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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ (UESPI)

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS (CCSA)


DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL III
PROFESSOR: CÉSAR AUGUSTO
CURSO: DIREITO

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS


Joana Gabriela de Oliveira Ibiapina

Teresina/2009
1. INTRODUÇÃO

Os juizados especiais cíveis e criminais têm instituição determinada pela própria


Constituição de 1988, que em seu artigo 98, I, incumbiu a União (no Distrito Federal e
nos Territórios) e os Estados de criarem os  Juizados Especiais, providos por juízes
togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução
de causas cíveis de menor complexidade e de infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses
previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro
grau.
Antes mesmo da Constituição da República de 1988, existia a Lei no 7.244, de
1984, conhecida Lei dos Juizados Especiais de Pequenas Causas, que, aliás, diante do
sucesso obtido nos Estados que implantaram tais órgãos, inspirou o constituinte de
1988.   Veio ao mundo jurídico, então, a Lei n o 9.099, de 26/9/1995, para, cumprindo o
comando constitucional, regulamentar tais juizados no âmbito da Justiça Ordinária, isto
é, da Justiça comum estadual e do Distrito Federal, e que se acha em vigor desde
27/11/1995.
Recentemente, entrou em vigor a Lei no 10.259/2001, a qual instituiu os juizados
especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça Federal comum, aplicando-se,
subsidiariamente, a Lei no 9.099/1995, ressalvado aquilo que conflitar com o novel texto
legal.
Os juizados especiais não foram instituídos com a pretensão de desafogar o
Judiciário, mesmo porque, conforme vem demonstrando a experiência, eles vieram para
atender a uma litigiosidade reprimida representada pelas questões de pequena expressão
monetária, tituladas pelos cidadãos de parcos recursos financeiros, que, antes, não
tinham acesso à Justiça. Em outras palavras: os juizados especiais não vieram para
retirar causas das varas comuns, mas, sim, para abrir as portas do Judiciário às pessoas
mais simples, que dele estavam afastadas.
O presente estudo, a despeito dos dados apresentados, não tem a pretensão (por
questão de tempo, até) de esmiuçar todos os conceitos trazidos pela Lei dos Juizados
Especiais e a repercussão destes na sociedade brasileira. A proposta é mais simples:
analisar, de um modo breve e didático, os mais importantes pontos dos Juizados. Trata-
se, pois, de uma reflexão que nasce na sala de aula, mas deve transbordar os limites
desta e alcançar a vida. Assim seja!

2. DO SURGIMENTO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

  O Juizado Especial Cível nasceu em 1995, com a Lei n. 9.099, de 26.09.95, a


partir da experiência bem sucedida do Tribunal de Pequenas Causas. Para as causas
mais simples e de menor valor, propostas por pessoas físicas, a lei desde 1984 já
instituía um procedimento informal, que privilegiava o acordo entre as partes e o
contato direto delas com o juiz, sem a necessidade de contratação de um advogado. O
processo se tornava ágil e rápido, mas sem perder a segurança, o que fez do "Pequenas
Causas" um verdadeiro instrumento do exercício da cidadania.
A lei de 1995 veio aprimorar o sistema, ampliando a competência do Juizado
tanto com relação à matéria, quanto em relação ao valor. Desse modo, o cidadão comum
encontrou o foro no qual procurava resolver suas pendências cotidianas, aquelas que
antes ficavam longe da apreciação da Justiça, causando um sentimento de impunidade.
O caráter didático da atuação do Juizado hoje pode ser medido na atitude da pessoa
comum que, diante de uma injustiça, não deixa de "procurar seus direitos".
A Lei n. 9.841, de 1999, estendeu o procedimento do Juizado também as
microempresas, diante do interesse dos empresários, que também queriam contar com a
eficiência do procedimento da Lei n. 9099/95. Não se pode negar hoje a tendência de
que a agilidade do procedimento do Juizado venha a ser incorporada ao processo
comum, dotando o juiz de um instrumento eficaz no combate a morosidade do processo.

