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06/06/2011

ACORDO DE LENIENCIA

Artigo: "Acordo de leniência" - Luiz Flávio Gomes

Artigo: Você sabe o que é, em Direito penal, acordo de


leniência?
Luiz Flávio Gomes
Diretor-Presidente Instituto de Ensino Jurídico IELF
(www.ielf.com.br) e autor do Curso de Direito penal pela internet:
(www.iusnet.com.br)
Como citar: GOMES, Luiz Flávio. Você sabe o que é, em
Direito penal,acordo de leniência?. Disponível na internet:
www.ibccrim.org.br, 25.11.2000
A novidade vem prevista na Lei nº 10.149, de 21 de
dezembro de 2000 (art. 35-C), que dispõe sobre a prevenção e
repressão às infrações contra a ordem econômica, e dá outras
providências. A lei, na verdade, altera e acrescenta dispositivos à
Lei no 8.884, de 11 de junho de 1994, que transforma o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica - CADE - em autarquia,
dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem
econômica, e dá outras providências.
Para as infrações econômicas administrativas o art. 35-B
prevê que "A União, por intermédio da SDE, poderá celebrar
acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da
administração pública ou a redução de um a dois terços da
penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas
e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica,
desde que colaborem efetivamente com as investigações e o
processo administrativo e que dessa colaboração resulte:
I - a identificação dos demais co-autores da infração; e
II - a obtenção de informações e documentos que
comprovem a infração noticiada ou sob investigação".
O art. 35-C admite o mesmo acordo de leniência em relação
aos crimes contra a ordem econômica, nestes termos:
"Art. 35-C. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados
na Lei no 8.137, de 27 de novembro de 1990, a celebração de
acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão
do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da
denúncia.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo
agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos crimes a
que se refere o caput deste artigo."
Quais crimes contra a ordem econômica estão abrangidos ?
Os previstos nos artigos 4º, 5º e 6º da Lei 8.137/90.
Que se entende por acordo de leniência (de brandura,
suavidade ou doçura) ? É o acordo para colaborar efetivamente
com as investigações de um crime contra a ordem econômica.
Momento do acordo ? Durante as investigações.
Limitações e requisitos do acordo: Mutatis mutandis, os
requisitos e limitações do acordo de leniência no âmbito penal são
os mesmos previstos para o âmbito administrativo: Art. 35-B:
" § 1o. O disposto neste artigo não se aplica às empresas ou
pessoas físicas que tenham estado à frente da conduta tida como
infracionária;
§ 2o O acordo de que trata o caput deste artigo somente
poderá ser celebrado se preenchidos, cumulativamente, os
seguintes requisitos:
I - a empresa ou pessoa física seja a primeira a se qualificar
com respeito à infração noticiada ou sob investigação;
II - a empresa ou pessoa física cesse completamente seu
envolvimento na infração noticiada ou sob investigação a partir da
data de propositura do acordo;
III - a SDE não disponha de provas suficientes para
assegurar a condenação da empresa ou pessoa física quando da
propositura do acordo; e
IV - a empresa ou pessoa física confesse sua participação no
ilícito e coopere plena e permanentemente com as investigações e
o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas,
sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu
encerramento.
§ 3o O acordo de leniência firmado com a União, por
intermédio da SDE, estipulará as condições necessárias para
assegurar a efetividade da colaboração e o resultado útil do
processo.
§ 4o A celebração de acordo de leniência não se sujeita à
aprovação do CADE, competindo-lhe, no entanto, quando do
julgamento do processo administrativo, verificado o cumprimento
do acordo:
I - decretar a extinção da ação punitiva da administração
pública em favor do infrator, nas hipóteses em que a proposta de
acordo tiver sido apresentada à SDE sem que essa tivesse
conhecimento prévio da infração noticiada; ou II - nas demais
hipóteses, reduzir de um a dois terços as penas aplicáveis,
observado o disposto no art. 27 desta Lei, devendo ainda
considerar na gradação da pena a efetividade da colaboração
prestada e a boa-fé do infrator no cumprimento do acordo de
leniência.
§ 5o Na hipótese do inciso II do parágrafo anterior, a pena
sobre a qual incidirá o fator redutor não será superior à menor das
penas aplicadas aos demais co-autores da infração, relativamente
aos percentuais fixados para a aplicação das multas de que trata o
art. 23 desta Lei.
§ 6o Serão estendidos os efeitos do acordo de leniência aos
dirigentes e administradores da empresa habilitada, envolvidos na
infração, desde que firmem o respectivo instrumento em conjunto
com a empresa, respeitadas as condições impostas nos incisos II
a IV do § 2o deste artigo.
§ 7o A empresa ou pessoa física que não obtiver, no curso de
investigação ou processo administrativo, habilitação para a
celebração do acordo de que trata este artigo, poderá celebrar
com a SDE, até a remessa do processo para julgamento, acordo de
leniência relacionado a uma outra infração, da qual não tenha
qualquer conhecimento prévio a Secretaria.
§ 8o Na hipótese do parágrafo anterior, o infrator se
beneficiará da redução de um terço da pena que lhe for aplicável
naquele processo, sem prejuízo da obtenção dos benefícios de que
trata o inciso I do § 4o deste artigo em relação à nova infração
denunciada.
§ 9o Considera-se sigilosa a proposta de acordo de que trata
este artigo, salvo no interesse das investigações e do processo
administrativo.
§ 10. Não importará em confissão quanto à matéria de fato,
nem reconhecimento de ilicitude da conduta analisada, a proposta
de acordo de leniência rejeitada pelo Secretário da SDE, da qual
não se fará qualquer divulgação.
§ 11. A aplicação do disposto neste artigo observará a
regulamentação a ser editada pelo Ministro de Estado da Justiça."
(NR)
O que é necessário resultar do acordo ? I - a identificação
dos demais co-autores da infração; e II - a obtenção de
informações e documentos que comprovem a infração noticiada
ou sob investigação.
Quais são os efeitos do acordo ? 1) a suspensão do curso do
prazo prescricional; 2) impede o oferecimento da denúncia.
Cumprido o acordo, o que acontece ? Extingue-se
automaticamente a punibilidade do crime investigado.

