Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MICROECONOMIA 2
Departamento de Economia, Universidade de Brası́lia
Notas de Aula 1 – Graduação
Prof. José Guilherme de Lara Resende
“Every individual...generally, indeed, neither intends to promote the public interest, nor
knows how much he is promoting it. By preferring the support of domestic to that of
foreign industry he intends only his own security; and by directing that industry in such
a manner as its produce may be of the greatest value, he intends only his own gain, and
he is in this, as in many other cases, led by an invisible hand to promote an end which
was no part of his intention” (Adam Smith, A riqueza das Nações, Livro IV, Capı́tulo
II, p. 477).
Veremos que essa ideia está relacionada ao conceito de eficiência de Pareto e ao Primeiro Teorema
do Bem-estar.
Outras questões importantes com relação a este tópico são:
Walras no final do século XIX argumentou a existência de equilı́brio nos moldes de demanda
igual à oferta. Porém há um erro na argumentação de Walras. Esse erro foi apontado e corrigido por
Wald em 1935, que provou a existência de equilı́brio sob condições bastante restritivas (utilidades
separáveis, utilidade marginal decrescente para todos os bens, etc). Debreu e Arrow (1954) e
McKenzie (1954) provaram a existência de equilı́brio em um mercado competitivo, sob condições
bem mais gerais do que as de Wald.
1. Para cada bem, existe um grande número de firmas e consumidores atuando no seu mercado;
3. Firmas maximizam lucros, dada a sua tecnologia e tomando os preços dos insumos e dos bens
produzidos como dados.
1. Custos de transação,
2. Externalidades,
3. Bens públicos,
4. Problemas de informação.
Vamos supor nesta seção que não exista um mercado formal (ou seja, que não exista um sistema
de preços). Logo, todas as interações entre os diversos agentes da economia são realizadas por meio
de trocas voluntárias (“barter economy”).
Também não lidaremos neste momento com a questão de produção. Cada indivı́duo da economia
recebe uma dotação inicial de bens. Vamos representar pelo vetor ei ∈ Rn+ a dotação inicial dos n
bens do consumidor i, i = 1, . . . , I.
O caso de dois indivı́duos e dois bens, I = 2 (nesse caso vamos representar os dois consumidores
por A e B, para facilitar a notação) e n = 2, pode ser analisado graficamente por meio da caixa de
Edgeworth.
A dotação total de uma economia, eT , é a soma das dotações iniciais dos indivı́duos da economia.
No caso de dois consumidores e dois bens, temos que eT = eA + eB , onde ei = (ei1 , ei2 ), i = A, B.
A dimensão (o tamanho) da caixa é definida pela dotação total de bens na economia. Um ponto
na caixa representa uma possı́vel distribuição de dotação entre os participantes da economia, sem
desperdı́cios. Todas as possı́veis distribuições de bens na economia estão representadas na caixa.
eB
1
0B
s
Bem 2
?
eA s s s eB
2 2
e = (eA , eB )
6
s
0A -
eA Bem 1
1
Para completarmos a caracterização dessa economia, temos que especificar as preferências in-
dividuais. Representamos estas preferências por meio de funções de utilidade. Supondo que todas
as preferências sejam bem comportadas, obtemos um mapa de curvas de indiferença que preenche
a caixa de Edgeworth, para cada indivı́duo.
eB
1
0B
s
eA s s s eB
2 2
e= (eA , eB )
6
s
0A -
eA
1
Suponha que existam I indivı́duos e n bens. Cada indivı́duo é representado por uma relação de
preferência i (ou, equivalentemente, por uma utilidade ui ) e uma dotação inicial ei . Vamos denotar
por I o conjunto dos consumidores, I = {1, . . . , I}. A coleção E = (ui , ei )Ii=1 representa uma
economia de trocas (ou economia de trocas puras ou economia de trocas simples, sem produção).