3. DOS PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DOS JUIZADOS ESPECIAIS


CÍVEIS

Pode-se conceituar princípio como regra fundamental que deve ser observada e
cumprida. O doutrinador Joel Dias Figueira Júnior assim conceitua: “princípios
processuais são um complexo de todos os preceitos que originam, fundamentam e
orientam o processo”.
Podemos classificar os princípios em duas espécies, informativos e gerais. Os
informativos orientam o processo pelo seu fim maior e ideal precípuo, já os gerais, ou
também conhecidos como fundamentais, são os previstos na Carta Magna ou na
legislação infraconstitucional, e estes orientam a atividade de todo o processo e de todas
as pessoas nele envolvidas.
Os princípios orientadores do Juizado Especial Cível são: oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, visando sempre que
possível a conciliação ou a transação (artigo 2º).

I. ORALIDADE

Quando se afirma que o processo se baseia no princípio da oralidade, quer-se


dizer que ele é predominantemente oral e que procura afastar as notórias causas de
lentidão do processo predominantemente escrito. Assim, processo inspirado no
princípio ou no critério da oralidade significa a adoção de procedimento onde a forma
oral se apresenta como mandamento precípuo, embora sem eliminação do uso dos
registros da escrita, já que isto seria impossível em qualquer procedimento da justiça,
pela necessidade incontornável de documentar toda a marcha da causa em juízo.

II. SIMPLICIDADE

Este princípio se confunde um pouco com o princípio da informalidade orienta,


que o processo deve ser simples, sem a complexidade exigida no procedimento comum.
As causas complexas, não se recomenda, processá-las perante os Juizados Especiais
Cíveis, considerando que as referidas causas, via de regra, exigem a realização de prova
pericial, o que não é recomendado pelo procedimento, salvo quando o reclamante já
adunar à inicial a prova técnica necessária para a comprovação de seu direito articulado
na peça inaugural da ação.

III. INFORMALIDADE

Os atos processuais são os mais informais possíveis, e, com base nesse princípio,
admite-se a propositura da reclamação de forma oral, através de termo lavrado pelo
cartório secretário, a presidência da audiência conciliatória por um conciliador, a
presidência da audiência de instrução e julgamento por um juiz leigo, o qual proferirá
sua decisão, a atribuição da capacidade postulatória sem assistência de advogado,
quando o valor da causa for igual ou inferior a 20 salários mínimos.

IV. ECONOMIA PROCESSUAL

O princípio da economia processual visa o máximo de resultados com o mínimo


de esforço ou atividade processual, aproveitando-se os atos processuais praticados.

V. CELERIDADE

A celeridade, no sentido de se realizar a prestação jurisdicional com rapidez e


presteza, sem prejuízo da segurança da decisão. A preocupação do legislador com a
celeridade processual é bastante compreensível, pois está intimamente ligada à própria
razão da instituição dos órgãos especiais, criados como alternativa à problemática
realidade dos órgãos da Justiça comum, entrevada por toda sorte de deficiências e
imperfeições, que obstaculizam a boa fluência da jurisdição. A essência do processo
especial reside na dinamização da prestação jurisdicional, daí por que todos os outros
princípios informativos guardam estreita relação com a celeridade processual, que, em
última análise, é objetivada como meta principal do processo especial, por representar o
elemento que mais o diferencia do processo tradicional, aos olhos do jurisdicionado. A
redução e simplificação dos atos e termos, a irrecorribilidade das decisões
interlocutórias, a concentração dos atos, tudo, enfim, foi disciplinado com a intenção de
imprimir maior celeridade ao processo.

