, a Seqüência K82-K84 se es-
pessa localmente em baixos estruturais. Seqüência K100-K110
Seqüência K86 Corresponde aos sedimentos de idade Meso-
Campaniana. Seu limite inferior é constituído pela
Compreende a porção basal do Grupo Espí- base da seção retrogradante da Seqüência K88-
rito Santo, referente ao andar Turoniano, caracte- K90, que repousa sobre discordâncias de diferen-
rizado por folhelhos da Formação Urucutuca. Du- tes idades ao longo do mergulho da Bacia de Je-
rante o Turoniano, a bacia registra um grande afo- quitinhonha e seu topo é limitado pela Discordância
gamento do mar na Bacia de Jequitinhonha, ca- Intra-Campaniana. Ela é constituída por folhelhos
racterizado por folhelho radioativo e velocidade bacinais e arenitos turbidíticos e por seção de fo-
sônica baixa. Nas seções sísmicas esse folhelho está lhelhos, margas e arenitos na parte proximal da
associado à reflexão sísmica de baixa velocidade. bacia pertencentes à Formação Urucutuca, parte
Os sedimentos do Andar Turoniano acompanham inferior do Grupo Espírito Santo.
o estilo estrutural da seção sotoposta do Albo-ce-
nomaniano. O padrão de subsidência termal e o
conseqüente basculamento, associado a soergui-
Seqüência K120-K130
mentos causados pela movimentação do sal do
Andar Alagoas, propiciou a erosão intensa da Se- Engloba os sedimentos dos andares Neocam-
qüência K86 em grande parte da bacia. A presen- paniano a Maastrichtiano, constituído por folhelhos
ça de arenitos turbidíticos na Seqüência K86 é e margas e arenitos turbidíticos pertencentes à For-
sugerida pelas fácies sísmicas, mas carece de com- mação Urucutuca, parte inferior do Grupo Espírito
provação por poços. Santo. Seu limite superior é a discordância no topo
do Maastrichtiano, que marca a passagem do Cre-
táceo para o Paleógeno.
Seqüência K88-K90 A presença de arenitos turbidíticos imersos
na seção pelítica do Turoniano ao Maastrichtiano foi
Engloba a parte inferior do Grupo Espírito evidenciada com base em sismofácies detectadas nas
Santo, referente aos andares Eo-Coniaciano ao linhas sísmicas.

478 | Bacia de Jequitinhonha - Rangel et al.


As seqüências entre os andares Eo-Coniacia- sedimentar da Bacia de Jequitinhonha. As fácies
no a Maastrichtiano geralmente preenchem a par- proximais de plataforma rasa (calcarenitos e are-
te basal das mini-bacias formadas pelos domos de nitos) passam a ser preservadas de erosão e es-
sal, mas a presença de sismofácies associadas a tão presentes nas áreas proximais da bacia. Es-
arenitos não parece acontecer na maior parte des- ses sedimentos pertencem à parte média do Gru-
sas mini-bacias. po Espírito Santo, sendo os arenitos proximais
denominados Formação Rio Doce; os carbonatos
proximais de plataforma denominados Formação
Seqüência E10-E30 Caravelas; e os folhelhos distais com intercala-
ções de arenitos turbidíticos denominados For-
Compreende os sedimentos depositados entre mação Urucutuca. Vulcânicas extrusivas e
o Paleoceno e o Eoceno Inferior, constituído basica- intrusivas (Formação Abrolhos) se espraiaram para
mente por folhelhos com intercalações de arenitos a parte distal da bacia em direção a norte a par-
turbidíticos na parte distal e níveis de margas e calca- tir do Alto Vulcânico de Royal Charlote (Rangel,
renitos na parte proximal da bacia, englobados na 2006), que separa a Bacia de Jequitinhonha da
Formação Urucutuca, parte média do Grupo Espírito Bacia de Cumuruxatiba.
Santo. Rochas vulcânicas (Formação Abrolhos) intru- Ocorre também uma mudança no padrão
sivas de idade eocênica ocorrem na parte distal da deposicional, passando de uma deposição retro-
bacia. A Seqüência E10-E30 tem sua base e seu topo gradacional (até o Paleoceno), para prograda-
marcado por discordâncias. Alguns eventos geológi- cional (a partir do Eoceno Inferior). Na região
cos foram importantes durante o Paleoceno. onde os domos de sal são mais proeminentes é
Adjacente ao Alto de Olivença ocorreu o es- comum o soerguimento da seção do Eoceno que
corregamento (propiciado pela movimentação de aflora localmente no fundo do mar. Toda a se-
sal) de toda a seção pré-paleocênica, resultando ção do Eoceno Inferior e Médio, assim como ocor-
em situações estratigráficas onde o Paleoceno jaz re com as seqüências do Paleoceno-Eoceno Infe-
diretamente sobre evaporitos Alagoas. Esse escor- rior (E10-E30), do Maastrichtiano/Neocampania-
regamento propiciou a formação de uma calha no (K120-K130), do Mesocampaniano (K100-
receptora de sedimentos paleógenos e neógenos K110), do Mesocampaniano ao Eoconiaciano
muito espessos (Fossa de Jequitinhonha), do Paleo- (K88-K90) se espessam na parte média e distal
ceno, Eoceno, Oligoceno e, principalmente, do da bacia.
Mioceno, Plioceno e Holoceno.
Ocorreu a formação de canyons submarinos
e a deposição de turbiditos arenosos nesses canyons, Seqüência E60
observados nas seções sísmicas. Isso ocorre ime-
diatamente sobrejacente ao topo do Maastrichtia- Engloba os sedimentos do Eoceno Médio
no. Esses canyons são mais freqüentes na parte (parte média) e do Eoceno Superior. Tem como li-
média da Bacia de Jequitinhonha. mite inferior a Discordância do Eoceno Médio (43
Também no Paleoceno provavelmente come- Ma) e como limite superior a Discordância do Eo-
çou a deposição de rochas vulcânicas que ocorrem, ceno Superior (34,4 Ma).
principalmente, no Alto de Royal Charlote; porém, A porção proximal é constituída por sedimen-
vulcânicas intrusivas são evidenciadas pelas seções tos de arenitos de plataforma (Formação Rio Doce)
sísmicas na parte mais distal da bacia. e carbonatos de plataforma (Formação Caravelas)
que gradam para folhelhos de talude e da bacia
da Formação Urucutuca da parte média do Grupo
Seqüência E40-E50 Espírito Santo.
A partir do Mesoeoceno, pouco sedimen-
Compreende os sedimentos depositados to foi disponibilizado para a bacia. O pouco se-
durante a parte média do Eoceno Inferior e a dimento disponível que chegou na bacia ficou
parte média do Eoceno Médio, capeados por trapeado na Fossa de Jequitinhonha e a sedi-
uma discordância (Discordância do Eoceno Mé- mentação na parte média e distal da bacia foi
dio). No Eoceno ocorre uma mudança no padrão muito reduzida.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 475-483, maio/nov. 2007 | 479


Seqüência E70 nitos na área de plataforma rasa da bacia. No ta-
lude atual ocorre espessa seção de argilito devido
a pouca compactação de sedimentos argilosos
Compreende os sedimentos que marcam a nessa parte da bacia. Muito pouca sedimentação
passagem do Eoceno para o Oligoceno. Sua base pelítica passou pelas barreiras propiciadas pela
coincide com a Discordância do Eoceno Superior arquitetura da bacia, além de que a seção de fo-
(34,4 Ma) e seu topo coincide com a Discordância lhelhos do Mioceno Superior/Plioceno na parte
do Oligoceno Inferior (30 Ma), caracterizado por are- média e distal da bacia é delgada.
nitos (Formação Rio Doce) e calcarenitos (Formação Estudos de traço de fissão de apatita indi-
Caravelas) de plataforma que passa a folhelhos (For- cam que o embasamento aflorante da bacia so-
mação Urucutuca) em direção à bacia.
freu pouca denudação a partir do final do Eoceno,
disponibilizando pouco sedimento para a bacia.
Seqüência E80-N20 O proto Rio Jequitinhonha parece ter sido a princi-
pal fonte pontual de sedimentos para a bacia prin-
cipalmente a partir do final do Eoceno. Na parte
A seção do Oligoceno apresenta uma discor-
emersa da bacia ocorre a deposição de sedimen-
dância em sua parte inferior (Discordância Oligoceno
tos continentais da Formação Barreiras.
Inferior) e um marco estratigráfico relacionado a um
afogamento da bacia (Marco Azul). O Marco Azul é
constituído por delgadas camadas de calcilutitos in-
tercaladas com folhelhos e margas, formado por
Seqüência N60
cocólitos em um estágio avançado de cimentação
calcífera. Foraminíferos plantônicos globigeriniformes Na parte emersa da bacia, constituída pelas
e, principalmente, cocosferas do gênero Braarudos- planícies dos rios Jequitinhonha e Pardo, ocorrem
phaera ocorrem associados, indicando sedimentação sedimentos arenosos e argilosos depositados por
em águas calmas e relativamente profundas (Carva- extravasamento desses sedimentos nas enchentes
lho e Antunes, 1988). dos rios, além de cordões litorâneos ao longo da
A passagem do Oligoceno para o Mioceno costa. Na parte submersa ocorrem sedimentos ar-
parece ser gradacional. O estilo deposicional do gilosos da Formação Urucutuca.
Oligoceno difere das unidades estratigráficas
sotopostas. A Bacia de Jequitinhonha ficou faminta
de sedimentos a partir do Oligoceno Superior, gran-
de parte da sedimentação ficou trapeada na Fossa
de Jequitinhonha e somente uma capa de sedimen-
tos pouco espessa se espraiou pelas áreas média e
referências
distal da bacia. Além do mais, o soerguimento dos
sedimentos causados pelos domos de sal faz com
bibliográficas
que a seção do Oligoceno aflore no fundo do mar
em vários pontos da bacia. CAIXETA, J. M.; RANGEL, H. D.; FLORES, J. L.;
O topo da Seqüência E80-N20 é marcado por NASCIMENTO, M. M., GALVÃO, M. V. G.; MA-
discordância no Mioceno Médio a aproximadamen- CHADO, E. C. V. Tectônica de sal na Bacia de
te 15 Ma. Na parte proximal da bacia ocorreu a de- Jequitinhonha. In: MOHRIAK, W.; SZATMARI, P.;
posição de arenitos proximais da Formação Rio Doce, ANJOS, S. M. C. (Org.). Sal geologia e tectôni-
que gradam para calcarenitos da Formação Caravelas ca: exemplos das bacias brasileiras. São Paulo:
e que passam para argilitos e folhelhos da Formação Beca, 2008. p. 272-283.
Urucutuca em direção à bacia.

CARVALHO, M. D.; ANTUNES, R. L. Calcilutitos do


Seqüência N30-N50 Oligoceno da Bacia de Jequitinhonha: similaridade
com os calcilutitos do “Marco Azul” da Bacia de
A seqüência do Mioceno Superior/Plioceno Campos. Boletim de Geociências da Petrobras,
é constituída basicamente por arenitos e calcare- Rio de Janeiro, v. 2, n. 2-4, 1988.

480 | Bacia de Jequitinhonha - Rangel et al.


CARVALHO, M. D.; DIAS-BRITO, D.; FERRE, B.;
Bacia de Jequitinhonha – Novas Indicações de
Águas Tetianas no Atlântico Sul, Boletim do 5 o
Simpósio sobre o Cretáceo do Brasil, UNESP,
Campus de Rio Claro – SP, p. 643-649, 1999.

GARCIA, S. F. M. Estudo tridimensional de efei-


tos de halocinese em margens passivas. 1999.
167 p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de
Ouro Preto, Ouro Preto, 1999.

RANGEL, H. D.; MARTINS, F. A. L.; ESTEVES, F. R.;


FEIJÓ, F. J. Bacia de Campos. Boletim de
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n.
1, p. 203-217, jan./mar. 1994.

RANGEL, H. D. Manifestações magmáticas na par-


te sul da Bacia de Campos (Área de Cabo Frio) e
na Bacia de Jequitinhonha. Boletim de
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 14,
n. 1, p. 155-160, 2006.

SANTOS, C. F.; GONTIJO, R. C.; ARAÚJO, M. B.; FEIJÓ,


F. J. Bacias de Cumuruxatiba e Jequitinhonha. Bole-
tim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro,
v. 8, n. 1, p. 185 -190, jan./mar. 1994.

VIEIRA, R. A. B.; MENDES, M. P.; VIEIRA, P. E.; COS-


TA, L. A. R.; TAGLIARI, C. V.; BACELAR, L. A. P.;
FEIJÓ, F. J. Bacias do Espírito Santo e Mucuri. Bole-
tim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro,
v. 8, n. 1, p. 191-202, jan./mar. 1994.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 475-483, maio/nov. 2007 | 481


BACIA DE JEQUITINHONHA

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

N30 - N50
NEÓGENO

EO ZAN C LE AN O
M E S S I N I AN O
NEO
T ORT ONIAN O

CA RAV EL AS
10
S E R R AVAL IA N O
MESO

PROFUNDO / TALUDE / PLATAFORMA


LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O

E80 - N20
RIO DOCE
EO
MARINHO REGRESSIVO
20

2578
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O

30
EO R U P E L IA N O
E70

SANTO
PALE Ó G ENO

NEO P R I AB O N I AN O

UR UC UTU CA
BAR T O N I AN O E60
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O
E50

ESPÍRITO
E40
50
EO YP R ES I AN O

E10 - E30
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O

K120-
K130
PLATAF. / TALUDE / PROFUNDO

70
(S EN ON IAN O )

MARINHO TRANSGRESSIVO

K100-
K110
CAM PA N IAN O
80

K88-K90
NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U R ON I AN O K86

K82-
K84
ATE US
CRETÁCEO

BARRA NOVA

C E N O MA N IA N O
REGÊNCIA

100
1337
2177

K70
SÃ O M

AL B I AN O
( G ÁLI CO )

PLATAFORMA K60
110 RASA
ITAÚNAS 170 K50
MARIRICU
CONTINENTAL

LAGUNAR MUCURI 2380 K40


ALAGOAS
NATIVO

APTIANO
120
EO

JI QUIÁ SERNAMBI
BARRE- BURACICA LACUSTR E CRICARÉ K30
MIANO JAGUARÉ
130
ARAT U
( NE OC O MIANO )

HAUTE-
RIVIANO

VALAN-
GINIANO RI O
140 DA
BERRIA- SERRA
SIANO

DOM
TITHO-
JOÃ O
NIANO
150
542
EM BASAME NTO

482 | Bacia de Jequitinhonha - Rangel et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 475-483, maio/nov. 2007 | 483
Bacia de Cumuruxatiba

Norberto Rodovalho1, Rogério Cardoso Gontijo2, Clovis Francisco Santos3,

Paulo da Silva Milhomem4

Palavras-chave: Bacia de Cumuruxatiba l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Cumuruxatiba Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução 24,5 mil km de sísmica 2D e 2,5 mil km2 de sísmica


3D, utilizados na interpretação. A carta estratigráfica
aqui apresentada é uma atualização da carta estrati-
Localizada no Nordeste do Brasil, no extremo gráfica de Santos et al. (1994) e agrega o conhecimen-
sul do Estado da Bahia, a Bacia de Cumuruxatiba to geológico adquirido através dos trabalhos anteriores
posiciona-se entre as cidades de Santa Cruz de de interpretação exploratória (Rodovalho et al. 2003).
Cabrália e Caravelas e os paralelos 16º24’ e 17º35’ O trabalho se baseia em um estudo cronoes-
sul. Está cercada pelos bancos vulcânicos de Royal tratigráfico com a delimitação das principais seqüên-
Charlotte, a norte; Abrolhos, a sul; e Sulphur Minerva, cias deposicionais, correlacionáveis nas bacias da
a leste. A extensão da bacia é de cerca de 30 mil costa leste, em especial às bacias vizinhas do Espí-
km2, dos quais 7 mil km2 em sua área emersa e 23 rito Santo, a sul, e do Jequitinhonha, a norte.
mil km2 na porção imersa até o limite oeste do ban- Na porção emersa da bacia encontram-se so-
co vulcânico de Sulphur Minerva. mente sedimentos do Paleógeno e Neógeno sobre o
Em Cumuruxatiba, a primeira aquisição sísmica embasamento cristalino. Já na região imersa, os po-
se deu no ano de 1968 e o primeiro poço foi perfurado ços atravessaram rochas sedimentares (Neojurássico
em 1970. Atualmente, existe um total de 43 poços, ao Neógeno) e vulcânicas (Paleógeno).

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e Geofísica
e-mail: norba@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sudeste/Pólo Centro
3
Internacional Americas África e Eurásia/Un-Colômbia/E&P Un-Col
4
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bahia/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 485-491, maio/nov. 2007 | 485


A compartimentação tectônica de Cumuruxa- mamu e Almada, considerados como transicionais
tiba possui forte condicionamento imposto pelo em- da fase Pré-Rifte para a Rifte nessas bacias. Além
basamento e são reconhecidas quatro fases tectono- disso, os arenitos da Formação Monte Pascoal pos-
sedimentares principais: a Pré-Rifte (neste trabalho), suem, a longas distâncias, espessura quase que
a Rifte, a Pós-Rifte e a Drifte. constante e boa correlação incomuns em areni-
Empilhadas sobre o embasamento, da base tos de bacias rifte. Tais evidências permitem in-
para o topo, foram discriminadas as Seqüências J20- terpretar que a sedimentação da Seqüência J20-
K05, K10-K20, K30, K40-K50, K60-K84, K86-K90, K05 teria ocorrido na fase Pré-Rifte.
K100-K130, E10-E30, E40-E70, E80-N50 e N60 que
contêm as seguintes unidades litoestratigráficas: Gru-
po Cumuruxatiba com as formações Monte Pascoal
Seqüência J20-K05
e Porto Seguro; Grupo Nativo, que engloba as for-
mações Cricaré e Mariricu (membros Mucuri e Corresponde aos sedimentos do Grupo Cumu-
Itaúnas); Grupo Barra Nova, constituído pelas forma- ruxatiba composto pelas formações Monte Pascoal
ções São Mateus e Regência; Grupo Espírito Santo, e Porto Seguro. A Formação Monte Pascoal, discor-
composto pelas formações Urucutuca, Abrolhos, dante sobre o embasamento, contém essencialmen-
Caravelas e Rio Doce; e a Formação Barreiras. te arcóseo médio a conglomerático, depositado em
um sistema fluvial durante o Neodom João (Neoti-
thoniano) e, pela sua posição estratigráfica, sotoposta
aos folhelhos da Formação Porto Seguro, seria equi-

embasamento valente à Formação Sergi nas bacias de Camamu e


Almada. A Formação Porto Seguro, de idade Eo- a
Neo-Rio da Serra (Eoberriasiano?), que sobrepõe em
O substrato de Cumuruxatiba, formado por contato transicional a Formação Monte Pascoal e
rochas graníticas e gnáissicas, abrange dois domí- sotopõe por contato discordante (discordância Pré-
nios geotectônicos distintos: o Cráton do São Fran- Rifte) a Formação Cricaré, caracteriza-se por folhe-
cisco, em uma área menor na parte norte, e a Fai- lhos lacustres cinza escuros a pretos com níveis
xa de Dobramentos Araçuaí, marginal ao citado esverdeados e acastanhados.
cráton, na porção sul, sobre a qual repousa a maior
parte da bacia.

Superseqüência Rifte
Superseqüência Na Fase Rifte foram discriminadas as Seqüên-
Pré-Rifte cias K10-K20 e K30, que contém os sedimentos da
Formação Cricaré, do Grupo Nativo. Durante a fase
Rifte desenvolveram-se as falhas de gravidade, de
Diferente do adotado por Santos et al. direção N20o-30oE, decorrentes da abertura e do
1994, neste trabalho está se propondo que a Se- rifteamento da bacia e que estariam relacionadas à
qüência J20-K05, que contém o Grupo Cumuru- reativação de estruturas do Ciclo Transamazônico.
xatiba (formações Monte Pascoal e Porto Segu- Os lineamentos transversais às citadas falhas, de di-
ro), seja de idade Neodom João (Neotithoniano) reção N35o-45oW, coincidem com faixas cisalhadas
a Eorio da Serra (Eo/Mesoberriasiano), conforme do embasamento, posicionadas ao longo dos limites
estudos anteriores para a seção arenosa do Gru- do Cráton do São Francisco e da Faixa Araçuaí. As
po Cumuruxatiba. Não existem fósseis diagnósti- falhas de Porto Seguro e Itaquena são interpretadas
cos que permitam posicionar a Formação Monte como a continuidade, mar adentro, das falhas de
Pascoal no Andar Dom João. Entretanto, a Poções-Tororó e Planalto-Potiraguá, mapeadas em
subzona de ostracodes NRT-002.2 nos folhelhos afloramentos do embasamento adjacente, no limite
da Formação Porto Seguro correlaciona-se aos da faixa móvel com o cráton. Nesse contexto tectô-
folhelhos da Formação Itaípe nas bacias de Ca- nico se deu a sedimentação dessas seqüências.

486 | Bacia de Cumuruxatiba - Rodovalho et al.


caracterizado por evaporitos, representando um am-
Seqüência K10-K20 biente marinho de circulação restrita, que teria se
instalado na bacia ainda no Neo-Alagoas (Neo-
De idade Meso a Neo-Rio da Serra (Neo- Aptiano?). Essa unidade exibe espessas camadas de
berriasiano? até o Eohauteriviano?), a seqüência anidrita, nas áreas proximais, e halita, nas distais. A
é composta por sedimentos da porção inferior/ Formação Mariricu possui o contato inferior discor-
média da Formação Cricaré, dominada por are- dante sobre a Formação Cricaré e superior discor-
nitos médios a grossos e conglomerados arcosea- dante nas porções proximais e gradacional nas por-
nos, intercalados por camadas de folhelhos cin- ções distais com a Formação Regência.
zentos e calcíferos, margas e calcilutitos, deposi-
tados em ambiente flúvio-lacustre. Sobrepõe por
contato discordante (discordância do Pré-Rifte) os
folhelhos da Formação Porto Seguro. É sobrepos-
ta, também por contato discordante (na passa- Superseqüência Drifte
gem do Andar Rio da Serra para o Aratu, mudan-
ças relativas no nível do lago proporcionaram uma
Nesse grupo estão incluídas as Seqüências K60-
discordância interna na Formação Cricaré, reco-
K84, K- 86- K90, K- 100- K130, E10-E30, E40-E70,
nhecida como discordância Pré-Aratu, nos riftes
E80-N50 e N60, pertencentes aos grupos Barra Nova
das bacias de Camamu-Almada, Recôncavo e Tu-
e Espírito Santo, que foram depositados a partir do
cano), pelos sedimentos da porção média a su-
Eoalbiano até o Pleistoceno. A sedimentação dessas
perior da Formação Cricaré.
unidades estratigráficas se deu em um ambiente tec-
tônico de margem passiva, associada à subsidência
Seqüência K30 térmica e à tectônica adiastrófica. A Fase Drifte retra-
ta uma efetiva retrogradação da linha de costa, que
Corresponde à porção média a superior da teria se iniciado no Eocenomaniano e se estendido
Formação Cricaré, que apesar da predominância de até, pelo menos, o Eopaleoceno, com posterior
arenitos médios a grossos e conglomerados arcosea- progradação a partir do Eoeoceno até o Recente.
nos, possui um incremento de sedimentos argilosos
como os folhelhos cinzentos, calcíferos e margas. Seqüência K60-K84
Ocorrem a partir do Eoaratu (Eohauteriviano?) até
Neojiquiá (Eoaptiano?) e estão limitadas na base pela
Contém as rochas do Grupo Barra Nova, com
discordância Pré-Aratu e no topo pela discordância
as formações São Mateus e Regência. No início da
Pré-Neo Alagoas.
sedimentação marinha, a partir do Eoalbiano até o
Neocenomaniano, instalou-se uma plataforma rasa
sobre os evaporitos. Na parte proximal dessa plata-
forma encontram-se os sedimentos da Formação São

Superseqüência Pós-Rifte Mateus, compostos de clásticos grossos, deposita-


dos como leques deltaicos. A Formação Regência é
constituída por carbonatos oolíticos/oncolíticos a
Nesse grupo está inclusa a Seqüência K40- pelíticos, produtos do ambiente marinho raso (nerí-
K50, entre a fase Rifte e a fase Drifte, de idade Eo a tico) implantado na plataforma. No Grupo Barra
Neo-Alagoas (Eoaptiano? a Neoaptiano?) que en- Nova, tanto o contato basal, com a Formação Mari-
globa a Formação Mariricu, depositada em ambien- ricu, quanto o do topo, com a Formação Urucutuca,
te flúvio-lagunar a marinho restrito. são discordantes nas áreas proximais e gradacionais
nas áreas distais da bacia.

Seqüência K40-K50
Seqüência K86-K90
Contém as rochas da Formação Mariricu, que
possui o Membro Mucuri, constituído por clásticos De idade Eoturoniano a Mesocampaniano, a
flúvio-lagunares, finos a grossos, de idade Eo- a Neo- seqüência é representada pelos sedimentos basais da
Alagoas (Eo- a Neo-Aptiano?), e o Membro Itaúnas, Formação Urucutuca (Grupo Espírito Santo). Exceto nas

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 485-491, maio/nov. 2007 | 487


áreas distais, de águas profundas, onde é gradacional Abrolhos, descritas anteriormente, ocorrem sedimen-
na base e no topo, na porção média e proximal da tos das formações Rio Doce e Caravelas. As forma-
bacia, é discordante na base em relação Seqüência ções Rio Doce e Caravelas decorrem da sedimenta-
K60-K84 e no topo (discordância Intracampaniana) com ção regressiva que se implantou a partir do Eo/
a K100-K130. A Formação Urucutuca, composta pre- Mesoeoceno, devido à gradual restrição ao influxo
dominantemente por pelitos, teve a maior parte de siliciclástico, que resultou em espessa plataforma cuja
seus sedimentos associados a halocinese na bacia. Esse sobrecarga contribuiu para o escorregamento dos
cenário se desenvolveu a partir do Neocenomaniano sedimentos sobrepostos ao sal, em direção ao baixo
até, pelo menos, o Mesopaleoceno, no qual houve um central da bacia. A Formação Rio Doce, proximal e
estágio de progressiva subsidência térmica e influxo essencialmente arenosa, é oriunda de variações
sedimentar siliciclástico, que proporcionaram deforma- eustáticas que proporcionaram incursões clásticas
ção e movimentação do sal, resultando na formação episódicas sobre o ambiente plataformal. Já a For-
de falhas lístricas e roll-overs. Depósitos arenosos ge-
mação Caravelas, constituída de calcarenitos e
rados por fluxos gravitacionais são reconhecidos nes-
calcilutitos, representa a porção francamente
sas seqüências.
carbonática da plataforma.

Seqüência K100-K130 Seqüência E80-N50


Limitada na base pela discordância
Intracampaniana e no topo pela discordância do Pa- De idade Neo-Oligoceno ao Plioceno, essa
leoceno Inferior (passagem Cretáceo/Paleógeno), seqüência possui como limite inferior a discordância
essa seqüência foi depositada entre o Mesocampa- do Oligoceno Superior e o limite superior é erosivo
niano e o Neomaastrichtiano. Assim como as seqüên- na parte proximal da bacia. As rochas da Formação
cias anteriores, a litologia dessa seqüência é consti- Rio Doce são sobrepostas, por contato discordante,
tuída por sedimentos pelíticos com intercalações are- nas áreas emersas pela Formação Barreiras e por
nosas, decorrentes de fluxos gravitacionais, do inter- sedimentos pleistocênicos da Seqüência N60. As for-
valo médio-inferior da Formação Urucutuca. mações Rio Doce e Caravelas, interdigitadas,
posicionam-se sobre a plataforma, e a Formação
Seqüência E10-E30 Urucutuca, interdigitada com a Formação Caravelas,
ocupa os ambientes de talude e águas profundas. A
Essa seqüência, de idade Eopaleoceno a partir do Oligoceno, a plataforma carbonática se
Eoeoceno, possui como limite inferior a discordância desenvolve também sobre os bancos vulcânicos dos
do Paleoceno Inferior, e superior a discordância do Abrolhos, Sulphur Minerva e Royal Charlotte. A For-
Eoceno Inferior. Contém sedimentos da Formação mação Barreiras consiste de sedimentos clásticos
Urucutuca, como descritos nas superseqüências aci- miocênicos e pliocênicos, separados pela discordân-
ma e vulcânicas da Formação Abrolhos. Vulcânicas cia do Mioceno Superior.
estas, representadas por diabásios, basaltos e
hialoclastitos que marcam o intenso tectonismo e
vulcanismo a partir do Neopaleoceno até o Eooligo- Seqüência N60
ceno. Os eventos desse período foram responsáveis
pela reativação de falhas normais como reversas, pela Na parte emersa da bacia essa seqüência é
geração de falhas de empurrão e pela criação de um constituída pelas planícies dos rios Buranhém, Jucuruçu
grande baixo na parte central da bacia. e Itanhém (ou Alcobaça), onde ocorrem sedimentos
arenosos e argilosos depositados por extravasamento
Seqüência E40-E70 desses sedimentos nas enchentes dos rios, além de
cordões liltorâneos ao longo da costa.
A discordância do Eoceno Inferior é o limite Já nas porções imersas, tanto na proximal
da base, e a discordância do Oligoceno Superior o quanto na distal, por arenitos, carbonatos e folhe-
do topo. A seqüência possui idade entre o Eoeoceno lhos das formações Rio Doce, Caravelas e Urucutuca,
e Neo-Oligoceno. Além das formações Urucutuca e respectivamente, afloram no fundo do mar.

488 | Bacia de Cumuruxatiba - Rodovalho et al.


referências
bibliográficas
RODOVALHO, N.; GONTIJO, R. C.; MILHOMEM, P.
S.; LIMA, C. C. U.; MANSO, C. L. C. Bacias sedi-
mentares brasileiras – Bacia de Cumuruxatiba. Re-
vista da Fundação Paleontológica, Aracajú, n.
58, 4 p., 2003.

