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UNIVERSIDADE PAULISTA

Psicologia

Psicólogo e as minorias

Angela Calixto de Souza


Graziele Moraes Paganelli
Isabelle Abreu Rodrigues
Lara Ribeiro Ferreira
Marcelo Vinícius Mendonça Silva
Nicolas Matheus Damascena Santos

São José dos Campos

2022
Sumário

1. Introdução...................................................................................................2
2. O Papel do Psicólogo na Atuação com Pessoas LGBTQIA...................3
3. A Homossexualidade como Doença.........................................................4
3.1. Passagem de quando a homossexualidade era tratada como
doença para os dias atuais...............................................................................4

3.2. Classificação Internacional de Doenças....................................................5


4. O Psicólogo E As Minorias........................................................................5
4.1. A psicologia, os direitos humanos e o Código de Ética
Profissional do Psicólogo..................................................................................5
4.2. A função social da psicologia.....................................................................7
5. Breve Explicação Da Sigla...............................................................8
6. Reproduções Homofóbicas No Cotidiano................................................9
7. Conclusão....................................................................................................10
8.Referências...................................................................................................11
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1. INTRODUÇÃO

O tema “O psicólogo e as minorias” visa o estudo de relações entre a área da


psicologia e as porções de indivíduos que sofrem preconceito ou dificuldade de
se inserir e ter seus direitos reafirmados em seus contextos socioculturais e
econômicos. Como recorte, o foco do estudo foi direcionado ao grupo
LGBTQIA+, devido aos debates crescentes sobre o assunto em âmbitos
políticos, religiosos e no cotidiano, além do histórico científico de abordagem
discriminadora sobre a temática. Adicionalmente, a urgência comunitária de
combate à brutalidade direcionada a estes sujeitos estimulou o interesse de
estudo no âmbito psicológico, dado o papel social da psicologia.

À vista disso, este trabalho apresenta como finalidade enfatizar a importância


da abordagem correta da sexualidade no contexto da atuação do psicólogo,
discorrendo sobre a diversidade de gêneros, uma breve história da visão
patológica da homossexualidade e a relação dos profissionais com as minorias
políticas, envolvendo a ética da psicologia.
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2. O papel do psicólogo na atuação com pessoas LGBTQIA+

Os Princípios de Yokygarta foi um documento desenvolvido por estudiosos e


especialistas de direito internacional dos direitos humanos, orientação sexual e
identidade de gênero que após pesquisas por todo o globo se reuniram na
cidade de Yokygarta, na Indonésia para que fosse desenvolvido aos direitos
humanos e aplicado as minorias LGBTQIA+, para que fosse apresentado em
2007, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra.
Esse documento foi criado para evidenciar não só os direitos dessas minorias,
mas também legitimar quais deles eram infringidos, fossem eles por sua
orientação sexual ou identidade de gênero, levando em consideração que em
alguns países é visto como crime e até mesmo tendo a pena de morte como
sentença.

Identidade de Gênero se diz respeito a como uma pessoa se sente e se


percebe em relação ao seu gênero, de forma singular. A identidade de gênero
de uma pessoa pode ser definida como: feminina, masculina, trans ou travesti
ou como mulher, homem, mulher trans, travesti, homem trans, não binário (que
não se identifica com o gênero masculino nem com o feminino). (PRÍNCIPIOS,
p. 9). Já o conceito de orientação sexual está ligado às várias formas diferentes
de atração afetiva e sexual de cada pessoa. (PRÍNCIPIOS, p. 9). Este último
substitui o termo “opção sexual”, tendo em vista que as pessoas não escolhem
sua orientação.

Partindo dessas definições, podemos enfatizar que existem sexualidades que


se atraem por gêneros opostos, semelhantes, por ambos os gêneros ou até
mesmo por nenhum deles, deste modo podemos defini-las como
heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e assexualidade e que
a identidade de gênero está ligada a forma como a pessoa se identifica sendo
ela cisgênero, transgênero, travesti e não binária, uma colocação que não é
designada pelo seu sexo biológico a partir do seu nascimento. (BAGAGLI,
2017)
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3. A homossexualidade como doença

3.1. Passagem de quando a homossexualidade era tratada como doença


para os dias atuais

A homossexualidade por muitas civilizações foi considerada uma


anormalidade, mas na Grécia e no Império Romano havia uma exceção: ela
estava presente com o nome de pederastia, que significa relacionamento
erótico entre homens. Para esses povos a homossexualidade fazia parte do
desenvolvimento dos rapazes para assim se formarem homens.

