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Insurreição Pernambucana ( 1645 – 1654)

A insurreição pernambucana, também referida como Guerra da Luz Divina,


registrou-se no contexto da segunda das Invasões holandesas do Brasil, culminando
com a expulsão dos neerlandeses da região Nordeste do Brasil. Em 15 de maio de 1645,
reunidos no Engenho de São João, 18 líderes insurretos pernambucanos assinaram
compromisso para lutar contra o domínio holandês na capitania. O movimento integrou
forças lideradas por André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias e
Felipe Camarão.

História
Antecedentes

Até a chegada do administrador da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais


(WIC), João Maurício de Nassau-Siegen, aos territórios conquistados em 1637, os luso-
brasileiros empreendiam a chamada "Guerra Brasílica", um tipo de guerrilha que
consistia em ataques rápidos e furtivos às forças neerlandesas, após o qual os atacantes
desapareciam rapidamente nas matas. A partir de então essas emboscadas ficariam
suspensas no território da capitania de Pernambuco, uma vez que Nassau implementou
uma política de estabilização nos domínios conquistados.

Sob o seu governo, o nordeste brasileiro conheceu uma época de ouro: a "Nova
Holanda". Ao pisar em solo americano, encontrou cerca de 7.000 almas vivendo nas
piores condições de higiene e habitação. Mandou construir pontes, palácios, iniciou a
urbanização do que hoje é conhecido como o bairro de Santo Antônio na capital
pernambucana, incentivou as artes e as ciências, retratou a natureza do novo mundo
através de seus dois artistas Frans Post e Albert Eckhout. Ao todo foram 46 estudiosos
dos mais variados gêneros.

Com relação à exploração da colônia, foi tolerante com os senhores de engenho, os


quais deviam muito à WIC. Foi igualmente tolerante com o judaísmo e o catolicismo,
deixando que se professassem todas as religiões livremente. Preferia não penhorar
engenhos nem sufocar revoltas com crueldade. Enfim, procurava fazer a administração
contrária ao que queriam os senhores da WIC.

[editar] Motivos para a Insurreição

No contexto da Restauração portuguesa, o Estado do Brasil pronunciou-se em favor do


Duque de Bragança (1640), assinando-se uma trégua de dez anos entre Portugal e os
Países Baixos.

No nordeste do Brasil, os engenhos de cana-de-açúcar viviam dificuldades num ano de


pragas e seca, pressionados pela Companhia das Índias Ocidentais, que sem considerar
o testamento político de Nassau, passou a cobrar a liquidação das dívidas aos
inadimplentes. Essa conjuntura levou à eclosão da Insurreição pernambucana, que
culminou com a extinção do domínio neerlandês (holandês) no Brasil.
De acordo com as correntes historiográficas tradicionais em História do Brasil, esse
movimento assinala o início do nacionalismo brasileiro, pois os elementos étnicos
brancos, africanos e indígenas fundiram os seus interesses na luta pelo Brasil e não por
Portugal. Foi esse movimento que deu à população local a verdadeira compreensão de
seu valor, incutindo no povo o espírito de rebeldia contra qualquer tipo de opressão.[1]

Heróis

Batalha de Guararapes (1758).

João Fernandes Vieira - Senhor de engenho de origem portuguesa, era mulato e


chegou ao Brasil com dez anos de idade, na opinião do historiador Charles Ralph Boxer
foi o principal herói da reconquista de Pernambuco. Conforme as palavras do
historiador brasileiro Oliveira Lima, "João Fernandes Vieira, apesar de ser de cor,
governou Angola e Pernambuco".[2] Em 1645 foi o primeiro signatário do pacto então
selado no qual figura o vocábulo pátria pela primeira vez utilizado em terras brasileiras.
Na função de Mestre-de-Campo, comandou o mais poderoso terço do Exército Patriota
nas duas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649). Por seus feitos, foi aclamado Chefe
Supremo da Revolução e Governador da Guerra da Liberdade e da Restauração de
Pernambuco.

André Vidal de Negreiros - Brasileiro que mobilizou recursos e gentes do sertão


nordestino para lutar ao lado das tropas luso-brasileiras, um dos melhores soldados de
seu tempo, tomou parte com grande bravura em quase todos os combates contra os
holandeses. Foi nomeado Mestre-de-Campo, notabilizando-se no comando de um dos
terços do Exército Patriota nas duas batalhas dos Guararapes. Comandou o sítio de
Recife que resultou na capitulação holandesa em 1654. André Vidal de Negreiros foi na
opinião do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen o grande artífice da expulsão dos
holandeses. Pelos seus feitos foi nomeado governador e capitão-geral das capitanias do
Maranhão, de Pernanbuco e o Estado de Angola.

Felipe Camarão ou Potiguaçu - Indígena brasileiro da tribo potiguar, à frente dos


guerreiros de sua tribo organizou ações de guerrilha que se revelaram essenciais para
conter o avanço dos invasores, destacou-se nas batalhas de São Lourenço (1636), Porto
Calvo (1637) e de Mata Redonda (1638). Nesse último ano participou ainda da defesa
de Salvador, atacada pelos melhores soldados de Maurício de Nassau. Distinguiu-se
comandando a ala direita do exército rebelde na Primeira Batalha dos Guararapes, pelo
que foi agraciado com a mercê de Dom, o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo, o
foro de fidalgo com brasão de armas e o título de Capitão-Mor de Todos os índios do
Brasil.