Acordo de Leniência é o acordo celebrado entre a Secretaria de


Desenvolvimento Econômico (SDE) - que atua em nome da União - e
pessoas físicas ou jurídicas autoras de infração contra a ordem
econômica, que permite ao infrator colaborar nas investigações, no
próprio processo administrativo e apresentar provas inéditas e suficientes
para a condenação dos demais envolvidos na suposta infração. Em
contrapartida, o agente tem os seguintes benefícios: extinção da ação
punitiva da administração pública, ou redução da penalidade imposta pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
O acordo de leniência, com origem no Direito norte americano, é o
mecanismo de manutenção da ordem concorrencial com o escopo de
coibir a prática de infração à ordem econômica. Afinal, um dos princípios
constitucionais da ordem econômica é o da livre concorrência,
expressamente previsto no inciso IV do artigo 170 da CR/88, a seguir
exposto:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
(...)
IV - livre concorrência;
O ajuste em tela está previsto e regulamentado pela Lei 8.884/96,
nos seguintes termos:
Art. 35-B. A União, por intermédio da SDE, poderá celebrar acordo
de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou
a redução de um a dois terços da penalidade aplicável, nos termos deste
artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à
ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as
investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração
resulte: (Artigo incluído pela Lei nº. 10.149, de 21.12.2000)
I - a identificação dos demais co-autores da infração; e
II - a obtenção de informações e documentos que comprovem a
infração noticiada ou sob investigação.
Leniência do latim lenitate, semelhante a lenidade, corresponde à
brandura, suavidade, doçura ou mansidão, o que no contexto da lei de
repressão às infrações contra a ordem econômica dá às sanções contra
práticas anti-concorrenciais a qualidade de lene, isto é, o abrandamento
da punição a ser imposta.
Por fim, ressalte-se que o acordo de leniência também se aplica ao
direito penal na forma da delação premiada, regulamentada pela Lei
9.807/99, a qual concede benefícios àqueles que voluntariamente tenham
prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo
criminal.

