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Subsídios de estudo
OS SOFISTAS
Entrevistas de:
"Estamos agora aqui e vô-lo demonstraremos, a fim de consolidar o nosso império e apresentaremos propostas
capazes de salvar a vossa cidade, pois não queremos estender o nosso domínio sobre vós sem correr riscos e, ao
mesmo tempo, salvar-vos da ruína, para o bem de ambas as partes".
(Os Melos responderam): "E como poderemos ter o mesmo interesse, nós tornando-nos escravos e vós, sendo
patrões?"
(Atenienses): "Enquanto vós tereis interesse em submeter-vos antes de sofrer os mais graves males e nós teremos o
nosso ganho não vos destruindo completamente".
(Melos): "De modo que não aceitareis que nós fôssemos, em boa paz, amigos em vez de inimigos, conservando
intacta a nossa neutralidade?"
(Atenienses): Não, porque nos prejudica mais a vossa amizade do que a hostilidade aberta: de fato, aquela, aos olhos
de nossos súditos, seria prova manifesta de fraqueza, enquanto o vosso ódio seria testemunho da nossa potência, e
não se poderá dizer que vós, ilhéus e menos poderosos do que outros, resististes vitoriosamente aos senhores do
mar".
(Melos): Também nós (e podeis acreditá-lo) consideramos muito difícil apoiar-nos em vossa potência e contra a sorte,
se não for igualmente favorável para ambos. Contudo, temos firme confiança em que, no que respeita a fortuna que
provém dos deuses, não devemos levar a pior, pois, fiéis à lei divina, insurgimos em armas contra a injusta opressão".
(Atenienses): "Se for pela benevolência dos deuses, nem sequer nós temos medo de ser por eles abandonados. Os
deuses, de fato, segundo o conceito que deles temos, e os homens, como se vê claramente, tendem sempre, por
necessidade de natureza, a dominar onde quer que se prevaleça pela força. Esta lei não fomos nós que a instituímos e
nem fomos os primeiros a aplicá-la; assim, da forma como a recebemos e da forma como a transmitiremos ao futuro e
para sempre, nós nos servimos dela, convencidos que também vós, como os outros, se tivésseis a nossa potência, o
faríeis".
Isso é o que acontece no Diálogo dos Melos: vemos que a convicção, profundamente
enraizada na alma humana, de que existe um direito que importa respeitar e certas normas e
certos valores no tratamento do outro, é radicalmente negada.
Os atenienses passaram pelas armas todos os melos adultos caídos em suas mãos e tornaram escravas as crianças e
as mulheres"
HÖSLE: O sofista tem algumas características que acabaram sendo preocupantes para a
cultura ateniense e que o tornaram odiado por uma parte desta cultura. Ele é um intelectual de
profissão, é estrangeiro, e ensina a pagamento: estas são as grandes acusações dirigidas ao
sofista. Ele realiza, portanto, negócio com o saber, é um artesão do conhecimento.
Tudo isso comporta, aos olhos da cultura ateniense - a qual é, até Platão (o principal artífice
destas acusações) fundamentalmente aristocrática -uma desvalorização social e também uma
desvalorização moral. "Há", diz Platão, "uma espécie de prostituição da cultura que os sofistas
realizam". Contudo, a sua obra está bem longe de ser tão universalmente desprezada; pelo
contrário, é profundamente apreciada e é necessária.
PERGUNTA: Górgias de Lentini, uma das figuras de maior importância na sofística, é autor do
tratado do Não Ente, texto abertamente polêmico com a filosofia de Parmênides. Poderia
resumir brevemente as teses de Górgias e o objetivo de sua argumentação?
HÖSLE: O título Não Ente, que foi realmente atribuído ao texto mais tarde, demonstra que é
um texto oposto à filosofia de Parmênides. Se Parmênides é a tese da filosofia grega, Górgias
é a antítese. Recordemos que Parmênides está convencido de que existe só o ser e que este
ser absoluto é cognoscível, é comunicável pelo pensamento e pela palavra humana. Górgias
nega exatamente isso que Parmênides quis dizer.