Definição: Alocação Factı́vel. Dizemos que a alocação x = (x1 , . . . , xI ) é factı́vel se ela exaure
a dotação total de cada bem na economia. Logo, para cada bem, a quantidade consumida é igual
ao total disponı́vel. O conjunto das alocações factı́veis, denotado por F (e), é dado por:
( I I
)
X X
i i
F (e) = x | x = e
i=1 i=1
Bem 1: xA B A B
1 + x1 = e1 + e1
Bem 2: xA B A B
2 + x2 = e2 + e2
Dizemos que uma alocação factı́vel é Pareto-eficiente se não for possı́vel melhorar (estritamente)
pelo menos um indivı́duo sem piorar ninguém.
Dado que as trocas na economia são feitas de forma voluntária, se a economia se encontra
em uma alocação Pareto-eficiente, não será possı́vel mudar essa alocação. Portanto, as alocações
Pareto-eficientes são candidatas naturais ao equilı́brio da economia.
Observações sobre o Critério de Pareto:
• Uma outra maneira de interpretar: alocações de recursos em que não é possı́vel fazer com
que todos melhorem ou que não é possı́vel fazer com que alguém melhore sem que pelo menos
uma outra pessoa piore são alocações Pareto ótimas.
• Alocações eficientes de Pareto são alocações em que todos os ganhos de troca se exauriram.
Logo não existem mais trocas mutualmente vantajosas para serem feitas.
• Em geral há um conjunto grande de pontos Pareto ótimos em uma economia. Dizer que a
economia deve estar em um ponto Pareto ótimo é um juı́zo de valor, mas o mais fraco juı́zo
de valor que se pode fazer a respeito da situação da economia.
• O critério de Pareto apenas diz que não deve haver perdas ou desperdı́cios na economia, ele
não diz nada sobre a distribuição de riqueza de uma sociedade. Se a sociedade partir de
uma dotação inicial de recursos muito desigual, é provável que a alocação de equilı́brio seja
também desigual, mesmo sendo eficiente.
0B
?
Curva de
Contrato
s
s
s
e = (eA , eB )
6
0A -
Para o caso de dois consumidores, A e B, uma alocação eficiente de Pareto pode ser vista como
uma alocação onde um dos agentes está tão bem quanto possı́vel, dada a utilidade do outro agente.
Se as utilidades dos dois agentes forem bem comportadas, então as alocações factı́veis no interior
da caixa de Edgeworth em que as TMS dos dois agentes são iguais definem as alocações Pareto
eficientes, ou seja, a curva de contrato.
Portanto, em uma alocação Pareto eficiente, as taxas marginais de substituição entre dois bens
devem ser iguais entre os consumidores (se não fosse o caso, existiria alguma troca que melhoraria
um dos consumidores sem piorar o outro – observe a figura acima). Note que isso vale para utilidades
bem comportadas e alocações no interior da caixa de Edgeworth.
Exemplo: Suponha dois consumidores, A e B, que possuem dotações iniciais representadas por
eA = (exA , eyA ) e eB = (exB , eyB ), e utilidades Cobb-Douglas denotadas por:
αyA β(eTy − yA )
=
(1 − α)xA (1 − β)(eTx − xA )
Resolvendo essa equação, encontramos yA em função de xA , de modo que define a curva de contrato.
Suponha que as utilidades dos dois indivı́duos são iguais (logo, α = β). Então a última expressão
acima se torna: !
αyA α(eTy − yA ) eTy
= ⇒ yA = xA ,
(1 − α)xA (1 − α)(eTx − xA ) eTx
ou seja, a curva de contrato será uma reta, qualquer que seja a utilidade Cobb-Douglas considerada
(isso não ocorrerá se as utilidades dos dois indivı́duos forem distintas).
uB
6
Fronteira de
Possibilidade
de Utilidade
-
uA
Vamos definir um conceito ainda mais forte do que o de alocações Pareto eficientes. Dada uma
alocação factı́vel qualquer, vamos assumir que coalizões (grupos de indivı́duos) que possam obter
uma alocação melhor entre si, então eles realizam trocas para alcançar essa melhora. Esta ideia é
formalizada nos conceitos a seguir.