SANTOS, C. F.; GONTIJO, R. C.; ARAÚJO, M. B.; FEIJÓ,


F. J. Bacias de Cumuruxatiba e Jequitinhonha. Bole-
tim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro,
v. 8, n. 1, p. 185-190, jan./mar. 1994.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 485-491, maio/nov. 2007 | 489


BACIA DE CUMURUXATIBA

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

0
?
EO ZAN C LEA N O
NEÓGENO

M E S SI N I AN O
NEO
T O R T O N IA N O
10
S E R R AVAL IA N O
MESO
LAN G H I AN O

PROFUNDO / TALUDE / PLATAFORMA


B U R D I GAL IA N O
MARINHO REGRESSIVO
EO
20
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O

30
EO RUPELIANO

NEO P R I AB O N I AN O

SANTO
PA L E Ó G E N O

BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

ESPÍRITO
50
EO YP R E S I AN O
PALEOCENO

T HANE T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

URU CUTU CA
EO DAN I AN O
PLATAF. RASA / TALUDE / PROFUNDO

70
(S EN ON IAN O)

MARINHO TRANSGRESSIVO

CAM PAN IAN O

80
NEO

SANT O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U R O N I AN O

C E N O MA N IA N O
CRETÁCEO

100

AL B I AN O
( GÁLI CO )

110

FLUVIO - LAGUNAR
ALAGOAS
APTIANO
120
EO

JIQUIÁ
CONTINENTAL

BARRE- BURACICA
MIANO
130
ARAT U
(N EO CO M IAN O )

HAUTE- FLUVIO-
RIVIANO LACUSTRE

VALAN-
GINIANO RIO
140 DA
BERRIA- S E R R A
SIANO

DOM
TITHO- JOÃO
NIANO
150

490 | Bacia de Cumuruxatiba - Rodovalho et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 485-491, maio/nov. 2007 | 491
Bacia de Mucuri

Rosilene Lamounier França1, Antonio Cosme Del Rey2, Cláudio Vinícius Tagliari1,

Jairo Rios Brandão1, Paola de Rossi Fontanelli1

Palavras-chave: Bacia de Mucuri l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Mucuri Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução mado durante o Paleógeno, confere à Bacia de Mu-


curi, assim como na Bacia do Espírito Santo, uma
fisiografia peculiar, evidenciada por um alargamen-
A Bacia de Mucuri situa-se no extremo sul do to da plataforma continental superior a 200 km.
Estado da Bahia, entre os paralelos 17º 35’ e 18º O potencial exploratório da porção marinha
21’, cujos limites são: a norte pela interseção com a da bacia é pouco conhecido devido à baixa resolu-
linha de costa e o embasamento raso, a oeste pelo ção dos dados sísmicos até agora adquiridos na re-
embasamento cristalino, a sul pela Bacia do Espírito gião do Complexo Vulcânico de Abrolhos. O primei-
Santo, e a leste pelo limite crosta continental/crosta ro levantamento gravimétrico terrestre ocorreu entre
oceânica, totalizando uma área aproximada de os anos de 1957 e 1960, enquanto que o marítimo
14.800 km2 (França, 2004), dos quais 1.300 km2 re- ocorreu em 1969.
ferem-se à bacia terrestre. A existência do Banco de Atualmente, a bacia conta com 43 poços
Abrolhos a leste, praticamente coloca toda a bacia exploratórios dos quais 14 foram perfurados na por-
em águas rasas, apresentando, em média, ção submersa.
batimetrias de 30 a 40 m. A partir dos primeiros anos da década de 70,
A existência do Complexo Vulcânico de Abro- as bacias de Mucuri e Cumuruxatiba adotaram a
lhos, evento magmático de grande magnitude, for- mesma carta estratigráfica proposta para a Bacia do

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Espírito Santo/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação Geológica e
Geofísica e Ring Fence – e-mail: rosilene.l@petrobras.com.br
2
Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Espírito Santo/Engenharia de Produção/Caracterização e Estudos Especiais
de Reservatórios

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 493-499, maio/nov. 2007 | 493


Espírito Santo (Asmus et al. 1971). A última versão, esses sedimentos foram erodidos ou não foram de-
publicada foi de Vieira et al. (1994), trazendo as duas positados e, na porção marinha, porque os poços
bacias em uma única carta. A carta estratigráfica da não atingiram a seção pré-sal.
Bacia de Mucuri sempre esteve subordinada à Bacia do
Espírito Santo devido à semelhança dessas duas bacias. Seqüência K20
Mais recentemente ficaram evidentes certas
particularidades que motivaram a elaboração de car- Ela representa os sedimentos mais antigos da
tas estratigráficas distintas para as duas bacias. Como bacia, pertencentes à Formação Cricaré, constituí-
exemplo destas evidências pode-se citar a influência dos por conglomerados e arenitos grossos a conglo-
do vulcanismo de Abrolhos, que parece ter sido mais meráticos. Por analogia com a Bacia do Espírito San-
intenso na Bacia de Mucuri, principalmente na parte to pode-se encontrar fácies mais finas, pelíticas, nas
terrestre da bacia. Isto também se reflete na diversi- porções mais distais e, possivelmente, no topo, vul-
dade de estilos estruturais. cânicas da Formação Cabiúnas.
Através de estudos anteriores, a Bacia de Mu- É limitada na base pela discordância definida
curi pode ser subdividida em cinco compartimentos pelo contato das rochas do embasamento pré-
estruturais. Partindo-se da porção terrestre em dire- cambriano com o Cretáceo Inferior e no topo pela
ção leste tem-se: embasamento raso, plataforma (Pla- discordância intra-cricaré, como também ocorre na
taforma de Nova Viçosa e Paleocânion de Mucuri), Bacia do Espírito Santo.
rampa, patamar intermediário e bacia profunda. Os Esta seqüência não foi amostrada em poços,
três primeiros compartimentos situam-se na porção mas é prevista na parte marítima da bacia, onde
terrestre, enquanto os outros dois na parte marinha. essa seção sedimentar se torna mais espessa.
O patamar intermediário é separado da bacia profun-
da através de uma falha normal, de direção NE/SW, Seqüência K30
coincidente com a ‘Charneira Pré-Alagoas’.
Ela corresponde à porção média superior da
Formação Cricaré, cujo limite superior é caracteri-
zado por ampla discordância, presente na Bacia do
embasamento Espírito Santo, denominada Discordância Alagoas.
As fácies arenosas e pelíticas correspondem,
respectivamente, aos Membros Jaguaré e Sernambi,
A Bacia de Mucuri está posicionada a sudeste definidos em estudos anteriores. Rochas vulcâni-
do Craton do São Francisco em terrenos arqueanos, cas da Formação Cabiúnas são previstas intercala-
retrabalhados total ou parcialmente nos ciclos Tran- das aos arenitos e folhelhos.
samazônico e Brasiliano. Embora esta seqüência não tenha sido atin-
Litologicamente, a faixa pré-cambriana é cons- gida pelos poços perfurados até o momento, sua
tituída por migmatitos, granulitos, gnaisses granatí- presença é interpretada a partir das seções sísmi-
feros e granitóides associados a rochas metamórficas cas e por analogia com as bacias vizinhas, Espírito
de fácies granulito. Santo e Cumuruxatiba.
Na parte emersa da bacia, o embasamento é A área de ocorrência desta seqüência foi de-
raso e atinge, através de poços, profundidades entre terminada por estudos anteriores. Ocorre espessa-
500 e 2.100 m. Foi amostrado pela maioria dos po- mento desta seção a partir da charneira do pré-
ços perfurados na Plataforma de Nova Viçosa. Alagoas, que coincide com uma grande falha nor-
mal de direção NE-SW.

Superseqüência Rifte
Superseqüência Pós-Rifte
A fase rifte da Bacia de Mucuri foi subdividida
em duas seqüências baseadas na correlação com a A Formação Mariricu engloba as Seqüências
Bacia do Espírito Santo, porque ela não foi amostrada K40 e K50, representadas pelos membros Mucuri e
pelos poços perfurados. Na parte terrestre porque Itaúnas, respectivamente.

494 | Bacia de Mucuri - França et al.


Seqüência K40 os estratos. Igualmente difícil é a sua identificação
em seções sísmicas por se tratar de uma seção muito
delgada, abaixo da resolução sísmica.
A Seqüência K40 compreende os siliciclásti-
Apesar disso, a palinozona P-280B foi identifi-
cos do Membro Mucuri (Formação Mariricu), cons-
cada em alguns poços e representa a mesma idade
tituídos essencialmente por arenitos médios, gros-
da seção basal do Albiano, estudada por Tagliari
sos a conglomeráticos e conglomerados.
(1993) na Bacia do Espírito Santo.
Seu limite inferior pode ocorrer tanto pelo
Ela representa os primeiros estágios de depo-
contato discordante com rochas do embasamento
sição após a seção evaporítica, quando mudanças
(principalmente na bacia terrestre) quanto com os
climáticas, possivelmente, induziram a pequenas va-
sedimentos da Seqüência Rifte, a partir da Char-
riações relativas do nível do mar em um ambiente
neira pré-Alagoas. O limite superior está marcado
de águas rasas, propiciando a alternância de calca-
pela mesma discordância da base da seção eva-
porítica identificada por Dias (2005) na Bacia do renitos e arenitos.
Espírito Santo. Seu limite inferior é marcado pela discordân-
Sua ocorrência é ampla, contemplando qua- cia do topo dos evaporitos e o superior é, provavel-
se toda a Bacia de Mucuri. Localmente, está au- mente, discordante, tornando-se uma concordância
sente por não deposição devido à presença de al- relativa em direção ao depocentro da Bacia.
tos estruturais no Embasamento.
Em outras porções da bacia, a Seqüência Seqüência K64-K70
K40 foi totalmente erodida, como na área da de-
sembocadura do Paleocânion de Mucuri, onde se-
Ela corresponde ao Grupo Barra Nova, com-
dimentos do Paleógeno jazem diretamente sobre o
posto pelas formações São Mateus e Regência, cujo
embasamento.
ambiente deposicional é muito semelhante ao que
ocorreu na Bacia do Espírito Santo.
Seqüência K50 As intercalações de arenitos e calcarenitos re-
gistraram a busca pelo espaço de deposição entre
Ela corresponde ao Membro Itaúnas, parte su- siliciclásticos e carbonatos de água rasa, com predo-
perior da Formação Mariricu. Seu limite inferior e seu minância dos primeiros na porção emersa e carbona-
limite superior são definidos através das mesmas dis- tos a partir do patamar intermediário, passando a
cordâncias identificadas na Bacia do Espírito Santo. calcilutitos nas porções profundas da bacia.
É composta por anidritas e halitas, representan- Seu limite superior é marcado por uma impor-
do a fase de quiescência tectônica em uma bacia fe- tante discordância que se instalou no Cenomaniano,
chada, com alta evaporação. As anidritas possuem gran- também responsável pela escavação do Paleocânion
de extensão areal, podendo atingir, na parte emersa, de Mucuri, denominada Discordância Pré-Urucutuca.
90 m de espessura, comprovada através de poços.
Na porção submersa da bacia as anidritas estão
subordinadas, verificando-se o predomínio das halitas, Seqüência K80
que formaram desde pequenas almofadas próximo à
linha de costa até expressivos domos de sal (mais de Sobre a Discordância Pré-Urucutuca deposita-
1.000 m de espessura) nas partes mais distais da bacia. ram-se em onlap sedimentos de idade eoturoniana a
eocampaniana que representam a base da Formação
Urucutuca. Embora os sedimentos desta formação
sejam compostos principalmente por pelitos, é previs-
Superseqüência Drifte ta a ocorrência de arenitos intercalados aos folhelhos.
O limite inferior e superior são marcados, res-
pectivamente, pela discordância do Cenomaniano
Seqüência K62 (Discordância Pré-Urucutuca) e pela discordância da
base do Campaniano.
Esta seqüência é de difícil identificação nos Sua ocorrência restringe-se a uma estreita fai-
poços perfurados, devido à dificuldade em se datar xa na porção marinha rasa, comprovada por alguns

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 493-499, maio/nov. 2007 | 495


poços perfurados e caracterizada nos perfis de poços Santa Bárbara, Sueste, Guarita, Siriba e Redonda.
como um marco radioativo. Ela também pode ser Nestes locais observam-se turbiditos, que foram de-
evidenciada em seções sísmicas. positados em ambiente de plataforma média a
Na porção oeste essa seqüência está ausente batial superior, capeados por derrames basálticos.
devido à erosão; mas, para leste, ela parece ocorrer Embora não tenha sido possível a datação desses
de forma mais espessa, conforme pode ser eviden- depósitos, estimam-se idades entre o Neocretáceo
ciado pelos dados sísmicos. e o Paleógeno (Eoceno).
A ocorrência da Seqüência E10-E20 está res-
trita à bacia marinha, a partir do Anticlinal de Par-
Seqüência K90-K130 cel das Paredes, onde se encontra bastante espes-
sa. A partir desse ponto para leste, sua identifica-
Corresponde à Formação Urucutuca, deposi- ção, bem como a estimativa de espessura, é ba-
tada em padrão retrogradacional entre o Campania- seada em seções sísmicas.
no e o Maastrichtiano. Ela é representada por folhe-
lhos cinza-escuros, por vezes calcíferos, arenitos tur-
bidíticos e intercalações de margas. A presença de Seqüência E30-E50
diamictitos de idade campaniana foi observada em
poço perfurado no Anticlinal de Parcel das Paredes. Sobre a discordância do Paleoceno deposita-
Seu limite inferior está representado pela dis- ram-se os sedimentos de idade eo- a mesoeocênica.
cordância da base do Campaniano e o superior pela Esta seqüência é composta por folhelhos e
importante discordância que atingiu toda a bacia arenitos da Formação Urucutuca, carbonatos da For-
na passagem do Cretáceo para o Paleógeno (Dis- mação Caravelas e vulcânicas da Formação Abro-
cordância Paleoceno). lhos. As manifestações magmáticas tornaram-se mais
Esta seqüência ocorre a partir do Anticlinal de intensas durante o Eo/Mesoeoceno.
Parcel das Paredes em direção às partes mais distais Este vulcanismo, somado à compressão tec-
da bacia, estando ausente a oeste do anticlinal. tônica e a halocinese, trouxeram algumas conseqüên-
É difícil estimar a espessura dessa seqüência, cias como a criação do Anticlinal de Parcel das Pare-
pois além da baixa qualidade dos dados sísmicos, des e a elevação de uma extensa área a leste, re-
esta seção sofreu os efeitos da compressão, desen- presentada pelo Complexo Vulcânico de Abrolhos.
cadeados por eventos posteriores (vulcanismo de O surgimento do Anticlinal de Parcel das Pare-
Abrolhos, remobilização do sal etc). des criou uma sub-bacia a oeste limitada pela bacia
terrestre e por este anticlinal, preenchida por sedimen-
tos clásticos progradantes provindos do continente.
Seqüência E10-E20 Esta sedimentação parece limitada a leste pelo
anticlinal, que estaria submerso sob águas límpidas,
Inclui os sedimentos da Formação Urucutuca propiciando a instalação de uma plataforma carbo-
de idade paleocênica, cuja litologia é constituída pela nática por sobre essas áreas soerguidas.
predominância de folhelhos, margas e arenitos pou- Contemporaneamente, na parte terrestre ins-
co desenvolvidos. Essa seqüência foi pouco amostrada talou-se uma plataforma siliciclástica, representada por
por poços na bacia. arenitos da Formação Rio Doce, calcarenitos da For-
O final do Paleoceno é marcado por um even- mação Caravelas e folhelhos da Formação Urucutuca.
to erosivo que provavelmente foi o responsável pela O limite superior dessa seqüência é marcado
erosão de todo o registro do Paleoceno na bacia ter- por uma extensa discordância angular, identificada
restre e no patamar intermediário. por estudos anteriores na Bacia do Espírito Santo,
As manifestações vulcânicas ocorridas entre o denominada “Discordância Pré-Eoceno Superior”.
Neopaleoceno e o Mesoeoceno controlaram a de-
posição das seqüências sobrepostas assim como o
estilo estrutural dessas seqüências superiores. Seqüência E60-E70
Estudos anteriores evidenciaram o intervalo
entre 59 e 37 Ma como o período de maior atividade Esta seqüência foi depositada sobre a ‘Discor-
vulcânica no Banco de Abrolhos. As rochas do arqui- dância Pré-Eoceno Superior’, durante o Eoceno Su-
pélago de Abrolhos foram amostradas em cinco ilhas: perior/Oligoceno. Representa uma extensa platafor-

496 | Bacia de Mucuri - França et al.


ma carbonática e siliciclástica, cujo limite leste coin- DIAS, J. L. Tectônica, estratigrafia e sedimentação no
cide praticamente com o limite da bacia atual, for- Andar Aptiano da margem leste brasileira. Boletim
mada predominantemente por arenitos da Forma- de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13,
ção Rio Doce, calcarenitos da Formação Caravelas e n. 1, p. 7-25, nov. 2004/maio 2005.
argilitos e folhelhos da Formação Urucutuca.
O topo da Seqüência E60-E70 é marcado pela FRANÇA, R. L. Bacias sedimentares brasileiras: Bacia
discordância de 28,5 Ma (Chatiano) a Discordância de Mucuri. Aracajú: Fundação Paleontológica Phoenix,
do Oligoceno Superior. 2004. (Série Bacias Sedimentares, ano 6, n. 67).

Seqüência E80-N40 TAGLIARI, C. V. Evolução das sequências mistas


(siliciclásticas e carbonáticas ) sob a influência
da halocinese durante o albo-aptiano da plata-
Sobre a Discordância do Oligoceno Su-
forma de regência Bacia do Espírito Santo. 1993.
perior depositaram-se os sedimentos de idade oli-
159 p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal do Rio
gocênica a miocênica. Esses sedimentos apresen-
Grande do Sul, Porto Alegre, 1993.
tam a morfologia da plataforma atual com gran-
de extensão areal.
Compõe-se de arenitos grosseiros da Forma- VIEIRA, R. A. B.; MENDES, M. P.; VIEIRA, P. E.; COS-
ção Rio Doce, calcários da Formação Caravelas e TA, L. A. R.; TAGLIARI, C. V.; BACELAR, L. A. P.; FEIJÓ,
argilitos e folhelhos da Formação Urucutuca. F. J. Bacias do Espírito Santo e Mucuri. Boletim de
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
p. 191-202, jan./mar. 1994.
Seqüência N50
Constituída pela Formação Barreiras na parte
emersa da bacia. Na parte média e distal da bacia
ela é constituída por sedimentos clásticos de idade
miocênica e pliocênica em contato discordante com
a Formação Rio Doce, conforme se sucede na Bacia
do Espírito Santo.

Seqüência N60
Ocorre na parte emersa da bacia, constituída
pelas planícies do Rio Mucuri e por cordões litorâneos
ao longo da costa.

referências
bibliográficas
ASMUS, H. E.; GOMES, J. B.; PEREIRA, A. C. B.
Integração geológica regional da Bacia do Espírito
Santo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
25., 1971, São Paulo. Anais. São Paulo: Sociedade
Brasileira de Geologia, 1971. v. 3, p. 235-252.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 493-499, maio/nov. 2007 | 497


BACIA DE MUCURI

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
FLUVIAL A MARINHO
PROFUNDO

80
EO ZAN C LE AN O
NEÓGENO

M E SS I N I AN O
NEO
10 T O R T O N IA N O

S E R R AVAL IA N O
MESO

COM MAGMATISMO ASSOCIADO


FLUVIAL/PLATAF. RASA/TALUDE/
LAN G H I AN O MARINHO / CONTINENTAL
B U R D I GAL IA N O
EO
20
AQU I TANIAN O

NEO C HAT T IAN O PROFUNDO

30
EO R U P E L IA N O

NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G E NO

BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

50
EO YP R ES I AN O
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O

70

K90 - K130
PROFUNDO
( SE NO NIANO )

CAM PA N IAN O
MARI N H O

80
NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U RO N I ANO K80

C E N O MA N IA N O
CRETÁCEO

100

PLATAFORMA
( GÁ LI CO )

AL B I AN O
RASA

110

SABKA/FLÚVIO- K40
ALAGOAS DELTAICO
APTIANO
120
EO

JIQUIÁ
CONTINENTAL

BARRE- BURACICA
MIANO
K30
ALUVIAL/FLÚVIO-
130 LACUSTRE
ARAT U
( NE O CO M IAN O)

HAUTE- VULCANISMO
RIVIANO ASSOCIADO
K20
VALAN-
GINIANO RIO
140 DA
SERRA
BERRIA-
SIANO
DOM
TITHO- JOÃO
NIANO
150
542

498 | Bacia de Mucuri - França et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 493-499, maio/nov. 2007 | 499
Bacia do Espírito Santo

Rosilene Lamounier França1, Antônio Cosme Del Rey2, Cláudio Vinícius Tagliari1,

Jairo Rios Brandão1, Paola de Rossi Fontanelli1

Palavras-chave: Bacia do Espírito Santo l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Espírito Santo Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução A primeira estratigrafia formal da Bacia do


Espírito Santo foi apresentada por Asmus et al. (1971),
seguida de várias alterações, culminando com a car-
A Bacia do Espírito Santo está situada no Estado ta apresentada por Vieira et al. (1994).
do Espírito Santo, delimitada a sul com a Bacia de Cam- Este trabalho resume o conhecimento adqui-
pos, através do Alto de Vitória, e a norte com a Bacia de rido desde a sua última publicação, enfatizando a
Mucuri. Possui uma área explorável de aproximadamente
cronoestratigrafia. Entretanto, os princípios litoestra-
41.500 km2, dos quais 3.000 km2 referem-se à bacia
tigráficos que embasam este trabalho seguem os
terrestre, considerando a fronteira leste coincidente com
mesmos estabelecidos na última edição da carta es-
o limite crosta continental/oceânica. A existência do Banco
de Abrolhos, a leste, atribui à bacia uma fisiografia par- tratigráfica (Vieira et al. 1994).
ticular, evidenciada por um alargamento da plataforma
continental, que de uma média de 40 km de largura a
sul alcança cerca de 240 km na porção centro-norte.
O conhecimento adquirido ao longo de 50
anos de exploração, com centenas de poços ex- embasamento
ploratórios e inúmeras linhas sísmicas 2D e 3D, nas
porções terrestre e marinha de águas rasas, profun- O embasamento está localizado a sudeste do
das e ultraprofundas, somado a contínua integração Cráton do São Francisco e faz parte da Faixa Araçuaí,
de novos dados, foram fundamentais para a atuali- integrando o setor norte da Província da Mantiqueira.
zação da Carta Estratigráfica da Bacia. É constituído de rochas infracrustais, representadas por

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Espírito Santo/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação
Geológica e Geofísica e Ring Fence – e-mail: rosilene.l@petrobras.com.br
2
Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Espírito Santo/Engenharia de Produção/Caracterização e
Estudos Especiais de Reservatórios

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 501-509, maio/nov. 2007 | 501


migmatitos, granulitos, gnaisses granatíferos e granitóides, na sísmica e poços que atingiu toda a bacia no final do
pertencentes ao Cráton do São Francisco, cujas rochas de andar Jiquiá, (Discordância Alagoas) denominada
idade arqueana, foram retrabalhadas parcialmente nos ci- “Discordância Pré-Alagoas” (Dias, 2005).
clos Transamazônico e Brasiliano. A Formação Cricaré é composta pelos Mem-
Vários poços, principalmente terrestres, bros Jaguaré e Sernambi. O Membro Jaguaré englo-
amostraram o embasamento, inclusive alguns deles com ba a fácies mais clástica, intercalada por rochas vul-
testemunhagens. No entanto, este não foi atingido na cânicas e vulcanoclásticas da Formação Cabiúnas,
porção média e distal da bacia submersa, por encon- enquanto o Membro Sernambi representa a predo-
trar-se a grandes profundidades. minância de folhelhos, carbonatos e margas.
Durante a deposição desta seqüência predo-
minava um ambiente lacustre, onde nas bordas dos
falhamentos desenvolviam-se sistemas de leque alu-
vial e fluvial e, eventualmente, nos altos estruturais
Superseqüência Rifte formavam-se coquinas e fácies associadas.
As intercalações vulcânicas da Formação Ca-
biúnas se intensificam principalmente na porção ba-
Nesta época (Valanginiano ao Aptiano Inferior)
sal. As datações realizadas pelo método K/A forne-
predominava um ambiente lacustre com contribuição
cem idades entre 118 e 136 Ma, o que inclui os
fluvial e aluvial nas bordas dos falhamentos, enquanto
basaltos na Seqüência K20.
que nos altos estruturais internos depositaram-se coquinas
A ocorrência dessa seqüência está restrita às por-
e outros carbonatos. Os diversos pulsos tectônicos estão
ções mais profundas dos Paleocânions de Fazenda Ce-
registrados por conglomerados sintectônicos de bordas
dro, Regência e Plataforma de Regência, tendendo a
de falhas, bem como vulcânicas da Formação Cabiúnas.
um maior espessamento e aprofundamento em direção
à porção marinha. Por esta razão, foi bem amostrada
Seqüência K20 na parte proximal. Estima-se, a partir de dados sísmicos
existentes, que toda a seção da Formação Cricaré pode
chegar a espessuras em torno de 3.500 m.
Representa a base do Grupo Nativo, Formação
Cricaré, que são os sedimentos mais antigos da Bacia do
Espírito Santo, depositados durante o Valanginiano. É li-
mitada na base pela discordância definida pelo contato
das rochas do Cretáceo Inferior com o embasamento pré-
cambriano, enquanto que o topo é representado por uma
Superseqüência Pós-Rifte
discordância erosiva, dentro da Formação Cricaré
(Discordância Intracricaré), detectável em poços na parte
terrestre da bacia.
Seqüência K40
É composta por arenitos médios a conglomeráticos e
conglomerados com seixos de rochas metamórficas com Corresponde à porção basal da Formação Ma-
matriz feldspática (Membro Jaguaré), que para porções mais riricu, compreendendo o Membro Mucuri, deposita-
distais gradam para litologias mais argilosas (Membro do durante o Eo e Mesoaptiano (correlacionado ao
Sernambi). Ocorrem intercalações de derrames basálticos, Andar local denominado Alagoas Inferior a Médio).
parcialmente alterados, vulcanoclásticas e tufos vulcânicos Limita-se na base pela Discordância Alagoas e no
da Formação Cabiúnas. topo pelo contato com a seção evaporítica que tam-
bém é discordante (Discordância Base dos Evaporitos).
Na Seqüência K40 encontram-se os sedimen-
Seqüência K30 tos mais basais da Formação Mariricu, identificados
através de ostracodes em poços na porção terrestre,
A Seqüência K30 encontra-se no mesmo pacote separados da seção média/superior do Alagoas por
sedimentar que a seqüência anterior. Corresponde à uma discordância intra-alagoas, reconhecida nos tra-
porção média e superior da Formação Cricaré, cujo limi- balhos de Vieira et al. (1994) e Dias (2005).
te inferior é representado pelo contato discordante A porção média/superior da Formação Mariricu/
(Discordância Intracricaré) com a Seqüência K20 e o su- Membro Mucuri é bem amostrada na bacia terrestre,
perior marcado por uma ampla discordância, identificada principalmente por poços e testemunhos. A partir des-

502 | Bacia do Espírito Santo - França et al.


ses dados, Vieira (1998) identificou três seqüências,
separadas por discordância angular, que podem ser
Seqüência K50
estendidas até a porção rasa da bacia, quais sejam:
Corresponde aos evaporitos do Membro Itaúnas,
• seqüência basal controlada por intenso parte superior do Grupo Nativo/Formação Mariricu, deposi-
tectonismo remanescente, ainda da fase rifte. tados durante o Andar Aptiano (Alagoas Superior).
Representa as fácies média a distal de leques Está limitada, na base, pela discordância que
aluviais e das fácies mais proximais do sistema marcou o topo das seqüências neo-aptianas e, no topo,
fluvial entrelaçado. É caracterizada por pela discordância ocorrida antes da deposição do Grupo
ortoconglomerados polimíticos na base, Barra Nova.
gradando para arenitos arcoseanos grossos, pas- Sob condições de uma bacia restrita e com alta eva-
sando a arenitos finos e siltitos, culminando com poração, ocorreu a precipitação de espessos depósitos de
um nível de anidrita e/ou carbonato brechado. anidrita e halita, em uma superfície peneplanizada durante
Seu limite com a seqüência intermediária se faz a fase de quiescência tectônica.
através de uma discordância angular; Provavelmente, as halitas depositaram-se, preferen-
cialmente, nas porções centrais da bacia, enquanto que
• a seqüência intermediária, representada por nas bordas, mais sujeitas à erosão, predominavam as
um afogamento progressivo dos leques e do anidritas, carbonatos e, subordinadamente, as halitas.
sistema fluvial da seção inferior, é composta Vieira (1998) identificou quatro seqüências depo-
por arenitos basais, sílticos e arenitos finos a sicionais, compondo o pacote das anidritas, separadas
muito finos. Seu limite superior é definido por por três níveis síltico-argilosos, correlacionáveis ao longo
uma camada de anidrita ou carbonato, que de toda a bacia, representando o registro de pequenas
define uma discordância angular em alguns transgressões marinhas.
pontos da bacia. A variação das isópacas ain- A seqüência é tipicamente evaporítica com calcários
da mostra certa influência de altos do emba- e anidritas nas partes proximais a oeste e halita nas partes
samento na sedimentação; mais centrais da bacia. Podem ocorrer localmente dolomitos/
calcários e raras laminações de anidritas.
• a seqüência superior, formada a partir de um
O tempo estimado de deposição das halitas é em
sistema de lagunas com planícies lamosas que
torno de 0,6 Ma (Dias, 2005), com taxa de deposição
evolui para o ambiente evaporítico do tipo
incerta devido à sua característica de fluir e espessar-se
sabkha. Localmente ocorrem arenitos finos a
em direção ao depocentro da bacia.
grossos, representando depósitos de praias e
As espessuras do Membro Itaúnas variam de 50 m
planícies arenosas do sistema lagunar. O con-
na parte emersa, onde predominam anidritas, podendo
tato superior é discordante com os evaporitos
chegar a mais de 5.000 m de halita nas províncias de
do Membro Itaúnas. diápiros e muralhas em direção às águas profundas e
A deposição continental predominou nas por- ultraprofundas (França e Tschiedel, 2006).
ções mais proximais da bacia terrestre e na água rasa, A movimentação da halita contida nessa super-
manifestando-se através de sistemas deposicionais seqüência foi de grande importância na formação de
dominados por leques aluviais e canais fluviais. barreiras e baixos estruturais, que controlaram a deposi-
Por outro lado, a parte distal é marcada pela ção de sedimentos arenosos das seqüências sobrepos-
passagem gradativa de sistemas deposicionais con- tas, bem como na formação de estruturas positivas que
tinentais para transicionais, depositados em ambiente propiciaram a ocorrência de trapas.
raso, sob relativa quiescência tectônica que se tra-
duz em intercalações plano-paralelas de folhelhos
esverdeados, calcilutitos e arenitos finos.
Observa-se um espessamento do Membro
Mucuri para leste, em direção ao depocentro da ba-
Superseqüência Drifte
cia. Sua espessura foi estimada através de seções
sísmicas, podendo chegar a 2.000 m. Seqüência K62
Sua ocorrência é ampla em toda a bacia, es-
tando ausente na parte oeste, próximo ao limite Corresponde ao Grupo Barra Nova composto pe-
exploratório, onde os sedimentos do Membro Mu- las Formações São Mateus (predominância de arenitos)
curi acunham-se contra o embasamento. e Regência (calcários de alta a baixa energia).

