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RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Por este ser um estudo realizado no âmbito das ciências humanas, o método
histórico mostra-se dos mais eficientes, vez que permite a análise das fontes do direito –
materiais e formais – que trataram da definição da competência da Justiça do Trabalho
em diferentes épocas.
2
POGGETTI, Donata; GASPARINI, Maurício. A Nova Súmula n. 363 do Superior Tribunal de Justiça e
a competência material da justiça do trabalho para cobrança de honorários profissionais – retrocesso
pretoriano. Revista LTr, vol. 73, n.º 04, Abril de 2009.
No entanto, a existência de decisões em desconformidade com estes conceitos
leva à conclusão de que, nos tribunais nacionais, não se está conseguindo apreender o
real alcance do artigo 114, CF. Ora adota-se postura restritiva, ora ampliativa e, para
caracterização ou não de determinada figura sócio jurídica como relação de trabalho,
são usadas premissas controvertidas e argumentos parcos e insuficientes. Dessa forma,
surgem muitas situações nas quais a competência material da Justiça Laboral é
indevidamente restringida, conforme análise feita a seguir.
Tal debate, contudo, mostra-se inútil, uma vez que considera que a aplicação da
legislação trabalhista, do Código de Defesa do Consumidor (CDC) ou do Código Civil
(CC) são importantes para estabelecer qual é o juízo competente para julgamento da
causa.
André Araújo Molina3, em estudo brilhante sobre o tema, solve todas as dúvidas
acerca da competência da justiça laboral para julgar e processar causas que demandem a
aplicação de do CDC ou CC assinalando que:
(...)
3
MOLINA, André Araújo. Competência material trabalhista – critério científico para interpretação do
inciso I do art. 114 da CF/88. São Paulo: LTr, 2008. págs. 949, 951 e 952.
Ressalto que a competência é firmada no momento da propositura da
ação (art. 86 do CPC), verificando-se in status assertionis a causa de
pedir remota exposta na inicial para fixação da competência. Desse
modo, pouco importa se após a apresentação da defesa ou mesmo
após a instrução processual verificar-se que não se trata de uma
relação de trabalho, pois a competência já terá sido fixada e a
alteração posterior deverá levar ao julgamento de fundo com a
conseqüente rejeição do pedido e não remessa dos autos para o juízo
competente. O único requisito que realmente importa para a
fixação de competência é que a petição inicial traga como causa
de pedir remota uma relação de trabalho, pouco importando se
essa relação será ou não confirmada quando da instrução do feito.
(...)
Seguindo classificação feita por Maurício Gasparini e Donata Poggetti, uma das
espécies do gênero relação de trabalho é o funcionalismo, exercido mediante concurso
público e caracterizado também pela subordinação à Administração Pública. Por força
de decisão liminar preferida com efeito ex tunc concedida em ação direta de
inconstitucionalidade (ADIn) no ano de 2005 pelo ministro Nelson Jobim, foi
reconhecida a competência da Justiça Comum para processar e julgar as ações
envolvendo servidores públicos estatutários e o Poder Público.
4
SARAIVA, Renato. Processo do Trabalho. 5ª ed. São Paulo: Método, 2009. p. 33.
estabelecido de modo a caracterizar relação celetista. Assim, deve ser afastada a
competência da Justiça do Trabalho para fixar a da Justiça Comum.
É preciso ter em mente que apenas enquadrar tais relações irregulares entre
trabalhadores temporários e a Administração Pública sob o pálio do regime especial
administrativo pode representar uma grande lesão social. Dessa forma, é possível que as
legislações locais tratem da presente questão das mais variadas formas, sem assegurar
direitos básicos a estes servidores.