Uma alocação para a qual não existe nenhuma coalizão que a bloqueie, ou seja, em que para
todo S ⊂ I não exista y ∈ F (e) tal que yi i xi para todo i ∈ S, com pelo menos uma preferência
estrita, é chamada alocação não bloqueável.
Note que alocações ineficientes são bloqueadas pela coalizão formada por todos os indivı́duos
da economia (S = I). Logo, toda alocação não-bloqueável é Pareto-eficiente (a volta não é válida
em geral).
Definição: Núcleo. O conjunto das alocações não bloqueáveis, denotado por C(e), é chamado
núcleo da economia E.
As alocações no núcleo de uma determinada economia de trocas puras são as candidatas naturais
para serem alcançadas por meio de uma sequência de trocas voluntárias. Porém para isso ocorrer
há um exigência informacional gigantesca para cada participante da economia.
Vamos supor a partir de agora que as transações são efetuadas em mercados competitivos,
onde cada consumidor maximiza o seu bem-estar, dados os preços que observa. Vamos continuar
assumindo que não exista produção na economia. Logo, cada consumidor recebe uma dotação
inicial de bens, que pode ser vendida e daı́ usada para adquirir outra cesta de bens.
Portanto, o sistema de preços é o instrumento alocativo de uma economia de mercado. Ele
determina o valor de cada dotação inicial e, consequentemente, quais cestas de bens estão dentro
da possibilidade de consumo de cada indivı́duo.
Suponha I consumidores, I = {1, . . . , I} denota o conjunto dos I consumidores. Suponha
também que as preferências i de cada consumidor i ∈ I são representadas por uma função de
utilidade ui bem comportada (contı́nua, estritamente crescente e estritamente quasecôncava).
O problema do consumidor i, no caso de dois bens apenas, é:
max
i i
ui (xi1 , xi2 ) s.a. p1 xi1 + p2 xi2 ≤ p1 ei1 + p2 ei2 ,
x1 ,x2
0B
@
@
@ ?
@
@ xA
@s
@
@
@s
xB @ @
e = (eA , eB )
@s
@
@
@
6 @
@
@
0A -
obs: xi : demanda bruta de i, i = A, B
Observe que no sistema de preços representado na figura acima, cada um dos dois consumidores
está maximizando a sua utilidade dada a restrição orçamentária que enfrenta, em que essa restrição
é determinada pelo sistema de preços. Porém, a economia não está em equilı́brio: há um excesso
de oferta do bem 1 e um excesso de demanda do bem 2.
Vimos que o nı́vel de preços representado na figura acima não iguala a demanda à oferta, para
nenhum dos dois bens. Nesse caso, dizemos que os mercados não se equilibram ou se exaurem.
Logo, a economia está em desequilı́brio. O equilı́brio será obtido via ajuste de preços, que faz
com que a demanda se iguale à oferta para todos os bens da economia. Essa situação é chamada
equilı́brio de mercado, ou equilı́brio competitivo, ou equilı́brio Walrasiano. Preços que alcançam o
equilı́brio são chamados preços de equilı́brio. A alocação resultante é chamada alocação de equilı́brio
(ou alocação de equilı́brio Walrasiano).
Então, aos preços p, se zk (p) = 0, a demanda de mercado pelo bem k iguala a oferta de mercado
desse bem. Se z(p) = 0, onde 0 = (0, . . . , 0) denota o vetor de zeros, então os mercados de todos
os bens estão em equilı́brio.