o acordo de leniência
O Brasil, seguindo a tendência de outros países, passou a perseguir
e impor severas sanções àqueles que praticam abusos contra a ordem
econômica, considerando o combate aos cartéis uma prioridade. Estes são
a mais grave infração contra a concorrência, causando danos
imensuráveis à economia, já que além de promoverem a elevação dos
preços, prejudi- cam a inovação e a melhoria na qualidade dos produtos.
Devido ao caráter fraudulento e ao sigilo que envolve os cartéis, o Acordo
de Leniência tornou-se o meio mais eficiente para o desbaratamento e
prevenção dessas infrações, por viabilizar a cooperação dos participantes
da conduta para com as averiguações e para com o processo. Sem este
auxílio a detecção da infração e as investigações seriam muito difíceis,
despediriam muitos recursos e tempo, tendo chances menores de
apresentar resultados efetivos.
O termo leniência ou lenidade vem do latim lenitate, e corresponde
ao mesmo que brandura, suavidade, doçura, mansidão. No contexto da
Lei 8.884/94, o Acordo de Leniên- cia denota o abrandamento da punição
a ser imposta quando do cometimento de práticas contra a ordem
econômica. O programa de leniência foi inserido na Lei Antitruste em pela
lei 10.149/2000 e autoriza a SDE a celebrar acordos com pessoas físicas e
jurídicas, em troca de colaboração na investigação da prática denunciada,
com a extinção total ou parcial das penalidades administrativas
originalmente aplicáveis. A celebração desses ajustes é vinculada ao que
a lei estipula, assim, uma vez presentes as condições legais a aceitação
do acordo é obrigatória por parte da Administração.
Nos termos do artigo 35-B da Lei 8.884/94, para que o interessado
seja apto ao pro- grama de leniência devem estar presentes,
cumulativamente, os seguintes requisitos: a SDE não pode dispor de
provas suficientes para a condenação do proponente, no momento da
propositura do acordo; o proponente não pode ser o líder da prática
denunciada; deve ser o primeiro a se apresentar à SDE e confessar a
participação na conduta; deve cessar seu envol- vimento na prática
denunciada, salvo nos casos em que a sua permanência seja interessante
às investigações; deve concordar em cooperar plenamente com a
investigação; a cooperação deve resultar na identificação dos demais co-
autores da infração e na obtenção de provas que demonstrem a prática
denunciada.
A empresa ou pessoa física habilitada ao acordo será beneficiada
com imunidade ad- ministrativa total ou parcial. Se na época do acordo a
SDE não tinha conhecimento sobre a prática denunciada, o beneficiário
terá direito à imunidade total. Porém, se a SDE estava
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previamente ciente sobre a infração, isso será comunicado ao
beneficiário, e a penalidade aplicável poderá ser reduzida de um a dois
terços, dependendo da efetividade da colaboração e da boa-fé da parte no
cumprimento do acordo.
A celebração do acordo de leniência suspende o prazo prescricional
e impede o ofere- cimento de denúncia criminal contra os dirigentes e
administradores da empresa beneficiária, se estes assinarem o acordo e
preencherem os requisitos legais.
O interessado ao Programa de Leniência pode entregar
imediatamente uma proposta formal de acordo ou obter uma “senha”,
garantindo assim sua posição na “fila” para o acordo, o que é chamado de
“marker system” ou sistema se senhas. Para conseguir a senha o
interessa- do o candidato deve fornecer à SDE seu nome e endereço, os
nomes dos demais participantes da infração (Quem?), os bens afetados
(O quê?), os locais atingidos (Onde?), se possível o período de duração da
prática denunciada (Quando?). O candidato também deve informar sobre
outras propostas de acordo de leniência sobre a mesma prática
apresentadas ou a serem apresentadas a outras jurisdições.
A proposta poderá ser apresentada de forma oral ou escrita. Se
feita oralmente o inte- ressado deverá entrar em contato com o
Secretário da SDE, para marcar uma reunião, onde deverão ser
respondidas as mesmas perguntas necessárias para o sistema de senhas
e indicadas quais as provas que se pretende produzir. A cada reunião será