Henrique Dias - Brasileiro filho de escravos, conhecido como governador da gente


preta, recrutou ex-escravos afro-brasileiros oriundos dos engenhos assolados pelo
conflito e dominados pelos invasores, como mestre-de-campo comandou o Terço de
Homens Pretos e Mulatos do Exército Patriota nas duas batalhas dos Guararapes, suas
tropas também eram denominadas Henriques ou milícias negras. Participou de inúmeros
combates, distinguindo-se por bravura nos combates de Igaraçu onde foi ferido duas
vezes, participou ainda da reconquista de Goiana e notoriamente em Porto Calvo em
1637, quando teve a mão esquerda estralhaçada por um tiro de arcabuz, sem abandonar
o combate decidiu a vitória na ocasião. Quando D. João IV desautorizara a Insurreição
Pernambucana há uma breve trégua, mas mesmo assim Henrique Dias escreve estas
palavras ao holandeses "...Meus senhores holandeses...Saibam Vossas Mercês que
Pernambuco é...minha Pátria, e que já não podemos sofrer tanta ausência dela. Aqui
haveremos de perdar as vidas, ou havemos de deitar a Vossas Mercês fora dela. E ainda
que o Governador e Sua Majestade nos mandem retirar para a Bahia, primeiro que o
façamos havemos de responder-lhes, e dar-lhes as razões que temos para não desistir
desta guerra.". Pelos seus serviços prestados também recebeu vários títulos de fidalgo,
como a a mercê do Hábito da Ordem de Cristo e a a Comenda de Soure.

Antonio Dias Cardoso - Foi um dos principais líderes da Insurreição Pernambucana e


comandou um pequeno efetivo que venceu a batalha dos Montes das Tabocas contra
uma tropa muito maior liderada diretamente por Maurício de Nassau e posteriormente
também em menor número venceu em Casa Forte a tropa neerlandesa comandada pelo
coronel Van Hans, Comandante-Geral holandês no Nordeste do Brasil. Também
participou ativamente nas duas batalhas dos Guararapes quando na primeira foi
subcomandante do maior dos quatro terços do Exército Patriota, tendo-lhe sido passada
a investida da principal frente de batalha por João Fernandes Vieira, na segunda batalha
comandou a chamada Tropa Especial do Exército Patriota, desbaratando toda a ala
direita dos holandeses.

São insuficientes os registros históricos sobre este personagem, mas acredita-se que
tenha nascido em Portugal e vindo ainda criança para o Brasil. Nesta campanha
começou no posto de soldado, durante a invasão de 1624 a 1625 teve sucesso ao lado de
sua companhia em conter o invasor no perímetro de Salvador que estava cercada pelos
melhores soldados de Maurício de Nassau, por seus feitos durante a campanha chegou
rapidamente ao posto de capitão, onde foi para a reserva, mas devido ao seu
reconhecido valor foi novamente convocado para lutar, era conhecedor profundo das
técnicas de guerrilha dos indígenas, onde os mesmos utilizavam-se largamente de
emboscadas, e em 1645 recrutou, treinou e liderou uma força de 1.200 pernambucanos
mazombos insurretos, armados com armas de fogo, foices, paus e flechas, numa
emboscada em que derrotaram 1.900 neerlandeses melhor equipados. Esse sucesso lhe
valeu o apelido de mestre das emboscadas.

Devido a seus feitos foi lhe concedido a honra de Cavaleiro da Ordem de Cristo e o
comando do Terço de João Fernandes Vieira, do qual havia sido ajudante à época da 1ª
batalha dos Guararapes. Em 1656 foi nomeado Mestre-de-Campo, encerrando
definitivamente a sua carreira militar. Em 1657, assumiu o governo da Capitania da
Paraíba.
Devido a ter comandado a Tropa Especial do Exército Patriota e principalmente por ter
operado no passado da mesma maneira que fazem atualmente as tropas de forças
especiais, combatendo em menor número, sem posição fixa, usando a surpresa como
elemento de combate, utilizando-se de emboscadas, recrutando população local,
treinando-as em técnicas irregulares como as de guerrilha, dentre outras coisas, foi
homenageado como patrono do 1º Batalhão de Forças Especiais do Exército Brasileiro e
por isso é reconhecido atualmente como o primeiro operador de forças especiais do
Brasil.

Conseqüências

Por fim, a derrota holandesa aconteceu em 1654, e com isso, despertavam-se os


primeiros sentimentos nativistas. No entanto, em decorrência da expulsão dos
holandeses das terras brasileiras, estes colonizaram as Antilhas e aumentaram a
produção de açúcar com suas técnicas avançadas, gerando uma decadência na produção
açucareira no nordeste do Brasil.

Outra consequência dessa expulsão holandesa foi o acordo firmado entre Portugal e
Holanda, o chamado Tratado de Paz de Haia (1661), no qual os holandeses receberiam
dos portugueses uma indenização de 4 milhões de cruzados, além das Ilhas Molucas e
do Ceilão.

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