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 501-509, maio/nov. 2007 | 503


A deposição dos sedimentos do Grupo Barra Nova sionando a formação de “jangadas”, principalmen-
iniciou-se com a sedimentação em um ambiente ainda te na porção central da bacia. Uma ampla discor-
com características de mar epicontinental, herdada da fase dância instalou-se no final do Albiano, a Discordân-
evaporítica. Nesse estágio, as variações relativas do nível cia Pré-Urucutuca (DPU), responsável pela escava-
do mar condicionavam a deposição dos estratos por gran- ção dos paleocânions de Regência e Fazenda Ce-
des extensões. As litologias alternavam-se em depósitos dro, ambos localizados na porção terrestre, esten-
de arenitos, siltitos, folhelhos, calcarenitos oolíticos e dendo-se para a parte marinha rasa da bacia.
bioclásticos, calcilutitos e calcissiltitos com ostracodes, Esta discordância é mais significativa na por-
miliolídeos, pelecípodes e gastrópodes. Esta sucessão de ção emersa. À medida que se avança para águas
fácies, que principia com folhelhos, siltitos e carbonatos profundas, a passagem da Sequência K64-K70 para
variando para arenitos em direção a parte superior, é bem a K82-K86 tende a ser gradacional.
caracterizada na porção proximal da bacia (Tagliari, 1993). A Seqüência K64-K70 foi perfurada por uma
Após esta fase inicial, de mar com características centena de poços na bacia terrestre, tornando-se
epicontinentais, a bacia grada paulatinamente para uma escassa suas amostragens em direção ao depocentro
morfologia de rampa com gradiente suave, com a dispu- da bacia, devido às altas profundidades alcançadas.
ta entre terrígenos e carbonatos com predomínio dos pri-
meiros. Existe uma tendência à concentração de Seqüência K82-K86
siliciclásticos nas porções mais proximais e carbonatos nas
áreas distais. Esta fase culmina com uma discordância A Seqüência K82-K86 representa um afoga-
erosiva, que marca o fim da palinozona P280B, reconhe- mento da plataforma carbonática, iniciado no Ceno-
cida tanto sismicamente quanto na análise de rocha e maniano, ocorrendo seu ponto culminante no
paleontologia na bacia terrestre e, provavelmente, na Turoniano. Ela é retrogradante e foi depositada em
parte marinha rasa (Tagliari, 1993). onlap sobre a DPU, discordância angular, facilmente
identificada na porção proximal, chegando a uma
Seqüência K64-K70 concordância relativa na água profunda.
Ela representa a base da Formação Urucutuca
do Grupo Espírito Santo, composta por folhelhos cin-
Após esta fase inicial do Albiano (palinozona P-280B),
za-escuros, calcíferos e arenitos turbidíticos. Localmen-
segue-se uma seqüência que registra a continuação da bus-
te, na seção basal da Seqüência K82-K86, encontram-
ca pelo espaço de deposição entre siliciclásticos e carbona-
se brechas carbonáticas, resultado do retrabalhamen-
tos nas partes proximais da bacia, com predominância dos
to da plataforma carbonática do Albiano, com matriz
carbonatos nas porções mais distais. Neste estágio, a plata-
lamosa, datadas do Cenomaniano, denominada in-
forma em rampa apresenta um gradiente mais acentuado,
formalmente de “Seqüência” Comboios. No entan-
com uma tendência a uma maior segregação das fácies. A
to, por ter uma ocorrência muito local, mais precisa-
alternância de caráter marcantemente cíclico das fácies
mente no bloco baixo da Plataforma de Regência,
carbonáticas e siliciclásticas (conhecida com maior
não foi individualizada neste trabalho.
conspicuidade na Plataforma de Regência) permite inferir
A Seqüência K82-K86 é predominante na parte
uma freqüente variação relativa do nível do mar, ao longo submersa e bastante restrita na porção terrestre. Entre-
de todo o Albiano, agindo no sentido de segregação das tanto, está representada, localmente, nas porções basais
diversas faciologias registradas, desde o ambiente continen- dos paleocânions de Fazenda Cedro e Regência além
tal proximal até o marinho de plataforma (Tagliari, 1993). de uma calha remanescente na Plataforma de Regên-
Na Plataforma de Regência, ao sul do Paleocâ- cia. Essa calha está preenchida por folhelhos, calcilutitos
nion de Cedro, observa-se uma grande discordância e arenitos da Formação Urucutuca. São sedimentos de
angular erosiva na parte superior da Seqüência Albiana, fácies relativamente proximais, representando condições
dominantemente carbonática. neríticas e, por vezes, deformados pela tectônica salífera.
Poços perfurados na porção submersa na área Na Seqüência K82-K86 ocorre um evento
centro-sul da bacia tem mostrado freqüente intercala- anóxico, que registra o máximo afogamento desta se-
ção entre siliciclásticos e carbonatos, tal qual constata- qüência, caracterizado pela presença de folhelhos es-
se na Plataforma de Regência. curos, radioativos e de baixa velocidade sônica. Predo-
A partir do topo da K64-K70, que representa o minam pelitos, mas alguns arenitos podem ser encon-
topo do Grupo Barra Nova (Albiano), muda acentuada- trados, especialmente na porção distal da bacia.
mente o estilo tectônico da bacia. O basculamento con- A Seqüência K82-K86 é muito restrita na ba-
tínuo para leste devido à subsidência térmica causou o cia terrestre, onde foi amostrada por poucos poços,
lento escorregamento dos sais solúveis sotopostos, oca- sendo mais espessa na parte distal da bacia. Seu

504 | Bacia do Espírito Santo - França et al.


limite superior é mostrado por uma discordância na sedimentar que alimentou os turbiditos encontrados nas
base do Conianciano (Discordância Turoniano). porções mais distais da bacia.
O Turoniano é, em geral, delgado, pouco expres-
sivo na parte terrestre devido à erosão. Porém, está re-
gistrado localmente em alguns poços nos paleocânions
Seqüências do Paleógeno
e no bloco baixo da Plataforma de Regência.
Durante o Paleógeno, a Bacia do Espírito Santo
sofreu nova fase tectônica, o que provocou rebaixamento
Seqüência K88 do nível do mar devido à ocorrência de expressivos even-
tos como o soerguimento da Serra do Mar, vulcanismo de
Corresponde à Formação Urucutuca deposi- Abrolhos e a contínua halocinese, controlando cada vez
tada do Coniaciano ao Santoniano, em padrão re- mais a distribuição das areias provenientes de noroeste.
trogradante. É predominantemente pelítica e os are- O Vulcanismo de Abrolhos foi um evento magmático
nitos turbidíticos presentes estão localizados, princi- de grandes proporções, envolvendo cerca de dois terços da
palmente, nas desembocaduras dos Paleocânions de Bacia do Espírito Santo, parte submersa, e que influenciou,
Fazenda Cedro e Regência, apresentando um certo fortemente, a sedimentação das Seqüências do Paleógeno.
controle deposicional através de calhas criadas pela Estudos anteriores indicam que o período de maior ativida-
halocinese. Seu limite inferior é marcado por discor- de vulcânica foi entre 59 e 37 Ma.
dância melhor observada na parte proximal e identi- O Paleógeno pode ser dividido em quatro seqüên-
ficada na bacia até a região distal da bacia. cias de segunda ordem, depositadas dentro do Trato de
Mar Baixo, denominadas informalmente de Seqüências
Seqüência K90-K100 “Lagoa Parda”, “Império”, “Cangoá” e “Peroá”. Embora
os ciclos tenham um caráter global, a intensidade do seu
desenvolvimento sofreu forte influência dos fatores já rela-
Engloba os sedimentos da Formação Urucu-
cionados no parágrafo anterior.
tuca de idade eo a meso-campaniana. Predominam
folhelhos e arenitos turbidíticos, cujos limites inferior
e superior são, respectivamente, a discordância Cam- Seqüência E10-E30
paniana a discordância Intra-campaniana.
Com a contínua subsidência e basculamento da É uma seqüência retrogradante englobando os se-
bacia, ocorre a sedimentação de uma espessa seção dimentos do Paleoceno e Eo-Eoceno (informalmente de-
retrogradante. Os corpos turbidíticos ainda apresentam nominada “Seqüência Lagoa Parda”), sendo seus limites
uma forte influência dos Paleocânions de Fazenda Ce- inferior e superior definidos, respectivamente, pela
dro e Regência entre o Coniaciano e o Meso-Campa- discordância do Paleoceno e pela discordância do Eoceno
niano, limitados por uma discordância Intracampaniana, Inferior no topo. Internamente, observa-se uma superfície
que os separa da seqüência superior. de máxima inundação representada por calcilutitos.
No topo dessa seqüência, os folhelhos e arenitos
Seqüência K110-K130 mostram um padrão offlap na porção proximal, gradando
a subparalelo a plano em direção à porção intermediá-
ria do depocentro da bacia, indicando soerguimento da
Refere-se aos sedimentos da Formação Urucu-
borda da bacia.
tuca dos andares Neo-Campaniano a Maastrichtiano.
Encontra-se bem distribuída na parte terrestre (nos
Seu limite inferior é marcado pela discordância Intra-
paleocânions de Regência e Fazenda Cedro e na Plata-
campaniano, e o superior por uma ampla discordância
forma de Regência) e na porção marinha, principalmen-
que atingiu toda a bacia, facilmente identificável nos
te na água rasa.
poços e seções sísmicas que é a passagem do Cretáceo
Durante a deposição desta seqüência começam a
para o Paleógeno (Discordância Paleoceno).
surgir as primeiras manifestações do vulcanismo de Abro-
Predominam folhelhos, arenitos e, nas porções
lhos através de derrames intermitentes.
mais distais, margas. Os turbiditos encontrados são
mais expressivos na base, ocorrendo uma diminuição
dos mesmos à medida que se aproxima do Maastri- Seqüência E40-E50
chtiano, embora haja uma concentração de turbiditos
maastrichtianos, canalizados nos paleocânions de Esta seqüência (informalmente denominada como
Cedro e Regência (parte terrestre). Estes paleocânions “Seqüência Império”) depositou-se discordantemente so-
foram os principais condutos responsáveis pelo aporte bre os sedimentos da seqüência anterior em onlap na

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 501-509, maio/nov. 2007 | 505


plataforma rasa e downlap nas partes distais, seguidos substrato marcado por altos e baixos estruturais como
de truncamento erosional no topo. conseqüência do tectonismo das fases anteriores, mar-
A presença de espessos pacotes de corpos arenosos cados por compressões, vulcanismo e halocinese. Este
na base dessa seqüência está relacionada a um forte aporte tectonismo gerou calhas e barreiras por onde se deposi-
de siliciclásticos ocorrido a partir das bordas (principalmente taram os corpos turbidíticos desta seqüência.
nos Paleocânions de Fazenda Cedro e Lagoa Parda), prova- Ainda se observam as progradações de car-
velmente devido ao soerguimento da Serra do Mar e ao bonatos detríticos e vulcanoclásticas provindas das
Vulcanismo de Abrolhos. Os mais espessos corpos turbidíticos partes distais (Banco de Abrolhos) em direção ao con-
foram depositados dentro de um trato de mar baixo, na tinente, contrapondo-se a progradação da cunha
forma de sistemas canalizados e leques de assoalho. clástica vinda de leste, controlados pela migração
Registra-se também a ocorrência de rochas vul- da quebra da plataforma e pela halocinese.
cânicas ao nível da discordância do Eoceno Inferior, evi- Os turbiditos aí encontrados são corpos
denciando instabilidade crustal. Nesta seqüência verifi- acanalados que se depositaram no trato de mar bai-
ca-se a mais intensa atividade vulcânica registrada, xo, cuja fonte consistiu, predominantemente, de ro-
marcada por derrames intercalados a arenitos turbidíticos, chas retrabalhadas de seqüências subjacentes.
folhelhos e carbonatos. O topo desta seqüência é marcado por uma
Nesta fase de intensas manifestações magmáticas, discordância, gerada pelo rebaixamento ocorrido no
houve um soerguimento na área onde se instalou o Banco
Oligoceno Superior (Chatiano), que também coinci-
de Abrolhos (porção média/distal da Bacia). Esta área
de com um rebaixamento eustático descrito por Vail
soerguida condicionou o desenvolvimento de uma pla-
(1977) e Haq (1987) apud Biassusi (1996).
taforma carbonática rasa, formando calcários da Forma-
Da mesma maneira que a seqüência anterior,
ção Caravelas por sobre o substrato de Abrolhos.
esta seqüência apresenta-se melhor representada na
O resultado é a formação de uma sub-bacia
porção emersa (águas rasas), amostrada por uma
meso-oceânica, confinada, pelo lado oeste através do
dezena de poços.
embasamento e, a leste, pela presença do edifício
vulcânico e os carbonatos.
Desta maneira, a sub-bacia recebeu contribuição Seqüência E80-N10
de duas áreas fontes: pela contribuição natural da área
soerguida a oeste e pela progradação de vulcanoclásticos
e calcários detríticos vindos de leste (Biassusi, 1996). Esta seqüência está limitada na base por uma
O limite superior dessa seqüência é marcado por uma discordância gerada por um rebaixamento ocorri-
ampla discordância angular, bem identificado na porção terres- do no final do Oligoceno Inferior (Chatiano) e seu
tre e denominada “Discordância Pré-Eoceno Superior’ (DPES). limite superior é a discordância do Mioceno Infe-
Esta discordância é correlacionada ao evento rior (informalmente denominada “Seqüência Pe-
eustático, ocorrido há 40 Ma, de grande importância na roá”). A Seqüência E80-N10 apresenta um notá-
peneplanização da bacia, sobretudo nas áreas proximais, vel padrão sigmoidal.
inclusive no embasamento. Na área submersa, sua ca- Durante a deposição desta seqüência, o eixo
pacidade erosiva se restringiu às partes superiores do deposicional permaneceu com a direção sul/sudes-
Eoceno Inferior, transformando-se, nas partes distais, em te. Arenitos turbidíticos desenvolveram-se na forma
uma concordância correlativa. de sistemas canalizados, controlados pela existência
Esta seqüência é bem amostrada por poços tanto de domos e inversões.
na parte emersa quanto na submersa.
Seqüência N20-N30
Seqüência E60-E70
Ela corresponde na base aos sedimentos do
Esta seqüência (informalmente denominada “Se- Mioceno Inferior, andares Burdigaliano e, no topo,
qüência Cangoá”) foi depositada sobre a “Discordân- aos sedimentos do Mioceno Médio (Langhiano/Ser-
cia Pré-Eoceno Superior” e que constitui o seu limite infe- ravaliano). Inclui as formações Rio Doce, Caravelas
rior. Ela apresenta o aspecto sigmoidal com base marcada e Urucutuca. São compostos, na porção terrestre,
por downlaps nas fácies mais distais e onlap nas proximais. principalmente, por arenitos da Formação Rio Doce
A Seqüência E60-E70, embora tenha se formado em e calcarenitos bioclásticos da Formação Caravelas
uma fase de quiescência tectônica, depositou-se em um (porção média proximal), além de folhelhos e areni-

506 | Bacia do Espírito Santo - França et al.


tos turbidíticos da Formação Urucutuca nas partes
médias e distais da bacia. Diamictitos ocorrem na referências bibliográficas
base de talude e margas predominam nas porções
de águas profundas a ultraprofundas. ASMUS, H. E.; GOMES, J. B.; PEREIRA, A. C. B. Integração
geológica regional da Bacia do Espírito Santo. In: CON-
Seqüência N40 GRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 25., 1971, São Pau-
lo. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia,
1971. v. 3, p. 235-252.
No estudo da Bacia do Espírito Santo depara-se
com um alto grau de dificuldade na identificação de
superseqüências mais jovens. O fato é que há um pre- BIASSUSI, A. S. Análise estratigráfica do terciário in-
domínio de areias adentrando cada vez mais na bacia, ferior da Bacia de Espírito Santo. 1996. 84 p. Tese
interdigitando-se com calcarenitos da Formação Cara- (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
velas e passando a argilitos na água profunda. Porto Alegre,1996.
Sua deposição paleogeográfica estabeleceu
a configuração atual da bacia. Portanto, encontram- DIAS, J. L. Tectônica, estratigrafia e sedimentação no
se no talude, diamictitos resultantes do desmorona- Andar Aptiano da margem leste brasileira. Boletim de
mento da plataforma e argilitos com incipiente com- Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13, n.1,
pactação da seção pelítica. p.7-25, nov. 2004/maio 2005.
A Seqüência N40 é limitada na base pela dis-
cordância do Mioceno Superior e no topo pela dis- FRANÇA, R. L.; TSCHIEDEL, F. E. Os evaporitos das Ba-
cordância do Plioceno. cias do Espírito Santo e Mucuri: sedimentação e tectôni-
ca In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 43., 2006,
Seqüência N50 Aracaju. Anais. Bahia: Sociedade Brasileira de Geolo-
gia, 2006. p. 93.

Corresponde aos sedimentos do Plioceno, re-


presentada pelas formações aflorantes Barreiras e MORAIS, R. M. O. Sistemas fluviais terciários na
Rio Doce. A primeira, depositada em ambientes con- área emersa da Bacia do Espírito Santo (formações
tinentais fluvio/aluviais e, a segunda, continental/ Rio Doce e Barreiras). 2007. 144 p. Tese (Doutorado)
transicional/marinho raso. Nas partes distais consta- – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janei-
tam-se alguma intercalação com calcarenitos da For- ro, 2007.
mação Caravelas, próximo à quebra da plataforma.
No sopé do talude, constatam-se diamictitos, resul- TAGLIARI, C. V. Evolução das sequências Mistas
tantes do desmoronamento da plataforma, além de (Siliciclásticas e Carbonáticas) sob a influência da
argilitos. É comum a formação de cânions recentes, Halocinese Durante o albo-Aptiano da Plataforma
principalmente na quebra da plataforma. de Regência, Bacia do Espírito Santo. 1993. 159 p.
Segundo Morais (2007), as formações Rio Tese (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande
Doce e Barreiras representam pacotes distintos devi- do Sul, Porto Alegre, 1993.
do a uma série de evidências observadas no campo,
referentes ao grau de litificação ocorrente nos sedi- VIEIRA, R. A. B.; MENDES, M. P.; VIEIRA, P. E.; COSTA,
mentos da Formação Rio Doce, o que indica trans- L. A. R.; TAGLIARI, C. V.; BACELAR, L. A. P.; FEIJÓ, F. J.
formações diagenéticas não verificadas na Forma- Bacias do Espírito Santo e Mucuri. Boletim de
ção Barreiras, além de contato erosivo. Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p.
191–202, jan./mar. 1994.
Seqüência N60
VIEIRA, R. A. B. Análise estratigráfica e evolução
A Seqüência N60 ocorre na parte emersa da paleogeográfica da seção Neoaptiana na Porção Sul
bacia, constituída pelos sedimentos de planícies pró- da Plataforma de São Mateus, Bacia do Espírito San-
ximo à foz dos rios São Mateus e, principalmente, do to, Brasil. 1998. 158 p. Tese (Mestrado) – Universidade
Rio Doce e por cordões litorâneos ao longo da costa. Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 501-509, maio/nov. 2007 | 507


BACIA DO ESPÍRITO SANTO

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
FLUVIAL A MARINHO
PROFUNDO

80
EO ZAN C LE AN O
BAR
NEÓGENO

ME S S I N I AN O
NEO

MARINHO / CONTINENTAL
10 T OR T O N IA N O

S E R R AVAL IA N O
MESO

COM MAGMATISMO ASSOCIADO


FLUVIAL/PLATAF. RASA/TALUDE/
LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O
EO
20
AQU I TAN IA N O

PROFUNDO
NEO C HAT T IAN O

30
EO RU P E L IA N O

NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G E NO

BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

50
EO Y P R E S I AN O
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
COM MAGMATISMO ASSOCIADO

NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O
PROFUNDO

70
( SEN O NIANO )

CAM PA N IAN O
MARINHO

80
NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U R O N I AN O

C E N O MA N IA N O

100
REGÊNCIA
CRETÁCEO

PLATAFORMA
( GÁ LI CO )

AL B I AN O
RASA
SÃO MATEUS
110
RESTRITO

SABKA/FLÚVIO-
ALAGOAS DELTAICO
APTIANO
120
CONTINENTAL
EO

JIQUIÁ I
CABIÚNAS

BARRE- BURACICA MB
MIANO RNA
130
ALUVIAL/FLÚVIO- SE
ARAT U LACUSTRE
( NE OC O MIANO )

HAUTE- VULCANISMO
RIVIANO ASSOCIADO JAGUARÉ
VALAN-
GINIANO RIO
140 DA
SERRA
BERRIA-
SIANO
DOM
TITHO- JOÃO
NIANO
150
542
E M BASAM E N T O

508 | Bacia do Espírito Santo - França et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 501-509, maio/nov. 2007 | 509
Bacia de Campos

Wilson Rubem Winter1, Ricardo Jorge Jahnert2, Almério Barros França3

Palavras-chave: Bacia de Campos l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Campos Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução A primeira carta estratigráfica da Bacia de


Campos data de 1973, compilada por Schaller (1973)
a partir dos resultados da perfuração dos primeiros
A Bacia de Campos localiza-se no litoral norte poços na bacia. Seguiram-se várias atualizações,
do Estado do Rio de Janeiro e a sul do Estado do sendo a última a de Rangel et al. (1994), todas com
Espírito Santo, limitada a norte pelo Arco de Vitória foco em litoestratigrafia.
e, a sul pelo Arco de Cabo Frio. Possui uma área A presente carta resume o conhecimento atual
aproximada de 100.000 km2, com mais de 1.600 da bacia, com ênfase na análise cronoestratigráfica,
poços perfurados ao longo de mais de três décadas onde foram mapeadas as principais seqüências de-
de exploração petrolífera. Economicamente, é a ba- posicionais com registro em todas as demais bacias
cia brasileira mais prolífica, alojando mais de 90% costeiras brasileiras. Além dos dados de poços e sís-
das reservas petrolíferas brasileiras atuais. mica, foram utilizadas tabelas bioestratigráficas in-

1
Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bacia de Campos/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia
e-mail: winter@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sudeste/Pólo Centro
3
E&P Exploração/Geologia Aplicada a Exploração/Modelagem de Sistema Petrolífero

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 511


ternas da Petrobras, calibradas com tabelas de tem- Basaltos fraturados e vesiculares representam reser-
po de Gradstein et al. (2004). vatórios produtores de óleo no campo de Badejo. As
datações obtidas nessas rochas permitem correla-
cionar o evento magmático Cabiúnas com o evento
ígneo Serra Geral, na Bacia do Paraná.

embasamento Seqüência K36


O embasamento cristalino da Bacia de Cam-
A seqüência corresponde à porção basal da
pos é caracterizado por gnaisses de idade pré-
Formação Lagoa Feia, doravante elevada à categoria
cambriana pertencentes à Província Proterozóica da
de grupo, mantendo a mesma seção-tipo proposta por
Ribeira. Rochas do embasamento foram identificadas
Rangel et al. (1994). A Seqüência K36 é constituída
no poço 1-ESS-50 e testemunhadas nos poços 2-CST-
pelas formações Itabapoana e Atafona, depositadas
1-RJ (2.619-2.621 m) e 1-RJS-94 (2.708-2.713 m).
no Andar Barremiano, equivalente aos andares
O embasamento econômico da Bacia de Cam-
cronoestratigráficos locais Aratu superior e Buracica.
pos é definido pelos basaltos da Formação Cabiú-
Seu limite inferior é a discordância do topo dos basal-
nas (equivalentes às seqüências K20-K34), deposi-
tos da Formação Cabiúnas (K20-K34) e o limite supe-
tado nos andares Rio da Serra e Aratu inferior
rior, a discordância pré-Jiquiá, de 125,8 Ma.
(Halteriviano), que cobrem discordantemente o
A Formação Itabapoana é representada por
embasamento pré-Cambriano.
conglomerados, arenitos, siltitos e folhelhos
avermelhados proximais de borda de bacia e de bor-
da de falha. A Formação Atafona está representa-
da, principalmente, por arenitos, siltitos e folhelhos
Superseqüência Rifte depositados em ambiente quimicamente diferencia-
do, alcalino caracterizado pela deposição predomi-
nante de minerais de talco e estevensita.
O registro sedimentar da fase rifte da Bacia
de Campos foi subdividido em três seqüências depo-
sicionais denominadas K20-K34, K36 e K38, com
Seqüência K38
idades Hauteriviano, Barremiano (porção superior do
Andar Aratu) e Eoaptiano (Andar Jiquiá). A seqüência corresponde à porção intermediá-
As unidades pertencentes à antiga Formação ria do Grupo Lagoa Feia, compreendendo as forma-
Lagoa Feia foram elevadas à categoria de forma- ções Itabapoana e Coqueiros, depositadas desde o
ção. Assim, o Grupo Lagoa Feia é atualmente com- Barremiano superior ao Aptiano inferior (equivalente
posto pelas formações: Coqueiro e Retiro - definidas ao Andar local Jiquiá). Seu limite inferior é a
por Rangel et al. (1994) e Itabapoana, Atafona, discordância pré-Jiquiá, de 125,8 Ma e o limite su-
Gargaú e Macabu - definidas neste trabalho. perior corresponde à discordância pré-neo-Alagoas
(com ocorrência entre 120 Ma e 123,1 Ma), facil-
mente identificada em seções sísmicas.
Seqüência K20-K34 A Formação Itapaboana representa os con-
glomerados e arenitos proximais da bacia e de bor-
A Seqüência K20-K34 possui como limite su- da de falha.
perior a discordância observada no contato com os A Formação Coqueiros está representada por
sedimentos da Seqüência K36. A Seqüência K20- intercalações de camadas de folhelhos e carbonatos
K34 é composta de derrames ígneos, subalcalinos, lacustres compostos, predominantemente, por
subaéreos e subaquosos, com espessura máxima moluscos bivalves. Estes depósitos de conchas che-
perfurada de 650 m, tendo sido atingida em cerca gam a formar espessas camadas porosas, acima de
de uma centena de poços. Basaltos e diabásios são 100 m, denominadas barras de coquinas. Os paco-
as principais litologias desta unidade. Arenitos, silti- tes de coquinas porosas foram depositados em am-
tos e conglomerados ocorrem localmente entre der- biente de alta energia e se constituem em reservató-
rames sucessivos, sendo denominados de intertrapes. rios produtores de petróleo.

512 | Bacia de Campos - Winter et al.


A Formação Coqueiros é facilmente reconhe- A Formação Itapaboana representa os conglo-
cida em sísmica, uma vez que a intercalação de fo- merados e arenitos de borda de bacia, que progradam
lhelhos de baixa densidade, ricos em matéria orgâ- bacia adentro até o topo da Seqüencia K46, passan-
nica, com carbonatos de alta densidade estabelece do, então, a um padrão retrogradante.
uma sismofácies característica. Os refletores sísmi- As formações Gargaú e Macabu estão caracteri-
cos com máximas amplitudes negativas referem-se zadas por sedimentos carbonáticos, margas e arenitos,
aos folhelhos do andar Jiquiá (folhelho Jiquiá), que depositados em ambiente raso, transicional. Essas uni-
são os principais geradores de petróleo da bacia. dades litoestratigráficas estão detalhadas no Apêndice.
A passagem entre as Seqüências K46 e K48
está representada por uma discordância de idade esti-
mada de 115 Ma, evidente na porção proximal da
bacia e por variação de litofácies nas porções distais,
Superseqüência Pós-Rifte equivalente à predominância de laminitos microbiais
e feições de exposição, sugeridas por perfis.
Nas porções mais distais das Seqüências K46
Esta superseqüência corresponde à seção sedi-
e K48 ocorrem calcários estromatolíticos (represen-
mentar disposta discordantemente sobre a seqüência
tados como calcarenitos na carta) e laminitos
de rochas de origem lacustre que foi depositada em
microbiais da Formação Macabu, por vezes dolomiti-
ambiente tectonicamente brando. Essa superseqüência
zados. Esses carbonatos revelam, através de teste-
possui em sua base rochas argilosas (folhelho Alagoas),
munhos e perfis, feições de exposição subaérea e
ricas em sílica, alumínio e ferro, além de estratos origi-
deposição local de arenitos eólicos (?).
nados pelo retrabalhamento de coquinas Jiquiá. Predo-
Nesta seqüência são observados reflexões sís-
minam conglomerados e arenitos nas porções proximais
micas com elevado mergulho no sentido offshore que
com típico padrão progradacional. A base do sistema
estão sendo interpretadas como seaward dipping
exibe maiores variações de espessura, reflexo da
reflections (SDR). Essas feições rejuvenescem no sen-
rugosidade do relevo herdado do substrato exposto à
tido offshore até se conectarem lateralmente com a
erosão e condicionadas às raras falhas sindeposicionais.
crosta oceânica, interpretada como originada próxi-
A porção superior exibe padrão retrograda-
ma ao limite K46-K48.
cional, caracterizando uma subida eustática, confor-
me registrado pela análise isotópica de oxigênio.
O registro fossilífero é pobre, representado
por ostracodes e rochas de origem microbial, deno-
Seqüência K50
tando o stress ambiental que prevaleceu durante
sua acumulação. A seqüência corresponde aos evaporitos da
Formação Retiro, do Grupo Lagoa Feia (Andar Albia-
no inferior ou Andar local Alagoas superior). Está li-
Seqüências K46 e K48 mitada na base pela discordância entre os evaporitos
e a seqüência sedimentar transicional, de 112 Ma e
As seqüências correspondem à porção superior no topo pela passagem dos evaporitos da Formação
do Grupo Lagoa Feia, compreendendo as formações Retiro para sedimentos da Formação Goitacás e For-
Itabapoana, Gargaú e Macabu, depositadas no andar mação Quissamã do Grupo Macaé. O tempo estima-
Aptiano médio e superior (equivalente ao andar local do de deposição é de 0,7 a 1 Ma, com taxa de acu-
Alagoas médio e superior). Limitam-se na base pela mulação incerta, devido a remobilização posterior de
discordância pré-neo-Alagoas e no topo pela discor- halita no sentido das águas mais profundas.
dância da base da Seqüência Evaporítica, de 112 Ma. De uma maneira geral, os sais mais solúveis
Essas seqüências transicionais, originadas durante a estão nos depocentros deposicionais do ambiente
passagem do ambiente continental lacustre para o marinho/lagunar, árido. São observados ciclos onde
ambiente marinho, representam uma grande expan- ocorre a seguinte seqüência mineral: anidrita, anidri-
são da bacia envolvendo grande diversidade litológica. ta + halita, anidrita + halita + carnalita/silvinita.
Enquanto a Seqüência K46 apresenta um ca- A Seqüência K50 tem um papel importante
ráter progradacional, a Seqüência K48 apresenta um na arquitetura da Bacia de Campos. A movimenta-
padrão retrogradacional. ção de sal moldou o assoalho marinho, criando ca-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 513


minhos preferenciais para as areias depositadas no
Cretáceo Superior.
Seqüência K70
A seqüência corresponde às formações
Goitacás (proximal), Outeiro (distal) e o Arenito Na-

Superseqüência Drifte morado, que passa a ser denominado Formação


Namorado do Grupo Macaé. A seção-tipo continua
sendo a do poço 1-RJS-283, conforme proposto por
A superseqüência compreende os sedimentos Rangel et al. (1994).
marinhos depositados sob um regime de subsidência O limite inferior dessa seqüência é dado
térmica associada a tectonismo adiastrófico. pelo Marco Beta nas porções distais e pela dis-
cordância do topo dos sedimentos calco-areno-
sos das formações Goitacás e Quissamã nas por-
Seqüência K60 ções proximais. O limite superior é marcado pela
discordância que marca a passagem do Cretáceo
inferior para o Cretáceo superior nas porções pro-
A seqüência compreende as formações
ximais e pelo Marco Chalk nas posições não pro-
Goitacás (porção proximal) e Quissamã (porção distal),
ximais. Engloba o andar Albiano superior, tendo
do Grupo Macaé. Também conhecida informalmen-
sido depositada inteiramente ao longo de 6,8 Ma
te como Macaé α (Alfa) ou Macaé Águas Rasas. O
limite inferior é o topo da Formação Retiro/Grupo com taxa de sedimentação máxima de 53 m/Ma.
Lagoa Feia e, o superior, o marco estratigráfico de- A base da seção é informalmente conhecida
nominado Marco Beta, de caráter regional, que cor- como Seção Bota, devido à forma das curvas dos
responde a uma superfície de inundação máxima, perfis de raios gama e resistividade. É composta por
correlacionável ao Marco Glauconítico nas porções calcilutitos com biota plantônica, principalmente
mais proximais da bacia. calcisferulídeos e foraminíferos da Formação Outeiro
A seqüência foi depositada em um período apro- (porções proximal e mediana) e conglomerados
ximado de 4,9 Ma, com uma taxa máxima de deposi- polimíticos e arenitos da Formação Goitacás (porção
ção de 21,5 m/Ma. Litologicamente, ao longo da borda proximal). Em águas profundas há um considerável
oeste da bacia ocorre uma associação complexa de le- enriquecimento em folhelhos e margas, com aumen-
ques aluviais, leques deltáicos e fandeltas (clásticos) além to na quantidade de foraminíferos planctônicos,
de bancos e lagunas calco-pelíticos (sistema misto), co- cocólitos e radiolários.
nhecido como Macaé Proximal (Guardado et al. 1989). Os sedimentos pelágicos dessa seqüência fo-
Nas porções intermediárias predominam sedimentos ram depositados em resposta a uma progressiva su-
carbonáticos depositados em ambiente de energia alta bida relativa do nível do mar que resultou no afoga-
a moderada, representada por bancos de calcarenitos mento da plataforma rasa.
oolíticos, oncolíticos e micro-oncolíticos, formando ciclos Os depósitos arenosos de sistemas originados
de arraseamento ascendente de até 15 m de espessura, por fluxos hiperpicnais compõem a Formação Na-
com porosidades variáveis. As porções distais estão ca- morado, que representa reservatórios arenosos que
racterizadas por um aumento significativo no teor de ocorrem encaixados em baixos deposicionais (intra-
argilas (folhelho Albiano Alfa), com condensação de se- slope basins) gerados e controlados pela tectônica
ção. A base dessa seqüência está caracterizada por um salífera albiana.
sistema carbonático de planície de maré, com
subambientes de supramaré, intermaré e lagunar.
Um pacote de dolomitos muito bem desenvolvi- Seqüência K82-K84
do ocorre na porção proximal das áreas centro e sul da
bacia. Esta fácies, aqui denominada de Membro Búzios A seqüência corresponde às formações Goitacás
da Formação Quissamã, está definida no Apêndice. (proximal), Namorado e Imbetiba (distal) - detalhada
Na área norte da bacia, o sistema proximal no anexo I - compondo a parte superior do Grupo
clástico de textura grossa da Formação Goitacás Macaé. A Formação Imbetiba, aqui definida, corres-
passa a um sistema misto que avança no sentido ponde as margas do intervalo palinológico informal-
das águas profundas. mente conhecido como gama (Cenomaniano).

514 | Bacia de Campos - Winter et al.