A primeira tese é: "não há nada". Com isso, naturalmente Górgias não quer dizer que de fato
não exista nada, mas quer dizer que não existe um ser da estrutura do ser parmenídeo, que
não há nada de absoluto.
A segunda tese diz: "mesmo que existisse algo, não o poderíamos conhecer"
A terceira tese afirma: "mesmo que nós pudéssemos conhecê-lo, não poderíamos comunicá-
lo".
Temos aqui, numa grandiosa e simples estrutura analítica, as três categorias fundamentais da
filosofia: a categoria ontológica, o ser; a categoria gnoseológica, o conhecer; e a categoria no
plano da comunicação, o comunicar; categorias que correspondem às categorias da
objetividade, da subjetividade e da intersubjetividade.
A todas estas categorias Górgias nega um valor absoluto. De acordo com ele, o ser que existe
é apenas um ser flutuante e empírico, o conhecimento que nós temos é um conhecimento
empírico, e a comunicação que temos é uma comunicação que, finalmente, deve ser
influenciada pela retórica, que, por sua vez, não se fundamenta em verdades absolutas.
Que nada é, demonstro-o desta forma: se de fato algo existe, ou é ser ou é não-ser, ou é ser e não-ser ao mesmo
tempo.
Mas o não-ser não existe porque se o não-ser existisse, ele seria e não seria ao mesmo tempo.
De fato, pensado como não-ser, não existe, mas enquanto existente exatamente como não-ser, existe.
Mas é completamente absurdo que algo seja e não seja ao mesmo tempo; portanto, o não-ser não existe.
Se o ser é eterno não tem princípio algum; não tendo princípio, é ilimitado; se é ilimitado, não está em lugar algum; se
não está em lugar algum, não existe.
Se de fato nasceu, ou nasceu do ser ou do não-ser; mas não nasceu do ser se de fato existe; como ser não pode ter
nascido, mas existe desde sempre.
E não nasceu nem sequer do não-ser, porque o não-ser não pode gerar coisa alguma; portanto, o ser nem é gerado e
nem pode ser as duas coisas ao mesmo tempo, ou seja, eterno e gerado, pois as duas coisas se excluem
mutuamente; portanto, se o ser não é eterno nem gerado nem todas as duas coisas ao mesmo tempo, ele não existe".
PERGUNTA: O Não Ente é a única obra filosófica de Górgias que se conhece, mas Górgias foi
também um grande orador, e entre suas obras há manuais de retórica e exemplos de
discursos. Em um destes, O Encontro de Helena, Górgias tece um célebre elogio ao poder da
palavra dominadora dos afetos e das paixões do homem. Que significado o senhor atribui a
este elogio da arte retórica?
GADAMER: Utilizei-me sempre deste elogio para mostrar que o sofista é o verdadeiro técnico.
Os sofistas eram "técnicos do espírito", grandes oradores e grandes argumentadores lógicos.
Ufanos desta nova capacidade acreditavam que ela fosse tudo. Eles representavam o que para
nós, em nossa sociedade, é o "monopólio do especialista". Sócrates mostrou que o especialista
não sabe o que é o bem. Defendo que também nós temos necessidade de uma racionalidade
política e social dos valores. Neste sentido, os sofistas não são o mal, mas a sua prática
manifesta-se limitada no que tange às suas pretensões, sobretudo quando ela é empregada no
sentido que para nós assume o termo "sofística", ou seja, quando se refere a argumentações
que contrastam com o senso comum.
Através da retórica, a parte mais fraca numa disputa torna-se a mais forte, e nisso está
presente uma degeneração do saber e do saber fazer, chegando ao ponto em que a prática do
orador e do argumentador se torna um abuso. Sócrates, através de Platão, indicou-nos os
riscos que se correm quando os homens não tomam em conta nas suas perguntas a
responsabilidade a assumir quanto ao bem da humanidade no seu conjunto.
PERGUNTA: Não só Górgias, mas todos os sofistas desenvolveram muito a retórica enquanto
arte do discurso persuasivo e da argumentação convincente. Que importância adquire a
retórica e como se relaciona com as concepções filosóficas da sofística?