Pelo contrário, nas civilizações vigentes na Idade Média o maior ato de


homofobia estavam presentes nas religiões, dado o poder do cristianismo
nesse contexto, onde a maioria delas adotava o que estava escrito na Bíblia:
“Não te deitarás com homens, como fazes com mulheres: é abominação”
(Levítico, 18:22). Desde então qualquer atividade sexual que não tinha como
base a procriação era visto como pecado, principalmente em relações
homoafetivas que não podiam gerar filhos – usando como argumento que isso
causaria o fim da humanidade.

No século XV, com uma visão mais humanista, os valores referentes à


sexualidade voltaram à pauta por filósofos humanistas que passaram a
defender o amor masculino. Nesta época, o principal obstáculo era o
relacionamento entre dois homens com praticamente a mesma idade, pois
acreditavam que a pessoa que ocupava o polo passivo perdia a sua
masculinidade. Já no século XVII, o capitalismo expandiu-se,
consequentemente isso acarretou na competitividade entre os homens, o que
acabou por tornar mais tímido qualquer contato entre eles. Dessa forma, o
amor entre pessoas do mesmo sexo passou a incomodar o sistema capitalista.

Com todo este acúmulo histórico de visões da sexualidade, no século XIX o


amor entre pessoas do mesmo sexo deixou de ser visto como um pecado – no
sentido da crítica científica, passando a ser encarado como doença a ser
tratada.
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3.2. Classificação Internacional de Doenças

A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas


Relacionados com a Saúde determina a classificação e codificação das
doenças e uma ampla variedade de sinais, sintomas, achados anormais,
denúncias, circunstâncias sociais e causas externas de danos e/ou doença.

Em 1948 a orientação sexual homossexual foi incluída na CID-6, pela primeira


vez, como sendo uma patologia: classificada como um desvio sexual ligado a
um distúrbio de personalidade. Depois, no CID-10, em 1973, a
homossexualidade passou a ser considerada como um transtorno antissocial
da personalidade.

Neste complexo ambiente patológico, foi só em 17 de maio de 1990, há 


apenas 32 anos, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou o
“homossexualismo” da CID-10. A partir de então foi necessário substituir o
referido termo por “homossexualidade”, uma vez que no contexto médico o
sufixo “ismo” remete à doença (como reumatismo, raquitismo etc.). Pela
extrema importância, o dia 17 de maio passou a ser reconhecido como dia
nacional do enfrentamento à homofobia.

4. O PSICÓLOGO E AS MINORIAS

4.1. A psicologia, os direitos humanos e o Código de Ética Profissional


do Psicólogo

Os Direitos Humanos são os direitos que asseguram a dignidade e o bem-estar


de cada indivíduo e de sua coletividade, incluindo a liberdade de opinião e de
expressão, além de estabelecer normas que atuam, entre outros fatores, contra
a discriminação de minorias (dentre elas, o grupo LGBTQIA+).

Quanto à psicologia, estes grupos devem ser defendidos já que é seu papel
proteger e respeitar a subjetividade das pessoas, seguindo as condições de
igualdade e reconhecimento de diversidade. Segundo Cecilia Coimbra
(entrevista- CRP 05/1980):
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Quando falamos de Psicologia e Direitos Humanos,


queremos pensar uma Psicologia que efetivamente
não se desvincule da política, que não se coloque
como neutra, como uma coisa abstrata, afastada
da realidade. Queremos falar sobre uma Psicologia
voltada para a prática na qual está inserida,
preocupada com o mundo.

Nesse sentido, existe um documento que relaciona a Psicologia e os Direitos


Humanos, nomeado Código de Ética Profissional do Psicólogo, que estimula a
manutenção da dignidade das pluralidades também no âmbito destes
profissionais, além de estipular limites e deveres. O Código de Ética do
Psicólogo (2005, p. 5) reforça:

Códigos de Ética expressam sempre uma concepção de homem e de


sociedade que determina a direção das relações entre os indivíduos.
Traduzem-se em princípios e normas que devem se pautar pelo
respeito ao sujeito humano e seus direitos fundamentais. Por
constituir a expressão de valores universais, tais como os constantes
na Declaração Universal dos Direitos Humanos; socioculturais, que
refletem a realidade do país; e de valores que estruturam uma
profissão, um código de ética não pode ser visto como um conjunto
fixo de normas e imutável no tempo. As sociedades mudam, as
profissões transformam-se e isso exige, também, uma reflexão
contínua sobre o próprio código de ética que nos orienta.

Isto posto, a psicologia exige um processo de adaptação constante aos novos


contextos e definições que emergem incessantemente, incluindo as crescentes
discussões sobre sexualidade, gênero e orientações. Por consequência, na
teoria, a sexualidade vista como uma maneira de expressar-se no mundo
deveria ser respeitada em sua complexidade e multiplicidade, entretanto o
inverso disso é habitual, inclusive nos âmbitos da abordagem psicológica.