VI. DA COMPETÊNCIA

VII. QUANTO AO VALOR DE ALÇADA

A Lei nº 9.099/95, em seu art. 3º, inciso I, fixa o valor da alçada não excedente a
40 (quarenta) vezes o salário mínimo vigente à data à do ajuizamento da ação. Para
apurar-se o valor da causa, deve-se somar o principal com os acessórios até a época da
propositura da ação.
É oportuno salientar que, superando o valor da causa ao valor da alçada e não
sendo logrado êxito, na conciliação das partes, importa, conseqüentemente, em renúncia
automática do crédito excedente, nada impedindo que o reclamante desista, naquele
momento, de prosseguir com a ação perante o Juizado, buscando a via judicial comum,
isso sem anuência da parte contrária, uma vez que o valor de alçada deve ser respeitado
somente para efeito de condenação e não para fins conciliatórios, conforme ilação do
disposto no art. 3º, § 3º, c/c com o art. 39 da mesma lei, que torna ineficaz a sentença
condenatória na parte que exceder o valor de alçada.
É importante observar também que não pode o cartório deixar de receber e
processar normalmente a inicial que tenha valor da causa superior ao de alçada.

A. QUANTO ÀS MATÉRIAS DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL

O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento


das causas cíveis de menor complexidade assim consideradas:
         I – as causas cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes o salário mínimo;
         II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
         III – a ação de despejo para uso próprio;
         IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao de
alçada.
Compete ainda ao Juizado Especial promover a execução de seus julgados, bem
como dos títulos executivos extrajudiciais, no valor não superior a 40 vezes o salário
mínimo, observando o disposto no art. 8º da Lei nº 9.099/95.
Quanto às causas cujo valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo, temos aí
uma competência elástica do Juizado Especial Cível para processar e julgar as causas
que não envolvam matéria de competência específica de outros órgãos jurisdicionais,
como as ações de família, ações falimentares etc., nem aquelas excluídas da
competência do Juizado, por força do § 2º do art. 3º da Lei 9.099/95.
No tocante a essa competência genérica do Juizado, firmada pelo inciso I do art.
3º da lei, o valor de alçada é considerado apenas para efeito de condenação, o que não
obsta a propositura da ação mesmo quando o valor atribuído à causa for superior ao de
alçada, sendo eficaz a sentença que homologar o acordo celebrado entre as partes em
valor superior ao de alçada, tendo em vista os fins conciliatórios colimados pelo
Juizado. Somente a sentença condenatória é ineficaz na parte que exceder a alçada
estabelecida pela lei, mesmo porque a opção pelo procedimento das ações perante o
Juizado Especial Cível importará em renúncia ao crédito excedente ao valor de alçada,
excetuada a hipótese de conciliação, como ressalva o § 3º do seu art. 3º.
O inciso II do aludido artigo firma a competência do Juizado Especial Cível para
processar e julgar as ações sumárias elencadas no art. 275, inciso II, do Código
Nacional de Ritos.
Logo, são de competência do Juizado Especial Cível as causas específicas de
valor não excedentes a 40 salários mínimos, para fins de condenação:
a)  de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b)  de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c)  de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d)  de ressarcimento por danos causados em acidentes de veículos, ressalvados
os casos de processo de execução;
c) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de
veículo, ressalvados os casos de processo de execução;
e) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em
legislação especial;
f) nos demais casos previstos em lei.

B. QUANTO AO LOCAL

Perante o Juizado Especial Cível, a competência ratione loci, ou seja, em razão


do local, é fixada conforme a seguir:
1) Pelo Juizado do foro do domicílio do réu ou a critério do autor, do local onde
aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha
estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório.
2) Pelo juizado do foro do lugar onde a obrigação deva ser cumprida.
3) Pelo juizado do foro do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações
para reparação de dano de qualquer natureza.
Também poderá a ação ser proposta no foro do domicílio do réu, como autoriza
o parágrafo único do aludido art. 4º da lei que regulamenta o procedimento das ações
perante o Juizado Especial Cível. É preciso observar que havendo previsão no contrato
do foro de eleição, este deverá ser respeitado. Portanto, o juizado competente para
apreciar o conflito será o do foro eleito pelas partes.