A Seqüência K82-K84 tem como limite inferior superior para batial médio, sendo os depósitos de
a discordância que marca a passagem do Cretáceo arenito encontrados confinados em calhas intratalude,
inferior para o Cretáceo superior ou o Marco Chalk. O de direção NW-SE, com padrão de estaqueamento
limite superior é caracterizado pela base de um evento retrogradante (megasseqüência marinha transgressi-
anóxico. A unidade foi depositada, aproximadamente, va). Nas regiões distais ocorreu um forte controle dos
em 6 Ma, com taxa deposicional máxima estimada de evaporitos na deposição dos pacotes arenosos que
55 m/Ma. Nessa unidade predominam as rochas se estaquearam em sub-bacias entre as muralhas e
pelíticas representadas por margas bioturbadas com domos de sal.
foraminíferos bentônicos e planctônicos, além de Este sistema arenoso (Coniaciano/Santoniano)
radiolários. Esses pelitos compõem uma grande cunha é o mais expressivo do Cretáceo da Bacia de Campos.
clástica que selou definitivamente a ocorrência dos car- Nesta seqüência ocorrem rochas representantes de
bonatos do Grupo Macaé. intensa atividade vulcânica, principalmente na área
Os arenitos da Formação Namorado ocorrem sul, de natureza tanto extrusiva (basaltos e
intercalados aos sedimentos pelíticos da Formação hialoclastitos) quanto intrusiva (diabásios e gabros) de
Imbetiba. Nas porções proximais predominam conglo- idade 81,5 a 83,2 Ma (método Ar/Ar). No topo dessa
merados polimíticos e arenitos da Formação Goitacás. unidade ocorrem cinzas vulcânicas, do Campaniano,
Essa unidade foi depositada em ambiente ba- com assinatura peculiar no perfil sônico conhecido como
tial superior, com registro de anoxias episódicas, repre- Marco Três Dedos. Litologicamente são argilitos de
sentadas por folhelhos escuros laminados. cor cinza esverdeada, extremamente higroscópicos,
homogêneos, não-bioturbados e afossilíferos.
Seqüência K86-K88
Seqüência K100 - K110
A seqüência corresponde à porção basal do
Grupo Campos, referente aos andares Turoniano e A seqüência corresponde aos sedimentos de
Coniaciano inferior, envolvendo as formações idade Mesocampaniana. Possui como limite inferior
Ubatuba (Membro Tamoios), Carapebus e Emborê a discordância Mesocampaniana, de 79,6 Ma, e como
(Membro São Tomé - informalmente conhecida limite superior a discordância Neocampaniana de 73 Ma.
como Fácies Clástica). A seqüência compreende as formações Ubatuba
Esta seqüência, depositada ao longo de 5 Ma, (Membro Tamoios), Carapebus e Emborê (Membro
possui como limite inferior os folhelhos turonianos do São Tomé-Fácies Clástica).
Marco Verde, e, superior, a discordância Eoconiaciana Esta seqüência é composta, em sua porção
de 88,5 Ma (Gradstein et al. 2004). Os arenitos do proximal, por sedimentos arenosos avermelhados,
andar Turoniano, depositados em ambiente batial neríticos, típicos de ambiente plataformal raso, inter-
superior, foram gerados a partir de fluxos hiperpicnais pretados como depósitos de fandelta. Nas porções
que produziram depósitos menos encaixados que os intermediárias, predominam folhelhos e, nas distais,
da seqüência inferior. margas com corpos arenosos intercalados. Essa unida-
de faz parte da porção superior da megasseqüência
Seqüência K90 marinha transgressiva, que desloca, em muito, o onlap
costeiro em direção ao continente, com paleobatimetria
batial inferior a abissal na maior parte da bacia.
A seqüência corresponde aos sedimentos
siliciclásticos de idade Eoconiaciana a Mesocampani-
ana, do Grupo Campos, formações Ubatuba (Mem- Seqüência K120
bro Tamoios), Carapebus e Emborê (Membro São
Tomé, informalmente conhecida como Fácies A seqüência compreende os sedimentos silici-
Clástica). Tem como limite inferior a discordância clásticos dos andares Campaniano superior a Maastri-
Eoconiaciana de 88,5 Ma (Gradstein et al. 2004) e, chtiano inferior. Possui como limite inferior a discor-
como limite superior, uma discordância Mesocam- dância Neocampaniana de 73 Ma, e como superior à
paniana em 79,6 Ma. discordância de 69 Ma. A seqüência corresponde às
A deposição dessa seqüência ocorreu em am- formações Ubatuba (Membro Tamoios) e Carapebus,
biente progressivamente mais profundo, de batial caracterizadas por um pacote siliciclástico fino com

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 515


raros corpos arenosos, originados por fluxos nações em onlap contra a sua base, na forma de gran-
hiperpicnais, de ambiente marinho profundo (batial des cunhas. Nessas porções proximais é intensa a ero-
inferior) - e Formação Emborê/Membro São Tomé são com preservação apenas local de relictos sedi-
(Fácies Clástica) - caracterizada por arenitos platafor- mentares de idade Daniana. O trato de mar baixo,
mais avermelhados. Os sedimentos avermelhados do em águas profundas, apresenta depósitos de fluxos
Membro São Tomé da Formação Emborê foram de- hiperpicnais constituídos por arenitos e diamictitos de
positados em ambiente de plataforma costeira, neríti- leques acanalados, bem como canais alimentadores -
co raso, em sistema do tipo fandelta, que ocorre ao quilométricos, preenchidos por conglomerados.
longo da borda oeste da bacia. Esta seqüência encontra-se incompleta por ero-
são até mesmo em águas ultraprofundas. A atividade
Seqüência K130 vulcânica está representada por basaltos, datados de
65,5 Ma (Evento Magmático Cretáceo-Paleógeno) e
62 Ma (Evento Magmático Paleoceno). Na localida-
A seqüência compreende os sedimentos silici- de de Barra de São João, município de Casemiro de
clásticos depositados no andar Maastrichtiano Abreu (RJ) ocorre um corpo alcalino de geometria cir-
subjacente ao limite Cretáceo-Paleógeno. A seqüên- cular, com 3 km de diâmetro e 700 m de altitude,
cia corresponde às formações Ubatuba (Membro representando um monte vulcânico desta idade.
Tamoios) e Carapebus, caracterizadas por um paco-
te siliciclástico fino com corpos arenosos, originados
por fluxos hiperpicnais, de sistemas turbidíticos de- Seqüência E30
positados em ambiente marinho profundo (batial in-
ferior) - e Formação Emborê/Membro São Tomé A seqüência compreende os sedimentos de-
(Fácies Clástica) - caracterizada por arenitos plata- positados durante o Eoceno inferior e tem como li-
formais avermelhados. mite inferior a discordância da passagem do Paleo-
Este sistema arenoso (K130) de águas profun- ceno para o Eoceno e o limite superior à discordân-
das é relativamente mais rico em areia quando com- cia do Eoceno inferior, de 50 Ma. A porção proximal
parado aos plays mais antigos e, de uma maneira está caracterizada pelos sedimentos de fandeltas e
geral, foi depositado em calhas mais amplas e menos deltas da Formação Emborê/Membro São Tomé,
encaixadas, passando a um sistema de depósitos composto por conglomerados e arenitos que reve-
estaqueados entre muralhas de sal nas porções mais lam estilo deposicional retrogradante.
distais. Texturalmente, essas areias são reservatórios Nesta seqüência, os arenitos foram deposita-
de granulação de fina a grossa, limpos e com exce- dos em calhas halocinéticas e, principalmente,
lente potencial permoporoso. Mineralogicamente são tectônicas, relacionadas a reativação de sistemas
arcósios e arcósios líticos, com seleção moderada a transcorrentes NW-SE. Comumente, são observa-
pobre, e grãos subangulosos a angulosos. Nas por- dos retrabalhamentos por correntes de fundo. Mani-
ções mais proximais ocorrem canais discretos, preen- festações vulcânicas, iniciadas na seqüência anterior
chidos por conglomerados e arenitos grossos. (Cretáceo superior e Paleoceno), ocorrem sob a for-
ma de derrames basálticos (Evento Magmático Abro-
Seqüência E10-E20 lhos, de 53 Ma ± 2 Ma). Também foram encontra-
dos hialoclastitos e rochas mistas (lava + sedimen-
tos), denominadas peperitos, em poços da porção
A seqüência engloba os sedimentos deposita- sul da bacia.
dos durante a série Paleoceno. Ela corresponde aos
depósitos das formações Ubatuba (Membro Geribá),
Carapebus, e Emborê (Membro São Tomé). Limita- Seqüência E40-E50
se, na base, pela discordância limítrofe do Cretáceo-
Paleógeno e, no topo, pela discordância que limita as A seqüência compreende os sedimentos de-
séries cronoestratigráficas do Paleoceno e Eoceno. positados entre o final do Eoceno inferior e o Eoceno
Nas porções proximais, no sopé do talude de- médio e tem como limite inferior a discordância do
posicional, são freqüentes as erosões e deposições de Eoceno inferior (50 Ma) e o limite superior à discor-
camadas (drapes) de lama originando depósitos de dância do Eoceno médio, de 41,8 Ma. Nesta seqüên-
debris flow (diamictitos lamosos), que revelam termi- cia ocorrem os primeiros carbonatos plataformais,

516 | Bacia de Campos - Winter et al.


representados por calcarenitos e calcirruditos
bioclásticos (principalmente constituídos por algas
Seqüência E72
vermelhas), quartzosos, com matriz micrítica
(packstone), definindo a litologia predominante no A seqüência compreende os sedimentos que
Membro Grussaí da Formação Emborê. distinguem a passagem do Eoceno superior (andar
Na porção proximal, a sedimentação Priaboniano) para o Oligoceno inferior (andar
(fandeltas) é predominantemente siliciclástica, de Rupeliano). Esta seqüência contempla um pacote
sedimentar com deslocamento no sentido do conti-
conglomerados, arenitos e pelitos clásticos que ca-
nente, representando um aumento na variação rela-
racterizam o Membro São Tomé da Formação Emborê,
tiva do nível do mar.
enquanto nas áreas bacinais ocorrem depósitos are-
Ela se compõe das formações Ubatuba (Mem-
nosos de fluxos hiperpicnais, constituindo os Sistemas
bro Geribá), Carapebus e Emborê (Membros São
Turbidíticos Marginais Mistos (Mutti et al. 2003) da
Tomé e Grussaí). As rochas predominantes nessa se-
Formação Carapebus, além do Sistema Pelítico Bacinal
qüência são arenitos, resultantes de fluxos turbidíti-
da Formação Ubatuba/Membro Geribá. Há registros
cos densos, siltitos e folhelhos. Um avental de dia-
de vulcanismo alcalino (basaltos, diabásios e tufos mictitos ocorre nas porções de base de talude. Nas
vulcânicos), com aproximadamente 43 Ma, corres- porções proximais ocorrem arenitos plataformais da
pondentes ao Evento Magmático Eoceno Médio. Tam- Formação Emborê. Em posições próximas à quebra
bém são encontrados importantes pacotes de diamicti- de plataforma ocorrem calcarenitos e calcirruditos de
tos rodolíticos, denominados pebbly, depositados a bancos algálicos do Membro Grussaí.
partir de fluxo de detritos (debris flow). Localmente,
podem gradar a calcirruditos rodolíticos e conglome-
rados polimíticos, com rodolitos. Seqüência E74
A seqüência corresponde aos sedimentos do
Seqüência E60 Oligoceno inferior, andar Rupeliano. Ela engloba as
formações Ubatuba (Membro Geribá), Carapebus e
A seqüência compreende os sedimentos do Eo- Emborê (Membros São Tomé e Grussaí). Esta seqüên-
ceno médio (parte superior) e Eoceno superior e tem cia contém depósitos de arenitos que ocorrem amal-
como limite inferior a discordância interna ao Eoceno gamados sobre o Marco Azul, em águas profundas.
médio de 41,8 Ma (Gradstein et al. 2004). O limite su- O Marco Azul ocorre em praticamente toda a
perior é a discordância do Eoceno superior, de 34,4 Ma. bacia, composto por calcilutitos ricos em nanoplancton
A porção proximal está caracterizada pelos se- Braarudosphaera bigelowii, que representam um im-
dimentos de fandeltas e deltas da Formação Emborê/ portante evento de inundação na bacia (maximum
Membro São Tomé, composto por conglomerados e flood surface - MFS). Essas camadas de rochas, ori-
arenitos que revelam estilo deposicional progradan- ginadas por depósitos de fitoplânctons, se desen-
te. Os sedimentos carbonáticos são as litologias que volvem sob condições ecológicas específicas de
diferenciam o Membro Grussaí da Formação Emborê. crescimento explosivo, denominado de floração
Nesta seqüência encontram-se os pacotes mais es- fitoplanctônica. O evento que resultou na forma-
pessos de diamictitos (pebbly) e de maior distribuição ção desse particular depósito sedimentar foi prati-
em área na bacia (marco regional). Arenitos maci- camente instantâneo, em escala de tempo geoló-
ços, arenitos laminados com siltitos argilosos, gico, e extremamente abrangente em área - ca-
bioturbados estão intercalados a folhelhos e margas. racterísticas de um verdadeiro marco geológico.
As maiores espessuras de arenitos reservatório ocor- Esse fenômeno é associado às áreas de ressurgência
rem no preenchimento de calhas e baixos deposicio- ou regiões sob grande influência de influxo de nu-
nais, conferindo a esses reservatórios geometria trientes provenientes do continente; em escala glo-
acanalada. Na porção média a superior dessa seqüên- bal, por eventos de degelo em épocas interglaciais
cia, ocorre uma camada regional de diamictitos co- (Shimabokuru, 1994).
nhecida como “pebbly eocênico”. Nessa seção supe- As demais rochas que compõem a suíte mi-
rior a ocorrência de arenitos é menor, devido à falta neral dessa seqüência seguem o padrão do pacote
de continuidade lateral dos arenitos maciços e/ou in- Terciário com arenitos resultantes de fluxos turbi-
tensa diagênese carbonática. díticos densos ou sistemas turbidíticos mistos, silti-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 517


tos e folhelhos, além de diamictitos e margas, subor- algas vermelhas do Membro Siri. São calcirruditos e
dinadamente. Nas porções proximais, ocorrem are- calcarenitos bioclásticos, constituídos por fragmentos
nitos plataformais da Formação Emborê. Em posi- de algas vermelhas micritizadas (também colunares),
ções próximas à quebra de plataforma ocorrem cal- briozoários, miliolídeos, crinóides, moluscos e fragmen-
carenitos e calcirruditos de bancos algálicos do tos de rodolitos e formam camadas de até 4 m de
Membro Grussaí. espessura. Na borda ocidental da bacia – hoje aflorante
(parte emersa da margem continental brasileira) –
Seqüência E80 ocorrem depósitos conglomeráticos, arenosos e
lamosos, de cores variegadas, ricos em concreções
A seqüência compreende os sedimentos do ferruginosas, depositados a partir de processos trativos
Oligoceno superior, andar Chattiano e inclui as de alta energia (ambiente fluvial entrelaçado) e de
formações Ubatuba (Membro Geribá), Carapebus, fluxos gravitacionais relacionados (leques aluviais), que
Emborê (Membro São Tomé e Membro Siri, par- compõem a Formação Barreiras.
te inferior). Arenitos, resultantes de fluxos turbi-
díticos e correntes de contorno, siltitos e folhe- Seqüência N20
lhos são as rochas predominantes. Diamictitos
ocorrem nas porções de base de talude e margas
A seqüência corresponde aos sedimentos da
predominam nas porções de águas profundas. Nas
porção superior do Mioceno inferior e parte do Mio-
porções proximais ocorrem arenitos plataformais
ceno médio, andares Burdigaliano e Langhiano, e in-
da Formação Emborê. Nessa seqüência está in-
clui as formações Ubatuba (Membro Geribá),
cluído um corpo de rochas carbonáticas formada
Carapebus, Emborê (membros São Tomé e Grussaí) e
por um banco recifal de algas vermelhas, que ca-
Barreiras. A suíte mineral desta seqüência segue o
racterizam o Membro Siri.
padrão do pacote Terciário com arenitos resultantes
As rochas do Membro Siri incluem calcirru-
de fluxos turbidíticos densos, siltitos e folhelhos, além
ditos e calcarenitos bioclásticos, constituídos por
de diamictitos e margas, subordinadamente. Nas por-
fragmentos de algas vermelhas micritizadas (tam-
ções proximais ocorrem arenitos plataformais da For-
bém colunares), briozoários, miliolídeos, crinóides,
mação Emborê e sedimentos siliciclásticos ferruginosos
moluscos e fragmentos de rodolitos. Formam ca-
madas de até 4 m de espessura. Nesse ambiente da Formação Barreiras. Em posições próximas, na
deposicional também ocorrem sedimentos quebra de plataforma, ocorrem calcarenitos e calcir-
retrabalhados das porções de maior energia dos ruditos de bancos algálicos do Membro Grussaí.
bancos algálicos. Esta seqüência representa a maior variação
relativa do nível do mar desde o Mioceno até o re-
cente, responsável pela deposição de um grande
Seqüência N10 volume de sedimentos nas porções costeiras e de
interior da placa sul-americana.
A seqüência corresponde aos sedimentos do
Eomioceno, andares Aquitaniano e Burdigaliano e
inclui as formações Ubatuba (Membro Geribá), Seqüência N30
Carapebus, Emborê (Membro São Tomé e Membro
Siri, parte superior) e Barreiras. Arenitos resultantes A seqüência corresponde aos sedimentos da
de fluxos densos e correntes de contorno, siltitos e porção superior do Mioceno médio, andar Serrava-
folhelhos são as rochas predominantes. Os corpos liano, e porção inferior do Mioceno superior, andar
arenosos amalgamados compõem as camadas de Tortoniano. Inclui as formações Ubatuba (Membro
rocha com centenas de metros de espessura. Dia- Geribá), Carapebus, Emborê (membros São Tomé e
mictitos ocorrem nas porções de base de talude e Grussaí) e Barreiras. Possui como limite inferior a dis-
margas predominam nas porções de águas profun- cordância de 13,6 Ma e o limite superior em torno
das. Nas porções proximais ocorrem arenitos de 11 Ma, que corresponde a uma importante dis-
plataformais da Formação Emborê. cordância, que representa uma queda eustática glo-
Nessa seqüência está incluído a porção supe- bal conhecida, informalmente, como Marco Cinza,
rior das rochas carbonáticas formadas pelo recife de facilmente reconhecível em linhas sísmicas.

518 | Bacia de Campos - Winter et al.


O pacote de rochas desta seqüência está com- bal e ao limite superior da discordância em 1,6 Ma
posto por arenitos, siltitos e folhelhos, além de dia- (Gradstein et al. 2004).
mictitos e margas, subordinadamente. Nas porções Esta seqüência está composta por arenitos re-
proximais ocorrem arenitos plataformais da Forma- sultantes de fluxos turbidíticos densos, siltitos, folhe-
ção Emborê e arenitos conglomeráticos e lamas cos- lhos e argilitos, além de grande volume de debris
teiras da Formação Barreiras. Em posições próximas flow compostos por brechas de folhelhos e diamicti-
à quebra de plataforma ocorrem calcarenitos e tos. Margas predominam nas porções muito profun-
calcirruditos de bancos algálicos do Membro Grussaí. das e distais da bacia. Pacotes extensos de diamicti-
tos fornecem, em sísmica, uma sismofácies caracte-
Seqüência N40 rística e peculiar a essa seqüência. A seqüência com-
porta uma série de eventos, de menor ordem, com
registros nas variações do onlap costeiro.
A seqüência corresponde aos sedimentos depo-
sitados no Neomioceno, andar Tortoniano e à parte in-
ferior do andar Messiniano. Ela inclui as formações Seqüência N60
Ubatuba (Membro Geribá), Carapebus e Emborê (mem-
bros São Tomé e Grussaí) e possui como limite inferior a A seqüência corresponde aos sedimentos do
discordância de 11 Ma e o limite superior a discordância sistema Pleistoceno e inclui as formações Ubatuba
em 5,8 Ma, que corresponde a uma importante discor- (Membro Geribá), Carapebus e Emborê (Membros
dância, que representa uma queda eustática global. São Tomé e Grussaí). Ela possui como limite inferior
O pacote sedimentar desta seqüência ocorre a discordância de 1,6 Ma e que corresponde a uma
a partir de um grande evento de queda do nível do importante discordância, relacionada à queda
mar com remobilização de um volume gigantesco eustática global. O limite superior são os sedimentos
de sedimentos, inclusive arenitos plataformais, para atuais do fundo marinho.
águas profundas. São visíveis os relictos deixados por A faciologia dominante na porção de platafor-
esse evento erosivo (Tortoniano) nas partes emersas ma está representada por areias e próximo à quebra
das bacias costeiras desde o Rio de Janeiro até a de plataforma os corpos de calcário. Apenas na re-
região do Pará-Maranhão. A discordância superior gião de Cabo Frio (RJ) ocorrem lamas depositadas na
dessa unidade (5,8 Ma) corresponde a outro grande plataforma. Na porção do talude predominam lamas,
evento de rebaixamento eustático. lamitos de denudação e corais de águas profundas.
A assembléia mineral dessa seqüência está Cânions lamosos e arenosos cortam o talude. Na re-
representada por arenitos resultantes de fluxos turbi- gião do sopé do talude predominam cunhas de dia-
díticos densos, siltitos, folhelhos e argilitos, além de mictitos e lamas que ocorrem também nas áreas mais
grande volume de debris flow compostos por bre- distais cortadas por raros cânions arenosos.
chas de folhelhos e diamictitos. Margas predominam A assembléia mineral dessa seqüência está
nas porções mais profundas e distais da bacia. Nas composta por arenitos resultantes de fluxos turbidíti-
porções proximais ocorrem arenitos plataformais da cos densos, argilitos, além de grande volume de
Formação Emborê. Em posições próximas à quebra debris flow compostos por brechas de folhelhos, ar-
de plataforma ocorre calcarenitos e calcirruditos de gilitos e diamictitos. Margas predominam nas por-
bancos algálicos do Membro Grussaí. ções muito profundas e distais da bacia e a seqüên-
cia suporta uma série de eventos de menor ordem
de variações do onlap costeiro.
Seqüência N50
A seqüência engloba os sedimentos do andar
superior do Mioceno superior, andar Messiniano, e
parte superior e todo o Plioceno, andares Zancleano, referências
Piacenziano e Gelasiano. Ela inclui as formações
Ubatuba (Membro Geribá), Carapebus e Emborê
bibliográficas
(Membros São Tomé e Grussaí) e possui como limite
inferior a discordância de 5,8 Ma, que é uma impor- GRADSTEIN, F. M.; OGG, J. G; SMITH, A. G. A
tante discordância relacionada à queda eustática glo- geologic time scale. Cambridge: Cambridge

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 519


University Press, 2004. 589 p. il. • nome: o nome da Formação Itabapoana deri-
va da cidade de São Francisco de Itabapoana,
situada a norte do Estado do Rio de Janeiro;
GUARDADO, L. R.; GAMBOA, L. A. P; LUCHESI, C. F.
Petroleum geology of the campos basin, a model for a • equivalência regional: baseado em dados
producing atlantic type basin. In: EDWARDS, J. D.; bioestratigráficos e cronogeológicos, bem
SANTOGROSSI, P. A. (Ed.). Divergent/passive margin como correlações estratigráficas regionais, esta
basins. Tulsa: American Association of Petroleum unidade pode ser correlacionada com as for-
Geologists, 1989. p. 3-79. (AAPG. Memoir, 48). mações Chela (porção superior da Formação
Itabapoana) e Lucula (porção inferior da For-
mação Itabapoana), da Bacia de Cabinda e
MUTTI, E.; TINTERRI, R.; BENEVELLI, G.; DI BIASE,
Kwanza (oeste africano). Representam as por-
D.; CAVANNA, G. Deltaic, mixed and turbidite
ções basal, oriental e do rifte proto-Atlântico;
sedimentation of ancient foreland basins. Marine and
Petroleum Geology, Oxford, v. 20, n. 6-8, p. 733- • seção tipo: a Formação Itabapoana ocorre
756, June/Sep. 2003. apenas em subsuperfície e está definida no
poço Rio de Janeiro Submarino 58 (1-RJS-58;
RANGEL, H. D.; MARTINS, F. A.; ESTEVES, F. R.; FEIJÓ, F. 210 36’ 9,37" S e 400 38’13,64"W), perfura-
J. Bacia de Campos. Boletim de Geociências da Petro- do em 1978, tendo atingido a profundidade
bras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 203-217, jan./mar. 1994. máxima de 3.796 m. Ocorre entre as profun-
didades de – 2.731 m / -3.105 m e -3.429 m /
-3.677 m, perfazendo um total de 522 m de
SCHALLER, H. Estratigrafia da Bacia de Campos. In: seção clástica (fig.1);
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 27., 1973,
Aracaju. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de • litologia: predominam os ortoconglomerados
Geologia, 1973. v. 3, p. 247-258. polimíticos, com seixos de basaltos, arenitos,
ígneas e raros carbonatos, depositados sobre
a forma de fandeltas e leques aluviais, em
SHIMABUKURO, S. “Braarudosphaera chalk”: in- ambiente lacustrino/lagunar. Essas rochas es-
vestigações sobre a gênese de um marco estratigráfi- tão descritas no testemunho n02 do poço 1-
co. 1994. 120 p. Tese (Mestrado) – Universidade Fe- RJS-58 (-2.834 m / 2.846 m);
deral do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1994.
• distribuição: ocorre em toda a borda oeste da
Bacia de Campos, em batimetrias de até 150
m (atuais). A partir dessa batimetria, para les-
te, muda faciologicamente para pelitos da For-
apêndice: mação Gargaú;

litoestratigrafia • contatos e relações estratais: os sedimen-


tos terrígenos da Formação Itabapoana de-
positam-se discordantemente sobre os basal-
Grupo Lagoa Feia/Formação tos da Formação Cabiúnas. O contato supe-
rior com as formações Atafona e Coqueiros
Itabapoana ocorre sob a forma de uma expressiva discor-
dância angular observada em sísmica e mu-
Esta unidade está representada por conglome- dança litológica para os pelitos da Formação
rados polimíticos e arenitos líticos de fandeltas proxi- Atafona ou carbonatos da Formação Coquei-
mais (leques de borda), recorrentes em todo o Cretá- ros. Distalmente, a Formação Itabapoana gra-
ceo inferior na borda ocidental da bacia, associados da para fácies pelíticas da Formação Atafona
aos falhamentos de borda de blocos estruturais. A ou carbonatos da Formação Coqueiros. Na se-
espessura máxima desses sedimentos chega a 5.000 m ção superior do Andar Alagoas, grada para a
nos principais depocentros proximais da bacia. fácies peliticas (margas e folhelhos) da Forma-

520 | Bacia de Campos - Winter et al.


ção Gargaú e, por vezes, carbonatos da Forma-
ção Macabu;

• idade: a Formação Itabapoana está bem de-


finida quanto a sua idade uma vez que ocor-
re entre os basaltos da Formação Cabiúnas
(datados de 130 a 136,4 Ma) e os evaporitos
da Formação Retiro (datados em 111,3 a 112
Ma). Os dados palinológicos e de ostracodes
indicam que as rochas dessa unidade per-
tencem aos andares Barremiano e Aptiano,
equivalente aos andares locais Aratu,
Buracica, Jiquiá e Alagoas.

Grupo Lagoa Feia/Formação


Atafona
A Formação Atafona está representada por
siltitos, arenitos e folhelhos lacustres, com intercala-
ções de delgadas camadas carbonáticas. Os siltitos
e arenitos apresentam minerais de talco e estevensita,
originados por processos de deposição química asso-
ciados à atividade hidrotermal em lagos vulcânicos
alcalinos. Nesta seqüência, ocorre um pacote pelítico,
de ambiente lacustre de águas doces, conhecido in-
formalmente como folhelho Buracica.

• nome: o nome Formação Atafona deriva do


nome da praia de Atafona, localizada no mu-
nicípio de São João da Barra, a norte do Esta-
do do Rio de Janeiro;

• equivalência regional: baseado em dados


bioestratigráficos e cronológicos, bem como
correlações estratigráficas regionais, esta uni-
dade pode ser correlacionada com a seção
basal do poço 1-RJS-625 (intervalo -6.406 m/
-6.476 m), situado na porção norte da Ba-
cia de Santos;

• seção tipo: a Formação Atafona ocorre


apenas em subsuperfície e está definida no
poço Rio de Janeiro Submarino 13 (1-RJS-
13; 22 0 41’ 44,72" S e 40 0 49’ 48,20"W),
perfurado em 1975, tendo atingido a pro-
fundidade máxima de -3.234 m (descobri-
dor do Campo de Badejo). Ocorre entre as
profundidades de – 3.039 m / -3.163 m,
perfazendo um total de 124 m de seção
Figura 1 – Seção Tipo da Figure 1 – Itabapoana
clástica (fig.2);
Formação Itabapoana – Formation Reference
Grupo Lagoa Feia. Section – Lagoa Feia Group.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 521


• litologia: predominam, arenitos e folhelhos ca imprecisa; lateralmente, a Formação
lacustres, com minerais de talco e estevensita, Atafona grada para fácies arenoconglomerá-
originados por processos de deposição quí- ticas da Formação Itabapoana;
mica associados à atividade hidrotermal em
lagos vulcânicos alcalinos. Estas rochas es- • contatos e relações estratais: os sedimen-
tão descritas no testemunho n01 do poço 1- tos terrígenos da Formação Atafona deposi-
RJS95 (-4.294 m / -4.302 m); tam-se, discordantemente, sobre os basaltos
da Formação Cabiúnas ou com os conglome-
rados da Formação Itabapoana. O contato su-
• distribuição: ocorre preferencialmente nas
perior ocorre também, discordantemente,
porções sul e centro da Bacia de Campos, nos
com as rochas pelíticas e os carbonatos da
depocentros dos lagos rasos da fase rifte. A
Formação Coqueiros;
presença desta unidade em posições mais dis-
tais da Bacia de Campos não foi avaliada atra-
• idade: a Formação Atafona está definida – com
vés de poços, sendo sua caracterização sísmi-
base em datações pelos métodos palinológicos e

Figura 2 – Seção Tipo da Formação Atafona – Grupo Lagoa Feia. Figure 2 – Atafona Formation Reference Section – Lagoa Feia Group.

522 | Bacia de Campos - Winter et al.


de ostracodes - como tendo sido depositada no
Andar Barremiano (equivalente à parte superior
do Andar locar Aratu e ao Andar Buracica).

Grupo Lagoa Feia/Formação


Gargaú
A Formação Gargaú está representada pre-
dominantemente por rochas pelíticas, tais como fo-
lhelhos, siltitos e margas, intercalados por arenitos e
calcilutitos, que gradam distalmente para os carbo-
natos da Formação Macabu.

• nome: o nome Formação Gargaú deriva da


localidade Barra de Gargaú, localizada no mu-
nicípio de São Francisco de Itabapoana, a nor-
te do Estado do Rio de Janeiro;

• equivalência regional: baseado em dados bi-


oestratigráficos e cronogeológicos, bem como
correlações estratigráficas regionais, esta uni-
dade pode ser correlacionada com algumas
seções pelíticas das formações Chela e
Bucomazi, da Bacia de Cabinda e folhelho
Lukunga da Bacia de Kwanza;

• seção tipo: a Formação Gargaú ocorre ape-


nas em subsuperfície e está definida no poço
pioneiro, Rio de Janeiro Submarino 102A (1-
RJS-102A; 22 0 26’ 48,224" S e 40 0 34’
3,698"W), perfurado em 1979/80, tendo atin-
gido a profundidade máxima de -5.027 m.
Ocorre entre as profundidades de – 3.932 m
-4.347 m, perfazendo um total de 415 m de
seção clástica (fig.3);

• litologia: predominam margas e calcilutitos,


depositados em ambiente costeiro raso, com
eventuais aportes de siliciclastos arenosos e,
mais raramente, conglomeráticos. Essas ro-
chas estão descritas no testemunho n01 do
poço 1-RJS118 (-4.251 m / -4.265 m);

• distribuição: ocorre preferencialmente nas


porções sul e centro da Bacia de Campos, nos
depocentros dos lagos rasos da fase
transicional. A presença dessa unidade em
posições mais distais da Bacia de Campos não
foi avaliada através de poços, sendo sua ca-
racterização sísmica imprecisa; Figura 3 – Poço 1-RJS-102A – Seção Tipo Figure 3 – Well 1-RJS-102A – Gargaú Formation
da Formação Gargaú, Grupo Lagoa Feia. Reference Section – Lagoa Feia Group.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 523


• contatos e relações estratais: os sedimen- estratos arenosos (dunas eólicas?) e folhe-
tos terrígenos da Formação Gargaú deposi- lhos. Essas rochas estão descritas nas amos-
tam-se discordantemente sobre os sedimen- tras laterais do poço 3-ESP-21-RJS (intervalo
tos carbonáticos da Formação Coqueiros. O -3.701 m / -3.845 m);
contato superior ocorre também, discordan-
temente, com as rochas evaporíticas da For- • distribuição: ocorre preferencialmente nas
mação Retiro. Lateralmente, a Formação porções sul e centro da Bacia de Campos, em
Gargaú grada para as fácies carbonáticas da áreas mais distais da Bacia de Campos;
Formação Macabu (distal) e fácies areno-
conglomeráticas da Formação Itabapoana; • contatos e relações estratais: os sedimen-
tos carbonáticos da Formação Macabu de-
• idade: a Formação Gargaú está definida, com positam-se discordantemente sobre os se-
base em datações pelos métodos palinológi- dimentos terrígenos da Formação Coquei-
cos e de Ostracodes, como depositada no An- ros ou, mais raramente, sobre o embasa-
dar Aptiano (equivalente a parte superior do mento basáltico da bacia. O contato supe-
Andar local Alagoas). rior é discordante com os evaporitos da
Formação Retiro;

Grupo Lagoa Feia/Formação • idade: a Formação Macabu foi depositada,


com base em datações pelos métodos pali-
Macabu nológicos e de ostracodes, no Andar Aptiano
superior (equivalente à parte superior do An-
A Formação Macabu está representada por dar local Alagoas).
sedimentos carbonáticos (estromatolitos e laminitos
microbiais) depositados em ambiente árido e raso.
Grupo Macaé/Formação
• nome: o nome Formação Macabu deriva
do nome da cidade de Conceição de Quissamã/Membro Búzios
Macabu, situada a norte do Estado do Rio
de Janeiro; A porção proximal da Formação Quissamã está
caracterizada por estratos de dolomitos que apre-
• equivalência regional: baseado em dados sentam um sistema poroso complexo composto por
bioestratigráficos e cronogeológicos, bem brechas, vugs, grutas e cavernas que respondem por
como correlações estratigráficas regionais, esta uma perda de circulação de fluidos durante a perfu-
unidade pode ser correlacionada com a seção ração. Esta unidade foi perfurada por dezenas de
carbonática da Formação Guaratiba, na Bacia poços na região dos campos de Pampo, Linguado,
de Santos; Badejo e arredores.
À medida que se avança bacia adentro, os
• seção tipo: a Formação Macabu ocorre
corpos de dolomito tornam-se mais delgados e res-
apenas em subsuperfície e está definida no
tritos a seção basal da Formação Quissamã.
poço pioneiro, Rio de Janeiro Submarino 602
(1-RJS-602; 22 0 22’ 17,39" S e 39 0 51’ • nome: o Membro Búzios, da Formação
38,09"W), perfurado em 2002/03, tendo Quissamã, tem seu nome derivado da cidade-
atingido a profundidade máxima de -5.218 m. balneário de Búzios, localizada no litoral do
Ocorre entre as profundidades de – 4.532 m Estado do Rio de Janeiro;
-4.846 m, perfazendo um total de 314 m de
seção predominantemente carbonática • equivalência regional: baseado em dados bi-
(fig.4). oestratigráficos e cronogeológicos, bem como
correlações estratigráficas regionais, esta unida-
• litologia: predominam laminitos microbiais de pode ser correlacionada com a seção basal da
e estromatolitos, localmente dolomitizados Formação Guarujá, na Bacia de Santos, e Forma-
e/ou silicificados, com raras intercalações de ção Pinda, na Bacia de Cabinda (oeste africano);

524 | Bacia de Campos - Winter et al.


