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Efolio G
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CÓDIGO: 31097
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TRABALHO / RESOLUÇÃO:
Este excerto traz à memória a passagem ao exilio e ao período que Josef viveu
antes de ir para a Dinamarca. Josef relembra que um dia teve que se afastar da sua
terra, um exílio forçado, pelo que estar novamente de regresso, embora de passagem,
deambulando pelo apartamento do irmão, repassam-lhe esses momentos e sente um
outro exilio, um exilio dentro de si e na sua própria “casa” que é Praga.
Entre as coisas que o irmão lhe mostra chama-o à atenção um quadro que lhe
pertenceu um dia. O autor aproveita o momento para divagar sobre a pintura no período
do socialismo onde vigorava a doutrina da arte socialista que era o realismo,
demonstrando como as repercussões políticas intervinham na criatividade. O amigo de
Josef teve que ser inventivo não fugindo às regras, mas colocando o seu próprio cunho
artístico. Na altura vigorava o abstrato, mas tal estilo era condenável, daí que só a
pintura clássica com temas muito específicos como o trabalho e a defesa da pátria eram
admitidos. O quadro que pertencera a Josef retratava a vida dos trabalhadores, mas
com umas cores que lembravam os Fauves. Esta mescla favorecia a arte que o seu
amigo fazia, pelo que tinha uma predileção por aquele quadro. No entanto a liberdade
nos anos sessenta enfraquece a doutrina e o amigo foi abandonando essa “mescla”, e
em plena liberdade, nos finais dos anos 80 já pintava à semelhança de todos os outros,
a mescla desaparecera e a criatividade também.
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Esta é a realidade, de que ao fim de 20 anos muita coisa muda, as pessoas
mudam, as memórias não são iguais para todos e entre as memórias, o esquecimento
e a nostalgia, surge a ignorância, porque deixa-se de conhecer quem nos era chegado
ou passa a existir uma ignorância mútua. Fica patente o desenraizamento e o
enfraquecimento dos vínculos sociais em relação à terra natal devido às distâncias, que
acaba por esmorecer os vínculos de amizade e família, que por sua vez faz crescer um
certo ressentimento por aqueles que ficam. O autor pela escrita é capaz de tocar na
alma e evocar convicções naqueles que um dia foram levados ao exilio como ele próprio
o foi um dia.
É esta a beleza nos escritos de Kundera, ele cria personagens que se cruzam a
dado momento no romance e com eles cria objetos de discussão, como a sociologia e
a filosofia. É visível como este excerto reflete o tema da nostalgia da qual se reveste o
romance mostrando que, quando se está nostálgico a memória se recolhe, não estimula
as lembranças acabando a nostalgia absorver-se no seu sofrimento. Kundera mostra
que as lembranças são ilusórias, que a vida é feita de pedaços e apenas uns são
lembrados, contados e recontados para no fundo esquecer os outros. Kundera quer
provar em “A Ignorância”, que as lembranças são precisamente uma forma sofisticada
de esquecer.
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