4. DAS PARTES

Consideram-se partes do processo aquelas pessoas que pedem (autores) e contra


as quais se pede (réus), em nome próprio tutela jurisdicional.
  O art. 8º da lei 9.099 enumera taxativamente, as pessoas que não podem figurar
como partes em sede de Juizados Especiais, sem, portanto, poder figurar tanto no pólo
ativo quanto no pólo passivo da relação processual. A saber: o incapaz, o preso, as
pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o
insolvente civil.
Nas causas de valor de até 20 salários mínimos, as partes podem comparecer
pessoalmente para propor a ação junto ao Juizado Especial Civil ou para respondê-la. A
representação por advogado é facultativa. Torna-se, porém, obrigatória a sua
intervenção quando o valor da causa ultrapassar o aludido limite.
Com ou sem assistência de advogado, o autor sempre deverá comparecer
pessoalmente à audiência de conciliação. O réu também deverá, em regra, fazer o
mesmo. Mas, quando for pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser
representado por preposto credenciado.

5. DA INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Em razão da natureza das causas e da competência dos Juizados Especiais, a


necessidade de intervenção do Ministério Público limita-se aos casos em que o réu for
maior de 18 e menor de 21 anos, nas ações de revogação de doações, nas causas em que
o revel for citado por hora certa, nas ações que versem sobre registros públicos e em
casos de anulação de escritura em razão de vício formal.
Ainda caberá a intervenção do Ministério Público no caso de figurarem como
parte no processo as fundações. Nesse caso, a intervenção, dar-se-á em razão do
interesse público evidenciado pela natureza da lide e qualidade da parte. Assim, quando
o interesse em litígio é público, como na hipótese de bens e obrigações de fundações
mantidas por pessoas jurídicas de direito público. Neste caso a ausência da intervenção
ministerial fulminará de nulidade absoluta todo o feito, a partir do momento em que o
Ministério Público deveria ter sido intimado a manifestar-se e não o foi.

6. DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

O art. 10 da lei que regulamenta o procedimento perante o Juizado Especial


Cível coíbe expressamente, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro,
inclusive de assistência, admitindo-se tão somente o litisconsórcio, seja ele ativo ou
passivo.
Portanto, a denunciação à lide não é cabível no procedimento dos feitos que
tramitam perante o Juizado. A recomendação prática, na hipótese de uma denunciação à
lide, como não é cabível, evitando acarretar prejuízo ao reclamado e denunciante, é no
sentido de o conciliador, na fase conciliatória, orientar a parte reclamante a requerer na
assentada da audiência, que deverá ser lavrada, o aditamento da inicial, a fim de se fazer
inserir no pólo passivo da reclamação o nome do denunciado, designado-se nova
audiência conciliatória, dando-se ciência às partes da designação.

7. DAS MEDIDAS CAUTELARES

Não há previsão de medidas cautelares no Juizado Especial. Por subsidiariedade,


porém, poderá o juiz determinar medidas provisórias que julgar adequadas, quando
houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito
da outra lesão grave e de difícil reparação. E, vigorando, no Juizado Especial, os
princípios da simplicidade e informalidade, tais medidas são concedidas
independentemente de processo cautelar, ainda que haja procedimento específico,
previsto no Código de Processo Civil.

8. AÇÃO RESCISÓRIA

  A Lei nº 9.099 exclui, expressamente, a ação rescisória do âmbito das causas


sumaríssimas julgadas no Juizado Especial Civil (art. 59). Restará, contudo, a
possibilidade da ação ordinária de nulidade, quando configurada a sentença nula ou a
sentença inexistente.

9. COMPOSIÇÃO DO JUIZADO

A - A função do conciliador

 A tentativa de conciliação, nos termos do art.22 da Lei n. 9.099/95, é conduzida


pelo juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.
  Os conciliadores, que em regra atuam voluntariamente, exercem serviço público
relevante e tem a função precípua de buscar a composição entre as partes, sendo que
nesta capital do Estado de São Paulo obtêm êxito em cerca de 50% de suas tentativas de
acordo e mostram-se imprescindíveis para o bom desenvolvimento do novo sistema.