Figura 4 – Seção Tipo da Formação Macabu – Grupo Lagoa Feia. Figure 4 – Macabu Formation Reference Section – Lagoa Feia Group.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 525


• seção tipo: o Membro Búzios da Formação mente. O caráter brittle dessas litologias favorece
Quissamã ocorre apenas em subsuperfície e está a ocorrência de fraturas, falhas, brechas e caver-
definido no poço Rio de Janeiro Submarino 157C nas, resultando em um sistema poroso comple-
(1-RJS-157C; 220 46’ 10,28" S e 400 48’ xo, com freqüentes perdas de circulação quando
54,70"W), perfurado em 1981, tendo atingido da perfuração de poços petrolíferos;
a profundidade máxima de -3.224 m (descobri-
dor do Campo de Badejo). Ocorre entre as pro- • distribuição: ocorre preferencialmente nas por-
fundidades de -2.389 m / -2.646 m, perfazendo ções sul e centro da Bacia de Campos. Adelgaça
um total de 257 m de seção clástica (fig.5); em direção às porções mais distais da Bacia de
Campos, onde se encontra ausente. Nas porções
• litologia: predominam dolomitos com central e distal é comum a ocorrência de interca-
cristalinidade fina a grossa, derivados de lações de microdolomitos intercalados a anidritas,
mudstones e grainstones depositados primaria- representando uma transição de um ambiente
de sabkha, para um ambiente marinho;

• contatos e relações estratais: os dolomitos do


Membro Búzios são produtos da diagênese pre-
coce dos carbonatos basais, de águas rasas, da
Formação Quissamã. Soluções ricas em magnésio
percolando estes sedimentos basais resultaram
numa gama variegada de texturas, com dife-
rentes graus de porosidade/permeabilidade. Em
se tratando de uma unidade diagenética, seus
contatos apresentam-se interdigitados tanto com
os carbonatos da Formação Quissamã quanto
com os siliciclastos da Formação Goitacás;

• idade: o Membro Búzios está definido, com


base em datações pelos métodos palinológi-
cos e nanofósseis, como depositada no Andar
Albiano inferior.

Grupo Macaé/Formação
Imbetiba
A porção superior do Grupo Macaé está caracte-
rizada por sedimentos pelíticos com ampla predominân-
cia de margas, depositados no Andar Cenomaniano.

• nome: a Formação Imbetiba tem seu nome


derivado da praia de Imbetiba, na cidade de
Macaé, localizada no litoral norte do Estado
do Rio de Janeiro;

• equivalência regional: baseado em dados


bioestratigráficos e cronogeológicos, bem
como correlações estratigráficas regionais, esta
unidade pode ser correlacionada com a seção
superior (pelitos) da Formação Guarujá, da
Figura 5 – Seção Tipo da Formação Figure 5 – Quissamã/Búzios Member Bacia de Santos e seção superior da Forma-
Quissamã/Membro Búzios. Formation Reference Section. ção Regência da Bacia do Espírito Santo;

526 | Bacia de Campos - Winter et al.


• seção tipo: a Formação Imbetiba ocorre ape-
nas em subsuperfície e está definida no poço
Rio de Janeiro Submarino 509A, do Campo
de Espadarte (1-RJS-509A; 220 47’ 59,23" S
e 40 0 30’ 16,06"W), perfurado em 1995/
96, tendo atingido a profundidade máxima
de -3.297 m. Ocorre entre as profundidades
de -3.013 m / -3.202 m, perfazendo um total
de 189 m de seção terrígeno-carbonática (fig.6);

• litologia: predominam margas, com raros are-


nitos erráticos turbidíticos. Nas porções proximais
gradam a sedimentos arenosos de fandeltas e
leques de borda. Esta unidade representa o afo-
gamento da plataforma carbonática albiana;

• distribuição: ocorre praticamente em toda


a Bacia de Campos, sendo restrita em algu-
mas porções da área norte da bacia, devido
ao influxo terrígeno;

• contatos e relações estratais: os sedimen-


tos margosos da Formação Imbetiba deposi-
tam-se, discordantemente, sobre os calciluti-
tos da Formação Outeiro nas regiões proxi-
mais e em concordância relativa nas porções
mais distais. O contato superior é discordante
com as rochas pelíticas da Formação Tamoios.
Nas regiões proximais, as margas dão lugar à
sedimentação clástica terrígena (conglomera-
dos e arenitos) de fandeltas;

• idade: a Formação Imbetiba está definida,


com base em datações pelos métodos pali-
nológicos e de nanofósseis, como depositada
no Andar Cenomaniano. Figura 6 – Seção Tipo da Formação Figure 6 – Imbetiba do Formation
Imbetiba do Grupo Macaé. Reference Section.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 527


BACIA DE CAMPOS WILSON RUBEM WINTER et al.

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
PLEISTOCENO

EMBORÊ
PLIOCENO EO ZAN C LE AN O

SAÍ
NEÓGENO

M E S S I N I AN O

BARREIRAS
NEO
MIOCENO

SÃO TOMÉ

GRU S
10 TO RTONIAN O

S E R R AVAL IA N O

PROFUNDO / TALUDE / PLATAFORMA


MESO
LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O
20 EO
MARINHO REGRESSIVO

AQ U I TAN IA N O

SIRI
OLIGOCENO

NEO C HAT T IAN O

UBAT UBA
30
EO R UP ELIANO

Í
G RU SSA
NEO P R I AB O N I AN O
PAL E Ó G E N O

BAR T O N I AN O
40
EOCENO

EMBORÊ
MESO
L UT E T I AN O

50
EO Y P R E S I AN O

2940
GERIBÁ
CAMPOS
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O

70
( SEN O NIANO )

MARINHO TRANSGRESSIVO

2250
1500
CARAPEBUS
CAM PAN IAN O

80
PROFUNDO
NEO

SAN T O N I AN O
K90
C O N I AC I AN O

K86-
K88
90
T U R O N I AN O
NAMORADO

K82-
K84
C E N O MA N IA N O IMBETIBA
GOITACÁS

500
CRETÁCEO

MACAÉ

100
OUTEIRO K70
AL B I AN O
( GÁ LI CO )

PLATAFORMA QUISSAMÃ K60


110 RASA 1050
RESTRITO / K48
ITABAP.

500
LAGOA FEIA

LAGUNAR K46
ALAGOAS
CONTINENTAL

APTIANO
EO

120
ITABAPOANA

JIQUIÁ
COQUEIROS 2400 K38
BARRE- BURACICA
MIANO LACUSTRE ATAFONA 2000 K36
130
ARAT U
(N EO CO M IAN O )

650

K20-
K34

HALTE-
RIVIANO
CABIÚNAS

VALAN-
GINIANO RIO
140 DA
BERRIA- SERRA
MIANO

TITHO- DOM
NIANO JOÃO
150
542
PRÉ-CAMBR IANO E M B A S A M E N T O

528 | Bacia de Campos - Winter et al.


BACIA DE CAMPOS WILSON RUBEM WINTER et al.

TECTÔNICA E MAGMATISMO Ma

10

20

30

40

50

60

70

80

90
DRIFTE

100

110

120

130

140

150
542

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 511-529, maio/nov. 2007 | 529


Bacia de Santos

Jobel Lourenço Pinheiro Moreira1, Cláudio Valdetaro Madeira2, João Alexandre Gil3,

Marco Antonio Pinheiro Machado3

Palavras-chave: Bacia de Santos l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Santos Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução embasamento
A Bacia de Santos situa-se na região sudeste O embasamento cristalino da Bacia de Santos
da margem continental brasileira, entre os paralelos aflorante na região de São Paulo é caracterizado por
23o e 28o Sul, ocupando cerca de 350.000 km2 até a granitos e gnaisses de idade pré-cambriana perten-
cota batimétrica de 3.000 m. Abrange os litorais dos centes ao Complexo Costeiro e metassedimentos da
Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e San- Faixa Ribeira.
ta Catarina, limitando-se ao norte com a Bacia de O embasamento econômico da Bacia de San-
Campos pelo Alto de Cabo Frio e ao Sul com a Bacia tos é definido pelos basaltos da Formação Camboriú,
de Pelotas pela Plataforma de Florianópolis. que cobrem discordantemente o embasamento pré-
A litoestratigrafia da Bacia de Santos foi inicial- Cambriano, constituindo a Seqüência K20-K34.
mente definida na década de 70. Em seguida, Perei- Uma importante feição do embasamento da
ra e Feijó (1994), com poucos poços disponíveis, es- bacia é a charneira cretácica ou charneira de Santos
tabeleceram um excelente arcabouço crono-estrati- que limita os mergulhos suaves do embasamento a
gráfico em termos de seqüências deposicionais. oeste, dos mais acentuados a leste. A sedimentação
Este trabalho visa atualizar o arcabouço crono- cretácica ocorre somente costa afora dessa feição.
litoestratigráfico da bacia com ênfase na individuali- O limite da crosta oceânica com a crosta continental
zação em seqüências deposicionais, em função do estirada ocorre imediatamente a leste da feição
grande volume de dados obtido nos últimos anos. fisiográfica denominada de platô de São Paulo.

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sul/Pólo Norte - e-mail: jobel@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sudeste/Pólo Norte
3
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Sul/ Pólo Centro

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 531


Superseqüência Rifte Seqüência K38
O registro sedimentar da fase rifte na Bacia A Seqüência K38, informalmente denomina-
de Santos, a exemplo da Bacia de Campos, inicia- da seqüência das coquinas na Bacia de Campos,
se no Hauteriviano (Rio da Serra e Aratu) e prolon- corresponde à Formação Itapema do Grupo
ga-se ao início do Aptiano (Jiquiá), sendo subdivi- Guaratiba, cujos sedimentos depositaram-se desde
dido em três seqüências deposicionais denomina- do Neobarremiano ao Eoaptiano (andares locais
das K20-K20-K34, K36 e K38. Buracica superior ao Jiquiá). Seu limite inferior é a
Litoestratigraficamente, a antiga Formação discordância intrabarremiano de 126,4 Ma e o limi-
Guaratiba foi elevada neste trabalho à categoria de te superior é a discordância da base do Alagoas,
Grupo, sendo composta por cinco formações das conhecida por discordância pré-Alagoas (DPA) na
quais três estão inseridas na fase rifte (formações Bacia de Campos.
Camboriú, Piçarras e Itapema) e duas na fase pós- Esta seqüência é caracterizada por apre-
rifte (formações Barra Velha e Ariri). Deste modo, as sentar intercalações de calcirruditos e folhelhos es-
Seqüências K36 e K38 correspondem às formações curos. Os calcirruditos são constituídos por fragmen-
Piçarras e Itapema, respectivamente. tos de conchas de pelecípodes que freqüentemen-
te encontram-se dolomitizados e/ou silicificados. Nas
porções mais distais ocorrem folhelhos escuros, ri-
Seqüência K20-K34 cos em matéria orgânica. No poço 1-RJS-625, cons-
tatou-se 110 m de folhelhos radioativos e carbona-
A Seqüência K20-K34 tem limite inferior dis- tos intercalados.
cordante com as rochas do Embasamento e como Leques aluviais de conglomerados e arenitos
limite superior a discordância com os sedimentos da representam as fácies proximais desta unidade.
Seqüência K36.
Esta seqüência é composta por derrames
basálticos eocretáceos sotopostos ao preenchimento
sedimentar de praticamente toda a Bacia de Santos.
Trata-se de basalto cinza-escuro, holocristalino, gra- Superseqüência Pós-Rifte
nulação média, textura ofítica (diabásio), tendo por
constituintes principais o plagioclásio e o piroxênio
(augita), comumente pouco alterados. Litoestratigra-
Seqüência K44
ficamente, é denominada de Formação Camboriú.
Corresponde à porção inferior da Formação
Barra Velha do Grupo Guaratiba, cujos sedimen-
Seqüência K36 tos depositaram-se durante o Eoaptiano, equiva-
lente ao andar local Alagoas inferior. A Seqüên-
A Seqüência K36, informalmente conhecida cia K44 tem seu limite inferior dado pela discor-
como seqüência talco-estevensita na Bacia de Cam- dância conhecida como pré-Alagoas na Bacia de
pos, corresponde litoestratigraficamente à Formação Campos. Seu limite superior é dado pela discor-
Piçarras, cujos sedimentos foram depositados no dância de 117 Ma, que corresponde a um refle-
Andar Barremiano, equivalente aos andares crono- tor sísmico de forte impedância acústica positiva
estratigráficos locais Aratu superior e Buracica. Seu de caráter regional. Derrames de composição
limite inferior é a discordância no topo dos basaltos basáltica datados pelo método Ar/Ar em 117 Ma
da Seqüência K20-K34 e o limite superior a discor- são síncronos a esta seqüência.
dância da base da Seqüência K38. O ambiente deposicional desta seqüência
Litologicamente, a Formação Piçarras é com- é marcado por um ambiente transicional, entre con-
posta por leques aluviais de conglomerados e areni- tinental e marinho raso, bastante estressante, com
tos polimíticos constituído de fragmentos de basalto, a deposição de calcários microbiais, estromatólitos
quartzo, feldspato, nas porções proximais, e por are- e laminitos nas porções proximais e folhelhos nas
nitos, siltitos e folhelhos de composição talco- porções distais. Ocorrem também grainstone e pa-
estevensítica nas porções lacustres. ckstones compostos por fragmentos dos estromató-

532 | Bacia de Santos - Moreira et al.


litos e bioclástos (ostracodes) associados. Tais car-
bonatos encontram-se por vezes parcial ou total- Superseqüência Drifte
mente dolomitizados.
Seqüência K60
Seqüência K46-48
A Seqüência K60 é composta por três se-
qüências deposicionais de 3ª ordem perfazendo
Corresponde à porção superior da Forma-
uma duração total de 8,9 Ma. Ocorrem três im-
ção Barra Velha do Grupo Guaratiba, cujos sedi-
portantes folhelhos radioativos que representam
mentos depositaram-se durante o Neoaptiano,
três grandes períodos de inundações marinhas
equivalente ao andar local Alagoas superior. Seu
desde o Albiano inferior até a porção basal do
limite inferior é dado pela discordância de 117 Ma,
Albiano superior.
que corresponde a um refletor sísmico de forte
Esta seqüência é composta pela parte infe-
impedância acústica positiva de caráter regio-
rior da Formação Florianópolis, Formação Guarujá
nal. O limite superior é a base dos evaporitos de
e a porção basal da Formação Itanhaém. Seu limi-
113 Ma que marca a passagem da seqüência
te inferior é o topo das anidritas da Formação Ariri
sedimentar clástica/carbonática para um ambien-
e o seu limite superior é marcado pela entrada dos
te evaporítico.
primeiros sedimentos arenosos da Formação
A Formação Barra Velha se caracteriza pela
Itanhaém, acima do marco estratigráfico folhelho
ocorrência de calcários microbiais intercalados a fo-
radioativo denominado Beta.
lhelhos. Trata-se de calcários estromatolíticos e
A Formação Florianópolis corresponde às fácies
laminitos microbiais, localmente dolomitizados.
proximais e está constituída por conglomerados, are-
As porções proximais à Formação Barra Ve-
nitos e folhelhos associado a sistemas de leques
lha são compostas por leques aluviais de arenitos
aluviais e deltaicos.
e conglomerados.
A Formação Guarujá é caracterizada pela im-
O ambiente deposicional desta seqüência é
plantação de uma plataforma carbonática ao lon-
semelhante ao da seqüência anterior (ambiente
go do Albiano. Fisiograficamente, divide-se este am-
transicional, entre continental e marinho raso bas-
biente em plataforma interna e externa. Na plata-
tante estressante).
forma interna encontram-se folhelhos e calcilutitos
de um sistema lagunar e calcirruditos e calcareni-
Seqüência K50 tos oolíticos e/ou oncolíticos pertencentes ao ban-
co raso em borda de plataforma. Na plataforma
externa ocorrem calcilutitos e margas gradando ou
Corresponde aos evaporitos da Formação interdigitando a folhelhos escuros nas porções ba-
Ariri, que se depositaram no Neoaptiano, equi- cinais. Quintaes (2006) reconhece a ocorrência de
valente ao andar local Alagoas superior. Diferen- intervalos potenciais geradores desde a seção ba-
te das cartas anteriores, o tempo estimado de sal da seqüência.
deposição para os evaporitos é de 0,7 a 1 Ma A parte inferior da Formação Itanhaém é cons-
(Dias, 1998), permanecendo, ainda, imprecisa a tituída pelo folhelho radioativo Marco Beta e margas
taxa de acumulação devido à alta mobilidade da calcilititos sobrejacentes.
halita. Seu limite inferior é dado pelo contato com
os carbonatos da Seqüência K46-K48 (113 Ma),
enquanto seu limite superior é dado pela passa- Seqüência K70
gem entre os evaporitos e os sedimentos silici-
clásticos/carbonáticos das formações Florianópolis Corresponde às formações Florianópolis
e Guarujá. (proximal), Itanhaém (distal) e o Membro Tombo.
Geralmente, os evaporitos são compostos O limite inferior desta seqüência é dado pelo
por halita e anidrita. Entretanto, constatou-se a pre- Marco Beta nas porções distais e, nas porções proxi-
sença de sais mais solúveis, tais como, taquidrita, mais, é limitada pela discordância do topo dos sedi-
carnalita e, localmente, silvinita. mentos carbonáticos da Formação Guarujá. O limite
superior é marcado por uma discordância que coinci-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 533


de com a passagem do Cretáceo inferior para o O Marco Radioativo Turoniano corresponde à
Cretáceo superior. Esta seqüência engloba o andar base do evento anóxico de caráter global oceanic anoxic
Albiano superior. event (OAE-2) e está associada à presença de folhe-
Os depósitos da Formação Florianópolis cor- lhos radioativos.
respondem a arenitos e folhelhos relacionados a A Formação Itajaí-Açu é caracterizada por
sistemas de leques aluviais e deltaicos, enquan- folhelhos e argilitos cinza-escuros depositados nos
to a Formação Itanhaém é caracterizada por ambientes de plataforma distal, talude e bacia. Os
folhelhos e, mais raramente, margas de origem arenitos da Formação Tombo ocorrem intercalados aos
marinha distribuídas desde a plataforma até as sedimentos pelíticos da Formação Itanhaém.
regiões bacinais.
Interacamadados na Formação Itanhaém
encontram-se os depósitos arenosos de sistemas
Seqüência K88
originados por fluxos gravitacionais densos que
compõem o Membro Tombo. Estes arenitos ge- Corresponde aos depósitos referentes aos an-
ralmente ocorrem encaixados em baixos deposi- dares Turoniano e Coniaciano envolvendo as forma-
cionais gerados e controlados pela tectônica ções Santos, Juréia e Itajaí-Açu e Membro Ilhabela.
salífera albiana. Esta seqüência, depositada ao longo de 5,4 Ma,
Esta seqüência apresenta um padrão retrogra- possui como limite inferior a discordância
dante e seus depósitos são resposta a uma progressi- intraturoniana e como limite superior a discordância
va subida relativa do nível do mar com afogamento Santoniana de 85,8 Ma.
da plataforma rasa pelos sedimentos pelágicos. A Formação Juréia ocorre sob a forma de se-
dimentos arenosos folhelhos, siltitos e argilitos de-
positados desde os ambientes continentais até as
Seqüência K82-K86 porções mais distais da plataforma. Os arenitos re-
lacionados ao Membro Ilhabela do andar Turonia-
Esta seqüência tem como limite inferior a dis- no, depositados em ambiente batial superior, fo-
cordância que marca a passagem do Cretáceo infe- ram gerados a partir de fluxos hiperpicnais que pro-
rior para o Cretáceo superior. O limite superior é ca- duziram depósitos menos encaixados que os da se-
racterizado pela discordância de 91,2 Ma qüência inferior.
(intraturoniana). Esta unidade engloba as unidades li-
toestratigráficas do Grupo Camburi e do Grupo Frade.
Esta seqüência apresenta um padrão retrogradan- Seqüência K90
te e seus depósitos marcam a maior ingressão marinha
do registro sedimentar (evento anóxico Turoniano). Corresponde aos sedimentos siliciclásticos,
Na poção proximal ocorrem os depósitos are- dos andares Santoniano a Campaniano inferior.
nosos e pelíticos da Formação Florianópolis e da For- Esta seqüência possui como limite inferior a dis-
mação Santos, caracterizadas por sedimentos con- cordância de 85,8 Ma e como limite superior a
glomeráticos avermelhados e de origem continental. discordância de 79,2 Ma.
A Formação Juréia ocorre sob a forma de se- O evento erosivo de 85,8 Ma é o de maior
dimentos arenosos folhelhos, siltitos e argilosos de- intensidade na Bacia de Santos e acredita-se que o
positados desde os ambientes continentais até as limite da bacia tenha se deslocado para a região a
porções mais distais da plataforma. Níveis de coquinas oeste da Charneira cretácica, evidenciado por onlap
e calcilutitos podem ocorrer intercalados. das seqüências Campanianas e Maastrichtianas so-
A Formação Itanhaém é caracterizada por bre estas discordâncias.
sedimentos finos (argilitos e folhelhos) que apresen- A Formação Juréia ocorre sob a forma de se-
tam um conteúdo carbonático maior em sua seção dimentos arenosos, siltitos e folhelhos depositados
basal. Esta formação aqui definida corresponde às em ambientes continental até às porções mais proxi-
margas do intervalo palinológico informalmente co- mais da plataforma. Interacamado a estes depósitos
nhecido como gama (Cenomaniano). Essa unidade ocorre intenso vulcanismo extrusivo. Depósitos síltico-
foi depositada em ambiente batial superior, com re- argilosos (Formação Itajaí-Açu) predominam nas po-
gistro de anoxias episódicas, representadas por fo- ções distais da plataforma, talude e bacia. Os areni-
lhelhos escuros laminados. tos relacionados ao Membro Ilhabela são muito ex-

534 | Bacia de Santos - Moreira et al.


pressivos tanto em área quanto em espessura. Estes paniana de 72 Ma e como limite superior a discor-
arenitos provavelmente foram gerados a partir de dância de 68,8 Ma. Continuando a tendência re-
fluxos hiperpicnais, associados a deltas. gressiva das superseqüências anteriores, esta seqüên-
Este vulcanismo santoniano está associado ao cia mostra o avanço da quebra de plataforma. Ca-
aumento da taxa de subsidência na bacia e a outras racteriza ainda pela presença de expressivas esca-
feições vulcânicas e tectônicas presentes no continente vações nas regiões de plataforma e talude (cânions)
(Elevação do Rio Grande e a Zona de deformação que serviram de conduto para a passagem de gran-
Cruzeiro do Sul) com o surgimento da Serra do Mar. de quantidade de areia para as regiões mais pro-
fundas da bacia. Nestes condutos é comum encon-
trarem-se depósitos pelíticos, indicando que as zo-
Seqüência K100 nas mais proximais foram zonas de bypass. Seguem-
se os depósitos conglomeráticos ricos em material
Compreende os sedimentos siliciclásticos do carbonático e, nas regiões mais distais, se deposita-
andar Campaniano. Possui como limite inferior a dis- ram as areias da Formação Ilhabela confinadas nes-
cordância de 79,2 Ma e como limite superior a discor- tes cânions ou como leques após o desconfinamento
dância de 76,8 Ma. Esta seqüência apresenta um do fluxo gravitacional turbidítico.
padrão regressivo englobando os conglomerados con-
tinentais da Formação Santos, que se interdigitam com
os arenitos plataformais a costeiros da Formação Juréia Seqüência K130
e que passa gradualmente a sedimentos pelíticos, sil-
titos e folhelhos, além de diamictitos e margas da
Compreende os sedimentos siliciclásticos do
Formação Itajaí-Açu, depositados nas regiões de pla-
andar Maastrichtiano. Possui como limite inferior a
taforma distal, talude e bacia. Ocorrem, ainda, areni-
discordância de 68,8 Ma e como limite superior o
tos resultantes de fluxos turbidíticos densos (Membro
limite Cretáceo-Paleógeno. Engloba as formações
Ilhabela) fortemente canalizados e relacionados a
Santos, Jureia, Itajaí-Açu e Membro Ilhabela.
importantes escavações no talude e plataforma.
As rochas que compõem esta seqüência cor-
respondem a arenitos resultantes de fluxos turbidíti-
Seqüência K110 cos densos (Membro Ilhabela) fortemente canaliza-
dos e relacionados a importantes escavações no ta-
lude e plataforma. Nas regiões de plataforma distal,
Compreende os sedimentos siliciclásticos dos
talude e bacia, predominam os siltitos e folhelhos,
andares Campaniano a Maastrichtiano. Possui como
além de diamictitos e margas (Formação Itajaí-Açu).
limite inferior a discordância de 76,8 Ma e como
Nas porções proximais, ocorrem arenitos plataformais
limite superior a discordância de 72 Ma. Assim como
a costeiros da Formação Juréia e conglomerados con-
a seqüência anterior apresenta um padrão regressi-
tinentais da Formação Santos.
vo deslocando a quebra da plataforma cerca de 100 km
O padrão regressivo também é característico
costa afora, a Seqüência K110 engloba os conglo-
desta superseqüência e, nesta unidade, a linha de costa
merados continentais da Formação Santos, os areni-
apresenta seu máximo deslocamento durante o Cre-
tos plataformais a costeiros da Formação Juréia, os
táceo, se posicionando cerca de 200 km costa afora.
siltitos e folhelhos, além de diamictitos e margas da
Formação Itajaí-Açu, depositados nas regiões de pla-
taforma distal, talude e bacia. Ocorrem, ainda, are- Seqüência E10
nitos resultantes de fluxos turbidíticos densos (Mem-
bro Ilhabela) fortemente canalizados e relacionados
a importantes escavações no talude e plataforma. Engloba os sedimentos depositados durante a
série Paleoceno (andares Daniano e parte do
Selandiano). Tem como limite inferior a discordância
Seqüência K120 da passagem do Paleoceno para o Cretáceo e como
limite superior a discordância do Eoceno inferior (60,2 Ma),
Compreende os sedimentos siliciclásticos dos que pode ser relacionada a um importante rebaixa-
andares Campaniano Superior a Maastrichtiano. mento relativo do nível do mar. Engloba as forma-
Possui como limite inferior a discordância Neo-Cam- ções Ponta Aguda e Marambaia.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 535


As rochas que compõem esta seqüência per- Esta seqüência corresponde a um sistema pro-
tencem ao Grupo Itamambuca que é subdividido em: gradante com desenvolvimento expressivo das clinoformas
Formação Ponta Aguda: caracterizada por are- de talude e o avanço da quebra da plataforma.
nitos avermelhados depositados em ambiente de le- Nas porções proximais ocorrem arenitos pla-
ques aluviais, sistemas fluviais e depósitos costeiros; taformais a continentais da Formação Ponta Agu-
Formação Marambaia: depositada nas regiões da. Nas regiões de plataforma distal, talude e ba-
de plataforma distal, talude e bacia predominam os cia predominam os siltitos e folhelhos, além de
siltitos e folhelhos, além de diamictitos e margas. diamictitos e margas da formação Marambaia.
Desenvolvem-se expressivos cânions que cor- Ocorrem ainda arenitos resultantes de fluxos turbi-
tam os sedimentos da Formação Marambaia. No seu díticos densos (Membro Maresias) fortemente ca-
interior e nas regiões batiais ocorrem os arenitos re- nalizados e relacionados a importantes escavações
sultantes de fluxos turbidíticos densos fortemente no talude e plataforma. É comum a ocorrência de
canalizados que compõe o Membro Maresias da arenitos ricos em radiolários que imprimem aos
Formação Marambaia. perfis elétricos um padrão bastante conspícuo
(baixíssima densidade e velocidade),
Durante a deposição desta seqüência um sig-
Seqüência E20 nificativo vulcanismo extrusivo de caráter basáltico-
alcalino ocorre na bacia, permitindo o reconhecimento
Compreende os sedimentos do Paleoceno su- de cones vulcânicos e derrames submarinos. A ocor-
perior (andares Seladiano e Thanetiano) e do Eoce- rência deste tipo de vulcanismo é mais comum na
no inferior (parte inferior do Ypresiano). Tem como medida em que se aproxima do alto de Cabo Frio
limite inferior a discordância de 60,2 Ma no Paleo- (Oureiro, 2006).
ceno superior e como limite superior a discordância Considera-se, ainda, a existência de uma as-
do Eoceno inferior de 54 Ma. Peixoto (2004) cita sociação entre aumento da população de radiolários
que estudos baseados em traço de fissão em apatitas e os eventos vulcânicos.
apontam soerguimentos das Serras do Mar e Ocorrem também corpos vulcânicos intrusivos
Mantiqueira a cerca de 60 Ma, coincidente com a sob a forma de soleiras de diabásio, que sismica-
discordância que limita esta seqüência. mente apresentam uma forma de “vitória-régia”.
As rochas que compõem esta seqüência per- Litologicamente, trata-se de diabásio contendo tex-
tencem ao Grupo Itamambuca que é subdividido em: tura subofítica e matriz vítrea (Silva et al. 2003 apud
Formação Ponta Aguda: caracterizada por are- Moreira et al. 2006).
nitos avermelhados depositados em ambiente de le-
ques aluviais, sistemas fluviais e depósitos costeiros;
Formação Marambaia: depositada nas re- Seqüência E50
giões de plataforma distal, talude e bacia onde
predominam os siltitos e folhelhos, além de dia-
mictitos e margas. Compreende os sedimentos do Eoceno mé-
Desenvolvem-se expressivos cânions que cor- dio (parte superior). Tem como limite inferior a
tam os sedimentos da Formação Marambaia no seu discordância interna ao Eoceno médio de 45 Ma
interior e nas regiões batiais ocorrem os arenitos re- e o limite superior é a discordância do Eoceno
sultantes de fluxos turbidíticos densos fortemente superior de 40,4 Ma.
canalizados que compõe o Membro Maresias da Nas porções proximais ocorrem arenitos pla-
Formação Marambaia. taformais a continentais da Formação Ponta Agu-
da. Nas regiões de plataforma distal, talude e ba-
cia predominam os siltitos e folhelhos, além de
Seqüência E30-E40 expressivos depósitos de diamictitos relacionados
a escorregamentos na borda da plataforma que
Compreende os sedimentos depositados en- compõem a formação Marambaia. Subordinada-
tre o final do Eoceno inferior e o Eoceno médio. Tem mente ocorrem os arenitos resultantes de fluxos
como limite inferior a discordância do Eoceno infe- turbidíticos densos (Membro Maresias) fortemen-
rior (54 Ma) e como limite superior a discordância do te canalizados e relacionados a importantes esca-
Eoceno médio, de 45 Ma. vações no talude e plataforma.

536 | Bacia de Santos - Moreira et al.