HÖSLE: Isto é muito importante. Certamente esta foi uma das causas pelas quais a sofística
teve tamanho sucesso intelectual em Atenas. Os Sofistas eram professores que encinavam aos
jovens aristocráticos de Atenas como se venciam as causas nos processos, como se
conseguia convencer outras pessoas. Claro que a importância da palavra cresce quando não
se acredita mais num ser absoluto. Para Parmênides, o ser absoluto é algo que se precisa
entender baseando-se numa clara intuição lógica. Dado que para os Sofistas não há verdade
absoluta para além das nossas opiniões, a coisa mais importante, para se ter poder, é
influenciar as nossas opiniões. Por isso, a Sofística dá tanta importância à retórica, pois pela
retórica nós manipulamos, nós formamos as opiniões de outras pessoas e somos capazes de
usá-las em favor do próprio interesse.
É famosa a frase de Protágoras, segundo a qual ele era capaz de transformar o logos mais
fraco no argumento mais forte, ou seja, capaz de fazê-lo parecer melhor. Isso não significa que
Protágoras quisesse fazer parecer verdadeiro o que é falso: Protágoras negaria a existência de
uma verdade para além do parecer. Protágoras diria que o grande orador é aquele que
consegue fazer parecer o que quer e, desta maneira, faz a verdade.
A respeito da análise da linguagem, a sofística tem um grande mérito: exatamente por causa
da desconfiança com o conhecimento humano é que criticamos a linguagem. Vários Sofistas,
como Pródico por exemplo, analisam os homônimos: analisam o fato de que se trata de
palavras que significam coisas diferentes e que um filósofo deve ter consciência deste fato para
não ser seduzido pela linguagem a ponto de cometer erros.
Protágoras desenvolve o tema da orthoépeia, da justeza das palavras. Ele descobre, por
exemplo, que alguns substantivos da língua grega com um significado masculino têm um
gênero gramatical feminino, e vice-versa. A análise de homonímias, metonímias, como a
encontramos em Demócrito é certamente uma contribuição importante para uma fundação
mais rigorosa e mais crítica da filosofia.
O que Górgias dizia, além da cisão da unidade de ser, pensamento e palavra, que
encontramos também em Parmênides, deve conduzir a uma crítica da linguagem. Importa
descobrir que a linguagem, a palavra e o pensamento não são idênticos, mas que há distinções
entre os mesmos, como, por exemplo, no caso da homonímia.
VEGETTI: A famosa frase segundo a qual o homem é a medida de todos os valores foi
interpretada de maneiras diferentes, entendendo "o homem" como gênero humano contraposto
ao divino, ou então como o homem no sentido de indivíduo singular. Mas provavelmente a tese
de Protágoras pode ser definida desta forma: não há justiça que tenha origem em princípios
transcendentes ou externos ao mundo humano; a justiça do mundo humano é o que é decidido
pela lei; é justo o que a lei da cidade considera tal; a lei da cidade é promulgada por uma
maioria democrática dentro da cidade; portanto, a cidade, os homens enquanto membros da
cidade são a medida dos valores porque promulgam as leis que sancionam o justo e o injusto.
Esta tese de Protágoras é tese perigosa, perigosa para a própria democracia para a qual quer
oferecer fundamento e justificação inclusive moral. Por um lado, desta maneira considera-se
que a vida da cidade seja auto-suficiente moral e juridicamente; por outro, porém - e este
raciocínio será feito por alguns sofistas - se não há algum fundamento objetivo para as normas
morais e políticas, se este fundamento reside apenas no poder de quem é capaz de impor as
leis, ou através de maiorias ou através de atos de imposição tirânica, então se deverá concluir
que a norma moral está totalmente à mercê dos poderosos, que a "norma moral" , conforme
dirá um sofista como Trasímaco, é unicamente o mascaramento dos interesses do poder.
a montanha sagrada.
assim como o homem afirma a respeito das causas primeiras desde fontes naturais
Um homem ambicioso
toma o que quer não se cuida com palavras e ações da honestidade e da verdade
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Ó Júpiter universal
HÖSLE: A tradição grega estava firmemente convicta que existisse algo como um direito
divino, que o princípio do direito fosse algo que transcendesse a vontade dos homens.