Comumente, os grupos que fogem do padrão heteronormativo são alvos de


preconceito pela própria área psi, dado que muitos profissionais deixam que a
moralidade hostil influencie a atuação interventiva, que deveria ser baseada na
ciência. A sexualidade, vista como ponto de simples prazer ou desvio no senso
comum é, pelo contrário, essencial para a constituição da história do homem.
Nesse sentido, é apontado que na sexualidade o homem reflete sua maneira
de agir quanto ao mundo e quanto aos outros indivíduos, sua relação com o
tempo e sua convivência social (Merlau-Pontyapud Toledo Bruns, 2011, p. 8).
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4.2. A função social da psicologia

Dentro do sistema apresentado, a psicologia assume uma função social de


extrema importância na constituição de uma sociedade com a detenção do
poder de estimular ou desmotivar determinados ideais construídos
historicamente. Martín-Baró (1997, p. 14) afirma que:

Na medida em que a psicologia tome como seu objetivo


específico os processos da consciência humana, deverá
atender ao saber das pessoas sobre si mesmas,
enquanto indivíduos e enquanto membros de uma
coletividade.

De tal maneira, exaltando o ponto coletivo e especificando o grupo minoritário


político-social dos LGBTQIA+, é papel da psicologia acolher o sofrimento
decorrente das discriminações direcionadas a este grupo e, ainda mais,
estudar a semente do ódio contra o “diferente” que parece internalizado na
sociedade. Torna-se essencial aos psicólogos, prezando pelo bem-estar
dessas pluralidades, adaptar suas técnicas e possíveis valores inconscientes
para recepcionar tais grupos que foram marginalizados. Assim diz Martín-Baró
(1997, p. 17):

Ao afirmar que o horizonte primordial da psicologia deve ser a


conscientização, se está propondo que o quefazer do psicólogo
busque a desalienação das pessoas e grupos, que as ajude a chegar
a um saber crítico sobre si próprias e sobre sua realidade.

Ademais, a luta contra a heteronormatividade é essencial na medida que esta


problemática coloca em risco a saúde integral daqueles que divergem deste
padrão:

As questões culturais advindas do padrão heterossexual


influenciam de modo subjetivo o atendimento dos profissionais
da saúde a essa população. Os profissionais que atuam na área de
saúde, incluindo psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes
sociais e os diversos agentes da saúde, devem estar atentos à
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reação em cadeia que implica o processo de vulnerabilidade que


leva ao adoecimento dessa população, bem como às políticas
públicas que facilitam o acesso ao sistema de saúde. (DA SILVA,
2018, p. 201)

Dada a relevância de uma perspectiva crítica sobre a forma que os psicólogos


têm lidado com os fenômenos, exemplifica-se com um dos casos recentes do
que algumas pessoas chamam e acreditam de “cura gay”:Rozângela Alves
Justino é uma psicólogaque foi impedida de atuar na área com o processo que
o Conselho Federal de Psicologia (CFP) aplicou depois do que foi defendido.
No ano de 2009 a mesma defendeu a cura gay, argumentando que a
homossexualidade é um transtorno que deveria ser curado – apoderou-se do
conhecer psicológico para alegar questões sem embasamento científico.
A adversidade de sua afirmação consiste no sentimento de legalização de uma
série de intolerâncias, já que na situação de profissional psi, carrega uma certa
posição social que pode fazer com que os indivíduos levem seus juízos em
consideração. Então, com a ideia arcaica de homossexualidade como distúrbio,
cria-se um incentivo para a ignorância direcionada às pessoas não-hetero.

5. BREVE EXPLICAÇÃO DA SIGLA


De maneira complementar e breve, explica-se neste momento o extenso
campo que pode interferir na sexualidade: a expressão do gênero, a identidade
de gênero, a orientação sexual e o sexo biológico – estes fatos se interligam e
podem ou não definir a experiência individual.
A partir disto, quanto à maneira que um sujeito pode se definir e identificar,
explicita-se as primeiras letras da sigla LGBTQIAP+, sendo: L (lésbica) mulher
que gosta de mulher – cis ou trans; G (gay) homem que gosta de homem – cis
ou trans; B (bissexual) pessoa que gosta de ambos os sexos; T
(transgênero/travesti) pessoa que se identifica com o gênero oposto
biologicamente dizendo; Q (queer) pessoas que são citadas e que não estão
contempladas na sigla; I (intersexo) pessoas que podem nascer com ambas
genitais, com diferenças visíveis ou não visíveis; A (assexuais) pessoas que
sentem pouca ou nenhuma atração sexual e P (pansexuais) pessoas que
gostam de pessoas.
O símbolo mais (+), por sua vez, é utilizado para incluir outros grupos e
variações de sexualidade e gêneros, que não se limitam aos apresentados.
Também, os denominados “não-binários” entram neste ambiente, não se
identificando como homem e nem como mulher, podendo ou não transitar entre
esses dois modos de existir.
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6. REPRODUÇÕES HOMOFÓBICAS NO COTIDIANO