2. (Homogeneidade) z(αp) = z(p), para todo α > 0. Apenas preços relativos importam –
podemos normalizar os preços e usar um numerário. Logo, não podemos determinar o valor
dos preços absolutos de equilı́brio da economia. Se existem n preços na economia, apenas
n − 1 preços serão independentes. No caso de dois bens, podemos normalizar um deles em 1
e apenas encontrar o preço relativo de equilı́brio do outro bem.
xB∗
1
0B
@
@
@
@ ?
@
@
@
@
@
s
@ Alocação de equilı́brio
xA∗
2
@s xB∗
2
@
@
@
@
@
@se
@
6 @
@
s @
0A -
xA∗
1
A caixa de Edgeworht ilustrada na figura acima mostra um vetor de preços de equilı́brio, que
leva os consumidores A e B, a partir de suas dotações iniciais, representadas no ponto e na caixa,
à alocação de equilı́brio x = (xA∗ , xB∗ ), na qual ambos os consumidores estão maximizando o seu
bem-estar e os mercados dos dois bens estão em equilı́brio.
x2
6
Conjunto de
Possibilidade de
* Produção (convexo)
-
x1
Dado o vetor de preços p ≥ 0, a firma j escolhe o plano de produção que maximiza lucros:
max p · yj (1)
yj ∈Y j
Suponha que existam dois produtos, X e Y , produzidos por duas firmas distintas, que usam
dois fatores de produção, capital, K e trabalho, L. Suponha que as quantidades de capital e
trabalho estão fixas. Podemos construir uma caixa de Edgeworth para produção, onde uma firma
é representada no vértice sudoeste da caixa e a outra firma é representada no vértice noroeste
da caixa. Representamos as isoquantas de ambas as firmas na caixa. Pontos de tangência destas
isoquantas representam pontos de eficiência produtiva ou eficiência técnica. Podemos então definir
uma curva de contrato para a produção.
02
Curva de
s Contrato
s para Produção
01 -
Observe que na curva de contrato para a produção, as taxas marginais de substituição entre
os insumos são iguais para ambas as firmas. Logo, em pontos de eficiência técnica, as taxas
marginais de substituição entre dois insumos quaisquer são iguais entre firmas, mesmo que estas
firmas produzam bens diferentes (assumindo funções de produção bem comportadas e alocações
no interior da caixa). Podemos construir o seguinte conceito a partir da curva de contrato para a
produção:
Pontos na FPP representam a quantidade máxima do bem X que pode ser produzida para certa
quantidade do bem Y . Pontos que estão sobre a FPP, tais como o ponto B na figura abaixo, são os
pontos de eficiência técnica ou eficiência produtiva. Pontos no interior da FPP, tais como o ponto
A na figura abaixo, são ineficientes no sentido técnico. Nos pontos sobre a FPP, a taxa marginal de
substituição técnica entre dois insumos é igual para todas as firmas, quaisquer que sejam os bens
que elas produzam, assumindo que a tecnologia de produção seja “bem-comportada”.
Podem existir pontos de eficiência técnica que não representem alocações Pareto eficientes.
Porém, toda alocação Pareto eficiente está necessariamente associada a um ponto de eficiência
técnica.
Bem Y
6
Fronteira de Possibilidade de Produção
sB
sA
-
Bem X
A FPP tem inclinação negativa devido à escassez de recursos. Se estamos no ponto B na figura
acima e queremos produzir mais do bem X, precisamos abrir mão de um pouco de bem Y (a
sociedade realoca alguns dos recursos usados na produção de Y para a produção de X). Portanto,
a escassez de fatores de produção implica que a FPP é negativamente inclinada.
O formato da curva da FPP reflete como o custo marginal de um bem muda com a quantidade do
outro bem sendo produzida. Esse custo de oportunidade marginal da FPP é chamado taxa marginal
de transformação dos bens. Essa taxa mede a taxa pela qual um bem pode ser transformado em
outro, no sentido de que os fatores de produção são realocados da produção de um dos bens para
a produção do outro bem.