Seqüência E60 Seqüência E80
Compreende os sedimentos da parte superior Corresponde aos sedimentos da porção su-
do Eoceno Médio (Bartoniano) e Eoceno superior (an- perior do Oligoceno (andar Chatiano) e Mioceno In-
dar Priaboniano). Possui como limite inferior a dis- ferior (Aquitaniano). Possui como limite inferior a
cordância de 40,4 Ma e como limite superior em discordância de 28,6 Ma e como limite superior em
torno de 33,9 Ma. torno de 20,4 Ma.
Esta seqüência contempla o final de uma sé- Esta seqüência desenvolve suas maiores es-
rie de pacotes progradacionais, que passa a pessuras na porção sudeste da bacia nas regiões de
agradacional no final dessa seqüência e que deslo- talude e bacia com fortes feições de corte e preen-
caram a quebra da plataforma continental para de- chimento e, aparentemente, espessos corpos de dia-
zenas de quilômetros além da quebra atual, repre- mictitos. Nas regiões de talude e plataforma ela se
sentando a maior queda na variação relativa do ní- apresenta delgada devido à forte erosão de 20,4 Ma.
vel do mar durante o Paleógeno. A suíte mineral dessa seqüência segue o pa-
As rochas que compõem esta seqüência se- drão do Neógeno com arenitos resultantes de fluxos
guem o padrão descrito anteriormente, com arenitos turbidíticos densos (membro Maresias), siltitos e fo-
resultantes de fluxos turbidíticos densos fortemente ca- lhelhos, além de diamictitos e margas (Formação
nalizados e relacionados a importantes escavações no Marambaia). Nas porções proximais ocorrem areni-
talude e plataforma (Membro maresias). Nas regiões de tos plataformais da Formação Ponta Aguda e, em
plataforma distal, talude e bacia predominam os siltitos posições próximas à quebra de plataforma, ocorrem
e folhelhos, além de diamictitos da Formação calcarenitos e calcirruditos da Formação Iguape.
Marambaia, e nas porções proximais ocorrem arenitos
plataformais a continentais da Formação Ponta Aguda.
Seqüência N10-N30
Seqüência E70 Corresponde aos sedimentos da porção supe-
rior do Mioceno Inferior (Burdigaliano) e médio (Serra-
Corresponde aos sedimentos do Oligoceno In- valiano). Possui como limite inferior a discordância de
ferior, andar Rupeliano. Possui como limite inferior a 20,4 Ma e como limite superior em torno de 11 Ma,
discordância de 33,9 Ma e como limite superior a que corresponde a uma importante discordância que
discordância de 28,6 Ma. representa uma queda eustática global, conhecida
Esta seqüência encontra-se melhor preserva- informalmente na Bacia de Campos como Marco Cin-
da na porção sudeste da bacia. A seqüência tem za, facilmente reconhecível em linhas sísmicas.
pouca espessura na plataforma externa e talude, mas O pacote de rochas desta seqüência está com-
aumenta bastante de espessura na região de bacia. posto por arenitos (Membro Maresias), siltitos e folhe-
Possui um caráter progradante após uma grande ele- lhos, além de diamictitos e margas (Formação
vação relativa do nível do mar, que propiciou um Marambaia). Nas porções proximais ocorrem arenitos
expressivo recuo da borda da plataforma em rela- plataformais da Formação Ponta Aguda. Em posições
ção à seqüência anterior. próximas à quebra de plataforma ocorrem calcarenitos
As rochas desta seqüência seguem o padrão e calcirruditos de bancos algálicos do Membro Iguape.
das anteriores, com arenitos resultantes de fluxos tur- A plataforma carbonática alcança seu maior
bidíticos densos ou sistemas turbidíticos mistos forte- desenvolvimento no Mioceno (Serravaliano). Porém,
mente canalizados e relacionados a importantes es- sua ocorrência é local e predominam na plataforma
cavações no talude e plataforma (Membro Maresias). e no talude sedimentos siliciclásticos (Peixoto, 2004).
Nas regiões de plataforma distal, talude e bacia pre- A partir da discordância de 20,4 Ma, as se-
dominam os siltitos e folhelhos, além de diamictitos e qüências de ordem menor se desenvolvem em uma
margas (Formação Marambaia). Em posições próxi- tendência transgressiva que culminam no Mioceno
mas à quebra de plataforma ocorrem pela primeira terminal (Serravaliano) por uma proeminente superfí-
vez calcarenitos e calcirruditos da Formação Iguape. cie de inundação e corresponde ao evento de 16 Ma.
Finalmente, nas porções proximais ocorrem arenitos Esta seqüência representa a maior variação
costeiros a continentais da Formação Ponta Aguda. relativa do nível do mar desde o Mioceno até o re-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 537


cente, responsável pela deposição de um grande Marambaia e ocorrem os arenitos de origem
volume de sedimentos nas porções costeira e interior turbidítica da Formação Maresias.
da placa sul-americana. Uma importante discordância de cerca de
1,6 Ma (limite inferior do Pleistoceno) está relacio-
nada à queda eustática global. Porém, a cunha
Seqüência N40 progradante que estabelece a posição atual da
borda da plataforma já estava formada desde o
Engloba os sedimentos do Mioceno superior, Plioceno (Peixoto, 2004).
andares Tortoniano e Messiniano, e parte inferior do
Plioceno, andar Zancleano. Possui como limite infe-
rior a discordância de 11 Ma, que é relacionada à
queda eustática global (Gradstein et al. 2004), e
como limite superior a discordância em 4,2 Ma. Se- magmatismo
gundo Peixoto (2004), é possível correlacionar os
eventos de erosão no Mioceno, com a formação da
Foram identificados eventos magmáticos
“Capa de Gelo do Leste da Antárctica” (11 Ma) e
pós-Aptianos nos seguintes períodos: Albiano,
do início das glaciações Plio-pleistocênicas (aproxi-
Santoniano, Maastrichtiano, Paleoceno e Eoceno
madamente 5,8 Ma).
(Oureiro, 2006). As rochas magmáticas extrusivas
Esta seqüência é composta por sedimentos
do Paleoceno e do Eoceno constituem, principal-
avermelhados de origem aluvial e costeira da For-
mente, estratovulcões de formato cônico, que con-
mação Ponta Aguda. Ocorre ainda a Formação
têm uma sismofácies caótica no seu interior. To-
Iguape, constituída por calcarenito e calcirrudito
dos os poços que até o momento perfuraram es-
bioclástico intercalados com argilito cinza-
ses edifícios nas bacias de Santos e Campos, cons-
esverdeado, siltito e margas.
tataram serem eles constituídos principalmente de
A Formação Marambaia é constituída por es-
hialoclastitos e rochas vulcanoclásticas. Os
pessos pacotes de folhelho cinzento e marga cinza-
hialoclastitos são rochas de cor esverdeada, for-
clara, que caracterizam as fácies distais da platafor-
madas pelo súbito resfriamento da lava em conta-
ma continental, talude e bacia. Compõe esta forma-
to com a água domar. O termo “vulcanoclástico”
ção um grande volume de fluxos de detritos com-
inclui todas as partículas vulcânicas, independen-
postos por brechas de folhelhos e diamictitos.
temente de suas origens, que podem estar relacio-
nadas a múltiplos processos.
Seqüência N50-N60 Foram identificados três eventos de mag-
matismo básico pré-albianos, datados pelo méto-
Corresponde aos sedimentos do do Ar/Ar: derrames basálticos provavelmente
Pleistoceno e Plioceno, englobando os andares subaéreos associados ao embasamento econômi-
Gelasiano, Piacenziano e a parte superior do co (130? Ma); basaltos subaquosos intercalados
Zacleano. Possui como limite inferior a discor- à seção rifte (121-130 Ma) e na porção inferior do
dância de 4,2 Ma do Plioceno Inferior e como Pós-Rifte (118 Ma).
limite superior são os sedimentos atuais do fun-
do marinho. Inclui as Formações Sepetiba,
Marambaia e o Membro Maresias.
A faciologia dominante na porção
plataformal é representada por arenitos cinza- referências
esbranquiçados de granulometria grossa a fina por
vezes glauconítico e coquinas de moluscos,
bibliográficas
briozoários e foraminíferos. Correspondem à Forma-
ção Sepetiba. Na porção de talude predominam os DIAS, J. L. Análise sedimentológica e estratigrá-
sedimentos lamosos que são cortados por cânions fica do andar aptiano em parte da margem les-
preenchidos por sedimentos lamosos ou arenosos. te do Brasil e no platô das Malvinas: considera-
Na porção bacinal predominam as cunhas de dia- ções sobre as primeiras incursões e ingressões mari-
mictitos e lamas de água profunda da Formação nhas do Oceano Atlântico Sul Meridional. 1998. 2

538 | Bacia de Santos - Moreira et al.


v. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 1998. apêndice:
litoestratigrafia
GRADSTEIN, F. M.; OGG, J. G.; SIMTH, A. G. A
geologic time scale 2004. Cambridge: Cambridge
University Press, 2004. 589 p. il. Grupo Itamambuca
O Grupo Itamambuca, aqui definido, representa
MOREIRA, J. L. P.; ESTEVES, C. A.; RODRIGUES, todos os sedimentos depositados após o limite Cretáceo/
J. J. G.; VASCONCELOS, C. S. Magmatismo, se- Paleógeno até os dias atuais, desde os leques aluviais
dimentação e estratigrafia da porção norte da até os pelitos e arenitos batiais que foram depositados.
Bacia de Santos. Boletim de Geociências da Pe- Com a perfuração de novos poços foi possível se estabe-
trobras, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 161-170, lecer uma nova formação para representar os sedimen-
nov. 2005/maio 2006. tos siliciclásticos proximais característicos dos ambientes
deposicionais de leques aluviais, marinho costeiro e de
plataforma rasa (Formação Ponta Aguda). Nesta revisão
OUREIRO, S. G. Magmatismo e sedimentação em
pode-se precisar o limite temporal da ocorrência das pla-
uma área na Plataforma Continental de Cabo Frio,
taformas carbonáticas (Formação Iguape) e definir um
Rio de Janeiro, Brasil, no intervalo Cretáceo Supe-
novo Membro (Maresias) para os arenitos depositados
rior–Terciário. Boletim de Geociências da Petro-
nas regiões de talude e bacia que ocorrem interacama-
bras. Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 95-112, nov.
dados aos pelitos da Formação Marambaia.
2005/maio 2006.

PEIXOTO, P. P. Estratigrafia e modelagem do preen-


Grupo Itamambuca/Formação
chimento sedimentar cenozóico em seção na Ponta Aguda
margem sul da Bacia de Santos. 2004. 113 p. Tese
(Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Esta unidade está representada por conglome-
Sul, Porto Alegre, 2004. rados finos, arenitos grossos a finos, intercalados a
sedimentos pelíticos recorrentes em todo o
Cenozóico, com maior distribuição geográfica na
PEREIRA, M. J.; FEIJÓ, F. J. Bacia de Santos. Boletim
porção inferior a média do Paleógeno. A espessura
de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8,
máxima destes sedimentos chega a 2.200 m.
n. 1, p. 219-234, jan./mar. 1994.
• nome: o nome da Formação Ponta Aguda de-
riva da praia homônima, situada ao norte do
QUINTAES, C. M. S. P. Aplicação da estrati- Estado de São Paulo, na divisa entre Ubatuba
grafia química e da estratigrafia de seqüên- e Caraguatatuba;
cias na seção Albiana da porção sul da Bacia
de Santos. 2006. 182 p. Tese (Mestrado) – Uni- • equivalência regional: baseado em dados
versidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de bioestratigráficos e cronogeológicos, bem como
Janeiro, 2006. estudos regionais, esta unidade pode ser cor-
relacionada com o Membro São Tomé da For-
mação Emboré (Bacia de Campos) e a Forma-
SEVERINO, M C. G. Evolução da sedimentação ção Rio Doce (Bacia do Espírito Santo);
carbonática / siliciclástica miocênica na por-
ção sul da bacia de santos, margem sudeste • seção tipo: a Formação Ponta Aguda ocorre
do Brasil. 2000. 183 p. Tese (Mestrado) – Uni- apenas em subsuperfície e está definida no
versidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Ale- poço Rio de Janeiro Submarino199B (1-RJS-
gre, 2000. 199B, 230 53’ 03" S e 420 03’ 87" W), perfura-
do em 1981, tendo atingido a profundidade
máxima de 5.015 m. Ocorre entre as profun-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 539


didades de -1.668 m/-2.188 m, perfazendo um • distribuição: ocorre em toda a borda oeste
total de 500 m de seção clástica (fig.1); da Bacia de Santos, geralmente em batimetrias
de até 100 m (atuais). Na parte inferior do
• litologia: predominam arenitos grossos a fi- Paleógeno ocorre sua maior distribuição geo-
nos, quartzosos, de coloração que varia des- gráfica, podendo ser atingida em batimetrias
de avermelhados a acinzentados e atuais de cerca de 1.000 m. A partir do Oligo-
translúcidos, angulosos a subangulosos, co- ceno Inferior (Rupeliano), com o começo da
mumente com cimento carbonático. Ocorrem deposição da Formação Iguape e os depósitos
intercalados com siltitos, argilitos desde da Formação Ponta Aguda, ficam restritos as
avermelhados até de cor cinza-claro com frag- porções mais proximais da bacia;
mentos de matéria orgânica vegetal. Estes
sedimentos se depositaram em ambientes • contatos e relações estratais: os sedimen-
desde o continental fluvial até os ambientes tos terrígenos da Formação Ponta Aguda de-
costeiros e de plataforma rasa; positam-se, em geral, discordantemente so-

Figura 1 – Seção–Tipo da Formação Figure 1 – Reference Section of the Ponta


Ponta Aguda – Grupo Itamambuca. Aguda Formation – Itamambuca Group.

540 | Bacia de Santos - Moreira et al.


bre os sedimentos do Grupo Frade. O con- 557 m -1.659 m, perfazendo um total de 1.102 m
tato superior com a Formação Sepetiba ocor- de seção clástica (fig.2);
re sob a forma de uma concordância obser-
vada em sísmica. Distalmente, a Formação • litologia: predominam calcarenitos e
Ponta Aguda interdigita com as fácies car- calciruditos bioclásticos intercalados com
bonáticas da Formação Iguape ou aos peli- argilito cinza-esverdeado, siltito e marga, su-
tos da Formação Marambaia; bordinadamente arenitos finos a médios cin-
zentos. Estes sedimentos se depositaram em
• idade: a Formação Ponta Aguda ocorre so-
ambiente de plataforma rasa. Análises
bre a discordância que limita o Paleógeno
petrográficas indicam a ocorrência da assem-
do Cretáceo de 65,5 Ma e sob a discor-
bléia Heterozoan, indicando condições de cli-
dância de 1,6 Ma que marca a passagem
ma subtropical com predomínio de bioclastos
Plioceno/Pleistoceno. Apesar de pobre em
de algas vermelhas, macroforaminíferos,
termos bioestratigráficos (reflexo do cará-
equinóides, briozoários e moluscos com raras
ter costeiro arenoso desta unidade), os
presenças de corais (Severino 2000);
dados existentes indicam que as rochas
desta unidade pertencem aos sistemas
• distribuição: a tendência transgressiva que
Neógeno e Paleógeno.
teve início no Oligoceno ocasionou o afasta-
mento das fontes siliciclásticas, permitindo
Grupo Itamambuca/Formação as condições propícias ao estabelecimento
da sedimentação mista/carbonática. No iní-
Iguape cio do mioceno, a deposição carbonática se
encontrava restrita às áreas proximais. As
Esta unidade foi originalmente definida por fases finais deste evento transgressivo e nos
Pereira e Feijó (1994) para representar os calcareni- períodos de nível de mar alto estabilizado/
tos e calciruditos bioclásticos intercalados com argilito início da descida da curva eustática foram
cinza-esverdeado, siltito e marga, subordinadamen- os principais momentos de desenvolvimento
te arenitos finos a médios cinzentos. Nesta revisão da sedimentação carbonática. Na fase re-
indica-se que a unidade foi depositada a partir do gressiva, os depósitos carbonáticos tornaram-
Oligoceno. Originalmente, considerava-se que esta se espessos e restritos aos períodos de nível
unidade estaria presente desde o limite Cretáceo/ de mar elevado. As maiores progradações
Paleógeno até o Pleistoceno. A espessura máxima dos sistemas carbonáticos ocorreram de 17
destes sedimentos chega a 2.700 m. a 13,5 e 13, a 5,5 Ma, relacionadas aos prin-
cipais eventos de formação do gelo no con-
• nome: o nome da Formação Iguape vem do tinente antártico;
município de Iguape na região litorânea si-
tuada ao norte do Estado de São Paulo; • contatos e relações estratais: os sedimen-
tos carbonáticos da Formação Iguape deposi-
• equivalência regional: baseado em dados
tam-se, discordantemente, sobre os sedimen-
bioestratigráficos e cronogeológicos, bem
tos da Formação Ponta Aguda. O contato su-
como correlações estratigráficas regionais, esta
perior com a Formação Sepetiba dá-se por
unidade pode ser correlacionada com os mem-
concordância observada em sísmica. Lateral-
bros Grussaí e Siri da Formação Emboré (Ba-
mente, em direção à costa, esta formação
cia de Campos) e Formação Caravelas (Bacia
interdigita com a Formação Ponta Aguda.
do Espírito Santo);
Distalmente, interdigita com os pelitos da
• seção tipo: a Formação Iguape ocorre ape- Formação Marambaia;
nas em subsuperfície e está definida no poço
São Paulo Submarino 29 (1-SPS-29, 260 07’ • idade: a Formação Iguape ocorre sobre a dis-
34" S e 460 56’ 9" W), perfurado em 1989, cordância que limita o Oligoceno do Eoceno
tendo atingido a profundidade máxima de de 33,9 Ma e sob a discordância de 1,6 Ma
5.000 m. Ocorre entre as profundidades de - que marca a passagem Plioceno/Pleistoceno.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 541


Grupo Itamambuca/Formação
Marambaia/Membro Maresias
Interacamadados com os sedimentos pelíticos
da Formação Marambaia ocorrem corpos arenosos
de dezenas de metros denominados neste trabalho
de Membro Maresias. Estes arenitos cinza-
esbranquiçados, de seleção boa a moderada, ocor-
rem de forma canalizada (por vezes até meandrante)
ou sob a forma de leques em regiões menos confi-
nadas da região batial. Estão relacionados a fluxos
gravitacionais turbidíticos. Estes arenitos têm se
mostrado excelentes reservatórios, com permeabili-
dades altas.

• nome: o nome do Membro Maresias deriva


da praia homônima situada no município de
São Sebastião, litoral do Estado de São Paulo;

• equivalência regional: baseado em dados


bioestratigráficos e cronogeológicos, bem
como correlações estratigráficas regionais, esta
unidade pode ser correlacionada com a por-
ção superior da Formação Carapebus (Bacia
de Campos);

• seção tipo: do Membro Maresias ocorre ape-


nas em subsuperfície e está definida no poço
Rio de Janeiro Submarino 583 (1-RJS-583, 240
30’ 55" S e 420 33’ 41" W), perfurado em
2002, tendo atingido a profundidade máxima
de 3.466 m. Ocorre entre as profundidades
de -2.566 m -2.727 m, perfazendo um total
de 150 m de seção clástica (fig.3);

• litologia: arenitos médios a finos, raramen-


te grosso, de cor cinza-esbranquiçada, ar-
coseanos, compostos por ciclos de gradação
normal ou maciço. Estão relacionados a flu-
xos gravitacionais turbidíticos pouco ou
muito evoluídos, em ambiente marinho de
talude e bacia. Localmente ocorrem inter-
calados depósitos conglomeráticos, cujos
clastos mais grossos são de pelitos de talu-
de e bacia, indicando alto poder erosivo
destes fluxos. Este arenito foi testemunha-
do nos poços RJS581, RJS574 e RJS589. No
Eoceno Inferior ocorrem arenitos ricos em
Figura 2 – Seção–Tipo da Formação Figure 2 – Reference Section of the
Iguape – Grupo Itamambuca. Iguape Formation – Itamambuca Group.
radiolários que imprimem aos perfis elétri-
cos um padrão bastante conspícuo (baixa
densidade e velocidade);

542 | Bacia de Santos - Moreira et al.


• distribuição: geograficamente ocorre em
toda a Bacia de Santos a partir da batimetria
Grupo Frade
de 200 m (atual). Em geral, se depositam após
a quebra da plataforma preenchendo cânions O Grupo Frade, aqui definido, representa to-
ou sob a forma de leques em regiões menos dos os sedimentos depositados desde os leques aluviais
confinadas das regiões batial e abissal; até os pelitos e arenitos batiais que foram deposita-
dos do topo do Cenomaniano até o limite Cretáceo/
• contatos e relações estratais: os sedimen-
Paleógeno. Esta unidade representa uma fase de regres-
tos arenosos do Membro Maresias encontram-
são onde o limite da plataforma avançou até 200 km
se interacamadados com os pelitos da Forma-
costa afora. Esta unidade engloba as formações San-
ção Marambaia. Em geral, se depositam so-
tos, Juréia, Itajaí-Açu e o Membro Ilhabela já defini-
bre discordâncias de 2a e 3a ordens;
dos na literatura (Pereira e Feijó, 1994).
• idade: os corpos arenosos do Membro Neste trabalho, com base em novos dados
Maresias, em geral, estão associados a discor- bioestratigráficos e nas feições de perfis elétricos,
dâncias de 2a e 3a ordens relacionadas a que- sugere-se que a Formação Santos seja representada
das relativas do nível do mar desde o Paleoce- somente pelos sedimentos conglomeráticos
no (limite Paleógeno/Cretáceo – 65,5 Ma) até avermelhados dos leques aluviais. As frações areno-
os dias atuais. Porém, os maiores volumes de sas e pelíticas também avermelhadas associadas aos
arenitos até hoje amostrados se encontram dis- sistemas fluviais cretácicos devem ser englobadas pela
tribuídos pelo Eoceno e Oligoceno. Formação Juréia.

Figura 3 – Seção–Tipo do Membro Maresias da Figure 3–Reference Section of the Maresias Member of
Formação Marambaia – Grupo Itamambuca. the Marambaia Formation – Itamambuca Group.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 543


Grupo Camburi Grupo Camburi/Formação
Itanhaém/Membro Tombo
O Grupo Camburi, aqui definido, representa
todos os sedimentos depositados desde os leques Interacamadados com os sedimentos
aluviais até os pelitos e arenitos batiais que foram pelíticos da Formação Itanhaém ocorrem em cor-
depositados após a Formação Ariri até o topo do pos arenosos de dezenas a centenas metros de-
Cenomaniano. Esta unidade engloba as formações nominados neste trabalho de Membro Tombo. Es-
Florianópolis, Guarujá, Itanhaém e uma nova unida- tes arenitos cinza-esbranquiçados, de seleção boa
de denominada de Membro Tombo, incluso na For- a moderada, ocorrem de forma canalizada (por
mação Itanhaém. Este grupo representa uma fase vezes até meandrante) ou sob a forma de leques
de transgressiva que culmina com a deposição dos em regiões menos confinadas da região batial.
folhelhos anóxicos da transgressão Turoniana. Estão relacionados a fluxos gravitacionais turbidí-
ticos ou hiperpicnais.

• nome: o nome do Membro Tombo deriva da


praia homônima situada no município de
Guarujá, litoral norte do Estado de São Paulo;

• equivalência regional: baseado em dados


bioestratigráficos e cronogeológicos, bem
como estudos regionais, esta unidade pode
ser correlacionada com a Formação Namora-
do da Bacia de Campos;

• seção tipo: o Membro Tombo ocorre apenas


em subsuperfície e está definida no poço Rio
de Janeiro Submarino 585 (1-RJS-585, 240 25’
1" S e 420 46’ 34" W), perfurado em 2002, ten-
do atingido a profundidade máxima de 5.900 m.
Ocorre entre as profundidades de - 4.041 m
- 4.588 m, perfazendo um total de 547 m
de seção clástica (fig.4);

• litologia: arenitos médios a finos, raramen-


te grossos, de cor cinza-esbranquiçada, ar-
coseanos, compostos por ciclos de gradação
normal ou maciço. Estão relacionados a flu-
xos gravitacionais turbidíticos pouco ou mui-
to evoluídos ou a fluxos hiperpicnais, em am-
biente marinho de talude e bacia;

• distribuição: geograficamente ocorre em


toda a Bacia de Santos a partir da
batimetria de 200 m (atual). Em geral, se
depositam após a quebra da plataforma
preenchendo sob a forma de leques nas
regiões batial e abissal;

Figura 4– Seção–Tipo do Membro Tombo Figure 4 – Reference Section of the • contatos e relações estratais: os sedimen-
da Formação Itanhaém – Grupo Camburi. Tombo Member of the Itanhaém tos arenosos do Membro Tombo encontram-
Formation – Camburi Group.
se interacamadados com os pelitos da Forma-

544 | Bacia de Santos - Moreira et al.


ção Itanhaém. Em geral, se depositam sobre 49" S e 420 41’ 33" W), perfurado em 2005,
discordâncias de 2a e 3a ordens; tendo atingido a profundidade máxima de
6.621 m. Ocorre entre as profundidades de
• idade: os corpos arenosos do Membro Tombo, - 6.015 m - 6.330 m, perfazendo um total de
em geral, estão associados a discordâncias de 313 m de seção clástica (fig.5);
2a e 3a ordens, relacionadas a quedas relativas
do nível do mar, desde o Albiano Superior (100 • litologia: é composta por depósitos de águas
Ma) até marco radioativo Turoniano (91,2 Ma). muito rasas em um lago/mar epicontinental.
É caracterizada por calcários estromatolíticos,
laminitos microbiais, microbiolitos ricos em tal-
Grupo Guaratiba co e argilas magnesianas e folhelhos carbo-
náticos, provavelmente depositados em am-
O Grupo Guaratiba deriva da Formação bientes alcalinos com ocorrência subordina-
Guaratiba, definida por Pereira e Feijó (1994) para da de coquinas;
representar todos os sedimentos depositados entre
a Formação Camboriú e a Formação Ariri, ou seja,
os depósitos carbonáticos e siliciclásticos da fase
rifte. Com a perfuração de novos poços foi possível
se individualizar três novas formações (Piçarras,
Itapema e Barra Velha). Neste trabalho, o Grupo
Guaratiba representa as formações depositadas
durante as fases rifte e transicional e que serão
apresentadas a seguir.

Grupo Guaratiba/Formação
Barra Velha
Esta unidade engloba os sedimentos depo-
sitados no estágio em que as falhas mestras do
rifteamento haviam cessado sua atividade ou so-
friam raras reativações e toda a bacia rifte iniciou
sua subsidência térmica. A geometria das refle-
xões tende a ser plano-paralela com pouca varia-
ção nas isópacas. É composta por calcários estro-
matolíticos, laminitos microbiais, microbiolitos ri-
cos em talco e argilas magnesianas e folhelhos
carbonáticos. Subordinadamente ocorrem coquinas
e basaltos datados em 118 Ma.

• nome: o nome da Formação Barra Velha de-


riva da praia homônima, situada no municí-
pio de Ilhabela, no Estado de São Paulo;

• equivalência regional: com base em dados


bioestratigráficos e cronogeológicos, esta uni-
dade é correlacionável à Formação Macabu
na Bacia de Campos;

• seção tipo: a Formação Barra Velha ocorre Figura 5 – Seção–Tipo da Formação Figure 5 –Reference Section of the Barra
apenas em subsuperfície e está definida no Barra Velha – Grupo Guaratiba. Velha Formation – Guaratiba Group.
poço Rio de Janeiro 625 (1-RJS-625, 240 08’

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 545


• distribuição: ocorre em toda a Bacia de ros, ricos em matéria orgânica. A correlação
Santos após a charneira cretácica; de poços indica significativa mudança lateral
de fácies, sugerindo compartimentação e vari-
• contatos e relações estratais: os sedimentos abilidade nas condições paleoambientais
terrígenos da Formação Barra Velha têm passa- (alcalinidade, salinidade etc);
gem concordante com Formação Ariri (113 Ma)
e discordante na base com a Formação Itapema • distribuição: ocorre em toda a Bacia de San-
através da Alagoas/Jiquiá de 123,1 Ma; tos após a charneira cretácica preenchendo
os semi-grábens da seção rifte;
• idade: a Formação Barra Velha ocorre so-
bres os sedimentos da Formação Itapema • contatos e relações estratais: os sedimen-
de idade mínima de 123,1 Ma e está soto- tos terrígenos da Formação Itapema são limi-
posta à Formação Ariri de idade máxima tados no topo pela discordância Alagoas/Jiquiá
de 113 Ma. de 123,1 Ma e na base pela discordância Ji-
quiá/Buracica de 126,4 Ma;
Grupo Guaratiba/Formação • idade: a Formação Itapema ocorre sobre os
Itapema sedimentos da Formação Piçarras de idade
mínima de 126,4 Ma e está sotoposta à For-
mação Barra Velha de idade máxima de
Esta unidade engloba os sedimentos depo-
123,1 Ma.
sitados no estágio final da formação dos meio-grá-
bens quando as falhas principais diminuem a ativi-
dade até cessar quase completamente. Apresenta Grupo Guaratiba/Formação
geometria das reflexões levemente em forma de
cunha ou plano-paralela, sendo as variações de Piçarras
isópacas menores do que as da seqüência soto-
posta, mas ainda revelando forte controle estrutu-
Esta unidade engloba os sedimentos depo-
ral. Está representada por grainstones a bivalvos
sitados desde o estágio inicial até o estágio de má-
(coquinas), wackestones e packstones bioclásticos,
xima atividade da formação dos meio-grábens. Tem
folhelhos carbonáticos e folhelhos escuros, ricos
geometria em forma de cunha e reflexões diver-
em matéria orgânica. gentes em direção às falhas principais e está re-
• nome: o nome da Formação Itapema deriva presentada por arenitos e pelitos de composição
da praia homônima, situada no litoral do Es- talco-estevensítica e folhelhos escuros, ricos em
tado de Santa Catarina; matéria orgânica.

• equivalência regional: baseado em dados • nome: o nome da Formação Piçarras deriva


bioestratigráficos e cronogeológicos, esta uni- da praia homônima, situada no litoral do Es-
dade é correlacionável à Formação Coqueiros tado de Santa Catarina;
na Bacia de Campos;
• equivalência regional: baseado em dados
• seção tipo: a Formação Itapema ocorre ape- bioestratigráficos e cronogeológicos, esta uni-
nas em subsuperfície e está definida no poço dade é correlacionável à Formação Gargaú,
Rio de Janeiro 625 (1-RJS-625, 240 08’ 49" S e na Bacia de Campos;
420 41’ 33" W), perfurado em 2005, tendo
atingido a profundidade máxima de 6.621 m. • seção tipo: a Formação Piçarras ocorre ape-
nas em subsuperfície e está definida no poço
Ocorre entre as profundidades de - 6.330 m
Rio de Janeiro 628 (1-RJS-628, 250 28’ 54" S
- 6.525 m, perfazendo um total de 171 m
e 420 49’ 41" W), perfurado em 2005, tendo
de seção clástica (fig.5);
atingido a profundidade máxima de 5.957 m.
• litologia: é composta de grainstones a bivalvos Ocorre entre as profundidades de -5.245 m
(coquinas), wackestones e packstones bioclás- -5.419 m, perfazendo um total de 174 m de
ticos, folhelhos carbonáticos e folhelhos escu- seção clástica (fig.6);

546 | Bacia de Santos - Moreira et al.


• litologia: é composta por arenitos e pelitos • contatos e relações estratais: os sedimentos
de composição talco-estevensítica e folhelhos terrígenos da Formação Piçarras depositaram-se
escuros, ricos em matéria orgânica que as- discordantemente sobre os basaltos da Formação
sentam sobre derrames basálticos de 130 Ma; Camboriú. O contato superior com a Formação
Itapema ocorre sob a forma de uma expressiva
• distribuição: ocorre em toda a Bacia de San- discordância com boa visibilidade em sísmica;
tos após a charneira cretácica preenchendo
os semi-grábens da seção rifte. Supõe-se que • idade: a Formação Piçarras ocorre sobre os
nos depocentros encontre-se a porção mais basaltos da Formação Camboriú de idade 130-
antiga dessa seqüência, de provável idade 136,4 Ma e sotoposta à Formação Itapema de
Buracica-Aratu; idade máxima de 126,4 Ma.