Lembremos a importância de Thémis, de Diké na tradição grega. A importância de Protágoras
na filosofia do direito reside na tentativa de fundar o direito na vontade dos homens. Protágoras
parece o predecessor de uma teoria liberal-democrática do direito; o direito é a coisa sobre a
qual os homens chegam a um acordo pacífico: isso tem grandes vantagens enquanto liberta o
homem do medo de vínculos irracionais. Por outro lado, o grande problema da filosofia do
positivismo do direito - e isso já se manifesta na sofística - é o de estabelecer se uma cidade
tem o direito de emanar leis, mesmo por maioria, que estão em contraste com certos princípios
fundamentais de dignidade dos seres humanos. Este é um problema que foi desenvolvido de
maneira monumental por Sófocles. Sófocles faz Antígona dizer, contra Creonte, versos
absolutamente memoráveis, nos quais Antígona insiste em que há normas divinas que o ser
humano não pode transgredir; por exemplo, o ser humano não tem o direito de negar sepultura
a um morto, mesmo que tenha sido inimigo da pátria.
Creonte: Podes ir para onde quiseres, livre da acusação que pesava sobre tid! Fala, agora, por tua vez; mas fala sem
demora! Sabias que, por uma proclamação, eu havia proibido o que fizeste?
Antígona: Sim, eu sabia! Por acaso poderia ignorar, se era uma coisa pública?
Antígona: Sim, porque não foi Júpiter que a promulgou; e a Justiça, a deusa que habita com as divindades
subterrâneas, jamais estabeleceu tal decreto entre os humanos; nem eu creio que teu édito tenha força bastante para
conferir a um mortal o poder de infringir as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis; não existem
a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! E ninguém sabe desde quando vigoram! - Tais decretos, eu, que não
temo o poder de homem algum, posso violar sem que por isso me venham a punir os deuses! Que vou morrer, eu bem
sei; é inevitável; e morreria mesmo sem a tua proclamação. E, se morrer antes de meu tempo, isso será, para mim,
uma vantagem, devo dizê-lo! Quem vive, como eu, no meio de tão lutuosas desgraças, que perde com a morte? Assim,
a sorte que me reservas é um mal que não se deve levar em conta; muito mais grave teria sido admitir que o filho de
minha mãe jazesse sem sepultura; tudo o mais me é indiferente! Se te parece que cometi um ato de demência, talvez
mais louco seja quem me acusa de loucura! (Trad. portuguesa de J. B. Mello e Sousa, Antígone, Rio de Janeiro,
Tecnoprint, s. d. , pp.85-6)
O segundo nível de crítica à religião é o que se pode chamar a crítica científica. De acordo com
este nível, não tem sentido pensar que as divindades agem no mundo. Este é apenas um
pretexto das pessoas que são incapazes de explicar os verdadeiros nexos causais. O exemplo
mais belo disso é a escrito sobre a epilepsia de Hipócrates, escrito em que é dito claramente
que é sinal de fraqueza dos médicos atribuírem causas divinas a esta doença, que era
denominada a doença sagrada. Segundo Hipócrates, esta doença tem causas normais como
todas as outras doenças e pode ser resolvida de modo racional, pode ter cura.
O terceiro aspecto de crítica da religião é uma crítica antropológica, segundo a qual a religião
nasce das exigências dos seres humanos. Estes - é dito - chamam divindades as suas próprias
necessidades; por exemplo, Demétrio tem a ver com o pão, Dionísio, com o vinho, etc. Por um
lado, a necessidade dos seres humanos, por outro, o interesse de pessoas astutas que
percebem que através da religião podem guiar as massas. Este é o famoso fragmento de Crítia
que antecipa idéias nietzscheanas, segundo as quais um ser humano inteligente inventou a
divindade para que os seres humanos fossem capazes ou se sintam obrigados a respeitar o
bem, até mesmo quando não devem temer serem punidos imediatamente. Este é um dos
grandes problemas da sofística. Esta, enquanto rejeita um fundamento da moral que esteja
além do próprio ser humano, tenta fundar a moral sobre o egoísmo racional. E este, segundo
minha opinião, é absolutamente impossível, e na sofística todas as formas de utilitarismo, de
hedonismo que são desenvolvidas procuram dizer o seguinte: se houvesse uma pessoa que
não devesse temer nada agindo de modo imoral, por que deveria agir moralmente? No
Anonymus Iamblici, texto bastante fascinante da sofística, é desenvolvida a idéia de um homem
feito de aço, não mortal, e se diz que, para tal pessoa feita de aço não haveria motivo algum
para que respeitasse a moral. A razão de que dispomos para respeitar a moral é o fato de
querermos evitar que sejamos punidos por outros. Deste modo, porém, fica claro que uma
pessoa que deve morrer em qualquer caso não tem motivo algum, se não antes da própria
morte, de cometer alguns crimes gravíssimos, se esta fosse a base da moral. Por isso, o
problema da religião torna-se importante na medida em que, baseando-se nesta convicção, se
torna necessário inventar algo que consiga manter as massas sob controle.