Portanto, o custo marginal de produção de um bem em termos de outro bem é dado pela
inclinação da FPP. Uma FPP com inclinação constante (isto é, uma reta) significa que este custo
marginal é constante, independente da quantidade produzida. Uma FPP côncava significa que este
custo marginal aumenta quanto mais desse bem é produzido. Ou seja, quanto maior a produção
de vinho, para produzir mais um litro de vinho, temos que abrir mão de uma quantidade maior de
pão.
2.3 Equilı́brio
Os consumidores são modelados como antes, por meio de uma função de utilidade e de uma
dotação inicial, que inclui bens ou serviços que o consumidor oferece ao mercado, como trabalho,
por exemplo. Com a inclusão de firmas na análise, precisamos descrever a distribuição dos lucros
dessas firmas na economia. Vamos denotar por θij a fração da firma j que o consumidor i detém.
Devemos ter que:
X
0 ≤ θij ≤ 1, ∀i ∈ I, j ∈ J , e θij = 1, ∀j ∈ J .
i∈I
Um consumidor possui duas fontes de renda: a sua dotação de bens e serviços e a quantidade
de ações de firmas que possui. A restrição orçamentária do consumidor i se torna então:
X
p · x i ≤ p · ei + θij Πj (p) = mi (p),
j∈J
max
i n
ui (xi ) s.a. p · xi ≤ mi (p) (2)
x ∈R+
Resolvendo este problema, encontramos as demandas ótimas dos consumidores, o que permite
calcular a demanda de mercado.
Com a introdução das ações das firmas, completamos a caracterização da economia, que pode
ser denotada por E = (ui , ei , θij , Y j )i∈I,j∈J (chamada economia de propriedade privada).
A função excesso de demanda agregada do bem k é agora dada por:
X X j X
zk (p) = xik (p, mi (p)) − yk (p) − eik ,
i∈I j∈J i∈I
O vetor de funções excesso de demanda agregada definido para economias com produção con-
tinua satisfazendo as mesmas três propriedades que eram satisfeitas no caso de uma economia de
trocas puras: 1) continuidade, 2) homogeneidade, e 3) lei de Walras. Essas propriedades possuem
as mesmas interpretações e implicações que vimos anteriormente.
Considere a economia de propriedade privada E = (ui , ei , θij , Y j )i∈I,j∈J . Suponha que cada util-
idade individual satisfaz certas propriedades (por exemplo, é bem-comportada) e que o conjunto de
possibilidade de produção de cada firma satisfaz certas
Phipóteses (por exemplo, apresenta retornos
decrescentes de escala). Suponha também que y + i∈I ei 0 para algum vetor de produção
agregada.
Nesse caso, podemos garantir que existe pelo menos um vetor de preços p∗ 0 tal que o vetor
de excessos de demanda seja igual a zero, z(p∗ ) = 0. A alocação de equilı́brio para uma economia
com produção deve descrever além das cestas de consumo de cada indivı́duo, os planos de produção
ótimos de cada firma.
A figura abaixo ilustra uma situação de equilı́brio, considerando uma economia com um único
consumidor. Observe que se a condição de tangência não for satisfeita, isso significa que a taxa
na qual o consumidor está disposto a trocar um dos bens pelo outro é diferente da taxa na qual
esse bem pode ser transformado no outro. Então existe a possibilidade de melhorar o bem-estar do
consumidor, ao se rearranjar a produção. Portanto, se a condição de tangência não for satisfeita, a
alocação não será Pareto eficiente.
Bem Y
6
FPP
@
@
@
@
Y∗ @s
@
@
@
@ Curva de Indiferença
@
@
@
@
@ Nı́vel de Preços
de Equilı́brio
-
∗
X Bem X
Observações Importantes:
• A figura acima deixa claro que nem todo ponto de eficiência técnica será Pareto eficiente, mas
todo ponto Pareto eficiente será tecnicamente eficiente.