B - Do Juiz Leigo

A figura do juiz leigo, uma das inovações da Lei n. 9.099/95, criada com o
escopo fundamental de funcionar na instrução processual, substituindo facultativamente
o juiz togado nesse múnus, é de avançado caráter prático. Obviamente, toda a direção da
instrução do processo ficará, em última análise, aos seus cuidados (do juiz togado),
sempre com o poder de supervisionamento do trabalho desses auxiliares, podendo
mandar repetir atos processuais ou produzi-los pessoalmente.
                        O juiz leigo, como mero auxiliar da justiça, responde pela fase instrutória
do processo, coletando provas e decidindo os incidentes que possam interferir no
desenvolvimento da audiência de instrução e julgamento, e como o próprio nome está a
indicar, não dispõe das garantias constitucionais inerentes aos magistrados, conferidas
pelo art. 95 da Constituição Federal, expressas na vitaliciedade, inamovibilidade e
irredutibilidade de vencimentos.

C - Do juiz togado
                       
O juiz togado terá sempre o poder de supervisionar o trabalho destes auxiliares
(juizes leigos e conciliadores), podendo mandar repetir atos processuais ou produzi-los
pessoalmente.
 
10. DO PROCEDIMENTO

A. DA PETIÇÃO INICIAL E DA CITAÇÃO

Estando a inicial em termos, a citação será remetida pelo correio, com a


advertência de que, não comparecendo a parte reclamada no dia e hora aprazados para a
audiência, importará na sua revelia, e conseqüente confissão ficta da matéria de fato,
sendo tidos como verdadeiros os fatos articulados na peça exordial da reclamação,
conduzindo ao julgamento antecipada da lide.
Ressalte-se ainda que, tratando-se de pessoa física, a postagem da carta citatória
no correio deve ser procedida mediante aviso de recebimento em “mãos próprias”,
considerando que a citação da pessoa física é sempre pessoal, sob pena de, recebida a
citação por terceiros e não comparecendo o reclamado em audiência, este não pode ser
considerado revel, uma vez que a citação encontra-se eivada de vício de nulidade
absoluta, o qual será espancado somente com o comparecimento espontâneo do
reclamado à audiência.
Formulando o reclamado pedido contraposto, como autoriza o artigo 31 da Lei
nº 9.099/95, deve ele fundamentá-lo nos mesmos fatos que constituem o objeto da
controvérsia, acostando naquele momento a prova material que demonstre sua
pretensão.  É facultado ao reclamante responder ao pedido do reclamado na própria
audiência ou requerer o adiamento desta, a fim de lhe ser permitido tempo para
contestar o pedido formulado pelo reclamado, recomendando-se a designação de nova
audiência, dando ciência aos presentes da designação, em respeito ao princípio da ampla
defesa.
No procedimento especial dos Juizados a citação apresenta-se em diversas
modalidades, podendo ser postal, por oficial de justiça, por hora certa e há ainda os
casos em que dispensa-se a citação (comparecendo a parte contrária em cartório e
tomando ciência dos termos da inicial, ou comparecendo á audiência conciliatória,
ficará suprida a necessidade da citação, sanando possíveis vícios).
No processo especial, foi abolida a citação por edital, por motivos óbvios. A
citação editalícia, se adotada no processo especial, comprometeria os ideais de
simplicidade e celeridade tão desejados. As intimações se processam da mesma forma
adotada para as citações, ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação.
B. DA EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO

Na hipótese de ausência de ambas as partes, tem como conseqüência a extinção


do feito, sem o julgamento do mérito e a não decretação da revelia do reclamado, uma
vez que, ausente o reclamante, resta configurada a desistência tácita da reclamação,
lavrando-se a assentada. 