elaborado um termo único a ser preservado pelo candidato. A proposta
escrita será submetida à SDE em envelope lacrado, e identificado com os
termos Proposta de Acordo de Leniência e Confidencial, devendo conter
as mesmas respostas da proposta oral. Deverá ser tratada de forma
sigilosa, só sendo conhecida pelo Secretário de Direito Econômico e seu
Chefe de Gabinete.
A fase de negociação geralmente dura 6 (seis) meses, prorrogáveis
pelo mesmo pe- ríodo, a critério da SDE, se não houver outro candidato
ao acordo para a mesma infração. Apenas o Secretário de Direito
Econômico e seu Chefe de Gabinete participam na fase de negociação. O
sigilo quanto à identidade do interessado será mantido tanto na fase
negocial, quanto no decorrer do processo administrativo, que será
instaurado se houver a efetivação do acordo. As informações
comercialmente sensíveis do beneficiário do Acordo de Leniência, do
mesmo modo, serão protegidas.
A não aceitação da proposta não implica em confissão quanto à
matéria de fato, nem no reconhecimento da ilicitude da conduta
denunciada. Todos os documentos serão devolvidos ao candidato, e
nenhuma cópia ficará em poder da SDE, que não divulgará a proposta.
Essa condu- ta, aliada ao sigilo de que já tratamos, dá segurança àqueles
pretendem oferecer uma proposta de acordo, sendo, portanto, um
incentivo ao Programa de Leniência.
Aceita a proposta, o que não depende da aprovação do CADE, será
celebrado um Acordo de Leniência que possuirá em seu conteúdo
informações que confirmem o preenchi- mento de todos os requisitos
legais, entre outras. Também fará parte do Acordo de Leniência a
obrigação do beneficiário de cooperar plenamente com a SDE durante
toda a investigação e o processo administrativo, com a ressalva de que o
não-cumprimento das obrigações pre- vistas resultará na perda da
imunidade em relação a multas e outras sanções. A SDE deverá declarar
que não dispunha de provas suficientes para garantir a condenação do
beneficiário pela prática denunciada, atestando que este foi o primeiro a
se candidatar ao acordo.
Aquele candidato que não se qualificar para o acordo de leniência
para uma determi- nada infração, mas fornecer informações acerca de
outra sobre a qual a SDE não tenha conhe-
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Auranda B. Andrade
cimento, terá a redução de um terço da pena que lhe seria aplicável
com relação à primeira infração, além de poder obter todos os benefícios
da leniência em relação à segunda infração. Essa possibilidade ressalta o
caráter consensual dos acordos de leniência, que buscam tolher o maior
número de condutas contra a ordem econômica, utilizando-se, para isso,
de uma série de negociações que, a partir de uma única conduta, podem
levar, ao descobrimento e à punição de mais de uma infração à ordem
econômica.
Quando do julgamento do processo, se for verificado o cumprimento
do acordo, o CADE deverá decretar a extinção da punibilidade do
beneficiário, nos casos em que a SDE não conhecesse previamente a
infração denunciada, e, nos demais casos, reduzir de um a dois terços as
penas aplicáveis de acordo com o grau de colaboração prestada e a boa-
fé do infra- tor. A pena sobre a qual incidirá a redução não extrapolará a
menor das penas aplicadas aos demais participantes da conduta
repreendida.
Pelos motivos expostos torna-se mais vantajoso para a sociedade
conceder, de forma consen- sual, benefícios ao participante da infração
que queira pôr um fim na conduta e cooperar de forma plena e ampla
com as autoridades de defesa da concorrência de modo a garantir a
condenação da prática abusiva como um todo, do que, imperativamente,
punir uma só pessoa, deixando que a práti- ca abusiva, que envolve um
número maior de sujeitos, continue a infringir a ordem econômica.
Desta feita, o acordo de leniência é um exemplo claro da tendência
à participação e ao diálogo vivida pela Administração Pública. Esse
consensualismo confere maior celeridade e efetividade ao combate das
infrações contra a ordem econômica, ampliando a eficiência esta- tal na
realização do interesse público, o que é, sem dúvidas, benéfico.
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