• Uma alocação Pareto eficiente satisfaz as seguintes três condições:
1. Eficiência nas trocas: As taxas marginais de substituição entre quaisquer dois bens
devem ser iguais.
2. Eficiência técnica ou produtiva: Para todas as firmas, as taxas técnicas de substituição
entre quaisquer dois insumos devem ser iguais.
3. Eficiência no mix de produtos: A taxa técnica de transformação entre dois bens deve
ser igual à taxa marginal de substituição dos consumidores.
A quantidade ótima de Y pode ser obtida usando aprelação ótima entre X e Y acima e o valor
ótimo de X encontrado acima, o que leva a Y ∗ = βce/(αcd + βc). Já os preços de equilı́brio
podem ser encontrados fazendo px /py = |T M S(X ∗ , Y ∗ )| = |T M T (X ∗ , Y ∗ )|, o que resulta em:
αY ∗ cX ∗
r
px px αc
= ∗
= ∗
⇒ =
py βX dY py βd
Exemplo 2: Economia de Robinson Crusoe. Suponha uma economia com dois bens, formada
por apenas um indivı́duo e uma firma. A utilidade do consumidor é:
u(h, y) = h1−β y β ,
com 0 < β < 1. Vamos supor que a dotação inicial do consumidor é eT = (T, 0). A tecnologia da
firma é descrita pela função de produção y = hα , com 0 ≤ h ≤ b, b > T e 0 < α < 1. O problema
da firma é:
max phα − wh,
h≤0
onde p é o preço do bem final e w é o salário. A solução do problema da firma resulta em:
1
αp 1−α α
αp 1−α
hf = e yf =
w w
O lucro ótimo é: 1
1−α αp 1−α
π = π(w, p) = w ≥ 0.
α w
Como apenas preços relativos importam, vamos normalizar p∗ = 1. Pela lei de Walras, basta
verificarmos a condição de equilı́brio de um dos mercados para determinar o preço w de equilı́brio.
No mercado h, temos que hf + hc = T resulta em:
1−α
f c ∗ 1 − β(1 − α)
h +h =T ⇒ w =α .
αβT
3 Bem-Estar Social
3.1 Eficiência de Pareto
Vimos que o princı́pio básico de eficiência usado em economia é o critério de Pareto, que
formaliza a ideia de que se na situação social A um indivı́duo fica melhor e nenhum fica pior
comparado à situação B então a situação A é melhor para a sociedade do que a situação B. Ou,
se na situação social A, todos os membros da sociedade estão melhores comparados à situação B,
então, a situação A é melhor para a sociedade que a situação B. O critério ou princı́pio de Pareto
também pode ser formalizado da seguinte maneira.
Definição: Uma alocação factı́vel é Pareto ótima (ou eficiente de Pareto) se não é Pareto-dominada
por nenhuma outra alocação factı́vel.
Uma alocação eficiente de Pareto satisfaz as seguintes três condições (“em situações bem-
comportadas”:
• Eficiência nas trocas: as taxas marginais de substituição entre quaisquer dois bens devem ser
iguais.
• Eficiência produtiva: para todas as firmas, as taxas técnicas de substituição entre os insumos
devem ser iguais.
• Eficiência no mix de produtos: a taxa marginal de transformação entre dois bens deve ser
igual à taxa marginal de substituição dos consumidores.
O Primeiro Teorema do Bem-Estar afirma que todo equilı́brio Walrasiano satisfaz o critério de
Pareto, ou seja, todo equilı́brio em concorrência perfeita é Pareto ótimo. Logo, não existe nenhum
rearranjo de recursos (ou seja, nenhuma mudança na produção ou no consumo) tal que alguém
possa melhorar sua situação sem ao mesmo tempo piorar a situação de outro. Portanto, o mercado
agindo sozinho alcança uma situação de equilı́brio Pareto ótima, mesmo com cada agente econômico
agindo de modo egoı́sta, no sentido de buscar apenas o seu próprio bem-estar. Este resultado está
relacionado com a famosa “mão invisı́vel ” de Adam Smith. Observe que a alocação de equilı́brio
pode ser bastante desigual e ainda assim ser Pareto eficiente.