C. DA CONCILIAÇÃO

No Juizado Especial Cível a conciliação será proposta assim que aberta a sessão,
devendo o juiz togado ou leigo ou o por conciliador sob sua orientação, que deverão
esclarecer as partes sobre as vantagens e desvantagens da conciliação, mostrando-lhes
os riscos e conseqüências, inclusive quanto são limite que poderá ser cobrado, que é de
40 (quarenta) salários mínimos.
Obtida a conciliação, esta será reduzida a termo e homologada por sentença a ser
proferida por juiz togado. Não obtendo a conciliação, poderão as partes optar pela
instrução de um juízo arbitral, que deverá ser um dos juízes leigos,  o número de
árbitros será  ímpar, se forem dois os escolhidos, cabe a eles escolher o terceiro,
demonstrando a imparcialidade do árbitro. Logrando êxito, os árbitros devem apresentar
o laudo ao juiz togado para a devida homologação. Não instituído o juízo arbitral, e não
sendo possível de imediato a realização da audiência de instrução e julgamento, será
marcada para um dos 15 dias subseqüentes, saindo cientes todos os presentes. 
Não logrando o conciliador êxito na conciliação das partes em litígio, designa-se
a audiência de instrução e julgamento, de acordo com a disponibilidade de pauta do juiz
de direito vinculado ao Juizado, devendo as partes comparecer à audiência
acompanhadas de suas testemunhas, podendo cada uma delas ouvir, no máximo, três
testemunhas, as quais precisam estar arroladas nos autos.

D. DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO


A audiência de instrução e julgamento deve ser designada para os 15 dias
subseqüentes ao da audiência conciliatória. Aberta a audiência, o juiz renovará a
proposta de conciliação das partes e, não logrando êxito na sua realização, dará a
palavra à parte reclamada ou ao seu advogado, quando assistida, para oferecer sua
contestação oral. Nada obsta que a contestação seja oferecida em forma de memorial, ou
seja, escrita, quando então será lida em audiência.
Encerrada a fase de contestação, passará o juiz, à produção de provas e, entender
necessário, tomará em primeiro lugar o depoimento pessoal das partes, passando a
seguir a inquirir, inicialmente, as testemunhas trazidas pela parte reclamante e, logo
após, as da parte reclamada.
Finda a produção de provas, deve o juiz abrir os debates orais, dando a palavra
inicialmente à parte reclamante e a seguir, à parte reclamada, a fim de que ofereçam
suas razões finais. O suprimento dessa fase processual poderá acarretar vício de
nulidade processual por cerceamento de defesa. Daí a importância de o juiz não obstar
esse direito das partes de oferecerem suas razões finais em audiência.
Apresentadas as razões finais, o juiz passará a proferir sua sentença em
audiência; não se sentindo habilitado naquele momento, determinará a conclusão do
feito para a prolação da sentença, designando na mesma, assentada dia e hora para a
leitura e publicação da sentença a ser proferida, intimando-se os presentes para o ato,
que será realizado no Cartório do Juizado, que lavrará o termo respectivo quando da
realização do ato. Ressalta-se que a sentença dispensa relatório, entrando o juiz
diretamente na fase decisória.
O trânsito em julgado da sentença ocorrerá no prazo de 10 dias, a contar do seu
ciente, e sua publicação é feita em audiência. Aplica-se a regra do Código de Processo
Civil para efeito da contagem do prazo, excluindo o dies a quo e incluindo o dies ad
quem.
Não sendo prolatada a sentença em audiência e não tendo o juiz designado dia e
hora para a sua leitura e publicação, deverão as partes ser intimadas da mesma através
do correio, postando a carta de intimação mediante aviso de recebimento. Estando as
partes assistidas por advogados basta a intimação destes. Ressalta-se que, em primeiro
grau de jurisdição, as partes e seus advogados não poderão ser intimados por via
editalícia, como ocorre nas turmas recursais.
Recebidos os autos pelo Cartório com a sentença proferida pelo juiz,
providenciará este de imediato o seu registro no livro ou na pasta própria destinada soa
registros de sentença, certificando nos autos o registro, fazendo referência ao número do
livro e da folha respectiva ao registro efetivado. 

