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Idade Média europeia X Idade Média africana: uma breve comparação

Juliana Pereira (128993)


O termo “Idade Média” refere-se a mil anos na História da humanidade e faz
parte da periodização cronológica da historiografia mais eurocêntrica. Com o avanço
dos estudos na academia e a descentralização da História como sendo essencialmente
europeia, esta divisão temporal é muito questionada, sendo considerada superficial e
etnocêntrica para compreender tantos fenômenos distintos entorno do mundo numa
temporalidade de dez séculos. Entretanto, mesmo frisando a quão genérica e limitada é
esta periodização, a utilizaremos aqui com a finalidade de demonstrar a importância e
alto desenvolvimentos de povos da África Subsaariana no período que compreendemos
como Idade Média.
Quando falamos na Idade Média representada nos filmes, livros e jogos logo
pensamos em uma sociedade de cavaleiros e princesas que viviam em seus gigantescos
castelos. Porém, esta é uma visão distorcida sobre este período histórico. A sociedade
medieval é resultado da dissolução do Império Romano em 476 e miscigenação com os
povos germânicos – os ditos bárbaros. Estes dois elementos combinados resultaram em
uma nova forma de organização social, política e econômica na Europa, marcada pela:
descentralização do poder entorno de uma única figura política; diáspora da população
para os campos (caráter agrário); formação de feudos; forte influência da Igreja Católica
sobre a população; e tentativa da criação de uma sociedade estamental de castas (clero,
nobres e servos). Ademais, uma característica do medievo está relacionada as
constantes guerras e conflitos bélicos entre reis cujo principal objetivo eram as
expansões de fronteiras, isto é, a conquista de mais territórios geográficos para
determinada coroa. Outro ponto a ser destacado é o caráter patriarcal da sociedade,
sendo assim, a linha se sucessão passava de pai para filho (primogênito), sendo as
mulheres nessa sociedade mera moeda de troca em casamentos, não tendo direito a
propriedade.
Por sua vez, para além das fronteiras europeias – considerada lócus da História
Medieval –, na África ocorreram intensas disputas sociopolíticas no grande medievo. As
elaboradas civilizações africanas e suas dinâmicas atividades sócio-políticas e
econômicas foram por muito tempo invisibilizadas, porém, hoje sabemos sobre grandes
reinos e impérios na Idade Média africana e seu contraste com a Europa. Sabe-se que o
conceito de “Estado” era conhecido dentro do continente africano, existindo nos grandes
reinos e impérios (O reino de Gana; o reino do Mali; o reino do Songai; etc.) uma
estrutura administrativa hierárquica, militar e fiscal bem estabelecida, não
correspondendo a imagem de “barbárie” no qual fora difamada na historiografia
ocidental, por exemplo, assim como a Europa, os reinos africanos também eram
divididos em castas. O reino de Gana fora um dos mais ricos do período, por suas
grandes minas de ouro além da exploração e comercialização do sal do Saara.
Diferentemente da Europa, na África as guerras não eram de caráter de anexação de
terras e sim de pessoas, as disputas bélicas entre reinos tinham por finalidade angariar
novos povos e não exterminar sua cultura (assim, coexistindo diferentes etnias sobre o
domínio do mesmo reino), e sim receber tributos destes, por isso, nos mapas os reinos
são localizados em um local, porém, tem influência em terras não anexadas. Outro
ponto de contraste com a Europa é a herança genética, sendo a linhagem passada de mãe
para filho. No quesito religião, a Igreja Católica exerceu grande influência na Europa,
já, na África a religião que mais se difundiu fora o Islã, penetrando em distintas etnias
de formas diferentes. Ademais, um traço comum das populações africanas era a
oralidade, não utilizando a escrita e sim palavras para perpetuar sua História, diferente
da Europa, na qual considerou as nações africanas inferiores por não utilizarem de tal
instrumento. Estes são alguns exemplos de diferenças.
Do mesmo modo que a Europa fervilhava no período medieval, no continente
africano ocorreram intensos fenômenos políticos, econômicos e sociais neste recorte
temporal. Porém, diferentemente dos europeus, a História da África é um tema
subalternizado no ocidente e não raras vezes esquecido, sendo suas representações na
mídia algo distorcido, perpetuando na mentalidade popular uma visão empobrecida do
grande continente. Este quase total desconhecimento sobre a História da África é um
reflexo do preconceito e racismo imbricados na sociedade brasileira e também parte da
negligencia historiográfica para com os temas relacionados a África até o século XX.
Neste sentido, a partir desta comparação entre Europa e África medieval percebemos
que desconhecemos muito deste vasto continente na historiografia nacional, porém, é
uma necessidade histórica conhecermos, pois são nossas raízes, sendo o Brasil o
segundo país com a maior população negra do mundo. É mais do que uma necessidade
alargarmos nossa historiografia sobre África e ser a mesma integrada no Ensino de
História para acabar com esta visão europeizada e distorcida da África. A partir desta
comparação, é perceptível que o Brasil possui maior semelhança com a África do que os
povos europeus, acabando com esta visão preconceituosa e inverídica sobre o grande
continente africano. Diante tal comparação que demonstra o contraste europeu e
africano no medievo, é uma necessidade emergente extinguir as preconceituosas
impressões europeias acerca da África que perpetuam na mentalidade coletiva brasileira
até os dias atuais.
Bibliografia consultada para este trabalho:

NIANE, Djibril Tamsir. História geral da África, IV: África do século XII ao XVI. –
2.ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010.
SILVA, Wellington Barbosa da. Reinos de negros na idade média: a África subsaariana
no medievo. Cadernos de História UFPE. v. 5, n. 5. 2008.
SOUZA, Larissa Nobre de. África medieval e suas representações no ensino de história.
In: Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e
Parcerias, 2018, Rio de Janeiro. 2018. Disponível em:
<https://www.encontro2018.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1529365574_ARQUIVO_L
ari_anpuh.pdf> acessado em 3 de julho de 2021.

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