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Aula 17- Cálculo de integrais reais pelo método dos resíduos

O Teorema dos Resíduos permite calcular integrais em curvas fechadas no


plano complexo avaliando sem parametrizações ou primitivações – apenas
avaliando uma função em pontos específicos (singularidades).
Este método, com estratégias adequadas, vai permitir calcular integrais reais
sem primitivações. Trata-se de escolher adequadamente as curvas
(contornos) de integração e as funções integrandas.

Exemplo 1.
+∞ 1
Consideremos o integral real ∫−∞ 𝑑𝑥 (que sabemos calcular por
𝑥 2 +1
primitivação enquanto integral impróprio em ℝ, e sabemos ter o valor 𝜋).
1
A função integranda é . O primeiro passo é prolong-la ao plano complexo,
𝑥 2 +1
que fazemos naturalmente da forma
1
𝑓(𝑧) = ,
𝑧2 + 1

que coincide com a função integranda original sobre o eixo real. Esta função
tem singularidades em 𝑧 = ±𝑖.
Agora, para 𝑅 > 1, adoptamos o contorno de integração

Curva fechada Γ𝑅 formada pela união do segmento de recta horizontal 𝐼𝑅 = [−𝑅, 𝑅] e da


semicircunferência 𝐶𝑅 .
Jorge Buescu 1
Aula 17- Cálculo de integrais reais pelo método dos resíduos

Pelo Teorema dos resíduos, temos para todo o 𝑅 > 1

1 1
∮ 2
𝑑𝑧 = 2𝜋𝑖 𝑅𝑒𝑠 (𝑧 2 +1,𝑖) = 𝜋,
𝑧 +1
Γ𝑅

visto que 𝑧 = 𝑖 é a única singularidade no interior da curva e é um pólo


1
simples de resíduo (mostrar no quadro).
2𝑖

Assim, para todo o 𝑅 > 1 tem-se

𝑅
1 1 1
𝜋= ∮ 2 𝑑𝑧 = ∫ 2 𝑑𝑥 + ∮ 2 𝑑𝑧. (6.11)
𝑧 +1 ⏟−𝑅 𝑥 + 1 𝑧 +1
Γ𝑅
sobre 𝐼
⏟𝑅
C
𝑅
sobre 𝐶𝑅

independente de R.
+∞ 1
Tomando o limite 𝑅 → ∞, o integral sobre 𝐼𝑅 converge para ∫−∞ 𝑑𝑥.
𝑥 2 +1
Quanto ao integral sobre 𝐶𝑅 para R>1 é válida a majoração1

𝜋 𝜋
1 1 𝑖𝜃
1 𝜋𝑅
|∮ 2 𝑑𝑧| ≤ ∫ | 2 2𝑖𝜃 | |𝑖 𝑅 𝑒 | 𝑑𝜃 ≤ ∫ 2 𝑅 𝑑𝜃 = 2 .
𝑧 +1 0 𝑅 𝑒 +1 0 𝑅 −1 𝑅 −1
C𝑅

(mostrar no quadro interpretação geométrica da majoração).


Assim, quando 𝑅 → ∞ este integral tende para 0. Obtemos aasim a fórmula de
integração
+∞
1 1
∫ 𝑑𝑥 = 2𝜋𝑖 𝑅𝑒𝑠 ( 2 ,𝑖) = 𝜋.
−∞ 𝑥2 + 1 𝑧 +1

Exercício proposto (fazer!)


O que acontecerá se em vez de se fechar a curva pela semicircunferência no
semiplano superior se fechar pelo semiplano inferior?

1
Recorde-se a parametrização da semicircunferência: 𝑧 = 𝑅 𝑒 𝑖𝜃 , 0 ≤ 𝜃 ≤ 𝜋.
Jorge Buescu 2
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É fácil deduzir desta construção quais os integrais reais do tipo


+∞
𝑝 (𝑥 )
∫ 𝑑𝑥,
𝑞(𝑥)
−∞

onde 𝑝(𝑥) 𝑒 𝑞(𝑥) são polinómios, que o Teorema dos Resíduos permite, pormeio
deste contorno de integração, avaliar. Tem-se então:

Proposição 6.21
𝑝(𝑥)
Seja 𝑓(𝑥 ) = uma razão de polinómios tais que
𝑞(𝑥)

• 𝑞(𝑥) não possui raízes reais,


• grau de 𝑞 ≥ grau de 𝑝 +2.
Então
+∞

∫ 𝑓(𝑥 ) 𝑑𝑥 = 2𝜋𝑖 ∑ Res(𝑓, 𝑧𝑗 )


−∞ 𝐼𝑚(𝑧𝑗 )>0

onde 𝑧𝑗 são os pólos de 𝑓 no semiplano superior (i.e. verificando 𝐼𝑚(𝑧𝑗 ) > 0).

Exemplo 6.22
+∞ 1
Para calcular o integral 𝐼𝑎 = ∫−∞ (𝑥 2 +𝑎2 )2
𝑑𝑥 começamos por prolongar a
1
função integranda ao plano complexo por 𝑓(z) =(𝑧 2 . Esta função tem
+𝑎2 )2
pólos duplos em 𝑧 = ±𝑎𝑖. Supomos sem perda de generalidade 𝑎 > 0.

Vamos, como anteriormente, utilizar a curva de integração descrita no caso


geral com 𝑅 > 𝑎.

Jorge Buescu 3
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A única singularidade que contribui para o integral é o pólo duplo em 𝑧 = 𝑎𝑖,


e o seu resíduo é
𝑖
Res(𝑓, 𝑎𝑖) = − (verificar!)
4𝑎3
As estimativas sobre os integrais são as descritas no caso geral, obtendo-se
pois a fórmula de integração

+∞
1 𝜋
∫ 𝑑𝑥 = 2𝜋𝑖 Res (𝑓, 𝑎𝑖 ) = .
−∞ (𝑥 2 + 𝑎2 )2 2𝑎3

Jorge Buescu 4

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