E. DAS PROVAS

Serão admitidos todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não
especificados em lei, hábeis para demonstrar da veracidade dos fatos articulados pela
parte da relação processual, como autoriza o artigo 32 da Lei nº 9.099/95. 
A produção de prova pericial, contudo, é inviável no procedimento do Juizado
Especial Cível, tendo em vista os princípios que orientam o procedimento,
principalmente os da informalidade e celeridade dos atos processuais
Não obstante tal recomendação de impossibilidade de realização de perícia
técnica o Juizado Especial Cível, segundo a regra jurídica talhada no artigo 35 da lei
específica, quando a prova do fato exigir, o juiz poderá inquirir técnicos de sua
confiança, permitindo às partes a apresentação do parecer técnico.
No que se refere ao depoimento pessoal, pode ele ser requerido pela parte
interessada ou tomado ex-officio.  Requerido o depoimento pessoal de qualquer uma
das partes, sua presença é indispensável à audiência, sob pena de lhe ser aplicada a pena
de confesso, prevista no § 2º do artigo 343 do Código de Processo Civil, ainda que
presente à audiência se negue a prestar o depoimento.

F. DA SENTENÇA

No processo especial, a estrutura da sentença é bem simplificada, devendo


compreender apenas os fundamentos e a parte dispositiva, ficando dispensado o
relatório (art. 38). Ao fundamentar a decisão, com base na prova testemunhal, o juiz tem
apenas de mencionar o que foi dito de essencial pelas testemunhas (art.36). É ineficaz a
sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta Lei.

G. DOS RECURSOS

O recurso deve ser interposto no prazo de 10 (dez) dias, a contar da intimação da


sentença, em geral costuma ocorrer na própria audiência, pois é nela que o juiz deve
proferir sua decisão sobre a lide (art. 28). 
Vigora nos juizados especiais cíveis a regra da irrecorribilidade imediata das
decisões interlocutórias. Em sendo assim, não é admitido o recurso de agravo, nem
mesmo quando destinado a destrancar outro recurso. As partes que se julgarem
prejudicadas, diante dos casos de relevância e urgência, podem lançar mão do mandado
de segurança, como meio excepcional de impugnação, para atacar os atos judiciais no
curso do processo.
As sentenças homologatórias de autocomposição ou do laudo arbitral não
desafiam qualquer recurso, nem os embargos de declaração. O elenco recursal, dentro
do espírito da celeridade processual que norteia os juizados especiais cíveis, não permite
a aplicação subsidiária do CPC e se limita a dois recursos: embargos declaratórios e
recurso inominado.
Admissível, igualmente, o recurso extraordinário, para o Supremo Tribunal
Federal, desde que preenchidos os requisitos pertinentes.
Os embargos declaratórios têm vez tanto da sentença de primeiro grau, como do
acórdão da turma recursal (art. 48 da Lei n1 9.099). Interposto contra sentença goza de 
efeito suspensivo, apenas. Podem ser apresentados  no prazo de cinco dias da ciência da
decisão que tiver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. Diferem-se dos
embargos semelhantes previstos no CPC (art. 535) quanto ao efeito (no Código,
interruptivo),  contendo, ainda, um fundamento a mais, isto é, a dúvida, admitida a
interposição oralmente e por escrito.
O recurso inominado ou apelação - na preferência de alguns autores - submete-
se à satisfação dos requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, como
qualquer recurso, merecendo destaque os seguintes aspectos: obrigatoriedade de atuação
dos advogados representando as partes; formalização em petição escrita, contendo as
razões do inconformismo; interposição no prazo de dez dias a partir da ciência da
sentença; preparo em quarenta e oito horas contadas  da interposição, independente de
intimação; efeito, de regra, apenas devolutivo, admitido, excepcionalmente, o
suspensivo,  para evitar dano irreparável à parte.
O preparo do recurso deve ser feito no prazo de quarenta e oito horas, após sua
interposição, sem haver necessidade do recorrente ser intimado para que o faça. Esse
prazo é preclusivo, ensejando a deserção do recurso por falta de preparo. Em caso tal, o
colégio recursal deverá, mesmo de ofício, não conhecer do recurso, em preliminar ao
mérito. A prova do preparo exige que o recorrente recolha a guia de depósito ainda
dentro das quarenta e oito horas, também sob pena de deserção.
Como o prazo foi fixado em horas, conta-se de minuto a minuto, de acordo com
a regra do art. 125, § 4º, do Código Civil, não se incluindo o dia da interposição do
recurso.