Figura 6 – Seção–Tipo da Formação Figure 6 –Reference Section of the Piçarras


Piçarras – Grupo Guaratiba. Formation – Guaratiba Group.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 547


BACIA DE SANTOS

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

0 SEPETIBA

EO ZAN C LE AN O
NEÓGENO

M E S S I N I AN O
NEO
TOR TONIANO
10

I G UAPE
S E R R AVAL IA N O
MESO
LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O
EO
20
AQ U I TAN IA N O

MARE SIAS
MARAM BAIA
NEO C HAT T IAN O

ITAMAMBUCA
30 EO R U P E L IA N O

NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G EN O

COSTEIRO / PLATAFORMA /

BAR T O N I AN O
40
TALUDE / PROFUNDO
EOCENO

MESO

PONTA AGUDA
L UT E T I AN O
MARINH O

50
EO Y PR ES I AN O
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O

70 J U R É IA
(S EN ON IAN O )

I LHAB ELA
SANTOS

I TAJAÍ - AÇ U
FRADE

CAM PA N IAN O

80
NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O

90
T UR ON I ANO
TOMBO
ITANHAÉM
FLORIANÓPOLIS

C E N O MA N IA N O
CAMBURI

100
CRETÁCEO

AL B I AN O PLATAFORMA
RASA -
( GÁLI CO)

110
TALUDE
AR I R I

ALAGOAS RESTRITO- BARRA


APTIANO
LAGUNAR
CONTINENTAL

VELHA
GUARATIBA

120
EO

JI QUIÁ ITAPEMA
BARRE- BURACICA
MIANO LACUSTRE PIÇARRAS
130 ARAT U
(N EO CO M IAN O )

HAUTE-
RIVIANO CAMBORIÚ

VALAN-
GINIANO RIO
140 DA
SERRA
BERRIA-
SIANO

DOM
TITHO-
JOÃO
NIANO
150
542
E M BASAM E N T O

548 | Bacia de Santos - Moreira et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, maio/nov. 2007 | 549
Bacia de Pelotas

Gilmar Vital Bueno1, Angélica Alida Zacharias2, Sergio Goulart Oreiro2,

José Antonio Cupertino3, Frank U. H. Falkenhein4, Marcelo A. Martins Neto5

Palavras-chave: Bacia de Pelotas l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Pelotas Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução volvimento da seção evaporítica aptiana, que é parti-


cularmente notável a partir da Bacia de Santos.
A bacia situa-se entre o Alto de Florianópolis,
Dentro do conjunto de bacias geradas pela rup- limite com a Bacia de Santos, e o Alto de Polônio,
tura do Gondwana Oeste e da formação do Oceano no Uruguai. Esta pode ser dividida em duas sub-ba-
Atlântico Sul, a Bacia de Pelotas é a mais meridional cias: Norte, a partir do Terraço de Rio Grande até o
na costa brasileira. O segmento de seaward dipping Alto de Florianópolis, e Sul, do Terraço em direção
reflections (SDRs) presente na bacia e que se estende ao Alto de Polônio (Silveira e Machado, 2004). Mais
até a Bacia de São Jorge, na Argentina, demonstra tarde, aproximadamente os mesmos segmentos, tam-
um desenvolvimento concordante com os das bacias bém foram considerados como duas sub-bacias, po-
atlânticas ao sul do continente americano. Estas ba- rém, tendo como marco divisor tectono-sedimentar
cias apresentam certas peculiaridades, entre elas a o lineamento estrutural de Porto Alegre.
rica constituição magmática do seu preenchimento, Apesar das citadas diferenças, seguiram-se
que pode caracterizá-las como um exemplo de mar- as denominações litoestratigráficas contidas em Dias
gem vulcânica (Talwani e Abreu, 2000). Ainda devi- et al. (1994), e procurou-se adequar em uma única
do às condições de mar aberto, não houve o desen- carta o arcabouço estratigráfico e as feições geo-

1
E&P Exploração/Geologia Aplicada a Exploração/Modelagem de Sistema Petrolífero - e-mail: gilmarvb@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Interpretacao e Avaliação das Bacias da Costa Sul/Pólo Sul
3
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste
4
E&P/Assessor DE&P
5
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 551-559, maio/nov. 2007 | 551


lógicas representadas por eventos tectono-magmá- Em geral, se aceita que o desenvolvimento
ticos e seqüências deposicionais interpretados na de separações continentais ocorra de forma episódica
bacia. Entretanto, as peculiares distinções geológi- ao longo de uma extensa faixa, com múltiplas fases
cas entre as porções sul e norte da Bacia de Pelotas de rifteamento e oceanização, processo conhecido
conduzem a necessidade de se discorrer sobre fun- como Rifte Propagante. Isto é, ao longo da separa-
damentos da tectônica rifte, com o propósito de ção, enquanto um determinado segmento já se en-
auxiliar no entendimento da divisão dos estágios contra na fase de espalhamento oceânico, outros
evolutivos aqui propostos. ainda encontram-se na fase rifte em graus diferen-
As bacias de margem passiva que se origina- ciados de extensão de crosta, trazendo implícito o
ram a partir da ruptura de crosta continental expe- conceito de evolução progressiva e diácrona.
rimentaram uma subsidência de natureza distinta Com base nas variações das larguras de ocor-
ao longo do processo de rifteamento. Este é subdi- rência da província de seaward dipping reflections
vidido em três estágios: pré-rifte, rifte e pós-rifte, (SDRs) São Jorge/Pelotas e às diferentes idades
que retratam o grau de atividade e o estilo tectôni- indicadas pelos lineamentos magnéticos a ela as-
co predominante que irá produzir bacias sedimen- sociados, Bueno (2001, 2004) propôs uma evolu-
tares geometricamente diferentes. Entende-se como ção polifásica para o espalhamento oceânico à fren-
tal, as amplas depressões geradas anteriormente te da margem brasileira na qual se encontra a Bacia
aos meio-grábens constituídos durante a fase de de Pelotas. O primeiro estágio de breakup teria se
subsidência mecânica, e as bacias formadas a par-
estendido para nordeste até a Sinclinal de Torres,
tir da subsidência termal. Tanto as últimas quanto
onde se encontram os afloramentos basálticos da
as primeiras apresentam uma geometria em prato,
Província Vulcânica Paraná, praticamente coinci-
mais conhecida pelo termo sag. Porém, as primei-
dindo com o limite entre as sub-bacias Sul e Norte
ras extrapolam os limites de ocorrência do futuro
proposto por Silveira e Machado (2004). O segun-
conjunto de grábens, e as últimas tendem a res-
do teria alcançado a latitude do Lineamento Ca-
tringirem-se ao interior deles. Por estarem relacio-
pricórnio, atual limite sul do Platô de São Paulo na
nados a um processo genético comum, os depósi-
tos sedimentares associados a estas três sucessivas Bacia de Santos.
bacias representam o que se denomina de: estratos
pré-rifte, rifte e pós-rifte (Magnavita, 1992).
O espaço de acomodação gerado pela tectô-
nica é preenchido por uma superimposição de dis-
tintos padrões deposicionais, que freqüentemente
embasamento
estão limitados por superfícies discordantes regio-
nais. A identificação das discordâncias dependerá A Bacia de Pelotas, a sudoeste do poço
das relações estratigráficas desenvolvidas nas re- 1-RSS-1 (próximo ao paralelo 300 S), assenta-se so-
giões axial e lateral de um rifte. Tanto os estratos bre o Cinturão Dom Feliciano, faixa móvel gerada
pré-rifte quanto os pós-rifte apresentam um padrão durante o Ciclo Brasiliano. Constitui-se por rochas
tabular que contrasta com o perfil de um gráben metamórficas de baixo grau (filitos, xistos, quartzitos
assimétrico, originado a partir de uma sedimenta- e mármores), granitos e migmatitos cobertos por uma
ção sintectônica, característica do estágio rifte. Con- seqüência molássica afetada por vulcanismo (Villwock
seqüentemente, as rochas deste intervalo se encer- e Tomazelli, 1995).
ram entre duas superfícies discordantes de acen- Na porção central do cinturão ocorre o Batólito
tuado caráter angular. A discordância inicial do rifte de Pelotas (Fragoso Cesar et al. 1986), cuja evolu-
(rift onset unconformity), melhor identificada nas bor- ção polifásica se deu entre 850 e 450 Ma e tem sido
das da bacia, e a da separação continental (breakup fonte de clásticos para a Bacia de Pelotas (Villwock
unconformity) (Falwey, 1974), ou discordância do e Tomazelli, 1995).
pós-rifte, no caso de riftes que tenham tido sua evolu- A nordeste do poço 1-RSS-1, a Bacia de
ção cessada antes do início do espalhamento oceâni- Pelotas repousa sobre as Seqüências Vulcano-Se-
co (Bosence,1998), tal como observado para o Sis- dimentares da Bacia do Paraná. Segundo Zalán
tema de Riftes Recôncavo-Tucano-Jatobá, no Nor- et al. (1990), esta se originou a partir da subsi-
deste do Brasil. dência térmica que se seguiu ao resfriamento da

552 | Bacia de Pelotas - Bueno et al.


crosta continental posterior ao Ciclo Orogênico ços intraplacas derivados das orogenias andinas. Já a
Brasiliano-Pan Africano, dando origem a uma si- deposição das duas últimas formações foi fortemente
néclise que ocupou uma área aproximada de influenciada pelo clima e aridez crescente, associada à
1.750.000 km 2. De acordo com estes autores, o atenuação da subsidência da bacia (Milani et al. 1994).
preenchimento sedimentar dessa bacia se consti-
tui de três seqüências sedimentares paleozóicas
e mais duas seqüências mesozóicas.
Seqüência Juro-Cretácea
Por meio de dados de poço perfurado na ci-
A Seqüência J-K10 é basicamente formada
dade de Torres (RS) pela Petrobras, constatou-se a
pelos arenitos da Formação Botucatu, que se consti-
presença de uma seqüência sedimentar Permo-
tuiu num extenso campo de dunas, que cobriu intei-
Triássica (grupos Guatá e Passa Dois) e outra
ramente a sinéclise do Paraná (Milani et al. 1994).
vulcano-sedimentar Juro-Cretácea (formações Ser-
ra Geral e Botucatu), confirmando a atuação da
Bacia do Paraná, não só como embasamento para
a Bacia de Pelotas, mas também como área fonte
de sedimentação clástica.
A distinção reológica no substrato da Bacia
seqüências sedimentares
de Pelotas pode ter sido a causa principal de uma
série de diferentes comportamentos termo-mecâni- Vinte e uma seqüências deposicionais, repre-
cos presentes durante as fases rifte e pós-rifte, regis- sentadas por rochas sedimentares e vulcânicas do Cre-
trados ao longo dos seus 900 km de extensão. Entre táceo Inferior, Paleógeno e do Neógeno, compõem o
eles, ressalta-se o aumento abrupto da espessura da registro estratigráfico da Bacia de Pelotas. Os depósi-
Superseqüência Pós-Rifte quando sobre o prolonga- tos relacionam-se à extensão crustal cretácea e ca-
mento da Sinclinal de Torres para dentro da bacia, a racterizam os estágios rifte (Barremiano ao Aptiano),
brusca variação na largura da área de ocorrência pós-rifte (Neoaptiano) e drifte (Neoaptiano ao
dos SDRs ao cruzar o limite entre as sub-bacias Sul e Neógeno). As rochas representantes do estágio pré-
Norte de Silveira e Machado (2004), e a quase au- rifte (Hauteriviano ao Barremiano), basaltos da Pro-
sência dos meio-grábens antitéticos da fase rifte na víncia do Paraná, são considerados como pertencen-
sub-bacia Norte, que estão ostensivamente presen- tes ao contexto evolutivo da Bacia do Paraná.
tes na sub-bacia Sul.

Superseqüência Pré-Rifte
Superseqüência
A natureza dos estratos pré-rifte está intima-
Paleozóica-Mesozóica mente relacionada ao comportamento de ascensão
da astenosfera. Milani (1987) constatou que para os
riftes do Nordeste do Brasil, a sedimentação pré-rifte
foi o resultado de uma lenta e progressiva subsidên-
Seqüência Permo-Triássica cia da região. Este processo difere do observado nos
riftes do sul-sudeste da margem continental brasilei-
Três formações desenvolvidas em ambiente ra, onde o volumoso vulcanismo basáltico da Provín-
marinho (formações Rio Bonito, Palermo e Irati) cons- cia do Paraná precedeu o rifteamento do Atlântico
tituem a base da Seqüência P-Tr. A porção superior Sul. Este distinto comportamento litosférico foi res-
é formada por duas formações (Teresina e Rio do pectivamente classificado por Sengör e Burke (1978)
Rastro) depositadas em ambiente flúvio-lacustre-ma- como rifte passivo e ativo. O primeiro gerado por ten-
rés (Milani et al. 1994). sões horizontais devido a movimentos de placas, en-
Zalán et al. (1990) consideraram que as três pri- quanto que o segundo seria o produto da atividade
meiras formações representam ciclos transgressivos-re- de plumas mantélicas e fusão do manto por descom-
gressivos regidos pela variação do nível do mar e esfor- pressão, no caso o hot spot Tristão da Cunha.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 551-559, maio/nov. 2007 | 553


Seqüência Eocretácea resultados geocronológicos (Ar-Ar) obtidos em
amostras do poço 1-RSS-3. Os dados de Lobo (2007)
apontam a idade de 118 ± 1,9 Ma para a amostra
Milani et al. (1994) consideraram os espessos datada imediatamente abaixo da discordância li-
derrames basálticos da Formação Serra Geral, soto- mítrofe entre os riftes I e II, e 125,3 ± 0,7 Ma
postos a Formação Imbituba na porção norte da Ba- próximo à base da seção, que se assenta em dis-
cia de Pelotas, como uma manifestação magmática cordância sobre um nível riolítico correlacionável
no estágio pré-ruptura do Gondwana, o que concei- ao Membro Nova Prata da Formação Serra Geral,
tualmente reflete o estágio inicial do processo de cujo período de extrusão ocorreu entre 127 e 138 Ma
rifteamento, sendo considerados como os estratos (Stewart et al. 1996).
pré-rifte na evolução da Bacia de Pelotas (Seqüência
K20). Estes se encontram rotacionados e em contato
discordante com as rochas do estágio rifte.
Seqüência K46
A datação dos derrames basálticos continen-
Esta seqüência se constitui nos clásticos gros-
tais Paraná (Brasil)-Etendeka (África) pelo método
sos e finos de idade Aptiana da Formação Cassino,
Ar-Ar (Stewart et al. 1996) a partir de uma criteriosa
que tal como a Formação Guaratiba, sua correlata
análise de amostras de superfície e de poços, obtive-
na Bacia de Santos, teve sua amostragem inicial nas
ram uma visão tridimensional do sucessivo empilha-
fácies proximais do preenchimento dos meio-grábens
mento e calcularam para todo o magmatismo uma
gerados na fase rifte. Estes se apresentam como cu-
idade entre 138 a 127 Ma. Constataram que as ta-
nhas que se espessam de encontro a falhas antitéticas
xas de erupção aumentaram ao longo do tempo con-
em direção à bacia. As cunhas são preenchidas por
forme o grau de extensão para atingirem o pico em conglomerados, diamictitos e siltitos, cujos fragmen-
torno de 132 ± 2 Ma, quando o magmatismo intra- tos de rocha mostram uma forte presença de vulcâ-
continental decresce substancialmente em decorrên- nicas, que diminui para o topo acompanhado por
cia do breakup, deslocando o vulcanismo para os um aumento de rochas metamórficas, evidência de
espaços gerados no interior dos meio-grábens for- mudança na área fonte. Outra mudança que se des-
mados pelo processo de rifteamento. taca para o topo da seção clástica é a redução dos
fragmentos de basaltos e o aumento dos fragmentos
de riolito, indicativo da gradativa denudação das ro-
chas da Formação Serra Geral no continente e aporte
Superseqüência Rifte deste material nos grábens marginais.
Interpretam-se estes depósitos como leques
aluviais progradantes da borda flexural em direção a
A fase rifte pode ser dividida em dois está-
depocentros lacustres. Tanto o contato inferior com
gios: Rifte I – relacionado à Seqüência K30-K44, que
os basaltos da Formação Imbituba quanto o superior,
é basicamente representada pelos basaltos da For-
ora com os arenitos da Formação Tramandaí (poço
mação Imbituba, e o Rifte II – constituído pelas fácies
1-RSS-3), ora com as vulcânicas da Formação Curu-
siliclásticas da Formação Cassino (Seqüência K46).
mim (sísmica), são discordantes, sendo que este últi-
Estas seqüências preenchem uma associação
mo representa a discordância de breakup.
de meio-grábens antitéticos, dando o aspecto que a
Bacia de Pelotas herdou a borda flexural do rifte pre-
cursor, restando à borda falhada a bacia conjugada
da Namíbia, na África.
Superseqüência Pós-Rifte
Seqüência K30-K44
Os depósitos vulcânicos de afinidade básica
Seqüência K48
da Formação Imbituba, que eram considerados es-
sencialmente síncronos à Formação Serra Geral da O estágio de subsidência térmica pós-rifte é
Bacia do Paraná (Dias et al. 1994), tiveram seu representado pela Seqüência K48, que equivale à
posicionamento estratigráfico revisto em função dos suíte vulcânica (basaltos, andesitos e traquiandesitos)

554 | Bacia de Pelotas - Bueno et al.


da Formação Curumim, cuja datação via método Ar- e, a final, constituindo-se de uma cunha clástica
Ar efetuada em amostra do poço 1-SCS-1 resultou regressiva no Neógeno.
na idade de 113 ± 0,1 Ma (Dias et al. 1994).
Esta unidade é recoberta em discordância tan-
to pelos evaporitos da Formação Ariri quanto pela
seção carbonática da Formação Porto Belo. Embora
a base destas vulcânicas não tenha ainda sido atin- Seqüência Plataformal
gida por poços, a análise de seções sísmicas permite
interpretar um contato discordante com a seção rifte
sotoposta, bem como inferir espessuras superiores a Seqüência K50-K60
6 km para a seção pós-rifte, que se caracteriza pela
típica geometria sag. Esta é formada pelos depósitos carbonáticos e
Pelo registro de poços sua presença fica res- siliciclásticas da Formação Portobelo, caracterizando
trita à porção norte da bacia. Já quanto aos as- uma plataforma mista. Em direção ao continente, suas
pectos petrológicos podem-se identificar sedimen- camadas de calcarenitos bioclásticos e oolíticos se
tos interderrames constituídos por arenitos conti- interdigitam com os arenitos da Formação Tramandaí.
nentais na base que se alternam para arenitos ma- Em direção à bacia, gradam para calcilutitos. Seu con-
rinhos e carbonatos no topo, sugerindo uma depo- tato inferior ora se dá em concordância com os delga-
sição inicial lacustre que grada para um ambiente dos depósitos evaporíticos da Formação Ariri (anidrita
marinho. Neste, a presença de algas vermelhas, e carbonatos), ora em discordância com as vulcânicas
oncólitos e oólitos sugerem um ambiente de pla- da Formação Curumim. O contato superior é discor-
taforma formada por bancos, e entre estes e a dante em relação aos pelitos da Formação Atlântida.
praia teria havido uma laguna, representada por
fácies de calcarenitos peloidais e intraclásticos. Um
ambiente de plataforma externa teria o seu regis-
tro na ocorrência de calcilutito bioclástico com fo-
raminíferos plantônicos e calcisferas.
Cunhas de SDRs de diferentes idades podem
Seqüência
ser vistas em seções sísmicas ao longo do contato
crosta continental-crosta oceânica na Bacia de Pelo-
Transgressiva
tas. A observação das relações dos contatos entre
elas conduz a interpretar as mais velhas na porção Seqüência K70 e K82-K86
sul da bacia, já na idade da Formação Imbituba,
passando as mais jovens na porção norte ao tempo O início do ciclo transgressivo fica bem marca-
da Formação Curumim. Assim, enquanto a Sub-ba- do pela presença da espessa seção de pelitos da For-
cia de Torres (Norte) ainda sofria o processo de rif- mação Atlântida, que recobrem em discordância os
teamento, a Sub-bacia de Pelotas (Sul) já experi- carbonatos da Formação Portobelo. Os folhelhos gra-
mentava o estágio de subsidência flexural produzido dam para margas e siltitos que se interdigitam com
pelo resfriamento e contração termal da crosta oceâ-
os arenitos da Formação Tramandaí. Eventos trans-
nica (Martins-Neto et al. 2006).
gressivos mais representativos são identificados den-
tro da Seqüência K82-K86. Para os arenitos finos in-
tercalados a folhelhos e siltitos da Formação Traman-
daí, interpreta-se um ambiente marinho raso, que
Superseqüência Drifte sofre a transgressão dos pelitos de plataforma exter-
na da Formação Atlântida.

Esta fase evolutiva do preenchimento da ba-


cia pode ser considerada em três fases: a inicial, Seqüência K88 a E30-E40
representada por depósitos de plataforma rasa no
Albiano; a intermediária, sendo um período trans- A partir da Seqüência K88 observa-se uma
gressivo que se estende do Albiano ao Oligoceno alternância de transgressões e regressões de maior

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 551-559, maio/nov. 2007 | 555


ordem, onde passam a ocorrer erosões mais acen-
tuadas intercaladas a eventos transgressivos de
referências
ampla distribuição, como o ocorrido no Paleoceno.
O ambiente costeiro passa a ser dominado pelos
bibliográficas
leques de clásticos grossos e finos da Formação
Cidreira, que irão se estender até o Holoceno. Em BOSENCE, D. W. J. Stratigraphic and sedimentological
direção à bacia, estes depósitos se interdigitam com models of rift basins. In: PURSER, B. H.; BOSENCE,
os folhelhos e siltitos cinza-esverdeados da Forma- D. W. J. (Ed.) Sedimentation and Tectonics in Rift
ção Imbé. A presença de camadas de arenitos Basins Red Sea: Gulf of Aden. Cambridge: Chapman
turbidíticos nesta última lhe confere uma deposi- & Hall, 1998. p. 9-25.
ção em ambientes marinhos profundos, com plata-
forma externa, talude e bacia. Ambas as forma-
BUENO, G. V. Discordância pré-Aratu: marco
ções posicionam-se estratigraficamente em
tectono-isotópico no rifte afro-brasileiro. 2001. Tese
discordância aos depósitos sotopostos das forma-
(Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande
ções Tramandaí e Atlântida.
do Sul, Porto Alegre, 2001.

Seqüência E50-E80 BUENO, G. V. Diacronismo de eventos no rifte Sul-


Atlântico. Boletim de Geociências da Petrobras,
Nesta seqüência as transgressões predominam Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 203-229, 2004.
e passa a dominar um ambiente de águas profundas
com a presença de depósitos turbidíticos. Reativa- DIAS, J. L.; SAD, A. R. E.; FONTANA, R. L.; FEIJÓ, F.
ções de lineamentos a noroeste propiciam a ascen- J. 1994. Bacia de Pelotas. Boletim de Geociências
são de intrusões alcalinas, principalmente na porção da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 235-245,
norte da Bacia de Pelotas. jan./mar. 1994.

FALWEY, D. A. The development of continental


margins in plate tectonic history. Australian

Seqüência Regressiva Petroleum Association Journal, Sydney, v. 14, n.


1, p. 95-106, 1974.

Seqüência N10-20 a N50-N60 FRAGOSO CESAR, A. R. S.; FIGUEIREDO, M. C. H.;


SOLIANI JUNIOR, E.; FACCINI, U. F. O Batólito Pelotas
(Proterozóico Superior/Eo-Paleozóico) no Escudo do Rio
Esta seção é representada pelas rochas das Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLO-
formações Cidreira e Imbé, onde os siltitos e are- GIA, 34., 1986, Goiânia. Anais. São Paulo: Sociedade
nitos finos da primeira progradam sobre os peli- Brasileira de Geologia, 1986. v. 3, p. 1322-1343.
tos da segunda, caracterizando uma cunha sedi-
mentar regressiva no Neógeno, à semelhança do
que ocorre com a maioria das bacias da margem LOBO, J. T. Petrogênese das rochas basálticas do
leste brasileira. eocretáceo das Bacias de Campos e Pelotas e
É neste contexto, de aumento do suprimento implicações na geodinâmica de fifteamento do
sedimentar, que se origina a feição conhecida como Gondwana Ocidental. 2007. Tese (Doutorado) –
o Cone de Rio Grande. O rápido aporte de pelitos Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
na porção distal do cone gerou uma instabilidade Janeiro, 2007.
no talude, produzindo movimentações gravitacio-
nais de grandes massas pouco consolidadas em di- MAGNAVITA, L. P. Geometry and kinematics of
reção à bacia. O resultado, bem visível em seções the Recôncavo-Tucano-Jatobá Rift, NE-Brazil.
sísmicas, são falhamentos normais junto ao talude 1992. 1 v. Tese (Doutorado) – Universidade de
e dobramentos e cavalgamentos na bacia. Oxford, Oxford, 1992.

556 | Bacia de Pelotas - Bueno et al.


MARTINS-NETO, M. A.; FALKENHEIN, F. U. H.; ZALÁN, P. V.; WOLFF, S.; CONCEIÇÃO, J. C. J.; MAR-
CUPERTINO, J. A.; MARQUES, E. J. J.; BUENO, G. QUES, A.; ASTOLFI, M. A. M.; VIEIRA, I. S.; APPI, V. T.;
V.; PORSCHE, E.; BARBOSA, M. S. C.; GOMES, N. ZANOTTO, O. A. Bacia do Paraná. In: GABAGLIA, G.P.R.;
S.; EV, L. F. & LEITE, M. G. P. Breakup propagation MILANI, E. J. (Ed.). Origem e evolução de bacias sedi-
in Pelotas Basin, southern Brazil. In: CONGRESSO mentares. Rio de Janeiro: Petrobras, 1990. p.135-168.
BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 43., 2006, Aracaju.
Anais. Aracaju: Sociedade Brasileira de Geologia,
2006. v. 1, p. 13.

MILANI, E. J. Aspectos da evolução tectônica


das bacias do Recôncavo e Tucano Sul, Bahia,
Brasil. Rio de Janeiro: PETROBRAS, 1987. 61 p.
(Ciência Técnica Petróleo. Seção: Exploração de
Petróleo, 18).

MILANI, E. J.; FRANÇA, A. B.; SCHNEIDER, R. L.


Bacia do Paraná. Boletim de Geociências da Pe-
trobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p.69-82, jan./
mar. 1994.

SENGÖR, A. M. C.; BURKE, K. Relative timing of rifting


and volcanism on the Earth and its implications.
Geophysical Research Letters, Washington, n. 5,
p. 419-421, 1978.

SILVEIRA, D. P.; MACHADO, M. A. P. Bacias Sedi-


mentares Brasileiras: Bacia de Pelotas. Aracaju: Fun-
dação Paleontológica Phoenix, 2004. (Séries Bacias
Sedimentares, ano 6, n. 67).

STEWART, K.; TURNER, S.; KELLEY, S.; HA-


WKESWORTH, C.; KIRSTEIN, L.; MANTOVANI, M. 3-
D, 40Ar/39Ar geochrnology in the Paraná continental
flood basalt province. Earth and Planetary Science
Letters, Amsterdam, n. 143, p. 95-109, 1996.

TALWANI, M.; ABREU, V. Inferences regarding


initiation of oceanic crust formation from U.
S. East Coast Margin and Conjugate South
Atlantic Margins. Washington: American
Geophysical Union, 2000. p. 211-233. (Geophysical
Monograph, 115).

VILLWOCK, J. A.; TOMAZELLI, L. J. Geologia Cos-


teira do Rio Grande do Sul: notas técnicas. Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica,
1985. n. 8, p. 1-45.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 551-559, maio/nov. 2007 | 557


SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

EO

NEO

MESO

EO

NEO

EO

NEO

MESO

EO

NEO

EO
NEO
EO

MESO
EO

MESO EO

558 | Bacia de Pelotas - Bueno et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 551-559, maio/nov. 2007 | 559
Bacia do São Francisco

Pedro Victor Zalán1, Paulo César Romeiro Silva1

Palavras-chave: Bacia do São Francisco l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: São Francisco Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução (Grupo Areado), por rochas vulcânicas neocretácicas


(Grupo Mata da Corda) e por uma chapada compos-
ta por arenitos de idade neocretácica (Grupo Urucuia).
A Bacia do São Francisco é uma bacia Aplica-se o nome Bacia Sanfranciscana para a área
intracratônica policíclica pouco deformada na parte de ocorrência desses depósitos fanerozóicos (Sgarbi
central e deformada em suas bordas por ser ladeada et al. 2001). A Bacia do São Francisco (neo-
por duas faixas móveis compressionais: a oeste (Fai- proterozóica, sensu strictu) apresenta uma área de
xa Brasília) e a leste (Faixa Araçuaí). A bacia é preen- 350.000 km2 e localiza-se no interior do Brasil, sobre
chida, predominantemente, por rochas sedimenta- o Cráton do São Francisco, englobando grandes áreas
res proterozóicas (Supergrupo Espinhaço e Grupos dos estados de Minas Gerais e Bahia e pequenas
Arai, Paranoá, Macaúbas e Bambuí), cobertas por partes de Goiás, Tocantins e Distrito Federal. Os limi-
manchas remanescentes de rochas sedimentares tes aqui considerados para a bacia são praticamente
permo-carboníferas (Grupo Santa Fé), eocretácicas os mesmos de Alkmim e Martins-Neto (2001), ou

1
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios/NNE – e-mail: zalan@petrobras.com.br

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 561-571, maio/nov. 2007 | 561


seja: a leste, a Serra do Espinhaço (composta no bras na década de 90 evidenciaram muito bem a
sul pela Faixa Dobrada Araçuaí e ao norte pelo natureza e a relação tectônica entre a Faixa Araçuaí
Corredor de Deformação Paramirim); ao sul, o (thick-skinned foldbelt, autóctone), a parte central
contato estratigráfico normal entre suas rochas e não-deformada da bacia (composta por três seqüên-
o embasamento metamórfico (mais velho que 1,8 cias autóctones) e a extremidade oriental da Faixa
Ga); a oeste, a porção autóctone (thick-skinned) Brasília (thin-skinned foldbelt, totalmente alóctone).
da Faixa Dobrada Brasília (a parte alóctone Importantes contribuições à estratigrafia da bacia
epidérmica (thin-skinned) dessa faixa é considera- foram feitas com o emprego de conceitos de se-
da como pertencente à bacia); e a noroeste, o Arco qüências deposicionais aplicados à interpretação das
de São Francisco (Faixa Dobrada Rio Preto). linhas sísmicas e à análise dos dados obtidos com a
A exploração petrolífera na bacia iniciou-se perfuração dos poços exploratórios de petróleo.
na segunda metade da década de 80, através de Perfis de isótopos de carbono compensaram um
trabalhos da Petrobras englobando o mapeamento pouco a ausência de fósseis, abrindo a possibilida-
geológico e geoquímico, aquisição de linhas sísmi- de de correlações entre estratos distantes e
cas regionais e perfuração de três poços exploratórios, dissimilares, permitindo, inclusive, indicações de
em 1987. Na década de 90, continuou-se com a idades absolutas (Martins, 1999).
aquisição de sísmica 2D (em três campanhas, entre
Nas duas últimas décadas, desde a publica-
1992 e 1997) e a perfuração de um poço exploratório
ção das linhas sísmicas regionais, a coluna estrati-
(1996). No momento, a Petrobras detém direitos
gráfica proterozóica da Bacia do São Francisco tem
exploratórios sobre seis blocos adquiridos da Agên-
sido rotineiramente dividida em três grandes paco-
cia Nacional do Petróleo (ANP), em 2005.
tes ou seqüências. Teixeira (1993) definiu as Seqüên-
A Bacia do São Francisco, por causa de sua
cias Espinhaço (proterozóica média, Rifeano),
posição geográfica privilegiada (parte central do Bra-
Macaúbas e Bambuí (proterozóicas superiores,
sil), seus afloramentos abundantes e riqueza mineral,
Vendiano). Mais modernamente, Alkmim e Martins-
tem sido estudada intensamente por diversos autores
Neto (2001) apresentaram o Supergrupo Espinhaço
desde o início do século passado. Muitas colunas es-
(paleo/ mesoproterozóico), o Grupo Macaúbas (neo-
tratigráficas foram publicadas e não se pretende aqui
proterozóico) e o Grupo Bambuí (neoproterozóico).
fazer um histórico das mesmas. Para este objetivo,
recomendam-se os trabalhos de Braun (1982) e Braun A coluna aqui apresentada segue basicamente esse
et al. (1990). A coluna estratigráfica aqui apresenta- esquema tripartite, mas com importantes diferenças
da é baseada em grande parte nas colunas publicadas na marcação do limite entre as duas seqüências su-
anteriormente, mas significativamente modificada em periores. Além disso, tenta definir limites de idades
relação às idades e ao posicionamento estratigráfico absolutas para os três grandes pacotes.
de certas camadas-chave (Romeiro-Silva e Zalán, 2005; Assim sendo, do mais velho para o mais novo,
Zalán e Romeiro-Silva, 2007). As mudanças aqui a Bacia do São Francisco foi preenchida por uma
introduzidas baseiam-se nas interpretações sismo-es- Supersequência Rifte (1,750-1,500 Ma, paleopro-
tratigráficas da malha de 2.826 km de sísmica 2D terozóica a mesoproterozóica), constituída pelo
existente na bacia (e que não estava disponível para Supergrupo Espinhaço e Grupo Arai; uma
os autores das cartas anteriores) e na análise minucio- Supersequência Intracratônica (1,000-700 Ma,
sa dos dados dos quatro poços exploratórios perfura- neoproterozóica), constituída pelos Grupos
dos pela Petrobras. Macaúbas e Paranoá, e uma Supersequência Intra-
As colunas estratigráficas montadas ao longo cratônica/Antepaís (680-600 Ma, neoproterozóica),
de décadas, com base em mapeamentos de campo, constituída pelo Grupo Bambuí. Coberturas delga-
são múltiplas, com validades locais e correlações das e locais permo-carboníferas (Grupo Santa Fé) e
controversas de uma margem a outra. Esses proble- cretácicas (Grupos Areado, Mata da Corda e
mas são típicos de um empilhamento sedimentar Urucuia) completam a carta estratigráfica da ba-
construído com base em litoestratigrafia, em regiões cia. Por causa de sua pouca importância relativa ao
com deformação complexa e, principalmente, por preenchimento total da bacia, as seqüências
envolverem estratos pré-cambrianos desprovidos de fanerozóicas serão aqui englobadas sob a denomi-
fósseis-guias. As linhas sísmicas obtidas pela Petro- nação Supersequência Sanfranciscana.