CRÍTIAS: Sísifo
Houve um tempo, quando sem ordem era a vida humana, e bestial, dominada pela força, um tempo em que não existia
prêmio para os bons, nem castigo para os maus.
Em seguida, penso que os homens emanaram as leis para punir, para que a Justiça fosse senhora igualmente
absoluta de todos e tivesse como discípula a Força; e fosse punido toda pessoa que pecasse.
Mas dado que as leis desencorajavam os homens a cumprirem delitos explícitos, mas não às escondidas, então,
suponho eu, um homem sábio de mente e engenhoso inventou para eles o temor dos deuses, de tal forma que
existisse um espantalho para os malvados também para o que fizessem às escondidas, pensassem ou dissessem.
Para atingir a mente dos homens estabelecia a morada dos deuses lá donde sabia que vinham aos mortais os sustos e
os consolos para sua mísera vida: da esfera celeste, onde via os raios, onde ouvia os horrendos trovões e o corpo
estrelado do céu, obra admiravelmente vária de um artífice sábio: o Tempo; aí caminha fúlgida a massa quente do Sol,
e desce sobre a terra a úmida chuva.
Assim, agitando tais sustos diante dos olhos dos seres humanos, e servindo-se deles, construiu, como artista, com a
palavra, a divindade, colocando-a num lugar adequado a ela; e derrotou com as leis a ilegalidade.
Por este caminho, portanto, eu creio que no princípio alguém tenha persuadido os seres humanos a crerem na
existência dos deuses.
PERGUNTA: A polêmica entre Sócrates e os Sofistas revela uma situação de crise moral e
intelectual da sociedade grega: o homem grego, descoberta a liberdade e a potência do
pensamento, do discurso e do raciocínio, acha-se desorientado, sem pontos firmes tradicionais
aos quais ligar a própria reflexão e a própria ação. Qual é a responsabilidade dos sofistas na
crise dos valores éticos e políticos que abalou Atenas no final do século V?
GADAMER: É muito difícil abrir mão da convicção de que os sofistas fossem intelectuais
destruidores. Esta é a imagem traçada por Platão, pois ele propugnava um princípio de
solidariedade para a construção de uma ordem na sociedade. Tucídides descreveu
magnificamente a desagregação dos costumes, o assédio de Atenas, a peste e assim por
diante; mas atribuir a responsabilidade por tudo isso aos sofistas, a estes mestres que
ensinavam a virtude política para conseguir o sucesso na vida pública, é uma lenda que já é
hora de repensar.
Não se pode responsabilizar pela crise de Atenas estes intelectuais - os Sofistas. Eles, no
fundo, apenas procuraram tornar os valores tradicionais de novo convincentes na sua validez.
Mas Sócrates viu com maior profundidade do que eles. Viu que a raiz da qual nasce uma
autêntica solidariedade entre os seres humanos devia ser novamente construída. Esta era a
sua pergunta admoestadora: para onde todos estais correndo? Preferi, antes, uma justa
condução da vida. Isso é o que importa, e não aquela pressa, aquela excitação em passar à
frente dos outros para ter sucesso.
PERGUNTA: Pode-se falar hoje de atualidade da sofística? E que utilidade pode ter hoje um
repensamento daquele momento da história do pensamento?
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/hosle.htm