O Segundo Teorema Fundamental do Bem-Estar diz que, “sob certas condições”, toda alocação
Pareto ótima pode ser obtida pela economia de mercado, por meio de uma redistribuição adequada
das riquezas iniciais dos agentes.
Portanto, o teorema implica que qualquer alocação Pareto-ótima pode ser atingida por meio
do mecanismo de mercado descentralizado, ou seja, não é necessário haver um planejador cen-
tral. O próprio mercado pode alcançar a alocação desejada, sendo necessária somente a correta
redistribuição de recursos na economia. Neste sentido, é possı́vel dizer que o segundo teorema do
bem-estar permite a separação dos problemas de eficiência econômica e de distribuição dos bens na
sociedade.
O segundo teorema do bem-estar supõe uma série de hipóteses para a sua validade. As mais
importantes e restritivas são relacionadas a questões de convexidade. Primeiro, as preferências dos
consumidores devem ser convexas. Segundo, o conjunto de produção de cada firma deve ser convexo
(é possı́vel relaxar esse requerimento, mas devemos ter que o conjunto de possibilidade de produção
agregado da economia seja convexo). Isso elimina a possibilidade de que o teorema seja válido na
presença de retornos crescentes de escala (pelo menos de maneira geral para toda a economia).
Falhas de mercado são situações que invalidam os teoremas de bem-estar. Em particular, se
alguma falha estiver presente, não podemos afirmar que a alocação de recursos e bens alcançada
por uma economia de mercado satisfaça o critério de eficiência de Pareto.
Exemplos de falhas de mercado:
• Bens Públicos;
• Externalidades;
• Poder de mercado;
• Informação Imperfeita.
Seja x = (xA , xB ) uma alocação qualquer. Dizemos que o indivı́duo i inveja a cesta do indivı́duo
j caso ele prefira a cesta de j à sua própria cesta. Por exemplo, dizemos que o indivı́duo A inveja
a cesta de B caso uA (xB B A A A
1 , x2 ) > u (x1 , x2 ).
Definição: Alocação Equitativa. Uma alocação equitativa é uma alocação para a qual nenhum
indivı́duo inveja a cesta de outro indivı́duo.
Definição: Alocação Justa. Uma alocação justa é uma alocação equitativa e eficiente.
Podemos mostrar que sempre existirá pelo menos uma alocação justa: a alocação de equilı́brio
obtida de uma divisão igualitária de recursos será uma alocação justa.
Leitura Recomendada
• Varian, caps. 31 - “Trocas” e 32 - “A Produção”.
• Pindick e Rubinfeld, cap. 16 - “Equilı́brio Geral e Eficiência Econômica”.
• Nicholson e Snyder, cap. 13 - “General Equilibrium and Welfare”.
Exercı́cios
5. (P1-2/18) Suponha uma economia com dois consumidores, A e B, com utilidades definidas
sobre cestas de dois bens, x e y, denotadas por uA (xA , yA ) = x2A yA2 e uB (xB , yB ) = xB yB . As
dotações iniciais de A e B são eA = (12, 8) e eB = (8, 12).
6. (PS-2/18) Considere uma economia sem produção com dois bens, x e y. Suponha que existam
apenas dois indivı́duos, A e B, com funções de utilidade dadas por uA (x, y) = xy 2 e uB (x, y) =
min{x, y} e dotações eA = (10, 20) e eB = (20, 10).
7. (P1-1/19) Suponha uma economia com dois consumidores, A e B, com utilidades definidas
sobre cestas de dois bens, x e y, denotadas por uA (xA , yA ) = x2A yA2 e uB (xB , yB ) = xB + yB .
As dotações iniciais de A e B são eA = (6, 4) e eB = (4, 6).