Trechos de publicação de autoria de Carlos Eduardo Brisolla 5 mostram
claramente o prejuízo que tal deslocamento irá acarretar aos trabalhadores:
5
A competência da Justiça do Trabalho e os casos de desvirtuamento de contratos temporários com a
Administração Pública. BRISOLLA, Carlos Eduardo. Disponível em
<http://www.cursotoga.com.br/v2/artigos/A%20COMPETENCIA%20DA%20JUSTI%C3%87A%20DO
%20TRABALHO%20E%20OS%20CASOS%20DE%20DESVIRTUAMENTO%20DE
%20CONTRATOS%20TEMPORARIOS%20COM%20A%20ADMINISTRACAO%20PUBLICA.pdf>
predominantemente por determinado poder. Sobre a harmonia que deve existir entre os
órgãos do poder político, Dirley da Cunha Junior apud José Afonso do Silva6 ensina que
É sabido por todos que o nosso tempo é gravado por profunda apatia política,
descrença na efetividade das leis e no sistema representativo, escândalos envolvendo
crimes cujos acusados são detentores do poder político e agruras de toda sorte que
abalam a democracia e violam obstinadamente os direitos fundamentais da população
de nosso país. Nesse contexto social de inércia dos representantes eleitos pelo povo, o
papel do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, além de
guardiões da legislação federal e da Constituição da República, também é visivelmente
político.
6
JUNIOR, Dirley da Cunha. Curso de Direito Constitucional. 2ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2008. p. 875.
Supremo Tribunal Federal. A tal participação influente e atuante dos órgãos
jurisdicionais, mormente do Pretório Excelso, dá-se o nome de ativismo judicial.
7
BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática.
Aproximando a discussão ora proposta do tema deste estudo, é necessário
ressaltar que o que se quis demonstrar até aqui é que nem sempre a atuação do poder
Judiciário em âmbito legislativo acarreta prejuízos à sociedade. Nas situações ilustradas,
o que ocorre é justamente o inverso. A invasão do Judiciário se dá, inclusive, para suprir
a inércia dos legisladores, acarretando uma louvável complementação de atuações
insuficientes no âmbito do Congresso Nacional. Resta preservada, assim, a harmonia
entre ambos.
Catalogado na nossa Carta Maior no artigo 5º, inciso XXXV, o acesso à justiça
aparece no ordenamento jurídico nacional como direito fundamental. Com efeito, sua
importância em âmbito internacional deriva também da Declaração Universal dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1948, que, em seu artigo 8º, estabelece que toda
pessoa terá direito de recorrer contra atos que violem os direitos fundamentais
reconhecidos pela Constituição ou pela lei.
Pois bem. Conforme visto acima, tendo como núcleo essencial a dignidade
humana, positivou-se também o direito ao acesso à justiça com o objetivo de fazer com
que as pessoas tenham mais proteção aos seus direitos. Através de garantias impostas
legalmente cujo cumprimento é cogente no âmbito dos fóruns e tribunais, as pessoas
dispõem de eficazes armas processuais contra lesão ou ameaça aos seus direitos.
Mais importante que promulgar novas leis que concedem direitos materiais, é
introduzir no ordenamento jurídico meios que garantam sua efetividade em juízo. Caso
contrário, o direito subjetivo dado transforma-se em letra morta, existindo apenas nos
códigos e literatura jurídica.
Além disso, as competências da justiça comum nada têm a ver com a relação
trabalhista. Portanto, os juízes trabalhistas são muito mais bem preparados e mais
sensíveis para dirimir os conflitos gerados entre o trabalho e o capital, aptos, inclusive à
ter uma atuação mais ativa na medida em que ajude o trabalhador, de acordo com o
princípio da finalidade social.
9
JUNIOR, Dirley da Cunha. Curso de Direito Constitucional. 2ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2008. p. 217.
fundamental, em gritante desconformidade com o que o princípio da máxima
efetividade preconiza.
6. CONCLUSÃO
Portanto, o combate a tais posicionamentos deve ser cada vez mais forte,
refutando-se a tendência atual de se cristalizar interpretações retrógradas. Trata-se de
garantir o cumprimento de vários mandamentos constitucionais como o principio da
separação dos poderes, a competência material da Justiça Trabalhista regulamentada
pela a Reforma do Judiciário, as ressalvas concernentes às causas sujeitas à Justiça do
Trabalho quando do estabelecimento das competências da Justiça Comum, o direito
fundamental do acesso à justiça, o fundamento do valor social do trabalho e, finalmente,
o princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais.
7. REFÊRENCIAS
BARROS, Alexandre Reis Pereira de. A nova súmula n. 363 do STJ e sua flagrante
inconstitucionalidade. São Paulo: Revista LTr, vol. 72, novembro de 2008.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6ª ed. São Paulo: LTr,
2007.
GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo Curso de Direito Processual Civil. Vol.
1. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13ª ed. São Paulo: Saraiva,
2009.