562 | Bacia do São Francisco - Zalán e Silva


embasamento Francisco apresentam feições tectônicas de deposi-
ção em um rifte de grandes dimensões (Romeiro-
Silva e Zalán, 2005). Falhas normais de grande re-
A Bacia do São Francisco está inteiramente con- jeito (tanto ao nível do suposto topo do embasa-
tida no Cráton do São Francisco, entidade composta mento cristalino quanto internamente aos estratos
principalmente por rochas arqueanas e paleoproterozói- da unidade) são claramente visíveis em seções sís-
cas (Alkmim e Martins-Neto, 2001). Segundo definição micas. Refletores fortes, discordantes e abundantes
original de Almeida (1977), o cráton não teria sido en- sugerem a atuação de intenso magmatismo duran-
volvido nos processos orogênicos do Evento Brasiliano. te o preenchimento desses riftes. As falhas normais
As linhas sísmicas regionais sugerem que a definição foram freqüentemente invertidas durante as fases
moderna do Cráton do São Francisco deve ter como
deformacionais compressionais que se seguiram (Ro-
limites as faixas dobradas marginais brasilianas quando
meiro-Silva e Zalán, 2005). Correlaciona-se essa
envolvendo o embasamento (estilo estrutural thick-
sismofácies com o Supergrupo Espinhaço, aflorante
skinned) (Romeiro-Silva e Zalán, 2005). Assim sendo, a
na borda leste da bacia sob a forma de Serra do
parte oriental da Faixa Brasília, claramente do tipo
Espinhaço, borda oriental da Bacia do São Francis-
epidérmico em seções sísmicas, foi incluída por esses
autores como parte do cráton e, conseqüentemente, co. Uma linha sísmica que cobriu parcialmente a
como parte da Bacia do São Francisco. O limite ociden- Serra da Água Fria, na borda leste da bacia onde
tal do Cráton do São Francisco estaria no interior da aflora o Supergrupo Espinhaço, mostra a sua che-
Faixa Brasília, aproximadamente a oeste do Domo de gada à superfície vindo da parte basal profunda da
Cristalina, feição esta já resultante de tectônica do tipo seção, através de grandes falhas reversas/inversas
thick-skinned (Romeiro-Silva e Zalán, 2005) (Romeiro-Silva e Zalán, 2005). O Supergrupo
Nas linhas sísmicas regionais, da Faixa Araçuaí Espinhaço foi depositado durante a Tafrogênese
até o Domo de Cristalina, o embasamento sob a Estateriana (1,750-1,500 Ma, Teixeira et al. 2005),
superseqüência mais basal apresenta sismo-fácies tí- indicativa dos movimentos distensionais que leva-
picas de rochas cristalinas (Romeiro-Silva e Zalán, ram à desagregação do Supercontinente Atlântica.
2005). Assim sendo, supõe-se que o embasamento Tendo em vista que essa unidade constitui o emba-
da Bacia do São Francisco deve ser constituído por samento econômico da Bacia do São Francisco, não
gnaisses, granitos e rochas metamórficas de alto grau, repetiremos aqui descrições detalhadas existentes
com idades superiores a 1,8 Ga (critério adotado por na bibliografia. Seus depósitos foram bem estuda-
Alkmim e Martins-Neto, 2001), ainda não perfura- dos por vários autores, com destaque para Martins-
das pelos poços exploratórios de petróleo, mas pre- Neto (1998, 2000). Segundo Martins-Neto (1998,
sente na borda sul (a noroeste de Belo Horizonte) e
2000), o rifte inicia-se com deposição continental,
em esparsos afloramentos em sua parte central (no
acompanhada de magmatismo bimodal (1,730 Ma)
Estado da Bahia), ocorrentes ao longo de um alto
durante a fase de subsidência mecânica, evoluindo
estrutural (Romeiro-Silva e Zalán, 2005; Alto
para sedimentação marinha nos depósitos de subsi-
Cratônico Central) demarcado por importante ano-
dência térmica superiores.
malia gravimétrica longitudinal ao centro da bacia.
O embasamento econômico da Bacia do São Tendo em vista que a Superseqüência Rifte
Francisco é definido no topo da superseqüência mais ocorre em toda a Bacia do São Francisco, de leste
basal (Supergrupo Espinhaço). O interesse petrolífe- para oeste (Romeiro-Silva e Zalán, 2005), mas sem
ro da bacia parece estar restrito às duas superse- indicações em sísmica de seu afloramento para oes-
qüências mais novas. te, tal como na borda leste, sua correlação com uni-
dades litoestratigráficas conhecidas em superfície na
borda oeste torna-se problemática. Aceitamos a cor-
relação de Martins-Neto e Alkmim (2001) com o

Superseqüência Rifte Grupo Araí sem podermos acrescentar mais fatos a


essa correlação. As maiores espessuras dessa uni-
dade são calculadas em cerca de 5.000 m, em área
As rochas sedimentares (ou metassedimen- correspondente à extremidade oeste da linha sísmi-
tares?) da superseqüência basal da Bacia do São ca mostrada na figura 1.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 561-571, maio/nov. 2007 | 563


Figura 1 - Seção sísmica regional da Bacia do São Francisco Figure 1 – Regional seismic section of the São Francisco Basin
mostrando as principais unidades litoestratigráficas, estruturas e showing the principal lithostratigraphic structures and the
os limites atuais e propostos para o Cráton do São Francisco. actual and proposed limits for the São Francisco Craton.
Localização na figura 2. Localization in figure 2.

Com o final da deposição da Superseqüência atual região da Serra do Espinhaço, bem como a
Rifte, seguem-se os movimentos orogenéticos indi- inversões de falhas normais no substrato da Bacia
cadores da aglutinação (Colagem Orogênica do São Francisco, visíveis em linhas sísmicas. Há um
Uruaçuana?) do Supercontinente Rodínia, em torno hiato deposicional de cerca de 500 Ma entre o topo
de 1,300-1,000 Ma (Alkmim e Martins-Neto, 2001), do Supergrupo Espinhaço e a base da próxima su-
levando à inversão total dos riftes estaterianos na perseqüência, a ele sobreposta (fig. 2).

Figura 2 - Seção sísmica regional da Bacia do São Francisco Figure 2 – seismic section of the São Francisco Basin showing
mostrando as principais unidades litoestratigráficas, estruturas e o the principal lithostratigraphic structures and the seismic line
mapa de localização das linhas sísmicas apresentadas neste trabalho. localization map presented in this study.

564 | Bacia do São Francisco - Zalán e Silva


Superseqüência poços exploratórios de petróleo perfurados, três pe-
netraram em sua parte superior (cada um com uma

Intracratônica assembléia litológica diferente do outro) e nenhum a


atravessou totalmente. O Grupo Macaúbas é consti-
tuído de diamictitos, pelitos e arenitos, representan-
Rodínia começou a desmembrar-se entre 1.000 tes de depósitos glácio-continentais proximais
Ma e 950 Ma (Tafrogênese Toniana) iniciando-se, en- (aluviais) e distais (lacustres, turbidíticos) (Martins-
tão, a deposição do Grupo Macaúbas, acompanhada Neto e Alkmim, 2001). Esses depósitos gradam late-
de vulcanismo bimodal (930-912 Ma), sedimentação ralmente para paleoambientes marinhos, à medida
glacial e desenvolvimento de margem passiva (Alkmim que se aproxima a antiga margem passiva correlativa.
e Martins-Neto, 2001). O Grupo Macaúbas teve seu Carbonatos são encontrados acima e abaixo dos tilitos
pleno desenvolvimento na borda leste do Cráton do no Grupo Macaúbas na região do médio/alto
São Francisco, além da atual Serra do Espinhaço, como Jequitinhonha (Schöll, 1976). Este autor descreveu
uma seqüência inicialmente rifte, seguida de intrusão estromatolitos do tipo conophyton nos dolomitos
de assoalho oceânico (816 ± 72 Ma, Pedrosa-Soares basais do Grupo Macaúbas, com idades de deposi-
et al. 1998) e que evoluiu para uma margem passiva. ção sugeridas entre 1.350 e 950 Ma. Esses
Diamictitos glaciais documentam a presença de estromatolitos são considerados como um marcador
glaciações durante a sua evolução. de tempo (circa 1.000 Ma) global, tendo assim sido
A Bacia do São Francisco parece ter recebido aqui utilizado para determinar a idade máxima da
apenas os depósitos plataformais do Grupo Macaúbas Superseqüência Intracratônica. O Grupo Paranoá, por
(em um ambiente intracratônico) correlatos da mar- sua vez, é constituído de uma sucessão de pelitos e
gem passiva oriental do cráton. Seus afloramentos arenitos alternados cada vez mais rica em areias para
não são expressivos, coincidindo com as áreas de o topo. Da mesma maneira que para o Grupo
afloramentos do Supergrupo Espinhaço e em estrei- Macaúbas, à medida que se aproxima da antiga
tas faixas na borda leste (Alkmim e Martins-Neto, margem passiva ocidental correlata, os ambientes
2001). A partir desses afloramentos é possível passam a apresentar intercalações clástico-
correlacionar-se o Grupo Macaúbas com a Seqüên- carbonáticas, igualmente portadoras de estromatolitos
cia sismo-estratigráfica intermediária visível nas se- do tipo conophyton (Martins-Neto e Alkmim, 2001,
ções sísmicas, e que atravessa toda a bacia e aflora Valeriano et al. 2004). Assim sendo, a correlação sís-
na borda oeste, no Domo de Cristalina, sob a forma mica é corroborada pela correlação temporal do
de arenitos do Grupo Paranoá. Suas características esparso conteúdo fossilífero dos Grupos Paranoá e
sismo-faciológicas são típicas de deposição em am- Macaúbas. Interessantemente, o Grupo Vazante, uni-
biente intracratônico: refletores contínuos, plano- dade carbonática/pelítica portadora de importantes
paralelos, subhorizontais, altamente refletivos (suges- mineralizações de Pb e Zn, ocorrente na lasca
tivos de intercalações de litologias com altas e bai- epidérmica alóctone da Faixa Brasília, contém os mais
xas velocidades sísmicas), sem variações abruptas belos afloramentos de estromatolitos conophyton da
de fácies ou de espessuras (Romeiro-Silva e Zalán, Bacia do São Francisco (Dardenne, 2005). Compro-
2005). A espessura do pacote varia continuamente va-se, assim, a correlação temporal entre três impor-
e suavemente de delgada (poucas dezenas de tantes unidades litoestratigráficas: Grupos Paranoá e
metros) na borda leste para moderadamente espes- Macaúbas, juntamente com Grupo Vazante. O Gru-
sa na borda oeste (cerca de 2.000 m, estimados em po Bambuí é totalmente desprovido desse tipo de
dados sísmicos). Sua base repousa discordantemen- estromatolitos. Seu conteúdo fossilífero de natureza
te (com angularidade) sobre o topo erosivo da Su- algálica é indicativo de idades mais jovens, relação
perseqüência Rifte. Seu topo é representado por uma corroborada pela sua posição estratigráfica superior
discordância erosiva, formadora de incisões signifi- nas linhas sísmicas que cortam a porção autóctone da
cativas em alguns locais, e raramente de natureza Bacia do São Francisco.
angular (Romeiro-Silva e Zalán, 2005). Recentemente, Azmy et al. (2008) publicaram
A variação litológica deduzida a partir dos aflo- resultados de datações Re-Os em folhelhos e U-Pb
ramentos do Grupo Macaúbas na borda leste e do em zircões de folhelhos/arenitos do Grupo Vazante
Grupo Paranoá na borda oeste para essa superse- que permitiram a estes autores estimar em torno de
qüência intermediária é muito grande. Dos quatro 1.100-1.000 Ma a idade da deposição da unidade

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 561-571, maio/nov. 2007 | 565


litoestratigráfica alóctone. As datações apresentadas base da sobrejacente Superseqüência Intracratô-
neste trabalho, juntamente com suas margens de nica/Antepaís, respectivamente.
erro, nos levam a considerar suas conclusões como A idade dos diamictitos (Formação Jequitaí)
uma corroboração dos dados e conclusões descritos situados logo abaixo desses carbonatos superiores dos
no parágrafo acima, reforçando nossa estimativa de Grupos Macaúbas/Paranoá foi estimada como sen-
uma idade máxima para esta Superseqüência Inter- do de 760-745 Ma, representativos da Glaciação
mediária em torno de 1.000 Ma. O Grupo Vazante Sturtiana (variação de 773-713 Ma, Hoffman e
poderia se correlacionar apenas com a parte basal Schrag, 2002) no Brasil. Cap carbonates situados logo
dos Grupos Macaúbas e Paranoá e não com sua tota- acima dos tilitos foram datados em 740 ± 22 Ma
lidade. Segundo Azmy et al. (2008), os diamictitos (Babinsky e Kaufman, 2003).
glaciais encontrados, situados estratigraficamente Ressalte-se que, neste trabalho, eliminou-se
adjacentes aos folhelhos e arenitos por eles datados, a denominação Supergrupo São Francisco, que en-
não são correlativos aos da Glaciação Sturtiana (For- globava os Grupos Macaúbas e Bambuí (Alkmim e
mação Jequitaí, na parte superior do Grupo Macaúbas, Martins-Neto, 2001). Acreditamos que a discordância
vide adiante). Passaremos, agora, a discutir o raciocí- existente entre eles, o hiato deposicional/temporal e
nio elaborado para a determinação da idade mínima a diferença significativa entre seus litotipos não jus-
desta Seqüência Intracratônica Intermediária. tificam a junção das duas em uma única unidade
Com o aumento do interesse no potencial pe- litoestratigráfica. Em termos de mapeamento geo-
trolífero dessa bacia, amarrações sísmicas acuradas lógico de superfície, pouca utilidade prática traz essa
aliadas à re-interpretação dos perfis elétricos dos po- unificação, pelos mesmos motivos apontados atrás.
ços, bem como novas datações geocronológicas so-
fisticadas de seções-chave e correlações lito- e bioes-
tratigráficas (com base em estromatolitos) inéditas
forneceram um panorama dramaticamente dife-
rente para as “clássicas” colunas da bacia. Foi cons- Superseqüência
tatado que a grande discordância de primeira or-
dem que separa nas linhas sísmicas a Superseqüên- Intracratônica/Antepaís
cia Superior (Grupo Bambuí) da Intermediária (Grupos
Macaúbas/Paranoá) localiza-se dentro (a 1.644 m no A Superseqüência Intracratônica/Antepaís é
poço 1-RF-1-MG) da seção litoestratigraficamente composta, litoestratigraficamente, pelo Grupo
equivalente à Formação Sete Lagoas, como Bambuí. Sua idade varia de 680 Ma (segundo dados
exemplificado por Fugita e Clark Filho (2001). Di- apresentados anteriormente) a 600 Ma (Valeriano et
vidiu-se, assim, uma seção carbonática única em al. 2004). Com essa nova marcação da base do Gru-
duas seções carbonáticas distinguidas entre si por po Bambuí no poço 1-RF-1-MG, a 1.644 m de pro-
diferenças significativas nas velocidades sísmicas, fundidade, tem-se uma medida da espessura máxi-
razões isotópicas e conteúdo de estromatolitos e ma conhecida para essa unidade. Pelas linhas sísmi-
litotipos (Zalán e Romeiro-Silva, 2007). cas, o Grupo Bambuí tende a espessar-se suavemen-
Essa divisão através da colocação de uma te da locação do poço em direção a oeste até ser
importante discordância petrofísica/estrutural/sísmi- interrompida abruptamente pela Falha de São Do-
ca entre carbonatos tem apoio em dados de mingos, adjacente à qual a espessura dessa unidade
isótopos de carbono apresentados por Martins é estimada em cerca de 2.200 m.
(1999), que mostram claramente um significativo Sua litoestratigrafia clássica (Braun, 1982;
desvio nos valores isotópicos dos carbonatos situa- Braun et al. 1990; Martins-Neto e Alkmim, 2001;
dos acima e abaixo desta profundidade. Tal des- Valeriano et al. 2004) pode ser interpretada como
vio isotópico é de ampla natureza regional, sepa- devido a um ambiente marinho onde rampas
rando claramente os carbonatos Paranoá/ carbonáticas proximais (das bordas da bacia)
Macaúbas dos carbonatos Bambuí. Martins (1999) estaqueadas interdigitam-se em direção ao centro
data esse hiato em 700-680 Ma, valores que pas- da bacia com pelitos de fácies distais (Martins, 1999).
samos a considerar como indicativos das idades Com a alocação da seção carbonática basal do poço
do topo da Superseqüência Intracratônica e da 1-RF-1-MG à parte superior do Grupo Macaúbas (an-

566 | Bacia do São Francisco - Zalán e Silva


teriormente) tem-se, em uma posição central da nhada de crescimento sin-tectônico nos estratos, com
bacia, uma interdigitação, da base para o topo, dos variações faciológicas marcantes das bordas ricas em
pelitos da Formação Serra de Santa Helena com os materiais clásticos grosseiros para o centro da bacia
carbonatos estromatolíticos escuros da Formação marcado por material fino ou carbonático.
Sete Lagoas, seguidos por nova intercalação de
pelitos da Formação Serra de Santa Helena, cober-
tos pelos calcarenitos oolíticos e oncolíticos de alta
energia da Formação Lagoa do Jacaré. Nova
interdigitação pelítica, agora da Formação Serra da
Superseqüência
Saudade, se segue. Porém, com uma significativa
diferença: um crescente incremento no conteúdo
Sanfranciscana
de silte/areia. Essa riqueza ascendente em areia
acaba por predominar, originando a formação mais A geologia das seqüências fanerozóicas
superior do Grupo Bambuí, a Formação Três Marias, ocorrentes dentro dos limites da Bacia do São Fran-
composta exclusivamente por arenitos arcoseanos cisco foi revista de maneira abrangente e objetiva
arroxeados, impuros, micáceos. por Sgarbi et al. (2001). Estes autores utilizam o ter-
O aparecimento abrupto e incremental de mo Bacia Sanfranciscana para o registro sedimentar/
material clástico grosseiro a partir da Formação Ser- vulcânico fanerozóico da Bacia do São Francisco. A
ra da Saudade, com clímax na Formação Três Marias, litoestratigrafia, espessuras, interpretações paleoam-
tem sido classicamente interpretado por vários auto- bientais e idades dessas unidades aqui apresentadas
res como indicativo de uma deposição molássica, na carta estratigráfica, e o breve texto descritivo que
resultante da erosão das placas cavalgantes ascen- segue adiante, foram totalmente baseadas nos tra-
dentes nas bordas da bacia, agora sob influência de balhos desses autores.
vigorosa deformação compressional atribuída à O Grupo Santa Fé é o único remanescente
Orogênese Brasiliana (640-570 Ma). Muito embora erosional paleozóico de coberturas intracratônicas
não haja nenhuma indicação de espessamento sin- mais amplas, que eventualmente existiram sobre a
deposicional com divergência de refletores no Gru- bacia ligando as Bacias do Paraná e do Parnaíba.
po Bambuí em direção à Faixa Brasília para oeste Seus diamictitos/tilitos/fácies tilóides e folhelhos com
(Romeiro-Silva e Zalán, 2005), ou em direção à Fai- dropstones basais apontam para uma unidade crono-
xa Araçuaí para leste, concordamos em interpretar correlata aos sedimentos permocarboníferos glaciais
essa fase final de deposição dessa superseqüência do Grupo Itararé da Bacia do Paraná.
como sendo de uma bacia de antepaís. Entretanto, Três unidades cretácicas, de natureza conti-
o início de sua sedimentação, da Formação Serra de nental (predominantemente desértica) formam
Santa Helena até a Formação Lagoa do Jacaré, apre- chapadas e tabuleiros na Bacia do São Francisco. O
senta características de ambientes calmos, rasos, con- Grupo Areado (Eocretáceo) representa paleoambien-
tínuos de baixo gradiente, típicos de bacias tes lacustres (lamitos) assoreados por arenitos flúvio-
intracratônicas; daí a denominação de Superseqüên- deltaicos, fluviais diversos e eólicos. O ambiente
cia Intracratônica/Antepaís. tectônico prevalente durante a sua sedimentação foi
Não concordamos com trabalhos (Chang et distensional, provável reflexo intracontinental do
al. 1998; Martins-Neto e Alkmim, 2001) que inter- quebramento do Supercontinente Gondwana exata-
pretam uma fase de bacia de antepaís para toda a mente nessa época (137-112 Ma no Atlântico Sul,
deposição do Grupo Bambuí. As características geo- 125-102 Ma no Atlântico Equatorial). O Grupo Mata
métricas da supersequência em seções sísmicas são da Corda (Neocretáceo) inicia-se com extrusão de
típicas de uma bacia intracratônica que foi deforma- rochas vulcânicas e subvulcânicas kamafugíticas
da por tectônica compressional thin-skinned e thick- (vulcanismo alcalino máfico a ultramáfico) datadas
skinned após a sua deposição. A dedução de uma em torno de 90-80 Ma, coincidentes em tempo com
fase final sob influência de cavalgamentos margi- o início do magmatismo alcalino da região sudeste
nais é obtida somente com base em aspectos texturais do Brasil (duração de 87-52 Ma) (Zalán, 2004).
e mineralógicos dos sedimentos, e não por evidên- Intrusões kimberlíticas diamantíferas também ocor-
cias típicas de bacias de antepaís, tais como rem. Seguem rochas vulcanoclásticas associadas e
subsidência flexural assimétrica ou bipolar acompa- arenitos/siltitos depositados em leques aluviais e

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 561-571, maio/nov. 2007 | 567


ambientes fluviais diversos. O Grupo Urucuia BRAUN, O. P. G.; MELLO, U.; DELLA PIAZZA, H. Ba-
(Neocretáceo), de natureza predominantemente are- cias proterozóicas brasileiras com perspectivas
nosa, é considerada por Sgarbi et al. (2001) como exploratórias para hidrocarbonetos. In: RAJA
contemporânea ao vulcanismo (em parte) e à seção GABAGLIA, G. P.; MILANI, E. J. (Ed.). Origem e evo-
superior do Grupo Mata da Corda e uma variação lução de bacias sedimentares. Rio de Janeiro: Pe-
faciológica lateral desta. O grupo constitui a unidade trobras. SEREC. CEN-SUD, 1990. p. 115-132.
da Superseqüência Sanfranciscana com mais amplo
espalhamento areal, formando uma chapada contí-
CHANG, H .K.; MIRANDA, F. P.; MAGALHÃES, L.;
nua do norte de Minas Gerais até o sul do Piauí, atra-
vessando longitudinalmente todo o Estado da Bahia. ALKMIM, F. F. Considerações sobre a evolução
Seus paleoambientes variam de desérticos na base tectônica da bacia do São Francisco. In: CONGRES-
para lacustres no topo. SO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 35., 1998, Belém.
Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de
Geociências, 1998. v. 5, p. 2076-2090.

referências FUGITA, A. M.; CLARK FILHO, J. G. Recursos


energéticos da Bacia do São Francisco: hidrocarbo-

bibliográficas netos líquidos e gasosos. In: PINTO, C.; MARTINS-


NETO, M. A. (Ed). Bacia do São Francisco: geolo-
gia e recursos naturais. Belo Horizonte: Sociedade
Brasileira de Geologia, 2001. p. 9-30.
ALKMIM, F. F.; MARTINS-NETO, M. A. A bacia
intracratônica do São Francisco: arcabouço estrutural HOFFMAN, P. F.; SCHRAG, D. P. The snowball earth
e cenários evolutivos. In: PINTO, C. P.; MARTINS- hypothesis: testing the limits of global change. Terra
NETO, M. A. (Ed.). Bacia do São Francisco: geolo- Nova, Oxford, v. 14, p. 129-155, 2002.
gia e recursos naturais. Belo Horizonte: Sociedade
Brasileira de Geologia, 2001. p. 9-30. MARTINS, M. Análise estratigráfica das seqüên-
cias mesoproterozóicas (borda oeste) e
ALMEIDA, F. F. M. O Cráton do São Francisco. Revis- neoproterozóicas da Bacia do São Francisco. 1999.
ta Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 7, p. 214 p. Tese (Mestrado) - Universidade Federal do Rio
285-295, 1977. Grande do Sul, Porto Alegre, 1999.

AZMY, K.; KENDALL, B.; CREASER, R. A.; HEAMAN, MARTINS-NETO, M. A. O Supergrupo Espinhaço em
L.; OLIVEIRA, T. F. Global correlation of the Vazante Minas Gerais: registro de uma bacia rifte-sag do paleo/
Group, São Francisco Basin, Brazil: Re-Os and U-Pb mesoproterozóico. Revista Brasileira de
radiometric age constrainsts. Precambrian Research, Geociências, São Paulo, v. 28, p. 151-168, 1998.
Amsterdam, v. 164, p. 160-172, 2008.
MARTINS-NETO, M. A. Tectonics and sedimentation
BABINSKY, M.; KAUFMAN, A. J. First direct dating of in a paleo/mesoproterozoic rift-sag basin (Espinhaço
a Neoproterozoic post-glacial cap carbonate. In: SOUTH Basin, southeastern Brazil). Precambrian Research,
AMERICAN SYMPOSIUM ON ISOTOPE GEOLOGY, 4., Amsterdam, v. 103, p. 147-173, 2000.
2003. Short Papers. Salvador: Companhia Baiana de
Pesquisa Mineral, 2003. v. 1, p. 321-323. MARTINS-NETO, M. A.; ALKMIM, F. F. Estratigrafia e
evolução tectônica das bacias neoproterozóicas do
BRAUN, O .P. G. Novas contribuições à estratigrafia e paleocontinente São Francisco e suas margens: registro
aos limites do Grupo Bambuí. In: CONGRESSO BRA- da quebra de Rodínia e colagem do Gondwana. In: PIN-
SILEIRO DE GEOLOGIA, 32., 1982, Salvador. Anais. TO, C. P.; MARTINS-NETO, M. A. (Ed.). Bacia do São
São Paulo: Sociedade Brasileira de Geologia, 1982. Francisco: geologia e recursos naturais. Belo Horizonte:
p. 260-268. Sociedade Brasileira de Geologia, 2001. p. 31-54.

568 | Bacia do São Francisco - Zalán e Silva


PEDROSA-SOARES, A. C.; VIDAL, P.; LEONARDOS, O. ZALÁN, P. V. Evolução fanerozóica das bacias sedi-
H.; BRITO-NEVES, B. B. Late proterozoic oceanic mentares brasileiras. In: MANTESSO-NETO, V.;
remnants in eastern Brazil: further refutation of an BARTORELLI, A.; CARNEIRO, C. D. R.; BRITO NEVES,
exclusively ensialic evolution for the Araçuaí-West Congo B. B. (Ed.). Geologia do continente sul-americano:
orogen. Geology, Boulder, v. 26, p. 519-522. 1998. evolução da obra de Fernando Flávio Marques de
Almeida. São Paulo: Beca, 2004. p. 595-612.
ROMEIRO-SILVA, P. C.; ZALÁN, P. V. Contribuição da
sísmica de reflexão na determinação do limite oeste ZALÁN, P. V.; ROMEIRO-SILVA, P. C. Proposta de mu-
do Cráton do São Francisco. In: SIMPÓSIO SOBRE O dança significativa na coluna estratigráfica da Bacia
CRÁTON DO SÃO FRANCISCO, 3., 2005, Salvador. do São Francisco. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DO
Anais. Salvador: Sociedade Brasileira de Geologia. SUDESTE, 10., 2007, Diamantina. Programação e
2005. p. 44-47. Expanded abstract. Livro de Resumos. Minas Gerais: Sociedade Brasi-
leira de Geologia, 2007. p. 96.
SCHÖLL, W .U. Sedimentologia e geoquímica do
Grupo Bambuí na parte sudeste da Bacia do São Fran-
cisco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
29., 1976, Ouro Preto. Anais. São Paulo: Sociedade
Brasileira de Geologia, 1976. v. 2, p. 207-231. bibliografia
SGARBI, G. N. C.; SGARBI, P. B. A.; CAMPOS, J. E.
G. C.; DARDENNE, M. A.; PENHA, U. C. Bacia
CAMPOS, D. A.; BAPTISTA, M. B.; BRAUN, O. P. G.
Sanfranciscana: o registro fanerozóico da Bacia do
Léxico estratigráfico do Brasil. Brasília: Companhia
São Francisco. In: PINTO, C. P.; MARTINS-NETO, M.
de Pesquisa de Recursos Minerais, 1984. 560 p.
A. (Ed.). Bacia do São Francisco: geologia e recur-
sos naturais. Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de
Geologia, 2001, p. 93-138. HOFFMAN, P. F.; SCHRAG, D. P. The snowball Earth
hypothesis: testing the limits of global change. Terra Nova,
TEIXEIRA, L. B.; NOVAIS, L. C. C.; VALERIANO, C. United Kingdom, v. 14, n. 3, p. 129-155, June 2002.
M.; ALMEIDA, J.; AIRES, J. R.; ANJOS, K. M.;
TEIXEIRA, M. Lineamentos transversais nas porções
centro e norte da Bacia do Espírito Santo e na faixa
proterozóica adjacente: influência na sedimentação
e na compartimentação estrutural. In: SIMPÓSIO webgrafia
NACIONAL DE ESTUDOS TECTÔNICOS, 10., 2005,
Curitiba. Resumos expandidos. Curitiba: Socieda-
de Brasileira de Geologia, 2005.
DARDENNE, M. A. Conophyton of Cabeludo, Vazan-
te Group, State of Minas Gerais. Geological and
TEIXEIRA, L. B. Bacia do São Francisco: estilo estrutu-
paleontological sites of Brazil, Brasilia: Comissão
ral e perspectivas exploratórias. In: CONGRESSO IN-
Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos, 2005.
TERNACIONAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
Sigep 073. Disponível em: < http://www.unb.br/ig/
GEOFÍSICA, 3., 1993, Rio de Janeiro. Resumos ex-
sigep/sitio073/sitio073english.pdf>. Acesso em: 24
pandidos. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de
set. 2008.
Geofísica. 1993. v. 1, p. 139-141.

VALERIANO, C. M.; DARDENNE, M. A.; FONSECA,


M. A.; SIMÕES, L. S. A.; SEER, H. J. A evolução
tectônica da faixa Brasília. In: MANTESSO-NETO, V.;
BARTORELLI, A.; CARNEIRO, C. D. R.; BRITO NEVES,
B. B. (Ed.). Geologia do continente sul-americano:
evolução da obra de Fernando Flávio Marques de
Almeida. São Paulo: Beca, 2004. p. 575-592.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 561-571, maio/nov. 2007 | 569


BACIA DO SÃO FRANCISCO

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE

CENOZÓICO MATA DA
65 CORDA
DESÉRTICO 220 360

CONT.
100 GP. URUCUIA
MESOZÓICO CRETÁCEO TRÊS BARRAS
DESÉRTICO AREADO QUIRICÓ 270
ABAETÉ
150

270 PERMIANO
MAR.
COSTEIRO SANTA TABULEIRO
270
300 PALEOZÓICO GLACIAL FÉ FLORESTA
320

545

600 TRÊS MARIAS

ANTEPAÍS
DELTAICO
NEOPROTEROZÓICO

BAMBUÍ

INTRA. /
SERRA DA SAUDADE
MAR.

PLATAFORMA / LAGOA DO JACARÉ 2200


SERRA S. HELENA
C R I O G EN IAN O

PROFUNDO /

700
PLATAFORMA
GLACIAL JEQUITAÍ

MACAÚBAS / PARANOÁ

INTRACRATÔNICA
COSTEIRO /
800
MARINHO

PROFUNDO / 2000
TONIANO

PLATAFORMA /
900 PROFUNDO /
P R O T E R O Z Ó I C O

CONT. GLACIAL ?
1000
E S T E N IAN O

1100
MESOPROTEROZÓICO

1200
ECTASIANO

1300

1400
CALIMIANO

1500
SUPERGRUPO GP.
ESPINHAÇO / ARAÍ
CONT. / TRANS.

1600 DELTAICO /
RIFTE

EÓLICO / 5000
ESTATERIANO
PROTEROZÓICO

FLUVIAL /
ALUVIAL
PALEO

1700

1800
OROSIRIANO

570 | Bacia do São Francisco - Zalán e Silva


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 561-571, maio/nov. 2007 | 571

Você também pode gostar