Com a finalidade de atingir a conscientização sobre a homofobia e tornar esta
luta mais palpável e sensível a mudanças, expõe-se abaixo algumas frases de
teor heteronormativo e que contribuem para a discriminação do grupo
minoritário estudado. Enfatiza-se neste instante a necessidade de mudar falas
que contribuem para a construção da estrutura opressiva quando à
sexualidade, que podem ser reproduzidas conscientemente ou não, por
influência social de todos os níveis – inclusive da própria família. A seguir,
anunciam-se 10 expressões de teor problemático:
1. “Quando você virou gay?”
2. “Não tenho nada contra, tenho até amigos que são.”
3. “Você não parece gay.”
4. “Quem é o homem da relação?”
5. “Você nasceu com X sexo então vai morrer sendo X sexo.”
6. “Você age como X sexo.”
7. “Você já fez cirurgia pra tirar?”
8. “Isso não é coisa para X sexo fazer.”
9. “Qual o seu nome de verdade?”
10. “Essa cor é de X sexo!”
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7. CONCLUSÃO
Com os pontos apresentados, conclui-se que há um leque de variedades de
gêneros que se reconstituem a cada momento, importantes na conceituação da
identidade dos indivíduos e de seus alicerces na sociedade, como a maneira
que agem, se sentem, são vistos e respeitados. Adicionalmente, a psicologia,
com sua função social e detenção de poder ideológico, carrega o dever de
amparar as minorias e quebrar o estigma da sexualidade, visível causador de
violência. Idem, o Código de Ética Profissional dos psicólogos, relacionado aos
Direitos Humanos, reforça o respeito à individualidade e à sua abrangência.
Além de que, com o histórico da abordagem patológica daqueles que
ultrapassam o padrão heteronormativo, é indispensável a luta pela ruptura dos
modelos de sexualidade, que atingem os indivíduos LGBTQIA+ em âmbitos
sociais, profissionais, familiares e psicológicos. De maneira conjunta, a
responsabilidade que a áreapsi carrega por ter contribuído para a aversão
direcionada a esses sujeitos resulta na urgência de ações transformadoras com
o fim de, ao menos, amenizar a agressividade diária que os alcança.
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8. Referências

CLAM, Orientação sexual na CID-11.

Código de ética profissional do psicólogo. Xiii plenatório do conselho federal


de psicologia, p. 7, 2005

COELHO, Fernanda. 17 de maio: Dia Internacional de Enfrentamento à


LGBTfobia.

Coimbra, Cecilia. Psicologia e os direitos humanos. JORNAL 29, 1780, RJ

DA SILVA, Tirza Almeida et al. Movimento LGBT, políticas públicas e


saúde. Amazônica-Revista de Psicopedagogia, Psicologia escolar e
Educação, v. 21, n. 1, Jan-Jun, p. 191-208, 2018.

DE TOLEDO BRUNS, Maria Alves. Psicoterapeutas iniciantes: os desafios das


diversidades afetivo-sexuais. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 63, n. 1,
p. 64-74, 2011.

Direitos humanos. Conselho regional de psicologia SP

MARTÍN-BARÓ, Ignácio. O papel do psicólogo. Estudos de Psicologia


(Natal), v. 2, n. 1, p. 7-27, 1997.

Os princípios de yogykarta e a proteção de direitos fundamentais das minorias


de orientação sexual e de identidade de gênero.

Princípios de yogyakarta: princípios sobre a aplicação da legislação


internacional de direitoshumanos em relação à orientação sexual e identidade
de gênero. tradução jones de freitas. jul. 2007.
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Sorientação sexual na identidade de gênero a partir da crítica da


heterossexualidade e cisgeneridade como normas.

SPITZER, Robert. O psiquiatra que derrubou o mito de que homossexualidade


seria doença.

Ternes Dieter, Cristina. As Raízes Históricas Da Homossexualidade, Os


Avanços No Campo Jurídico E O Prisma Constitucional. Homossexualidade:
discussões jurídicas e psicológicas. Curitiba: Juruá, 2001, p. 112

VEIGA, Edilson. OMS remove homossexualidade da lista de doenças.

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