H. DA EXECUÇÃO

O Juizado Especial é competente para a execução de seus julgados, com uma


diferença fundamental da Justiça Comum. Os processos de conhecimento e execução,
no Juizado Especial, se amalgamam em processo único, de forma que não há
necessidade de propositura de ação executória. O procedimento e os requisitos são,
basicamente, os mesmos do processo executivo disciplinado pelo Código de Processo
Civil, aplicando-o subsidiariamente.

I. DAS CUSTAS PROCESSUAIS

As partes não estão sujeitas ao pagamento de custas processuais e honorários


advocatícios, havendo sucumbência apenas na fase de recurso. Assim, a parte vencida
que desejar recorrer da sentença deverá recolher as custas processuais, o preparo do
recurso (2%), a taxa judiciária e a contribuição da OAB, sendo as custas calculadas com
base na tabela mensal, publicada no Diário Oficial, referente às ações sumárias.
Portanto, dispensa-se a remessa dos autos ao contador judicial para apuração do cálculo.
  De forma alguma deve o juiz monocrático obstruir o seguimento do recurso
quando o recorrente invocar a prestação jurisdicional sob o manto da gratuidade. È que
não cabe qualquer recurso contra a decisão que negar o seguimento e, neste caso, a parte
não poderá ver reexaminada a sentença impugnada.
Assim, se o recorrente, ao interpor o recurso, requerer a concessão da assistência
judiciária gratuita é de se processar regularmente o recurso, remetendo-o à Turma
Recursal, a quem compete decidir pelo deferimento ou não da pretendida assistência.
A execução de título judicial ou extrajudicial correrá sem custas e honorários,
salvo quando:
a)      for reconhecida a litigância de má-fé;
b)      forem julgados improcedentes os embargos do devedor;
c)      tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso improvido do
devedor.
11. CONCLUSÃO

Por tudo que foi dito, resta induvidosa a importância da Lei dos Juizados
Especiais Cíveis a fim de tornar a Justiça Brasileira mais célere e, sobretudo,
democrática, grande conquista da sociedade civil brasileira. A discussão é válida e, a
despeito das diversas opiniões sobre acesso à justiça, parece claro que boas leis geram
resultados.
Classificar uma lei como boa, no entanto, é uma tarefa complicada, vez que os
critérios usados para tanto são muito subjetivos. No Brasil, é inegável que as leis tidas
como boas contam com maciço apoio da população e, por essa razão, tornam-se fortes e
fiscalizadas.
A celeridade resulta da simplificação do procedimento, da instrumentalidade das
formas (repulsa ao formalismo exacerbado), da busca pela solução dos litígios de forma
amigável. Tamanha a importância que a Lei 9.099/95 deu à busca pela rápida solução
dosa conflitos que positivou o princípio da celeridade.
Para se saber a real importância de uma lei, não basta reverenciar os seus
dispositivos e finalidades. É preciso que a mesma encontre respaldo social. E nesse
ponto, a Lei dos Juizados Especiais Cíveis não deixa a dever. É tão grande o seu
acolhimento por parte da população, que os Juizados Especiais são procurados para
resolver litígios que refogem à sua competência, tais como ações trabalhistas, de
alimentos e de investigação de paternidade.
A lei apresenta falhas: é verdade! Mas é sobre estas que devem recair as
reflexões. A reflexão é o primeiro passo para melhoria.

Bibliografia:

CÂMARA, Alexandre Freitas. Dos procedimentos Sumário e Sumaríssimo. 2ª edição.


Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 1996. 

COSTA, Hélio Martins. Lei dos Juizados Especiais Cíveis anotada e sua interpretação
jurisprudencial. Atualizado conforme a Lei 9,841 de 05 de outubro de 1999. 2ª edição.
Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2000. 

NEGRÃO, Theotonio com a colaboração de José Roberto Ferreira Gouvêa. São Paulo:
Editora Saraiva, 2002. 

SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. Processo de


Conhecimento. V. 1, 8ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2001. 

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. V. III. 26ª edição.
Rio de Janeiro: Editora Forense, 2001

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